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convenincia

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So Paulo, 2010

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presidente: Paulo Skaf DEPARTAMENTO DO AGRONEGCIO diretor titular: Benedito da Silva Ferreira diretores Diviso de Insumos: Mario Sergio Cutait Diviso de Produo Vegetal e Bovinos: Cesario Ramalho da Silva Diviso de Produtos de Origem Vegetal: Laodse D. de A. Duarte Diviso de Produtos de Origem Animal: Francisco Turra Diviso de Caf, Confeitos, Trigo e Panicao: Nathan Herszkowicz Diviso de Comrcio Exterior: Andr Nassar Gerente: Antonio Carlos Prado B. Costa equipe tcnica: Fernando dos Santos Macdo Gregory Honczar Joo Campagna Nathalia Pelucche Margutti

Governador: Alberto Goldman SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO secretrio: Joo de Almeida Sampaio Filho secretrio-adjunto: Antonio Julho Junqueira de Queiroz chefe de Gabinete: Antonio Vagner Pereira AGNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGCIOS coordenador: Orlando Melo de Castro Instituto de Tecnologia de Alimentos - Ital diretor-Geral: Luis Madi Equipe Tcnica do Ital no BFT 2020 Airton Vialta Adriana Helena P. Moraes Claire Sarantpoulos Jozeti Barbutti Gatti Luis Madi Tiago H. Dantas

Federao das Indstrias do Estado de So Paulo Departamento do Agronegcio - Deagro Av. Paulista, 1.313, 5 andar CEP: 01311-923 - So Paulo - SP www.esp.com.br [email protected]

Instituto de Tecnologia de Alimentos - Ital Av. Brasil, 2.880 CEP: 13070-178 - Campinas - SP www.ital.sp.gov.br

Produo Editorial: Luiz Carlos Moraes Projeto Grco e Diagramao: SPO + Pantani Reviso: Hassan Ayoub Impresso: Grca Ideal

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PALAVRA DO PRESIDENTEA indstria de alimentos do Brasil ocupa um lugar de destaque no cenrio econmico nacional e internacional. Para a economia brasileira, o valor bruto da produo industrial de alimentos e bebidas figura na primeira posio entre todos os segmentos do setor, representando mais de 18% do total, segundo o IBGE. Isto significa que parcela importante do PIB brasileiro tem origem nessa indstria. Alm disso, considerando todas as pessoas vinculadas produo industrial, o segmento de alimentos e bebidas o que mais emprega no Pas, sendo responsvel por, aproximadamente, 20% dos postos de trabalho de todas as atividades de extrao e transformao. A qualidade, a confiabilidade e a competitividade dos alimentos aqui produzidos nos permitem acessar mais de 200 mercados em todo o mundo. S no somos mais competitivos em razo dos impostos que incidem sobre os alimentos no Brasil. Neste caso, apenas o ICMS representa, em mdia, 17% do preo final do produto, enquanto na Europa essa mdia de 5% e nos EUA, 0,7%. Sem os tributos, a populao tambm teria acesso a uma alimentao mais barata e diversificada, com reflexos amplamente positivos na qualidade de vida dos brasileiros. Embora fator determinante para a competitividade da indstria nacional, os desafios para este setor no se resumem questo tributria. Em um cenrio competitivo, necessrio inovar e criar condies para que essas iniciativas sejam incentivadas e implementadas, em especial nas empresas de menor porte, que, como sabemos, muitas vezes carecem de informaes estratgicas para uma correta tomada de deciso. exatamente esta a contribuio que a Fiesp, pelo seu Departamento do Agronegcio, e em parceria com o governo do estado de So Paulo, na participao do Ital, prope com esta publicao: iniciar um amplo debate sobre as tendncias dirigido ao segmento de alimentos e bebidas para os prximos anos, a partir das rpidas e profundas modificaes pelas quais passa a sociedade no Brasil e no mundo, atendendo aos desejos de um consumidor a cada dia mais informado e, portanto, mais exigente em relao aos produtos que consome. A publicao Brasil Food Trends 2020 evidencia os desafios e apresenta as grandes oportunidades de um mercado em permanente transformao. Boa leitura a todos!

PALAVRA DO SECRETRIOO governo do estado de So Paulo, por intermdio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e de sua Agncia Paulista de Tecnologia dos Agronegcios (APTA), coordena uma estrutura de seis instituies de pesquisa, que constituem uma plataforma de apoio ao desenvolvimento do agronegcio no estado de So Paulo e no Brasil, com inovao e transferncia tecnolgicas. Ciente da importncia estratgica desses institutos de pesquisa, o governo paulista priorizou sua revitalizao e modernizao no seu Plano Plurianual PPA 2008-2011, com investimentos da ordem de R$ 40 milhes. So os maiores investimentos em pesquisa agropecuria dos ltimos 25 anos. Antecipar as demandas da sociedade, do governo e da iniciativa privada funo estratgica dos institutos de pesquisa. Nesse sentido, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em parceria com a Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp) e apoio de instituies e colaboradores especiais, desenvolve o projeto Brasil Food Trends 2020, cujo objetivo a apresentao das principais tendncias da alimentao e a anlise de seus impactos para as diferentes atividades e setores de alimentos no Brasil. Este estudo baseia-se, inicialmente, no levantamento de informaes e de pesquisa sobre as macrotendncias globais e as tendncias relacionadas ao setor de alimentao, para posterior consolidao e anlise. Fundamental tambm a formalizao do Protocolo de Intenes entre a Secretaria e a Fiesp, para a criao do Grupo Estratgico Brasil Food Trends 2020. Esse grupo tem como misso o estabelecimento de uma agenda estratgica com o horizonte de dez anos, com aes para o fortalecimento do processo de inovao, melhora da transferncia de conhecimentos e estmulo competitividade do setor de alimentos e bebidas. Dessa forma, ganha a sociedade como um todo com conhecimentos e informaes que proporcionaro produtos brasileiros mais competitivos, com qualidade assegurada, saborosos e saudveis, dentro de um cenrio de sustentabilidade e tica cada vez mais importante para 2020. Parabenizo as equipes da Fiesp e da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, particularmente o Instituto de Tecnologia de Alimentos, pela excelncia do trabalho refletido neste documento, que, certamente, servir como apoio insubstituvel para as polticas pblicas e empresariais futuras.

Paulo Skaf

joo Sampaio

Presidente da Federao e do Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP/CIESP)

Secretrio de Agricultura e Abastecimento

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ejo ndice

Produo de Alimentos Embalagem Processo Tendncias da Alimentao Fatores que Influenci

A Produo de Alimentos Fatores que Influenciam o Consumo de Alime

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entes Apresentao pg 11 Processo Varejo Food Service Consideraes Futuras Consum

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O Perfil do Consumo de Alimentos no Brasil

pg 49

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Embalagens Processo Food Service Consideraes Futuras o Brasil A Produo de Alimentos Tendncias Food Service Processos no

o Produtos Ingredientes Embalagens Processos Produtos Varejo Service Consideraes Futura

Alimento Varejo Food Service Fatores que Influenciam o Consumo de Alimentos ProProduo de Alimentos

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A Indstria de Alimentos Diante das Tendncias pag 63 Tend

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Service Captulo 7.

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A Produo de Alimentos Fatores que Influenciam Consumo Fatores Influenciam Perfil

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Brasil Captulo 8.

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de Alimentos A Produo

Consumo

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Autores pg 173 Tendncias

A Indstria de Alimentos Diante das Tendncias

P

Fatores Consumo de Alimentos Tendncias da Alimentao A Indstria de Alimentos Diante das

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Equipe Brasil Food Trends 2020

apresentaoPara as atividades ligadas ao setor de alimentos e bebidas, inovao palavra permanente no vocabulrio de empresrios e gestores, que devem estar atentos para atender com rapidez, ou mesmo antecipar, s novas demandas dos consumidores no Brasil e no mundo, uma vez que este um segmento em que fatores como o aumento do poder de compra da populao, o maior acesso informao, o aumento da escolaridade, a modificao na estrutura das famlias e o envelhecimento da populao, entre outros, modificam diretamente as percepes e, consequentemente, as preferncias e as escolhas em relao ao alimento a ser consumido. A iniciativa do Brasil Food Trends 2020 surgiu exatamente do entendimento de que, para direcionar de maneira correta e gerar resultados efetivos, o processo de inovao deve estar respaldado em informaes estratgicas, tcitas e confiveis, uma vez que se guiar pela intuio, de forma isolada, pode ser um caminho arriscado para assegurar o sucesso de uma deciso de investimento. No se objetiva, com esta publicao, avaliar todas as variveis envolvidas na discusso da temtica tendncias, pois seria uma ambio frustrada pela complexidade e amplitude do assunto. O que se buscou foi produzir um material indito no Brasil, reunindo vrios elementos que podero servir de base para o incio de uma ampla discusso, envolvendo empresrios, executivos, entidades de representao, governos e a sociedade de um modo geral. Este documento-base traduz-se na possibilidade de insero na discusso desse tema de grande parte das mais de 22 mil indstrias brasileiras de alimentos e bebidas que no possuem condies de abrigar uma rea de inteligncia de mercado ou mesmo arcar com investimentos em informaes estratgicas. Com o objetivo do projeto delineado, os colaboradores voluntrios que compuseram o grupo de trabalho do BFT 2020, especialistas reconhecidos em suas reas de atuao, empenharam esforos em mapear a realidade presente e futura da indstria de alimentos no mundo em abordagens sucintas, com base em um nmero significativo de estudos e pesquisas similares j consolidadas em vrias regies do mundo. Neste caso, foram priorizados os levantamentos realizados em mercados em relao aos quais o Brasil possui grande fluxo comercial, cultural e com a presena comum de importantes empresas desse setor. Com esse critrio estabelecido, partiu-se da premissa de que as tendncias observadas nesses mercados j se manifestam ou se manifestaro no Brasil, em maior ou menor intensidade. A partir desse ponto e com o objetivo de compor a anlise, a Fiesp encomendou uma pesquisa nacional ao Ibope, aferindo para quais nveis de renda, faixas etrias e regies, entre outras estratificaes possveis, os resultados obtidos na observao internacional se aplicam ao Pas. Para as indstrias atentas aos movimentos do mercado, as tendncias como sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, convenincia e praticidade, confiabilidade e qualidade, sustentabilidade e tica j fazem parte dos seus produtos, por meio de atributos que ofeream um diferencial de competitividade presente nos processos produtivos, nos ingredientes e nas embalagens. Estes, influenciados pelos diferentes objetivos e tecnologias existentes, alm de determinarem fortemente a competitividade do negcio, hoje tambm so capazes de, por conta prpria, potencializar as vendas por proporcionarem diferenciais relevantes s marcas e produtos. Tambm abordados neste estudo, o varejo e o setor de food service esto atentos s tendncias apresentadas, que, da mesma forma, esto levando a modificaes importantes na maneira de se relacionarem com os consumidores. O desejo da equipe que dedicou os esforos a esta publicao o de contribuir para a disseminao de informaes estratgicas, de forma pblica e gratuita, gerando benefcios a milhares de empresas, auxiliando-as de algum modo a inovar e continuar fornecendo sociedade brasileira alimentos de qualidade, com novos atributos que levem o consumidor nacional a criar uma relao cada vez mais estreita de identidade e confiana com esse setor, que tantas contribuies presta economia e sociedade brasileira.BrasilFoodTrends2020

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Antonio Carlos Prado B. Costa, Fernando dos Santos Macdo e Gregory Honczar

Captulo 1.

a produo de alimentosA produo de alimentos vem sofrendo modificaes positivas ao longo dos sculos. Se, no passado, a terra representava o nico fator de produo, a evoluo tecnolgica potencializou a quantidade de alimentos disponvel para o consumo.Esse fator, juntamente com a evoluo da medicina e da economia moderna, proporcionou o impressionante crescimento populacional que observamos nos dias de hoje, com tendncia estabilizao em um futuro aps 2050, segundo (1) as Naes Unidas . Entretanto, o crescimento da demanda, que ser abordado no prximo captulo, testa e pressiona continuamente a oferta de alimentos, exigindo novas solues produtivas que garantam o aumento da disponibilidade de comida no planeta. Observa-se que a oferta de alimentos tem respondido aos estmulos de mercado, mesmo que com uma defasagem de tempo inerente produo agrcola. Tal defasagem um dos fatores capazes de gerar volatilidade de preos, juntamente com condies climticas e conjunturais. No passado, a soluo para o excesso de demanda era simples: enquanto houvesse disponibilidade de terra, ainda abundante, bastaria ampliar a produo em reas antes inutilizadas, gerando novo equilbrio de mercado. O modelo funcionou perfeitamente, continuando a impulsionar, inclusive, o crescimento da populao. Entretanto, a ameaa de escassez desse ativo motivou diversos pases, notadamente os Estados Unidos, a investirem em maneiras de produzir mais em uma mesma rea, sobretudo por meio da tecnologia. Assim, os esforos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) iniciados na dcada de 1920 resultaram na identificao ou descoberta de uma srie de indutores tecnolgicos de produtividade, tais como: a) Novas cultivares tecnoloBrasilFoodTrends2020

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a produo de alimentos

gia recentemente complementada pela biotecnologia e, mais atualmente, pela nanotecnologia. b) Uso intensivo e racional de defensivos agrcolas e fertilizantes. c) Novas mquinas e implementos agrcolas, adaptados a tecnologias como a agricultura de preciso. d) Novos mtodos de manejo agrcola e o advento de tcnicas conservacionistas. A adoo dessas ferramentas, isolada ou conjuntamente, foi a base para a grande mudana no padro de produo agrcola, a chamada Revoluo Verde. A partir da Segunda Guerra Mundial, as inovaes cumpriram com seus objetivos: proporcionaram um expressivo aumento da oferta de alimentos e criaram a cultura da busca continuada por novos indutores da produo, com a premissa fundamental da preservao do ativo terra. Os efeitos foram significativos, como observado no Grfico 1. No Brasil, a relativa disponibilidade de terras retardou os efeitos locais da Revoluo Verde, a exemplo da produtividade do milho que, na mdia de 1976 a 1992, era de 1.700 kg/ha, semelhante observada na dcada de 1940 nos Estados Unidos. Apesar do substancial aumento da produtividade local do gro, para os atuais 3.700 kg/ha, os indicadores brasileiros esto muito aqum dos j alcanados nos campos

norte-americanos, de 10.000 kg/ha, demonstrando o enorme potencial do Brasil em ampliar a sua participao na oferta mundial de alimentos. Uma importante consequncia da adoo do novo modelo produtivo foi a crescente necessidade de profissionalizao das atividades agropecurias. A produo e a competitividade passaram a depender da aquisio de mquinas e implementos, da correta alocao agronmica de insumos, do criterioso acompanhamento dos mercados fsico e futuro, do bom relacionamento com a indstria e do entendimento adequado do mercado de crdito para aquisio de financiamentos, entre outros. Isso levou a uma reestruturao dos agentes produtivos, com a sada gradual dos menos competitivos e a consolidao dos mais eficientes, proporcionando um cenrio adequado para o surgimento de uma agricultura de escala. Entretanto, um modelo produtivo baseado em insumos finitos para a produo, alm da terra, criou uma situao potencialmente problemtica para o futuro: o que fazer quando estiverem exauridas as reservas de matrias-primas, principalmente as fontes fsseis de energia e fertilizantes? possvel afirmar que, se novas tecnologias no forem desenvolvidas na velocidade necessria, corre-se o risco de retorno aos nveis

Estados Unidos produtividade de (2) milho, trigo e cevada no perodo de 1866 a 2009(kg por hectare)

Milho 12.000Grfico 1

Trigo

Cevada

10.000 8.000 6.000 4.000 2.000-

1866

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Fonte: USDA/NASS Elaborao: Fiesp/Deagro

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Milho produtividade observada (3) (2) no Brasil (1 safra) e nos Estados Unidos(kg por hectare)

BrasilGrfico 212.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

Estados Unidos

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Fontes: Mapa/Conab e USDA/NASS Elaborao: Fiesp/Deagro

produtivos do passado, insuficientes para o suprimento de toda a crescente demanda global. No presente, j possvel identificar concretamente os efeitos das restries ou ampliaes do uso de fatores de produo. Via de regra, o enrijecimento das normas ambientais e as imperfeies dos mercados de insumos agropecurios, como a concentrao dos fornecedores globais de matriasprimas ou a irregularidade no suprimento das mesmas, tendem a elevar preos e custos, gerando um novo equilbrio no mercado de alimentos, com vis de restrio da oferta. A seguir so destacados os principais fatores considerados neste trabalho.

1.1. rECurSOS nATurAIS TErrA E guAAs transformaes histricas do meio ambiente e as preocupaes com as consequncias advindas das mudanas climticas resultam em crescentes restries utilizao dos ativos naturais para a produo agropecuria. A questo representa um enorme desafio produo de alimentos e, portanto, a todos os elos da cadeia subsequente. Para a terra, o aspecto finito do ativo, aliado s necessidades crescentes de expanso da produo, gera, necessariamente, impactos significativos no seu preo, que, no Estado de So Paulo, por exemplo, teve uma variao real positiva de 120%

nos ltimos dez anos, ou seja, de junho de 1999 a junho de 2009, de acordo com o Instituto de Economia Agrcola (IEA) da (4) Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo . Adicionalmente, as crescentes restries advindas do aumento do rigor da legislao ambiental brasileira potencializam o comportamento dos preos do ativo. A exigncia de se recompor e conservar de 20% a 80% da rea total da propriedade rural, dependendo do bioma, com espcies nativas poder efetivamente (5) reduzir as reas utilizadas para a produo de alimentos . Como resultado, de acordo com recente estudo da Embrapa, para suprir a restrio ao uso da terra imposta pela legislao ambiental em debate seria necessrio um incremento adicional da produtividade da ordem de 48,9% nas lavouras brasileiras, a fim de que sejam mantidos os atuais nveis de (6) produo . As discusses a esse respeito ainda esto sendo negociadas no mbito dos poderes Executivo e Legislativo federais. Questes similares so debatidas no escopo dos recursos hdricos. Pode-se dizer que a gua foi, at pouco tempo, considerada um ativo inesgotvel, viso talvez justificada pela abundncia do recurso no Brasil, que equivale a 12% da gua doce do mundo, segundo a Agncia Nacional de (7) guas (ANA) . No entanto, agora a gua j vista como um recurso limitado, que corre o srio risco de escassez futura, caso no seja utilizada de forma racional.BrasilFoodTrends2020

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Vrias aes tm sido implementadas em mbito estadual e federal para se atingir esse objetivo. Como exemplo vale destacar o Estado de So Paulo, que, por intermdio da Cmara Tcnica de Assuntos Jurdicos do Conselho Estadual de Recursos Hdricos, da Secretaria de Meio Ambiente, tem se colocado frente na tentativa de encontrar meios que melhorem a utilizao do recurso. Para tanto, esto sendo discutidas regras e maneiras de cobrana pelo seu uso que afetaro principalmente as atividades e unidades de negcio que captam gua diretamente dos mananciais, como a agropecuria com irrigao e as agroindstrias. Tal iniciativa poder ser acompanhada de impactos na produtividade e nos preos dos produtos alimentcios.

1.2. TrABAlhO E mECAnIzAOA agricultura, uma atividade de caracterstica preponderantemente sazonal, depende da contratao de mo de obra temporria em determinados perodos do ano. Porm, as res-

tries legais e os impactos econmicos a esse tipo de relao entre empregador e empregado, somados com a necessidade de otimizao da relao receitas/despesas e a crescente indisponibilidade de pessoas em razo do rpido processo de urbanizao, tm acelerado o movimento de mecanizao das atividades agrcolas, com o objetivo de torn-las mais eficientes. No Brasil, a tendncia intensificao da mecanizao da agropecuria reforada pela poltica do governo federal para o setor, refletida em aes como o Programa de Modernizao da Frota de Tratores Agrcolas e Implementos Associados (Moderfrota), que j financiou mais de R$ 17,7 bilhes desde (8) o ano 2000 . Iniciativas de cunho ambiental tambm ajudam a explicar movimentos setoriais em direo ao incremento da mecanizao do campo, exemplo do Protocolo Agroambiental, firmado em 2007 entre o governo do Estado de So Paulo e o setor produtivo de acar e lcool. Este prev a extino total das queimadas durante a colheita da cana-de-acar e, portanto, do (9) seu corte manual, at 2017 .

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1.3. CAPITAlA rotineira necessidade de custear a produo, seja para a aquisio de insumos, seja para o pagamento de despesas diversas, ou mesmo para financiar a comercializao, permitindo melhores condies venda das mercadorias in natura, torna o capital uma ferramenta fundamental no desenvolvimento do agronegcio. No Brasil, observa-se um forte crescimento do montante de recursos governamentais destinado ao setor, o qual, na safra 2009/2010, chegou a R$ 107,5 bilhes, 37,8% supe(10) rior ao programado para a safra anterior . Adicionalmente, a aplicao de taxas de juro favorveis, atualmente entre 3,0% e 8,5% ao ano (6,75% para a maioria dos programas), indica o contnuo e crescente fomento da atividade. importante observar que, no caso brasileiro, o financiamento da agropecuria no distorce o comrcio internacional dos produtos agrcolas, pois o mesmo possui caractersticas distintas daquelas conferidas por seus principais concorrentes, como demonstrado pela Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), em estu(11) do publicado em 2007 .

A orientao para o maior uso de prticas conservacionistas, como a recuperao de pastagens degradadas, o plantio direto e a integrao lavoura-pecuria, entre outras, dever se configurar como uma tendncia da Poltica Agrcola Brasileira. Essa estratgia de ao, que vincula maiores limites de crdito ou mesmo de recursos especficos queles produtores que realizam tais prticas, j observada, ainda que de forma incipiente, no Plano Agrcola e Pecurio (PAP) do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) e dever ser reforada, j que, no incio de 2010, as mesmas foram inscritas pelo Brasil junto ONU, como parte das suas aes de reduo das emisses de gases de efeito estufa.

1.4. EnErgIAO diesel o principal combustvel utilizado nas operaes com mquinas agrcolas e no transporte da produo. Segundo a Conab, os dispndios com esse insumo na formao do custo total de produo chegam, em mdia, a 17,9% para o (12) arroz, 11,2% para a soja e 10,6% para o milho . Sendo derivado do petrleo, portanto fonte fssil e finita, o diesel est sujeito s suas especificidades de mercado e

Brasil crdito rural (8) (10) volume de recursos contratados por ano-safra(R$ bilhes) Total 120 Grfico 3 100 80 60 40 20 0 2002-03 2003-04 2004-05 2005-06 2006-07 2007-08 2008-09 2009-10 Agricultura Empresarial Agricultura Familiar

Fonte: Mapa/SPA Elaborao: Fiesp/Deagro. nota: O dado referente safra 2009-10 o valor programado para o perodo

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Editora Gazeta Santa Cruz

Petrleo preo internacional(US$ por barril)

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Mdia mensal 140 120Grfico 4

Mdia histrica

100 80 60 40 20 0 Jan-80 Jan-81 Jan-82 Jan-83 Jan-84 Jan-85 Jan-86 Jan-87 Jan-88 Jan-89 Jan-90 Jan-91 Jan-92 Jan-93 Jan-94 Jan-95 Jan-96 Jan-97 Jan-98 Jan-99 Jan-00 Jan-01 Jan-02 Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10

Fonte: FMI Elaborao: Fiesp/Deagro. nota: Mdia dos preos de UK Brent, Dubai e West Texas Intermediate

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de formao de preos, valendo citar a influncia da Opep e a especulao quanto ao nvel da atividade econmica futura. Alm disso, no Brasil, existem dvidas se a estrutura instalada para a gerao de energia eltrica e a velocidade dos novos investimentos nesse setor sero capazes de prover a crescente necessidade de seu emprego, gerando incertezas entre os empresrios que necessitam de regularidade no abastecimento a preos competitivos. Em razo da retomada da atividade econmica mundial, observa-se, no Grfico 4, a tendncia de elevao dos preos internacionais do petrleo.

Brasil e Mundo produo, consumo (14) e importao de N, P e K em 2007(em porcentagem sobre a quantidade) Brasil 1,8 Resto do Mundo

1.5. FErTIlIzAnTES E gS nATurAlOs fertilizantes mais utilizados na produo agrcola so compostos principalmente de nitrognio (N), fsforo (P) e potssio (K), produtos obtidos a partir de atividades mineradoras ou por meio da transformao de outras matrias-primas fsseis. Portanto, suas fontes primrias so de caracterstica finita. O nitrognio, na forma de ureia, obtido a partir do gs natural e compete, portanto, com todas as demais atividades que o utilizam como fonte de energia. Como o seu ambiente comercial diretamente influenciado pelo petrleo, as especificidades do mercado so equivalentes s j mencionadas anteriormente. A produo de fsforo e potssio tambm concentrada em poucos centros fornecedores, resultando em imperfeies de mercado, principalmente no que se refere oferta desses insumos. Em 2007, 73,5% da produo de fsforo esteve concentrada em apenas cinco pases. Para o potssio, a participao foi maior, de 82,2%, segundo a International (14) Fertilizer Association (IFA) . O Brasil fortemente dependente de terceiros mercados, j que foi o principal importador de fsforo e o terceiro (14) maior comprador mundial de nitrognio e potssio . Isto justificado pela caracterstica da maior parte do solo brasileiro, de baixa fertilidade, o que explica a forte participao desses produtos nos custos de produo, chegando mdia de 25% (12) para a soja e 32% para o milho . Vale destacar que o Brasil, a despeito da baixa fertilidade do solo, possui minas de fsforo e potssio. Entretanto, os elevados custos de extrao, estimados pelo setor em US$ 1,6 bilho para obter 1 milho de toneladas de fsforo (P2O5) e de US$ 1,8 bilho para a mesma quantidade de potssio (KCl), somados s restries ambientais, tm inviabilizado a explorao desse potencial.

Produo 98,2

5,1 Grfico 5 94,9 14,3 95,7

Consumo

Importao

Fonte: International Fertilizer Association (IFA) Elaborao: Fiesp/Deagro

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a produo de alimentos

1.6. DEFEnSIVOS AgrCOlASSegundo a Associao Brasileira da Indstria Qumica (Abiquim), o segmento de defensivos agrcolas representou, em 2008, apenas 7,0% do faturamento lquido total do setor, (15) no Pas . Intensiva em matrias-primas importadas, a produo nacional no depende apenas da interao do mercado internacional, como tambm da demanda dos demais segmentos qumicos concorrentes. Assim, tal como todos os demais fatores de produo que dependem diretamente de importaes, a disponibilidade interna para a agricultura est estritamente vinculada performance dos principais pases produtores. De maneira semelhante a alguns outros insumos, os defensivos tm um peso relativo importante no clculo do custeio das lavouras. Os dados da Conab indicam que esses produtos contribuem, em mdia, com 17,0% do custo total da soja e (12) 12,4% do milho . Notadamente sensvel questo ambiental, a indstria vem adotando aes responsveis tanto no Brasil como no resto do mundo. Quanto aos nveis de resduos, o setor encontra uma forte tendncia a legislaes internacionais mais restri-

tivas, com impactos, em alguns casos significativos, sobre a oferta de alimentos.

1.7. FATOrES COnjunTurAISPor fim, no se pode deixar de citar a influncia dos fatores conjunturais. No Brasil, a apreciao da moeda local em relao ao dlar e o elevado patamar da taxa de juro real, com o intuito principal de combate inflao, acabam interferindo de maneira significativa na competitividade das exportaes e na escolha de investimentos de curto prazo. O Grfico 6, que exibe as variaes entre 22 moedas em relao ao dlar norte-americano de 2003 a 2009, ilustra a dimenso do desafio imposto pelo cmbio ao Pas. O real foi a moeda que observou maior apreciao no perodo, de 35%, diante da mdia de 14% dos pases destacados, significando forte deteriorao das condies de exportao dos produtos brasileiros.

1.8. COnCluSODeterminar a produo de alimentos no uma tarefa simples. Se, por um lado, o nvel de atividade est atrelado

Dlar norte-americano evolues das taxas de cmbio(variao porcentual de 2003 a 2009, mdias anuais)

(16)

Moeda local 40 30Grfico 6

Cesta de moedas

Apreciao mdia = 14%

20 10 0 -10 Uruguai Cingapura Paraguai Austrlia Colmbia frica do Sul Tailndia Canad Rssia Taiwan Zona do Euro Nova Zelndia Filipinas China Turquia Malsia Japo Brasil Israel Peru Sua Chile -20

Fontes: Bancos centrais de cada pas Elaborao: Fiesp/Depecon

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BrasilFoodTrends2020

a produo de alimentos

s expectativas presentes e futuras do prprio mercado, por outro, depende tambm de todas as nuances apresentadas pelos ambientes de comercializao de seus insumos bsicos e intermedirios. De fato, a oferta crescente de alimentos, considerando certas as exigncias da demanda, est atualmente calcada nos princpios que representaram o estopim da Revoluo Verde: economia de recursos, principalmente os naturais, e identificao de ferramentas que ofeream, em crescente proporcionalidade, melhores resultados produtivos. A maior dependncia de matrias-primas de origem fssil possibilitou uma intensificao no uso da terra, que alcana seu limite. Entretanto, o histrico que aqui nos trouxe no apresenta indicativos de escassez de alimentos ou instabilidade da oferta a mdio prazo. Mas nada indica que o caminho de hoje ao futuro no esteja sujeito a turbulncias, ocasionadas pelos mercados dos fatores de produo, competio por matriasprimas e restries resultantes das mudanas climticas. Para o futuro mais longnquo, a plena dependncia de produtos finitos e fsseis forte preocupao, caso no ocorra uma desacelerao da demanda ou uma nova ruptura tecnolgica como representou a Revoluo Verde dos anos 50.

1.9. rEFErnCIAS BIBlIOgrFICASUNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs. World urbanization prospects, the 2007 revision. Disponvel em: . (2) UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. National Agricultural Statistics Service. Crops and plants. US historical production of food. Disponvel em: . (3) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Safras: gros. Disponvel em: . (4) INSTITUTO DE ECONOMIA AGRCOLA. Valor da terra nua. Disponvel em: . (5) BRASIL. Presidncia da Repblica. Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Cdigo Florestal. Disponvel em: . (6) REA, produtividade e meio ambiente. Agroanalysis, v. 29, n. 11, p. 36, nov. 2009. (7) AGNCIA NACIONAL DE GUAS. gua: edio comemorativa de ano 10 da Agncia Nacional de guas (ANA). Braslia: ANA, 2009. 268 p. Disponvel em: . (8) MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. Crdito rural no brasil 2002/03 2008/09. Dados estatsticos. Disponvel em: . (9) GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO. Unio da Agroindstria Canavieira de So Paulo. Protocolo de cooperao para a adoo de aes destinadas a consolidar o desenvolvimento sustentvel da indstria de cana-de-acar no estado de So Paulo. So Paulo, 4 de junho de 2007. Disponvel em: . (10) MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. Plano agrcola e pecurio 2009/2010. Disponvel em: < http://www.planoagricola20092010.com.br/>. (11) ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Producer and consumer support estimates, OECD Database 1986-2008. Disponvel em: . (12) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Custos de Produo. Disponvel em: . (13) INTERNATIONAL MONETARY FUND. Primary commodity prices. Disponvel em: . (14) THE INTERNATIONAL FERTILIZER INDUSTRY ASSOCIATION. Statistics. IFADATA. Disponvel em: . (15) ASSOCIAO BRASILEIRA DA INDSTRIA QUMICA. Indstria Qumica Brasileira 2008. Relatrio anual. Disponvel em: . (16) FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SO PAULO. Departamento de Economia. macro Viso. Disponvel em: .

BrasilFoodTrends2020

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BrasilFoodTrends2020

Antonio Carlos Prado B. Costa, Fernando dos Santos Macdo e Gregory Honczar

Captulo 2.

fatores que influenciam o consumo de alimentosNeste Captulo sero apresentados e analisados os principais fatores determinantes da demanda por alimentos, que permitiro projetar o cenrio de consumo para os prximos anos, com base no crescimento da populao mundial, na acelerao do processo de urbanizao de pases em desenvolvimento, no crescimento econmico e na renda.As questes qualitativas, que advm do nvel de escolaridade, do incremento da renda e do envelhecimento da sociedade, dentre outros movimentos, tm um peso importante na determinao das mudanas no padro de consumo e, da mesma forma, sero avaliadas a seguir.

BrasilFoodTrends2020

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fatores que influenciam o consumo de alimentos

2.1. POPulAOO nmero de pessoas no planeta vem aumentando consideravelmente. De acordo com dados calculados pela ONU, a populao mundial, de 2,53 bilhes de indivduos em 1950, subiu 170,01% at 2009, para 6,83 bilhes, representando uma taxa anual equivalente de 1,70%. Estima-se ainda um aumento de mais de 0,8 bilho de pessoas de 2009 at 2020, a uma taxa mdia inferior do perodo anterior, de 1,07% ao ano. As regies mais pobres foram as que mais cresceram em populao, seguindo a tendncia histrica. Porm, as altas taxas de natalidade observadas no passado recente desses pases no foram acompanhadas de elevadas taxas de mortalidade. Como exemplo tem-se a regio do Leste da frica, que cresceu 391,55% de 1950 a 2009, equivalente a 2,74% ao ano. Djibuti, Mayotte, Qunia e Uganda so exemplos de pa(1) ses desse territrio que cresceram mais de 3,00% ao ano . Muito embora os efeitos do Leste da frica, similares aos da frica em geral, sejam importantes e dignos de nota, o continente comportou apenas 14,79% da populao mundial em 2009, no justificando, isoladamente, o forte incremento (1) da demanda mundial . Para tanto, esta publicao centraliza as anlises nos

dois pases mais populosos do mundo, China e ndia, os quais, somados, concentraram 37,25% de toda a popula(1) o do planeta em 2009, ou 2,54 bilhes de habitantes . Adicionalmente, comentrios sobre o Brasil tambm sero considerados, de acordo com o foco da publicao. Considerando os trs pases mencionados, o que obteve o maior crescimento relativo da populao entre 1950 e 2009 foi o Brasil, seguido de ndia e China, com 2,19%, 2,00% e 1,54% equivalente ano, respectivamente. Somados, responderam pelo incremento de 1,77 bilho de pesso(1) as no mundo nesses 59 anos . Assim, subentende-se que as ocorrncias observadas nessas naes, em especial na China e na ndia, so capazes de influenciar o cenrio econmico e produtivo mundial com maior robustez. Como forma de ilustrar tem-se o exemplo do quilo chins e indiano para as carnes: a partir da anlise de dados do United States Department of Agriculture (USDA), calcula-se que o aumento de 1 quilo no consumo per capita de carne bovina nos dois pases resultaria na imediata necessidade de incremento das exportaes mundiais de 34%. No caso das carnes de frango e suna, esses incrementos seriam de 30% e (2) (3) 22%, respectivamente .

Mundo: populao e taxa equivalente (1) de seu crescimento (dcadas), no perodo de 1950 a 2020(milhes de habitantes e aumento porcentagem equivalente ano)

8.000Grfico 1

1,8% a.a.

2,0% a.a.

1,9% a.a.

1,8% a.a.

1,5% a.a.

1,2% a.a. 1,1% % 1,1% a.a.

7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 1955 1965 1975 1985 1995 2005

Fonte: Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro. nota: Varincia mdia

24

BrasilFoodTrends2020

2015

2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Mundo: populaes rural e urbana(milhes de indivduos)

(4)

Populao rural 4.500 4.000Grfico 2

Populao urbana

3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2015 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2020

Fonte: Prospectos da Urbanizao Mundial reviso 2007, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro

2.1.1. urbanizaoO aumento da populao no explica completamente todos os possveis efeitos sobre a demanda. As mudanas nos nveis de urbanizao tambm geram pesados impactos ao mercado de alimentos. Com o desenvolvimento econmico, os indivduos migram para as reas urbanas em busca de melhores oportunidades. Deixando de produzir para o prprio sustento, essas pessoas passam a incorporar a economia de mercado, elevando imediatamente a demanda por alimentos, principalmente os processados ou industrializados. Os dados globais mostram que o crescimento da populao do meio rural est desacelerando desde 1975, chegando a um ponto de inflexo em 2020. A partir desse momento, as estimativas so de queda absoluta do nmero de pessoas vivendo no meio rural, chegando, em 2050, a nveis observados na primeira metade da dcada de 1980. A populao urbana tambm tem experimentado uma diminuio do ritmo de crescimento desde 1980. Entretanto,

Cia de Fotos/Fiesp

BrasilFoodTrends2020

25

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Brasil: populaes rural e urbana(milhes de indivduos)

(4)

Populao rural 250 200Grfico 3

Populao urbana

150 100 50 -

1950

1960

1970

1980

1990

2000

2010

1955

1965

1975

1985

1995

2005

Fonte: Prospectos da Urbanizao Mundial reviso 2007, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro

China: populaes rural e urbana(milhes de indivduos)

(4)

Populao rural 900 750Grfico 4

Populao urbana

600 450 300 150 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015 2020

Fonte: Prospectos da Urbanizao Mundial reviso 2007, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro

26

BrasilFoodTrends2020

2015

2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

ndia: populaes rural e urbana(milhes de indivduos)

(4)

Populao rural 1.000 800Grfico 5

Populao urbana

600 400 200 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015 2020

Fonte: Prospectos da Urbanizao Mundial reviso 2007, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro

a ONU no prev uma queda em termos absolutos, ao menos antes de 2050. China, ndia e Brasil esto em momentos completamente distintos nesse processo. No Brasil, o xodo rural j ocorria desde antes de 1950, tornando o crescimento populacional rural negativo j a partir de 1970. Para a China, a dcada de 1970 foi altamente determinante para o desenvolvimento econmico do pas. A maior parte da populao vivia no meio rural, representando grande estoque de mo de obra para trabalhar na indstria crescente, a baixo custo, configurando um diferencial competitivo suficiente para a conquista de diversos mercados. A partir de 1995, houve um decrscimo da populao rural do pas, demonstrando a acelerao da migrao para as cidades. Finalmente, grande parte da populao da ndia continua vivendo em reas rurais, demonstrando atraso na consolidao desse modelo de urbanizao e desenvolvimento econmico. Entretanto, o enfraquecimento do xodo rural chins previsto para os prximos anos tende a alterar a atratividade de investimentos naquele pas, tornando a ndia uma importante

nao capaz de prover um grande estoque de mo de obra a ser rapidamente incorporado ao mercado de trabalho. Portanto, a tendncia mundial do crescimento da populao urbana superior ao da rural pressionar mais fortemente a demanda futura por alimentos.

2.1.2. Estrutura etria e familiar e a mulher no mercado de trabalhoEm relao ao envelhecimento, tem-se que a idade mdia da populao mundial em 1950 era de apenas 24 anos, enquanto atualmente est perto de 29 anos (Tabela 1). Para 2020, a mdia ser superior a 31 anos e a populao com mais de 60 anos representar 13,4% do total, ante 8,1% em 1950. Essa tendncia ao envelhecimento resultou da combinao da reduo da taxa de natalidade com o aumento da expectativa de vida (Tabela 2), que passou de 47 anos na dcada de 1950 para os atuais 68 anos, devendo chegar a 70 anos em 2020. O fato indica uma alterao do perfil das necessidades nutricionais dos produtos a serem consumidos.BrasilFoodTrends2020

27

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Mundo: populao quadro resumo*(1)

INDICADORPopulao De 0 a 14 anos De 15 a 24 anos De 25 a 54 anos Acima de 55 anos Acima de 60 anos Acima de 65 anos Acima de 70 anos Acima de 75 anos Acima de 80 anos Idade mdia Densidade

UNIDADE1950

ANO2009 2020

VARIAo PORCENTUAL EQUIVALENTE ANO1950 a 2009 2009 a 2020

milhes porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem anos pessoas por km2

2.529 34,1 18,2 36,0 11,6 8,1 5,2 3,0 1,5 0,6 24,0 19,0

6.829 27,2 17,8 39,9 15,2 10,8 7,5 5,0 2,9 1,5 29,1** 51,0**

7.675 25,0 15,7 40,8 18,4 13,4 9,3 5,9 3,4 1,9 31,5 56,0

1,7 - 0,4 - 0,0 0,2 0,5 0,5 0,6 0,9 1,2 1,6 0,3 1,7

1,1 - 0,7 - 1,1 0,2 1,8 2,0 2,0 1,5 1,5 2,0 0,7 0,9

TaBELa 1

Fonte: Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro. Notas: *Varincia mdia. **Valores para 2010

Mundo: populao quadro resumo*(1)

INDICADORTaBELa 2

UNIDADE1950-55

VARIAo PORCENTUAL EQUIVALENTE ANO2000-05 2005-10 2015-20

Taxa de crescimento da populao Taxa bruta de natalidade Taxa bruta de mortalidade Fertilidade total Expectativa de vida ao nascer

porcentagem porcentagem porcentagem filhos por mulher anos

1,77 3,72 1,95 4,92 46,60

1,26 2,12 0,86 2,67 66,40

1,18 2,03 0,85 2,56 67,60

1,00 1,82 0,83 2,40 70,10

Fonte: Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro. Nota: *Varincia mdia

O Brasil segue a tendncia mundial de envelhecimento da populao e aumento da expectativa de vida, como pode ser observado nas Tabelas 3 e 4. Alm do envelhecimento da populao, observa-se a alterao de outros dois fatores sociais, que ajudaro a compor um cenrio de modificao nos hbitos e padres de consumo. Segundo o IBGE, na Sntese de Indicadores Sociais de

2009, a proporo de casais sem filhos cresceu entre 1998 e 2008, passando de 13,3% para 16,7%(5), fortalecendo a tendncia de queda do nmero mdio de filhos por mulher, de 6,15 no perodo de 1950 a 1955 para menos de 1,9 entre 2005 e 2010, de acordo com a Tabela 4. Alm disso, as mulheres intensificaram sua presena no mercado de trabalho, com o crescimento (5) da participao de 42% em 1998 para 47,2% em 2008 .

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BrasilFoodTrends2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Brasil: populao quadro resumo*(1)

INDICADORPopulao De 0 a 14 anos De 15 a 24 anos De 25 a 54 anos Acima de 55 anos Acima de 60 anos Acima de 65 anos Acima de 70 anos Acima de 75 anos Acima de 80 anos Idade mdia Densidade

UNIDADE1950

ANO2009 2020

VARIAo PORCENTUAL EQUIVALENTE ANO1950 a 2009 2009 a 2020

milhes porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem anos pessoas por km2

54 41,6 19,3 31,7 7,4 4,9 3,0 1,6 0,8 0,3 19,2 6,0

194 25,9 17,6 42,5 14,0 9,9 6,7 4,4 2,6 1,4 29,0** 23,0**

209 20,1 16,4 44,0 19,5 14,0 9,6 6,1 3,6 2,0 33,6 25,0

2,2 - 0,8 - 0,2 0,5 1,1 1,2 1,4 1,7 2,1 2,8 0,7 2,3

0,7 - 2,3 - 0,6 0,3 3,1 3,3 3,3 3,0 3,1 3,4 1,3 0,8

TaBELa 3

Fonte: Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro. Notas: *Varincia mdia. **Valores para 2010

2.2. rEnDAOs dados do World Economic Outlook Database (WEO), do Fundo Monetrio Internacional (FMI), no qual quase 150 pases possuem informaes histricas desde 1980, nota-se que tanto a China quanto a ndia, mesmo tendo as maiores

populaes do planeta, esto entre as 15 naes que obtiveram os mais expressivos aumentos individuais de renda, tanto em valores constantes quanto em paridade de poder de (6) compra (PPP) . A China proporcionou aos seus cidados um crescimento mdio da renda maior que 8,7% ao ano at 2008, ficando

Brasil: populao quadro resumo*(1)

TaBELa 4

INDICADORTaxa de crescimento da populao Taxa bruta de natalidade Taxa bruta de mortalidade Fertilidade total Expectativa de vida ao nascer

UNIDADE1950-55

VARIAo PORCENTUAL EQUIVALENTE ANO2000-05 2005-10 2015-20

porcentagem porcentagem porcentagem filhos por mulher anos

3,06 4,40 1,54 6,15 50,90

1,32 1,98 0,64 2,25 71,00

0,98 1,64 0,64 1,90 72,30

0,60 1,29 0,68 1,60 74,80

Fonte: Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro. Nota: *Varincia mdia

BrasilFoodTrends2020

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fatores que influenciam o consumo de alimentos

na segunda posio, atrs apenas da pouco expressiva Guin Equatorial, enquanto o porcentual indiano foi de mais de 4,0% ao ano, ambos em moeda local descontando a inflao. Em termos de poder de compra, a situao foi mais positiva, na mdia de 12,0% a.a. e 7,2% a.a., consecutivamente. O FMI ainda projeta crescimento anual equivalente ao observado, (6) para estes pases, at 2014 . O Brasil esteve prximo centsima posio, com crescimento menos agressivo, de 0,8% a.a. a preos constantes e de 3,7% a PPP, de 1980 a 2008. Entretanto, a performance prevista do Pas mais otimista para o perodo de 2008 a 2014, de 2,0% a.a. a preos constantes com os mesmos 3,7% PPP, levando o Brasil 69 posio, considerando o mesmo (6) grupo de pases . Apesar de o crescimento econmico passado ter se apresentado de maneira relativamente mais modesta no Pas frente a outras naes, o conhecimento do comportamento de

outras questes estruturais internas capaz de aprimorar o entendimento das mudanas nos padres e nas exigncias dos consumidores. o caso das modificaes na renda familiar. Estudos do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) indicam o encurtamento das distncias entre as pessoas que auferem mais e menos renda, demonstrando o direcionamento a um ambiente socialmente mais igualitrio. Ao dividir a populao igualmente em dez grupos, sendo o primeiro formado pelos indivduos de menor renda e o dcimo pelos de maior ganho, nota-se que os mais desfavorecidos foram aqueles que apresentaram maior crescimento de renda, em comparao aos demais, no perodo de 1996 a 2008. Estes aumentaram sua participao na renda total do Pas em 52,4%, enquanto os mais ricos perderam 9,0%, reduzindo sua participao sobre a renda total de 47,5% para 43,2%, no perodo. Em termos absolutos e constantes, pode-se constatar a elevao do poder de compra de toda a populao (Gr-

Brasil: renda domiciliar per capita (7) participaes dos grupos de indivduos por estrato de renda(porcentagem)Participao do Grupo sobre a Renda Total de 1996 Participao do Grupo sobre a Renda Total de 2008 Variao da Participao do Grupo sobre a Renda Total, entre 1996 e 200852,4 36,4 29,5 23,1 18,7 16,7 7,8 2,3 -3,9 -9,0

Grfico 6

60 50 40 30 20 10 -10

1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo

4 Grupo 5 Grupo 6 Grupo 7 Grupo

8 Grupo 9 Grupo 10 Grupo

Menor Renda

Maior Renda

Fonte: Ipea Elaborao: Fiesp/Deagro. Nota: Proporo da renda total do Pas apropriada segundo a renda domiciliar per capita. Srie revista conforme ponderao divulgada pelo IBGE em 2009.

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BrasilFoodTrends2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Brasil: renda per capita familiar valores reais (7) dos grupos de indivduos por estrato de renda e variao(R$ de outubro de 2008 e porcentagem)

Renda do Grupo em 1996 (R$) Renda do Grupo em 2008 (R$) Variao da Renda do Grupo entre 1996 e 2008 (%)

4.000 3.500Grfico 7

78,8

59,8

51,2

43,5

38,5

36,1

25,7

19,3

12,1

6,1

100,0 87,5 75,0 62,5 50,0 37,5 25,0 12,5 -

3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6 Grupo 7 Grupo 8 Grupo 9 Grupo 10 Grupo

Menor Renda

Maior Renda

Fonte: Ipea Elaborao: Fiesp/Deagro. Nota: Mdia da renda domiciliar per capita. Srie revista conforme ponderao divulgada pelo IBGE em 2009.

fico 7). Comparando 1996 com 2008, entretanto, observase que tais ganhos foram expressivamente maiores para os estratos mais baixos de receita familiar, 78% ante 6,1% do estrato de maior receita familiar. Um fator importante, que impacta diretamente no nvel de renda est relacionado poltica fiscal, seja federal ou estadual. Nesse sentido, o Brasil um dos pases que mais tributam alimentos no mundo. Estudos realizados pelo Departamento do Agronegcio da Fiesp em parceria com a Fundao Getulio Vargas indicam que, para os produtos alimentcios, as alquotas dos impostos que incidem sobre o consumo no Brasil, como o ICMS, so extremamente superiores aos nveis praticados em pases desenvolvidos por impostos semelhantes. No Pas, o tributo possui uma alquota mdia de 16%, enquanto nos Estados Unidos a alquota se (8) aproxima de zero e na Unio Europeia de apenas 5% .

As elevadas alquotas de PIS, Cofins e ICMS incidentes sobre os produtos alimentcios possuem caractersticas altamente regressivas ou seja, geram efeitos desiguais para as diferentes faixas de renda com impactos mais significativos entre os mais pobres. Assim, uma eventual desonerao ou mesmo reduo desses tributos tem a capacidade de, em um primeiro momento, resultar em mais renda para toda a populao, tal como na reduo da regressividade citada anteriormente. Em um segundo momento, a renda excedente assumiria o papel de multiplicador para todos os setores da economia, incluindo o alimentcio, elevando a demanda em at 11%, bem como o (8) patamar do PIB em alguns pontos porcentuais . A renda interfere quantitativa e qualitativamente na demanda por alimentos. Em termos gerais, deixando de lado a questo de nichos de mercado e outras particularidades, cresBrasilFoodTrends2020

31

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Brasil: peso dos tributos sobre os alimentos (8) no consumo total das famlias, por faixa mensal de renda(porcentagem)

3,5 3,0Grfico 8

2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 At R$ 1.000 De R$ 1.000 a R$ 2.000 De R$ 2.000 a R$ 4.000 De R$ 4.000 a R$ 8.000 De R$ 8.000 a R$ 16.000 De R$ 16.000 a R$ 32.000 Mais de R$ 32.000 Total

Fontes: FGV e Fiesp Elaborao: Fiesp/Deagro

centes nveis de renda levam, em um primeiro momento, ao aumento quantitativo do consumo e, em nveis subsequentes, a uma melhor seleo do que consumir em termos qualitativos. No primeiro estgio de acesso alimentao, a dieta mais restrita a fontes nutricionais menos custosas, como cereais, acar e produtos processados bsicos. A partir de ento, alimentos mais complexos e industrializados passam a ser paulatinamente incorporados, como o leite e seus derivados e carnes de aves, fontes de protena animal, substituindo parte do consumo daqueles bens mais bsicos. Em sequncia, so consumidas outras fontes de protena animal, como carnes suna e bovina, e incorporam-se produtos hortcolas e frutas. O aprimoramento da cincia da nutrio colabora na montagem de uma cesta de consumo mais apropriada, de acordo com as caractersticas particulares de cada indivduo, levando em conta o metabolismo, o sexo, a idade etc. A Tabela 5 demonstra a variao do perfil de consumo de alimentos no Brasil, considerando-se uma cesta de produtos a partir da elevao da renda. Por fim, chegando a nveis elevados de renda, esse indivduo passa a considerar atributos alm daqueles me-

ramente nutricionais, como sustentabilidade da produo, boas prticas, preservao e respeito ao meio ambiente, produtos com baixos teores de resduos, regionalizao e origem etc. Vale notar que o trade-off recorrente da melhora da cesta de alimentos consumida, principalmente pela incorporao de maiores quantidades de produtos de origem animal, resulta em uma presso mais do que proporcional na demanda por gros, uma vez que so utilizados como rao para a produo de carnes. Como exemplo, para se produzir 1 quilo de carne de frango so necessrios 2 quilos de rao, composta majoritariamente de milho e soja. No caso das carnes suna e bovina, so necessrios de 4 e 8 quilos, respectivamente.

2.3. EDuCAO, InFOrmAO E InTErCmBIO CulTurAlMelhores nveis de escolaridade sugerem que os indivduos consigam determinar apropriadamente os produtos alimentcios mais adequados para o seu consumo. Nota-se que a escolaridade no Brasil vem crescendo continuamente,

32

BrasilFoodTrends2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

de 1996 a 2007, passando de 5,4 anos para os atuais 6,9 anos de estudo. Ainda assim, o Pas tem um longo caminho pela frente, se considerarmos que o analfabetismo ainda alto, atingindo 11,4% da populao diante de apenas 1% nos (10) Estados Unidos, no Reino Unido e na Alemanha . Pressupondo que o nvel mdio de escolaridade tenha o mesmo comportamento, o dado indica que o movimento brasileiro para a melhora qualitativa da demanda de alimentos atravs da educao ainda est longe do esgotamento.

Ainda quanto influncia de fatores que levam a uma mudana qualitativa no consumo de alimentos, podemos citar a ampliao do acesso informao e cultura, resultando em impactos similares aos advindos de melhores nveis de escolaridade. Nesse contexto, a internet tem um papel relevante, pois representa um ambiente altamente democrtico informao e discusso. A rede mundial tambm um meio de comunicao de baixo custo, o que vem permitindo um forte crescimento de sua utilizao, que j atingiu 37,0% da po-

Brasil: variao* da aquisio domiciliar (9) (per capita anual) de produtos alimentcios por grupo de produtos(porcentagem)

GRUPO DE PRODUTOSFarinhas e fculas Cereais e leguminosas Acares Ovos Vsceras leos e gorduras Carnes de aves Sais e condimentos Massas Carne bovina Pescados de gua salgada Panificados Hortalias Leite e creme de leite Carne suna Frutas Bebidas e infuses Doces e produtos de confeitaria Alimentos preparados Castanhas e nozes Queijos e requeijes Outros produtos Todos os alimentos

VARIAo* (%)

PESO RELATIVO** (%)5,4 14,6 6,2 0,5 0,3 3,1 4,2 1,8 1,4 5,1 0,6 6,1 8,8 13,7 1,7 7,4 13,7 0,6 0,7 0,0 0,6 3,3 100,0

(60,3) (31,5) (29,9) (5,2) (0,8) 10,6 16,2 29,8 33,2 37,7 38,0 87,0 88,7 94,2 105,0 226,2 283,4 285,6 431,4 517,4 582,7 29,8 56,1

TaBELa 5

Fonte: Pesquisa de Oramentos Familiares, resultados de 2002 IBGE Elaborao: Fiesp/Deagro. Notas: *Comparao dos resultados dos grupos que auferiram renda de R$ 400 a R$ 600 e mais de R$ 3.000. **Peso relativo dos produtos para toda a amostra da pesquisa, independentemente da faixa de renda.

BrasilFoodTrends2020

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fatores que influenciam o consumo de alimentos

pulao brasileira em 2008, como observado no Grfico 10. A internet tambm permite a melhor disseminao cultural, o que, ao lado de experincias efetivas com outras naes e costumes, graas a viagens de negcios ou meramente tursticas, promove o conhecimento de novos modelos alimentcios e nutricionais que passam a influenciar as preferncias dos consumidores no dia a dia. A elevao da renda, tanto no Brasil quanto no mundo, tem possibilitado um maior intercmbio cultural, como se pode observar pela elevao do nmero de desembarques internacionais nos aeroportos de todo o planeta. No Brasil, a despeito da baixa participao no fluxo mundial de passageiros, como mostra o Grfico 11, a tendncia de que o Pas se torne forte destino de turistas de outras

naes, hiptese reforada pelos grandes eventos mundiais que aqui ocorrero nos prximos anos, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpadas de 2016.

2.4. COnCluSOVerifica-se, ento, que os pases em desenvolvimento, em especial a China e a ndia, e considerando tambm o Brasil, passam por um perodo de forte crescimento econmico e de renda nos ltimos anos, a despeito da crise econmica mundial do segundo semestre de 2008. Esse movimento foi acompanhado pelo incremento da urbanizao, intensificando e alterando o perfil de consumo da populao mundial, com o aumento da preferncia por alimentos mais elaborados e proticos.

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Cia de Fotos/Fiesp

BrasilFoodTrends2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

Brasil: escolaridade da populao acima de 25 anos(mdia em anos de estudo)

(11)

7,00 6,75 6,50Grfico 9

6,25 6,00 5,75 5,50 5,25 5,00 1996 1997 1998 1999 2000* 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Fonte: Ipea Elaborao: Fiesp/Deagro. Nota: *Dado estimado

Brasil: populao e usurios da internet(milhes de pessoas e porcentagem)Usurios da internet Populao Participao da populao que utiliza internet (%)

(1) (12) (13)

Grfico 10

200 150 100 50 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

40 30 20 10 -

Fontes: International Telecommunication Union (ITU), UNDATA ONU e Prospectos da Populao Mundial reviso 2008, ONU Elaborao: Fiesp/Deagro

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fatores que influenciam o consumo de alimentos

Mundo: desembarque de turistas em aeroportos e participao do Brasil(milhes de pessoas e porcentagem)

(14) (15)

Desembarque de passageiros no mundo (milhes de pessoas) Participao do desembarque de passageiros do Brasil no mundo (%) 1.000Grfico 111,0 0,8 0,6 0,4 0,2 -

900 800 700 600 500 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Fonte: Estatsticas e Indicadores de Turismo, Turismo Mundial e Estatsticas Bsicas de Turismo Ministrio do Turismo Elaborao: Fiesp/Deagro

A indstria de alimentos deve ficar atenta s tendncias e desafios deste novo cenrio da demanda, como forma de manter o seu posicionamento competitivo. Macios investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovao, seja de produtos, seja de processos, se faro necessrios, monitorando-se permanentemente o ambiente regulatrio. Entretanto, com o aumento da renda e do poder de compra, alm de maior acesso informao, o desafio ser produzir bens atendendo s exigncias de um consumidor cada dia mais crtico a respeito de todos os fatores relacionados gerao de alimentos. Esses fatores, que se configuram como tendncias para os prximos anos, sero apresentados nos captulos seguintes.

2.5. rEFErnCIAS BIBlIOgrFICAS(1) UNITED NATIONS. World population prospects, the 2008 revision. Disponvel em: . (2) UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Foreign Agriculture Service. Production and consumption of agricultural products. Disponvel em .

(3) UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Foreign Agriculture Service. Production, supply and distribution online. Disponvel em . (4) UNITED NATIONS. World urbanization prospects, the 2007 revision. Disponvel em: . (5) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Sntese de Indicadores Sociais 2009. Disponvel em: . (6) INTERNATIONAL MONETARY FUND. World economic outlook databases. Outubro de 2009. Disponvel em: . (7) INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA E APLICADA. IPEADATA. nvel de renda da populao brasileira. Disponvel em: . (8) FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SO PAULO. Departamento de Agronegcio. O peso dos tributos sobre os alimentos no Brasil. So Paulo: FIESP, 2009. (9) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Pesquisa de oramentos familiares 2002-2003 - perfil das despesas no Brasil - indicadores selecionados. Disponvel

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BrasilFoodTrends2020

fatores que influenciam o consumo de alimentos

em: . (10) CENTRAL INTELLINGENCE AGENCY. The world factbook. Disponvel em: . (11) INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA E APLICADA. IPEADATA. nvel de escolaridade da populao brasileira. Disponvel em: . (12) INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION. Estimated internet users. Disponvel em: . (13) UNITED NATIONS. UNData. Estimated internet users. Disponvel em: < http://data.un.org/>. (14) MINISTRIO DO TURISMO. Estatsticas bsicas de turismo: Brasil. Braslia, 2008. 33 p. Disponvel em: . (15) MINISTRIO DO TURISMO. Estatsticas e indicadores do turismo mundial. 4 p. Disponvel em:

BrasilFoodTrends2020

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BrasilFoodTrends2020

Livia Barbosa, Luis Madi, Maria Aparecida Toledo e Raul Amaral Rego

Captulo 3.

as tendncias da alimentaoA palavra tendncia, no escopo deste estudo, pode ser definida como a propenso dos indivduos em modificar hbitos j estabelecidos. A ao resultado dos amplos e complexos movimentos econmicos, sociais, culturais e polticos que se traduzem em constante influncia na vida das pessoas.Se, no passado, esses movimentos levavam anos ou mesmo dcadas para que fossem capazes de produzir alteraes substanciais nas escolhas e preferncias do consumidor, atualmente se constata, pela intensidade com que os mesmos ocorrem, uma reduo exponencial dos intervalos de tempo necessrios a transformaes mais significativas. De qualquer maneira, o verdadeiro desafio est na identificao precisa dos reflexos, em termos de novos hbitos de consumo, resultado das rpidas alteraes por que passa a sociedade. Com esse objetivo identificaram-se as recentes exigncias e tendncias dos consumidores mundiais de alimentos, com base em uma anlise de relatrios estratgicos produzidos por institutos de referncia, agrupando-os em cinco categorias: 1. Sensorialidade e Prazer 2. Saudabilidade e Bem-estar 3. Convenincia e Praticidade 4. Confiabilidade e Qualidade 5. Sustentabilidade e tica Como os estudos avaliados foram elaborados em mercados em relao aos quais o Brasil possui importante fluxoBrasilFoodTrends2020

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as tendncias da alimentao

comercial e cultural, e considerando a atuao global de muitas empresas do segmento, assume-se que as tendncias observadas nesses pases j esto ou estaro traduzidas nos hbitos de consumo da populao brasileira. Procurou-se, dessa maneira, quantificar e qualificar a intensidade com que o consumidor brasileiro, segmentado em diferentes nveis de renda, idade e escolaridade, entre outros, percebe as cinco categorias apresentadas. Para isso, foi realizada pelo Ibope uma pesquisa de mbito nacional, encomendada pela Fiesp para o projeto BFT 2020. Vale notar que iniciativas voltadas determinao de tendncias no so propriamente novidades. Tais informaes so altamente estratgicas para os agentes de mercado que acreditam no pioneirismo e no ineditismo como formas de aumentar as participaes de suas companhias em ambientes empresariais competitivos. O hbito de monitorar as tendncias atividade permanente em empresas de grande porte. Entretanto, no se pode afirmar o mesmo para parte significativa das micro e pequenas indstrias, da a contribuio deste trabalho no sentido de sistematizar as variveis mais relevantes, para subsidiar os projetos de PD&I dessas empresas.

(Confederation of the Food and Drink Industries-CIAA), para estimular o processo de inovao e aumento da competitividade global das indstrias de alimentos da Unio Europeia. Este estudo, elaborado por vrios grupos de trabalho, identifica as principais tendncias da alimentao, com foco nos consumidores dos pases europeus. A partir desta anlise de tendncias, estabelece as prioridades para a pesquisa tecnolgica, capacitao dos profissionais do setor de alimentos, desenvolvimento de novos produtos nas empresas e outros programas estratgicos, visando o aumento da competitividade das indstrias da Unio Europeia. Canadian Food Trends to 2020 A long range Consumer Ou(2) tlook (Canad, 2005) : com o objetivo de prover uma perspectiva do consumo de alimentos (e do prprio consumidor) no longo prazo, a Agriculture and Agri-Food Canada, entidade federal daquele pas, contratou a consultoria especializada Serecon Management Consulting Inc., que identificou as principais tendncias para 2020 no setor de alimentos e bebidas do Canad. Como resultado, 12 principais aspectos foram apontados, tais como o envelhecimento da populao, a mudana dos padres das refeies, as influncias culturais, as questes relativas a gastos com alimentos e sade, entre outros.n

3.1. PrInCIPAIS ESTuDOS SOBrE AS TEnDnCIAS PArA A AlImEnTAODos diversos documentos identificados, nove foram selecionados como os mais relevantes aos objetivos do BFT 2020 pelas caractersticas apresentadas, tais como: carter estratgico, qualidade, abrangncia e importncia dos mercados nos pases estudados para a indstria alimentcia brasileira. De modo geral, os trabalhos analisados adotam metodologias e terminologias distintas, tendo sido elaborados com enfoques diferenciados. Entretanto, notou-se a convergncia das suas concluses no que diz respeito s principais tendncias do setor alimentcio, seja para a produo, seja para os servios prestados neste segmento. Em seguida sero apresentados breves comentrios sobre os estudos e as suas instituies promotoras:n

Food 2020: The Consumer as CEO (FOOD 2020, 2009) : pesquisa realizada pela Ketchum, agncia global de relaes pblicas e comunicao estratgica, sediada em Nova York, com atuao em 65 pases, em diferentes reas como Brand Marketing, Healthcare, Food & Nutrition, and Technology. O foco da pesquisa, realizada nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Alemanha, na Argentina e na China, esteve nos fatores mais considerados na demanda dos alimentos e sobre quais seriam as prioridades que os consumidores estabeleceriam nas indstrias de alimentos, na hiptese de estes serem os CEOs dessas empresas.n n

(3)

Strategic research Agenda 2007-2020 (ETP, 2007) : este trabalho foi elaborado pela European Technology Platform on Food for Life, uma instituio criada em 2005, pela confederao das indstrias agroalimentares da Unio Europeia

(1)

Issues, Trends and Challenges Facing the Food and Drink In(4) dustry forecasts to 2014 (juST-FOOD, 2009) : pesquisa de mercado da empresa Aroq Limited, detentora do portal JustFood, que monitora as informaes estratgicas do setor de alimentos. A pesquisa teve como objetivo analisar as tendncias e condies capazes de influenciar o crescimento das vendas de alimentos e bebidas em um horizonte de cinco anos. Tem foco nos principais desafios do setor de alimentos,

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BrasilFoodTrends2020

as tendncias da alimentao

como as mudanas climticas, a recente recesso econmica, a confiana dos consumidores e o aumento dos ndices de obesidade na populao.n

global market review of new Product Development Strategies in The Food and Drink Industry forecasts to 2013 (5) (juST-FOOD, 2008) : pesquisa de mercado, tambm realizada pela empresa Aroq Limited, com o objetivo de destacar as melhores prticas no desenvolvimento de novos produtos diante das mudanas globais que afetam o setor de alimentos e bebidas. Tem foco sobre as tendncias do consumidor de alimentos, os fatores que influenciam essas tendncias, alm de abordar questes relacionadas inovao, desenvolvimento de produtos e marketing das empresas produtoras de alimentos.

do realizado como parte de um programa de pesquisas sobre a indstria de alimentos da Europa, destinado a identificar os principais fatores de mudanas neste setor, como o aumento da concorrncia, a segurana alimentar e as caractersticas do consumo. Produzido pela European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions (Eurofound), entidade que tem como misso monitorar e compreender mudanas, pesquisar e indicar o uso de ferramentas funcionais e efetivas e, por fim, partilhar ideias e experincias em benefcio do bem-estar dos indivduos, sempre que vinculadas s condies relativas a vida e ao trabalho. Foi elaborado com base em publicaes das seguintes instituies: European Commission, European Federation of Food, Agriculture and Tourism Trade Union (EFFAT) e Confederation of the Food and Drink Industries (CIAA), da Unio Europeia.n Tendncias da Alimentao Contempornea (Barbosa, (9) 2009) : o estudo destaca as principais tendncias do consumo de alimentos no Brasil, a partir de uma pesquisa de campo de abrangncia nacional sobre os hbitos alimentares da populao (Barbosa, Toledo, 2006), realizada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing-ESPM e pela Toledo e Associados, empresa especializada em pesquisa de mercado e opinio pblica.

World Innovation Panorama 2009 (xTC World Innovation, (6) 2009) : realizado pela XTC World Innovation, utiliza metodologia prpria que relaciona a inclinao dos consumidores em adquirir produtos com base em cinco eixos principais, sendo estes: prazer, sade, forma fsica, convenincia e tica. A empresa oferece um panorama anual da inovao mundial na rea de alimentos, por meio da anlise quantitativa e qualitativa em pases da Europa, Amrica do Norte, Amrica Latina e sia. A XTC uma empresa que presta servios de consultoria e informao na rea de inovao para diversas companhias transnacionais, nas reas industrial, varejo, design e embalagem, institucional e food service.n n Analyse wichtiger zukunftsthemen der lebensmittelindustrie und-forschung (Anlise de importantes temas futuros da inds(7) tria de alimentos e pesquisa) (EISnEr, 2008) : estudo sobre o futuro da indstria de alimentos, realizado pelo Instituto Fraunhofer. Trata-se de um instituto alemo de pesquisas tecnolgicas, referncia em diferentes reas relacionadas competitividade da economia daquele pas e qualidade de vida da sociedade, tais como sade, alimentao, segurana, comunicao, mobilidade, energia e meio ambiente. Este trabalho analisa a situao da indstria de alimentos na Europa e destaca as tendncias da alimentao, identificando necessidades e prioridades para as reas de pesquisa, desenvolvimento e inovao tecnolgica.

3.2. mAPEAmEnTO DAS TEnDnCIAS DA AlImEnTAOAs concluses obtidas a partir das anlises realizadas foram dispostas em uma matriz, organizao que facilita a interpretao e a atualizao sistemtica dos resultados, j que permite a observao completa das variveis relevantes e a incorporao de informaes advindas de novos estudos e pesquisas ainda no avaliados, permitindo o dinamismo e a continuidade do processo. Nesta etapa do BFT 2020, conforme ilustrado pela Figura 1, foi identificada a forte recorrncia de citao das tendncias, mesmo em estudos diferentes, realizados em regies geogrficas distintas. As cinco tendncias observadas so resultado das influncias geradas pelas mudanas que ocorrem nos fatores determinantes da demanda quantitativa e qualitativa por alimentos, como explicado anteriormente. Suas principais caractersticas so descritas a seguir e apresentadas, de forma resumida, na Figura 2.BrasilFoodTrends2020

n

Trends and Drivers of Change in the Food and Beverage In(8) dustry in Europe: mapping report (Eurofound, 2006) : estu-

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as tendncias da alimentao

Resultado da anlise comparativa dos estudos sobre tendnciaTENDNCIAS COMUNS IDENTIFICADAS ESTUDOS E PESQUISAS ANALISADOSSensorialidade Saudabilidade Convenincia Confiabilidade Sustentabilidade e Prazer e Bem-estar e Praticidade e Qualidade e tica

Strategic research Agenda 2007-2020 (ETP, 2007) Canadian Food Trends to 2020 A long range Consumer Outlook (Canad, 2005) Food 2020: The Consumer as CEO (FOOD 2020, 2009) Issues, Trends and Challenges Facing the Food and Drink Industry forecasts to 2014 (juST-FOOD, 2009) global market review of new Product Development Strategies in The Food and Drink Industry forecasts to 2013 (juST-FOOD, 2008) WOrlD InnOVATIOn PAnOrAmA 2009 (xTC World Innovation, 2009)

fiGura 1

Analyse wichtiger zukunftsthemen der lebensmittelindustrie und-forschung (EISnEr, 2008) Trends and Drivers of Change in the Food and Beverage Industry in Europe: mapping report (EurOFOunD, 2006) Tendncias da Alimentao Contempornea (Barbosa, 2009)

Elaborao: BFT 2020

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BrasilFoodTrends2020

as tendncias da alimentao

As tendncias relacionadas a sensorialidade e prazerAs tendncias de sensorialidade e prazer esto relacionadas com o aumento do nvel de educao, informao e renda da populao, entre outros fatores. Em diversos pases, os consumidores esto valorizando as artes culinrias e as experincias gastronmicas, influenciando tanto o setor de servios de alimentao como tambm o desenvolvimento de produtos industrializados. Essa tendncia dissemina as receitas regionais e os produtos tnicos, cria o interesse pela harmonizao de alimentos e bebidas, novas texturas e sabores. Por outro lado, valoriza a socializao em torno da alimentao, tornando os produtos alimentcios um importante elo entre as pessoas, dentro e fora dos lares. Ganham evidncia os circuitos e os polos gastronmicos nas cidades, como importante forma de lazer e entretenimento para moradores e turistas. Os segmentos de consumo de produtos de maior valor agregado tendem a continuar crescendo, tanto em relao aos produtos gourmet e premium, geralmente destinados populao de alta renda, como tambm para os alimentos sofisticados que tm preo acessvel para os consumidores emergentes, os quais devero representar os grandes mercados para a indstria de alimentos no futuro. De modo geral, destacam-se os foodies, consumidores aficionados por novos produtos e novas experincias em torno da alimentao. Entretanto, cada vez mais preocupados tambm com a sade e a forma fsica, o que tem levado demanda por produtos que sejam saborosos, mas tambm saudveis.

rentes nichos de mercado, como, por exemplo, os de produtos benficos ao desempenho fsico e mental, para a sade cardiovascular, sade gastrointestinal, para melhorar o estado de nimo (energticos) e para relaxar, entre outros. Tambm est associada a essa tendncia a procura por produtos com propriedades cosmticas, mercado considerado bastante promissor. O problema do excesso de peso e obesidade nas populaes de vrios pases estimula os produtos para dietas, alimentos com reduo ou eliminao de substncias calricas. Portanto, o segmento diet/light deve continuar sua tendncia de crescimento, ao qual se est aliando uma nova categoria de produtos com ingredientes especficos para queimar calorias e saciar o apetite. Nos pases desenvolvidos, consolida-se o consumo de alimentos orgnicos, os quais enfrentam a concorrncia das verses naturais de produtos tradicionais, com eliminao de aditivos qumicos, entre outras caractersticas.

As tendncias relacionadas a convenincia e praticidadeAs tendncias de convenincia e praticidade so motivadas, principalmente, pelo ritmo de vida nos centros urbanos e pelas mudanas verificadas na estrutura tradicional das famlias, fatores que estimulam a demanda por produtos que permitem a economia de tempo e esforo dos consumidores. Por isso cresce a demanda por refeies prontas e semiprontas, alimentos de fcil preparo, embalagens de fcil abertura, fechamento e descarte, com destaque para produtos para o preparo em forno de micro-ondas, alm de servios e produtos de delivery. Para a alimentao fora do lar, cresce o consumo de produtos em pequenas pores (snacking, finger food), produtos embalados para consumo individual (monodoses), produtos adequados para comer em trnsito ou em diferentes lugares e situaes. Entretanto, essas tendncias convergem com as necessidades de saudabilidade e bem-estar, resultando no aumento da demanda de alimentos convenientes, tais como bebidas base de frutas, snacks de vegetais, iogurtes etc.

As tendncias relacionadas a saudabilidade e bem-estarAs tendncias de saudabilidade e bem-estar originamse em fatores tais como o envelhecimento das populaes, as descobertas cientficas que vinculam determinadas dietas s doenas, bem como a renda e a vida nas grandes cidades, influenciando a busca de um estilo de vida mais saudvel. So diversos os segmentos de consumo que esto surgindo a partir dessas tendncias, entre os quais possvel destacar a procura de alimentos funcionais, os produtos para dietas e controle do peso, e o crescimento de uma nova gerao de produtos naturais que esto se sobrepondo ao segmento de produtos orgnicos. Aliado maior preocupao dos consumidores com a nutrio, o consumo de produtos funcionais tem formado dife-

As tendncias relacionadas a confiabilidade e qualidadeOs consumidores mais conscientes e informados tendem a demandar produtos seguros e de qualidade atestada, valorizando a garantia de origem e os selos de qualidade, obtiBrasilFoodTrends2020

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as tendncias da alimentao

FATORES DETERMINANTES DA DEMANDA DE ALIMENTOS

As tendnciasTENDNCIAS DA ALIMENTAO

Populao

Sensorialidade e Prazer

UrbanizaofiGura 2

Saudabilidade e Bem-estar

Educao e Informao

Convenincia e Praticidade

Estrutura Etria

Qualidade e Confiabilidade

Renda

Sustentabilidade e tica

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BrasilFoodTrends2020

as tendncias da alimentao

da alimentaoEXEMPLOS DE CARACTERSTICAS VALORIZADAS PELOS CONSUMIDORES EM DIFERENTES PASES- Valorizao da culinria e da gastronomia - Produtos com maior valor agregado (gourmet, iguarias, premium, delicatessen) - Variao de sabores - Produtos com forte apelo sensorial - Produtos com apelo indulgncia - Alimentos exticos - Culinria de regies especcas (produtos tnicos) - Produtos com embalagem e design diferenciados - Recuperao de culinrias regionais e tradicionais - Harmonizao de alimentos e bebidas - Socializao em torno da alimentao - Lazer e turismo em torno da alimentao (circuitos e polos gastronmicos) - Produtos e embalagens ldicas e interativas

- Produtos bencos ao desempenho fsico e mental - Produtos bencos sade cardiovascular - Produtos bencos sade gastrointestinal (probiticos, prebiticos e simbiticos) - Produtos para dietas especcas e alergias alimentares - Produtos com aditivos e ingredientes naturais - Alimentos de alto valor nutritivo agregado (funcionais) - Produtos isentos ou com teores reduzidos de sal, acar e gorduras (better-for-you) - Produtos forticados

- Produtos diet/light - Produtos orgnicos - Produtos energticos - Produtos para esportistas - Produtos minimamente processados - Produtos vegetais (frutas, hortalias, ores e plantas medicinais) - Produtos com propriedades cosmticas - Produtos com selos de qualidade de sociedades mdicas

- Pratos prontos e semiprontos - Produtos minimamente processados - Alimentos de fcil preparo - Embalagens de fcil abertura, fechamento e descarte - Produtos para forno e microondas - Kits para preparo de refeies

- Produtos em pequenas pores (snacking, nger food) - Produtos embalados para consumo individual (monodoses) - Produtos adequados para comer em trnsito - Produtos adequados para consumo em diferentes lugares e situaes - Servios e produtos de delivery

- Produtos com rastreabilidade e garantia de origem - Processos seguros de produo e distribuio - Processos de gerenciamento de riscos - Certicados e selos de qualidade e segurana - Rotulagem informativa

- Produtos com credibilidade de marca - Processos com tecnologia de ponta (nano e biotecnologia, radiofrequncia etc.) - Embalagens ativas e inteligentes - Boas prticas de fabricao - Produtos e servios padronizados

- Produtos de empresas sustentveis - Empresas com programas avaliados e certicados de responsabilidade socio-ambiental - Produtos com menor pegada de carbono (carbon footprint) - Produtos de baixo impacto ambiental - Produtos associados ao bem-estar animal - Rotulagem ambiental e social - Produtos de sistema fairtrade - Embalagens reciclveis e recicladas

- Revalorizao de materiais - Processos com utilizao de fontes renovveis - Gerenciamento de resduos e emisses - Certicaes e selos ambientais - Produtos vinculados a causas sociais e ambientais - Produtos e embalagens racionalizados - Processos produtivos sustentveis - Processos ecientes

Elaborao: BFT 2020 BrasilFoodTrends2020

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as tendncias da alimentao

istockphoto

dos a partir de boas prticas de fabricao e controle de riscos. Nessa direo tm sido valorizadas caractersticas que so intrnsecas aos produtos, tais como a rastreabilidade e a garantia de origem, os certificados de sistemas de gesto de qualidade e segurana, a rotulagem informativa e outras formas de comunicao que as empresas possam utilizar para demonstrar os atributos dos seus produtos. Estas e outras prticas contribuem para construir a credibilidade das marcas dos produtos e ganhar a confiana e a preferncia dos consumidores.

As tendncias relacionadas a sustentabilidade e ticaAlm da exigncia com a qualidade dos produtos e processos, as tendncias de sustentabilidade e tica tm provocado o surgimento de consumidores preocupados com o meio ambiente e tambm interessados na possibilidade de contribuir para causas sociais ou auxiliar pequenas comunidades agrcolas por meio da compra de produtos alimentcios.

Em relao sustentabilidade ambiental, vrios aspectos esto sendo valorizados nos produtos pelos consumidores de diversos pases, tais como uma menor pegada de carbono (carbon footprint), baixo impacto ambiental, no estar associado a maus-tratos aos animais, ter rotulagem ambiental, ter embalagens reciclveis e recicladas etc. Sob o aspecto social, tem aumentado o interesse por produtos vinculados a causas sociais, com certificados de origem de sistema fairtrade, alm da simpatia pelas empresas com programas avaliados e certificados de responsabilidade social. Todas essas tendncias sero contempladas no Captulo 5, no contexto da indstria de alimentos, no que diz respeito s inovaes de produtos, dos novos ingredientes, embalagens, processos produtivos. Tambm so relacionadas, de forma sucinta, aos setores de varejo alimentcio (Captulo 6) e servios de alimentao (Captulo 7). Finalmente, o Captulo 4 apresenta os resultados da pesquisa encomendada pela Fiesp para o projeto BFT 2020, os quais proporcionam uma viso indita da reali-

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as tendncias da alimentao

dade da populao brasileira, diante dos cinco grupos de tendncias consideradas.

3.3. rEFErnCIAS BIBlIOgrFICASEUROPEAN TECHNOLOGY PLATFORM ON FOOD FOR LIFE. Strategic research agenda 2007-2020. Brussels: ETP/CIAA, 2007. 68 p. Disponvel em: . Acesso em: 19 maro.2009. (2) AGRICULTURE AND AGRI-FOOD CANADA. Canadian food trends to 2020: a long range consumer outlook. Ottawa: Agriculture and Agri-Food Canada, 2005. 113 p. Disponvel em:. Acesso em: 23 abril.2009. (3) KETCHUM. Food 2020: the consumer as CEO. New York: Ketchum, 2008. 9 p. Disponvel em: . Acesso em: 23 abril.2009. (4) LEWIS, Helen. Issues, trends and challenges facing the food and drink industry forecasts to 2014. United Kingdom: Aroq/Just-food, 2009. (5) LEWIS, Helen. global market review of new product development strategies in the food and drink industry forecasts to 2013. United Kingdom: Aroq/Just-food, 2008. (6) XTC WORLD INNOVATION. xTC Panorama mondial de linnovation 2009. Mexico: XTC, 2009. 96 p. (7) FRAUNHOFER INSTITUT VERFAHRENSTECHNIK UND VERPACKUNG. Analyse wichtiger zukunftsthemen der lebensmittelindustrie undforschung. Freising Fraunhofer, 2008. (8) EUROPEAN FOUNDATION FOR THE IMPROVEMENT OF LIVING AND WORKING CONDITIONS. Trends and drivers of change in the food and beverage industry in Europe: mapping report. Ireland: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 2006. 36 p. Disponvel em: . Acesso em: 19 maro.2009. (9) BARBOSA, Lvia. Tendncias da alimentao contempornea. In: PINTO, Michele de Lavra; PACHECO, Janie K. (Coord.). juventude & consumo educao 2. Porto Alegre: ESPM, 2009. p. 15-64.(1)

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Pesquisa Fiesp/Ibope Elaborao: Ibope Inteligncia

Captulo 4.

o perfil do consumo de alimentos no brasilPara avaliar o grau de aderncia do consumidor brasileiro s tendncias internacionais, observadas no Captulo 3, a Fiesp encomendou ao Ibope Inteligncia uma pesquisa nacional realizada nas nove principais regies metropolitanas do Pas.O principal objetivo do trabalho, cujos macrorresultados sero apresentados ao longo deste captulo, foi o de fazer um estudo de segmentao atitudinal a fim de validar a aderncia do Brasil s tendncias globais sobre o consumo de alimentos. Alm da segmentao, foram levantados os principais hbitos de compra da sociedade brasileira, relativos aos alimentos industrializados.

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o perfil do consumo de alimentos no Brasil

4.1. mETODOlOgIAA pesquisa foi realizada em duas etapas distintas, com base em tcnicas qualitativas e quantitativas. A primeira etapa, de carter qualitativo, coletou informaes a partir da discusso de 9 grupos de pessoas residentes em So Paulo, Recife e Porto Alegre, em maro de 2010. Esses grupos, de 8 a 10 indivduos, eram compostos de homens e mulheres, de 25 a 60 anos, das classes socioeconmicas A, B e C, solteiros e casados, com e sem filhos, responsveis ou corresponsveis pela compra de alimentos para o abastecimento dos domiclios. A segunda etapa, quantitativa, entrevistou 1.512 pessoas com idade mnima de 16 anos e de todas as classes socioeconmicas (A, B, C, D e E Critrio Brasil), em uma abordagem domiciliar face a face, em So Paulo, Rio de Janeiro, Braslia, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza e Salvador (principais regies metropolitanas do Pas). A mesma, probabilstica, foi elaborada com base na distribuio amostral da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) de 2008, selecionada em 3 estgios, com controle pelas seguin-

tes cotas, como: sexo; faixa etria; escolaridade; ramo de atividade; e se o entrevistado empregado ou autnomo. A construo da segmentao foi realizada atravs de parmetros estatsticos de cluster analisys.

4.2. AS TEnDnCIAS EnCOnTrADAS nO BrASIlUm dos importantes resultados desta pesquisa a confirmao de que o Brasil