Tendências e diagnósticos

Embed Size (px)

Citation preview

A Competitividade nos Setores de Comrcio, de Servios e do Turismo no Brasil: Perspectivas at 2015

A Competitividade nos Setores de Comrcio, de Servios e do Turismo no Brasil: Perspectivas at 2015

Tendncias e Diagnsticos

Tendncia e Diagnstico

Presidente: Antonio Oliveira Santos Vice-Presidentes: 1 Abram Abe Szajman, 2 Renato Rossi, 3 Orlando Santos Diniz; Adelmir Araujo Santana, Carlos Fernando Amaral, Jos Arteiro da Silva, Jose Evaristo dos Santos, Jos Marconi Medeiros, Jos Roberto Tadros, Josias Silva de Albuquerque, Lelio Vieira Carneiro; Vice-Presidente Administrativo: Flavio Roberto Sabbadini; Vice-Presidente Financeiro: Luiz Gil Siuffo Pereira; Diretores: Antonio Edmundo Pacheco, Antonio Airton Oliveira Dias; Antonio Osrio, Jamil Boutros Nadaf, Canuto Medeiros de Castro, Carlos Marx Tonini, Darci Piana, Euclides Carli, Francisco Teixeira Linhares, Francisco Valdeci S. Cavalcante, Joseli Angelo Agnolin, Ladislao Pedroso Monte, Laercio Jos de Oliveira, Leandro D. Teixeira Pinto, Luiz Gasto Bittencourt da Silva, Marcantoni Gadelha de Souza, Marco Aurlio Sprovieri, Norton Luiz Lenhart, Pedro Coelho Neto, Sebastio Vieira Davila, Walker Martins Carvalho; Conselho Fiscal: Hiram dos Reis Corra, Arnaldo Soter Braga Cardoso, Antonio Vicente da Silva. CNC/Braslia SBN Quadra 1 Bloco B n 14, 15 ao 18 andar Edcio Confederao Nacional do Comrcio 70041-902 Braslia DF Tel. 61 3329-9500 e-mail: [email protected] CNC/Rio Avenida General Justo, 307 20021-130- Rio de Janeiro Tel. (21) 3804-9200 e-mail: [email protected] Web site: www.portaldocomercio.org.br Produo: Ncleo Gestor da Parceira CNC/SEBRAE Carlos Augusto G. Baio - Coordenador Nacional

Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Adelmir Santana Diretor-Presidente Paulo Tarciso Okamotto Diretor Tcnico Luiz Carlos Barboza Diretor de Administrao e Finanas Carlos Alberto dos Santos Gerente da Unidade de Atendimento Coletivo Comrcio e Servios UACCS Ricardo Guedes Equipe de Coordenao na UACCS Ricardo Villela de Souza Gustavo Reis Melo Karen Sitta Fortini e Souza

FICHA CATALOGRFICA Apoio Tcnico e Metodolgico: Este estudo foi desenvolvido com o apoio tcnico e metodolgico da Tendncias Consultoria Integrada. Projeto Grco: Adhoc Comunicao Ltda Impresso: Estao Grca

Confederao Nacional do Comrcio de Bens, Servios e Turismo A Competitividade nos Setores de Comrcio, de Servios e do Turismo no Brasil: Perspectivas at 2015: Tendncias e Diagnsticos/Confederao Nacional do Comrcio de Bens, Servios e Turismo(CNC); Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas(Sebrae).- Braslia: CNC; Sebrae, 2008. 328 p. 1. Comrcio 2.Setor Tercirio 3.Turismo 4.Competitividade

4

SumrioIntroduo 1 A competitividade nos setores de comrcio, servios e turismo no Brasil 1 - Conceitos econmicos e critrios de classificao das atividades de comrcio e servios 2 A evoluo estrutural e recente do setor de comrcio eservios 3 Princpios para anlise dos setores e seleo dos subsetores 3.1 Princpios de anlise 3.2 Princpios de seleo 4 Diagnstico do Setor Tercirio 4.1 Comrcio de veculos, peas e motocicletas 4.2 Comrcio atacadista 4.3 Comrcio varejista 4.3.1 Hiper e supermercados 4.3.2 Comrcio especializado 4.4 Turismo 4.4.1 Alojamento 4.4.2 Alimentao 4.4.3 Recreao e Lazer 4.5 Telecomunicaes 4.6 Informtica 4.7 Servios prestados s empresas 4.8 Imobiliria e aluguel 4.9 Servios de manuteno e reparao 4.10 Transportes, servios auxiliares aos transportes e correio 4.10.1 Transporte Rodovirio de Passageiros 4.10.2. Transporte rodovirio de cargas 4.10.3. Transporte areo 4.10.4. Transporte ferrovirio 4.10.5. Transporte aquavirio 4.11 Servios financeiros 4.12 Servios de sade 4.13 Servios de educao 4.14 Servios pessoais 5 Tendncias do setor de comrcio, servios e turismo 5.1 Automao e incorporao de tecnologia de informao 5.2 Inovao tecnolgica 7 15 15 19 27 27 29 35 35 38 42 48 54 60 66 69 71 71 79 85 94 99 102 105 111 113 117 119 122 127 134 140 145 145 148

Tendncia e Diagnstico

5.3 Servios intensivos em conhecimento (SIC) 5.4 Demanda por mo-de-obra qualificada 5.5 Avano do setor privado na educao 5.6 Maior segmentao do mercado 5.7 Concentrao espacial 5.8 Arranjos horizontais 5.9 Terceirizao 5.10 Aumento da mobilidade internacional 5.11 Mudana da pauta do comrcio internacional 5.12 Aumento do investimento estrangeiro direto no setor de servios no Brasil 5.13 Comrcio eletrnico (e-commerce) 5.14 Simplificao de tributos 5.15 Formalizao 5.16 Criao de marca prpria no comrcio 5.17 Franquias 5.18 Mudana do perfil demogrfico e poder aquisitivo 5.19 Generalizao do uso de meios de pagamento eletrnicos e bancarizao 5.20 Aumento da demanda por servios de segurana 5.21 Especificidades do turismo 5.22 Expanso dos servios voltados agropecuria 6. Identificao das dificuldades gerais e especficas 6.1 Tributao excessiva 6.2 Falta de harmonia nos parmetros fiscais 6.3 Informalidade 6.4 Legislao trabalhista onerosa e pouco flexvel 6.5 Desatualizao das leis 6.6 Instituies frgeis e lentas 6.7 Incerteza nas garantias ao direito de propriedade 6.8 Representao dispersa 6.9 Concorrncia desleal 6.10 Concentrao da estrutura de mercado 6.11 Barreiras entrada e sada 6.12 Poder de barganha 6.13 Baixa produtividade 6.14 Inadequao ao ambiente inovador internacional 6.15 Dependncia das trocas internacionais de conhecimento 6.16 Baixa qualificao da mo-de-obra 6.17 Restries ao financiamento 6.18 Infra-estrutura inadequada 6.19 Insegurana 6.20 Insegurana de rede 6.21 Baixos rendimentos da populao 6.22 Disparidades entre regies6

148 149 150 151 152 153 154 156 156 157 158 160 160 161 162 165 167 168 169 170 173 174 176 178 179 181 183 185 187 187 188 189 192 193 194 196 197 199 202 204 204 205 207

Tendncia e Diagnstico

6.23 Sensibilidade s oscilaes macroeconmicas 6.24 Reduzida insero em blocos econmicos internacionais ParteII - A insero econmica das micro e pequenasempresas dos setores de comrcio, servios e turismo no Brasil - Diagnstico, tendncias e polticas 1. Importncia das MPEs no Brasil e no Mundo 1.1. O peso das MPEs na economia 1.2. Empreendedorismo no Brasil 2. Entraves histricos ao desenvolvimento das MPEs no Brasil 2.1. Burocracia para abrir e fechar empresas no Brasil 2.2. Complexidade de procedimentos e custos para exportao 2.3. Restries ao crdito 2.4. Dificuldade de acesso a Tecnologia de Informao 2.5. Informalidade 2.6. Baixa qualificao da mo-de-obra 2.7. A volatilidade macroeconmica 2.8. Baixa Competitividade e ausncia de poder compensatrio 2.9. Mortalidade 3. Polticas de isonomia e fomento: experincia internacional 3.1. Estados Unidos da Amrica 3.2. Espanha 3.3. Japo 3.4. Mxico 3.5. Irlanda 3.6. Coria 4. Polticas de isonomia e fomento: a experincia brasileira 4.1. Histrico 4.2. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas 5. Tendncias e desafios para as MPEs 5.1. Investimentos para competitividade 5.2. Organizao via cooperativas, arranjos e incubadoras 5.3. Aquisio de pequenas e mdias por grandes 6. Propostas para fortalecer a insero das MPEs na economia 6.1. Treinamento e capacitao 6.2. Estmulo a arranjos produtivos 6.3. Desburocratizao 6.4. Incentivo ao crdito via reduo de riscos e maior acesso informao 6.5. Maior destinao dos recursos de bancos de fomento ao comrcio, turismo e servios 6.7. Difuso de Tecnologia de Informao 6.8. Estmulo competio entre bancos 6.9. Aprimoramento da Lei Geral Concluses Referncias7

210 211

213 215 216 230 235 236 239 242 249 253 262 265 266 266 270 271 271 272 274 274 275 277 277 283 290 290 291 293 294 294 295 297 298 300 301 303 304 307 311

Tendncia e Diagnstico

8

Tendncia e Diagnstico

Introduo

A percepo sobre a relevncia do setor tercirio na gerao de renda e riqueza naseconomias modernas vem se ampliando. Como propulsor do desenvolvimento econmico,acelera a competitividade domstica e internacional, a criao de empregos e o progresso tecnolgico. Por setor tercirio denem-se todas as atividades de comrcio e servios, conforme termo utilizado pelo Dieese (Boletim Dieese 217, 2000). Na denio do IBGE1: Entre os setores da economia, (a indstria) representa o setor secundrio o primrio corresponde agricultura e o tercirio, ao comrcio e aos servios. O setor tercirio se caracteriza por grande heterogeneidade, englobando atividades queapresentam diferenas signicativas em relao ao porte das unidades produtivas, densidade de capital, nvel tecnolgico, nmero de empregados, entre outros. Dessa forma, impossvel dar tratamento indiscriminado a atividades to distintas, dentre as quais: (i) os servios produtivos, que so atividades intermedirias realizadas pelas empresas durante o processo produtivo, como os servios nanceiros, jurdicos, de informtica, engenhariam, auditoria, consultoria, propaganda e publicidade, seguro e corretagem; (ii) os servios distributivos, que englobam atividades efetuadas pelas empresas aps o trmino do processo produtivo, como transportem, comrcio, armazenagem e comunicao; (iii) os servios sociais, que so atividades realizadas para a sociedade, entre as quais administrao pblica, defesa e segurana nacional, sadem e educao, associaes de classe e (iv) os9

Tendncia e Diagnstico

servios pessoais, que abrangem atividades realizadas para atender demanda individual, como hotelaria, bares e restaurantes, lazer, reparao, vigilncia, limpeza e higiene pessoal (Melo et al., 1997). Alm disso, a grande diversidade de atividades torna a viso tradicional de que o setor de servios apresenta baixos ndices de produtividade e inovao uma generalizao inapropriada. O setor engloba segmentos que so altamente dinmicos, como os de software e telecomunicaes (Silva et al., 2006), e algumas atividades tendem a se tornar cada vez mais capitalintensivas, em contraposio a uma das principais caractersticas do setor, que a grande absoro de mo-de-obra (Kon, 1998). A evoluo do setor tercirio est relacionada, por um lado, a fatores intrnsecos aodesenvolvimento destas atividades, particularmente no que se refere demanda por serviosda economia, que teriam como resposta o reinvestimento do excedente operacional gerado noprprio setor. Por outro lado, h tambm o comportamento de fatores exgenos, dentre osquais: (i) gerao de excedente operacional de outros setores que pode ser realocado para asatividades de servios; (ii) nvel de qualicao, volume e velocidade de liberao da mo-de-obra; (iii) progresso das atividades do setor secundrio, que requer a ampliao e a modernizao de servios complementares e (iv) existncia de uma infra-estrutura concentrada, que oferece economias externas para a localizao de novas atividades. Estes fatores exgenos encontram respaldo na capacidade do setor tercirio de absorver a mo-de-obra oriunda de outros setores e na possibilidade do setor expandir as atividades informais em perodos de menor atividade econmica (Kon, 2003). O desenvolvimento do tercirio na economia tambm tem se caracterizado pela ampliao da interdependncia entre a produo de bens e a de servios, o que implica em uma crescente especializao. De acordo com a OCDE, os principais motivos para o forte desempenho do setor tercirio em anos recentes so a crescente importncia das trocas internacionais em diversas atividades e a mudana no modelo de negcios, que faz com que as empresas busquem competitividade atravs da especializao e terceirizao de servios no pas de origem e no exterior. A produo e o consumo de servios apresentam grandes disparidades regionais. A tendncia de que a participao dos servios na economia seja tanto maior quanto maior a renda per capita. Isto porque a elasticidade-renda da demanda por esses tipos de servios , em geral, maior do que um. Em outras palavras, um aumento na renda implica em um aumento mais do que proporcional na demanda. medida que as sociedades1 Disponvel em http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/industria/home.html. Acesso em 11 de novembro de 2007.

10

Tendncia e Diagnstico

se tornam mais ricas, as necessidades bsicas de consumo de bens so supridas, surgindo demanda por consumo de novos servios, tais como lazer e entretenimento. Alm disso, o amadurecimento da indstria, do comrcio e dos servios tambm cria demandas mais especcas. Segundo o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MIDIC), a atividade terciria, em todo o mundo, representa 50% dos custos de produo e cerca de 50% dos empregos globais. Apesar de 75% do comrcio mundial de servios se concentrarem em pases desenvolvidos, sua importncia para as economias em desenvolvimento vem se mostrando cada vez mais signicativa. Os dados revelam outra importante caracterstica do desenvolvimento econmico, que a tendncia natural da economia de passar por uma migrao das atividades dos setores industrial e agrcola para o de comrcio e prestao de servios.Agricultura EUA (2003) Frana (2004) Dinamarca (2004) Reino Unido (2004) Holanda (2004) UE (2004) Alemanha (2004) Portugal (2004) Itlia (2004) Sucia (2004) Japo (2003) Espanha (2004) ustria (2004) Turquia (2005) Brasil (2005) Argentina (2004) ndia (2005) Chile (2005) Tailndia (2005) China (2004) 1,2 2,5 2,3 1,0 2,4 2,2 1,1 3,7 2,6 1,8 1,3 3,5 1,9 11,9 8,4 10,4 18,6 5,5 9,6 13,1 Indstria 22,3 21,8 24,6 26,3 25,6 26,8 29,1 26,7 27,8 28,7 30,5 29,2 31,1 23,7 40,0 35,6 27,6 46,8 46,9 46,2 Servios2 76,5 75,8 73,1 72,7 72,0 71,0 69,8 69,6 69,6 69,4 68,2 67,3 67,0 64,5 57,0 54,0 53,8 47,7 43,5 40,7

Tabela 1. Participao dos Setores no Valor Adicionado (% PIB)Fonte: Banco Mundial e MIDIC.

Em pases desenvolvidos, e em grande parte dos pases em desenvolvimento, a parcela do PIB gerada pelo setor tercirio tende a ser maior e a empregar grande parte da populao, compensando, de certa forma, a

2 A denominao Servios, neste caso, engloba: comrcio, transportes, comunicaes, instituies financeiras, servios prestados s famlias, servios prestados s empresas, aluguel de imveis, administrao pblica, servios privados no-mercantis.

11

Tendncia e Diagnstico

reduo da porcentagem de pessoas que deixa de trabalhar nos setores primrio e secundrio devido ampliao da automao nesses segmentos e avano da terceirizao.

Grco 1. PIB per capita e participao dos servios no PIBFonte: FMI, Banco Mundial. Nota: Mesmo ano de referncia da tabela acima.

Dessa forma, dois fenmenos estiveram presentes na trajetria das atividades relacionadas aotercirio. O primeiro refere-se ao crescimento quantitativo destas atividades, em termosda gerao do produto e de postos de trabalho. O segundo trata da importncia da diversicao dos segmentos do setor, que se tornaram cada vez mais heterogneos aolongo do processo de desenvolvimento. Essa particularidade tende a se acentuar na medida em que os servios se direcionam a diferentes mercados, que englobam trs grandes grupos:o consumidor nal, o intermedirio (produtor de bens) e o governo. Tais mercados envolvemdistintos processos de produo e esto associados a diferentes graus de progresso tcnico (Melo et al., 1997). A especicidade e complexidade que determinadas atividades possuem tm como conseqncia a dependncia de mo-de-obra qualicada, o que pode ser um entrave expanso da gama de servios oferecida por um pas. Nos pases desenvolvidos, nota-se uma mudana no perl dos trabalhadores empregados no setor. Atividades que exigem pouca escolaridade so exercidas de forma predominante por imigrantes, enquanto os indivduos nascidos no local, mais qualicados, so mais bem remunerados em atividades como servios mdicos, publicidade, pesquisa, administrao etc. A falta de qualicao da mo-de-obra (ou a oferta em segmentos especcos) pode acarretar a transferncia da realizao de alguns servios para outros pases, como contabilidade e desenvolvimento de produtos. A12

Tendncia e Diagnstico

ndia, com populao bem qualicada e com populao instruda na lngua inglesa, um exemplo que j se destaca pela exportao de servios, principalmente no segmento de software. No Brasil, a evoluo do setor tercirio esteve historicamente associada ao desenvolvimento de atividades auxiliares indstria. Paralelamente, a modernizao das atividades agrcolas e o processo de urbanizao criaram novas necessidades que vieram a ser atendidas pelo setor tercirio de consumo no industrial. Nos ltimos anos, importantes reformas tm ocorrido neste setor, com a reduo do papel do Estado na prestao de servios em atividades importantes como telecomunicaes, energia e transportes, o que ampliou signicativamente o mercado de servios para prestadores nacionais e estrangeiros. A estrutura da PEA tambm foi bastante modicada, passando a incorporar boa parte da mo-de-obra em comrcio e servios. Em 1970, o setor primrio empregava 44% da PEA, o secundrio, 18%, e o tercirio, 38%. Da dcada de 80 em diante, foi o setor tercirio o que mais contribuiu para a gerao de empregos, de modo que, em 2005, esses valores passaram para 20,5%, 21,4% e 58,1%, respectivamente (PNAD 2005). Hoje os empregos do setor tercirio concentram-se no varejo, nos servios prestados s empresas e s famlias e nos transportes. Apesar da importncia do setor de servios na economia interna, a parti-

Grco 2. Participao dos grandes setores no emprego: Brasil (19702005)Fonte: Silva (2003) e PNAD 2005

cipao brasileira no comrcio internacional pouco expressiva, representando apenas 0,6% do total mundial em 2005 (Banco Central). O pas ainda importa mais servios do que exporta, como pode ser observado pelos dados da conta de servios no grco a seguir. A conta de servios relaciona as atividades de transportes, passagens, viagens internacionais, seguros, servios nanceiros, computao e informaes, royalties e licenas, aluguel de equipamentos, servios gover-

13

Tendncia e Diagnstico

Grco 3. Saldo da Conta de Servios Brasil (US$ milhes)Fonte: Banco Central do Brasil

namentais, de comunicaes, de construo, de comrcio, empresariais, prossionais, tcnicos, pessoais, culturais e diversos. Apenas os segmentos de Servios de Comunicaes, Aluguel de Equipamentos e Servios de Empresariais, Prossionais e Tcnicos vm apresentando resultados superavitrios nos ltimos anos. A falta de estmulos a investimentos no comrcio internacional de servios e as diculdades em se padronizar os servios e format-los para a venda internacional constituem algumas das principais causas do persistente dcit na Balana de Servios. Outro aspecto relevante do setor tercirio que, alm do seu importante papel na gerao de empregos, as atividades de comrcio e servios se destacam por serem pulverizadas e predominantemente constitudas por micros, pequenas e mdias empresas (MPEs). As MPEs funcionam como um elemento de estabilizao social. So responsveis por parte signicativa da gerao de empregos e tm papel crucial na promoo de atividades empreendedoras. Segundo dados do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2005, as micro e pequenas empresas dos setores de comrcio e servios representavam aproximadamente 84% do total dos estabelecimentos em funcionamento, sendo responsveis por 43% do pessoal ocupado na economia. Alm disso, as MPEs tm a caracterstica de auto-emprego, que funciona contraciclicamente. Ou seja, em perodos de recesso, nos quais h aumento do desemprego na maioria dos setores, muitas pessoas buscam a alternativa de abrir seu prprio negcio. Isso tem importantes implicaes quando abordada a questo da informalidade. Segundo o IBGE, s o setor de comrcio respondeu por 1/3 do total dos ocupados nos micro empreendimentos da economia informal em 2003. Entraves institucionais, como os relacionados estrutura tarifria e s formas de nanciamento,14

Tendncia e Diagnstico

costumam aumentar os ndices de mortalidade e de informalidade deste grupo de empresas. Apesar dos vrios estmulos s micro e pequenas empresas, muitos gargalos so percebidos, como falta de acesso ao crdito, elevados custos de logstica e custos tributrios e burocrticos proporcionalmente muito elevados, fazendo com que haja, entre outros efeitos, alta taxa de mortalidade e informalidade entre as micro e pequenas empresas. No caso das MPEs do setor tercirio, apesar de terem grande peso quanto ao nmero de estabelecimentos e pessoal ocupado, essas empresas respondem por apenas 9,84% dos rendimentos e salrios e 0,95% do total exportado (Sebrae). Este documento pretende traar um diagnstico do setor tercirio no Brasil, identicando suas tendncias, desaos e entraves para o desenvolvimento. Esta tarefa mostra-se essencial para a propositura de metas e aes voltadas para o crescimentosustentado da economia, o que ser feito em uma prxima etapa do trabalho. Como visto, o setor tercirio envolve grande heterogeneidade, o que torna o tratamento mais desagregado das atividades fundamental para sua compreenso. Neste sentido, a primeira etapa do diagnstico consiste na identicao dos segmentos mais relevantes do setor de servios, comrcio e turismo e anlise de suas principais caractersticas, particularidades, desempenho recente e padro de competitividade. A partir desta avaliao, possvel delinear problemas e tendncias comuns a todos os segmentos que compe o setor tercirio, permitindo a criao de propostas abrangentes e que reitam as necessidades de todo o setor para um desenvolvimento mais equilibrado. A caracterizao das atividades do setor tercirio parte sobretudo de estatsticas objetivas de fontes ociais, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica) que, atravs da PAC (Pesquisa Anual do Comrcio) e PAS (Pesquisa Anual dos Servios), tem acompanhado o setor tercirio nas fragmentaes dos subgrupos. As informaes quantitativas do IBGE so complementadas por informaes obtidas em outras fontes secundrias, como livros e artigos acadmicos, e pelas informaes veiculadas nos endereos eletrnicos das principais associaes de empresas e outras organizaes que renem informaes especcas aos sub setores. Elementos qualitativos tambm esto includos no relatrio, pois o diagnstico de desempenho e gargalos no pode ser vislumbrado com clareza apenas pela evoluo dos dados quantitativos. Utilizamo-nos ainda da aplicao de questionrios e entrevistas com atores relevantes do setor para ampliarmos o conhecimento acerca de atividades para as quais no se dispe de informaes sucientes nos canais tradicionais.

15

Tendncia e Diagnstico

Este relatrio est dividido em duas partes. A primeira, a partir da seleo dos subsetoresmais relevantes do setor tercirio, busca compreender e sistematizar no apenas aimportncia destes segmentos em termos de gerao de riqueza econmica, mas tambm suasparticularidades, problemas e capacidade de integrao com outras atividades. A segundaparte do relatrio concentra-se na discusso sobre os condicionantes do sucesso das MPEs,sua dinmica atual, os principais problemas enfrentados e possveis contribuies para seudesenvolvimento, principalmente no que se refere s micro e pequenas empresas dos setoresde comrcio e servios. A parte I est dividida em cinco sees. A primeira apresenta os princpios para a anlise dos setores e seleo dos subsetores. A seo 2 traz um diagnstico dos subsetores selecionados na seo anterior. Devido amplitude e heterogeneidade do setor de comrcio e servios, trata-se de um levantamento com caractersticas exploratrias sem pretenso de exaurir os temas e possibilidades de anlise. Na seo3, so mapeadas as principais tendncias que se colocam para o setor tercirio. A seo 4 expe um esboo das principais diculdades enfrentadas pelo setor, para uso na denio de metas e aes em etapas posteriores do estudo. A parte II, dedicada s MPEs, est estruturada em seis sees. A Seo 1 discute a importncia das MPEs no Brasil, tanto em termos econmicos como sociais. A Seo 2 discute os principais problemas enfrentados pelos micro e pequenos empresrios, dando nfase para as semelhanas e/ou diferenas com a situao em outros pases no mundo. A Seo 3 apresenta polticas que tm sido aplicadas no mbito internacional a m de estimular o desenvolvimento e fortalecimento das MPEs em pases selecionados. A quarta seo apresenta as polticas recentes adotadas no Brasil e as vantagens e desvantagens na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, recentemente criada. A Seo 5 traz as principais tendncias observadas ou esperadas para as micro e pequenas empresas no Brasil e no mundo. Finalmente, na stima seo, so apresentadas algumas propostas para fortalecer o papel das MPEs na economia, tendo como principais alvos os problemas aqui analisados. Alm desta introduo e das duas partes referidas acima, este relatrio conta com uma seo nal, que apresenta os principais pontos e as concluses deste trabalho e a bibliograa utilizada em sua elaborao.

16

Tendncia e Diagnstico

A competitividade nos setores de comrcio, servios e turismo no Brasil

1

1. Conceitos econmicos e critrios de classicao das atividades de comrcio e serviosOs primeiros estudos que procuraram tratar conceitualmente o setor de servios datam da dcada de 1930. De incio, o setor era denido de modo residual, como todas as atividades que no se enquadravam nem no setor primrio nem no secundrio. Nos anos seguintes, com a crescente diversicao dos servios e ganho de importncia do setor na economia, este tema tornou-se corrente na literatura econmica, gerando uma pluralidade de vises e interpretaes acerca da conceituao e classicao de suas atividades. Na maioria das abordagens tericas sobre o setor,os servios so classicados de acordo com suas caractersticas de oferta ou de demanda. Em relao oferta, so apontadas trs caractersticas principais que distinguem os servios das demais atividadeseconmicas. So elas: i. o uso intensivo de recursos humanos, que representam o fator produtivo predominante na prestao de servios;

ii. a grande heterogeneidade do setor, que abrange uma imensa gama de atividades, as quais diferem signicativamente entre si em relao a caractersticas de produto e processo, organizao de mercado, margem de lucro, porte etc; e17

Tendncia e Diagnstico

iii. as propriedades de simultaneidade e continuidade do processo de prestao do servio, de modo que produo e consumo tm que ser coincidentes no tempo e no espao. Desta ltima caracterstica, resultam duas propriedades dos servios: a inestocabilidade e portanto, intangibilidade e a incomensurabilidade (Meirelles, 2006). No entanto, a reestruturao produtiva das empresas e da economia mundial, aliada s inovaes tecnolgicas nos campos da informtica e das telecomunicaes, tem provocado profundas mudanas no setor de servios, alterando vrias caractersticas comumente atribudas a ele. Entre as transformaes mais notveis vericadas neste sentido esto a reduo tendencial da intangibilidade, da simultaneidade, da inestocabilidade e da interatividade pessoal entreprestadores (Meirelles, 2006). Isto pode ser evidenciado pelo surgimento de novos padresde produo e novos canais de comunicao entre prestadores e usurios, permitindo a padronizao e especializao das atividades de servios, alm da operao em larga escala.Atualmente, tambm existe uma tendncia crescente em alguns servios de substituiode mo-de-obra por mquinas e equipamentos. Mesmo em setores tradicionalmente caracterizados pelo predomnio de empresas pequenas e familiares, o uso de computadores etecnologias de rede tornou-se mais intenso e possibilitou a adoo de tcnicas degerenciamento mais prossionais, o que foi acompanhado por importantes ganhos de ecincia. Estas mudanas tornam inadequadas as abordagens que traziam uma conceituao dos servios centrada em uma anlise da oferta, com base nas trs caractersticas de servios referidas acima. J as abordagens que priorizam os fatores de demanda procuram classicar os servios a partir da funo que desempenham e do tipo de consumidor a que se destinam. Desta forma, consideram-se duas categorias de servios: aqueles destinados ao desenvolvimento das atividades produtivas das empresas (servios intermedirios ou produtivos) e os orientados para o uso individual ou coletivo (servios nais ou de consumo). Alguns 3 autores propem ainda uma classicao mais ampla, levando em conta no apenas a nalidade e o tipo de usurio do servio, mas tambm a orientao de mercado. Nesta viso, so quatro as categorias relevantes de servios: produtivos, distributivos, sociais e pessoais. O padro de classicao mais usado atualmente, adotado inclusive por

3

Browling e Singelman (1978).

18

Tendncia e Diagnstico

importantes organismos multilaterais, como ONU, Banco Mundial e FMI, o ISIC (International Standard Industrial Classication). No entanto, como apontado por Marshall e Wood (1985) [apud (Meirelles, 2006)], esta classicao apresenta diversos problemas e conduz a um entendimento equivocado da dinmica e das caractersticas fundamentais do setor de servios. Isto porque, baseado em uma metodologia industrial e em uma viso material da economia, este padro trata as atividades de servios de forma residual como o valor total agregado na economia descontando-se as contribuies dos setores agrcola e industrial , contemplando uma grande variedade de atividades que no apresentam entre si nexo conceitual ou analtico. Na tentativa de classicar os servios na sua crescente diversicao e abrangncia, incorporando as recentes mudanas no processo de produo e o surgimento de novas atividades, diversos autores tm proposto tipologias alternativas para desagregar o setor. Nusbaumer prope uma classicao baseada na funo e posio dos servios nos processos de produo e de troca. Desta forma, divide as atividades de servios emservios primrios (fornecidos pelos fatores de produo), servios intermedirios (comercializao e distribuio de bens e outros servios) e servios nais (relacionados ao bem-estar e qualidade de vida dos consumidores). J a proposta de Marshall consiste em separar os servios de acordo com o contedo de expertise e a funo desempenhada por cada um. Neste sentido, os servios podem ser denominados de servios de processamento de informaes, servios relacionados produo de bens e mercadorias e servios de suporte s necessidades pessoais. Outra abordagem, a de Walker, considera o vnculo estabelecido no processo produtivo e o resultado nal deste processo como os critrios relevantes para separar os servios em quatro grupos: servios de suporte produo de mercadorias, servios de transferncia (de mercadorias, trabalho, dinheiro e informao) e aluguel, servios baseados essencialmente em trabalho e servios governamentais. Apesar das diversas linhas tericas e metodolgicas para classicar as atividades do setor de servios, a questo ainda bastante controversa. Por trs dessa discusso est o problema fundamental de se encontrar uma denio precisa e abrangente para o setor. O elevado grau de heterogeneidade das atividades de servios e as profundas mudanas que tm ocorrido na dinmica e nos padres de consumo e produo do setor tornam inadequada ou incompleta no apenas as

19

Tendncia e Diagnstico

formas tradicionais de classicao, mas tambm as de conceituao do setor de servios. Dessa forma, deixa de fazer sentido, por exemplo, denir servios apenas como bens intangveis, intensivos em trabalho e que precisam ser consumidos ao mesmo tempo em que so produzidos. Surgem, ento, novos esforos tericos para conceituar o setor e determinar suas especicidades. Para Riddle (1986) [apud (Kon, 1999)], os servios podem ser denidos como atividades econmicas que proporcionam tempo, lugar e forma de utilidade que acarretam uma mudana no recipiente. Na mesma linha, Miles (1993) [apud (Kon, 1999)], trata os servios como aquelas indstrias que efetuam transformaes no estado de bens materiais, nas prprias pessoas ou nos smbolos (informao). Outro aspecto que impe limitaes conceituais e operacionais para o estudo do setor de servios diz respeito s diculdades de se traar os limites entre este e os demais setores da economia. De fato, cada vez maior o vnculo entre as atividades de servios e a produo industrial e mesmo as atividades agropecurias , de forma que as fronteiras que separam os trs setores tornam-se cada vez delicadas, dicultando uma classicao das atividades econmicas nestes trs grupos. Em alguns casos, a interdependncia entre a produo de bens e os servios torna estas duas atividades indissociveis, medida que a prestao destes servios dependem, fundamentalmente, de bens manufaturados e de infra-estrutura para sua criao e entrega (Marshall, 1988, apud Kon, 1999). Kon (1999) destaca que a linguagem tradicional para denir a manufatura e os servios est se tornando obsoleta, pois as economias so um emaranhado de diversas atividades que envolvem diferentes combinaes de trabalho na rea da produo e dos servios. A autora ainda cita Castells (1989), para o qual no existe um setor de servios propriamente dito, mas um setor que comporta uma crescente diversidade de atividades econmicas, que se tornam cada vez mais especializadas medida que a 4 sociedade evolui.

4 Os Anexos I e II apresentam as classificaes das atividades do comrcio e servios adotadas pelo Cadastro Nacional de Atividades Econmicas (CNAE) e pela Organizao Mundial do Comrcio (OMC).

20

Tendncia e Diagnstico

A evoluo estrutural e recente do setor de comrcio eserviosA evoluo do valor agregado gerado por cada setor da economia ao longo das ltimas dcadas evidencia o papel de complementaridade do setor de servios em relao indstria nos perodos de prosperidade econmica. J nos momentos de recesso, este setor tem se mostrado de uma importncia fundamental em termos de gerao de empregos ainda que informais , absorvendo a mo-de-obra liberada dos outros setores da economia (Kon, 2004). Do incio da dcada de 50 at 1980, o crescimento do setor de servios foi maior nos segmentos de apoio s atividades industriais e agropecurias do que nos voltados ao atendimento direto da populao. Neste perodo, o crescimento real mdio da produo total de servios acompanhou o crescimento mdio global da economia, entre 7% e 9,5%. A inexo nesta trajetria de elevado crescimento ocorreu no incio da dcada de 80, quandoo Pas mergulhou em uma grave crise econmica. Neste perodo, o PIB brasileiro apresentoutaxas negativas de crescimento, principalmente devido queda do produto da indstria e daagropecuria. O setor de servios, contudo, continuou apresentando taxas positivas decrescimento, ainda que a um ritmo bem menor do que nos anos anteriores. Isso foi possvel devido a sua capacidade de absorver os trabalhadores advindos dos setores em crise. Emboragrande parte desta mo-de-obra tenha sido apenas subempregada trabalhando como autnoma, sem carteira assinada ou no mercado informal, principalmente em servios de baixa produtividade (Kon, 2004).21

2

Tendncia e Diagnstico

De 1984 at o m dos anos 80, a economia brasileira foi marcada por diversas oscilaes, intercalando perodos de aumento e reduo da taxa de crescimento do PIB. No nal do perodo, a economia havia crescido, na mdia, apenas 3,3% ao ano, enquanto os servios cresceram 4%. Durante toda a dcada de 90, a atividade econmica continuou a apresentar crescimento modesto, com o valor adicionado por cada um dos trs setores crescendo a uma taxa mdia em torno de 2,6% ao ano, valor que corresponde mdia global do pas.

Grco 4. Taxas reais de crescimento anual do PIB por setorFonte: Kon (2004). Elaborao: Tendncia

A partir de 2000, at 2006, o setor primrio foi o que apresentou crescimento mdio anual mais expressivo, cerca de 4,1%, contra 2,9% do secundrio e 3,1% do tercirio.

Grco 5. Crescimento mdio anual por setor (%)Fonte: IBGE.

Em relao composio do PIB por setor, observa-se que, ao longo do perodo de 1995 a 2006, a participao do setor tercirio elevou-se em alguns momentos, chegando a atingir 68,8% em 1998, mas decaiu nos anos seguintes, atingindo seu ponto mais baixo em 2004, de 63%. Em 2005 e 2006, esta participao foi de 64%.22

Tendncia e Diagnstico

Grco 6. Participao do setor tercirio no PIBFonte: IBGE. Elaborao: Tendncias

Os valores apresentados acima j incorporam a nova metodologia aplicada s sries de Contas Nacionais do IBGE. Apesar do declnio observado na participao do setor de comrcio e de servios no PIB, os dados obtidos a partir da aplicao da nova metodologia mostraram que o setor de servios possui importncia ainda maior do se imaginava na economia brasileira uma vez, que com a metodologia antiga, a participao do setor no PIB era, para alguns anos, at 10% inferior. Alm disso, os dados atuais mostram que o setor mais produtivo e dinmico do que se acreditava, com papel fundamental na gerao de empregos, visto que muitas de suas atividades so intensivas sobretudo em trabalho.

10%

7%

53%

37% 63% 30%

Grco 7. Participao dos setores no PIB -2004 Srie anterior (referncia 1990) Nova srie (referncia 2000)Fonte: IBGE.

Agropecuria

Indstria

Servios

Entre 1997 e 2004, o setor foi responsvel por 76% dos postos de trabalho gerados, enquanto a indstria, por 17% e a agropecuria, pelos 7% restantes. Durante todos os anos deste perodo, observa-se que as atividades de servios e o comrcio apresentaram aumento da ocupao em ritmo superior ao da indstria.23

Tendncia e Diagnstico

8 6 42,3 2,5 0,1 0,9 1,1 5,2 5,7 4,6 3,4

7,6 6,1 4,1 3,1 2,7 3,8 6,6 4,7 3,6 1,5 1 2,9 1,8

Grco 8. Crescimento da ocupao (%)Fonte: SCN/IBGE

2 0 -2

-1,2

-0,6

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Servios

Indstria

Comrcio

Trata-se de uma evidncia de mudanas na dinmica do setor tercirio no sentido de uma menor volatilidade no mercado de trabalho e de uma maior autonomia em relao indstria, uma vez que o setor tem conseguido gerar novos postos de trabalho mesmo em momentos de fraco crescimento do setor secundrio. Esta concluso corroborada pelas informaes das duas principais fontes de dados sobre a conjuntura do emprego no Brasil: a Pesquisa Mensal do emprego (PME), do IBGE, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministrio do Trabalho.6,0% 5,0% 4,0% 3,0% 2,0%

Grco 9. Crescimento da ocupao em 12 meses (%)Fonte: PME/ IBGE

1,0% 0,0%fe v/ 04 ab r/0 4 ju n/ 04 ag o/ 04 ou t/0 de 4 z/ 04 fe v/ 05 ab r/0 5 ju n/ 0 ag 5 o/ 05 ou t/0 de 5 z/ 05 fe v/ 06 ab r/0 6 ju n/ 06 ag o/ 06 ou t/0 de 6 z/ 06 fe v/ 07 ab r/0 7 ju n/ 07

Indstria

Comrcio

Servios

A PME indica que, entre 2002 e 2007, a gerao de empregos cresceu a uma taxa mais acelerada nas atividades de servios do que no comrcio e na indstria. O grco abaixo mostra o crescimento mdio dos diferentes segmentos de servios.24

Tendncia e Diagnstico

Educao, sade, servios sociais, administrao pblica, defesa e Outros servios Servios domsticos Servios prestados s empresas, aluguis, atividades imobilirias e 0% 5%

10,6% 16,0% 23,3% 32,0% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Grco 10. Crescimento da ocupao 2002-2007Fonte: PME - IBGE. Obs: A categoria Outros servios inclui alojamento, transporte, limpeza urbana e servios pessoais.

Neste mesmo perodo, a pesquisa aponta crescimento de 11,5% na gerao de novas ocupaes pela indstria extrativa e de transformao e produo e distribuio de eletricidade, gs e gua, e de 9% na construo civil. Estes nmeros situam-se, portanto, abaixo da mdia de crescimento global, de 14,7%. O desempenho do comrcio mostra-se ainda inferior ao da indstria.9,0% 8,0% 7,0% 6,0% 5,0% 4,0% 3,0% 2,0% 1,0% 0,0% 2004 2005 2006 2007*

Grco 11. Crescimento da ocupao em 12 mesesFonte: PME/ IBGE. * De janeiro e junho de 2007. ** Este segmento inclui alojamento, transporte, limpeza urbana e servios pessoais

Comrcio Serv. s empresas, aluguis, imobilirias, serv. financeiros Educao, sade, serv. sociais, adm. pblica, defesa e seguridade social Servios domsticos Outros servios**

Analisando-se a evoluo da criao de novos postos de trabalho nos ltimos cinco anos, pode-se observar uma relativa correlao entre a dinmica de gerao de empregos na indstria e nos servios. J os dados do Caged, para um perodo de 2003 a 2006, registram um crescimento mais expressivo do comrcio e da indstria em termos de criao de novos empregos do que o captado pela PME. O grco a seguir compara o ritmo de crescimento anual em cada um desses setores, incluindo dados de 2007 (at maio).25

Tendncia e Diagnstico

8 7 6 5 5,5 4,1 2,9 3 6,5 6,3 5,6 5,8

7,4 6 5,3 3,4 4,8 4,7 5,9

Grco 12. Crescimento do emprego, por setor (%)Fonte: Caged- M

4 3 2 1 0

2003

2004

2005

2006

2007

Servios

Indstria

Comrcio

As discrepncias entre a PME e o Caged podem ser explicadas por duas diferenas bsicas entre essas bases de dados. Em primeiro lugar, enquanto a primeira pesquisa contempla apenas seis regies metropolitanas (So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre), o Caged abrange todo o territrio nacional. Conseqentemente, a PME no consegue captar a tendncia de deslocamento do comrcio e da indstria para o interior do pas e acaba por computar um desempenho mais modesto destes dois setores. Ao mesmo tempo, como o setor de servios mais desenvolvido nas grandes cidades, sua contribuio para a criao de empregos se mostra mais intensa nessa pesquisa. Isto pode ser constatado comparando-se a criao de empregos na rea abrangida pela PME e nas demais localidades do pas, utilizandose apenas informaes do Caged.

60 50 40 30 20 12 28 25 30

53

32

10

10

Grco 13. Criao de novos empregos em 2006 (%)Fonte: Caged.

10 0 Indstria de transformao Comrcio Servios Outros

6 Regies Metropolitanas da PME

Demais localidades

26

Tendncia e Diagnstico

Dezembro de 2004

Dezembro de 2005

Dezembro/2006

Junho/2007

Grco 14. Produo fsica industrial ndice acumulado de 12 eses (Base = ltimos 12 eses anteriores = 100)Fonte: Sidra/IBGE.

27

Tendncia e Diagnstico

Dezembro de 2004

Dezembro de 2005

Dezembro/2006

Junho/2007

Grco 15. ndice de volume de vendas no comrcio varejista (%) ndice acumulado de 12 meses Base= ltimos 12 meses nteriores = 100)Fonte: Sidra/IBGE.

A segunda diferena fundamental est no fato de a informalidade do mercado de trabalho, to presente no setor tercirio, ser desconsiderada pelo Caged, ao passo que a PME considera tanto o emprego formal quanto o informal.28

Tendncia e Diagnstico

Princpios para anlise dos setores e seleo dos subsetores

3

O setor tercirio compreende uma gama muito diversicada e heterognea de atividades, o que amplia a complexidade de sua anlise de uma forma agregada. Neste sentido, torna-se importante limitar o foco de anlise a subgrupos dentro desse grande setor. Nesta seo, so apresentados os princpios objetivos que orientaram a seleo dos subsetores que sero investigados com profundidade ao longo deste estudo. Primeiro, os princpios de anlise identicam uma linha que classica as atividades segundo o tipo de funo que desempenham no setor. Segundo, os princpios de seleo mostram os critrios adotados para a seleo das atividades. Importante ressaltar que os princpios de seleo incluem uma triagem quantitativa e qualitativa, na medida em que os princpios de anlise agregam setores no selecionados pelo crivo quantitativo.

3.1 Princpios de anliseDada a dimenso e a heterogeneidade do setor tercirio, surgem diculdades para traar uma linha de anlise, sem o risco de perder de vista as suas especicidades.29

Tendncia e Diagnstico

A partir de um exame preliminar do setor tercirio, foram identicados os principais elementos que norteiam o seu desenvolvimento, os fatores que tm maior impacto sobre a oferta e demanda das atividades envolvidas e a sua dinmica de crescimento. Trs princpios centrais para a anlise do setor tercirio foram traados e, numa prxima etapa, contribuiro para a seleo dos subsetores. So eles: (i) capacidade de integrar, intermediar e interagir com outras atividades, bem como de gerar ganhos de produtividade para estas Os servios so de extrema importncia para outras atividades econmicas, na medida em que se caracterizam como insumos intermedirios produo industrial e a outros servios, viabilizam o comrcio de mercadorias e transmitem informao e conhecimento tecnolgico para outras atividades, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de inovaes e ganhos de produtividade. (ii) reao e capacidade de articulao do setor frente s mudanas de padres de consumo e de trocas internacionais A intensicao do uxo internacional de bens, servios, pessoas e informaes tem alterado o padro de competio entre as empresas e levado a um aumento da demanda por diversos tipos de servios. A maior interao foi impulsionada pela exibilizao das fronteiras nacionais, bem como pelo desenvolvimento de novas tecnologias, que permitiram a criao de alguns servios e o acesso a outros mercados. Este aumento das trocas internacionais tambm tem inuenciado o padro de consumo da populao, no sentido de uma maior homogeneizao, e fez com que as empresas se adaptassem aos padres vigentes. Mudanas no padro de consumo ainda podem estar relacionadas a outros fatores, como o envelhecimento da populao ou mudanas na estrutura familiar, o que tem levado as empresas a oferecerem novos produtos e servios, assim como outras formas de comercializao. (iii) inuncia do ambiente institucional Segundo North (1981), instituies so as regras, ou normas de conduta, de competio e cooperao que formam uma estrutura de direitos para maximizar lucros e diminuir custos de transao. Podem ser tanto formais (leis e direitos de propriedade), quanto informais (crenas, tradies e costumes). Elas viabilizam o desenvolvimento econmico atravs de sua inuncia sobre as inovaes tecnolgicas, organizao das rmas, processo de trabalho e polticas macroeconmicas (Conceio, 2002). Neste sentido, qualquer anlise do setor tercirio deve considerar a inuncia que o ambiente institucional exerce sobre o setor.

30

Tendncia e Diagnstico

3.2 Princpios de seleoComo o escopo deste trabalho o mapeamento do setor tercirio, com detalhamento especco para o comrcio, o turismo e os demais servios, foram delimitados, de incio, trs grupos principais, constitudos pelos referidos setores. A desagregao de cada um deles em subsetores respeitou, quando possvel, a mesma diviso adotada pelas principais bases de dados pblicas e comparveis disponveis no Brasil: a PAS (Pesquisa Anual dos Servios) e a PAC (Pesquisa Anual do Comrcio), ambas do IBGE. A adoo de uma base de dados consistente permite a comparao com anos anteriores. No caso do Turismo, a desagregao das atividades em subgrupos ainda levou em considerao a seleo de atividades recomendadas pela OMT (Organizao Mundial do Turismo) e listadas na Classicao Nacional das Atividades Econmicas (CNAEIBGE), o que permite uma comparao com resultados internacionais do turismo. Assim, optamos por tratar separadamente os seguintes subgrupos: (i) servios de alimentao; (ii) servios de alojamento e (iii) atividades recreativas e culturais.5 Para as demais atividades contempladas pela PAS, foram eleitas as cinco variveis mais signicativas (receita operacional lquida, nmero de empresas, pessoal ocupado, salrios e valor agregado) e calculada a participao de cada subgrupo no total do setor em 2005. Sob o critrio quantitativo adotado, consideramos como um subgrupo relevante aquele que apresentou participao de pelo menos 5% para uma das variveis escolhidas. Desta forma, selecionamos seis subsetores: (i) Transportes, servios auxiliares aos transportes e correio; (ii) Servios prestados s empresas; (iii) Telecomunicaes; (iv) Atividades de informtica; (v) Servios de manuteno e reparao; (vi) Atividades imobilirias e de aluguel de bens mveis e imveis. No caso dos dois primeiros, especial ateno ser dada aos segmentos considerados mais relevantes em termos quantitativos, pelo mesmo critrio sugerido acima.5 As atividades de transporte de passageiros tambm constituem um segmento do Turismo indicado pela OMT. No entanto, essas atividades j sero tratadas em nossa anlise sobre o setor de servios.

31

Tendncia e Diagnstico

Assim, no subsetor de Servios prestados s empresas, merecem destaque as trs seguintes classes: servios tcnicos e prossionais; seleo, agenciamento e locao de mo-de-obra temporria e servios de investigao, segurana, vigilncia e transporte de valores. J no subsetor de Transportes, servios auxiliares aos transportes e correio, sero tratados com maior detalhamento o transporte rodovirio (de cargas e passageiros) e o transporte areo. Informaes relativas aos segmentos de transporte ferrovirio e aquavirio, que possuem importncia marcante para algumas regies do Pas, tambm so includas na anlise.Tabela 2. Participao dos subsetores selecionados no total da receita, valor adicionado, pessoal ocupado, salrios e nmero de empresas do setor de serviosAtividades Total Turismo T Servios de alojamento Servios de alimentao Atividades recreativas e culturais Telecomunicaes Atividades de informtica Servios prestados s empresas Servios tcnico-profissionais Seleo, agenciamento e locao de mo-de-obra temporria Servios de investigao, segurana, vigilncia e transporte de valores Transportes, servios auxiliares aos transportes e correio Transporte rodovirio de passageiros Transporte rodovirio de cargas e outros tipos de transportes Transporte areo Atividades imobilirias e de aluguel de bens mveis e imveis Servios de manuteno e reparao Outras atividades de serviosFonte: PAS 2005 (IBGE).

Receita 100,0% 7,6% 1,6% 5,4% 0,6% 19,4% 6,3% 20,9% 10,4% 1,7%

Valor adicionado 100,0% 6,9% 1,7% 4,4% 0,8% 15,3% 7,5% 27,0% 11,9% 2,8%

Salrios 100,0% 10,2% 2,3% 7,0% 0,9% 4,3% 8,1% 32,9% 11,5% 4,6%

Pessoal ocupado 100,0% 18,6% 3,4% 13,9% 1,3% 1,1% 3,9% 35,9% 6,8% 7,1%

Empresas 100,0% 26,7% 2,3% 22,2% 2,1% 0,2% 5,2% 23,6% 14,0% 0,5%

2,2% 30,4% 5,9% 9,4% 4,1% 4,0% 1,8% 4,6%

3,3% 25,5% 5,8% 6,8% 1,2% 5,0% 1,8% 5,8%

5,5% 28,4% 8,1% 6,5% 1,9% 3,3% 3,0% 4,9%

5,7% 22,6% 8,1% 6,8% 0,5% 3,3% 4,4% 5,5%

0,3% 12,8% 2,6% 6,6% 0,0% 5,0% 10,0% 10,6%

Frente aos princpios de anlise discutidos anteriormente, alguns outros servios tambm devem ser tratados separadamente em subgrupos. Levando em considerao o primeiro princpio analisado a capacidade do setor de servios de intermediar e integrar atividades econmicas torna-se fundamental uma anlise do setor nanceiro no Brasil.32

Tendncia e Diagnstico

Este no contemplado pela PAS, j que esta pesquisa abrange apenas empresas com ins lucrativos, que prestam servios dos setores mercantis no-nanceiros. Os setores de sade e de educao tambm no so acompanhados pela PAS. Todavia, diante do fato destes segmentos serem fundamentais para o aumento da produtividade do pas e para a mudana no padro de consumo, estes dois setores foram selecionados como objeto de anlise. Ambos sero fundamentais ainda nas discusses a respeito de como o setor de servios reage s mudanas no padro de consumo que tm se vericado ao longo das ltimas dcadas. Com isso, totalizam dez subsetores selecionados de servios. No caso do comrcio, foi utilizado o mesmo critrio de participao acima de 5% adotado para servios. Ser mantida a desagregao do setor em trs grupos principais, como feita na PAC. So eles: (i) Comrcio de veculos, peas e motocicletas; (ii) Comrcio por atacado e (iii) Comrcio varejista. Apenas o ltimo grupo, tendo em vista a maior representatividade de suas atividades, foi ainda segmentado em comrcio especializado e comrcio no especializado. Estes subgrupos tambm esto sujeitos a um grau de desagregao maior, medida que isso se mostrar relevante. O comrcio varejista no especializado foi separado em hipermercados e supermercados; e outros tipos de comrcio no especicados. E no comrcio varejista especializado, foi dispensada maior ateno aos seguintes segmentos: comrcio de produtos alimentcios, vesturio, material de construo, produtos farmacuticos e combustveis e lubricantes.Diviso, grupos e classes de atividades Total Comrcio de veculos, peas e motocicletas Comrcio por atacado Comrcio varejista No especializado Hipermercados e supermercados Outros tipos de comrcio no especificado Comrcio especializado Produtos alimentcios, bebidas e fumo Tecidos, vesturio e calados Combustveis e lubrificantes Produtos farmacuticos Material de construo Receita 100% 14% 45% 42% 13% 10% 3% 22% 1% 4% 10% 3% 4% Salrios 100% 11% 25% 64% 16% 11% 5% 33% 4% 11% 4% 6% 8% Pessoal ocupado 100% 10% 15% 75% 18% 10% 9% 40% 7% 14% 4% 6% 9% Empresas 100% 9% 7% 84% 16% 1% 15% 44% 9% 19% 2% 5% 10%

Tabela 3. Participao dos subsetores selecionados no total da receita, pessoal ocupado, salrios e nmero de empresas do setor de comrcioFonte: PAC 2005 (IBGE).

A partir desta pr-seleo e das sugestes de especialistas do setor, sero qualicados os subsetores para o aprofundamento de diagnstico, que o prximo passo dentro do escopo deste estudo.33

Seleo de Setores Servios

Tendncia e Diagnstico

34

SERVIOS

Informtica Prestados s empresas Transporte Imobiliria e aluguel

Prestados s famlias

Manuteno e reparao

Educao

Tcnico profissional Seleo e locao de pessoal

Investigao e segurana Limpeza e conservao

Ferrovirio

Rodovirio

Aquavirio

Areo

Sade

Instituies financeiras

Turismo

Telecom

Alojamento

Alimentao

Recreao

COMRCIOAtacado Varejo

Veculos

No especializado Especializado Hipermercados e supermercados Outros menores

Alimento, bebida e fumo Vesturio e calado Material de construo Produtos farmacuticos Combustveis e lubrificantes EletroeletrnicosTendncia e Diagnstico

35

Seleo de Setores Comrcio

Tendncia e Diagnstico

36

Tendncia e Diagnstico

Diagnstico do Setor Tercirio

4

Para cada subsetor de comrcio e servios selecionado na seo anterior, traamos um diagnstico de sua situao econmica, identicando os fatores que contribuem para o seu crescimento, a insero internacional da atividade, seu grau de competitividade, sua contribuio para a economia, assim como os principais entraves e diculdades enfrentados.6

4.1 Comrcio de veculos, peas e motocicletasO setor responsvel pela distribuio e venda de veculos, peas e motocicletas fabricadas pela indstria automobilstica, pois a venda direta, sem intermediao de comercializadores, costuma ocorrer apenas para locadoras de carros ou empresas cuja atividade esteja atrelada frota de veculos. Na viso do IBGE, a denio de veculos automotores compreende automveis, veculos utilitrios (caminhes), de transporte coletivo (nibus) e especiais (ambulncias, reboques etc.)7.

6 Os Anexos III e IV apresentam dados detalhados sobre os setores de comrcio e de servios apresentados nas pesquisas anuais do IBGE mais recentes sobre esses setores (Pesquisa Anual do Comrcio PAC e Pesquisa Anual dos Servios PAS). Uma caracterizao mais sinttica destes dados apresentada para cada um dos subsetores selecionados. 7 No incluem comercializao de bicicletas (seo outros em atacado e varejo), tratores (seo comrcio de mquinas em atacado) e leiloeiros ndependentes de veculos automotores (seo serios prestados s empresas). O IBGE considera o setor eparadamente por tratar-se de um ramo que atua como atacadista e varejista (PAC 2004, vol. 16).

37

Tendncia e Diagnstico

O comrcio de veculos e peas est, portanto, intimamente ligado indstria automobilstica: o sucesso das vendas da indstria est atrelado ao desempenho das vendas do setor de comrcio.

Tabela 4. Comrcio de veculos, peas e motocicletas em 2005Atividades Comrcio de veculos, peas e motocicletas Veculos automotores Peas para veculos Motocicletas, e peas e acessriosFonte: PAC 2005.

Receita operacional lquida (R$ mil) 127 838 476 89 709 754 30 471 375 7 657 347

Salrios, retira-das e outras re-muneraes (R$ mil) 5 855 203 2 544 673 2 925 281 385 249

Pessoal Estabelecimentos Nmero de ocupado em com receita de empresas 31.12 revenda 690 268 207 653 432 877 49 738 128 815 26 434 92 035 10 346 123 750 24 601 89 297 9 852

Em 2005, o setor teve receita operacional lquida de R$ 128 bilhes, ocupando quase 700 mil pessoas em mais de 120 mil empresas. As empresas de veculos automotores representavam 20% do nmero de empresas, mas geraram 70,2% da receita operacional lquida. Aquelas do comrcio de peas obedecem a uma proporo inversa, com 23,8% da receita e 72,2% do total de empresas.

Tabela 5. Empresas de grande porte no setorParticipao Receita operacional lquida Salrios, retiradas e outras remuneraes Pessoal ocupado em 31.12 Estabelecimentos com receita de revenda Nmero de empresasFonte: PAC 2005. Nota: Mais de 100 pessoas ocupadas.

2005 41,20% 31,14% 16,02% 2,42% 0,44%

A concentrao do setor em um nmero menor de grupos econmicos tambm inuenciada pela natureza de sua relao com a indstria automobilstica, que normalmente de exclusividade, ou seja, a venda de uma nica marca em uma loja. Essa relao tende a diminuir o poder de barganha das concessionrias e incentiva a formao de grupos econmicos que possuem mais de uma bandeira de concessionria (grupos multimarcas). Isso permite maior poder de negociao na contratao das condies comerciais de longo prazo com os fabricantes de automveis, ao mesmo tempo em que permite a oferta de uma gama de opes mais ampla aos seus consumidores8.

8 Na Europa, desde 2002, os revendedores no esto mais atados a contratos de exclusividade. Inclusive, grandes cadeias de supermercados podem ofertar automveis em promoes isoladas. Disponvel em http://www.dw-world. de/dw/article/0,2144,647237,00.html. Acesso em 09 de abril 2007.

38

Tendncia e Diagnstico

A produtividade nos diversos segmentos que compem o setor apresenta discrepncias signicativas em funo, sobretudo, da natureza das atividades desenvolvidas. A produtividade nos diversos segmentos que compem o setor apresenta discrepncias signicativas em funo, sobretudo, da natureza das atividades desenvolvidas.

Tabela 6. Produtividade em setores selecionados 2005 (em milhares de R$ correntes)Produtividade 9 Veculos, peas e motocicletas Veculos automotores Peas para veculos Motocicletas, peas e acessrios Atacado Varejo Comrcio total Fonte: PAC 2005 2005 179 419 67 150 318 73 130

Note-se que a quantidade e qualidade dos funcionrios envolvidos e o valor do produto afetam o clculo da produtividade. A comercializao de veculos, peas e motocicletas no necessita de grande contingente de funcionrios, mas exige que eles sejam qualicados para atender ao pblico. Entretanto, segundo pesquisa da Fecomrcio10, realizada na cidade de So Paulo no ano de 2004, existem diculdades para a contratao de mo-de-obra qualicada no setor. Nas atividades de varejo, cerca de 17% das empresas armaram ser este um fator de alta diculdade, enquanto na revenda de veculos este nmero sobe para 33,3%. O desempenho do setor tem sido positivamente afetado recentemente pelas facilidades de crdito e descontos oferecidos nas compras de carros populares e o lanamento dos motores bi-combustvel, ou seja, que funcionam com lcool ou gasolina. A venda de carros importados e vendidos pela Internet tambm tem aumentado. A venda de automveis atravs deste ltimo canal respondia,

9 A produtividade calculada de acordo com a metodologia do IBGE, ou seja, atravs da razo entre receita lquida de revenda e nmero de pessoas ocupadas. Deste modo, os valores de produtividade esto em moeda corrente em cada ano, no sendo possvel a obteno de uma medida consistente de variao na produtividade entre os anos. Isso somente seria possvel caso estivessem disponveis ndices de preos por cada segmento, o que permitiria expressar a receita lquida em valores monetrios imunes inflao. 10 Disponvel em http://www.empresario.com.br/orientador/edicoes/2004/fecomercio/fecomercio_txt_2. html. Acesso em 23 de fevereiro de 2007.

39

Tendncia e Diagnstico

em 2005, por 52% das vendas do VOL (ndice de Varejo Online11). O crescimento do VOL-Autos foi de 20,5% em 2005 e 31,4% em 2004, sinalizando o bom desempenho das vendas pelo varejo online12. Importante ressaltar que nem todas as vendas do varejo online no setor so consideradas ecommerce, principalmente no caso dos veculos. Isso ocorre porque, apesar da venda efetivamente ser concretizada pela Internet, muitas vezes o pagamento ocorre por meio de outros canais13. Ainda assim, comparado aos outros dois componentes do comrcio (atacado e varejo), o segmento o menor em receita total, com 13,4% de participao no grupo. Veculos o responsvel por 70,2% da receita do grupo, seguido por peas para veculos, com 34,0%.100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30%

Grco 16. Participao na Receita Total por ComponenteFonte: PAC. Nota: No fazem parte da amostra as empresas com menos de 20 funcionrios.

20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004 Varejo

2005

Veculos, peas e motocicletas

Atacado

4.2 Comrcio atacadistaO principal canal entre a indstria e o varejo o comrcio atacadista. Dentro de um modelo convencional de distribuio, o produto vendido pelo fabricante ao atacado, que o revende ao varejo, para ento chegar at o consumidor nal.11 Indicador de faturamento dos revendedores de bens de consumo, turismo e automveis, calculado pela E-Consulting Corp e Cmera-e.net, que abrange 3,4% do varejo total do pas. 12 Disponvel em http://www.e-consultingcorp.com.br/vol/index_2004.htm e http://www.camara-e.net/ interna. asp?tipo=1&valor=3505. Acesso em 23 de fevereiro de 2007. 13 Disponvel em http://www.camara-e.net/interna.asp?tipo=1&valor=1989. Acesso em 23 de fevereiro de 2007.

40

Tendncia e Diagnstico

O comrcio atacadista abrange cinco principais grupos: (i) alimentos, bebidas e fumo; (ii) produtos intermedirios, resduos e sucata; (iii) mquinas, aparelhos e equipamentos; (iv) produtos de uso pessoal e domstico; e (v) produtos agropecurios in natura e alimentos para animais.

Tabela 7. Comrcio por atacado em 2005Comrcio por atacado Receita operacional lquida (R$ mil) Salrios, retiradas e outras remuneraes (R$ mil) Pessoal ocupado em 31.12 Estabelecimentos com receita de revenda Nmero de empresasFonte: PAC 2005

2005 418 856 820 13 205 522 1 063 449 116 273 103 991

Em 2005, mais de 100 mil empresas no setor geraram quase R$ 420 bilhes em receita operacional lquida em 116 mil estabelecimentos. No total, cerca de 1 milho de pessoas ocupadas receberam mais de R$ 13 bilhes em salrios, retiradas e outras remuneraes. Dois so os destaques do comrcio atacadista. O primeiro o grupo de alimentos, bebidas e fumo, mais representativo em termos de nmero de empresas. O segundo de combustveis e lubricantes, que tambm compe a categoria de produtos intermedirios. Com 37% do valor total arrecadado no atacado, sua receita cresceu 379% de 1996 a 2005, com forte desempenho nos anos de 1999, 2000 e 2003, quando cresceu cerca de 30% ao ano, devido, entre outros fatores, a variaes nos preos dos combustveis importados.14

14 Entre 1996 e 2004, o ndice de Preos no Atacado (IPA-M) apresentou variao de 188%. Deste modo, a receita do setor cresceu aproximadamente de 154% no mesmo perodo em termos reais (cerca de 12,4% a.a.).

41

Tendncia e Diagnstico

3 500 3 000 2 500 2 000

1 500 1 000

Grco 17. Evoluo do nmero de empresasFonte: PAC. Nota: No fazem parte desta amostra as empresas com menos de 20 funcionrios.

500 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Produtos alimentcios, bebidas e fumo Artigos de uso pessoal e domstico Comrcio de produtos intermedirios, resduos e sucatas Outros

O atacado responsvel por 58% da distribuio dos produtos de consumo, segundo o Ranking 2006 (base 2005) da ABAD, com crescimento real de 5,8% em relao a 2004. Efetivamente, o setor atacadista vem se beneciando da mudana do perl da populao. A intensicao de compras de produtos de mercearia (alimentos, higiene e limpeza) no pequeno varejo, que so as lojas de vizinhana, e em canais tradicionais, como padarias e mercearias, o principal motor desta transio. Assim, o bom desempenho do setor est atrelado especialmente ao aumento da participao do pequeno varejo (ABAD15). De forma alternativa, o atacado pode atender diretamente os consumidores atravs de padres intermedirios como as lojas de auto-servio (cash and carry). Este tipo de loja, misto de varejo e atacado, est cada vez mais comum, principalmente quando situado em zonas de alta concentrao residencial ou que sejam circundadas por cidades pequenas muito prximas. A Makro, em So Paulo, e a Cema, em Minas Gerais, so duas grandes empresas formadas por lojas 100% auto-servio. As embalagens menores e menos sosticadas tornam os preos mais atrativos ao consumidor, apesar do mix muitas vezes mais reduzido de produtos oferecidos e das poucas modalidades de pagamento. As lojas de auto-servio normalmente apresentam de 8 a 10 mil itens, o que restringe a variedade quando comparadas com as lojas do varejo. Dentre os itens, destacam-se os produtos de marca prpria, que fomentam o aumento da margem de comercializao. Dos 50 maiores atacadistas (Ranking ABAD), 48% possuem seus prprios produtos.15 Disponvel em http://www.abad.com.br/dados/ranking.shtml. Acesso em 08 de fevereiro de 2007.

42

Tendncia e Diagnstico

160 Vendas ABAD 150 Vendas ABAD (base = 1995) Taxa de crescimento

0,17

0,12 Taxa de Crescimento 140 130 120 110 100 90 80 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 100 102 105 102 102 104 -0,08 116 122 -0,03 137 0,07 153 0,02

Grco 18. Evoluo de vendas do atacado (R$)Fonte: Ranking ABAD (2005 e 2004).

Um efeito que poderia ocorrer com a popularizao das lojas de autoservio a canibalizao parcial do varejo que seu cliente. Os consumidores com acesso s mercadorias a preos mais baixos provenientes do atacadista tm incentivos para reduzir suas compras nos canais tradicionais de varejo. Todavia, segundo o Programa de Administrao de Varejo (Provar-FIA/USP), no factvel que ocorra este tipo de competio entre atacado e varejo supermercadista porque existe demanda dos consumidores por aquisies em lojas prximas sua localizao. Outra barreira para que isso se concretize so as limitaes impostas ao uso de cartes de crdito que ocorre muitas vezes no auto-servio. Note-se que o setor atacadista vem mudando sua estratgia. O pagamento preferencialmente feito em dinheiro, cheque ou boleto bancrio para pessoas jurdicas cadastradas. Tal medida economiza cerca de 2% do valor das vendas por produto em decorrncia da no incidncia das taxas cobradas pelas operadoras de carto de crdito (Associao Mineira de Supermercados16). Todavia, os dados da PAC de 2004 sinalizaram uma mudana na forma de pagamento aceita. As comisses pagas s administradoras de crdito dobraram, reetindo a maior difuso do uso de cartes de crdito no atacado na busca da ampliao dos seus servios ao consumidor nal. Parcerias entre atacadistas e bancos tm sido feitas para que o uso do carto de crdito seja difundido no setor, como o caso do acordo rmado em 2005 entre Makro e Unibanco17.16 Disponvel em www.amis.org.br/downloads/gondola/g123/atacarejo.pdf. Acesso em 07 de fevereiro de 2007. 17 Disponvel em http://www.globalresearch.com.br/novo/conteudo.asp?conteudo=138. Acesso em 07 de fevereiro de 2007.

43

Tendncia e Diagnstico

4.3 Comrcio varejistaO comrcio varejista pode ser segregado em dois grandes grupos. O primeiro corresponde ao segmento de hiper e supermercados, maior fonte de receita do varejo, com 40,7% da receita varejista e 13,3% da receita total do comrcio em 200518. O segundo formado por todo o comrcio especializado. O varejo apresenta duas formas bsicas de organizao de loja. A primeira o auto-servio, tipo predominante dos hiper e supermercados, onde no h contato pessoal entre consumidor e vendedor. A outra forma a loja de balco, em que h maior grau de interao entre as partes e a qualidade do servio de atendimento se torna ainda mais importante. Este o formato principal do comrcio especializado.

Tabela 8. Comrcio varejista em 20052005 Receita operacional lquida (R$ mil) Salrios, retiradas e outras remuneraes (R$ mil) Pessoal ocupado Estabelecimentos com receita de revenda Nmero de empresasFonte: PAC 2005.

393.534.032 33.868.220 5.320.130 1.256.690 1.210.656

Ao nal de 2005, o setor ocupava mais de 5 milhes de pessoas, gerando uma receita operacional lquida de quase R$ 400 bilhes. Mais de 1,2 milhes de empresas pagaram R$ 34 bilhes em salrios, retiradas e outras remuneraes. Em nmero de empresas o setor quase totalmente composto por micro, pequenas e mdias19 (99,87%). No entanto, em termos de pessoal ocupado e receita total, por exemplo, a participao das empresas de grande porte aumenta substancialmente, respondendo por 19% e 38%, respectivamente. O varejo especializado tambm apresenta outras peculiaridades na organizao. So elas os shopping centers, as franquias, as lojas em galerias e as empresas sem endereo. Os shopping centers so um fenmeno relativamente recente no Brasil quando comparado aos Estados Unidos, que na dcada de 60 j possuam 10 mil unidades. Em 2006, a Abrasce (Associao Brasileira de Shopping Centers) registrou 346 unidades em operao no pas, nmero 50% maior do que o observado em 2000. Esse aumento na oferta de shoppings, no18 Empresas com pelo menos 20 pessoas ocupadas. 19 At 99 pessoas ocupadas.

44

Tendncia e Diagnstico

Grfico 19. Participao das empresas no setor por tamanho100% 0,13% 1,77% 18,86% 30,48% 80% 37,92%

60% 99,87% 40% 98,23% 81,14% 69,52% 20% 62,08%

0% Nmero de empres as Estabelecimentos com receita de revenda Pessoal ocupado Salrios , retiradas e Receita operacional outras rem uneraes lquida

Grco 19. Participao das empresas no setor por tamanhoFonte: PAC 2005. Elaborao: Tendncias.

MPME

GE

entanto, no foi acompanhado por um aumento proporcional no nmero de lojistas, o que levou a um barateamento do custo por m2. Em geral, os shopping centers so classicados a partir de caractersticas tais como variedade dos bens e servios oferecidos, inuncia geogrca e pblico-alvo:20 Vizinhana: projetado para fornecer convenincia na compra de necessidades do dia-a-dia dos consumidores. Tem, em geral, como ncora um supermercado, com o apoio de lojas oferecendo outros artigos de convenincia. Comunitrio: geralmente oferece um sortimento mais amplo de vesturio e outras mercadorias. Entre as ncoras mais comuns esto os supermercados e lojas de departamentos de desconto. Regional: fornece mercadorias em geral e servios completos e variados. Suas atraes principais so ncoras tradicionais, como lojas de departamento de desconto ou hipermercados. Um shopping center regional tpico fechado, com as lojas voltadas para um mall interno. Especializado: voltado para um mix especco de lojas de um determinado grupo de atividades, tais como moda, decorao, nutica, esportes, automveis ou outras atividades. Outlet Center: consiste, em sua maior parte, em lojas de fabricantes vendendo suas prprias marcas com desconto, alm de outros lojistas do gnero off-price.

20 Fonte: BRMalls.

45

Tendncia e Diagnstico

Comumente apresentam lojas mais simples com aluguis mais baixos, custo de construo mais reduzido. Power Center: formado basicamente por lojas ncoras e poucas satlites; tal modalidade surgiu no Brasil a partir de 1996 e ainda no est muito difundida. Possui como ncoras category killers, lojas de departamento de desconto, clubes de compra, lojas off-price. Festival Mall: voltado para o lazer, cultura e turismo. Est quase sempre localizado em reas tursticas e basicamente voltado para atividades de lazer e alimentao, tais como restaurantes, fast-food, cinemas e outras diverses. A categoria de shopping centers mais difundida no Brasil a de shoppings regionais. O conceito de festival mall o tipo de empreendimento menos encontrado. O segmento de shopping centers emprega 524 mil pessoas e seu faturamento correspondente a 18% do total do varejo21. Eles diferem dos conglomerados comuns no planejados, porque fornecem uma composio de lojas para uma ampla gama de necessidades de compra dos consumidores que o freqentam. um formato de varejo que traz a comodidade como um benefcio adicional. Portanto, apresentam estacionamento, praa de alimentao, servios nanceiros, entre outros servios. A franquia ou franchising foi denida pela Lei 8.955/94, art. 2o: Franquia empresarial o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuio exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou servios e, eventualmente, tambm ao direito de uso de tecnologia de implantao e administrao de negcio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remunerao direta ou indireta, sem que, no entanto, que caracterizado vnculo empregatcio. Segundo o manual para franquias do Sebrae/ES (2005), o Brasil o terceiro maior mercado do mundo em nmero de franquias, atrs dos Estados Unidos e do Japo. Em 2006, eram 1.013 redes de franquias, totalizando 62,5 mil unidades (ABF). As facilidades obtidas em se vender um produto que j possui aceitao pelo mercado, padro locacional estudado e investimentos em divulgao so importantes. Alm disso, os custos unitrios da compra centralizada so menores do que seriam para uma loja individual. H ganhos nas atividades de suporte e treinamento, bem como

21 Disponvel em http://www.abrasce.com.br/ind_shop.htm. Acesso em 28 de fevereiro de 2007.

46

Tendncia e Diagnstico

nanciamento de equipamentos. Assim, apenas 3% das lojas franqueadas no completam dois anos de vida, nmero bem inferior ao encontrado para as micro e pequenas empresas em geral. As lojas em galerias se caracterizam por pequenos comrcios, bancas de jornais, perfumarias, farmcias, entre outros, localizadas usualmente em hipermercados, ambos em busca de vantagens pela maior circulao de clientes. Tambm podem assumir a forma de alguns setores de servios, como sales de beleza, lavanderias, agncias de viagens e restaurantes. Segundo os lojistas, os custos operacionais no espao so 30% inferiores aos encontrados nos shopping centers, porque, alm do condomnio e aluguel mais baixos, as lojas situadas em galerias no esto sujeitas cobrana de taxa de publicidade por parte de supermercados e lojas ncoras, que geram movimento em shopping centers22. Naturalmente, a contrapartida uma menor exposio ao pblico em geral por no se beneciarem do esforo publicitrio destes grandes agentes. Entre as empresas sem endereo, dois tipos se destacam: as vendas diretas e as lojas virtuais. Diferente do varejo tradicional, nas vendas diretas no h estoque local, portanto, o esforo na logstica da primeira entrega maior. Os contatos costumam ocorrer no atendimento porta-a-porta, via catlogo e pelo chamado party plan, quando o vendedor organiza um evento com os potenciais compradores. O ltimo o menos comum no Brasil. Em 2005, as vendas diretas movimentaram mais de US$ 100 bilhes no mundo, com destaque para Estados Unidos e Japo, que juntos detm mais de US$ 50 bilhes (Valor Setorial de fevereiro de 2007, p. 7). O Brasil o quinto maior faturamento, aps Coria e Alemanha. Segundo a Associao Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD), em 2006, o crescimento real no Brasil foi de 14,3% em receita, 12% em itens comercializados e 9,6% em vendedores autnomos23. Conforme explica a associao, o sucesso das vendas diretas no Brasil, sendo 88% de sua composio produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosmticos, se deu aps a percepo de que os produtos tinham qualidade e valor agregado. Mais recentemente, empresas como a indstria Nestl e a agncia de turismo WOW! esto adotando a prtica das vendas porta-a-porta no esforo de expanso de vendas. Os grandes clientes ainda so as classes C e D, que no costumam ir a shopping centers com freqncia. A resistncia das

22 Disponvel em www.portaldoagronegocio.com.br/index.php?p=noticia&&idN=6081. Acesso em 13 de fevereiro de 2007. 23 Disponvel em http://www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=noticias&noticia_id=1227. Acesso em 14 de fevereiro de 2007.

47

Tendncia e Diagnstico

classes mdia e alta aos produtos ofertados por este canal tem diminudo com o aumento da qualidade das mercadorias, qualicao dos revendedores e preocupao com a imagem do produto.Cuidados do lar Outros 5% 1% Suplementos nutricionais 6%

Grco 20. Participao dos itens nas vendas diretasFonte: Valor Setorial de fevereiro de 2007.

Cuidados pessoais 88%

As vendas diretas apresentam bom desempenho tambm nos perodos de recesso, tendo em vista que com maior desemprego e menores salrios as pessoas buscam fontes alternativas de renda. Entretanto, este tipo de vendas foi impactado por problemas referentes a questes trabalhistas, principalmente em funo da diculdade de adequar o trabalho com horrio exvel legislao existente. As lojas virtuais, outro tipo de estabelecimento sem endereo, esto se tornando cada vez mais comuns. O comrcio eletrnico, no incio, era apenas mais um canal alternativo de venda para as empresas com lojas estabelecidas em um espao fsico. Entretanto, o baixo custo de se manter um comrcio via Internet, com menor necessidade de empregados e grandes estoques, tem incentivado tambm o surgimento de empreendimentos que atuam exclusivamente atravs deste canal. O comrcio eletrnico inclui a compra e a venda de mercadorias, servios e informaes atravs de redes de computadores (Albertim, 1999). Conforme explica Santos (1999), as facilidades so encontradas, pelo lado da oferta, nos menores custos, maior automao e controle dos uxos (a informao sobre as compras ocorre em tempo real, permitindo mobilizar toda a cadeia com maior rapidez) e, pelo lado da demanda, na ausncia de limites de tempo (funcionamento 24 horas) e local (no requer mobilidade do consumidor para recebimento e pagamento pelo produto). O Brasil est entre os 20 pases com maior nmero de internautas que realizaram compras.48

Tendncia e Diagnstico

Alemanha ustria Reino Coria Irlanda Frana Taiwan Holanda Sucia Japo Estados Sua Nova Austrlia Noruega Dinamarca Singapura Canad Espanha Brasil 0,70 0,75

0,97 0,96 0,95 0,92 0,91 0,91 0,9 0,9 0,9 0,89 0,89 0,88 0,87 0,87 0,84 0,84 0,81 0,78 0,78 0,78 0,80 0,85 0,90 0,95 1,00

Grco 21. Principais Pases que Compram pela InternetFonte: ACNielsen (2005).

Segundo o estudo da ACNielsen (2005), os produtos mais procurados nas transaes eletrnicas no mundo so livros, com 34% do total, seguidos por vdeo/dvd/jogo, com 22%, e roupas e sapatos, com 20%. O setor de servios est representado principalmente por passagens areas (21%). O Brasil o oitavo maior comprador de livros via Internet e o sexto maior comprador de vdeos/dvds/jogos. Entre os cinco mtodos de pagamento mais utilizados no e-commerce, destaca-se o carto de crdito, com 59% das transaes mundiais e 63% das latino-americanas. Na Amrica Latina, o Brasil se destaca ainda pelo uso de cartes de crdito e do sistema PayPal24. O Pas o maior usurio do sistema PayPal fora dos Estados Unidos, seguido do Reino Unido. O uso de cartes de dbito inferior ao das transferncias bancrias. O pagamento em dinheiro na entrega no signicativo, sendo a mdia do continente relativamente alta devido ao Mxico.

24 Este sistema funciona atravs do cadastro em um site, por onde possvel enviar e receber recursos de contas em diferentes lugares do mundo. A transao ser feita por carto de crdito, dbito ou conta bancria. O vendedor paga uma tarifa pelo servio (disponvel em www.paypal.com, acesso em 14 de fevereiro de 2007).

49

Tendncia e Diagnstico

1,0 0,8 0,6 0,4

Grco 22. Participao dos Tipos de Pagamento por RegioFonte: ACNielsen (2005).

0,2 0,0 Total siaPacfico Europa Amrica do Norte Amrica Latina Sul da frica

Carto de crdito PayPal

Transferncia bancria Carto de dbito

Dinheiro na entrega

4.3.1 Hiper e supermercadosOs dois formatos, hipermercados e supermercados, se diferenciam pelas dimenses fsicas e predominncia de determinados tipos de produtos. Os hipermercados se caracterizam pela venda de alimentos, produtos de higiene e limpeza, eletrodomsticos, vesturio e artigos para o lar. So departamentos com rea acima de 5 mil m2, que podem funcionar como auto-servio. Os supermercados so locais menores, mais especializados em alimentos e artigos de primeira necessidade e atendem vizinhana local. Caracterizam-se pela venda predominante de alimentos frescos ou mercearia e produtos de higiene e limpeza. Entretanto, no mnimo, sua rea deve ter 350 m2 e conter dois check-outs. Ambos os formatos caracterizam-se por giro de estoques elevado e margens de comercializao reduzidas em relao a outros segmentos do comrcio.

Tabela 9. Hiper e supermercados em 20052005 Receita operacional lquida Salrios, retiradas e outras remuneraes Pessoal ocupado Estabelecimentos com receita de revenda Nmero de empresas 93 812 912 5 727 873 681 229 15 564 10 632

Em 2005, os supermercados apresentaram melhor desempenho do que os hipermercados principalmente porque cerca de 80% do faturamento dos hipermercados so atribudos aos produtos alimentcios, a baixos preos, e porque este um segmento em que existe maior competio, especialmente no segmento voltado s classes C e D, e com concorrentes experientes e conceituados, que50

Tendncia e Diagnstico

comercializam eletrodomsticos, roupas ou outros bens e oferecem vantagens aos clientes, como melhor atendimento e ofertas de crdito. No modelo europeu, as lojas tm formatos menores, mais pessoais, com padaria e aougue. J o modelo americano se caracteriza pelo grande espao de vendas, autoservio e oferta de outros produtos e servios para atrair clientes, como farmcias e postos de combustveis25. O Brasil sofre a inuncia dos dois modelos, reexo tambm da expanso das redes, consolidada atravs dos processos de fuses e aquisies nos ltimos anos. Segundo a pesquisa da Revista SuperHiper26, a principal ao de delizao de clientes a maior oferta de servios, seguida de maior variedade de marcas e produtos, at mesmo eletroeletrnicos, txteis e combustveis. Os principais servios oferecidos so o recebimento de contas (correspondente bancrio), a venda de seguros e passagens areas e carto de crdito prprio (private label). Este ltimo uma estratgia competitiva principalmente no ramo dos eletroeletrnicos, cujo parcelamento ca mais atrativo. Quando o supermercado se torna um correspondente bancrio, so instalados terminais informatizados onde o cliente pode pagar contas, fazer saques, entre outras operaes. O supermercado escolhe o que oferecer ao cliente. A Caixa Econmica Federal, por exemplo, tendo 80% dos seus correspondentes bancrios mercados e supermercados, realizou uma pesquisa com o instituto Vox Populi que indicou aumento do uxo de clientes em 30%27. Cerca de 80% dos consumidores adquirem um produto quando utilizam o correspondente e quem recebe pelo correspondente bancrio costuma gastar 30% do salrio em compras no supermercado no mesmo dia do pagamento28. O servio atende especialmente o pblico de baixa renda, porque essas pessoas apresentam menor acesso ao sistema bancrio ou preferem no utilizar o dbito automtico. Na Europa, este tipo de parceria acontece com vigor desde 1997. Em 2006, 75% dos varejistas de alimentos vendiam servios nanceiros em seus estabelecimentos29. Entretanto, uma estratgia recente observada em grandes cadeias a adoo do formato do pequeno varejo. A inteno diferenciar o consumidor e criar lealdade30. Conrmando a tendncia iniciada em 2003, o nmero de lojas com at 250 m2 apresentou crescimento da participao de 16,9%

25 SuperHiper Panorama 2007, p. 179. 26 SuperHiper, maio de 2004, realizada com 85 empresas que representam 53% do faturamento do setor nacional. 27 Supermercado Moderno de setembro de 2006, p. 99. 28 Disponvel em http://www1.caixa.gov.br/imprensa/imprensa_release.asp?codigo=5503131&tipo_noticia=0. Acesso em 13 de fevereiro de 2007. 29 Jornal do Commercio RJ. Disponvel em www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=noticias&noticia _id=575. Acesso em 6 de maro de 2005. 30 SuperHiper Panorama 2007, p. 194.

51

Tendncia e Diagnstico

em 2001 para 45,6% em 2005, enquanto os outros formatos maiores de lojas diminuram sua participao, principalmente aqueles com at 1.000 m2 e at 2.500 m2 (Ranking Abras 2006, base 200531). Isto pode ser uma resposta ao pequeno varejo, que tem deslocado a demanda dos hiper e supermercados. Pesquisa realizada em So Paulo, Paran e Minas Gerais diagnosticou que as compras de perecveis, realizadas com maior freqncia e menor quantidade, ocorrem fora dos supermercados, ou seja, em aougues, fei ras e padarias (Rojo, 1998).100% 80% 60% 0,34 40% 0,17 0,36 0,37 0,05 0,12 0,05 0,12 0,05 0,12

Grco 23. Importncia em Faturamento no Varejo32Fonte: ABAD (Ranking 2005)

20% 0,18 0% 2002 Grandes / hiper supermercados Pequeno varejo alimentar Farmcias

0,17 0,168 2003

0,16 0,16 2004 Mdios supermercados Pequenos supermercados

Segundo o estudo da ACNielsen de 2005 [apud (Turra, 2006)], em 70% dos casos, a localizao do estabelecimento interfere na escolha do consumidor pelo formato de loja. Isso pode ser visto pelo fato de que 72% da classe D e 63% da classe C vo a p realizar suas compras e 55% destes preferem freqentar mercados da vizinhana. J as classes A e B escolhem fazer suas compras em locais de fcil acesso e amplo estacionamento [(Parente, 2001), (Parente, 2002)].

31 SuperHiper, maio de 2006, amostra de 497 empresas ou 52% do setor. 32 Categorias ACNielsen (check-outs: at 4 pequeno, de 4 a 10 mdio e acima de 10 grande).

52

Tendncia e Diagnstico

Padaria

0,31 0,25

A/B C/D 0,86 0,75 0,49 0,42 0,9 0,88 0,57 0,53 0,93 0,92

Bazar

Frutas e verduras

Grco 24. Participao dos supermercados por seo nas compras dos consumidoresFonte: Rojo (1998).

Frios e laticnios

Carnes e aves

Mercearia 0 0,2 0,4 0,6 0,8

1

As classes A e B tambm fazem uso do canal eletrnico como complementar ao tradicional (Saab e Gimenez, 2000). A cadeia gerada por uma compra eletrnica movimenta vrios setores: o supermercadista contata o fornecedor para repor estoque, a distribuidora prepara a entrega do fornecedor ao supermercado, ou mesmo at o consumidor, e o banco e a administradora de cartes de crdito fazem as intermediaes eletrnicas de pagamento. O comrcio eletrnico no setor de supermercados, representado pela entrega em domiclio, passou de 0,1% do faturamento em 2004 para 0,2% em 2005, mantendo-se ainda em um patamar baixo (Ranking Abras 200633). A expectativa a maior difuso do comrcio eletrnico principalmente frente ao aumento da representatividade dos cartes de pagamento nas lojas. Somando as trs modalidades, cartes de crdito prprios, de terceiros e de dbito, sua representatividade de 51,2% da preferncia. Inclusive, os cartes de crdito prprios de supermercados tiveram um aumento expressivo de utilizao34.

33 A base da pesquisa so 117 empresas ou 21,5% do setor. 34 A base da pesquisa so 490 empresas ou 60% do setor.

53

Tendncia e Diagnstico

Outros Convnio / Desconto em folha 2001 Cheque vista Ticket alimentao Cheque pr-datado Carto de dbito 2002 2003 2004 2005

Grco 25. Formas de PagamentoFonte: Ranking Abras 2006 (base 2005), Revista SuperHiper, Maio de 2006.

Carto de crdito (prprio) Carto de crdito (de terceiros) Dinheiro 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40

A disseminao do uso dos cartes foi possvel apenas com os investimentos em automao. Pelo Ranking Abras 2006, das 482 empresas pesquisadas ou 64,5% do setor, 96,9% das lojas so automatizadas na frente do caixa e 94,7% na retaguarda. Atualmente, os hiper e supermercados constituem o setor do varejo que mais investe em automao (Marques, 2004), principalmente para frente de caixa35. Com os investimentos realizados para reduo de custos e aumento de produtividade, os hiper e supermercados tm conseguido se rmar como um dos pilares do varejo. Sua trajetria tem impactos importantes sobre o varejo total. Nos ltimos anos, em apenas dois momentos houve descolamento das trajetrias do grupo e sub-grupo, em 1998 e em 2004. Em 2004, a deao de preos dos itens alimentos e bebidas prejudicou as receitas dos hiper e supermercados36. Em 1998, o comrcio varejista foi afetado pelas crises externas e pelo cenrio interno de desemprego, elevao da taxa de juros e inadimplncia, que restringiram o consumo. As vendas dos hiper e supermercados foram menos afetadas, devido ao fato das vendas serem compostas por bens no durveis e dos esforos no sentido de diminuio de custos. Algumas das polticas adotadas no setor na ltima dcada incluem a terceirizao de atividades, parcerias logsticas com os fornecedores e acirramento da negociao com a indstria (BNDES, 1998).

35 Supermercado Moderno de abril de 2006, p. 57. 36 Disponvel em http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=173230. Acesso em 09 de fevereiro de 2007.

54

Tendncia e Diagnstico

25%

20%

19% 16% 18%

15% 13% 9% 10% 9% 7% 5% 8% 11% 9% 12% 11% 10% 11% 12%

16% 13%

0% -2% -5% 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Grco 26. Evoluo da taxa de crescimento da receita total (R$) Hiper e supermercados x VarejoFonte: PAC.

4.Comrcio varejista

4.1.1Hipermercados e supermercados

As marcas prprias dos supermercadistas (MSs) modicaram a relao entre varejo e indstria, aumentando o poder de barganha dos supermercadistas, j que permitem uma menor dependncia dos produtos de marcas de fabricantes (MFs). Muita