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2617 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961-2015) CLEO MAYCON VIANA PAZ 1 FABIO SANCHES 2 RICARDO VICENTE FERREIRA 2 VALERIA MACHADO 3 Resumo: Nos útimos 20 anos, as mudanças climáticas tem sido tema dos principais eventos científicos realizados no mundo. Uma das principais dificuldades para tais estudos se deve a carência e a qualidade de longas séries de dados. O objetivo deste estudo foi preparar uma série de dados pluviométricos mensais para Uberaba (MG) e analisar suas tendências. Foram utilizados dados do INMET e da ANA para o período de 1961-2015. As falhas foram preenchidas utlizando procedimentos estatísticos (regressão polinomial) para, posteriormente, suas tendências serem analisadas por meio do Teste de Mann-Kendall (MK). Os resultados demonstraram que apenas a tendência negativa observada para os meses de outubro foi considerada significativa pelo MK. Dessa forma, é possível sugerir que esteja ocorrendo uma tendência de prolongamento da estação seca visto que o mês de outubro marca o retorno da estação chuvosa no mundo tropical. Palavras-chave: Mudanças climáticas, testes estatísticos; Triângulo Mineiro. Abstract: In the last 20 years, climate change has been the subject of major scientific events in the world. One of the main difficulties for such studies is the lack and quality of data series. The aim of this study was to prepare a series of monthly rainfall data to Uberaba (MG) and analyze trends. INMET data and ANA data were used for the period 1961-2015. Failures were filled using statistical procedures (polynomial regression) to later trends are analyzed using the Mann- Kendall test (MK). The results showed that only the negative trend for the months of October was considered significant by MK. Thus, it may be occurring extension trend of the dry season because the month October marks the return of the rainy season in the tropical areas. Keywords: Climate Change, statistical testing, Triângulo Mineiro. Introdução 1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Bolsista de Iniciação Científica pela FAPEMIG. E-mail [email protected] 2 Professor Adjunto na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) E-mail: [email protected]; [email protected] 3 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]

TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

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Page 1: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2617

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961-2015)

CLEO MAYCON VIANA PAZ1 FABIO SANCHES2

RICARDO VICENTE FERREIRA2 VALERIA MACHADO3

Resumo: Nos útimos 20 anos, as mudanças climáticas tem sido tema dos principais eventos

científicos realizados no mundo. Uma das principais dificuldades para tais estudos se deve a

carência e a qualidade de longas séries de dados. O objetivo deste estudo foi preparar uma

série de dados pluviométricos mensais para Uberaba (MG) e analisar suas tendências. Foram

utilizados dados do INMET e da ANA para o período de 1961-2015. As falhas foram

preenchidas utlizando procedimentos estatísticos (regressão polinomial) para, posteriormente,

suas tendências serem analisadas por meio do Teste de Mann-Kendall (MK). Os resultados

demonstraram que apenas a tendência negativa observada para os meses de outubro foi

considerada significativa pelo MK. Dessa forma, é possível sugerir que esteja ocorrendo uma

tendência de prolongamento da estação seca visto que o mês de outubro marca o retorno da

estação chuvosa no mundo tropical.

Palavras-chave: Mudanças climáticas, testes estatísticos; Triângulo Mineiro.

Abstract: In the last 20 years, climate change has been the subject of major scientific events in

the world. One of the main difficulties for such studies is the lack and quality of data series. The

aim of this study was to prepare a series of monthly rainfall data to Uberaba (MG) and analyze

trends. INMET data and ANA data were used for the period 1961-2015. Failures were filled

using statistical procedures (polynomial regression) to later trends are analyzed using the Mann-

Kendall test (MK). The results showed that only the negative trend for the months of October

was considered significant by MK. Thus, it may be occurring extension trend of the dry season

because the month October marks the return of the rainy season in the tropical areas.

Keywords: Climate Change, statistical testing, Triângulo Mineiro.

Introdução

1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Bolsista de Iniciação Científica pela FAPEMIG. E-mail [email protected] 2 Professor Adjunto na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) E-mail: [email protected]; [email protected] 3 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]

Page 2: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2618

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

Nos últimos anos, os efeitos das mudanças climáticas globais e suas respectivas

repercussões nos níveis regionais e locais tornaram-se temas de diversos encontros científicos,

sobretudo após a sequência de relatórios (Assessment Report) divulgados pelo Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês).

Questões ligadas à elevação das temperaturas planetárias associadas às emissões de

gases do efeito estufa e o aumento dos eventos climáticos extremos (tempestades, chuvas

extremas, estiagens prolongadas, ondas de calor/frio, por exemplo) norteiam trabalhos

produzidos por diversos pesquisadores pelo mundo (VINCENT et al., 2005; HAYLOCK et al.,

2006; ALEXANDER et al., 2006; OBREGÓN e MARENGO, 2007; SILLMANN & ROECKNER

2008; BLAIN, 2010; VALVERDE & MARENGO, 2014).

A recente crise no abastecimento, vivenciada na região Sudeste nos anos de 2013 e

2014, despertou a atenção da órgãos responsáveis pelo fornecimento de água e da sociedade,

que sentiu as mazelas da falta de abastecimento.

De forma geral, a mídia, como principal canal de formação da opinião pública, não

economizou na produção de reportagens que abordaram as fragilidades do sistema de

abastecimento público, problemas de gestão e planejamento e, de que a falta de chuvas

poderia ainda ser decorrente das mudanças climáticas.

Outro ponto merecedor de destaque é a economia agrícola regional, a qual, em virtude

da variedade de produtos produzidos (de alimentos básicos a fontes de energia) a dependencia

das condições climáticas, sobretudo pluviométricas, é essencial.

Nessa perspectiva, Marengo (2007) deixa claro que as evidências de mudanças no

clima poderiam afetar significativamente o planeta, com maior rigor nos países menos

desenvolvidos na região tropical. Nesse contexto, o autor afirma que o Brasil pode tornar-se

vulnerável às mudanças climáticas atuais e, mais ainda, às mudanças que se projetam para o

futuro, sobretudo, aquelas associadas aos eventos climáticos intensos.

Sob esse aspecto, observa-se que os trabalhos de Paiva e Clarke (1995), Marengo e

Alves (2005), Vincent et al. (2005), Haylock et al. (2006), Alexander et al. (2006), Folhes e Fisch

(2006); Obregón e Marengo (2007), Sillmann & Roeckner (2008), Blain (2010), Alves e Marengo

(2009), Sanches et al. (2013; 2014) entre outros, têm procurado analisar o comportamento das

variáveis (temperatura e precipitação) ao longo do tempo. Uma das principais ferramentas de

análises desses trabalhos são os testes estatísticos não-paramétricos, principalmente o Teste

de Mann-Kendall (SIEGEL, 1975).

Page 3: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2619

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

O Teste de Mann-Kendall compreende um teste estatístico não-paramétrico para

identificação de tendências, sendo recomendado pela Organização Meteorológica Mundial

(OMM) para estudos de tendências climáticas em séries temporais longas (PAIVA e CLARKE,

1995; GROPPO et al., 2001; MARENGO e ALVES, 2005; ALEXANDER et al., 2006; FOLHES e

FISCH, 2006; OBREGÓN e MARENGO, 2007; BLAIN, 2010).

Sendo assim, diante do exposto, o presente trabalho objetiva a preparação de uma

longa série de dados pluviométricos para Uberaba e o estudo da tendências dos totais mensais

para o período de 1961-2015 buscando evidências de mudanças climáticas.

Material e Métodos Para este trabalho, foram utilizados dados pluviométricos do Instituto Nacional de

Meteorologia (INMET), obtidos por meio de seu Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e

Pesquisa (BDMEP), disponível no site do INMET

(http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep).

Foram utilizados dados da Estação Meteorológica de Superfície em Uberaba (OMM:

83577) para o perído de 1961-2015. Dada a ocorrência de falhas nessa série de dados foram

utilizados dados da Estação Meteorológica de Superfície de Frutal (OMM: 83574), via BDMEP e

do posto pluviométrico da Agência Nacional de Águas (nº 01947016), por meio de sua

plataforma eletrônica hidroweb (http://www.snirh.gov.br/hidroweb/).

O preenchimento das falhas no conjunto de dados de Uberaba foi feito utilizando

métodos estatísticos de correção, preenchimento das falhas e verificação de sua consistência

(regressão polinomial e teste de dupla-massa), conforme sugerem os trabalhos de Frank et al.

(1988); Tucci (2009), Oliveira et al. (2010) e Sanches et al. (2012), Sanches (2015).

De posse do conjunto de dados, os mesmos foram organizados em totais mensais

utilizando como ferramenta o software Excel (Microsoft Inc.) para serem produzidos

histogramas, extraídas suas linhas de tendências, equações de regressão e coeficientes de

determinação (R²).

Após a verificação da tendência (positiva ou negativa) dos dados, os mesmos foram

avaliados quanto a mudanças significativas de comportamento por meio da aplicação do Teste

de Mann-kendall (MK). Neste teste, adotar-se a hipótese da estabilidade da série temporal (Hₒ)

onde os valores devem ser independentes e a distribuição de probabilidades deve permanecer

sempre a mesma.

Page 4: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2620

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

O MK tem sido empregado em diversos trabalhos como objetivo de encontrar evidências

de mudanças de comportamento que possam ser consideradas como evidências de mudanças

climáticas (PAIVA e CLARKE, 1995; GROPPO et al., 2001; MARENGO e ALVES, 2005;

ALEXANDER et al., 2006; FOLHES e FISCH, 2006; OBREGÓN e MARENGO, 2007; BLAIN,

2010; SANCHES et al., 2014).

Page 5: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2621

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

Resultados

A organização dos dados da Estação Meteorológica em Superfície de Uberaba (OMM:

83577) possibilitou verificar as falhas descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Relação dos anos e meses com falhas na série de dados Uberaba (INMET).

Anos Meses com falhas

1961 Dezembro. 1964 Janeiro e fevereiro. 1965 Maio e dezembro. 1966 Maio, junho e julho. 1967 Janeiro 1968 Junho 1969 Setembro e outubro. 1970 Fevereiro e dezembro. 1976 Maio 1983 Todos os meses do ano. 1984 Todos os meses do ano. 1985 Todos os meses do ano. 1986 Todos os meses do ano. 1987 Todos os meses do ano. 1988 Todos os meses do ano. 1989 Todos os meses do ano.

Fonte: BDMEP/INMET. Organizado pelos autores.

Para o preenchimento das falhas nos anos de 1961, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968,

1969, 1970 e 1976 foram utilizados dados da Estação Meteorológica de Superfície de Frutal

(OMM: 83574) correlacionando dados do período de 1961-1968. A Figura 1demonstra a região

de estudo bem como a localização das estações meteorológicos do INMET utilizadas, bem o

posto pluviométrico da ANA.

Page 6: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2622

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

Figura 01 – Localização das estações meteorológicas de Uberaba (83577), Frutal (83574) e do

posto pluviométrico da ANA (01947016), bem como o raio de confiança direta (13,5 km) de um posto pluviométrico segundo WMO (1984)

A Figura 2 demonstra os dados correlacionados, a equação de regressão polinomial,

bem com seu coeficiente de determinação (R²).

Figura 02 – Correlação de dados entre Frutal e Uberaba no período de 1961-1978, sua equação de

regressão polinomial e coeficiente de determinação

Page 7: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2623

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

Já as falhas observadas nos anos de 1983 a 1989 na série de dados de Uberaba

(INMET) foram preenchidas a partir dos dados coletados do posto nº01947016 da ANA,

localizado a, aproximadamente, três quilômetros da estação meteorológica de Uberaba. O

preenchimento das falhas por meio da substituição dos dados só foi possível com base nas

diretrizes da Organização Meteorológica Mundial sobre a área de confiança direta dos dados

pluviométricos de uma estação meteorológica ser de 575 km², ou seja, uma superfície sem

contrastes topográficos a partir de um raio de 13,5 km (WMO, 1984).

Sendo assim, a partir das falhas devidamente preenchidas, passou-se a analisar as

tendências lineares dos totais mensais aplicando-se o Teste MK.

A Figura 3 permite observar as tendências lineares, mês a mês, para a série Uberaba

(1961-2015). Verifica-se que as tendências foram consideradas negativas apenas para os

meses de julho e outubro. Os demais meses apresentaram tendências positivas. No entanto, a

verificação da tendência como positiva ou negativa não é suficiente para avaliar

qualitativamente o comportamento da série. Sendo assim, coube a aplicação do Teste MK para

sua respectiva avaliação com nível de confiança de 95% (p-value: 0,05). Para isso, o valor do

score z deve ser -1,96 ≤ z ≤ 1,96, cf. recomenda Marengo e Alves (2005) e Folhes e Fisch

(2006).

Page 8: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2624

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

y = 1,1476x + 263,72R² = 0,0227

0

100

200

300

400

500

600

700

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15

Uberaba - totais mensais em Janeiro

Series1 Linear (Series1)

y = -0,0363x + 14,858R² = 0,0009

0

10

20

30

40

50

60

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00

20

03

20

06

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09

20

12

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Uberaba - totais mensais em Julho

Series1 Linear (Series1)

y = -0,3351x + 236,63R² = 0,0032

0

50

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150

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15

Uberaba - totais mensais em Fevereiro

Series1 Linear (Series1)

y = 0,0516x + 13,427R² = 0,0014

0

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30

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2012

20

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Uberaba - totais mensais em Agosto

Series1 Linear (Series1)

y = 2,1214x + 152,37R² = 0,0909

0

100

200

300

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500

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15

Uberaba - totais mensais em Março

Series1 Linear (Series1)

y = 0,0936x + 54,224R² = 0,0011

0

50

100

150

200

250

3001

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1

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20

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09

20

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20

15

Uberaba - totais mensais em Setembro

Series1 Linear (Series1)

y = 0,6207x + 82,994R² = 0,0203

0

50

100

150

200

250

300

350

1961

1964

1967

1970

1973

1976

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1982

1985

1988

1991

1994

1997

2000

2003

2006

2009

2012

2015

Uberaba - totais mensais em Abril

Series1 Linear (Series1)

y = -1,1243x + 178,42R² = 0,0618

0

50

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150

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350

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20

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Uberaba - totais mensais em Outubro

Series1 Linear (Series1)

y = 0,0924x + 49,513R² = 0,0012

0

50

100

150

200

1961

1964

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1970

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1982

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1991

1994

1997

2000

2003

2006

2009

2012

2015

Uberaba - totais mensais em Maio

Series1 Linear (Series1)

y = 0,0481x + 188,6R² = 0,0001

0

100

200

300

400

500

1961

1964

1967

1970

1973

1976

1979

1982

1985

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1991

1994

1997

2000

2003

2006

2009

2012

2015

Uberaba - totais mensais em Novembro

Series1 Linear (Series1)

y = 0,0814x + 16,214R² = 0,0029

0

20

40

60

80

100

120

1961

1964

1967

1970

1973

1976

1979

1982

1985

1988

1991

1994

1997

2000

2003

2006

2009

2012

2015

Uberaba - totais mensais em Junho

Series1 Linear (Series1)

y = 0,3346x + 268,84R² = 0,0029

0

100

200

300

400

500

600

19

61

19

64

19

67

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73

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79

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09

20

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Uberaba - totais mensais em Dezembro

Series1 Linear (Series1)

Page 9: TENDÊNCIA DAS CHUVAS MENSAIS PARA UBERABA (1961 …

2625

VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais

25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

Figura 3 - Tendências pluviométricas dos totais mensais para Uberaba (1961-2015).

Na Tabela 2 são apresentados os scores z da estatística MK para os totais mensais de Uberaba (1961-2015). Tabela 2 - Resultado da estatística MK para as tendências lineares dos totais mensais pluviométricos.

Meses Score z da estatística MK

Janeiro 0,72 Fevereiro -0,30

Março 1,79 Abril 1,26 Maio 1,11 Junho -0,18 Julho 0,77

Agosto -0,23 Setembro 0,89 Outubro -1,96*

Novembro -0,19 Dezembro -0,06

*Valores considerados significativos para mudança de comportamento após a estatística MK.

Os resultados da Tabela 2 demonstram que, muito embora a tendência pluviométrica

para o mês de março tenha sido positiva, seu score z (1,79) não foi considerado significativo

para mudança de comportamento após a aplicação do MK. No entanto, observa-se que, a partir

dos anos 1990, tenham ocorridos dois anos (1991 e 2011) com totais mensais superiores a 600

mm. Nos anos de 2000, 2003, 2008 e 2015, os totais mensais em março foram superiores a

300 mm.

Cabe ressaltar que dos anos destacados (1991, 2000, 2003, 2008, 2011 e 2015),

apenas os anos de 2000, 2008 e 2011 foram anos sob efeito da componente fria do fenômeno

ENOS (La Niña). Os anos de 1991, 2003 e 2015 foram considerados neutros pelo

monitoramento das águas do Pacífico (NOAA, 2016). Dessa forma, não é possível relacionar os

eventos intensos de pluviosidade mensal para os meses de março com a participação do

fenômeno ENOS.

Já a tendência negativa observada para os meses de outubro foi considerada pelo MK

como significativa para mudança de comportamento uma vez que seu score z (-1,96)

apresentou resultados fora do intervalo de confiança em um nível de 95%.

Observa-se que a partir dos anos 1990, foram 10 anos em que as chuvas dos meses de

outubro apresentaram valores inferiores a 100 mm. Segundo a NOAA (2016), a partir de 1990,

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apenas os anos de 1999 e 2000 foram influenciados pela componente fria do fenômeno ENOS

(La Niña). Os anos de 1991, 2002 e 2015 foram influenciados pela fase quente do ENOS (El

Niño). Já os demais anos com chuvas mensais de outubro inferiores a 100 mm foram

considerados como anos neutros.

Conclusões

Conforme recomenda a literatura, a metodologia e os recursos estatísticos utilizados

para o preenchimento de falhas permitiram reconstruir uma série de dados para o

período de 1961-2015 com boa consistência para as análises seguintes;

A aplicação do Teste de Mann-kendall nos totais pluviométricos mensais demonstou que

apenas a tendência negativa do mês de outubro foi considerada significativa para

mudança de comportamento;

Os resultados demonstraram que há uma tendência de prolongamento da estação seca

para a região de estudo, visto que na climatologia do mundo tropical, o retorno das

chuvas é esperado para meados do mês de outubro.

Referências ALEXANDER, L.V; ZHANG, X.; PETERSON, T.C.; CAESAR, J.; GLEASON, B.; KLEIN TANK, A.M.G.; HAYLOCK, M.; COLLINS, D.; TREWIN, B.; RAHIMZADEH, F.; TAGIPOUR, A.; RUPA KUMAR, K.; REVADEKAR, J.; GRIFFITHS, G.; VICENT, L.; STEPHENSON, D. B.; BURN, J.; AGUILAR, E.; TAYLOR, M.; NEW, M.; ZHAIN, P.; RUSTICUCCI, M.; VAZQUEZ-AGUIRRE, J.L. Global observed changes in daily climate extremes of temperature and precipitation. Journal of Geophysical Research. vol. 111, D05109, 2006. (doi: 10.1029/2005JD00690). ALVES, L.M.; MARENGO, J. Assessment of regional seasonal predictability using the PRECIS regional climate modeling system over South America. Theoretical and Applied Climatology, 100:337-350, 2009. BLAIN, G.C. Detecção de tendências monótonas em séries mensais de precipitação pluvial no Estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v.69, n4, p.1027-1033, 2010. FOLHES, M.T.; FISCH, G. Caracterização climática e estudo de tendência nas séries temporais de temperatura do ar e precipitação em Taubaté (SP). Ambi-Agua, Taubaté, v.1, n.1, p.61-71, 2006. FRANK, B., SEVERO, D.; SILVA, H.S. Validade do preenchimento de falhas em séries temporais. In: V Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais... Rio de Janeiro, 1988.

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