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Teologia Bíblica e o Culto de Adoração Bobby Jamieson 25 de Fevereiro de 2015 - Teologia O que exatamente nós estamos fazendo quando nos congregamos como igreja para a adoração? E como nós sabemos o que devemos fazer nesses ajuntamentos semanais? Naturalmente, cristãos evangélicos se voltam para a Escritura a fim de obter orientação nessas questões, mas em que lugar da Escritura nós procuramos? Há muito sobre adoração no Antigo Testamento – sobre orações, sacrifícios, corais, címbalos e tanto mais. Mas será que todo aquele material de fato se aplica aos ajuntamentos de crentes na nova aliança? A fim de responder essas questões, nós precisamos de uma teologia bíblica da adoração.[1] Teologia bíblica é a disciplina que nos ajuda a observar tanto a unidade como a diversidade, tanto a continuidade como a descontinuidade, em meio ao vasto enredo da Escritura. Neste artigo esboçarei, muito brevemente, uma teologia bíblica da adoração corporativa. Quatro passos nos levarão até lá: (1) a adoração congregacional no Antigo Testamento; (2) o cumprimento em Cristo; (3) a adoração congregacional no Novo Testamento; (4) lendo toda a Bíblia para a adoração corporativa. 1. A adoração congregacional no Antigo Testamento Desde que o povo de Deus foi banido de sua presença depois da queda, em Gênesis 3, Deus tem trabalhado para ajuntá-los novamente para si mesmo.[2] Assim, quando Israel sofria em cadeias no Egito, Deus o resgatou não apenas para que ele fosse liberto da opressão, mas para que ele o adorasse em sua presença (Êxodo 3.12, 18). Deus guiou o seu povo para fora do Egito e os trouxe ao lugar da sua própria habitação (Êxodo 15.13, 17). Onde é esse lugar de habitação? No princípio, é o tabernáculo, a elaborada tenda na qual os sacerdotes ofereciam sacrifícios pelos pecados e impurezas do povo. Nós lemos em Êxodo 29.44-46: e consagrarei a tenda da congregação e o altar; também santificarei Arão e seus filhos, para que me oficiem como sacerdotes. E habitarei no meio dos filhos de Israel e serei o seu Deus. E saberão que eu sou o SENHOR, seu Deus, que os tirou da terra do Egito, para habitar no meio deles; eu sou o SENHOR, seu Deus.

Teologia Bíblica e o Culto de Adoração

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Teologia Bblica e o Culto de Adorao

Bobby Jamieson25 de Fevereiro de 2015 - Teologia

O que exatamente ns estamos fazendo quando nos congregamos como igreja para a adorao? E como ns sabemos o que devemos fazer nesses ajuntamentos semanais?

Naturalmente, cristos evanglicos se voltam para a Escritura a fim de obter orientao nessas questes, mas em que lugar da Escritura ns procuramos? H muito sobre adorao no Antigo Testamento sobre oraes, sacrifcios, corais, cmbalos e tanto mais. Mas ser que todo aquele material de fato se aplica aos ajuntamentos de crentes na nova aliana?

A fim de responder essas questes, ns precisamos de uma teologia bblica da adorao.[1] Teologia bblica a disciplina que nos ajuda a observar tanto a unidade como a diversidade, tanto a continuidade como a descontinuidade, em meio ao vasto enredo da Escritura.

Neste artigo esboarei, muito brevemente, uma teologia bblica da adorao corporativa. Quatro passos nos levaro at l: (1) a adorao congregacional no Antigo Testamento; (2) o cumprimento em Cristo; (3) a adorao congregacional no Novo Testamento; (4) lendo toda a Bblia para a adorao corporativa.

1. A adorao congregacional no Antigo Testamento

Desde que o povo de Deus foi banido de sua presena depois da queda, em Gnesis 3, Deus tem trabalhado para ajunt-los novamente para si mesmo.[2] Assim, quando Israel sofria em cadeias no Egito, Deus o resgatou no apenas para que ele fosse liberto da opresso, mas para que ele o adorasse em sua presena (xodo 3.12, 18). Deus guiou o seu povo para fora do Egito e os trouxe ao lugar da sua prpria habitao (xodo 15.13, 17).

Onde esse lugar de habitao? No princpio, o tabernculo, a elaborada tenda na qual os sacerdotes ofereciam sacrifcios pelos pecados e impurezas do povo. Ns lemos em xodo 29.44-46:

e consagrarei a tenda da congregao e o altar; tambm santificarei Aro e seus filhos, para que me oficiem como sacerdotes. E habitarei no meio dos filhos de Israel e serei o seu Deus. E sabero que eu sou o SENHOR, seu Deus, que os tirou da terra do Egito, para habitar no meio deles; eu sou o SENHOR, seu Deus.

O objetivo do xodo era que Deus habitasse no meio do seu povo. Ele faz isso por meio do santo lugar (tabernculo) e de indivduos (sacerdotes) designados para aquele propsito.

Quando Deus tirou Israel do Egito, ele o tomou para si como o seu povo. E o modo como ele confirmou esse novo relacionamento com Israel foi firmando uma aliana com ele, geralmente chamada de aliana mosaica. Em xodo 19, o Senhor lembra ao povo o que havia feito por ele ao resgat-lo do Egito e, ento, promete que, se ele obedecer aos termos da sua aliana, ser a sua possesso peculiar (xodo 19.1-6).

O Senhor confirmou essa aliana com o povo em xodo 24 e todas as leis de xodo, Levtico, Nmeros e Deuteronmio expem os termos dessa aliana. Todos esses detalhes especificam como o povo de Deus deve viver com Deus e uns com os outros nessa aliana especfica que Deus firmou com ele.

Assim, os detalhados sacrifcios e os rituais de purificao descritos em Levtico so um meio de reparar as brechas na comunidade da aliana. O culto mantm a aliana.

Algumas vezes ao ano, todos os israelitas eram ordenados a se congregarem perante o Senhor no seu tabernculo, para as festas da Pscoa, das primcias, e assim por diante (Levtico 23). parte dessas festas, a oferta regular dos sacrifcios era conduzida pelos sacerdotes e os indivduos israelitas vinham ao tabernculo (e, posteriormente, ao templo) apenas quando precisavam oferecer um sacrifcio especfico pelo pecado ou pela impureza.

Em outras palavras, para Israel, a adorao corporativa era uma ocasio especial, que se dava apenas poucas vezes no ano. A adorao, entendida como devoo exclusiva ao Senhor, era algo que os israelitas eram chamados a fazer em todo tempo (Deuteronmio 6.13-15). Mas, no sentido de ter ntimo acesso presena de Deus, a adorao estava restrita a pessoas, lugares e ocasies especficos. Deus habitava no meio do seu povo, sim, mas essa presena estava restrita ao tabernculo e era protegida pelos sacerdotes.

2. O cumprimento em Cristo

O ponto de virada no enredo da Escritura a encarnao de Deus o Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo. Todas as promessas de Deus se cumprem nele (2Corntios 1.20). Todos os tipos do Antigo Testamento as instituies do sacerdcio, do templo e da monarquia, os eventos do xodo, do exlio e do retorno encontram seu cumprimento nele. Ento, a fim de entender a teologia da adorao no todo da Escritura, temos que entender como Jesus cumpre e transforma a adorao da aliana mosaica.

O tabernculo, e posteriormente o templo, era onde Deus manifestava a sua presena no meio do seu povo; Jesus cumpre e, portanto, substitui essas estruturas da antiga aliana. Joo nos diz que a Palavra se fez carne e literalmente tabernaculou entre ns (Joo 1.14). Jesus prometeu: Destru este santurio, e em trs dias o reconstruirei (Joo 2.19). Em outras palavras, o corpo de Jesus agora o templo, o lugar onde Deus encontra o seu povo, manifesta a sua presena e lida com os seus pecados (Joo 2.21-22). por isso que Jesus pode dizer que vem a hora na qual os verdadeiros adoradores no mais precisaro adorar em Jerusalm, mas adoraro em esprito e em verdade (Joo 4.21-24).

Jesus cumpre e substitui o templo terreno de Jerusalm. Ele agora o lugar onde os verdadeiros adoradores adoram a Deus.[3]

Jesus tambm cumpre e substitui por inteiro o sistema sacrificial associado aliana mosaica e o seu tabernculo e templo. A Epstola aos Hebreus nos diz que, diferentemente dos sacerdotes que precisavam oferecer sacrifcios dirios, Jesus expiou os pecados do povo uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu (Hebreus 7.27). A oferta nica de si mesmo feita por Jesus no apenas purifica a carne, como os sacrifcios da antiga aliana, mas, em vez disso, purificam a nossa conscincia, renovando-nos interiormente (Hebreus 9.13-14). Porque Jesus aperfeioou o seu povo com uma nica oferta, no h mais necessidade ou ocasio para a oferta de touros e de bodes (Hebreus 10.1-4, 10, 11-18).

Jesus cumpre e substitui os sacrifcios levticos. O seu sangue agora assegura a nossa eterna redeno (Hebreus 9.12).

Eu poderia seguir indefinidamente nessa direo. O ponto que a obra salvadora de Jesus introduz uma virada radical no modo como Deus se relaciona com o seu povo. A nova aliana que Jesus inaugura torna obsoleta a antiga aliana, que Deus fez no Sinai, por intermdio de Moiss (Hebreus 8.6-7, 13). Agora, o povo de Deus tem os seus pecados perdoados por meio da f no sacrifcio de Jesus. Agora, o povo de Deus experimenta a sua graciosa presena por meio da f em Cristo e na habitao do Esprito. Agora, todo o povo de Deus tem ntimo acesso a Deus (Hebreus 4.16, 10.19-22), no apenas um pequeno nmero de sacerdotes.

3. A adorao congregacional no Novo Testamento

O que tudo isso significa para a adorao congregacional na era da nova aliana? A primeira coisa a observar que os termos do Antigo Testamento para a adorao so aplicados a toda a vida dos crentes. Em Romanos 12.1, Paulo escreve: Rogo-vos, pois, irmos, pelas misericrdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifcio vivo, santo e agradvel a Deus, que o vosso culto racional. Agora ns no oferecemos animais como sacrifcios, mas o nosso prprio eu. A vida inteira do cristo um ato de servio sacrificial a Deus.

Ou considere Hebreus 13.15: Por meio de Jesus, pois, ofereamos a Deus, sempre, sacrifcio de louvor, que o fruto de lbios que confessam o seu nome. Louvor o nosso sacrifcio, o qual ns oferecemos sempre no apenas por uma hora no domingo de manh. O fruto de lbios que confessam o nome de Deus inclui cnticos de louvor, mas tambm muito mais: confessar ousadamente o evangelho em pblico, falar palavras de verdade e amor ao prximo, trazer toda palavra que dizemos cativa ao domnio de Cristo.

Isso significa que adorao no algo que fazemos primordialmente na igreja aos domingos. Em vez disso, a adorao deve permear a nossa vida inteira. Para o cristo, a adorao no est confinada a ocasies e lugares sagrados, porque ns estamos unidos pela f a Cristo, aquele que o templo de Deus, e ns somos habitados pelo Esprito Santo, que nos faz tanto individualmente como coletivamente o templo de Deus (1Corntios 3.16-17; 6.19; cf. Efsios 2.22).

O que ento caracteriza a adorao corporativa na nova aliana? A leitura e pregao da Escritura (1Timteo 4.14); o canto congregacional de salmos, hinos e cnticos espirituais (Efsios 5.18-19; Colossenses 3.16); a orao (1Timteo 2.1-2, 8); a celebrao das ordenanas do batismo e da ceia do Senhor (Mateus 28.19; 1Corntios 11.17-34); o estmulo mtuo ao amor e s boas obras (Hebreus 10.24-25).

Uma das coisas mais admirveis acerca da adorao corporativa na nova aliana a persistente nfase na edificao de todo o corpo. Paulo escreve: Habite, ricamente, em vs a palavra de Cristo; instru-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cnticos espirituais, com gratido, em vosso corao (Colossenses 3.16). Ns instrumos e aconselhamos uns aos outros medida que cantamos ao Senhor. Enquanto louvamos a Deus, ns edificamos uns aos outros. Paulo chega ao ponto de dizer que todas as coisas na assemblia reunida devem ser feitas com o objetivo de edificar o corpo de Cristo (1Corntios 14.26).

O que h de nico na reunio semanal da igreja no que aquele o momento de adorarmos, mas que aquele o momento no qual ns edificamos uns aos outros ao adorarmos a Deus conjuntamente.

Por causa da nova aliana que Cristo inaugurou, a adorao congregacional na era da nova aliana tem uma feio completamente diferente da adorao congregacional na antiga aliana. Em vez de ocorrer algumas vezes no ano, a adorao corporativa agora semanal. Em vez de se reunirem no templo em Jerusalm, os crentes se renem em igrejas locais onde quer que eles vivam. Em vez de a presena de Deus restringir-se ao Santo dos Santos, onde protegida pelos sacerdotes, Deus agora habita em todo o seu povo por meio do Esprito e Cristo est presente com seu povo onde quer que eles se renam (Mateus 18.20). Em vez de executarem uma elaborada srie de sacrifcios e ofertas, os cristos se renem para ouvir a Palavra, pregar a Palavra, orar a Palavra, cantar a Palavra e ver a Palavra nas ordenanas. E tudo isso tem por objetivo a edificao do corpo em amor, para que todos ns cheguemos maturidade em Cristo (Efsios 4.11-16).

4. Lendo toda a Bblia para a adorao corporativa

Como ento devemos ns olhar para a Escritura, a fim de que ela nos ensine o que fazer na adorao corporativa?

Primeiro, acredito que importante afirmar que a Escritura de fato nos ensina o que ns devemos fazer nas assemblias regulares da igreja. Lembre-se de que, embora a vida inteira seja adorao, a reunio semanal da igreja ocupa um lugar especial na vida crist. Todos os cristos so ordenados a se reunirem com a igreja (Hebreus 10.24-25); frequentar a igreja no opcional para o cristo. Isso significa que, efetivamente, tudo o que uma igreja faz no culto se torna uma prtica exigida dos seus membros. E Paulo insta os cristos a no permitirem que quaisquer regras ou prticas de culto inventadas pelos homens sejam impostas sua conscincia (Colossenses 2.16-23).

Eu sugiro que esses princpios bblicos convergem na direo daquilo que historicamente se tem chamado de princpio regulador do culto.[4] Em outras palavras, em suas reunies corporativas, as igrejas devem realizar apenas aquelas prticas que so positivamente prescritas na Escritura, seja por um mandamento explcito ou por um exemplo normativo. Fazer qualquer outra coisa seria comprometer a liberdade crist. Assim, as igrejas devem olhar para a Escritura, a fim de que ela nos ensine a adorar juntos, e devem fazer somente o que a Escritura nos ordena fazer.

Mas isso levanta a pergunta: o que exatamente a Escritura nos ordena fazer? Para ser mais preciso, como ns sabemos qual material bblico acerca da adorao normativo e obrigatrio? Responder essa pergunta exaustivamente demandaria um livro; aqui, apresentarei apenas um esboo muito breve.

Discernir quais ensinamentos bblicos acerca da adorao so obrigatrios exige alguma destreza, uma vez que a Escritura em nenhum lugar nos apresenta, por exemplo, uma ordem de culto completa e confessadamente normativa. Mas h alguns mandamentos no Novo Testamento os quais so claramente obrigatrios a todas as igrejas. O fato de as igrejas em feso e em Colossos serem ambas ordenadas a cantar (Efsios 5.18-19; Colossenses 3.16), bem como a referncia ao canto na igreja de Corinto (1Corntios 14.26), sugere que todas as igrejas devem cantar. O fato de Paulo ordenar Timteo a ler e pregar a Escritura em uma carta destinada a instruir Timteo acerca de como a igreja deve se conduzir (1Timteo 3.15; 4.14) sugere que a leitura e pregao da Escritura so a vontade de Deus no apenas para aquela igreja em particular, mas para todas as igrejas.

Por outro lado, alguns mandamentos, como Saudai-vos uns aos outros com sculo santo (Romanos 16.16), parecem expressar um princpio universal (recebam uns aos outros com amor cristo) em uma forma que pode no ser culturalmente universal.

Alm disso, alguns mandamentos contextuais podem ter uma aplicabilidade mais ampla, como o fato de Paulo dizer aos corntios para separarem dinheiro no primeiro dia da semana. Aquilo era para uma oferta especfica aos santos em Jerusalm, mas todas as igrejas so ordenadas a sustentar financeiramente os seus mestres (Glatas 6.6), de modo que a oferta bem pode ter lugar na adorao corporativa.

At aqui, porm, ns lidamos apenas com o Novo Testamento. O que dizer do Antigo? Afinal, o Antigo Testamento est repleto de mandamentos acerca da adorao:

Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltrio e com harpa.

Louvai-o com adufes e danas; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.

Louvai-o com cmbalos sonoros; louvai-o com cmbalos retumbantes. (Salmo 150.3-5)

Isso significa que, para serem bblicos, os cultos de nossas igrejas precisam incluir trombetas, saltrios, harpas, tamborins, danas, instrumentos de cordas, flautas e cmbalos? Eu sugiro que no.

Lembre-se que os salmos so expresses de adorao sob a aliana mosaica, referida por alguns dos escritores do Novo Testamento como a antiga aliana (Hebreus 8.6). Agora que a nova aliana prometida em Jeremias 31 foi estabelecida, a antiga aliana obsoleta. Ns no estamos mais sob a lei de Moiss (Romanos 7.1-6; Glatas 3.23-26). Portanto, formas de adorao atreladas era mosaica no so mais obrigatrias a ns. O templo era servido por sacerdotes, alguns dos quais especializados na msica litrgica (1Crnicas 9.33). De fato, so eles que ns vemos tocando os mesmos instrumentos mencionados no Salmo 150 (2Crnicas 5.12, 13; 9.11). Assim, o Salmo 150 no est provendo um modelo para a adorao crist; em vez disso, est invocando uma forma especfica de adorao da antiga aliana, associada ao templo e ao sacerdcio levtico.

Isso no define, por si s, a questo de quais instrumentos podem servir de acompanhamento apropriado ao canto congregacional da igreja. Mas significa que o simples apelo a um precedente do Antigo Testamento no tem lugar, assim como o apelo a um precedente do Antigo Testamento no pode legitimar o sacrifcio de animais. aqui que muitas tradies crists falham em alcanar uma teologia bblica da adorao, ao apelarem de modo seletivo a precedentes do Antigo Testamento, como se certos aspectos do sacerdcio levtico e da adorao do templo adentrassem na era da nova aliana.

Certamente, muito do Antigo Testamento informa o modo como adoramos. Os Salmos nos ensinam a adorar com reverncia e temor, alegria e admirao, gratido e jbilo. Mas o Antigo Testamento no prescreve nem os elementos nem as formas da adorao na igreja da nova aliana.

Nesse sentido, o Novo Testamento prov uma nova constituio para o povo de Deus da nova aliana, assim como muito do Antigo Testamento serviu como a constituio para o povo de Deus sob a antiga aliana. Deus tem um nico plano de salvao e um nico povo a salvar, mas o modo como o povo de Deus se relaciona com ele mudou radicalmente aps a vinda de Cristo e o estabelecimento da nova aliana.

por isso que precisamos empregar todas as ferramentas da teologia bblica agregando as alianas, traando as conexes entre tipo e anttipo, observando promessas e cumprimentos, delineando continuidades e descontinuidades a fim de chegarmos a uma teologia da adorao congregacional. Como o povo de Cristo da nova aliana, habitados pelo Santo Esprito da promessa, ns adoramos em Esprito e em verdade, de acordo com os termos que o prprio Deus especificou na Escritura.

Notas:

[1] Para uma teologia bblica da adorao que influenciou profundamente minha abordagem neste texto, ver David Peterson, Engaging with God: A Biblical Theology of Worship (Downers Grove: InterVarsity Press, 1992) [N.T.: Sem traduo em portugus].

[2] Para uma introduo bsica ao enredo bblico que usa como lente primria o tema de Deus congregando o seu povo, ver Christopher Ash, Remaking a Broken World: A Fresh Look at the Bible Storyline (Milton Keynes, UK: Authentic, 2010) [N.T.: Sem traduo em portugus].

[3] Para mais acerca da trajetria do templo no decorrer de todo o cnon, ver G. K. Beale, The Temple and the Churchs Mission: A Biblical Theology of the Dwelling Place of God, New Studies in Biblical Theology 17 (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2004) [N.T.: Sem traduo em portugus].

[4] Para breves defesas do princpio regulador, ver Jonathan Leeman, Regulative Like Jazz, [N.T.: Sem traduo em portugus], e os trs primeiros captulos do livro Give Praise to God: A Vision for Reforming Worship, ed. Philip Graham Ryken, Derek W. H. Thomas, e J. Ligon Duncan, III (Phillipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 2003) [N.T.: Sem traduo em portugus] [N.E.: em portugus, veja o artigo O Princpio Regulador do Culto de Matthew McMahon].

Traduo: Vincius Silva Pimentel

Reviso: Vincius Musselman Pimentel