Teologia Que Fabricou Dawkins

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    Ano 6 - Nmero 1 - 1. Semestre de 2010

    www.unasp.edu.br/kerygmap.137

    TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO

    A TEOLOGIA QUE FABRICOU RICHARD DAWKINS

    Gustavo Canguss GesBacharel em Teologia pelo Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

    TCC apresentado em dezembro de 2008Orientador: Amin Amrico Rodor, Th.D.

    Resumo: Richard Dawkins em seu livro Deus, um Delrio causou um impacto

    gigantesco em toda a comunidade crist leiga, desafiando a existncia de Deus e

    exigindo uma resposta dos religiosos, especialmente do cristianismo. Apesar de seus

    argumentos j estarem ultrapassados, interessante observar que a origem deles

    remonta ao vazio resultante da teologia liberal crist. O autor do presente trabalho

    prope uma leitura da vida e do contexto existencial de Dawkins e a sua relao

    intrnseca com a Teologia Liberal.

    Palavras-chaves:Richard Dawkins; Deus; Teologia Liberal; Cincia.

    The Theology that Created Richard Dawkins

    Abstract: Richard Dawkins in his book The God Delusion created a huge impact amongthe Christian community, questioning the very existence of God and posing some

    questions that require an answer from religious authorities, especially from Christians.

    Even though his arguments are out-of-date, it's interesting to observe that their origins

    came from hollow Christianity of liberal theology. The author of this work proposes a

    reading of Dawkins' life and his existential context and his close relationship to liberal

    theology.

    Keywords: Richard Dawkins; God; Liberal Theology; Science.

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    A TEOLOGIA QUE FABRICOU RICHARD DAWKINS

    Gustavo Canguss GesBacharelando em Teologia

    Faculdade Adventista de Teologia, UNASPOrientador: Amin A. Rodor, Th.D.Trabalho de Concluso de Curso

    Dezembro, 2008

    Resumo:

    Richard Dawkins em seu livro Deus, um Delrio causou um impactogigantesco em toda a comunidade crist leiga, desafiando a existncia de Deus e

    exigindo uma resposta dos religiosos, especialmente do cristianismo. Apesar de seusargumentos j estarem ultrapassados, interessante observar que a origem delesremonta ao vazio resultante da teologia liberal crist.

    O autor do presente trabalho prope uma leitura da vida e do contextoexistencial de Dawkins e a sua relao intrnseca com a Teologia Liberal.

    Palavras-chaves: Richard Dawkins; Deus; Teologia Liberal; Cincia.

    Abstract:

    Richard Dawkins in his bookThe God Delusion created a huge impact amongthe Christian community, questioning the very existence of God and posing somequestions that require an answer from religious authorities, especially from Christians.Even though his arguments are out-of-date, its interesting to observe that their originscame from hollow Christianity of liberal theology.

    The author of this work proposes a reading of Dawkins life and his existentialcontext and his close relationship to liberal theology.

    Keywords: Richard Dawkins; God; Liberal Theology; Science.

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    INTRODUO

    Muitas pessoas se sentiriam incomodadas com a declarao:

    O Deus do Antigo Testamento talvez seja o personagem mais desagradvelda fico: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida tnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misgno, homofbico,racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomanaco, sadomasoquista, malvolo.1

    Entretanto, muitos tm crido piamente nestas palavras por meio de um discurso

    recheado de bela retrica, construdo com inteligentes falcias e vazio de bons

    argumentos, Richard Dawkins est atraindo cada vez mais seguidores devido sua

    luta contra o tesmo. Alister McGrath diz que a religio est para Dawkins como o

    pano vermelho est para o touro: no s desencadeia uma resposta agressiva, mas

    joga fora os padres acadmicos bsicos de preciso e imparcialidade

    escrupulosas.2 Por mais que Dawkins no queira se considerar um fundamentalista3,

    mas sim um apaixonado pelas idias, sua feroz atividade anti-testa indica totalmente o

    oposto, tambm diz que no pode haver sentimentos religiosos, pois estes so

    destitudos de fundamento, entretanto ele mesmo trata o seu atesmo de maneira

    religiosa.

    Em seu site h uma seo chamada Cantinho dos Convertidos (Converts

    Corner)4 onde podemos encontrar diversos testemunhos de testas convertidos para o

    1 DAWKINS, Richard.Deus, um delrio (So Paulo: Companhia das Letras. 2007), p. 55.

    2O Delrio de Dawkins: Uma resposta ao fundamentalismo atesta de Richard Dawkins (So Paulo:Mundo Cristo. 2007), p. 17.

    3 DAWKINS, p. 17 18.

    4 Cf. http://www.richarddawkins.net/convertscorner.

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    atesmo, ao que em sua grande maioria trata Dawkins como sendo uma espcie de

    profeta5. Veja algumas das declaraes:

    Como um professor de cincia em uma escola catlica na Blgica

    estou aposentado agora eu podia ensinar evolucionismo sem problemas, masnunca compreendi que isto tinha uma espcie de poder aniquilador dareligio. No que eu fosse um devoto catlico. Desde meus tempos deestudante eu senti que religio e cincia no poderiam estar juntas. Suponhoque eu fosse um tipo de desta: Deus fez o mundo e o abandonou. Mas quandoeu vi Richard Dawkins fazendo seu discurso de Natal na TV (solstcio deinverno?), eu vi que algum havia entendido evoluo de uma maneira que eununca tinha entendido. Eu tenho comprado e lido muitos de seus livros e agoratambm Deus, um delrio. E as escamas caram de meus olhos.

    Muito obrigado, Rik.

    Eu apenas gostaria de te falar que estive no seu discurso sobre o seulivro na Filadlfia e eu gostei. Eu li seu livro e sou agora, oficialmente, umacatlica recuperada. legal conhecer que existem outros a fora que sentem omesmo que eu. Cincia e matemtica iro futuramente nos suprir com todas asrespostas que precisamos.

    Obrigado pelo discurso. Deb Casnick.

    Este tipo de atitude no tem ficado apenas no site, mas est se espalhando por

    todos os lugares onde Dawkins tem acesso, diversas pessoas tm entrado em

    descrdito devido ao trabalho de evangelizao realizado por ele. Richard Dawkins

    j se tornou umshowman, sendo entrevistado por diversos programas de televiso e

    rdio, escrevendo documentrios anti-religiosos amplamente divulgados6 e mesmo em

    seu site h uma loja virtual onde se pode adquirir filmes, documentrios e mesmo

    vesturio com temas atestas.

    Muitas pessoas ao lerem ou assistirem s palestras de Richard Dawkins tm

    entrado em conflito religioso crendo piamente que as palavras do cientista esto

    5 No toa que a revista Super Interessante de Agosto de 2007 o chama de O Aiatol dos Ateus, pp.86 90.

    6 Em sua grande maioria pela BBC.

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    corretas. Devido a isto se faz necessria uma avaliao das idias e pressupostos do

    autor, para ento se encontrar a melhor maneira de combat-lo.

    Portanto o presente trabalho tem como principal objetivo analisar o contexto7

    de Richard Dawkins e as fontes que o levaram a desenvolver o seu pensamento anti-

    testa, pois como ele mesmo declara Na verdade, para um animal, aquilo que o

    seu crebro precisa que seja, para ajud-lo a sobreviver. E, como espcies diferentes

    vivem em mundos to diferentes, haver uma variedade perturbadora de na

    verdade.8 Tratarei de detectar a verdade de Dawkins, analisar suas fontes de

    desenvolvimento e verificar se na verdade a verdade de Dawkins verdadeira

    9

    .Limitarei a fonte bsica de informao bibliogrfica de Dawkins a seu livro

    Deus, um delrio, pois este a suma de toda a sua idia teolgica divulgada at o

    dado momento.

    7 Afinal, impossvel desenvolver idias sem o pressuposto cultural que cada pessoa carrega.

    8 DAWKINS, p. 471.

    9

    Considerando que impossvel que haja verdade relativa, por mais que tal conceito esteja sendoamplamente divulgado por meio da ideologia pluralista do mundo moderno, esta auto-aniquilativa, pois se a verdade relativa, seria isto uma verdade ou tambm relativo? Verdade um conceitoabsoluto, por mais que possa haver diferentes lados da mesma verdade, estes lados nunca secontradizem, ao contrrio, se complementam. Cf. GEISLER, Noman e TUREK, Frank. No Tenho FSuficiente para Ser Ateu (So Paulo: Ed. Vida. 2006), cap. 1.

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    1. QUEM RICHARD DAWKINS?10

    Richard Dawkins nasceu no dia 26 de Maro de 1941 em Nairbi, Qunia. Seu

    nome completo Clinton Richard Dawkins. Seus pais se mudaram para a Inglaterra

    quando ele tinha oito anos, passando ento a viver na cidade de Oudle. J se divorciou

    duas vezes e atualmente est casado com a atriz Lalla Ward.

    A famlia de Dawkins de origem Anglicana Ortodoxa, mas, segundo ele

    mesmo, as idas aos cultos eram apenas em momentos de festa como o Natal. Estudou

    em uma escola anglicana, mas apesar disto, ele diz que comeou a duvidar da

    existncia de Deus aos seus nove anos de idade, entretanto, at aos dezesseis anos ele

    cria que poderia haver algum tipo de designer para todas as coisas, porm, esta

    suposio foi derrubada quando compreendeu o Darwinismo, neste momento, diz

    Dawkins, eu percebi quo errado estava aquele ponto de vista; naquele momento,

    repentinamente pesos caram de meus olhos e ento eu me tornei fortemente anti-

    religioso neste ponto.11

    A formao acadmica de Richard Dawkins comeou em 1962 quando ele se

    forma em Zoologia pelo Balliol College, Oxford, onde foi orientado pelo etologista

    ganhador do prmio Nobel de 1973 em Psicologia, Nikolaas Tinbergen. Em 1966 ele

    j havia alcanado o Mestrado em Artes e o Ph.D., seguido por um Sc.D (Doutor em

    Cincia) em 1989. De 1967 at 1969 Dawkins foi professor assistente na Universidade

    da Califrnia. Em 1995 ele se torna o primeiro ctedra da Compreenso Pblica da

    10 Informaes extradas de uma entrevista dada BCC Radio 3 no dia 5 de Abril de 2004, pode-seobter a entrevista na ntegra em: http://www.bbc.co.uk/religion/religions/atheism/people/dawkins.shtml.Tambm foram retiradas informaes da Wikipdia em 13 de Fevereiro de 2008 no endereo:http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.

    11 Cf. BBC Radio 3.

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    Cincia na Universidade de Oxford. Participa de vrias organizaes e j ganhou

    diversos prmio, entre eles o Prmio de Humanista do Ano em 1996 e o Prmio

    Galaxy British Book de autor do ano de 2007. Alm de suas graduaes ele recebeu o

    doutorado emrito em cincia pela Universidade de Westminster, da Universidade de

    Durham e da Universidade de Hull; e um doutorado emrito da Open University e da

    Vrije Universiteit Brussel. Recebeu outro doutorado emrito pela Universidade de St.

    Andrews e pela Universidade Nacional Australiana, foi eleito lder da Royal Society

    of Literature em 1997 e pela Royal Society em 2001. Atualmente vice-presidente da

    Associao Britnica Humanista.Dawkins tambm autor de diversos documentrios editados pela BBC e

    outras emissoras de televiso, assim como tambm autor 9 livros, dentre estes, os

    mais conhecidos so: O Capelo do Diabo, O Relojoeiro Cego, O Gene Egosta e

    Deus, um Delrio. Ele tambm colunista da revista Free Inquiry, uma revista que

    est em associao com a organizao Secular Humanism, uma organizao que

    busca acabar com a religio. Ele tambm tem algumas participaes na revista

    Skeptical Inquirer, a qual tem a mesma linha editorial da anterior.

    Richard Dawkins se considera um ferrenho guerreiro contra a alucinao que

    chamam de religio. Define, como principal objetivo, a aniquilao de toda e qualquer

    idia acerca da religio.

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    2. CONTEXTO IMEDIATO DE DAWKINS

    Devemos analisar qual era o contexto do mundo ao qual Richard Dawkins

    conheceu, especialmente o perodo de 1950, sendo este o ano em que ele comeou a

    duvidar da existncia de Deus.

    2.1 Perodo ps-guerra

    O perodo de Richard Dawkins foi o perodo ps-guerra, onde o mundo, em

    sua maior parte, se encontrava em um estado de recesso. A Segunda Guerra Mundial

    havia destrudo boa parte da Europa, deixando diversos pases com uma crise

    econmica terrvel. A produo industrial estava a um tero do que era normalmente

    produzido no perodo de 193812, enquanto que a produo agrcola caiu pela metade13.

    Os refugiados da guerra estavam retornando aos seus pases de origem. A Europa

    estava sendo dividida nas sees Oriental e Ocidental; o lado Ocidental era

    liderado pelos Estados Unidos da Amrica sob o regime democrtico, enquanto que o

    lado Oriental era liderado pela Unio Sovitica sob o regime comunista.

    Em resumo, o mundo estava revirado e posto de cabea para baixo, com os

    sistemas econmicos em colapso, com as sociedades desestruturadas e a igreja se

    remodelando ao perodo da poca.

    12 KISHLANSKY, Mark (et al.), Societies and Cultures in World History (New York: Harper CollinsCollege Publishers. 1995), p. 1046.

    13 Ibidem, p. 1047.

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    2.2 O impacto da guerra sobre a teologia

    O perodo da Segunda Guerra Mundial foi marcado com uma decadncia

    religiosa que vinha desde os idos da Primeira Guerra. A teologia liberal (cuja qual

    falarei mais tarde), vinha tendo grandes progressos ideolgicos no perodo que

    antecedeu as guerras, entretanto, com a chegada das Guerra Mundiais, o idealismo

    pregado por ela veio a entrar em descrdito, especialmente aps a Segunda Guerra,

    onde o cristianismo e a carnificina foram misturados em um mesmo caldeiro.

    2.2.1 Nazismo e Cristianismo

    Hitler se considerava um cristo, apesar de muitas vezes negar os conceitos do

    cristianismo14, entretanto, ele acreditava que havia uma continuidade entre o

    cristianismo e o nazismo,15 sendo que esta idia no era apenas um conceito vindo da

    cabea de Hitler, pois um nmero considervel de cristos na Alemanha, entretanto,

    estavam convencidos de que Cristianismo e Nazismo no eram duas, mas uma s

    religio.16 Neste perodo surgiu na Alemanha um movimento chamado Alemes

    Cristos o qual propagava e apoiava os ideais nazistas como sendo ideais vindos do

    prprio cristianismo. Representando cerca de um tero dos cristos na Alemanha,

    os catlicos alemes tentaram acomodar o cristianismo ao programa nazista.17 O

    14 Richard Dawkins inclusive dedica parte do captulo 7 de Deus, um Delrio para falar acerca desteassunto. Cf. p. 350 359.

    15 CHIDESTER, David. Christianity: A Global History (San Francisco: Harper Collins. 2001), p. 496.

    16 Ibid, p. 497.

    17 Ibid, p. 499.

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    cristianismo estava intimamente ligado com muitos ideais da guerra, inclusive o

    Holocausto, que foi uma atitude influenciada por desvios no cristianismo. Portanto,

    aps a guerra, com a derrota do partido nazista, o cristianismo entrou em total

    descrdito devido s atitudes tomadas por Adolf Hitler e aliados em favor das crenas

    crists.

    2.2.2 Neo-ortodoxia

    Diante deste e outros fatores surge Karl Barth, o telogo da liberdade. Barth,

    diante da crise da guerra, se depara com a teologia liberal que ele vinha estudando eno encontra solues para os problemas que o mundo estava enfrentando.18 Ento ele

    se levanta em oposio s idias da teologia liberal, rejeitando a elevada nfase sobre

    o mtodo histrico-crtico e na mitologia bblica.

    Barth desenvolveu a idia da neo-ortodoxia, um movimento que tentou

    resgatar as idias ortodoxas em oposio ao liberalismo. Nesta teologia foi

    desenvolvido um conceito que enfatizava sobremaneira a transcedncia divina. Havia

    uma distncia muito grande entre Deus e os homens. A Bblia no era a Palavra de

    Deus propriamente dita, mas uma manifestao humana do que era Deus.

    Barth, ao observar a guerra que estava ocorrendo, percebendo a adorao que

    a populao estava fazendo a Adolf Hitler19 e o levante cristo os Alemes Cristos,

    compreendendo que Deus est inacessvel ao ser humano, por isso Hitler no pode ser

    18 Cf. SMITH, David.A Handbook of Contemporary Theology (Wheaton: BridgePoint. 1992),p. 27.

    19Cf. McKAY, John P. (et al.).A History of World Societies (New York: Houghton Miffin Company.2004. 6 ed), p. 1039.

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    uma representao de Deus na terra20, Barth se une ao movimento Igreja

    Confessante, torna-se um de seus lderes e entra em uma luta contra o nazismo.

    Entretanto, apesar de Barth procurar revitalizar o cristianismo atravs da neo-

    ortodoxia e procurar combater o nazismo. O perodo ps-guerra foi marcado pela

    negao da existncia de Deus. O mundo no conseguia conciliar a bondade divina

    com as desgraas da guerra.

    2.2.3 Anos Dourados e a Negao de Deus

    Entretanto, apesar de toda a desgraa que a guerra trouxe, no podemos nosesquecer das duas super-potncias que emergiram neste perodo, Rssia e EUA, que

    ao contrrio de todo o restante do mundo, entraram em um perodo de ascenso

    econmica como jamais vista. Os EUA oferecem, em 1947, o plano Marshall21, um

    plano que visava auxiliar os pases europeus que desejassem um emprstimo para

    poderem se reconstruir.

    Nesta poca surge uma revoluo na cincia com a descoberta da estrutura de

    dupla-hlice do DNA.22 Termos como biologia molecular, biotecnologia e

    engenharia gentica logo se tornaram comuns entre as pessoas. A indstria

    americana cresce e junto com todo este otimismo, cresce tambm a descrena em

    Deus.

    20 Cf. GREEN, Clifford (ed.),Karl Barth: theologian of freedom (Minneapolis: Fortress Press. 1991), p.173.

    21 Cf. McKAY, p. 1062.

    22 ROBERTS, J. M.,History of the World(New York: Oxford University Press. 1993), p. 813.

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    Chega a dcada de 60 e com ela muitas revolues ideolgicas surgiram no

    mundo, foi exatamente nesta dcada que Richard Dawkins foi para os EUA lecionar

    na Universidade da Califrnia23. Durante este perodo surgiu um movimento chamado

    Deus est Morto. A revista TIME em 22 de Outubro de 1965 publica um artigo

    falando acerca deste movimento, no qual, diversos telogos fazem parte:

    Estes telogos esto tentando redefinir outras mximas de umCristianismo sem um Criador. Algumas coisas da variedade e escopo domovimento podem ser julgadas apartir do trabalho dos quatro maisconhecidos advogados da teologia da morte de Deus: Altizer [professor dereligio na Universidade Emory de Atlanta, uma escola Metodista], Paul van Buren da Universidade Temple, William Hamilton da Escola de Divindade

    Colgate Rochester, e Gabriel Vahanoan da Universidade de Syracuse.

    24

    Este no era um movimento isolado, mas uma das vrias manifestaes que

    estavam ocorrendo nos EUA neste perodo e tudo isto estava levando este pas a uma

    descrena generalizada. A TIME, em 8 de Abril do ano seguinte tinha como ttulo na

    capa esta pergunta: Deus est morto? e ao abrir a revista podamos nos deparar com

    a seguinte reportagem: Em direo a um Deus oculto25 e nesta reportagem nos

    dada a seguinte estatstica por Pollster Harris: Dos 97% [dos americanos] que dizem

    acreditar em Deus, apenas 27% destes se declaram profundamente religiosos. E

    ainda, neste mesma reportagem, chega-se a intitular William Hamilton com um

    Cristo Atesta. Esta manifestao reflete o pensamento da poca acerca de Deus, o

    qual, em muito, se parece com o pensamento nietzschiano, veja:

    23 Entre 1967 1969. Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.

    24 The God is Dead Movement, Revista TIME em 22 de Outubro de 1965, extrado dehttp://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,941410,00.html em 19 de Maro de 2008 (grifomeu).

    25 Toward a Hidden God, TIME em 8 de Abril de 1966, extrado dehttp://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,835309,00.htmlem 19 de Maro de 2008.

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    Os cristos algumas vezes so inclinados a olharem para trsnostalgicamente para o mundo medieval como a grande era da f. Em seulivro, A Morte de Deus, Gabriel Vahanian da Universidade de Syracuse,sugere que atualmente isto o princpio da negao do divino. Cristianismo.Pela imposio de sua f pela arte, poltica e mesmo pela economia de uma

    cultura, inconscientemente criou Deus como parte daquela cultura, e entoquando o mundo mudou, a crena neste Deus foi minada.26

    Mesmo os pastores, que se diziam conservadores, comearam a ficar

    desesperados, pois estavam perdendo muitos membros em suas congregaes. Ento,

    alguns telogos, tanto ortodoxos ou no, disseram que haviam quatro opes para

    solucionar este problema: Parar de falar acerca de Deus por enquanto, apontar o

    que a Bblia diz, formular uma nova imagem e conceito de Deus utilizando categoriasde pensamento contemporneo, ou simplesmente mostrar o caminho para reas da

    experincia humana que indicam a presena de alguma coisa alm do homem em

    vida.27

    Durante este mesmo perodo de negao da existncia de Deus surge Rudolf

    Bultmann com a sua teologia da desmistificao da Bblia, onde ele retira todo o

    elemento sobrenatural das Escrituras classificando-os ento como sendo meramente

    fatos que explicam o existencial do ser humano. Tambm neste perodo se levanta

    Paul Tillich, um prussiano que dizia que Deus na realidade um ser perfeito que est

    inerente a todo ser humano, sendo este ser o ideal a alcanar. Em ltima estncia,

    tanto Bultmann quanto Tillich encabeam um movimento que nega a existncia de

    26 Ibidem.

    27 Ibidem (nfase do autor).

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    Deus28, em outras palavras, um movimento de cristos ateus, por mais irnico que

    possa soar.

    neste ambiente que Dawkins d os seus passos em direo sua idia anti-

    testa. Um mundo regido pela depresso do ps-guerra, a qual levou as pessoas a

    desacreditarem da existncia de um ser supremo, de exploses de descobertas no meio

    cientfico e com a descrena em Deus estampada tanto na compreenso secular como

    na religiosa.

    Entretanto, estas (des)crenas e ideologias no apareceram como se nada ashouvesse procurado, alguns pontos anteriores contriburam para o desenvolvimento

    destas compreenses atestas, as quais tambm contriburam e muito para o

    desenvolvimento anti-testa de Dawkins. Estes so: A Revoluo Francesa e a

    Teologia Liberal, Charles Darwin e Friedrich Nietzsche.

    28 SMITH, p. 78.

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    3. CONTEXTO ANTERIOR A RICHARD DAWKINS

    3.1 Revoluo Francesa e a Teologia Liberal

    A Europa estava entrando em uma nova fase, o Iluminismo estava se

    espalhando por todo o continente e a igreja estava comeando a perder o poder.

    A Frana estava sofrendo uma recesso econmica desde os tempos de Lus

    XV, o qual no tinha controle dos gastos do pas, sendo que j se encontrava em uma

    crise devido a Guerra dos Sete Anos e a Guerra da Frana e ndia nas colnias

    americanas. Os custos de tais guerras levaram a Frana elevao das taxas,

    conhecendo a situao econmica do pas, Lus XV quer impor tais taxas aos nobres29,

    que, no caso, no pagavam nenhuma taxa.30 Ento, o chanceler do rei, Ren Nicolas

    Charles Augustin de Maupeon decide dissolver o parlamento e criar um outro novo,

    todavia tal atitude no melhorou em nada a imagem do rei e nem solucionou o

    problema fiscal da Frana. Morre Lus XV e sobe ento ao trono, em 1774, seu neto,

    Lus XVI, um rapaz de vinte anos e sem experincia alguma.

    Uma das primeiras atitudes de Lus XVI foi reconstituir o antigo parlamento

    com os magistrados anteriores31, tentou, assim como seu av, impor o pagamentos das

    taxas aos nobres, porm, fracassou. Procurou outras formas solucionar o problema

    econmico da Frana, mas nada conseguiu, ento, para agradar a todas as pessoas ele

    convoca os Estados-Gerais, um estilo de parlamento, que h muito no era mais

    utilizado, no qual consistia em votos das trs ordens clero, nobreza e povo.29 Estes eram os magistrados e o clero.

    30 KISHLANSKY, p. 651.

    31 Ibidem.

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    Houveram algumas reunies, entretanto, nada foi solucionado, por isso, Lus XVI

    despede as pessoas e reconvoca os Estados-Gerais para Maio de 1789.

    Toda a Frana estava ansiosa por este dia, o assunto nas rodas de amigos era

    apenas este, at que chegou o grande dia onde 1248 deputados se reuniram para ouvir

    o rei e seus magistrados.32 Entretanto, a diferena representativa entre o Terceiro

    Estado o povo para os outros dois era gritante, o que causou uma certa tenso entre

    este e os outros dois. Os que pertenciam ao Terceiro Estado se reuniram em 17 de

    Junho de 1789 se auto-denominando Assemblia Nacional, pois eles eram a maior

    parte dos habitantes da Frana.

    33

    Todavia, trs dias depois ele so impedidos de entrarna sala de reunies. Indignados com a discriminao, estes se renem na quadra de

    Tnis com o objetivo de criar uma nova constituio. A Revoluo germina. No dia 14

    de Julho, os pertencentes ao Terceiro Estado criam um exrcito que foi chamado de

    Guarda Nacional, este ataca a fortaleza de Bastilha, um edifcio que foi de grande

    significado para o imprio francs. A Guarda Nacional perde a batalha, mas neste

    momento nasce a Revoluo.

    Naquele dia, aps voltar de uma tarde de caadas o rei Lus XVI escreve no

    seu dirio: 14 de Julho: Nada. Neste momento, entra na sala o Duque de La

    Rochefoucauld-Liancourt que havia acabado de chegar de Paris e lhe conta acerca do

    32 Ibidem, p. 657.33 Em 1784 a Frana tinha 24.670.000 de habitantes, um crescimento considervel, pois haviam17.000.000 em 1715, tal crescimento se deve ao fato do bom desenvolvimento da produo dealimentos, higiene sanitria e outros fatores que levaram o pas a um grande progresso. Entretanto, em1789 de todos os habitantes da Frana, estimado que apenas 26,000 constituam de uma populaonobre (gerente real, administradores de provncia, sacerdotes e senhores feudais). Cf. DURANT, Will eAriel,RousseauandRevolution (New York: Simon and Schuster, 1967), p. 927.

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    ataque Bastilha. Por qu? pergunta o rei Isto uma revolta! No, senhor.

    Diz o Duque. Isto uma revoluo!34

    No contexto da Revoluo Francesa estava o princpio do Iluminismo, o qual

    valorizava a razo, a liberdade do homem em tomar suas prprias decises

    independentemente do que a Igreja ou o Estado declare. Portanto neste perodo o

    Cristianismo Ortodoxo comeou a ser minado por dvidas que antes no eram

    levantadas, a Era da Razo havia se iniciado e a Igreja continuava prosseguindo

    como se nada houvesse acontecido.35 Isto fez com que um contexto atesta emergisse,

    um excesso de confiana na razo, o que em realidade, a Revoluo Francesa foi odespontamento do atesmo, muitos foram os que se levantaram naquela poca contra a

    igreja. Um poltico ingls ao visitar a Frana em 1773 disse que ficou chocado com a

    propaganda anti-catlica e, freqentemente, anti-religiosa do filsofos na Frana.36

    A Revoluo Francesa no afetou apenas a Frana, mas influenciou outros

    pases ali prximo, em especial a Alemanha. No ano de 1790, muitos jovens alemes

    estavam entusiasmados com o ocorrido na Frana, Immanuel Kant estava to

    empolgado quanto estes jovens37 e neste contexto que vive um personagem que se

    destacou na teologia: Friedrich Schleiermacher.

    34 DURANT, p. 963.

    35 Um certo homem daquela poca disse: A Igreja no era odiada porque os sacerdotes reclamavam ser os intermedirios dos assuntos do outro mundo, mas porque eles eram proprietrios de terras, senhores de manses, donos de riquezas e administradores deste mundo. Ibid, p. 902 (nfase doautor).

    36 Ibid, p. 722.

    37 Ibid, p. 548.

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    Para completar este todo o pano de fundo o Romantismo se caracteriza como

    linha de expresso para as pessoas da poca, o qual caracterizado principalmente

    pelo idealismo. E foi exatamente este Romantismo aliado Razo que serviu de fora

    motora Revoluo Francesa, que moldou os pensamentos de Immanuel Kant38 e

    serviu de base para a teologia de Schleiermacher39.

    Nesta poca, na Alemanha, os professores das faculdades de teologia

    comearam o estudo histrico-crtico da Bblia, aplicando mtodos e princpios de

    histria secular para a interpretao Bblia.40 Schleiermacher, indo contra o

    racionalismo extremo, surge com sua teologia que misturava a razo e o romantismo,sendo chamado posteriormente de o pai da teologia moderna.

    A teologia de Schleiermacher consistia definir a religio no como algo que

    devo conhecer ou fazer, mas uma conscincia imediata do universal de todas as

    coisas finitas dentro do infinito e atravs do infinito, de todas as coisas temporais

    dentro do eterno e atravs do eterno.41A morte de Cristo no teve nenhum carter

    salvfico, tanto que seu conceito de salvao era totalmente contrrio quele advogado

    pela teologia ortodoxa e isto se devia principalmente ao conceito de pecado. Pecado

    nada mais era do que a incapacidade do homem em fazer o bem, era uma imperfeio

    na natureza humana em alcanar o ideal. Schleiermacherconsiderava o pecado no

    apenas algo mau, mas algo includo na conscincia de Deus pressuposto

    38

    Ibid, p. 531.39 CLEMENTS, Keith W. (ed.).Friedrich Schleiermacher: Pioneer of Modern Theology (Minneapolis:Fortress Press. 1991),p. 14.

    40 DOUGLAS, J. D. (ed.).New 20th-century Encyclopedia of Religious Knowledge (Grand Rapids:Baker Book House. 1991. 2 ed), p. 504.

    41 HGGLUND, Bengt.Histria da Teologia (Porto Alegre: Casa Publicadora Concordia. 1973),p.307.

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    indispensvel para se sentir a necessidade de salvao.42 Para ele, sua teologia tinha

    como principal objetivo no o apresentar Deus como algo externo ao ser humano, mas

    como um ser inerente ao homem43. Em ultimato, a teologia de Schleiermacher leva a

    uma concluso pantesta do mundo o que no em suma o atesmo, mas ele foi o

    precursor de um movimento chamado de Teologia Liberal que alterou totalmente a

    forma tradicional de se ler as Escrituras. Esta teologia se desenvolveu atravs dos

    sculos chegando at Rudolf Bultmann e a sua teologia da desmistificao da Bblia.

    A Teologia Liberal leva em ltima estncia ao atesmo.44

    Tudo isto comeou devido a um despontamento ideolgico extremamenteenfatizado na razo que explodiu com a Revoluo Francesa, mudando assim a

    maneira de pensar da poca.

    Como veremos mais a frente, o fator da Teologia Liberal um ponto de grande

    peso no desenvolvimento da Teologia de Dawkins. Entretanto, h outro elemento que

    deve ser considerado, agora voltado especialmente para a cincia: Charles Darwin.

    3.2 Charles Darwin

    Seu nome completo era Charles Robert Darwin, nascido em um lar anglicano

    de uma famlia religiosa, Darwin se torna o maior expoente para uma contribuio

    negao de Deus nos seus tempos.

    Nem sempre Darwin negou a existncia de Deus, apesar de que no era um

    ateu propriamente dito, mas um agnstico. Em princpio ele foi um testa, batizado na

    42 Ibidem, p. 310.

    43 CLEMENTS, p. 14.

    44 DOUGLAS, p. 503.

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    igreja Anglicana, entretanto, comeou a lhe surgirem algumas idias contrrias ao

    conceito do sobrenatural quando passou a refletir acerca do incio da vida.

    O mundo de Darwin estava impregnado com o conceito de negar a Deus,

    reflexos do racionalismo nascido anos antes. Seu av, Erasmo Darwin, j havia

    especulado (sendo considerado, naquela poca, uma espcie de herege)45 acerca da

    origem das espcies por meio de uma seleo natural, porm, Darwin desenvolveu a

    sua dvida acerca de Deus, que vinha crescendo a cada dia, em sua viagem a bordo do

    navio HSM Beagle (1831 1836), pois antes de embarcar neste navio ele ainda era

    um criacionista.

    46

    Entretanto, ao observar as espcies nas Amricas, especialmente nailha de Galpagos. Aps retornar da viagem, ele apanha as suas anotaes e cerca de

    vinte anos depois publica o livroA Origem das Espcies, inspirado tanto nos conceitos

    evolucionistas de sua poca como na viso de Thomas Malthus acerca do crescimento

    populacional47. Ernst Mayr diz que Darwin se tornou evolucionista em um perodo

    entre 1835 1837.48

    Darwin negou a existncia do sobrenatural, declarando que tais eventos so

    simplesmente leis fixas da natureza que o homem descobre com o tempo.

    Eu estava desgostoso em abandonar minha crena. ... Entretanto adescrena me envolveu gradualmente, mas foi no mnimo completa. Esteenvolvimento foi to gradual que eu no senti nenhuma tenso, e desde ento

    45 DURANT, p.734.

    46

    GEISLER, Norman.Baker Encyclopedia of Christian Apologetics (Grand Rapids: Baker Academic.1999), p. 182.

    47 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus. Darwin na Introduo de A Origem das Espciesrelaciona sua teoria com Thomas Malthus ao dizer que a doutrina deste pode ser aplicada a todo o reinoanimal e vegetal. Cf. DARWIN, Charles. The Origin of Species. (In: Great Books of the WesternWorld. Encyclopedia Britannica, Inc. 1952), p. 7.

    48 GEISLER,Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 182.

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    nunca tenho duvidado por um nico segundo que minha concluso estejacorreta.49

    Ele tambm passou a confiar na Alta Crtica, tal qual era usada pela Teologia

    Liberal, chegando a declarar:Eu gradualmente tornei a ver por este tempo que o Antigo Testamento apartir

    de sua, manifestadamente falsa, histria do mundo, com sua Torre de Babel, o Arco-ris como sinal, etc., etc., e das atribuies dos sentimentos de tirano vingador a Deus,no so mais confiveis que os sagrados livros dos Hindus, ou as crenas de qualquerbrbaro.50

    Sua averso ao conceito de tormento eterno colaborou para rejeio ao

    Cristianismo. Entretanto, sua rejeio a Deus alcanou o pice com a morte de sua

    filha em 1851. Os anos entre 1848 e 1851 foi o perodo em que Darwin finalmente

    renuncia sua f.51

    Darwin se declara um agnstico52, algo que pode ser corroborado por suas

    declaraes finais em A Origem das Espcies:

    H uma grandiosidade nesta viso da vida, com vrios de seus poderes, tendo sido originalmente soprados pelo Criador em poucas formasou em uma; e esta, enquanto este planeta tem estado em um ciclo de acordocom a lei fixa da gravidade, de um comeo to simples de formas infinitasmais belas, mas maravilhosas que tm sido e esto sendo evoludas.53

    Em acordo com a sua posio demonstrada em uma carta:

    Parece-me um absurdo duvidar que um homem pode ser um ardenteTesta e um evolucionista.54

    49 DARWIN, Charles. Autobiography, p. 87, In: GEISLER, Baker Encyclopedia of ChristianApologetics, p. 183.

    50

    DARWIN,Autobiography, p. 85.51 GEISLER,Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, Idem, p. 183.

    52 DARWIN,Autobiography, p. 84, In: GEISLER, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, Idem,p. 183.

    53 DARWIN, The Origin of Species, p. 243.

    54 Carta 7, Maio de 1879, In: GEISLER,Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 184.

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    Todavia, apesar de Darwin nunca ter sido um atesta, sem sombra de dvidas,

    seu desenvolvimento cientfico pode ser como tendo convertido o mundo Ocidental

    ao atesmo.

    55

    No necessrio se fazer muita anlise no que diz respeito a relao de

    Dawkins com Darwin, algo que ser apresentado mais abaixo, entretanto, vejamos um

    ltimo elemento anterior que colaborou para o desenvolvimento de seu pensamento

    acerca de Deus: Friedrich Nietzsche.

    3.3. Friedrich Nietzsche

    Friedrich Nietzsche nasce na Prssia. Seu pai, Ludwig Nietzsche, era um

    pastor luterano e filho de pastor, assim como sua me. Seu av por parte de pai

    escreveu diversos livros cristos. A famlia de Nietzsche era extremamente envolvida

    com a religio.56

    Seu pai morreu quando ele tinha cinco anos de idade e pouco tempo depois

    (1850) seu irmo mais novo tambm vem a falecer, fazendo com que sua me se mude

    com a famlia para a cidade de Naumburgo. Nesta poca de sua vida, Nietzsche se v

    rodeado de mulheres, sua me, sua av57 e sua irm.58 Freqentou a escola de Pforta e

    quase sempre era o primeiro da classe.

    55 McGRATH, Alister. The Twilight of Atheism (New York: Doubleday. 2004), p. 98.

    56 EDWARDS, Paul (ed.). The Encyclopedia of Philosophy (New York: Macmillan Publishing Co., Inc.and The Free Press. 1967, vols. 5 e 6), p. 504.

    57 Ela era tambm filha de um arquidicono e viva de um superintendente. Cf. SALLES, WalterFerreira. Deus est Morto! Nietzsche e o Fim da Teologia, Revista Reflexo (No. 83/84. 2003), p.38.

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    Em 1864 ele entra, a pedido da me, para o curso de teologia e filologia

    clssica na Universidade de Bonn, entretanto, em 1865 ele abandona teologia se

    mudando para Leipzig.59 Todavia, em 1869 sua vida acadmica interrompida, pois

    Ritschl lhe chama para ocupar a ctedra de filologia clssica, onde ele passa a se

    interessar pela tragdia grega e os estudos da cultura grega clssica, perodo no qual

    ele passa a desenvolver seu pensamento filosfico.

    Durante toda a sua vida, Nietzsche sempre estava sofrendo de alguma doena.

    Quando em Janeiro de 1889 andando de cavalo nas ruas de Turim Nietzsche se sente

    mal e cai. A partir de ento seus escritos se tornam um tanto que loucos, estando destamaneira at o dia de sua morte.

    O pensamento nietzschiano se baseia no conceito de elevar a razo acima de

    todas as coisas e que a liberdade humana deveria ser valorizada 60. Crendo que a

    democracia e o cristianismo tornava as pessoas em escravos, pois estes estavam sob o

    domnio ideolgico criado por eles, dizia que estes estavam procurando impor ao

    mundo uma ordem fixa, entretanto, em seu pensamento, h uma constante mudana no

    pensamento, portanto, a degradao das antigas verdades fez com que o Deus do

    cristianismo viesse a morrer, ento declara: Deus est morto!61

    Nietzsche acreditou que o Deus-mito j viveu uma vez. Este tinha sidoum modelo pelo qual a Europa Medieval e Reformada tinha baseado sua vida. Esta cultura, entretanto, havia decado. A Modernidade levou humanidade

    58

    Alguns chegam a crer que o convvio familiar se tornou um peso para Nietzsche. Cf. SALLES,Ibidem.

    59 EDWARDS, p. 505.

    60 Nietzsche desenvolve este pensamento ao contemplar os escritos da tragdia grega e da cultura gregaclssica, onde a valorizao do corpo era o centro de todo o desenvolvimento ideolgico.

    61 ROHMANN, Chris. O Livro das Idias (Rio de Janeiro: Campus. 2000), p. 292.

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    moderna, a qual no podia mais acreditar em Deus. Deus est morto!Clamou Nietzsche. A moderna humanidade precisa enterrar a Deus econtinuar em frente.62

    Nietzsche dizia que os conceitos de Deus, pecado, paraso e tantos outros mais

    no teriam nenhum significado especial se no fosse a definio dada pelo clero. Desta

    forma, todos os crentes estariam subordinados crena crist. [Segundo Nietzsche] o

    cristianismo um absurdo da linguagem, uma aberrao lingstica, mera inveno

    humana, e a pretensa interpretao que ele faz da realidade e na verdade uma

    maneira de avaliar, valorar e impor de forma especfica os signos lingsticos. 63 Ele

    utilizava a filologia e a genealogia como o martelo para des-construir ocristianismo. Por meio da filologia ele analisar os conceitos cristos e pela genealogia

    estudava o desenvolvimento de tais conceitos atravs da histria, tal qual a Escola das

    Religies.

    Assim como para Freud, Nietzsche dizia que Deus simplesmente uma iluso

    sem fundamento criada na mente das pessoas.64 Para ele, as pessoas s poderam

    crescer por meio da razo, sem esta, todas estavam em regime de escravido:

    "Nunca mais rezars, nunca mais adorars, nunca mais descansarsna confiana sem fim - te probes de parar diante de uma sabedoria ltima,bondade ltima, potncia ltima, e desemparelhar teus pensamentos - no tensnenhuma constante vigia e amigo para tuas sete solides - vive sem a vista deuma montanha que traz neve sobre a fronte e brasa no corao - no h maispara ti nenhum pagador, nenhum revisor para dar a ltima mo - no h maisnenhuma razo naquilo que acontece, nenhum amor naquilo que te acontecer- para teu corao no est mais aberto mais nenhum abrigo, onde ele stenha o que encontrar e nada mais para procurar - tu te defendes contraqualquer paz ltima, queres o eterno retorno de guerra e paz: - homem darenncia, a tudo isso quereis renunciar? Quem te dar fora para isso?

    62 GEISLER,Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 539.

    63 SALLES, p. 43.

    64 GEISLER, Idem, p.539.

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    Ningum aqui teve essa fora!" - H um lago, que um dia recusou a escoar, elevantou um dique ali, por onde at agora escoava: desde ento esse lago sobecada vez mais alto. Talvez precisamente aquela renncia nos emprestartambm a fora com que a prpria renncia poder ser suportada; o homem,talvez, subir cada vez mais alto, desde que deixar de desaguar em um

    deus.

    65

    Nietzsche se tornou a base para todo pensamento atesta, seu desenvolvimento

    do pensamento acerca do funeral de Deus tem permeado a compreenso atesta da

    divindade. No diferente com Richard Dawkins.

    Aps analisar todos estes elementos, tanto aqueles imediatos vida de

    Dawkins quanto os que contriburam atravs da histria com o desenvolvimento da

    idia atesta e, conseqentemente, s suas idias. Vamos analisar como todos estes

    pontos juntos contriburam para o anti-tesmo de Richard Dawkins.

    65 NIETZSCHE, Friedrich.A Gaia Cincia (In: NIETZSCHE, Friedrich. Obras Incompletas. So Paulo:Abril Cultural. 1974), 285.

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    4. O ANTI-TESMO DE RICHARD DAWKINS

    O pensamento de Richard Dawkins se baseia principalmente na negao de

    Deus obtendo como produto secundrio o combate a qualquer tipo de religio, pois

    para ele a religio hostil66 em qualquer circunstncia, porque leva o homem a atos de

    violncia, irracionalidade e fundamentalismo. Para comprovar tal ele apresenta alguns

    argumentos:

    4.1 A Negao de DeusDawkins declara:

    Definirei a Hiptese de que Deus Existe de modo mais defensvel:uma inteligncia sobre-humana e sobrenatural que projetou e crioudeliberadamente o universo e tudo que h nele, incluindo ns. Este livro vaipregar outra viso: qualquer inteligncia criativa, de complexidade suficiente para projetar qualquer coisa, s existe como produto final de um processoextenso de evoluo gradativa.67

    Para ele, Deus no passa de uma definio criada pelas pessoas, no podemoscomprovar a Sua existncia, no podemos v-lo, tudo o que se passa tem algum tipo

    de explicao lgica que no tem necessidade alguma de se recorrer ao sobrenatural.

    Por isso, para Dawkins, Deus, no sentido da definio, um delrio; ... um delrio

    pernicioso.68 Ele apresenta uma histria inventada para exemplificar o porqu que

    Deus no existe e a irracionalidade de se querer buscar qualquer prova para isto, esta

    66 Cf. DAWKINS, cap. 8.

    67 Ibidem, p. 56 (nfase do autor).

    68 Ibidem, p. 56.

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    histria a do Bule Celeste de Bertrand Russell69 onde ele argumenta que ningum

    busca um bule celeste que est em rbita em torno do Sol devido ao seu pequeno

    tamanho e por ser uma aparente loucura, entretanto, se houvesse escritos antigos

    acerca deste bule e se ensinasse sobre ele todos os domingos, ento isto deixaria de ser

    uma loucura para se tornar um adorao e quem questionasse seria alvo de

    atendimentos psiquitricos ou mesmo inquisio, em pocas anteriores. Com este

    argumento em mente ele pergunta acerca de diferena em o Bule Celeste e Jav, tanto

    um como outro no pode ser provado, entretanto, a diferena que a adorao ao

    ltimo vem desde pocas muito antigas.No captulo 3 de Deus, um Delrio, Dawkins apresenta algumas das hipteses

    para a existncia de Deus que so defendidas, segundo ele, pelo mundo a fora: As

    cinco provas de Toms de Aquino, argumento ontolgico, da beleza, da experincia

    pessoal, das Escrituras, dos cientistas admirados e religiosos, a aposta de Pascal e os

    argumentos bayesianos. Para cada uma destas provas ele apresenta uma contraprova

    para demonstrar a improbabilidade da existncia de Deus e como estes argumentos so

    fracos para se levantarem em qualquer tipo de defesa divindade.

    Entretanto, o grande erro de Dawkins considerar tais argumentos como sendo

    defendidos por qualquer testa, porm, tais no so bons para nenhuma mente humana

    religiosa, racional e pensante, pois estes so vazios de brilhante argumentao.

    As cinco provas de Toms de Aquino: Deve ser lembrado que quando Aquino

    escreveu suas provas para a existncia de Deus, ele no estava querendo provar algo

    a priori, entretanto, sua argumentao baseava-se em a posteriori, em realidade,

    Toms de Aquino no queria provar a existncia de Deus no sentido de mtodo69 Ibidem, p. 81.

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    cientfico, entretanto, queria fazer uma demonstrao da coerncia interna da f em

    Deus.70 Utilizar tais argumentos para provar que Deus existe como se fosse um

    mtodo infalvel, falhar na prpria argumentao.

    Argumento Ontolgico: Este um argumento que foi desenvolvido por

    Anselmo de Canterbury, o qual, em suma, dizia que se posso conceber o entendimento

    de algo, portanto, este existe, porque a mente no pode conceber o entendimento de

    algo que no exista. Observe que tal argumento, da maneira que apresentado no

    livro, se torna uma contraprova de si mesmo. Pois veja que tal vai mesmo contra a

    teologia ortodoxa, pois certas doutrinas como a da Trindade, so incompreensveis nasua totalidade ao entendimento humano, mas isto no implica que estas no existam.

    Argumento da Beleza: O belo, simplesmente no pode provar a existncia de

    Deus, mas apenas a existncia do belo.71

    Argumento da Experincia Pessoal: Mesmo que este argumento possa ser

    sustentado por muitos fiis, no pode ser um argumento conclusivo, devido s

    variaes psicolgicas que qualquer pessoa pode sofrer. Ainda que uma mente

    religiosa sensata considere como um argumento para a prova da existncia de Deus,

    tal extremamente subjetivo para utilizar como comprovao final.72

    Argumento das Escrituras: Por mais que estas sejam consideradas a prova de

    f, no prova de existncia divina, pois acabaria se incorrendo no erro de julgar o ru

    pelo advogado de defesa somente.70 McGRATH, O Delrio de Dawkins, p. 36.

    71 Ainda assim, a definio de belo muito subjetiva.

    72 Deve-se procurar utilizar o mtodo cientfico, o qual foi desenvolvido pela teologia natural, para seintroduzir uma discusso acerca de provas para a existncia de Deus. Entretanto, deve-se lembrar queao final no poderemos obter nenhuma resposta conclusiva, tanto favor como contra, porm osargumentos favor da existncia de Deus so mais plausveis.

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    Argumento dos cientistas admirados: Querer provar a existncia de Deus por

    meio de cientistas admirados recorrer a argumentao sem provas, pois dizer que

    Isaac Newton cria na existncia de Deus no significa que Deus realmente exista, mas

    que Ele existiu para Newton.73

    A aposta de Pascal: Pascal dizia que a religio era a melhor coisa a ser

    seguida, pois ainda que haja a possibilidade de estar errada, no se perde nada em

    segui-la, porque se ela estiver correta, estaremos salvos, mas se estiver errada, nada se

    altera. Tal argumento foge da verdadeira interpretao do que significa f.74

    Argumentos bayesianos: Estes argumentos so baseados no Teorema de Bayes,o qual lista uma srie de probabilidades numeradas e em seguida aplica-se mtodos

    matemticos para acrescentar ou retirar peso evidncia, o grande problema que tais

    probabilidades so classificadas como mais importantes ou menos importantes apenas

    por julgamentos pessoais. Portanto, considerar a possibilidade da existncia de Deus

    em 50% e depois listar probabilidades de acordo com julgamento prprio cair no

    mesmo erro do Argumento das Escrituras, o erro de ser tendencioso.

    Entretanto, o seu anti-tesmo apresenta argumentos contra a existncia de Deus

    que vo alm da mera contra-argumentao das hipteses apresentadas, mas trata de

    mostrar por meio de argumentos da cincia moderna e da lgica mal-feita que esta

    existncia simplesmente muito improvvel. No quarto captulo de Deus, um

    Delrio Dawkins apresenta tais provas.

    73 Apesar de que devamos levar em considerao estas mentes brilhantes.

    74 Sendo que este argumento falha no que diz respeito a salvao. Pois se esta vem somente pela f e oargumento de Pascal no leva a f, no seu sentido ortodoxo, ento o argumento se torna sem sentido.Cf. The Belgic Confession, artigos 22 e 24.

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    Ele inicia este captulo revertendo o argumento do Boeing 747 para o tesmo.

    Este argumento diz que extremamente improvvel que um Boeing 747 seja montado

    aps um furaco passar por cima de um ferro-velho. Tal argumento muito usado por

    pessoas que querem combater o evolucionismo.

    Logo em princpio, Dawkins esclarece que o evolucionismo no defende o

    acaso, mas que apartir da matria j existente as coisas vieram a evoluir, pois no h

    evoluo sem algo precedente a esta. Entretanto, para Dawkins, tal argumento muito

    melhor apresentado se for posto em contrapartida para a argumentao de Deus.

    Em seguida, Dawkins apresenta a seleo natural de Darwin como sendo umaconscientizadora do Zeitgeist de sua poca, trazendo as pessoas para a verdadeira

    compreenso da origem da vida sem a necessidade de um Deus.

    A seleo natural no s explica a vida toda; ela tambm nosconscientiza para o poder que a cincia tem para explicar como acomplexidade pode surgir de princpios simplrios, sem nenhuma orientaodeliberada. ... Quem, antes de Darwin, poderia ter imaginado que algo toaparentemente projetado quanto a asa de uma liblula ou o olho de uma guia na verdade o resultado de uma longa seqencia de causas no aleatrias,mas puramente naturais?75

    Mostra ento que o argumento da complexidade irredutvel sem fundamento,

    pois podemos encontrar na natureza diversos exemplos de rgos de seres vivos que

    so totalmente plausveis de simplificao citando como exemplo o olho do Nautilus,

    cujo qual est entre a complexidade olho humano e a de um platelminto, mostrando

    desta maneira que a evoluo faz sentido e que a complexidade irredutvel falsa.

    Dawkins mostra ento a fragilidade dos argumentos testas, ao lembrar da

    indevida adorao s lacunas, dizendo que os criacionistas, se encontrarem um vazio,

    75 DAWKINS, p. 159.

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    uma lacuna, no argumento da evoluo, ento, conseqentemente colocam Deus para

    preencher este espao. Para Dawkins, um desenvolvimento ilgico de pensamento,

    pois se existe a lacuna, no significa que ela tenha que ser preenchida por Deus, mas

    que simplesmente ainda no se encontrou nenhum argumento76.

    Existe, portanto, uma ligao infeliz entre a necessidademetodolgica da cincia de buscar reas de ignorncia para definir seus alvosde pesquisas e a necessidade do design inteligente de buscar reas deignorncia para reivindicar a vitria por eliminao.77

    Ento, aps apresentar suas provas primrias para a negao da existncia de

    Deus, Dawkins revela seu argumento final que, aparentemente, resolve a questo toda

    do captulo: O Argumento Antrpico!

    O ponto-chave deste argumento o antropocentrismo. Admitindo que seja

    muito improvvel que a zona Cachinhos Dourados78 possa ter ocorrido apartir do

    nada79, Dawkins apresenta o argumento antrpico como soluo atesta provisria para

    a resoluo do problema, o qual diz que ainda que seja muito improvvel, tal

    aconteceu, pois eu estou aqui analisando a situao.

    A beleza do princpio antrpico que ele nos diz, contrariando anossa intuio, que um modelo qumico s precisa prever que a vida v surgirem um planeta em 1 bilho de bilhes para nos dar um boa e totalmentesatisfatria explicao para a presena da vida aqui.80

    76 McGRATH em Apologtica Crist no Sculo XXI, mostra que estas lacunas cada vez mais estosendo preenchidas com o prprio Deus, pois os cientistas mesmos no consenguem encontrar respostassatisfatrias para uma origem sem um originador.77

    Dawkins, p. 172.78 Existem alguns nmeros que necessariamente deveriam estar em uma combinao exata, semnenhum tipo de alterao a mais ou a menos, para que a vida possa existir. A zona do Universo quepossui esta combinao chamada de zona Cachinhos Dourados.

    79 Cf. Ibidem, p. 183 185.

    80 Ibidem, p. 188.

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    Portanto, a origem da vida (no a evoluo, que o desenvolvimento da vida)

    fruto do simples acaso que por sorte nos concedeu o privilgio viver. Ainda que seja

    extremamente improvvel ocorreu, pois eu estou aqui para poder contar a histria.

    Entretanto, a hlare final que para defender a idia de que Deus no existe

    Dawkins conclui dizendo:

    A hiptese de que haja um projetista suscita imediatamente oproblema maior sobre quem projetou o projetista. O problema que tnhamosem nossas mos quando comeamos era o da improbabilidade estatstica.Obviamente no soluo postular uma coisa ainda mais improvvel.81

    Perceba que o problema dele no com os argumentos a respeito de Deus, mas

    que Deus tem uma improbabilidade muito grande de existir. Ainda que ele ache no

    haja argumentos concretos a favor da existncia de Deus, Dawkins no consegue

    encontrar nenhum para provar o contrrio, cai ento no campo da especulao barata e

    passa a dar um golpe na ponta da faca que acabara de afiar.

    4.2 (Anti-) Doutrinas

    Tendo visto que a base principal de suas idias a negao de Deus, vejamos

    como algumas doutrinas so combatidas apartir deste princpio:

    4.2.1 Cosmologia

    Partindo do princpio lgico que Dawkins no reconhece nenhum tipo de

    divindade, devemos concluir que logo ele no aceita nenhum tipo de sobrenaturalismo.

    Para Dawkins no h nada alm do mundo natural e fsico, nenhuma inteligncia

    sobrenatural vagando atrs do universo observvel, que no existe milagres exceto

    81 Ibidem, p. 213.

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    no sentido de fenmenos naturais que no compreendemos ainda. Se houver alguma

    coisa que parea estar alm do mundo natural, conforme entendemos hoje, esperamos

    no fim ser capazes de entend-la e adot-la dentro da natureza.82

    Para Dawkins toda realidade se baseia naquilo que podemos ver, tocar e provar

    por meio do mtodo cientfico.

    4.2.2 Trindade

    Dawkins equivoca-se em compreender a Trindade, caindo em um erro que

    permeia as mentes secularizadas. Para ele, esta doutrina no passa de uma confusosistematizada do cristianismo que aumentada por meio da igreja catlica que

    acrescenta muitos outros santos e ordens anglicas.83

    4.2.3 Escrituras

    Para Richard Dawkins, como era de se esperar, a Bblia no passa de um livro

    antigo com histrias antigas que nem mesmo deveriam servir de base para as nossas

    moralidades, nem de como fonte histrica para a soluo de eventuais problemas da

    linha de tempo. Segundo Dawkins, no h nenhuma diferena entre a Bblia e as

    mitologias dos outros deuses.

    O principal motivo de a Bblia ter de fazer parte de nossa educao o fato de ela ser uma importante fonte de cultura literria. A mesma coisaaplica-se s lendas dos deuses gregos e romanos, e aprendemos sobre elessem que ningum pea que acreditemos neles.84

    82 Ibidem, p. 37 (nfase do autor).

    83 Ibid, pp. 58 59.

    84 Ibidem, p. 434.

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    4.2.4 Pecado original e expiao

    Dawkins considera o pecado original85 como sendo uma preocupao sem

    sentido que o cristianismo desenvolveu.86 E a expiao dos pecados como sendo uma

    loucura sadomasoquista:

    Deus encarnou como homem, Jesus, para que pudesse ser torturado eexecutado em expiao do pecado hereditrio de Ado. Desde que Pauloexps esta doutrina repugnante, Jesus vem sendo adorado como o redentor detodos os nossos pecados. ... Descrevi a expiao dos pecados, a doutrinacentral do cristianismo, como cruel, sadomasoquista e repugnante. Tambmdeveramos qualific-la como loucura de pedra, se no fosse pela enormefamiliaridade com ela, que anestesia nossa objetividade.87

    Para Richard Dawkins o conceito de bem e mau no passa de simplesmenteuma questo de erros e acertos que durante o perodo evolutivo foi sendo

    desenvolvido. Por exemplo, descobriu-se que matar aqueles que fazem parte da

    mesma espcie causava uma diminuio da mesma, ento, por meio disto, verificou-se

    o erro que passou a ser considerado algo ruim. O mesmo ocorre com os acertos que

    passaram a ser algo bom. Ou seja, no existe pecado, apenas definies morais que

    foram sendo desenvolvidas durante o perodo de evoluo.

    Este conceito de pecado um reflexo do pensamento nietzschiano, pois se no

    h Deus, o pecado no nada mais do que uma questo de valores morais que esto

    impregnados na sociedade, ou seja, no tem nada que ver com espiritualidade. 88

    85 No sentido ortodoxo como sendo o pecado cometido por Ado no princpio quando tudo era perfeito

    e sem pecado.86 Ibidem, pp. 324 e 325.

    87 Ibidem, pp. 325 e 326 (nfase do autor).

    88Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfmias; mas Deus morreu, e com elemorreram tais blasfemos. Agora, o mais espantoso blasfemar contra a terra, e ter em maior conta asentranhas do inescrutvel do que o sentido da terra. NIETZSCHE, Friedrich.Assim Falou Zaratustra(So Paulo: Martin Claret. 1999),p. 26.

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    4.3 Fontes teolgicas de Richard Dawkins

    Aps estas consideraes, passemos a analisar as fontes que levaram Dawkins

    a desenvolver o seu tipo de anti-tesmo ferrenho. Para isto, podemos detectar pelo

    menos quatro pontos que exerceram grande influncia sobre Richard Dawkins:

    Famlia, Religio, Cincia e a Teologia Liberal.

    4.3.1 Famlia

    Vamos nos lembrar que Richard Dawkins nasceu em um contexto de SegundaGuerra Mundial89. Seu pai foi um soldado de guerra quando eles ainda moravam em

    Nairbi, Qunia90. Isto nos leva ao contexto ps-guerra, que, como j foi dito, foi um

    perodo caracterizado pela deteriorizao da famlia e um esfriamento muito grande na

    religio91, sendo que o prprio Dawkins no estava imune a tal contexto,

    especialmente devido ao fato de que sua famlia no era muito religiosa. Ele diz:

    Meus pais eram Anglicanos ortodoxos no sentido que eles eramambos batizados, assim como eu fui, mas eles no eram profundamentereligiosos, e eles no so profundamente religiosos. Ns costumvamos ir igreja a cada Natal, mas eu digo que no havia muito mais que isto.92

    Claro que este fator no o mais importante, pois temos tantos outros ateus

    (e.g. Nietzsche) que vinham de famlias muito religiosas, mas que caminharam para

    89 No dia 26 de Maro de 1941.

    90 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.

    91 Cf. o ponto 2.

    92http://www.bbc.co.uk/religion/religions/atheism/people/dawkins.shtml.

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    direes totalmente opostas. Entretanto, a famlia exerce um papel fundamental no

    desenvolvimento ideolgico de uma pessoa.

    4.3.2 Religio

    O Anglicanismo j vinha sofrendo um certo declnio desde a poca do sculo

    XVIII93 alcanando o sua depresso no perodo entre 1870 1900, perodo que se

    apresentou como sendo uma poca de abandono s antigas crenas.94 Entretanto, a

    religio no parou neste perodo. A poca aps a segunda guerra mundial se

    caracterizou por um perodo de grandes mudanas e um abandono da religio, fazendocom que as pessoas se apegassem mais razo.95 Um exemplo disto o movimento

    Deus est Morto que pregava o racionalismo na religio levando as pessoas a

    abandonarem o sobrenatural e consider-lo como sendo fatos a seres explicados.

    O esfriamento da religio adicionado ao movimento racionalista e anti-

    religioso que surgiu no mundo na dcada de 60, podemos perceber que estes so

    fatores que corroboraram para o desenvolvimento teolgico de Dawkins, pois foi

    exatamente nesta poca que ele esteve lecionando na Universidade da Califrnia, antes

    de ser chamado para ser professor em Oxford.

    No de admirar que Dawkins tenha pensamentos to parecidos com os

    conceitos desenvolvidos naquela poca.96

    93 Cf. McGRATH, The Twilight of Atheism, pp. 112 142.94 Cf. Ibidem, p. 141.

    95 Cf. o ponto 2.2.3 Anos Dourados e a Negao de Deus.

    96Cristo apenas foi um homem como todos os outros, a Bblia apenas um livro com contos antigos,Deus simplesmente uma questo psicolgica.

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    4.3.3 Cincia

    Sem dvida alguma Dawkins darwiniano, a contar pelo nmero de citaes

    positivas que faz a este cientista ou suas idias97. Em toda a sua argumentao ele

    utiliza os princpios de Darwin para explicar o motivo. Como o caso da religio,

    onde Dawkins a coloca na explicao da seleo de grupo.

    Darwin visualizou tribos com membros altruisticamente colaborativosespalhando-se e tornando-se mais numerosos, em termos de nmero deindivduos.98

    Com isto ele diz que religies como o cristianismo sobreviveram graas ao

    altrusmo que havia entre eles, tornando-os assim, cooperadores e desta forma, maisfortes para resistirem aos ataques de outros grupos sociais.

    Ele tambm atribui seleo natural a origem da vida no mundo, pois, dentre

    os bilhes de planetas que h no universo, o planeta Terra foi o selecionado para que

    a vida pudesse florecer, e isto explicado pelo princpio antrpico.99

    Para Dawkins, Darwin o ponto de origem para todo o desenvolvimento

    cientfico na rea da biologia, sociologia e religio.

    4.4.4 Teologia Liberal

    Podemos perceber a Teologia Liberal em muitos dos argumentos de Dawkins.

    Em realidade, sempre quando so mencionados os telogos e estes esto de alguma

    forma de acordo com suas idias, tais conceitos, argumentos e telogos so liberais.

    97 Pp. 34, 37, 115, 139,155, 156, 159 160, 167 170, 190 191, 209 220, 222 227, 240, 252 253, 278, 465.

    98 DAWKINS, p. 227.

    99 Cf. Ibidem, p. 191.

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    Apesar de dizer: os telogos no tm nada de til a dizer sobre mais nada; vamos

    jogar um bolinho para eles e deix-los preocupados com uma ou duas perguntas a

    que ningum consegue responder, e talvez jamais responder.100 Dawkins mais a

    frente cita os telogos como autoridades para a sua argumentao:

    Desde o sculo XIX, telogos acadmicos vm defendendo que osevangelhos no so relatos confiveis sobre o que aconteceu na histria domundo real. Todos eles foram escritos muito tempo depois da morte de Jesus,e tambm das epstolas de Paulo, que no mencionam quase nenhum dossupostos fatos da vida de Jesus.101

    Interessante que este mesmo tipo de idia tambm defendido por Bart

    Ehrman, telogo liberal que ele cita logo mais a frente:O acadmico bblico americano Bart Ehrman, num livro cujo

    subttulo Quem mudou a Bblia e porqu, revela as imensas incertezas queobscurecem os textos do Novo Testamento.102

    Em outro lugar ele tambm faz referncia a Dietrich Bonhoeffer, um outro

    telogo liberal, cujo qual ele simpatizante das idias.

    Em resumo, a verdadeira teologia, se podemos dizer desta maneira, para

    Richard Dawkins aquela que trata a Bblia e os milagres da mesma maneira que ele,

    com ceticismo, anlise racional extremada e com uma negao ao sobrenatural.

    Considerando que Dawkins, durante a fase de seu desenvolvimento de

    pensamento, viveu em um perodo onde grandes capadcios da teologia liberal

    estavam despontando, tais como o prprio Bonhoeffer, Bultmann, Tillich dentre

    outros. A sua ideologia foi muito bem desenvolvida em cima da teologia destes

    indivduos e do contexto anti-religioso de sua poca.

    100 Ibid, p. 88.

    101 Ibid, pp. 131 132.

    102 Ibid, p. 134 (nfase do autor).

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    5. FALCIAS DELIBERADAS

    Observando todo este desenvolvimento, interessante analisaremos algumas

    das contradies falaciosas que Richard Dawkins apresenta em seu livro Deus, um

    delrio, pois o desenvolvimento de seu anti-tesmo fundamentalista to misturado,

    acolhendo tantos pensamentos e procurando tantos meios de defender suas idias que

    em certos pontos atinge uma massa crtica ocasionando uma fisso em sua cognio.

    Alguns dos exemplos que podemos citar aquele que j foi apresentado no

    tpico anterior, onde primeiramente Dawkins rejeita qualquer autoridade teolgica,entretanto, estas autoridades so somente aquelas que discordam de suas idias,

    porque, em outros pontos ele cita telogos como uma fora que se encaixam em sua

    argumentao. Veja outros dois exemplos de falcia apresentados por Dawkins,

    caracterizando-o com oZeitgeistatual de dois pesos, duas medidas:

    5.1 Falcia da Fonte Desqualificada

    Nas pginas 69 71 Dawkins recebe Thomas Jefferson, ex-presidente

    americano, como autoridade para argumentar a Bblia. Talvez eu devesse convidar o

    presidente Lula para a prxima conveno de Fsica Subatmica para dar uma palestra

    sobre psitrons e anti-matria.

    Essa a tese defendida de forma arrasadora pelo fsico americano e

    antroplogo evolucionista John Hartung. ... A interpretao que Hartung faz da

    Bblia sugere que ela no fornece base para uma complacncia to convicta como a

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    dos cristos.103 Puxa vida! Um fsico e antroplogo evolucionista tambm tem

    autoridade para fazer interpretaes sobre a Bblia! E este intrprete diz que Jesus

    limitou seu grupo de salvos estritamente aos judeus, no que respeitava a tradio do

    Antigo Testamento, que era tudo que conhecia.104 Quer dizer ento que o Dr. Wilson

    Paroschi, Dr. F. F. Bruce, Dr. D. A. Carlson, Dr.Amin Rodor, Dr.Rodrigo P. Silva,

    Dr. Oscar Cullmann, Dr.Martinho Lutero, Dr.Calvino e tantos outros que dedicaram

    a vida toda ao estudo da teologia estavam o tempo todo errados! Pois , tantos

    trabalhos teolgicos para nada, porque um fsico conseguiu desvendar os segredos!

    Ao citar a declarao do famoso bilogo J. B. S. Haldane, na pgina 461, queafirma a estranheza do universo o qual continua dizendo que h muito mais coisa do

    que podemos imaginar, Dawkins completa com uma citao pea Hamlet, de

    William Shakespeare: H mais coisa no cu e na terra, Horcio, do que sonha a tua

    filosofia.

    Perceba que h uma falta de, no mnimo, senso cientfico para argumentar

    utilizando autoridades, pois o que Richard Dawkins est interessado na realidade no

    a verdade, mas a virtualidade que ele mesmo quer criar para o mundo, por isso, no

    importa quem esteja falando, desde que concorde com ele e/ou seja famoso

    103 Ibidem, pp. 327 328 (grifo meu).

    104 Ibidem, p. 328.

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    5.2 Falcia na Analogia

    Dawkins faz uma analogia entre o comportamento aparentemente suicida de

    uma mariposa que avana em direo ao fogo com a religio que desenvolvida nas

    crianas.105

    O comportamento da mariposa seria um sub-produto de um instrumento que

    ela utiliza para se orientar, a bssola ptica, pois a mariposa toma a posio da Lua,

    regula o foco para o infinito, ajusta para 30 graus e assim orienta-se sabendo para onde

    est indo e por onde poder voltar ao mesmo local. Entretanto, uma vela est muito

    prxima para que a mariposa consiga regular o foco para o infinito e ao tentar ajustara posio para 30 graus, ela acaba entrando em um movimento espiral para dentro das

    chamas de morte da vela. A bssola ptica um produto til para a mariposa,

    entretanto, o resultado, o sub-produto que veio com a vela (j que velas no so

    produtos da natureza) ruim, ocasionando assim um suicdio sem inteno.

    Para Dawkins, assim como a vela est para a mariposa, a religio est para as

    crianas, pois h um produto til, que o conselho e a advertncia, como quando os

    pais avisam: No nade naquele rio porque tem jacars. Fique junto de mim que

    tudo estar seguro. Entretanto, para ele, junto com estas advertncias vem a exortao

    religiosa, pois, j que os conselhos e advertncias anteriores so considerados algo

    bom para a sobrevivncia, a exortao religiosa, em obedincia s autoridades, seja ela

    o padre, pastor, sacerdote, aiatol, acaba entrando no mesmo barco, tornando-se um

    sub-produto indesejvel.

    Todavia, Dawkins falha em lembrar que, tanto a histria como a sociologia,

    no detectaram nenhuma comunidade que tenha se originado e permanecido sem105 Cf. Ibid, pp. 227 252.

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    religio. Portanto, a religio, utilizando o argumento de Dawkins, seria um produto

    inerente a personalidade humana, e o atesmo, considerando que este originado

    posteriormente, seria um sub-produto negativo ao sentimento religioso.

    Perceba que os prprios argumentos de Dawkins, se calibrados da maneira

    correta, entram em um processo de imploso, vindo a se extinguir. Tudo isto uma

    caracterstica peculiar do esprito secularista que ronda as correntes de pensamento

    hoje, e isto um ponto bsico do fundamentalismo de Dawkins.

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    CONCLUSO

    Aps analisarmos todo o contexto de Richard Dawkins, o qual foi permeado

    pelos sentimentos ps-guerra e analisando retrospectivamente como tais sentimentos

    chegaram a ser desenvolvidos, observando desde os tempos da Revoluo Francesa,

    sendo expandidos e grandemente influenciados por Nietzsche, categorizamos sua

    compreenso (anti-)doutrinria, examinamos tambm suas idias teolgicas e como

    foram desenvolvidas por pelo menos quatro fontes e detectamos a influncia do

    pensamento secularizado de dois pesos, duas medidas, podemos chegar a seguinte

    concluso: A principal fonte para a anlise de Richard Dakwins sobre Deus a

    Teologia Liberal, pois esta serve de coluna vertebral para todo o seu desenvolvimento

    anti-testa.

    Temos total conscincia de que a Teologia Liberal teve o seu desenvolvimento

    desde os tempos do Iluminismo tendo sua ignio no perodo da Revoluo Francesa

    com Schleiermacher, pois aquele perodo foi caracterizado pela liberdade da

    autoridade da igreja e de pensamento, pois, como j foi mencionado, em muitos pases

    europeus, especialmente na Frana, o atesmo estava espalhado pelas ruas. Apartir

    deste momento a Bblia comeou a ser analisada por meio dos mtodos histricos-

    crticos da histria secular, tornando-a desta maneira pouco confivel. Este

    desenvolvimento teolgico chegou mesmo a afetar Darwin

    106

    , o qual foi um dosinfluenciadores do pensamento de Dawkins.

    106 Cf. ponto 3.2.

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    Percebe-se que a Teologia Liberal torna-se o elemento unificador de todos os

    pontos de desenvolvimento de Dawkins, desde o contexto secularizado ps-guerra at

    aos tempos atuais, onde ele reclama a autoridade de telogos como Bart Ehrman. Sua

    compreenso doutrinria, se que podemos chamar assim, extremamente similar a

    da Teologia Liberal negando a autoridade das Escrituras, considerando que milagres

    no existem, tratando o pecado como simplesmente uma questo moral.

    Apesar de telogos liberais diferirem em suas vises acerca de Deus...eles tm muita coisa em comum. Primeiro e o mais importante, a rejeio daviso crist ortodoxa das Escrituras, a qual constri um consistente anti-sobrenaturalismo, juntamente com sua concomitante aceitao da Alta Crtica

    negativa.

    107

    Afinal, no exatamente este o pensamento de Richard Dawkins?

    Especialmente no que diz respeito s Escrituras, morte de Jesus e mesmo milagres?

    Se no h Deus que pode realizar milagres, ento o reclamo daautenticidade da Bblia deve estar seriamente comprometido, desde que talest recheada com milagres. De fato, isto exatamente o que acontece com anegao da viso ortodoxa das Escrituras.108

    Em suma, o pensamento de Richard Dawkins uma Teologia Liberal

    tendencionada ao atesmo nietzschiano, pois toma os elementos analticos da Teologia

    Liberal para a sua compreenso acerca da religio e Deus encerrando-os sob o

    discurso de Nietzsche a respeito da liberdade.

    De fato, ns filsofos e "espritos livres" sentimo-nos, notcia de que"o velho Deus est morto", como que iluminados pelos raios de um novaaurora; nosso corao transborda de gratido, assombro, pressentimento,expectativa - eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, postomesmo que no esteja claro, enfim podemos lanar outra vez ao largo nossosnavios, navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecedor outra vez

    107 GEISLER, Systematic Theology, v.1, p. 365.

    108 Ibid, p. 364.

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    permitida, o mar, nosso mar, est outra vez aberto, talvez nunca dantes houvetanto "mar aberto".109

    Na verdade para Richard Dawkins no nada mais que uma falsa realidade

    baseada em discursos contraditrios caractersticos da mentalidade secularizada. Suaverdade baseada em uma negao arbitrria da existncia de Deus, selecionando

    fatos e pontos que lhe dem razo, tal qual a Teologia Liberal faz com a Bblia,

    selecionando o que lhe devido e rejeitando os pontos que caminham contrrios s

    suas idias, classificando-os como mito. Considerando que a anlise verdadeira toma

    todos os fatos, examina-os, para ento chegar-se a uma concluso, no posso

    considerar a Teologia Liberal e, conseqentemente, Richard Dawkins como

    verdadeiros, pois estes partem das concluses para ento analisar o que pode ser

    verdadeiro, caindo ento no erro da mentira.

    Na verdade, para um animal, aquilo que o seu crebro precisa queseja, para ajud-lo a sobreviver. E, como espcies diferentes vivem em mundosto diferentes, haver uma variedade perturbadora de na verdade.110

    Neste contexto, a verdade de Richard Dawkins a Teologia Liberal levemente

    modificada, pois somente esta pode dar a ele a sua sobrevivncia, ainda que tal seja

    uma mentira.

    109 NIETZSCHE,A Gaia Cincia, 343.

    110 DAWKINS, p. 471.

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  • 8/2/2019 Teologia Que Fabricou Dawkins

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