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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO DANILO SILVA DO NASCIMENTO TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O HOSPITAL ESPANHOL Salvador 2018

TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE …N244 Nascimento, Danilo Silva do. Teoria dos stakeholders e insolvência de organizações brasileiras: um estudo exploratório sobre o

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

DANILO SILVA DO NASCIMENTO

TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE

ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO SOBRE O HOSPITAL ESPANHOL

Salvador

2018

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DANILO SILVA DO NASCIMENTO

TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE

ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO SOBRE O HOSPITAL ESPANHOL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Graduação em Administração do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia da Bahia, campus Salvador, como

requisito para obtenção do grau de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Dr.André Luis Rocha de Souza

Salvador

2018

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Biblioteca Raul V. Seixas – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

da Bahia - IFBA - Salvador/BA.

Responsável pela catalogação na fonte: Samuel dos Santos Araújo - CRB 5/1426.

N244 Nascimento, Danilo Silva do.

Teoria dos stakeholders e insolvência de organizações brasileiras: um

estudo exploratório sobre o Hospital Espanhol / Danilo Silva do

Nascimento. Salvador, 2018.

43 f. ; 30 cm.

Monografia (Graduação em Administração) - Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia.

Orientação: Prof. Dr.André Luis Rocha de Souza.

1. Insolvência empresarial. 2. Auditoria Interna 3. Identificação de

Risco. I. IFBA. II. Título.

CDU 2 ed 658

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado saúde e força para superar os

obstáculos e as dificuldades encontradas ao longo de minha trajetória. Sou muito grato a Deus

e aos meus amigos de verdade, que sempre acreditaram em mim e me deram uma palavra de

conforto nos momentos que necessitava.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), seu corpo

docente, direção e administração que oportunizaram a porta que hoje vislumbro um horizonte

superior.

Ao meu orientador, Prof. Dr. André Luis Rocha de Souza, pelo suporte, interesse e

estimulo, pelas suas correções e sua amizade sincera. Sou muito grato por ser o seu amigo e

que essa amizade seja para vida toda. Obrigado pelo incentivo e por sempre acreditar em mim

e no meu potencial.

Não posso esquecer de agradecer aos professores Lívia Modesto, Alex Cypriano, Layla,

Luana Farias, Erica, José Rubens, Michelle, Isabelle e Aurelina que são os Mestres do

conhecimento, com os quais pude aprender um pouco mais.

A minha família e especialmente aos meus pais Marilene, José Newton e minha

madrinha Noélia, por sempre me dar conselhos e me fazer rir nos momentos mais difíceis. A

Leticia, minha irmã, por compreender que precisava sempre de silêncio para estudar. A Paula,

uma irmã do coração, e também Paulo e Jailson. A Ângela Mesquita por sempre me dar a

ferramenta que é o incentivo, mandando uma notícia, um jornal, me fazendo também sonhar e

acreditar nos meus sonhos.

Aos amigos do Curso de Administração, principalmente a Adriana Oliveira (in

memoriam), uma pessoa que conheci e me marcou muito pela sua personalidade e

determinação, em que pude aprender muito com sua amizade, hoje ela se encontra com meu

Deus e acredito sempre que Deus está cuidando dos deles sempre! Também tenho que

agradecer a Amanda Almeida, Fernanda Pimenta, Diego Guimarães e Cristiane Santana

conhecida como Kriska, que sempre me ajudaram, surpreendendo-me bastante e estendendo-

me a mão no momento em que eu achava que estava sozinho. Jessica Short, Luana Lisboa,

Luciana Lisboa, Mirella Torquato, Edinice, Lalie, Clara Teixeira, Priscila e a todos que

fizeram parte diretamente ou indiretamente, permitindo-me que fosse adiante.

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Resiliência é continuar numa constante

transformação diante de todas as pressões

presentes. É o sentido master da

ressignificação.

Nilton Pedreira

Page 6: TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE …N244 Nascimento, Danilo Silva do. Teoria dos stakeholders e insolvência de organizações brasileiras: um estudo exploratório sobre o

NASCIMENTO, D. S. Teoria dos stakeholders e insolvência de organizações brasileiras:

um estudo exploratório sobre o Hospital Espanhol. Monografia (Graduação). Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Salvador, 2018.

RESUMO

Este trabalho teve o objetivo de analisar os fatores determinantes da organização, também

voltado com o estudo exploratório da insolvência do Hospital Espanhol. Esse caso do hospital

foi selecionado para destacar os fatores que levou a corporação está em estado de insolvência.

Os índices financeiros selecionados foram: liquidez corrente, endividamento, relação capital

de terceiros/capital próprio, retorno sobre ativos (ROA) e retorno sobre o patrimônio líquido

(ROE).Apesar de a literatura demonstrar que os Hospitais apresentam mais nos seus

demonstrativos são os respectivos índices mencionado acima, também na literatura vai

abordar as causas das prevenções que podem fazer a empresa a não entrar no estado de

falência sendo que também a descrição dos fatos do caso do Hospital Espanhol. E tendo como

apresentação da revisão teórica sendo; A teoria dos Stakeholders e a Gestão Empresarial,

Insolvência Empresarial e Práticas de Gestão, O papel da Auditoria Interna na prevenção da

Insolvência das Organizações. Entretanto esses tópicos para serem descritas entre os autores e

serem usadas nas analise conforme o caso do Hospital Espanhol.

PALAVRAS-CHAVE; Insolvência Empresarial, Fatores Determinantes da Insolvência, O

Papel da Auditoria Interna e Etapas de Identificação de Risco.

Page 7: TEORIA DOS STAKEHOLDERS E INSOLVÊNCIA DE …N244 Nascimento, Danilo Silva do. Teoria dos stakeholders e insolvência de organizações brasileiras: um estudo exploratório sobre o

NASCIMENTO, D. S. Stakeholder theory and insolvency of Brazilian organizations: an

exploratory study about the Spanish Hospital. Monography (Undergraduate). Federal Institute

of Education, Science and Technology of Bahia. Salvador, 2018.

ABSTRACT

This work had the objective of analyzing the determining factors of the organization, also

with the exploratory study of the insolvency of the Spanish Hospital. This hospital case was

selected to highlight the factors that led to the corporation being in a state of insolvency. The

selected financial ratios were: current liquidity, indebtedness, third-party capital / equity ratio,

return on assets (ROA) and return on equity (ROE). Although the literature shows that

hospitals have more in their statements are the mentioned indexes, also in the literature will

address the causes of the preventions that can make the company not to enter the state of

bankruptcy being also the description of the facts of the case of the Spanish Hospital. And

having as presentation the theoretical revision being; The Stakeholder Theory and Business

Management, Corporate Insolvency and Management Practices, The role of Internal Audit in

the prevention of Insolvency of Organizations. However these topics to be described among

the authors and be used in the analysis as the case of the Spanish Hospital.

KEY WORDS: Corporate Insolvency, Determinants of Insolvency, The Role of Internal

Audit and Stages of Risk Identification.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

C - Capital

CG - Capital de Giro

CP - Capital Próprio

IL - Índice de Lucratividade

LA - Lucro por Ação

LC - Liquidez Corrente

LG - Liquidez Geral

LOP - Lucro Operacional

LPA - Lucro por Ação

P - Passivo

PL - Patrimônio Liquido

PT - Passivo Total

RCT - Relação de Capital de Terceiros

RO I- ReturnonInvestment (Retorno do Investimento)

ROA - ReturnonAssets (Retorno dos Ativos)

ROE - ReturnonEquity (Retorno do Patrimônio Líquido)

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Termômetro de Elizabetsky (1976) ......................................................................... 18

Figura 2 - Termômetro de Kanitz (1978) ................................................................................. 19

Figura 3 - Indicadores de Liquidez, Eficiência dos Ativos, Lucratividade, Estrutura de Capital

e Rentabilidade aplicados em entidades hospitalares ............................................................... 20

Figura 4 - Decisões opostas da Justiça comum e da Justiça do Trabalho trata do mesmo caso

.................................................................................................................................................. 30

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Juíza Critica Concessão de Empréstimo Bancário ................................................. 31

Quadro 2 - Alguns fatos identificados no período de 2011 a 2017. ......................................... 33

Quadro 3 - Eventos divulgados pelos jornais de grande circulação (regional e nacional) sobre

o caso do Hospital Espanhol ..................................................................................................... 34

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 12

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 14

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 14

2.2 OBJETO DE ESTUDO ...................................................................................................... 14

2.3 ETAPAS DA PESQUISA .................................................................................................. 14

2.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ......................................................................................... 15

3. TEORIA DOS STAKEHOLDERS, PRÁTICAS DE GESTÃOE INSOLVÊNCIA

EMPRESARIAL ..................................................................................................................... 16

4. A AUDITORIA INTERNA E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A GESTÃO

EMPRESARIAL ..................................................................................................................... 23

5. ANÁLISE DA INSOLVÊNCIA E FALÊNCIA: UM ESTUDO ILUSTRATIVO A

PARTIR DO CASO DOHOSPITAL ESPANHOL DE SALVADOR-BA ........................ 26

5.1 O HOSPITAL ESPANHOL E A CRISE FINANCEIRA .................................................. 26

5.2 DA CRISE FINANCEIRA, RETOMADA DAS ATIVIDADES E A FALÊNCIA DO

HOSPITAL ESPANHOL ......................................................................................................... 27

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 35

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 37

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1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, observou-se no cenário internacional e nacional um conjunto de

empresas que têm encontrado dificuldades financeiras para a continuidade de suas atividades,

o que tem levado a processos de insolvência, recuperação judicial, e, consequentemente, em

função das dificuldades de retorno as atividades, processos de falência propriamente dito.

Empresas multinacionais tais como Enron, Parmalat, WordCom, dentre outras, evidenciaram

a necessidade de fundamentos de gestão, sustentáveis, que mantenham as organizações

solventes e evitem processos de falências (REZENDE; FARIAS; OLIVEIRA, 2013).

Não obstante, muitos desses processos decorrem de práticas de gestão associadas a

aumento de endividamentos, alavancagem financeira, escassez de recursos de curto e longo

prazo, além dos efeitos das crises econômicas e desaquecimento da economia. Ademais, um

volume de negócios tem sido impactado, também, a partir de processos de práticas de

corrupção, a exemplo do que tem sido assistido no Brasil com a operação lava jato – OLJ,

com impactos significativos em empresas brasileiras, em particular, a Petrobras.

Esse contexto remete a uma análise, também, sobre as práticas de gestão corporativas,

estrutura de governança e de como as organizações internalizam os interesses de seus

stakeholders. Em particular, no que se refere aos interesses dos investidores, bem como, de

credores e clientes que são os interessados no desempenho das empresas e na continuidade de

suas atividades. Essa concepção contribui para que a gestão contemple essas variáveis na

estratégia corporativa, gerenciando o risco associado as expectativas e percepção das partes

interessadas no negócio (FINEMAN; CLAKE, 1996).

Segundo Souza (2016, p. 32) “[...] No tocante a criação de valor, não se pode restringir

aos interesses dos acionistas e executivos, mas aos interesses também dos demais grupos,

levando em consideração os aspectos éticos e morais na condução das decisões”.

Destarte, o planejamento financeiro de uma empresa é de fundamental importância para

a evitar a sua descontinuidade, bem como, uma estrutura de governança sólida, que garanta a

gestão com práticas sustentáveis com capacidade de mitigar os riscos não sistemáticos e

monitorar os riscos sistemáticos, contribuindo para a continuidade operacional no mercado.

Segundo Silva (2010) a insolvência decorre da ausência de liquidez no negócio, ou seja,

passivos a descobertos, que compromete o pagamento dos credores nos prazos definidos.

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Assim, a gestão do risco de descontinuidade das atividades organizacionais deve ser

realizada a partir de práticas de gestão transparentes que gerem informações suficientes para

as decisões de forma tempestiva e que reduzam a percepção de risco das partes interessadas

(PINHEIRO, 2007).

Nesse sentido, nas últimas décadas, os modelos de governança corporativa têm

avançado, com um conjunto de procedimentos voltados para reduzir e/ou mitigar os riscos

operacionais, econômicos e financeiros das organizações e no sentido de mediar os interesses

dos acionistas e as práticas de gestão dos administradores (ASSAF NETO, 2014), reduzindo

assim as assimetrias de informações entre estes (PEREIRA; SOUZA, 2017).

Cabe destacar que além dos avanços nos modelos de governança corporativa que tem-se

observado nos últimos anos, observa-se no contexto regulatório que a legislação tem

avançado na temática, o que pode ser observado, no Brasil, por meio da Lei No 11.101/2005,

que passou a regular a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da

sociedade empresária, exceto para empresas públicas e sociedade de economia mista, além de

instituição financeira pública ou privada, dentre outras (BRASIL, 2005).

Destaca Funchal e Araújo (2009) que a Lei N. 11.101/2005 melhorou os processos de

recuperação judicial e insolvência das empresas brasileiras, pois os aspectos socioeconômicos

e políticos têm avançado o que requer, também, aparato jurídico compatíveis com relação às

empresas.

Observa-se, no contexto brasileiro, que um conjunto de empresas, de setores

importantes, a exemplo do setor hospitalar, tem solicitado recuperação judicial, devido a

insolvência,e nos casos de dificuldades na recuperação, solicitado a falência propriamente

dita. Com relação a este último, destaca-se o Hospital Espanhol, cuja unidade hospitalar de

Salvador foi encerrada, em 2014, em função da falência decretada. Considerado um hospital

tradicional, a unidade de Salvador possuía mais de 100 anos de história e era administrada

pela Real Sociedade Espanhola de Beneficência.

Partindo do pressuposto de que existem fatores que levam uma organização a passar

pela situação de crise financeira, e, como consequência, podem explicar as motivações para a

declarar insolvência e solicitar processos de recuperação judicial e falência, este estudo tem

como objetivo responder a seguinte pergunta: Quais os fatores que contribuíram para a

insolvência do Hospital Espanhol, localizado na Cidade de Salvador-Ba?

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Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo analisar os fatores que

contribuíram para a insolvência do Hospital Espanhol, localizado na Cidade de Salvador-Ba.

De forma específica, objetivou:

a) Analisar na gestão a importância dos Stakeholders na gestão empresarial;

b) Discutir o papel da auditoria nas organizações;

c) Analisar os fatores evidenciados pela mídia que contribuíram para a insolvência do

Hospital Espanhol, localizado na Cidade de Salvador- Ba.

1.1 JUSTIFICATIVA

A sustentabilidade de uma organização depende de um conjunto de fatores, dentre as

quais o bom fundamento da gestão, as práticas de sustentabilidade econômica, financeira e

ambiental, o bom relacionamento com seus stakeholders, a internalização e gestão dos

interesses dos acionistas e a adoção de boas práticas de governança corporativa, cujo modelo

contribua para a gestão dos riscos financeiros e operacionais do negócio.

Segundo Pereira e Souza (2017, p. 8):

Em virtude dos instrumentos e práticas induzidas pela governança das

organizações, a mesma deve ser implementada por todas as empresas

preocupadas com a transparência de seus atos, redução da percepção do risco

empresarial pelos acionistas e investidores, independente do seu tamanho ou

área de atuação.

Assim, a estrutura de governança deve contemplar premissas e diretrizes que

contribuam para o alinhamento entre as práticas de gestão e a missão organizacional, devendo

contemplar princípios fundamentais como compliance, uniformidade, accountability e

transparência (PEREIRA; SOUZA, 2017; SANTOS, 2011; IBGC, 2015; CVM, 2002).

Nos últimos anos, em nível global muitas organizações têm apresentado problemas de

continuidade, afetando não só a relação com os seus credores, como também gerando

impactos significativos para a sociedade seja em função do aumento do desemprego, seja em

função de interrupção de serviços importantes, a exemplo de serviços hospitalares, a exemplo

da falência do Hospital Espanhol, da Cidade de Salvador-Ba, que possuía mais de um século

de tradição.

De acordo com Fazzio Junior (2008, p. 23-24) a falência compreende um

procedimento jurídico “[...] instaurado por um provimento jurisdicional, para solucionar a

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situação oriunda da insolvência do empresário, ou da sociedade empresária, tendo em vista o

tratamento equitativo de seus credores”.

No que se refere a falência do Hospital Espanhol, diante de sua relevância para o

município de Salvador, bem como, para o estado da Bahia, muitas questões, como os fatores

que determinaram o encerramento de suas atividades, bem como, as práticas de gestão não

estão claramente evidenciadas, sendo esses aspectos os motivos que justificam a presente

pesquisa.

Do ponto de vista teórico, a pesquisa discute uma temática que apesar de ter um

volume substancial de trabalhos na área, estudos sobre insolvência e falência de empresas do

setor hospitalar, que têm impactos significativos na sociedade ainda são poucas. Já do ponto

de vista prático, discute elementos que podem subsidiar consultas de gestores no sentido de

minimizar e/ou mitigar riscos associados a insolvência e, consequentemente, falência de

empresas.

Após a presente introdução, serão abordados na sequência: os procedimentos

metodológicos, que compõe a seção 2; a revisão de literatura, que forma a seção 3 que versa

sobre a teoria dos stakeholders e os fatores relacionados com os processos de insolvências; já

a seção 4 é composta da análise do Caso do Hospital Espanhol, a título ilustrativo, para

descrever os fatores evidenciados pela literatura que contribuíram para a sua insolvência. Por

fim, na seção 5 será realizada as Considerações Finais.

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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com Lakatos e Marconi (2010), todo processos de investigação compreende

a pesquisa exploratória, a pesquisa documental além da coleta de dados primários e

secundários.

Assim, a presente pesquisa consiste em uma investigação exploratória, de natureza

bibliográfica e documental, com uma abordagem descritiva com a finalidade de compreender

o aparato teórico sobre a temática, assim como levantar informações gerais sobre o objeto

analisado, além de descrever o objeto de estudo (GIL, 1991).Os dados foram obtidos a partir

de fontes secundárias, através de consultas a sites institucionais, o processo judicial que tratou

sobre a falência do Hospital Espanhol de Salvador, como também, por meio de publicações

que foram realizadas sobre a temática em jornais, além de consulta a livros, artigos, dentre

outras publicações bibliográficas.

Nesse sentido, realizou-se a análise de conteúdo dos documentos identificados sobre os

problemas de insolvência que levaram a falência do Hospital, buscando categorizar as

informações e subsidiar as análises a partir do aparato teórico.

2.2 OBJETO DE ESTUDO

Hospital Espanhol de Salvador.

2.3 ETAPAS DA PESQUISA

Para o alcance dos objetivos propostos na presente pesquisa, cinco etapas foram

seguidas. Na primeira etapa realizou-se um levantamento da literatura, através de referenciais

bibliográficas públicas e livros que subsidiassem a compreensão da temática, bem como,

apoiassem a construção do aparato teórico da pesquisa.

A partir do aparto teórico da pesquisa, buscou-se construir os procedimentos

metodológicos necessários a execução dos objetivos propostos. Na sequência, na segunda

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etapa, buscou-se levantar dados e informações sobre o Hospital Espanhol no sentido verificar

realizar os documentos disponíveis. A partir dessa etapa, foi possível alcançar o objetivo

específico “a”, já que foi feito o mapeamento do referencial teórico e traçou-se os aspectos

metodológicos necessário ao cumprimento dos objetivos propostos.

Já na terceira etapa, realizou-se uma análise dos dados levantados, buscando fazer a

crítica utilizando para tanto o aparato teórico. No que se refere a quarta etapa, a partir das

análises dos dados levantados, construiu-se o relatório da pesquisa. A partir das referidas

etapas, o objetivo específico “b” foi alcançado.

Por fim, na quinta etapa, realizou-se as considerações finais e recomendações de

pesquisas futuras.

2.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

A presente pesquisa trata-se de uma investigação exploratória e visa obter

conhecimentos gerais sobre os fatos publicados que explicam a falência do Hospital Espanhol.

Assim, não deve ser tomado como explicativo dos fatores determinantes para a falência da

referida organização, pois para tanto deve ser realizado um estudo de caso que aprofunde as

análises e compreensão dos problemas financeiros vivenciados pela organização no período.

Ademais, os elementos evidenciados pelo presente estudo não devem ser generalizados para

outras organizações de setor igual ou semelhante ao da instituição analisada.

Por fim, destaca-se ainda que as informações sobre a insolvência do Hospital foram

coletadas por meio de publicações realizadas por jornais de circulação local e nacional, tendo

em vista que o acesso ao processo via Tribunal de Justiça da Bahia só é possível para as partes

envolvidas e por meio de senha, conforme acesso ao portal

http://esaj.tjba.jus.br/cpopg/show.do?processo.codigo=01000QZC80000&processo.foro=1,

não sendo possível obter os autos do processo que continua em tramitação, conforme pode ser

visualizado no referido link.

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3. TEORIA DOS STAKEHOLDERS, PRÁTICAS DE GESTÃOE INSOLVÊNCIA

EMPRESARIAL

Segundo Freeman (1984), os stakeholders são qualquer indivíduo ou grupo que possa

afetar a obtenção dos objetivos organizacionais ou que é afetado pelo processo de busca

destes objetivos. Tais indivíduos podem ser constituídos por credores, o governo,

colaboradores, clientes, acionistas e investidores (FREEMAN, 1983).

Assim, a teoria dos stakeholders, estuda as organizações e suas interações com os

agentes que direta ou indiretamente possuem interesses nos resultados e desempenho

corporativo (FREEMAN, 2010).

Segundo Donaldson e Preston (1995), faz-se necessário que os administradores

reconhecerem os diferentes grupos envolvidos com a organização e seus interesses.

No entanto, destaca Souza (2016, p. 31) que:

“[...] os interesses das partes interessadas são tratados pelas organizações de acordo

com os níveis de importância desses grupos para a empresa. A análise das partes

interessadas das organizações não pode ser feita partindo do pressuposto de que a

estratégia corporativa é influenciada por todos os agentes e de igual maneira. Isso

por que as organizações tendem a priorizar aqueles stakeholders de maior influência,

seja ela política, operacional ou financeira, como também em decorrência dos

aspectos de mercado, tais como questões regulatórias (SOUZA, 2016, p. 31).

Assim, a teoria das partes interessadas tem a finalidade tanto de explicar quanto de

orientar a estrutura e funcionamento das corporações, cumprindo também o papel de

compreender e explicar os fenômenos decorrentes das relações entre a corporação e os seus

stakeholders (SOUZA, 2016, p. 29).

Segundo Boaventura et al., (2011, p. 1):

A função-objetivo da empresa serve como norteador para a tomada de decisão por

parte dos gestores. Até o final do século passado a Teoria da Firma e suas evoluções

vinham se apresentando como único referencial para a definição da função-objetivo

das empresas. Mais recentemente a Teoria dos Stakeholders constituiu-se em uma

alternativa para a definição da função. A importância deste tema estimulou o

desenvolvimento de diversos estudos teóricos e empíricos acerca da compatibilidade

das definições da função-objetivo da empresa em função das duas Teorias

(BOAVENTURA et al., 2011, p. 1)..

A gestão Segundo Catelli (2001) se desenvolve por meio de práticas e processos

baseados em princípios fundamentados e alinhados com a missão organizacional.

Nesse processo, a uma interação entre os gestores e colaboradores no sentido de

planejar as ações, executar decisões e avaliar a performance corporativa (GITMAN, 2010).

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A gestão corporativa pressupõe a adoção de práticas sustentáveis que contribuam para o

desenvolvimento sólido do negócio, geração de vantagem competitiva e mantenha a solvência

empresarial, além da gestão do risco.

Segundo Carvalho et al., (2010, p. 50):

Todo negócio onde existe uma transação de moedas e mercadorias, existe uma

relação de risco presente. Ao abrir, assumir ou gerenciar uma empresa é preciso

avaliar vários relatórios, dentro dos quais há alguns com informações comerciais. Os

mesmos contêm informações e detalhes que avaliam os riscos de adquirir ou abrir

uma empresa, seja ele uma instituição financeira, uma indústria, um comércio ou

uma instituição governamental. O relatório de informação comercial tem como

principal função avaliar a situação financeira dos clientes e de qualquer tipo de

riscos possíveis.

Assim, de acordo com Rezende, Farias e Oliveira (2013, p. 38):

A competitividade no mundo dos negócios vem exigindo que as empresas busquem

adotar procedimentos estratégicos operacionais e financeiros para o alcance de suas

metas. Além desses procedimentos, os administradores podem, por meio da análise

de balanço, verificar a situação financeira e econômica de suas empresas

(REZENDE; FARIAS; OLIVEIRA, 2013, p. 38).

É nesse contexto que nascem os modelos de previsão de falência que visam apoiar a

gestão corporativa na projeção do comportamento e desempenho econômico e financeiro do

negócio, por meio da avaliação da solvência, auxiliando na adoção de ações que evitem a

insolvência ou falência do negócio.

Em relação ao modelo de Elizabetsky, criado em 1976, segundo Rezende, Farias e

Oliveira (2013) trata-se de uma modelagem matemática, que utiliza a análise discriminante,

que consiste em uma técnica estatística, multivariada, utilizadas em modelos que envolvem

variáveis qualitativas, dependentes e variáveis quantitativas, independentes. Nesse modelo, a

insolvência de um determinado negócio, avaliada a partir de um termômetro, considera que se

Z for inferior a 0,5, a organização está enquadrada como insolvente enquanto que se Z for

superior a 0,5 a classificação é de solvente, conforme mostra a Figura 1.

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Figura 1 - Termômetro de Elizabetsky (1976)

Fonte: Marcus (2011) apud Rezende, Farias e Oliveira (2013, p. 36).

Já uma outra modelagem que busca apoiar a gestão na previsão de insolvência é o

modelo de Kanitz, criado em 1978, que segundo Rezende, Farias e Oliveira (2013) foi um dos

primeiros estudos com essa abordagem no Brasil.

O modelo de Kanitz, segundo Rezende, Farias e Oliveira (2013) baseia-se na

construção de índices econômicos e financeiros, calculados a partir dos dados obtidos através

das demonstrações contábeis, que dão origem ao fatores de insolvência, quais sejam: Retorno

sobre o Patrimônio Líquido (ROE); Índice de Liquidez Geral; Liquidez Seca; Endividamento

do Capital Próprio. Segundo os autores, “A equação desenvolvida era composta do seguinte

modelo: FI = 0,05 RPL + 1,65 LG + 3,55 LS – 1,06 LC – 0,33 PCT, em que: 0,05, 1,65, 3,55,

1,06 e 0,33 são os pesos que devem multiplicar os índices (p. 36)”, cujo modelo pode ser

visualizado na Figura 2, a seguir.

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Figura 2 - Termômetro de Kanitz (1978)

Fonte: Kanitz (1978) apud Rezende, Farias e Oliveira (2013, p. 36).

Pereira et al., (2011) destaca ainda os modelos de previsão de insolvência de Altman

de 1968 que se baseia no estudo de riscos a partir da aplicação de análise multivariada de

dados; o modelo de Pereira de 1982 que se baseia na análise discriminante; e o modelo de

Matias de 1976 que assim como Pareira utiliza analise discriminante. Contudo, segundo o

autor apresenta melhor poder explicativo quando comparado com os demais.

Nesse sentido, observa-se que a análise da situação econômica e financeira da empresa

que apoie o monitoramento dos níveis de solvência, bem como, que antecipe possíveis riscos

de insolvência e falência são realizadas a partir de índices que formam indicadores

importantes para a análise da saúde financeira do negócio (MATARAZZO, 2003).

As demonstrações financeiras apresentam um conjunto de informações que subsidiam

informações relevantes para a gestão financeira das organizações. Nesse sentido, Carvalho et

al. (2010) destacam que as análises a partir dos índices “[...] vem sendo utilizada nas empresas

como uma ferramenta de uso gerencial, através dos índices já existentes ou adaptando os

índices as necessidades individuais de cada organização” (p. 54).

Nesse sentido, a gestão financeira das organizações, através dos índices apresentados

anteriormente, embora seja determinante para prever a falência de um negócio, pode iniciar

sinais e riscos que apontam para deficiência na saúde financeira do negócio e que podem ser

gerenciadas (MATARAZZO, 2003).

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A finanças empresariais contemplam decisões complexas relacionadas a investimentos e

financiamentos. Esse processo requer a necessidade de bons fundamentos de gestão,

monitoramento dos indicadores econômico e financeiro, bem como da liquidez do negócio,

gestão da carteira de clientes e fornecedores, além da gestão dos interesses dos acionistas,

investidores e demais stakeholders.

Segundo Souza (2012), dentre os principais indicadores e índices mais utilizados para a

gestão financeiras das organizações, destacam-se o de Liquidez, Estrutura de Capital,

Rentabilidade e Lucratividade, conforme apresentado na Figura 3, a seguir.

Figura 3 - Indicadores de Liquidez, Eficiência dos Ativos, Lucratividade, Estrutura de Capital e

Rentabilidade aplicados em entidades hospitalares

Fonte: Souza et. al. (2012, p. 3); Amorim (2016, 98).

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Sabe-se que as organizações dos diferentes setores de atividades adotam práticas de

gestão diferentes para conduzir suas atividades. No que se refere as organizações hospitalares,

Souza et al., (2012, p. 2) “As organizações hospitalares, em geral, não vêm apresentando um

desempenho econômico-financeiro satisfatório nos últimos anos, com destaque para aquelas

que dependem de recursos governamentais, como os hospitais públicos e filantrópicos”.

Ainda segundo Souza et al., (2012, p. 4) “[...] Mudanças recentes na sociedade em geral,

como a globalização e o acirramento da concorrência, têm tido forte influência na

competitividade e na estratégia dos hospitais.

Segundo Damodaran (2004) apud Souza et. al. (2012, p. 5) “A exigência gerencial

comum para a continuidade das organizações é a adequada avaliação, bem como o controle do

capital de giro e dos investimentos e financiamentos de longo prazo”.

Para Bernetet al. (2008) apud Souza et al., (2012, p. 5)“nos hospitais em especial, a

gestão financeira pode ser considerada ainda mais crítica, devido ao caráter social dos

serviços prestados e ao contexto econômico-financeiro dessas organizações”.

Assim, Souza (2012, p. 5) destaca que:

Pode-se dizer que a ineficiente gestão financeira dos hospitais, associada à defasada

remuneração do Sistema Único de Saúde (SUS), acentua o problema para todos os

tipos de organizações hospitalares, sejam públicas ou privadas, filantrópicas ou não.

Consequentemente, em geral, cresce o endividamento dos hospitais, que acabam

deixando de realizar investimentos e manutenções.

Em pesquisa realizada por Souza et. al., (2012) que analisou a situação econômico e

financeira do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE) do Pará no período

de 2006 a 2010, os autores evidenciaram que o hospital apresentava performance financeira

ruim e que as práticas de gestão influenciavam nesse desempenho. Segundo os autores, dentre

as questões relacionadas a gestão estavam a identificam de problemas na relação entre as

entidades (duas) que gerenciavam o hospital o que impactou no processo de finalização das

atividades do hospital. Nesse sentido, evidenciou-se que os indicadores financeiros da

entidade estudada foi impacto diretamente pelas práticas e conflitos existentes na gestão da

organização.

Já a pesquisa de Amorim (2016), que analisou a Santa Casa de Misericórdia de

Itaguara, a partir da análise econômico-financeira da entidade no período de 2010 a 2014,

evidenciou que a entidade apresentava saúde financeira ótima, inclusive quando comparada

com outras entidades de mesmo setor, sendo um dos fatores que contribuíram para os

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resultados positivos os repasses realizados pela Prefeitura Municipal. Assim, o autor concluiu

que o Estado tem papel fundamental para a manutenção da organização.

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4. A AUDITORIA INTERNA E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A GESTÃO

EMPRESARIAL

Conforme destacado anteriormente, a conjuntura global marcada por crises econômicas

e os problemas de insolvência e dificuldades financeiras das organizações demandam práticas

de gestão sustentável e ações que assegurem o patrimônio das entidades. Assim, a auditoria

interna tem papel imprescindível para o funcionamento adequado dos controles internos

corporativos e assegurar fidedignidade das informações geradas pelas organizações.

De acordo com Rossi, Silva e Lopes (2016) a auditoria interna tem o papel de assegurar

a eficiência e eficácia dos controles internos das organizações e contribuir na asseguração do

patrimônio das entidades organizacional. Nesse sentido, tem papel fundamental na redução da

percepção de risco dos investidores sobre as organizações e geram confiança nos resultados

corporativos. Contudo, os autores destacam que apesar da auditoria interna desenvolver

atividades independentes, o fato de pertencerem a organização e vincula-se a gestão

executiva, ne sempre possui independência total sobre as ações.

Segundo Souza (2018, p. 6):

A auditoria, a partir de uma visão ampla, pode ser compreendida como um conjunto

de técnicas e procedimentos que visam certificar a veracidade e grau de

confiabilidade das informações financeiras divulgadas pelas empresas aos diferentes

stakeholders, através das demonstrações financeiras. A partir das técnicas e

procedimentos de auditoria é possível verificar se as demonstrações financeiras das

organizações refletem, com fidedignidade, a realidade corporativa (SOUZA, 2018,

p.6).

Nesse sentido, atrelado as análises econômicas e financeiras propostos por meio dos

modelos de insolvência, verifica-se que a auditoria interna tem papel fundamental na

asseguração de práticas de gestão que permita a continuidade das organizações, tendo em

vista o papel que desempenha na garantia da fidedignidade dos controles internos e nas

informações evidenciadas pelas demonstrações financeiras corporativas.

Além da auditoria interna, a auditoria externa também tem papel fundamental na

verificação das informações divulgadas nas demonstrações financeiras. De acordo com Souza

(2018, p. 6):

Em relação a auditoria externa ou também conhecida como auditoria independente,

pode ser compreendida como um conjunto de atividades voltadas para verificar se as

demonstrações financeiras, bem como, as decisões adotadas pelas empresas

observam as normas e legislações vigentes e se representam, de fato, a realidade da

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organização. Tal atividade ocorre através da análise de documentos que comprovem

os fatos evidenciados, além de testes de controles internos (SOUZA, 2018, p. 6).

Em face do exposto, observa-se a relevância e papel fundamental desempenhado tanto

pela auditoria interna quanto da auditoria externa na prevenção de insolvência e falência das

organizações. Ademais, tais técnicas contábeis contribuem, também, na prevenção de fraudes

e erros contábeis, além de práticas que geram ônus financeiros e comprometem a

sustentabilidade financeiras e econômica das entidades.

A partir de controles robustos e fidedignos, garantidos por meio de ferramentas e

técnicas de auditoria, a tomada de decisão a partir dos relatórios gerenciais elaborados pela

controladoria contribui para que os gestores possuam segurança e decidam de forma adequada

a direção das corporações, sobretudo, considerando que a controladoria, segundo Tavares et

al., (2013, p. 2)

[...]tem a finalidade de dá suporte, para as tomadas de decisões dentro de uma

empresa, ele utiliza as demonstrações feitas pela contabilidade, faz as análises dos

dados ligados ao orçamento e ao planejamento empresarial para depois dar o seu

parecer. Ela também pode utilizar-se de quaisquer outras ferramentas de informação,

pode se apoiar nas informações geradas pela administração da produção, da estrutura

organizacional e também da administração financeiro (TAVARES et al., 2013, p. 2).

Na gestão corporativa, conforme destacado anteriormente, os gestores convivem com

a necessidade de considerar em suas decisões os interesses dos diferentes stakeholders, além

de terem as próprias decisões. Segundo Machado e Gartner (2018) esse processo tende a gerar

conflitos de agência entre o administrador (gestor) e os proprietários (acionistas) das

organizações, embora o papel do gestor é adotar ações que contribuam para que as empresas

alcancem os seus objetivos.

Para Jensen e Meckling (1976) e John e Senbet (1998) apud Machado e Gartner (2018, p.

62):

Esses problemas de agência, qualquer que seja a relação, podem prejudicar o

funcionamento eficiente de uma empresa. Para minimização desses problemas, os

proprietários incorrem em custos de agência, que podem ser subdivididos em custo

de monitoramento dos gestores, despesas de concessão de garantias contratuais por

parte do agente e perdas residuais (Jensen; Meckling, 1976; John; Senbet, 1998;

apud Machado; Gartner, 2018, p. 62)

Nesse sentido, destacam Machado e Gartner (2018,p. 62) que:

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Os custos de monitoramento consistem na limitação de divergências pelo principal,

por meio da criação de incentivos adequados para o agente, o que limitará suas

atividades anormais. Esses custos podem ser subdivididos em mecanismos de

incentivo e de monitoramento das ações dos agentes (MACHADO; GARTNER,

2018, p. 62).

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5. ANÁLISE DA INSOLVÊNCIA E FALÊNCIA: UM ESTUDO ILUSTRATIVO A

PARTIR DO CASO DOHOSPITAL ESPANHOL DE SALVADOR-BA

5.1 O HOSPITAL ESPANHOL E A CRISE FINANCEIRA

O Hospital Espanhol de Salvador, constituído por volta de 1889, localizava-se bairro da

Barra, em Salvador – BA, cuja gestão da entidade era realizada pela Real Sociedade

Espanhola de Beneficência, organização sem fins lucrativos.

Considerado um dos hospitais de tradição na Bahia e em Salvador, no período e que

começou a apresentar dificuldades financeiras (2011) a entidade apresentava capacidade

operacional de 300 leitos, dos quais 60 UTIs e 10 de obstetrícia e, em média, atendia 120

casos de emergência, realizava, aproximadamente, 40 cirurgias e em torno de 600 exames por

dia, além de contar com um quadro de funcionários de, aproximadamente, dois mil

funcionários, compostos por médicos, enfermeiros, técnicos administrativos (ALMEIDA,

2014; PITOMBO, 2014).

Nos período de 2010 e 2011 o hospital começou apresentar dificuldades financeiras e

operacionais que passaram a impactar em suas atividades operacionais, fruto de um

endividamento que somavam, a época, mais de R$ 200 milhões com credores (bancos,

fornecedores), funcionários e médicos, cujos reflexos culminaram no encerramento das

atividades no segundo semestre de 2014 (PITOMBO, 2014).

Conforme destacaram Bernet et al. (2008) a gestão financeiras em entidades

hospitalares possui uma característica peculiar devido ao impacto nas atividades operacionais

e, sobretudo, na saúde das pessoas. Em crises financeiras, a exemplo da que passou o Hospital

Espanhol de Salvador associada à baixa remuneração do SUS, conforme destacou Souza El

(2012) para atendimentos decorrentes de demandas de serviços ao setor público, compromete

a liquidez financeira, bem como, eleva os níveis de endividamentos das instituições, levando a

insolvência. Ademais, as práticas de gestão também são fatores que impactam na

descontinuidade de instituições, a exemplo dos hospitais, conforme evidenciou Souza et al.

(2012).

Segundo Amorim (2016) o Estado possui papel fundamental para a manutenção das

atividades dos hospitais, na medida em que destina de seu orçamento recursos para que essas

entidades possam prestar serviços à população.

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Por outro lado, mesmo com situação financeira e operacional complicada, a entidade

despertou interesses de grupos de investidores nacionais e internacionais em 2014. Contudo,

segundo Pitombo (2014, p. 1)dentre os problemas encontrados nesse processo foi “[...]

encontrar uma equação financeira capaz de tornar o negócio viável”, sendo que uma das

opções de investimentos foi a aquisição ou o arrendamento.

De acordo com Pitombo (2014), que corrobora com Souza (2012) e Amorim (2016), a

situação do Hospital Espanhol de Salvador se assemelha a outros casos brasileiros, a exemplo

da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2014) e tem relação, também, com as práticas de

gestão das entidades que gerenciam essas instituições, sendo determinantes para esses

problemas. Segundo Pitombo (2014, p. 1) “No caso do Espanhol, uma sucessão de erros dos

gestores da unidade é apontada como principal motivo da crise, que veio à tona há 4 anos”.

Dentre os fatores que impactaram a situação de insolvência do Hospital Espanhol de

Salvador, destaca-se aumento de endividamento para construção de unidades médicas e

aquisição de novos equipamentos. Assim, em 2013, a partir de uma operação financeira

intermediada pelo Governo do Estado da Bahia, o Hospital conseguiu realizar um empréstimo

da ordem de R$ 105 milhões junto a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Agência de

Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), que se constitui em entidade financeira vinculada

a Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia (PITOMBO, 2014). Por outro lado, algumas

exigências foram realizadas pelas entidades financeiras, dentre as quais a “[...]

profissionalização da gestão hospitalar, redução de gastos e aumento do faturamento”

(PITOMBO, 2014, p. 1).

5.2 DA CRISE FINANCEIRA, RETOMADA DAS ATIVIDADES E A FALÊNCIA DO

HOSPITAL ESPANHOL

Conforme destacado anteriormente, em 2013, o Hospital Espanhol obteve empréstimos

que tinha por objetivo contribuir na melhoria das condições financeiras da entidade. Em

decorrência disso, o estatuto da instituição foi modificado, sendo incluído a Secretaria

Estadual de Saúde (SESAB) e o Planserv. Dentre os objetivos da nova composição, estava a

proposta de ampliar o atendimento para pacientes decorrentes do SUS (SEIXAS, 2013).

No ano de 2013 denúncias sobre desassistência aos pacientes do SUS e da rede privada

passaram a ser veiculada na mídia, devido a indícios de que o Hospital não havia suspendido

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atendimentos de emergência, bem como, em função das dificuldades operacionais e

financeiras em que a entidade passou a viver

No início de 2014, o Hospital Espanhol passou a dispor de uma nova estrutura de

governança, que também foi fruto do acordo vinculado a operação de crédito realizada junto à

CEF e o Desenbahia, composta por membros da comunidade espanhola, o Governo do Estado

da Bahia e a Fundação José Silveira, entidade sem fins lucrativos (PITOMBO, 2014;

SEIXAS, 2014a).

Segundo Seixas (2014b, p. 1) “A decisão foi tomada com base no cumprimento de

metas designado pela Caixa, como contrapartida ao pagamento parcelado da verba que, desta

vez, servirá para pagar médicos, funcionários e fornecedores”. Destaca-se que o hospital

passou a operar buscando recuperar as suas atividades normais. Contudo, a redução do quadro

de funcionários e especialistas passou a comprometer os atendimentos.

Com a situação financeira a proporção de pacientes decorrentes de convênios e

decorrente do SUS inverteu, impactando significativamente no faturamento do hospital, tendo

em vista que a partir de 2014 o quantitativo maior passou a ser do SUS. Como conseqüência,

o Hospital a partir de 2014 passou a realizar processos de demissão em massa, com aumento

significativo de processos trabalhistas, devido ao não recolhimento de direitos dos

funcionários, a exemplo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem como em

função de atrasos nos salários (SEIXAS; 2014a; SILVEIRA, 2014).

Cabe destacar que o processo de demissão realizado pelo Hospital, reduzindo, assim, o

quadro, tinha por objetivo reduzir o impacto da folha de pagamento na situação financeira da

entidade - que já vinha deficitária desde 2011 e que passou a se agravar em 2013. As

demissões afetaram tanto a unidade em Salvador quanto no interior, em Nazaré-Ba, sendo

demitidos profissionais das áreas de serviços gerais, técnicos de enfermagem, enfermeiros,

dentre outros, além de médicos (SILVEIRA, 2014).

Em face da situação em que se encontrava o hospital e da dificuldade de restabelecer a

saúde financeira da entidade, após um período à frente da gestão do hospital e em função de

dificuldades para redução dos gastos, melhorarem as receitas da entidade, além de

dificuldades com novas operações de empréstimos, a Fundação José Silveira declinou de

continuar na gestão e assumir de forma plena o Hospital, que foi uma das exigências da CEF

(PINTOMBO, 2014).

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Com a saúde financeira insolvente e dificuldades para restabelecer as atividades

operacionais, o Hospital Espanhol passou a descontinuar as suas atividades. Em 2017, em

função dos passivos trabalhistas o imóvel que abrigava o hospital foi direcionado para leilão

para pagamentos das obrigações da entidade. Contudo, o Tribunal Superior do Trabalho

(TST) suspendeu o leilão devido a solicitação da CEF que “[...] em 2013, adquiriu parte do

imóvel penhorado, e vale até o julgamento do mérito de recurso interposto pela CEF contra a

penhora” (TST, 2017, p. 1).

De acordo com o TST (2017, p. 1):

A transação que transferiu parte do imóvel à CEF foi considerada como fraude à

execução pela Justiça do Trabalho da Bahia, e o bem foi penhorado em 2016 para o

pagamento de dívidas trabalhistas do hospital, que encerrou suas atividades em

2014. A Caixa recorre por meio de agravo de petição ainda não julgado pelo

Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (BA) no qual defende a validade da

transação imobiliária, afirmando que, de acordo com a Certidão Negativa de

Débitos Trabalhistas emitida à época, a Real Sociedade não estava inadimplente

perante a Justiça do Trabalho... (TST, 2017, p. 1).

Após todo um processo de descontinuidade das atividades operacionais em função da

insolvência e devido a dificuldades na retomada das atividades do Hospital, o que o levou a

falência, a entidade foi colocada a venda. Contudo, esse processo apresentou vários entraves.

Tal situação pode ser observada, conforme destaca Silva (2017b, p. 1):

Um dos mais emblemáticos casos, o do Hospital Espanhol, ali arquivado e

tramitando desde o fechamento da unidade hospitalar, em 2014, parece não ter

desfecho. Nem mesmo tal sentença resolveu o caso (SILVA, 2017, p. 1).

Lavrada em abril de 2015 pela juíza do trabalho Ana Paola Santos Machado Diniz,

ela determinava a penhora unificada (leilão) dos ativos que restaram à Real

Sociedade Espanhola de Beneficência e o pagamento, com os valores arrecadados,

dos direitos trabalhistas dos cerca de 1.700 ex-funcionários do hospital.

Hoje, dois anos mais tarde, apenas um leilão ocorreu. Mas a proposta apresentada

era insuficiente para pagar as dívidas da entidade, atualmente avaliadas em R$ 450

milhões, sendo R$ 180 milhões em trabalhistas (SILVA, 2017, p. 1).

Enquanto isso, longe dali, outra sentença, emitida em agosto último pela primeira

instância da Justiça comum, declarou o estado de insolvência (equivalente à

falência) da Real Sociedade (SILVA, 2017, p. 1).

Com a declaração, assinada pela juíza Lizianni de Cerqueira Monteiro, o

administrador judicial (interventor) Paulo Sérgio Neves Cruz foi nomeado para o

caso, com a função de pagar as dívidas da entidade vendendo o que ainda resta de

bens (SILVA, 2017, p. 1).

Distintas, as duas sentenças sobre a mesma pauta expõem a divergência entre TRT-5

e TJ-BA sobre qual instância é responsável pelo caso. Além disso, ameaçam colocar

os dois órgãos no centro de uma disputa judicial, deixando ainda mais indefinido o

rumo do processo.

Conforme pode ser observado apesar de ter sido decretada a falência e o hospital ter

deixado dívidas que acumulam mais de R$ 400 milhões, observa-se que a situação ainda

continua com muitos impasses. A decisão quanto ao leilão ou venda direta gerou travas que

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provocaram atrasos na liquidação de dívidas dos credores e dificultam, também, a

possibilidade de ingresso de investidores do setor.

Cabe destacar que os bens foram penhorados, conforme decisão do TRT-5 e o TJ-BA

declarou insolvência da empresa administradora do Hospital, apresentando, contudo, decisões

opostas, conforme pode ser observado na Figura 4.

Figura 4 - Decisões opostas da Justiça comum e da Justiça do Trabalho trata do mesmo caso

Fonte: SILVA (2017b, p. 1).

Ainda em 2017 o pedido de insolvência foi suspenso haja vista que, segundo Silva

(2017b, p. 1) “[...] foi suspensa temporariamente (por meio de liminar), no último dia 20, pela

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desembargadora Lisbete Maria Teixeira Almeida Cézar Santos, até que um pedido de

apelação (recurso) feito por uma ex-funcionária do Hospital Espanhol seja julgado pelo TJ-

BA. Ainda nesse sentido, destaca Silva (2017b, p. 1) que:

No pedido, que havia sido rejeitado pela juíza Lizianni Monteiro, o advogado de

Luciene Oliveira de Jesus, Denivaldo Araújo, pede a anulação da insolvência

declarada por ela própria (SILVA, 2017b, p. 1).

No documento, ele alega irregularidades no processo, afirmando que o estado

(equivalente à falência) não poderia ser concedido já que os bens do hospital haviam

sido destinados a leilão pelo TRT-5 dois anos antes (SILVA, 2017b, p. 1).

Segundo Silva (2017b) uma série de fatores foram levantados pelo TJ-BA em

questionamento as operações financeiras realizadas pela CEF e Desenbahia que tem

provocado divergência entre os Tribunais, os quais podem ser observados no Quadro 1,

abaixo.

Quadro 1 - Juíza Critica Concessão de Empréstimo Bancário Na decisão de 2015 que determinou a penhora unificada dos bens da Real Sociedade Espanhola, a juíza do

TRT-5 Ana Paola Santos Machado Diniz afirmou que a CEF agiu “ardilosamente” ao conceder um empréstimo

de R$ 57,6 milhões à instituição beneficente.

Na ocasião, de acordo com a magistrada, “a CEF tinha plena consciência da dívida trabalhista pendente” e, por

causa disso, optou pela alienação fiduciária como modelo de garantia.

Nele, o credor passa, temporariamente, a ser proprietário do imóvel dado como garantia – o que se torna

definitivo, caso a dívida não seja paga.

A escolha da Caixa, segundo o texto da juíza, “caracteriza perfeitamente a fraude nessa operação bancária”.

Isso porque, sustenta ela na sentença, o banco escolheu “blindar melhor o patrimônio”, sabendo do histórico de

inadimplência do hospital.

A magistrada também levanta a possibilidade de “eventuais remessas a contas no exterior”, ao citar, além do

empréstimo da CEF, o crédito de R$ 58 milhões concedido pela Desenbahia à Real Sociedade.

Procurada, a CEF sustenta “que a operação financeira celebrada foi inteiramente regular, tendo obedecido às

normas que lhe eram aplicáveis à época”.

Já a Desenbahia, que pediu a falência da Real Sociedade à Justiça, disse que “para a agência de fomento, o

tratamento jurídico decorrente da declaração de falência é o que melhor atende à diversidade dos credores do

Hospital Espanhol”.

Gestores

Na sentença, a juíza Ana Paola Diniz lista uma série de gestores que, segundo o texto da decisão, poderão ser

“inseridos como devedores subsidiários” caso o patrimônio da instituição não quite o passivo trabalhista.

Entre eles, é citado o atual titular da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e ex-diretor médico do

Hospital Espanhol, Fábio Vilas-Boas.

Foi na gestão dele que o governo do estado manifestou interesse em adquirir o hospital para transformá-lo em

unidade do Planserv (seguro saúde dos servidores).

Procurada por A TARDE semana passada, a Sesab reafirmou o desejo, mas não deu mais detalhes sobre a

questão. Vilas-Boas também não respondeu às mensagens da reportagem. A Secretaria de Administração

(Seab), responsável pelo Planserv, também não se posicionou até o fechamento.

Fonte: Silva (2017b, p. 1).

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Cabe destacar que a insolvência do Hospital Espanhol foi decretada em 2014, quando

se verificou a incapacidade de pagamento das obrigações para com os credores (AGUIAR,

2017). Na sequência, mesmo após tentativas de retomar as atividades do hospital, através de

operações de créditos intermediado pelo Governo do Estado da Bahia, o hospital não

conseguiu se restabelecer e foi decretado a falência.

Tal situação pode-se concluir, foi fruto de um conjunto de práticas de gestão que

levaram ao aumento do endividamento, aumento dos custos operacionais e dos gatos para a

manutenção da entidade, além de decisões relacionadas à expansão do Hospital que

aumentaram o nível de alavancagem financeira, os custos fixos, e, conseqüentemente, a perda

da capacidade de pagamento. Ademais, destacam-se dificuldades decorrentes de não repasses

de recursos por parte da Prefeitura de Salvador, que a época contratava o Hospital para cobrir

serviços médicos não disponíveis no âmbito do município.

Ademais, verificou-se que a empresa administradora, assim como apontou o Souza et.

al., (2012) teve papel crucial na falência do hospital, na medida em que não foi capaz de

antever os riscos envolvidos em suas operações, adotadas medidas de gestão e monitoramento

dos indicadores econômicos e financeiros, conforme destacam Souza et. al., (2012) e Amorim

(2016) que, embora não seja preciso na indicação de falência, na gestão do desempenho

econômico e financeiro das entidades, a partir dos modelos de insolvência e dos indicadores é

possível identificar indícios que podem contribuir para formulação de estratégias que auxilie

na mitigação dos riscos.

Observam-se nas análises e nos fatos que foram evidenciados pela mídia e justifica

que não há a sinalização dos indicadores de endividamentos e liquidez do Hospital, o que, em

princípio, uma falta de profissionalização da gestão do Hospital.

Por fim, a seguir, por meio do Quadro 2 e Quadro 3 pode-se observar, por meio de

uma linha do tempo questões que foram divulgados no período, bem como, algumas matérias

que foram divulgadas sobre o Hospital Espanhol no período.

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Quadro 2 - Alguns fatos identificados no período de 2011 a 2017.

Período Questões Fatos

2011 Início da Crise Financeira

Dificuldades operacionais e financeiras para pagamento de

compromissos e manutenção das atividades

2012

Dificuldades de Caixa e

pagamentos não recebidos

O hospital apresentava dificuldades para pagamentos dos credores

e, também, convivia com dificuldades de repasses da Prefeitura

Municipal de Salvador decorrente de serviços prestados a

pacientes dos municípios que eram pagos pela Prefeitura (Nova

gestão da prefeitura iniciou em 2012 revisão de seus contratos e

bloqueou alguns pagamentos)

2013

Interrupção de Atividades Paralisações de atividades pelos médicos e funcionários

Operação de Crédito para reduzir

os problemas financeiros Empréstimo com a Caixa Econômica Federal e Desenbahia

Acordo junto ao Ministério do

Trabalho

Melhoria de condições de trabalho, ampliação do quadro de

funcionários, dívidas trabalhistas

Aumento das dificuldades

financeiras

Dívidas trabalhistas e decorrente de Financiamento junto do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) para construção de prédio anexo.

Mudança estatutária

Inclusão no Conselho da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) e

outro do Planserv, como contrapartida ao empréstimo da

Desenbahia

2014

Atrasos de salários

Dificuldades para pagar salários de funcionários e recolhimento de

direitos trabalhistas

Interrupção de Atividades Paralisações de atividades pelos médicos e funcionários

Mudança na Gestão

Novo conselho de administração: membros da comunidade

espanhola, Governo da Bahia e Fundação José Silveira

Caixa exige que a Fundação José

Silveira assuma a gestão completa

do Hospital

Fundação José Silveira declina e encerra parceria

Investidores despertam interesse na

estrutura

Grupos Nacionais e Estrangeiros (espanhóis) negociavam para

assumir a estrutura do Hospital

Estado decreta o imóvel como

sendo de utilidade pública

Especulação de que investidores do setor imobiliário possuíam

interesse na estrutura, o que impacta diretamente na oferta de

serviços de saúde. O objetivo é evitar que o hospital fosse vendido

com outros fins que não a assistência à saúde.

Governo cogita assumir o hospital Governo sinaliza a possibilidade de tornar o hospital público.

Demissões e direitos trabalhistas

Processos judiciais em função de direitos trabalhistas não pagos

(FGTS) e demissão em massa

Encerramento das Atividades

(Fechamento do Hospital)

Dívidas de mais de 200 milhões de rais com bancos, fornecedores,

médicos, funcionários

Transferência de pacientes

2015 Decisão TRT-5

Cumprimento de decisão de penhora para pagamento de créditos

trabalhistas

2016 Justiça determina venda do hospital

Obrigações trabalhistas e com credores levaram a decisão da

justiça para venda da entidade

2017

Justiça declara insolvência

Descontinuidade das atividades em função de dificuldades de

caixa para pagamento das obrigações

Insolvência

TJ-BA suspende insolvência da Real Sociedade até julgamento de

pedido de funcionários

Falência Pedido de falência do Hospital Espanhol é negado pela justiça

Leilão Liminar suspende leilão do Hospital Espanhol de Salvador (BA)

Endividamento R$ 450 milhões (2017), sendo R$ 180 milhões em trabalhistas.

Conflito entre TRT-5 e TJ-BA

Dificuldades em definir em que instância o caso deveria tramitar.

TJ-BA declarou falência e nomeou administrador judicial

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa (2018)

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Quadro 3 - Eventos divulgados pelos jornais de grande circulação (regional e nacional) sobre o caso

do Hospital Espanhol

Período Eventos Fonte:

29/04/2013

MP acionará Hospital Espanhol por

desassistência ao SUS

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1500115

-mp-acionara-hospital-espanhol-por-desassistencia-ao-

sus

22/05/2013

Espanhol recebe ajuda do estado e cobra

dívida da prefeitura

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/sindicat

o-diz-que-hospital-espanhol-efetua-demissao-em-

massa-1612371

13/02/2014 Hospital Espanhol modifica gestão e reabre

UTI geral

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1568593

-hospital-espanhol-modifica-gestao-e-reabre-uti-geral

04/07/2014

Hospital Espanhol demite para driblar crise

financeira

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/hospital-

espanhol-demite-para-driblar-crise-financeira-1603556

07/08/2014

Sindicato diz que Hospital Espanhol efetua

demissão em massa

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/sindicat

o-diz-que-hospital-espanhol-efetua-demissao-em-

massa-1612371

12/09/2014 Hospital Espanhol, de Salvador, transfere

últimos pacientes

https://saudebusiness.com/noticias/hospital-espanhol-

de-salvador-transfere-ultimos-pacientes/

15/09/2014

Hospital tradicional com 300 leitos fecha as

portas em Salvador

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/09/15210

60-hospital-tradicional-com-300-leitos-fecha-as-portas-

em-salvador.shtml

02/12/2016

Justiça determina publicação de edital para

venda do Espanhol

https://www.bahiadevalor.com.br/2016/12/justica-

determina-publicacao-de-edital-para-venda-do-

espanhol/

17/02/2017

Estado poderá participar de leilão do Hospital

Espanhol, diz Rui

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/02/estado-

podera-participar-de-leilao-do-hospital-espanhol-diz-

rui/

20/02/2017 TRT5-BA irá publicar edital para venda do

Hospital Espanhol

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/02/trt5-ba-ira-

publicar-edital-para-venda-do-hospital-espanhol/

08/03/2017

TRT5 publica edital para venda do Hospital

Espanhol

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/03/trt5-publica-

edital-para-venda-do-hospital-espanhol/

17/03/2017 Pedido de falência do Hospital Espanhol é

negado pela justiça

http://varelanoticias.com.br/pedido-de-falencia-do-

hospital-espanhol-e-negado-pela-justica/

31/05/2017 Comissão de credores recusa proposta

oferecida pelo Espanhol

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/05/comissao-de-

credores-recusa-proposta-oferecida-pelo-espanhol/

02/06/2017 Tribunal Regional do Trabalho suspende

leilões do Espanhol

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/06/tribunal-

regional-do-trabalho-suspende-leiloes-do-espanhol/

05/06/2017 Liminar suspende leilão do Hospital

Espanhol de Salvador (BA)

https://tst.jusbrasil.com.br/noticias/466048311/liminar-

suspende-leilao-do-hospital-espanhol-de-salvador-ba

26/09/2017

Justiça decreta insolvência do Hospital

Espanhol

http://bahia.ba/justica/justica%C2%ADdecreta%C2%A

Dinsolvencia%C2%ADdo%C2%ADhospital%C2%AD

espanhol/

28/09/2017 Proposta para compra do Hospital Espanhol é

rejeitada

https://www.bahiadevalor.com.br/2017/09/proposta-

para-compra-do-hospital-espanhol-e-rejeitada/

27/11/2017

Interventor nomeado por juíza para o

Espanhol é ex-funcionário da Real Sociedade

http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1915464

-interventor-nomeado-por-juiza-para-o-espanhol-e-

exfuncionario-da-real-sociedade

Caso do Hospital Espanhol vira disputa entre

TRT e TJ-BA http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1915400

-caso-do-hospital-espanhol-vira-disputa-entre-trt-e-tjba

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa (2018).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo analisar os fatores que contribuíram para a

insolvência do Hospital Espanhol, localizado na Cidade de Salvador-Ba. Para tanto realizou-

se uma pesquisa exploratória, de natureza bibliográfica e documental, com uma abordagem

teórica e uma análise ilustrativa sobre insolvência do Hospital Espanhol de Salvador.

A partir da revisão da literatura, pode-se observar a insolvência das organizações estão

relacionadas por um conjunto de práticas de gestão que comprometem a capacidade de

pagamento das entidades, elevam o endividamento corporativo, reduz a liquidez dos ativos e

impactam na rentabilidade negócio. No entanto, existem um conjunto de modelos que podem

apoiar os gestores na mensuração da solvência corporativa e antecipar riscos de insolvência e

falência. Dentre os modelos destacam o modelo de Altman, o modelo de Pereira, o modelo de

Matias, o modelo de Kanitz e o modelo de Elizabetsky que podem contribuir para decisões

que evitem a descontinuidade organizacional.

No que se refere aos fatores evidenciados pela mídia que contribuíram para a

insolvência do Hospital Espanhol, localizado na Cidade de Salvador- Ba, destacam-se o alto

grau de endividamento, investimentos realizados que não impactaram no aumento do

faturamento da entidade, dificuldades para manutenção das atividades operacionais do

hospital em função da redução do quadro de funcionários na tentativa de melhorar a liquidez

da organização, assim como a falta de profissionalização da gestão do hospital que não

sinalizou ações robustas capazes de reverter o déficit do hospital e retomar as suas atividades.

Observa-se, ainda, que o Hospital foi objeto de impasses jurídicos que prejudicaram os

processos de negociação com credores, na medida em que houve diferentes entendimentos

entre o TJ-BA e o TRT-5, que impediram a realização da venda de ativos, bem como, o leilão

do hospital. Ademais, destaca-se que o volume de processos trabalhistas que foram sendo

acumulados ao longo dos anos impactou no aumento do endividamento da entidade que já

acumulava dívidas com os seus credores, bancos e parceiros, o que comprometeu as

atividades operacionais.

Recomenda-se como pesquisas futuras um estudo sobre o desempenho econômico

financeiro antes e após o ano de 2011, quando os primeiros sinais de dificuldades financeiras,

segundo a mídia, apareceram para que seja analisado o antes e depois e identificados questões

centrais que inviabilizaram a retomada das atividades do Hospital e, conseqüentemente,

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levaram ao processo de falência. Sugere-se, ainda, uma pesquisa de campo com os atores

envolvidos no processo para levantar questões importantes que não estão publicadas.

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