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1 Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Teoria e Prática de uma Educação Integral

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Todo trabalho de pesquisa acadêmica visa buscar, encontrar e socializar algum conhecimento. Para chegar à etapa final, o pesquisador segue um conjunto de métodos e técnicas, utiliza instrumentos compatíveis com sua pesquisa e dialoga, se necessário, com outros ramos do saber humano, os quais possuem suas peculiaridades, além de terem facetas de considerável mistério, inerentes a cada um deles. Sob a égide dessa consideração, começamos a trilhar os meandros da nossa pesquisa, em busca de elementos que dessem suporte às nossas intuições sobre o significado e o papel da educação, por sentirmos a necessidade de os educandos precisarem de algo a mais do que apenas informações que os preenchessem conceitualmente. Desta forma, começamos a nos perguntar: que tipos de conhecimentos são necessários para a formação integral do ser humano? Que tipo de aptidões, habilidades, competências e valores são indispensáveis para sua formação? Enfim, como deve se dar a prática educativa?

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2006 2006 2006 2006 2006

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Editoração e Projeto Gráfico:Sathyarte Arte e Mídia Ltda.

Capa:Ana Paula Amorim

B273 Barreto, Maribel Oliveira Teoria e Prática de uma Educação Integral /Maribel Oliveira Barreto - 1. ed. Salvador: Sathyarte, 2006.

322p.: il.; 15x21 cm.

BibliografiaISBN

1. Educação - Valores Humanos. 2. Educação - Estudo. 3. Consciência. I. Título.

CDU: 37.013

1ª Edição - Salvador/Bahia, 2006.Direitos desta edição reservados à autora,

que permite e estimula a reprodução de parte do livro,desde que seja citada a fonte.

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Enquanto é dissociada a educação do corpo, daeducação da alma, significa que as ciências aindaabstêm-se do que indica a noção exata deConsciência e de Lei Natural, para a evoluçãoabreviada consciente do gênero humano; e,enquanto assim, os Seres Humanos inclinam-sena busca unicamente da segurança, satisfação efelicidade, sem a razão, o bom senso e a boaintenção; por conseguinte, sem a sabedoria, aforça e a beleza nas ações.

(A Arca, II.13:3752)

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AAAAAGRADECIMENTOSGRADECIMENTOSGRADECIMENTOSGRADECIMENTOSGRADECIMENTOS

A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,A DEUS,Pela nossa gratidão de existir...

A Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NAA Mãe, Mestra e Serva NATUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,TUREZA,Pela dedicação e zelo, pelas orientações claras,seguras e definitivas, bem como pela doação doselementos básicos, fundamentais, necessários àsnossas concepções, elaborações e realizações.

A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,A todos os SERES HUMANOS,Por nos proporcionarem asexperiências do dia-a-dia que nosoportunizam alcançar o valor real dasrelações - porquanto ninguém viveisolado -, para que compreendamos “O“O“O“O“OREAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”REAL DA VIDA”.

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Já não é sem tempo que iniciamos a abrir um lugar emnossos espaços acadêmicos para estudos sobre educação combase em compreensões da Filosofia Perene, das MetodologiasTransdisciplinares e Holísticas, assim como dos OlharesDenominados de Místicos, que nada mais são que modos dever e viver com um estado ampliado de consciência.

Em minhas atividades de professor e orientador deestudos e pesquisas na Pós-Graduação, dentro do Programade Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação,Universidade Federal da Bahia, tenho procurado abrir espaçospara aqueles estudantes que se sentem chamados para essesfocos de estudos.

Maribel Oliveira Barreto foi uma dessas orientandasque teve sua atenção e seu coração atraídos por um dessestemas e dedicou-se ao estudo das compreensões emergentesdos discursos e das condutas do Avatar Sri Sathya Sai Baba,homem santo, que vive no sul da Índia, promovendo atos decaráter religioso, num amplo sentido de síntese de váriossegmentos religiosos do passado e do presente, assim como

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praticando e constituindo serviços sociais e educativos a favornão só dos indianos, mas dos povos do mundo.

Hoje, o nome de Sai Baba correu e corre pelo mundo,atraindo milhares de pessoas que viajam para Punta-Parti, Sulda Índia, onde reside, tendo em vista receber e partilhar doseu saber e de sua santidade. Ao lado de milhares e milharesde outros que nunca se sentiram atraídos para dirigir-se até oAshram de Sai Baba, mas que se sentiram convidados aaproximar-se de sua doutrina, assim como pelas suasorientações para os diversos campos da vida e para a educação.

O texto que ora se publica, cujo titulo é Teoria e Práticade uma Educação Integral, nasceu da tese de Doutoramentode Maribel Barreto, no nosso Programa de Pós-Graduaçãoem Educação, FACED/UFBA, sob o título “Sai Baba - Teoriae Prática de uma Educação Integral”, defendida publicamenteem 21 de junho de 2004.

Tendo em vista oferecer ao leitor uma base filosóficaque segue na mesma direção da doutrina de vida e da doutrinapedagógica de Sathya Sai Baba, deixando claro que a visãointegral não é propriedade de místicos e religiosos, a autorada presente publicação expõe, inicialmente, as perspectivasdo pensamento filosófico de Ken Wilber, pesquisador norte-americano da Psicologia Transpessoal, que, pessoalmente,eu preferia dizer que ele é um pesquisador da FilosofiaTranspessoal, que sente a necessidade, em seus estudos, denão deixar de fora os aspectos psicológicos constitutivos doser humano, nesta experiência de vida, da mesma forma quenão deixa de fora contribuições da história, da antropologia,da física quântica, entre outras áreas de estudos. Ou seja,propor uma visão integral do ser humano é também umatarefa de filósofos e pesquisadores de variadas ciênciascontemporâneas.

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Nesse sentido, foi importante Maribel Barreto trazerpara dentro de sua obra o pensamento de Wilber. Todavia,vale a pena ressaltar que, para tratar das proposiçõespedagógicas emergentes da doutrina de Sathya Sai Baba,não se fazia (nem se faz) estritamente necessária qualquerincursão por outro pensamento a não ser o do próprio místicoindiano.

Assim sendo, se o leitor o desejar, poderá introduzir-seno pensamento de Wilber, que é bastante interessante, ameu ver, ou poderá, não se dedicando a ele, ir diretamentepara os capítulos que tratam da doutrina e das ações sociaise educativas de Sai Baba, expostas no texto que ora se publica.

Considero o texto bastante abrangente e ilustrativo dacompreensão de uma proposta de educação integral do serhumano, tendo como fonte a “Educação em ValoresHumanos”, como vem sendo denominada a doutrina educativaemergente de Sai Baba.

O texto de Maribel Barreto é simples, direto econsistente sobre o tema que se propõe a abordar e o leitorencontrará nele uma boa configuração do pensamento e daprática educativa, emergente das atividades do mestre “dasíntese” entre as grandes religiões, assim como entre asgrandes filosofias da humanidade, cujo nome sagrado é SriSathya Sai Baba. Sai Baba se define como aquele que produzuma síntese de tradições sagradas e filosóficas, por isso, emseu emblema, traz os símbolos do judaísmo, cristianismo,budismo, maometanismo, dadaísmo.

Acredito que o estudo de Maribel Barreto podeencorajar outros pesquisadores a empreenderem estudossemelhantes, paralelos e afins, vagarosamente, superandopreconceitos que temos com as fontes de conhecimento, quetêm como centro a visão e a vivência mística.

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Enquanto cada um desses pesquisadores não semanifesta, podemos ir nos deliciando com os estudos deMaribel e de outros assemelhados, abrindo espaços em nossasmentes e corações para as múltiplas possibilidades decompreender e agir na vida, na busca sempre de um modomais amplo e pleno de viver, consigo mesmo, com o outro,com o meio ambiente e com o sagrado, uma dimensão umtanto fora de moda no momento presente, acredito eu, devidoà confusão ou superposição das experiências do sagrado comose fossem experiências religiosas. Estas últimas podem ser eusualmente são confessionais, mas, as primeiras, nãonecessariamente, são confessionais. As experiências dosagrado pertencem às manifestações existenciais dos povos.Carl Gustav Jung realizou profundos e longos estudos sobreisso, não compreendendo as experiências do sagrado comoexperiências confessionais, mas sim como experiênciasprofundas do ser humano.

Parabéns, Maribel, e bons proveitos a todos os leitoresque vierem a ter este livro nas mãos. Desejamos que sejammuitos.

Salvador, Bahia, agosto de 2006.

Cipriano Carlos Luckesi

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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução .................................................................................................................................................................................................................................................................... 1 31 31 31 31 3

Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo IIIII .............................................................................................................................................................................................................................................................................. 2 72 72 72 72 7DA NECESSIDADE DA FORMAÇÃO INTEGRAL

DO SER HUMANO

Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo IIIIIIIIII ......................................................................................................................................................................................................................................................................... 7 17 17 17 17 1A COMPREENSÃO DO PENSAMENTO DE SAI BABA

Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo IIIIIIIIIIIIIII ............................................................................................................................................................................................................................................................... 127127127127127EDUCAÇÃO INTEGRAL FUNDAMENTADA EM

VALORES HUMANOS

Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo IVIVIVIVIV ..................................................................................................................................................................................................................................................... 193193193193193O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES

HUMANOS: PRINCÍPIOS E PRÁTICAS

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais .......................................................................................................................................................................... 259259259259259

ReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasReferências ..................................................................................................................................................................................................................................................... 279279279279279

NotasNotasNotasNotasNotas .................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 305305305305305

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IIIIINTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO

Todo trabalho de pesquisa acadêmica visa buscar,encontrar e socializar algum conhecimento. Para chegar àetapa final, o pesquisador segue um conjunto de métodos etécnicas, utiliza instrumentos compatíveis com sua pesquisa edialoga, se necessário, com outros ramos do saber humano,os quais possuem suas peculiaridades, além de terem facetasde considerável mistério, inerentes a cada um deles.

Sob a égide dessa consideração, começamos a trilharos meandros da nossa pesquisa, em busca de elementos quedessem suporte às nossas intuições sobre o significado e opapel da educação, por sentirmos a necessidade de oseducandos precisarem de algo a mais do que apenasinformações que os preenchessem conceitualmente.

Desta forma, começamos a nos perguntar: que tiposde conhecimentos são necessários para a formação integraldo ser humano? Que tipo de aptidões, habilidades,competências e valores são indispensáveis para suaformação? Enfim, como deve se dar a prática educativa?

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Com essas questões em mente, lançamo-nos à investigação,na tentativa de buscar respostas.

O início dessa jornada científica corresponde a nossaprópria história profissional, traçada ao longo dos últimos dozeanos. Foi exatamente a partir da nossa experiência comoeducadora, durante esses anos, que percebemos a carência deuma educação integral em nossas famílias e escolas. Tal fatotem sido demonstrado pelas condutas de educadores, educandose familiares, entre os quais a visão integral do ser humano nãotem servido de pano de fundo para a educação;predominantemente, as questões técnicas e pragmáticas têmocupado lugar em detrimento de uma formação integral.

Em paralelo a nossa prática de educadores, continuamosa investigar sobre esse tema. Tudo começou, quando optamospela graduação em Pedagogia. Nesse momento, aproximamo-nos das teorias educacionais, através das quais nossensibilizamos para a necessidade de uma educação integral.

Nesse sentido, continuamos nossas pesquisas durante ocurso de Mestrado em Educação, no qual trabalhamosconceitos que envolviam a ludicidade como recurso para umaeducação mais plena do ser humano. Vale ressaltar queoptamos, na construção da dissertação de Mestrado, por umaabordagem metodológica empírica, abordando descritiva eanaliticamente uma escola de Ensino Fundamental.

Mas, no presente momento da nossa vida acadêmica,não desconhecendo os riscos de tal empreitada, ousamosescolher uma temática que possibilitasse reflexõesaprofundadas sobre a realidade subjetiva inerente à dinâmicada vida, objetivando encontrar respostas para a seguinteindagação: como constituir uma proposta pedagógica quefavoreça a formação integral do ser humano?

Para responder a essa questão, debruçamo-nos sobre a

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concepção pedagógica e a prática educativa do Sri SathyaSai Baba, que hoje vive no sul da Índia, cujas doutrina eprática se expandem pelo mundo. Assim sendo, a abordagemteórica desta investigação teve como suporte a pesquisabibliográfica e documental dos discursos de Sai Baba. Estematerial foi coletado, organizado e atualizado. Além disso, aliteratura afim serviu-nos para o alargamento do tema.

Procedemos a investigação apoiadas metodologicamenteem Marconi e Lakatos (1999), que nos esclarecem: “Pesquisarno campo bibliográfico é procurar no âmbito dos livros edocumentos escritos as informações necessárias para progredirno estudo de um tema de interesse.” Nossa tarefa foi divididaem três momentos:

a. identificação de fontes seguras, relativas ao temaeducação integral;

b. localização de tais fontes, através de livros e escritosdiversos;

c. e, compilação das informações, fazendo a análisecrítica e síntese dos estudos, na perspectiva desistematizar e expor a compreensão de Sai Babasobre a educação integral do ser humano.

Tendo em vista a necessidade de encontrar um suporteteórico para esta abordagem do pensamento pedagógico deSai Baba, nossa pesquisa passou por estudiosos e pesquisadoresdas mais diversas origens, acadêmicas ou não, tais como FritjofCapra, Humberto Maturana, Stanislav Grof, Edgar Morin, DavidBohm, Stephen Hawking, Abrahm Maslow, Dalai Lama, CarlGustav Jung, entre outros, até conseguirmos encontrar um autorque trouxesse argumentos consistentes e concisos para acompreensão de uma abordagem integral do ser humano.Identificamos esse personagem em Ken Wilber. Este autor nosproporcionou o arcabouço teórico de compreensão de uma

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educação integral e nos forneceu o suporte para compreendere sistematizar o pensamento educacional de Sai Baba comouma abordagem integral da educação.

Neste percurso, verificamos também que a visão daeducação, fundamentada na concepção de Valores Humanosde Sai Baba, respondia aos anseios da educação para o séculoXXI, configurada no Relatório Internacional da Educação parao século XXI, da UNESCO, intitulado Educação: um tesouro adescobrir. A concepção de educação enfatizada por esseRelatório apresenta claramente os quatro pilares da educaçãopara o Século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer,aprender a viver juntos e aprender a ser. Estes, a nosso ver,configuram o que compreendemos como uma educação integral.

O Relatório afirma que os três primeiros objetivos oupilares da educação assentam-se sobre o quarto, ou seja, oaprender a conhecer, o aprender a fazer e o aprender aviver juntos só fazem sentido se estiverem assentados noaprender a ser, pois é o ser que integra, em si, as diversasdimensões da vida.

Assim, uma prática educativa, a partir de uma visãointegral, emerge como um antídoto, entre outros, para anossa sociedade, que está alicerçada no descuido com osvalores integrais do ser humano, demonstrado nas nossasações cotidianas, fazendo com que, do ponto de vista pessoal,tornemo-nos descuidados conosco mesmos e com os outrose, do ponto de vista da educação, formemos, na maioria dasvezes, profissionais e técnicos desatentos aos valores humanos.Cabe ressalvar que estes profissionais, no geral, tornam-secompetentes em suas ações específicas, mas, por vezes, nãosão capazes de compreender a realidade e agir em função dotodo. Assim, eles podem desenvolver uma ação eficiente,porém, nem sempre adequada do ponto de vista humano,seja ele individual ou coletivo.

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Neste sentido, tem se tornado premente a preocupaçãode todos com o estado de agressão à vida no planeta. Estainquietação conduz a pensar que o ser humano deve ser oalvo central de cuidados na formação da educação, em todasas suas modalidades. Urgem, portanto, mudanças radicaisnas ações humanas, as quais, na maior parte das vezes, estãocaracterizadas por um egocentrismo desumanizador, frutoda falta de atenção com as suas conseqüências. Exemplodisso é o uso da energia nuclear e fóssil em detrimento domeio ambiente e do próprio ser humano. O uso descuidadodestes recursos, por parte daqueles que têm técnicas eorçamento em seu poder, vem causando ao planeta danosinesperados e negativos, mostrando que o próprio ser humanotornou se produtor singular destes efeitos.

Infelizmente, presenciamos a circulação de somasvultuosas de dólares passadas de mão em mão pelo planeta,produzindo uma bola de neve especulativa e mostrando queo mercado globalizado move-se segundo suas próprias regras,na maior parte das vezes, a favor do lucro e em prejuízo daspróprias necessidades humanas.

Como se não bastasse, vivemos em uma civilização quetende à padronização e massificação, o que impõe umaperspectiva mecânica ao ser humano, que, vagarosamente,vai sendo administrado mais como uma máquina e menoscomo um ser vivo. Dessa maneira, a vida de todos vai sendoajustada a um mesmo ritmo, predominantemente, de acordocom as necessidades imediatas do todo globalizado, reduzindoas possibilidades da constituição de individualidades saudáveisque possam promover, diante de si e do outro, a tomada dedecisões éticas adequadas.

No que se refere à prática pedagógica, essa nova lógicaexige um tipo de trabalhador que saiba de tudo um pouco econsiga se adaptar, muito facilmente, a meios diversos, sob

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pena de sofrer marginalização. Neste contexto, a escolacomeça a assumir a postura de formar seres humanosgeneralistas, refletindo os interesses macro-econômicos emostrando que ela se adapta a essa etapa da história, namedida em que vem incorporando mudanças nos seuscurrículos e, fundamentalmente, nos seus valores.

De outro lado, temos o Estado, que, desde seunascimento, se amoldou aos poderes dos grupos dominantes,quer econômica quer politicamente, e, no presente, vematuando com a mesma lógica que movimenta as empresasmultinacionais, nas quais impera a lei do mais forte. Essamaneira de atuar faz com que entrem e saiam governos semque uma atenção especial seja dada às necessidades básicasda coletividade humana. Prova disso é que, por mais queestas carências sejam conhecidas e reconhecidas, não têmsido produzidas ações significativas para reduzir asdesigualdades sociais de alcance planetário, nem mesmo têmsido reparadas injustiças sociais históricas, como asdirecionadas às minorias colonizadas em tempos passados.

Observamos, também, o aumento do “fosso” que separaos países, fator acirrador da dependência e subordinaçãopresente entre o terceiro e o primeiro mundos, assim comoentre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos,reafirmando o fortalecimento das empresas transnacionais edos grandes bancos. Assim, estamos vivenciando oindividualismo institucionalizado, considerado como liberdadeindividual, o que produz conseqüências em todos os âmbitosda vida: políticos, econômicos, sociais e religiosos.

Além disso, a degradação ambiental, cada vez maisabrangente e inquietante, vem possibilitando riscos iminentescontra a vida e constituindo um desafiante obstáculo à açãode cientistas, políticos, administradores e governantes, assimcomo caminha pari passu com o próprio processo de uso e

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ocupação do solo, que se apresenta de forma desorganizadae desequilibrada em diversas partes do mundo. Isto mostracomo o ser humano, genericamente falando, através de umaação destituída de cunho ético, muitas vezes, tem agidosupostamente em favor de seu bem-estar, de forma destrutiva,seja para consigo mesmo como para com os outros.

Essa configuração do presente traz, em si, a nosso ver,exigências de que a conduta e a ação humanas sejamorientadas ou reorientadas por uma compreensão que tenhapor base a preservação, simultaneamente, da vida individuale coletiva. Isto, por sua vez, implica na necessidade da adoçãode novas perspectivas e novos modos de atuar em educação.

O predomínio da ética do lucro age em detrimento davida e em favor de um desmesurado descuido do ser humanoconsigo mesmo e com o outro, assim como com o meio emque vive. Todavia, vale ressaltar que, mesmo diante desse quadronegativo, não nos convence a afirmação de que o ser humanoé resultado de uma experiência que deu errado. Ao contrário,acreditamos que o ser humano é um ser inacabado e emprocesso e, por isso mesmo, educável, o que significa quepode e deve ser orientado para assumir uma práxis saudáveldiante da vida. Para tanto, propomos como recurso a educaçãoatravés dos Valores Humanos e reconhecemos que é inegável,no presente, a necessidade de uma visão integral do ser humanoem suas diferentes dimensões e necessidades.

Constatamos, ao longo da nossa busca de dados, que ocaminho percorrido pela humanidade nas suas diferentesetapas evolutivas, caracterizadas por distintos modos de sentir,pensar e agir, causou, inegavelmente, progressos e avançosque contribuíram para a melhoria da qualidade de vida dapopulação mundial, demonstrados pela melhoria de índicesde desenvolvimento humano e social.

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Por outro lado, o que observamos, de fato, é que oschamados progressos não conseguiram equacionar, comadequação, todas as dimensões do ser humano, levando-o aum desenvolvimento unilateral de suas potencialidades.Manifesta-se, assim, que o mesmo remédio que cura, se usadounidirecionalmente, também pode conduzir a limitações e,nas situações mais graves, à destruição.

Foi ao longo dos séculos XVI e XVII, sob a ótica damodernidade, que ocorreu uma diferenciação1 entre ciência,filosofia e religião. Este fenômeno, de substancial importânciapara o aprofundamento dos estudos científicos, libertou aciência para especular e investigar tudo o que quisesse, desdeos eventos da natureza até a psique humana. A partir dessemomento, o mundo se expandiu com os esforços físicos eintelectuais do próprio ser humano, fazendo emergir teoriascientíficas verdadeiramente comprováveis e reprodutíveis emqualquer lugar do planeta.

A diferenciação das esferas de valor do conhecimentoteve início com a gradual superação das idéias teológicassobre o universo pelo raciocínio crítico, pelos cálculosmatemáticos e, fundamentalmente, pela observaçãotecnicamente aperfeiçoada. Com os dogmas da Igreja postosem xeque, estava aberto o caminho para a visualização e oestabelecimento de uma nova cosmovisão, baseada emprincípios claros de racionalidade e liberdade individuais.

Foi nesse mesmo período – início modernidade – que aReforma Protestante libertou a consciência individual instituídapela Igreja Católica Apostólica Romana e a expôs diretamenteaos olhos de Deus; que o Humanismo Renascentista colocouo ser humano no centro do universo; que as revoluçõescientíficas conferiram ao homem a faculdade e as capacidadesde inquirir, investigar e decifrar os mistérios da Natureza; eque o Iluminismo, centrado na imagem do homem racional,

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científico, deu suporte para o entendimento da históriahumana como história das conquistas humanas.

A nobreza das idéias modernas propôs também a “pazuniversal”, que, infelizmente, até hoje, não se realizou; apontouo caminho para a auto-realização humana com a superaçãodo reino da necessidade, através das forças produtivas;evidenciou que o ideal de ciência era o de um saber a serviçodo ser humano, e não o de um objeto de manipulação, cego eseguidor de lógicas dissociadas de fins humanos; enfatizou quea sua moral era livre e visava, inclusive, a uma liberdadeconcreta, valorizando e pregando uma ordem em que o cidadãonão fosse oprimido pelo Estado e o fiel não fosse oprimidopela religião; e, além disso, gritou para todos os cantos domundo, fazendo ecoar a doutrina dos direitos humanos queembora fosse abstrata, transcendia os limites do tempo e doespaço e estava sempre aberta a proposições inovadoras,gerando, continuamente, novos objetivos políticos.

Deste modo, a ciência mostrou que suas estratégias eprincípios poderiam ser úteis tanto para ela mesma quantopara a sociedade. Todavia, contraditoriamente, essa mesmaciência esgarçou o tecido social, na medida em que, por seumodo de ser, produziu uma radical dissociação entre asesferas de valores (arte, moral e ciência), promovendo odistanciamento e a negação de uma para com a outra. Cadauma seguiu seu próprio caminho no percurso da vida. Essescaminhos, até hoje, não foram cruzados, predominando acosmovisão científica sobre as outras. Deste modo, podemosentender que isso foi uma distorção, possivelmente, necessáriapara dar impulso ao desvendamento da cultura.

Em outras palavras, os domínios da ciência, da moral eda arte (religião), até o início da modernidade, compunhamum todo indiferenciado. Com a distinção entre as esferas devalores, cada uma delas definiu-se especificamente, sendo

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que a ciência assumiu papel predominante, enquanto a fé ea razão estavam agora separadas em definitivo.

A ciência ocupou um largo espaço da religião comoautoridade doutrinária proeminente, sendo agora definidora,juíza e guardiã da visão cultural do mundo, ou seja, a Razãoe a observação empírica substituíram a doutrina teológica e arevelação como principais meios para a compreensão doUniverso. No entanto, o próprio remédio ofertado para curaras mazelas da humanidade a asfixiou. Prova disso é que, aofinal do século XVIII e início do XIX, a diferenciação dasesferas culturais já estava se transformando em dissociaçãopatológica. Ciência, arte e moral passaram, pouco a pouco,a não mais dialogar entre si. Essa falta de comunicaçãomontou o cenário para um forte domínio da ciência empírica– razão instrumental – sobre as outras esferas, passando aser predominante no discurso cognitivo do mundo ocidental.

A ciência passou, então, a ser monológica2, ou seja,uma ciência que não dialoga com as outras esferas de valores(arte e moral) em razão da convicção de que não existerealidade a não ser aquela revelada pelos instrumentosempíricos que contribuem para a descrição (monólogo) decomportamentos objetivos observáveis.

As complexas relações de poder, que também envolvema ciência, são responsáveis pela existência do grandedesequilíbrio cultural presente hoje. A visão dualista da realidadeimpregnada na ciência separa corpo e espírito, pensamento esentimento, ciência e religião, objetividade e subjetividade, bemcomo dissemina um comportamento individual e social voltadospara a competição ao invés da cooperação.

Deste modo, é possível entendermos que o cientificismose manifesta como pano de fundo mental e representacional denosso fragmentarismo, tanto teórico como prático. Pessoas

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separadas, auto-enclausuradas, fechadas, em busca de seusinteresses pessoais, mesmo que, muitas vezes, em prejuízo deterceiros, mas, muitas vezes, também de si mesmas, agindo, aolongo do tempo, como se não houvesse mais ninguém ao seuredor, comprometem a qualidade de vida no e do nosso planeta.

Não podemos negar, entretanto, que, no mundocontemporâneo, a ciência e a tecnologia têm trazido benefíciosinegáveis para a humanidade. Contudo, separadas da filosofia,da ética, da arte e da espiritualidade vêm acentuando a visãodualista da realidade e do ser humano, uma vez que perderamo referencial integral da existência humana.

Desta forma, a modernidade tem sido pautada pelopredomínio de uma das dimensões do ser humano: a dimensãoexterna. Esta, com certeza, manifesta parte de suasnecessidades e, portanto, é uma visão restrita, por não levarem conta as dimensões internas. Além disso, ainda que adimensão externa seja real e necessária, a exclusão dadimensão interna produz as distorções que vivenciamos eque, sinteticamente, apontamos anteriormente.

Neste momento da história, é constatável que jápassamos por diversas experiências sociais, já abraçamosdiversas teorias e a questão da integração do ser humanoainda está em aberto, instigando em nós o senso questionadorsobre o fato de que uma abordagem que zele somente peladimensão exterior do ser humano não basta. Contudo istonão quer dizer que devemos abandonar a ciência e a tecnologia,mas, sim, buscar integrá-las no todo do ser humano. Assimsendo, uma das reais necessidades contemporâneas é umaefetiva e peculiar revolução integral do ser humano.

Por outro lado, não podemos ser ingênuos em acreditarque uma revolução desta natureza se originará de elitesgovernantes ou será proveniente de instâncias superiores

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figuradas como ordem divina, numa dimensão de fora paradentro, ou da sociedade para o indivíduo, mas ocorrerá, sim,através de uma transformação que parta de dentro do serhumano, considerado na sua dimensão individual e coletiva.

Nosso apelo pela revolução integral do ser humanonão está afeto a nenhuma abordagem religiosa ou mítica. É,antes de tudo, um apelo por um equilíbrio de nossas mentes,para que possamos, pelo menos, iniciar uma jornada quenos distancie da nossa rotineira preocupação com nossosegos3, e não nos esqueçamos de que somos apenas umapeça dentro de um conjunto.

Evidencia-se, portanto, em todas as instâncias sociais, anecessária reivindicação dos seres humanos para passarem aser tratados como organismos vivos, capazes de sentir, pensar,agir e construir valores. Entendemos que só a educação écapaz de preparar o solo que propiciará essa mudança.

O projeto educativo deve, então, tentar integrar e nãoafastar o ser humano de si mesmo. Isto implica em terpresentes seus valores subjetivos, além dos objetivos,proporcionando aos educandos condições de uma formaçãoadequada, para que possam descobrir em si mesmos suastendências e valores próprios, bem como sua finalidade deexistir, seus deveres naturais para com a vida, incluindo valoresque envolvam as pessoas, de um modo geral, e o equilíbrionas relações cotidianas.

Entendemos que caberá ao educador saber expressar,com suas ações, o valor das coisas, quer materiais e/ouespirituais. É evidente que o educador, disposto a educar,necessitará, para tal, inicialmente, observar a si próprio everificar o que tem em si como valor, demonstrando-o atravésde sua conduta. Afinal, é a conduta do ser humano quedenuncia seu grau de consciência.

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Nessa perspectiva, a presente obra pretende atender aum apelo contemporâneo por uma educação integral,configurando a educação pelos Valores Humanos, tal comoproposto por Sai Baba. A história evolutiva da humanidadenos mostra a necessidade de abordar e tratar o ser humanocomo um todo, que é objeto da concepção da educação pelosValores Humanos de Sai Baba.

O pensamento de Ken Wilber, a nosso ver, estabeleceuma compreensão integral do ser humano e fornece umadireção para uma educação integral do ser humano. Poresta razão, vamos utilizar seus estudos e proposições paraconfigurar um modelo de educação integral do ser humanoque sirva de recurso para proceder a leitura dos discursos deSai Baba. Este também propõe uma educação integral, porémapresentada de forma não sistemática. Afinal, discursos sãoapresentações fragmentadas e esparsas. A visão de Wilbernos ajudará a ver como Sai Baba, ao longo do tempo, propõee constitui uma visão e uma educação integral. O pensamentode Wilber servirá de moldura para a leitura e estudo dosdiscursos de Sai Baba.

Na perspectiva de dar conta desse desejo, estruturamosesta obra em quatro capítulos. No Capítulo 1, o leitorencontrará os postulados teóricos de Ken Wilber sobre umavisão integral do ser humano. De acordo com esse autor, aabordagem integral acolhe as contribuições significativas dopensamento ocidental, bem como as contribuiçõessignificativas das tradições da sabedoria, predominantemente,do Oriente, que nos oferecem a chave para o entendimentodo processo de integração do interior com o exterior no serhumano, como uma totalidade.

O Capítulo 2 inicia os leitores no mundo da cultura deSai Baba, que se expressou por três vertentes: devocional,assistencial e educacional. Vale salientar que a questão

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educacional será abordada especificamente no Capítulo 3.

O Capítulo 3 trata da concepção educacional de SaiBaba. Este é o capítulo que consideramos o cerne de nossapesquisa. O desenrolar desta parte da obra se dá através daapresentação do entendimento da cultura Sai Baba sobre afinalidade da educação, o conhecimento, a função da escola,o papel do educador e o desenvolvimento integral doeducando. Será apresentada uma concepção de educaçãoque se dirige ao ser humano integral; uma educação que nãoprivilegie nem a objetividade nem a subjetividade, nem aespiritualidade nem a materialidade, nem a individualidadenem a coletividade, mas uma educação integradora de todasas dimensões e níveis humanos.

No Capítulo 4, apresentamos a experiência educacionalda cultura Sai: o Programa de Educação em Valores Humanos.Neste capítulo, compilamos as bases históricas, filosóficas ecientíficas do Programa, bem como suas realizações práticas.Esse momento será dedicado ao educador sensível epreocupado com a sua práxis pedagógica, que terá subsídiospara mergulhar no mundo dos Valores Humanos, visandoproporcionar ao educando as bases para o seudesenvolvimento pessoal, profissional e espiritual, de formaequilibrada. É neste capítulo, ainda, que estão apresentadasas técnicas utilizadas com os educandos que participam doPrograma e os respectivos benefícios propiciados, segundoas informações dos Institutos de Educação Sathya Sai,espalhados pelo mundo.

Em síntese, além de ser o resultado de um processo deinvestigação, esta obra tem por objetivo ser um convite aoseducadores, para que se engajem numa prática educativaintegral, o que significa olhar o ser humano pela suamultidimensionalidade.

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CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1

DDDDDAAAAA N N N N NECESSIDADEECESSIDADEECESSIDADEECESSIDADEECESSIDADE DADADADADA F F F F FORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃOORMAÇÃO I I I I INTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRAL

DDDDDOOOOO S S S S SERERERERER H H H H HUMANOUMANOUMANOUMANOUMANO

Uma verdadeira visão integral deveria incluira matéria, o corpo, a mente, a alma e o espírito.

Ken Wilber (1998, p.150)

O ser humano é multidimensional; manifesta-se atravésde facetas mais visíveis ou menos visíveis. A mais facilmenteobservável é sua dimensão objetiva, que se manifesta atravésdo corpo físico-biológico. A menos observável e mais sutil ésua dimensão subjetiva.

Para se empreender uma jornada de estudos eproposições sobre uma educação pautada em ValoresHumanos, importa ter presente esta multidimensionalidadedo ser humano. Isto se opõe à visão da ciência moderna,que, praticamente, tratou o ser humano de formaunidimensional, a partir da cosmovisão decorrente da ciênciaexperimental. E nós vivemos sob a égide das forças dessacosmovisão sobre o ser humano, sua vida e seu modo de ser.

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Na medida em que esta obra trata da educação através dosValores Humanos, necessitamos de uma moldura teórica que dêsentido a essa abordagem educativa. Para tanto, vamos nos servirdas compreensões formuladas por Ken Wilber sobre o ser humano,numa ótica integral, devido ao fato de a educação, a partir dosValores Humanos, estar assentada sob essa mesma ótica.

Essa proposição justifica-se pelo fato desse autor formularuma visão integral do ser humano que, também, pode serpraticada via educação, através dos entendimentos de SahyaSai Baba que, por si, não formula conceitualmente uma visãointegral do ser humano, ainda que sua proposição educativavá nessa direção. Em função disso, tomamos o pensamentode Ken Wilber para compreender uma ótica integral a serviçode uma prática educativa, também integral do ser humano.

Esse autor, em seus trinta anos de investigação acercado ser humano, frente à filosofia, antropologia e psicologia,produziu uma visão integral deste, oferecendo-nos recursospara uma compreensão sistemática e orgânica, tendo presenteas diversas dimensões humanas. Essa compreensão nos dá abase para assumirmos que faz sentido, assim como énecessária, uma prática educativa que esteja atenta ao serhumano sob a ótica integral. Por este motivo, Wilber é umimportante investigador que integra a ciência e a filosofiaocidental com as tradições da sabedoria oriental, tornandopossível a integração do objetivo com o subjetivo.

O núcleo de sua obra é um modelo teórico evolucionáriodo ser humano, tanto em seus aspectos ontogenéticos4 quantofilogenéticos5. Seu propósito, dialogando com muitos camposdo saber humano, tais como a sociologia, psicologia dodesenvolvimento, antropologia biológica e cultural, psicologiaclínica, filosofia perene6, história e epistemologia, é integrardiferentes modelos teóricos, formulando uma abordagemintegral sobre a vida e o ser humano.

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1.1 U1.1 U1.1 U1.1 U1.1 UMAMAMAMAMA V V V V VISÃOISÃOISÃOISÃOISÃO I I I I INTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRAL DODODODODO S S S S SERERERERER H H H H HUMANOUMANOUMANOUMANOUMANO

O objetivo principal dos estudos de Wilber é formularuma Teoria do Todo, que demonstre a integração de todosos campos da experiência humana, posicionando as diferentesverdades parciais num modelo amplo e integral. Em seusestudos, nunca perde de vista o panorama geral, estandoatento às possibilidades de articular verdades parciais (ecologia,feminismo, física, holismo) em uma compreensão integral,que, para ele, é mais verdadeira e adequada.

As contribuições do pensamento de Ken Wilber, emtodas as fases, nos oferecem indicadores significativos paracompreendermos a formação integral do ser humano.Entretanto suas últimas e atuais formulações acerca da visãoda consciência são as mais significativas para constituir umamoldura que permita compreender o significado de umaconcepção de educação pautada em “Valores Humanos”,superando o modo fragmentado de conhecimento darealidade. Esta fragmentação tem gerado conflitos nas práticaseducativas, seja no âmbito familiar, seja na política, seja emoutras facetas da vida humana.

Entender o ser humano sob a ótica integral, remete-nos ao modelo de consciência, cujo foco é constituído pelaabordagem de “todos os quadrantes, todos os níveis”7. Nopresente, além de abordar a consciência como uma holarquia,Wilber acrescenta o fato de que cada nível (sensório, mentee espírito) dessa holarquia8 manifesta-se através de quatrodimensões ou quadrantes: individual-subjetivo (intencional),individual-objetivo (comportamental), coletivo-subjetivo(cultural) e coletivo-objetivo (sistemas sociais).

Compreender a realidade através da perspectiva de“todos os quadrantes, todos os níveis” possibilita superar os

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limites da visão tradicional da Grande Cadeia do Ser9, quecentrava exclusivamente na dimensão espiritual do serhumano, descuidando-se da dimensão comunitária (ética),assim como da dimensão objetiva, externa (tratada pelaciência). Para chegar a essa formulação, Ken Wilber serve-se de dois olhares integrados sobre a vida humana: um olharhorizontal, através do qual ele descobre as dimensões, e umvertical, que lhe permite descobrir os níveis.

Analisando o modo de ser e as múltiplas tentativashistóricas de abordar o ser humano, o autor descobre asdimensões: interiores, individual e coletiva (subjetivas) eexteriores, individual e coletiva (objetivas). O gráfico abaixoajuda a compreender essa descoberta.

FIGURA 1: OS QUATRO QUADRANTES

Fonte: Adaptado de Wilber (2000c, p. 83)10

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Para compreender o gráfico acima, visualizamos o serhumano no centro do gráfico e, daí, suas quatro dimensões.Ao mesmo tempo e sempre, cada sujeito vive, convive, age ereage nessas quatro dimensões. Ao mesmo tempo vive o Eue o Nós internos (dimensões interiores individual e coletiva)e se manifesta externamente no Eu e no Nós objetivos(dimensões individual comportamental e coletiva sistêmica).

A expressão “todos os níveis”, por sua vez, conduz aoreconhecimento de que, em cada um dos níveis (sensório,mente, espírito), há um interior individual e coletivo, assimcomo um exterior individual e coletivo. Isto possibilita, emcada nível de ser e de conhecer, uma experiência estética(EU), uma experiência ética (NÓS), uma “ciência” sobre cadafenômeno individual, bem como uma “ciência” sobre ossistemas de fenômenos coletivos (ELE).

Os teóricos e investigadores dos conteúdos da dimensãoindividual objetiva [dimensão do EU objetivo], por exemplo,centraram-se no exterior do indivíduo, dando origem aocomportamentalismo, ao empirismo, à biologia, às ciênciascognitivas, à neurologia, à fisiologia cerebral, entre outros.Enquadra-se, nessa dimensão, a versão científica que abordaos componentes individuais observáveis do universo (átomos,moléculas, células simples, incluindo organismos maiscomplexos), que se constituem em hólons. Estes, seguindo aescala evolutiva, são sucessivos e progressivamente maiscomplexos e elevados, mais profundos ou mais extensos,transcendendo e incluindo os anteriores. Eles se desenvolvem,na visão de Wilber, por processos de diferenciação-e-integração que causam patologias, quando desarmonizados.

Na dimensão coletiva sistêmica [dimensão do NÓSobjetivo], estão representadas as abordagens objetivas dossistemas coletivos. Refere-se ao estudo das relações queconstituem as configurações sistêmicas da realidade: a

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sociedade, os sistemas naturais, os ecossistemas, a redeecológica da vida, a teoria sistêmica, as teorias do caos e dacomplexidade, as estruturas tecnoeconômicas, a política, asociedade. Ou seja, o objeto de estudo é compreendido nateia de suas relações e em decorrência delas.

Essas duas dimensões, segundo o autor, representamrealidades objetivas ou exteriores que têm uma localizaçãono mundo empírico. Os quadrantes [ou dimensões] da [...]direita [do gráfico] são os hólons vistos pelo lado de fora,num tipo de investigação objetiva, empírica e científica(WILBER, 2001a, p. 62). Por serem exteriores e objetivos,são descritos na linguagem do ELE, que se expressa pelaciência e tecnologia contemporâneas.

Com esta abordagem, Wilber torna claro que, ao longoda história, os diferentes pesquisadores da ciência preferiramcentrar sua atenção nas dimensões objetivas do ser humano,cujos dados podem ser percebidos pelos sentidos ou por suasextensões, ou seja, empiricamente, excluindo tudo o maisque pode ser conhecido.

A dimensão do Eu interno (quadrante superior esquerdo)inclui, segundo o autor, as experiências interiores estudadaspela psicologia, filosofia e espiritualidade. Essa dimensão édescrita na linguagem do EU, relativo à consciência,subjetividade, auto-expressão, verdade, sinceridade.

Notem a diferença entre o interior do indivíduo,como por exemplo, a mente, e o exterior do mesmo,como o cérebro. A mente é conhecida porconhecimento direto; o cérebro, por uma descriçãoobjetiva. Conhecemos a nossa mente direta,imediata e intimamente: todos os pensamentos,sentimentos, aspirações e desejos que percorrem anossa consciência o tempo todo. O cérebro, por

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outro lado, em-bora se localize “dentro” doorganismo, não está no interior da nossa consciência,como a mente. O cérebro é percebido de uma formaexterior e objetiva. Portanto, em última análise, amente e o cérebro são duas visões diferentes danossa consciência individual, uma de dentro e outrade fora; uma interior e outra exterior (WILBER,2001a, p. 61, grifo nosso).

A dimensão do Nós subjetivo (quadrante inferioresquerdo), por sua vez, refere-se aos valores que sãopartilhados com a comunidade, sendo descrita na linguagemdo NÓS. Resulta em uma visão ética da vida. Essa dimensãoenvolve a ética, a moral e a cultura; o significadointersubjetivo, a compreensão mútua, a justiça. “À medidaque os hólons cognitivos individuais se desenvolvem – lembrao autor – evolui a consciência dos indivíduos, aumentandoem profundidade, desde simples sensações até imagens,conceitos e raciocínio (esquerdo superior); também a visãode mundo coletiva se torna mais profunda e mais complexa(esquerdo inferior)” (WILBER, 2001a, p.62).

Enquanto a dimensão individual interior representa adimensão da consciência individual e subjetiva, a dimensãocoletiva interior representa as dimensões das for-masintersubjetivas da consciência, os significados, valores econtextos culturais, sem os quais a consciência individual nãose desenvolveria nem funcionaria.

Assim, os dois quadrantes do lado esquerdo do gráficoexpressam as dimensões subjetivas ou interio-res, que nãoestão localizadas no espaço físico, mas em espaçosemocionais, mentais e cognitivos. No gráfico, “[...] osquadrantes da mão esquerda são os hólons vistos pelo ladode dentro, pelo interior, como parte da consciência eexperiência vividas diretamente” (WILBER, 2001a, p.62).

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E, por serem interiores e subjetivos, são descritos nalinguagem do EU e NÓS.

Vale considerar, ainda, que as quatro dimensões,individualmente, possuem contornos e tipos de dados muitodiferentes e distintos “tipos de verdade” que precisam serreconhecidas e respeitadas, pois constituem a parte“diversificada” da unidade-na-diversidade; e essa diversidade,de acordo com Wilber, é tão importante quanto a unidade.As dimensões não são elementos separados, mas, sim,dimensões de um mesmo ser; daí a necessidade devisualizarmos o gráfico dos quadrantes, colocando o serhumano (sujeito) em seu centro, a fim de compreender queas dimensões são facetas integradas do único e mesmo sujeito.

Então, cada um de nós, ao mesmo tempo, vivencia adimensão do Eu, do Nós e do Ele (individual e coletivo). Umadimensão não é melhor nem preponderante sobre a outra. Oestético (EU, espiritualidade) se dá ao mesmo tempo em quese dá o ético (NÓS, cultura), ao mesmo tempo em que seexpressa no comportamento individual e sistêmico externos.

Uma visão integral do ser humano, no ver de Wilber,implica na consciência e na vivência das quatro dimensõesque se expressam nos quatro quadrantes do gráfico. Estes,por sua vez, podem ser reduzidos a três, na medida em queos quadrantes objetivo, individual e coletivo formam umatotalidade pelo modo de abordar da ciência. Tanto o individualcomo o coletivo da experiência externa do ser humano buscama verdade com base em fatos.

Assim sendo, as quatro dimensões poderiam se reduzira três: Eu (a estética, espiritualidade), Nós (ética, valores,comunidade) e Ele (ciência do individual e do coletivo). Destemodo, teríamos um conhecimento que se realizaintrospectivamente (Eu), um que se realiza na convivência

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comunitária (o ethos); e um que se realiza através da percepçãoe compreensão dos fatos e das relações entre eles (a ciência).

Segundo depoimento do próprio Wilber, ao pesquisarexaustivamente diversas visões de mundo – entre elas a teoriade sistemas, as ciências ecológicas, a cabala, a psi-cologiadesenvolvimentista, o budismo iogachara, o desenvolvimentomoral, a evolução biológica, o hinduísmo vedanta, oneoconfucionismo, a evolução cósmi-ca e estelar e toda umagama de ninhos pré-modernos, modernos e pós-modernos – eagrupá-las de diversas formas, percebeu que, sem exceção, elasse enquadravam em uma das quatro dimensões existentes, quelidam com o interior e o exterior, assim como com o individuale o coletivo, indo além tanto da hierarquia clássica da religiãotradicional como da hierarquia padrão da ciência moderna.

Até aqui observamos uma visão horizontal dasdimensões do ser humano. Todavia, articulando essasdimensões com a Grande Cadeia do Ser, Wilber encontra osníveis verticais de consciência, que nos revelam que as quatrodimensões se realizam em cada um dos níveis, o que lhepermite dizer que uma visão integral do ser humano implicaem todos os quadrantes (dimensões horizontais) e todos osníveis (dimensões verticais).

Servindo-se de uma metáfora de São Boaventura, naperspectiva vertical, Wilber diz que nós temos três “olhos doconhecimento” – o olho da carne, o olho da mente e o olhodo espírito11, expressando os três níveis de percepção darealidade que vivenciamos ou podemos vivenciar – o níveldos sentidos, o nível da inteligência e o nível contemplação.Esses três níveis estão dispostos verticalmente, indo do maissimples para o mais sutil e complexo.

No nível dos sentidos ou sensorial, devem ser incluídasas experiências a partir do “olho da carne”. São aquelas nas

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quais percebemos o mundo exterior, sem desconsiderar odesenvolvimento da estética e da ética, ainda que de formarestrita. Pelo “olho da carne”, vivenciamos e compreendemosum mundo onde as experiências sensoriais podem sercompartilhadas com outros seres humanos que têm estruturasensória similar, porquanto é a partir deste nível deexperiência que nossa consciência manipula o conhecimentosensível de tempo e espaço, ou seja, é a partir dele que semanifestam as experiências empíricas. Wilber entende que écom base no conhecimento do “olho da carne” que grandeparte do pensamento moderno se sustenta. É o conhecimentosensório das realidades empíricas.

No nível da inteligência ou da mente, dão-se osconhecimentos racionais e/ou intelectivos. Através do “olhoda mente”, envolvemos o mundo das idéias e dos conceitos,que nos possibilitam uma estética focada no mental e umaética baseada em contratos, na justiça. O “olho da mente”compartilha o mundo da lógica, das imagens e,fundamentalmente, dos conceitos, podendo, inclusive,transcender o “olho da carne”, pois, através dele, por exemplo,o ser humano pode reproduzir, por meio da imaginação e daabstração, objetos sensoriais que não existem.

Por fim, no nível da contemplação ou do espírito, dá-se a experiência da vivência espiritual, através do “olho dacontemplação”, momento em que nos apropriamos davivência do Uno, do Sem-forma, da plenitude do ser. Estenível favorece as experiências unitivas/diretas do ser humano,a partir da ampliação da percepção, em um níveltranscendental, trans-racional, trans-lógico e trans-mental, aqual não pode ser reduzida nem ao conhecimento mental,nem ao emocional.

Com isso, Wilber quer dizer que todo ser humano tempossibilidades de acessar e transitar pelos três níveis de ser e

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de conhecer – o “olho da carne”, o “olho da mente” e o“olho do espírito” –, o que corresponde aos três tipos deconhecimento: o empírico, o intelectivo e o contemplativo.

Aqui, vale a ressalva feita pelo próprio Wilber, de quenão podemos reduzir um nível a outro, pois cada um tem suaespecificidade dentro de seu domínio. O nível sensóriocorrespondente à aproximação dos objetos do mundoempírico e tem sido o mais util izado intensiva eextensivamente. Todos já têm acesso a esse nível deconhecimento, porquanto ele é o mais imediato, simples edireto de todos os outros.

Já o nível de consciência, correspondente ao “olho damente”, é mais exigente do ponto de vista da sensibilidade eda capacidade de operar com o abstrato. Isso exigedesenvolvimento das habilidades mentais de abstração,compreensão, raciocínio, indução, dedução, implicação etc.,produzindo um estado de ser e conhecer mais complexo queo manifesto no nível sensório. A mente opera abstratamentee, por isso, de maneira mais livre e criativa.

Por fim, o nível do conhecimento contemplativo ouunitivo corresponde ao “olho do espírito”. É o nível maiscomplexo e abrangente, segundo o autor. A contemplaçãoexige um olhar e um perceber que extrapolam o aparente,permitindo a vivência de experiências que se dão para alémdos raciocínios indutivos, dedutivos e implicativos. Sãoexperiências da percepção e intuição. Desta forma, o Unonão se dá no raciocínio, mas, sim, na intuição, na percepçãoinstantânea do Pleno, do Sem Forma.

Nesses três níveis de conhecimento, dão-se a estética,a vivência dos valores e a vivência da verdade, ou seja, aarte/espiritualidade, a ética e a ciência.

Com essa estrutura epistemológica montada, Wilber

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visualiza a possibilidade de compreender a expressão “todosos quadrantes, todos os níveis”. Em cada um dos níveis deconhecimento dar-se-iam as quatro dimensões do ser humano.Assim sendo, tanto no nível sensório, como no nível da menteou da contemplação, dar-se-iam as dimensões do Eu, do Nós,do Ele individual e do Ele coletivo, ou seja, em todos os trêsníveis temos uma estética, uma ética e uma ciência. Em qualquerum dos três níveis de consciência, o ser humano vivenciaráuma estética/espiritualidade, uma ética e uma ciência. Aciência, aqui, evidentemente, em seu conceito bem amplo.

Para que possamos validar o conhecimento dasexperiências vivenciadas, em qualquer domínio, Wilber afirmaque precisamos usar três critérios de validade: 1) a injunçãoinstrumental; 2) a apreensão indutiva; e, 3) a falseabilidade.A injunção instrumental refere-se ao recurso doconhecimento que se obtém pela indicação “do que fazer”para se ter o conhecimento. Assim, se alguém quer ter umaexperiência específica, podemos indicar-lhe os passos de comoatingi-la. Por exemplo: “se você quer isso, terá que fazerx...”. A injunção tem a ver com uma metodologia já testada.Quem quiser, poderá realizá-la.

A apreensão indutiva, por sua vez, relaciona-se com aexperiência por si mesma. Associa-se com o ato deexperimentar direta e imediatamente, testando hipóteses eevidências. Diz respeito à utilização de fatos que permitam ageneralização de uma afirmação e que comprovem aafirmação que estamos fazendo. Não é um “dizer por dizer”,mas um dizer com fundamento nos fatos.

Por último, o critério da falseabilidade. Frente a talcritério, todo conhecimento, para ser válido, necessita poderser confrontado, caso contrário, ele é um dogma e, por issomesmo, sua validade não poderá ser discutida.

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Para que, nos três níveis, se dêem uma estética, umaética e uma verdade, importa termos conhecimento de quehá uma estética/espiritualidade no nível sensório, no nívelda mente e no nível da contemplação. Nas artes plásticas,por exemplo, encontramos pinturas realistas (sensórias, quecopiam a realidade), pinturas abstratas (mentais, queexpressam a realidade) e pinturas intuitivas (unitivas, queexpressam os sentimentos e as percepções do inefável).

Também há uma ética que se manifesta nos três níveis:a ética pré-convencional, egocêntrica, infantil, que quer tudopara si, que se realiza no nível sensório. Há uma éticaconvencional, sociocêntrica, adulta, que se realiza no níveldos princípios da mente abstrata; é a ética dos contratos, dajustiça, da capacidade de cumprir os tratos convencionadosentre sujeitos. E uma ética pós-convencional, centrada noamor universal, no serviço do outro, na disposição e na práticado servir, sem esperar ou desejar algo de retorno em troca.

Nos três níveis, dá-se uma ciência, se por ciênciapudermos entender a compreensão que se fundamenta emfatos; e se, “por fatos”, nós pudermos entenderacontecimentos, eventos que são vivenciados, percebidos ecompreendidos pelo ser humano. Para tanto, importaincorporar um sentido ampliado do que é fato empírico. Nocaso, “fato” é acontecimento e evento e “empírico” refere-se àquilo que é perceptível pelos diversos recursos cognitivos– sensação, raciocínio, intuição.

Neste contexto, para poder admitir uma ciência nostrês níveis, além de ampliar o conceito de ciência e de fatosempíricos, necessitamos estabelecer critérios de verdade quepossam validar a “ciência” (o conhecimento da verdade) nostrês níveis.

Assim sendo, teremos também três níveis de ciência. A

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ciência empírica, experimental, que tem seus fundamentosno nível sensório, servindo-se aí dos critérios de injunção,comprovação empírica e falseabilidade. As ciências quetrabalham com objetos puramente abstratos, como amatemática e a lógica, também operam a injunção, na medidaem que podem indicar como fazer, podem justificar suasafirmações com fatos que se dão no nível da mente, assimcomo suas afirmações podem ser confrontadas e, por issomesmo, podem ser modificadas.

Há ainda uma ciência no nível da contemplação, umconhecimento que pode se servir da injunção, indicando“como fazer” na contemplação. Há uma comprovação nosfatos, na medida em que dois contemplativos podem seentender na apresentação e discussão de suas experiências;assim como, nesse nível, tudo o que for afirmado não éabsoluto, ou seja, pode ser confrontado e transformado.

Desta forma, a estética/espiritualidade, a ética e a ciência,em cada um dos três níveis de consciência, só serão possíveisse os sujeitos que as vivenciam já tiverem atingido esses níveisde consciência. Com os recursos do nível sensório, só serápossível chegar à estética, à ética e à ciência desse nível deconsciência. O mesmo ocorre com os outros dois níveis. Assim,só se poderá atingir uma estética/espiritualidade, uma ética euma ciência do nível da mente ou da contemplação com osrecursos de seu nível de consciência respectivo.

Portanto, com os recursos do nível sensório não serápossível a apropriação de conhecimentos do nível da mentee da contemplação; coisa semelhante ocorre com os recursosda mente, que, por si sós, não dão acesso às experiências dacontemplação. Todavia, o contrário pode ocorrer, ou seja,aquele que atingiu os recursos da contemplação também podese servir dos recursos da mente e dos sentidos.

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Enfim, vale observar que, para Wilber, nãonecessariamente, as três grandes esferas do conhecimento –estética/espiritualidade, ética e ciência – se desenvolvem aomesmo tempo e com o mesmo padrão de perfeição. Eleassocia os níveis às linhas de desenvolvimento12. Assim, porvezes, o estético/espiritual desenvolver-se-á mais que o éticoe o científico; outras vezes, o ético se desenvolverá mais queo estético e o científico; o mesmo ocorre com o científico.Essas linhas de desenvolvimento dar-se-ão com maior oumenor intensidade e dependem dos processos psicossociais-espirituais vivenciados por cada sujeito.

Deste modo, completa-se a visão integral de Wilbersobre o ser humano, como um sujeito que pode se realizarplenamente em todas as dimensões e níveis.

É aqui que entra o papel da educação como recursopara o desenvolvimento consciente do ser humano integral.As possibilidades estão disponíveis, mas elas são potenciaisque necessitam de atualização e saída em direção ao mundodas possibilidades para poderem se manifestar em atos navida cotidiana. Aí a educação pode e deve operar comorecurso que oferece condições para a atualização daspotencialidades (no sentido de transformar as possibilidadesem atos). A educação, nesse contexto, deve oferecercondições, para que os educandos dêem forma manifesta eutilizável a suas potencialidades, seja no que se refere aocampo do Eu (estética/espiritualidade), ao campo do Nós(ética), ou ao campo do Ele (verdade, ciência).

A formulação de uma educação integral do ser humanonecessita, em sua base, de uma concepção integral do serhumano. Parece que Wilber faz isso. E para este livro, nósassumimos a concepção deste autor como uma visão integral.Assim considerado, cabe à educação cumprir seu papel,buscando a formação integral dos educandos, a partir do

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reconhecimento, respeito e despertamento de suaspotencialidades, as quais envolvem as quatro dimensões daexperiência, em seus diferentes níveis. Desta forma, a práticaeducativa, tendo presente as possibilidades de cada educando,deverá criar condições, para que cada um deles se desenvolvae manifeste significativamente cada uma de suas dimensõesconstitutivas.

A educação que tem por base os Valores Humanos(objeto de estudo deste livro), foca o ser humano em suatotalidade: na Verdade, na Paz, no Amor, na Ação Corretae na Não-violência. A visão integral do ser humano,sistematizada por Wilber, nos oferece um arcabouço bastanteconsistente para estudar, propor e encaminhar uma práticaeducativa que tenha em sua base e em sua frente os ValoresHumanos, segundo a visão de Sathya Sai Baba.

É assim que Wilber (2000b, p.10) se expressa:

Uma verdadeira visão integral [...] deveria incluir amatéria, o corpo, a mente, a alma e o espírito talcomo se apresentam em seu desdobramento atravésdo eu, a cultura e a natureza. Deveria tratar-se deuma visão compreensiva, equilibrada e inclusiva, umavisão que abraçasse a ciência, a arte e a moral,uma visão que englobasse todas as disciplinas (desdea física até a espiritualidade, a biologia, a estética,a sociologia e a oração contemplativa) e seexpressasse através de uma política integral, umamedicina integral, uma espiritualidade integral.

Corroborando com esta visão integral do ser humanode Wilber, Sai Baba (2000, p.4) nos apresenta sua concepçãode educação, dando ênfase aos valores humanos que precisamser despertados internamente nos educandos:

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Educação se refere a adquirir informação de fora,enquanto “educare” significa trazer para fora ouextrair o que está dentro. O homem deve trazer àtona as qualidades sagradas latentes no seu coraçãoe colocá-las em prática. A educação mundana quevocês procuram e os trabalhos que realizam estãorelacionados à cabeça. Eles estão sujeitos à mudança.Mas os valores humanos como compaixão, paciência,verdade, que se originam do coração, são imutáveis.O coração é aquilo que está repleto com compaixão.Ele é a fonte da bem-aventurança. Em vez dereconhecer suas potencialidades inatas, o homem asestá procurando no mundo externo. Tudo que é vistono mundo externo não é nada mais que o reflexo doser interno. Assim, o homem deve direcionar sua visãopara dentro e experimentar bem-aventurança. Hojeo homem desperdiça todo seu tempo na aquisiçãode conhecimento tradicional. Sem dúvida, oconhecimento tradicional é essencial, mas deve estarbaseado no princípio fundamental presenteinternamente13.

Nem só educação, nem só educare, nem só cabeça,nem só coração. Mas todos presentes de forma integrada,embasados na essência interna do ser humano. Eis o enfoqueda visão integral de Wilber: não se limitar a nenhum dosquadrantes, e, sim, identificar as conexões entre eles e suasmanifestações no ser humano.

1.21.21.21.21.2 DDDDDEEEEE O O O O ONDENDENDENDENDE N N N N NASCEUASCEUASCEUASCEUASCEU AAAAA V V V V VISÃOISÃOISÃOISÃOISÃO I I I I INTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRAL DODODODODO S S S S SERERERERER H H H H HUMANOUMANOUMANOUMANOUMANO

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Como Wilber, um ocidental norte-americano, chegoua essa compreensão integral do ser humano, que nos servede moldura teórica para estudar e propor a Educação pelos

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Valores Humanos, formulada por um sábio oriental, SathyaSai Baba?

Desde cedo, em sua vida de estudos, Wilber buscoucompreender o ser humano de modo integral. Suasconcepções, porém, foram se refinando ao que nos interessamais de perto, formando sua visão integral, a qual foi expostaanteriormente, que se assenta em seus estudos sobre o serhumano e a modernidade.

A compreensão de que, positivamente, a modernidade,ao estabelecer uma diferenciação entre as esferas de valores(ciência, arte e moral), porém, negativamente, dissociou-as,tornando a ciência predominante sobre todas as outras, foio objeto de seus mais recentes estudos sobre a fenomenologia,observado em nosso processo cultural ocidental, entre osséculos XV-XVI e XX.

Nesse sentido, Wilber considera que a modernidade foium dos estágios de desenvolvimento mais significativos detoda a história humana, uma vez que teve por característicapeculiar a diferenciação das esferas culturais de valores, ouseja, a diferenciação entre arte, moral e ciência, já citadaanteriormente, o que considera a essência da dignidade damodernidade.

Se retrocedermos às visões de mundo pré-modernas,verificaremos que, naquela época, não havia diferenciaçãoclara entre artístico-estético, empírico-científico e religioso-moral. Isso favorecia a que uma esfera pudesse domi-nar econtrolar o que acontecia nas outras, especialmente atravésdas religiões dominantes, que impunham seus dogmas. AIgreja Católica, na Idade Média, é um exemplo clássico, quese propagou em todo o mundo e em todos os tipos desociedades pré-modernas. Segundo Wilber (2001a, p.17):

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As culturas pré-modernas certamente possuíamarte, moral e ciência. O problema é que essas esferaseram relativamente “indiferenciadas”. Para darapenas um exemplo, durante a Idade Média, Galileunão podia olhar livremente através do seu telescópioe relatar os resultados porque a arte, a moral e aciência se fundiam na igreja e, portanto, era a moralda Igreja que definia o que a ciência podia ou nãopodia fazer. A Bíblia dizia (ou insinuava) que o Solgirava em torno da Terra e ponto final.

Isso pode, ingenuamente, conduzir-nos a pensar que,como não havia diferença entre as esferas de valores culturaisnas sociedades pré-modernas, elas seriam, então,naturalmente integradas. Todavia, para o autor, a pré-modernidade estava marcada pela pré-diferenciação dasesferas de valores, pois qualquer coisa que não tenha sidodiferenciada, em pri-meiro lugar, não pode ser integrada.Até então, a seu ver, não existiam esferas separadas quepudessem ser reunidas numa síntese ou integração. O queexistia, naquele momento, era simplesmente um estadofusionado das esferas, o que acabava tirando-lhes a autonomiae a dignidade.

Sendo assim, concordamos com Wilber que a marca dadignidade da modernidade foi a clara diferenciação das esferasda arte, da ciência e da moral, pois cada esfera de valorpoderia agora agir segundo suas especificidades, sem violênciaou dominação das demais, permitindo que cada uma fizessedescobertas profundas, as quais, se usadas equilibradamente,poderiam levar a resultados benéficos, tais como ademocracia, o fim da escravidão, o surgimento do feminismoe os rápidos avanços na medicina. Mas, se usadas sem critério,poderiam facilmente ser desvirtuadas, gerando asconseqüências desastrosas da modernidade, como o

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imperialismo científico, o desencanto do mundo e os regimestotalitários de dominação mundial.

Estudando a cultura da modernidade e seguindo as pegadasde Max Weber e Jürgen Habermas, Wilber considera que omérito da modernidade foi estabelecer a distinção entre as esferasde valores, o que possibilitou desvendar as dimensões do serhumano, como vimos anteriormente, porém seu demérito foiultrapassar a diferenciação e chegar à dissociação entre elas.

Dessa maneira, Wilber entende que o problema damodernidade não está na diferenciação das esferas de valores,mas, sim, na dissociação. Denomina de desastre damodernidade o fato de a arte, a moral e a ciência não apenasse diferenciarem, o que foi necessário e benéfico, mas logoiniciarem um processo de dissociação ou negação de umapela outra, que deu lugar a uma podero-sa ciência, quecolonizou e dominou as outras esferas. Ou seja, se adiferenciação foi a dignidade, a dissociação foi o desastre damodernidade, na medida em que fragmentou o ser humanoe as dimensões transformaram-se em fragmentos distintos.

A diferenciação das esferas de valores culturais começou,de fato, nos séculos XVI e XVII. Pelo final do século XVIII einício do XIX, a diferenciação caminhava para a dissociaçãopatológica: arte, ciência e moral passaram, pouco a pouco,a não mais dialogar entre si. Isso montou o cenário para umforte domínio da ciência empírica sobre as outras esferas,tomando completamente o discurso cognitivo no mundoocidental. Em termos de dimensões do ser humano, istosignificou o predomínio excessivo do exterior sobre o interior.

Em outras palavras, a ciência transformou-se emcientificismo, com a convicção de que não existe realidade,a não ser aquela revelada pela ciência experimental, nemverdade, salvo aquela fornecida por essa mesma ciência. Todas

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as dimensões subjetivas – moral, expressão artística,introspecção, espiritualidade, percepção contemplativa,significado, valor e intencionalidade – foram descartadas pelaciência, pois nenhuma delas podia ser acessada pelos sentidosou pelos instrumentos empíricos. Nesse processo, foramdescartadas as dimensões internas do ser humano.

Desse modo, segundo o autor, a ciência empírica, queproclamou a desvalorização das outras esferas de valores,tornando-as “não-científicas” e ilusórias, também, eessencialmente, proclamou a inexistência da Grande Cadeiado Ser. No caso, o moderno mundo ocidental passou a ser aprimeira grande civilização a negar essa visão da realidadeem toda a história da humanidade.

Wilber acredita ter sido esse o grande desastre damodernidade. É neste contexto de negação maciça euniversal, caracterizado pela fragmentação da consciência edo conhecimento, que ele propõe uma síntese, apresentandoseu atual modelo integral do ser humano, sintetizando, numtodo, as esferas de valores, como dimensões do ser humano,e a Grande Cadeia do Ser, produzindo a compreensão de“todos os quadrantes, todos os níveis”, vistos anteriormente.

Em suma, em sua fase mais recente de pensamento, oautor apresenta uma proposta de superação de nossafragmentação, através de um modelo integral da consciência.

1.31.31.31.31.3 VVVVVISÃOISÃOISÃOISÃOISÃO I I I I INTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRAL DODODODODO S S S S SERERERERER H H H H HUMANOUMANOUMANOUMANOUMANO EEEEE SUASUASUASUASUA C C C C COMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃO

EEEEEVOLUCIONÁRIAVOLUCIONÁRIAVOLUCIONÁRIAVOLUCIONÁRIAVOLUCIONÁRIA

Para uma prática educativa integral, tendo por base aótica de Wilber, importa ter presente a trajetória de seupensamento. Sua visão integral é a culminância de longos

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estudos sobre o ser humano. Sem compreender esse processo,sua visão integral permaneceria estática, o que promoveria adistorção de sua visão, bem como da riqueza de seupensamento, comprometendo sua orientação quanto a umaprática educativa. Para Wilber, tanto as dimensões quanto osníveis do conhecimento podem e devem ser desenvolvidosno ser humano. É aí que entra o papel da educação.

Wilber não iniciou seus estudos pela compreensãointegral do ser humano ora apresentada. Essa visão é resultadode mais de trinta anos de estudos, formulações ereformulações. Para melhor compreender o que propõe oautor com seu modelo integral, vamos retomar, ainda que deforma sintética, as fases anteriores do desenvolvimento deseu pensamento, que podem ser denominadas de “Estrutural”e de “Desenvolvimentista”. A fase denominada de Estruturalapresenta características predominantemente metafísicas. Afase caracterizada de Desenvolvimentista traz as conotaçõesde uma fenomenologia evolucionária.

Sua visão de mundo e do ser humano se desenvolveuaté chegar ao momento presente. Nesse processo dematuração intelectual, podemos distinguir três fases:Estrutural, Desenvolvimentista e Integral.

1.3.11.3.11.3.11.3.11.3.1 Fase Estrutural Fase Estrutural Fase Estrutural Fase Estrutural Fase Estrutural

Foi em 1973, época em que estava terminando suagraduação em bioquímica, que, segundo seus próprios relatos,começou a escrever seu primeiro livro. Neste mesmo período,seus artigos já denunciavam as características de sua primeirafase de compreensão sobre a consciência: a Estrutural. Aprincipal obra desse período é O Espectro da Consciência14.

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Esta fase está centrada em sua visão espectral daconsciência; é a fase na qual descobre que a consciência doser humano pode se manifestar em diferentes estados. Nessemomento, não sabia, ainda, explicar como esses estados sesucediam na dinâmica da vida humana, tampouco como sedava o movimento de um estado a outro. Compreendia queo ser humano se revelava como a expressão empírica dasustentação e manifestação dos diversos níveis da consciência,desde o mais sensorial até o mais sutil, unitivo. Seu olharmetodológico, então, era mais metafísico e, por isso, aabordagem dos estados de consciência era estática. A visãofenomenológica e evolucionária vai se seguir a esta.

Já compreendia, nesse momento, que o ser humanotem a possibilidade de estar em diversos estados de consciênciaou diferentes níveis de identidade e isto se traduzia em, pelomenos, dois grandes modos de desvendamento da realidade:o modo de conhecer dualístico, que é aquele que abrange osdomínios do conhecimento sensível e racional; e o modo unitivode conhecer, que diz respeito ao conhecimento contemplativo.

Os diferentes modos de conhecer correspondem adiferentes níveis, faixas ou estados de consciência que semanifestam através de um processo de mudanças progressivasda identidade pessoal. Nas palavras do autor: “[...] a nossaidentidade pessoal está intimamente relacionada com o nível deconsciência desde o qual e no qual operamos. Por conseguinte,a mudança em nosso modo de conhecer acarreta mudança emnosso sentido básico de identidade” (WILBER, 1990, p. 44).

Assim, enquanto o indivíduo se utiliza apenas do modosimbólico e dualístico de conhecer, ele separa o sujeito queconhece do objeto. Em seguida, atribui ao objeto conhecidosímbolos ou nomes, manifestando-se separado do Todo, doqual faz parte.

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Diverso do conhecimento dualístico, nesse momento,Wilber compreende que há o conhecimento unitivo, atravésdo qual o sujeito sente-se integrado no todo. Ele e o Todosão uma coisa só.

Sua visão estrutural da consciência retrata a percepçãoque tem sobre os dois domínios da consciência: o pessoal e otranspessoal. Porém, logo descobriu que essa era a distinçãoque Jung havia feito entre o inconsciente pessoal e oinconsciente coletivo. A primeira cartografia da consciênciade Wilber incluía o nível pessoal com três subníveis – persona,ego, centauro – e o nível transpessoal.

Conseguiu, ainda, estabelecer pelo menos doisdiferentes subdomínios na esfera transpessoal. O grau maisbaixo dessa esfera é o de testemunha transcendente. Nesseestado, a consciência transcende a mente, o corpo, o ego, ocentauro e simplesmente testemunha as flutuações dessesdomínios inferiores. Mas, além desse estado, há um outro,supremo e radical, no qual não se testemunha mais arealidade, mas, sim, se transforma na própria Realidade. Éa integração do múltiplo no Uno.

Assim, adicionando esses dois níveis transcendentais aosníveis da esfera pessoal, obteve uma hierarquia de cinco níveisou estruturas básicas da consciência, um espectro daconsciência, em que os níveis possuíam características próprias– necessidades, potenciais e patologias. De cima para baixo,do mais complexo para o menos complexo, assim organizousua compreensão do espectro da consciência: Nível daConsciência da Unidade, Faixas Transpessoais, OrganismoTotal, Nível do Ego, Nível da Persona.

O Espectro da Consciência consolida o resultado de seusanos de leitura e dedicação aos estudos da psicologia, buscandointegrar as visões do ocidente e do oriente. Segundo suas

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informações autobiográficas, a elaboração e publicação desselivro ajudou-o a restabelecer algum tipo de significado para suavida, bem como a modelar uma síntese conceitual, ainda querudimentar, das várias escolas de psicologia, terapia e religião,orientais e ocidentais. Uma síntese que teria igualmentevalorizado os modos de ver de pesquisadores como SigmundFreud, Carl Gustav Jung, Abraham Maslow, Rolo May, assimcomo de grandes sábios espirituais de Buddha a Krishnamurti.

Com essa obra, quis mostrar que diversas escolas dopensamento ocidental e oriental não eram contraditórias entresi, mas complementares, sendo cada abordagem correta eválida quando compreendida dentro do nível de consciênciado qual trata. Do ponto de vista desta obra, a consciência épluridimensional ou composta de muitos níveis e cada escolaimportante de psicologia, psicoterapia e religião se dirige aum nível diferente do espectro da consciência, o que implicana complementaridade entre elas e não em oposições.

O título da obra – O Espectro da Consciência – nosrevela sua própria concepção sobre a consciência e otratamento que lhe deu nesse período. A consciência é descritade maneira muito semelhante a um espectro eletromagnéticoe, por esta razão, sempre que Wilber se refere à consciênciacomo um espectro, ele se refere a numerosas faixas ou níveisvibratórios, de forma estática.

O espectro funciona, no caso, de modo metafórico edidático, com a finalidade de integrar os diferentes insigthsdas várias escolas psicoterapêuticas do ocidente, entre si, eestas com as várias abordagens orientais. Porém, ainda revelauma visão estrutural da consciência que ganhará conotaçãodesenvolvimentista em sua próxima fase de pesquisas e deprodução de conhecimentos.

Dois anos depois, Wilber publica A Consciência semFronteiras, como uma versão popular de O Espectro da

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Consciência. Neste mesmo ano, 1979, depois de seuafastamento da universidade e de uma vida cheia de “inovações”,que incluíam as atividades de trabalho manual, estudo emeditação, ele nos mostra como os diferentes tipos de psicologiae terapias – da Psicanálise ao Zen, da Gestalt à MedicinaTranscendental, do Existencialismo ao Tantra – podem serreunidos e sintetizados numa perspectiva global para a cura etransformação da infelicidade humana. Parte da premissa deque a consciência da unidade, ou identidade suprema, é anatu-reza e a condição de todos os seres vivos, bem como deque essa consciência, originalmente pura e unitiva, funciona emníveis varia-dos, com identidades e limites diferentes.

Na década de 70, segundo seu próprio depoimento, jáestavam publicados diversos livros e artigos que faziamcomparação e avaliação de escolas orientais e/ou ocidentaisde psicologia/terapia, além de profundos estudos sobre acartografia da consciência. Todavia, os autores escolhiamum lado (oriental ou ocidental) e o colocava em ascensão emdetrimento do outro. Por isso, tais artigos não lheinteressavam, pois não estava preocupado em explicitar “avisão oposta”. Nos diversos autores investigados, para ele, oimportante não era verificar quem tinha razão, e, sim, o queparecia ser razoável em cada um dos estudos, podendo sempreassumi-los com suas verdades, ainda que parciais.

1.3.21.3.21.3.21.3.21.3.2 Fase Desenvolvimentista Fase Desenvolvimentista Fase Desenvolvimentista Fase Desenvolvimentista Fase Desenvolvimentista

Todos os estudos de Wilber, embora diferentes,apresentavam, em seu íntimo, peculiaridades que os faziamsemelhantes, ou melhor, em cada um deles era notável ointeresse em buscar estudar e descrever a dinâmica e odesenvolvimento das várias estruturas ou níveis de consciência

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do ser humano. Faltava-lhe uma sensibilidadedesenvolvimentista e foi, a partir de então, que Wilber selançou a investigar o processo de desenvolvimento daconsciência. Inicia-se, assim, a segunda fase do pensamentodo autor, pautada na consideração de que não basta saber quea consciência tem níveis diversos de percepção e realização,mas que também se chega a essas dimensões e níveis atravésda educação e da auto-educação. Assim se expressa:

Por essa época, houve uma virtual explosão de várias“cartografias da consciência”: a pesquisa de Grofcom psicodélicos vinha sendo cada vez mais aceitacomo um trabalho legítimo e não como um produtode “alucinações com ácido”; o trabalho de Maslowsobre a hierarquia das necessidades estava sendorapidamente entendido; Huston Smith (1976)apresentou um estudo definitivo demonstrando deuma vez por todas que o cerne das grandes religiõesdo mundo era uma hierarquia de consciência; etambém havia Green e Green, Tiller, Goleman, Tart,Houston e Masters, Battista, Welwood, Metzner emeu próprio trabalho sobre o espectro – o pontomais notável era que todas essas cartografias semostravam essencialmente semelhantes.

Mas o que faltava em todas elas era uma tentativasustentável de estudar e descrever a dinâmica eo desenvolvimento dessas várias estruturas ouníveis de consciência. Até onde foram, ascartografias eram boas; simplesmente faltava aelas sensibilidade desenvolvimentista. Esta eraexatamente a crítica de Hegel a Kant: as estruturasde consciência não são simplesmente dadas no início;elas somente podem ser concebidas como algo quese desenvolveu. Foi para este desenvolvimento quedirecionei minha atenção (WILBER, 2001b, p.10-11, grifo nosso).

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Os resultados de seus estudos preliminares acerca daontogenia humana foram divulgados em O Projeto Atman15,em 1980, propondo uma abordagem dentro da psicologiado desenvolvimento e apresentando a história da evoluçãoda consciência, que não só compreende o caminho externo,condutor da subconsciência à autoconsciência, mas incluitambém o percurso interno que leva da autoconsciência atéa supraconsciência.

Avançando no tempo, Wilber começa a etapa decisivaem sua trajetória intelectual – a Fase Desenvolvimentista I –referente à superação de sua visão romântico-junguiana sobrea consciência.

Nesta fase de estudos, o ponto central é o estudofenomenológico evolucionário do desenvolvimento da psiquehumana, concebida como um processo dinâmico demovimento hierárquico através de estágios. Então, estabelece,dentre outras coisas, que o desenvolvimento humano,individualmente falando, vai do pré-pessoal, passando pelopessoal, até o transpessoal, o que implica que parte dasubconsciência para a autoconsciência e desta para asupraconsciência. Tudo isso ocorrendo dentro de um processode transcendência e inclusão, ou seja, cada estágio superioralcançado no desenvolvimento supera o inferior, ao mesmotempo em que o integra na estrutura atual, donde se concluique o estágio mais elevado do desenvolvimento é resultadoda superação e integração de todos os anteriores. Estaconcepção fundamenta-se nos estudos da psicologia ocidentale na noção metafísica da Grande Cadeia do Ser.

Trabalhando com conceitos transpessoais e retomandoos teóricos da psicologia do desenvolvimento, o autorcomeçou a reestruturar a compreensão do curso dodesenvolvimento humano, no intuito de aprofundar suasanálises sobre sua primeira aproximação frente ao

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desenvolvimento humano, que, a seu ver, era romântica,assimilada de outros autores, como, por exemplo, de Jung.

Nessa visão, para ele próprio, como para outrosteóricos16 da psicologia do desenvolvimento que ele estavaestudando, o bebê nascia em um estado transpessoalinconsciente (céu inconsciente), o que significava que ele erao Todo Absoluto, ou melhor, uma totalidade primária ouuma identificação inconsciente com o self (a visão junguiana),mas em estado adormecido. Entretanto, pela necessidade deperceber essa Totalidade, a alma do bebê deveria renunciara esta unidade inconsciente, a fim de se tornar consciente.Para isso, ela criaria uma separação dentro da Totalidade,criando um mundo isolado, uma identidade pessoal (estadode inferno consciente), ou seja, um self separado, e, somentea partir de então, ela poderia retornar à Totalidade, de modoconsciente (céu consciente), mantendo ligação com o ego,mas alinhando-o e religando-o ao self. Nas palavras dopróprio Wilber (2001b, p.136):

[...] o que poderíamos chamar de visão tradicionalromântica é que o desenvolvimento vai do Céuinconsciente (pré-egóico) ao Inferno consciente(egóico) e depois ao Céu consciente (transegóico).O eu é totalmente uno com o fundamento, tanto noprimeiro quanto no terceiro estágios, em ambos,mas no primeiro a união é inconsciente e no terceiroé consciente.

Essa visão romântica, na qual o objetivo da alma dobebê era recuperar sua união com o self, parecia-lhe tão lógicaque foi difícil não acreditar nela e não defendê-la. Contudo,havia um equívoco17 nesta visão, pois uma alma, para seiluminar, não pode regredir ao estado de bebê/infantil, mas,

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sim, se desenvolver, progredir. A percepção de Wilber, agora,era evolucionária, por isso, não poderia haver regressão noprocesso. A chave deste “enigma” emergiu da compreensãode que se pode estar consciente ou inconsciente da própriaunião com a Base Divina, mas, em hipótese alguma, pode-seregredir, perdendo a união com essa Base. Como todas ascoisas estão unidas a esta Base, perder a união é, simplesmente,deixar de existir, fato que se constitui em uma impossibilidade.

Então, retificando sua teoria, Wilber passa a concebera trajetória do desenvolvimento humano como sendo iniciadaem um inferno inconsciente [separação do Divino], passandopor um inferno consciente [construção do próprio eu], e,por fim, para um céu consciente [abertura consciente para aUnidade]. Ressalta que, em nenhum momento, o ser humanoperde sua união com a Base Divina; afinal, é umaimpossibilidade ela deixar de existir. Para incorporar a formahumana, o ser aliena-se inconscientemente, mas em momentoalgum perde o contato com o Divino e, desse modo, deixaque o curso do desenvolvimento humano siga sua meta deforma linear, indo do pré-pessoal, passando pelo pessoal,até alcançar o transpessoal.

Com isso, finalmente, ficou claro para ele que a questãocrucial era a de que o desenvolvimento humano não éregressivo a serviço do ego, mas evolucionário natranscendência do mesmo. Entretanto, a constatação de seuequívoco, segundo sua própria observação, deu-se, de fato,por meio de uma pesquisa de natureza antropológica. Comisso, passou a levantar também a possibilidade de investigarparalelos entre a ontogenia e a filogenia humana. Lançou-se ao desafio e concentrou seus estudos18 na área daantropologia cultural e, mais especificamente, na mitologia.

Wilber passou a compreender a evolução a partir doBig Bang, seguindo pelo aprimoramento dos átomos

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elementares, vida unicelular, pluricelular, vida mineral,vegetal, até às formas de vida mais complexas dos mamíferose estes, por sua vez, desenvolvendo-se até a raça humana.

Com o aprofundamento de sua investigação, concluiuque a fase hominídea terminaria desembocando na consciênciahumana, que caracteriza um novo estágio evolutivo. Assim,validou, mais uma vez, sua teoria de transcendência e inclusão.Afinal, os vegetais possuem os minerais em sua composição,bem como o humano incorpora as qualidades de todos ospredecessores. No dizer de Wilber (2001b, p. 16):

[...] esta é a noção de “individualidade composta”apresentada em Eden; o indivíduo não é umaunidade isolada; ao contrário, é composto por todosos estágios precedentes de evolução/desenvolvimento, estágios que agora fazem parteda sua individualidade composta e que expressamsuas necessidades, e reproduzem suas própriasexistências, por meio de trocas com oscorrespondentes níveis do ambiente. Em outraspalavras, cada nível transcende, mas inclui seuspredecessores de um modo holístico, em forma deninho: desenvolvimento que é envelopamento.

Em uma outra conclusão a que chegou, o autor constataque o ser humano, filogeneticamente, semelhante ao queocorre em sua ontogenia, vivia, desde os tempos mais remotosaté a contemporaneidade, mergulhado nos reinossubconscientes da natureza e do corpo e não se autodiferenciavado mundo que o rodeava. O mundo do ser humano e seu selfpermaneciam basicamente indiferenciados, fundidos econfundidos. Seu self e seu mundo natural eram dois e um só,ao mesmo tempo, porquanto não compreendia com clarezaque o self era o próprio ser humano autoconsciente. Na medida

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do processo evolutivo, a consciência que estava adormecida,alienada de si mesma, manifestou-se dentro do próprio processoe não como algo de fora.

Para chegar à compreensão filogenética, Wilber utilizou-se da análise cultural-humanística, evidenciando mundosclaramente diferentes, cuja evolução19 proporcionou, também,mutações nas estruturas da consciência. Ao longo dos tempos,mapeou, respeitando cada época, quatro estágios principaisda humanidade: o arcaico, que se refere à fase primitiva decrenças e práticas; o mágico, época em que ritos, tótens,luta pela vida e participação mística eram o centro da vidahumana; o mítico, quando as grandes civilizações criaram asmitologias clássicas; e o racional, que retrata o atual momentode racionalidade e da lógica. Com este estudo antropológicoe evolucionário, pôde preencher lacunas deixadas nacartografia apresentada em O Espectro da Consciência.

Ao mesmo tempo em que os domínios da autoconsciênciae da superconsciência continuavam válidos, pôde, com a obraDespués del Éden, publicada em 1981, incluir no espectroos níveis da esfera subconsciente – matéria (o pleroma20), plantae animal inferior (o uroboros21) e mamífero (o tífon) – e refinarsua compreensão da esfera transpessoal, subdividindo-a emquatro níveis gerais: o psíquico (domínio dos estadostranspessoais iniciais), o sutil (morada dos arquétipos e daDivindade pessoal), o causal (o Vazio não-manifesto) e oSupremo (espírito, turiya, Svabhavikakaya). Assim, elecompletava o espectro da consciência ou Grande Cadeia doSer: matéria-pleroma, réptil-uroboros, mamífero-corpo,persona, ego, centauro, psíquico, sutil, causal, Supremo. Taisresultados, do ponto de vista da ontogenia, foram apresentadosem seu livro Projeto Atman, que publicou em 1980.

Com isso em suas mãos, chegou à conclusão de que sea evolução da humanidade havia conseguido mover-se da

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subconsciência para a autoconsciência, então não havianenhuma razão para que ela não pudesse continuar daautoconsciência para a supraconsciência. Com este raciocínio,estabeleceu as três fases gerais do desenvolvimento humano:do pré-pessoal (pré-consciente) para o pessoal (consciente) edeste para o transpessoal (supraconsciente).

Deste modo, tornou-se, para ele, oportuna a observaçãode que cada estrutura sucessiva de ordem superior é sempremais complexa, mais organizada e mais unificada — e aevolução continua até existir apenas a Unidade final, quandoa força motriz da evolução se esgota e passa a haver apenasaquilo que prefere chamar de liberação perfeita de totalRadiância ou o Fluxo do Mundo.

Assim sendo, Wilber completa sua primeira formulaçãoda visão desenvolvimentista do ser humano – do pleromáticoao Atman: um desenvolvimento na direção de mais consciênciae refinamento em termos de sutileza. O ser humano não édado pronto, mas, sim, em potencial de desenvolvimento comdireção para a plenificação na Unidade do Espírito.

1.3.31.3.31.3.31.3.31.3.3 Fase Desenvolvimentista II - o movimento Fase Desenvolvimentista II - o movimento Fase Desenvolvimentista II - o movimento Fase Desenvolvimentista II - o movimento Fase Desenvolvimentista II - o movimentode uma estrutura da consciência para outrade uma estrutura da consciência para outrade uma estrutura da consciência para outrade uma estrutura da consciência para outrade uma estrutura da consciência para outra

Com o esquema de transcendência e inclusão, claro edefinido, Wilber iniciou um novo momento de seu pensamento,passando a enfatizar as diferenças existentes entre as estruturasbásicas, os estágios de transição entre elas e o próprio sistemado self. Reconhecia que isto era extremamente necessáriopara alcançar seu objetivo de sintetizar e integrar os enfoquesocidentais e orientais da consciência, beneficiando-se tantodos conceitos psicodinâmicos convencionais como dasabordagens transpessoais.

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Assentado sobre as compreensões já estabelecidas,iniciou a fase Desenvolvimentista II, configuradaespecialmente nas seguintes obras: Los três Ojos delConocimiento, publicado em 1983 e Transformações daConsciência, de 1986. Agora, vai estabelecer os meios detransição de um nível de consciência para outro.

O refinamento da concepção acerca do desenvolvimentodinâmico da consciência fez Wilber chegar à compreensãode que, no ser humano, existem as estruturas básicas daconsciência, que são relativamente autônomas, e os estágiosde transição, que tendem a ser quase que completamentesubstituídos pelas fases de desenvolvimento subseqüentes. Emsuas palavras:

[...] poderíamos dizer que as estruturas básicas sãoestágios de desenvolvimento que nunca crescem,enquanto as estruturas de transição são estágios emprocesso de crescimento. Os primeiros permanecemcomo estruturas, os últimos são estruturas quefuncionam como estágios. Ambos, enfim,apresentam atributos próprios das estruturas e dosestágios, mas sua importância relativa é, em cadacaso, diferente (WILBER, 1999c, p.256).

Descobre, então, que as estruturas básicas e os estágiosde transição não seguem, em razão das características dosistema do self, o mesmo processo evolutivo que fica nomeio desses dois desenvolvimentos e é o responsável pelometabolismo das experiências em cada nível dodesenvolvimento estrutural. Isto faz com que o espectro daconsciência seja, também e ao mesmo tempo, um mapa depatologias, ou seja, no caminho do crescimento pode haver,e há, bloqueios no desenvolvimento da consciência.

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O modelo das estruturas básicas da consciência,originariamente estudado por Wilber, é a Grande Cadeia doSer – o núcleo essencial da filosofia perene – que pode seapresentar por meio de versões resumidas, fazendo referênciaa apenas dois níveis (matéria e espírito); outras vezes, a trêsníveis (matéria, mente e espírito); e, outras ainda, a quatroou cinco (matéria, corpo, mente, alma e espírito).

A característica mais notável de uma estrutura básica oude um nível básico de consciência é que, uma vez que ela emergeno desenvolvimento humano, tende a permanecer existindo navida do indivíduo durante o desenvolvimento subseqüente. Apesarde finalmente ser transcendido, pressuposto e subordinado pelomo-vimento ascendente do self em direção às estruturas básicassuperiores, ainda assim conserva uma relativa autonomia e umaindependência funcional.

Depois de intensos estudos sobre essa temática, delimitouum modelo que se subdivide em nove estruturashierarquicamente relacionadas de modo ascendente,denominadas:

1) sensoriofísico, que representa o reino da matéria,da sensação e da percepção sensorial;

2) fantasmagórico-emocional, que se refere aodesenvolvimento emocional-sexual, bem como seresponsabiliza pela forma mais simples derepresentação mental de um objeto: a pictórica;

3) mente-rep, que se relaciona ao pensamento pré-operacional de Piaget e, por isso, se desdobra emduas sub-estruturas: o estágio de símbolos e o estágiode conceitos;

4) mente regra/papel, que representa a possibilidadeda troca de papéis, ou seja, a pessoa pode assumir

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o papel de outras e realizar operações de regras,tais como multiplicação e divisão, mas ainda de formaconcreta;

5) formal-reflexivo, que remete ao pensar acerca domundo, do próprio pensamento, capacitando oindivíduo à auto-reflexão, introspecção, bem comoao raciocínio hipotético-dedutivo;

6) visão-lógica, a qual faculta a possibilidade deestabelecer redes de relações por meio de umapercepção panorâmica da realidade, pois o indivíduopercebe a interdependência das coisas,compreendendo a existência de uma rede de idéias;

7) psíquico, que marca o início do desenvolvimentotranspessoal, acarretando numa transformação dascapacidades de cognição e percepção do indivíduo;

8) sutil, que se assemelha ao mundo das formas dePlatão, dos sons sutis e das iluminações audíveis, daintrovisão e absorção transcendentes;

9) e, por fim, causal, o terreno transcendental de todasas estruturas menores, um self universal e sem forma(Atman), comum a todos os seres; um ser que é, emessência, uno com o Self Supremo.

Os estágios de transição são, por sua vez, as estruturasque não estão incluídas ou projetadas no desenvolvimentoseguinte e tendem a ser negadas, dissolvidas ou substituídaspelo estágio de desenvolvimento ulterior. A partir destaconstatação, Wilber passou a comparar, metaforicamente, aGrande Cadeia do Ser a uma “escada” onde os degrausrepresentam as estruturas básicas e o self (ou o sistema doself) é aquele que sobe a escada.

Assim, a cada degrau alcançado, o eu adquire uma visão

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ou perspectiva diferente da realidade, uma sensação diferentede identidade, um tipo diferente de moralidade, um conjuntodiferente de necessidades que se alteram de nível para nível.São estas sucessivas alterações no sentido do self e de visõesde mundo que são consideradas as estruturas de transiçãoou, mais comumente, os estágios do self.

Nosso self proporciona identidade a nossa mente; é neleque se dá a verdadeira ação do desenvolvimento, atuando comomediador entre as estruturas básicas e transitórias. Nosso selfrevela-se, também, como o ponto da vontade; ele é o localem que reside a livre escolha ou o lugar do livre arbítrio.

O sistema de nosso self é a estrutura responsável pela“digestão” das experiências em cada nível do desenvolvimentoestrutural. Todavia, se nosso self não conseguir metabolizarou assimilar os diversos desafios a nós apresentados, em nossodia-a-dia de relações, certamente, isto influenciará, fortemente,o surgimento de determinadas fixações ou psicopatologias,que impedirão o desenvolvimento da consciência.

Os teóricos das relações de objeto, como Gunrrip(1971), falam de patologia como “metabolismomalsucedido” — o self não consegue digerir eassimilar experiências passadas significativas, e elasperma-necem alojadas como um pedaço de carnenão-digerida, no sistema do self, gerando indigestãopsicológica (patologia). As estruturas básicas daconsciência, de fato, podem ser concebidas comoníveis de alimento — alimento físico, alimentoemocional, alimento mental, alimento espiritual.Esses níveis de alimento, como veremos, sãorealmente níveis de relações de objeto, e a formacomo o self lida com esses “alimentos-objetos” (“selfobjeto”) é um fator fundamental para odesenvolvimento da psicopatologia. (WILBER,1999c, p.29).

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Para aprofundar suas investigações na área daspsicopatologias22, Wilber buscou embasamento teórico nascontribuições da psicanálise, mais especificamente nadescoberta central de que sintomas emocionais não sãodestituídos de sentido, e, sim, de acordo com a história devida do indivíduo, estes sintomas apresentam significados,pois podem ter várias causas; porquanto, se o indivíduoconsegue reconstruir conscientemente esta história, então osignificado do sintoma torna-se transparente e, portanto,perde seu domínio obsessivo na consciência.

A compreensão é que, à medida que níveis superioresemergem, os inferiores, que não são integrados, e, sim,segregados, ao invés de promoverem a diferenciação,promovem a dissociação, ou seja, ao invés de transcendência,repressão. Em suma, o estudo da influência do processohistórico do indivíduo na delimitação da psicopatologiaresultou em um amplo modelo hierárquico das psicopatologiaspré-pessoais, pessoais e transpessoais, confirmando aexistência da correspondência respectiva com as estruturasbásicas da consciência e os estágios do self.

Com a compreensão de que a Grande Cadeia evoluitanto de maneira individual, com o desenvolvimento dosestágios do self, como de forma coletiva, caracterizada pelosmodos coletivos de consciência, Wilber encerra esta fase deinvestigação, passando a estudar o desenvolvimento do modelointegral da consciência, que caracteriza a última fase de seupensamento, cuja formulação foi exposta no início destecapítulo, configurando o modelo “todos os quadrantes, todosos níveis”. Ou seja, Wilber iniciou sua trajetória de estudos,tendo por base uma visão estrutural e metafísica, seguindoseus estudos fenomenológicos-evolucionários tanto ontoquanto filogenéticos, chegando à visão integral.

É a visão integral que nos interessa para este livro,

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todavia não se chega à visão integral sem que se use umaabordagem fenomenológica-desenvolvimentista. Por isso,seguimos a trajetória um tanto inversa da vivenciada porWilber em sua trajetória intelectual.

O estudo da última fase do pensamento de Wilberpossibilitou-nos o acesso a sua atual abordagem da consciênciaque integra os níveis básicos da Grande Cadeia do Ser(sensorial, mental e espiritual) com as esferas de valoresculturais distinguidas pela modernidade – arte, moral e ciência,que expressam as dimensões do ser humano, uma grandesíntese de sua trajetória de investigador, que nos propiciouum modelo integral do ser humano.

Ainda um apêndice. Depois de fazer uma “segundaleitura” de O Projeto Atman, o próprio Wilber relata queconstatou a necessidade de revisitar algumas teorias e refinarsua própria concepção sobre a Grande Cadeia do Ser.Segundo seu entendimento, ela apresentava insuficiênciasque deveriam ser solucionadas, com o fim de alcançar umagrande síntese, uma visão integral mais adequada.

Durante a segunda fase de estudos desenvolvimentistas,o autor acrescentou à concepção teórica dos níveis23 daconsciência o conceito de linhas de desenvolvimento e asapresentou-as em sua obra Psicologia Integral.

Psicologia Integral, além de nomear o título de seu livro,significou o marco mais organizado de sua visão integral sobreo desenvolvimento humano. Tomando por base a abordagemdos quatro quadrantes, compreende, então, que o ser humanotende a crescer em cada dimensão, num modo transcendentee inclusivo, obedecendo, certamente, à escala evolutiva deseu desenvolvimento individual, até atingir uma meta finalque seria a realização plena de todos os quadrantes em todosos níveis. Nas palavras do autor:

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Isso significa seguir tanto o crescimento em cadaquadrante como o crescimento na capacidade dosujeito de apreender cada quadrante (isto é, ocrescimento na capacidade do sujeito de apreenderseu próprio quadrante subjetivo e também os outrosquadrantes). Isso significa seguir o crescimento do euem relação com três ambientes ou três mundos (osTrês Grandes), a saber, sua relação com seu própriomundo subjetivo de impulsos interiores, ideais,concepções do eu, estética, estados de consciênciaetc.; sua relação com o mundo intersujetivo deinteração simbólica, discurso dialético, entendimentomútuo, estruturas normativas etc.; e sua relação como mundo objetivo de objetos materiais, estados decoisas, sistemas científicos, objetos cognitivos etc..Cada um desses evolui da onda pré-pessoal para apessoal, para a transpessoal (isto é, cada um dosquadrantes evolui, ou pode evoluir, através de todosos níveis do Grande Ninho, do corpo para a mente,da mente para o psíquico, do psíquico para o sutil,do sutil para o causal, do causal para o não-dual) e,assim, uma abordagem “todos os níveis e todos osquadrantes” segue o desenvolvimento de todos osníveis e linhas em todos os quadrantes (WILBER,2000c, p.308, grifo nosso).

Segundo o autor, no espectro geral da consciência, hádois tipos principais de níveis de consciência: os níveis básicos(sensório-físico, fantasmagórico-emocional, mente-rep, menteregra, formal-reflexivo, visão-lógica etc.) e as várias linhasde desenvolvimento que atravessam os níveis (cognição, afeto,necessidades, moral, auto-identidade, psicossexualidade,adoção de papéis etc.). Ou seja, pelos níveis do Grande Ninhodo Ser percorrem mais de duas dúzias de linhas dedesenvolvimento que fluem com uma relativa autonomia umasdas outras. De forma simplificada, as linhas dedesenvolvimento podem ser compreendidas associadas aosquadrantes e aos níveis de desenvolvimento.

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O termo “relativa autonomia” expressa a compreensãode que as linhas de desenvolvimento são independentes, namedida em que elas podem se desenvolver independentementeumas das outras, em diferentes proporções, dinâmicas ecronogramas. Ou seja, uma pessoa pode se encontrar, aomesmo tempo, em diferentes níveis nas diversas linhas dedesenvolvimento, evidenciando assim uma não-linearidadeou não-seqüencialidade no desenvolvimento humano. Porexemplo, alto nível na linha ética, baixo nível na linhacognitiva e mediano nível na linha afetiva.

FIGURA 2 - A HOLARQUIA E AS LINHAS DO DESENVOLVIMENTO

Fonte: Wilber (2000c, p. 111)

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Segundo o autor:

Essas diferentes linhas de desenvolvimento incluema moral, os afetos, a auto-identidade, apsicossexualidade, a cognição, as idéias a respeitodo bem, a adoção de papéis, a capacidade sócio-emocional, a criatividade, o altruísmo, as várias linhasque podem ser chamadas de ‘espirituais’ (solicitude,sinceridade, preocupação, fé religiosa, estágiosmeditativos), a alegria, a competência para secomunicar, os modos de espaço e de tempo, a tomadapela morte, as necessidades, a visão de mundo, acompetência lógico-matemática, as habilidadescinestésicas, a identidade sexual e a empatia – paracitar algumas das linhas de desenvolvimento maisproeminentes, para as quais temos algumasevidências empíricas (WILBER, 2000c, p.43).

Compreende, pois, o desenvolvimento humano comouma rede hieráquica, explicitando que cada linha passa portodos os estágios até alcançar o mais elevado, obedecendo àholarquia da Grande Cadeia do Ser na dinâmica datranscendência e inclusão dos níveis inferiores. Dentro doGrande Ninho do Ser não é possível dar saltos. A fim deprogredir para níveis mais elevados, o ser humano deve tercomo pré-requisito a passagem pelos níveis intermediários.Nessa perspectiva, o desenvolvimento segue:

[...] da matéria para o corpo, do corpo para a mente,da mente para a alma, e da alma para o espíritotranscende e inclui as dimensões menores, de modoque os corpos vivos transcendem, mas incluem osminerais, as mentes transcendem, mas incluem oscorpos vitais, as almas luminosas transcendem, masincluem as mentes conceituais e o espírito radiante

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transcende e inclui absolutamente tudo (WILBER,2000c, p.22).

É exatamente a partir dessa concepção evolucionáriado desenvolvimento humano que Wilber inclui odesenvolvimento em todos os níveis e em todos os quadrantesde forma transcendente e inclusiva, fazendo com quepossamos vislumbrar a visão integral do ser humano e, maisespecificamente, a perspectiva de uma educação que inclua,da mesma forma, todos os quadrantes e todos os níveis.

1.4 F1.4 F1.4 F1.4 F1.4 FECHANDOECHANDOECHANDOECHANDOECHANDO OOOOO C C C C CAPÍTULOAPÍTULOAPÍTULOAPÍTULOAPÍTULO

Com essa exposição do pensamento de Wilber,criamos, para nosso entendimento, uma configuração, umamoldura para o encaminhamento de uma prática educativaintegral. Ou seja, com Wilber, assumimos que o ser humano(1) se desenvolve individual e coletivamente num processodialético de interação entre essas duas perspectivas; (2) ao sedesenvolver, transita e toma posse de diversos níveis deconsciência, que são níveis de percepção e vivências darealidade; (3) que esses níveis de percepção se manifestamhorizontalmente em quatro dimensões – “Eu subjetivo”, “Nóscomunitário”, “Eu objetivo” e “Nós objetivo sistêmico” – everticalmente nos níveis “sensório”, “mente” e “espírito”.

Essa compreensão permite que a educação, em geral,e o educador, em específico, possam dirigir sua ação comatenção aos aspectos que permitirão ao educando desenvolver-se de uma forma integral. É um modelo, uma moldura quepode e, a nosso ver, deve orientar pais, mães, educadoresem geral e educadores escolares em sua ação cotidiana.

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A educação através dos Valores Humanos de SathyaSai Baba é um modo possível de realizar essa visão integraldo ser humano. É a ela que nos dedicaremos nos próximoscapítulos.

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CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2

A CA CA CA CA COMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃO DODODODODO P P P P PENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTO

DEDEDEDEDE S S S S SAIAIAIAIAI B B B B BABAABAABAABAABA

O Avatar vem para ensinar o homem a percorrer o caminhodo bem e não para interferir nas leis naturais da Criação.

(SAI BABA, 1990, p.4)

Este capítulo tem como proposta expor o percurso geraldo pensamento de Sai Baba, desde a divulgação de sua missãoenquanto Avatar24, passando pela realização de obras sociaise chegando ao modelo educacional inerente a todo seupensamento.

Para compreender sua trajetória de vida e suas obras,classificaremos seu pensamento e sua conseqüente práticaem três categorias, conforme explicitado na figura 3: a)devocional; b) assistencial; e, por fim, c) educacional.

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FIGURA 3 – ESTRUTURA ADMINISTRATIVA

DA ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI BABA

Fonte: Organização Sri Sathya Sai Baba do Brasil (2003).

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Apresentaremos Sai Baba, destacando: a óticadevocional; a compreensão de seu pensamento e como sedesenvolveu ao longo dos anos; a passagem da óticadevocional para a educacional; as razões do tratamento daeducação; assim como seu papel e seus desdobramentos.

Deste modo, adotaremos uma abordagem biográfica,percorrendo, através dos discursos, os sessenta anos deserviços de Sai Baba a seus devotos, em nome do amoruniversal. A abordagem biográfica nos permite ter uma visãopanorâmica de sua vida e obra, bem como de seu pensamento.

Discorrer sobre a vida, a obra e o pensamento de SaiBaba, na área da pós-graduação em educação, significaaproximar o mundo subjetivo das relações humanas ao mundoobjetivo da pesquisa, o que representa um desafio ético eintelectual, porquanto, além de instigante. Tal tema exigeque entremos em contato com um emaranhado de idéias eexposições acerca de Baghavan Sri Sathya Sai Baba, assimcomo um novo padrão cultural norteador de condutashumanas: a “cultura Sai Baba”. Nosso intento é de fidelidadeàs proposições desse indiano, que nesse momento éconsiderado, na Índia, e por seus devotos ao redor do mundo,como um Avatar.

Desde já, gostaríamos de esclarecer que, durante acaracterização da evolução de seu pensamento, nósutilizaremos dois tipos de recursos lingüísticos, em momentosdiferentes. O primeiro é a opção pelo uso da terceira pessoado singular para a apresentação do pensamento de Sai Baba;o que se justifica pelo fato de buscar a manutenção do máximoque pudermos de neutralidade nessa aproximação do tema.O segundo recurso é a utilização da primeira pessoa do plural,para manifestarmos nossos posicionamentos pessoais sobrea teoria e possibilitar ao leitor a distinção entre o pensamentode Sai Baba e nossa interpretação.

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A título de informação, cabe explicar que, embora nocorpo dos discursos de Sai todos os pronomes que se referema ele sejam grafados com inicial maiúscula, caracterizando oaspecto devocional que as pessoas têm para com ele, nãoadotaremos tal postura, pois nossa intenção não é destacá-lo como uma divindade, mas, sim, como um educador quevem dando sua contribuição à humanidade para a contençãoe minimização do caos mundial, embora reconheçamos erespeitemos, profundamente, a posição de seus devotos.

2.1 N2.1 N2.1 N2.1 N2.1 NOTOTOTOTOTASASASASAS H H H H HISTÓRICOISTÓRICOISTÓRICOISTÓRICOISTÓRICO-B-B-B-B-BIOGRÁFICASIOGRÁFICASIOGRÁFICASIOGRÁFICASIOGRÁFICAS DEDEDEDEDE S S S S SAIAIAIAIAI B B B B BABAABAABAABAABA

Inicialmente, consideramos necessário apresentar osignificado de seu nome (Bhagavan Sri Sathya Sai Baba),que traz, em si, a essência da missão que assume para estaexistência25. O termo Bhagavan, que sempre é associado aSai Baba, é o nominativo de bhagavat, que quer dizer aqueleque tem bhaga em abundância; e bhaga tem seis aspectos:soberania (aisvarya); poder (virya); fama (yasas), riqueza (sri);conhecimento (jnana) e desapego (vairagya). Então,Bhagavan é aquele que possui, ao mesmo tempo, estas seisqualidades numa medida absoluta, ou seja, Deus. Em resumo,podemos dizer que Bhagavan significa Divino.

O termo Sri é uma espécie de título honorífico queindica respeito e antecede o nome das divindades, santos oupessoas veneráveis. Podemos traduzi-lo como bem-aventurado, venerável, glorioso, brilhante.

Já a palavra Sathya quer dizer verdade. Sai significamãe e Baba é o mesmo que pai. Assim, o nome Sathya SaiBaba significa “Verdadeiro Pai e Mãe” ou “Pai e Mãe daVerdade”.

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Além disso, Sai Baba já declarou que a palavra Sai temum profundo significado interno, que deve ser conhecidopor todos os seus devotos e usado como um farol em suasvidas diárias. S = Serviço (Karma ou ação); A = Adoração(Bhakti ou devoção); I = Iluminação (Jnana ou sabedoria).Desta maneira, o nome de Sai representa a fusão das trêsgrandes correntes espirituais: Karma Yoga (união com Deusatravés da ação sem apego aos resultados), Bhakti Yoga (uniãocom Deus através da Devoção) e Jnana Yoga (união comDeus através da Sabedoria ou Conhecimento do Divino).Esta é a tríade que deve inspirar cada ser humano, levando-oa empregar todos os esforços para manifestar estes trêsaspectos em sua vida diária.

Os devotos também costumam se dirigir a Baba comoSwami, palavra usada pelos hindus para se referirem aosrenunciantes e mestres espirituais. Segundo Baba, este títulosó deve ser empregado para se referir a alguém que dominoucompletamente os sentidos.

Sai Baba nasceu dia 23 de novembro de 1926, emPuttaparthi26, uma vila remota de Andhra Pradesh, no sul daÍndia (ver figura 4), na família Ratnakar de Sri KondamaRaju, avô do “corpo físico” de Bhagavan. Sri Kondama Rajuvivia separado da família, todavia, convicto da profeciarevelada por seu Guru Venkavadhoota, de que Deusencarnaria em sua família. Ao longo de seus 116 anos devida, ele viveu contemplando Deus dia após dia para percebere ter a experiência da divindade de seu neto. A criança divina,Sathya Narayana Raju (chamada de Sathya ou Raju nainfância), era o oitavo filho do devotado casal, Pedda Venkapae Eswarama Raju.

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FIGURA 4 – MAPAS DE LOCALIZAÇÃO DO VILAREJO DE PUTTAPARTHI,ANANTAPUR-ÍNDIA.

Fonte: Organização Sathya Sai (2003)

Sathya Narayana Raju teve uma vida marcada por muitasdificuldades até que conseguisse se identificar com sua missãoe fazer com que outros – com exceção de seu avô –acreditassem que ele era a reencarnação de Shirdi Sai Baba.Até que isso acontecesse, a criança se submeteu a terríveisperseguições, mas, uma vez consolidada e manifestada a crençade sua real identidade, ele atraiu, através de seus ensinamentos,devotos de diversas partes do mundo.

Segundo seus dados autobiográficos, Sathya, quandocriança, era carismático e cativava, por seu comportamento,a vila inteira na qual morava. No discurso intitulado “O

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avatar e sua missão”, proferido em Prashanti Nilayam, SaiBaba27 nos revela:

[...] aos cinco anos de idade ganhou os títulos deBrahmajnani (aquele dotado com o conhecimentode Deus) e Biddalaguru (mestre criança). Foi umrenunciante de nascença e nunca deixou uma pessoanecessitada sair de mãos vazias. Era vegetariano erepudiava a crueldade para com os animais.

Em seus relatos, ele afirma que uma de suas atividadesfavoritas, quando criança, era o canto de bhajan28. Aos dezanos de idade, não só cantava e compunha bhajans, mastambém organizou um grupo infantil de bhajans.Posteriormente, o canto de bhajans tornou-se uma parteessencial do programa diário de Sai Baba e, hoje em dia, setornou um recurso para elevação e enobrecimento do serhumano.

Sua educação primária se deu na escola de Puttaparthi,sendo, em seguida, admitido no Ginásio (Higher ElementarySchool), na cidade vizinha de Bukkapatnam29, aos oito anosde idade.

Relatos informam que, desde a infância, Sai Baba foiexemplo para a comunidade. Seu comportamento na escolafoi um modelo para todos. Ele se sobressaiu nos estudos,jogos, esportes, peças e, invariavelmente, cantava a oraçãono início das aulas, todos os dias. No discurso citado acima,ele informa:

[...] conquistou o amor e admiração, não só doscolegas de classe, como também de muitos

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professores. Janab Mahbub Khan foi um dessesprofessores que adorava e amava Sathya ereconheceu sua Divindade. Após o famoso incidentede um professor ter sido colado na cadeira por fazerSathya permanecer na bancada, ele veio a serreconhecido como uma criança divina, não apenasna escola, mas também na cidade. Outro professorafortunado de Sathya foi Sri B. Subbannachar. Vistoque sua família inteira adorava Sathya, ele semprevivia na casa deles. Ele visitou também a casa deoutro professor, Sri V. C. Kondappa, para quemcostumava narrar a história de Shirdi Sai Baba.Baseado nisto, Sri Kondappa escreveu a história davida de Shirdi Sai Baba em 102 versos em télugu30

e os publicou num pequeno livro chamado “SreeSayeesuni Charithra”31.

Sua biografia nos revela que, após completar seusestudos em Bukkapatnam, ele foi para Kamalapuram(Distrito de Cuddappa), aos dez anos de idade, com seu irmãomais velho, Seshama Raju, para a educação complementar.Sua fama como uma criança prodígio, alcançou tambémKamalapuram.

As histórias das manifestações e milagres de Sathyajá estavam na boca não só dos estudantes eprofessores, mas de toda Uravakonda. Assim comona escola de Bukkapatnam, a proficiência de Sathyaem música, dança, teatro e poesia, foiimediatamente reconhecida na escola deUravakonda32.

Enquanto permanecia em Kamalapuram, seu irmãofoi para outro lugar, a fim de continuar seus estudos; Apóscompletar sua formação, Seshama Raju foi nomeado

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professor de télugu, numa escola de segundo grau emUravakonda, cidade do Distrito de Anantapur. Naturalmente,Sathya acompanhou seu irmão a Uravakonda, onde foiadmitido na mesma escola em que seu irmão mais velhotrabalhava.

Quando fez 13 anos, sua história pessoal deu uma drásticareviravolta. Sua divindade como um Avatar estava começandoa florescer, embora fosse de difícil compreensão para suafamília. Para que todos, inclusive seus familiares, o aceitassemcomo um Avatar, ele teve que provar que assim era.

Conta-se que no oitavo dia de março de 1940, umanotícia chocante se espalhou na cidade de Uravakonda: elehavia sido picado por um escorpião preto. Ninguém encontrouo escorpião, mas, exatamente após 24 horas, ficouinconsciente e permaneceu assim durante toda a noite seguinte.Quando readquiriu sua consciência, comportou-se de um modofora do comum, como se estivesse possuído por um espírito.Alarmado com essa situação, seu irmão mais velho, SeshamaRaju, chamou seus pais, que o levaram para Puttaparthi.

Exatamente após dois meses e meio do incidente doescorpião, fez sua primeira declaração de divindade, em 23de maio de 1940. A casa da família de Pedda VenkamaRaju estava lotada de pessoas, já que ele estava materializandoflores e açúcar e distribuindo-os aos espantados moradoresda vila. Pedda Venkama Raju, pai de Sathya, foi informadosobre o que estava acontecendo em sua casa. Enraivecido edesconcertado pelo comportamento de seu filho, ordenouque revelasse sua verdadeira identidade.

Assim, rapidamente veio sua resposta - “Eu sou SaiBaba” - na forma da primeira declaração da divindade.Posteriormente, quando foi questionado a provar o que disse,lançou um punhado de flores de jasmim no chão, as quais

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formaram em letras télugu: “Sai Baba”.

Desde então, ele anunciou sua missão, a qual pode serinterpretada pelas seguintes palavras:

Eu tenho uma tarefa: encorajar a humanidadeinteira e assegurar vidas cheias de bem-aventurança.Eu tenho uma promessa: conduzir novamente àbondade todos que se desviaram do caminho correto,e os salvar. Eu estou preso a esse trabalho que amo:remover o sofrimento dos pobres e conceder-lhes oque lhes falta. Eu tenho a Minha definição daDevoção que espero: aqueles devotados a Mimdevem tratar alegria e dor, ganho e perda, comigual firmeza. Isso significa que Eu nunca vou desistirdaqueles que se ligarem a Mim33.

Não impressionado por esses atos extraordinários, opai apegou-se a seu plano de dar a ele educação superior, afim de fazê-lo trabalhar no “Serviço Público”.

Assim, apenas alguns dias após esse incidente, ele[seu pai] levou Sathya de volta a Uravakonda emjunho de 1940 e o admitiu na mesma escola. Sathyajá era uma celebridade em Uravakonda. Multidõesde peregrinos começaram a vir para a casa domenino milagroso para procurar por suas bênçãos.O diretor da escola e vários professoresreconheceram a divindade da criança Sathya. Seuprofessor Thammiraju o adorava e venerava34.

Seus relatos biográficos nos revelam que deu outra provade sua Divindade para seu descrente irmão mais velho quandotodos foram ao templo de Virupaksha em Hampi, perto deHospet, nas férias do Dasara. Neste local, Sathya foi obrigado

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a demonstrar um pouco de seu potencial divino. Em seudiscurso de 11/1/1999, narra este momento:

Quando Seshama Raju e seu grupo entraram no“sanctum sanctorum” do templo, encontraram,para seu total espanto, Sathya no lugar do Lingam,embora eles o tivessem deixado do lado de fora.Perplexos por esse acontecimento extraordinário,Seshama Raju correu para fora e encontrou Sathyaencostado na parede. Isso, de fato, foi um prelúdioàs importantíssimas declarações que o Avatar queriafazer sobre sua Divindade35.

Após seu retorno de Hospet, voltou para a escola, comode costume, mas foi embora perto do meio-dia. A históriabiográfica ganha nova direção nesse dia, 20 de outubro de1940, quando, jogando sua bolsa de escola em casa, se desfezda vida profana e assumiu o papel de Sathya Sai Baba, paradar início a sua missão, que vem sendo cumprida nos últimos60 anos.

Foi levado por uma grande procissão de Uravakondapara Puttaparthi, onde, primeiramente, fixou residência nacasa de Karnam Subamma, uma vizinha, que o serviu portoda vida com dedicação. Essa senhora o serviu com cuidadoe recebia todos os devotos que vinham encontrá-lo.Permaneceu nessa casa por vários anos, após ter declaradosua Missão Divina em Uravakonda, antes de se mudar paraum velho templo sagrado chamado Velho Mandir36.

Quando o número de devotos cresceu, a necessidadede um Mandir foi sentida por eles. Assim, o VelhoMandir foi construído no espaço entre os templosde Sathyabama e Gopala Swami, o qual foi

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inaugurado por Bhagavan Baba em 14 de dezembrode 1945. O Velho Mandir tinha quatro salas.Bhagavan mudou da casa de Karnam Subamma eocupou uma das salas à esquerda da varanda. Umasala era usada como dispensa e as outras duas erampara os devotos.

Após a inauguração do Velho Mandir, o fluxo diáriode devotos para Puttaparthi cresceusubstancialmente. Ao longo daqueles dias, os devotosficavam prontos às 15h para testemunhar as lilasde Bhagavan (brincadeiras divinas) nas areias doChitravathi. Às 16h, todos iam para lá. Baba pediaaos devotos para escolherem o lugar de suapreferência e todos sentavam em círculo. Baba,então, começava a brincar com a areia enquantoos olhos ávidos dos devotos assistiam seu jogo divino.

Dos montes de areia, ele tirava imagens de deusese deusas, doces de vários tipos e numerosos outrosobjetos. De fato, qualquer coisa que ele quisessesaía da areia. De 1946 a 1949, isso era quase umacontecimento diário. Em certos dias especiais, Babatirava um vaso (Kalasha) cheio de néctar dessasareias e distribuía esse líquido etéreo para osdevotos. Outras vezes, o néctar jorrava de seus dedose os afortunados devotos o recebiam. Nos anosrecentes alguns devotos também foram privilegiadospor ver tais lilas de Bhagavan37.

O número de devotos continuou aumentando, e empoucos anos esse espaço não podia mais acomodá-los. Atémesmo galpões provisórios em volta do Velho Mandir eraminsuficientes durante os festivais38. Em resposta às oraçõesde seus fiéis, Baba concordou em construir um lugar maisespaçoso. Então, a idéia de um Novo Mandir foi concebidae o mesmo foi construído num lugar ao sul da vila dePuttaparthi. Sai Baba o inaugurou em 23 de novembro de1950, em seu 25º aniversário de Sai Baba, e recebeu o

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nome Prashanti Nilayam, que significa a morada da pazsuprema.

Sobre Prashanti Nilayam, Coquet39 escreve:

Ao lado do vilarejo de Puttapharti surgiu durante avida de Baghavan uma nova cidade religiosa cujocoração é o atual mandir. Na época do jovem SaiBaba, os fiéis foram em tão grande número aovilarejo que foi necessário acolhê-los, e se construiuem sua intenção um edifício, em 1944. Esse edifício,chamado hoje de ‘velho mandir’, se encontra forado ashram e se tornou um kalyana mantap (umasala de casamentos), batizada com o nome do paide Baghavan, “Pedda Venkappa Raju”. O novomandir, que é o templo supremo onde moraBaghavan, foi construído sob sua total direção. Nadafoi feito ao acaso. Foram necessários dois anos paraterminar o essencial do prédio que foi inauguradoem 23 de novembro de 1950, por ocasião do 25ºaniversário de Baghavan. É o lugar onde ocorremas atividades espirituais do ashram. A cerimônia deinauguração foi prodigiosa. O Avatar foi levado pelosfiéis em cima de um suntuoso palanquim e a multidãonumerosa estava reunida em ambos os lados daestrada. Viu então Baghavan encher a mão comflores de jasmim e pétalas de rosa, que ele lançou àmultidão e, para estupefação geral várias dessasflores se transformaram em moedas de pratacomemorativas gravadas com a efígie de SathyaSai Baba e, em inglês ou em diferentes línguasindianas: “Porque ter medo, quando eu estou aqui?”.

Em torno do mandir, muitíssimos prédios têm sidoconstruídos desde 1966, depois que o ashram seseparou do vilarejo de Puttaparthi e se constituiu

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numa unidade administrativa chamada PrashantiNilayam, a Morada da Paz Suprema. O ashram estámuito nitidamente circunscrito. Lá vivem os residentesashramitas e os visitantes de passagem. No ashram,encontramos vários locais importantes fora dasgrandes construções onde vivem os fiéis. São: a árvorede meditação em cujas raízes Baghavan materializouum talismã visando ajudar os fiéis a aprofundar suameditação. Lá encontramos uma biblioteca, uma salade conferências, uma livraria, escritórios, uma imensasala de restauração. Há também o Purna Chandra,o auditório construído em 1973, que tem capacidadepara 15 ou 20.000 pessoas. No centro do ashramergue-se a coluna da unidade que é o símbolo doashram e a sigla da Organização Sai. Esse símbolo éconstituído de cinco pétalas representando as cincograndes religiões mundiais animadas por uma mesmaverdade. A coluna foi inaugurada em 1975, dataimportante por várias razões.

Fora do ashram se encontram muito amplamenteespalhados os colégios, universidades, o planetário,o gokulam (o cercado das vacas cujo leite é tãoprecioso ao ashram), o hospital gratuito, um grandecentro administrativo. A algumas dezenas de metrosdo ashram fica o rio Chitravati, o mais das vezes[sic] seco, ao lado do qual se situa o tamarindeiroonde ocorreram vários milagres.

No próprio vilarejo de Putthaparti, encontramos omausoléu dos pais de Baghavan, o templo deGopalaswami, o templo de Sathyabhama (a paredrade Sri Krishna), um dos únicos da Índia. Esse templofoi erguido pelo avô de Sathya Sai Baba, que sonhouque Sathyabhama queria que um abrigo lhe fosseconsagrado. Há também o templo de Shiva, quemarca o local de nascimento de Sathya. Nãoesqueçamos a pequena mesquita aberta em 1978por Baghavan e, além do vilarejo, o Sathya Sai Nagar,uma colônia de 58 casas para onde os harijans40 dovilarejo foram deslocados e instalados por umaocasião de uma enchente do rio, em 197541.

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Prashanti Nilayam, a morada de Sai Baba, dá otestemunho de suas qualidades divinas. Os milhares de pessoasque se reúnem nesse pequeno distrito, numa remota partede Andhra Pradesh, na Índia, experimentam suas vibraçõesdivinas, impregnadas nessa atmosfera, atraindo pessoas detodas as partes do mundo para receber o darshan42, asbênçãos de Bhagavan.

FIGURA 5 - PRASANTHI NILAYAM

Fonte: Home page da Organização Sri Sathya Sai, Brasil.

Quando retornam para seus países e lugares, levam comeles numerosos relatos de experiências que descrevem asrevelações de Bhagavan para orientação de todos. O próprioSai Baba descreve que Prashanti Nilayam se transformou emum distrito de amor e paz. Este local, segundo ele:

É um mundo totalmente diferente em que Verdade,Ação correta, Paz, Amor e Não-violência permeiamtodo o ambiente. Embora existam multidões portoda a parte, não há barulhos destoantes. Hálimpeza, ordem, disciplina, cortesia e humildade emtodo lugar. Prashanti Nilayam é um pequeno mundoem si mesmo. Pessoas de diferentes países, seguindodiferentes religiões, falando línguas diferentes,

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convivem juntas, jantam juntas e se misturam umascom as outras com sentimentos sagrados de amor efraternidade43.

Assim, sua missão propagou-se rapidamente após aconstrução de Prashanti Nilayam, com a fundação, em1965, da Organização Sri Sathya Sai com a publicação delivros e revistas em cerca de 180 países. Estima-se que existammais de 100 milhões de devotos em todo o mundo.

Em fevereiro de 1958, foi publicado o 1º número darevista Sanathana Sarathi (O Eterno Condutor). Nestapublicação, todos os 14 livros da série Vahini, escrita por ele,foram editados em forma de fascículos, incluindo 127 discursose 21 textos. Além disso, foram publicados 30 volumes dediscursos intitulados: Sathya Sai Speaks, cobrindo o períodode 1953 até 1997, sendo apenas o 1º volume traduzido noBrasil. Tivemos acesso, também, a seus diversos discursos,através da Internet, totalizando 270, desde 1953 até 2003.No Brasil, já há traduções de, aproximadamente, 30 títulosde sua autoria e outros que tratam de sua vida e obra.

Desde que declarou sua missão, em 1940, Sai Babasegue uma rotina de serviço abnegado a seus devotos. Comoparte desta rotina, profere, discursos regularmente,qualificados, por ele mesmo, de “diálogos” ou “conversações”.Nestes discursos, narra histórias e parábolas das escriturassagradas das diversas religiões, cita os ensinamentos dosVedas, da Bíblia, do Alcorão, e sempre relembra que o serhumano deve ter o sentimento de que é “filho daimortalidade”. Também ensina os passos práticos a seremdados como parte da disciplina espiritual, para remover ailusão e possibilitar a iluminação espiritual. A maior parte deseus discursos é proferida em festividades religiosas(principalmente nas mais importantes da Índia) e nas datas

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relevantes de religiões como o Budismo, o Islamismo e oCristianismo.

Seus ensinamentos se espalharam por todo o mundo einspiraram a transformação espiritual de um incontávelnúmero de pessoas, de todas as religiões, pois Sai Babaprofessa que a essência de todas as religiões é a mesma eque todas conduzem ao mesmo Deus. Além disso, sua obra eseu exemplo de serviço servem de guia para a realização degrandes projetos sociais e educacionais que têm atuadopositivamente na realidade de muitos países, inclusive noBrasil. As experiências educacionais serão tratadas nospróximos capítulos.

2.2 P2.2 P2.2 P2.2 P2.2 PANORAMAANORAMAANORAMAANORAMAANORAMA DADADADADA C C C C CULULULULULTURATURATURATURATURA S S S S SAIAIAIAIAI B B B B BABAABAABAABAABA

Expor uma abordagem sobre Sai Baba, no contextouniversitário, poderá produzir sentimento de estranheza emmuitas pessoas, em função de ele se manifestar ao mundocomo um Avatar. Contudo, esta obra assume o desafio desistematizar e apresentar contribuições educacionais que estãopostas em seu pensamento e em suas atividades, além doaspecto devocional.

Cabe-nos, inicialmente, esclarecer que nossa propostanão é assumir a obra de Sai Baba devocionalmente, masproceder a um estudo acerca, especialmente, de sua propostapara a educação dos seres humanos, incluindo suas obrasassistenciais, em vários lugares do mundo. Na Índia, seu paísnatal, como em outros lugares, sua atividade se expressacomo oferta de conhecimentos à humanidade, tendo em vistasua educação científica, ética e espiritual.

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Os ensinamentos védicos, em seus discursos, relatandocontos épicos circunscritos ao Bhagavad Gita, falando emKrishna e demais representantes do hinduísmo, nos conduzema compreender que seus ensinamentos se enquadram dentroda filosofia hinduísta, sem que deixem de se servir dasparábolas do cristianismo e de outras religiões, embora commenos freqüência. Isso exige de nós uma incursão na tradiçãohinduísta, porquanto acreditamos ser necessário,minimamente, ter presentes seus principais princípios parafacilitar a compreensão do pensamento desse Avatar.

A Índia é um país muito rico de informações sobre oconhecimento espiritual e tem uma cultura milenar que, hámuitos séculos, atinge diferentes culturas espalhadas pelomundo. Segundo Sai Baba44: “A Índia é o país que propagao conhecimento espiritual para o resto do mundo e deseja obem-estar do mundo inteiro - Lokah Samasta SukhinoBhavantu (que o mundo inteiro seja feliz!)”.

Esse país possui raízes sócio-culturais profundas nastradições sagradas que influenciam, até mesmo, a política ea economia que movimentam o país. Por isso, não podemosnegar que essas raízes possam ter influenciado a conduta deSai Baba, pois a Índia é seu berço cultural. Em contrapartida,não podemos deixar de dizer que a cultura hinduísta é umrecurso necessário para possibilitar sua comunicação com aspessoas, expondo sua doutrina através de seus discursos, umrecurso didático que facilita o entendimento de seus devotose educandos. Funciona como um meio de comunicação parase fazer entendido, ou seja, é como se ele falasse hindu paraindianos, a língua falada na maior parte da Índia, para sefazer inteligível.

O hinduísmo é uma religião muito peculiar, pois,diferente do cristianismo, budismo, islamismo e outras tantas,ela não possui um fundador. Ninguém sabe ao certo quando

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começou. Sabe-se somente que se projetou no subconscientede milhões de indianos, sendo, posteriormente, disseminadapara além das fronteiras da Índia, tendo uma capacidadeespetacular de se manter viva durante milênios.

Especula-se, entretanto, que a origem do hinduísmotenha se dado há uns quatro mil anos e, curiosamente, épossível verificar que todos os seus estágios se desdobraramsimultaneamente. São estágios do hinduísmo: védico,bramânico e as seitas que se originaram dele, como, porexemplo, o jainismo e o budismo.

Gaarder45 afirma que as origens do hinduísmo védicodão-se entre o ano de 1500 e 200 a.C.. Estima-se que seusprincipais livros sagrados foram escritos por um povo decultura indo-européia que invadiu a região nesse período. OsVedas consistem em quatro volumes: a) Rig Veda, é compostopor hinos de louvor à Energia que veicula melodias; e d)Atharva Veda aborda fórmulas de Magia e Ritualística. Seusadeptos acreditam que essas obras possuem verdades eternasreveladas que regem os seres e as coisas, organizando apopulação em categorias distintas (castas), cada uma comseus próprios deveres e direitos espirituais e sociais. Sobreos Vedas, Sai Baba46 diz:

Os Vedas são infindos e a vida humana é limitada.Como compreender o infinito dentro do curto espaçode tempo da própria vida? Mantendo este problemaem mente, o sábio Vyasa codificou os Vedas emquatro divisões maiores e denominou-as de Rig,Yajur, Sama e Atharva Vedas. Rig Veda éMantraswarupa (consiste de Mantras). O Yajur Vedaé a compilação de rituais ou Yajus e o Sama Vedaé a compilação de Riks (glórias e preces) com música.A fim de manter a saúde do indivíduo e assegurar aproteção do país, foi compilado o Atharva Veda. O

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sábio Vyasa codificou estes quatro Vedas e escreveuos 18 Puranas.....

O conceito de Deus, por exemplo, para o conjunto deprincípios filosóficos dos hinduístas, se resume em uma forçaque vivifica tudo o que existe no universo. Entretanto seusseguidores acreditam em uma divindade tripartite: Vishnu, osímbolo da sustentação e criação dos avatares hindus, comoRama e Krishna; Shiva, o símbolo da destruição; e Brahma,o símbolo da criação. Há também uma série de deusas, masa mais expressiva é Kali, o símbolo da “deusa-mãe”. Assim,o ponto crucial para o entendimento da filosofia hindu é acompreensão e respeito dos três pilares que sustentam todaa religião: as castas, a vaca47 e o karma.

Quanto às castas, cabe dizer que não há registros decomo surgiram, mas têm-se indícios de que, inicialmente,havia quatro castas principais: a) sacerdotes (bramanes); b)guerreiros; c) agricultores, comerciantes e artesãos; e d) servos.Porém, à medida que o tempo passou, novas subdivisõesforam acrescidas. Acredita-se que, a partir do século XX,existam cerca de 3 mil castas.

A cultura indiana atribuiu um rígido controle social parao enquadramento social de castas, dispondo normas deconduta para cada pessoa integrante de cada casta. A principalregra é que somente hinduístas podem fazer parte das castas;cristãos e muçulmanos residentes na Índia estão excluídos.

Para evidenciar como o sistema sócio-cultural influenciaa dinâmica da vida indiana, cabe dizer que, em 1947, com aindependência da Índia, foi homologada pela Constituição emvigor a abolição do sistema de castas na tentativa de acabarcom a discriminação. Todavia, como o sistema de castas nãose originou no campo político, a Constituição não foi

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suficientemente efetiva e a discriminação ainda persiste,enraizada na cultura nacional, especialmente nas aldeiasespalhadas por todo seu território. Nesta perspectiva, Sai Babamanifesta sua compreensão para além das castas; no caso,para além da cultura indiana, mesmo reconhecendo-a:

Todos são um meu querido filho, seja equânime paracom todos. Todos nós nascemos da mesma mãeterra, respiramos o mesmo ar e bebemos a mesmaágua. Neste caso, por que deve haver diferençasentre todos? Anulem todas as diferenças e vivamna unidade. Reconheçam a unidade na diversidadee ajam de acordo com isso48.

No conjunto dos princípios hinduístas, acredita-se que aalma não envelhece, tampouco morre. O conceito de karmaé símbolo da imortalidade da alma humana. O karma é umaalavanca que movimenta as engrenagens da vida, é o impulsopara que o ser humano possa “evoluir”. Nas palavras de Baba49:

Atualmente, as pessoas não cumprem suasobrigações, mas querem colher os frutos. Isto nãopode lhes dar felicidade. Cada um deve compreenderque nasce para cumprir várias obrigações, e não paradesfrutar de recompensas por serviços não prestados.

O homem deve compreender que não tem direitos areivindicar. Seu papel é cumprir seus deveres.Quando ele os cumprir, colherá as recompensas nodevido tempo. As pessoas, atualmente, não cumpremsuas obrigações, mas lutam por seus direitos.

Inicialmente percebam seus deveres e cumpram-nos. Dever é Deus. Trabalho é adoração. É toliceesperar recompensas sem executar as obrigações.

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As pessoas estão desperdiçando seu sagradonascimento humano ao negligenciar seus deveres.

Assim, acredita-se que após a morte do ser humano,sua alma pode renascer, manifestando-se em um outro servivo, seja um animal ou outro ser humano. Esta compreensãoexpressa o conceito de reencarnação, que, por sinal, tambémestá presente no discurso citado anteriormente. Gaarder etal. (2000, p44) explicam:

[...] o karma não é uma punição pelas más açõesou uma recompensa pelas boas. O karma é umaconstante impessoal – como uma lei natural.

O hinduísmo não reconhece nenhum “destino cego”nem divina providência. A responsabilidade pela vidado hinduísta no dia de hoje – e por sua próximaencarnação – será sempre dele. O homem colheaquilo que semeou. Os resultados das ações – oufrutos de uma vida – derivam dessas açõesautomaticamente. Poderíamos dizer que atransmigração está sujeita à lei de causa e efeito.

Em outras palavras, o que a pessoa experimentanesta vida em termos de riqueza ou pobreza, alegriaou tristeza, saúde ou doença, é resultado de suasações numa vida anterior. É desse modo que oshinduístas explicam as diferenças entre as pessoas.A doutrina do karma dá sustentação a um esquemade relações sociais como o sistema de castas.

Embora a pessoa deva se submeter ao karma queherdou de uma vida anterior, ela também exerce olivre-arbítrio no âmbito de sua existência atual.Portanto, o indivíduo sempre pode melhorar seukarma, e assim, lançar as fundações para uma vidamelhor na próxima encarnação.

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O hinduísmo, contudo, não esclarece como se finda oinescapável processo cíclico de reencarnação. Esse é umponto bastante ambíguo, parecendo que a reencarnação éum processo interminável. No entanto, a filosofia hinduístaaponta três caminhos para a salvação da alma humana:

a) o caminho do sacrifício, ou seja, se o ser humanofizer sacrifícios e boas ações durante seu períodoencarnado, conquista, inevitavelmente, a felicidadee fartura. Este caminho está próximo dos conceitosdos Vedas;

b) o caminho do conhecimento, conforme osUpanishads – segundo estágio do conjunto deprincípios hinduístas –, se resume na concepção deque é a ignorância do ser humano que o prende aociclo de reencarnações sucessivas;

c) o caminho da devoção prega que qualquer ser humanopode conseguir a graça divina, se agir de forma pura,ou seja, se fizer boas ações, desinteressadamente,sem esperar alguma coisa em troca. Este caminhoestá bastante evidente o Bhagavad Gita50, um livroque narra contos épicos indianos.

É sob as bases desse último caminho que Sai Baba vemimplantando uma nova cultura na Índia, que, vagarosamente,está se propagando pelo mundo. Sobre esse assunto, ele diz:

O que é devoção? Não é meramente oferecer váriostipos de adoração ou ir a peregrinações. Apenas opuro e verdadeiro amor pelo amor constitui adevoção. A verdadeira devoção é o amor fluindo deum coração puro e não contaminado por motivosegoístas. O amor é o vínculo íntimo da relação entreo devoto e o Senhor. Existem nove tipos de devoção,

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porém eles não se comparam ao amor51.

Vale ressaltar que ele não prega nenhuma nova religião,tampouco a união de todas, mas o respeito a cada uma delas.A devoção, para ele, é o principal caminho para se alcançaro divino que existe em cada ser humano; é a virtude humanamais valorizada em sua doutrina.Para os leigos, ele é maisum mestre espiritual; porém, junto a seus devotos, ele éconsiderado um Avatar.

Desconhecido entre a maioria dos ocidentais, o termoAvatar, na Índia, significa muito mais do que um simplesmestre espiritual, mas, sim, “Deus encarnado”. Contudo,longe de querer apresentar uma visão simplista e reducionistade que Deus estava em algum lugar e, repentinamente,“desceu” dos céus, as informações sobre Sai Baba nos indicamque a tradição hindu acredita que Deus desce à Terra todosos dias, como uma energia divina que se aloja no coração decada ser que nasce no planeta. Entretanto, quando

[...] a humanidade passa por dificuldades e o bemparece estar sendo vencido pelo mal, uma “grandeparcela” desta Energia Divina toma uma formahumana e vem ao mundo para restabelecer a LeiEterna e fazer com que os seres humanos voltem aviver em harmonia com a Ordem Cósmica. Vejamosum exemplo: a energia elétrica está em toda parte,durante todo o tempo, mesmo quando não a vemos.Com ela, várias lâmpadas são acessas e iluminamdeterminadas áreas. Nós somos estas lâmpadas.Porém, o Avatar concentra uma grande quantidadedesta mesma Energia Divina. Ele é uma “grandelâmpada” e sua luz ilumina toda a humanidade52.

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Segundo a tradição hindu, existem dois tipos de avatares:aqueles que vêm ao mundo totalmente conscientes de sua“missão”, são chamados de Purna Avatares (encarnaçõescompletas do Divino). Desde o nascimento, têm total domíniode seus ilimitados poderes transcendentais, como, porexemplo, Krishna e Sai Baba. Ao falar sobre sua missão naTerra, Sai Baba53 nos diz:

[...] vocês Me [sic] verão cada vez mais ativo narealização de instrução espiritual - ensinando àextraviada humanidade e dirigindo o mundo ao longodo caminho da verdade, retidão, paz e amor. [...] Minhatarefa a partir de agora vai ser a de restabelecer oDharma, corrigir o desvirtuamento da mente humanae guiar a humanidade de volta para a eterna religiãouniversal (Sanathana Dharma).

Os outros são pessoas que, por sua própria dedicação àcausa espiritual, alcançaram a iluminação, integrando-setotalmente com o Divino que, segundo Sai, existe em cadaser humano. Estes avatares são chamados de Amsha Avatares(encarnações de aspectos do Divino). Incluem-se nestacategoria os maiores ícones das religiões, como Jesus, Buda,Maomé, Zoroastro etc.

Nossa intenção em distinguir os dois tipos de avatares nãoestá relacionada ao fato de querer colocar uma categoria maisvaliosa em detrimento de outra, mas, sim, buscar explicardidaticamente como a figura de Sai Baba é vista entre os indianos.Não há porque se discutir se um Avatar foi melhor ou maisimportante que o outro; entretanto deve-se esclarecer que cadaum assumiu a responsabilidade, perante si e perante sua missão,de atender às necessidades humanas e transcendentais de umdeterminado povo, numa determinada época.

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Sai Baba, atualmente, possui uma organização quegerencia suas atividades assistenciais e educacionais. Valeesclarecer que não foi a pessoa de Sai Baba que se empenhoupara a concretização, embora tenha despendido esforços emotivado devotos. Já nos anos 1965, eram realizadasreuniões informais em diversas partes da Índia, nas quais osdevotos procuravam aprofundar conhecimentos sobre a novacultura espiritual por ele exposta. Nestas reuniões, realizavam-se cânticos devocionais, sessões de meditação e, em algunscasos, atividades assistencialistas, em nome de sua obra.

Desta forma, segundo informações históricas daOrganização Sai, visando compatibilizar o crescimento donúmero de devotos, que aumentava substancialmente a cadaano, um grupo de devotos de Bombaim procurou um outrodevoto, chamado Indulal Shah, com fins de legalizar umainstituição que pudesse ser um centro irradiador dos trabalhosque eram realizados em nome de Baba. Assim, em 1965,com seu consentimento, fundou-se a Sri Sathya Sai SevaSamithi (Organização de Serviço Sathya Sai), em homenagemao Baghavan, que autorizou a utilização de seu nome.

A partir de então, a Organização de Serviço SathyaSai começou a reunir os diversos grupos de estudos jáexistentes, centralizou e sediou encontros entre os devotos.Em 1967, realizou-se em Prashanti Nilayam a primeiraConferência Geral de Devotos Sai; em 1968, quando jáexistiam grupos espalhados por todo o mundo, foi realizadaa Primeira Conferência Mundial (e Segunda ConferênciaGeral da Índia), que contou com a participação derepresentantes de diversos países; e, até o ano 2000, aOrganização Sai estava presente em 137 países.

Sai Baba resumiu da seguinte maneira o principalobjetivo da Organização Sai:

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[...] o principal objetivo da Organização Sathya Saique vocês devem ter sempre presente é ajudar ohomem a reconhecer a Divindade inerente nele.Assim, é seu dever enfatizar o Uno, experimentar oUno em tudo que façam ou digam. Não dêemnenhuma importância às diferenças de religião ouseita, cor ou nível social. Tenham o sentimento deUnidade permeando cada um de seus atos54.

A verdadeira prática espiritual está em dar as mãosao restante da comunidade e trabalhar peloprogresso da sociedade como um todo55.

Os discursos de Sai Baba têm o objetivo de ajudar cadadevoto a descobrir seu próprio ser. Nos trechos citados,podemos verificar que devoção, conscientização e serviçosocial se confundem. Assim, para entendermos, de fato, comofunciona a obra de Sai Baba, podemos dividi-la em trêssegmentos: o devocional, o assistencial e o educacional. Esteúltimo é nosso foco de estudos e pesquisa.

O segmento devocional está afeito às atividades depráticas meditativas, cânticos referendados como sagrados edivinos, estudo da obra exotérica56 de Sai Baba e das principaisreligiões existentes no mundo.

Segundo informações sobre a Organização Sai, estesegmento não é responsável pela disseminação da cultura dedevoção da imagem de Sai Baba, tampouco de sua adoração,mesmo que inevitável, devido às “demonstrações milagrosas”de Sai Baba, que relatamos anteriormente; mas pelaorientação dada às pessoas para reconhecerem a existênciade uma Unidade conceitual e essencial em todas as religiões,fortalecendo a fé como uma das virtudes capitais do serhumano, independente do culto ou religião professada.

Nos Centros Sai, são realizados alguns rituais exóticos

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aos olhos ocidentais. Um deles acontece quando Sai Babadistribui gratuitamente as cinzas, chamadas de vibhuti57, aosdevotos que se dirigem a seus templos, em busca de suaspalavras. Vibhuti significa “glória de Deus” e são cinzasoriundas da queima de ervas medicinais preparadas por seusdevotos mais próximos. Servem como elo entre o mundomaterial e espiritual. Além disso, o vibhuti funciona comoum símbolo da presença material de Sai Baba, uma conexãoentre os devotos e o Avatar.

O vibhuti também assume significados múltiplos à luzda ótica dos devotos de Baba. O primeiro significado é arepresentação do vibhuti como um bálsamo às mazelas daalma e, por consequência, às enfermidades do corpo físico.Geralmente, as cinzas são passadas nos três chakras (centrosde energia), localizados no ponto entre as sobrancelhas, naparte frontal da garganta e no centro do peito, indicandoque é necessário que se tenha unidade entre pensamento,palavra e ação.

Para os que acreditam em Sai Baba, o vibhuti tambémé utilizado como um remédio. Ao recebê-lo, os devotos opassam em qualquer parte de seu corpo que esteja sofrendoalguma doença, pois, segundo a crença dos devotos, no vibhutiestá contido o poder divino, o qual se dinamiza quando osdevotos acreditam nele e permitem que ele atue. Existem,inclusive, relatos de cura, sobre os quais não temos intençãode discutir.

Em um segundo momento, o vibhuti é sinônimo dareprodução dos ensinamentos de Baba. Ele atua como osímbolo do desapego material, porquanto demonstra que todotipo de matéria é perecível em forma e duração, ao contráriodos valores morais, que têm duração e extensão. Por isso,Sai Baba ensina que o ser humano deve assumir o devermoral de queimar seu ego, ou seja, reduzi-lo a cinzas, para

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conceber que existe algo para além do ego e das limitações.

Um segundo ritual simbólico, que é realizado nos CentrosSai, é o “ritual do fogo”, também conhecido no seio datradição hindu como arathi. Este ritual procede com umasimbologia muito semelhante ao vibhuti. O arathi é a queimada cânfora que, em seu processo de decomposição, não deixaresíduos, não deixa cinzas. Para os hindus, a cânfora simbolizao ego, e a chama do fogo, o conhecimento que destrói aignorância e a inferioridade humanas. O fato da cânfora nãodeixar resquícios significa a total extinção da ignorância e orompimento dos grilhões que prendem o ser humano a suaprópria inferioridade.

No decorrer do ritual, o procedimento padrão é a ofertada cânfora a Sai Baba, para que ele dê sua bênção, pelopoder que lhe é conferido por ordens divinas e/ou pela fé deseus devotos e, posteriormente, aos devotos que,simbolicamente, transferem para a cânfora todas as suasaflições, culpas, medos e apegos, enfim, impurezas e víciosterrenos que, oxalá, são efêmeros e inerentes ao ser humanodestituído de cunho moral em sua conduta no cotidiano.

Independente desses rituais, cabe reforçar a permanenteafirmação de Sai Baba, na qual se assenta a premissa de queele não veio fundar ou privilegiar nenhuma religião, tampoucopregar a união de várias religiões. Verificamos que,rotineiramente, ele se habituou a dizer que não existe a “religiãoSai”, mas a “religião do amor”, haja vista que todas as religiõespregam a existência de um Ser Superior, um Grande Arquitetoque tudo construiu e que rege tudo no universo.

Para a cultura Sai, qualquer nome que se queira dar asua crença é válido, desde que a religião conforte as almashumanas. Ele afirma que amar Deus e o próximo é ainstrução essencial de todas as religiões. Por isso,

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independente da escolha, todas as religiões são válidas dentrode suas limitações e, portanto, deve-se respeitar e amar todaselas, pois em todas existe a mesma essência divina. Segundoele próprio, sua missão é levar o ser humano a reconhecersua Essência Divina e a manifestá-la na vida diária, atravésda prática dos Valores Humanos: Verdade, Retidão, Paz,Amor e Não-violência.

É interessante analisar que, em nenhum momento,identificam-se passagens de incentivo às pessoas paradeixarem de freqüentar os templos religiosos nos quais sesintam bem. Pelo contrário, verifica-se a motivação às pessoaspara cultuarem seu Deus ou deuses nos locais em que sesintam mais confortáveis. Sobre isso, Baba expressa:

O sábio diz: “Deus é tudo” (Verso em Sânscrito); jáum outro, que é um iogue, diz que tudo é energia; oterceiro, que é um devoto, diz que tudo é uma peçateatral de Bhagavan (o Senhor). Cada um de acordocom o seu gosto e o progresso da sua práticaespiritual. Não os apressem nem os ridicularizem,pois são todos peregrinos caminhandopenosamente ao longo da mesma estrada58.

Caso alguém queira ir aos Centros Sai, unicamente ouparalelamente a seus templos espirituais, sempre são bem-vindos. Por isso, independentemente de religião, qualquerpessoa pode freqüentar os Centros Sai.

Cabe colocar que nos Centros Sai, como em qualquertemplo religioso, também existem algumas regras de condutaque devem ser respeitadas. Uma delas é a separação daspessoas que vão visitá-los por sexo. Ou seja, as reuniõesrealizadas com os homens são separadas das reuniõesfemininas. O próprio Sai justifica essa separação com o

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argumento de que o homem e a mulher já possuem umaatração natural e a mistura entre os sexos em reuniões podeinterferir no desenvolvimento dos trabalhos, tirando aconcentração e desviando atenções. Por este motivo, pessoasdo mesmo sexo reunidas apresentam maior concentraçãoem um único assunto: a palavra de Sai Baba.

Os ensinamentos de Sai Baba atuam diretamente naconduta de seus devotos. Por este motivo, alguns deles ficammais sensíveis às causas sociais e tentam fazer “sua parte” paraminimizar as desigualdades sociais que assolam o mundo e, maisnitidamente na Índia, que é o país mais populoso do mundo e,portanto, vítima de profundos desequilíbrios sócio-econômicos.

Sai Baba declara a seus devotos que não são as oferendasque enobrecem os seres humanos, mas suas intenções e boasações. Quando ele renunciou a sua vida mundana para traçarseu destino pelos caminhos da cultura espiritual e ajudar ahumanidade a encontrar seu próprio Deus, começou a receberoferendas e mais oferendas. E, como meio de alertar osdevotos, ele assegura que oferendas não significam nada,pois se assim fosse, quem mais tivesse recursos financeiros,mais bênçãos receberia. Isso não é real. Em suas palavras:

Eu não preciso de suas guirlandas de flores e nemde frutas, coisas que vocês compram por um oudois centavos; elas não são genuinamente de vocês.Dêem-Me [sic] algo que seja de vocês, algo que sejapuro e fragrante, como o perfume da virtude e dainocência e lavado nas lágrimas do arrependimento!Guirlandas de flores e frutas vocês trazem comoartigos do show, como uma exibição de sua devoção;devotos mais pobres que não têm como pagar poressas oferendas são humilhados e ficam tristes porsentirem-se impotentes; eles não podem demonstrarsua devoção da mesma maneira grandiosa com que

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vocês o estão fazendo. Coloquem o Senhor em seuscorações e ofereçam a Ele os frutos das suas açõese as flores de seus pensamentos e sentimentosíntimos. Essa é a veneração de que Eu [sic] maisgosto, a devoção que mais aprecio59.

Partindo dessa premissa, os devotos se motivam a realizartrabalhos assistencialistas e desenvolver atividades orientadaspara o auxílio de pessoas menos favorecidas, tanto em nívelmicro-social, como, por exemplo, a distribuição de alimentose/ou visitas a hospitais e asilos etc., quanto em nível macro-social, com a edificação de hospitais e escolas espalhadaspela Índia, com atendimento gratuito aos pacientes e alunos.

A partir da década de 60, a Organização Sai realizadiversas obras, capazes de impressionar até os mais céticos.Desde então, a Organização Sai iniciou a construção deEscolas onde o método Sai de educação em Valores Humanosfoi implantado. Quando os primeiros alunos destas escolasse aproximaram da idade de entrar para a Universidade,Sathya Sai Baba iniciou a construção de três Faculdades(Institutos de Ensino Superior Sri Sathya Sai) em PrashantiNilayam, Brindavan e Anantapur.

Vale ressaltar que todas as escolas e unidades dauniversidade contêm três campi, distribuídos nos níveis degraduação, mestrado e doutorado, e são oferecidosgratuitamente à comunidade.

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FIGURA 6 - INSTITUTO SRI SATYIA SAI DE ENSINO SUPERIOR

Fonte: Home page da Organização Sri Sathya Sai, Brasil.

Além destas Faculdades, que hoje figuram entre as maisrespeitadas da Índia, inúmeras obras sociais foram realizadassobre os auspícios de Baba e da Organização Sai. Entre elaspodemos citar:

- o hospital de especialidades, construído em PrashantiNilayam, que é o maior hospital da Ásia a oferecertratamento totalmente gratuito, desde o atendimentomédico até as cirurgias de coração, recebendo médicosde todo o mundo para trabalhar ou estagiar; e grandesespecialistas, que operam voluntariamente no hospital,o qual teve a excelência de seus serviços reconhecidapela Organização Mundial de Saúde. Vale destacar queeste é o segundo grande projeto deste tipo realizadopela Organização. O primeiro, o Instituto de CiênciasMédicas de Puttaparthi, foi inaugurado em 1991.

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FIGURA 7 - HOSPITAL DE SUPER-ESPECIALIDADES, EM PUTTA PARTHI

Fonte: Home page da Organização Sri Sathya Sai, Brasil.

- o maior projeto de distribuição de água potável daÍndia, já tendo beneficiado mais de um milhão depessoas;

FIGURA 8 - DEPÓSITO E CAIXA D’AGUA CONSTRUÍDOS

NA REGIÃO DE ANDRA PRADESH

Fonte: Home page da Organização Sri Sathya Sai, Brasil

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- inúmeros projetos de capacitação profissional para acomunidade carente, com a distribuição de máquinasde costura e rick-shaws (motonetas muito usadas naÍndia como táxi);

- a construção da Escola de Música de PrashantiNilayam, empreendendo esforços no intuito defavorecer mudanças relativas aos índices dedesenvolvimento e crescimento social da populaçãolocal, para além da disseminação da cultura espiritual.

Desta forma, Sathya Sai Baba mostra que aespiritualidade não está dissociada da ação social e exemplifica,com sua atitude, uma das frases que ele sempre repete: “cabeçana floresta, mãos na sociedade”.

Seus ensinamentos restauram o conhecimento humanosobre a divindade inerente a todos os seres humanos, ouseja, a recuperação da dimensão espiritual, e nãoexclusivamente religiosa, através da educação, dando grandeimportância às crianças e aos jovens. Os pais e os líderescomunitários são incentivados por ele a se interessarem pelasexperiências formais ou acadêmicas, bem como pelasexperiências informais dos educandos.

Estabelecendo os princípios educacionais baseados nosValores Humanos, tais como, Verdade, Retidão, Paz, Amore Não-violência, Sai Baba enfatiza a obtenção da excelênciaacadêmica, através do sistema de educação integral,fomentando a autodisciplina e a boa conduta social. Osestudantes vinculados aos princípios da educação baseadaem Valores Humanos recebem orientações sobre moralidadee espiritualidade e dedicam várias horas semanais ao serviçocomunitário, refletindo a compreensão acerca das idéias epostulados de Sai Baba.

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2.3 C2.3 C2.3 C2.3 C2.3 COMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃOOMPREENSÃO G G G G GERALERALERALERALERAL DODODODODO P P P P PENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTO DEDEDEDEDE S S S S SAIAIAIAIAI B B B B BABAABAABAABAABA

Dentre as inúmeras questões que o ser humano foi levadoa fazer a si mesmo, as que dizem respeito a sua origem, aseu lugar na Natureza, no Universo, são e hão de continuara ser temas de reflexão que interessam debater.

Ao longo da história da humanidade, o ser humanoconseguiu reunir e apresentar algumas respostas a suasinquietações. Entretanto nunca parou de caminhar, trilhandorumos, cada vez mais aperfeiçoados. Todos os conhecimentosadquiridos, através de observações sistemáticas, foram passadosde geração em geração, consolidando que a prática da vidaresulta em viver, conhecer e saber. Respostas diferentes foramencontradas para as necessidades de diferentes seres humanos,seja pela ciência, filosofia ou religião. As respostas, por suavez, volveram as atenções para a consciência de um SerSuperior, que é onipotente, onisciente e onipresente, o qualse deve reverenciar.

Todavia, em alguns momentos, as narrativas épicas ehistóricas da humanidade compõem um quebra-cabeça secularque também fomentou a crença errônea de que não existenada além da matéria e que a finalidade da existência humanase resume em segurança econômica, status, prazeres sensoriaise poder social. Esta concepção atende aos olhares dos sereshumanos mais céticos, porém, em contrapartida, foi uma válvulaque movimentou milhões de pessoas em busca de AlgoSuperior, conscientizando-as de que o ser humano não ésimplesmente um processo biológico que nasce, cresce e morre.

Sendo assim, a evolução humana tem sidoincessantemente estudada para ser desvendada como um todo.Na medida em que isso vai se realizando, paulatinamente,amplia-se a sensibilidade dessa mesma humanidade e se torna

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cada vez mais clara a possibilidade de serem caracterizadasrespostas plausíveis e razoavelmente úteis para seu viver,relativas à concepção do Princípio Criador, da finalidade davida, bem como da razão de sua existência.

Nesta perspectiva, apresentaremos o pensamento deSai Baba como um modo precípuo de compreender princípiosnorteadores da conduta humana. Sob a forma de diálogos,metáforas e contos épicos da história indiana, Sai Baba trazpalavras de conforto espiritual que muitos seres humanosclamam por ouvir.

A principal linha dos discursos de Sai gira em torno detemas relacionados à devoção, à fé e à necessidade de práticasespirituais que enobrecem, além do corpo físico, a almahumana. Cabe-nos, portanto, concordar com o argumentode que cada linha redigida nesta obra corresponde a umainterpretação pessoal de seu pensamento. Ainda assim,teceremos considerações sobre essas temáticas até conseguirlevar o leitor a relacioná-las e direcioná-las para o foco centraldesta obra: a educação fundamentada em Valores Humanos,segundo a concepção educacional de Sai Baba.

Eleger discursos mais profundos ou os que consideramosmais importantes para sua obra não foi tarefa de fácilexecução. Afinal, são seis décadas, aproximadamente, deintensos e profundos discursos que necessitam ser analisadosem poucas páginas.

Tendo como objeto de atenção as questões educacionais,não nos aprofundaremos nos pressupostos devocionais, masno desafio de buscar apresentar os principais pontos de suavisão que possibilitam a compreensão e justificativa da criaçãoe manutenção de um programa de educação em ValoresHumanos.

Em nossos estudos do pensamento educativo de Baba,

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não identificamos um desenvolvimento e mutação em suasposições. Seus discursos apresentam, ao longo de décadas, oenriquecimento e ampliação da concepção, e não umaevolução. Desta forma, não conseguimos propor umadiscussão histórica, mas conseguimos trazer ao leitor osconstrutos fundamentais de seu pensamento, a seremapresentados a seguir.

2.4 C2.4 C2.4 C2.4 C2.4 CONFIGURAÇÕESONFIGURAÇÕESONFIGURAÇÕESONFIGURAÇÕESONFIGURAÇÕES F F F F FUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTAISAISAISAISAIS DEDEDEDEDE SEUSEUSEUSEUSEU P P P P PENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTOENSAMENTO

O mundo e o ser humano são temas circulares nos discursosde Sai Baba. E é ele mesmo quem assegura com veemência queé de substancial importância que cada ser humano se conscientizede sua missão, ou seja, que descubra qual é a finalidade de suavida, bem como o porquê de sua existência.

Sai Baba afirma que o homem deve se conscientizar deque não reencarnou para viver de ações destituídas de cunhomoral e espiritual. O mundo, segundo ele, é um palco ondecada ser humano é o ator que contracena a grande peça teatraldo viver. E é este ator que tem o dever de assumir o papel derepresentar peças em prol da conscientização humana,buscando sempre se encontrar com Deus. Em suas palavras:

O mundo é um palco e cada ser é um ator. Comoum ator deve se conduzir? Seu primeiro objetivodeveria ser o cumprimento das obrigações a eleconferidas sem ser influenciado pela suaindividualidade. Como conseguir se comportar dessamaneira? [...] Todavia, quem é o diretor do DramaCósmico? É o Divino. Todo ser humano é umamanifestação do Desejo Divino. Ele nasce comohumano para cumprir sua obrigação. Ele deve

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manifestar a sua humanidade. Cada ser tem queatuar bem e desempenhar satisfatoriamente o seupapel60.

Sendo assim, dando início à análise do desenvolvimentode seu pensamento, naveguemos pelos discursos que revelame denunciam sua conduta.

Muitas pessoas, de diversas partes do mundo, vão atéSai Baba, à procura de uma palavra de conforto, de umgesto amigo, de um acalento para a alma ou até mesmo deum Ser Superior a si mesmo. A busca de um Ente Superior éuma virtude humana. Significa o reconhecimento da pequenezmaterial e profana do ser humano, bem como a consciênciade que ele não é apenas uma composição de células e que avida não se resume em vivência material, mas na busca doDivino existente em cada um.

Explosões de sensações eclodem na mente humana,fazendo de cada ser humano um devoto estável e equilibradoou um instável e vulnerável, nos afirma Sai Baba. E é paraesses últimos que dirige diretamente suas palavras.Metaforicamente, assim como a medicina não tem utilidadepara os mortos, tampouco para os saudáveis; os doentes,pairando entre a morte e a sobrevivência, são aqueles quemais necessitam de atendimentos especiais com cuidados maissutis, para se revitalizarem com maior eficiência. Segundoele, é para esses seres humanos que ele se motiva a discursar,porquanto os que já têm devoção em suas vidas já trilham oscaminhos no rumo certo, ao passo que os que ainda nãosentiram o Divino dentro de si necessitam de mais atenção.

Com essa colocação, ensina a seus devotos que cadaser humano tem um tempo certo para conseguir compreendersuas mensagens, ou melhor, um ser humano só poderáidentificar sutileza e verdade em suas palavras, se estiver

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interiormente preparado para tal. É como se o que ele falasseatingisse o que existe de mais nobre e sutil no ser humano:sua alma, sua psique, sua consciência. Em suas palavras: “Atéa Minha natureza só poderá ser compreendida por vocêsquando usarem os óculos da santidade; as coisas sagradaspodem ser conhecidas apenas por buscadores sagrados.”61

Ele alerta que todos os seres humanos precisam acenderas chamas do Deus que existe em cada um e indica que asferramentas para alcançá-Lo são a fé e a devoção. Mas nãouma devoção de entrega e doação de oferendas, como vimos,caracterizadas por donativos, presentes, flores ou qualqueroutra coisa que equivalha, porquanto o Senhor ama adevoção. Se bens materiais fossem realmente importantes,os mais ricos seriam os mais agraciados, em detrimento dosmenos favorecidos.

Vale dizer que essa informação tem duplo sentido. Tantona cultura hinduísta quanto na cultura Sai Baba, os devotosmontam altares em seus lares e oferecerem flores e frutascomo forma de agradecer pelas dádivas recebidas. Ele semprediz a seus devotos que, onde quer que estejam, e eles podemestar em qualquer local do planeta, basta, se necessário,chamar seu nome com fé e veemência que ele irá estar aolado de cada um. Então, essas oferendas podem ser ofertadastanto pessoalmente, em algum de seus ashrams, como emcada residência que possua um altar para sua devoção.

Em vários momentos de seus discursos, fica nítido que,em nenhuma hipótese, ele acobertaria injustiças e deslealdadescometidas contra qualquer ser humano habitante do planeta.A doação que professa é a doação da mente, dos atos paracom o próximo, dos pensamentos mais puros para Deus,enfim, da natureza mais pura do ser humano, desprovida dequalquer interesse de troca. Em suas palavras: “Coloquem oSenhor em seus corações e ofereçam a Ele os frutos de suas

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ações e as flores de seus pensamentos e sentimentos íntimos.Essa é a veneração de que Eu [sic] mais gosto, a devoção quemais aprecio” 62.

Sai Baba diz que cada dia mais o ser humano necessitafortalecer sua prática espiritual com disciplina e temperança,para poder fortalecer a mente e revigorar a fé. Todavia,assim como a mente não subsiste sem o corpo físico, valefrisar que também se faz mister que o ser humano zele pelamorada de sua alma.

A disciplina espiritual é primordialmente exigidapara o controle da mente e dos desejos, atrás dosquais ela corre. Se vocês acharem que não têmcondições de vencer, não desistam da práticaespiritual, mas façam-na ainda mais vigorosamente,pois é a matéria em que vocês não conseguiramnota suficiente para passarem que exige um estudoespecial, não é? Disciplina espiritual significa limpezainterna, tanto quanto externa. Vocês não se sentemrefrescados quando usam roupas sujas após o banho,não é? E tampouco se sentem refrescados se usaremroupas limpas sem tomar banho. Ambos sãonecessários, o externo e o interno63.

Na sua visão, o ser humano tem feito mal uso de suaspotencialidades, “[...] desperdiçando seus talentos, usandomal sua capacidade e sendo falso com sua própria natureza.”64

Contudo, numa visão otimista, afirma que, entre tantosconflitos, o ser humano começa a perceber que está em altomar, num barco no meio da tempestade, sem bússola, semrumo e sem porto seguro para atracar e descarregar suacarga, ou mesmo, viajando pelo ar em nau, sem bússola,sem combustível e sem aeroporto e/ou permissão para

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pousar. Enfim, sem norte, mas descobrindo que o lastromaterial não supre suas necessidades mais íntimas, passa ase preocupar em responder: Quem sou, de onde vim ou paraonde vou? Em suas palavras:

Ele [o homem] não está contente em satisfazer suasnecessidades meramente animais; ele sente umvazio, um descontentamento profundo, uma sedenão saciada, pois é um filho da imortalidade e senteque a morte não é e não deveria ser o fim. Estediscernimento o instiga a descobrir respostas paraos problemas que o assaltam: “De onde eu vim,para onde estou indo, onde é o final da jornada?”65

Desta forma, o ser humano lança mão de uma chave,que ele chama de “intelecto66”, para conseguir abrir seuscaminhos, pois, independente de tempo e espaço, ele podeir ao Sol, à Lua ou a outro planeta, mas dia virá em que eleterá que voltar a si mesmo para se conhecer, crescer e seadiantar. Afinal, nada está inerte no Universo, tudo émovimento, é ação, é progresso e, ainda que em algunscasos pareça parado, está em velocidade imensurável. Ocaminho a ser trilhado em busca do Divino é aquele queaponta para dentro de cada ser humano. Afirma ainda que,se cada ser humano tiver um plano de vida, pode abreviarsua evolução na Terra. Assim, ele ensina:

Todos possuem cinco conselheiros na vida. São eles:Quem, Quando, Onde, O Que e Como. Antes deempreender qualquer ação, devem ser obtidasrespostas para essas cinco perguntas. Quando foremconseguidas as respostas corretas, a ação nelasbaseada será a correta. Atualmente, as pessoasagem sem se preocupar com esses fatores. Neste

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aspecto, todos podem confiar em seu própriojulgamento, utilizando seus poderes de observaçãoe de discernimento. Todos os instrumentos para estepropósito estão disponíveis para cada pessoa emseus órgãos de percepção e de ação67.

Em sua visão, o primeiro passo na investigação sobre oEu Superior é a compreensão que o ser humano deve exigirde si mesmo daquilo que seu ego pede-lhe para exigir dosoutros, ou seja, o ser humano só exige coisas de outro ser,na medida em que daquilo necessita ou deseja. E, também, oser humano só consegue identificar em outros seres aquiloque já possui em si. Nesta linha, ensina a seus devotos: “[...]procurem por suas próprias falhas; as falhas que vêem nosoutros são, na verdade, suas próprias falhas; as falhas quevocês vêem nos outros não são senão um reflexo de traçosde sua própria personalidade”68. E, persiste Sai: “[...] sequiserem Me [sic] alcançar, cultivem o amor, renunciem aoódio, à inveja, à raiva, ao ceticismo e à falsidade”69.

Em seus discursos, diz que, no momento de suas falas,as pessoas participam de corpo presente e, em alguns casos,até interagem. Mas, independente da interação, essas pessoasjamais podem esquecer que, nesses momentos proporcionadospor ele, surgem oportunidades, para que absorvam o realsignificado das palavras e consigam retirar-lhes a essênciapara servirem de guia e/ou lições de vida a serem seguidas.

Temas como a devoção e a fé são recorrentes em seusdiscursos. Segundo ele, existem três tipos de pessoas devotas:

a) aquelas que pela impaciência e/ou ansiedade acabamperdendo os melhores momentos das experiênciaspelas quais estão passando, por se ocuparemdemasiadamente com sua ansiedade, em detrimentoda experiência por si mesma;

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b) aquele que ainda não reconheceu que a persistênciavence sua própria resistência quanto aoconhecimento espiritual mais íntimo e caminha porvárias estradas, em círculos;

c) e, ainda, aquele que, paciente e persistentemente,consegue romper as barreiras de sua própriainferioridade e percorre caminhos lodosos erecheados de empecilhos, mas, com retidão, conseguesuperá-los, alguns mais dificilmente que outros,alcançando um fim, ou melhor, seu início, seu Deus.

Nenhum ser humano pode evitar o (re)encontro comEle, segundo suas próprias palavras:

Eu me lembro de responder à pergunta de umindivíduo em Maharashtra, quando no Meu Corpoanterior, de que há três tipos de devoção: o métodovihanga, em que, como um pássaro mergulhandoem direção a uma fruta madura numa árvore, odevoto é demasiadamente impaciente e, por isso,perde a fruta, que cai de seu bico; o método markata,em que, como um macaco que pega para si umafruta atrás da outra e pela total inconstância nãoconsegue decidir qual delas quer, o devoto tambémhesita e muda seu objetivo muito freqüentemente e,portanto, perde toda chance de sucesso; e o métodopepilika, em que, como uma formiga que caminhadevagar, mas sem parar, em direção à doçura, odevoto também se move em linha reta, com atençãofixa, para o Senhor e ganha Sua Graça!70

Ao falar em devoção, apresenta dois tipos decomportamento devocional: caracterizam o primeiro tipoaqueles devotos que fazem alarde por todos os cantos do

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mundo e sentem necessidade de sair ressoando o nome deseu Deus ininterruptamente, sendo, às vezes, taxados, porpessoas “mundanas”, de descrentes, loucos e/ou fanáticos; osegundo tipo está afeito àqueles devotos que não manifestam,não falam o nome, não escrevem sobre Ele, e ainda evitamdemonstrar afetuosidade para com Ele até para os amigos eentes mais próximos e queridos. Estes devotos oram emsilêncio e optam por não sair divulgando o nome de seuDeus, sendo por este motivo taxados de ateístas, insensíveise, até mesmo, incrédulos.

O que Sai deseja demonstrar com isso é que, talvez,essas pessoas acreditem que sua fé não esteja na divulgaçãoexterior, e sim na propagação de seu sentimento interior,ainda que possam se denunciar por sua conduta. Por isso, éimportante que as pessoas fiquem atentas em não julgar asoutras, pois ninguém tem controle sobre suas mentes ousentimentos. Nesta perspectiva, conta a história:

Certa vez, houve uma rainha que era uma grandedevota de Rama. Ela se sentia muito triste porqueseu marido, o rei, jamais pronunciara o nome deRama e não tinha qualquer devoção. Ela havia feitoum voto de que, na primeira ocasião em que tivesseevidência da devoção do rei ou ao menos seurespeito pelo nome de Rama, ela realizaria um ritualde adoração em todos os templos e alimentaria ospobres numa escala generosa. Então, numa noite,enquanto dormia profundamente, o rei pronunciouo nome de Rama três vezes com fervor e devoção.Ela ouviu a repetição do nome de Deus e ficoucontente ao descobrir a devoção do marido porRama; ordenou então que se realizassem festejospor todo o reino bem como a alimentação dospobres. O rei não sabia o motivo de tal celebração,pois fora informado apenas de que era uma ordem

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da rainha, que os encarregados estavam cumprindo.Do mesmo modo, um marido pode não estar cienteda excelência de sua esposa em assuntos espirituais.

[...] O rei que pronunciou durante o sono o nomesagrado de Rama ficou muito triste, de acordo coma narrativa, por ter deixado escapar o nome deRama de sua boca, pois acreditava que ninguémdeveria saber de seu “amor” por Rama. Há muitosque não farão alarde sobre seu guru ou o nome ouforma favorita de Deus que veneram, porém,declarando-os ou não para os outros, conservem-nos sempre na sua consciência. O nome de Ramaou qualquer outro nome deve ser tão constantequanto a respiração71.

Sai Baba prega que devemos dar atenção à conservaçãode Deus na nossa consciência, independente de falarmos ounão sobre Ele. para isso, a prática é tão essencial para aalma, quanto a respiração é para o corpo físico. Mesmo emrotinas tão conturbadas como as de hoje, o ser humano precisaencontrar tempo para as práticas espirituais, mesmo que emdoses homeopáticas, porquanto o pouco com Deus é muitoe o muito sem Deus é nada.

Para trilhar o caminho da devoção, ninguém precisa deerudição, nem fortuna, nem ascese rigorosa, somente fé eamor. Existem vários caminhos que levam a Deus: o amor, averdade, o serviço, a compaixão e a repetição do nome doSenhor são alguns deles. Segundo Sai Baba, todos oscaminhos estão corretos; apenas alguns são mais fáceis, algunsmais sinuosos, outros mais difíceis.

Para Swami, a devoção passa por vários estágios. Oprimeiro, no qual o devoto procura realizar todo e qualquertipo de atividade, somente em nome de seu Senhor,enxergando-a como sua própria recompensa. Num segundo

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momento, o devoto direciona integralmente sua vida para oSenhor, numa relação em que unicamente o nome e a formado Senhor são conhecidas. Por fim, Sai diz que existe umterceiro momento, que se harmoniza com os outros doisanteriores e diz respeito à concentração das qualidadesinerentes às duas passagens precedentes: a aflição de procurarum Ente Superior, um Avatar, um homem sábio que moraem equilibrado sossego em algum lugar ainda não identificado.Em suas palavras:

Podemos falar de devoção como tendo vários estágios.O mukhyabhakthi é o estágio em que apenas o serviçoao Senhor importa e é a sua própria recompensa; odevoto não procura por mais nada que não seja opróprio serviço ao Altíssimo, realizado com suacapacidade. Isto gradualmente torna-se Parabhakthi,onde nada exceto o nome e a forma do Bem-Amadosão conhecidos. Ainda há o que é chamado deGunabhakthi, que tem os tons das três qualidadesinteriores (gunas): a atitude do aflito, a do que procuraconforto, do buscador sincero e do homem sábio, quepermanece em silêncio e em contentamento com acompreensão de que tudo é Ele72.

Com isso, tenta demonstrar que a mente também atuacomo protagonista da dinâmica da vida espiritual de umdevoto, porquanto a ela é dada a responsabilidade de criar edestruir o próprio homem. Segundo ele, “[...] se [a mente]estiver imersa nas coisas do mundo, ela conduzirá ao cativeiro;se, no entanto, considerar o mundo como temporário, entãoela se tornará livre e leve por esse desapego”73. Em outromomento, diz:

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Se o homem hoje está sob o domínio do sofrimentoe da miséria, sua mente é a responsável por isto.Felicidade e tristeza, apego e ódio e os prazeressensórios que o homem experimenta hoje, surgemde sua mente. Uma vez que a mente está repletacom a sensação de dualidade, vocês sofrem tudoisto. Quando a mente é treinada para ver aunicidade de toda a criação, não existirãoperversões de nenhum tipo74.

Desta forma, discorre sobre o tema de modocontundente, ao assegurar que os devotos devem treinar amente para não se sentirem apegados ao mundo material etranscenderem sua necessidade, vontade e imaginação para“[...] a alegria perene que brota da nascente dentro de vocês[devotos] [...] é a mente que preenche com a Divindade oque o devoto vê, a imagem feita pelo ceramista; é ela quepreenche o oráculo com a fragrância da sacralidade.”75

Discorrendo sobre a relação do homem com Deus,independente do nome que as pessoas queiram dar a Ele, érecorrente, em inúmeros de seus discursos, a necessidade deo ser humano saber buscar, encontrar e se integrar comDeus, porquanto esse processo é inevitável, ainda quedemorado para alguns. Segundo suas palavras:

Para realizar o eterno e a verdade, o indivíduo temforçosamente que se ligar a essa fonte e substância.Não há escapatória deste caminho. É o destino decada um e de todos, independentemente de idadeou grau de erudição, região ou casta, sexo oustatus.76

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Afirma que Deus é tão perfeitamente inteligente quecriou uma estratégia capaz de possibilitar ao ser humano odesenvolvimento, despertamento e expansão de suaconsciência para, enfim, buscar, sentir e integrar-se com Ele.Sai Baba explica a seus devotos que é o Divino que vibra evivifica cada ser, seja humano ou não; Ele é a energia quemovimenta desde a menor partícula atômica até a maiscomplexa célula nervosa do corpo humano. Em suas palavras:

É o Divino que inspira, ativa, conduz e preenche avida de cada ser, não importa quão simples oucomplexa possa ser sua estrutura física. Do átomoao universo, cada uma das entidades está semovendo em direção ao estuário aonde irá se fundircom o oceano da bem-aventurança77.

Deus é uma energia absoluta e, assim, através de seumovimento incessante, produz outras energias relativas quese transformam para criarem a matéria, que fica perfeitamentevisível aos olhos físicos. Da mesma forma, para o ser humanointegrar-se com Deus, não pode chegar em estado de matériacondensada, mas, sim, em matéria sutil. Para que isso sejapossível, o ser humano necessita desfazer-se de seu bemmaterial maior: seu corpo físico.

Neste momento, o desvinculamento do corpo físicoconcentra o maior obstáculo do ser humano, porque ele aindaé muito apegado. Baba afirma que isso não é umaprerrogativa atual, todavia, é uma cultura que vem sendoconstruída com as experiências sucessivas dos seres humanosque habitam o globo terrestre. Apontando o problema edando a solução aos devotos, Sai Baba afirma que esseslaços de apego à matéria podem ser cortados pela práticaespiritual, pela devoção. Diz ele:

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O maior obstáculo no caminho da entrega é oegoísmo e a idéia de “meu” ou possessividade. Éalgo inerente às suas personalidades desde temposremotos, enraizando seus tentáculos cada vez maisfundo com a experiência de cada vida sucessiva eque só podem ser removidos pelos detergentesgêmeos do discernimento e da renúncia. A devoçãoé a água para lavar esta sujeira dos tempos e osabão  da repetição do Nome de Deus, meditaçãoe comunhão com Deus irão ajudar a removê-la aindamais rápida e eficazmente [...] Quando o sol está apino sobre suas cabeças, não há sombras; da mesmaforma, quando a fé estiver estável nas suas cabeças,ela não projetará sombras nem dúvidas78.

A humanidade encontra-se hoje em um estado de prisãopsíquica em que a culpa, o medo e o apego tomam conta deseu inconsciente numa tal dimensão que não a deixamenxergar quanta limitação isso pode acarretar ao processode encontro com Deus. Baba sinaliza que o apego é a maiorde todas as limitações, pois o ser humano sabe que todosiguais a ele têm que partir deste mundo um dia, já que, cedoou tarde, esse dia chega, impreterivelmente. Mesmo assim,as pessoas sofrem, tanto as que partem como as que ficam.

Sobre este assunto, Sai Baba diz que o momento departida, ou morte para as culturas ocidentais, é uma instânciade angústia, e, decididamente, não deveria ser assim. Osseres humanos deveriam se conscientizar de que este é omomento de auto-avaliação quanto a seu grau de apego àmatéria. Mas, para que a angústia e o sofrimento não sejamsuperiores ao próprio ser humano, é necessária muita práticaespiritual, pois é somente a partir dela que o ser humano,momento após momento, vai dissolvendo seus apegos eangústias para com a vida.

Nesta perspectiva, Sai Baba orienta seus devotos, para

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que eles encarem a vida como um bom, belo e verdadeirosonho. Nos sonhos, os seres humanos alcançam possibilidadesde serem ricos, terem status, poder etc., e se comportamem tais situações como se assim fossem. Mas, ao acordar,não choram ou se desesperam porque perderam tudo deuma noite para um dia. Ainda que o sonho possa parecermuito real e se possa gozar de toda satisfação e prazer, ele éuma ilusão, assim como a vida humana no planeta Terra.

Não há choro ou desespero após os sonhos, porque osseres humanos já têm consciência de que sonhos são falácias.Assim deve ser a vida, complementa Sai. E, se os seres humanosse conscientizarem de que a vida é passageira, como um sonho,“[...] poderão partir com um sorriso, no momento em que ascortinas caírem sobre esse palco da terra dos sonhos”79.

Para que a pessoa caminhe com retidão rumo aodesapego material, ele orienta a procura de um outro serhumano que tenha vivido experiências suficientes e possaservir de auxílio, como, por exemplo, um guru.80 Segundosua visão, um guru é o médico para a doença que nos traz osofrimento da alternância entre nascimento e morte. Ele éum especialista no tratamento necessário para a cura.”81

Além do guru, segundo Sai Baba, o ser humano nãopode perder de vista que necessita ficar atento ao movimentoDivino em sua vida e buscar saber procurar, incessantemente,a cada dia de seu viver, para encontrar Aquilo que dá a vida eo movimento. A importância da “experiência” na vida daspessoas é salientada por Sai Baba como fundamental. Sabe-se, entretanto, que as pessoas são motivadas a buscar Deuspor três motivos: a) pelo sentimento inato, como foi o caso deSai Baba; b) pelo sentimento adquirido no decorrer da vida; e,c) pelo sentimento de decepções, dores e/ou sofrimentos.

Segundo Sai Baba, o que motiva o desenvolvimento daconsciência humana são as experiências que o ser humano

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vai vivenciar ao longo da vida. Em sua autobiografia, elerelata que o momento de sua vida que o fez despertar parasua missão na Terra foi a picada de um escorpião. Não querdizer que a picada do escorpião o transformou em Sai Baba,mas foi a dor física que o fez transcender as limitações dosórgãos dos sentidos e o fez enxergar e se conscientizar dequem ele diz que é: Sri Sathya Sai Baba, um ser humanoque vai além dos órgãos físicos e que não se comporta comoum mero aglomerado de átomos e músculos, mas um serhumano que veio à Terra para lapidar mentes e coraçõesinquietos e sensíveis às causas espirituais.

Quando a humanidade se encontra em estado deimperfeição, tumultos e confusões, a Natureza se movimentaem prol do alcance de recursos e instrumentos capazes dereorganizar sua dinâmica natural. Assim, o movimento Divinoenvia à Terra seres iluminados, tais como Bhagavan Sai Baba.

Segundo ele próprio, pessoas com essas característicasvêm para ensinar aos outros a investigar sobre sua origem eorientar o encontro com sua natureza mais íntima, seu EuSuperior. Contudo, diz que não está havendo um movimentode massas em prol da busca do Divino que existe em todas ascoisas no universo. Com isso, a falta de paz é inevitável.Todo o tipo de ser humano necessita de paz. Mesmo oshomens mais ricos e poderosos precisam de paz e ela sópode ser obtida na realidade do interior humano. Sobre apaz, ele diz:

Como se obtém a paz? Quando se planta a sementeda verdade no coração e se faz com que a fé se enraízeprofundamente, com a chuva do cantar do nome deDeus, a paz desabrocha, produzindo o fruto daliberação. Portanto, todo ser humano deveria plantara semente da verdade no seu coração. Quanto maisprofunda for a raiz da fé, mais pujante será a árvore

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da vida. Vocês devem fornecer água para ocrescimento exuberante da árvore, com cânticos àglória de Deus. Só assim a flor da paz desabrocharáe, com isso, se obterá o fruto da liberação82.

Lembra que não é essencial a leitura de livros tidos comosagrados, como a Gita e as Upanishads, para o encontro como Divino. Os livros são apenas mapas e guias. Basta que osdevotos chamem o Senhor em seus corações com fé eveemência, façam as práticas espirituais com regularidade econfiança, mesmo que o início seja árduo e difícil. Com estaconduta, confirma que Deus responde a contento. Eis ameditação sobre a forma e o nome do Senhor.

Neste momento de meditação, ensina que a figura e onome dado ao Senhor de cada um deve ser evocado com amais genuína fé. De modo silencioso ou alarmante, as menteshumanas vibrarão em nome do Senhor a ponto da imagemou forma criada em torno dele se materializar. Instrui, emseu discurso, da seguinte forma:

Tenham a Forma do Senhor diante de vocês quandose sentarem silenciosamente num local parameditação e elejam Seu Nome, isto é, qualquerNome, quando fizerem a repetição do nomesagrado. Se fizerem a repetição sem aquela imagemou forma diante de vocês, quem lhes dará aresposta? Vocês não podem estar falando consigomesmos durante todo o tempo. A forma irá ouvi-lose responder-lhes. [...] A figura imaginária que vocêsdelinearam se transmutará na imagem emocional,querida ao seu coração e fixa na sua memória;gradualmente, ela se tornará o Sakshathkarachithram - quando o Senhor assumir essa Formapara realizar o seu desejo83.

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Sai Baba saiu uma única vez da Índia com destino aÁfrica. Na Índia, no entanto, peregrinou por várias cidadesao longo de sua vida. Em uma viagem a Madras, nesse país,falou a seus devotos sobre a vida, sobre sua missão e a dosseres humanos sobre a Terra.

Segundo Swami, sua preocupação não é ficar falandosobre sua vida, tomando-a como “modelo”, tampoucoincentivar que outras pessoas falem sobre ele, mas reconfortara vida de cada um de seus devotos. Esse reconforto estáafeito, principalmente, a que eles encontrem seus EntesSuperiores, independente do tempo e do espaço nos quaisse situem.

Prega que não existem mediadores entre ele e seusdevotos, porquanto ele é respeitado como um Avatar, sendo,portanto, onipresente, onisciente e onipotente, ou seja,está sempre perto dos devotos e os orienta diretamente,atuando como a Consciência Divina presente em cada ser:“[...] onde quer que estejam, quando Me [sic] chamarem,seu quarto poderá se transformar em Prashanti Nilayam,sua vila poderá ser transformada em Putthaparti. Eu estousempre alerta para atender, sempre pronto para ouvir eresponder”84.

Mas, para que a relação direta se concretize, se fazmister que o ser humano realize, com veemência, suasatividades de práticas espirituais, tais como meditação e arepetição constante do nome de Deus. Contudo, caso o devotonão consiga realizar suas atividades com a freqüência idealou nem mesmo a realiza por pura descrença, ele não necessitase preocupar com algum tipo de punição Divina, pois, segundoele, Deus não condena nem perdoa, ele simplesmentefavorece ao ser humano a experiência do viver, porque sabeque cedo ou tarde a evolução se faz e movimenta o serhumano em Sua direção. Diz sobre isso:

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O Senhor é como a Árvore Divina realizadora dedesejos, que dá o que quer que vocês peçam. Masvocês precisam se aproximar da árvore e formularseu pedido. O ateu é a pessoa que permanece longeda árvore; o crente é aquele que permanece pertodela; essa é a diferença. A árvore não faz distinção;ela concede dádivas a todos. O Senhor não pune ouse vinga daqueles que não O reconhecem nem Oreverenciam. Ele não elege nenhum tipo especial deadoração que seja o único a agradá-lo [...] Minhasugestão para vocês hoje é a seguinte: da mesmaforma que cuidam das necessidades do corpo,alimentando-o três vezes ao dia, de maneira a mantê-lo funcionando em boas condições, assim tambémdediquem algum tempo regularmente a cada dia paramanterem sua Consciência Interna em bom estado85.

Foi através de uma lição de persistência e práticaespiritual que a história da educação apareceu na vida dacultura Sai Baba. Segundo os relatos que conseguimosmapear, a preocupação com a educação começou na décadade 50, quando ele deu início ao ensino da doutrina védicapara jovens e crianças que habitavam os ashrams e/ou asque o visitavam, pois, segundo seu pensamento, todas aspessoas, inclusive as mais jovens, têm o direito de exercersua prática espiritual, de acessar níveis mais sutis de consciênciae de descobrir que na vida existe um Ente Superior que semanifesta em cada ser humano.

Baba professa que os jovens são a única esperança deum mundo melhor, pois eles são a prospeção presente deum futuro menos ácido. Para isso, os jovens têm que terconsciência dessa missão que lhes é imposta e, para tanto,precisam responder à altura com ações justas, ou melhor,com verdade e retidão, usando suas palavras. Nesse sentido,ele diz:

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Rapazes e Moças, Futuros Cidadãos do Mundo!

O futuro do mundo, bom ou mau, depende da suaconduta. O país só será seguro, pacífico e prósperoquando sua conduta for boa. O que o mundo precisahoje não é de riqueza e confortos materiais, mas dehomens e mulheres de caráter nobre. O país estarádestinado a sofrer se a conduta dos seus jovens nãofor correta86.

Os jovens de hoje são os futuros líderes da nação eos arquitetos de uma nova sociedade. O futuro deuma nação depende de sua juventude. A força dajuventude reside no seu espírito de patriotismo. Odever fundamental da juventude é prestar serviço àsociedade. A força física e mental de juventude é afundação sobre a qual uma nação é construída87.

Nesse intuito, Sai Baba criou escolas queproporcionavam aos jovens e às crianças a oportunidade deaprenderem os Valores Humanos, através de uma pedagogiaque engloba códigos morais fundamentados no Amor Divino.

Enfim, com a finalidade de aprofundar a análise acercade sua concepção educacional, haja vista ser o foco de nossosestudos, apresentaremos, no próximo capítulo, as basesteóricas de sua visão acerca da educação fundamentada emValores Humanos.

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CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3

EEEEEDUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃO I I I I INTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRALNTEGRAL F F F F FUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTUNDAMENTADAADAADAADAADA

EMEMEMEMEM V V V V VALORESALORESALORESALORESALORES H H H H HUMANOSUMANOSUMANOSUMANOSUMANOS

Educação se refere a adquirir informação de fora enquanto“educare” significa trazer para fora ou extrair o que está dentro.

Sai Baba88

Tendo por escopo analisar a concepção de Educaçãoem Valores Humanos, proposta por Sai Baba, enveredamos,neste capítulo, pelo estudo aprofundado dos fundamentosteóricos norteadores dessa Educação.

A Educação integral fundamentada em ValoresHumanos, por sua vez, parece inspirar outra maneira de veras coisas em ciência, filosofia e religião, na medida em quelida, ao mesmo tempo, com os diversos níveis e as diversasdimensões do ser humano. Destarte, estamos sendoconvidados, no presente momento, a buscar uma educaçãoque favoreça, de fato, a integração, superando a fragmentaçãohumana, já discutida no Capítulo 1, à luz da interpretaçãodo postulado de Ken Wilber.

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Uma educação integral, tendo por base esta visão não-fragmentada do ser humano, assume o dever social de sedefinir por valores que dêem uma direção à prática.

Mas o que vêm a ser valores? São posicionamentos denão-indiferença diante de tudo o que existe, sejam expressõesdo interior ou do exterior da realidade. No contexto dosvalores, nada é indiferente, mas tudo exige umposicionamento axiológico, positivo ou negativo89. Na vidahumana, valor, do ponto de vista positivo, tem a ver combem-estar e, do ponto de vista negativo, com mal-estar.Assumir uma posição de indiferença é uma contradição emsi, o que implica em posicionamento axiológico. Nessecontexto, estando no mundo, é impossível não assumir umposicionamento valorativo. Desde que nos colocamos nomundo, nós escolhemos.

Há, historicamente, um apelo à ética, principalmenteno mundo contemporâneo, como um recurso necessário àorganização da vida social, pública e privada. Deste modo,seja do ponto de vista essencial, seja do ponto de vistahistórico, há uma exigência, para que os valores se façampresentes na concepção e na prática educativa do presente,indicando a direção a seguir na formação integral doindivíduo, através da qual se torna sujeito que vive e realizaas diversas dimensões e os diversos níveis de seu ser.

A educação, portanto, deverá cumprir seu papel,buscando, através do foco na formação integral doseducandos, garantir condutas humanas éticas, não só no nívelpré-pessoal ou pessoal, mas no transpessoal, através depráticas educativas que conduzam ao desenvolvimento dostrês níveis de conhecimento já demonstrados no Capítulo 1:sensório, mental e espíritual.

Nesta perspectiva, entendemos educação a partir daorigem latina do termo: ex (de dentro para fora) e ducere

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(conduzir). Então, educar é um ato de garantir ao educandoas condições, para que atualize as potencialidades que temdentro de si, em suas diversas dimensões (interna e externa,individual e coletiva), o que dá o conhecimento do “eu”, do“nós” e do “ele”, ou seja, estética/espiritualidade (beleza),ética (bondade), ciência (verdade). Essas três dimensõesprecisam ser integradas, como um todo. Para compreendê-las, podemos diferenciá-las, mas não dissociá-las.

Segundo Sai Baba90: “[...] a educação é processo lentocomo o desabrochar da flor, a fragrância, tornando-se maisacentuada e mais perceptível com a abertura silenciosa, pétalapor pétala, da flor inteira.” Para ele, a meta principal daeducação é ajudar os estudantes a crescerem tanto intelectualquanto moralmente, a partir dos Valores Humanos, comoverdadeiros cidadãos, que trabalharão, no mínimo,solidariamente, para a constituição de uma sociedade maisharmônica e promissora. Assim, esses valores sãodespertados a partir do interior de cada ser humano eexplicitados através das relações cotidianas, sem esforçoespecial para sua concepção.

Diversa da educação tradicional, que é fragmentada, aeducação através dos Valores Humanos é integral. O próprioSai Baba91, sobre essa questão, diz:

Não é necessário fazer nenhum esforço especialpara adquirir os valores humanos, como a Verdade,a Retidão, a Paz, o Amor e a Não-Violência. Elesestão com vocês desde seu nascimento. Mas vocêsos esqueceram, pois não os colocaram em prática.Em vez de proferir “toneladas” de palavras, é melhorque pratiquem pelo menos um “grama” do que têmaprendido. Atualmente, a natureza humana está emdeclínio porque o homem não pratica os valores

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humanos. O homem está desenvolvendo os desejos(Aasalu), esquecendo dos ideais (Aadarsaalu). Oapego ao corpo está em alta, enquanto o apego aoespírito está em declínio. Não há dúvida, o apegoao corpo é essencial, mas ele só é desejável quandoserve para realizar ações [...]

Devido ao impacto da Era de Kali e o avanço daeducação moderna, o intelecto do homem está secorrompendo. Não há nenhuma vantagem emadquirir educação destituída de caráter. A educaçãotradicional, que corresponde a mero conhecimentolivresco, nunca poderá lhes ajudar a levar uma vidadivina. Não há dúvida, a educação tradicional éessencial, mas junto com ela deve-se ter a educaçãoespiritual também. “Educação espiritual é averdadeira educação”, “Todos os rios se fundem,em última instância, no oceano” (Versos emSânscrito). A educação tradicional corresponde arios e regatos, enquanto a educação espiritual podeser comparada a um poderoso oceano. Assim, detodas as formas de educação, a educação espiritualé a mais elevada e mais nobre.

Com o propósito de configurar uma educação que temcomo orientação os Valores Humanos, a partir da análisecuidadosa dos discursos de Sathya Sai Baba, de 1953 até osdias atuais, faremos o estudo dos cinco focos principais dequalquer filosofia da educação: a finalidade da educação, oconhecimento, a função da escola, o papel do educador e odesenvolvimento integral do educando.

Vale ressaltar que tal estudo está compartimentalizadoapenas com fins didáticos, pois todas as categorias citadascompõem a dinâmica do processo educativo em sua totalidade.

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3.1 F3.1 F3.1 F3.1 F3.1 FINALIDADEINALIDADEINALIDADEINALIDADEINALIDADE DADADADADA E E E E EDUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃO

A finalidade da educação, na concepção de Sai Baba, éa formação do caráter e não apenas a aquisição doconhecimento através dos livros. O conceito de caráterprofessado por Sai Baba pode ser resumido como sendo aprática diária das virtudes potenciais agregadas ao ser humano,como a paciência, a tolerância, a compaixão, a integridade,a humildade, entre outras, bem como o equilíbrio entrepensamento, palavra e ação. Ou seja, do ponto de vistapedagógico, educar, para fortalecer o caráter da criança,significa exercitar uma práxis pedagógica que integre aconcepção de que o ser humano só deve tomar decisõespara agir quando o coração já analisou e aprovou as idéiasoriundas da cabeça.

Essa abordagem, por sua vez, pretende auxiliar oeducador a lidar com os educandos, possibilitando-lhescompreender que seus comportamentos, atos, modo de visão,enfim, seu caráter é o fio da teia da vida e que a harmonia ea desarmonia de qualquer um desses elementos terão reflexosna totalidade de sua vida, incluindo as jornadas internas eexternas do ser humano. Ao tratar do caráter, que envolvediretamente sua jornada externa como reflexo da jornadainterna, Sai Baba92 apresenta algumas indagações e reflexões:

Qual o verdadeiro ornamento para o homem? Lótussão ornamentos para lagos. As casas e edifícios sãoos ornamentos de aldeias e cidades. As ondas dooceano são seu ornamento. A lua embeleza o céu. Ocaráter é o verdadeiro ornamento do homem. Aperda deste ornamento é a fonte de todo seusofrimento e miséria do homem. O homem nãopercebe o propósito para o qual ele foi criado por

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Deus. Na criação há várias verdades, mistérios eexemplos instituídos por Deus. Mas o homemesqueceu estes exemplos. Ele está totalmenteimpossibilitado de apreciar o significado de seu legado.De todos os poderes no mundo, o poder do homemé o maior. De fato, é o homem que atribui o valor detodos os materiais na terra. Quem dá valor a umdiamante ou, com relação a ele, ao ouro? Quem dávalor à terra? Não é o homem? O homem atribuivalor a tudo neste mundo, mas é incapaz dereconhecer seu próprio valor. Então, como elepoderá entender o valor da Divindade? Em primeirolugar, o homem tem que reconhecer o valor davida humana. Somente então, ele estará em posiçãode tentar entender a Divindade. Deus não mora noparaíso ou em Kailasa. Estes são merosacampamentos temporários. A verdadeira residênciade Deus é o coração do homem. Vocês não precisamir em busca de Deus. Semelhantemente, o pecadonão existe em alguma terra estrangeira; ele está ligadoàs suas ações. Não ser capaz de reconhecer suadivindade inata é ignorância. Vocês têm que investigara razão para esta ignorância. Isto ocorreprincipalmente por que vocês estão seguindo ocaminho exterior. Toda sua vida está sob a influênciade seus órgãos dos sentidos, que são direcionadospara fora. Vocês não estão fazendo nenhum esforçopara realizar a jornada interna. Tudo aquilo que vocêsvêem, ouvem ou pensam, são atos externos. De fato,tudo o que vocês fazem é externo. Assim vocês estãocompletamente absorvidos pelas atividades externase estão negligenciando a jornada internacompletamente.

Essa passagem dos discursos de Sai Baba permitiu-nosentender que o caráter é a virtude que mais enobrece a condutahumana; é através de seu grau de estruturação que o serhumano consegue enxergar e reconhecer o verdadeiro valorda vida. E é por este motivo que até parece redundância

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reafirmar, constantemente, que o ser humano tem o devermoral para consigo mesmo de dar atenção a suaspotencialidades interiores. Eis porque Sai Baba propõe que aeducação tem que favorecer espaço e tempo para osprofessores e estudantes se examinarem, a todo momento, nabusca de harmonia entre pensamento, palavra e ação. Nestesentido, em um de seus discursos, aponta a seguinte direção:

Você tem que se examinar para ver se você estáseguindo este caminho de harmonia em pensamento,palavra e ação. Quando você se examinarhonestamente, é que você pode achar que a maioriado tempo que estes três, pensamento, palavra e ação,estarão saindo em três direções diferentes, semqualquer unidade entre eles. Quando pensamentosque forem diferentes, palavras são diferentes e açõessão diferentes, você tem as características de umdemônio, não de um santo. Tal desarmonia não obeneficiará nem o encarecerá ao Deus.

Qualquer pensamento que você tem, ele trará osresultados correspondentes para você. Tudo o quevocê está sentindo, será refletido em seu modo defalar e agir. Em primeiro lugar, você tem que seempreender a purificar seus sentimentos. Você temque fazer seu amor puro. Para fazer isso, você temque desenvolver paciência, uma paciência serena eego-restrição debaixo de todas as circunstâncias,enquanto se dá bem com tudo, até mesmo comaqueles que podem querer prejudicá-lo. Não hánada maior que ter esta qualidade de paciência.Paciência é equivalente a esta verdade, paciência éo coração de justiça, paciência é a mesma essênciada sabedoria antiga, paciência é não-violência emprática, paciência é satisfação, é compaixão.Verdadeiramente, paciência é tudo em todos osmundos. Só quando você desenvolver paciência, éque a paciência o ajudará a obter Deus [...]

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Raiva e temperamento são perigosos. Eles podemarruinar sua vida. Se você sofre de raiva, você nãopoderá alcançar qualquer coisa que vale a pena. Vocêserá olhado com desgosto. Você perderá sua riqueza.Todas as honras que você desfrutou virarão cinzas.Sua raiva o separará até mesmo daqueles que são osmais íntimos a você. Por causa da raiva, certas pessoasperdem tudo, e suas vidas se tornam um desperdício.Então, no Gita, Krishna ensinou o princípio de amore a necessidade de cultivar amor contra o ódio, ciúme,raiva e todas as outras características ruins que causamtantos danos a você93.

Nesse sentido, é tarefa da educação lidar tanto com osinstrumentos essenciais de aprendizagem, que envolvem leitura,escrita, cálculo, quanto com os aspectos basilares da educação,por favorecer o despertar da consciência e auxiliar o serhumano quanto ao discernimento nas ações do cotidiano.

Sabemos que existem muitas crianças ditas educadas,mas com carência de discernimento. A educação deve conduzirsempre ao discernimento, seguindo os valores humanos, embusca de unidade entre a ciência, a estética e a ética.

Desta forma, enfatizamos a necessidade dodesenvolvimento de competências comportamentais, sociais,culturais e intencionais, elevando o pensamento e o espíritopara a busca de unidade. Para Sai Baba94: “A educação é araiz, enquanto a virtude é o fruto. De outra forma, toda aeducação escolar seria perda de tempo e dinheiro.” Em discursoanterior, Sai Baba95 já denunciava sua crítica à educação, quenão toma em consideração o ser humano integral:

O sistema atual de educação visa torná-los aptos aganharem o seu sustento e tornarem-se cidadãos;mas não lhes dá o segredo de uma vida feliz; ouseja, o discernimento entre o real e o irreal - que é

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o verdadeiro treinamento de que precisam.

Claro, não é culpa de vocês, mas sim daquelesresponsáveis por estes assuntos. Eles o terão quefazer, preferencialmente mais cedo do que maistarde. Cultivar o discernimento é a principal metada educação; a promoção de hábitos virtuosos, ofortalecimento do Dharma, a estes se devedispensar atenção; não à aquisição de polidez ecavalheirismo ou ao armazenamento de informaçãogenérica e à prática de habilidades comuns.

Primeiro, fixem-se na consciência de que vocês sãoimortal Centelha Divina Interior, que é indestrutível,sagrada, pura e divina. Isso lhes dará coragem eforça inabaláveis. Então, vocês devem desenvolveramor e respeito mútuos. Tolerem todo tipo de pessoae de opinião, todas as atitudes e peculiaridades. Aescola, o lar e a sociedade são todos terrenos detreinamento para a tolerância. Na escola, osprofessores e alunos precisam estar cientes de suasobrigações e deveres. As relações precisam serbaseadas no amor, não no medo. Apenas aatmosfera de amor pode garantir uma cooperaçãoalegre e a concórdia. Acima de tudo, sejam bons,honestos e bem comportados. Isso tornará os títulosuniversitários mais louváveis e valiosos.

Sabemos que a educação moderna fornece,prioritariamente, o conhecimento exterior e conceitual,advindo dos livros, o qual, na visão de Sai Baba, é umconhecimento superficial. No ano de 1958, Sai Baba fez umdiscurso aos estudantes, exortando-os para o valor da conduta,indo além do conhecimento livresco, ou seja, lembrando anecessidade dos conhecimentos serem praticados, ao invés desó aprendidos. Nas palavras de Sai Baba96:

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Ler apenas não é o suficiente; vocês podem dominartodos os comentários sobre as Escrituras e podemestar aptos a argumentar e discutir com grandeseruditos sobre estes textos; mas sem colocar emprática o que eles ensinam, isto é uma perda detempo. Eu nunca aprovei o conhecimento livresco;prática é o que Eu considero. Quando vocês saemda sala de exames, sabem se passaram ou não,não é verdade? Pois vocês mesmos podem julgar seresponderam bem ou não. Assim, no esforçoespiritual ou no comportamento ou na prática, cadaum de vocês pode julgar e avaliar o sucesso oufracasso que lhe espera. A disciplina espiritual é acoisa essencial até mesmo para vocês, pois nenhumaidade é cedo demais para isso. Assim comofornecem ao corpo alimento e bebida em intervalosregulares, vocês também devem cuidar dasnecessidades do corpo espiritual interior com arepetição do nome de Deus e a meditação, e docultivo das virtudes. Boa companhia, atitude corretae pensamentos sagrados são essenciais para ocrescimento e para a saúde da personalidade interior.O corpo é a mansão do Senhor do Mundo. Namedida em que vocês são exigentes quanto a tomarcafé ou chá em intervalos regulares, sejam tambémexigentes com relação à pratica da meditação e darepetição do nome de Deus em intervalos regularespara a saúde e vivacidade do espírito.

Os estudantes devem ter uma postura de desafioperante as coisas; eles devem honrar o trabalhofísico. Devem estar desejosos de servir àqueles quenecessitam de ajuda devido as suas deficiênciasfísicas. Respeitem também aos mais velhos e nãopercam a oportunidade de servi-los, honrando-os eagradando-os. O que quer que lhes traga saúde ealegria, acolham-no; mas não se rebaixem adotandopassatempos vulgares. Não vaguem sem rumo pelasruas ou freqüentem cinemas e nem se misturemcom companhias indesejáveis ou cultivem maushábitos apenas por diversão.

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Este país tem que ser elevado a grandes alturas porvocês, não pelos líderes atuais, lembrem-se.

Importa, pois, que a educação cumpra seu verdadeirosignificado de conduzir de dentro para fora, integrando aspotencialidades internas com a aprendizagem dos conceitos.

Segundo Sai Baba97, tudo o que o ser humano vê é oreflexo do que está dentro de si mesmo; por isso, nunca sedeve considerar que o bem e o mal existem, por si, externosao ser humano. Os estudantes, em sua maioria, para SaiBaba, não têm tido a capacidade para entender esta verdade.“Eles têm prioritariamente conhecimento livresco e nãoconhecimento do coração. Eles lêem tudo que está nos livros,vão para a sala de aula, escrevem nos cadernos e terminamde cabeça ‘vazia’.”98 Essa não é educação de verdade. “Istoapenas levará à argumentação, mas não à consciência total.”,conforme expressa Sai Baba99, em um de seus discursos. Emoutro discurso, Sai Baba100 recomenda: “Não sigam a mente,não sigam o corpo. Sigam a consciência. Este é o princípiodo Atma. Vocês só irão vivenciar a divindade quando seguiremsuas consciências.”

Ser, consciência e bem-aventurança são, portanto, ostrês atributos essenciais do ser humano, na visão de Sai Baba.Eles são verdadeiros e eternos. Nome e forma são transitórios.Neste mundo, ele afirma existirem dois tipos de intelectuais.O primeiro tipo é o cientista, que é totalmente empiricistaem sua visão e tem em sua mente somente os objetivos eganhos físicos e mundanos. Está fascinado pela aparênciaexterna de uma árvore gigantesca com numerosos galhos eramos, mas não está interessado em descobrir as suas “raízes”.

O filósofo é o segundo tipo de intelectual. Embora nãoesteja  fascinado pela aparência externa das árvores, tem

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um grande prazer em descobrir as suas “raízes”. Em seudiscurso, proferido em 2003, Sai Baba101 diz: “As pessoasque têm a visão mundana desperdiçam seu tempo regandoos ‘galhos’ enquanto que os vedantinos regam as ‘raízes’,desfrutando, portanto, dos ‘frutos’.”

Sai Baba reforça a máxima de que Ser-Consciência-Bem-aventurança compõe a tríade da natureza do ser humano.Este, no entanto, tem esquecido a sua própria natureza evivido muito em função dos apelos do prazer momentâneo.Ao se afastar, cada vez mais, de sua natureza – Ser-Consciência-Bem-aventurança – o ser humano limita seuacesso ao estado elevado. Sobre isso, Baba102 alerta:

Em primeiro lugar, o que o homem precisareconhecer é a sua própria natureza divina inata.Ele, porém, não está fazendo nenhum esforço nestadireção. Tornou-se um escravo dos seus sentidos eestá perdendo o seu tempo com assuntos triviais. Oprimeiro dever do homem é, portanto, compreenderadequadamente a sua natureza humana inata paradepois colocá-la em prática.

Neste contexto, não é concebível fazer ciência semconsciência. A ciência é, essencialmente, o resultado daatividade do intelecto e das funções dos sentidos do serhumano, ao longo do tempo, o que, na visão de Sai Baba,indica que a compreensão que o ser humano alcançou poressas vias tem suas limitações.

Sai Baba103 lembra, através de seu discurso, que, por essavia, o ser humano “[...] tem se tornado um gigante intelectual,apesar de permanecer um anão moral.” A mesma coisa é ditaquando afirma que a imaturidade moral do ser humano não é

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compatível com seu adiantamento científico. De fato, aespiritualidade e a ciência não se contradizem. Elas se completam,tendo, inclusive, metas comuns, apesar de seus caminhos e desuas ferramentas serem diferentes. Diz Sai Baba104:

Um espiritualista procura compreender a realidadesuprema visualizando o Criador, o poder primordialde Deus por trás do mundo criado, que é oonipresente e onipotente imanifesto, a Divindade,o objetivo de todas as questões espirituais. Umcientista também busca entender a mesma realidadesuprema, mas através do estudo do mundo criadodo Criador, a única forma pela qual o Criador Seprojeta ou Se manifesta.

Daí a necessidade da educação integrar o conhecimentocientífico e a espiritualidade. Educação não significa meraaquisição de conhecimento científico, através dos livros. Hámuitos que são peritos em conhecimento conceitual. Muitosse tornaram mestres educacionais, doutores, pós-doutores eeruditos sem um fim específico. Sobre este assunto, SaiBaba105 apresenta algumas interrogações bastante específicasem seu discurso proferido no Festival de Shankranti:

Qual o serviço que estes intelectuais estão prestandoao mundo? Tendo nascido e crescido na sociedade,tendo adquirido seu conhecimento da sociedade, oque eles têm feito para a sociedade? Qual a utilidadeda sua erudição e educação, se não mostramgratidão à sociedade?

O primeiro passo para a prática educativa é possibilitarao ser humano a compreensão do verdadeiro eu. De acordo

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com Sai Baba106: “Não existe diferença entre livros semconsciência e mentes cheias de conhecimento livresco. Ambossão igualmente estéreis. É um caso de ‘morte em vida’, emambos os casos.”

Como uma síntese dessa compreensão, vale a penacitar as palavras de Sai Baba107, proferidas para os estudantesdo Colégio B.Z., em 1958:

Todos vocês precisam tornar-se heróis, aventureirose ousados; preparem-se para esse papel desdeagora. O homem tem dentro de si um conjuntocompleto de animais: o cão, a raposa, o burro e olobo. Mas ele precisa suprimir as tendências de todosestes animais e encorajar as qualidades humanas doamor e da amizade para que brilhem. A amizadecultivada a partir da infância é mais duradoura, assim,tentem cultivar verdadeiros amigos desde agora.Acima de tudo, comecem a cultivar as virtudes; issoé mais importante e benéfico que o mero aprendizadolivresco. Isso gera verdadeira bem-aventurança[Anandha]; essa é a essência de todo o conhecimento,a culminância de todo aprendizado.

Daí a educação não poder se limitar ao estudo dasdisciplinas científicas e tecnológicas. Com isso, os estudantesconseguem conquistar tudo, mas não conquistam a si mesmos,distanciando-se dos valores mais nobres que residem em seuinterior, só que, muitas vezes, adormecidos. Para Sai Baba108:

[...] a educação objetiva conhecer a si mesmo, enão acumular riqueza. Apesar de sua educação, umapessoa medíocre não pode abandonar suasqualidades más. A educação moderna conduz

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somente à argumentação, mas não à sabedoria total.Se os próprios anciões tomam o caminho errado, éprovável que os jovens sigam os passos deles. Ohomem moderno pensa que é muito educado, mas,de fato, é muito ignorante. Como é incapaz deentender o significado de educação, ele só a estáusando para suprir seu sustento. Ele estáexaminando várias escrituras e se associando a váriasorganizações espirituais, mas não está fazendonenhum esforço para praticar pelo menos algunsensinamentos sagrados. Não há nenhum pecadomaior que este. Não há problema se um erro écometido sem intenção, mas cometer um errodeliberadamente equivale a um grande pecado.Embora o homem esteja completamente ciente doque é bom e do que é mau, não é capaz de praticaro bem e abandonar o mal. Esta é a razão de ele serincapaz de progredir no campo da espiritualidade.

A educação exclusiva, através dos conhecimentoscientíficos, portanto, ensina tudo sobre o mundo exterior,mas omite o conhecimento do ser interno. Todo esforço doser humano, segundo ele, está agora concentrado em sabertudo sobre o mundo externo, dominando o conhecimentofísico e material, no entanto desconhece a sua própriarealidade. Ao tratar dessa busca de saber sobre o mundoexterno e o mundo interno, Sai Baba nos apresenta as trêsfases no caminho da sabedoria, que possibilitam o estado depaz interior, com fins de favorecer os ensinamentos espirituaisno cotidiano.

Para Sai Baba, não é cabível aos professores se limitaremà educação leiga moderna. Em seu discurso intitulado Averdadeira educação liberta109, assim se expressa: “[...] aeducação leiga moderna está tornando o ser humanodesumano. Assim como os estudantes se esforçam para afiarseu intelecto, devem também ampliar seus corações.”

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Em seguida, acrescentou que se este fato não é percebido,qual é a utilidade da inteligência e do aprendizado? Com educaçãoadequada, a mente e o coração devem ser transformados.

Dentro desse contexto, o principal significado daeducação é revelar as potencialidades – física, mental eespiritual – dos educandos no limite do possível. A verdadeirameta da educação é, a partir dos ensinamentos de Sai Baba,tornar explícitas as potencialidades inatas do ser humano, asquais envolvem o cérebro e o coração, num movimentoharmônico, portanto, integrado. O primeiro se relaciona àexistência física, enquanto o último à aprendizagem maiselevada ou à vida em seu verdadeiro sentido. No discursointitulado Manifestação das divindades no Lingodbhava,ele diz: “[...] o coração olha o que está dentro. O envolvimentocom o exterior tem sido chamado ‘o caminho externo’.”110

Todas as ações do ser humano, incluindo o conhecimentoque adquire e a riqueza que alcança, estão relacionadas aeste caminho. Sendo que “[...] os seis vícios: a luxúria, araiva, a paixão, a cobiça, o orgulho e a inveja estãorelacionados ao caminho externo”111.

Tais vícios, outrossim, estão submetidos a constantesmudanças, diferentemente das qualidades do coração. Estasse mantêm inalteráveis e estão associadas ao “caminhointerior”. Quais são as qualidades relacionadas ao coração?Para Sai Baba, são: verdade, compaixão, amor, tolerância,simpatia e sacrifício. Essas qualidades humanas emanam docoração e, devem, portanto, ser cultivadas.

Além do conhecimento livresco, atrelado ao cérebro,o educando tem que ter conhecimento geral,alcançando, ao mesmo tempo, o conhecimento dodiscernimento que o auxilia a discernir entre bom emau; certo e errado e, acima de tudo, deve-se atingir

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o conhecimento prático, que só vem após adquirir-se o conhecimento do discernimento112.

Segundo Sai Baba, nas ciências humanas e sociais, existeuma grande distância entre a teoria e a prática, porquanto oconhecimento construído acerca dessas áreas do saber muitoimporta para a compreensão da dinâmica da vida e, porconseguinte, das relações sociais que compõem o tecidosocial. No caso, a prática, principalmente voltada para açõessociais, importa mais do que a aquisição de conhecimento.Neste sentido, não é o acúmulo de informação que importa,mas, sim, a transformação de si próprio.

Qual é a utilidade de toda a informação que se acumulaquando não é colocada em prática? Quanta felicidade é obtidaatravés dela? São perguntas que devem permear a práticaeducativa, de acordo com Sai Baba113:

A sua educação será útil se for utilizada para oserviço da sociedade. Oh, homem, por que se senteorgulhoso da sua educação se ela for um desperdíciototal sem adorar a Deus e servir à sociedade? Aeducação mundana não pode conferir a graça divinaa menos que seja utilizada para o bem estar dasociedade. A educação que receberam da sociedadedeve ser dedicada ao serviço à sociedade [...] Overdadeiro serviço possui benefícios gêmeos – eleos faz felizes e dá felicidade aos outros. Qual autilidade da educação se ela não conferir alegriapara os outros e felicidade para vocês? O serviço éo princípio fundamental da Organização Sathya Sai.Lembrem-se da verdade de que vocês nascerampara servir à sociedade. Não façam distinção aofazer o serviço. Sirvam aos seus pais, irmãos, amigos,parentes e até aos mendigos igualmente.

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A graça divina fluirá com abundância somentequando vocês servirem com o espírito de humildadee igualdade. O serviço é o caminho mais fácil paraatingir a graça divina. Ofereçam o serviço erecebam o amor de Deus. O amor e o serviço sãocomo as duas asas com as quais o homem podevoar a níveis mais elevados de consciência. Setiverem o espírito do amor e do servir, a graçadivina seguirá vocês como uma sombra ondeestiverem – numa floresta ou no céu, numa aldeiaou numa cidade, num rio ou no topo de umamontanha. Deus não tem limites.

Deste modo, referendamos o argumento de que aeducação deve ser útil à sociedade, oportunizando felicidadeaos estudantes e aos demais com quem se relacionam, bemcomo considerando o amor como um dos principais meiosde se alcançar níveis mais elevados de consciência. Assim, osconhecimentos formais a serem desenvolvidos através daeducação escolar devem contemplar princípios e valorescorrespondentes.

Eis porque Sai Baba propõe que os conhecimentos sejamconstruídos tendo como base os valores humanos, sob penade a educação continuar se resumindo numa mera reproduçãodos padrões da vida mundana, objetiva e tradicional, queenfatiza o conhecimento livresco em detrimento da educaçãoespiritual, subjetiva e transformadora, que prima pelo domínioda mente.

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3.2 O C3.2 O C3.2 O C3.2 O C3.2 O CONHECIMENTOONHECIMENTOONHECIMENTOONHECIMENTOONHECIMENTO

O conhecimento, por conseguinte, deve integrar odesenvolvimento das estruturas intelectivas dos educandos coma intuição e a dimensão espiritual. Sai Baba, em um de seusdiscursos114, nos diz:

A mente é o vento que traz até nós o cheiro,desagradável ou fragrante, do mundo. Quando amente se volta para o desagradável, ele faz vocêsinfelizes; quando o vento se volta para o fragrante,vocês se sentem felizes. O vento reúne as nuvensdos quatro cantos; do mesmo modo, a mente trazpara sua consciência as decepções de muitasesperanças. De novo, é a mente que, como o vento,espalha as nuvens que a escurecem ou que a fazemsentir-se perdida na noite de dúvidas. Controlem amente e vocês permanecerão serenos. Esse é osegredo de Shanthi; essa é a educação que ohomem deve primeiramente reivindicar e garantir.Veremos hoje em dia que o homem mais instruído éexatamente aquele que é mais descontente e infeliz.

Então, qual é o ganho de todo estudo que ele obtevedos livros, dos homens e das coisas. Para garantiressa equanimidade, vocês devem fazer não leitura,mas o sadhana (esforço espiritual) sistemático. Entãopoderão ser felizes, sejam ricos ou pobres,admirados ou rejeitados, prósperos oudesafortunados. Essa é a armadura sem a qual étolice entrar na arena da vida. Se entrarem na arenaapenas para obtenção de alegria sensorial, vocêsse defrontarão com todo tipo de problemas. É comonavegar em um pequeno barco sem um leme nummar revolto pela tempestade. Assim, ingressem nocaminho da disciplina espiritual agora.

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Presume-se que, além das necessidades próprias àsobrevivência, devem ser supridas as necessidades “espirituais”.Para isto, deve-se, prioritariamente, trabalhar com o “eu”115,para que possa haver um funcionamento completo do serhumano, no ciclo geral da vida, levando-se em conta os diversosníveis de desenvolvimento da sua Consciência, atrelados aosdiversos campos do conhecimento. Este deve conduzir osestudantes à sabedoria, afastando-os da ignorância.

Ao tratar da sabedoria como dissipadora da ignorância,conquistada a partir do conhecimento de si, Sai Baba116 assimse expressa:

Há muitos campos do conhecimento, mas há um sóconhecimento supremo. Este conhecimentosupremo é o conhecimento de si, o conhecimentodo EU imortal. É o conhecimento de sua realidadeimutável, seu EU verdadeiro; aquele que nuncanasceu e que nunca morrerá. Há muitos outros tiposde conhecimento. Há os diferentes campos de arte,ciência, comércio e educação. Mas, estes só lheajudarão a ganhar alguns objetivos e prazeresexternos e transitórios. Para sentir a felicidade eternaque é a sua própria verdadeira natureza, você temque ter o conhecimento do EU verdadeiro. É o únicoconhecimento que lhe permite experimentar a pazinterna e a alegria interminável, que é a sua própriaessência, a sua real identidade. Quando você seilumina com o conhecimento do EU, você se tornao próprio amor. Você se sente puro ecompletamente satisfeito. Assim você sempre estaráem perfeita harmonia com tudo e com todos.

Sai Baba reforça a máxima de que os títulos erealizações, por si só, não podem trazer a real sabedoria.

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Para ser verdadeiramente sábio, cada pessoa tem que saberrealmente quem é, conhecendo seu eu imortal; só oconhecimento de seu verdadeiro eu lhe permitirá superartodo e qualquer problema. Confirma ser este o únicoconhecimento que pode dar a felicidade, favorecendo aaquisição de méritos, mas sem desmerecer o conhecimentomundano. Para ele:

O conhecimento mundano somente pode lhe darcomida e abrigo, enquanto que o conhecimento doeu interior lhe dará o maior tesouro de toda a suavida, a realização de sua própria realidade. Mesmoassim, sem um pouco de conhecimento secular, vocênão poderá obter o conhecimento do eu interior, doeterno. Você não pode ser descuidado emnegligenciar o conhecimento secular. Oconhecimento espiritual precisa de ser equilibradocom o conhecimento secular117.

O desafio, pois, relaciona-se ao equilíbrio que envolvea obtenção de conhecimentos que abarquem a dimensãoespiritual, incorporando, igualmente, o desenvolvimento damoralidade, a purificação da mente, com o fim permanentede servir à sociedade, sem desmerecer, contudo, oconhecimento secular, que inclui o conhecimento livresco.

Tratando dessa rede de relações, Sai Baba118 assimafirmou no seu discurso intitulado Promovam a Moralidadepara Enaltecer a Natureza Humana: “Em primeiro lugar,desenvolvam moralidade e purifiquem suas mentes [...] Hojeo homem está lendo vários livros, mas qual a utilidade? Paraque adquirir educação mundana, se ela não pode levá-los àimortalidade?” Continuando, Sai Baba119 questiona:

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Qual é a base para este conhecimento supremo?Sua base é a pureza da mente. Para purificar suamente, você deve dedicar sua vida inteira comespiritualidade. Ocupe-se de atividades nobres.Associe-se com pessoas dedicadas à espiritualidade.Dedique-se a uma conduta exemplar em sua vidadiária. Esforce-se para fazer seu deverperfeitamente. Viva sua vida de forma que seja deserviço abnegado e ações virtuosas. E estude osensinamentos de sabedoria das religiões e dos sábios;ponha-os na prática diária; deixe estes ensinamentosservirem como seus sinalizadores. Então sua menteserá purificada. E, com uma mente pura, vocêpoderá discriminar o permanente e o temporário,entre o que é benéfico e o que é prejudicial a seuprogresso espiritual. Então todas as suas atividadesdiárias ordinárias tornar-se-ão sagradas e a graçade Deus estará sempre com você.

Agora, você pode ser altamente formado noconhecimento secular, você pode ser um grandeestudioso ou você pode ser um perito mundialmentereconhecido em vários campos.

Quem são esses que merecem aprender esteconhecimento sagrado? É algo exclusivamentereservado para pessoas velhas, ou uma criançatambém merece aprender? É algo a ser dadosomente a pessoas iniciadas no religioso, ou tambémdeverá ser disponível para aqueles que não têmnenhum conhecimento religioso mais profundo?Deveria ser mantido somente para os homens ouas mulheres igualmente têm o direito de saber?Verdadeiramente, para ganhar esta sabedoria, cor,idade, sexo, nacionalidade ou status social não sãonenhum pré-requisito. O famoso mestre Valmiki(autor do Ramayana), no início de sua vida, tinhasido um ladrão de estrada, o sábio Narada nasceude uma criada humilde; contudo, ambos se tornaramgrandes luzes espirituais. Todas as pessoas domundo, igualmente, têm a premissa para adquiriresta sabedoria suprema.

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Essa abordagem, por sua vez, representa um desafioaos tradicionais modos de pensar e sugere um caminhointeiramente novo para se encarar a realidade, a educação ea própria existência humana.

Pretende-se, pois, neste contexto, que os conhecimentosa serem trabalhados através da educação despertem os educandospara os já citados valores humanos existentes neles – Verdade,Ação Correta, Paz, Amor e Não Violência – compreendidoscomo ferramentas transformadoras do caráter, que os auxiliama compreender o verdadeiro significado da vida.

Em um dos seus divinos discursos, Sai Baba120 assim seexpressou para os presentes, dando ênfase à superação dascrises do mundo atual:

Eu fico especialmente contente na companhia dosestudantes, pois eles são como os brotos no jardim;são os jovens heróis que terão que assumir a difíciltarefa da reconstrução nacional e internacional.

A situação atual no mundo é como um tufão,causando intranqüilidade e confusão. Ninguém temquietude mental; o medo e a ansiedade grassampor todo lado; o pânico reina enquanto se anunciaa conquista do espaço e a localização de novosplanetas. Mesmo neste país, vivemos um tempo decrise e nenhum instante deve ser perdido para secorrigir as coisas, de modo que os homens possamdesfrutar de paz mais do que qualquer outra coisa;pois, sem paz, a vida é um pesadelo.

Ao tratar das crises atuais, reforça a importância dosValores Humanos como elementos nucleares na suasuperação. Os referidos valores são, pois, compreendidoscomo as qualidades divinas – que sempre existiram, existem

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e existirão – responsáveis por exteriorizar a essência do serhumano, proporcionando a sua espiritualização.

Atuam também como uma trajetória de ascensão aaspirante espiritual. Praticando os Valores Humanos, oindivíduo é capaz de revelar o que tem de melhor dentro desi. O valor e o significado da natureza humana, pois, estãoalém de qualquer estimativa. Diz ele:

Somente quando vocês praticarem os valoreshumanos, a sua vida será redimida. O homem éuma centelha da divindade [...] Mas o homem nãoestá fazendo nenhum esforço para ouvir esta vozinterior. Ele busca os objetos físicos e efêmeros,esquecendo da sua própria natureza divina edistanciando-se do objetivo final da sua vida [...] Osentimento átmico é o único remédio para todas asdoenças internas. Vocês devem se esforçar paraconhecer o princípio do Atmã.  O Atmã é umsinônimo de Brahma que nada mais é do que aconsciência (Chaitanya) que permeia cada serhumano [...] Quando o indivíduo compreende oprincípio da unidade na diversidade, a consciênciafica transformada em conscientização. Apesar deser dotado deste poder sagrado, o homem se iludepelos meandros da mente. Dá importância a umnovo ano, que é fugaz. Na verdade, ele deveriavalorizar o tempo imutável e santificá-lo através douso apropriado121.

Sai Baba defende que, neste mundo, somente a verdadee a bondade permanecerão conosco para sempre. Estesvalores, que não podem ser quantificados, devem serdesenvolvidos em cada ser humano. Nesse contexto, deveser buscada a descoberta do verdadeiro objetivo da vida, quese relaciona à manutenção do estado de equanimidade nos

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distintos momentos do viver. Ao se referir ao verdadeirosignificado da vida, Sai Baba remete-nos ao encontro daverdade.

A busca da Verdade é uma das metas mais importantesda educação. Aqui vale considerar a verdade subjetiva e averdade objetiva. A verdade objetiva é perceptível pelos cincosentidos – gustação, olfação, tato, visão e audição – e averdade subjetiva é extra-sensorial, captada por nosso coraçãoe não pelos sentidos.

A Verdade tem que ser universal e tem que existir emqualquer lugar, no átomo ou no cosmos. Para Sai Baba122:

O homem moderno quer que tudo seja feito numinstante, sem qualquer trabalho duro de sua parte.Ele não está preparado para realizar qualqueresforço ou suportar qualquer dificuldade. Hoje aspessoas não estão preparadas para aceitar averdade, elas são desencaminhadas pela mentira.

O indivíduo, nesta perspectiva, deve viver na Verdade,e não procurá-la. Ele tem de realizar a Verdade e demonstrá-la em pensamento, sentimento e ação, sendo ela a verdadeirabase da existência.

Discursando para rapazes e moças, como futuroscidadãos do mundo, Sai Baba123 comenta acerca das suasboas condutas como determinantes do futuro:

O futuro do mundo, bom ou mau, depende da suaconduta. O país só será seguro, pacífico e prósperoquando sua conduta for boa. O que o mundo precisahoje não é de riqueza e confortos materiais, mas de

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homens e mulheres de caráter nobre. O país estarádestinado a sofrer, se a conduta dos seus jovens nãofor correta.

Daí defender os princípios da verdade, retidão e sacrifício.Considera a verdade como a moralidade, a retidão como ocomportamento e o sacrifício como a fama. Ele afirma:

Toda a criação originou-se da Verdade e, em últimainstância, se fundirá na Verdade. Não há nenhumlugar onde a verdade não exista. Reconheçam estapura e imaculada verdade [...] Falar a verdade serefere ao valor moral. A raça humana não podesobreviver sem a moralidade. Hoje o mundo inteiroestá envolvido em dificuldades e conflitos por causada injustiça, da falsidade e da incorreção. Só osjovens são capazes de restabelecer os valoreshumanos decadentes. Só quando o homem sustentaa moralidade, pode haver igualdade, fraternidadee liberdade na sociedade. Para sustentar amoralidade, deve-se aderir a verdade. É por istoque se diz: “Falem a Verdade”. Este é o deverprimário do homem. O segundo item, falaragradavelmente, se refere ao valor dhármico.Baseado nisto a Bhagavad Gita diz: “Falem palavrasverdadeiras, agradáveis e adequadas, que nãoincomodem os outros”. O terceiro item, não falaruma verdade que é desagradável, se refere ao valorespiritual. Tem-se que aderir a estes princípios paraprogredir no caminho espiritual124.

Deve-se agir e atuar com toda vontade e plenitude damente, usando, o máximo possível, as capacidades ehabilidades, coragem e confiança, investigando sobre aVerdade. Perguntas do tipo: Qual o princípio criador? Qual

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a finalidade da vida? Qual a razão da minha existência? Quemsou? De onde vim? Para onde vou? devem, neste contexto,permear a mente do ser humano em busca do real objetivoda vida.

O que é necessário, hoje, é transformação, quepode ser levada a efeito questionando-se “Quemsou eu?’; uma vez que vocês conheçam a respostaa esta pergunta e alcancem o estado detransformação, não precisarão mais de práticasespirituais. Isto só é possível quando controlaremsuas mentes. O sábio Patanjali enunciou o mesmo:“O controle dos pensamentos e das aberraçõesda mente é o verdadeiro Yoga” (“Yoga Chitta VrittiNirodha”). Yoga não significa exercícios físicos. Yogasignifica ‘unir-se com’ o Atma. Não há felicidademaior do que ser um com o Atma. Mas, hoje,ninguém está fazendo qualquer esforço para atingiro Atma, a meta final da vida.

Os sentidos estão acima do corpo; a mente estáacima dos sentidos; o intelecto está acima da mente,e o Atma está acima do intelecto. O homem nãoviaja nem mesmo até o nível do intelecto. Viajasomente até o nível da mente. Como é incapaz decontrolar sua mente e seus sentidos, o homem estásujeito à confusão e à depressão. Como resultado,ele esquece o Princípio do Atma125.

E o educando, no momento em que obtém estasrespostas, começa a agir corretamente, porque entra emcontato com informações básicas de sua própria Consciência.

O ser humano deve conhecer a essência das grandesquestões que vêm a sua mente quando pensa sobre osignificado último das coisas – Deus, o Homem, o Universo,o propósito da vida e a maneira como viver.

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Deus está em todos os lugares e em todas as coisas.Toda a criação vem Dele e Ele está na criação [...]Assim como Deus está dentro e além de Seu grandeuniverso, também o verdadeiro ser humano estádentro e além deste miniuniverso [...] A razão pelaqual estamos aqui nesta sala de aula terrestre écertamente para que possamos aprender algumaslições de valor e desenvolver um caráter forte enobre. O universo de múltiplas formas, da invisívelvida microscópica a invisíveis e distantes estrelas,teve um início e terá, então, um fim. Ele foi criadopelo Deus eterno, não saído de algo, mas saído deSeu Ser infinito [...] Nesse contexto, qual o propósitoda vida? [...] O propósito da vida é descobrir quemrealmente somos. Da mesma maneira, se pudermosalcançar o conhecimento direto e livre de incertezasde nossa verdadeira identidade, nossas vidas semoverão rumo a um novo nível e nossa perspectivamudará completamente. Paralela a esta mudança,estará a permanente alegria que não é afetada pelosaltos e baixos das circunstâncias. Descobrir quemsomos libera esta alegria, que é parte da nossaverdadeira natureza126.

E, para se atingir o verdadeiro propósito da vida, segundoSai Baba127, em seu discurso intitulado Que Rama viva nosseus corações, deve-se começar por si mesmo, a partir doconhecimento e uso da verdade no cotidiano, agindocorretamente. A Ação Correta, portanto, está diretamenterelacionada com a Verdade. Ela é o reflexo da unidade entrepensamento, sentimento e ação. “A ação correta é comoum rio que flui invisível e subterrâneo, através dos profundosníveis da consciência humana, nutrindo as raízes da ação epreenchendo a nascente dos pensamentos, purificando oenlameado turbilhão das emoções”128.

Vale ressaltar o equilíbrio necessário entre os direitos e

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deveres, pois, quando os deveres são cumpridos devidamente,os direitos são garantidos voluntariamente. Ao se colocarem prática a Ação Correta, conseqüentemente, sentir-se-áPaz. A Paz é, na verdade, o que todos procuram, mas nuncapoderá ser obtida do mundo exterior. Somente quando ohomem pensar, sentir e agir integradamente, a suaConsciência será expandida, dominando seus desejos, e eleobterá Paz. E “[...] sentindo Paz, o Amor começa a se fazercada vez mais presente”, afirma Sai Baba129 no discurso deFormatura dos Estudantes do Instituto Sai.

O Amor deve ser compreendido, pois, como subjacentea todos os demais valores. Quando o Amor penetra pelospensamentos se torna Verdade. Para Baba130, “[...] o devermais importante dos estudantes é desenvolver o amorsagrado. A principal educação oferecida em nossos colégiosé somente amor.”

Enfatizando a prática do amor, Sai Baba131 convocatodos a entenderem que o amor é uma conquista, fruto deum progresso gradual, alcançado através das práticasespirituais. Sobre o amor, assim se expressou em discursoproferido nas Convenções da Organização Sai:

Não é possível atingir o estado supremo de amorinstantaneamente, assim como é impossível paraum bebê recém-nascido freqüentar aulas. Éimperativo realizar estas práticas até que direcionemsua visão para dentro. Realizem todas as atividadescom uma visão espiritual. Não há maior práticaespiritual do que aderir os princípios da verdade edo amor [...] Sem estes dois, não há razão pararealizar as práticas espirituais [...] A verdadeiraprática espiritual está em dar as mãos ao restanteda comunidade e trabalhar pelo progresso dasociedade como um todo. O amor é Deus, vivam

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em amor. O coração sem amor é como uma terraestéril. O seu amor não deveria ser mundano eegoísta, mas altruísta e divino. Todas as suas açõesdevem ser banhadas com amor.

Ao aprofundar o assunto, remetendo-o para o domíniodo cotidiano, Sai132 reforça, em seu discurso de Formaturados Estudantes do Instituto Sai, a máxima: quando o Amorse manifesta em forma de ação, se torna Ação Correta.Quando os sentimentos se tornam saturados de Amor, pode-se encontrar a Paz. O verdadeiro significado da palavra Pazé Amor, considerado como força vital. “É o princípio quegoverna [...] amor como pensamento é Verdade. Amor comoação é Retidão. Amor como compreensão é Paz. Amor comosentimento é Não-violência”133.

Sai Baba134, em discurso proferido no dia do Ano NovoOcidental, convidou os estudantes a começarem uma novavida com ideais de serviço e amor. Nessa ocasião, definiu oamor como a principal qualidade do homem, a verdade comosua base e a retidão como sua própria vida. “A combinaçãode todas estas garante paz. Se possuírem todas estas, a pazserá sua propriedade por direito.”

Daí, à proporção que se expande o Amor no serhumano, ele se torna Não-Violento. Sai Baba afirma que aNão-violência se refere, exatamente, ao que se deve serplenamente. Significa evitar causar dor a qualquer ser, querseja através do pensamento, do sentimento e/ou da ação.Quando consegue se tornar não violento, o ser humano reúneem si todas as qualidades relativas aos outros valores.

“As pessoas no mundo todo, atualmente, estão rezandopor paz. Mas, como a paz pode ser atingida? Apenas atravésda prática da Verdade e da Ação Correta135”. Hoje, o ser

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humano, de um modo geral, leva uma vida desprovida deVerdade e Ação Correta, o que leva à ausência de paz, oque, por sua vez, resulta na ausência de amor.

Como a Não-violência pode existir na ausência daVerdade, da Ação Correta, da Paz e do Amor? Cabe ressaltarque a violência está instalada em todos os lugares. O serhumano desprovido destes cinco princípios tem se tornado,segundo Sai Baba, um escravo de suas próprias ações.

Nesse sentido, a fim do ser humano não se permitir serescravo de suas próprias ações, enfatizamos a necessidadede extrapolar o mero tratamento dos conteúdos formais dasdisciplinas curriculares, caminhando em direção ao trabalhocom os Valores Humanos, em si, como conhecimentofundamental no desenvolvimento integral dos educandos. Essesvalores podem ser compreendidos como o conjunto de virtudesque compõem a sua essência, independentemente deideologia, crença, credo, condição social, religião ou cor edevem ser encarados como necessidades básicas para opróprio ser. Eles não são nem podem ser adquiridos de forapara dentro, de acordo com Sai Baba136.

O caminho que ele propõe, portanto, vai além doconhecimento mundano, incluindo, também, o conhecimentoespiritual. Sai Baba137, no seu discurso intitulado A Glória daCultura Indiana, assim se expressa:

Não sejam desencaminhados pela educação mundana.De fato, tudo o que está relacionado à mente e aossentidos não é nada mais do que ignorância. Aaniquilação da mente é a verdadeira sabedoria. Amente é um pacote de pensamentos e impulsos.Então, tudo o que é relacionado à mente está sujeitoà mudança. Só o atma é verdadeiro e eterno.

Muitas mudanças acontecem em um homem com a

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idade, mas o homem permanece o mesmo. Na horado nascimento, vocês são crianças. Depois de dezanos, as pessoas os chamam de meninos. Depoisde trinta anos, vocês se tornam homens. Depois de75 anos, vocês são chamados de avô. A criança, omenino, o homem e o avô são um e o mesmo, masvocês são iludidos vendo as mudanças físicas. Vocêsdevem sempre ter a verdade imutável em suasmentes. Este é o verdadeiro valor humano. Oconhecimento mundano também é necessário, masnão é tudo e não é meta final da vida humana.Conhecimento mundano é para a felicidade nestemundo e conhecimento espiritual é para a felicidadeposterior. Só o conhecimento espiritual está emvocês, sobre vocês, abaixo de vocês, ao seu redor eos protege. Algumas pessoas negam a existênciade Deus porque ele não é visível a olho nu. Podemvocês, com a mesma analogia, negar a existênciado ar, que também não é visível a olho nu? Emborao olho humano não possa ver Deus, o coraçãoespiritual (hridaya) pode vê-lo, ouvi-lo eexperimentá-lo. Este é o ensinamento da nossaantiga cultura. Esta grande cultura permaneceuvibrante por milhares de anos. Einstein disse que aenergia não pode ser criada nem destruída. Ela sómuda sua forma. O mesmo também pode ser ditosobre nossa cultura antiga.

Nesse contexto, a perspectiva de construção deconhecimento com base em Valores Humanos relaciona-se,diretamente, com a realização do potencial interno doseducandos, dando ênfase ao coração e se opondo a tudo queé externo e artificial.

Tratando mais especificamente dos Valores Humanos,buscando desdobrá-los para melhor serem compreendidos,Sai Baba os distingue em absolutos e relativos, indicando,além dos considerados absolutos – Verdade, Ação Correta,

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Paz, Amor e Não-violência – os cinco valores humanosrelativos, quais sejam: Conhecimento, Talento, EquilíbrioInterior, Gentileza ou Amabilidade e Consciência daResponsabilidade Social Pessoal. Estes valores, se forempraticados, proporcionarão a auto-realização do indivíduo econtribuirão para o seu desenvolvimento nos aspectos físico,intelectual, emocional, psíquico e espiritual.

Aqui, a função da escola desponta com destaquesignificativo, pois é neste espaço que vem ocorrendo,culturalmente, a realização da educação formal e sistemáticado processo de ensino.

3.3 F3.3 F3.3 F3.3 F3.3 FUNÇÃOUNÇÃOUNÇÃOUNÇÃOUNÇÃO DADADADADA E E E E ESCOLASCOLASCOLASCOLASCOLA

De acordo com a concepção de educação integral deSai Baba, a escola deve, efetivamente, tornar-se um localonde os educandos possam vivenciar os Valores Humanos,através do próprio currículo, numa atmosfera de criação/construção dos conhecimentos embasados no princípio defazer ciência com consciência. Isso implica em se dedicar aoensino e aprendizagem da ciência e cultura, da vida espirituale da vida cotidiana (disciplina, higiene, ordem etc.).

A escola, para Sai Baba, é um local sagrado, destinadoa formar os destinos de muitas gerações. Este espaço devepromover a aprendizagem de habilidades e aptidões doseducandos, auxiliando-os a alcançarem a felicidade, espargindopaz e prosperidade a suas famílias e à sociedade em geral,tendo ainda como dever apresentar aos educandos a culturaque os profetas e sábios da antigüidade descobriram e legarampara a humanidade. Sai Baba138 acrescentou ainda, no seudiscurso proferido em 1971:

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Eu também desejo que vocês devem implementarclasses de Educação Espiritual (Bala Vihar) paraseus filhos, onde eles aprenderão histórias dasescrituras, os épicos e as vidas de santos quepertencem a todas as religiões. Também devem serensinados às crianças hábitos de limpeza, ajuda ecooperação mútuas. Elas também podem serensinadas a cantar canções devocionais e encenaralgumas peças com temas de clássicos selecionados.Eles também aprenderão hábitos de disciplina, poissó isto pode assegurar felicidade individual e social.

À escola é reservado um papel fundamental naformação dos educandos, complementar à educação familiar.Eis porque Sai Baba considera basilar a participação dospais no contexto escolar. Em seu discurso proferido emAnantapur, durante um evento da área de educação, assimse expressou:

Fico feliz porque seus pais, principalmente suas mães,também foram convidados e vieram. Isto porque elesprecisam conhecer a escola que seus filhosfreqüentam e os professores que os ensinam, paraque possam expressar sua gratidão para com aquelesque compartilham das suas responsabilidades139.

Ao estimular o envolvimento dos pais na educaçãoformal dos filhos, igualmente ensina os filhos a aprenderema respeitar e a honrar seus pais. Os filhos precisam reconhecero esforço dos pais para inseri-los na educação escolar, queinclui, muitas vezes, inúmeras dificuldades sociais eeconômicas. Eles chegam a se despojar de refeições completasdiárias, para que seus filhos possam auferir os benefícios daeducação. Eis um dos motivos pelos quais as crianças devem

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se sentir gratas aos pais, dentre muitos outros, a saber:

O exemplo dos mais velhos, as lições que recebemdos pais, a companhia que têm e o treinamentoque recebem nas escolas e na sociedade é quetransformam esses corações em pedra.Mantenham esses corações sensíveis; aprendam acompartilhar com os demais sua mágoa e alegria[...] Os pais deram-lhes esses corpos e nutriram ainteligência e o amor que trazem dentro deles; poressa razão, devem se sentir gratos. Se nãohonrarem seus pais, que são os criadores na formahumana, como conseguirão aprender a honrar oCriador na Forma Divina?140

Nesse contexto, a educação escolar, além de se destinarà obtenção de títulos e/ou à conquista de um meio de vida,deve ir além disso, ou seja, deve assumir o propósito principalde ativar as qualidades divinas da sabedoria em ação, desapegoe discernimento, que asseguram ao indivíduo odesenvolvimento das virtudes da paz, verdade e retidão.

Sai Baba alertou os estudantes, em um dos seusdiscursos, no sentido de buscarem a bem-aventurança e afelicidade em seu próprio interior e os orientou quanto aosenvoltórios inerentes a cada um, considerando a necessidadede compreensão da sua própria natureza.

Vocês são verdadeiramente as personificações dabem-aventurança e da felicidade. Não será puraignorância buscar a bem-aventurança e a felicidadeno mundo exterior quando elas estão presentes emvocês? A verdadeira transformação espiritual estána compreensão da sua própria natureza verdadeira.

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Tanto o Vice-Reitor atual quanto o anterior do nossoInstituto pediram-Me (em seus discursos anteriores)que Eu devia explicar em detalhes o conceito doscinco envoltórios do Ser Pancha Koshas). O PuroAtma está recoberto por cinco envoltórios e, devidoa sua associação com estes envoltórios, ele adquireas suas características. O corpo físico é chamado deenvoltório do alimento (Annamaya Kosha). O Atmaassociado ao corpo material no seu estado de vigíliaé chamado de ‘Viswa’, pois é dotado de órgãos dapercepção e da ação. Como este corpo estáenvolvido em várias atividades externas, é tambémconhecido como Vyavaharika. Assim, os Vedasderam vários nomes a este envoltório quecompreende o corpo material (Sthula Sareera). Oenvoltório vital (Pranamaya Kosha), o envoltóriomental (Manomaya Kosha) e o envoltório dasabedoria (Vijnanamaya Kosha) formam o corposutil (Sukshma Sareera), pois não são visíveis a olhonu. A mente em sua forma sutil é toda-imanente.Por isso diz-se “A mente é a base para o mundointeiro” (Verso em Sânscrito). O envoltório da bem-aventurança (Anandamaya Kosha) refere-se aocorpo causal (Karana Sareera). Deve-se ir além detodos os cinco envoltórios para ter-se a experiênciada bem-aventurança. Este estado é conhecido comoTuriya, que está além do estado de sono profundo.Refere-se ao aspecto causal supremo. Este é oprincípio espiritual supremo e a bem-aventurançaexperimentada neste estado é a verdadeira bem-aventurança. Esta bem-aventurança não pode serobtida através dos sentidos, da mente ou do intelecto.

Existem cinco tipos de obstáculos (Kleshas) queentram no caminho da experiência da bem-aventurança. São eles: apego ao corpo (AvidyaKlesha), falta de controle mental (Abhinava Klesha),o interesse nos prazeres mundanos(AsthithaKlesha), ligação com objetos materiais (RagaKlesha) e a frustração das expectativas (DweshaKlesha). O homem é incapaz de ter a visão do Atma

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e experimentar a bem-aventurança Átmica devidoa esses cinco obstáculos. Aquele que tem um apegoexcessivo ao corpo sofre de Avidya Klesha, queleva a vários desejos e doenças e torna a vidamiserável. O Abhinava Klesha surge quando nãose exercita o controle mental. O homem dá umaimportância indevida ao corpo e é desencaminhadopelos caprichos da mente e, como resultado, elesofre. O Asthitha Klesha surge do interesse nosprazeres mundanos. O Raga Klesha resulta daligação com a riqueza e objetos materiais. O DweshaKlesha surge quando as expectativas são frustradase os desejos não são realizados

[...]

A sabedoria está na compreensão da consciênciaintegrada constante. Ela conduz à bem-aventurançaeterna e imutável. Isto pode ser experimentadosomente após a transcendência dos cincoenvoltórios, isto é, os corpos físico, vital, mental,sutil e causal. Então poder-se-á atingir o estadocausal supremo (Turiya). O que está além do estadocausal é o estado causal supremo. Para atingir esteestado, deve-se compreender claramente a naturezados cinco envoltórios141.

Eis uma das funções especiais da escola: possibilitar aoeducando conhecer sua natureza, com os seus envoltórios –os corpos físico, vital, mental, sutil e causal. Conhecer tambémos cinco obstáculos que entram no caminho da experiênciada bem-aventurança: apego ao corpo, falta de controlemental, interesse nos prazeres mundanos, ligação com objetosmateriais e frustração das expectativas. A escola, na concepçãode Sai Baba, não pode se esquivar desta tarefa. Junto com ahabilidade intelectual, a escola deve proporcionar espaço etempo para lidar com as habilidades virtuosas.

Priorizar a habilidade intelectual em detrimento da

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habilidade virtuosa tende, na concepção de Sai Baba, a formarpersonalidades mais consumistas e menos íntegras. A escola,nesse contexto, não deve e não necessita estimular a ilusão,acreditando ser este o caminho da felicidade. Daí não deverensinar as crianças a serem meras reprodutoras do padrãosocial, que cultua, muita vezes, consumismo, extravagância,apelando para o domínio do externo em detrimento do interno.

Programados devido à era industrial e tecnológica,nos tornamos consumidores de conforto e prazer.Queremos que nossos filhos tenham tudo. Nósassistimos aos comerciais na TV e compramos,compramos, compramos coisas para fazerem a nóse as nossas crianças ‘felizes’. E quando finalmenteconseguimos estes itens agradáveis, percebemos queeles não nos fazem ou nossas crianças felizes. Ascrianças simplesmente querem mais... Por quê? Porque não lhes ensinamos como aplicar o freio daautodisciplina. Ensinem as crianças a não receberemnada de graça. Deixem-nas merecerem através dotrabalho duro as coisas que elas buscam.

Nós estamos programados para sermosconsumidores. Nós fomos fisgados pela estratégiade marketing, com anzol, linha e chumbo. Nóstrabalhamos, trabalhamos e trabalhamos. Por que?Para ter um alto padrão de vida? Nós realmenteprecisamos de tanto quanto nós temos? Quandocontinuamos a adquirir bens, estamos ensinandonossas crianças pelo nosso exemplo a continuaremcom a mesma conduta. As indústrias adoram isto.

O amor e a disciplina foram substituídos pelo poderde compra. Nós compramos coisas para dizer àsnossas crianças o quanto nós as amamos. Nósrecompensamos nossas crianças com presentes, seelas estudam, executam suas atividades de casa oucorrigem uma conduta negativa. Nós as estamoscontrolando com recompensas, recompensas físicas,

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e não ensinando a elas a autodisciplina que podeconstruir a auto-estima. É a recompensa interiorque é importante. Elas não podem levar as possesmateriais com elas quando saem de casa e enfrentamos desafios do mundo. É somente o caráter que elaspodem usar para se manter. Ocorre o mesmoquando abandonamos nosso corpo.

Simplesmente pensem sobre vocês mesmos. Nãoqueremos nós todos merecer nosso própriocaminho? Buscamos independência, nãodependência. Não é mais difícil receber dos outrosdo que dar? Mas nós não estamos ensinando nossascrianças a dar, assim temos a geração “eu”, comuma auto-estima muito baixa142.

Contra a geração do “eu”, Sai Baba prevê seis metasda educação, a saber: bom comportamento, bom intelecto,compromisso com a verdade, devoção143, disciplina, sentidode dever. Sem o alcance dessas metas, ele afirma não serpossível uma verdadeira educação.

Entende que os professores devem orientar os educandosa não sentirem, por exemplo, ciúmes, quando outros foremmais felizes, ou quando conquistarem prêmios ou créditosnos exames. Pelo contrário, deverão seguir os exemplos dededicação, sem jamais abrigar a inveja e a malícia em seuscorações. Em 1966, expressou-se da seguinte forma:

A inveja é um veneno mortal, que contamina ocaráter, arruína a saúde e rouba sua paz. Não sedeixem afetar pela inveja e conseguirão conquistaros deuses da criação, proteção e destruição. Assimcomo uma peste que destrói as colheitas de umaplantação, a inveja entra sorrateiramente e espalha-se com rapidez. Assim, mesmo nas questões de

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menos importância, fiquem atentos para evitar quese tornem vítimas da inveja144.

Como reforço à máxima de que a escola deve trabalharcom as habilidades intelectuais integradas às habilidadesvirtuosas, através do seu discurso proferido aos estudantesno Ano Novo Tamil e Télugu, conclama todos a entenderemque o conhecimento livresco não é suficiente.

Estudantes!

Vocês são jovens e esta é a idade dourada. Não autilizem mal. Existem três coisas importantes quedevem manter em mente. A primeira quando vemnão vai embora, isto é, a sabedoria. A segunda,quando vai ela não volta, isto é, a ignorância, e aterceira não vai e não vem: o princípio de Brahman.A sua fé também deve ser constante, isto é, não ir evir. Mas a fé dos alunos de agora se mantémvacilante. Esta fé não é realmente fé.

Estudantes!

O que estão tentando adquirir é somente oconhecimento livresco, que constitui apenas umquarto do conhecimento total. As três partesremanescentes do conhecimento consistem emcolocar tudo o que estudaram em prática. Vocês sóse tornarão pessoas verdadeiramente eruditas e umser humano completo quando seu conhecimentolivresco for transformado no conhecimento prático.Ele é sua verdadeira força. Tentem adquiri-lo.Somente então sua educação será realizada e vocêsterão um bom nome.

Neste ano novo desenvolvam sentimentos novos esagrados e façam a todos felizes. Não lutem pelodinheiro; lutem pelo amor. Quando desenvolverem

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o amor, não haverá espaço para as más qualidadescomo ira, inveja, etc. Se seus pensamentos e atosforem bons, seu futuro estará destinado a ser bom.Então, todo o país e o mundo inteiro prosperarão.Orem pela paz e pela prosperidade do mundointeiro. A paz só pode ser atingida através da práticados valores humanos145.

Assim sendo, o currículo das escolas deve dar ênfase aoestudo e à prática dos Valores Humanos no cotidiano, comoinerente ao processo educativo, vislumbrando odesenvolvimento integral do educando e, portanto, aintegração de suas diversas dimensões no processo de ensinoe aprendizagem.

Em muitas instituições educacionais, vagas estão àdisposição de quem puder pagar. Como o governo tambémestá encorajando esta tendência, o sistema educacional temse tornado completamente desprovido de valores. No entanto,a educação deve levar à elevação, e não à agitação. Mas,como avalia Sai Baba, hoje se encontra agitação em todosos lugares. O mundo está mergulhado em caos e confusãodas mais diversas ordens.

Sai Baba questiona: O que os cientistas atuais etecnólogos estão fazendo? Tem sido afirmado que tudo oque está na terra é para ser usado e explorado pelo serhumano. Com isso, a humanidade tem convivido comenchentes, terremotos, entre outros desastres naturais, frutoda ação humana, que está, cada vez mais, poluindo osoceanos, fomentando a guerra, diminuindo a camada deozônio sobre a terra, devastando e degradando a biosfera,comprometendo o ar respirável e alterando o clima e o níveldo mar. Estas são, na verdade, parte da demonstração dafalta de conhecimento do ser humano de si mesmo e dosvalores elevados que fazem parte de sua natureza.

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Para que isso não ocorra, precisa-se de educadores comsólida formação filosófica, antropológica, científica,psicológica, histórica e espiritual, com base em ValoresHumanos e na visão sistêmica do Universo, com uma atuaçãotransdisciplinar, que caminhem não somente através dasdisciplinas, mas além delas.

Nesse contexto, o educador assume, inegavelmente, umpapel de destaque, pelo desafio de ser ou não o promotor daefetiva compreensão dos Valores Humanos na teoria e na prática.

3.4 P3.4 P3.4 P3.4 P3.4 PAPELAPELAPELAPELAPEL DODODODODO E E E E EDUCADORDUCADORDUCADORDUCADORDUCADOR

O educador, de acordo com a concepção da culturaSai, tem como tarefa trabalhar, para que os educandoscompreendam sua verdadeira natureza, auxiliando-os a sedesenvolverem, através dos Valores Humanos. Vale lembrarque tais Valores não podem ser absorvidos simplesmenteatravés de textos ou discursos. “Aqueles que procuram passaros valores aos estudantes devem primeiramente praticá-losmesmos e dando-lhes o exemplo”146.

O caráter do educando, portanto, é moldado através doexemplo, instrução, amor e disciplina. Assim, Sai Baba afirmouem um dos eventos na Área de Educação: “Acima de tudo, ocaráter das crianças precisa ser reforçado e purificado”147.

Ao tratar de caráter, a temática da disciplina surge comoconseqüência. Sai Baba tem continuamente enfatizado esseassunto, em seus discursos. Expressou-se, nas Convençõesda Organização Sai em Prasanthi Nilayam, ressaltando ovalor do exemplo dos pais para os filhos: “Noventa por centoda culpa por estragar o caráter dos filhos recai sobre os pais.

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Eles mostram também afeição tola e dão ainda liberdadeindiscriminada a eles”148. Além disso, acrescenta ainda o valorda disciplina:

Por que a disciplina é tão importante? [...] Disciplinasignifica a observância de certas regras bempreparadas. Sem tal regulamento, não é possívelmanter a qualidade humana. Em um dado momento,uma criança pequena pode não entender o que vocêestá ensinando, mas isto está programando seusubconsciente com a sabedoria de Swami e você estácriando e desenvolvendo sua conduta futura [...]

É a atuação da consciência que nos diz para parar.Parar de dormir tanto, comer demais, chorar tantoetc. Este é o mecanismo que controla nossocomportamento. Você colocaria seu filho em umcarro sem freios? Você pode se imaginar dirigindoum carro sem freios? É a mesma coisa com nossocomportamento, a disciplina é o freio. O carro é onosso corpo, nosso comportamento. Vocês jápensaram que se não dissermos não às nossascrianças, como elas irão aprender a dizer não a simesmas? Parem e pensem sobre isso. Isto é muitoimportante [...]

Hoje em dia, as crianças estão se comportando semusar o freio da disciplina. Elas estão fora de controle.O comportamento delas não está de acordo com osensinamentos de Swami.

Atualmente, o que estamos vendo nas culturas doocidente é que as crianças têm mais controle sobreseus pais. De certo modo, as crianças estãomandando em seus pais, ao invés dos pais estaremdisciplinando-as. Esta não é uma situação correta.Quando os pais permitem às crianças irem pelocaminho errado, uma hora ou outra, eles sofrerãoas conseqüências [...]149

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Sai Baba nos diz: primeiro ser; segundo fazer; terceirofalar.

[...] o professor deve ser um grande exemplo deviveka, vinaya e vitchakshana (discernimento,humildade e clareza de visão), ao invés de umapessoa envolvida com a tarefa da mera repetiçãode matéria e de preparação para os exames. Oexemplo – não o conselho – é o melhor material deajuda ao ensino150.

Devemos, em tudo, seguir nossa consciência [...] Oprimeiro passo é: o que ensinamos aos outros,devemos praticar. Esta é a verdadeira naturezahumana. Qual é a razão para que Sathya(Verdade), Dharma151 (Retidão), Shanti (Paz),Prema (Amor) e Ahimsa (Não-violência) não estejamsendo preservados atualmente? [...] Vocês devemmostrar, pelo falar e pelo exemplo, que o caminhoda auto-realização é o que conduz à alegria perfeita.Conseqüentemente, sobre vocês repousa granderesponsabilidade: a de demonstrar por sua calma,serenidade, humildade, pureza e virtude, corageme convicção em todas as circunstâncias, que ocaminho por vocês percorrido os tornou pessoasmelhores, mais felizes e mais úteis. Pratiquem152.

Eis o foco, na conclamação do estudante, para tercomportamento exemplar, servindo sem a expectativa deretorno, a fim de poder pensar em levar uma vida feliz eexemplar. Sai Baba enfatizou também, em um dos encontrosesportivos que participou, o valor das atividades físicas parao desenvolvimento dos estudantes. Ressaltou que um dospapéis do educador é favorecer aos educandos experienciarema bem-aventurança e compartilharem com os outros taisexperiências. Para ele:

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Os alunos do nosso Instituto devem se dedicar aoesporte por razões de saúde e diversão. Aparticipação de estudantes de diferentes regiões ecom distintas experiências deve contribuir para apromoção da unidade. Até os jogos devem serconsiderados sagrados. E, conseqüentemente, osparticipantes se santificam [...]

Alguns estudantes abstêm-se de tomar parte emesportes e jogos, sob pretexto de que não estãointeressados em ganhar prêmios. Isso não édesapego genuíno, mas apenas uma forma depreguiça. A participação nos esportes e nos jogos énecessária para a saúde e a recreação de vocês [...]

Muitos estudantes pensam que os eventos esportivosestão limitados a alguns dias de janeiro. Pelocontrário, devem considerar a própria vida comoum jogo contínuo. A vida é um jogo: joguem-no!Tratem o jogo como um ideal. Dessa maneira, estarãosendo fiéis a seus ideais, onde quer que vão153.

Para isso, precisa-se de educadores com formaçãoembasada em Valores Humanos e na visão integral doUniverso. Daí, não adianta buscar novos métodos para educar.Uma vez educado, busca-se. Mas não é buscar para se educar.E isso é amar. Não se faz tudo para conseguir amar, mas,sim, amar para conseguir fazer tudo.

Na compreensão de Sai Baba, ambos, professor e aluno,imergirão na alegria somente quando o amor, que não esperaretorno, possa uni-los, integrando na educação mundana osvalores sagrados da Cultura. Para ele: “Não há mestre maiordo que a própria consciência. Não há preceptor maior doque o tempo. O mundo é, na verdade, o maior texto. Deus éo único amigo verdadeiro”154.

No seu discurso proferido em Nova Délhi, Sai Baba155

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tratou da Cultura Indiana, lembrando os antigos ensinamentosministrados pelos educadores e as reais demandas relativasao papel do educador no mundo contemporâneo:

Antigamente, eram ensinados os valores sagradosda Cultura Indiana às crianças desde a idade decinco anos. A educação delas começava commantras sagrados como Aum Namah Shivaya eAum Namo Narayana. Mas no sistema de ensinomoderno, os nomes divinos como Shiva e Narayananão têm lugar. As crianças aprendem rimas semsentido como “Ba... Ba... ovelha preta”. As pessoasnão estão se esforçando para entender a eficáciadestes mantras.

Sem dúvida a educação mundana é requerida, masjunto com este conhecimento secular, a pessoatambém tem que fazer um esforço para absorveros valores culturais. É por causa do crescimento doconhecimento mundano sem valores culturais que ohomem se tornou um repositório de dúvidas.

O professor deve assumir presença marcante.

Nos tempos antigos, a voz do professor era suprema.Até mesmo os imperadores não interferiam com aliberdade dos mestres, quando treinavam e puniamseus filhos. O filho era entregue ao mestre e ossoberanos o apoiavam em todos os seus esforços porinstruí-lo e aperfeiçoá-lo. Jamais ficavam ao lado dofilho contra o mestre. Contudo, hoje em dia, ascrianças são os mestres, pois ditam as regras; tiram-se notas baixas, os pais declaram guerra contra oprofessor desafortunado, que não pode infligir nemmesmo a mais leve punição ao pupilo. Essa é a razão

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pela qual o ensino e a aprendizagem convencionaisatingiram níveis tão baixos hoje em dia156.

Não é admissível, nesse contexto, falar emconhecimento mundano sem atentar-se para a formação docaráter. Cabe ao educador transmitir aos estudantes toda asegurança e coragem de que necessitam para se tornarembons, honestos e autoconfiantes. “Não basta que elesaprendam alguma coisa que lhes permita sobreviver; comovivem é mais importante do que o padrão de vida”157. Nessemesmo discurso, reforçou, ainda, o papel do educador:

Quando jovem, o coração humano é muito sensível eresponde à mágoa e à dor da humanidade. Oexemplo dos mais velhos, as lições que recebem dospais, a companhia que têm e o treinamento querecebem nas escolas e na sociedade é quetransformam esses corações em pedra. Mantenhamesses corações sensíveis; aprendam a compartilharcom os demais sua mágoa e alegria; não sintamciúmes quando os outros forem mais felizes, ou quandoconquistarem prêmios ou créditos nos exames [...]

A educação é a raiz, enquanto a virtude é o fruto.De outra forma, toda a educação escolar seria perdade tempo e dinheiro [...] Sem aprendizagem, nãopode haver proteção; somente a educação garantesua segurança. Se forem educados, vocês podemestar protegidos das tentações do mundo, que osinduzem a falar falsidades, apropriarem-se dasposses alheias, odiarem o próximo, tiraremvantagem da fraqueza ou ignorância do outro158.

A educação escolar, portanto, não se destinasimplesmente à obtenção do alimento e prazer, à conquista

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de um meio de vida e aprendizado para desfrutar da inércia.Essa educação tem como objetivo ativar as qualidades dasabedoria em ação, desapego e discernimento, que asseguramao indivíduo desenvolver as virtudes da paz, verdade e retidão,graças ao florescimento do amor divino.

Aqui, o amor é considerado a base para odesenvolvimento das virtudes. Ao mestre cabem os desafiosde estimular o progresso dos alunos, respeitando-os, acolheros erros de aprendizagem e conduzi-los ao conhecimentoacerca do mundo e de seu Criador, sob pena de viverem astentações mundanas, permeadas de falsidade, posses alheias,busca de benefícios próprios em detrimento do outro.Através dos diferentes estágios e fases do amor, os estudantesdevem, outrossim, se desenvolver na busca da realização eda auto-realização.

Sai Baba159 faz um breve relato da trajetória do poderdo amor na vida do ser humano:

Imediatamente após o nascimento, a criança agarra-se ao peito da mãe e o considera um paraíso. Namedida em que cresce, transfere seu interesse paraa escola e esquece a mãe. Na sua juventude, vivenciaesse amor no esporte e nos jogos, nos estudos e nolazer. Após completar sua educação, ingressa navida familiar e imerge nos prazeres dos sentidos.Mais tarde, deseja obter riqueza e esquece esposae crianças. Porém, mais tarde ainda, perde ointeresse pela riqueza e volta os seus pensamentospara Deus. Assim, o homem demonstra o seu amorpor diferentes objetos em estágios diferentes emsua vida. (Sai Baba cantou uma canção, descrevendocomo o amor humano se modifica de tempos emtempos e como o homem desperdiça sua vida semdesenvolver o amor a Deus).

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Nesse sentido, cabe aos pais e educadores a granderesponsabilidade de amar. Resta ao educador, portanto,educar-se, em vez de simplesmente ler e dizer ter aprendidocertos padrões e métodos; autoconhecer-se, pois só umeducado, um integrado, pode, de acordo com Sai Baba,auxiliar outros a se educarem e a se integrarem.

Precisa-se fazer ciência, através da educação, de acordocom os princípios de Sai Baba, mas com consciência, pautadano nível mais profundo de valores dentro de si mesmo,cultivando a moralidade, a ética e a espiritualidade, em proldo desenvolvimento integral dos educandos.

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Inaugurando o ciclo de discursos realizados emChitthoor, Sai Baba fala aos estudantes, pela primeira vez,no ano de 1958. Diferentemente dos discursos anteriores,este não teve um prévio planejamento e também nãoapresentou algo inédito.

Como em qualquer outro lugar, estudantes são sempreestudantes, enfatiza Sai Baba160, em seu discurso intituladoCoragem: “[...] sua natureza, seu caráter, seus ideais eproblemas são os mesmos em todos os lugares.” Nesse dia,Sai Baba fala a alguns estudantes que tomou conhecimentode que estavam em véspera de exames de caráter escolar.

Alertou, então, que muitos estudantes têm receio deexames e não estudam com regularidade ao longo do ano,perdendo tempo, muitas vezes, com futilidades e atividadessupérfluas que não enobrecem a parte intelectiva mínimanecessária ao desenvolvimento cognitivo do ser humano,fazendo esforços desnecessários nas vésperas de exames, com

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fins de recuperar o tempo perdido.

Sai Baba foi muito enfático ao enunciar que o “pastoao intelecto” é tão necessário quanto a prática espiritual eque os estudantes devem se dedicar aos estudos, distribuindoseu tempo de forma equilibrada, ao longo do ano, para quepossam compatibilizar os estudos acadêmicos com os estudosespirituais. Ele diz:

[...] todos vocês estão atarefados preparando-se paraos exames e que muitos só pegaram os livros agora.Isto tem se tornado um tanto comum atualmente; novemeses do ano vocês lêem todo tipo de lixo e nos doisou três meses que restam estudam minuciosamenteaqueles livros realmente essenciais. Isto não é correto!É muito perigoso encher o cérebro com coisassupérfluas e sem valor. Quando tiverem algum tempolivre, leiam e assimilem os livros que promovem umaapreciação inteligente do mundo e de seus mistérios.Para viver uma vida feliz, em paz e cheia decontentamento, é necessária uma boa educação; umaeducação que seja baseada na ação correta161.

Em contrapartida, tranqüilizou os estudantes que maisse afligem em vésperas de exames, orientando-os a lercuidadosamente as questões, interpretando-as e realizando,primeiramente, as questões julgadas mais fáceis, como formade estimular o cérebro, passando, então, por fim, às maisdifíceis. Segundo ele, o roteiro para o bom desenvolvimentode uma prova é o seguinte:

Não desenvolvam pavor pelos exames; ali, num tempodeterminado, vocês têm que escrever as respostas paraum certo número de questões. Bem, alguns estudantes

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começam respondendo logo a primeira questão econtinuam em série pelas restantes; mas é sempremelhor parar um pouco e ler toda a folha de perguntase selecionar aquelas que podem enfrentar com maisconfiança e escrever suas respostas primeiro. Isto lhesdará o impulso para que o cérebro funcione melhor eresponda às questões mais difíceis depois162.

Indo além das atividades do cotidiano, destaca,especialmente, a importância de se construírem amizadesgenuínas, embasadas, obviamente, em valores morais quedenunciem a existência de mais virtudes e menos vícios, eindica que o melhor momento, para que elas sejam semeadasé a infância, pois, nesse período da vida, as chances de seconstruir uma amizade duradoura são mais próximas.

Logo, não há propósito em pensar uma educação queabrigue as más qualidades, de acordo com Sai Baba. Oimportante não é a educação, mas as boas qualidades, ocaráter e a conduta que irão permear a vida dos estudantese suas escolhas. “Se vocês se associarem a pessoas que têmpropensões erradas, vocês também ficarão maus”, afirmouSai Baba163 em 25/12/2002. Orientou, ainda, que aspessoas buscassem se afastar das más qualidades e dos mauscomportamentos:

Afastem-se das más companhias, aproveitem asboas companhias e realizem atos meritórios dia enoite [...] A grandeza não reside em adquirir riqueza.Cultivar as qualidades nobres é de importânciacapital. Falem menos. Pois quanto mais sepermitirem falar, mais estarão propensos às másqualidades. Não existe razão para se ligarem a suaorganização de serviço, se não cultivarem as virtudese transformarem seu comportamento para o bem.164

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Ressaltou, além disso, a importância do respeito aosmais velhos e ao sexo oposto, a conduta bem educada edestituída de qualquer interesse prejudicial a outro semelhante,bem como a importância de se falar sempre a verdade, eunicamente a verdade. Aos homens, dirigiu-se maisespecificamente e de modo contundente ao pedir: “[...]tratem-nas [as mulheres] com grande respeito, não falandodelas com desconsideração. Elas são suas irmãs e, honrando-as, vocês trarão honra a si mesmos e às suas irmãs. Respeitopelas mulheres é um sinal de verdadeira cultura”165.

E finalizou esse discurso conclamando:

Assim, Eu lhes peço que leiam bons livros;reverenciem seus professores e amem a todos. Nãodesonrem os mais velhos; cultivem o espírito deserviço e aprendam como servir aos doentes e aosnecessitados, aproveitando toda oportunidade deajudar aos demais. Ou pelo menos desistam decausar-lhes dor166.

Sai Baba, ao longo desses discursos, vem buscandoencorajar todas as pessoas no intuito de reconhecerem quemsão verdadeiramente. Para ele:

Não somos estes corpos. Não somos estas mentes.Somos o Ser Eterno que ocupa temporariamenteestes corpos e mentes. Podemos apreciar e nostornar quem realmente somos, voltando-nos paradentro, com fé em Deus e um intenso desejo deconhecê-Lo, pois nossa Consciência (ou Ser Interior)é um reflexo do Ser Supremo [...] Nossa Consciência

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é o nosso verdadeiro mestre. Quando a seguirmosincondicionalmente, nossos pensamentos, palavrase ações serão nobres e perfeitos. Mantendo-nos emharmonia com nosso Ser Interior, estaremos vivendoa verdadeira Espiritualidade e poderemos chegar areconhecer nossa Unidade com Deus167.

O educando, portanto, deve ser preparado para obterrespostas sobre a vida, a finalidade do existir, o seucompromisso individual e coletivo e não apenas para prestaro exame vestibular, ingressar no mercado de trabalho eadquirir bens materiais. Sobre esse sentido mais amplo daeducação, assim questiona:

Estudantes!

Para que estão estudando? Querem ganhardinheiro e ter uma vida feliz. Mas estão conseguindofelicidade com os seus estudos? Não. Depois dosestudos, desejam um bom emprego, depois umapromoção, e assim por diante. Não há fim para osseus desejos. Como podem esperar ser felizes? Afelicidade verdadeira é permanente e não podeser obtida no mundo físico. Pode ser experimentadasomente no estado causal supremo (Turiya). Abem-aventurança não está presente nos objetosfísicos do mundo168.

Ao ser afastado de sua própria natureza, o ser humanotambém foi afastado de sua felicidade. Preparando o serhumano para parte de sua natureza (ego-corpo-mente), aeducação alijou-o de sua verdadeira e completa natureza,daí o sentimento de estar incompleto e sem valores. Eisporque Sai Baba169 convida os estudantes a cultivarem obom caráter:

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Os estudantes devem cultivar o bom caráterjuntamente com a aquisição de conhecimento.Educação sem cultura é inútil. Da mesma formaque a corrente elétrica flui quando o positivo e onegativo são conectados, igualmente sua vida seráredimida quando a educação for unida com acultura. Os estudantes são bons, mas eles não sabemo caminho certo. Alguns sabem o que é bom, masnão seguem por causa dos desejos ilimitados. Como aumento de desejos mundanos, naturalmente, odesejo pela graça divina diminui.

A educação e a cultura, a espiritualidade e a ciênciapossuem, pois, um valor de sobrevivência para a raça humana,como um todo. Os principais elementos do processo deaprendizagem do homem, nos últimos séculos, foram, segundoSai Baba, a presença de Vignana (conhecimento lógico)170 ea ausência de Pragnana (sabedoria intuitiva), as quais deveriamser trabalhadas em concomitância, incluindo a perspectivamaterial/objetiva/científica e a perspectiva espiritual/subjetiva/estética.

Daí ser necessário integrar a educação material eespiritual, sob pena de se fomentar mais fragmentaçãohumana. Sabe-se, pois, que a educação material ressalta oconhecimento relacionado ao mundo físico, ao mundo daciência. Já a educação espiritual ressalta o conhecimentorelacionado ao mundo da arte e da moral, reconhecendo adivindade inerente ao ser humano. Portanto, tanto aeducação material quanto a espiritual são essenciais para SaiBaba, sem as quais a vida humana tem pouco valor. Averdadeira educação está em abandonar a ignorância ereconhecer a divindade. Segundo Sai Baba171:

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A educação material é orientada para a informação,enquanto a educação espiritual é orientada para atransformação. A educação voltada à informaçãofaz do homem um computador, enquanto aeducação voltada à transformação faz do homemum compositor. O homem deveria, desta forma,entender o significado da verdadeira educação.

Essa perspectiva da educação voltada para atransformação, no entanto, tem sido pouco trabalhada nosistema educacional moderno. Dá-se importância prioritáriaà educação material, voltada à informação. Diz ele:

[...] Da mesma forma que duas asas são essenciaispara um pássaro alçar vôo ao céu e duas rodaspara uma carroça mover-se, também a educaçãoespiritual e material são necessárias para que ohomem atinja seu objetivo na vida. A educaçãoespiritual destina-se à vida, enquanto a educaçãomaterial a um meio de vida172.

A verdadeira educação, nesse contexto, é aquela quetorna o ser humano exemplar, integrando a materialidade ea espiritualidade. Os professores, conforme já explicitadoanteriormente, precisam ser exemplos para os educandos,no entanto, muitos não praticam o que pregam. Comoespecialistas em discursos na frente da sala de aula, eles nãotêm sido especialistas em ciência prática. Professor e alunodevem ser exemplos para a sociedade e para o mundo, atravésda conduta e do comportamento, indo além da tecnologia,buscando resgatar os valores morais.

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A geração dos meus pais vivenciou o maior avançona tecnologia. Eles puderam ter água encanada,eletricidade, carros. Imaginem as mudanças que elesviram no mundo material ou físico. Mas a minhageração viu a maior Aniquilação da Moralidade.Nós vivenciamos a grande revolução da imoralidade.Muitos dos valores que existiam para meus pais sãoinexistentes hoje. Nós tivemos que aceitar emocionale psicologicamente o que está, enquanto ansiandopor aqueles valores familiares que já existiram. Odivórcio não existia então, ele só ocorria em casosextremos. Quando o materialismo aumenta, amoralidade declina. Quando a moralidade aumenta,o materialismo declina.

Este é o nosso dilema. Nos tornamos tão eficientesem fazer produtos que melhoram nossa vida física,que nos focamos neles, ao invés de percebermosque estamos perdendo nossa fibra moral173.

O que podemos observar, a partir dessas leituras, é quetanto os educadores quanto os educandos estão voltados,prioritariamente, para os bens materiais. Em conseqüência,os alunos não respeitam seus professores e os professoresnão têm amor por seus alunos. Seus próprios interesses têmsido sua forma de vida, tornando a busca do poder e oegoísmo a filosofia do mundo moderno.

Daí Sai Baba ressaltar o valor das práticas espirituais, afim de conduzir os educandos à construção do amor comoum dos valores capitais para seu desenvolvimento. Ele procuramostrar-lhes os limites de sua consciência e fazê-loscompreender a relação dialética existente entre o indivíduo,a natureza e Deus, e a necessidade de superarem a buscaexagerada de poder e ação em benefício próprio.

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A sociedade é um membro da natureza e a naturezaé um membro de Deus. Portanto, vocês podemconcluir que existe uma relação íntima entre oindivíduo e Deus. Assim como objetos inanimadoscomo os telefones funcionam quando sãoconectados, não deveria haver uma conexão entreo ser humano e Deus? A primeira relação é denatureza artificial, enquanto que a última é decoração a coração. Existem dois tipos de chamadastelefônicas – uma que pode ser respondida porqualquer um e outra que precisa ser respondidapor uma determinada pessoa a quem ela se destina.O seu contato com Deus deve ser direto como umachamada pessoal e não abrangente, como aimpessoal. Se fizer uma chamada pessoal para Deus,Ele responderá instantaneamente. Mas não poderáesperar que Ele responda se a chamada forindeterminada. Chamadas impessoais correspondema pensamentos negativos. Portanto, desistam delese desenvolvam sentimentos positivos.

O corpo, a mente, os sentidos e o intelecto são todosde natureza negativa. Somente a consciência épositiva. Assim como o microfone não tem utilidadese não estiver ligado, o corpo, a mente e os sentidosnão têm utilidade sem a consciência. A consciênciaque existe em todos é a mesma, assim como acorrente elétrica que passa por lâmpadas diferentesé a mesma. Todos são um. Por isso, não odeiem,prejudiquem ou critiquem ninguém. Aquele que seconduz sem prejudicar os outros e sem se desviarno processo é nobre. A verdadeira prática espiritualestá em considerar todas as tarefas como umtrabalho de Deus e não meramente fazer repetiçãoe meditação [...] Tudo o que digo é para o bem devocês e para torná-los conscientes da Divindade174.

O educando, por sua vez, deve desenvolver suas práticasespirituais, mantendo o máximo de sintonia com Deus, comoforma, principalmente, de saber o melhor caminho a seguir,

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aprimorando, cotidianamente, sua conduta. Desta forma,pode desenvolver suas qualidades divinas. Sai Baba vemenfatizando, nos seus discursos, a necessidade da referidasintonia com a espiritualidade:

A espiritualidade requer a remoção das qualidadesanimais do homem e o desenvolvimento das suasqualidades divinas. Este é o dever de todos osaspirantes espirituais. As más qualidades como:calúnia, maledicência, falar mal dos outros, sãoqualidades subumanas. Vocês devem aprender arespeitar o Divino em todos, enquanto executam assuas obrigações175.

O homem é dotado de qualidades animais e tambémde qualidades divinas. As qualidades animais seoriginam da cabeça. A educação mundana e ainteligência estão ligadas à cabeça. Os cientistasusam a sua inteligência para estudar as coisas queestão ligadas ao mundo. Isto corresponde ao caminhoexterno. As virtudes como o amor, a compaixão e apaciência, que se originam do coração, conduzemo homem ao caminho interior. Hoje, o homem querser inteligente e não virtuoso. Desistam do externoe liguem-se ao interno176.

Com o distanciamento do interior, as qualidadespotenciais do ser humano acabam ficando subutilizadas,comprometendo, outrossim, o seu desenvolvimento integral.Antigamente, na Índia, os estudantes tinham que confiarinteiramente no seu poder de memória e concentração paraadquirir o conhecimento, pois não havia caneta, lápis e papelpara anotar o que os mestres ensinavam. O seu aprendizadoconsistia apenas em ouvir os mestres. Ainda assim, adquiriamuma educação elevada.

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Hoje, no entanto, os educandos têm acesso a caneta epapel, mas, na concepção de Sai Baba, falham nos estudosporque não têm poder de concentração e de memória, alémdos demais poderes, principalmente os espirituais, quefavorecem a aproximação com o divino. Acabam, com isso,desperdiçando muita energia, tempo e dinheiro. Daí Sai Babadedicar alguns minutos de seu discurso para tratar deste assunto:

Não desperdicem energia, pois a energia é Deus.Hoje os alunos desperdiçam muita energia na visãoprofana, nos maus pensamentos, ouvindo coisasruins e através da conversa excessiva. O nosso corpopode ser comparado a um rádio. Quando ele estásempre ligado, suas baterias se desgastam. Damesma maneira, se vocês se permitirem falar emexcesso, estarão gastando muita energia. Por issoos antigos sábios e videntes observavam o silêncio.Conservem a energia observando o silêncio pelomenos um dia por semana. Digo com freqüênciaaos alunos para falar menos e trabalhar mais.Somente então a energia latente se desenvolverá.Este era o único objetivo dos sábios e videntes aorealizar várias práticas espirituais. Quando suaenergia latente se desenvolver, seu poder dememória e de concentração aumentará. Algunsalunos não se saem bem nos exames porque nãoconseguem se concentrar nem mesmo por ummomento. Estão constantemente engajados em ouvirrádio, fazer comentários etc., com o livro em suasmãos. Com tantas distrações, como alguém podese concentrar e desenvolver a memória?177

No discurso proferido aos estudantes nas Convençõesda Organização, Sai comparou a educação antiga com amoderna:

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Rapazes e Moças!

Vocês se tornam divinos quando cuidam dos seuspoderes físicos, mentais e espirituais. Deixem queseu corpo realize boas ações, que a menteentretenha pensamentos nobres e que o intelectomergulhe no Divino. O corpo, a mente e o intelectosão meramente instrumentos. Compreendam oprincípio que faz estes instrumentos funcionarem.O sistema moderno de educação tornou-se orientadopelo computador. Há uma febre de computadoresem toda a parte. Vocês são compositores e nãocomputadores. Afinal, o que faz um computador?Ele faz aquilo para o que é programado. Não podefuncionar sozinho. O cérebro dotado por Deus é overdadeiro computador. Façam um uso apropriadodele. Infelizmente, o homem moderno dependeexcessivamente da máquina, excluindo o cérebrodotado por Deus. A situação deteriorou-se a talponto que as pessoas dependem das calculadorasaté para os cálculos mais simples178.

Eis a sua preocupação! Neste sentido, ele se empenhaem capacitar os educandos modernos a irem além dasmáquinas, utilizando-as, mas não estando a serviço e escravodelas. Até porque, pouco vale ter domínio da máquina, dastécnicas e não se conhecer, não ter condutas e princípiosnorteadores do viver que possam ajudar a avançarespiritualmente.

Deste modo, Sai Baba exorta os educandos a viversegundo o “Código de Conduta” e os “Dez Princípios” queele definiu para ajudá-los a aperfeiçoar seu caráter e avançarespiritualmente, colocando em prática o programa de “Limiteaos Desejos”, baseado na busca de uma vida mais simples,evitando o desperdício e direcionando os recursoseconomizados para o benefício da sociedade.

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Durante seu sexagésimo aniversário, quando fez umaconvocação para a “Integração da Comunidade Mundial”,um programa universal de Não-violência, esses princípiosforam apresentados, podendo ser considerados a base parao desenvolvimento integral dos educandos:

Dez princípios para aperfeiçoamento do caráter:

Amem e sirvam a sua pátria. Não firam nem odeiema pátria dos outros.

Respeitem todas as religiões com igualdade.

Reconheçam a fraternidade entre os homens.Tratem a todos como seus irmãos. Amem a todos.

Mantenham seus lares e seus arredores limpos. Istopromove a saúde e a auto-estima.

Pratiquem a caridade, mas não alimentem amendicância dando dinheiro aos mendigos. Dêem-lhes alimentos, roupa, proteção e ajudem-nos aajudarem a si mesmos (não estimulem a preguiça).

Não tentem os outros subornando, nem se rebaixemaceitando suborno (nunca dêem lugar à corrupção).

Não estimulem o ciúme e a inveja. Tratem a todosda mesma maneira, sem levar em conta distinçõessociais, de raça ou de religião.

Não dependam de outros para suas própriasnecessidades pessoais; sejam seus próprios servidores,antes de se propuserem a servir aos outros.

Observem as leis de seu país; sejam cidadãosexemplares.

Cultivem o amor por Deus; afastem-se do pecado.

Códigos de conduta:

Dedicar-se à prática da Meditação e Oração diárias.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Realizar, uma vez por semana, uma reunião deCantos Devocionais com os membros da família.

Os membros que tenham filhos deverão levá-los aparticipar dos programas educacionais dos CentrosSai.

Comparecer, pelo menos uma vez por mês, àsreuniões de Cantos Devocionais organizadas peloCentro ou Grupo Sai.

Participar do trabalho de Serviço à comunidade eoutros programas da Organização Sri Sathya Sai.

Realizar estudo regular da literatura Sai (textos deSai e escrituras das diversas religiões).

Colocar em prática o programa de “Limite aosDesejos” e utilizar as economias geradas para oserviço à humanidade.

Falar suave e amorosamente com todos.

Não falar mal dos outros, principalmente em suaausência.

Principais aspectos do programa de limite aosdesejos:

Não desperdiçar alimento – as pessoas não devemcomer mais do que necessitam para viver;

Não desperdiçar energia elétrica, água ou suaprópria energia (raiva, ciúme e outras expressõesnegativas também geram desperdício da nossaenergia vital, que é Divina);

Não desperdiçar tempo – empregar o tempo livreem atividades benéficas;

Não desperdiçar dinheiro – usá-lo para fins nobres;

Não absorver informação inútil ou prejudicial na formade conhecimento - usar o conhecimento e ashabilidades que possuem para benefício dos demais179.

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O caráter é de importância primordial para o crescimentoespiritual de um indivíduo. Sai Baba180 relata a história dosábio Kanva, em seu discurso proferido nas Convenções daOrganização Sai, destacando o valor do caráter elevado.

O sábio Kanva estabeleceu um retiro para ondevários aspirantes vinham para estudar as escrituras.Sakuntala foi uma das moradoras deste retiro ecresceu sob os cuidados amorosos do sábio Kanva.Um dia o Rei Dushyantha visitou o retiro de Kanva.Lá ele encontrou Sakuntala e casou-se com ela.Bharata nasceu do casal. Tendo nascido e sido criadonum palácio, o Rei Dushyantha era inclinado aosprazeres do mundo. Por outro lado, seu filho Bharata,que nascera e crescera no retiro de Kanva, era umrepositório de valores morais, espirituais e éticos.

A educação num retiro espiritual inculca todos osvalores nobres no homem. Bharata tornou-se ummodelo de todas as virtudes porque recebera aeducação ideal desde criança. Por outro lado,Dushyantha tinha riqueza mundana e material. Eraum grande imperador. Qual a utilidade de tudo aquiloque possuía se não podia desenvolver um caráterelevado? Isto demonstra claramente a diferença entrea educação urbana e a educação num retiro.

A educação urbana está associada a dificuldades,enquanto que a educação no retiro espiritual nãocontém qualquer dificuldade. Não há nada de erradoem ser aluno em universidades nas cidades, desdeque se mantenha em mente o propósito daeducação. Vocês não devem desenvolver contatosdesnecessários, nem se distraírem do caminhooriginal. O seu caráter depende do ambiente à suavolta. Antigamente o povo sentia que:Se a riquezafor perdida, nada estará perdido; Se a saúde forperdida, alguma coisa estará perdida; Se o caráterfor perdido, tudo estará perdido - Poema em Télugu.

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Mas a juventude atual, pelo contrário, sente quetudo está perdido, se a riqueza for perdida, e se ocaráter for perdido, nada estará perdido.

Por fim, é válido ressaltar o significado da Educação emValores Humanos atribuído por Sai Baba. A finalidade daEducação fundamentada em Valores Humanos, como já visto,é a de favorecer o desenvolvimento das habilidades intelectuaise virtuosas dos educandos, auxiliando-os na elevação dopensamento e do espírito para a busca de unidade, a partirdas relações que estabelece com as pessoas e com o todo doqual faz parte. Ela deve, segundo Sai Baba, ajudá-los nodirecionamento do processo de auto-integração, possibilitando-lhes conceber e viver a vida de forma equilibrada.

Essa educação pretende formar os educandos numadimensão para além da lógica, para além do ego; que envolvanão só a razão, mas também o sentir; não apenas o corpo, masinclua a alma e o espírito; que trate dos valores materiais, masincorpore a sabedoria intuitiva, os valores humanos e envolvaas aprendizagens para além do conhecer, do viver juntos, dofazer... Precisa-se, equanimemente, saber, sentir e ser, o queinclui as dimensões do ELE, do NÓS e do EU, como possibilidadede conquista de experiências que possam ser integrais.

O próprio relatório para a UNESCO181, da ComissãoInternacional sobre Educação para o século XXI, conclama aeducação para contribuir efetivamente com o desenvolvimentointegral da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade,sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todoser humano deve ser preparado, especialmente através daeducação que recebe na juventude, para elaborar pensamentosautônomos e críticos e para formular seus próprios juízos devalor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nasdiferentes circunstâncias da vida.

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A educação, deste modo, tem dois aspectos que secomplementam: o material/objetivo/dimensão do ELE, quese refere à busca externa; e o espiritual/subjetivo/dimensãodo EU e do NÓS, que se refere à busca interna. Sai Babatrata, freqüentemente, dos papéis que são representados navida diária: por um lado, o papel espiritual e, por outro, o daciência. O objetivo de todas as questões espirituais, assimcomo de todas as ciências, para ele, é ter uma visão ou umacompreensão da natureza suprema. Fala-se, portanto, emintegração e não em contradição. A realidade, por si, éintegração. Com o fim de favorecer essa integração, SaiBaba182 propõe aos professores:

Acima de tudo, o caráter das crianças precisa serreforçado e purificado. Transmitam-lhes toda asegurança e coragem de que necessitam para setornarem crianças boas, honestas, autoconfiantes.Não basta que elas aprendam alguma coisa quelhes permitam sobreviver; como vivem é maisimportante do que o padrão de vida.

Foi justamente a partir dessa concepção de educação,que inclui a razão, o sentir, o corpo, a alma e o espírito, nãosó os valores materiais, que se criou o Programa de Educaçãoem Valores Humanos. Este tem o propósito de auxiliar odesenvolvimento integral do ser humano desde a mais tenraidade, através de uma metodologia de trabalho que envolvediferentes técnicas utilizadas em três grupos etários, a saber:6 a 9 anos; 10 a 12 anos; e 13 a 15 anos.

Vale acrescentar que, embora o modelo de educaçãoproposto por Sai Baba seja pautado em Valores Humanos,ou seja, preocupa-se com a subjetividade do ser humano, suacaracterística é eminentemente prática. Por este motivo,

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utilizamos a abordagem teórica de Ken Wilber como eixonorteador de nossas análises, porquanto encontramos nesseteórico uma preocupação com a formação integral do serhumano, também identificada no discurso de Sai Baba.

A metodologia pedagógica pautada em ValoresHumanos assenta-se, desta forma, sobre a mesmapreocupação de Wilber: o desenvolvimento físico, intelectuale espiritual do ser humano. Todavia não constatamos umaelaboração teórica na concepção e aplicação da metodologiado Programa de Educação em Valores Humanos, mas,seguramente, ela caminha nessa direção.

Assim, a união da contribuição teórica de Wilber com arealidade prática dos Valores Humanos resultou em nossasanálises sobre a concepção de educação de Sai Baba, bemcomo na compreensão do Programa de Educação em ValoresHumanos. No Capítulo 4, a seguir, apresentaremos suaestrutura metodológica de aplicação.

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CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4

O PO PO PO PO PROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMA DEDEDEDEDE E E E E EDUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃO EMEMEMEMEM

VVVVVALORESALORESALORESALORESALORES H H H H HUMANOSUMANOSUMANOSUMANOSUMANOS: P: P: P: P: PRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOSRINCÍPIOS EEEEE P P P P PRÁRÁRÁRÁRÁTICASTICASTICASTICASTICAS

Um verdadeiro ser humano é aqueleque adere à verdade, à retidão e ao sacrifício.

Sai Baba183

Este capítulo apresenta a parte metodológica e técnicada Educação em Valores Humanos. Analisaremos as baseshistóricas, filosóficas, científicas, bem como as estratégiasmetodológicas que norteiam essa prática educativa, trazendoum esboço da metodologia que vem sendo aplicada naEducação em Valores Humanos como educação integral.

Neste sentido, as seções deste capítulo apresentam osconceitos sobre os Valores Humanos, a teoria da personalidadedesenvolvida para subsidiar a prática pedagógica do docente,assim como as técnicas e recursos metodológicos que podemser utilizados pelos professores em seu cotidiano educativo.

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Assim sendo, o corpo desse capítulo gira em torno dasdiretrizes propostas para a prática educativa em ValoresHumanos. Mas, antes, podemos antecipar que constatamosuma lacuna entre o corpo do pensamento de Sai Baba sobrea educação e a prática proposta e efetuada por seus devotos.Tal lacuna fragilizou a estrutura de uma concepção deeducação integral, porquanto o que foi delegado a seus devotosse reduziu a uma prática, por vezes, singela, simplificada,como veremos. A nosso ver, seus recursos, muitas vezes, sãotambém apresentados de forma moralizante e simplista.

4.1 B4.1 B4.1 B4.1 B4.1 BASESASESASESASESASES H H H H HISTÓRICASISTÓRICASISTÓRICASISTÓRICASISTÓRICAS DODODODODO P P P P PROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMA DEDEDEDEDE E E E E EDUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃO EMEMEMEMEM

VVVVVALORESALORESALORESALORESALORES H H H H HUMANOSUMANOSUMANOSUMANOSUMANOS

Desde a fundação da primeira Bhagavan Sri SathyaSai Seva Samithi, o equivalente a um Centro Sai, em 1965,os trabalhos assistenciais em nome de Sai Baba, como jádissemos no Capítulo 2, não pararam de se multiplicar. Naocasião de uma viagem de Sai Baba a Bombaim, Índia, em1967, realizou-se a primeira Conferência Geral de Dirigentesde Centros Sai da Índia, na qual foram estabelecidas algumasdiretrizes que norteariam todo o desenvolvimento edisseminação dos Centros Sai pelo mundo, a saber:

1) os dirigentes de cada centro deveriam ser aclamadospor unanimidade;

2) os centros não arrecadariam fundos mediante coletasou qualquer outra forma;

3) não se fixaria nenhuma cota de associação;

4) os homens e as mulheres deveriam trabalharseparadamente.

Assim, partindo desses quatro pressupostos essenciais

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para o bom funcionamento de um Centro Sai, todos ostrabalhos, inclusive os de ordem educacional, tiveram início.

A história da ascensão de um movimento que buscasseo desenvolvimento humano, sob o ponto de vista educacional,começou no ano 1969, por ocasião da 3ª Conferência Geralda Índia, na qual foi apresentado o Programa Educacionalpara crianças, intitulado Bal Vikas. Este programa consolidou-se já no início dos anos 70, quando as diretrizes foramimplantadas nas Escolas, por toda a Índia, com ênfase naconstrução do caráter e na espiritualidade universal.

O primeiro passo foi fundar o Sri Sathya Sai College,em Anantapur (no estado de Andhra Pradesh, Índia) parameninas. O mesmo foi feito para meninos, em Brindavan,Bangalore (no estado de Karnataka, Índia). Mais tarde,concretizou-se o Sri Sathya College em Prasanthi Nilayam.Nesse mesmo período, definiu-se, consistentemente, a políticaeducacional que nortearia as Bal Vikas.

As Bal Vikas eram cursos de fim de semana oferecidosàs crianças, com a finalidade de complementar a educaçãodos devotos. Integravam um macro programa intituladoEducação Espiritual Sai e tinham por missão iniciar aformação da educação primária em Valores Humanos.

Vale dizer que em todas estas escolas foi introduzido oPrograma de Educação em Valores Humanos a partir do“método direto”, que se refere à aplicação direta das cincotécnicas propostas pelo Programa, garantindo-se o estudo ea prática de conhecimentos voltados para os cinco valoreshumanos absolutos: Verdade, Ação-correta, Amor, Paz eNão-violência.

A década de 1970 foi, decididamente, bastanteprodutiva sob o ponto de vista das realizações dos dirigentesdos Centros Sai. Em 1973, por exemplo, realizou-se a 6ªConferência Geral da Índia, na qual foi fortemente debatido

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o Curso do Programa Educacional Sai, bem como seformulou o primeiro programa de capacitação para mestresBal Vikas; afinal, os devotos deveriam ser, primeiramente,capacitados pedagogicamente para a transmissão dos ValoresHumanos às crianças, haja vista esta fase ser fundamentalpara a formação de seu caráter. Entenda-se por caráter oconceito utilizado pela cultura Sai, o qual consiste em manter-se o equilíbrio harmônico entre pensamento, palavra e ação.

A partir do ano de 1975, foram realizadasConferências Mundiais, Conferências Gerais da Índia eoutros eventos significativos para a cultura educacionalimplantada. Ainda em 1975, formou-se o Conselho Mundialde Coordenação de todas as Organizações Sai, ao tempoem que se estabeleceram critérios para a expedição de“diplomas” e “certificados” para os participantes dos Centrosde Estudos Sai dos três grupos etários das Bal Vikas. Valedizer que esses diplomas foram expedidos pelascoordenações estatais do Mahila Vibag (ala feminina daOrganização da Índia).

Já em 1980, foi divulgada uma pesquisa científicarealizada por uma equipe de trabalho dos Centros Sai quearticulava as teorias da personalidade humana aospressupostos filosóficos da cultura Sai, a qual afirma que apersonalidade humana se manifesta em cinco facetas distintase interdependentes: intelectual, física, psíquica, emocional eespiritual. Cada uma dessas está relacionada diretamente comum Valor Humano absoluto e uma técnica que estimula seudesenvolvimento.

Foi em 1981 que se fundou o Sri Sathya Sai Instituteof Higher Learning – Faculdades de Artes, Ciência eComércio Sri Sathya Sai Baba – sediado na Índia e totalmentegratuito. Legalmente, funciona como uma instituiçãoautônoma, credenciada e reconhecida como uma universidadepelo Ministério da Educação da Índia. Atualmente, o Instituto

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tem três campi: o de Prasanthi Nilayam e o de Brindavan,para meninos e o de Anantapur, para meninas.

Com o passar dos anos, as atenções dos Centros deEstudos Sai começaram a se voltar para os jovens. Nestesentido, em 1995, criou-se o Programa de Jovens SathyaSai (PJSS) durante a realização da 6ª Conferência Mundialda Organização Sai. Dois anos depois, balizada pela referidaConferência, realizou-se a 1ª Conferência Mundial de JovensSai, que, logo em 1999, já estava em sua segunda edição.

Deste período até os dias de hoje, as publicações dosCentros Sai sobre educação multiplicaram-se, de acordo coma própria demanda de jovens, professores e pesquisadoresda área. Em 2000, realizou-se a 1ª Conferência Mundial deEducação como parte das comemorações do 75º aniversáriode Sai Baba.

No mundo, há registros da implantação do Programade Educação em Valores Humanos em diferentes países.Aparecem como escolas-modelo uma escola da Tailândia eoutra da Zâmbia.

A experiência brasileira tem como referência afundação do Instituto de Educação Sathya Sai184, sediadona cidade de Petrópolis (RJ), que objetiva: disseminar asidéias da Educação Espiritual Sai pelo Brasil, ser um centrode capacitação profissional em todo o Brasil e estudar edesenvolver as técnicas, metodologia, conteúdo de cursos eplanos de aula.

As experiências pedagógicas do Programa de Educaçãoem Valores Humanos têm como modelo uma escola situadano estado do Paraná, porém, além dessa, existem outrosregistros com as atividades voltadas para a implantação dametodologia do Programa de Educação em Valores Humanosnos níveis de Educação Infantil e Ensino Fundamental, tanto

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na rede estatal quanto na rede particular.

Inclui, ainda, iniciativas de expansão do referidoPrograma, tais como a formação de núcleos de estudos epesquisas sobre a Educação em Valores Humanos, bem comoa divulgação da filosofia fundamentada em valores humanosem organizações particulares, sendo, por exemplo,considerada como uma tecnologia social (sinônimo de todoproduto, método, processo ou técnica criados para solucionaralgum tipo de problema social e que atendam aos quesitos desimplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto socialcomprovado) de um programa de responsabilidade social doBanco do Brasil. Ainda no estado do Paraná, as escolas dePalotina fizeram uma parceria com a Secretaria Municipalde Educação com a finalidade de otimizar o rendimentoescolar dos estudantes do município.

Cabe ressalvar que as informações fornecidas são dadosoficiais do Instituto, o qual, por sua vez, não tem comofinalidade controlar a implantação do Programa. Desta forma,as cidades listadas foram as que oficializaram junto ao Institutotal implantação. Por este motivo, pode haver outros locaisque estão implantando a metodologia, sem, no entanto, tercomunicado ao Instituto185.

4.2 B4.2 B4.2 B4.2 B4.2 BASESASESASESASESASES F F F F FILOSÓFICASILOSÓFICASILOSÓFICASILOSÓFICASILOSÓFICAS EEEEE C C C C CIENTÍFICASIENTÍFICASIENTÍFICASIENTÍFICASIENTÍFICAS DODODODODO P P P P PROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMAROGRAMA DEDEDEDEDE

EEEEEDUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃODUCAÇÃO EMEMEMEMEM V V V V VALORESALORESALORESALORESALORES H H H H HUMANOSUMANOSUMANOSUMANOSUMANOS

Já fomos demasiadamente contundentes ao apresentaras assertivas e justificativas que respaldam o argumento deque o sistema educacional vigente, tanto a nível global quantolocal, apresenta-se de forma desarmônica. Por este motivo,permitimo-nos classificar o Programa de Educação em Valores

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Humanos praticado pela cultura Sai como uma inovadoraproposta educacional.

Consideramos que este Programa se apresenta comoum método de cultura e de conteúdo universais que se adaptaaos modelos educacionais formais, complementando aeducação cognitiva que as crianças recebem ao longo davida. Todavia, isso não quer dizer que descartamos apreocupação com o desenvolvimento cognitivo. Aocontrário, reconhecemos que é através dessa linha dedesenvolvimento que a criança se posiciona, enquantoindivíduo, em face da relação com os objetivos que tentaráatingir em sua trajetória presente e futura. Desta forma, oPrograma de Educação em Valores Humanos não se propõea ofertar mais uma metodologia de educação, que visesolucionar os problemas educacionais existentes no Brasil eno mundo, tampouco apresentar uma receita milagrosa deação aos educadores.

Os educadores em Valores Humanos já têm consciênciade que a educação, quando externa ao ser humano eunicamente centrada no processo cognitivo, não inicia o serhumano na senda do sentir, pensar e agir com adequação,porquanto, tal processo veta-lhe o acesso às experiênciasmais abrangentes e mais sutis da consciência humana, talcomo a verdade, a paz e o amor universal. Enfim, essametodologia ensina aos educandos que a vida não é circunscritaaos bancos das escolas, mas ensina, sobretudo, que o serhumano pode ir além disso e oferece os meios e recursospara atingir tal fim.

Nesta metodologia, tanto os pais, quanto o professor,a escola e o conhecimento são os pilares do desenvolvimentode uma educação que propõe a auto-realização humana e aimplantação de uma nova cultura, que dissemine códigosmoralmente elevados, em prol de uma sociedade mais justae equilibrada.

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O Programa de Educação em Valores Humanos buscaatingir elementos sutis da existência humana representadapor sua consciência. Aliás, todo o conjunto de princípiosfilosóficos do Programa almeja despertar a consciência doser humano, proporcionando o florescimento de condutaséticas e moralmente elevadas.

Trazendo Wilber para a discussão, podemos aproximarseus postulados teóricos à proposta de Educação com base emValores Humanos de Sathya Sai Baba, na medida em que Wilberentende que o ser humano passa, durante sua vida, por processosde desenvolvimento de sua consciência, que podem ser ilustradoscomo processos de transcendência e inclusão. Afinal, Wilberafirma que o desenvolvimento não é regressão a serviço doego, mas evolução na transcendência do mesmo.

Assim como Wilber tem como essência teórica o estudoda consciência humana, a concepção de Educação em ValoresHumanos tem como proposta prática o desenvolvimentointegral da consciência dos educandos, porquanto os doispressupostos compreendem que a consciência é intrínseca ànatureza humana e passa por estágios de transição, até omomento em que, possivelmente, o ser humano pode teracesso a níveis mais sutis, adentrando na compreensãotranspessoal da realidade.

Concebemos que a educação, em sentido lato, tem comofim potencializar o desenvolvimento do ser humano em todasas dimensões: física, psíquica e moral. Todavia, o que acontecena atualidade é que o sistema de educação, em sua maiorparte, privilegia a objetividade em detrimento da subjetividade,a individualidade em detrimento da coletividade, enfim, amaterialidade em detrimento da espiritualidade. Neste sentido,Wilber foi escolhido como pressuposto teórico para balizarnosso estudo, norteando a concepção educacional e a análisedos trabalhos práticos da Organização Sathya Sai,especificamente, o Programa de Educação em Valores

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Humanos. Vale destacar, neste momento, que tanto aconcepção de Wilber quanto a de Sai Baba têm comoproposta o desenvolvimento integral do ser humano em todosos níveis: pré-pessoal, pessoal e transpessoal.

Wilber é um autor que refinou sua teoria na medida emque foi avançando seus estudos sobre ciência e espiritualidade.Mais recentemente, conforme descrito no Capítulo 1, eleaborda a existência de quatro quadrantes, pelos quais odesenvolvimento humano transita. É neste momento de suateoria que podemos aproximá-lo da concepção do Programade Educação em Valores Humanos, porquanto a finalidadedo Programa é o desenvolvimento de um ser humano integral,trabalhando com os educandos em todas as dimensões.

À luz de Wilber, podemos reforçar a máxima de que osreferidos quadrantes – cultural, social, intencional ecomportamental – estão profundamente relacionados econectados com a concepção do Programa de Educação emValores Humanos, fundamentado nos pressupostos filosóficosde Sai Baba, a partir dos Valores Humanos.

Assim sendo, esse compromisso de educação do serhumano, por sua vez, está alicerçado em firmes basescaracterizadas por um conjunto de valores tidos como universais,ou seja, aceitos em qualquer circunstância da vida e que repousamna consciência humana. São eles: Verdade, Ação Correta, Amor,Paz e Não-violência. Falaremos um pouco mais detalhadamentesobre eles a seguir, apenas reiterando a essência da abordagemexposta no capítulo anterior.

A concepção educacional do Programa defende que otrabalho integrado desses valores promove o desenvolvimentohumano de forma ética e consciente, despertando, além desua cognição, técnicas, sociais e humanas, o dever moral esocial para a construção de uma sociedade mais justa eequilibrada, a partir do exercício dos Valores Humanos em

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sua prática de vida.

É importante dizer que esses valores não podem serencarados como metas a serem atingidas, mas como aexpressão de qualidades divinas que são constituídas em cadaser humano, esperando somente o momento para poderemse manifestar. Desta forma, o ser humano assume um deverpara consigo mesmo: pesquisar e compreender asmanifestações da vida que dêem suporte para evoluir, a fimde que possa, vagarosamente, conhecer, aproximar e seidentificar com sua Unidade Cósmica.

Neste sentido, o Programa de Educação em ValoresHumanos tem por meta servir a qualquer ser humano, emqualquer faixa etária da vida, independente de credo religioso,seita, doutrina ou filosofia de vida, já que o objetivo é favorecerao ser humano o encontro consigo mesmo, em suasqualidades, estimulando-o à auto-realização. Segundo aconcepção educacional de Sai Baba, o processo de educaçãonão ocorre somente em escolas e termina em umadeterminada faixa etária, porém permanece ao longo detoda a vida.

Os pontos conceituais do cerne de todo o Programa deEducação são o estudo e prática dos Valores Humanosfundamentais, já relatados no capítulo anterior, bem comoum conjunto de valores humanos denominados relativos,articulados com os primeiros, que são os mais trabalhadospelos professores em sua prática pedagógica e se encontramexpressos no Quadro 1, a seguir.

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Fonte: Instituto de Educação Sathya Sai, 1999.

Neste contexto, a Educação em Valores Humanos seapresenta como uma proposta educacional integral,porquanto se propõe a trabalhar todos os níveis da vidahumana, de modo interdependente e equilibrado.

Para as crianças, uma educação voltada para ValoresHumanos proporciona momentos de aprendizagem sobre avida, sobre a natureza e sobre elas mesmas. Por isso, favoreceo autoconhecimento, ou seja, o reconhecimento de suaslimitações e potencialidades e, por conseqüência, a auto-realização humana. Cabe dizer, mais uma vez, que esseprocesso não acontece de forma rápida, mas como um

QUADRO 1 – – – – – VALORES HUMANOS FUNDAMENTAIS E RELATIVOS

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processo de construção e aperfeiçoamento da personalidadehumana, desde a mais tenra idade.

Com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre apersonalidade, uma equipe de psicólogos consolidou uma teoriaque articula os pressupostos filosóficos da cultura Sai às teoriassobre a personalidade humana, durante uma pesquisa científicaque durou 12 anos (até 1980), sob a orientação de SathyaSai Baba. Segundo essa teoria, a personalidade do ser humanose manifesta em cinco facetas: a física, a intelectual, aemocional, a psíquica e a espiritual. Cada uma destas facetasse correlaciona com um valor humano que possui uma finalidadeespecífica para o desenvolvimento e expansão da consciência.

Na faceta física, detectam-se as manifestações do corpoem sua estrutura. Nesta faceta, as atividades desenvolvidascom as crianças pretendem estimular, por exemplo, hábitosde higiene, a natureza das ações que se praticamespontaneamente, a relação do ser humano com a natureza,os exercícios de expressão corporal, sobretudo as dançassagradas das diversas tradições culturais; enfim, odesenvolvimento físico pleno e a condução à ação correta eretidão nas ações.

Na faceta intelectual, busca-se aprimorar a verdade e,para tanto, faz-se necessário aprofundar o pensamento emconhecimentos intelectivos. Esta faceta responsabiliza-se,inclusive, por selecionar, sintetizar e guardar os ensinamentosque são apresentados às crianças no decorrer da vida,desenvolvendo aptidões de discernimento.

Para a faceta emocional, deseja-se desenvolverhabilidades que cultivem o equilíbrio nas reações e relaçõesafetivas, porque a formação do caráter da criança começapelo equilíbrio dos temperamentos, e isso possibilita ummelhor relacionamento interpessoal.

Na faceta psíquica, por sua vez, aspira-se ao

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desenvolvimento de potencialidades que levem o ser humanoa aprender a receber, a perceber, em si e nos outros, o amoruniversal. Nesta faceta, a criança começa a descobrir que suamente é a senhora de suas reações. Uma vez controlada amente, a criança começa a perceber que ela serve pararealizações ainda mais profundas do que somente paraconcretizar seus desejos materiais.

Por fim, na faceta espiritual, a concepção do ser humanocomo uma micro-reprodução divina está subjacente. Nesta últimafaceta, o ser humano começa a perceber que ele e a naturezasão um e que se algum mal fizer à natureza, estará fazendo a simesmo; por isso, a não-violência é o valor humano que permeiaessa faceta, porquanto, a partir desse momento, pensamento,palavra e ação são direcionados para o bem de todos.

O Programa se baseia, pois, no entendimento de quetodos esses aspectos precisam caminhar de mãos dadas, paraque a criança possa atingir uma experiência integral. Veja oquadro explicativo das relações entre as técnicas de ensino,a faceta da personalidade, o valor humano trabalhado e suarespectiva atuação na conduta humana.

QUADRO 2 - - - - - SÍNTESE DA RELAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS,A FACETA DA PERSONALIDADE, O VALOR HUMANO TRABALHADO

E SUA RESPECTIVA ATUAÇÃO NA CONDUTA HUMANA

Fonte: AYUDHYA; BURROWS, 2000.

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Portanto, cada um dos cinco Valores Humanos pretendeatingir um objetivo, ou seja, desenvolver uma faceta do serhumano. Com a verdade, pretende-se desenvolver aintegridade, a sabedoria, o bom senso, a criatividade, e odiscernimento; com a ação correta, o respeito aos pais e aosprofessores, a honestidade, as boas maneiras, bem como obom comportamento e a atenção ao dever; com a paz, ahumildade, a simplicidade, a equanimidade, a tolerância, apaciência e a satisfação; com o amor, a meiguice, acompaixão, o perdão, a gratidão, a gentileza, o cuidado paracom os outros e o companheirismo; e, por fim, com a não-violência pretende-se desenvolver o cuidado com o meioambiente, a unidade, a harmonia, a consciência social e orespeito para com todas as religiões.

As pesquisas científicas da equipe de profissionais ligadosao Programa de Educação em Valores Humanos concluíramque a melhor faixa etária para a absorção de uma culturabaseada em Valores Humanos vai dos 6 (seis) aos 15 (quinze)anos, pois, nesse período da vida, constatou-se que as sinapsescerebrais afeitas ao reconhecimento de Valores Humanossão mais intensas e têm repercussões positivas por toda avida do ser humano. Portanto, a metodologia de trabalho doPrograma dividiu as técnicas utilizadas em três grupos etários.Segundo a Organização Sri Sathya Sai do Brasil (1999,p.110-112), são eles:

Grupo 1 (6 a 9 anos)Grupo 1 (6 a 9 anos)Grupo 1 (6 a 9 anos)Grupo 1 (6 a 9 anos)Grupo 1 (6 a 9 anos) – a 3ª infância. Períodoetário compreendido entre o nascimento e a puberdade, ainfância cobre, portanto, quase todo o desenvolvimento inicialda personalidade. Classicamente, é dividida em primeirainfância, que compreende os dois primeiros anos de vida;segunda infância, do terceiro ao sexto ano; e terceira, dosétimo ano ao início da puberdade. Vejamos algumascaracterísticas gerais da faixa etária:

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

são crianças que apresentam, em geral, facilidade dese concentrar;

acessam, com facilidade, o universo da imaginação;

estão iniciando um processo de interação social,através de questionamentos;

possuem, em geral, medo de lidar com certassituações: dormir de luz apagada, enfrentar umasituação controversa na escola, andar sozinhas narua etc.

Grupo 2 (10 a 12 anos)Grupo 2 (10 a 12 anos)Grupo 2 (10 a 12 anos)Grupo 2 (10 a 12 anos)Grupo 2 (10 a 12 anos) – pré-adolescência.Considerada como um momento de transição e mudançassignificativas, esta é uma fase de maturação que antecede aadolescência. O pré-adolescente é aquele que ainda possuiidéias e comportamentos infantis, mas pretende ser umadolescente, apesar de não ter as características que definemtal faixa etária. São algumas características gerais:

apresentam dificuldade em se concentrar;

estão num processo de rejeição ao imaginário;

estão em pleno estágio de interação social,apresentando vários conflitos;

apresentam, em geral, medo de lidar com certassituações do tipo: não serem aceitos por crianças doseu grupo social escolar e comunitário.

Grupo 3 (13 a 15 anos)Grupo 3 (13 a 15 anos)Grupo 3 (13 a 15 anos)Grupo 3 (13 a 15 anos)Grupo 3 (13 a 15 anos) – adolescência. Este é umdos períodos mais tumultuados do desenvolvimento humano,em função das grandes modificações físicas e emocionais quesão processadas em uma curta passagem de tempo. Esta éuma fase bastante conturbada, marcada por intensasmodificações. A necessidade de reformular o papel e aidentidade de criança constitui a mudança mais importante

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deste momento. A instabilidade interna, os intensos conflitos,a incerteza quanto ao futuro tornam o adolescente susceptívela uma série de seduções (maya). O adolescente sempreconsegue se incluir em um grupo, através do qual ele procurae encontra padrões de identificação. O grupo fornece umaespécie de identidade coletiva, que serve de amparo duranteo processo da construção da nova identidade. Comocaracterísticas dessa fase, observa-se:

apresentam dificuldade em se concentrar, devido aosquestionamentos e turbulências internas;

rejeitam totalmente o imaginário e se interessam peloque é real, concreto;

estão em maturação em relação ao processo deinteração social, apresentando conflitos vários;

apresentam também medo de lidar com certassituações do tipo: não serem aceitos por outros doseu grupo social escolar e comunitário.

Todavia, cabe dizer que as ações da educação Sai nãosão circunscritas às crianças, embora a ênfase e preocupaçãoestejam centradas nelas, por representarem a projeção dofuturo da humanidade e, por conseqüência, do planeta. Asações da educação são, inclusive, voltadas para os adultos,por serem estes o reflexo da conduta a ser adotada pelascrianças. Assim, as ações educativas voltadas para acomplementação educacional destinadas aos adultos assumemum papel fundamental e, por isso, serão abordadas, a seguir,antes das atividades para crianças e jovens.

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4.2.14.2.14.2.14.2.14.2.1 Programa de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em ValoresaloresaloresaloresaloresHumanos Direcionado para ProfessoresHumanos Direcionado para ProfessoresHumanos Direcionado para ProfessoresHumanos Direcionado para ProfessoresHumanos Direcionado para Professores

O Programa de Educação em Valores Humanos érespaldado por uma macro-concepção educacional intituladaEducação Espiritual Sai, na qual está assentado todo oprocesso de educação e formação de professores-multiplicadores da cultura educacional proposta por Sai Baba,ou re-educação dos pais dos educandos. Neste sentido, cabe-nos esclarecer os objetivos da Educação Espiritual Sai:

ajudar as crianças a aprenderem sobre as culturas,costumes e religiões do mundo, a fim de poderemperceber a irmandade entre os seres humanos;

considerar os cinco Valores Humanos básicos –verdade, ação correta, amor, paz e não-violência –como fundamentos essenciais no desenvolvimentode um bom caráter;

auxiliar no aprendizado pela experimentação doscinco valores humanos;

vivenciar os cinco valores mencionados de maneiradinâmica e relevante para que possam ser levados àprática diária;

desenvolver o sentido de responsabilidade diante daconseqüência das ações e atuar com respeito pelosdireitos, pela vida e pela dignidade das pessoas;

desenvolver a autodisciplina e a autoconfiança,necessárias para a promoção e alcance de todo opotencial;

desenvolver uma atitude saudável em relação ao meioambiente;

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desenvolver habilidades relacionadas aos cincovalores, necessárias para a harmonia pessoal,familiar, comunitária, nacional e mundial.

Na concepção do Programa de Educação em ValoresHumanos, as crianças imitam os adultos em seucomportamento, ou seja, se uma criança vê seu pai ou mãeagredindo a natureza, inevitavelmente ela tende a agredirtambém e, o que é pior, de modo banalizado, sem consciênciade que isso não é correto, porque o exemplo que teve não alevou a compreender esse tipo de atitude.

Assim sendo, a Educação para adultos tem presenteduas abordagens. A primeira é a vivência diária dos ValoresHumanos sem distinção de idade, o que favorece ao adultoa oportunidade de re-educar sua subjetividade, transformarseu ser e despertar sua consciência para a educaçãoespiritual. Essa abordagem é direcionada aos devotos quesão pais dos educandos da Educação Espiritual Sai e/ou doPrograma de Educação em Valores Humanos da OrganizaçãoSai e que, geralmente, moram nas dependências dosashrams de Sai Baba.

A segunda abordagem da Educação Espiritual Sai visaà formação de professores-multiplicadores de EducaçãoEspiritual Sai, ou seja, a capacitação didático-pedagógica deeducadores que aplicam a metodologia do Programa deEducação em Valores Humanos em sala de aula, através dométodo direto ou integrado, junto às atividades curricularesda educação formal.

A metodologia utilizada para essa capacitação inclui arealização de um workshop com exposições orais emauditório com duração temporal de um a três dias e utilizaçãode material específico para as atividades e realização detécnicas inerentes ao Programa. Pode acontecer, inclusive,em uma palestra com duração de algumas horas. Entretanto,

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cabe ressaltar que a promoção desses workshops é exclusivado Instituto de Educação Sathya Sai, que já possui um corpodocente altamente capacitado, especializado, integrado aosvalores humanos e com vivência da cultura Sai. Todavia, issonão quer dizer que outras pessoas não sejam capazes deministrar tais palestras, pelo contrário, a intenção é frisarque os eventos registrados como oficiais, possuem uma maiordifusão quando promovidos pelo Instituto.

O conteúdo desses seminários envolve a apresentaçãodo Programa, sua finalidade, a justificativa de sua existência,as técnicas e estratégias de aplicação nas escolas com criançasde diferentes idades, bem como, em alguns casos, sãoaplicadas algumas técnicas do Programa para a vivênciapessoal de cada educador.

As informações do Instituto de Educação Sathya Saisobre a Educação Espiritual Sai indicam que este trabalhotraz benefícios, tanto para os devotos como para umfuncionamento harmônico do Centro/Grupo, pois favorecea integração entre os que participam das atividades, sejampais ou crianças, pois os familiarizam com os ValoresHumanos, despertando a consciência divina, inerente a cadaser humano.

Como o Programa de Educação em Valores Humanosé único, a metodologia direcionada para os adultos é a mesmautilizada com crianças e se resume em:

1. círculos de estudos, buscando utilizar textos deBaba que tratem de Valores Humanos, de maneirageral, ou que tratem de algum valor ou subvalorespecificamente;

2. dinâmicas, onde se utilize um subvalor emparticular a ser estudado profundamente;

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3. utilização das cinco técnicas do Programa SathyaSai (Harmonização, Citação, Narração de umaHistória, Canto, Atividade Grupal), de modo quesempre um membro ativo poderia ficar responsávelpor aplicar as técnicas para o grupo de estudo (soba orientação do coordenador de educação do centroou grupo);

4. palestras, feitas por convidados de outros Centrosou Grupos, ou pelos próprios membros ativos,enfocando-se os Valores Humanos186.

Vale dizer que cada técnica proposta possui umaestrutura de aplicação prática própria. Os círculos de estudos,por exemplo, são atividades desenvolvidas em grupos depessoas, sem quantidade mínima de componentes pré-determinada, em locais específicos e visam à socializaçãodo debate sobre o conhecimento espiritual, pautado nosensinamentos de Sai Baba.

Segundo as diretrizes da Organização Sai, até mesmoa coleta de material, que não é pouca e se baseia nos discursosproferidos durante as décadas da vida de Sai Baba dedicadasà conscientização do gênero humano – como trabalhamosno Capítulo 2 –, já é de grande importância. Geralmente,após a escolha do tema, é realizada a leitura do textoescolhido, podendo ser feita parágrafo por parágrafo, paraque os integrantes do grupo prendam sua atenção ao texto etenham um entendimento completo do que está sendoapresentado, ou o coordenador do grupo realiza a leitura detodo o texto e introduz questionamentos, promovendo odebate e a reflexão sobre o assunto em questão.

Esta atividade é a mais difundida em todo o mundo e,segundo a Organização Sai, ela é essencial, para que oparticipante do grupo alcance seus objetivos espirituais. Osaber ouvir, a disciplina, a paciência, o respeito ao próximo

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e o controle do tempo são alguns dos benefícios que podemser extraídos desta atividade.

Quanto às dinâmicas de grupo, podem ser utilizadasem diferentes atividades de integração. Para aplicação destatécnica, sugere-se a utilização de algumas dentre as cincotécnicas propostas pelo Programa de Educação em ValoresHumanos, que serão apresentadas no decorrer deste capítulo.

O desenvolvimento do trabalho educacional comaplicação de dinâmicas pode se dar de duas formas. Naprimeira, um integrante do grupo seleciona o material queserá trabalhado e discutido com a equipe. Tal material, porsua vez, pode ser uma história, uma citação/frase ou imagensque devem ter um cunho espiritual e conter elementos quepossibilitem a discussão sobre algum valor ou subvalor humano.

Assim, os trabalhos se iniciam com uma harmonizaçãointerior, através de momentos de meditação e silêncio emgrupo, para que todos diminuam a agitação da rotina devida; em seguida, sugere-se que sejam cantadas algumasmúsicas devocionais ou mantras, para então se dar início àleitura da história, da citação/frase ou apresentação daimagem que será debatida. Após as leituras ou apresentaçãodas imagens, o coordenador do grupo lança perguntas,estabelecendo ligações com as atitudes que são tomadas nodia-a-dia do viver e o grupo inicia o debate.

A última técnica utilizada pela metodologia de EducaçãoEspiritual Sai é a palestra, que pode ser realizada por integrantesdo grupo ou por convidados. Os temas, evidentemente, sãotodos voltados para o desenvolvimento de Valores Humanos.Contudo, embora a palavra possa ser franqueada aos visitantes,as diretrizes do Instituto de Educação Sathya Sai incentivamque os próprios membros da Instituição realizem palestras.

Segundo o próprio Sai Baba, a realização de palestraspode desenvolver, no ser humano, a habilidade de liderar, de

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exercer a responsabilidade e a oratória para falar em público.

Aos que dizem que não se sentem preparados parafalar sobre a mensagem de Sai dentro do próprio Centro deEstudos, a orientação dada é que este é o momento decapacitação, porquanto a mensagem de Sai Baba não temmuito tempo para esperar para ser difundida. Para os gruposiniciantes, as diretrizes sugerem as temáticas que podem serdiscutidas, a saber:

Sugestões de temas para palestras:

A importância dos Valores Humanos para atransformação individual

A importância dos Valores Humanos para atransformação planetária

O que é a Verdade segundo Sathya Sai Baba?

O que é a Retidão segundo Sathya Sai Baba?

O que é a Paz segundo Sathya Sai Baba?

O que é o Amor segundo Sathya Sai Baba?

O que é a Não-Violência segundo Sathya SaiBaba?

Por que devemos buscar viver os ValoresHumanos no dia-a-dia?

O que é Educação?

Educação Espiritual X Educação Material

Como desenvolver em si as qualidades divinas

Como conquistar a paz?

Como viver em Dharma?

Qual o objetivo de se oferecer EducaçãoEspiritual aos filhos de devotos?

Educação Espiritual e Religiosidade

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Como oferecer uma educação espiritual paranossos filhos à luz dos ensinamentos de Sai?

Como vivenciar os Valores Humanos no dia-a-dia?

Como ocorre o despertar dos Valores nosindivíduos segundo Sai Baba?

O Limite aos Desejos como prática salutar detransformação individual e social

O Controle da Mente para a obtenção da Paz

Os nossos turbilhões emocionais e o controle darespiração

Assim, ficam explícitos o comprometimento edesempenho do Instituto de Educação Sathya Sai com acapacitação dos educadores. Afinal, é com base neles que ascrianças projetam seu comportamento, aperfeiçoam seucaráter, bem como é evidente que, para se atingir o fim de“educar moralmente” as crianças, deve-se primeiramente terpreocupação com os meios – a capacitação pedagógica dosdocentes – e, só a partir de então, definir como tratar oPrograma de Educação em Valores Humanos para estudantes.

4.2.24.2.24.2.24.2.24.2.2 Programa de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em VPrograma de Educação em ValoresaloresaloresaloresaloresHumanos Direcionado para EstudantesHumanos Direcionado para EstudantesHumanos Direcionado para EstudantesHumanos Direcionado para EstudantesHumanos Direcionado para Estudantes

A metodologia adotada pelo Programa Sathya Sai deEducação em Valores Humanos voltada para estudantes temduas abordagens diferentes, que devem ser usadas emcoordenação uma com a outra e que serão apresentadasindividualmente no corpo deste capítulo. A primeira é a

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aplicação do Programa através do método direto, que consistena criação de um momento específico para se trabalhar comValores Humanos. A segunda abordagem é a integração dosValores Humanos com as atividades curriculares eextracurriculares programadas e desenvolvidas pela escola.

As informações acerca das abordagens do Programade Educação em Valores Humanos, disponibilizadas nosdocumentos da Instituição, foram sintetizadas no fluxogramaapresentado no Fluxograma 1, a seguir:

FLUXOGRAMA 1 – – – – – ESTRUTURA METODOLÓGICA DAS ABORDAGENS DO

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS

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A implementação do Programa, contudo, não dependesomente da aplicação correta da metodologia proposta, mas,sobretudo, da aceitação, por parte dos educadores, empraticar os Valores Humanos, ou seja, em mudar sua condutade vida.

É interessante esclarecer que o método de ensino emValores Humanos não tem intenções de professar nenhumareligião, seita ou filosofia particular, ou seja, não é doutrina,tampouco ensino religioso; não é uma nova disciplina quedeve ser inserida na grade curricular, portanto não interferena estrutura pedagógica e administrativa da escola; assimcomo não necessita de nenhuma adaptação na estrutura físicada escola para seu desenvolvimento, nem de recursostecnológicos avançados. Desta forma, é necessário somentea sensibilidade e o interesse dos educadores.

Frente às escolas mais abertas para a incorporação denovos estudos além dos curriculares, sugerimos que seja criadoum momento, de no máximo 40 minutos, para a aplicaçãodo método direto, com o uso das cinco técnicas propostaspelo Programa.

Mas, caso isso não seja possível, cabe aos educadoresencontrarem uma forma de integrar, oralmente, os ValoresHumanos no próprio momento de ensino, como será melhorexemplificado ao final deste capítulo, praticando aulas lúdicas,com um cunho ético, estético e científico.

Enfim, o tempo de 40 minutos de suas aulas pode,inicialmente, parecer muito tempo para a escola em relaçãoà demanda exigida pela grade curricular, mas, segundo aspesquisas dos Institutos de Educação Sathya Sai, a longoprazo, significa pouco tempo empregado diante dos benefíciosque proporciona.

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4.2.2.1 Método Direto4.2.2.1 Método Direto4.2.2.1 Método Direto4.2.2.1 Método Direto4.2.2.1 Método Direto

Como foi exemplificado pela Figura 9, o método diretoconsiste na aplicação integrada de cinco técnicas de ensinoque devem ser usadas com o embasamento filosófico afeitoaos Valores Humanos, o qual possui uma metodologia deaplicação direcionada para cada faixa etária da criança.

As técnicas utilizadas pelo método direto são:harmonização, citação, conto, música/canto grupal eatividades integracionais. Discorreremos, especificamente,sobre cada uma, evidenciando as sugestões do Instituto deEducação Sathya Sai.

1º) Harmonização1º) Harmonização1º) Harmonização1º) Harmonização1º) Harmonização

A harmonização é a primeira técnica utilizada para arealização de uma aula baseada em Valores Humanos. Atravésdela, as crianças iniciam-se na senda da vida espiritual. Estatécnica baseia-se na prática de se sentar em silêncio e podeser utilizada tanto com crianças quanto com adultos.

No momento em que as crianças estão sentadas, pode-se colocar um fundo musical com sons da natureza, como,por exemplo, sons de cachoeira; estimular a criança paraque visualize alguma situação que lhe transmita paz interior,tranqüilidade; orientá-las para que respirem de forma profundae acompanhem mentalmente o caminho do oxigênio em seucorpo, lembrando a importância do oxigênio para o corpo,mente e alma.

Com as crianças, a técnica de harmonização deve serintroduzida de modo cauteloso, pois elas são mais ativas e

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tendem a ter mais dificuldade de ficar quietas em uma sóposição. As orientações ditam que, inicialmente, deve-secomeçar com poucos minutos de posição em silêncio,aumentando-se, gradualmente, na medida em que as criançasvão se acostumando com a atividade.

As diretrizes do Instituto Sathya Sai dizem que paracrianças entre 6 e 9 anos, a técnica de harmonização ésinônimo de “brincar de ficar bem quietinho”. Para tanto, ésugerido aos educadores que deitem as crianças emcolchonetes ou as acomodem em almofadas, ensinando-as arespirar bem devagar, inalando o ar pelo nariz e exalando-opela boca e, simultaneamente, levem-nas a um relaxamentodo corpo. Quando a atividade é realizada dentro da sala deaula, sugere-se que a criança sente-se em posição o maiscômoda possível. Por outro lado, para crianças na faixa etáriaentre 10-12 anos, a harmonização deve ser uma prática de3 a 10 minutos de duração, no máximo.

Os alunos nesta idade [10-12 anos] têm dificuldadepara concentrar-se profundamente. A razãoprincipal para sentar-se em silêncio é a dedesenvolver um hábito automático que, com otempo, irá ensinar-lhes a importância do silênciointerior e exterior. Isto acalma tanto o corpo comoa mente. Várias técnicas podem ser aplicadas, paraque se possa atingir este objetivo. A música, orelaxamento conduzido e a visualização sãoelementos que contribuem para a eficácia daharmonização187.

As crianças maiores de 12 anos já são capazes decompreender assuntos que exigem maior abstração, como,por exemplo, a existência de um “Eu Superior”, de um Deus

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que reside em cada um. Nesta etapa da vida, a criança já estápronta para perceber que existe uma divindade inerente acada ser humano e é visando encontrá-La que as criançasdevem usar sua atenção, meditação e reflexão interiores.

Nesta idade, podem-se, também, introduzir atividadesde preces e orações conduzidas, ou seja, no momento desilêncio, o educador realiza uma prece e solicita aos estudantesque visualizem e transmitam tudo o que está sendo dito. Paramelhor visualização, exemplificaremos uma prática deharmonização disponível no material didático sobre oPrograma de Educação em Valores Humanos:

Sente-se aprumado e faça uma respiração profunda.Inspire e expire devagar e ritmadamente. Olhe paraa luz a sua frente (ou imagine que existe uma luz nasua frente).

Imagine que você traz a luz para dentro, no centroda sua testa. Sua cabeça se enche desta luz douradae bonita. Todos os seus pensamentos estão cheiosde luz, são bons pensamentos.

Agora traga a luz para o seu coração. Sinta o seucoração se enchendo de amor e paz. Imagine queno centro do seu coração há uma linda flor. Estaflor se abre de pétala em pétala na medida em queé tocada pela luz dourada.

Agora traga a luz para os seus olhos, para que osseus olhos fiquem cheios de luz. Veja o bem ao seuredor, veja a beleza em tudo. Veja o bem nas outraspessoas.

Traga a luz para os seus ouvidos, seus ouvidos estãocheios de luz. Deixe que os seus ouvidos se estendamsobre os sons belos e melodiosos. Ouça o que ébom e útil.

Traga a luz para sua boca e língua, assim elasestarão cheias de luz. Que a sua língua fale com

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moderação, amável e docemente com todos.

Traga luz para baixo, através do pescoço e ombros,até os braços e as mãos. Deixe que as suas mãos seencham de luz. Deixe que as suas mãos sirvam aoutras pessoas e lhes ajudem a fazer o seu trabalho.

Traga luz mais para baixo, através do seu corpo,até as pernas e os pés. Seus pés estão cheios deluz. Deixe que estes pés o conduzam por um bomcaminho para encontrar bons amigos e ir para bonslugares. Que eles o levem pela jornada da vida paraalcançar a sua meta.

Agora o seu corpo inteiro está cheio de luz. Sinta aluz e o amor dentro de você. Traga a luz para cimanovamente, para a cabeça, até o centro de sua testa.Entenda que a luz que está dentro de você é a mesmaluz que está dentro de cada ser vivente. Tudo contémesta luz, esta verdade.

Agora você pode compartilhar esta luz com osoutros. Imagine que a luz está irradiando para oexterior do seu verdadeiro ser, para tocar aquelesque estão perto de você. Primeiro para sua mãe epai, que lhe deram nascimento e cuidaram de vocêtodos estes anos. Veja sua mãe e seu pai cercadospor toda esta bela luz dourada. Agora a envie maisadiante para tocar os seus professores. Aqueles quelhe ensinaram e lhe deram o conhecimento. Deixeque todos os professores se encham de luz.Compartilhe esta luz com todos os seus irmãos eirmãs e com todos os seus parentes. Que a nossaescola fique cheia de luz.

Agora expanda a sua luz para englobar o mundointeiro e todas as suas criaturas. Que todos os seresda Terra se encham de amor, paz e felicidade.

Agora envie a luz para todo o universo.

Eu estou na luz.

A luz está em mim.

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Eu sou a luz.

Quando estiver pronto, abra os olhos, mas conservea luz e aquele sentimento de paz e tranqüilidadedurante todo o dia188.

O objetivo desta técnica é proporcionar ao educandoum momento de atenção sobre si mesmo e sua conduta eencontrar meios para melhorá-la, caso seja necessário. Énesse momento de interiorização que o educando podereconhecer e sentir seus movimentos internos mais profundose as relações que podem ser estabelecidas entre seu corpomaterial e sutil, ou melhor, a técnica de harmonização criauma ponte que conecta o educando com sua sabedoriainterior, produzindo uma permeabilidade maior diante dequalquer aprendizado.

Pedagogicamente, esta técnica é recomendada paraacalmar a hiperatividade das crianças, que além de seremenérgicas por natureza, geralmente, chegam à escola agitadase indóceis. Para tais crianças, a recomendação é que se realizealguma atividade de integração para, somente então, dar-seinício à harmonização.

Os benefícios dessa técnica estão relacionados com adissolução das tensões geradas no cotidiano da vida, além defavorecer o fluxo de energias pelo corpo. Com isso, a mentedesacelera, oxigena o cérebro e otimiza seu potencial defuncionamento com a facilidade de concentração maisaguçada do educando e, por conseqüência, melhorreceptividade e poder de percepção e intuição.

Sobre as potencialidades cerebrais, cabe dizer, ainda,que a técnica de harmonização estimula os dois hemisfériosdo cérebro. No hemisfério esquerdo, o lado mais racional, éonde se desenvolve o potencial de concentração e análisecrítica; no hemisfério direito, o lado mais criativo, desenvolve-

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se o potencial intuitivo e holístico do ser humano; e acombinação da estimulação dupla do cérebro proporcionaum maior aproveitamento do potencial cerebral. Por isso,nas escolas onde essa prática é regular, os estudantesnecessitam de menos tempo para fazer as tarefas escolares,porque sua concentração é melhor e sua habilidade paraabsorver e lembrar o que aprenderam é maior.

2º) Citação2º) Citação2º) Citação2º) Citação2º) Citação

A técnica da citação de provérbios e pensamentos deveser utilizada depois da harmonização e relaciona-sediretamente com o despertamento da verdade. Este recursopropicia o desenvolvimento do potencial de reflexão doseducandos, através de informações que retratem a essência,a elevação pessoal, profissional e espiritual.

Também conhecida como técnica da prece ou dinâmicado pensamento, a citação deve estar relacionada ao valorhumano a ser trabalhado durante a semana de aulas, servindocomo uma fonte de questionamentos, argüições econtemplações. Nesta, a escolha de provérbios ou preces sejustifica pelo poder de síntese de um valor ou subvalor humanoque eles conseguem retratar.

A orientação para se trabalhar com crianças é que aspreces ou provérbios devem ter orações curtas e vocabuláriosimples para facilitar a compreensão, porquanto o objetivonão é a memorização, mas, sim, a assimilação dos valoresou subvalores humanos que podem estar explícitos ou nãoem cada uma delas.

Às crianças que estão na faixa etária dos 6 aos 9 anos,ou àquelas que ainda não sabem ler, é interessante que o

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educador exponha oralmente a essência da citação para,posteriormente, ler e debater. Uma outra opção é que oeducador dê exemplos ilustrativos que reflitam a temática dacitação, facilitando a compreensão por parte dos mais novos.

Para as crianças mais velhas, entre 10 a 15 anos, atécnica da citação é bem recebida. Portanto, a citação podeser escrita no quadro-negro, apresentada em umatransparência com cores que chamem a atenção e,posteriormente, discutida oralmente. Podem ser discutidas,também, produções dos próprios educandos, o que, inclusive,é de grande importância, pois a produção do estudantedemonstra que ele absorveu, em si, o verdadeiro valor doscódigos que discute em sala de aula.

Segundo as informações do Instituto de Educação SathyaSai, esta técnica fornece instrumentos à criança, para queela mergulhe em seu íntimo e o examine a partir de reflexõese conseqüentes exposições orais de suas opiniões em situaçõesde debates promovidos pelo educador. Numa sala de aula, aduração dessa atividade vai depender da quantidade deeducandos e do poder de controle e mediação do educador,por isso, em alguns casos, aconselha-se também amanifestação dos educandos por escrito, porquanto nemsempre todos têm coragem de emitir suas opiniões, embora,no decorrer da atividade, elas estejam sendo formadas.

Psicologicamente, esta técnica funciona como apoiopara crianças que vão passando pelas fases de transição dodesenvolvimento de suas personalidades nos primeiros anosde vida. Nesta fase, elas têm um poder de imaginação muitoforte, fazendo com que consigam ser tudo o que desejamser; façam tudo o que desejam fazer; sintam tudo o quedesejam sentir; e, até mesmo, como forma de exemplo, voemse quiserem voar.

Assim, na medida em que os educandos crescem, esse

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mundo imaginativo vai diminuindo e a criança começa a percebera “vida como ela é”. Neste momento, já é divulgado pelas leiturasdas teorias psicológicas que a criança começa a se sentir em ummundo estranho e vazio, correndo o risco de estar vulnerável àsinstabilidades e desequilíbrios psíquicos que, se aflorados, podemrefletir em seu futuro enquanto agente transformador da realidadesocial. É, pois, por este motivo, que a aplicação de técnicas quefavorecem a reflexão é necessária.

Neste contexto psicológico, a técnica de oração e preceé muito significativa para a formação da personalidade infantil,pois ela ajuda a transpor essa fase, dando à criança um sentidode segurança e sentimento de que existe algo superior a elasmesmas, no qual pode ser depositado todo seu amor e carinhoque anteriormente eram dados a sua imaginação.

Segundo Ayudhya e Burrows189, esta é “[...] uma grandedádiva que podemos passar para as crianças”, pois a habilidadede se comunicar ou de alcançar Algo Maior do que elas mesmas,as fazem entender que isto pode ser encontrado dentro deseus próprios corações. Eis alguns exemplos de preces:

Eu oro para poder encontrar aquele centro interiordentro do meu coração, que Buda encontrou, queMaomé encontrou, que Jesus encontrou. Um diahaverei de ser tão centrado nesta paz, amor e luz,que ela brilhará a partir do meu coração, para tocare ajudar a todos que eu encontrar.

Pai, nós te agradecemos pela noite e pela luzagradável da manhã, pelo descanso, pelo alimento,pelo cuidado amoroso, e por tudo que faz o mundojusto. Ajuda-nos a fazer as coisas que devemos, seramáveis e bons para os outros, em tudo quefizermos, em tudo que dissermos, nos tornando maisamáveis todos os dias.

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Agradecemos aos nossos pais que nos deram a vida.Agradecemos aos nossos professores que nos dãoconhecimento e à natureza que nos dá o alimento.Comeremos este alimento, para sermos úteis efazermos nosso trabalho. Serviremos aos outros comamor e humildade.

Que todos os povos, animais e seres viventes nestaterra se encham de amor, paz e alegria.

Que haja unidade nos meus pensamentos, palavrase ações. Tudo o que estiver no coração deve sertraduzido em discurso verdadeiro e açãodesinteressada.

Deixe-me aprender a ouvir os outros não somenteporque eles podem ser mais sábios do que eu, masporque eles me amam.

Deixa-me sentir gratidão no meu coração por todosos que me amam, especialmente os meus pais. Queeu possa retribuir a eles algum dia, sendo o queeles gostariam que eu fosse.

Que eu tenha a força e a coragem de enfrentartodas as dificuldades da vida. Que eu seja corajosoe forte para superar todos os obstáculos, tantodentro como fora de mim.

Que eu respeite o direito de ser de cada coisa. Todavida, por menor e aparentemente insignificante queseja, tem o seu próprio papel a desempenhar nestedrama do universo, e por entre toda a vida há umcírculo e uma unidade.

Que eu possa compreender a grandeza do mundoao meu redor. As montanhas, as florestas e osoceanos. Somos um mundo e um universo. Devemosviver juntos em paz e harmonia190.

Todas as preces citadas têm um objetivo claro que éevidenciar para a criança que não existe uma religião superiora outra, mas um Deus único a todas elas, independentemente

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da nomenclatura que seja dada, e que todas as religiões devemser respeitadas; sensibilizar a criança, para que ela percebaque cada dia deve ser agradecido como uma dádiva divina;conscientizar a criança quanto à riqueza de ter pai, mãe eprofessores, bem como os conhecimentos que elestransmitem; mostrar para a criança que ela precisa aprendera ouvir mais do que falar; assegurar para a criança que afortaleza maior vem de dentro dela e que a violência não énecessária para a resolução de possíveis dificuldades quevierem a enfrentar; e, além de tudo, demonstrar para a criançaque ela possui as ferramentas para reverter o quadro dedesequilíbrios ecológicos e sociais do planeta.

Embora com diferentes abordagens, as preces, citaçõese orações visam, acima de tudo, proporcionar às criançasmomentos de reflexão. Uma educação nesse sentido nãotem intenção de fazer uma “lavagem cerebral” nos educandos,tampouco educá-las por punição ou repressão comexclamações do tipo, “se não fizer isso, vai acontecer aquilocom você ou com sua família”, mas, sim, chamá-las à razãopara refletirem sobre seu verdadeiro papel na vida.

Desta forma, elas se conscientizam de que “não possofazer isso porque isso pode não fazer bem àquilo”. Assim,esse tipo de educação transforma-se em uma “educação porcompreensão”, pois os códigos transmitidos são assimiladosintelectivamente e as crianças percebem que o que elasrepetem são instruções para a vida e não simples informaçõespara alcançar uma média aritmética que as façam avançarum degrau de escolaridade.

Sua prática pode ser exercida através da repetição oralou da leitura sucessiva de um pensamento, de uma prece oualgo que equivalha, após o momento de harmonizaçãointerior, possibilitando à mente criar conexões entre amensagem e as experiências vividas, numa relação dialética

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entre teoria e prática. Os benefícios dessa técnica se traduzempelo forte estímulo que é dado para as crianças terem maisatenção, pelo favorecimento do raciocínio analítico e dahabilidade de trabalhar intelectivamente com conceitosabstratos e relacioná-los com situações da vida cotidiana.

Há ainda a ressalva para que os educadores tenhamcautela em não interferir em nenhuma religião que,porventura, seja professada por algum de seus alunos.

Enfim, a técnica da citação ou técnica da prece oudinâmica do pensamento “[...] ajuda a estimular a criança apensar profunda e positivamente, bem como a desenvolverpaz e tranqüilidade interior”191.

3º) Conto3º) Conto3º) Conto3º) Conto3º) Conto

O conto é a terceira técnica empregada pelo Programade Educação em Valores Humanos. É muito utilizada por SaiBaba, quando profere discursos para as multidões que oprocuram.

A técnica de contar histórias é uma arte tão antigaquanto a própria civilização. Contar histórias faz parte dopróprio processo de transmissão de conhecimentos que foramsendo passados de geração em geração.

Aplicada ao Programa, além de tratar de realidades efatos que podem contribuir para a sensibilização doseducandos quanto ao valor fundamental ou relativo que sedeseja estudar, esta técnica tem sido utilizada para alimentara imaginação e estimular a criatividade de crianças, no intuitode fazê-las encontrar a retidão em suas ações.

As histórias, por sua vez, não precisam assumir uma

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identidade cultural, facultando ao educador sua escolha, tendopor base ser pertinente à temática da aula que irá introduzir.Vale considerar a existência de diferentes tipos de histórias:os contos e as fábulas são alguns exemplos, mas todas elastêm sua importância.

As diretrizes do Instituto de Educação Sathya Sai dizemque, para haver um melhor aproveitamento das atividades,os docentes devem levar em consideração a faixa etária quepretendem atingir.

As crianças dos 6 aos 9 anos, por exemplo, têm aimaginação mais aguçada, o que faz com que elas acreditemem plantas que têm membros como seres humanos, queexistem animais que sabem conversar com humanos, atravésde línguas comuns, ou que bruxas que voam em vassouras efazem poções em grandes caldeirões são tão reais quanto osbichos de estimação que têm em casa.

Já para as crianças maiores de 10 anos, histórias compersonagens fictícios, como, por exemplo, um rato falante,não causam tanto impacto, sendo necessário, portanto, quese incorporem elementos mais realistas e factuais que a criançapode acessar com facilidade.

Para a prática das aulas, Jareonsettasin192 diz que ashistórias devem ser pequenas e em sua forma escrita nãodevem ultrapassar 25 linhas, porquanto, é através das maiscurtas que as crianças absorvem o conteúdo mais fácil.

Segundo essas diretrizes, as histórias mais longastornam-se cansativas e caem, mais rapidamente, noesquecimento dos educandos, pois sobrecarregam suasmemórias. É redundante dizer, embora seja necessárioreforçar, que é orientada aos educadores a escolha de livrosde histórias que contenham fundo moral, pautado em idéiasnobres, e que incentivem os alunos a criarem o hábito de

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leitura de livros com os mesmos fundamentos, afastando-osde leituras que não lhes acrescentem nada em moralidade.

Pedagogicamente, as histórias fornecem exemplos quepossibilitam a reflexão sobre o próprio comportamento,enfatizando o autoconhecimento das crianças no que se refereà construção da personalidade. Influenciam também nodesenvolvimento da capacidade de concentração e atenção,facilitando para a criança a assimilação dos conteúdoscurriculares que ela necessita aprender.

Uma história não é um pensamento combinado, masum modelo a ser seguido. Através de histórias, as criançaspodem encontrar exemplos para suas vidas ou encontrarsoluções para seus conflitos intra e interpessoais. Eis umexemplo de uma história muito contada em uma escola daTailândia193:

Uma vez uma criança estava dormindo quando umanjo apareceu.

– Você gostaria de ver como é o céu?, perguntou oanjo.

– Oh sim, respondeu a criança.

– Muito bem, disse o anjo.

– Eu a levarei, mas primeiro você deve visitar oinferno por um momento.

O anjo tomou a criança e deixou-a nos portões doinferno, prometendo voltar em pouco tempo paraapanhá-la. Ela logo observou como ali as pessoaspareciam miseráveis. Suas faces eram pálidas etinham a aparência de cansaço e sofrimento, comose estivessem famintas. Estava na hora do almoço ea criança seguiu aquelas pessoas até o refeitório.Ficou espantada ao ver quanta comida havia nasmesas. Não posso imaginar porque o povo parece

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tão faminto diante de tanta comida, pensou.Apoiadas contra as mesas, estavam colheres comcabos longos.

Quando as pessoas comiam, tentavam colocar aslongas colheres na boca, mas a maior parte dacomida caía. Eis porque pareciam tão famintas.Depois de algum tempo, o anjo voltou para buscara criança. Desta vez ela foi deixada nos portões docéu. O anjo combinou para voltar mais tarde e levá-la para casa. Desta vez as coisas pareciam bemdiferentes. As pessoas pareciam felizes e bemnutridas. Na hora do almoço, ela novamente seguiu-as até o refeitório. Espantada, observou que tudoera como no inferno; as mesas postas com alimentose as longas colheres!

Desta vez havia uma diferença. Quando foramcomer, em vez de tentar colocar a colher na própriaboca, as pessoas alimentavam umas às outras.

Histórias como essa promovem um debate e fortalecemalguns valores humanos denominados relativos que não podemdeixar de ser trabalhados, como, por exemplo, a amizade, asolidariedade, o altruísmo, etc. Esta história pode serlembrada, por exemplo, em momentos de brigas ou discussõescom os estudantes. Neste momento, cabe ao educadorretornar à história e questionar: “você quer ficar no céu ouno inferno?”

Por esse e outros motivos, o ato de contar histórias nãopode ser uma mera repetição de palavras que, unidas, causamuma sonoridade compreensível. Para se contar histórias, deveexistir uma preparação prévia, que consiste em seguir trêspassos primordiais: a) escolher a história de acordo com afaixa etária da criança, a extensão, o valor que será trabalhadoe sua articulação com a habilidade que se pretende desenvolverna criança; b) familiarizar-se com a história, para que possa

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contá-la com sentimento e emoção, modulando a voz eencenando com mímicas; c) preparar os materiais que ajudama contar a história. A preparação de materiais nem sempre énecessária, pois histórias contadas sem imagens estimulam,ainda mais, a imaginação das crianças; mas caso o educadordeseje pode acrescentar uma “pitada de humor” e alegria paramanter a atenção dos ouvintes.

Vejamos, pois, alguns recursos que podem ser utilizadospara o momento da atividade. Algumas sugestões podem seracatadas pelo educador, como forma de aprimorar a belezada atividade, a saber: a) trabalhar com ilustrações de livros;b) utilizar marionetes de mão, dedo, corda ou madeira; c)produzir um quadro magnético ou de feltro para expor ostrabalhos produzidos pelos educandos; d) televisão feita emcasa, ou seja, uma caixa de papelão com a frente destacadae fixada com dois gravetos de madeira que atravessam aslaterais da caixa, de modo que fiquem com um tamanhomaior que a largura da caixa. Nesta caixa, as imagens sãopresas em uma folha de papel contínuo e enroladas nas duasextremidades dos gravetos, que vão servir de manivelas paraa “circulação” do papel que contém todas as imagens.

Dicas também são sugeridas aos educadores que sedispõem a contar histórias. Tais como: a) conte a história,não a leia, pois não há nada mais entediante do quesimplesmente ouvir mecanicamente uma história; b) fiqueno mesmo nível da criança, pois isso facilita que a criançamergulhe no mundo da imaginação e acredite que o queestá sendo contado tem tanta vida quanto a dela; c) viva ahistória, expressando seus sentimentos, entoando diferentesvozes para diferentes personagens; use expressões faciais ecorporais; d) use materiais didáticos que vivificam o queestá sendo contado; e, acima de tudo, e) dê o exemplo,pois a prática do que se ensina é fundamental, para que acriança siga seu exemplo.

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Para que a assimilação ocorra de modo ainda maispleno, sugere-se que não se pressione a criança com questõesdo tipo “qual é a moral da história?”, mas buscar perguntar àcriança: “que nome você daria à história?”, ou “como vocêse sentiu quando ouviu a história?”, ou “a história lhe trouxealguma lembrança?”, ou ainda, “o que essa história significoupara você?”. Essas últimas questões certamente vão propiciarao educador a percepção do entendimento que os educandostiveram da história, cabendo a ele, no momento das respostas,conduzi-los a reflexões sobre os Valores Humanos.

Enfim, segundo a Organização Sri Sathya Sai doBrasil194, contar histórias às crianças é “[...] alimentar suasmentes com experiências positivas; é dar a elas demonstraçõesda eficácia do agir bem e referenciais de retidão que levarãoàs próprias vidas.”

4º) Música4º) Música4º) Música4º) Música4º) Música

A música também faz parte do ambiente educacionalbaseado em Valores Humanos pelos benefícios que lhe sãoinerentes: facilita a concentração, promove o relaxamento,estimula a criatividade, desenvolve a intuição e favorece oprazer em aprender.

A música perpassa algumas técnicas já apresentadas:harmonização, introduzida como um meio para acelerar oprocesso de relaxamento; citação ou oração, com a inclusãode melodias; ou mesmo durante a narrativa de uma história,quando é acrescentado um fundo musical para a encenação.

Os ritmos musicais influenciam diretamente ocomportamento das pessoas, principalmente o das crianças,pois elas são bastante susceptíveis às influências musicais.

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Assim, dependendo do ritmo escolhido, podem proporcionarmomentos de relaxamento ou agitação nas crianças. Porisso, o educador deve ter bem claro qual é o objetivo quedeseja atingir quando escolhe um ritmo musical. Por exemplo,para atividades de harmonização, o ritmo rock édesaconselhável, ao passo que para a realização de atividadesintegracionais, ele pode ser útil, pois estimula a interação.

Ayudhya e Burrows195 afirmam que a aplicação prática datécnica que utiliza música envolve algumas orientações. A primeiraé fazer com que o educador incentive os educandos a aprenderema tocar algum instrumento musical, como violão, flauta, violinoou instrumentos de percussão. Estes instrumentos são bastanteadequados às crianças mais jovens, por serem terapêuticos esaudáveis às crianças agressivas e com tendência à violência.Aprender a tocar um instrumento musical permite à criança seaproximar de sua harmonia interior e se tornar parte dela, poisela se sente criadora das melodias que produz. Assim, a criançatende a ficar mais calma, paciente e autoconfiante.

A segunda orientação é criar períodos de apreciaçãomusical. Isso consiste em fazer com que a criança possa teroportunidades de desfrutar momentos para a apreciação deuma música ou peça musical. Uma opção é, no momento daaula, tocar uma música ou trechos de diferentes músicas quecontenham uma letra que se aproxime da concepção dosValores Humanos e, após sua execução, promover umaatividade lúdica, que pode ser um debate sobre os ValoresHumanos embutidos na letra ou a confecção de desenhoscoloridos que expressem o tema que foi abordado pela música.

A terceira orientação é sobre a música no momento desentar-se em silêncio. Nesta hora, o educador, caso tenhahabilidade, pode tocar um instrumento. Caso não tenha ahabilidade, ele pode solicitar de outra pessoa que tenha o domíniodo instrumento. Mas se ainda assim não tiver uma pessoa para

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tocar um instrumento, é interessante colocar o som mecânicocom músicas clássicas, semiclássicas ou do tipo “nova era”.

Uma outra opção para a aplicação de músicas é colocá-las nos momentos de trabalhos de recreação e/ou realizaçãode atividades ligadas às artes. Assim ficarão bem claras parao professor as influências dos ritmos musicais na expressãoartística da criança.

Todas as orientações dadas até agora reafirmam aimportância da música no desenvolvimento cognitivo dacriança. Cabe frisar que a música ideal para as aulas queaplicam o método direto são as que são cantadas pelospróprios alunos e melhor seria se a composição tambémfosse deles, pois reforçaria a capacidade de expressão sobreos valores humanos que são trabalhados.

Em alguns casos, os educandos se intimidam em cantarsozinhos perante seus colegas, em sala de aula. Por esse motivo,a música também pode ser desenvolvida como um canto emgrupo e fazer parte do corpo da aula, pois isso estimula nãosó a criação, mas também a construção de conhecimentos.

Uma das vantagens da música é que sua letra, quecontém Valores Humanos, é de fácil memorização por causada melodia. Isso faz com que, mesmo após as aulas, as criançascantem e se auto-estimulem a assumir um comportamentopautado nos Valores Humanos.

Assim, os educadores devem sempre estar atentos naescolha da música, porquanto é interessante que a letra musicalcontenha fundamentos que possam se aproximar dos ValoresHumanos e o estilo musical também esteja coerente com aproposta, independentemente da tradição cultural de origem.

Caso o educador tenha esgotado todo seu repertóriomusical, ele pode utilizar os discos que foram produzidospelo Instituto de Educação Sathya Sai. No Brasil, já existem

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dois volumes desses discos, com mais de cinqüenta músicasgravadas, com letras e melodias dentro do padrão doPrograma de Educação em Valores Humanos.

Para o conhecimento do leitor, disponibilizamos, noAnexo B, algumas letras dessas músicas, cifradas para violão.Eis alguns exemplos196 das letras que estão nos discos:

Passe adianteRecebeu uma gentileza?Passe adiante, passe adianteFoi somente pra você?Passe adiante, passe adianteQue ela dure muitos anosQue console muita genteDê coragem e amorPasse adiante, passe adiante...passe adiante...

Amor e bondadeNós devemos tratar a todosCom amor e bondadeDemonstrando nas necessidadesSó carinho e amizadeSomos todos irmãos e irmãsIsso nós temos aprendidoPartilhando com o nosso próximoTeremos um mundo unidoCuidando, partilhandoPerdoando e doandoNós vamos fazerA vida valer

Enfim, uma aula com música não é apenas escutar outocar um instrumento, mas trabalhar com sentimentos eemoções, movimentar o corpo físico e transformar o silênciodas atividades curriculares em alegria e ludicidade. Isso

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promove, também, a melhoria da produtividade e inspira asocialização do amor entre as crianças, através da ativaçãoda sensibilidade para elementos humanos. Esta socializaçãoé também reforçada pelas atividades integracionais.

5º) Atividades Integracionais5º) Atividades Integracionais5º) Atividades Integracionais5º) Atividades Integracionais5º) Atividades Integracionais

No âmbito do Programa de Educação em ValoresHumanos, as atividades integracionais ou grupais assumemum papel muito importante para a formação da personalidadeda criança, porquanto é, através desse tipo de atividade, queela pode praticar seu espírito de amizade e compreensãopara com o outro.

Em uma atividade grupal, o sentimento de unidade é muitoforte, porque o erro de um serve de motivo para reflexão detodos, ou seja, todos têm que trabalhar juntos, harmonicamente,pois o objetivo desta técnica é favorecer que as criançasaprendam a ouvir umas as outras, a saber identificar seu limite eo dos outros, enfim, a se relacionar umas com as outras,independentemente da diversidade sócio-cultural. E é justamentepor essa finalidade que “[...] os alunos aprendem a respeitar osdireitos e a dignidade dos outros, além de aprenderem a conviverem grupo com o sentimento de igualdade”197.

Nesta técnica, a não-violência é o Valor Humanotrabalhado e o nível espiritual é o foco de desenvolvimentoda personalidade. Outras técnicas se misturam às atividadesintegracionais como, por exemplo, a citação ou conto dehistórias e a música. Mas cabe, unicamente, ao educadorquerer misturá-las ou não.

Como o próprio título diz, as atividades integracionaisvisam quebrar a monotonia das cotidianas aulas expositivas e

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aumentar o número de atividades que as movimentem, poisjá é sabido que “[...] as crianças não aprendem somente coma cabeça, mas com o corpo inteiro”198.

É fato que crianças da faixa etária entre 6 a 9 anos,geralmente, não conseguem ficar muito tempo sentadas eintegralmente atentas à aula, fazendo com que, a partir deum dado momento, suas mentes comecem a divagar no tempoe no espaço ou se voltem para outras atividades, que não asescolares, como, por exemplo, conversas com colegas oubrincadeiras inoportunas com objetos próximos a sua mesa.Neste contexto, qualquer coisa vira motivo de dispersão, sejaum pássaro observado pela janela da sala ou mesmo o própriolápis que está utilizando.

Isso tudo reduz o rendimento escolar e faz com que oseducadores chamem a atenção desses educandosconstantemente, taxando-os de desatentos ou indisciplinados.Não raro, o que ocorre é a falta de criatividade e sensibilidadedo educador para a realização de uma nova metodologia deensino que seduza e envolva a criança.

Nesse sentido, as atividades integracionais visampreencher essa lacuna metodológica do ensino voltado paracrianças e acrescentam ao educando, não só rendimentoescolar, mas também o desenvolvimento moral dapersonalidade infantil em fase de construção.

Assim, as atividades podem se manifestar através dealguns tipos de técnicas específicas: encenações/dramatizações, testes de desenvolvimento de atitudes, jogosde motivação e brincadeiras folclóricas adaptadas para osValores Humanos, trabalhos criativos e artísticos (colagem,desenho, pinturas etc.), entre outros. Esclareceremos, logoa seguir, o uso prático de cada técnica citada.

A aplicação prática da atividade de encenação se resume

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na reunião de um grupo de crianças, coordenado peloeducador, para:

a) representar uma história, ou seja, o educador contaa história e, em seguida, os grupos de educandos semovimentam para representá-la;

b) descrever valores, ou melhor, fazer com que ascrianças, por ela mesmas, criem o enredo daencenação, de acordo com o tema da aula do dia;

c) relatar fatos, ou seja, o educador faz o relato de algumevento histórico ou fictício e os educandos se preparampara relatar o que aconteceu, como se fossemjornalistas ou comentaristas especializados no assunto;

d) ou, também, fazer mímicas, que consiste nahabilidade das crianças se expressarem de formacompreensível para as outras, narrando um evento.

Todas essas sugestões podem ser facilmenteincorporadas à metodologia de ensino do educador. Sugere-se ainda que o educador:

a) divida os educandos em subgrupos, caso seja grandeseu número na classe; quanto menor o grupo, maioro entrosamento entre os participantes;

b) assegure que as apresentações fiquem curtas esimples;

c) cuide para que as crianças, que não estãodesenvolvendo a atividade, fiquem atentas àapresentação dos colegas;

d) dinamize e explore ao máximo os Valores Humanosembutidos em cada apresentação, com discussõesao final de cada uma delas. Uma boa alternativapara a promoção do envolvimento integral da criança

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é atribuir uma meta que pode ser, por exemplo,uma apresentação pública em alguma datacomemorativa ou ao final do ano escolar.

Vale dizer que essas são as sugestões do Instituto deEducação Sathya Sai para a técnica de encenação, ficandofacultada a criação de novas atividades ou a incorporação denovos elementos.

Os testes de atitude, por sua vez, são, como o próprionome diz, testes que prevêem as atitudes dos alunos em situaçõesque podem envolver sua postura moral. Funcionam tambémcomo meios de saber se o que está sendo discutido em sala deaula acerca dos Valores Humanos está sendo incorporado pelacriança, a ponto de influenciar sua conduta em situações críticas,como, por exemplo, ao encontrar um objeto na escola, sepreocupar em procurar o dono para devolvê-lo. Assim, osbenefícios dos testes podem ser evidenciados peloautoquestionamento, afirmação da auto-honestidade,discernimento e, fundamentalmente, auto-avaliação.

O Instituto de Educação Sathya Sai propõe algumas

sugestões para a aplicação desses testes:

a) elaboração de formulário com perguntas de múltiplaescolha, como por exemplo:

Situação: sua mãe pediu para você não brincar combola dentro de casa, mas, quando ela sai, você nãopode resistir. Alguma coisa se quebra. O que é quevocê faz quando sua mãe volta e descobre o prejuízo?

1) nega que você sabe alguma coisa sobre aquilo

2) põe a culpa em outra pessoa, no gato ou nocachorro

3) conta a verdade e aceita as conseqüências199.

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b) elaboração de um formulário ou discussões coletivasem sala de aula com representações de situaçõesque envolvam os testes de atitude, como o exemplo:

Situação: três crianças estão descendo por umcaminho quando encontram uma árvore caída.

Criança A: dá uma olhadela, decide que não podecontinuar e retorna

Criança B: sentindo-se frustrada, senta-se e chora

Criança C: decide não desistir e fica tentando atéconseguir ultrapassá-la200.

c) realização de testes que envolvam a representaçãoindividual ou social, através de discussões coletivasou desenhos, da associação de sua identidade comanimais, como, por exemplo, pedir às crianças quese imaginem como animais e que elas precisamdesenhar o animal que lembra o comportamento deseus pais, irmãos, familiares e/ou amigos.

d) realização de testes usando cores – perguntar ouinduzir a criança a responder qual é a cor que elamais gosta, como por exemplo, perguntar-lhe qualé a cor que ela escolhe quando se sente muito feliz.

Convém dizer que cada teste possui suas limitações. Naprimeira situação, a criança sabe apontar claramente a soluçãomais coerente e, portanto, possivelmente, responderá que“conta a verdade e aceita as conseqüências”, embora essanão seja, necessariamente, a conduta que seria adotada porela. No segundo caso, é mais fácil obter respostas sincerasde expressões de perseverança. O terceiro caso éextremamente interessante, porque revela a percepção dacriança sobre si mesma e sua família. Geralmente, neste

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exercício, as crianças mais tímidas se associam aos animaismais passivos como coelhos, e seu pai ao animal que exercealgum tipo de liderança ou é sinônimo de fortaleza, como oleão. Por fim, na quarta situação, as experiências mostram amesma evidência dos animais, ou seja, as crianças mais tímidaspreferem cores mais discretas, enquanto as mais extrovertidaspreferem as cores mais extravagantes.

Respaldando as considerações tecidas até agora, cabedizer que todas essas informações resultam de observaçõesfeitas por educadores que aplicam o método direto doPrograma de Educação em Valores Humanos. Todos elestêm consciência das limitações impostas pela própriaimprevisibilidade do gênero humano em suas diferentesmanifestações. Contudo, nenhuma consideração é tida comoregra infalível e, evidentemente, cada criança possui um meiosócio-cultural que influencia sua conduta de vida.

Os jogos de valores humanos são os que mais envolvemos educandos. Não desmerecendo a importância das novastecnologias para o processo de ensino-aprendizagem, verifica-se que, na atualidade, tanto no mundo ocidental quanto nooriental, a lógica capitalista de consumismo tem estimuladodemasiadamente os jovens ao uso de computadores, video-gamese, principalmente, televisão. Sendo assim, esse movimento globaltem feito com que os jogos e brincadeiras sejam apartados domeio infantil devido à competição acirrada com o uso dessasnovas tecnologias de entretenimento por seu longo epopularizado alcance. Por este motivo, as crianças passam aser desestimuladas a criar seus próprios brinquedos e brincadeiras.

Assim, pesquisas têm verificado que as atividades queenvolvem a ludicidade, principalmente envolvendo crianças, sãode substancial importância para o desenvolvimento cognitivo,interpessoal e social da criança. Nessa ótica, os jogos em ValoresHumanos propiciam esse tipo de desenvolvimento, pois seus

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benefícios demonstram um refinamento da memória,concentração, cooperação, descontração entre outros. Eis algunsexemplos de jogos disponíveis nas publicações do Instituto deEducação Sathya Sai201:

Valores humanos musicais

Este jogo é praticado do mesmo modo que o dasCadeiras Musicais. A principal diferença é que oprofessor deve preparar alguns cartões com valoresescritos para colar no encosto das cadeiras. Ascrianças correm ao redor, com a música. Quando amúsica pára, elas devem sentar-se em uma cadeiravaga. Cada vez que uma cadeira é removida, acriança que sobra deve dizer o que significa paraela aquele valor em particular e quais são osprejuízos quando ele está ausente na vida real.

Passando amor

Este é um jogo maravilhoso para crianças pequenas.Peça a elas que se sentem [sic] em círculo e apertemas mãos. Diga-lhes para pensar no amor em seuscorações e como podem dividi-lo com os outros. Acriança que começa, aperta suavemente a mão daque está sentada à sua esquerda. Esta, ao recebero amor, sorri e aperta a mão do vizinho. No finaltodas as crianças estão sorrindo. Praticando estejogo, os estudantes podem compreender que daramor aos outros é algo fácil e feliz.

Jogo da amizade

As crianças sentam-se em círculo e uma delas correpor fora enquanto a música está tocando. Quandoa música pára, a criança que está correndo olhapara a que está à sua frente e diz: “você é um bomamigo porque...” Então a outra criança tem achance de correr em torno do círculo. As criançassó devem dizer coisas positivas sobre as outras eisto as encoraja a buscar os bons aspectos nos outros.

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Todos os jogos sugeridos são indicados pelo Institutocomo forma de motivar os educadores. Os exemplos citadosforam alguns que consideramos mais próximos da realidadeocidental, evidenciando que podemos adaptar os jogos ebrincadeiras presentes em nossa cultura para trabalhar osValores Humanos com as crianças. No início, pode haveralguns conflitos de opinião entre elas, mas, paulatinamente,as crianças aprendem a trabalhar juntas, despertando acompreensão de umas com as outras.

A dinâmica de auto-avaliação do educando consiste nodesenvolvimento de atividades que proporcionem momentosde reflexão sobre sua conduta no dia-a-dia. Geralmente, essasatividades são mais eficazes com os mais velhos, entre os13-15 anos de idade, e podem ser realizadas através dediscussões em grupo, brincadeiras educativas, dinâmicas paracontar histórias etc. Veja alguns exemplos disponíveis nomaterial do Instituto de Educação Sathya Sai202:

Auto-avaliação

Eles trabalham em pares e cada estudante tem umpedaço de papel e uma caneta. Peça-lhes paraescrever suas próprias qualidades (isto às vezes podeser muito difícil para os jovens). Depois, peça-lhespara virar a página e passá-la para o colega quedeve escrever todas as boas coisas que vêem no seuparceiro. Isto é normalmente mais fácil. Quandotiverem terminado, devem trocar os papéis, ler oque o outro escreveu a seu respeito e compararcom a sua própria lista. Quase sempre, a lista deboas qualidades escrita pelo parceiro é muito maiore mais positiva do que a dele próprio.

Cinco moedas

Esta é uma atividade excelente para desenvolver ahabilidade de ouvir. Os estudantes sentam-se em

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grupos e discutem qualquer ponto dado. Cadaestudante tem cinco moedas e, cada vez que fala,perde uma moeda. Às vezes, eles ficam sem moedasantes de se manifestar ordenadamente, de tantointerromper os outros.

Nestes dois exemplos, são trabalhadas habilidadesespecíficas para o desenvolvimento individual e social das crianças.No primeiro caso, os educandos se educam para enxergar coisasboas nas outras pessoas e a perceber a vida por seu lado positivo.Com isso, melhoram sua percepção da vida, ao mesmo tempoem que podem se auto-examinar e refletir sobre seucomportamento, além de melhorar sua auto-estima.

Assim como o primeiro exemplo, o segundo vai mostrarpara os educandos sua capacidade de saber esperar, terpaciência e avaliar suas palavras antes de verbalizá-las. Istofavorece ao educando a reflexão acerca de suas palavras que,em alguns momentos da vida, não são utilizadas para elogiarseus amigos. Faz com que ele ordene seus pensamentos deforma lógica, obrigando-o a raciocinar antes de falar.

A última dinâmica que aplica a técnica de trabalhosintegracionais são os trabalhos criativos e artísticos. OPrograma de Educação em Valores Humanos adotou arealização de atividades dessa natureza pelos benefícios queas dinamizam, são eles: ativa a criatividade, estimula aimaginação, diversifica meios de expressão, propicia prazer,constrói autoconfiança, melhora a coordenação, fortalece aconcentração, aflora os talentos interiores, desenvolvehabilidades e facilita a cooperação.

Nesta dinâmica, podem ser praticadas atividades parailustrar histórias indicadas pelo educador (para as criançasmais velhas, aconselha-se que elas mesmas criem suashistórias), ilustrar a própria técnica de se sentar em silêncio,

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desenhar valores (para as crianças mais novas, essa atividadepode ser um pouco mais difícil, mas não podemos subestimara capacidade delas), ou também, desenhar a figura do grupo,que consiste em todo mundo trabalhar junto para a confecçãode uma única ilustração. Neste último caso, podem-se utilizarfolhas de papel metro que facilitam o acesso de todos osalunos simultaneamente.

Assim, através das atividades integracionais, oseducandos tornam-se, pelo envolvimento ativo, mais criativose intuitivos, além de desenvolverem maior discernimento epoder de questionamento.

Por fim, cabe explicitar que o planejamento das aulaspara o método direto é baseado em um dos cinco valores,incluindo seus subvalores, no tempo em que varia entre 1(uma) a 2 (duas) horas, por dia. Não há rigidez no tempo,entretanto, o discernimento e intuição do educador sãoessenciais para a escolha da atividade mais adequada para apromoção de transformações efetivas e construção do caráterda criança, garantindo a plenitude das experiências. Porém,não podemos deixar de ressalvar que, considerando o sistemade educação brasileiro, essa carga horária não se aplica anossa realidade, por representar quase 50% da carga horáriadisponível para a transmissão dos conteúdos curricularesdefinidos pelos órgãos governamentais de educação.

A cada semana, deve ser definido um valor a sertrabalhado, por todos os educadores da escola, lembrandoque o ensino e o aprendizado devem ser divertidos, tantopara os educadores quanto para os educandos.

As aulas, portanto, devem ser bem planejadas, paraque sejam interessantes e instigantes para todos os envolvidosno processo de ensinar-aprender-ensinar. Muitos educadorespodem até já usar algumas dessas técnicas, mas vale destacara singularidade do uso delas atrelado aos Valores Humanos,

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à plenitude do ser. Veja uma síntese de todas elas no Quadro3, a seguir:

QUADRO 3 - SÍNTESE DO DESENVOLVIMENTO DAS PRINCIPAIS TÉCNICAS UTILIZADAS

PELO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS, POR FAIXA ETÁRIA

Fonte: ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL, 1999, p. 113

* O serviço realizado no Centro ou Grupo, ajudando na limpezainterna e outras atividades, é uma boa maneira de levar a criança a

compreender a importância do serviço.

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Enfim, além das técnicas anteriormente citadas, cabeaos educadores mais dois desafios complementares: aintegração dos valores com os temas curriculares e com asatividades extracurriculares.

4.2.2.2 Integração dos V4.2.2.2 Integração dos V4.2.2.2 Integração dos V4.2.2.2 Integração dos V4.2.2.2 Integração dos Valores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comos temas curricularesos temas curricularesos temas curricularesos temas curricularesos temas curriculares

O comprometimento com a educação integral do serhumano está denunciado pela preocupação com a formaçãode todas as dimensões dos educandos envolvidos com oPrograma de Educação em Valores Humanos, quer direta ouindiretamente. Afinal, sua concepção filosófica demonstraque, se a educação ensina, através da ciência, somente amedir, calcular e dominar, então não só dificulta, mas tambémimpede ao ser humano alcançar o que indica a essência dosvalores humanos absolutos, inerentes à realidade universalpara sua evolução abreviada consciente.

Assim, a integração da concepção dos Valores Humanoscom as atividades curriculares da educação formal se dá deforma indireta, pois não existe nenhuma recomendação diretapara esta abordagem do Programa. Entretanto, nósexemplificaremos, dentre inúmeras, algumas estratégiasmetodológicas para a incorporação dos Valores Humanosdentro dos conteúdos programáticos do planejamento escolar.

No que se refere ao estudo em Matemática, o educadortem a sua disposição diferentes possibilidades de tratar osconteúdos, dando a cada um deles uma conotação humana evivencial. Ao utilizar matemática para ensinar ValoresHumanos aos educandos, o educador pode trabalhar osenunciados dos problemas, elaborar histórias com fundo morale, a partir delas, construir equações e gráficos.

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Ao trabalhar com geometria, assinalar a representaçãosimbólica das linhas, as quais, por exemplo, dentro do aspectocurricular, mostram que a distância mais curta entre doispontos é uma linha reta; e, no aspecto moral, enfatizar quequando temos um objetivo na vida, devemos agir com retidão,ou seja, ir diretamente a nosso objetivo, evitando os desvios.

Quando trabalhar com problemas de subtração,evidenciar que, na vida, só existem ganhos, pois por maisque possam existir perdas, o ser humano tem que ter habilidadepara não perder a lição da perda, ou seja, conseguir extraira lição que a perda traz para não reincidir no pseudo-erro.Aos problemas de divisão, sugerir aos alunos a necessidadede aprender a compartilhar com os amigos seus pertences,porquanto a vida é muito mais do que posses materiais,apagando o lado egoísta que existe em cada ser humano elapidando a solidariedade.

Tratando-se do estudo de Ciências, já é sabido que nestadisciplina são realizados diversos experimentos, envolvendoluzes e espelhos, reflexão da luz em objetos curvos, lentes,luz e sombras, elementos físico-químicos etc., e, para ensinar,o educador pode se utilizar, basicamente, de associações.

Ao trabalhar com pesos, por exemplo, o educador utilizaa balança para se fazer mais claro para os educandos. Nestemomento, então, ele pode aproveitar a oportunidade paraextrair a moral que existe no uso da balança, estabelecendoum paralelo com a conduta de vida do ser humano, ou seja,cada um deve ter uma vida equilibrada, evitando os extremos.

Um bom exemplo é o sol. Ao estudar elementos queenvolvem discussões sobre o sol, o educador pode inferir oargumento de que todos os seres humanos devem ser comoo sol, ou seja, mostrar a mesma face a todos, todo o dia,irradiando calor e vida. Neste ponto, o professor estarátrabalhando a alegria dos alunos.

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Ao trabalhar com aspectos físico-químicos, o educadorpode utilizar o exemplo da alta salinidade do Mar Morto. Comesse exemplo, o educador irá explicar que o Mar Morto é seisvezes mais salgado que o oceano e, por causa da alta densidadeda água, o corpo humano flutua facilmente. Assim, associadaao Mar Morto deve ser a mente humana, ou seja, quando vaziade pensamentos, a consciência torna-se mais leve e flutua.

Através da História, ao estudar as vidas de grandeshomens e mulheres, o educando pode aprender muito sobreos Valores Humanos presentes na conduta de cada um. Afinal,senão a única, o exemplo é a melhor forma de educar. Essaspessoas foram a demonstração factual de que o homem,decididamente, não foi uma experiência divina que “deuerrado”, mas sim que ele carece de meios para encontrar alucidez individual e coletiva.

Ao trabalhar com a História, o educador pode abordara vida de diferentes personalidades que mudaram o mundoem diferentes aspectos, sejam eles religiosos, sociais, políticos,econômicos ou todos juntos. Alguns ícones da história podemser ilustrados pelas vidas de Buda, o qual mostrou que todosofrimento podia ser combatido com meditação, moralidade,sabedoria e compaixão; de Jesus, que ensinou à humanidadeo significado do amor; de Martin Luther King, que lutoucontra a discriminação nos Estados Unidos; e, de MahatmaGandhi, que libertou a Índia da Inglaterra, provando que, naatualidade, a não-violência não é mais uma opção disponível,mas uma imposição necessária.

Além de estudar as pessoas famosas, é importanteobservar os grandes eventos do passado, tanto positivosquanto negativos, bem como o surgimento de atos positivos,após atos negativos, mostrando a dinâmica da vida e o papelde cada um no mundo. Com esses exemplos, o educadorpode ensinar que a vida é sinônimo de relações, quer sociais,quer individuais, e que ela não se resume na busca de

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segurança, satisfação e felicidade, mas também na busca daauto-revelação, para que possa haver, no ser, o conhecimento,o autoconhecimento e a auto-realização, tomando comoexemplo a moralidade do universo. Com esse argumento epropondo o debate, o educador estará trabalhando com ossubvalores que mostram a busca do conhecimento, a auto-análise, o autoconhecimento, o amor universal etc.

Tratando-se do ensino da Geografia, o principalpropósito é compreendermos como tudo no universo estáem relação. Os estados e regiões de cada país, por exemplo,só conseguem sobreviver porque mantêm relaçõesinterdependentes, ou seja, dependem uns dos outros,sustentando o argumento de que nada nem ninguém podemviver em isolamento.

Neste momento, o educador pode levantar a discussãosobre o dever moral e social do ser humano que se resumeem compreender, em si mesmo, a natureza real que resideem todas as coisas, inclusive e principalmente o valorsignificativo real das relações, sejam elas interpessoais,intrapessoais ou transpessoais.

Assim, ele estará sensibilizando seus educandos para ofato de que, para o homem viver neste mundo de relações,não pode deixar de agir e, para agir, pensa, e, para pensar,não raro, sente, afinal o homem é o produto do que sente,pensa e age, bem como do meio em que vive. Com isso, oeducador trabalha com valores relativos ao dever, ética,autoconhecimento, compaixão, atenção aos outros etc.

Em relação às línguas, elas são consideradas as maisfáceis de se trabalhar, por serem o principal meio decomunicação. O método natural de aprendizagem de umalíngua é, inicialmente, escutando, depois compreendendo efalando. Na escola, uma vez já vencidas as etapas anteriores,parte-se para a leitura e a escrita.

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Nas aulas de línguas, de um modo geral, o educadorpode explicar aos alunos a importância e o poder das palavras,pois, ao mesmo tempo, elas podem alegrar e entristecer,estimular e inibir, elogiar e ofender etc. Isso não quer dizer,todavia, que o ser humano não irá dar más notícias a seusamigos, mas sim que eles devem trabalhar a habilidade ecriatividade de transmitir tais informações com o fim deminimizar os impactos negativos.

Neste sentido, o educador pode enfatizar que o ser humanodeve sempre pronunciar palavras que tenham uma conotaçãopositiva e estimular que isso se multiplique entre os alunos,fazendo-os compreender o valor da amizade, da felicidade e dootimismo. Afinal, é da essência filosófica do Programa deEducação em Valores Humanos, que cada ser consiga manterem equilíbrio o pensamento, a palavra e a ação.

No que se refere ao estudo das Artes, vale destacar suavalia. De todos os assuntos ensinados na escola, a arte é aque mais revela a personalidade das crianças, pois ela permitea expressão de sentimentos e pensamentos.Ao longo do anoletivo, as crianças podem demonstrar a transformação, atravésdos trabalhos que produzem. Na aula de artes, fica mais fáciltrabalhar com Valores Humanos, pois o educador tem aliberdade de promover atividades com desenhos, assim comoencenações que tenham fundo moral.

Tratando-se do ambiente de trabalho, são consideradosos seguintes fatores para garantir o sucesso das aulas: espaçoadequado, luminosidade, bons materiais para artes e incluira música para estimular a criatividade.

Assim, cabe ao educador ressaltar os Valores Humanose integrá-los aos temas curriculares, através de comentáriosorais, do incentivo a atividades que possam agregar valoreshumanos e, sobretudo, de sua conduta e postura perante oseducandos e a sociedade, como um todo.

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Enfim, resultados como aumento da concentração,observação, visão interior, sensibilidade e criatividade serãonitidamente percebidos por pais e educadores no decorrer dotrabalho. Cabe reafirmar ainda que os valores humanos nãoficam circunscritos à sala de aula, mas extrapolam os murosescolares, disseminando uma nova cultura, moralmente elevada.

4.2.2.3 Integração dos V4.2.2.3 Integração dos V4.2.2.3 Integração dos V4.2.2.3 Integração dos V4.2.2.3 Integração dos Valores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comalores Humanos comas atividades extracurricularesas atividades extracurricularesas atividades extracurricularesas atividades extracurricularesas atividades extracurriculares

Para além da integração dos valores com os temascurriculares, vale destacar as atividades extracurriculares. NestePrograma para o desenvolvimento integral dos educandos, éressaltada a importância de envolvê-los em atividades alémdos momentos de sala de aula, que promovam boas qualidadesfísicas e psíquicas, permeadas de valores humanos.

Dentre as atividades extracurriculares existentes,citaremos algumas: esportes, teatro, debates, clubes,excursões, atividades ambientais, atividades de serviço.

Sob esta concepção, os educandos devem serestimulados, desde a tenra idade, a ter espírito esportista, oque envolve, diretamente, o saber lidar com o ganhar e operder; saber se relacionar em equipe, estimulando osentimento de responsabilidade perante o time.

Através do teatro, as crianças, ao representarem seuspapéis, têm toda oportunidade de trabalhar com os ValoresHumanos, incluindo, também, a criação e produção de peças.

A promoção de atividades de debate pode levar oeducando a discutir assuntos que o leve a refletir sobre suaspróprias opiniões, aprimorando-as, através da troca deexperiências e argumentações.

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As escolas podem organizar, também, clubes de artes,esquinas poéticas, competições de redação, buscando sempreatrelar tais atividades aos Valores Humanos; além derealizarem excursões para visitar monumentos antigos,museus, galerias de arte ou outros locais na natureza.

Envolvendo diretamente o contato com o meioambiente, as crianças são estimuladas a plantar árvores,cultivar verduras e flores, reciclar papel, entre outras tarefas.

Em relação às atividades de serviço, os educandos sãoencorajados a assumir responsabilidades, tais como: varreras salas, manter os banheiros limpos, recolher os lixosespalhados pela escola, visitar idosos e orfanatos. A execuçãodestas atividades resulta na expansão, cada vez maior, de suaconsciência social.

Após apresentamos, no decorrer deste capítulo, aestrutura de atividades práticas do Programa de Educaçãoem Valores Humanos de Sathya Sai Baba, faremos, a partirdeste ponto, a articulação desta proposta de educação como postulado teórico de Ken Wilber, nosso eixo teóriconorteador, discutido em capítulos anteriores.

Como vimos, Wilber nos mostra que o ser humano éum ente de múltiplas dimensões, as quais podem serrepresentadas pelos quatro quadrantes: individual-subjetivo(intencional), individual-objetivo (comportamental), coletivo-subjetivo (cultural) e coletivo-objetivo (social). O Programade Educação em Valores Humanos, por sua vez, trabalhacom seus educandos através de dois métodos: o direto e oindireto. Assim, numa tentativa de integração da teoria deWilber com a prática do Programa de Educação em ValoresHumanos, podemos dizer que eles se integram, na medidaem que este último se preocupa tanto com a formação dadimensão subjetiva quanto da objetiva de seus educandos, ouseja, contempla os quatro quadrantes.

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As técnicas do método direto – harmonização, citação,conto, música e atividades integracionais – podem serrelacionadas às dimensões individual-subjetiva (intencional) ecoletiva-subjetiva (cultural), pois verificamos a preocupaçãodos idealizadores do Programa com os aspectos da dimensãocultural, porquanto, a todo o momento, eles respeitam adiversidade cultural peculiar a cada país para a aplicação dametodologia, incentivam o trabalho em equipe, estimulam aconstrução de amizades, exaltam a importância do respeitoaos pais e a necessidade de se estabelecer boas relaçõesinterpessoais tanto dentro do ambiente escolar quanto doambiente extra-escolar. Para o desenvolvimento destadimensão, as técnicas de citação, conto, música e atividadesintegracionais podem ser aplicadas com os educandos.

A preocupação dos idealizadores do Programa com osaspectos da dimensão intencional aparecem quandoverificamos a exaltação da necessidade de desenvolvimentodo sentimento de solidariedade, da necessidade dos educandosdarem atenção a seu eu interior, enfim, a necessidade de cadade ser humano se autoconhecer, para que possa se auto-realizar.

A aplicação da metodologia dos Valores Humanosintegrada às atividades curriculares pode ser relacionada àdimensão objetiva dos quatro quadrantes: individual-objetiva(comportamental) e coletiva-objetiva (social). É nessasdimensões que se trabalham os conhecimentos intelectivos,essencialmente cognitivos, que independem do subjetivo, aindaque, conforme foi ilustrado, e segundo os pressupostos doPrograma, haja uma tentativa de integração dos ValoresHumanos nas disciplinas curriculares.

Assim, a teoria de Wilber pode auxiliar nafundamentação prática do Programa de Educação em ValoresHumanos, na medida em que se preocupa com a formaçãointegral dos seres humanos.

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Fazendo uma análise questionadora do referidoPrograma, verificamos, em alguns momentos, que a práticaeducativa tem um cunho moralizante, fato que nãoidentificamos na concepção educacional de Sathya Sai Baba.Isto nos ensina que há salto qualitativo entre a teoria e prática.Podemos inferir, portanto, que isso acontece porque não foiSai Baba quem criou o Programa, mas seus devotos, ou seja,seres humanos que são diferentes entre si.

Cabe ressalvar que, ao contrário dos Capítulos 2 e 3,nos quais utilizamos material bibliográfico de autoria do próprioSai Baba, neste capítulo, utilizamos o material confeccionadopelas Instituições Oficiais, responsáveis pela disseminação dotrabalho de Sai Baba. Isso não reduz a importância dessetrabalho, mas sinaliza que pode haver algumas lacunas entreos discursos. Entretanto, essas lacunas são de ordem estruturale podem ser suprimidas ao longo do tempo.

Neste sentido, por mais que a metodologia do Programade Educação em Valores Humanos não se proponha a realizarum trabalho com teor religioso, é interessante assinalar anecessidade de as escolas, que se proponham a aplicar essametodologia, trabalharem de modo que todos secomprometam pessoal e profissionalmente com a filosofia.Por este motivo, a incorporação dessa metodologia depende

da integração entre pais, alunos e professores.

Insistimos em realçar a importância essencialmentefundamental dos pais, porquanto a eficácia do Programa estáatrelada ao comprometimento de cada um deles. Afinal, oseducadores não educam somente com os conteúdos curriculares,mas também com seu exemplo, sua conduta de vida. Nestesentido, os pais dos alunos estão incluídos nesse trinômio.

É necessário que se crie uma nova cultura. Por estemotivo, acreditamos que as iniciativas de realização deworkshops para apresentação e divulgação da metodologia

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são eficientes em termos de sensibilização dos educadores paracom o assunto. Cabe, portanto, à sensibilidade de cada umdeles aceitar a metodologia. Isso significa que os ValoresHumanos devem ser elementos da prática de vida de cada um.

Assim, os indivíduos formados pelos Valores Humanossão educados pela integralidade e não pela fragmentação.Afinal, o ser humano integral é aquele que já tem consciênciada responsabilidade como dever e da liberdade como direito,tem consciência de sua utilidade individual e social, e age einterage com base não só no conhecimento, mas tambémno autoconhecimento. Eis a meta do Programa de Educaçãoem Valores Humanos: socializar a concepção educacional dacultura Sai, que veio para minimizar, conter e, oxalá um dia,extinguir o caos social que assola a humanidade.

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Inegáveis e inúmeras são as demandas no atual sistemade educação. Vivemos um tempo de profundas e significativastransformações, a serem mais facilmente compreendidasem função do grau de consciência dos sujeitos diretamenteenvolvidos com tal nobre causa: a de educar integralmenteo ser humano.

Encontramos, nos livros de Ken Wilber e nos discursosde Sathya Sai Baba, algo maior do que aquilo que elesforam capazes de expressar diretamente, através de suasobras. Trabalhamos com a suposição de que eles têm umavisão muito mais aguçada e sutil do que conseguem explicar,através das linguagens da psicologia transpessoal ou doscontos épicos mergulhados em sensibilidade humana eespiritualidade universal, e que nossos órgãos sensoriais sãocapazes de absorver.

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As obras desses dois pensadores, um ocidental, cientistae americano, o outro oriental, espiritualista e indiano, aoserem compartilhadas e, portanto, aproximadas, nospossibilitaram identificar suas contribuições para a educação,no sentido de conduzir de dentro para fora e, por isso,manifestar nosso Ser.

Compreendemos que a motivação desses doispensadores para realizarem trabalhos acadêmicos, assistenciaise devocionais é a tentativa de oferecer subsídios aos sereshumanos, para que transcendam as limitações de suas visõese vivências atreladas ao cotidiano imediato. O próprio SaiBaba disse que nenhum ser humano pode evitar seu encontrocom o divino, porquanto ele funciona como uma força deatração superior aos limites da vida humana. Assim, o quenos atraiu para eles foi precisamente o que tentavamcompartilhar e nos oportunizar, através de seus trabalhos: abusca do significado e do papel da educação, integrandointelectualidade, cientificismo, cognitivismo e, sobretudo, adimensão além da razão.

Por este motivo, neste momento, podemos pensar em“lampejos de respostas” aos questionamentos realizados naintrodução deste livro, a partir de todo o estudo teóricorelativo ao pensamento de Sai Baba e seus desdobramentospara a teoria e a prática de uma educação integral. Dizemos“lampejos”, porque sabemos que a vida humana,inevitavelmente, é um momento de experimentos. E assimcomo a vida se prova pelo movimento, a experiência humanaé uma experiência em movimento, através de nossossentimentos, pensamentos e ações. Por isso, o máximo quepodemos fazer é tecer comentários, oriundos de nossapesquisa, a respeito desses movimentos de sentir, pensar eagir, inerentes a cada ser humano em seu dia-a-dia de relações.Esses movimentos, cuidadosamente analisados, podemreverter a dura realidade do contexto educacional que

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presenciamos na contemporaneidade.

Aqui, relembramos nossa indagação principal:

Como construir uma proposta pedagógica quefavoreça a formação integral do ser humano e,portanto, a expansão da consciência?

Bem como nossas indagações secundárias:

Que tipos de conhecimentos são necessários paraa formação integral do ser humano?

Que tipo de aptidões, habilidades, competências evalores são indispensáveis para sua formação?

Enfim, como deve se dar a prática educativa?

Para responder a essas questões, debruçamo-nos, aolongo de três anos, sobre a concepção educacional integraldo Avatar Sri Sathya Sai Baba, utilizando como moldurateórica para essa abordagem as contribuições de Ken Wilber.Este filósofo nos auxiliou na compreensão e sistematizaçãodo referido pensamento de uma educação integral,fundamentada na concepção de Valores Humanos, quedemonstrou, inclusive, envolver os quatro pilares da educaçãopara o século XXI propostos pela UNESCO: o aprender aconhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e oaprender a ser; este último, integrando, em si, as diversasdimensões da vida e norteando-as.

A partir das pesquisas realizadas, pudemos confirmar anecessidade de uma educação integral, através dos ValoresHumanos, como meio de superação do desenvolvimentounilateral das potencialidades humanas e, por conseguinte,do predomínio da ciência empírica – razão instrumental –sobre as outras esferas – moral e arte, incluindo tanto adimensão externa quanto a dimensão interna do ser humano.

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Constatamos também que a proposição de uma educaçãointegral envolve uma efetiva e peculiar revolução/transformação do modo dualístico de conceber a realidadehumana que incorpora corpo e alma, pensamento esentimento, ciência e religião, objetividade e subjetividade,individualidade e sociedade, convertendo, dialeticamente, asdualidades em totalidades, a partir de um referencial integralda existência humana.

O projeto educativo pesquisado neste livro refere-se,pois, à compreensão dos seres humanos, enquanto educadorese educandos, como organismos vivos, capazes de sentir,pensar, agir e construir valores. Essa compreensão aproxima-os, cada vez mais, de si mesmos, como um modo decompreender a realidade que reside em todas as coisas, emprol do equilíbrio dinâmico nas relações do dia-a-dia do viver.

O educador, fundamentado nos princípios da educaçãointegral, a partir dos Valores Humanos, necessita, em funçãoda pesquisa realizada, ser o exemplo da busca de integração,em princípio, em seu próprio ser, demonstrando, porconseguinte, através de sua conduta, seu grau de consciência.Afinal, medimos nosso grau de consciência através de nossaconduta; e toda conduta é um exemplo e todo exemplo,enquanto não educa, minimamente, motiva. Por isso, cabeao educador buscar sentir, pensar e agir, integralmente, nasrelações cotidianas, embasando-se em Valores Humanos, parapoder favorecer a mesma experiência aos educandos.

Educador e educandos, interagindo em prol deintegração, ou seja, em prol do equilíbrio dinâmico nasrelações, demonstram a essência do programa de educaçãoem Valores Humanos. Com isto, confirmam a relevânciadessa concepção da educação integral pelos Valores Humanosde Sai Baba, bem como a contribuição do pensamento deKen Wilber que, ao compreender integralmente o ser humano,

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contextualiza a perspectiva de uma teoria e uma prática deeducação integral.

Neste sentido, ainda que não tenha formulado umateoria com o olhar para a educação, Wilber ensinou que aeducação não necessita ficar circunscrita ao modo dualísticode conhecer a realidade. Através de seus educadores, ela jápode ser transmitida por um meio não-dual, não-fragmentado,que não privilegie o aspecto cognitivo em detrimento doespiritual, enfim, um meio unitivo, que vise aodesenvolvimento do ser humano e sua integração consigomesmo e com o cosmo. Enfim, Wilber ensinou que o serhumano tem possibilidades de alcançar níveis cada vez maissutis de consciência.

Sob esta ótica, a educação não pode ser resumida aoslivros e fórmulas, mas deve incluir as dimensões subjetiva esocial do ser humano, de modo que contribua para seudesenvolvimento pessoal, profissional e espiritual. Essaintegração pressupõe autoconhecimento e, conseqüentemente,o reconhecimento de suas potencialidades e limitações paraconsigo e para com a sociedade em que vive.

A educação, nesta perspectiva, deve agir com o fim deconstruir a vida do ser humano de forma individual e coletiva.Afinal, a vida se prova pelas relações que os seres humanosestabelecem entre si e com os objetos e coisas.

A tradição acadêmica está acostumada ao saber positivoe, por este motivo, tende a minimizar a importância dasabordagens integrais. Isso não quer dizer que a psicologiatranspessoal seja mais importante que a metodologia científica,mas que as duas necessitam se unir para reconhecer acomplexidade humana. Nesse contexto, as dimensões interiores(do EU e do NÓS) precisam estar integradas com as dimensõesexteriores (do ELES), ou seja, o ser humano deve estar imersono bojo dos quatro quadrantes teorizados por Wilber.

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Com isso, confirmamos, a partir da teoria de Wilber,que uma educação integral deve contemplar as quatrodimensões do ser humano (objetiva, subjetiva, interobjetiva eintersubjetiva), assim como seus níveis de ser e de conhecer(sensorial, mental e espiritual), portanto, a unidade doconhecimento. Logo, deve contemplar tanto a significaçãodo subjetivo quanto do objetivo, tanto do individual quantodo coletivo; tanto do nível de consciência sensorial, quantodo mental e do espiritual.

Enfim, uma educação que integre “todos os níveis etodos os quadrantes”, ou seja, uma educação que despertenos educandos todas as potencialidades. Estes princípios sãoatendidos pelo Programa de Educação em Valores Humanos,através da disseminação da cultura Sai Baba pelos quatroextremos do mundo.

Não podemos deixar de dizer que o estudo da culturaSai, sob a perspectiva acadêmica, foi uma experiênciadesafiadora. Fez-nos enxergar a pessoa de Sai Baba comoum educador e não como um Avatar, prática comum entreseus devotos, espalhados por diferentes lugares do mundo.

Podemos dizer que ele, seguramente, desenvolve umtrabalho que acalenta o corpo físico e a alma de milhões deseres humanos, não falando em nome de religião alguma,mas disseminando que sua missão é fazer com que o serhumano reconheça sua Essência Divina e A manifeste em seucotidiano de vida, através da prática dos Valores Humanos.

Nesse contexto, a análise sobre a vida e a obra de SaiBaba, em suas diferentes categorias – assistencial, devocionale educacional –, nos ensinou que, enquanto pesquisadores,não podemos ter um olhar de apego, tampouco de aversão,mas de equilíbrio e ponderação; enfim, nos ensinou quepodemos encontrar respostas para as contingências da vida,através da ciência, filosofia e/ou espiritualidade.

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Ao estudar, de forma aprofundada, os fundamentosteóricos norteadores dessa Educação baseada em ValoresHumanos, propostos por Sai Baba, identificamos outramaneira de ver as coisas em ciência, filosofia e religião, bemcomo o reflexo desse olhar no processo formal de educação,à luz, inclusive, dos postulados de Wilber.

A existência de valores, na concepção e na práticaeducativa, nos indicou a possibilidade efetiva de favorecer aformação integral do indivíduo. Ao tratar dos valores, pudemosvislumbrar condutas humanas éticas por parte dos educadorese da escola, com indicativos pedagógicos que visavam conduzirao desenvolvimento dos níveis de conhecimento sensório, damente e do espírito, contribuindo para a escolha de caminhosnão corruptos, não violentos e não voluptuosos, nas diferentese integráveis dimensões do viver.

Entendemos, ao realizar a presente pesquisa, que aeducação deve ser compreendida como um processo decondução de dentro para fora, que garanta ao educando ascondições, para que desenvolva todas as potencialidades everifique as possibilidades factíveis de auxiliá-lo tanto intelectualquanto moralmente a partir dos Valores Humanos. Vale lembrarque esses valores são despertados no interior de cada serhumano e explicitados no viver cotidiano, através das relações.Pensar a educação nesse contexto incluiu tanto a perspectivatradicional quanto a perspectiva espiritual de ação.

Estudando os cinco focos principais da filosofia daeducação – a finalidade da educação, o conhecimento, afunção da escola, o papel do educador e o desenvolvimentointegral do educando –, configuramos um modelo deeducação que tem como orientação os Valores Humanos, apartir de uma análise dos discursos de Sai Baba no decorrerdos últimos 50 anos.

A finalidade da educação, na concepção de Sai Baba,

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como vimos, é a formação do caráter, incluindo virtudes, taiscomo a paciência, a tolerância, a compaixão, a integridade,a humildade, entre outras, bem como o desejado equilíbrioentre pensamento, palavra e ação, integrando, através dapráxis pedagógica, ações oriundas não só da cabeça, mastambém do coração.

Ao adentrar nessa temática, verificamos que o maiordesafio do ser humano é, de fato, compreender a vida. Paratal, ele lança mão de sua consciência, demonstrada atravésde sua conduta, que revela seu caráter. Este, por sua vez,favorece o reconhecimento do verdadeiro valor da vida.

A educação, conforme verificado, favorece conduzirsempre ao discernimento, a partir do conhecimento, daaproximação e da identificação de Valores Humanos, embusca de unidade entre a ciência, a estética e a ética. Nessecontexto, a conduta com base em Valores Humanossobressaiu-se no processo de educação em relação aoconhecimento livresco, exterior, conceitual e, porque nãodizer, superficial. Ultrapassando os limites do conhecimentolivresco, percebemos, através dos estudos de Sai Baba, que atríade Ser-Consciência-Bem-aventurança compõe o trinômioda natureza do ser humano e se apresenta como seus atributosessenciais. Eis porque entendemos que não é possível falarde ciência sem consciência. Esta compreensão reforça anecessidade de a educação integrar o conhecimento científicoe a espiritualidade, ou seja, o saber sobre o mundo externo eo mundo interno.

Com isso, confirmamos, apoiadas na concepção de SaiBaba, que o principal significado da educação é revelar aspotencialidades – física, mental e espiritual – dos educandos,desenvolvendo suas qualidades e despertando suas faculdadesinatas, tendo como suporte basilar os Valores Humanos.

Os conhecimentos, nessa perspectiva, demonstraram

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ser construídos sempre assentes nos Valores Humanos,equilibrando, de forma cada vez mais efetiva, os padrões daeducação enfaticamente objetivos, livrescos e mentais, quemesclam o conhecimento secular com os conhecimentos doverdadeiro eu, e envolvem o conhecimento espiritual em proldo alcance da felicidade.

Vimos, pois, que ao tratar dos Valores Humanosexistentes no Ser Humano, resgatamos a Verdade, a AçãoCorreta, a Paz, o Amor e a Não-violência, como possibilidadesde transformação do caráter. As evidências do caos mundiale, especificamente, da educação, permitiram-nos perceber aimportância dos Valores Humanos como forças motrizes paracontê-lo, minimizá-lo e, quiçá um dia, extingui-lo, resgatandoa espiritualização dos indivíduos.

Identificamos, também, que o Programa de Educaçãoem Valores Humanos prevê o desenvolvimento dos valoresrelativos – Conhecimento, Talento, Equilíbrio Interior,Gentileza ou Amabilidade e Consciência da responsabilidadesocial pessoal – correlacionados aos absolutos. Estes podemcontribuir para o desenvolvimento dos indivíduos nos aspectosfísico, intelectual, emocional, psíquico e espiritual,especialmente, através das escolas, entendidas como espaçosformais de educação, e também da família.

À escola entendemos caber a tarefa de desenvolver asqualidades divinas da sabedoria em ação, em prol do individuale do social, do desapego e do discernimento comodemonstração de grau elevado de consciência, o que incluitanto a habilidade intelectual quanto as habilidades virtuosas.

O nível de conhecimento que os seres humanosacumularam através dos século, nos faz assumir a postura deexigir, de nós mesmos, padrões de conduta com base emvalores reconhecidos como universais, ou seja, nos fazreconhecer nossa responsabilidade como construtores de um

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novo sistema de educação. Por este motivo, não podemosmais nos permitir ser coniventes, condescendentes etransigentes com meras atitudes reprodutoras do padrão social,que privilegiam, muitas vezes, consumismo, exageros, açõesaquém da razão e invocam o domínio do externo emdetrimento do interno.

Confirmamos, através da pesquisa realizada, que o nãoatendimento às seis metas da educação, expostas e analisadaspor Sai Baba, quais sejam, bom comportamento, bomintelecto, compromisso com a verdade, devoção, disciplina esentido de dever, compromete o cumprimento de umaeducação verdadeira. Assim sendo, acreditamos que ocurrículo das escolas deve priorizar não só o estudo cognitivo-intelectivo, mas aliar a prática dos Valores Humanos nocotidiano, como base do processo educativo, em busca dodesenvolvimento integral dos educandos.

Não podemos esquecer que o educador assume papelessencial para o atendimento deste objetivo, não só porassumir o compromisso de trabalhar os valores com oseducandos, mas por ser desafiado a, primeiramente, praticaros referidos valores, dando o exemplo, a partir de sua própriaconduta. Tratamos, portanto, de um processo de ensino-aprendizagem que integra tanto a educação como os ValoresHumanos, possibilitando o desenvolvimento das qualidadesmínimas da bondade, honestidade, autoconfiança, sabedoriaem ação, desapego e discernimento, cultivando a moralidade,a ética e a espiritualidade.

Verificamos que os estudantes, em seus diferentesestágios de desenvolvimento, devem, outrossim, encaminhar-se na busca da realização e da auto-realização. Deste modo,aprendemos que o educando deve ser preparado para obterrespostas sobre a vida, a finalidade do existir, seucompromisso individual e coletivo, e não apenas para prestaro exame vestibular, ingressar no mercado de trabalho e

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adquirir bens materiais. Deve ser capacitado para sedesenvolver não apenas como profissional, mas, sobretudo,como ser humano.

Confirmamos, neste livro, o equilíbrio necessário entreconhecimento lógico e a sabedoria intuitiva, através dotrabalho simultâneo, com a perspectiva material/objetiva/científica – o conhecimento relacionado ao mundo físico, aomundo da ciência e à perspectiva espiritual/subjetiva/estética– e o conhecimento relacionado ao mundo da arte e damoral, reconhecendo a divindade inerente ao ser humano.

Apenas na dimensão além da razão, o amor se apresentaem sua inteireza, como um dos valores capitais para odesenvolvimento dos indivíduos, fazendo-os compreender aconexão estreita entre o indivíduo, a natureza e Deus.Ressaltamos, nesse momento, o valor das práticas espirituaispara a construção da qualidade do amor.

Aprendemos, com Sai Baba, e com o Programa deEducação em Valores Humanos, que o caráter é deimportância primordial para o crescimento de um indivíduo,ajudando-o no direcionamento do processo de auto-integraçãoe possibilitando-lhe conceber e viver a vida de formaequilibrada. Envolvemos, nesse contexto, as aprendizagenspara além do conhecer, do viver juntos, do fazer, do ser,bem como, equanimamente, saber, sentir e ser, o que incluitodos os níveis, todos os quadrantes, como oportunidadede ser a própria inteligência, sem pensamento.

O Programa de Educação em Valores Humanos seapresentou a nossas análises como uma respeitável propostaeducacional contida na cultura Sai, ainda que, em algunsmomentos, possa ter sido demonstrado como limitado ou tendoum cunho moralizante. Observamos que esse Programa busca,em essência, ensinar aos estudantes que não basta querer ouraciocinar, mas que eles necessitam realizar; que não basta

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saber, mas também sentir e ser; que não basta estabelecerrelações interpessoais e intrapessoais, mas tambémtranspessoais; que não basta ter razão, mas, em seu dia-a-dia,usar o além da razão; enfim, que não basta conhecer, mastambém autoconhecer e, sobretudo, buscar a auto-realização.

Identificamos também que o Programa de Educaçãoem Valores Humanos não tem como proposta compor maisuma metodologia pedagógica ou ofertar uma receita infalívelpara a harmonização dos problemas vigentes no atual sistemaeducacional, mas, além disso, procurar a ordem no seio docaos, ou seja, ensinar aos educandos que não podemosprivilegiar a razão em detrimento da consciência, que temosque buscar compatibilizar o conhecimento externo ao internoe, inclusive, a cultura intelectiva que ordena, calcula e raciocinaà cultura espiritual que compreende, concebe e é inteligível.Suas técnicas nos ensinaram que a educação não pode,tampouco deve, ficar circunscrita às carteiras escolares e,sim, extravasar os muros da escola e alcançar os lares dascrianças e professores. Por isso, a eficácia do Programadepende da integração da tríade professor-alunos-pais.

Verificamos ainda que a proposta da OrganizaçãoSathya Sai, através dos Institutos de Educação, é operar noseio de sociedades do mundo inteiro, respeitando aspeculiaridades culturais, a fim de garantir um aspectohumanista a todos os ramos da atividade humana, religiosa,cultural, científica, etc. Essas instituições têm por objetivoestabelecer a unidade essencial de todas as crenças e propagar,através de exemplos e práticas, os princípios de Verdade,Ação Correta, Paz, Amor e Não-violência.

Cabe assinalar que a Índia foi o país disseminador dasexperiências pedagógicas do Programa de Educação emValores Humanos. Atualmente, esse programa é aplicadoem diversos países, entre eles Espanha, Estados Unidos,Alemanha, Inglaterra, Colômbia, Venezuela, México,

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Argentina, Tailândia e Zâmbia. Particularmente, no Brasil,todas as regiões federativas já tiveram acesso aos trabalhosdesenvolvidos pelo Instituto Sathya Sai de Educação, atravésdos seminários de sensibilização para educadores em ValoresHumanos. Em Salvador, essas atividades já deram o primeiropasso com a realização de oficinas pedagógicas para criançase adolescentes.

Vimos que a mensagem em prol dos Valores Humanosse espalhou, ultrapassando barreiras nacionais e idiomáticas,adquirindo universalidade em seu apelo à humanidade, aoestabelecer diálogos profundos com cientistas, filósofos,empresários, políticos, juristas, artistas, educadores eespecialistas de outros ramos do conhecimento.

Enfim, estamos mais do que confiantes, estamos convictase certas de que a educação deve se dirigir à totalidade do serhumano, e não apenas a uma ou outra de suas dimensões oua um ou outro de seus níveis.

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A visão de Wilber e de Sai Baba podem ser integradasnum todo único, permitindo-nos constituir um olhar para aeducação integral do ser humano.

Em Wilber, temos quatro dimensões:

a dimensão do EU, individual e objetiva, queenvolve a versão científica e aborda os componentesindividuais observáveis do universo – átomos,moléculas, incluindo organismos mais complexos;

a dimensão do NÓS, coletiva e objetiva, queenvolve as relações constituídas pelas configurações

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sistêmicas da realidade – a sociedade, os sistemasnaturais, entre outros;

Ambas descritas na linguagem do ELE, que se expressapela ciência e tecnologia.

a dimensão do EU, individual e subjetiva, queenvolve a estética, a consciência, a subjetividade, aauto-expressão, a sinceridade;

e por fim, a dimensão do NÓS, coletiva e subjetiva,que envolve a ética, a moral, a cultura.

Vivenciamos, ao mesmo tempo, o estético (EU,espiritualidade), o ético (NÓS, cultura) e os comportamentosindividual e sistêmico, externos. Uma visão integral do serhumano, nessa perspectiva, implica na consciência e navivência dessas quatro dimensões, articuladas em três níveis:

nível sensório, através do qual percebemos o mundoexterior e vivenciamos as experiências sensoriais;

nível da mente, através do qual vivenciamos osconhecimentos racionais e/ou intelectivos,compartilhando o mundo da lógica, imagens econceitos;

e, nível do espírito, através do qual podemosvivenciar as experiências unitivas/diretas, a partirda ampliação da percepção, em um níveltranscendental.

Wilber se serve, portanto, desses dois olhares integradossobre a vida humana – um olhar horizontal, que envolve asdimensões, e um vertical, que envolve os níveis – para abordara consciência como uma holarquia, ou seja, uma hierarquianatural organizada em uma ordem de totalidades crescentes,em que a totalidade de um determinado nível da hierarquiaforma parte da totalidade própria do nível seguinte. Uma

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visão integral do ser humano, no ver de Wilber, implica naconsciência e na vivência dessas quatro dimensões, que seexpressam nos quatro quadrantes, com seus níveis respectivos.

Em Sai Baba, temos os cinco Valores Humanos:

verdade, que é universal e tem que existir emqualquer lugar, no átomo ou no cosmos e deve serdemonstrada em pensamento, sentimento e ação,sendo a verdadeira base da existência;

ação correta, está diretamente relacionada com aVerdade; é o reflexo da unidade entre pensamento,sentimento e ação;

paz, se refere ao resultado do pensar, sentir e agirintegrados do ser humano, demonstrada pelaexpansão da Consciência e domínio dos desejos;

amor, compreendido como subjacente a todos osdemais valores, considerado como o dever maisimportante a ser desenvolvido pelos seres humanos;

e, não-violência, que se refere ao amor comosentimento, incluindo o que se deve ser plenamente,o que significa evitar causar dor a qualquer ser, sejaatravés do pensamento, do sentimento e/ou da ação.

Integrando essas duas compreensões, temos:

1º) a dimensão do “EU” em Wilber tem seucorrespondente na dimensão da disciplina espiritualem Sai Baba;

2º) a dimensão do “NÓS” em Wilber tem seucorrespondente nos valores do Amor, Paz, AçãoCorreta e Não-Violência de Sai Baba;

3º) as dimensões do “ELE” em Wilber tem em SaiBaba o correspondente da Verdade.

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Sai Baba, ao contrário de Wilber, não apresenta aperspectiva do desenvolvimento, mas isso pode ser traduzidoem sua insistência na disciplina e na formação do caráter.

Tendo presente os estudos de Sai Baba, à luz daconcepção teórica do desenvolvimento humano apresentadapor Wilber, propomos que a educação integral do ser humanoleve em consideração a consciência das dimensões do EU,do NÓS e do ELE, pautadas em Valores Humanos.

Aqui, sentimos a necessidade de demonstrar, em funçãode experiências pregressas e, especialmente, a partir dosestudos que referendam este livro, uma visão sintética denossa concepção de educação integral e seus reflexos diretosna prática educativa, destacando o papel da consciênciaimbuída de Valores Humanos no sistema formal de educação.

Segundo Cipriano Luckesi203, a consciência não éabstração, algo intocável, mas aquilo que somos na totalidadede nosso ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensõesdo corpo, da personalidade (emoção) e da espiritualidade.Ele enuncia que a consciência não é dada plenamentemanifesta; ela nos constitui e, para que se manifeste, necessitade nosso desenvolvimento; ou seja, na medida de nossodesenvolvimento, ela se expressa.

Antônio Damásio204, por sua vez, entende a consciênciacomo a chave, para que se coloque sob escrutínio uma vida,seja isso bom ou mau; é o bilhete de ingresso, nossa iniciaçãoem saber tudo sobre fome, sede, sexo, lágrimas, riso, prazer,intuição. Na medida de seu desenvolvimento, a consciênciacultiva interesse pelos outros e aperfeiçoa a arte de viver.

Em nossa concepção, a consciência é o que somos; nosdesenvolvemos na medida em que ela se desenvolve. Quandoela se manifesta, nós nos manifestamos, através do sentir,querer, pensar, reconhecer, ousar e raciocinar, através das

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relações que estabelecemos no dia-a-dia, seja com pessoas,seres, pensamentos e/ou sentimentos. A consciência,portanto, é entendida como a força interior que nos impelea exteriorizá-la sob a forma de ação. Mas, para isso,precisamos integrar nosso sentir, pensar e agir no cotidiano.Nossos sentimentos, pensamentos e atos nada mais são doque expressões de nossa consciência.

A partir do exposto, vale reforçar que o caminho do serhumano é o despertamento de sua Consciência como tarefaemergencial, inclusive e principalmente, através da Educação,ainda que tenhamos muitos limites e/ou obstáculos para tal.

A Educação tem por finalidade auxiliar os educandosnesse processo de desenvolvimento dos estados deconsciência, o que, em síntese, significa o desenvolvimentode suas potencialidades. Precisamos, por conseguinte, de umapedagogia que esteja de acordo com as pesquisas sobre

consciência. Para Stanislav Grof205, resultados maisambiciosos são inconcebíveis, sem que se introduzam aespiritualidade e a perspectiva transpessoal na educação.

Na perspectiva da abordagem transpessoal, surge espaçopara tratarmos da consciência na dimensão para “além doego”, envolvendo, ao mesmo tempo, a maneira de sentir,pensar e agir, integrando todos esses elementos nos diversosníveis de desenvolvimento do ser humano.

Aqui, a consciência é tomada como a qualidadeessencial do ser humano; por ser o centro dele mesmo,garante sua hominização. O desenvolvimento do ser humanose expressa pelo desenvolvimento de sua consciência. Esta,por sua vez, é expressão do que o ser humano é e semanifesta na medida de seu desenvolvimento. Portanto, podeser concebida como uma das propriedades mais significativasda matéria em hominização.

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Nossa experiência sugere, em função dos estudos quevimos realizando ao longo dos últimos anos, que o maior desafiodo ser humano é compreender a vida. Para alcançar esseentendimento, ele lança mão de sua consciência. Assim, quantomais desenvolvida for sua consciência, tanto maior será suacompreensão acerca da vida. Parece-nos claro que a consciência,quando despertada e/ou construída em grau significativo, ajudao Ser Humano a eleger valores éticos, estéticos e morais, cadavez mais amplos, na direção da universalidade.

A educação, por sua vez, não pode ficar alijada desseprocesso. É chegada a hora de tratarmos da Consciência naprática pedagógica, buscando contribuir, efetivamente, parao desenvolvimento humano como um todo. A educaçãointegral, fundamentada no estudo da consciência, por suavez, responde aos anseios da educação para o século XXI, apartir de um método educativo que privilegia o ensino e facilitaa aprendizagem. Com efeito, essa proposta de educação,por sua própria natureza, necessita ser exercida em todos osâmbitos das instituições de ensino.

É neste contexto que cabe a proposição urgente do estudodos Valores Humanos no ensino formal. Essa visão contempla,pois, o objetivo e o subjetivo, e atende a abordagem integraldo desenvolvimento humano. Considerando que o ser humanose desenvolve desde seu nascimento até sua morte e, nesseprocesso, sua consciência se amplia na direção dauniversalização, sugerimos uma educação integral, alicerçadano estudo dos Valores Humanos, que propicie odesenvolvimento da consciência. Este desenvolvimento se dánas dimensões subjetivas do EU (individual) e do NÓS(comunitário) e se manifesta nas dimensões do EU(comportamental) e do NÓS (sistema), perpassando as diversasidades – infância, adolescência, maturidade e velhice – e osdiferentes contextos – família, escola, comunidade, ambientesde trabalho, ambientes sociais, ambientes sagrados.

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Na escola, que é o espaço que mais diretamente nosinteressa, os Valores Humanos devem ser trabalhados emtodas as disciplinas do currículo, em todos os níveis de ensino,tal como observamos no Programa de Educação propostopor Sai Baba. Essa prática, atualmente, é denominada detransversal.

Essa perspectiva de escola vislumbra um novo panoramamundial da educação, permitindo-nos caminhar para alémdas limitações e restrições das dimensões material, objetiva ecientífica, incorporando, ao mesmo tempo, as dimensõesespiritual, subjetiva e estética. Afinal, sair do mundo dasilusões, limitações, restrições, libertar-nos dos grilhões denossa própria inferioridade e volver-nos para a senda dabusca do novo não é tarefa de fácil execução, porém quemsai não quer mais voltar.

Temos a esperança de ter contribuído, com este livro,para o repensar da educação, indicando, a partir dos estudosde Sai Baba e de Wilber, caminhos que conduzam aoconhecimento, autoconhecimento e auto-realização do serhumano como o maior legado da proposta teórico/práticade uma educação integral, pautada em Valores Humanos.

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_______. O livro das preces. Salvador: OCIDEMNTE – 7º CDE,2003.

_______. Fazer do homem um ser humano – quanto ao serhumano. Salvador: OCIDEMNTE – 7º CDE, 2003.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL. Atransformação pela educação espiritual. 2. ed. Rio deJaneiro: CC&P editores, 1999.

ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI; COMITÊCOORDENADOR DO BRASIL. Palavras de Sathya Sai. v.1. Rio de Janeiro: CC&P editores, 1999.

PARRA FILHO, Domingos; SANTOS, João Almeida.Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Futura, 2000.

PRIDDY, Robert. Fonte do sonho: meu caminho até SaiBaba. São Paulo: Madras, 2002.

PUEBLA, Eugenia. Educar com o coração. 2. ed. São Paulo:Peirópolis, 1997.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos etécnicas. 3. ed. rev. amp. São Paulo: Atlas, 1999.

SCHNITMAN, Dora (Org.). Novos paradigmas, cultura esubjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

SILVA, Rinalva Cassiano (Org.). Educação para o séculoXXI: dilemas e perspectivas. Piracicaba, SP: UNIMEP, 1999.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

_______. Uma breve história do universo: de Buda a Freud:religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio deJaneiro: Nova Era, 2001c.

YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holísticapara o século XXI. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

Referências On-lineReferências On-lineReferências On-lineReferências On-lineReferências On-line

Discursos proferidos por Sai Baba disponíveis emhttp://www.sathyasai.org.br

20032003200320032003

Ano Novo. Ano Novo Ocidental - Local: Prashanti Nilayan -Data: 01/01/03

20022002200220022002

Transformem o mundo em um paraíso de amor. Festival deShankranti - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/01/02.

Vivam na consciência divina. Encontro Esportivo - Local:Prashanti Nilayam - Data: 14/01/02.

Acendam a lâmpada da moralidade em seu coração. DivinoDiscurso - Local: Bangalore - Data: 19/01/02.

Ídolos são indicadores da divindade. Mahashivaratri - A GrandeNoite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 12/03/02.

Ouçam o Mestre do universo e transformem-se em sereshumanos ideais. Aniversário de Sathya Sai Baba - Local:Prashanti Nilayan - Data: 23/11/02.

Amor e moralidade - As Necessidades do Momento. Natal - ONascimento de Jesus - Local: Prashanti Nilayan - Data: 25/12/02.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

20012001200120012001

Comecem uma vida nova e divina neste ano novo. Ano NovoOcidental - Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/01/01.

Hospitais são para servir aos pobres e necessitados. Viagens -Local: Bangalore - Data: 19/01/01.

Usem os recursos naturais de forma adequada. Mahashivaratri- A Grande Noite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data:21/02/01.

Tenham fé no eu superior. Mahashivaratri - A Grande Noite deShiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 22/02/01.

Conhece a ti mesmo. Ano Novo Tamil e Télugu (Ugadi) -Local: Prashanti Nilayam - Data: 26/03/01.

Ramayana - a essência dos Vedas. Rama Navami - Dia deRama - Local: Prashanti Nilayam - Data: 02/04/01.

Santifiquem suas ações com amor. Ano Novo Tamil e Télugu(Ugadi) - Local: Brindavan - Data: 14/04/01.

Cultivem o amor e se tornem divinos. Viagens - Local:Bombaim - Data: 01/06/01

Usem o nascimento humano para ter a experiência da bem-aventurança divina. Eventos na Área de Educação - Local:Prashanti Nilayam - Data: 04/07/01.

Eu e vocês somos um. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual- Local: Prashanti Nilayam - Data: 05/07/01.

O sacrifício é o meu prazer. Krishna Janmashtami - Dia deKrishna - Local: Prashanti Nilayam - Data: 11/08/01.

Vinayaka - o mestre do poder e do intelecto. GaneshaChaturthi - Dia de Ganesha - Local: Prashanti Nilayam - Data:22/08/01.

Seja próximo e querido a Deus. Dia de Onam - Local:Prashanti Nilayam - Data: 31/08/01.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Os princípios de vida do homem. Padukas - Festival dasSandálias Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 10/09/01.

Promovam a moralidade para enaltecer a natureza humana.Dasara - Festival das Mães Divinas - Local: Prashanti Nilayam -Data: 20/10/01.

As boas mães são o orgulho da nação. Dia das Mulheres -Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/11/01.

O mundo precisa de mulheres ideais. Eventos na Área deEducação - Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/11/01.

Princípios da educação. Eventos na Área de Educação - Local:Prashanti Nilayam - Data: 20/11/01.

Divinas respostas. Eventos na Área de Educação - Local:Prashanti Nilayam - Data: 21/11/01.

A Humanidade e o caráter são as marcas da verdadeiraeducação. Eventos na Área de Educação - Local: PrashantiNilayam - Data: 22/11/01.

Cultivem o amor a Deus. Aniversário de Sathya Sai Baba -Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/11/01.

Nenhuma religião prega o ódio. Natal - O Nascimento deJesus - Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/12/01.

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Unidade e divindade no ano novo. Ano Novo Ocidental -Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/01/00.

Adquiram o conhecimento de Deus. Encontro Esportivo -Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/01/00.

Realizem todas as suas ações para agradar a Deus. Festival deShankranti - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/01/00.

Santifiquem suas vidas cantando o mantra Gayatri.Upanayanam - Iniciação ao Gayatri - Local: Prashanti Nilayam- Data: 10/02/00.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Os envoltórios do ser interno. Mahashivaratri - A Grande Noitede Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 04/03/00.

Santifiquem suas vidas com sentimentos sagrados.Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva - Local: PrashantiNilayam - Data: 05/03/00.

Santifiquem suas vidas com atos sagrados. Ano Novo Tamil eTélugu (Ugadi) - Local: Brindavan - Data: 05/04/00.

Instalem o princípio de Rama em seus corações. RamaNavami - Dia de Rama - Local: Brindavan - Data: 12/04/00.

Eswarama - a personificação do amor e do sacrifício. Dia deEswarama - A Mãe de Sathya Sai - Local: Brindavan - Data:06/05/00.

A verdadeira educação conduz a divindades. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 15/05/00.

Origem divina dos cinco elementos básicos. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 15/05/00.

Santifiquem seu corpo cultivando virtudes. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 17/05/00.

Deus é o seu único amigo verdadeiro. Cursos de Cultura Indianae Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 20/05/00.

Buddha e seu evangelho de amor. Buda Purnima - Dia deBuda - Local: Brindavan - Data: 21/05/00.

As mulheres são a personificação das virtudes. Ritual deVaralakshmi - Local: Prashanti Nilayam - Data: 11/08/00.

As flores que nunca murcham. Krishna Janmashtami - Dia deKrishna - Local: Prashanti Nilayam - Data: 22/08/00.

Erradiquem a imoralidade para atingir a imortalidade. Dia deOnam - Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/09/00.

Ganaphati confere inteligência e poderes. Ganesha Chaturthi -Dia de Ganesha - Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/09/00.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

A educação deve enfatizar valores. Eventos na Área deEducação - Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/09/00.

As virtudes que unem a família. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 02/10/00.

Aspirem por uma vida divina. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 03/10/00.

O amor é minha única riqueza. Aniversário de Sathya Sai Baba- Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/11/00.

Enfrentem a inveja com amor. Natal - O Nascimento de Jesus- Local: Brindavan - Data: 25/12/00.

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A divindade protege e salvaguarda o homem. EncontroEsportivo - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/01/99.

Cultive o amor em seu coração. Mahashivaratri - A GrandeNoite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/02/99.

Manifestação das divindades no Lingodbhava. Mahashivaratri -A Grande Noite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data:15/02/99.

Desistam da inimizade, desenvolvam a unidade. Viagens -Local: Nova Délhi - Data: 12/03/99.

A glória da cultura indiana. Viagens - Local: Nova Délhi -Data: 12/03/99.

Coloque limites aos seus desejos. Viagens - Local: Bombaim -Data: 14/03/99.

Inicie o ano novo com espírito de amor. Ano Novo Tamil eTélugu (Ugadi) - Local: Brindavan - Data: 18/03/99.

A importância do Ramayana para a vida moderna. RamaNavami - Dia de Rama - Local: Brindavan - Data: 25/03/99.

Pratiquem sadhana com sentimentos puros. Ano Novo Tamil eTélugu (Ugadi) - Local: Brindavan - Data: 14/04/99.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

O caminho real para a divindade. Vishnu - O Preservador -Local: Brindavan - Data: 15/04/99.

O efêmero e o transcendental. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 26/04/99.

Residam na consciência de Deus. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 27/04/99.

A natureza do ser interno. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 28/04/99.

As mulheres simbolizam o sacrifício. Dia de Eswarama - AMãe de Sathya Sai - Local: Brindavan - Data: 06/05/99.

Controlem seus sentidos. Buda Purnima - Dia de Buda - Local:Brindavan - Data: 30/05/99.

O coração é a fonte da verdadeira educação. Eventos na Áreade Educação - Local: Prashanti Nilayam - Data: 26/07/99.

O poder do amor. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual -Local: Prashanti Nilayam - Data: 28/07/99.

Reconheçam o princípio do Eu. Dia de Onam - Local:Prashanti Nilayam - Data: 25/08/99.

Desenvolvam intensa devoção. Krishna Janmashtami - Dia deKrishna - Local: Prashanti Nilayam - Data: 03/09/99.

A verdade emerge da sabedoria. Ganesha Chaturthi - Dia deGanesha - Local: Prashanti Nilayam - Data: 13/09/99.

Sigam os comandos divinos. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/10/99.

A divina energia permeia todo o cosmos. Dasara - Festival dasMães Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 15/10/99.

A essência da cultura da Índia. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 16/10/99.

A juventude deve transformar o mundo. Convenções daOrganização Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 18/11/99.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

A importância da graça da mãe. Dia das Mulheres - Local:Prashanti Nilayam - Data: 19/11/99.

Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Convenções daOrganização Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 21/11/99.

A verdadeira educação liberta. Formatura dos Estudantes doInstituto Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 22/11/99.

A entrega total confere bem-aventurança. Aniversário de SathyaSai Baba - Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/11/99.

O amor divino é a verdadeira religião. Natal - O Nascimentode Jesus - Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/12/99.

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Do negativo ao positivo. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 15/02/98.

O chamado de Bhagavan para um novo estilo de Vida. AnoNovo Tamil e Télugu (Ugadi) - Local: Prashanti Nilayam -Data: 26/03/98.

O sábio e o invejoso. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 26/03/98.

O caminho para o nirvana. Ano Novo Tamil e Télugu (Ugadi) -Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/04/98.

Homem, verdade, amor e Deus – parte I. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 18/04/98.

Homem, verdade, amor e Deus – parte II. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 18/04/98.

A glória de ser mulher. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 19/04/98.

Homem, verdade, amor e Deus – parte IV. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 21/04/98.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Homem, verdade, amor e Deus – parte VI. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 23/04/98.

Buda, essência dos ensinamentos de Buda. a Purnima - Dia deBuda - Local: Prashanti Nilayam - Data: 11/05/98.

Conheça sua verdadeira identidade. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 26/09/98.

Obedeçam às ordens de Deus. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 27/09/98.

O universo inteiro está dentro de vocês. Dasara - Festival dasMães Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 28/09/98.

Deus reside no coração puro. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 29/09/98.

O amor simboliza a divindade. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 30/09/98.

Instalem os pés de Deus em seu coração. Padukas - Festivaldas Sandálias Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 12/10/98.

A unidade é o nosso sopro de vida. Convenções da OrganizaçãoSai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 20/11/98.

Amar a Deus com todo o coração. Convenções da OrganizaçãoSai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 24/11/98.

O sacrifício leva à imortalidade. Natal - O Nascimento deJesus - Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/12/98.

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Que o amor e o sacrifício sejam seus ideais. Festival deShankranti - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/01/97.

A mensagem perene da história de Rama. Rama Navami - Diade Rama - Local: Prashanti Nilayam - Data: 16/04/97.

Pureza, o caminho para a liberação. Buda Purnima - Dia deBuda - Local: Brindavan - Data: 15/05/97.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

O papel da juventude Sai na crise mundial. Convenções daOrganização Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 16/07/97.

Amem a Deus, temam o pecado, protejam os valoreshumanos. Convenções da Organização Sai - Local: PrashantiNilayam - Data: 17/07/97.

Sejam fiéis à verdade: reconheçam, a divindade interna.Convenções da Organização Sai - Local: Prashanti Nilayam -Data: 18/07/97.

Cultivem o caráter – vivam uma vida ideal. Convenções daOrganização Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/07/97.

Manifestem o divino dentro de vocês. Gurupurnima - Dia doMestre Espiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 20/07/97.

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Que Rama viva nos seus corações. Rama Navami - Dia deRama - Local: Brindavan - Data: 28/03/96.

Quem é querido pelo Senhor? Padukas - Festival das SandáliasDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 03/10/96.

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Deus, a trindade e o cosmos. Mahashivaratri - A Grande Noitede Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 28/02/95.

Instalem o reino de Rama em seus corações. Rama Navami -Dia de Rama - Local: Brindavan - Data: 09/04/95.

A proximidade com Deus. Dia de Eswarama - A Mãe deSathya Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 06/05/95.

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Propaguem a mensagem do amor. Natal - O Nascimento deJesus - Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/12/94.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

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Pureza: o caminho para a divindade. Ano Novo Ocidental -Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/01/93.

Santifiquem esportes e jogos. Encontro Esportivo - Local:Prashanti Nilayam - Data: 14/01/93.

A situação do homem de hoje. Viagens - Local: Madras -Data: 21/01/93.

Uma abordagem integral das doenças. Convenções daOrganização Sai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 06/02/93.

Médicos, pacientes, sociedade. Convenções da OrganizaçãoSai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 07/02/93.

Assegurem a graça de Deus através da sinceridade e da fé.Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva - Local: Kodaikanal -Data: 19/02/93.

Sirvam ao divino, cantem o nome. Mahashivaratri - A GrandeNoite de Shiva - Local: Kodaikanal - Data: 20/02/93.

Novos horizontes para o Instituto Sai. Eventos na Área deEducação - Local: Prashanti Nilayam - Data: 04/03/93.

Chaitanya e o proscrito. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 16/03/93.

Samarta Ramadas. Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade- Local: Brindavan - Data: 19/03/93.

Da auto-investigação para a auto-realização. Ano Novo Tamil eTélugu (Ugadi) - Local: Brindavan - Data: 24/03/93.

O martírio de Mansuri. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 26/03/93.

Centelhas do Divino. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 05/04/93.

Confiem em Deus, o único protetor. Ano Novo Tamil eTélugu (Ugadi) - Local: Kodaikanal - Data: 14/04/93.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

O suco, o açúcar e os doces. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Kodaikanal - Data: 26/04/93.

O que as grandes mães significam para a nação. Dia deEswarama - A Mãe de Sathya Sai - Local: Brindavan - Data:06/05/93.

O homem, a mente e o Eu superior. Cursos de Cultura Indianae Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 20/05/93.

Dominem a mente e realizem o Eu Superior.Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 20/05/93.

Além da mente. Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade -Local: Brindavan - Data: 22/05/93.

O homem, a mente e o cosmos – parte II. Cursos de CulturaIndiana e Espiritualidade - Local: Brindavan - Data: 23/05/93.

Da mente ao além da mente. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 24/05/93.

Sigam o intelecto, não a mente. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 25/05/93.

A essência dos Shad-Dharshanas. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 27/05/93.

Inveja - a causa fundamental do mal. Gurupurnima - Dia doMestre Espiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 03/07/93.

O divino e o destino. Convenções da Organização Sai - Local:Prashanti Nilayam - Data: 21/07/93.

Inescrutáveis são os desígnios do Senhor. Krishna Janmashtami- Dia de Krishna - Local: Brindavan - Data: 10/08/93.

Índia: antes e agora. Dia da Independência Indiana - Local:Brindavan - Data: 15/08/93.

Um imperador correto e súditos virtuosos. Dia de Onam -Local: Prashanti Nilayam - Data: 30/08/93.

O papel do avatar no drama cósmico. Ganesha Chaturthi - Diade Ganesha - Local: Brindavan - Data: 19/09/93.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

A glória dos pés de lótus do senhor. Padukas - Festival dasSandálias Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 07/10/93.

A gloriosa herança védica da Índia. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 18/10/93.

O significado dos rituais de sacrifício. Dasara - Festival dasMães Divinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 24/10/93.

A educação deve desenvolver os valores humanos. Formaturados Estudantes do Instituto Sai - Local: Prashanti Nilayam -Data: 22/11/93.

Pureza, paciência, perseverança: os passos para a divindade.Aniversário de Sathya Sai Baba - Local: Prashanti Nilayam -Data: 23/11/93.

A unidade na diversidade. Natal - O Nascimento de Jesus -Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/12/93.

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O princípio divino do Eu. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 28/05/92.

A mensagem dos quatro aforismos da filosofia vedanta: osVeda Vakyas. Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade -Local: Brindavan - Data: 29/05/92.

O poder do amor divino. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Brindavan - Data: 30/05/92.

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Unidade e pureza: a mensagem do ramadan. Ramadan - MêsSagrado do Islã - Local: Prashanti Nilayam - Data: 12/07/83.

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Por que Organizar? Viagens - Local: Hydebarad - Data: 29/03/76

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

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Porca e parafuso. Ano Novo Ocidental - Local: Bombaim -Data: 01/01/71

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Orgulho e queda. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 10/01/70.

Revoluções, resoluções. Festival de Shankranti - Local:Prashanti Nilayam - Data: 14/01/70.

Rama no coração - serviço nas mãos. Viagens - Local:Bangalore - Data: 01/02/70.

O próprio ar que respiram. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 19/02/70.

Escola de hipocrisia. Eventos na Área de Educação - Local:Venkatagiri - Data: 02/03/70.

Uma flor a seus pés. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 04/03/70.

Adorem a pedra como Deus e não Deus como uma pedra.Viagens - Local: Bombaim - Data: 12/05/70.

O trabalho mais rentável. Eventos na Área de Educação -Local: Bombaim - Data: 13/05/70.

Ao lado, atrás e adiante. Viagens - Local: Bombaim - Data:21/05/70.

O positivo e negativo. Viagens - Local: Kalkunte - Data: 01/06/70.

O observador interno. Eventos na Área de Educação - Local:Bangalore - Data: 01/06/70.

O fruto maduro. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 09/06/70.

Deus guru. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual - Local:Prashanti Nilayam - Data: 18/07/70.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Finalidade sim, fim não. Gurupurnima - Dia do MestreEspiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 18/07/70.

Rotular é difamar. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual -Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/07/70.

Um prêmio ao premiador. Viagens - Local: Kadugodi - Data:23/07/70.

A atitude de Arjuna. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 24/07/70.

Um ritual sagrado é como um sacrifício. Divino Discurso -Local: Prashanti Nilayam - Data: 15/08/70.

A quem servir. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 16/08/70.

O Ganges e o mar. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam- Data: 16/08/70.

Luz, amor, alegria. Dasara - Festival das Mães Divinas - Local:Prashanti Nilayam - Data: 03/10/70.

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Esmolas e escrúpulos. Festival de Shankranti - Local: PrashantiNilayam - Data: 13/01/69.

Encantadores rebentos. Cursos de Cultura Indiana eEspiritualidade - Local: Anantapur (Rajahmundry) - Data: 19/01/69.

Mahashivaratri - a grande noite de Shiva. Mahashivaratri - AGrande Noite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 14/02/69.

Amor e reverência. Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva -Local: Prashanti Nilayam - Data: 15/02/69.

Ladrões ou mestres. Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva- Local: Prashanti Nilayam - Data: 15/02/69.

Page 299: Teoria e Prática de uma Educação Integral

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

A repetição do nome de Deus como prática espiritual. Viagens- Local: Bombaim - Data: 10/05/69.

Cultos e culturas. Viagens - Local: Bombaim - Data: 12/05/69.

‘Nele’, mas não ‘Dele’. Viagens - Local: Ahmedabad - Data:15/05/69.

A língua reveladora. Eventos na Área de Educação - Local:Bombaim - Data: 16/05/69.

O desejo de não desejar. Viagens - Local: Bombaim - Data:19/05/69.

As cinco cabeças. Viagens - Local: Madras - Data: 22/06/69.

Espelho e pente. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 26/06/69.

Casa e lar. Eventos na Área de Educação - Local: Bangalore -Data: 26/07/69

A voz do oceano. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual -Local: Prashanti Nilayam - Data: 29/07/69.

Gurupurnima. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual - Local:Prashanti Nilayam - Data: 29/07/69.

O preceptor como Deus. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 03/09/69.

A aranha na mesma teia. Viagens - Local: Rajamundry - Data:10/09/69.

Os elefantes e o leão. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 11/10/69.

Conselho para o escolhido. Dasara - Festival das Mães Divinas- Local: Prashanti Nilayam - Data: 12/10/69.

A nova noite. Dasara - Festival das Mães Divinas - Local:Prashanti Nilayam - Data: 12/10/69.

Barco em boas condições de navegar. Divino Discurso - Local:Prashanti Nilayam - Data: 14/10/69.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Sinal e sintoma da glória. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 15/10/69.

Abandonem a festa à fantasia. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 16/10/69.

Exercício de futilidade. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 17/10/69.

Afirmem com cada respiração. Dasara - Festival das MãesDivinas - Local: Prashanti Nilayam - Data: 18/10/69.

Soldados e generais. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/10/69.

O verdadeiro programa. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 20/10/69.

O passatempo profundo. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 21/10/69.

Conquistem o uno. Dasara - Festival das Mães Divinas - Local:Prashanti Nilayam - Data: 28/10/69.

Beleza e dever. Dasara - Festival das Mães Divinas - Local:Prashanti Nilayam - Data: 28/10/69.

As faculdades de que nós precisamos. Eventos na Área deEducação - Local: Anantapur - Data: 07/11/69.

Os três tronos. Convenções da Organização Sai - Local:Prashanti Nilayam - Data: 20/11/69.

A centésima tarefa e a próxima. Convenções da OrganizaçãoSai - Local: Prashanti Nilayam - Data: 21/11/69.

Fazendo o acabado. Convenções da Organização Sai - Local:Prashanti Nilayam - Data: 22/11/69.

De mim, não para mim.Convenções da Organização Sai -Local: Prashanti Nilayam - Data: 22/11/69.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

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Leite e água. Ano Novo Ocidental - Local: Prashanti Nilayam -Data: 01/01/67.

Estagnação no mesmo nível. Festival de Shankranti - Local:Prashanti Nilayam - Data: 14/01/67.

Lamparinas acesas da mesma chama. Divino Discurso - Local:Prashanti Nilayam - Data: 22/01/67.

O caminho das asas. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 22/01/67.

Não se preocupem com o mundo, mas com o Senhor domundo. Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva - Local:Prashanti Nilayam - Data: 08/03/67.

Nenhum espelho, nenhuma imagem. Mahashivaratri - A GrandeNoite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 09/03/67.

O corpo e o símbolo. Mahashivaratri - A Grande Noite deShiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 09/03/67.

Os que estão por morrer lamentam os mortos. Mahashivaratri- A Grande Noite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data:10/03/67.

De cada garganta, sua melodia. Viagens - Local: Bombaim -Data: 19/03/67.

A chave que os sábios possuem. Eventos na Área de Educação- Local: Bombaim - Data: 21/03/67.

O poderoso mandamento védico. Viagens - Local: Bombaim -Data: 24/03/67.

O apoio de que precisam. Divino Discurso - Local: Jamnagar -Data: 27/03/67.

O mundo, um campo de treinamento. Viagens - Local:Bhavanagar - Data: 28/03/67.

Membros do corpo divino. Viagens - Local: Prashanti Nilayam- Data: 29/03/67.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

A parada do lado da estrada. Eventos na Área de Educação -Local: Prashanti Nilayam - Data: 03/04/67.

Preceito e exemplo. Eventos na Área de Educação - Local:Prashanti Nilayam - Data: 03/04/67.

A inundação destruidora. Convenções da Organização Sai -Local: Madras - Data: 20/04/67.

Serviço Sathya Sai. Convenções da Organização Sai - Local:Madras - Data: 21/04/67.

A viagem na floresta. Convenções da Organização Sai - Local:Madras - Data: 22/04/67.

A corrida e o prêmio. Convenções da Organização Sai - Local:Madras - Data: 23/04/67.

Sejam encantadores de cobras. Gurupurnima - Dia do MestreEspiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/05/67.

Vyasa - o compilador dos Vedas. Gurupurnima - Dia do MestreEspiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/05/67.

Chumbo ou ouro. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual -Local: Prashanti Nilayam - Data: 24/05/67.

O Uno em todos. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 01/06/67.

Raízes na profundidade. Gurupurnima - Dia do MestreEspiritual - Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/07/67.

Cuidem da árvore milenar. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 10/07/67.

Três em um agora. Krishna Janmashtami - Dia de Krishna -Local: Prashanti Nilayam - Data: 25/07/67.

A roda e seu eixo. Viagens - Local: Anantapur - Data: 30/07/67.

A doçura invisível. Viagens - Local: Anantapur - Data: 31/07/67.

O princípio da mente. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 01/10/67.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

O tigre no picadeiro. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 04/10/67.

Os templos ambulantes. Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 04/10/67.

O milagre do amor. Dasara - Festival das Mães Divinas - Local:Prashanti Nilayam - Data: 05/10/67.

Livros como bênção.Dasara - Festival das Mães Divinas -Local: Prashanti Nilayam - Data: 06/10/67.

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A marcha para Deus. Festival de Shankranti - Local: PrashantiNilayam - Data: 14/01/66.

Da presença para a união. Mahashivaratri - A Grande Noite deShiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 17/02/66.

Sintam-se felizes quando forem testados. Mahashivaratri - AGrande Noite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 18/02/66.

Agradem aos homens, agradem a Deus. Mahashivaratri - A GrandeNoite de Shiva - Local: Prashanti Nilayam - Data: 19/02/66.

O volante interior. Viagens - Local: Bombaim - Data: 16/03/66.

O benéfico nem sempre é agradável. Viagens - Local:Bombaim - Data: 16/03/66.

Amem a fonte do amor. Viagens - Local: Bombaim - Data:16/03/66.

Ressentimento e luxúria. Viagens - Local: Bombaim - Data:17/03/66.

Façam da mente um espelho. Viagens - Local: Bombaim -Data: 17/03/66.

Fujam do enredamento. Ano Novo Tamil e Télugu (Ugadi) -Local: Bombaim - Data: 23/03/66.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Reduzam os desejos. Viagens - Local: Poona - Data: 27/03/66.

Metades iguais, não a melhor metade. Eventos na Área deEducação - Local: Anantapur - Data: 18/04/66.

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Meditação sobre a forma e o nome do Senhor. Divino Discurso- Local: Prashanti Nilayam - Data: 23/02/58.

Uma atitude de desafio. Divino Discurso - Local: Chitthoor -Data: 02/03/58.

Coragem. Viagens - Local: Chitthoor - Data: 03/03/58.

Muitas estradas. Viagens - Local: Madras - Data: 24/03/58.

Examinem, experimentem. Viagens - Local: Madras - Data:25/03/58.

Discernimento e desapego. Viagens - Local: Prashanti Nilayam- Data: 22/07/58.

O homem e Deus. Viagens - Local: Prashanti Nilayam - Data:25/07/58.

Tolerância. Viagens - Local: Venkatagiri - Data: 02/08/58.

A bem-aventurança através da dedicação. Viagens - Local:Rajamundry - Data: 01/09/58.

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Vida divina. Divino Discurso - Local: Prashanti Nilayam -Data: 01/04/57.

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Deus como guia. Gurupurnima - Dia do Mestre Espiritual -Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/08/56.

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A entrega total. Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva -Local: Prashanti Nilayam - Data: 01/03/55.

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Veneração na mente. Divino Discurso - Local: PrashantiNilayam - Data: 01/06/53.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

NotasNotasNotasNotasNotas

1 Para melhor compreensão da questão, sugerimos a leitura de A Uniãoda Alma e dos Sentidos, de autoria de Ken Wilber. Nesta obra, sãoapresentadas as características do período moderno.

2 O termo “monológico” é encontrado em várias passagens dabibliografia de Ken Wilber, fruto de suas leituras de Habermas.

3 Ego aqui é entendido como autocentração na própria personalidade,como o centro de onde se pode olhar e decidir, sem se olhar tudo omais. Neste sentido, o ego é voluntarioso e arrogante, mas não podeser entendido como o nosso “eu-identidade”.

4 A abordagem sobre a ontogenia humana pode ser melhor explicadaem sua obra Projeto Atman: uma Visão Transpessoal doDesenvolvimento Humano (1999a), que oferece subsídios para acompreensão do ciclo completo da vida, atravessando as fases pré-pessoal, pessoal e transpessoal.

5 A abordagem sobre a filogenia humana pode ser melhor explicadaem sua obra Después del Edén: una Visión Transpersonal delDesarrollo Humano (1995a), que trata da história do desenvolvimentoda raça humana, com suas respectivas unidades taxonômicas.

6 A Filosofia Perene é a visão de mundo compartilhada pelos principaismestres espirituais, filósofos, pensadores e até cientistas do mundointeiro. Denomina-se perene ou universal porque se encontra implícitaem todas as culturas e em todas as épocas, tanto na Índia, México,China, Japão e Mesopotâmia, quanto no Egito, Tibet, Alemanha ouGrécia. Independente do contexto em que aparece e, já que é umacordo universal sobre o essencial, apresenta traços distintivosfundamentais, tais como: 1) o Espírito existe; 2) o Espírito está dentrode nós; 3) apesar dele, a maioria de nós, seres humanos, vive tãoimersa em um mundo de pecado, separação e dualidade – em umestado de ilusão – que nos resguardamos desse Espírito interno; 4)existe um caminho para sair deste estado de ilusão, um Caminho queconduz à libertação; 5) se seguirmos este Caminho até o final,chegaremos a um Renascimento, a uma experiência direta do Espíritointerno, a uma Libertação Suprema; 6) essa experiência põe fim aonosso estado de sofrimento; 7) o final do sofrimento desemboca naação social amorosa e bondosa para todos os seres sensíveis. Para

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Wilber, este conhecimento constitui a experiência fundamental daidentidade humana e recebe distintas nomenclaturas em razão dasdiferentes religiões ou filosofias que, unanimemente, a têm comoverdade primordial (FREIRE, 2002).

7 Essa é uma expressão criada por Ken Wilber para expressar amultidimensionalidade do ser humano.

8 Segundo Wilber (2001a, p. 51),pode-se entender como holarquiauma hierarquia natural organizada em uma ordem de totalidadecrescente (como, por exemplo, a que vai das partículas até os átomos,as células e os organismos, ou que vai das letras às palavras, às frasese aos parágrafos), onde a totalidade de um determinado nível dahierarquia forma parte da totalidade própria do nível seguinte...

9 A Grande Cadeia é também uma holarquia composta de hólons: oEspírito transcende a alma que, por sua vez, transcende – ao mesmotempo em que inclui – a mente que, por sua vez, transcende – aomesmo tempo em que inclui – o corpo, etc. Neste sentido, cada hólonsuperior engloba e inclui seus predecessores. Esta é a verdadeiranatureza das totalidades/parte, dos hólons e das holarquias, ninhoscada vez mais globais e envolventes. (WILBER, 2000c). Nessa fase,Wilber passa a chamar a Grande Cadeia de Grande Ninho do Ser.

10 Pelo acréscimo da figura do homem de Leonardo da Vinci no centro,pretendendo demonstrar que o ser humano vivencia e se dá nas quatrodimensões.

11 Essa metáfora está estudada em Los três ojos del conocimiento,livro onde Wilber (1999b) examina as três esferas do conhecimento:o reino empírico dos sentidos (olho da carne), o reino racional damente (olho da razão) e o reino contemplativo (olho do espírito),mostrando a forma mais adequada de integrá-las. Ele considera quecada dimensão humana – carnal, racional e contemplativa – tem seuspróprios objetos de conhecimento (sensorial, mental e transcendental)e que uma dimensão superior não pode ser reduzida a uma inferiornem explicada por ela.

12 Wilber (2000c) compreende o desenvolvimento humano como umarede hierárquica de um emaranhado de linhas. Cada linha passa pordiferentes estágios até alcançar o mais elevado, obedecendo àholarquia da Grande Cadeia do Ser na dinâmica de transcendência einclusão dos níveis inferiores. As linhas desenvolvem-seindependentemente umas das outras, percorrendo um processo

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gradativo que vai do domínio egocêntrico para o etnocêntrico, para omundicêntrico e, por fim, para o teocêntrico, dentro de umaperspectiva transpessoal, sem que haja confusões conceituais comalgum tipo de teísmo mítico. Cada linha de desenvolvimento percorreum caminho, progressivamente mais amplo, abrangendo e incluindouma envergadura cada vez mais ampla das dimensões do “eu” para o“nós”, do “nós para o todos nós” e daí para “toda a humanidade”.Para citar algumas das linhas de desenvolvimento mais proeminentes,nas quais encontramos algumas evidências empíricas, temos: a moral,os afetos, a auto-identidade, a psicossexualidade, a cognição, as idéiasa respeito do bem, a adoção de papéis, a capacidade sócio-emocional,a criatividade, o altruísmo, as várias linhas que podem ser chamadasde ‘espirituais’ (solicitude, sinceridade, preocupação, fé religiosa,estágios meditativos), a alegria, a competência para se comunicar, osmodos de espaço e de tempo, a tomada pela morte, as necessidades,a visão de mundo, a competência lógico-matemática, as habilidadescinestésicas, a identidade sexual e a empatia. Enfim, a meta final detodas as linhas de desenvolvimento é a integração dentro da grandeholarquia do desenvolvimento humano.

13 SAI BABA. Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade. Brindavan,15 mai. 2000. p. 4.

14 Obra traduzida no Brasil em 1990; o original é de 1977.15 Wilber utilizou, para o título do seu livro, o termo hindu para o self

supremo. Projeto Atman significa o impulso do espírito na direção doespírito perdido em função da separação inicial entre sujeito e objeto,caracterizando a visão desenvolvimentista da nova fase da sua trajetóriaintelectual.

16 Seus relatos apontam o estudo de pesquisas de Werner, Piaget eKohlberg.

17 As menções que fazemos aos “equívocos” de Wilber referem-se àspróprias autocríticas que retiramos de relatos autobiográficos.

18 Segundo Wilber, suas investigações centravam-se em Lévy-Bruhl e anoção da participation mystique; em Cassirer a idéia da identidadenatural primordial e em Gebser e o estado de totalidade arcaica.

19 Wilber nos alerta, contudo, que aquilo que chamamos crescimento oudesenvolvimento é a expressão para os humanos da evolução naturalou universal.

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20 Pleroma é uma antiga terminologia gnóstica – recuperada por Jung –que simboliza o potencial da natureza física.

21 Uroboros é o símbolo mítico primordial da serpente que morde acauda, que significa autoconhecimento, mas também narcisista,“paradisíaco” e reptiliano, ou seja, com as formas de vida inferiores.

22 Para especificar este espectro das patologias, Wilber tomou as devidasprecauções, por saber que não existem casos psicopatológicos puros;pelo contrário, o que existe é a influência de diferenças culturais,predisposições genéticas, enfermidades genéticas e traumáticas, bemcomo casos mistos.

23 Segundo Wilber (2000c), a palavra “nível” enfatiza o fato de que setrata de níveis de organização qualitativamente distintos, organizadosem uma hierarquia aninhada (ou holarquia) de abrangência holísticacrescente. Um hólon é um todo que é parte de outros todos.

24 O termo Avatar relaciona-se à encarnação de Deus como um serhumano.

25 Vale dizer que um dos pilares de seu pensamento é a reencarnação.A cultura indiana inclui a crença na reencarnação, que significa tornara se encarnar; reassumir (o espírito) a forma material.

26 Puttaparthi, no princípio dos anos 40, era uma vila muito rústica.Consistia apenas em duas estradas estreitas que se encontravam emângulos retos, além de umas poucas cabanas de barro. BhagavanBaba transformou essas duas estradas estreitas em um moderno distritocom um complexo educacional único que, inclusive, tem umauniversidade, um hospital de super-especialidades com todas asfacilidades modernas e um aeroporto próprio. A maior jóia desselugar, agora mundialmente conhecido, é Prashanti Nilayam, aondemilhões de pessoas se dirigem anualmente, de todos os cantos domundo, para receber as bênçãos do Avatar. Antigamente, Puttaparthichamava-se Puttavardhini, que significa “o lugar onde abundamserpentes”, pois nessa localidade as serpentes eram numerosas. Dizemas lendas que nessa região, antes do nascimento de Sai Baba, seencontravam as seis serpentes venenosas caracterizadas pela luxúria,cólera, avidez, apego, orgulho e ódio; e, quando do seu nascimento,um novo local de luz foi construído: Prashanti Nilayam.

27 SAI BABA. O avatar e sua missão. Discurso proferido em PrashantiNilayam, 11 jan. 1999. p. 2.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

28 Bhajans são cânticos devocionais tradicionais da Índia.29 Bukkapatnam encontra-se, aproximadamente, a quatro quilômetros

de Puttaparthi, ao longo do rio Chitravathi.30 Télugu é a língua falada na região onde nasceu Sathya Sai Baba, no

sul da Índia, no estado de Andhra Pradesh, onde se localiza o vilarejoPuttapharti.

31 SAI BABA, 1999a, p. 2.32 SAI BABA, 1999, p. 2.33 SAI BABA, 1999, p. 3.34 Ibid., p. 3.35 Ibid., p. 3.36 Mandir significa templo sagrado.37 Ibid., 1999, p. 4.38 Festivais são comemorações coletivas em datas simbólicas tanto da

cultura ocidental quanto oriental. Participam destes festivais devotose visitantes que se dirigem aos ashrams para ouvir as palavras de SaiBaba que, geralmente, são pronunciadas nesses eventos.

39 Michel Coquet é um dos mais importantes estudiosos da ciênciaesotérica, tendo iniciado seus estudos pela Doutrina Secreta de HelenaBlavatsky, e passando pelas obras de Alice Ann Bailey, pelo ensinoclássico hindu, particularmente aquele no qual o próprio Sai Baba seinspira, e fundalmentalmente, pelas suas experiências intuitivasresultantes da síntese comparativa de várias teorias.

40 Harijans é sinônimo de intocáveis, a última escala do sistema de castasindianas.

41 COQUET, Michel. O senhor do mundo. São Paulo: Madras, 1998.p. 193-194.

42 Darsham significa benção com a presença do Avatar.43 SAI BABA, 1999, p. 2.44 CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO SAI. Prashanti Nilayam, 21 nov.

1999.45 Jostein Gaarder formou-se em Filosofia, tendo lecionado durante alguns

anos as disciplinas de História das Idéias e História das Religiões no

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

Ensino Secundário. Autor de mais de uma dezena de livros, dentre osquais O Mundo de Sofia e História das Religiões. (GAARDER et. al.,2000).

46 SAI BABA. Dia de Eswarama – A Mãe de Sathya Sai. PrashantiNilayam, 06 maio 1995.

47 A vaca é um animal sagrado na Índia e dedicam a ela o símbolo dafertilidade, não sendo permitido matá-la. Até mesmo nos Vedasencontram-se hinos destinados a seu louvor.

48 CONVENÇÕES ...1999, p. 2, grifo nosso.49 SAI BABA. Festival de Shankranti. Prashanti Nilayam, 14 jan. 997.

p.1.50 Bhagavad Gita (a canção do senhor) é um texto religioso hindu que

revela a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maioresclássicos de filosofia e espiritualidade do mundo.

51 SAI BABA. Festival de Shankranti. Prashanti Nilayam, 14 jan. 1997.p. 3.

52 ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL. Perguntas erespostas. Disponível em: <www.sathyasai.org.br.> Acesso em: 29/01/2004.

53 SAI BABA. Divino Discurso. Prashanti Nilayam, 01 jun. 1953. p.2,grifo nosso.

54 SATHYA SAI. Speaks, n. 35, v. IX, p. 177-188, tradução nossa.55 CONVENÇÕES..., 1999, p. 1.56 A origem do termo exotérico é grega. Era utilizado pelos gregos

quando queriam se referir aos ensinamentos transmitidos pelas escolasa um público sem restrições. Já o termo esotérico, refere-se aosensinamentos restritos a um público seleto e completamente instruído.Desta forma, classificamos os discursos de Sai Baba como exotéricos,porquanto eles são proferidos em ambiente público e pretendemabarcar um amplo número de pessoas, independentemente do graude instrução sobre o assunto proposto por ele.

57 Há contradições quanto a origem dessas cinzas. Em alguns livros, decunho devocional, as cinzas, geralmente, são materializadas por SaiBaba diretamente para seus devotos, seja em momentos de entrevistasparticulares ou quando da sua entrada nos ashrams. Em alguns relatos

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devocionais, existem evidências de que as pessoas além de passaremo vibhuti em partes do corpo enfermas, também o ingerem. Entretanto,cabe ressaltar que adotamos a informação disponibilizada pelaOrganização Sri Sathya Sai do Brasil, ou seja, a entidade oficial paraos assuntos relacionados à cultura Sai.

58 SAI BABA, 1953, p. 4, grifo nosso.59 SAI BABA, 1953, p. 5, grifo nosso.60 SAI BABA. Cursos de cultura indiana e espiritualidade. Brindavan,

15 fev. 1998. p.1.61 SAI BABA. Viagens. Rajamundry. 01 set. 1958. p.4.62 SAI BABA, 1953, p.2.63 Ibid., p.364 SAI BABA. Viagens. Prashanti Nilayam, 25 jul. 1958. p. 1.65 SAI BABA, 1958, p. 6.66 Segundo Sai Baba (1958), há três tipos de intelecto, de acordo com a

predominância de um ou outro dos três atributos inerentes à matéria(gunas): tamas (preguiça, inércia), que confunde verdade cominverdade e toma a inverdade por verdade; rajas (paixão, agitação)que, como um pêndulo, oscila entre uma e outra, pairando entre asduas, incapaz de distinguir entre elas; e satva (equilíbrio), que sabe oque é verdade e o que é inverdade.

67 SAI BABA. Festival de Shankranti. Prashanti Nilayam, 14 jul. 1997.p. 2.

68 Ibid., p. 369 SAI BABA, 1958, p. 3.70 SAI BABA. Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva. Prashanti

Nilayam, 01 mar. 1955. p. 2.71 SAI BABA, 1955, p. 3.72 SAI BABA, 1958, p. 1.73 Ibid., p. 2.74 SAI BABA. Aniversário de Sathya Sai Baba. Prashanti Nilayam, 23

nov. 2001. p. 2.75 Ibid., p. 3.76 SAI BABA, 1956, p.1, grifo nosso.

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77 SAI BABA. Divino Discurso. Prashanti Nilayam, 01 abr. 1957.78 SAI BABA, 1956, p. 3.79 SAI BABA, 1956, p. 4.

80 O guru é assim chamado porque as letras GU significam “Gunathitha”- aquele que transcendeu os três atributos da matéria (gunas): tamas,rajas e satva (ignorância, paixão e bondade); e as letras RU significamaquele que é “Rupa Varjitha” (aquele que tomou consciência doaspecto sem-forma do Absoluto).

81 Sai Baba, 1956, p. 6.82 Idem Ibid.83 SAI BABA. 1958, p. 4.84 SAI BABA. 1958, p. 1.85 Ibid., p. 486 SAI BABA, Convenções da Organização Sai. Prashanti Nilayam, 21

nov. 1999. p. 1.87 SAI BABA. Encontro Esportivo. Prashanti Nilayam, 14 jan. 2000. p. 1.88 SAI BABA. A verdadeira educação conduz à divindade. Brindavan, 15

maio 2000. Ocasião: Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade. p. 1.89 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins

Fontes, 1999.90 SAI BABA. Coragem. Chitthoor, 03 mar. 1958. Ocasião: Viagens. p.1.91 SAI BABA. Santifiquem suas vidas cantando o mantra Gayatri.

Prasanthi Nilayam, 10 fev. 2000. Ocasião: Upanayanam - Iniciaçãoao Gayatri. p.1-2, grifos do autor.

92 SAI BABA. Unidade e divindade no ano novo. Prasanthi Nilayam,01 jan 2000. Ocasião: Ano Novo Ocidental. p.1, grifos nossos.

93 SAI BABA. Santifiquem suas vidas com atos sagrados. Brindavan,05 abr. 2000. Ocasião: Ano Novo Tamil e Télugu – Ugadi. p. 1.

94 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p. 2.

95 SAI BABA. O homem e Deus. Prasanthi Nilayam, 25 jul. 1958.Ocasião: Viagens. p. 3.

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96 SAI BABA. Uma atitude de desafio. Chitthoor, 02 mar. 1958.Ocasião: Divino Discurso. p.3.

97 Local: Brindavan - Data: 26/03/98. p. 1.98 Ibid., p. 2.99 SAI BABA. Viniaka– o mestre do poder do intelecto. Prasanthi

Nilayam, 22 ago. 2001. Ocasião: Ganesha Chanturthi. p. 4.100 SAI BABA. Coloquem limites aos seus desejos. Bombaim, 14 mar.

1999. Ocasião: Viagens. p. 3.101 Novo Ocidental - Local: Prasanthi Nilayan - Data: 01/01/03. p.102 Ibid., p. 3.103 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião Convenções da Organização Sai. p. 5.104 SAI BABA. Manifestação da divindade no Lingodbhava. Prasanthi

Nilayam, 15 fev. 1999. Ocasião: Mahashivaratri - A Grande Noite deShiva. p. 4.

105 SAI BABA. Que o amor e o sacrifício sejam seus ideais. PrasanthiNilayam, 14 jan. 1997. Ocasião: Festival de Shankranti. p. 2.

106 SAI BABA. Do negativo ao positivo. Brindavan, 15 fev. 1998.Ocasião: Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade. p. 1.

107 SAI BABA. Coragem. Chitthoor, 03 mar. 1958. Ocasião: Viagens. p.1.108 SAI BABA. O poder do amor. Prasanthi Nilayam, 28 jul. 1999.

Ocasião: Guru Purnima. p. 3.109 SAI BABA. A verdadeira educação liberta. Prasanthi Nilayam, 22

nov. 1999. Ocasião: Formatura dos estudantes do Instituto Sai. p. 2.110 SAI BABA. Manifestação das divindades no Lingodbhava. Prasanthi

Nilayam, 15 fev. 1999. Ocasião: Mahashivaratri - A Grande Noite deShiva. p. 5.

111 Ibid., p. 6.112 SAI BABA, 1999, p.3.113 SAI BABA. A divina energia permeia todo o Cosmos. Prasanthi Nilayam,

15/10/99. Ocasião: Dasara – Festival das Mães Divinas. p. 2.114 SAI BABA. A bem aventurança através da Dedicação. 1958, p. 2.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

115 Utilizamos, aqui, o termo “eu” para designar uma personalidadesuficientemente sadia, capaz de suportar a manifestação de estadosexpandidos e não-lineares de Consciência.

116 SAI BABA. Unidade e divindade no ano novo. Prasanthi Nilayam,01 jan. 2000. p. 3. Ocasião: Ano Novo Ocidental.

117 SAI BABA. Unidade e divindade no ano novo. Prasanthi Nilayam,01 jan. 2000. Ocasião: Ano Novo Ocidental. p. 4.

118 SAI BABA. Promovam a moralidade para enaltecer a naturezahumana. Prasanthi Nilayam, 20 out. 2001. Ocasião: Dasara - Festivaldas Mães Divinas. p. 1.

119 SAI BABA. Unidade e divindade no ano novo. Prasanthi Nilayam,01 jan. 2000. Ocasião: Ano Novo Ocidental. p. 2.

120 SAI BABA. Uma atitude de desafio. Chitthoor, 02 mar. 1958.Ocasião: Divino Discurso. p.1.

121 SAI BABA. Lutem pela unidade, pureza e divindade. PrasanthiNilayan, 01 jan. 2003. Ocasião: Ano Novo Ocidental. p.2.

122 SAI BABA. Sigam os comandos divinos. Prasanthi Nilayam, 14 out.1999. Ocasião: Dasara – Festival das Mães Divinas. p. 2.

123 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 1.

124 Ibid, p. 1.125 SAI BABA. Viagens - Local: Nova Délhi - Data: 12/03/99. p. 4,

grifo nosso.126 Ibid., p. 4.127 SAI BABA. Que Rama viva nos seus corações. Brindavan, 28 mar.

1996. Ocasião: Rama Navami - Dia de Rama.128 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 2.129 SAI BABA. A educação deve desenvolver os valores humanos.

Prasanthi Nilayam, 22 nov. 1993. Ocasião: Formatura dos estudantesdo Instituto Sai. p. 1.

130 SAI BABA. O poder do amor. Prasanthi Nilayam, 28 jul. 1999.Ocasião: Gurupurnima – Dia do Mestre Espiritual. p.5.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

131 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p.3.

132 SAI BABA. A educação deve desenvolver os valores humanos.Prasanthi Nilayam, 22 nov. 1993. Ocasião: Formatura dos Estudantesdo Instituto Sai.

133 Ibid, p. 2.134 SAI BABA. Unidade e divindade no ano novo. Prasanthi Nilayam,

01 jan. 2000. Ocasião: Ano Novo Ocidental. p.5.135 Ibid., p. 1.136 SAI BABA. Ibid, p. 3.137 SAI BABA. A glória da cultura indiana. Nova Déli, 12 mar. 1999.

Ocasião: Viagens. p.3-4.138 SAI BABA. Porca e parafuso. Bombaim, 01 jan. 1971. Ocasião:

Ano Novo Ocidental. p.3.139 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18

abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p.1.140 Ibid., p.1-2.141 SAI BABA. Os involtórios do ser interno. PrasanthiNilayam, 04

mar. 2000. Ocasião: Abertura do Mahashivaratri. p.1;2.142 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 5.143 Sai Baba entende a devoção como uma prática religiosa, que envolve

dedicação íntima.144 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 3.145 SAI BABA. Santifiquem suas vidas com atos sagrados. Brindavan,

05 abr. 2000. Ocasião: Ano Novo Tamil e Télugu. p.4.146 SAI BABA. A verdadeira educação liberta. Prasanthi Nilayam, 22

nov. 1999. Ocasião: Formatura dos Estudantes do Instituto Sai. p. 1.147 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18

abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p.1.148 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 3.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

149 Ibid. p.3.150 Discurso proferido em Venkatagiri – Data: 01/09/1958, p. 3.151 Estudando Sai Baba (1999) compreende-se que a palavra Dharma

é geralmente traduzida como retidão, ação correta, dever, mas, deacordo com o contexto, também pode se referir à Lei Eterna ouOrdem Cósmica, à Religião Eterna, à missão do indivíduo no mundoetc. [...] Existem 7 facetas do Dharma (aqui, no sentido de retidãoou ação em harmonia com a Lei Cósmica), assim como existem 7cores contidas nos raios do sol. A primeira faceta do Dharma é averdade. A segunda faceta é o bom caráter. A terceira é a condutacorreta. A quarta é o controle dos sentidos. A quinta é a penitênciaou austeridade. A sexta é a renúncia e a sétima é a não violência.Todas esta facetas foram estabelecidas para a proteção do indivíduoe o bem-estar da sociedade.

152 Formatura dos Estudantes do Instituto Sai - Local: Prasanthi Nilayam- Data: 22/11/99. p. 2.

153 Local: Prasanthi Nilayam - Data: 14/01/1993, p. 2.154 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 1.155 SAI BABA. A glória da cultura indiana. Nova Déli, 12 mar. 1999.

Ocasião: Viagens. p.3.156 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18

abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p.2.157 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18

abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p. 1.158 Ibid. p. 2;3.159 SAI BABA. O poder do amor divino. Brindavan, 30 maio 1992.

Ocasião: Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade. p. 2.160 SAI BABA. Coragem. Chitthoor, 03 mar. 1958. Ocasião: Viagens. p.1.161 SAI BABA. Coragem. Chitthoor, 03 mar. 1958. Ocasião: Viagens. p.1.162 Ibid., p. 1.163 SAI BABA. Amor e moralidade – as necessidades do momento. Prasanthi

Nilayan, 25 dez. 2002. Ocasião: Natal: o Nascimento de Jesus. p.4.164 Ibid., p.4, grifo do autor.

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165 SAI BABA. Coragem. Chitthoor, 03 mar. 1958. Ocasião: Viagens. p.2.166 Ibid., p.2.167 Diretrizes da Organização Sai da América Latina, p. 20.168 SAI BABA. Os envoltórios do ser interno. Ocasião: Abertura do

Mahashivaratri, Prasanthi Nilayam, 04 mar. 2000. p.3.169 SAI BABA. Realizem todas as suas ações para agradar a Deus. Prasanthi

Nilayam, 14 jan. 2000. Ocasião: Festival de Shankranti. p. 4.170 Aqui correlacionamos o conhecimento lógico com a dimensão científica

e objetiva, e a sabedoria intuitiva com a dimensão estética e subjetiva.171 SAI BABA. O poder do amor divino. Brindavan, 30 maio, 1992.

Ocasião: Cursos de Cultura Indiana e Espiritualidade. p. 2.172 Ibid., p. 3.173 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 4.174 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 2.175 SAI BABA. Deus, a trindade e o cosmos. Prasanthi Nilayam, 28 fev.

1995. Ocasião: Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva. p. 4.

176 SAI BABA. Ganapathi confere inteligência e poderes. Prasanthi Nilayam,01 set. 2000. Ocasião: Ganesha Chaturthi - Dia de Ganesha. p.2.

177 Ibid. p. 3.178 Ibid. p. 4.179 Diretrizes da Organização Sai da América Latina.180 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,

21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p.7.181 DELORS, Jacques (Org.). Educação, um tesouro a descobrir:

relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educaçãopara o século XXI. São Paulo: Cortez, 1998.

182 SAI BABA. Metades iguais, não a melhor metade. Anantapur, 18abr. 1966. Ocasião: Eventos na Área de Educação. p. 1.

183 SAI BABA. Mãos na sociedade, cabeça na floresta. Prasanthi Nilayam,21 nov. 1999. Ocasião: Convenções da Organização Sai. p. 1.

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184 O Instituto de Educação Sathya Sai foi fundado em 1993. Na ocasião,recebeu o nome de “Centro Brasileiro para a divulgação da Educaçãoem Valores Humanos”. Em 1995, passou a se chamar “Centro SathyaSai de Educação em Valores Humanos”. A partir de 1999, o nomepassou a ser “Instituto de Educação Sathya Sai”.

185 Para maiores informações, visite o site <http://www.valoreshumanos.org>186 ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL, 1999, p. 65.187 ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL, 1999, p. 75-76.188 AYUDHYA, Art-ong Jumsai Na; BURROWS, Loraine. Descobrindo

o coração do ensino. Rio de Janeiro: Instituto de Educação SathyaSai, 2000 p. 30-33.

189 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 45.190 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 45.191 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 58.192 JAREONSETTASIN, Teerakiat. Educação Sathya Sai: filosofia e

prática. Rio de Janeiro: CC&P editores, 2000. p. 50.193 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 73-74.194 1999, p. 88.195 2000, p. 84.196 Para os interessados nas letras cifradas dessas músicas, indicamos o

site oficial do Instituto de Educação Sathy (http://www.valoreshumanos.org.br), que as disponibilizam.

197 ORGANIZAÇÃO SRI SATHYA SAI DO BRASIL, 1999, p. 100.198 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 107.199 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 113.200 Ibid., p.113.201 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 118-119.202 AYUDHYA; BURROWS, 2000, p. 124-126.203 LUCKESI, Cipriano Carlos. Desenvolvimento dos estados de

consciência e ludicidade. Cadernos de Pesquisa, Revista do Núcleode Filosofia e História da Educação, Salvador, v.2, n.1, p.9-25, jan./dez. 1998.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

204 DAMÁSIO, Antonio. Mistério da Consciência. São Paulo: Cia dasLetras, 2000.

205 GROF, Stanislav. Psicologia do Futuro: lições das pesquisasmodernas de consciência. São Paulo: Heresis, 2000.

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Teoria e Prática de uma Educação Integral Maribel Barreto

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