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Teoria Geral do Processo UNIDADE 1

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Teoria Geral do Processo

UNIDADE 1

Nome do autor

Noções introdutórias de direito processual

Teoria Geral do Processo

UNIDADE 1

© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Unidade 1 | Noções introdutórias de Direito Processual

Seção 1.1 - Como a relação processual se forma?

Seção 1.2 - Intervenção de terceiros: como isso é possível?

Seção 1.3 - Aplicação da lei processual pelo espaço e pelo tempo

Seção 1.4 - Como os princípios fundamentais atuam no processo?

Sumário

Palavras do autor

Olá, aluno!

Vamos iniciar o estudo da Teoria Geral do Processo, conteúdo fundamental no dia a dia dos profissionais que trabalham nas diversas áreas jurídicas. Com isso, podemos dizer que, ainda que no plano teórico você já esteja iniciando sua trajetória profissional, na medida em que, a partir de agora, entrará em contato direto com os conteúdos e casos práticos necessários para compreensão das noções básicas e do funcionamento do processo judicial, sobretudo de acordo com as modificações legais advindas da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 – CPC/2015, a qual entrará em vigor no ano de 2016.

Para isso, preparamos uma série de materiais, dentre eles este livro didático, que auxiliarão você na construção desses conhecimentos, proporcionando-lhe noções gerais de como o processo se desenvolve, o que será aplicado em todas as áreas do direito. Mas, para que seus objetivos sejam alcançados, é necessário que você realize todas as etapas e atividades sugeridas no processo de autoestudo. Com isso, você alcançará o nível exigido pelo mercado de trabalho.

Iniciando a Unidade 1, você descobrirá como surge a relação processual, quais seus sujeitos e outras pessoas que podem dela fazer parte; as normas que regem a vigência das leis processuais no espaço e no tempo; e como os princípios fundamentais do processo atingem a rotina jurídica.

Na Unidade de Ensino 2, você vai aprender as noções gerais de jurisdição, as regras de competência que determinam onde os processos tramitarão e como o Poder Judiciário institucionalmente se estrutura. Após isso, na Unidade 3, você conhecerá todos os detalhes sobre a ação, como as partes se manifestam no processo e as regras sobre a produção das provas. Finalmente, na Unidade 4, vamos aprender noções básicas sobre o processo, o que é necessário para que ele exista e seja válido, entender como ele acontece através da realização dos vários atos processuais inerentes à cada parte que dele participa, bem como considerações gerais sobre sentença e recursos.

Para que você possa visualizar como esses conteúdos ocorrem na prática jurídica, será apresentado a você um caso hipotético a cada unidade de estudo, acompanhado de quatro perguntas que serão respondidas em cada seção da referida unidade.

Assim, na Unidade 1, vamos imaginar a seguinte situação prática:

O proprietário “A”, dono de um terreno localizado na cidade de Brotas, interior de São Paulo, vendeu-o para o comprador “B”, residente em Curitiba, Estado do Paraná.

Como o preço era viável, “B” acabou por se precipitar e concluiu o negócio com “A”, sem ao menos visitar o referido terreno. Logo depois disso, “B” viajou até Brotas e descobriu que seu terreno estava sendo utilizado pelo possuidor “C”, que o havia invadido.

Após o início do processo judicial, o comprador “B” sofreu um grave acidente de trânsito, ficando inconsciente durante 1 (um) ano. Além disso, houve alteração da legislação processual aplicável ao caso.

O fato acima gera, do ponto de vista jurídico, um conjunto de possibilidades. Vamos refletir sobre isso?

Como advogado, você entende que o fato descrito se enquadra em um caso no qual se admite a possibilidade de uma ação reivindicatória.

Sendo assim, você levanta as seguintes situações-problema:

a) Quem será autor e quem será réu nessa ação? Como o comprador “B” pode continuar participando do processo mesmo estando inconsciente?

b) Há possibilidade de haver intervenção de terceiros nessa ação? Qual é a modalidade?

c) Qual lei processual deverá ser aplicada: a vigente quando do início do processo ou a nova?

d) Qual princípio processual aparece de forma predominante neste caso?

Assim, como futuro jurista, caminharemos juntos para enfrentar esse desafio rumo ao conhecimento, ao desenvolvimento do raciocínio e ao amadurecimento intelectual,

Com isso, você se tornará um profissional que, com sua capacidade técnica, honrará a confiança que lhe será depositada por seu cliente e sentirá satisfação em promover a solução dos conflitos que integram o mundo jurídico.

Unidade 1

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE DIREITO PROCESSUAL

Temos o privilégio de vivenciar o surgimento e, sobretudo, o início da vigência do CPC/2015, aprovado pela Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015, cujas regras são aplicadas, ainda que subsidiariamente, a todos os processos das diversas áreas do direito. Esta legislação constitui a base da teoria geral do processo, objeto do nosso estudo.

A presente unidade de ensino tem por finalidade apresentar a você as noções iniciais da teoria geral do processo. Assim, neste momento, você terá a oportunidade de conhecer a origem da relação processual e quais são as pessoas que podem fazer parte dela, as regras de aplicação da lei processual no espaço e no tempo, e como os princípios gerais do direito processual são importantes no exercício das atividades jurídicas.

Ficou clara a exposição dos conteúdos expostos no infográfico acima? Esses conteúdos serão estudados de acordo com cada situação-problema presente nas seções que seguirão.

Gostaria de pedir-lhe um momento de reflexão antes de prosseguirmos, solicitando que realize a atividade abaixo.

Convite ao estudo

Competência de fundamento de área Conteúdos específicos

Conhecer os institutos fundamentais da Teoria Geral do processo por meio do estudo das noções introdutórias de direito processual, jurisdição, ação e processo.

1. Relação processual.2. Intervenção de terceiros.3. Lei Processual no espaço e no tempo.4. Princípios fundamentais.

Noções introdutórias de direito processual

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Quadro 1 | Atividade de reflexão

Fonte: A autora (2015)

Instrução: Observe as seções da unidade de ensino “passeando” pelas suas páginas. Depois, vá preenchendo sequencialmente o roteiro anotando as informações pedidas.

1. O que eu já conheço sobre os conteúdos expostos no infográfico?

2. Quais possíveis dúvidas tenho sobre os conteúdos dispostos na unidade?

3. O que eu gostaria de aprender a respeito dos conteúdos listados no infográfico?

4. Em qual ordem acredito que esses conteúdos estarão dispostos nesta unidade de ensino?

Noções introdutórias de direito processual

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Seção 1.1

Formação da relação processual

Para iniciarmos nossos estudos sobre a teoria geral do processo, é primordial que saibamos o que dá origem à relação processual e, consequentemente, ao processo judicial.

Você se recorda da situação da realidade que lhe foi apresentada inicialmente? Ela relata um caso em que o comprador “B” adquire um terreno do proprietário “A”, mas, posteriormente, descobre que tal imóvel estava sendo ocupado pelo possuidor “C”, o que gera a propositura de uma ação reivindicatória. Todos os detalhes da situação da realidade estão no pré-texto deste livro didático.

Nesta seção de autoestudo, você deverá responder à seguinte situação-problema, utilizando as normas inerentes aos sujeitos da relação processual: quem será autor e quem será réu nesta ação? Como o comprador “B” pode continuar participando do processo mesmo estando inconsciente?

Observando-se toda a história da humanidade, podemos constatar que é da natureza do ser humano a necessidade de conviver em grupo, pelos mais diversos motivos. Assim, surgem as comunidades, cada vez maiores e mais complexas, e a inevitável necessidade da criação de regras regulamentadoras e limitadoras de condutas, que viabilizaram a perpetuação das sociedades.

Entretanto, a mera existência e aplicação de tais normas não foi suficiente para sanar adequadamente todos os conflitos que surgiram no cerne dessas comunidades humanas, sobretudo porque nesse momento eles eram resolvidos pelos próprios indivíduos detentores dos interesses conflitantes.

Diálogo aberto

Não pode faltar

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É o que se chamou de autotutela ou autodefesa, a forma mais primitiva de resolução dos conflitos, em que prevalecia o interesse do mais forte, o que levou o Estado a atribuir a si a autoridade para solucionar demandas.

“Mas, ainda hoje, existem no ordenamento jurídico hipóteses excepcionais em que o Estado, ciente de sua incapacidade de estar presente em todas as situações possíveis, permite ao titular de um direito a autotutela” (GONÇALVES, 2004, p. 3).

Podemos citar alguns casos:

Faça você mesmo

Fonte: <https://deividivelho.wordpress.com/category/hardware/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 1 | Sociedade

Leia os seguintes artigos e analise se eles também configuram casos de autodefesa, indicando sua resposta com as palavras “sim” ou “não”:

Fonte: <http://nossosalvador.musicblog.com.br/2/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 2 | Autodefesa

Artigo 1210, §1º do Código Civil CC/2002

Possibilidade de o possuidor turbado ou esbulhado, por sua própria força, respectivamente, manter-se ou restituir-se na posse.

Artigo 25 do Código Penal CP/1940

Inexistência de crime quando o agente, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (legítima defesa).

Artigo 9º da CF/1988 Direito de greve.

Artigo 188, inciso II CC/2002: “Não constituem atos ilícitos (...) a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente”.

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A autocomposição é outra forma de resolução dos conflitos.

Por esse meio, também são os envolvidos que põem fim à demanda, não sendo necessária, portanto, a intervenção do Poder Judiciário. Ocorre por renúncia ou desistência, se a atitude compositiva provém do autor; por submissão ou reconhecimento, se tal atitude emana do réu; ou por transação ou autocomposição em sentido estrito, se implica em concessões recíprocas, ou seja, se há a realização de um acordo em que ambas as partes abrem mão de uma parcela dos

seus respectivos direitos.

São exemplos as seguintes situações: André, vítima de crime contra a honra, perdoa seu ofensor; Marcos, devedor, aceita pagar a dívida que lhe está sendo cobrada.

Fonte: <http://www.amefagranada.org/que-es-la-mediacion>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 3 | Autocomposição

Artigo 319 do CC/2002: “O devedor que paga tem direito à quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada”.

Artigo 1.283 do CC/2002: “As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido”.

Assimile

É importante que você saiba, entretanto, que a autocomposição ainda perdura e é incentivada pelo nosso ordenamento jurídico, mas somente poderá se concretizar quando o direito discutido for disponível. Assim, é absolutamente impossível haver autocomposição, por exemplo, sobre direitos da personalidade (vida, saúde etc.) ou sobre a tutela do meio ambiente.

Surge, então, o processo, como forma mais adequada para solução dos conflitos de interesses, pelo qual um terceiro neutro e imparcial analisa os fatos e as provas e diz quem está com a razão.

Podemos dizer que ele é um instrumento que se desenvolve por meio de atos coordenados com a finalidade de solucionar um litígio ou lide, através da aplicação da lei. Assim, “processo é um complexo de atos coordenados, tendentes ao exercício da função jurisdicional” (SANTOS, 1999, v. 1, p. 13).

Fonte: <http://www.gerencia.unal.edu.co/CMS/ver_noticia.php?id_noticia=80>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 4 | Processo

Noções introdutórias de direito processual

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Com a pretensão de uma parte sendo resistida pela outra, e com a vedação legal do uso da força para resolver a demanda, surge a figura do Estado-juiz, autoridade institucional que irá, pelo processo, decidir quem tem razão. Esse sistema é conhecido como teoria triangular do processo e é representada graficamente da seguinte forma:

Embora haja outros sujeitos que também fazem parte do processo, sobre os quais você estudará no momento oportuno (Unidade, Seção 3), ateremo-nos agora somente aos chamados sujeitos parciais.

Sobre eles, podemos pensar: será que qualquer pessoa poderá ser autora ou ré em um determinado processo?

A resposta é que todas as pessoas, físicas e jurídicas, de direito público e direito privado, e até mesmo alguns entes despersonalizados, possuem capacidade para ser parte de processo porque todos eles têm aptidão para serem titulares de direitos e

“Lide é o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro. Ou, mais sinteticamente, lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida” (SANTOS, 1999, v. 1, p. 9).

Faça você mesmo

Nos casos hipotéticos a seguir, aponte qual é a pretensão e qual é o argumento de resistência:

“A” foi ofendida por sua vizinha que falou mal dela utilizando-se de palavras de baixo calão.

Pretensão: Resistência:

“B”, representada por sua genitora, propõe ação de investigação de paternidade em face de “C”, seu suposto pai.

Pretensão: Resistência:

Figura 5 | Teoria triangular do processo

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

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O artigo 108 do CPC/2015 estabelece que, estando o processo em curso, somente será admitida a sucessão processual das partes nos casos expressos na lei. Nessas hipóteses legais, um litigante sai da relação processual e é sucedido por outro.

“Uma das hipóteses de sucessão processual verifica-se quando há alienação de coisa ou direito litigioso, assunto disciplinado no Artigo 109. Outra, e certamente a mais comum de todas, dá-se com o falecimento da parte, que tem sua disciplina no artigo 110” (BUENO, 2015, p. 118).

O artigo 18, do CPC/2105 estabeleça que ninguém poderá pleitear em nome próprio direito alheio, excetuando-se, porém, os casos expressamente admitidos por lei. Esse

Exemplificando

“A” tem 3 filhos, “B”, “C” e “D”, sendo “D” menor de idade.

“A” quer vender uma casa para “B”.

O artigo 496 do CC/2002 estabelece que, para isso, todos os filhos devem concordar. Apenas o irmão “C” concorda.

“A” e “B” propõem ação de suprimento judicial em face de “D”. Esse será representado judicialmente por um curador especial, já que o interesse de sua mãe, a princípio, está conflitando com o seu.

obrigações.

Podemos citar como exemplos de entes despersonalizados o espólio, que é a universalidade de bens pertencentes ao falecido, representado judicialmente pelo inventariante (artigo 75, inciso VII do CPC/2015), e o condomínio, representado pelo síndico ou administrador (Artigo 75, inciso XI do CPC/2015).

Pode ocorrer que as pessoas físicas também não estejam aptas para, sozinhas, participarem do processo judicial, necessitando serem representadas processualmente. Isso acontecerá se elas forem absolutamente ou relativamente incapazes, nos termos dos artigos 3º e 4º do CC/2002, caso em que deverão, respectivamente, ser representadas ou assistidas por seus pais, tutores ou curadores (artigo 71, do CPC/2015).

Importante saber que, nos termos do artigo 72, do CPC/2015, o juiz nomeará curador especial, que poderá ser um membro da Defensoria Pública, ao incapaz que não tiver representante legal ou quando os interesses deste colidirem com os daquele; e ao réu revel, preso, citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado.

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fenômeno é chamado de substituição processual ou legitimação extraordinária.

“Dá-se a substituição processual quando alguém está legitimado para litigar em juízo, em nome próprio, como autor ou réu, na defesa de direito alheio. Quem litiga, como autor ou réu, é o substituto processual; fá-lo em nome próprio, na defesa de direito de outrem, que é o substituído” (SANTOS, 1999, p. 349).

É o que ocorre quando o sindicato demanda em defesa dos direitos dos seus associados ou quando o membro do Ministério Público propõe uma Ação de Investigação de Paternidade.

Pode acontecer, ainda, que haja pluralidade de autores ou de réus, quando duas ou mais pessoas figurarem no polo ativo ou no polo passivo ocorrendo, assim, o litisconsórcio (artigos 113 e seguintes do CPC/2015).

O litiscorsórcio se fundamenta nos princípios da economia processual e harmonia dos julgados, pois há situações que dizem respeito a várias pessoas e devem ser decididas em um julgamento único para evitar soluções conflitantes sobre a mesma matéria e condições de fato.

O litisconsórcio será necessário, se sua formação obrigatória for prevista na lei, caso em que todos deverão ser citados para serem alcançados pelos efeitos da sentença, ou facultativo, se for opcional, dependendo da vontade das partes (artigo 114, do CPC/2015).

Sobre a primeira hipótese, você pode pensar na Ação de Usucapião, para a qual o artigo 246, §3º, do CPC/2015, exige a participação de todos os confinantes do imóvel no processo.

Os casos de litisconsórcio facultativo estão apresentados no artigo 113 do CPC/2015, cujo rol é taxativo, ou seja, são admitidos somente nessas hipóteses. Você vai conhecê-los agora.

a) Comunhão de direitos ou de obrigações. Ocorrerá no caso de solidariedade. “A” é credor de “B” e “C”, devedores solidários, por expressa disposição contratual. “A” pode propor ação de cobrança em face somente de “B”, somente de “C” ou contra os dois conjuntamente.

b) Mesmo fundamento de fato ou de direito. Se “A” bate em 10 carros estacionados, as vítimas desse acidente podem propor, juntas ou separadamente, ação de indenização contra ele.

No artigo 113, §1º do CPC/2015, o legislador regulamentou o Litisconsórcio Multitudinário, ou seja, aquele com número excessivo de litisconsortes, conferindo ao juiz o poder de limitar o número de partes nos casos de litisconsórcio facultativo, sempre que o número de litigantes:

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Nesses casos, o juiz poderá desmembrar o processo em tantos quantos entenda razoável para rápida solução do litígio, sem que haja prejuízo ao direito de defesa.

comprometer a rápida soluçãodo litígio

dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença

Ademais, poderá o litisconsórcio ser:

a) Unitário, no caso de a sentença ser necessariamente igual para todos os litisconsortes (artigo 116 do CPC/2015).

Portanto, nessa modalidade, vigora o Regime da Vinculação ou da interdependência dos atos processuais praticados, ou seja, o que um litisconsorte faz aproveita a todos, já que o teor da prestação jurisdicional deve ser o mesmo para todos eles. Assim, se um interpõe recurso, é como se todos o tivessem interposto.

b) Simples, quando o juiz não estiver obrigado a decidir de maneira uniforme para todos os litisconsortes. Os atos e omissões de um não beneficiarão nem prejudicarão o outro.

É o caso de uma pessoa que processa o motorista e o proprietário do veículo que lhe causou danos. Mesmo que seja comprovada a culpa do motorista, o que ensejaria a procedência da ação em relação a ele, se o proprietário demonstrar que seu veículo havia sido furtado, de forma que não concorreu para o evento danoso, a ação será improcedente em relação a ele.

Portanto, aqui vigora o Regime da Autonomia, assim definido:

Assimile

Porém, se o ato for prejudicial, por exemplo, uma confissão, não poderá prejudicar aos demais. Podemos concluir que o ato prejudicial somente será eficaz se praticado por todos os litisconsortes, porque a decisão final deve ser a mesma para todos eles.

Cada litisconsorte será tratado perante a parte contrária como um litigante distinto, e os atos e omissões de um não prejudicarão nem

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Pois bem. Agora que você já sabe exatamente quais são os objetivos do autor e do réu em um processo judicial, deve ter concluído que “B” será o autor da referida ação, cuja pretensão será reaver o imóvel, e que “C” será o réu, e terá como intuito resistir à pretensão, demonstrando que é o legítimo proprietário do imóvel.

Segundo relatado na situação da realidade anteriormente descrita, o autor da ação, “B”, ficou inconsciente por um ano em razão de um grave problema de saúde. Em conformidade com o que determinam os artigos 3º, inciso III e 1.767, inciso II do Código Civil, durante esse período, ele foi representado por seu curador, já que era incapaz para os atos da vida civil.

Assim, pode-se dizer que cada litisconsorte será responsável por praticar todos os atos necessários à defesa dos seus interesses.

Sem medo de errar!

Figura 6 | Processo judicial

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

Autor:Comprador "B"

Réu:Invasor "C"

Ação Reivindicatória

Atenção!

Lembre-se

Reveja o conceito de representação processual.

Você se recorda do Contrato de Venda e Compra, celebrado por “A” e “B”, caso hipotético relatado anteriormente, que gerou a propositura de uma ação reivindicatória?

beneficiarão o outro. [...]No entanto, essa autonomia pode sofrer restrições. É possível, por exemplo, que um réu conteste e o outro não, mas que a matéria alegada pelo primeiro seja de natureza comum, que acabe por favorecer inexoravelmente o outro (GONÇALVES, 2004, p. 158).

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Nesta etapa do seu autoestudo, você poderá praticar mais a aplicação dos conceitos estudados anteriormente, direcionando seu aprendizado para a resolução de novas situações-problema. Vamos lá!

Avançando na prática!

Lembre-se

Para encontrar a resposta para essas atividades, você precisará ter em mente, respectivamente, o que estudou sobre sucessão processual e sobre litisconsórcio.

Pratique mais!

InstruçãoDesafiamos você a praticar o que aprendeu, transferindo seus conhecimentos para novas situações que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de seus colegas e com o gabarito disponibilizado no apêndice do livro.

Falecimento do réu

1. Competências técnicas Sucessão processual.

2. Objetivos de aprendizagemAplicar a teoria sobre sucessão processual em um caso hipotético.

3. Conteúdos relacionados Relação processual.

4. Descrição da SP

“A” propôs ação de cobrança em face de “B”, que lhe devia certa quantia em dinheiro. Durante o andamento do processo, “B” faleceu, deixando bens a seus herdeiros. Com o falecimento do réu “B”, como ficará o polo passivo dessa ação?

5. Resolução da SPHaverá substituição processual, sendo que quem assumirá o polo passivo será o espólio de “B”, representado por seu inventariante.

Devedor com fiador

6. Competências técnicas Litisconsórcio.

7. Objetivos de aprendizagem Aplicar conhecimentos sobre litisconsórcio.

8. Conteúdos relacionados Relação processual.

9. Descrição da SP

“A” é proprietário de um imóvel que se encontra alugado para “B”. No contrato celebrado por eles, constou que “C” é fiadora de “B” nesse negócio jurídico. Como “B” já não paga o aluguel há 3 meses, “A” irá propor ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis. Quem deverá figurar no polo passivo dessa ação? Por quê?

10. Resolução da SP:

“A” poderá propor a ação em face de “B”, devedora; de “C”, sua fiadora, portanto, devedora solidária ou em face de ambas. Trata-se de litisconsórcio facultativo, já que há comunhão de obrigações (artigo 113, inciso I do CPC/2015).

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Vamos treinar e fixar os conceitos que você aprendeu nesta seção? Para isso, responda às questões objetivas e discursivas que seguem.

Faça valer a pena!

1. A autodefesa ou autotutela é autorizada quando uma pessoa:

a) Descobre quem a furtou e agride o criminoso.

b) Quebra o veículo de quem lhe deve e não lhe paga.

c) Desfere um tiro em quem a roubou, depois que ele já saiu da sua casa.

d) Retira alguém que invadiu sua casa.

e) Rouba 10 chocolates do mercado para alimentar seu filho.

2. A autocomposição é uma forma de resolução dos conflitos de interesses e se concretiza através da renúncia ou desistência, da submissão ou reconhecimento e da transação.

Dito isso, assinale a alternativa que apresenta um caso de cada modalidade de autocomposição, conforme a ordem acima.

a) João assume que é pai de Maria / André não quer mais cobrar o dinheiro que Cláudia lhe deve / Antônio aceita incluir suas verbas rescisórias na pensão alimentícia de sua filha.

b) Antônio aceita incluir suas verbas rescisórias na pensão alimentícia de sua filha / João assume que é pai de Maria / André não quer mais cobrar o dinheiro que Cláudia lhe deve.

c) André não quer mais cobrar o dinheiro que Cláudia lhe deve / João assume que é pai de Maria / Antônio aceita incluir suas verbas rescisórias na pensão alimentícia de sua filha.

d) Antônio aceita incluir suas verbas rescisórias na pensão alimentícia de sua filha / André não quer mais cobrar o dinheiro que Cláudia lhe deve / João assume que é pai de Maria.

e) André não quer mais cobrar o dinheiro que Cláudia lhe deve / Antônio aceita incluir suas verbas rescisórias na pensão alimentícia de sua filha / João assume que é pai de Maria.

Faça você mesmo

Como uma pessoa de 15 anos de idade poderá participar de um processo judicial? E uma pessoa que, em razão de deficiência mental, possui o discernimento reduzido?

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3. “O representante legal do incapaz não é parte, mas alguém cuja presença é necessária para o suprimento da incapacidade processual da parte” (GONÇALVES, 2004, p. 94).

Assim, considerando-se o instituto da representação processual, podemos dizer que pode ser parte:

a) Síndico.

b) Inventariante.

c) Condomínio.

d) Curador da herança jacente.

e) Mãe do autor.

5. O litisconsórcio multitudinário estará caracterizado quando a quantidade de partes é tamanha que comprometa a qualidade da prestação jurisdicional.

Assim, podemos dizer que:

a) Ele poderá ocorrer no litisconsórcio necessário.

b) Um dos seus fundamentos é a possibilidade de prejuízo ao direito de

4. “Litisconsórcio é um fenômeno jurídico consistente na pluralidade de partes na relação processual” (FUX, 2014, p. 243).

Considerando-se os tipos de litisconsórcio, ordene as colunas a seguir conforme os conceitos correspondentes e assinale a alternativa que corresponde à ordem correta.

a) V – IV – II – III – I.

b) I – II – III – IV – V.

c) IV – III – V – I – II.

d) III – II – IV – V – I.

e) III – IV – II – V – I.

I – Necessário ( ) A sentença deve ser igual para todos que o compõem.

II – Facultativo ( ) O processo pode prosseguir sem sua formação.

III – Unitário ( ) A sentença pode ser diferente para as partes que o compõem.

IV – Simples ( ) É formado por um número excessivo de autores, réus ou ambos.

V – Multitudinário ( ) Ele é necessário para o prosseguimento do processo.

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6. Pensando nos motivos pelos quais o litisconsórcio foi criado, escreva sobre seus princípios informadores, justificando, assim, sua existência.

7. Em 5 de agosto de 2010, na Mina San José, localizada no Chile, houve o soterramento de 33 mineiros, cujo resgate somente terminou no dia 14 de outubro, portanto 69 dias após o acidente. Todos se mantiveram vivos por conta da perfuração de um poço através do qual eram inseridos mantimentos, água e equipamentos de contato.

Imagine que tais recursos tecnológicos não existissem e que o grupo tivesse de esperar o socorro sem qualquer auxílio externo. Em dado momento, decidem sacrificar um dos membros para que pudessem se alimentar e viabilizar a sobrevivência da maioria.

Estaríamos diante de que tipo de modalidade de resolução de conflitos? Ela é admitida como legal por nosso ordenamento jurídico?

defesa.

c) A lei define um número máximo de litisconsortes.

d) Ele não pode ser misto, ou seja, com pluralidade de autores e de réus.

e) Sua existência não compromete a solução do litígio.

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Seção 1.2

Intervenção de terceiros

Você já estudou, na seção anterior, como a relação jurídica se forma e que seus principais personagens são as partes denominadas parciais, que são o autor e o réu. Já definiu também quem são esses personagens da ação reivindicatória, cuja situação da realidade lhe foi descrita anteriormente.

Você se lembra, então, que “B” será o autor dessa ação, que será proposta em face de “C”, réu, supostamente invasor do imóvel. Todos os detalhes da situação da realidade estão no pré-texto deste livro didático. Mas será que “A”, que vendeu o imóvel para “B”, poderá interferir nesse processo? Se sim, como fará isso, já que, a princípio, não é parte dessa relação processual?

Para responder a essas perguntas, você deverá dedicar sua atenção às formas de Intervenção de terceiros existentes, que estão previstas nos artigos 119 a 138 do CPC/2015, e elencadas a seguir:

Essas normas permitem que terceiros, estranhos à relação processual, possam dela participar, desde que preenchidos alguns requisitos.

Diálogo aberto

Fonte: A autora (2015)

Figura 8 | Modalidades de intervenção de terceiros

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Assistência

Denunciação da Lide

Chamamento ao Processo

Amicus curiae

Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica

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Por meio da intervenção de terceiros, a lei permite que alguém, que não faz parte da relação processual inicial, passe a fazer parte de um processo alheio que já está em andamento.

Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2004, p. 160) nos esclarece, que: “Como esses terceiros terão suas esferas jurídicas atingidas, embora de forma reflexa, como consequência de sua proximidade com a relação jurídica sub judice, o legislador autoriza que eles intervenham no processo alheio”.

Mas como essa participação acontece? Ela pode ocorrer por iniciativa:

Como o processo já estará em andamento, em regra, não haverá modificação da competência do Juiz, devendo ser respeitado o Princípio da Perpetuatio jurisdictionis, previsto no artigo 43 do CPC/2015 (Unidade de Estudo 2, seção 2).

Esse princípio somente não será aplicado nos casos de intervenção da União, de suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou do conselho de fiscalização de atividade profissional, em que a competência será da Justiça Federal, exceto se a ação for de recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente de trabalho ou as sujeitas às Justiças Eleitoral e do Trabalho (artigo 109, inciso I da CF/1988 e artigo 45 do CPC/2015).

Não pode faltar!

Fonte: A autora (2015)

Figura 9 | Modalidades de intervenção de terceiros.

de terceiro: Voluntária

Assistência Denunciação da lide

Chamamento ao Processo

Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica

Amicus curiae

Amicus curiae

das partes: Provocada

Vamos descobrir como esses institutos processuais funcionam!

Noções introdutórias de direito processual

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É importante que você se atente, entretanto, que o interesse deve ser jurídico, não bastando que seja tão somente patrimonial ou econômico, caso em que o terceiro deverá defendê-lo em ação autônoma.

Fonte: Disponível em: <http://clubpedagogico-mejores-docentes .webnode.es/news/comunicacion-asertiva-en-el-aula-de-clase/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 10 | Relações jurídicas

Exemplificando

Imagine ... “A”, locador, celebrou um Contrato de Locação de imóvel com “B”, locatário, e esse, por sua vez, celebrou um Contrato de Sublocação, consentida pelo locador, com “C”, sublocatário. Como “B” não efetuou os pagamentos dos aluguéis para “A”, esse propõe ação de despejo em face dele. “C” desejará que tal ação seja improcedente.

Vamos analisar as três condições acima mencionadas: a relação jurídica entre “C” e “B”, de sublocação, é diferente da relação que está sendo discutida no processo, locação; e o resultado do processo afetará “C”, porque, se findar a locação, também será rompida a sublocação. Portanto, “C” poderá ingressar no processo na condição de assistente de “B”.

A partir de agora, você vai conhecer as características e regras aplicáveis a cada uma destas modalidades.

A assistência se subdivide em simples e litisconsorcial.

Na assistência simples, o terceiro possui interesse jurídico que a sentença seja favorável a uma parte específica do processo. Isso porque algumas relações jurídicas são subordinadas a outras e não há como atingir uma sem afetar a outra.

Mas, para que esse terceiro seja considerado juridicamente interessado, deverão estar presentes três situações: a) o terceiro deve ter relação jurídica com alguma das partes; b) essa

relação deve ser diferente da relação que está sendo discutida no processo; c) o resultado do processo deve afetar a relação da parte com o terceiro.

Vamos analisar um caso concreto para que possamos visualizar essas condições necessárias para que a assistência possa ocorrer:

Noções introdutórias de direito processual

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A denunciação da lide é promovida em processo que caminha juntamente com o processo principal, mas tem natureza de nova ação e suas hipóteses são taxativas, ou

Reflita

Mas e se todos os proprietários tivessem proposto a ação conjuntamente, qual instituto jurídico estaria configurado? Seria um caso de litisconsórcio facultativo unitário.

Agora que você já sabe como definir se o terceiro poderá ser um assistente simples, vamos descobrir o que exatamente ele faz.

O artigo 121 do CPC/2015 estabelece que o assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido, e, sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual.

O assistente simples não poderá impedir que a parte reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao seu direito ou transija.

Uma vez transitada em julgado a sentença, o assistente, que participou efetivamente do processo praticando atos processuais, não poderá discutir a justiça da decisão em processo posterior, ou seja, o que foi decidido sobre a fundamentação alegada por ele é imutável.

Ele somente poderá discuti-la em processo posterior se provar que, “pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença”, ou se “desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu” (artigo 123 do CPC/2015).

Já na assistência litisconsocial, conceito que você conheceu na seção 1 desta unidade de ensino, “o assistente é o titular do direito material alegado, que é objeto da controvérsia”. Dessa forma, podemos dizer “que só existe assistência litisconsorcial no campo da legitimidade extraordinária, em que alguém vai a Juízo em nome próprio para postular ou defender interesse alheio” (GONÇALVES, 2004, p. 167).

Portanto, o assistente litisconsorcial será atingido pela coisa julgada (imutabilidade do dispositivo da sentença), ingressando ou não na ação.

É o que ocorre no caso em que “A”, “B” e “C” são proprietários, em condomínio, de um terreno que foi invadido por “D”, mas somente “A” propõe ação. Depois, “B” e “C” ingressam como assistentes litisconsorciais. A sentença produzirá efeito para todos eles, mesmo que “B” e “C” não estivessem participando do processo.

Noções introdutórias de direito processual

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seja, somente poderá existir nos casos expressos no artigo 125 do CPC/2015.

Portanto, você verá nesse dispositivo legal que a denunciação da lide é permitida quando o direito de uma das partes sofrer risco de evicção, ou quando houver direito de regresso previsto em lei ou contrato.

“Evicção é a privação total ou parcial de um bem por parte do adquirente por força de sentença judicial, que o atribuiu a terceiro, considerando-o o verdadeiro titular”.

Em outras palavras, “é a perda da propriedade, posse ou uso de um bem, adquirido de forma onerosa, e atribuído a outrem, em regra por força de sentença judicial, em virtude de direito anterior ao contrato aquisitivo” (GONÇALVES, 2004, p. 187).

Fonte: <http://www.robinsontransport.co.uk/services.html>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 11 | Evicção

Exemplificando

“A” vende um imóvel para “B”, mas seu verdadeiro proprietário é “C”.

Estando presente o risco de evicção, cuja consequência é que “C” poderá perder o direito sobre seu bem, ele promove ação contra “B”, que denuncia a lide ao vendedor “A”.

Se a sentença confirmar a evicção “B”, terá direito de reaver o que pagou. Mas, se não se confirmar, a denunciação da lide ficará prejudicada e será extinta.

Assim, o julgamento de mérito da denunciação da lide dependerá da decisão da ação principal.

A segunda hipótese é a denunciação da lide, pelas partes, a quem, por força da lei ou de contrato, seja obrigado a indenizar, de forma regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

Exemplificando

A seguradora, acionada judicialmente pela vítima de acidente de trânsito que sofreu prejuízo, denuncia a lide ao causador do dano.

Noções introdutórias de direito processual

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Interessante observar que a denunciação da lide amplia o objeto do processo, já que o juiz deverá decidir tanto sobre a pretensão do autor em face do réu quanto sobre a existência ou não do direito de regresso do denunciante em face do denunciado.

Ademais, ela é obrigatória para garantir a discussão sobre o direito de regresso nos mesmos autos.

O chamamento ao processo tem como objetivo o exercício do direito de regresso somente em duas hipóteses específicas: se o direito for decorrente de fiança ou de obrigação solidária.

“Obrigação solidária é aquela em que, havendo multiplicidade de credores ou de devedores [...] cada credor terá direito à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo todo, como se fosse o único devedor” (DINIZ, 2000, p. 151).

Portanto, no caso de o credor promover ação em face do fiador, esse poderá chamar o devedor principal ao processo, caso em que se formará um litisconsórcio passivo. Se o fiador pagar a dívida, poderá cobrar do devedor, em regresso, seu prejuízo, nos mesmos autos.

Mas, se o fiador não desejar, ou se esquecer de chamar o devedor ao processo, perderá o benefício de ordem, que consiste na possibilidade de, caso condenado, indicar bens do devedor para serem penhorados. Porém, manterá o direito de regresso, podendo cobrar o prejuízo do devedor em ação autônoma.

Outra modalidade de intervenção de terceiro é o incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

As pessoas jurídicas “são entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações”. E “atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem” (GONÇALVES, 2003, p. 66).

Com a inscrição do seu ato constitutivo no registro próprio, ela passa a existir legalmente, adquirindo, a partir daí, personalidade jurídica (Artigos 45 e 985 do Código Civil).

Assim, constitui

Figura 12 | Fiança

Fonte: Disponível em: <http://www.compucys.com/blog.html>. Acesso em: 30 mai.o2015.

uma realidade autônoma, capaz de direitos e obrigações,

Noções introdutórias de direito processual

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Sem medo de errar!

Lembre-se

Este é o momento de você revisar e se recordar novamente do caso da realidade formulado no início deste livro didático.

Em breve síntese, recordamos que “A”, o proprietário do terreno, vendeu-o a “B” que, posteriormente, constatou que ele havia sido invadido por “C”.

Mas você verá que a regra acima não é absoluta, podendo ser desconsiderada a personalidade jurídica da empresa, comprometendo o patrimônio pessoal dos sócios a administradores.

Tal possibilidade está prevista no artigo 50 do CC/2002, que estabelece: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.

Entretanto, essa norma de direito material só passa a existir no direito processual com a vigência do CPC/2015, que criou o Incidente de desconsideração da personalidade jurídica em seus artigos 133 a 137.

Ela poderá ser requerida diretamente na petição que inicia o processo, ou com instauração incidental pela parte ou pelo Ministério Público, em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.

A intervenção na modalidade Amicus curiae está prevista no artigo 138 do CPC/2015 e poderá ocorrer por requerimento da parte, de quem deseja se manifestar como amicus curiae, ou por decisão de ofício do juiz. Ela consiste na participação de uma pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, para atuar no processo, em razão da relevância da matéria, da especificidade do tema objeto da demanda ou da repercussão social da controvérsia.

independentemente dos membros que a compõem, com os quais não tem nenhum vínculo, agindo por si só [...] seus componentes somente responderão por seus débitos dentro dos limites do capital social, ficando a salvo o patrimônio individual (DINIZ, 2000, v. 1, p. 172).

Noções introdutórias de direito processual

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Descobrimos na Seção 1 desta unidade que a ação será proposta pelo comprador “B” em face do invasor “C”.

Agora, você já tem competência técnica para identificar qual modalidade de intervenção de terceiros ocorrerá diante da situação fática ora descrita.

Se a ação for procedente, sendo acolhida a pretensão do autor, “C” deverá desocupar o imóvel em benefício do comprador “B”, ou seja, a evicção não se concretizou.

Mas, se a ação for improcedente, ocorrerá a evicção e o comprador “B” ficará sem o imóvel e sem o dinheiro que pagou por ele, podendo, é claro, nesse caso, ajuizar demanda judicial em face do proprietário original “A” por perdas e danos (artigo 450 do CC/2015).

Agora, para que você possa exercitar seu raciocínio jurídico sobre o tema que ora tratamos, analise os casos expostos a seguir e responda qual tipo de intervenção de terceiros ocorrerá, justificando sua escolha.

Atenção!

Veja que se trata de hipótese em que há risco de evicção, caso em que será cabível a denunciação da lide em face do proprietário original, “A”.

Fonte: O autor (2015)

Figura 13 | Intervenção de terceiros

Autor:Comprador "B"

Réu:Invasor "C"

Denunciaçãoda Lide

Denunciado:Vendedor "A"

Ação Reivindicatória

Avançando na prática!

Pratique mais!

InstruçãoDesafiamos você a praticar o que aprendeu, transferindo seus conhecimentos para novas situações que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de seus colegas e com o gabarito disponibilizado no apêndice do livro.

Noções introdutórias de direito processual

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“Falsificação de escritura”

1. Competências técnicas Modalidades de assistência.

2. Objetivos de aprendizagemIdentificação da modalidade de intervenção de terceiros aplicável ao caso hipotético.

3. Conteúdos relacionados Intervenção de terceiros.

4. Descrição da SP“A” move uma ação em face de “B”, alegando que ele falsificou uma escritura em conluio com o tabelião “C”. Qual modalidade de intervenção de terceiros está configurada?

5. Resolução da SP:

É o caso de assistência simples. O terceiro “C” possui uma relação jurídica com “B” = lavratura da escritura do seu imóvel. A relações são diferentes = lavratura x falsificação. O resultado afetará a relação com o terceiro = se foi declarada a falsificação, o tabelição “C” responderá por perdas e danos juntamente com “B”.

“Contrato garantido por fiança”

1. Competências técnicas Fiança.

2. Objetivos de aprendizagemIdentificação da modalidade de intervenção de terceiros aplicável ao caso hipotético.

3. Conteúdos relacionados Intervenção de terceiros.

4. Descrição da SP

“A” propõe uma ação de cobrança em face de “B”, requerendo sua condenação ao pagamento de R$ 5.000,00 por conta de aluguéis atrasados. Ocorre que tal contrato foi garantido pela fiança prestada por “C”.

5. Resolução da SP:É o caso de chamamento ao processo, em que “B” e “C” serão devedores solidários. Se “C” pagar a dívida, poderá cobrar “B” em regresso.

Faça valer a pena!

1. “Trata-se de intervenção em que o terceiro, que se denomina, num primeiro momento, genericamente, de assistente, ingressa em processo alheio com o fim de prestar colaboração a uma das partes, isto é, aquela a quem assiste, tendo em vista o alcance de resultado satisfatório, no processo, para o assistido. O interesse do assistente consiste na vitória da parte a quem assiste e na consequente e correlata sucumbência da parte contrária” (WAMBIER, 2014, p. 258).

Faça você mesmo

“A” é credor de “B” pela dívida “X”. Mas “B” também deve para “C” pela dívida “Y”. Assim, “C” propõe ação de cobrança em face de “B”. “A” deseja a improcedência dessa ação para que o patrimônio de “B” seja mantido para poder receber seu crédito. “A” pode ingressar na ação como assistente?

Noções introdutórias de direito processual

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2. (Adaptada – Promotor – MP-SP – 2011) É correto afirmar que, na relação jurídico-processual em que haja litisconsórcio necessário unitário:

a) O juiz poderá limitá-lo, a pedido, quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa.

b) A eficácia da sentença dependerá da participação de todos os litisconsortes no processo.

c) É dispensável a participação de todos os litisconsortes no processo.

d) O juiz poderá decidir a lide de modo diferente para cada um dos litisconsortes.

e) Não vigora o regime da vinculação ou da interdependência dos atos processuais praticados.

3. O chamamento ao processo “é forma de intervenção de terceiros provocada, pela qual se atribui ao réu a possibilidade de chamar ao processo ou outros devedores, para que ocupem também a posição de réus, sendo todos condenados a mesma sentença, em caso de improcedência” (GONÇALVES, 2004, p. 197).

Sobre essa modalidade de intervenção de terceiros, assinale a alternativa correta:

a) Não tendo chamado os codevedores ao processo, uma vez condenado, o devedor nada poderá cobrar deles em ação autônoma.

Assim, a respeito da assistência, é correto afirmar que:

a) O grau de intensidade do interesse jurídico do terceiro determina se será um caso de assistência simples ou de assistência litisconsorcial.

b) Na assistência simples, os interesses jurídicos da parte e do assistente são iguais.

c) A assistência simples também pode ser chamada de qualificada e a assistência litisconsorcial também pode ser chamada de adesiva.

d) É absoluta a regra de que a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros (artigo 506, do novo Código de Processo Civil).

e) O assistente poderá ingressar no feito, desde que tenha nele interesse fático, econômico ou jurídico.

ressar no feito, desde que tenha nele interesse fático, econômico ou jurídico.

Noções introdutórias de direito processual

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4. Sobre o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, é correto afirmar que:

a) Não é permitido por nosso ordenamento jurídico, uma vez que a pessoa jurídica é uma entidade autônoma, capaz de contrair direitos e obrigações.

b) Pode ser requerida somente pela parte interessada.

c) Uma vez concretizada, os sócios responderão somente no limite do capital social.

d) Não é admitido pela legislação brasileira, porque a pessoa jurídica não pode ser dissolvida para que o patrimônio dos seus sócios seja atingido.

e) Poderá ocorrer quando houver comprovação de que seus sócios ou administradores agiram com desvio de finalidade ou quando houver confusão patrimonial.

5. Sobre a modalidade de Intervenção de terceiros denominada Amicus curiae, pode-se dizer que:

a) Somente pode ser admitida a participação de uma pessoa jurídica.

b) Somente pode ser admitida a participação de uma pessoa natural.

c) Poderá ocorrer em razão da relevância da matéria, da especificidade do tema objeto da demanda ou da repercussão social da controvérsia.

d) Somente pode ser requerida pela parte.

e) Poderá ser requerido pelo Ministério Público.

6. Qual é a diferença entre litisconsórcio facultativo unitário e assistência litisconsorcial? Explique com raciocínio próprio e estudos realizados.

7. Qual é a principal diferença existente entre a denunciação da lide e o chamamento ao processo? Explique com raciocínio próprio.

b) O réu poderá chamar ao processo todos os devedores, ainda que não sejam solidários.

c) Se condenados o devedor principal e o seu fiador, esse não pode requerer sejam penhorados os bens daquele antes dos seus.

d) O devedor chamado ao processo não possui relação jurídica direta com o autor da ação.

e) O devedor condenado a pagar a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor, podendo exigir dos demais devedores suas respectivas cotas.

Noções introdutórias de direito processual

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Noções introdutórias de direito processual

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Seção 1.3

Aplicação da lei processual pelo espaço e pelo tempo

Mais uma vez, é necessário relembrar o caso hipotético que lhe foi apresentado no início deste livro didático.

Nas seções passadas, você descobriu que o comprador “B” será o autor da Ação Reivindicatória que será proposta em face de “C”, supostamente invasor do imóvel. Como o comprador “B” está sofrendo risco de evicção, denunciará a lide ao vendedor “A”.

Podemos representar graficamente essa relação jurídica da seguinte forma:

O terceiro questionamento apresentado expressa a hipótese da lei processual que rege esta ação ser modificada em seu curso. Ocorrendo isso, qual legislação você acredita que será aplicada: a vigente quando do início do processo ou a nova? Essa é a situação-problema que norteará nosso estudo nesta seção.

Vamos descobrir juntos a resposta para mais essa pergunta, estudando as regras de aplicação da lei processual no espaço e no tempo.

Toda norma jurídica tem sua eficácia limitada no espaço, ou seja, somente pode

Diálogo aberto

Não pode faltar!

Fonte: O autor (2015)

Figura 14 | Relação jurídica

Autor:Comprador "B"

Réu:Invasor "C"

Denunciaçãoda Lide

Denunciado:Vendedor "A"

Ação Reivindicatória

Noções introdutórias de direito processual

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“A jurisdição é função do Estado. Função de um dos seus poderes, o Poder Judiciário, é, portanto, função pública, função da soberania. Natural é, assim, que a lei processual, que disciplina o exercício dessa função, seja do próprio Estado em que esta se exerce” (SANTOS, 1999, v. 1, p. 34).

Em outras palavras, “jurisdição é exercício de soberania e esta regula-se pela lei do Estado que a engendra. A função jurisdicional deve ser prestada segundo os cânones do país judicante. A territorialidade, portanto, é a regra em matéria de jurisdição, ação e processo” (FUX, 2014, p. 15).

A norma processual tem por objetivo disciplinar a atividade jurisdicional, que se materializa no processo. Ela estabelece regras de procedimento que devem ser respeitadas durante o caminhar processual.

A ela é aplicado o princípio da territorialidade (lex fori ou lei do foro), através do qual o juiz aplicará aos processos a lei do lugar onde exerce a jurisdição, nos termos da CF/1988, da LINDB e das leis de organização judiciária.

Observe que são considerados também territórios nacionais, entre outros, as embaixadas, os consulados e os navios de guerra onde quer que se encontrem.

Assimile

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei 4.657, de 4 de setembro de 1942) é um conjunto de normas sobre normas, aplicável a todo o ordenamento jurídico. São normas de sobredireito ou de apoio que disciplinam a atuação da ordem jurídica. Dentre outras funções, regula a vigência e eficácia das normas, buscando solucionar os conflitos da lei no espaço e no tempo.

Fonte: Disponíveis em: <http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Territorialidade&lang=3, http://ibytemedia.com/free-house-clip-art-providing-shelter/> e <http://www.clipartpanda.com/categories/battleship-20clipart>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 15, 16 e 17 | Princípio da territorialidade

ser aplicada em determinado território, e no tempo, o que equivale a dizer que sua vigência se dará por um período de tempo determinado.

Noções introdutórias de direito processual

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Assim, podemos dizer que, em regra, será aplicada a lei do local onde a ação está tramitando, sejam as partes nacionais ou estrangeiras.

Os atos processuais, as determinações e os processos judiciais que correrem no exterior só terão validade jurídica no território nacional se forem homologados pelo Supremo Tribunal Federal.

Entretanto, o artigo 13 da LINDB estabelece que: “a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar quanto ao ônus e aos meios de se produzir, não admitindo, os tribunais brasileiros, provas que a lei brasileira desconheça”.

Essa regra constitui uma exceção ao princípio da territorialidade, vigorando, neste caso, a lex loci, ou seja, a lei do lugar em que ocorreu o fato, que será, portanto, o local onde as provas serão produzidas.

Isso revela que nosso ordenamento jurídico adotou o Princípio da Territorialidade em sua forma moderada, sendo admitida a aplicação da lei estrangeira em certas hipóteses previstas em lei.

Podemos dizer que “as normas nascem com a promulgação, mas só começam a vigorar com sua publicação no Diário Oficial. De forma que a promulgação atesta sua existência, e a publicação, sua obrigatoriedade, visto que ninguém pode furtar-se à sua observância, alegando que a não a conhece” (DINIZ, 2000, p. 77).

Ela gera efeito erga omnes, ou seja, uma vez publicada, todos devem a ela obediência, não havendo possibilidade de escusa de cumprimento da norma (Artigo 3º da LINDB).

Mas, caso não haja disposição expressa da data em que a lei começa a vigorar, o início de sua vigência no território nacional ocorrerá após 45 dias de sua publicação

Reflita

Observe que o princípio da territorialidade prevalece mesmo que o direito substancial, material a ser aplicado, seja estrangeiro. É o caso de processos que devem tramitar no Brasil, portanto, conforme a lei processual brasileira, mas que tratam de direito material estrangeiro.

Podemos pensar em uma ação de inventário do estrangeiro falecido que possui bens no Brasil e a norma material de sua nacionalidade é mais benéfica à sua cônjuge e filhos brasileiros do que a própria lei brasileira. Portanto, serão aplicadas as normas de sucessão estrangeiras, mas o processo de inventário deverá tramitar de acordo com as normas processuais brasileiras (artigo 10, §1º da LINDB).

Noções introdutórias de direito processual

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Isso porque, conforme estabelece o artigo 8º, §1º da citada LC nº 95/98: “A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral”.

É importante que você saiba, também, que, havendo erro na norma, ele deverá ser corrigido. Se for um erro irrelevante, deverá ser consertado de plano, sem necessidade de outra lei que o faça. Por exemplo: ao invés de constar “de cujus”, constou “de cujos”.

Entretanto, tratando-se de erro substancial, hermenêutico, que comprometa a interpretação da norma, podem ocorrer três situações expostas no quadro a seguir, conforme o momento em que o erro for detectado:

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

Figura 18 | Vacatio legis

Publicação VigênciaVacatio legis

Exemplificando

O CPC/2015 (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015) foi publicado no Diário Oficial da União no dia 17 de março de 2015.

Em seu artigo 1.045, estabeleceu: “Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial”.

Assim, sua vigência se inicia no dia 18 de março de 2016.

(Artigo 1º da LINDB).

O §1º do artigo 45 da LINDB amplia esse prazo para 3 meses, caso seja admitida a aplicação da lei brasileira nos Estados estrangeiros, como, por exemplo, ocorre em relação às regras referentes a funcionários de representações diplomáticas.

Portanto, a lei poderá indicar o dia de início da sua vigência, que em regra é o mesmo da sua publicação para normas mais simples, ou uma data mais remota, quando se verificar que há necessidade de maior estudo, divulgação e conhecimento pela sociedade, e aparelhamento do Estado para sua aplicação, em razão da importância e complexidade da norma (Artigo 8º, caput, da Lei Complementar nº 95/1998).

Este período de tempo entre a publicação da lei na Imprensa Oficial e o início de sua vigência é denominado vacatio legis. Nesse caso, a eficácia e a obrigatoriedade ficam suspensas, não tendo poder de incidir nas situações da vida nesse período.

Noções introdutórias de direito processual

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Note-se que o CPC/2015 revogou expressamente o Código anterior, conforme você pode constatar na leitura do seu artigo 1.046.

Mas, conforme estabelece o artigo 2º, §1º da LINDB, a lei posterior também revoga a anterior se for com ela incompatível, ou se regular inteiramente a matéria de que trata aquela.

Existem dois tipos de revogação: a ab-rogação, quando há revogação total da lei, e a derrogação, quando a lei nova revoga parcialmente a anterior. Ela ainda será expressa, quando a lei nova declarar em seu texto que está revogando a antiga, ou tácita, se as normas da lei nova forem incompatíveis com as da lei anterior.

Imagine que a lei “X” foi revogada pela lei “Y”. Posteriormente, a lei revogadora “Y” também é revogada. Podemos dizer que a lei “X” voltará a vigorar? Vamos descobrir.

Trata-se do fenômeno denominado repristinação, que é “o restabelecimento de norma anteriormente revogada, em razão da revogação da norma que a revogou” (COMETTI; SHIKICIMA, 2007, p. 30).

A solução da questão está no artigo 2º, §3º da LINDB: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Ou seja, a repristinação somente será admitida se for expressamente autorizada por lei.

Concluímos, então, que a lei produzirá efeitos até que outra a modifique ou a revogue. Trata-se do princípio da continuidade, que prevê a vigência indeterminada das leis (Artigo 2º, caput, LINDB).

Todavia, essa regra não será aplicada se a lei for criada para vigorar durante um período de tempo certo e determinado. É o caso das leis com vigência temporária. A vigência terminará assim que escoar o prazo fixado ou cessar a situação que a gerou.

Fonte: Elaborado pela autora (2015).

Quadro 1 | Soluções possíveis de acordo com o momento em que o erro é detectado

será realizada uma simples correção.

será necessária uma nova publicação e o prazo da vacatio será contado novamente do início.

será necessária um nova lei.

Antes da publicação

Após a entrada em vigor

Durante a Vacatio legis

Exemplificando

Podemos citar as leis orçamentárias, que fixam receitas e despesas pelo

Noções introdutórias de direito processual

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Sobre a aplicação da lei nova aos processos judiciais, podemos tecer as seguintes considerações:

Quanto aos processos que se iniciam após a vigência da lei nova, não há dificuldade em concluir que serão integralmente regidos por ela.

Já os processos que terminarem durante a vigência da lei anterior permanecerão como estão, porque, conforme o princípio da irretroatividade, a lei nova não pode retroagir para atingir situações jurídicas já consolidadas.

Assim estabelece o artigo 14, do CPC/2015: “A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada”.

Essa regra se harmoniza com o artigo 5º, inciso XXXVI, da CF/1988, detalhado no artigo 6º da LINDB: uma vez em vigor, a lei terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Vocabulário

Ato jurídico perfeito: é o realizado conforme a norma vigente no tempo em que ele se consumou.

Direito adquirido: é aquele que já se incorporou definitivamente na personalidade e patrimônio do seu titular. Por exemplo, se “A” atingiu a maioridade civil aos 18 anos e, após, uma nova lei alterar a idade para 25 anos, ele continuará sendo maior.

Coisa julgada: é a decisão definitiva do Poder Judiciário, sobre a qual não cabe mais recurso.

Fonte: <https://bibliotecademostoles.wordpress.com/2014/02/25/apps-para-realizar-un-seguimiento-de-los-libros-que-lees/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 19 | Aplicação da lei

período de um ano; as disposições transitórias, que têm como objetivo evitar conflitos durante a transição da vigência da lei anterior para a nova, e as normas vigentes em tempos de guerra.

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Portanto, você poderá concluir que, quanto aos processos em andamento, a lei processual nova terá aplicação imediata desde o início de sua vigência, mas deverão ser respeitados os atos processuais realizados sob a égide da lei processual anterior. Trata-se do Princípio do tempus regit actum.

Assim, os atos já consumados serão mantidos, sendo os futuros regidos pela nova lei. É, portanto, adotado o Sistema do Isolamento dos Atos Processuais. Nas palavras de Horácio Wanderlei Rodrigues (2012, p. 247): “o processo, por ser dividido em diferentes atos, independentemente da fase em que se encontrem, pode ser regido, em cada um deles, por norma diferente”.

Após conhecer as principais regras de aplicação da lei processual no tempo e no espaço, você já pode responder à pergunta correspondente a esta seção de autoestudo sobre a situação da realidade profissional apresentada no início deste livro didático.

A lei somente terá sua vigência prorrogada quando assim expressamente determinar. Portanto, se durante o trâmite da ação reivindicatória houver o surgimento de outra lei processual, não havendo previsão expressa de vacatio legis, é essa, nova, que passará a regular o processo.

Sem medo de errar!

Atenção!

Conforme determinam os artigos 5º, inciso XXXVII, da CF/1988, e 6º da LINDB, uma vez publicada determinada norma, ela, em regra, terá aplicação imediata, incidindo em todos os processos que estiverem em andamento.

Lembre-se

Entretanto, mesmo aplicada a lei nova ao processo devem ser respeitados os atos processuais realizados regularmente sob a égide da lei anterior.

Você poderá aplicar os conceitos estudados aos casos hipotéticos a seguir, respondendo às perguntas que os acompanham.

Avançando na prática

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Lembre-se

Para isso, você precisará relembrar das regras de aplicação da lei no tempo e no espaço, já estudadas.

Pratique mais!

InstruçãoDesafiamos você a praticar o que aprendeu, transferindo seus conhecimentos para novas situações que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com a de seus colegas e com o gabarito disponibilizado no apêndice do livro.

“Lei nova posterior ao ato processual”

1. Competências técnicas Eficácia da lei no tempo.

2. Objetivos de aprendizagemAplicar o conteúdo teórico estudado em uma hipótese que apresenta um caso prático.

3. Conteúdos relacionados Aplicação da lei processual.

4. Descrição da SP

Imagine que o réu “B” apresentou sua defesa (Contestação) e, algum tempo depois, uma nova lei processual ab-rogou a anterior, estabelecendo nova forma processual de defesa.A contestação apresentada é válida? Justifique sua resposta.

5. Resolução da SP:

Sim, pois se deve respeitar o ato processual praticado, de acordo com a legislação vigente quando de sua concretização, respeitando-se, assim, o ato jurídico perfeito. Isso gera segurança jurídica e é possível em razão da adoção do Sistema do Isolamento dos atos processuais.

“Mulher estrangeira dá à luz no Brasil”

1. Competências técnicas Eficácia da lei no espaço.

2. Objetivos de aprendizagemAplicar o conteúdo teórico estudado em uma hipótese que apresenta um caso prático.

3. Conteúdos relacionados Eficácia da lei processual.

4. Descrição da SP

Um casal estrangeiro está no Brasil a turismo. A mulher dá luz a um bebê natimorto. Considerando que o domicílio do menor é o de seus pais, qual legislação será aplicada para definição se essa criança tem ou não personalidade jurídica: a do Brasil ou a do domicílio do referido casal?

5. Resolução da SP:Conforme dispõe o artigo 7º da LINDB, será o direito do local onde os estrangeiros são domiciliados que estabelecerá se esta criança possui ou não personalidade jurídica.

Faça você mesmo

Imagine a hipótese de um brasileiro, domiciliado no Brasil, que celebra um contrato com um estrangeiro, domiciliado em seu país de origem, onde a menoridade cessa aos 16 anos de idade. Constatando, posteriormente, que a idade dele é 17 anos, o brasileiro pleiteia, em juízo, a anulação do

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Faça valer a pena!

1. “Assim como cada Estado formula o seu direito substancial, para tutela dos interesses individuais e regulação dos respectivos conflitos, também lhes dá o instrumento de tutela daqueles e de composição destes. Tanto as leis daquele direito como as deste (direito processual) obrigam nos limites do território do Estado para o qual foram formuladas, pois somente dentro desses limites exerce a soberania”. (SANTOS, 1999, p. 34).

O jurista está se referindo a que princípio?

a) Perpetuatio jurisdictiones.

b) Territorialidade.

c) Legalidade.

d) Lex loci.

e) Tempus regit actum.

2. Quanto à eficácia da lei processual no tempo, foi adotado por nosso ordenamento jurídico o sistema do isolamento dos atos processuais.

Sobre ele, é correto afirmar que:

a) Não delimita a imediata aplicação da lei aos processos em andamento.

b) Estabelece que a lei nova não se aplica aos atos processuais praticados na vigência da lei anterior.

c) Revela a aplicação do princípio da eetroatividade.

d) Dispõe que cada fase processual deve ser regida por uma única lei.

e) Poderá ser aplicado aos processos findos.

3. O artigo 1º, caput da LINDB, estabelece que: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”.

Considerando que essa regra não é absoluta, ou seja, comporta exceções, assinale a alternativa correta:

negócio jurídico efetuado em razão da falta de capacidade do estrangeiro, menor de idade. A ação é julgada improcedente. Considerando as normas brasileiras, pode-se dizer que isso está correto?

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4. (Adaptada – FGV – 2011 – SEFAZ-RJ – Auditor Fiscal da Receita Estadual)

A lei brasileira começa a vigorar em todo o país no prazo nela descrito e, no seu silêncio, em quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

A esse respeito, analise as assertivas a seguir e assinale a alternativa que indica qual ou quais estão corretas:

I. A lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue, não se admitindo, portanto, leis destinadas à vigência temporária.

II. A lei revogada por outra que com ela se tornou incompatível deverá ser restaurada, caso a lei revogadora perca a vigência.

III. A lei brasileira entrará em vigor nos Estados estrangeiros que a admitam em três meses depois de oficialmente publicada.

a) Somente a III está correta.

b) Nenhuma está correta.

c) I e III estão corretas.

d) I e II estão corretas.

e) Somente a II está correta.

5. Caio Mário da Silva Pereira nos ensina que “a lei somente perde a eficácia em razão de uma força contrária à sua vigência. E tal força é a revogação, [...] com força de fulminar a sua obrigatoriedade. [...] mas não podemos considerá-la como razão única. Pode ainda ocorrer a morte da norma jurídica independentemente da existência de uma lei posterior que a venha destruir. Há leis que trazem ínsito o germe de extinção de sua obrigatoriedade. Há leis que já começam a vigorar com o estabelecimento

a) A publicação da norma gera obrigatoriedade instantânea ou diferida (vacatio legis).

b) Fora do território nacional, a lei entrará em vigor dois meses após sua publicação.

c) Quando a norma é publicada, ela pode ser efetivamente utilizada no mundo jurídico.

d) Vacatio legis é o período entre a publicação da lei e sua entrada em vigor.

e) Vigência da lei é o período de eficácia, de quando ela é publicada até a sua revogação.

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6. Qual é a finalidade da existência de normas de eficácia da lei processual no espaço e no tempo?

7. Pode haver lei sem Vacatio legis? Se sim, em que caso?

de um prazo para sua vigência, e força obrigatória a termo certo [...]” (PEREIRA, v. 1, 1990, p. 89).

Assinale a alternativa que indica quais afirmações estão corretas:

I – Segundo o Princípio da Continuidade, em regra, a lei tem caráter permanente.

II – A revogação parcial da lei denomina-se ab-rogação.

III – A lei temporária possui efeito erga omnes.

a) Todas estão corretas.

b) A I e a III estão corretas.

c) A II e a III estão corretas.

d) A I e a II estão corretas.

e) Apenas a I está correta.

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Seção 1.4

Princípios fundamentais

Após o estudo desta seção, você vai poder responder ao quarto e último questionamento sobre o caso prático apresentado no início deste livro didático.

Nas seções anteriores, já definimos, sobre a referida situação da realidade, que o comprador “B” será o autor da ação reivindicatória que será proposta em face do suposto invasor do imóvel “C”. Você também já descobriu que “B”, por estar sofrendo risco de evicção, denunciará a lide ao vendedor “A”.

Você viu ainda que, se a lei processual que rege essa ação for modificada no curso do processo, ela deverá ser imediatamente aplicada sendo, entretanto, respeitados os atos jurídicos já realizados sob a égide da lei anterior.

Agora, como situação-problema desta seção, é o momento de você descobrir qual princípio processual aparece de forma predominante nesse caso. Para tanto, vamos aprender os principais princípios que regem o direito processual.

Os princípios processuais constituem premissas, preceitos fundamentais que dão forma, caracterizam o sistema processual.

Eles norteiam a atividade jurídica, orientam o legislador na criação de novas normas, e os intérpretes e aplicadores da lei, para que possam alcançar o sentido real da norma.

Vamos estudar, a partir de agora, alguns princípios fundamentais do processo, para descobrirmos quais são as orientações inerentes a eles.

O artigo 5º, caput da CF/1988 estabelece que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”.

Por sua vez, o artigo 7º do CPC/2015 estabelece que: “É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais,

Diálogo aberto

Não pode faltar!

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aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”.

Como você deve ter notado, nesse princípio da isonomia ou da igualdade está contida a noção básica de igualdade.

Você já deve ter ouvido falar do ilustre brasileiro Rui Barbosa, que está no rol dos intelectuais mais brilhantes de todos os tempos. Dentre suas diversas formações, ele também foi jurista. Com imensa sabedoria e inspirado nas lições de Aristóteles, em seu discurso intitulado “Oração aos Moços”, ensinou-nos que: “A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam” (1999, p. 26).

Essa célebre frase pode lhe parecer, a princípio, um tanto confusa e complexa, mas sei que ela se tornará uma ideia cristalina em sua mente, assim que citarmos alguns casos em que o Princípio da Igualdade está envolvido. Tenho certeza de que você já deve pensar em algumas situações em que esse conceito é lembrado.

Podemos mencionar como exemplo o fato de que todos têm direito à saúde, conforme previsão contida nos artigos 196 a 200 da CF/1988, ou, ainda, a garantia de igual salário aos empregados que desempenham a mesma função e sob as mesmas condições de trabalho, norma legal expressa no artigo 461, da CLT/1943. Agora, esta ideia está ficando mais clara para você?

Mas como esse princípio pode estar relacionado ao direito processual? Ocorre que ele está presente na regra processual de que todos que buscam a solução de seus conflitos através da intervenção do Poder Judiciário também devem ter um tratamento igualitário.

O artigo 180, caput, do CPC/2015, estabelece que: “O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos [...]”.

Diversamente do que parece, essa regra não viola o princípio da isonomia, já que tal privilégio foi previsto porque o Ministério Público defende o interesse público e atua em muitos processos, de forma que não estaria sendo tratado com igualdade de condições se este benefício não existisse.

Fonte: Disponível em: <http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/AcademiaPML/Patro-45.htm>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 20 | Rui Barbosa

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Fonte: <http://www.jcidrammen.no/jci-drammen/team-announcements/plenum020615debating>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 21 | Princípio do Contraditório

Faça você mesmo

Pense ... o artigo 1.048, caput e inciso I, do CPC/2015, estabelece que: “Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6o, inciso XIV, da Lei n.o 7.713, de 22 de dezembro de 1988; [...]”.

Podemos dizer que tal regra de prioridade está de acordo com o princípio da isonomia? Por quê?

O Princípio do Contraditório está previsto no artigo 5º, inciso LV da CF/1988. Ele determina que as partes têm direito de reação, de serem ouvidas quanto aos fatos ou atos que lhes sejam desfavoráveis.

Por sua vez, os artigos 9º e 10º do CPC/2015 estabelecem, respectivamente, que: “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida” e “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”.

Exemplificando

Pense num caso em que “A” propõe uma ação judicial em face “B” e, durante esse processo, é realizada uma perícia. “C” propõe uma ação judicial contra “D”, sendo que sua pretensão é a mesma de “A”, de forma que deseja utilizar a perícia já realizada no processo entre “A” e “B”. Isso é possível?

Trata-se do instituto da Prova Emprestada. Sobre ela, o artigo 372 do CPC/2015 estabelece que: “O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório”.

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Assim, isso não poderá acontecer, porque “D” não participou da produção da perícia, de forma que não teve a oportunidade de, por exemplo, acompanhar em que condições foi realizada, apresentar quesitos ao perito, nomear assistente técnico ou impugná-la. Portanto, não lhe foram asseguradas as garantias advindas do princípio do contraditório.

Você já pensou por que o procedimento exige essa forma?

Embora o Princípio da Ampla Defesa também esteja previsto no artigo 5º, inciso LX da CF/1988, não se confunde com o Contraditório, na medida em que é uma garantia mais ampla do que ele.

Assim, prevê a possibilidade das partes se defenderem de todas as formas admitidas pelo direito. Isso equivale dizer que elas poderão produzir todas as provas previstas em lei, bem como utilizarem da faculdade de recorrer das decisões judiciais que entenderem incorretas, conforme as regras processuais previstas para tanto.

Entretanto, a realização de uma prova pericial era fundamental para a formação do convencimento do juiz sobre o caso. O princípio da ampla defesa foi respeitado?

O artigo 5º, inciso XXXV da CF, prevê que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nesse mesmo sentido é o artigo 3º do CPC/2015. Trata-se do Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional.

Isso equivale a dizer que a todos é conferido o acesso

Fonte: <https://tipsdederecho.wordpress.com/bases-legales-del-derecho-laboral/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 22 | Princípio da Ampla Defesa

Fonte: <http://www.laifi.com/laifi.php?id_laifi=1969>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 23 | Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional

Exemplificando

“A”, réu em um processo criminal, em sua defesa, requer ao juiz a oitiva da testemunha X, o qual é de fundamental importância para comprovar sua inocência. Ocorre que o juiz indefere a produção de tal prova, fundamentando que a considera irrelevante para apuração do dolo do réu.

Assim, o juiz, impedindo-o de utilizar a prova testemunhal para se defender da acusação que lhe imputada, está ferindo o princípio da ampla defesa.

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à justiça, com as possibilidades de postular e defender seus interesses em juízo.

Tal exercício é garantido e instrumentalizado pelo direito de ação, que você irá estudar mais adiante, através do qual será emitido um pronunciamento judicial sobre a pretensão formulada.

O artigo 98 do CPC/2015 dispõe que: “A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”.

Assim, a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, garante aos necessitados o acesso à Justiça, que ocorre através de atendimento jurídico realizado pela Defensoria Pública ou, onde ela ainda não foi criada, pelo Convênio de Assistência Judiciária Gratuita celebrado entre o referido órgão e a Ordem dos Advogados do Brasil.

Cumpre observar finalmente que nem todos os que ingressam em juízo recebem um provimento de mérito. Caso não estejam presentes todas as condições da ação, o direito de ação ficará restrito, sem que, entretanto, haja ofensa a este princípio (Unidade de Estudo 3, seção 1).

Exemplificando

“A” possui o direito de requerer o pagamento da sua pensão alimentícia atrasada. Mas está sem qualquer condição financeira de pagar as custas processuais e honorários advocatícios.

Então... quer dizer que “A” está impedido de buscar a concretização de sua pretensão? Se isso fosse verdade, estaríamos diante de um flagrante caso de desrespeito ao princípio ora estudado.

Faça você mesmo

Visualize a seguinte hipótese: “A”, beneficiária do seguro obrigatório – DPVAT, pelo falecimento de seu filho em um acidente de trânsito, propõe ação de cobrança para o seu recebimento. Ocorre que um dos argumentos de defesa da seguradora é que “A” não realizou o respectivo pedido administrativo, de forma que não teria direito de propor a referida ação judicial.

Esse argumento está conforme nosso ordenamento jurídico? Justifique.

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Para que possa julgar com imparcialidade, o juiz deve estar equidistante das partes. Trata-se do Princípio da Imparcialidade do Juiz.

Para garantir isso, o artigo 95 da CF/1988 prevê garantias e vedações a que estão submetidos os juízes.

Embora você irá estudá-las com detalhes no momento oportuno (Unidade 2, Seção 3), vamos a um exemplo.

Fonte: Disponível em: <http://karelinform.ru/?id=22764>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 24 | Princípio da Imparcialidade

Exemplificando

Por muitos anos, o juiz “A” desempenhou suas funções na Comarca X. Ocorre que, logo após sua aposentadoria, desejou atuar como advogado neste mesmo Juízo. Isso é possível?

Não, porque tal hipótese é proibida pelo artigo 95, parágrafo único, inciso V da CF, o qual estabelece que: “aos juízes é vedado exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração”.

Isso porque supõe-se que, por ter até então atuado como juiz, seus processos não serão tratados com imparcialidade.

O artigo 5º, inciso XXXVII da CF/1988, previu que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”, assim como o inciso LIII estabeleceu que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Os juízos ou tribunais de exceção são os criados posteriormente aos fatos que serão por eles julgados, de forma que poderiam implicar violação à imparcialidade do julgador, na medida em que são formados para julgar pessoas ou fatos específicos.

Por sua vez, o inciso LIII prevê o Princípio do Juiz Natural, através do qual o processo deverá ser julgado por alguém investido de jurisdição, competente de acordo com as regras de definição de competência e que integre um órgão julgador preexistente aos fatos que serão apreciados.

Sobre isso, o artigo 16 do CPC/2015 estabelece que: “A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código”.

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Fonte: Disponível em: <http://progressoassessoriaecomunicacao.blogspot.com.br/2013_02_01_archive.html>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 25 | Princípio da publicidade

Todas essas regras buscam a garantia de um sistema imparcial e livre de arbitrariedades, cujos órgãos jurisdicionais sejam independentes e estáveis.

É importante observar que o juiz possui total liberdade para formar sua convicção, de acordo com provas produzidas nos autos, que serão por ele valoradas (princípio do livre convencimento ou da persuasão racional – artigo 371 do CPC/2015 e artigo 155 do CPP/1941).

O Princípio da Publicidade estabelece que todos os atos processuais, inclusive os julgamentos são, em regra, públicos.

Entretanto, o artigo 5º, inciso LX da CF/1988, estabelece que o acesso a tais atos pode ser restrito diante da defesa da intimidade ou do interesse social. No mesmo sentido, é também o artigo 93, inciso IX, também da CF/1988.

No CPC/2015, esse princípio está previsto no artigo 11: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único: Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público”.

Observe que não há qualquer restrição nesse sentido em relação às partes e aos seus procuradores, mas tão somente em face de terceiros.

O artigo 189 do CPC/2015 e o 792, §1º do CPP/1941 estabelecem os casos em que os processos tramitarão em segredo de justiça.

Mas pode ser que, baseado, por exemplo, no interesse social, o juiz decrete que o processo correrá sob segredo de justiça, mesmo se tratando de hipótese não prevista no referido dispositivo legal.

Faça você mesmo

O juiz do processo “X” decreta que ele tramitará em segredo de justiça, mesmo não tendo ocorrido nenhuma das hipóteses legais que autorizam essa restrição. Estará caracterizada a ofensa ao princípio da publicidade.

Essa garantia se revela um instrumento de fiscalização e controle do Poder Judiciário, bem como de efetividade do contraditório.

O Princípio do Duplo Grau de Jurisdição prevê que, em regra, as causas julgadas

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em 1ª instância ou 1º grau estão sujeitas à revisão, através dos recursos previstos em lei, que serão direcionados à 2ª instância, ou seja, aos tribunais.

Assim, através de uma nova análise, por outro órgão jurisdicional, há a possibilidade de correção das decisões proferidas de forma equivocada.

Porém, há alguns casos em que esse princípio não será aplicado como, por exemplo, nas causas que deverão ser processadas e julgadas originariamente pelo Supremo Tribunal Federal, previstas no artigo 102 da CF/1988.

Dentre elas, podemos citar: as ações diretas de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e as infrações penais comuns cometidas pelo Presidente da República.

Portanto, podemos dizer que a razão desse princípio é submeter a decisão monocrática, proferida por uma única pessoa, a um órgão colegiado e mais experiente, ocorrendo, assim, um controle interno da atividade jurisdicional.

O artigo 5º, inciso LIV da CF/1988, prevê que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Ele revela o Princípio do Devido Processo Legal, que determina que deverá ser observada a lei na tramitação de todos os processos.

Fonte: Disponível em: <http://antonioriccitelli.com.br/>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 26 | Supremo Tribunal Federal - Brasília

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Fonte: Disponível em: <https://webgate.ec.europa.eu/fpfis/en/wiki-category/documentation>. Acesso em: 30 maio 2015.

Figura 27 | Princípio do Devido Processo Legal

Exemplificando

Um juiz, ao sentenciar um processo, deixou de fundamentar devidamente a sentença. Isso caracteriza uma violação a esse princípio, já que a legislação não foi respeitada (artigo 93, inciso IX da CF/1988).

Você se lembra da situação da realidade que lhe foi apresentada no início deste livro didático?

Agora, você já está apto a definir qual princípio processual prioritariamente será aplicado ao referido caso concreto. Qual você acha que será?

Após estudar os princípios fundamentais do processo, você deve ter concluído que todos aparecerão, mas, sobretudo, o princípio do contraditório, na medida em que a ação será contestada pelo réu, suposto invasor “C”, que terá a oportunidade de rebater as alegações formuladas pelo comprador “B”.

Ademais, caso o vendedor “C” vença, o comprador “B” acionará o vendedor “A” em regresso, que também se utilizará do princípio do contraditório para se defender.

Assim, pode-se dizer que ele atua nos mecanismos procedimentais, a fim de proporcionar um provimento jurisdicional em concordância com a legislação.

Sem medo de errar!

Noções introdutórias de direito processual

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Figura 27 | Princípio do Contraditório

Réu:Invasor "C"

Autor:Comprador "B"

Denunciaçãoda Lide

Se a ação for julgada improcedente, o

Autor – comprador "B", processará o Denunciado

– cendedor "A", em regreso, que

deverá se defender = pretensão X

resistência

Ação Reivindicatória

Réu – invasor "C" apresentará sua defesa em face das alegações do Autor – comprador "B" =

pretensão X resistência

Fonte: A autora (2015)

Avançando na prática

Lembre-se

Você se recorda de todos os princípios aplicáveis ao direito processual que estudamos?

Pratique mais!

InstruçãoDesafiamos você a praticar o que aprendeu, transferindo seus conhecimentos para novas situações que pode encontrar no ambiente de trabalho. Realize as atividades e depois as compare com as de seus colegas e com o gabarito disponibilizado no apêndice do livro.

“Acidente de trabalho”

1. Competências técnicas Princípios processuais.

2. Objetivos de aprendizagem Aplicação do princípio do contraditório.

3. Conteúdos relacionados Prova emprestada.

Para que você possa fixar o conteúdo dos princípios, bem como visualizá-los e aplicá-los no mundo jurídico, realize os exercícios a seguir:

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“Imagem que revela um princípio processual”

1. Competências técnicas Princípios processuais.

2. Objetivos de aprendizagem Aplicação do princípio do contraditório.

3. Conteúdos relacionados Prova emprestada.

4. Descrição da SP

Observe a imagem a seguir e indique qual princípio processual ela ilustra, dizendo em que ideia ele se fundamenta.

Figura 28 – Igualdade não significa justiça

Fonte: <diariodefeminices.blogspot.com.br/>. Acesso em: 30 maio 2015.

5. Resolução da SP:

A imagem ilustra o princípio da isonomia ou igualdade. Ele garante que todos devem ser tratados de forma igual perante a lei.

Porém, não basta que essa igualdade seja somente formal. Assim, às vezes, é necessário estabelecer benefícios a uns, que estejam em condições de vulnerabilidade e hipossuficiência, para que possam estar em igualdade de condições com os outros.

É tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.

4. Descrição da SP

“A” sofreu um acidente de trabalho. Daí que propôs ação acidentária em face do INSS e ação indenizatória contra seu patrão, sendo que ambas precisarão ser instruídas com uma perícia médica.Considerando o princípio do contraditório, responda às seguintes perguntas:a) Se a perícia realizada na ação acidentária for favorável a “A”, ele poderá utilizá-la na ação indenizatória?b) Se a perícia realizada na ação acidentária for favorável ao INSS, o patrão poderá utilizá-la na ação indenizatória?

5. Resolução da SP:

a) A princípio, não, porque o patrão não participou da produção da prova. Poderá ser utilizada como prova emprestada somente se ele aceitar.b) Sim, porque “A” participou da produção da prova.

Faça você mesmo

Seis pessoas são acusadas de participarem de uma chacina, que resultou no falecimento de vinte moradores de rua. Tal crime gerou uma grande comoção social, de forma que foi convocado um órgão colegiado especificamente para julgar o caso. Isso é admitido por nosso ordenamento jurídico? Justifique sua resposta.

Noções introdutórias de direito processual

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Faça valer a pena!

1. O artigo 229 do novo Código de Processo Civil estabelece que: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. §1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles. §2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos”.

Qual princípio processual foi contemplado por este dispositivo legal?

a) Contraditório

b) Publicidade

c) Devido processo legal

d) Isonomia

e) Duplo grau de jurisdição

2. Em um processo de ação de indenização por danos morais, o autor arrolou duas testemunhas, que deverão ser ouvidas em audiência. O réu tem o direito de conhecer esse rol com antecedência, para que, caso queira, possa contraditar tais testemunhas ou formular perguntas a serem feitas a elas. Esse direito é decorrente do princípio processual:

a) Da Isonomia.

b) Do Contraditório.

c) Da Publicidade.

d) Do Devido Processo Legal.

e) Da Oralidade.

3. “Qualquer que seja o grau de jurisdição em que o juiz exerce suas funções, ele tem absoluta independência, de forma que julgará apenas em obediência ao Direito e à sua consciência jurídica” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2008, p. 80).

Diante disso, responda qual é o princípio processual que garante o controle interno da legalidade e da justiça das decisões judiciais?

a) Inafastabilidade do controle jurisdicional

b) Publicidade

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4. O princípio do devido processo legal está previsto no artigo 5º, inciso LIV da Constituição Federal, que estabelece: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

Sobre esse princípio, assinale a alternativa que contém as assertivas corretas:

I – Previu expressamente que a autotutela, em regra, está excluída do nosso ordenamento jurídico.

II – Busca a obtenção de uma justiça efetiva e adequada.

III – Garante a ocorrência da prestação jurisdicional.

IV – O processo pode tramitar de forma diferente da prevista em lei, mas de acordo com as determinações do juiz.

V – A liberdade e os bens das pessoas estão sob a guarda do Poder Judiciário.

a) I, II e V.

b) I e II.

c) I, III e IV.

d) I, II, III e V.

e) II, III e V.

5. (Juiz – TRT-23 – 2011) Segundo o artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Essa regra consagra o princípio:

a) Da indelegabilidade da jurisdição

b) Da inafastabilidade da jurisdição

c) Do juiz natural

d) Da inevitabilidade da jurisdição

e) Da indeclinabilidade

c) Isonomia

d) Duplo grau de jurisdição

e) Contraditório

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6. (Adaptada – CESPE – 2012 – TJ-AC – Técnico Judiciário – Auxiliar) Considera-se o princípio do devido processo legal um supraprincípio, em virtude de consistir em um princípio base, norteador dos demais princípios que devem ser observados no processo.

Essa afirmação está correta? Justifique sua resposta.

7. “O tratamento formalmente igualitário pode ser causa de grande injustiças. [...] é da desigualdade formal que advém a igualdade substancial” (GONÇALVES, 2004, p. 26).

Explique o que quis dizer o jurista.

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Referências

ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. São Paulo: Saraiva, 2013. (Coleção Sinopses Jurídicas, v. 11)

BRASIL, Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015.

BRASIL, Decreto-lei n.º 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015.

BRASIL, Lei complementar n.º 95, de 26 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015.

BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015.

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2014.

COMETTI, Marcelo Tadeu e SHIKICIMA, Nelson Sussumu. Direito Civil. São Paulo: DPJ, 2007.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000.

FUX, Luiz (coord.). Novo CPC comparado. São Paulo: Método, 2015.

FUX, Luiz. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 408p.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2003, Coleção Sinopses Jurídicas, v. 1.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2014. v.1, 488p.

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KÜMPEL, Vitor Frederico. Direito Civil 3: direito dos contratos. São Paulo: Saraiva, 2005.

NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal. São Paulo: RT, 2013.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1990, v. 1.

RODRIGUES, Horácio Wanderlei; LAMY, Eduardo de Avelar. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Campus Jurídica, 2012.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1 e 2.

THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v.1, 920p.

WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de Processo Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, v.1.

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Apêndice

Gabaritos comentados com resposta-padrão

Teoria Geral do Processo: UNIDADE 1

Gabarito 1. Faça você mesmo!

Autotutela ou autodefesa:

Sim

Sim

Sim

Sim

Processo:

Pretensão: receber indenização por danos morais; e resistência: a ofensa não existiu.

Pretensão: reconhecimento da paternidade; e resistência: não é pai.

Representação e assistência:

Uma pessoa com 15 anos de idade somente poderá participar de um processo judicial se estiver representada por seus pais (artigo 3º, inciso I do CC/2002).

Já tal pessoa com deficiência mental necessitará da assistência de seus pais para estar em juízo (artigo 4º, inciso II do CC/2002).

Seção 2:

“A” (terceiro) tem relação jurídica com uma das partes (“B”) e essa relação é

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diferente da que está sendo discutida no processo (dívidas “X” e “Y”). Mas o resultado da ação não afeta a relação com o terceiro, não interfere na dívida “X”. Portanto, “A” não poderá ingressar como assistente nessa ação. Já que seu interesse é somente patrimonial, a ação de cobrança entre “C” e “B” não prejudica a ação de cobrança entre “A” e “B”.

Seção 3:

Sim, porque, segundo as normas do país de origem do estrangeiro, a menoridade civil cessa aos 16 anos, portanto possuindo ele capacidade para celebrar o contrato.

A decisão judicial se respalda, portanto, no artigo 7º da LINDB, que estabelece: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”.

Seção 4:

Princípio da isonomia ou da igualdade:

Sim, já que os idosos e os portadores de doenças graves se encontram em situação de vulnerabilidade em razão de sua idade e não podem ser prejudicados pela demora excessiva na obtenção da prestação jurisdicional.

Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional:

Não, porque a exigência de utilização da via administrativa anteriormente à propositura da ação implicaria impecilho ao direito de ação e, consequentemente, ao acesso ao Poder Judiciário, de forma que impediria que a pretensão do autor fosse analisada e sobre ela recaísse a prestação jurisdicional.

Princípio da imparcialidade do juiz:

Tal forma de julgamento não é admitida por nosso ordenamento jurídico, na medida em que estaria sendo criado um tribunal de exceção para julgar um crime ocorrido antes de sua formação e para julgar pessoas específicas.

Seção 3: não tem nenhum.

Seção 4:

Princípio da Isonomia ou da Igualdade:

Sim, já que os idosos e os portadores de doeças graves se encontram

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em situação de vulnerabilidade em razão de sua idade e não podem ser prejudicados pela demora excessiva na obtenção da prestação jurisdicional.

Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional:

Não, porque a exigência de utilização da via administrativa anteriormente à propositura da ação implicaria impecilio ao direito de ação e, consequentemente, ao acesso ao Poder Judiciário, de forma que impediria que a pretensão do autor fosse analisada e, sobre ela, recaísse a prestação jurisdicional.

Princípio da Imparcialidade do Juiz:

Tal forma de julgamento não é admitida por nosso ordenamento jurídico, na medida que estaria sendo criado um tribunal de exceção para julgar um crime ocorrido antes de sua formação e para julgar pessoas específicas.

Gabarito 2. Faça você mesmo!

Seção 1:

Falecimento do réu: haverá substituição processual, sendo que quem assumirá o polo passivo será o espólio de “B”, representado por seu inventariante.

Devedor com fiador: “A” poderá propor a ação em face de “B”, devedora; de “C”, sua fiadora, portanto, devedora solidária ou em face de ambas. Trata-se de litisconsórcio facultativo, já que há comunhão de obrigações (artigo 113, inciso I do CPC/2015).

Seção 2:

Falsificação de escritura:

É o caso de assistência simples. O terceiro “C” possui uma relação jurídica com “B” = lavratura da escritura do seu imóvel. A relações são diferentes = lavratura x falsificação. O resultado afetará a relação com o terceiro = se foi declarada a falsificação, o tabelião “C” responderá por perdas e danos juntamente com “B”.

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Contrato garantido por fiança:

É o caso de Chamamento ao Processo, em que “B” e “C” serão devedores solidários. Se “C” pagar a dívida, poderá cobrar “B” em regresso.

Seção 3:

Lei nova posterior ao ato processual:

Sim, pois deve-se respeitar o ato processual praticado, de acordo com a legislação vigente quando de sua concretização, respeitando-se, assim, o ato jurídico perfeito. Isso gera segurança jurídica e é possível em razão da adoção do Sistema do Isolamento dos Atos Processuais.

Mulher estrangeira dá à luz no Brasil:

Conforme dispõe o artigo 7º da LINDB, será o direito do local onde os estrangeiros são domiciliados que estabelecerá se esta criança possui ou não personalidade jurídica.

Seção 4:

Acidente de trabalho:

a) A princípio, não, porque o patrão não participou da produção da prova. Poderá ser utilizada como prova emprestada somente se ele aceitar.

b) Sim, porque “A” participou da produção da prova.

Imagem que revela um princípio processual:

A imagem ilustra o princípio da isonomia ou igualdade. Ele garante que todos devem ser tratados de forma igual perante a lei.

Porém, não basta que essa igualdade seja somente formal. Assim, às vezes, é necessário estabelecer benefícios a uns, que estejam em condições de vulnerabilidade e hipossuficiência, para que possam estar em igualdade de condições com os outros.

É tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.

Gabarito 3. Faça você mesmo!

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1. Letra D.

Comentário: o artigo 1210, §1º do Código Civil prevê a possibilidade de o possuidor turbado ou esbulhado, por sua própria força, respectivamente, manter-se ou restituir-se na posse.

2. Letra C.

Comentário: renúncia: André não deseja mais cobrar a dívida; submissão: João concorda com a pretensão de Maria; transação: Antônio faz um acordo com sua filha.

3. Letra C.

Comentário: o condomínio pode ser parte, desde que representado pelo seu síndico.

4. Letra D.

Comentário: no litisconsórcio unitário, a sentença deve ser igual para todos que o compõem. O facultativo não exige a presença de todos os litisconsortes. No simples, a sentença não precisa ser igual para todos. No multitudinário há muitas partes. Já o necessário deve ser obrigatoriamente formado para o prosseguimento do processo.

5. Letra B.

Comentário: haverá litisconsórcio multitudinário quando houver multiplicidade de partes, que comprometa a rápida solução do litígio, gere risco de prejuízo para a defesa ou que comprometa o cumprimento da sentença.

6. Resposta: princípio da economia processual (visa conferir às partes o máximo de resultado com o mínimo esforço) e harmonia dos julgados.

7. Resposta: da modalidade autotutela, que somente é admitida por nosso ordenamento jurídico desde que expressamente autorizada, como ocorre, por exemplo, com o estado de necessidade.

Faça valer a pena . Seção 1.2

1. Letra A.

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Comentário: na assistência simples o assistente tem interesse no êxito da parte. Já na assistência litisconsorcial, o interesse é do próprio terceiro.

2. Letra B.

Comentário: isso porque, no litisconsórcio necessário, o processo não pode prosseguir sem a participação de todos os litisconsortes. E eles são informados que devem participar do processo através da citação.

Veja o que estabelece o artigo 114, do novo Código de Processo Civil: “O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes”.

3. Letra E.

Comentário: caso o fiador pague a dívida, ele poderá cobrar do devedor, em regresso, seu prejuízo nos mesmos autos.

4. Letra E.

Quando houver comprovação de que seus sócios ou administradores agiram com desvio de finalidade ou quando houver confusão patrimonial, poderá ser desconsiderada a personalidade jurídica da empresa, atingindo-se seu patrimônio pessoal.

5. Letra C.

Comentário: o artigo 138, do CPCq2015 estabelece que: “O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação”.

6. Comentário: ambos existem somente no campo da legitimação extraordinária.

Porém, para que haja litisconsórcio facultativo unitário, é preciso que exista uma relação jurídica única e incindível entre vários titulares e a autorização legal para que ela seja defendida em juízo por apenas um deles.

Assim, se eles forem a juízo juntos, haverá litisconsórcio facultativo unitário. Entretanto, se somente um deles propor a ação para defender o interesse de

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todos e os demais, posteriormente, desejarem participar do processo, serão assistentes litisconsorciais (GONÇALVES, 2004, p. 168).

7. Resposta: A denunciação da lide objetiva o exercício do direito de regresso decorrente de lei ou de contrato. Porém, o Chamento ao processo tem como objetivo o exercício do direito de regresso, mas somente em duas hipóteses específicas, quais sejam, se tal direito for decorrente de fiança ou de solidariedade.

“Obrigação solidária é aquela em que, havendo multiplicidade de credores ou de devedores... cada credor terá direito à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo todo, como se fosse o único devedor” (DINIZ, 2000, p. 151).

Faça valer a pena . Seção 1.3

1. Letra B.

Comentário: a legislação tem eficácia somente dentro do território que a criou, onde existe soberania.

2. Letra B.

Comentário: a lei nova não pode atingir os atos processuais praticados sob a égide da lei anterior e deve respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

3. Letra A.

Comentário: porque a norma entra em vigor na data da sua publicação em data posterior, prevista nela mesma.

4. Letra A.

Comentário: III – É o que determina o artigo 1º, §1º da LINDB: nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

5. Letra B.

Comentário: I – A lei é permanente, já que somente perde sua vigência com o advento de outra lei que a modifique ou a revogue. III – A lei temporária

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possui efeito erga omnes, pois atinge a todos sem exceção.

6. Resposta: porque é necessário estabelecer os limites territoriais de incidência da norma, bem como a data de início e de cessação de sua vigência, e qual regra será aplicada diante da modificação da norma (sucessão de lei pelo tempo).

7. Resposta: sim. Isso ocorrerá sempre que a lei apresentar um comando que fixar sua entrada em vigor na data de sua publicação.

Faça valer a pena . Seção 1.4

1. Letra D.

Comentário: a previsão legal de concessão de prazo diferenciado para litisconsortes com advogados diferentes é decorrente do princípio da isonomia, já que tal regra visa dar igualdade de condições a todos os procuradores.

2. Letra B.

Comentário: pelo princípio do contraditório, cada parte tem o direito de se manifestar sobre o que a outra alegou ou sobre as provas que produziu.

3. Letra D.

Comentário: pelo princípio do duplo grau de jurisdição, há a possibilidade de revisão das decisões proferidas pelo juiz singular por um órgão colegiado (tribunal).

4. Letra D.

Comentário: I – A autotutela é permitida por nosso ordenamento jurídico somente nos casos autorizados especificamente pela lei. II – A busca da justiça se dá por meio de atos estabelecidos na lei. III – A prestação jurisdicional é resultado da aplicação do Devido Processo Legal. V – Como a liberdade e os bens das pessoas estão sob a guarda do Poder Judiciário, somente por decisão dele, fundamentada em fatos e de acordo com a lei, elas poderão perdê-los.

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5. Letra B.

Comentário: isso porque o Poder Judiciário não poderá se eximir de julgar determinado conflito de interesses.

6. Resposta: sim, já que os demais princípios processuais estão nele englobados, inseridos. Assim, quando dizemos que deve ser respeitado o devido processo legal, estamos dizendo que as pessoas têm direito a resolver seus conflitos de interesses, acionando o Poder Judiciário (princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional), que a parte tem o direito de se pronunciar sobre o que a outra alegou (princípio do contraditório), que o processo deve ser julgado por quem tem competência legal para tanto (princípio do juiz natural), que deve ser dada às partes a possibilidade de recorrerem das decisões que lhes são desfavoráveis (princípio do duplo grau de Jurisdição) etc., ou seja, o processo deve acontecer segundo determina a legislação.

7. Resposta: não basta tratar igualmente a todos, que nem sempre têm as mesmas condições econômicas, sociais ou técnicas. É preciso que a igualdade seja real.

Exemplo: não se pode conferir os mesmos direitos e obrigações a fornecedores e consumidores, porque esses estão em condição de hipossuficiência em relação àqueles e, portanto, precisam de uma proteção maior para que estejam no mesmo nível dos fornecedores, sem a qual haveria um grande desequilíbrio.