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Cainan Gea Turma 187 Sala XI

Teoria Geral Do Processo (Marcato)

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Page 1: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Cainan Gea

Turma 187 – Sala XI

Page 2: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Contents 1. Ação ........................................................................................................................................... 5

1.1 Introdução – Aula Marcato ................................................................................................. 5

1.2 Teoria da ação ..................................................................................................................... 8

1.2.1 Teoria eclética .............................................................................................................. 8

1.3 Condições da ação ............................................................................................................. 10

1.3.1 Possibilidade jurídica do pedido................................................................................. 11

1.3.2 Interesse de agir ......................................................................................................... 11

1.3.3 Legitimidade ............................................................................................................... 14

1.4 Elementos da ação ............................................................................................................ 15

1.4.1 Partes.......................................................................................................................... 15

1.4.2 Pedido......................................................................................................................... 16

1.4.3 Causa de pedir ............................................................................................................ 17

1.5 Fenômenos da ação .......................................................................................................... 17

1.5.1 Aula – Marcato ........................................................................................................... 19

1.5.2 Prejudicialidade .......................................................................................................... 20

1.5.3 Litisconsórcio .............................................................................................................. 22

2. Processo .................................................................................................................................. 27

2.1 Princípios processuais ....................................................................................................... 27

2.1.1 Devido processo legal ................................................................................................. 27

2.1.2 Contraditório .............................................................................................................. 28

2.1.3 Motivação das decisões ............................................................................................. 32

2.1.4 Princípio da isonomia ................................................................................................. 33

2.1.5 Princípio da economia processual .............................................................................. 35

2.1.6 Principio da instrumentalidade da forma .................................................................. 36

2.1.7 Princípio da cooperação ............................................................................................. 37

2.1.8 Princípio da probidade processual (Princípio da boa fé e da lealdade processual); .. 38

3.Sujeitos do processo ................................................................................................................ 39

3.1 Considerações gerais ......................................................................................................... 39

3.2 O juiz .................................................................................................................................. 39

3.3 Demandante e demandado .............................................................................................. 39

3.4 Litisconsórcio ..................................................................................................................... 40

3.5 Intervenção de terceiro ..................................................................................................... 40

3.6 Ministério Público ............................................................................................................. 40

Page 3: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

4. Partes....................................................................................................................................... 41

5. Jurisdição ................................................................................................................................. 42

5.1 Conceito ............................................................................................................................ 42

5.2 Equivalente jurisdicionais .................................................................................................. 43

5.2 Escopos da jurisdição ........................................................................................................ 45

5.3 Características principais ................................................................................................... 45

5.3.1 Caráter substitutivo .................................................................................................... 45

5.3.2 Lide ............................................................................................................................. 46

5.3.3 Inércia ......................................................................................................................... 46

5.3.4 Definitividade ............................................................................................................. 46

5.4 Princípios da jurisdição ...................................................................................................... 46

5.4.1 Investidura .................................................................................................................. 46

5.4.2 Territorialidade (aderência ao território) ................................................................... 47

5.4.3 Indelegabilidade ......................................................................................................... 47

5.4.4 Inevitabilidade ............................................................................................................ 47

5.4.5 Inafastabilidade .......................................................................................................... 48

5.4.6 Juízo natural ............................................................................................................... 48

5.4.7 Duplo grau de jurisdição ............................................................................................ 48

5.5. Espécies de jurisdição....................................................................................................... 48

5.5.1 Jurisdição penal ou civil .............................................................................................. 48

5.5.2 Jurisdição superior ou inferior ................................................................................... 49

5.5.3 Jurisdição comum e especial ...................................................................................... 49

6. Competência ........................................................................................................................... 49

6.1 Introdução ......................................................................................................................... 49

6.2 Competência relativa e absoluta ....................................................................................... 50

6.2.1 Competência relativa X Competência absoluta ........................................................ 51

6.3 Critérios para fixação de competência .............................................................................. 53

6.4 Espécies de competência .................................................................................................. 54

6.4.1 Competência territorial .............................................................................................. 54

6.4.2 Competência funcional .............................................................................................. 55

6.4.3 Competência em razão da matéria ............................................................................ 56

6.4.4 Competência em razão da pessoa ............................................................................. 56

6.4.5 Competência em razão do valor da causa ................................................................. 57

6.5 Competência da Justiça Federal ........................................................................................ 57

Page 4: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

6.6 Modificações da competência .......................................................................................... 57

6.6.1 Prorrogação de competência ..................................................................................... 57

6.6.2 Prevenção da competência ........................................................................................ 59

6.6.3 Perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdiciotinis) ............................................. 60

Page 5: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

1. Ação

1.1 Introdução – Aula Marcato

No direito, os conflitos caracterizam-se por situações em que uma pessoa, pretendendo

para si determinado bem, não pode obtê-lo – seja porque (a) aquele que poderia satisfazer

a sua pretensão não a satisfaz; (b) o próprio direito proíbe a satisfação voluntária da

pretensão (Ex.: a pretensão punitiva do Estado não pode ser satisfeita mediante um ato de

submissão de um suposto criminoso).

A eliminação dos conflitos pode ocorrer por obra de um ou de ambos os sujeitos dos

interesses conflitantes, ou por ato de terceiro.

1. Na primeira hipótese, um dos sujeitos (ou cada um deles) consente no sacríficio total

ou parcial do próprio interesse (autocomposição) ou impões sacríficio do interesse

alheio (autodefesa ou autotutela).

2. Na segunda hipótese, enquadram-se a defesa de terceiro, a conciliação, a mediação e

o processo (estatal ou arbitral).

Atualmente, se há um conflito entre duas pessoas, devido a alguma causa de insatisfação

(resistência de outrem ou veto jurídico à satisfação voluntária), o direito impõe que, se se

quiser pôr fim a essa situação, seja chamado o Estado-juiz, o qual virá dizer qual a vontade

do ordenamento para o caso concreto (declaração) e, se for o caso, fazer com que as

coisas se disponham conforme essa vontade (execução)

Institutos fundamentais do processo

Os institutos fundamentais do processo são:

a) Ação

b) Jurisdição

c) Processo

d) Direito de defesa (Assegurado no art. 5°, LV, da CF).

Obs.: Os ensinamentos dessa matéria valerão para toda a ciência processual (civil, penal ou

trabalhista). Por exemplo, o elemento da ação e o direito de ação são comuns a todas essas

áreas, porém o que mudará em cada área é o direito material em jogo.

AÇÃO PROCESSO JURISDIÇÃO DEFESA

Page 6: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Direito de ação

Todas as pessoas (jurídicas ou físicas), quando sentirem que teve um direito ameaçado ou

lesionado, têm o direito de buscar a tutela jurisdicional (= proteção estatal para o seu

direito, mediante a utilização de um processo judicial).

Nem todos possuem o direito à tutela, seja porque falta o direito de ação em si, seja

porque falta o direito material.

Ex.: Uma mulher é constantemente agredida pelo marido. O pai da mulher, ao saber

da situação, resolve ingressar em juízo contra o genro. O sogro ingressa em juízo com

uma ação de divórcio. O sogro busca a tutela jurisdicional, porém, por não ter

legitimidade para buscar o divórcio, ele não possui o direito de ação pedindo uma ação

de divórcio (Quem não possui direito de ação, não possui direito à resposta

jurisdicional). Logo, para que o sogro possua o direito de ação, ele deve cumprir todas

as condições de ação.

É possível ter direito de ação, mesmo quando o autor não possui razão (Se tivesse, o autor

obteria um direito de resposta favorável).

Ao ingressar em juízo a petição inicial, certamente, nascerá um processo judicial.

Porém isso não significa que existirá um resultado (positivo ou negativo).

O processo servirá para o exercício do poder jurisdicional.

O pode ju isdi io al juris dictio = dizer o direito) é exercido por integrantes do

Poder Judiciário (Juízes).

Se o autor não possui o direito de ação, não haverá aplicação da norma no caso concreto. Se o

autor possui o direito de ação, haverá aplicação da norma e a obtenção de um resultado

(positivo ou negativo. O resultado é obtido através da aplicação do poder jurisdicional).

Salvo o caso em que o juiz indefira a petição inicial, o réu será citado para que possa

exercitar o direito de defesa (integração compulsória). O réu, porém, pode comparecer

espontaneamente perante o juiz.

No momento em que o réu é citado ou comparece espontaneamente, o réu possui o

direito de ampla e irrestrita defesa (CF, art. 5°, IV).

Enrico Tullio Liebman (doutrinador italiano) foi um influente doutrinador no ramo do

direito processual civil brasileiro. Influenciou Alfredo Buzaid, mentor do Código de

Processo Civil, que entrou em vigor em 1974.

Segundo Liebman, o direito de ação é o direito de estar em juízo, postulando uma

tutela jurisdicional, ainda que o resultado seja desfavorável a quem o postulou.

O direito de ação está condicionado à presença de alguns requisitos:

1. Legitimidade de ser parte

2. Interesse de agir em juízo (também conhecido como interesse instrumental).

3. Possibilidade jurídica

Page 7: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

O autor só possui direito de ação quando busca obter, em juízo, um resultado favorável

que o juiz possa conceder. O réu não pode buscar a tutela jurisdicional de um direito de

ação que não existe (Por exemplo, na Itália, não existia o direito de divórcio).

Posteriormente, Liebman afirmou que o direito de ação estaria: (1) ligado ao interesse

de agir, logo não seria condição autônoma; (2) ligado ao direito de material (isto é, não

está relacionado com a ação, mas, sim, com o resultado).

Exemplo.: Pela legislação brasileira, o locatário/inquilino, caso cumpra determinados

requisitos (por exemplo, o contrato deve ter no mínimo 5 anos) tem o direito material à

renovação de locação comercial. Porém caso você alugue o imóvel por dois anos, não

existirá um direito à renovação. Nesse exemplo, caso o autor ingresse com uma ação

renovatória pedindo renovação de um contrato de dois anos, o autor não possui ação ou

não possui razão?

a) Caso a resposta seja não possui ação , a possi ilidade ju ídi a o dição de ação. b) Caso a resposta seja não possui razão , a possi ilidade ju ídi a ito da ausa,

ligada ao direito material.

Para que o autor ingresse em juízo, além da legitimidade, o autor deve ter o juízo

instrumental (interesse de agir em juízo).

Ex.: Nota promissória é o titulo de c dito p o essa de paga e to. Po exe plo: Eu, Fula o, e o heço ue sou devedo e p o eto paga X eais e lo al A o dia B . O credor, apesar de possuir uma nota promissória (isto é, tem interesse/necessidade de

receber a quantia. Em outras palavras, possui direito material de crédito), não pode

entrar em juízo exigindo a quitação da dívida antes do prazo acordado (isto é, não

pode exigir a tutela jurisdicional).

Obs.: Pelo Código em vigor, as condições do direito de ação são três. Já no futuro Código, as

condições serão duas (legitimidade e interesse processual).

Exemplo: A Lei dos alimentos gravídicos confere a gestante o direito aos alimentos. Surge a

seguinte questão: Caso a mulher entre em juízo, ela ou o filho possui o direito aos

alimentos?

Se for o filho, quem tem legitimidade para estar em juízo é o filho, contudo o filho

ainda não nasceu. Nesse caso, como o alimento chega ao bebê através do cordão

umbilical, quem possui o direito é a mãe.

A sentença de mérito é a sentença pela qual o juiz julga o pedido feito pela petição inicial

(Após o processo de conhecimento [o juiz conhece todos os fatos do conflito], o juiz irá

julgar unicamente o pedido feito. Caso o juiz julgue fora do que o autor pediu [extra

petitum], a sentença é nula). Portanto, o juiz pode acolher o pedido totalmente (sentença

de procedência), parcialmente (sentença de procedência parcial) ou até não acolher o

pedido (sentença de improcedência).

Caso haja vício formal, o juiz declara sentença terminativa (encerra o processo, sem o

julgamento da petição, mesmo que haja direito material).

Page 8: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Obs.: Caso não haja a sentença de mérito, o autor pode iniciar um novo processo.

O pedido ou a causa do pedido da petição inicial pode ser alterado antes da citação do réu.

Caso o réu for citado, o pedido ou causa do pedido só pode ser alterado com o

consentimento do réu. Após o processo ser saneado (= atende os requisitos para ser

iniciado), não é possível alterá-los.

Conclusão: Para que exista o julgamento do mérito, o autor deve possuir direito de

ação. Para possuir direito de ação, todas as condições devem estar presentes.

De acordo com o código atual, se o autor não possui direito de ação (Por exemplo,

cobrança de dívida de jogo), o juiz irá indeferir a petição inicial. No novo código, o juiz irá

declarar que o autor não tem razão (sentença de improcedência).

Obs.: Também há casos em que o réu julga o mérito de plano, favorecendo o réu, mesmo o

réu não sendo citado. Nesses casos, o direito do autor inequivocamente não existe.

1.2 Teoria da ação

Atenção: Ainda que o Código de Processo Civil tenha expressamente consagrado a teoria

eclética da ação, existem entendimentos doutrinários que defendem a teoria do direito

abstrato de ação e a teoria da asserção.

1.2.1 Teoria eclética

Atribui-se a Enrico Liebman a criação da teoria eclética. Para a teoria eclética, o direito de

ação e o direito material existem de forma autônoma e independente. Porém o direito de

ação não é incondicional e genérico, porque só existe quando o autor tem o direito a um

julgamento de mérito, que tanto pode ser favorável ou desfavorável.

O julgamento de mérito só ocorre no caso concreto quando determinados requisitos

são preenchidos.

A teoria eclética defende que a existência do direito de ação depende do preenchimento

de e uisitos fo ais de o i ados condições da ação . As condições da ação não se confundem com o mérito mesmo que ambas sejam

aferidas à luz da relação jurídica de direito material discutida no processo, sendo

analisadas preliminarmente e, quando ausentes, geram uma sentença terminativa de

carência de ação (CPC, art. 267, VI) sem a formação de coisa julgado.

o Caso as condições estejam presentes, o juiz profere a sentença de mérito, que

poderá acolher ou rejeitar o pedido do autor.

Distinção entre direito de petição e direito de ação:

Direito de petição é o direito de obter uma manifestação do órgão público, entre eles

o Judiciário. O direito de petição é amplo, genérico e incondicional.

Direito de ação é o direito a uma sentença de mérito. O direito de ação depende do

preenchimento de certas condições.

Page 9: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

O CPC adotou a teoria eclética ao prever que a sentença fundada em ausência das

condições de ação é meramente terminativa, não produzindo coisa julgada material (art.

267, VI).

Proposta uma ação sem a presença das condições da ação, caso estas venham a se

verificar supervenientemente, não caberá extinção do processo sem a resolução do

mérito.

Semelhantemente, mesmo estando as condições da ação presentes no momento da

propositura, havendo carência superveniente, o processo deve ser imediatamente

extinto sem a resolução do mérito.

Na carência superveniente a questão referente ao responsável pelo pagamento das verbas

de sucumbência (= tudo o que a parte gastou para ajuizar a ação) deve ser resolvida com

base em dois elementos:

a) Se no momento de propositura da demanda era necessária a intervenção jurisdicional;

b) Quem foi o responsável pelo ato superveniente que acarretou a carência da ação,

devendo a este ser imputada a responsabilidade de pagamento das verbas de

sucumbência.

1.2.1.1 Aula – Marcato

O direito de ação é o direito abstrato, condicionado (sua presença ocorre devido a uma

série de condições) e exercitado em juízo com o objetivo de obter determinado resultado,

ainda que o resultado não seja favorável.

Ex.: O auto i g essa e juízo. Na petição i i ial, o auto afi a tal dia, tal ho á io, tal dia, dirigindo de forma imprudente, colidiu com o meu carro e causou danos. Na

petição inicial, o autor narrou uma série de fatos (causa de pedir) e, desses fatos,

extraiu-se uma consequência jurídica (CC, art. 486). O autor espera um resultado:

indenização pecuniária. Se as condições da ação estiverem presente e estas serem

analisadas em abstrato, o autor terá direito ao resultado, positivo ou negativo.

No momento em que o autor ingressa em juízo, exercendo o seu direito de obter tutela

jurisdicional, certamente, nascerá o processo judicial. Mesmo quem não tenha direito de

ação, gerará o processo.

O direito de estar em juízo não é um direito a resultado, mas, sim, um direito de obter

tutela jurisdicional (início do processo).

Caso o juiz analise que uma das partes é ilegítima, o processo será extinto sem resolução

do mérito (julgamento da causa) [CPC, 267, I].

Para se desenrolar de maneira válida, o processo judicial deve seguir as mínimas garantias

do devido processo legal (due process of law)

Principio da defesa

Page 10: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Caso ocorra reveria (situação processual em que o réu não se comparece para se

defender), poderá haver duas consequência:

Processo penal: O juiz criminal tem o dever funcional de designar um defensor publico.

O réu será defendido ainda que não queira. Se o juiz tiver dúvidas sobre a autoria e/ou

materialidade do crime narrado na denúncia, ele deve absolver o réu (in dubio pro

reo).

Processo civil: O réu possui direito a defesa. Caso o réu não se defenda, em regra, o

juiz irá aceitar o pedido do autor.

Jurisdição

O poder do Estado não pode ser exercido por ele, porque o Estado não é um ente material.

O poder do Estado se revela no mundo fenomênico através da ação dos seus agentes. O

juiz, ao julgar, está exercitando o poder jurisdicional (que não pertence ao juiz, mas, sim,

ao Estado) e irá aplicar a norma jurídica no caso concreto.

A função legislativa, por si só, é inócua. A função jurisdicional, por si só, é inútil. Logo,

uma função compreende a outra.

O juiz estatal só pode exercitar o poder jurisdicional por meio de um instrumento

adequado, ou seja, através do processo judicial.

Obs.: O árbitro exerce o poder jurisdicional (privado, e não estatal), só que o poder

jurisdicional é delegado pelas partes, e não pelo Estado.

Obs.: Não é possível recorrer às decisões do árbitro. É possível somente o uso de embargos

para esclarecer algumas partes do processo.

Julgar o mérito é, em última análise, julgar o pedido feito pelas partes.

Obs.: Mesmo que na petição inicial não haja menção explícita a juros, correção monetária,

verba honorária, etc. o juiz levará em conta isso.

O interesse de agir em juízo pressupõe a necessidade da tutela jurisdicional mais a tutela

que o autor busca obter.

1.3 Condições da ação

Nota: Inicialmente, Liebman, o criador da teoria eclética, defendia a existência de três

espécies de condições da ação: possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir e

legitimidade. Ocorre, porém, que o próprio Liebman reformulou seu entendimento

original, passando a defender somente duas condições da ação: interesse de agir e

legitimidade.

Obs.: O CPP adotou a ideia original de Liebman, expressamente prevendo as três espécies de

condições da ação originariamente imaginadas.

Page 11: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

1.3.1 Possibilidade jurídica do pedido

Na análise abstrata do pedido do autor, existem três resultados possíveis:

a) O pedido está expressamente previsto como apto a receber a proteção jurisdicional;

b) Não há nenhuma previsão legal a respeito do pedido;

c) Existe uma expressa vedação na lei ao pedido formulado.

Somente a vedação legal constitui a impossibilidade jurídica do pedido e, consequentemente,

o fim do processo.

E elação ao sig ifi ado de p ete são vedada pelo o de a e to ju ídi o , há dois entendimentos divergentes:

a) Parte da doutrina entende que se trata do pedido mediato, considerando-se que o

pedido de tutela jurisdicional é sempre possível

b) Parte da doutrina defende que a impossibilidade jurídica do pedido recai sobre o

pedido imediato, porque saber se o autor tem ou não o direito à obtenção do bem da

vida pretendido é matéria de mérito.

Crítica à segunda corrente: Possui uma dificuldade prática de distinguir a

impossibilidade jurídica do pedido do mérito para afirmar equivocadamente ser

possível verificar a carência da ação somente com a análise do pedido em seu

aspecto processual. Além disso, é impossível imaginar um pedido imediato

juridicamente impossível, considerando que a tutela jurisdicional é sempre

admitida em lei em razão do princípio da inafastabalidade da jurisdição (CF, art.

5.º, XXXV).

Parcela da doutrine defende a insuficiência da ideia original de impossibilidade jurídica do

pedido. Nesse entendimento, a possibilidade jurídica deve ser analisada tomando-se como

base de análise todos os elementos da ação, e não somente o pedido.

O pedido será juridicamente impossível quando a pretensão desejada pelo autor for

expressamente vedada pelo ordenamento jurídico,

Ex.:Ação movida por um Estado brasileiro que pede seu desligamento da Federação -

direito de secessão.

A causa de pedir será juridicamente impossível quando a ordem jurídica negar aos fatos

narrados pelo autor a geração de direitos (Ex.: ação em que se cobra uma dívida de jogo).

A parte pode gerar impossibilidade jurídica em determinadas situações (Ex.: A Fazenda

Pública não pode ser executada por quantia certa da forma tradicional

[Penhora/expropriação]).

1.3.2 Interesse de agir

A ideia de interesse de agir, também chamado de interesse processual, está associada à

utilidade da prestação jurisdicional que se pretende obter com a movimentação da

máquina jurisdicional.

Page 12: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Cabe ao autor demonstrar que o provimento jurisdicional pretendido será capaz de lhe

proporcionar uma melhora em sua situação fática, o que será o suficiente para

justificar o tempo, a energia e o dinheiro que serão gastos pelo Poder Judiciário na

resolução da demanda.

Não se deve analisar se o autor tem efetivamente o direito que alega ter e que, portanto,

se sagrará vitorioso na demanda, porque esse é tema pertinente ao mérito e não às

condições da ação.

O juiz deve analisar em abstrato e hipoteticamente se o autor, sagrando-se vitorioso,

terá efetivamente a melhora que pretendeu obter com o pedido de concessão de

tutela jurisdicional que formulou por meio do processo.

A inadequação procedimental é diferente da inadequação da pretensão à luz da lide

apresentada.

A inadequação procedimental está associada aos pressupostos processuais. O pedido

é apto a resolver a lide, mas o meio procedimental adotado pelo autor é inadequado.

o Ex.: Quando o autor requer uma prestação de contas pelo rito sumário, não resta

dúvida de que o seu pedido é apto a resolver o conflito de interesses que configura

a lide no caso concreto, mas o meio procedimental é inadequado porque nesse

caso o autor é obrigado a seguir o procedimento especial previsto nos arts. 914 a

925 do CPC

A ausência do interesse-adequação não é uma questão meramente procedimental,

mas derivada da inaptidão do pedido em resolver a lide apresentada na petição inicial.

o Ex.: Após a ocorrência de um esbulho possessório, não é adequado o pedido

reivindicatório, porque, mesmo que o autor realmente seja o proprietário da área

invadida, esse reconhecimento não será capaz de afastar o esbulho cometido, para

o que deveria ter sido pedido uma tutela possessória e não petitória.

1.3.2.1 Aula – Marcato

Tema da aula: Interesse de agir em juízo (também conhecido como interesse

instrumental ou interesse processual)

Todos os cidadãos possuem necessidades, e querem satisfazê-las. Esse interesse é

denominado interesse material. Em geral, é desses interesses que surgem os conflitos.

Lide (definição de Carnellutti): É o conflito de interesses (materiais) qualificado por uma

pretensão resistida ou insatisfeita.

Pretensão: É o poder de exigir algo. Esta ligada a ideia de direito de ação.

O conceito de lide pode se adequar bem em alguns casos, porém, em outros casos, isso

não é possível (Ex.: Numa ADI, não existe lide). Por isso, Marcato prefere usar o termo

crise. A crise é dividida em: crise de certeza e crise de insatisfação.

Page 13: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

A certeza está relacionada à existência ou não de determinado direito, da validade ou não

de determinado ato ou negócio jurídico. Essa crise exige do Judiciário uma solução que se

realiza por meio de uma declaração (Ex.: Numa ação investigatória de paternidade, há uma

crise jurídica, pois quem ingressa uma ação de parte idade busca uma declaração positiva

de que o réu é pai do autor).

A sentença não cria ou extingue nada, mas apenas declara uma certeza. Nesse caso, a

sentença proferida pode ser meramente declaratória, constitutiva ou condenatória.

Toda sentença de mérito tem o condão de ser declaratório. Contudo, algumas

sentenças não se limitem a declaração .

A sentença declaratória é positiva ou negativa. Positiva é quando a ação é julgada

procedente. Negativa é a Quando a ação não é julgada procedente.

Ex.: Na celebração de um contrato, viola-se uma cláusula pública legal. O negócio,

portanto, é nulo e não pode é gerar efeitos jurídicos. Nesse caso, cabe ao juiz realizar

uma sentença (exclusivamente) meramente declaratória.

A sentença constitutiva é aquela pela qual se cria, extingue ou modifica uma determinada

situação jurídica. Ela pode ser positiva (sentença constitutiva ) ou negativa (sentença

desconstitutiva).

Ex.: Quando o juiz julga procedente uma ação de separação, a separação tem por

objetivo o fim a sociedade conjugal, com manutenção do vínculo matrimonial. A

sentença de divórcio é aquela que extingue vínculo matrimonial.

Na sentença condenatória, o juiz declara o direito e impõe uma sanção. A sanção é a

imposição de algo. Ressalta-se que a sentença condenatória é a menos eficiente, pois pode

existir situação em que o autor possui o direito material, porém ele pode estar insatisfeito,

afinal o réu pode não pagar.

CRISE DE

CERTEZA

SENTENÇA

MERAMENTE

DECLARATÓRIA

SENTENÇA

CONDENATÓRIA

SENTENÇA

CONSTITUTIVA

Page 14: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Ex.: Numa ação de indenização por danos materiais, o autor quer que o juiz declare

que o autor tem direito a ser indenizado exemplo e, consequentemente, impor uma

sanção ao réu (no caso, uma indenização).

Alguns autores afirmam que a lide não é um fenômeno processual, mas, sim, social, afinal

pode haver lide sem processo, e vice versa (Ex.: Caso alguém bata no seu carro e se

ofereça pagar o conserto, não houve lide).

Interesse material é aquele que está sendo objeto de conflito. O interesse de agir em

juízo não está relacionado diretamente ao interesse material, mas, sim, está

relacionado ao interesse de obter uma tutela jurisdicional. Em outras palavras,

interesse material e interesse de agir são autônomos, possuem existência própria.

o Ex.: Caso você amasse o carro de alguém, você possui o direito de agir em juízo

contra o taxista, pedindo uma indenização, contudo você não possui direito

material, ou seja, direito à indenização

O interesse de agir é composto pela utilidade + necessidade. Quando se recorre ao poder

judiciário, além de se mostrar a necessidade da tutela jurisdicional, deve-se demonstrar a

utilidade da tutela para a solução do conflito.

Ex.: Caso uma pessoa me pague em cheque e o banco não desconte o cheque, eu não

devo entrar com uma sentença de cobrança, mas, sim, uma sentença de execução,

porque eu já possuo o título executivo. Caso tentasse obter a sentença de cobrança, o

interesse de agir em juízo não é útil.

1.3.3 Legitimidade

A legitimidade para agir é a situação prevista em lei que permite a um determinado

sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito formar o polo passivo

dessa demanda.

Em geral, serão legitimados ao processo os sujeitos que são descritos como titulares

da relação jurídica de direito material deduzida pelo demandante [ATENÇÃO: Essa

definição é válida somente para a legitimação ordinária].

A regra geral, em termos de legitimidade é que somente o titular do alegado direito pode

pleitear em nome próprio seu próprio interesse [CPC, art. 6°].

Excepcionalmente admite-se que alguém em nome próprio litigue em defesa do

interesse de terceiro, hipótese em que haverá uma legitimação extraordinária (Ex.: A

legitimação recursal da parte em apelar do capítulo da sentença que versa sobre os

honorários advocatícios).

A substituição processual ocorre quando o sujeito que recebe pela lei a legitimidade

extraordinária de defender interesse alheio em nome próprio.

Não se deve confundir substituição processual com sucessão processual. Sempre que

um sujeito que compõe o polo ativo ou passivo é retirado da relação jurídica

Page 15: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

processual para que um terceiro tome o seu lugar ocorrerá a sucessão processual (Ex.:

CPC, art. 42).

Não se deve confundir a substituição processual com a representação processual

(legitimatio ad processum). A representação processual está relacionada à capacidade

de estar em juízo. O representante processual atua em nome alheio na defesa de

interesse alheio, não sendo considerado parte no processo, mas mero sujeito que dá à

parte a capacidade para que esteja em juízo (Ex.: Numa ação de investigação de

paternidade, a mãe será representante processual do incapaz, que será autor e titular

do direito discutido nessa demanda).

1.4 Elementos da ação

Os elementos da ação se prestam a identificar a ação. É impossível afirmar que duas ações

são iguais, parecidas ou absolutamente diferentes sem o conhecimento de quais são os

elementos da ação.

São três os elementos da ação:

1. Partes;

2. Pedido;

3. Causa de pedir.

1.4.1 Partes

A doutrina entende que parte só é o sujeito que participa da lide, sendo que os demais

sujeitos, apesar de serem considerados participantes do processos, são terceiros.

Na hipótese das intervenções de terceiros típicas, o opoente faz pedido de tutela

jurisdicional; o nomeado à autoria se torna réu, sendo naturalmente contra ele feito

pedido; e a parte que provocou a intervenção faz pedido contra o denunciado à lide e o

chamado ao processo.

O opoente, nomeado à autoria, denunciado à lide e chamado ao processo são,

portanto, partes na demanda. Já o assistente, que não faz pedido e contra ele nada é

pedido, é tão somente parte no processo, o mesmo ocorrendo com o Ministério

Público quando funciona no processo como fiscal da lei.

Obs.: O STF posicionou-se no sentido de que o amicus curiae não é parte, mas um colaborador

informal da Corte, não configurando sua atuação espécie de intervenção de terceiros.

O conceito de parte na demanda ou no processo não se confunde com o conceito de

parte material, que é o sujeito que participa da relação de direito material que constitui o

objeto do processo.

AÇÃO PEDIDO CAUSA DE

PEDIR

Page 16: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Mesmo que não seja o titular dessa relação de direito material, mas participe do

processo, o sujeito será considerado parte processual, independentemente da

legalidade de sua presença no processo. Por isso, mesmo sendo parte ilegítima, o

sujeito é considerado parte processual pelo simples fato de participar do processo. Por

outro lado, mesmo sendo parte legítima, não há necessidade de a parte processual ser

também parte material (Como demonstra o fenômeno da substituição processual).

Existem quatro formas de adquirir a qualidade de parte:

1. Pelo ingresso da demanda (autor/opoente);

2. Pela citação (réu, denunciado à lide e chamado ao processo);

3. De maneira voluntária (assistente e recurso de terceiro prejudicado);

4. Sucessão processual (alteração subjetiva da demanda. Por exemplo, extromissão

de parte).

Também há a intervenção do Ministério Público como fiscal da lei, que intervém de forma

voluntária vinculada, ou seja, a palavra final a respeito da intervenção no processo é

sempre do Ministério Público, mas não será sua vontade, e sim a vontade da lei, que

demandará sua participação.

1.4.2 Pedido

O pedido pode ser analisado sob duas óticas:

Ótica processual: Representado pela providência jurisdicional pretendida

(condenação, constituição, mera declaração, acautelamento, satisfação)

Ótica material: Representado pelo bem da vida perseguido, ou seja, o resultado prático

(vantagem no plano dos fatos) que o autor pretende obter com a demanda judicial.

Obs.: Na doutrina, é comum nomear a espécie de tutela jurisdicional como o pedido

imediato (aspecto processual) e o bem da vida, como pedido mediato (aspecto material).

1.4.2.1 Certeza e determinação do pedido

Segundo o art. 286, caput, do CPC, o pedido deverá ser certo ou determinado (Obs.: Há

uma incorreção redacional, devendo-se e te de e o luga de ou , po ue os requisitos da certeza e determinação são cumulativos).

A certeza é exigida tanto no aspecto processual quanto no material do pedido.

I. No pedido imediato: O autor deve indicar de forma precisa e clara qual a espécie

de tutela jurisdicional pretendida;

II. No pedido mediato: O autor deve indicar o gênero do bem da vida pleiteado.

O direito brasileiro não admite pedido incerto, sendo a certeza do pedido o mínimo

exigível em todo e qualquer pedido.

A determinação só se refere ao pedido mediato, significando a liquidez do pedido,

ou seja, a quantidade e a qualidade do bem da vida pretendido.

Page 17: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

O pedido genérico é o que deixa de indicar a quantidade de bens da vida pretendida pelo

autor, sendo admitido somente quando houver permissão legal em lei.

Mesmo no pedido genérico, cabe ao autor fazer o pedido certo, ou seja, deve

determinar a espécie de tutela e o gênero do bem da vida.

1.4.2.2 Pedido implícito

O pedido deve ser expresso, não podendo o juiz conceder aquilo que não tenha sido

expressamente requerido pelo autor.

Essa regra sofre exceções, permitindo-se a concessão de tutela que não foi

expressamente pedida pelo autor (Obs.: A nomenclatura não é a mais adequada,

devendo-se entender por pedido implícito qualquer tutela não pedida pelo autor

que a lei permite que o juiz conceda de ofício).

São hipóteses de pedido implícito:

a. despesas e custas processuais;

b. honorários advocatícios (CPC, art. 20);

c. correção monetária (CC, art. 404);

d. prestações vincendas e inadimplidas na constância do processo em caso de contratos

de trato sucessivo (CPC, art. 290);

e. os juros legais/moratórios (CC, arts. 404 e 406) – não são considerados pedidos

implícitos os juros convencionais ou compensatório.

1.4.3 Causa de pedir

Teoricamente, a causa de pedir, independentemente da natureza da ação, é formada

apenas pelos fatos jurídicos narrados pelo autor. Contundo a causa de pedir não é

composta exclusivamente dos fatos jurídicos; além dos fatos, também a fundamentação

jurídica compõe a causa de pedir (CPC, art. 282, III).

Não confundir fundamento jurídico, que compõe a causa de pedir, com fundamento legal,

que não compõe a causa de pedir e decididamente não vincula o juiz em sua decisão, que

poderá decidir com outro fundamento legal, com respeito ao contraditório.

Fundamento legal é a indicação do artigo de lei no qual se fundamenta a decisão;

esse fundamento legal é dispensável e não vincula o autor ou o juiz, não fazendo

parte da causa de pedir.

Fundamento jurídico é o liame jurídico entre os fatos e o pedido, ou seja, é a

explicação à luz do ordenamento jurídico do porquê o autor merece o que está

pedindo diante dos fatos que narrou.

1.5 Fenômenos da ação

Os elementos são dados de identificação. Os elementos são três:

1. Partes (Elemento subjetivo)

2. Pedido (Elemento objetivo) – Pedido de tutela jurisdicional

Page 18: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

3. Causas de pedir (Elemento causal/causa petendi) – São as razões nas quais o pedido é

fundamentado. A causa de pedir é constituída pelos fatos (acontecimentos que dão

substratosa sua pretensão) e os fundamentos jurídico (base jurídica na qual o autor

apoia a sua pretensão). O fundamento jurídico é diferente da fundamentação legal,

que é o dispositivo da lei que contém o fundamento. No direito consuetudinário, pode

existir direito, mesmo que não haja uma previsão legal expressa. Na identificação da

causa de pedir, o mais importante são os fatos, pois o fundamento jurídico é o mesmo

em qualquer caso parecido. Se há duas ações com a mesma parte, porém o pedido de

uma não coincide com a outra, as ações não são iguais. Para duas ações serem iguais,

elas devem ter a mesmas partes, pedido e causas de pedir.

Os elementos da ação atuam como identificadores de determinadas ações, por isso, é

possível entrar com ações semelhantes ao mesmo tempo. A identificação de uma ação,

por base em seus elementos, tem como escopo compreender os fenômenos da ação e

resolver as questões relacionadas a ela. Os fenômenos são:

Litispendência (art. 301, §§1°, 2° e 3°): Significa uma lide pendente. Na linguagem

processual, a litispendência é a existência concomitante de dois ou mais processos

idênticos, caracterizando-se pela verificação da tríplice identidade [mesma parte,

mesma causa de pedir e mesmo pedido]. Toda vez que você entra em juízo,

promovendo uma ação, instaura-se um processo judicial. O processo se completa

quando o réu entra no polo passivo. Enquanto o processo estiver em curso, o processo

estará litispendente.

o O NCPC, repetindo o erro do código atual, define que há litispendência quando se

repete ação em curso. Isso é errado, pois a litispendência ocorre quando o

processo está em curso, impedindo a proposição de uma nova ação. Se isso

ocorrer, o processo será extinto, sem julgamento de mérito.

Perempção (art. 278, parágrafo único): Está prevista no código, porém nunca é

utilizada. Perimir significa extinguir. O art. 267, II e III, do código atual, define que se o

processo ficar paralisado por mais de 30 dias, a parte será intimada e, caso não se

manifeste em 48 horas, o processo será extinto. A única exigência para que se

verifique a perempção é o abandono do processo por três vezes, não importando o

motivo de tal abandono no caso concreto.

o A perempção não extingue o direito material da parte, nisso distinguindo-se da

decadência, nem a pretensão de direito material, nisso distinguindo-se da

prescrição. O ponto essencial dessas distinções é a possibilidade de a parte alegar

o direito material objeto das três ações extintas por abandono em sua defesa.

o O direito material objeto das três demandas extintas por abandono do autor não é

afetado pelo fenômeno da perempção, podendo, inclusive, ser utilizado em sede

defensiva. Contundo, o réu só poderá utiliza-la somente na contestação, resposta

defensiva por natureza contra a pretensão do autor (Ex.: Fernanda ingressou por

três vezes com ação indenizatória pedindo a condenação de Aline ao pagamento

de R$ 10.000,00 em razão de empréstimo inadimplido, sendo que nas três

oportunidades o processo foi extinto sem a resolução do mérito por abandono de

Fernanda (art. 267, III). Em razão do fenômeno da perempção Fernanda não

poderá mais ingressar com ação de cobrança contra Aline, mas, se porventura

Page 19: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Aline a demandar por outra obrigação inadimplida, poderá alegar seu direito de

crédito de R$ 10.000,00 em sua contestação [compensação]).

Coisa julgada ou preclusão máxima (art. 301, VI): É o fenômeno relacionado à

definitividade das decisões judiciais. Qualquer que seja a espécie de sentença –

terminativa ou definitiva – proferida em qualquer espécie de processo – conhecimento

(jurisdição contenciosa e voluntária), execução, cautelar – haverá num determinado

momento processual o trânsito em julgado e, como consequência, a coisa julgada

formal. A coisa julgada impede que se proponha a ação novamente ou que haja

modificação da decisão.

o No momento do trânsito em julgado e da consequente geração da coisa julgada

formal, determinadas sentenças também produzirão nesse momento

procedimental a coisa julgada material, com projeção para fora do processo,

tornando a decisão imutável e indiscutível além dos limites do processo em que foi

proferida. Devido à coisa julgada material, a decisão não mais poderá ser alterada

ou desconsiderada em outros processos.

Conexão (art. 103): Relacionados à prejudicialidade. Duas ações são conexas se

tiverem o mesmo objeto (isto é, o pedido) e a mesma causa de pedir. Na conexão,

duas ou mais ações, apesar de não serem idênticas, possuem um elo em comum. Para

existir conexão, deve haver identidade de pedido ou de causa de pedir. A conexão

acarreta a reunião de processos para o julgamento conjunto (Ex.: Dois amigos são

atropelados por um motorista e entram com uma ação contra o motorista. Ambos

entram com uma ação separada, porém há uma conexão entre elas).

Continência ou litispendência qualificada (art. 104): Relacionados à prejudicialidade.

A relação de continência é a relação entre o continente (= aquilo que contém algo) e o

conteúdo (= aquilo que está contido). Em outras palavras, há duas ações, em que as

partes são as mesmas, a causa de pedir é a mesma, porém o pedido de uma das partes

engloba o pedido da outra (Julga-se primeiro o continente e, posteriormente, o

conteúdo). Nesse caso, os processos devem ser unidos em uma única vara.

Obs1.: A coisa julgada em material, a litispendência e a perempção são obstáculos à proposição

de uma mesma ação.

Obs2.: Na perempção, só há coisa julgada formal.

Obs3.: Sentença terminativa (art. 267) – Coisa julgada formal; Sentenças de mérito (art. 269) –

Coisa julgada formal e material

1.5.1 Aula – Marcato

Os direitos materiais (direito à vida, direito à propriedade, etc.) são diferentes de direitos

processuais (direito de contestar, direito de ser ouvido em juízo, etc.). Os direitos e

faculdades que podem ser exercitados no processo estão sujeitos à preclusão. Há três

preclusões:

1. Temporal – Perda de um direito ou faculdade processual em virtude do seu não-

exe í io egula pela pa te i te essada pe da i útil

Page 20: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2. Consumativa – Consumar significa extinguir, esgotar. Significa a extinção de um direito

ou faculdade processual em virtude do seu exercício regular. Por exemplo, no

processo, o réu possui o direito de contestar. Caso conteste, o seu direito de contestar

se extingue.

3. Lógica – Qualquer processo judicial, possui um modo de ser (o modo como nasce,

desenvolve-se e termina). Portanto, no seu trâmite, o processo é regido por um

procedimento/rito. O procedimento/rito é o encadeamento de atos. Caso você

pratique um determinado direito ou faculdade no processo, não é possível exercer

atos (direito ou faculdade) que signifiquem um retrocesso no processo. Por exemplo, a

produção da prova em audiência é sempre posterior á contestação.

No processo, todo e qualquer direito e exercício que será realizado está sujeito à prazo.

Quando não houver prazo expresso na lei ou determinado pelo juiz, o prazo será de 5 dias

(Ex.: Caso o réu seja citado, ele possui 15 dias para se manifestar).

Os prazos (período de tempo destinado a alguma atividade ou omissão)

No CPC: Os prazos são computados em dias corridos. A contagem do prazo não é

iniciada se o dia for sábado, domingo ou feriados. Além disso, a contagem não pode

ser encerrada em sábado, domingo ou feriados.

No NCPC: Os prazos são computados em dias úteis.

Enquanto uma decisão judicial não se torna publica, a sentença é um ato de inteligência do

juiz. Quando ela é publicada, ela passa a ser um ato de Estado.

Caso o ato não seja praticado no prazo estipulado, ocorre a preclusão temporal.

Quando se deixa de exercer o direito de resposta, por exemplo, tudo o que foi alegado

pelo auto passa a se ve dade [ evelia ]

Coisa julgada é subdivida em:

Coisa julgada formal: Coisa julgada significa o máximo de preclusão do processo. No

momento em que não cabe mais recurso à sentença, devido a parte não ter decorrido

no prazo estabelecido (preclusão temporal) ou devido a parte ter excluído todos os

meios para se recorrer (preclusão consumativa) ou devido a

aquiescência/concordância da parte (preclusão lógica), há coisa julgada formal.

Mesmo que demore, toda a sentença transita em julgado.

Coisa julgada material: No momento em que a sentença transitar em julgado, o

julgamento que ela contém torna-se defi itivo A se te ça to ou-se leis para as

pa tes . A oisa julgada ate ial está ligada ao julgamento do processo. A coisa

julgada em material impede a repropositura da mesma ação.

1.5.2 Prejudicialidade

Antes de se abordar o conceito de prejudicialidade, é importante definir conceitos

processuais que compõem o próprio termo, a saber, ponto e questão.

Quando o indivíduo ingressa em juízo, elaborando uma petição inicial, o autor, para

justificar o pedido, deve estabelecer uma justificativa. Cada argumento que a parte

Page 21: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

utiliza no pedido ou na defesa é um ponto. O ponto pode estar relacionado ao mérito,

ao processo ou à ação, ou seja, tudo que pode ser apreciado pelo juiz poderá conter

pontos.

o Na defi ição de Ca elutti, o ponto é o fundamento de uma afirmação referente

ao mérito, ao processo ou à ação. Essa afirmação pode ser feita por qualquer um

dos sujeitos da relação processual: juiz, autor e réu .

Todo o ponto afirmado por uma parte e que não é contestada pela outra parte, é um

ponto pacífico.

Quando um ponto é impugnado, ele se transforma em questão ou ponto controvertido.

Há questões de fato e questões de direito:

Questão de fato: Questão controversa envolvendo algum acontecimento. Na

contestação, o réu possui um ônus: deve impugnar todos os pontos levantados pelo

autor. Se houver questão de fato e o juiz não conhece os fatos, devem existir provas

(Da mihi factum, dabo tibi ius - Dá-me o fato e eu lhe dou o direito).

Questão de direito: É aquela que envolve a aplicação da lei, a vigência da lei, a

interpretação da lei, etc. Nesse caso, o juiz deve responder conforme a sua

experiência.

Há casos em que o julgamento do pedido implica na prévia resolução de uma questão.

Essa uestão de o i ada uestão p ejudi ial CPC, a t. , IV, A . É a o o p o esso em que não existam questões, todavia nem todas as questões são prejudiciais. Questão

prejudicial não significa "prejuízo", mas, sim, "pré-julgamento" (julgar a questão para

depois julgar o pedido). A prejudicialidade pode ser interna ou externa

Externa: É aquela que envolve dois ou mais processos. Pode ser homogênea ou

heterogênea. A homogênea é aquela que envolve dois ou mais processos de mesma

natureza. É heterogênea quando envolve dois ou mais processos de natureza

diferente. Na prejudicialidade externa, pode-se juntar os dois processos Além disso,

na prejudicialidade externa, o processo prejudicado pode ficar suspenso por, no

máximo, um ano. Caso o processo não seja julgado, este vira uma questão. Para

resolver questão não se exige competência.

Interna: Nesse caso, o juiz julga a questão dentro de um processo (Ex.: Qual a

diferença que há entre locação e comodato? Comodato é um contrato gratuito,

enquanto a locação é um contrato sinalagmático oneroso. Nos dois casos, é possível

existir um contrato verbal. Se o autor ingressar com uma ação de despejo, o pedido

será de despejo. Se o juiz acolher o pedido, o réu terá que sair do imóvel. Caso o autor

conteste afirmando que o contrato é de comodato, e não de locação, surge uma

questão. Essa é a questão prejudicial interna).

A questão prejudicial é resolvida internamente no processo. A sentença de mérito, aquela

que contém o resultado, possui três partes, conforme o art. 4581:

1 Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:

Page 22: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

I. Relatório: Síntese do processo;

II. Fundamentação: O juiz esclarece as razões pelas quais ele irá decidir. Toda sentença

que contenha julgamento deve ser fundamentada, caso contrário, a sanção será a

nulidade. É nesse ponto que são julgadas as questões prejudiciais "incidenter tantum"

[= análise incidental da questão/ analisar a questão como fundamento do pedido];

III. Dispositivo: Toda sentença sem dispositivo é inexistente. É nesse ponto que o juiz

julga o pedido. O que se torna coisa julgada material é o dispositivo – principaliter

tantum [= uestão p i ipal]

O que é resolvido na motivação só é válido naquele determinado processo. Outra maneira

de resolver internamente é transformar a questão em um pedido, através da ação

declaratória incidental.

Desse modo, o que se resolve é o pedido, e não a questão. Por isso, não é possível que

o réu alegue, numa alegue o mesmo argumento numa ação futura.

1.5.3 Litisconsórcio

1.5.3.1 Conceito

O litisconsórcio se refere ao elemento subjetivo da relação jurídica processual, mais

precisamente às partes.

O litisconsórcio é a pluralidade de sujeitos em um ou nos dois polos da relação jurídica

processual que se reúnem para litigar em conjunto.

Para a existência do litisconsórcio é irrelevante a postura no processo dos sujeitos que

litigam no mesmo polo, sendo admissível, inclusive, que sejam adversários entre si na

demanda judicial.

1.5.3.2 Hipóteses de cabimento

As hipóteses de cabimento do litisconsórcio encontram-se previstas no art. 46 do CPC.

Apesar de o art. 46, caput, utilizar o te o pode litiga , have á situaç es concretas, dentro das hipóteses previstas pelo dispositivo legal, nas quais as partes

deve litigar em conjunto.

As hipóteses exaustivas de cabimento do litisconsórcio são:

I. Se entre os sujeitos houver comunhão de direitos ou de obrigações.

A existência de uma pluralidade nos polos da relação jurídica de direito material

faz com que dessa relação surjam direitos e obrigações de titularidade de mais de

um sujeito, sendo esses sujeitos habilitados a litigar em litisconsórcio.

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como

o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;

II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe submeterem.

Page 23: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

o Ex.: Apesar de o condômino poder litigar sozinho em defesa do bem em

condomínio, a relação de direito material que o envolve com os demais

condôminos é suficiente a permitir o litígio em conjunto. Numa dívida solidária,

a relação jurídica de direito material envolve todos os devedores, de forma que

o credor poderá propor a ação contra todos eles em litisconsórcio.

II. Se os direitos e obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito.

Nesse caso, não existe uma relação jurídica de direito material da qual façam parte

os litisconsortes. A simples ocorrência de um fato ou a identidade de

consequências jurídicas de fatos diferentes legitima a formação do litisconsórcio.

o Ex.: Vítimas de um mesmo acidente automobilístico podem litigar em conjunto

para pleitear a reparação de danos do causador comum do acidente //

Respondendo o preposto (= pessoa que age em nome de uma empresa ou

organização) por ato de seu empregado, o autor pode incluir no polo passivo

esses dois sujeitos em demanda de reparação por ato ilícito praticado pelo

empregado.

III. Se houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir.

A consequência natural da conexão entre demandas é a sua reunião perante um

mesmo juízo para julgamento em conjunto (art. 105), tendo como justificativa a

economia processual e a harmonização dos julgados. Como esses dois benefícios

também podem ser obtidos com a existência de uma só demanda, mas com

pluralidade subjetiva, o legislador permite a formação do litisconsórcio havendo

identidade de pedido ou da causa de pedir entre os litisconsortes.

o Ex.: Dois sócios poderão em conjunto propor uma demanda contra a sociedade

objetivando a anulação de uma assembleia (identidade de pedidos) // Ingresso

de demanda contra dois réus causadores do mesmo acidente (identidade de

causa de pedir).

IV. Se houver afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.

Nessa espécie de cabimento do litisconsórcio não se exige a identidade dos fatos,

até mesmo porque nesse caso haveria conexão (inciso III), bastando para se

admitir o litisconsórcio a afinidade – semelhança – de questões por um ponto

comum de fato ou de direito. Reunidos diversos servidores públicos para litigar

contra o Poder Público em virtude de atos administrativos fundados na mesma

norma que se aponta de ilegal, o fato não será o mesmo, porque cada qual sofreu

o prejuízo individualmente em virtude de um ato administrativo determinado, mas

a finidade entre as situações permitirá o litisconsórcio. O mesmo ocorre na reunião

de contribuintes para litigar contra multas – fatos geradores individualizados –

aplicadas pelo mesmo fundamento.

1.5.3.3 Classificação do litisconsórcio

No caso do litisconsórcio, são utilizados quatro critérios para classificá-lo:

1. Posição processual na qual foi formado;

2. Momento de sua formação;

3. Sua obrigatoriedade ou não;

4. O destino dos litisconsortes no plano material.

Page 24: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

1.5.3.3.1 Litisconsórcio ativo, passivo e misto

Tomando-se como critério de classificação a posição processual em que foi formado o

litisconsórcio, o litisconsórcio será:

Ativo: Se a pluralidade ocorrer somente no polo ativo da demanda;

Passivo: Se a pluralidade ocorrer somente no polo passivo.

Misto: Se a pluralidade de sujeitos for verificada em ambos os polos (ativo e

passivo).

O litisconsórcio passivo gera consequências:

Prazo dobrado, caso os litisconsortes tenham advogados distintos (art. 199): O

objetivo é dar os tratamento igualitário para as partes.

Revelia (= situação em que o réu, citado e ciente do processo, não se defende): A

constituição assegura que todo o réu tem direito a ampla defesa. Se o réu for revel, o

juiz considera todos os pontos ditos pelo autor na ação como verdade. Nos casos de

litisconsórcio, pode ser que um dos réus seja revel. A revelia de um réu no

litisconsórcio não pode prejudicar os outros litisconsortes (Princípio da não extensão

dos prejuízos da revelia). A contestação do outro litisconsorte não prejudica o réu

revel ("Cada um por si" – Ex.: Motorista de uma empresa de ônibus que colide o

veículo da empresa com outro carro. A empresa alega que o motorista não deveria ter

saído da garagem, enquanto o réu for revel. Nesse caso, a defesa da empresa pode

beneficia-la, mas não pode prejudicar o motorista). Diferentemente, no litisconsórcio

unitário, a defesa de um beneficia o outro, pois, por ser litisconsórcio unitário, o

resultado deve ser único.

Recurso: No litisconsórcio unitário, caso os litisconsortes sejam derrotados e um deles

recorra e ganhe, os efeitos são válidos para ambos os litisconsortes (

– art. 509). Caso não seja unitário, o recurso não

beneficia o réu que não recorreu.

Obs.: Os arts. 103 e 105 definem que, nas ações conexas (pela causa de pedir), os

processos podem ser reunidos na mesma vara, mas não há litisconsórcio. O litisconsórcio

só ocorre num mesmo processo.

1.5.3.3.2 Litisconsórcio inicial (originário) ou ulterior (posterior, incidental ou superveniente)

Litisconsórcio inicial é aquele formado desde a propositura da ação, já existindo no

momento em que a petição inicial é apresentada em juízo. Evidentemente, o litisconsórcio

inicial é de responsabilidade exclusiva do demandante, porque somente a ele será dado

dar início ao processo por meio da petição inicial.

O litisconsórcio ulterior é formado após o momento inicial de propositura da ação, vindo

a se verificar durante o trâmite procedimental [Ex.: Chamamento ao processo,

considerando-se que o réu – responsável pelo chamamento – e o terceiro chamado se

tornam litisconsortes // Sucessão processual, desde que os sujeitos que ingressem no

processo sejam plurais].

Page 25: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

1.5.3.3.3 Litisconsórcio necessário ou facultativo

O litisconsórcio necessário ocorre nas hipóteses em que é obrigatória sua formação. O

litisconsórcio facultativo existe por mera opção de sua formação, em geral a cargo do

autor (A exceção é o litisconsórcio formado pelo réu no chamamento ao processo e na

denunciação da lide).

No litisconsórcio necessário, há uma obrigatoriedade de formação do litisconsórcio,

seja por expressa determinação legal, seja em virtude da natureza indivisível da

relação de direito material da qual participam os litisconsortes.

No litisconsórcio facultativo, a formação dependerá da conveniência que a parte

acreditar existir no caso concreto em litigar em conjunto, dentro dos limites legais.

Obs.: O art. 47 há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da

relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes ) confunde

litisconsórcio necessário com litisconsórcio unitário, fenômenos próximos, mas diferentes. De

qualquer forma, o dispositivo legal serve para indicar os dois fundamentos que tornam a

formação do litisconsórcio necessária.

A lei poderá, por motivos alheios ao mundo do processo, prever expressamente a

imprescindibilidade de formação do litisconsórcio.

Ex.: Ação de usucapião imobiliária (art. 941), na qual o autor estará obrigado a

litigar contra o antigo proprietário e todos os confrontantes do imóvel

usucapiendo, como réus certos, e ainda contra réus incertos.

Obs.: É possível que a exigência legal seja inútil, porque, em virtude do caso concreto, o

litisconsórcio seria necessário de qualquer modo [Ex.: Litisconsórcio formado na oposição - art.

56].

A segunda forma de tornar um litisconsórcio necessário decorre da própria natureza

jurídica da relação de direito material da qual participam os sujeitos que obrigatoriamente

deverão litigar em conjunto. Na realidade, a necessidade de formação do litisconsórcio não

decorre somente da natureza da relação jurídica de direito material, mas também da

limitação processual que determina que somente as partes sofrerão os efeitos jurídicos

diretos do processo.

No plano do direito material, fala-se em relações jurídicas incindíveis, cuja

principal característica é a impossibilidade de um sujeito que dela faça parte

suportar um efeito sem atingir todos os sujeitos que dela participam. Significa

dizer que existem determinadas relações jurídicas de direito material que,

gerando-se um efeito jurídico sobre ela, seja modificativo ou extintivo, todos os

sujeitos que dela participam sofrerão, obrigatoriamente, tal efeito jurídico.

No plano processual, não se admite que o sujeito que não participa do processo sofra os

efeitos jurídicos diretos da decisão, com exceção dos substituídos processuais e dos

sucessores.

A soma dessas duas circunstâncias faz com que o litisconsórcio seja necessário:

sabendo-se de antemão que todos os sujeitos que participam da relação jurídica

Page 26: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

material sofrerão todo e qualquer efeito jurídico gerado sobre a relação, e

sabendo-se que o sujeito que não participa do processo poderá sofrer os efeitos

jurídicos da decisão, cria-se a obrigatoriedade de todos estarem presentes no

processo, única forma possível de suportarem seus efeitos, que inexoravelmente

atingirá a relação de direito material da qual participam.

1.5.3.3.4 Litisconsórcio unitário e simples

Essa espécie de classificação leva-se em consideração o destino dos litisconsortes no plano

do direito material, ou seja, é analisada a possibilidade de o juiz, no caso concreto, decidir

de forma diferente para cada litisconsorte.

O litisconsórcio unitário é aquele no qual o juiz o sempre que o juiz está obrigado a

decidir de maneira uniforme para todos os litisconsortes, e

O litisconsórcio simples é aquele no qual é possível uma decisão de conteúdo

diverso para cada um dos litisconsortes.

Para se aferir se o litisconsórcio é simples ou unitário basta imaginar a sentença que

decida diversamente para os litisconsortes e verificar se ela seria capaz de gerar seus

efeitos em suas esferas jurídicas. Havendo a viabilidade de praticamente se efetivar a

decisão, em seus aspectos divergentes para os litisconsortes, o litisconsórcio será simples.

No caso contrário, sendo inviável a efetivação da decisão, o litisconsórcio será unitário.

A diferença entre litisconsórcio unitário e simples, portanto, é sempre analisada em

abstrato, no plano da possibilidade de decidir diferente ou a obrigatoriedade de decidir de

forma uniforme.

Ex.: É possível existir uma sentença que condene igualmente os dois réus – por

exemplo, empregado e empregador –, mas isso não tornará esse litisconsórcio

unitário, considerando-se que, antes de proferir a sentença no caso concreto, era

possível ao juiz uma decisão diferente para os réus – bastaria, por exemplo, o

empregador demonstrar que o ato ilícito praticado pelo empregado ocorreu fora do

horário de serviço.

1.5.3.3.5 Litisconsórcio anômalo

Litisconsórcio são pessoas que estão no processo no mesmo polo. Para que elas estejam

ali, é necessário que haja um vínculo entre si. Se os litisconsortes estão juntos na defesa de

interesse comum, a situação anômala é aquela na qual os litisconsortes também são

adversários entre si (Ex.: Oposição- art. 56].

No CPC, a oposição é uma forma de intervenção do terceiro no processo. No NCPC, a

disciplina continua igual. Exemplo de oposição: Numa ação reivindicatória, o autor diz

que o imóvel lhe pertence, enquanto o réu responde que o imóvel lhe pertence. Porém

é perfeitamente possível que o imóvel pertença à terceiro. Como a sentença não pode

prejudicar o terceiro, a disputa entre o autor e o réu não impede que o terceiro entre

com uma ação reivindicatória. Caso o terceiro tome conhecimento do processo inicial,

ele poderá entrar com uma ação de oposição, reivindicando o imóvel. O terceiro se

torna opoente. Na oposição, o autor e o réu se tornam litisconsortes entre si].

Page 27: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2. Processo

2.1 Princípios processuais

2.1.1 Devido processo legal

O art. 5.º, LIV, da CF define ue ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem

o devido processo legal .

É pacífico o entendimento de que o devido processo legal funciona como um

supraprincípio, um princípio-base, norteador de todos os demais que devem ser

observados no processo.

Além do aspecto processual, o devido processo legal também se aplica como fator

limitador do poder de legislar da Administração Pública, bem como para garantir o

respeito aos direitos fundamentais nas relações jurídicas privadas.

Sua origem remonta a Magna Carta de João Sem Terra, de 1215, que utilizava a expressão

law of the land , te do su gido a exp essão due process of law pa a desig a o devido processo legal somente em lei inglesa do ano de 1354.

O direito pátrio, além de prever o devido processo legal, contém previsão de diversos

outros princípios que dele naturalmente decorrem (Ex.: contraditório, a motivação das

decisões, a publicidade, a isonomia, etc).

Atualmente, o princípio do devido processo legal é analisado sob duas óticas: devido

processo legal substancial substantive due process e devido processo legal formal

procedural due process . Sentido substancial: O devido processo legal diz respeito ao campo da elaboração e

interpretação das normas jurídicas, evitando-se a atividade legislativa abusiva e

irrazoável e ditando uma interpretação razoável quando da aplicação concreta das

normas jurídicas. (Serve, por exemplo, para a aplicação das regras da razoabilidade e

da proporcionalidade, funcionando sempre como controle das arbitrariedades do

Poder Público).

o Originariamente voltado para a atuação do Poder Público, o devido processo legal

substancial também vem sendo exigido em relações jurídicas privadas, com

fundamento na vinculação dos particulares aos direitos fundamentais, ainda que

tal vinculação deva ser ponderada no caso concreto com o princípio da autonomia

da vontade (Ex.: Aluna de universidade privada quase expulsa de seus quadros em

razão de ter assistido à aula de minissaia. Durante a sindicância interna, não se

concedeu direito de defesa à estudante).

Sentido formal: É a definição tradicional do princípio, dirigido ao processo em si,

obrigando-se o juiz no caso concreto a observar os princípios processuais na

condução do instrumento estatal oferecido aos jurisdicionados para a tutela de seus

direitos materiais.

Page 28: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Atualmente, o devido processo legal vem associado com a ideia de um processo justo, que

permite a ampla participação das partes e a efetiva proteção de seus direitos.

2.1.2 Contraditório

O art. 5.º, LV, da CF, define que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e

aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, como os meios

e recursos a ela inerentes . Na Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996, art. 21, § 2.º) também existe expressa previsão

para que se cumpra o contraditório no processo arbitral.

2.1.1.1 Conceito tradicional: informação + possibilidade de reação

Tradicionalmente, considera-se ser o princípio do contraditório formado por dois

elementos: informação e possibilidade de reação.

Nessa perspectiva, as partes devem ser devidamente comunicadas de todos os

atos processuais, abrindo-se a elas a oportunidade de reação como forma de

garantir a sua participação na defesa de seus interesses em juízo.

Obs.: Como o contraditório aplicável a ambas as partes, costuma-se também empregar a

exp essão ilate alidade da audi ia , ep ese ta do a pa idade de a as e t e as pa tes que se contrapõem em juízo.

A informação exigida pelo princípio é naturalmente associada à necessidade de a parte ter

conhecimento do que está ocorrendo no processo para que possa se posicionar – positiva

ou negativamente – a esse respeito.

Qualquer previsão que exija um comportamento da parte sem instrumentalizar

formas para que tome conhecimento da situação processual fere o princípio do

contraditório

o Ex.: É inconstitucional o termo inicial para o ingresso das exceções rituais (CPC, art.

305) Como se pode exigir o ingresso de exceção ritual a partir da data do fato que

gerou a causa da exceção, mesmo antes da ciência pela parte desse fato? Daí a

correta a interpretação de que o termo inicial se dá com a ciência da parte do fato

que gerou a causa da exceção.

Existem duas formas de comunicação de atos processuais reconhecidas pelo Código de

Processo Civil: citação e intimação.

A citação se presta a integrar o demandado à relação jurídica processual e a informá-

lo da existência de demanda judicial contra ele proposta pelo demandante,

A intimação é responsável por dar ciência a alguém dos atos e termos do processo,

para que faça ou deixe de fazer alguma coisa (art. 234 do CPC).

INFORMAÇÃO REAÇÃO PODER DE

INFLUÊNCIA

Page 29: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

A citação pode se dar por meio do correio, oficial de justiça, edital e meios eletrônicos

(CPC, art. 221), o mesmo ocorrendo com a intimação na pessoa da parte, porque a regra é

que a intimação ocorra na pessoa de seu advogado, por meio de publicação na imprensa

oficial, sendo excepcional a intimação pessoal do advogado (por exemplo, art. 527, V, do

CPC).

No tocante à reação, a interpretação de que a verificação concreta desse segundo

elemento depende da vontade da parte, que opta por reagir ou se omitir, é importante

lembrar que a regra do ônus processual nesse caso limita-se aos direitos disponíveis.

Nestes, o contraditório estará garantido ainda que concretamente não se verifique

reação, bastando que a parte tenha tido a oportunidade de reagir.

Nas demandas que têm como objeto direitos indisponíveis, o contraditório exige a efetiva

reação, criando-se mecanismos processuais para que, ainda que a parte concretamente

não reaja, crie-se uma ficção jurídica de que houve a reação.

Portanto, não se presumem verdadeiros os fatos alegados pelo autor diante da revelia

do réu quando a demanda versar sobre direitos indisponíveis (CPC, art. 320, II).

Nos direitos disponíveis só há reação quando faticamente a parte reagir, enquanto nos

direitos indisponíveis a reação é jurídica, porque ainda que a parte não reaja faticamente,

a própria lei prevê os efeitos jurídicos da reação.

A completa realização do princípio do contraditório exige uma igualdade real entre as

partes para que as reações possam efetivamente igualar suas situações no processo.

Essa é a razão pela qual existem normas que permitem a assistência aos menos

favorecidos economicamente, com a isenção no recolhimento de custas e a indicação

de patrono gratuito pelo Estado.

2.1.1.2 Poder de influência das partes na formação do convencimento do juiz

Percebeu-se ue o o eito t adi io al de o t adit io fu dado o i io i fo ação + possi ilidade de eação ga a tia so e te a observação do aspecto formal do

contraditório. Para que seja substancialmente respeitado, não basta informar e permitir a

reação, mas exigir que essa reação no caso concreto tenha real poder de influenciar o juiz

na formação de seu convencimento.

A reação deve ser apta a efetivamente influenciar o juiz na prolação de sua decisão,

porque, caso contrário, o contraditório seria mais um princípio sem utilidade prática.

Po ta to, o pode de i flu ia o te ceiro elemento do contraditório.

Situações em que esse elemento pode ser aplicado:

a. Quando desembargadores conversam, leem, ou excepcionalmente se ausentam

enquanto o advogado faz sustentação oral perante o Tribunal.

b. Quando o juiz que recebe a defesa escrita em audiência nos Juizados Especiais e,

sem sequer folhear a peça, passa a sentenciar.

Page 30: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2.1.1.3 Contraditório como forma de evitar surpresa às partes

Em matérias que o juiz só possa conhecer mediante a alegação das partes, parece não

haver possibilidade de a decisão surpreender as partes. Contundo, no tocante às matérias

de ordem pública, na aplicação de fundamentação jurídica alheia ao debate desenvolvido

no processo até o momento da prolação da decisão, e aos fatos secundários levados ao

processo pelo próprio juiz, o juiz pode conhecer de ofício.

Diferença basilar entre decidir de ofício e decidir sem a oitiva das partes: Determinadas

matérias e questões devem ser conhecidas de ofício, significando que,

independentemente de serem levadas ao conhecimento do juiz pelas partes, elas devem

ser conhecidas, enfrentadas e decididas no processo. Mas o que isso tem a ver com a

ausência de oitiva das partes?

Continua a ser providência de ofício o juiz levar a matéria ao processo, ouvir as

partes e decidir a respeito dela. Como a surpresa das partes deve ser evitada

devido ao princípio do contraditório, mesmo nas matérias e questões que deva

conhecer de ofício, o juiz deve intimar as partes para manifestação prévia antes de

proferir sua decisão.

O art. 10 do NCPC afirma que nenhum juiz, em qualquer órgão jurisdicional, poderá julgar

com base em fundamento que não tenha sido objeto de discussão prévia entre as partes,

ainda que as matérias possam ser conhecidas de ofício pelo juiz.

2.1.1.4 Contraditório inútil

A sentença (inaudita altera pars = não ouvida a outra parte) proferida que julga o mérito

em favor do réu que nem foi citado (CPC, arts. 285-A e 295, IV) certamente não se encaixa

no conceito de contraditório, porque nesse caso o réu não é sequer informado da

existência da demanda. Por isso, nesses casos, fala-se e o t adit io i útil .

No contraditório inútil, a ofensa ao princípio do contraditório não gera nulidade

em toda e qualquer situação, não representando uma diminuição do princípio a

sua aplicação à luz de outros princípios e valores buscados pelo processo

moderno. O afastamento pontual do contraditório não é somente admitido, mas

também recomendável.

2.1.1.5 Contraditório diferido (ou postecipado)

A estrutura básica do contraditório é:

a. pedido;

b. informação da parte contrária;

c. reação possível;

d. decisão.

Essa ordem dos elementos que de maneira mais completa determina o contraditório é

percebida inclusive na estrutura do processo de conhecimento:

a) petição inicial;

b) citação;

Page 31: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

c) respostas do réu;

d) sentença.

A estrutura do processo de conhecimento é a mais adequada à estrutura do princípio do

contraditório, porque a decisão a ser proferida pelo juiz só ocorre depois da oportunidade

de ambas as partes manifestarem-se a respeito da matéria que formará o objeto da

decisão.

Essa ordem, apesar de ser a preferível, pode excepcionalmente ser afastada pelo legislador

(Ex.: concessão das tutelas de urgência inaudita altera partes; em situações de extrema

urgência nas quais a decisão do juiz deve preceder a informação e reação da parte

contrária).

Nesse aso, have á u o t adit io dife ido ou poste ipado , po ue, apesa de os elementos essenciais do princípio continuarem a existir, a inversão da sua ordem

tradicional antecipa a decisão para o momento imediatamente posterior ao pedido da

parte.

A estrutura do contraditório diferido é:

a. pedido;

b. decisão;

c. informação da parte contrária;

d. decisão.

O contraditório diferido, tradicionalmente associado às tutelas de urgência inaudita altera

partes, não exaure sua atuação nessas situações, bastando para tal conclusão a lembrança

do procedimento monitório, pelo qual o juiz, diante das alegações contidas na petição

inicial e convencido sumariamente, mediante cognição sumária, da existência do direito

alegado pelo autor, expede mandado monitório determinando ao réu o pagamento ou a

entrega de coisa em 15 dias. Uma vez citado, o réu poderá ingressar também no prazo de

15 dias com embargos ao mandado monitório.

No mandado monitório já existe uma decisão, proferida antes da citação do réu, em

nítida aplicação do o t adit io dife ido .

A técnica do contraditório diferido (ou postecipado) é cabível na tutela de evidência, sendo

ou não tutela de urgência.

Tutela de evidência é aquela fundada na grande probabilidade da parte ter o direito

que alega, não sendo crível que, à luz do princípio do acesso à ordem jurídica justa,

tenha que esperar o final do processo para que seja a tutela concedida

jurisdicionalmente0. Nesses casos concede-se a tutela e posteriormente se informa ao

réu para que possa reagir.

O contraditório diferido é excepcional, devendo ser utilizado com extrema parcimônia, até

porque a prolação de decisão sem a oitiva do réu capaz de invadir a esfera de influência do

sujeito que não foi ouvido é sempre uma violência.

Page 32: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2.1.3 Motivação das decisões

O art. 93, IX, da CF, define que todas as decisões proferidas em processo judicial ou

administrativo devem ser motivadas, sendo obrigatória aos julgadores a tarefa de

exteriorização das razões de seu decidir, com a demonstração concreta do raciocínio fático

e jurídico que desenvolveu para chegar às conclusões contidas na decisão.

Tradicionalmente, a justificativa do princípio da motivação das decisões judiciais eram

duas:

a) Endoprocessual: O sucumbente de otado sem conhecimento das razões da

decisão não teria condições de elaborar o seu recurso, porque ninguém pode

impugnar de forma específica uma decisão sem conhecer os seus fundamentos

(Obs.: Quando você recorre, você não crítica a decisão, mas, sim, os fundamentos

da decisão).

b) Panprocessual: A fundamentação se mostra imprescindível para que o órgão

jurisdicional competente para o julgamento do recurso possa analisar o acerto ou

equívoco do julgamento impugnado. Sob o ponto de vista político a motivação se

presta a demonstrar a correção, imparcialidade e lisura do julgador ao proferir a

decisão judicial, funcionando o princípio como forma de legitimar politicamente a

decisão judicial.

Permite um controle da atividade do juiz não só do ponto de vista jurídico,

feito pelas partes no processo, mas de uma forma muito mais ampla, uma vez

que permite o controle da decisão por toda a coletividade. Logo, uma decisão

sem a devida fundamentação contém vício sério, porque, além de afrontar

texto constitucional expresso, impede o acesso da parte sucumbente aos

tribunais, impede a atuação desse órgão na revisão da decisão e, pior do que

tudo isso, permite que se façam ilações a respeito da imparcialidade e lisura

do julgador, o que é altamente prejudicial para a imagem do Poder Judiciário.

Nota.: Essa nulidade absoluta deve atingir inclusive as pseudomotivações, encontradas

frequentemente na praxe forense (Ex.: defi o po p ese tes os e uisitos ; o edo, os termos da lei .

Há uma percepção generalizada que as decisões não estão sendo sancionadas

corretamente. Por isso, o NCPC, em seu art. 489, objetivou as exigências para o

cumprimento da motivação. O parágrafo primeiro do artigo 489 afirma que não será

considerada decisão:

1. Mera indicação ou reprodução de ato normativo sem explicar sua relação com a

causa decidida (Em muitos casos, o juiz olha um determinado caso, enxerga a

matéria, cita artigos de leis, porém não estabelece a relação entre a lei e o caso

concreto).

2. Conceitos jurídicos indeterminados (O conceito jurídico indeterminado é uma opção

que o legislador concede ao juiz para esse especifica-lo no caso concreto. Em outras

palavras, o juiz deve motivar a definição).

3. Não é considerada fundamentação a simples evocação de fundamentos que

serviriam para qualquer decisão (É muito comum em tutela de urgência. Em geral, os

Page 33: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

juízes fazem modelos de sentença na tutela de urgência, porém não fazem a relação

entre a argumentação e a decisão – tentativa de individualização da decisão).

Existem dois sistemas possíveis de fundamentação. A adoção de um sistema é

uma escolha legislativa. Os dois sistemas são: (1) Sistema da fundamentação

suficiente: O juiz tem o dever de decidir todas as causas de pedir do autor e todos

os fundamentos de defesa do réu (= causa de pedir é a fundamentação da ação)

[Cada fundamentação possui várias argumentações. Na fundamentação, o juiz só

precisa decidir as causas de pedir, não sendo necessário a decisão de todas as

alegações]; (2) Sistema da fundamentação exauriente: O juiz precisa enfrentar

todas as alegações do réu.

4. O inciso V e VI são fruto de uma nova realidade. A partir desses incisos, a eficácia

vinculante de decisões e de súmulas dos tribunais superiores será muito maior do que

a existente atualmente. Na aplicação, o juiz deve identificar os fundamentos da

decisão ou da súmula utilizada. O juiz terá que demonstrar a tipificação do caso

concreto aos fundamentos. Caso o juiz não aplique a eficácia vinculante, ele terá que

fundamentar a seus decisão na distinção (distinguishing - Em outras palavras,

demonstrar que o caso possui uma singularidade, o que impossibilita a aplicação do

precedente) ou sua fundamentação será por superação (overruling - Em outras

palavras, o juiz não aplicará o precedente, pois ele considera o precedente

superado. Isso ocorre, por exemplo, nos casos de superação por lei posterior ou

superação feita pelo próprio tribunal superior - revisão substancial por ordem política,

econômica, social ou jurídica)

Obs.: No novo CPC, adotou-se o sistema de fundamentação exauriente, isto é, o juiz

precisa enfrentar todas as alegações do réu, exceto as impertinentes e as irrelevantes.

Atualmente, o STJ admite fundamentação "per relationem", isto é, os fundamentos da

decisão são transcrição de decisões anteriores ou de manifestação do MP como fiscal da

lei (No novo CPC, o termo utilizado é fiscal da ordem jurídica invés de fiscal da lei).

2.1.4 Princípio da isonomia

A regra de que a lei deve tratar todos de forma igual (CF, art. 5°, caput e I) aplica-se

também ao processo, devendo tanto a legislação como o juiz no caso concreto garantir às

partes uma "paridade de armas" (CPC, art. 125. l), como forma de manter equilibrada a

disputa judicial entre elas.

A isonomia no tratamento processual das partes é forma, inclusive, do juiz

demonstrar a sua imparcialidade, porque demonstra que não há favorecimento

em favor de qualquer uma delas.

o Exemplos de aplicação do principio: O prazo para as contrarrazões nos recursos

é sempre igual ao prazo dos recursos; ambas as partes têm direito a todos os

meios de provas e serão intimadas para participar da audiência, na qual

poderão igualmente participar, etc.

Page 34: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

O princípio da isonomia não possui apenas um aspecto formal (pelo qual basta tratar todos

igualmente que estará garantida a Igualdade das partes), porque essa forma de ver o

fenômeno está fundada na incorreta premissa de que todos sejam Iguais. A isonomia entre

sujeitos desiguais só pode ser atingida por meio de um tratamento também desigual, na

medida dessa desigualdade.

O objetivo primordial na isonomia e permitir que concretamente as partes atuem no

processo, dentro do limite do possível, no mesmo patamar. Por isso, sempre que algum

sujeito, seja pela sua qualidade, seja pela natureza do direito que discutem em juízo,

tiver tratamento diferenciado, fala-se que existe uma prerrogativa processual, também

conhecido como privilégio processual.

Os sujeitos processuais que possuem um tratamento diferenciado se dividem em dois

grandes grupos:

1) Parte hipossuficiente: Há diferentes graus de hipossuficiência, por isso, deve-se

analisar qual o tipo de hipossuficiência existe e, após isso, dar o tratamento

diferenciado.

Pobre: O pobre é aquele que não pode arcar com os custos do processo, sem o

sacrifício próprio ou o sacrifício da sua família. Por isso, é dado aos pobres à

assistência jurídica. [Obs.: O pobre tem uma hipossuficiência econômica]

Consumidor: Possui uma hipossuficiência técnica, isto é, a sua hipossuficiência está

relacionada à falta de acesso à informação, isso implica na dificuldade em produzir

provas. Como o consumidor não tem acesso à informação, ele não acesso à prova.

Quem detém a prova, é o consumidor. Por isso, é dada ao consumidor a inversão

do ônus da prova (Ônus é um encargo. Por isso, no processo, o que a parte alega,

ela tem o ônus de provar).

Idoso: Possui uma hipossuficiência etária. O idoso tende a viver menos que os não-

idosos. Logo, é preciso entregar-lhe o bem da vida o mais rápido possível, pois ele

irá usufruir o bem por menos tempo. Por isso, é dado preferencia ao idoso. Há

uma lista com casos que tem preferencia de julgamento, em ordem cronológica.

Basta ao idoso ser parte, na demanda ou no recurso.

Incapaz: Possui uma hipossuficiência por ser incapaz de exercer direitos e

obrigações. No processo, exige-se que o incapaz possua um representante

processual. Não é o titular do direito que irá praticar os atos, por isso, para que

não exista nenhum prejuízo ao incapaz, o Ministério Público irá fiscalizar a ação do

representante. O MP atua como fiscal da lei. No NCPC, o MP se tornou o fiscal da

ordem jurídica (Muda a nomenclatura, porém não muda o significado).

2) Fazenda Pública: É a superparte do processo, pois ela pode tudo e não há nada contra

ela.

Prazo simples: É o prazo estabelecido pela lei. Para a Fazenda Pública (art. 63): 1)

nos casos de resposta de citação, há um prazo em quádruplo. No rito ordinário, o

prazo é de 15 dias; 2) Para recorrer, a Fazenda possui um prazo dobrado; 3) Nos

demais atos processuais (contrarrazões de recursos, por exemplo), o prazo é o

Page 35: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

mesmo que o ordinário. No NCPC, a Fazenda possui prazo em dobro para todos os

atos processuais.

Reexame necessário (art. 475): Quando uma sentença é divulgada, caso nenhuma

das partes apele, a sentença transita em julgado (= torna-se imutável), O único

jeito de alterar a sentença é através da apelação. Se a sentença gera sucumbência

(= derrota) à Fazenda Pública, mesmo que ela não apele, a sentença sobe para o

tribunal de segundo grau. O NCPC, assim como o CPC, traz exceções.

Honorários advocatícios (art. 20): Havendo condenação de pagar, os honorários

serão fixados de 10 a 20% do valor a pagar. Em geral, os juízes dão 10%. Para a

Fazenda Pública, aplica-se ao art. 20, § 4°, isto é, não existe um percentual mínimo.

Por isso, há uma discricionariedade na escolha. O NCPC cria faixas de condenação

(Por exemplo, se a Fazenda for condenada a até 200 salários mínimos, aplica-se o

percentual regular. De 20.000 à 10.000, aplica-se a taxa de 5% à 3%. Acima de

100.000, aplica-se a taxa de 1% à 3%.

A justificativa para o tratamento diferenciado da Fazenda Pública é: 1) Defesa de

direito indisponível em juízo, isto é, um direito da coletividade; 2) As dificuldades na

atividade jurisdicional em razão de problemas estruturais conjugado com o imenso

volume de trabalho.

2.1.5 Princípio da economia processual

O princípio da economia processual deve ser analisado sob duas diferentes óticas.

a) Do ponto de vista sistêmico (macroscópico): Quanto menos demandas existirem para

se chegar aos mesmos resultados, melhor será em termos de qualidade da prestação

jurisdicional como um todo. Exemplos de ação que contribuem para a realização do

princípio:

Ações coletivas, pois evitam evitarem a fragmentação do direito em inúmeras

demandas individuais.

A permissão da formação do litisconsórcio. Ainda que vetado o litisconsórcio

multitudinário (CPC, art. 46, parágrafo único).

Reunião de demandas conexas para julgamento conjunto (CPC, art. 105 do CPC).

Institutos processuais que evitam a repetição de atos processuais: Intervenções de

terceiro, a reconvenção e a ação declaratória.

b) Do ponto de vista microscópico: O processo deve ser o mais barato possível, gerando o

menor valor de gastos. Exemplos de atitudes que contribuem para a realização desse

princípio:

O beneficio da assistência judiciária, que garante constitucionalmente o acesso ao

processo àqueles que não têm condições econômicas de enfrentar um processo.

Os Juizados Especiais, com sua regra geral de gratuidade, pelo menos até a prolação

da sentença (art. 54, caput e parágrafo único, da Lei 9.099/1995).

Obs.: Mesmo para aqueles que não podem ser considerados pobres, na acepção jurídica do

termo, o processo também deve ser barato, o que se obtém com a diminuição dos valores das

custas judiciais, utilização de órgãos públicos para a realização de perícia e o oferecimento de

um processo mais rápido (Quanto maior a duração do processo, maior a sua onerosidade).

Page 36: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2.1.6 Principio da instrumentalidade da forma

Todos os atos processuais tem um objetivo. A partir do momento em que ele é alcançado,

alcançam-se os efeitos jurídicos programados pelo ato .

Ex.: Apelação é o recurso contra sentença. Por que uma parte apela uma sentença?

Para tentar a reforma ou a anulação da sentença. Em outras palavras, o objetivo lato

sensu é impugnar a sentença, para reforma-la (vício de conteúdo), para anulá-la (vício

formal). A partir do momento em que se apela, procura-se evitar o transito julgado da

sentença. Enfim, o recurso tem como objetivo impugnar e tem como efeito a não

ocorrência do transito em julgado.

Sempre que a lei prevê uma forma para o ato processual, pode-se chamar o ato processual

de ato processual solene (= É o ato processual que deve respeitar os atos solenes

previstos em lei). A forma legal garante a segurança jurídica, pois é uma garantia que a

parte possui de que o efeito pretendido será alcançado.

Ex.:: No rito sumário, o réu pode levar a defesa escrita ou fazê-la oralmente. O juiz é

obrigado a aceitar o ato processual, independentemente da forma pela qual o ato foi

praticado. Ou seja, a forma legal protege as partes das arbitrariedades do juiz.

E se o réu descumprir a forma legal? Tem-se, inicialmente, um ato viciado. Vício

processual é um ato que descumpre a forma legal. O legislador, como consequência do

ato, prevê uma sanção: nulidade. O resultado, portanto, é que o ato viciado será

considerado ato nulo.

Ressalta-se que a nulidade impede que o ato gere os efeitos programados pela lei. Ex.:

Caso o recurso do réu seja deserto (= o seu recurso está sem preparo, isto é, não

houve o pagamento das despesas processuais), a ação de apelação é incapaz de gerar

efeitos.

O princípio da instrumentalidade das formas afasta a nulidade do ato viciado. Devido ao

princípio referido, apesar de o ato ser viciado, ele consegue gerar os efeitos programados

pela lei.

Em que situação será possível aplicar esse princípio? É necessário a presença de dois

requisitos:

1. O ato viciado deve ter atingido o objetivo;

2. Ausência de prejuízo (O ato viciado não pode gerar prejuízo à parte contraria ou ao

p o esso. “e p ejuízo ão há ulidade = B o a do lássico do processo),

PRESSUPOSTOS

AUSÊNCIA DE PREJUÍZO

ATINGIR O OBJETIVO

Page 37: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Se é possível praticar o ato com forma contrária à forma legal, qual a razão de existir da

forma legal?

Ex1.: Devido à incompetência relativa do juízo (O réu entra com uma ação na comarca

de SP, mas a comarca do RJ é a competente, por exemplo), o réu procura impugnar a

ação. Hoje, existe a exceção ritual, que deverá ser alegada por meio de um incidente.

A exceção ritual implica em uma peça (processual) autônoma em relação à ação.

Porém, em muitos casos, o réu escolhe alegar a incompetência relativa na

contestação. O STJ afirma que o objetivo da exceção ritual de competência é reclamar

da opção do autor, por isso seria possível alegar a incompetência relativa na

contestação, por meio da aplicação do princípio da instrumentalidade das formas. O

NCPC acabou com a exceção ritual, adotando apenas a forma preliminar de

contestação.

Ex2.: A e o ve ção o o t a ata ue do u o t a o auto A melhor defesa é o

ataque . O réu sai de uma posição passiva para assumir uma posição ativa. Hoje, é

necessário fazer uma petição inicial. E se a reconvenção for feita na contestação? O

STJ afirma que não existe problema. O NCPC afirma que a reconvenção deve ser

alegada na contestação.

o [Frase Neves: O princípio da instrumentalidade da forma é o prenúncio da

mudança legislativa].

O principio da instrumentalidade da forma anda junto com princípio do saneamento dos

atos viciados. Sanear um ato viciado significa torna-lo perfeito, o que não ocorre no

princípio da instrumentalidade da forma (Nele, não se convalida o vício, admite-se apenas

que o ato gere os efeitos previstos em lei, como se válido fosse).

Nota.: O princípio da instrumentalidade da forma não possui expressa previsão legal. É uma

construção feita a partir de alguns artigos (arts. 243 e 245, por exemplo).

2.1.7 Princípio da cooperação

Está presente no NCPC (art. 6°), apesar de não constar no CPC.

A redação desse dispositivo é infeliz, pois sugere que as partes passam a ter um dever

entre si e com o juiz para a obtenção de uma tutela jurisdicional justa e efetiva.

O ue sig ifi a Colaborar entre si ? A ola o ação o a pa te o t á ia já dete i ada pelos deveres de boa fé e lealdade processual (Princípio da probidade processual). Quem

deve procurar a tutela efetiva e justa, é o juiz, e não as partes. Essa redação é

problemática, porque o autor e réu não colaboram para um fim comum, afinal o réu busca

algo (improcedência) que não é o mesmo fim do autor (procedência).

O princípio da cooperação é permitir que as partes, ora de forma bilateral, ora de forma

pluraleteral (partes + juiz), possam influenciar na definição do procedimento. Ex.:

O art. 190 (NCPC) trata da cláusula geral de negócio processual. Isso significa que as

partes adequam, por acordo (durante o processo ou antes do processo , por meio de

Page 38: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

contratos, por exemplo), o procedimento adequados para as necessidades no caso

concreto. O juiz deixa de ser o protagonista, valorizando-se a vontade das partes. Ex.:

Podem-se criar clausulas para mudar prazos, mudar ônus da impugnação dos fatos,

impedir recursos no processo, etc.

A questão é saber até que ponto o acordo pode ser feito. O acordo entre as partes deve

ser homologado pelo juiz, exceto em três hipóteses:

1) Nulidade (Ex.: Uma das partes foi coagida para que houvesse o acordo);

2) Inserção abusiva em contrato de adesão (O que não seria abusivo num contrato de

previsão é uma previsão igualitária. Por exemplo, definir que não é cabível recurso no

processo);

3) Inserção abusiva no contrato em que exista vulnerabilidade (Vulnerabilidade pode ser

de várias naturezas: econômica, social, psíquica, etc. )

Obs.: Nessas hipóteses, o acordo não é válido.

Nota.: A cláusula de eleição de foro é o acordo em que os contratantes elegem certo foro para

que a ação possa ser proposta (Presente em qualquer contrato de adesão).

Outro exemplo: Art. 191 (NCPC) – Trata do calendário procedimental, que é um acordo

que envolve o autor, o réu e o juiz. É. Cria-se um calendário entre as partes que dispensa o

trabalho do cartório. Por exemplo, a parte não precisa ser intimidada, pois ela possui um

prazo; O juiz tem data para prolatar uma sentença; etc.

2.1.8 Princípio da probidade processual (Princípio da boa fé e da lealdade

processual);

O NCPC, assim como o CPC, cria diversas tipificações para atos de má-fé e atos de

deslealdade que ocorrem durante. São várias as passagens em que se consagra essa

situação:

a) Ato atentatório à dignidade da jurisdição [deveres de conduta para as partes e para

qualquer pessoa que de alguma forma participe do processo] (art. 14);

b) Ato atentatório à dignidade da justiça (art. 600).

Após tipificar esses atos, preveem-se as sanções (Algumas sanções estão previstas no art.

17):

a) Multa (de 1% a 20% do valor da causa); o juiz pode mandar riscar as expressões

injuriosas e caluniosas da peça;

b) Se a parte atrasar a devolução dos autos, o cartório pede a busca e apreensão dos

autos e a parte não pode retirar os autos novamente;

c) Tutela antecipada: Ocorre quando há probabilidade do direito do autor existir, por isso

o réu protela o processo. Nesse caso, o juiz satisfaz imediatamente o direito do autor

(CPC, art. 273, II).

Page 39: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

3.Sujeitos do processo

3.1 Considerações gerais

O processo apresenta necessariamente, ao menos, três sujeitos:

O autor e o réu, nos polos contrastantes da relação processual (sujeitos parciais);

O juiz, representeando o interesse coletivo orientado para a resolução do lítigio

(sujeito imparcial).

Essa configuração tríplice é um esquema muito simples, por isso, ressalta-se os seguintes

pontos:

Além do juiz, do autor e do réu, os órgãos auxiliares da Justiça são também

indispensáveis como sujeitos atuantes no processo;

Pode haver pluralidade de autores (litisconsórcio ativo), de réus (litisconsórcio passivo)

ou de autores e réus simultaneamente (litisconsórcio misto ou recíproco), além da

intervenção de terceiros em processo pedente.

3.2 O juiz

O juiz, como sujeito imparcial do processo, investido de autoridade para resolver a lide,

coloca-se acima das partes. O juiz, desde que tenha sido provocado, não pode se eximir de

atuar no processo. Com o objetivo de assegurar as necessárias condições para o

desempenho de suas funções, o direito atribui determinados poderes ao juiz. Os poderes

se agrupam em duas categoriais principais:

Poderes administrativos ou de polícia: Exercem-se por ocasião do processo, a fim de

evitar a perturbação do processo e de assegurar a ordem e o decoro que devem

envolvê-lo (arts. 445 e 446).

Poderes jurisdicionais: Desenvolvem-se no próprio processo, subdivindo-se em

poderes-meios (abrangendo os ordinatórios – relacionados ao simples andamento

processual – e os instrutórios – relacionado à formação do convencimento do juiz) e os

poderes-fins (compreendem os decisórios e os de execução.

O juiz tem poderes-deveres. Os poderes-deveres são conferidos ao juiz como instrumento

para a prestação de um serviço à sociedade e, particularmente, aos litigantes. [Ex.: Dever

de sentenciar, dever de conduzir o processo com observância do devido processo, garantir

o contraditório].

3.3 Demandante e demandado

Autor e réu são os sujeitos parciais do processo. Se todo o processo se destina a produzir

um resultado (provimento jurisdicional), influente na esfera jurídica de ao menos uma das

pessoas (partes), a preparação do resultado deve ser feita na presença e mediante a

participação dos sujeitos interessados.

Autor é aquele que deduz em juízo uma pretensão, enquanto réu é aquele que em

face de quem a pretensão é deduzida.

Page 40: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

As posições de autor e réu no processo são disciplinadas por três princípios:

1. Princípio da dualidade das partes: Inadmissibilidade de um processo sem que haja

dois sujeitos em posições processuais contrárias;

2. Princípio da igualdade das partes: Paridade de tratamento processual;

3. Princípio do contraditório: Garante a ciência dos atos e termos do processo às partes,

com possibilidade de impugná-los.

Obs.: No processo penal, a figura do autor cabe, comumente, ao MP, figurando na posição de

réu o acusado da prática delitiva. Nos casos de ação penal de iniciativa privada, o autor é o

ofendido.

3.4 Litisconsórcio

O litisconsórcio é um fenômeno de pluralidade pessoas em um só ou em ambos os polos

conflitantes da relação jurídica processual.

A disciplina legal do litisconsórcio apresenta dois aspectos principais:

Quanto à sua constituição, à sua admissibilidade e até à sua eventual necessidade

(CPP, art. 48 // CPC, arts. 46 e 47);

Quanto às relações entre os litisconsortes (CPP, art. 580 // CPC, arts. 48 e 49).

3.5 Intervenção de terceiro

Há situações em que, embora já integrada a relação processual, a lei permite ou reclama o

ingresso de terceiro no processo, seja em sucessão a uma das partes, seja em acréscimo à

elas.

No processo civil, a intervenção se dá pela:

Assistência – Ingresso voluntário do terceiro com o objetivo de ajudar uma das partes;

Oposição – Ingresso voluntário visando obter o bem que está sendo controvertido

entre as partes originárias;

Nomeação à autoria – Ato com o qual o réu, dizendo-se parte ilegítima da causa, indica

a parte legítima ao autor (CPC, art. 50)

3.6 Ministério Público

Em determinadas ocasiões, a lei confere legitimidade ao MP para oficiar no processo, seja

criminal ou civil. Participando do processo como sujeito que postula, requer provas e as

produz e até recorre (CPC, arts. 83 e 499, §2°), o Ministério Público assume a posição de

parte.

Conforme o caso, o MP assume a tutela do direito objetivo ou a defesa de uma pessoa no

processo. Ele defende alguma pessoa em juízo como:

Parte principal (autor, réu, substituto processual) [Ex.: Processo-crime, reclamações

trabalhistas etc.];

Page 41: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Assistente [Ex.: Processos crimes instaurados mediante queixa privada – CPP, arts. 29 e

564, II; Defesa de incapazes – CPC, art. 82, I].

4. Partes

Pedido é a formulação dirigida ao juiz com uma dada pretensão. Pretender é o poder que

o indivíduo tem de buscar algo. Por exemplo, numa ação indenizatória, a pretensão é

obter o reconhecimento judicial de que você tem o direito a ser indenizado [Pedido

imediato: Tutela jurisdicional // Pedido mediato: Valor da indenização]

Pedido imediato: É aquilo que você busca obter por meio do processo (Ex.: Uma

sentença]

Pedido imediato: Obter o bem da vida almejado (Ex.: Numa sentença de divórcio, na

qual o divórcio seja declarado, é necessário ir até o Cartório de Registro civil para

desconstituir o casamento).

É possível reconhecer/distinguir uma ação pelo pedido mediato, e não pelo pedido

imediato (Todas as ações condenatórias, por exemplo, pedem algo semelhante: a tutela

jurisdicional).

Quando a sentença é declaratória, tudo o que a parte almejava, ela obteve. Porém para

torná-la totalmente eficaz, pode ser que exista uma etapa burocrática (Ex.: Ir ao Cartório

de Registro Civil para mudar o estado civil). Nos termos do art. 475-N, o título executivo

judicial possibilita que o credor entre em juízo requerendo que se promova a execução

forçada para satisfação de seu crédito.

Das três sentenças, a menos efetiva é a condenatória, pois ela não garante o

cumprimento da sentença.

Em relação ao pedido, existe um princípio fundamental: princípio da adstrição do

julgamento ao pedido, também denominado como princípio da correlação entre a

demanda e a sentença ou, também, princípio da congruência entre o pedido e a sentença

[art. 460].

O princípio consiste na impossibilidade do juiz julgar fora ou além do que foi pedido.

No CPC, o princípio está estabelecido nos arts. 128 e 460. O principio obriga a

existência de uma correlação entre o que foi pedido e o que foi dado [Ex.:Num pedido

de indenização de 10.000 reais, não é possível, caso houvesse algum engano no valor

pedido, ajustar um novo valor, salvo se o réu não tenha sido citado ou caso o réu

concorde com a mudança]. Caso a sentença não a atenda esse princípio, a sentença é

inválida].

Art. 460 É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida,

bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi

demandado.

O juiz pode julgar abaixo do que o autor pediu? Sim. É o que ocorre na sentença de

acolhimento parcial do pedido (sentença infra petitum): o juiz concede parcialmente o

Page 42: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

bem da vida. Quando o juiz julga fora do que se pediu (fora do pedido imediato), a

sentença é totalmente nula (sentença extra petitum) [Ex.: A mulher pede o divórcio e o

juiz reconhece o casamento como nulo].

Caso o juiz julgue além do que se pediu, existe uma sentença ultra petitum (Ex.: Numa

agressão física, além do problema moral, existe um problema relacionado à integridade

física. É possível pedir uma indenização por dano material ou por dano moral ou por

ambos. Caso autor só peça por dano material, o juiz não pode conceder ao autor mais do

que se pediu, no caso, dano moral).

A sentença ultra petitum é nula em relação ao excesso ou em relação à sua

integralidade? Alguns sustentam,como o professor Marcato, que a sentença é nula

ua to ao seu plus", o ue foi o edido e ex esso. E out as palav as, aproveitável somente o que foi pedido, o excesso é nulo.

A sentença citra petitum é aquela na qual o juiz não examina todas as questões propostas

pelas partes [Ex.: O réu se defendeu do pedido reivindicatório alegando nulidade do título

dominial do autor e prescrição aquisitiva em seu favor. O juiz acolhe o pedido do autor,

mediante reconhecimento apenas da eficácia do seu título, sem cogitar da usucapião

invocada pelo réu]. A sanção para a sentença citra petitum é a nulidade.

No mesmo processo, é possível cumular mais de uma ação e, consequentemente, mais de

um pedido (Exemplo de cumulação de pedidos: Ação de alimentos junto com ação de

reconhecimento de paternidade). Nesse caso, o juiz pode julgar somente parte do pedido,

por exemplo, concedendo somente a ação de declaração de paternidade e omitindo-se da

ação de alimentos. Para corrigir essa omissão, existem os embargos declaratórios.

O embargo declaratório (art. 535) é um recurso dirigido ao juiz pedindo a correção de

imperfeições da sentença. Porém os embargos declaratório tem um prazo de 5 dias.

Há casos em que, não utilizando os embargos declaratórios, utilizam-se os recursos de

apelação.

5. Jurisdição

5.1 Conceito

A jurisdição pode ser entendida como a atuação estatal visando à aplicação do direito

objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica

e gerando com tal solução a pacificação social.

Parte da doutrina prefere analisar a jurisdição sob três aspectos distintos: poder, função e

atividade. O poder jurisdicional é o que permite o exercício da função jurisdicional, que se

materializa no caso concreto por meio da atividade jurisdicional.

1. Como poder, a jurisdição representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica

dos jurisdicionados, aplicando o direito objetivo ao caso concreto e resolvendo a crise

jurídica que os envolve.

Page 43: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2. Como função, a jurisdição é o encargo atribuído pela CF, em regra, ao Poder Judiciário

– função típica – e, excepcionalmente, a outros Poderes – função atípica – de exercer

concretamente o poder jurisdicional.

3. Como atividade, a jurisdição é o complexo de atos praticados pelo agente estatal

investido de jurisdição no processo. A função jurisdicional se concretiza por meio do

processo, forma que a lei criou para que tal exercício fosse possível.

5.2 Equivalente jurisdicionais

O Estado não detém o monopólio da solução dos conflitos, por isso admite-se outras

maneiras pelas quais as partes possam buscar uma solução do conflito em que estão

envolvidas. São chamadas de equivalentes jurisdicionais ou de formas alternativas de

solução dos conflitos. Há quatro espécies:

1. Autotutela;

2. Autocomposição;

3. Mediação;

4. Arbitragem.

Constitui-se pelo sacrifício integral do interesse de uma das partes envolvida no conflito

em razão do exercício da força pela parte vencedora.

Fo ça é qualquer poder que a parte vencedora tenha condições de exercer sobre a

parte derrotada, resultando na imposição de sua vontade. A força não se limita ao

aspecto físico, podendo-se verificar nos aspectos afetivo, econômico, religioso, etc.

A autotutela é excepcional, sendo raras as previsões legais que a admitem (Ex.: Apreensão

do bem com penhor legal – CC, art. 1.467, I // Desforço imediato no esbulho – CC, art.

1.210, § 1°).

A autotutela não recebe o atributo de definitividade, por isso sempre pode ser revista

jurisdicionalmente.

Consiste no sacrifício integral ou parcial do interesse das partes envolvidas no conflito

mediante a vontade unilateral ou bilateral de tais sujeitos. O que determina a solução do

conflito não é o exercício da força, mas, sim, a vontade das partes.

A autocomposição é um gênero, do qual são espécies a transação a submissão e a

renúncia.

Na transação, há um sacrifício recíproco de interesses, sendo que cada parte abdica

parcialmente de sua pretensão para que se atinja a solução do conflito.

Na renúncia e na submissão o exercício de vontade é unilateral, podendo até mesmo

ser consideradas soluções altruístas do conflito, levando em conta que a solução

decorre de ato da parte que abre mão do exercício de um direito que teoricamente

seria legítimo. Na renúncia, o titular do pretenso direito simplesmente abdica tal

Page 44: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

direito, fazendo-o desaparecer juntamente com o conflito gerado por sua ofensa,

enquanto na submissão o sujeito se submete à pretensão contrária, ainda que fosse

legítima sua resistência.

o Exemplo: Marina pretende obter 10, mas Aline só está disposta a pagar 5.

Havendo um sacrifício recíproco, as partes podem se autocompor por qualquer

valor entre 5 e 10 (transação). Marina, por outro lado, pode abdicar do direito de

crédito de 10 (renúncia). Finalmente, Aline poderia, mesmo acreditando ser

devedora de apenas 5, pagar a Marina os 10 cobrados (submissão).

A transação, a renúncia e a submissão podem ocorrer também durante um processo

judicial, sendo que a submissão nesse caso é chamada de reconhecimento jurídico do

pedido, enquanto a transação e a renúncia mantêm a mesma nomenclatura.

Obs.: Pela negociação as partes chegam a uma transação sem a intervenção de um terceiro,

enquanto na conciliação há a presença de um terceiro (conciliador) que funcionará como

intermediário entre as partes. Ressalta-se que o conciliador não tem o poder de decidir o

conflito, mas pode levar as partes a exercer suas vontades no caso concreto para resolver o

conflito de interesse.

A mediação consiste no exercício da vontade das partes. Diferentemente da

autocomposição, a solução da mediação não traz qualquer sacrifício aos interesses das

partes envolvidas no conflito. Além disso, diferentemente do que ocorre na conciliação, a

mediação é centrada no nas causas do conflito.

O mediador não propõe soluções do conflito às partes, mas as conduz a descobrirem

as suas causas de forma a possibilitando sua remoção e, por fim, a solução do conflito.

Portanto, as partes envolvidas chegam por si sós à solução consensual, tendo o

mediador apenas a tarefa de induzi-las a tal ponto de chegada.

o Ex.: Numa ação de indenização por dano moral em razão de policial militar armado

ser barrado no ingresso à agência bancária, o autor pretende obter R$ 10.000,00 e

a instituição financeira não pretende pagar qualquer valor. O conciliador tentará

convencer a instituição financeira a pagar algum valor e o policial a receber menos

do que pretendia originariamente. Já o mediador oferecerá outras soluções como

um pedido oficial de desculpas, a fixação de aviso em todas as portas de agências

bancárias de como deve proceder o policial que pretenda ingressar armado etc.

A arbitragem se baseia, resumidamente, em dois elementos:

1. As partes escolhem um terceiro de sua confiança que será responsável pela solução do

conflito de interesses;

2. A decisão desse terceiro é impositiva, o que significa que resolve o conflito

independentemente da vontade das partes.

Page 45: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Obs.: A Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) disciplina essa forma de solução de conflitos.

Nota.: A arbitragem não afronta o princípio da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5.º,

XXXV). Afirma-se que a aplicação da garantia constitucional da inafastabilidade é

naturalmente condicionada à vontade das partes.

5.2 Escopos da jurisdição

Os principais objetivos perseguidos com o exercício da função jurisdicional variam entre

três ou quatro: jurídico, social, político e educacional (Obs.: Parte da doutrina o estuda

como aspecto do escopo social).

Escopo jurídico: Consiste na aplicação concreta da vontade do direito, resolvendo-se a

ha ada lide jurídica ; Escopo social: Consiste em resolver o conflito de interesses proporcionando às partes

envolvidas a pacificação social;

Escopo educacional: Relacionado à função da jurisdição de ensinar aos jurisdicionados

– e não somente às partes envolvidas no processo – seus direitos e deveres.

Escopo político: É analisado sob três diferentes vertentes: 1) Presta-se a fortalecer o

Estado; 2) A jurisdição é o último recurso em termos de proteção às liberdades públicas

e aos direitos fundamentais; 3) Incentivar a participação democrática por meio do

processo.

5.3 Características principais

5.3.1 Caráter substitutivo

Por caráter substituto entende-se a característica da substitutividade da jurisdição, ou

seja, a jurisdição substitui a vontade das partes pela vontade da lei no caso concreto,

resolvendo o conflito existente entre elas e proporcionando a pacificação social.

Ex.: Diante de um contrato de empréstimo inadimplido, e sendo a vontade da lei o

pagamento de tal dívida, a jurisdição terá condições de substituir a vontade do

devedor (de não pagar) pela vontade da lei (realização do pagamento).

Em algumas hipóteses, a jurisdição pode existir sem a presença do caráter substitutivo.

Destacam-se duas:

Nas ações constitutivas necessárias, busca-se a criação de uma nova situação jurídica

que não poderia ser criada sem a intervenção do Poder Judiciário. Em outras palavras,

não haverá a substituição da vontade das partes pela vontade da lei. A atuação

jurisdicional serve apenas para atribuir eficácia jurídica ao acordo de vontade entre as

partes.

o Ex.: Dois cônjuges pretendem se divorciar, não havendo qualquer conflito entre

eles no tocante a essa pretensão. Ocorre, entretanto, que ambos têm um filho

menor de idade (incapaz), de forma que serão obrigados a buscar o Poder

Judiciário para a obtenção do bem da vida desejado – o divórcio.

Na execução indireta, a obrigação será satisfeita em razão da vontade do devedor,

não havendo uma substituição dessa vontade pela vontade da lei.

Page 46: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

5.3.2 Lide

Segundo Carnelutti, a lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão

resistida.

Em outras palavras, é a situação em que um sujeito pretende obter um bem da vida,

porém é que é impedido por outro, que lhe cria uma resistência a tal pretensão,

surgindo desse choque de interesses (= obter o bem da vida e impedir a sua obtenção)

o conflito de interesse entre as partes.

A lide não é essencial à jurisdição, por isso é possível a existência de jurisdição sem lide.

Exemplos:

1. Processos objetivos (Controles concentrados de constitucionalidade, por exemplo);

2. Tutela inibitória: Buscando evitar a prática, continuação ou repetição de ato ilícito,

volta-se para ato futuro.

5.3.3 Inércia

O princípio da inércia da jurisdição está limitado ao princípio da demanda (ação), isto é, a

movimentação inicial da jurisdição está condicionada à provocação do interessado.

Em outras palavras, o juiz – representante jurisdicional – não poderá iniciar um

processo de ofício. É o interessado que deve dar início ao processo.

Obs.: Direito de ação = Direito de provocar a jurisdição por meio do processo.

Mesmo reconhecendo-se a disponibilidade do direito de ação, excepcionalmente há

permissão legal expressa para o início do processo de ofício (Ex.: art. 989).

5.3.4 Definitividade

A definitividade significa que a decisão que solucionou o conflito deverá ser respeitada por

todos: partes, juiz do processo, Poder Judiciário e até mesmo por outros Poderes. Por isso,

a coisa julgada material é fenômeno exclusivo das decisões jurisdicionais.

Apesar de ser possível concluir que somente na jurisdição existe coisa julgada

material, não é possível condicionar o exercício da jurisdição à coisa julgada material.

Existem hipóteses nas quais a se entende não existir coisa julgada material, ainda que

seja evidente a existência de jurisdição (Ex.: Processo cautelar).

5.4 Princípios da jurisdição

5.4.1 Investidura

O Poder Judiciário tem a necessidade de escolher determinados sujeitos, para que possa

investi-los do poder jurisdicional e, desse modo, estejam aptos a representar o Estado no

exercício concreto da atividade jurisdicional.

O agente público, investido de tal poder, é o juiz de direito.

No Brasil, existem duas formas de obtenção da investidura:

1. Concurso público (CF, art. 93, I);

Page 47: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

2. Indicação pelo Poder Executivo, por meio do quinto constitucional (CF, art. 94).

5.4.2 Territorialidade (aderência ao território)

O princípio da aderência ao território reflete uma forma de limitação do exercício legítimo

da jurisdição. O juiz devidamente investido de jurisdição só pode exercê-la dentro do

território nacional. Além disso, a atividade jurisdicional também é limitada por regras de

competência territorial.

As regras de competência territorial definirão um determinado território, ou seja, um

determinado foro (na Justiça Estadual uma comarca, e na Justiça Federal uma seção

judiciária), e pelo princípio da aderência ao território, a atuação jurisdicional só será

legítima dentro desses limites territoriais.

O princípio possui diversas exceções previstas em lei, havendo diversas hipóteses nas quais

o juízo tem permissão legal para a prática de atos fora de sua comarca ou de sua seção

judiciária. Ex.:

A citação pelo correio pode ser feita para qualquer comarca ou seção judiciária do País

(CPC, art. 222, caput, do CPC);

A citação ou intimação por oficial de justiça pode ser feita em comarca ou seção

judiciária contígua, de fácil comunicação, ou nas que se situem na mesma região

metropolitana (CPC, art. 230);

5.4.3 Indelegabilidade

O princípio da indelegabilidade pode ser analisado sob duas diferentes perspectivas:

externo e interno.

a) No aspecto externo significa que o Poder Judiciárionão poderá delegar tal função a

outros Poderes ou outros órgãos que não pertencem ao Poder Judiciário;

b) No aspecto interno significa que, determinada a competência para uma demanda, o

órgão jurisdicional não poderá delegar sua função para outro órgão jurisdicional.

Obs.: Quanto à indelegabilidade externa, a CF prevê, excepcionalmente, função jurisdicional a

outro poder que não seja o Poder Judiciário.

A impossibilidade de delegação de função jurisdicional entre diferentes órgãos

jurisdicionais é excepcionada em ao menos duas hipóteses:

1. Expedição de carta de ordem pelo Tribunal, que delega sua função de produzir provas

orais e periciais ao juízo de primeiro grau (Ex.: Ação rescisória - art. 492). A falta de

estrutura dos

2. O a t. , , CF , prevê que o STF delegue a função executiva de seus julgados

ao juízo de primeiro grau.

5.4.4 Inevitabilidade

O princípio da inevitabilidade diz respeito à vinculação obrigatória dos sujeitos ao

processo judicial. Após a integração na relação jurídica processual, ninguém poderá, por

Page 48: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

sua própria vontade, se negar ao ha ado ju isdi io al = deve supo ta os efeitos da decisão jurisdicional).

O princípio da inevitabilidade possui uma exceção: o art. 67 (CPC) permite ao terceiro,

quando citado em razão de sua nomeação à autoria, simplesmente recusar a sua

qualidade de parte.

5.4.5 Inafastabilidade

Consagrado pelo art. 5.º, XXXV [CF] a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário

lesão ou ameaça de lesão a direito , o p i ípio da i afastabilidade tem dois aspectos:

A relação entre a jurisdição e a solução administrativa de conflitos: O interessado em

provocar o Poder Judiciário em razão de lesão ou ameaça de lesão a direito não é

obrigado a procurar antes disso os possíveis mecanismos administrativos de solução

de conflito. Ainda que seja possível a instauração de um processo administrativo, isso

não impede a procura do Poder Judiciário.;

O acesso à ordem jurídica justa: Funda-se em quatro ideais principais: 1) Deve-se

ampliar o máximo possível o acesso ao processo; 2) Observância ao devido processo

legal, em especial a efetivação do contraditório real e do princípio da cooperação; 3)

Decisão com justiça (Trata-se de aplicar a lei sempre levando-se em consideração os

princípios constitucionais de justiça e os direitos fundamentais.); 4) A eficácia da

decisão.

5.4.6 Juízo natural

Pelo princípio do juízo natural entende-se que ninguém será processado senão pela

autoridade competente (CF, art. 5.º, LIII). O princípio pode ser entendido de duas formas

distintas:

1. Impossibilidade de escolha do juiz para o julgamento de determinada demanda;

2. Proíbe a criação de tribunais de exceção, (CF, art. 5.º, XXXVII).

5.4.7 Duplo grau de jurisdição

Possui duas facetas:

1. Indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das causa já julgadas pelo juiz de

primeiro grau [juízo de primeira instância - jurisdição inferior];

2. Exigência de que ordinariamente os processos tenham início perante os órgãos

inferiores da jurisdição (primeira instância), só podendo chegar aos órgãos superiores

por via de recurso. Em síntese, veda-se suprimir um grau de jurisdição.

5.5. Espécies de jurisdição

Ressalta-se que a jurisdição é una e indivisível. A divisão é feita para fins didáticos.

5.5.1 Jurisdição penal ou civil

Esse critério de classificação leva em conta a natureza do objeto da demanda judicial.

Page 49: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Tratando-se de matéria penal, haverá jurisdição penal, e, de forma subsidiária, não

sendo o direito material discutido na demanda de natureza penal, a jurisdição será

civil.

5.5.2 Jurisdição superior ou inferior

A jurisdição inferior é exercida pelo órgão jurisdicional que enfrenta o processo desde o

início, ou seja, aquele que tem competência originária para a demanda, enquanto a

jurisdição superior é exercida em hipótese de atuação recursal dos tribunais.

5.5.3 Jurisdição comum e especial

A jurisdição espe ial exe ida pelas ha adas Justiças especiais , ue te a fixação

constitucional de sua competência em virtude da matéria que será objeto da demanda

judicial. A CF reconhece três: 1) Justiça do Trabalho (arts. 111 a 116), 2) Justiça Eleitoral

(arts. 118 a 121); 3) Justiça Militar (arts. 122 a 125, §§ 3.º a 5.º).

Residualmente, ou seja, tudo o que não for de competência dessas justiças especiais será

de competência da Justiça Comum, falando-se nesse caso de jurisdição comum.

A Justiça Comum é composta pela Justiça Federal, cuja competência vem prevista nos

arts. 108 e 109 da CF, e pela Justiça Estadual, que tem competência residual dentro do

âmbito da Justiça Comum.

6. Competência

6.1 Introdução

Entre as atividades típicas do Estado encontra-se a função jurisdicional, que é

absolutamente indispensável para a concretização da atividade legislativa. O exercício do

poder jurisdicional é limitado por determinado princípios

A doutrina fala em duas espécies de jurisdição: penal e civil (A jurisdição penal é a

destinada à matérias penais. O que não for penal é matéria de jurisdição civil).

Quando determinada causa é levada a debate e julgamento pelo Judiciário e a causa esteja

fundada numa lide, a atividade jurisdicional é denominada contenciosa. Porém, existem

determinadas atividades do Judiciário que se desenvolvem devido ao interesse em jogo. É

a atividade jurisdicional voluntária.

Ex.: Separação processual ao lado de separação litigiosa = Um casal entra em conflito,

pois um dos cônjuges deseja se separar. O cônjuge entra com uma ação

litigiosa/contenciosa. O outro cônjuge é citado, há direito de resposta, etc. Quem

definirá se haverá a separação, é o Estado, representado pelo Juiz de Casamento.

Contundo, se ambos os cônjuges estão em acordo, não há necessidade de ação

litigiosa. Por isso, existem procedimentos de demandas voluntárias e procedimentos

de demanda contenciosa.

Page 50: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Definição: Competência é o limite da jurisdição. Em outras palavras, a competência é a

limitação do exercício legítimo da jurisdição.

A competência do STF, por exemplo, estabelece-se em todos os níveis da Nação e em

todas as áreas do Direito que envolvam interesse constitucional.

Nunca faltará jurisdição ao órgão jurisdicional. Afirmar que qualquer juiz, de qualquer

órgão jurisdicional, tem jurisdição em todo o território nacional não significa que ele possa

exercer a função jurisdicional de forma ilimitada. Quando exercido fora de certos limites

traçados pela lei, o ato do juiz poderá ser nulo.

O juiz incompetente (Obs.: O correto é o juízo incompetente) é aquele que exerce o

poder jurisdicional fora da competência do órgão em que se encontra (Ex.: Juiz da área

penal julgando casos de direito de família). A competência, ou a falta dela, está ligada

ao órgão em que o juiz se encontra.

Juízo é o órgão jurisdicional no qual atua a figura humana do juiz(a). Esse juízo está

inserido numa área territorial que se chama, lato sensu, foro.

Na justiça estadual, o foro é conhecido como comarca.

Na justiça federal, o foro é conhecido como seção ou subseção judiciaria.

Em outras palavras, cada estado é dividido territorialmente em foros. Nas comarcas,

atuam os juízes estaduais. Nas seções judiciárias, atuam juízes federais.

Nota.: Qua do a lei fala fo o , deve-se verificar em qual sentido é utilizado (Se for para justiça

estadual, é comarca; Se for para justiça federal, é seção judiciária)

No foro, deve existir, no mínimo, um juízo (Há foros em que existem múltiplos juízos).

Quando o juízo está somado ao cartório, fala-se em vara (Portanto, a competência não é

da vara, mas, sim, do juízo).

A organização das regras de competência busca atingir dois objetivos principais:

1) Organização de tarefas;

2) Racionalização do trabalho.

6.2 Competência relativa e absoluta

A existência em nosso ordenamento processual de regras de competência relativa e

absoluta se explica em razão da busca de um equilíbrio entre razões políticas divergentes.

As regras de competência relativa prestigiam a vontade das partes, por meio da

criação de normas que buscam proteger as partes (autor ou réu), facultando a elas a

opção pela sua aplicação ou não no caso concreto.

As regras de competência absoluta são criadas em razões de ordem pública, para as

quais a liberdade das partes deve ser desconsiderada, em virtude da prevalência do

interesse público sobre os interesses particulares. Nesse caso, não há flexibilização,

seja pela vontade dos interessados, seja pela própria lei.

Page 51: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

O ordenamento brasileiro criou um sistema em que se mesclam normas de competência

relativa e absoluta, cada qual com um propósito diferente (interesse das partes e interesse

público) e bem por isso com tratamento processual distinto.

6.2.1 Competência relativa X Competência absoluta

Page 52: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

As regras são criadas por razões de ordem pública (correto exercício da jurisdição e bom funcionamento do Poder Judiciário).

As regras são criadas baseadas em interesses particulares, mais precisamente no interesse das partes. Exceção: Hipóteses de conexão e continência, fundados ambos em razões de ordem pública (economia processual e harmonização dos julgados).

Todos os sujeitos processuais são legitimados a arguir a incompetência absoluta (autor, réu, terceiros intervenientes, Ministério Público e até mesmo o juiz de ofício).

Em regra, somente o réu poderá arguir a incompetência relativa, ou seu assistente simples quando não existir uma expressa discordância. Não poderão fazê-lo o autor nem o Ministério Público como fiscal da lei. O juiz não pode reconhecê-la de ofício (Súmula 33, STJ), a não ser na hipótese do art. 112, parágrafo único.

Pode ser alegada por meio de qualquer petição (simples ou como tópico de uma petição

o i ada , o o o testação, pli a, memoriais escritos e recursos) e até mesmo oralmente em audiência.

Pode ser alegada por meio de qualquer petição (simples ou como tópico de uma petição

o i ada , o o o testação, pli a, memoriais escritos e recursos) e até mesmo oralmente em audiência.

Pode ser reconhecida a qualquer momento do processo. A parte que deixar de alegar a incompetência absoluta no primeiro momento que lhe couber falar nos autos arcará com as custas do retardamento.

O momento único em que a questão da competência relativa terá alguma relevância é o prazo de resposta do réu, o que dependerá do processo e do procedimento no caso concreto. Esse é o prazo para o ingresso da exceção, e transcorrido sem manifestação do réu nunca mais poderá ser alegada incompetência relativa do juízo.

A incompetência absoluta gera uma nulidade absoluta. Após o trânsito em julgado, torna-se um vício de rescindibilidade, significando que mesmo após esse momento processual poderá ser alegada por meio de ação rescisória (art. 485, II).

A incompetência relativa gera vício de nulidade relativa. Caso o réu não ingresse com a exceção no prazo de resposta, o vício estará convalidado, ocorrendo prorrogação de competência.

Reconhecida a incompetência absoluta os autos serão em regra remetidos para o juízo competente e os atos decisórios serão nulos de pleno direito (os atos postulatórios – produzidos pelas partes – saneatórios e probatórios serão mantidos). A nulidade atinge somente os atos decisórios de mérito, sendo válidos os atos que decidem questões incidentais. Cumulados pedidos de diferentes competências absolutas perante órgão absolutamente incompetente para ambos, a demanda deve ser extinta.

Reconhecida a incompetência relativa os autos serão remetidos ao juízo competente e os todos os atos praticados, inclusive os decisórios, são válidos. Nos Juizados Especiais a incompetência relativa é causa de extinção do processo.

As regras de competência absoluta têm natureza cogente, não admitindo nenhuma flexibilização, seja por vontade das partes, seja pela própria lei.

As regras de competência relativa têm natureza dispositiva, podendo ser flexibilizadas. A vontade das partes (eleição de foro) e a lei (conexão/continência, ausência de exceção de incompetência) podem modificar a regra de competência relativa.

Page 53: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

6.3 Critérios para fixação de competência

Na busca da fixação de competência no caso concreto, o operador deve atentar para as

diversas normas nos mais variados diplomas legais a respeito da competência da Justiça,

do foro e do juízo.

Para que essa tarefa seja facilitada, é possível seguir um esquema de descoberta da

competência no caso concreto:

1° etapa: Verificação da competência da Justiça brasileira. Os arts. 88 e 89 (CPC)

tratam do fenômeno da competência internacional, disciplinando as hipóteses de

competência exclusiva do juiz brasileiro e as hipóteses de competência concorrente

deste com o juiz estrangeiro. Sendo exclusiva ou concorrente, a Justiça brasileira será

competente para julgar o processo.

2° etapa: Analisar se a competência para julgamento é dos Tribunais de superposição

(a competência originária do STF vem disciplinada pelo art. 102, I [CF] e a competência

originária do STJ no art. 105, I [CF]) ou de órgão jurisdicional atípico (Ex.: Senado

Federal – art. 52, I e II [CF]).

3° etapa: Verificar se o processo será de competência da justiça especial (Justiça do

Trabalho, Justiça Militar ou Justiça Eleitoral) ou justiça comum (Justiça Estadual e

Justiça Federal).

4° etapa: Sendo de competência da justiça comum, definir entre a Justiça Estadual e a

Federal. A Justiça Federal tem sua competência absoluta prevista pelos arts. 108 (TRF)

e 109 (primeiro grau) da CF. A competência da Justiça Estadual é residual, ou seja,

sendo de competência da justiça comum e não sendo de competência da Justiça

Federal, será de competência da Justiça Estadual.

5° etapa: Descoberta a Justiça competente, verificar se o processo é de competência

originária do Tribunal respectivo (TRF ou TJ) ou do primeiro grau de jurisdição.

6° etapa: Sendo de competência do primeiro grau de jurisdição, determinar a

competência do foro. Por foro deve-se entender uma unidade territorial de exercício

da jurisdição. Na Justiça Estadual, cada comarca representa um foro, enquanto na

Justiça Federal cada seção judiciária representa um foro.

7° etapa: Determinada o foro competente, a tarefa do operador poderá ter chegado

ao final. Haverá hipóteses, entretanto, nas quais ainda deverá ser definida a

competência de juízo, o que será feito no mais das vezes por meio das leis de

organização judiciária (responsáveis pela criação de varas especializadas em razão da

matéria e da pessoa) ou ainda pelo CPC (Ex.: Definição de qual juízo é competente

quando duas ações são conexas e tramitam no mesmo foro – art. 106).

Page 54: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

a

6.4 Espécies de competência

6.4.1 Competência territorial

Por meio da competência territorial, determina-se qual o foro competente para a

demanda, isto é, qual a circunscrição territorial judiciária.

O vocábulo foro tem dupla acepção: foro estadual (Comarca) e foro federal (Subseção

ou seção judiciária).

Existem os foros:

Comum

Alternativo

Forum res sitae

Especiais

COMPETÊNCIA DE JURISDIÇÃO

(Qual a justiça competente?)

COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA

(O órgão competente é

superior ou inferior?)

COMPETÊNCIA DE FORO

(Qual a comarca ou subseção

competente?)

COMPETÊNCIA DE JUÍZO

(Qual a vara competente?)

COMPETÊNCIA

Funcional

Em razão da matéria

Em razão da pessoa

Valor da causa

Territorial

ABSOLUTA

RELATIVA

Page 55: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Foro comum (art. 94): Se a lei não fixa regra de competência, escolhe-se o foro comum: a

ação será proposta no foro do domicílio do réu, e não da residência (Obs.: Domicílio =

Residência fixa + ânimo definitivo. A exceção é o domicílio legal. Ex.: Preso = Lugar onde

cumpre sentença – CC, art. 76, parágrafo único).

Se o réu tem mais de um domicílio, ele será demandado no foro de qualquer um deles,

a escolha do autor (art. 94, §1°).

Se o domicílio do réu é incerto ou desconhecido, ele será demandado onde for

encontrado (isto é, na residência) ou no foro do domicílio do autor (art. 94, § 2°).

Se o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do

domicílio do autor; se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em

qualquer foro (art. 94, §3°).

Foro alternativo: Como visto, em regra, a ação será proposta no foro do domicilio do réu.

A lei, porém, assinala algumas exceções.

Havendo dois ou mais réus [litisconsórcio passivo], com diferentes domicílios, serão

demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor [art. 94, §4°].

Na hipótese de delito ou acidente de veículos, a vítima (autor) pode escolher o foro do

lugar da ação ou o foro do seu domicílio (art. 100, parágrafo único). Ela também pode

escolher o foro do domicílio do réu (foro comum – art. 94).

Forum res sitae : Defi ido o ase o lo al o de a oisa está situada a t. 9 Ex.: Ação real imobiliária – Em geral, as ações são pessoais. Contundo, há casos em que o que está

em disputa é quem é o proprietário de imóvel. Quando se discute a propriedade de

imóvel, fala-se em ação real imobiliária. Se for coisa móvel, a ação será denominada ação

real mobiliária. No caso de ação real imobiliária, o foro competente é onde estiver situada

a propriedade [competência territorial absoluta]).

Foro especial: Em geral, as ações são feitas no foro comum, porém existem exceções:

Quando a ação tiver por objeto alimentos, a ação ocorrerá no foro do domicílio ou

residência do alimentando (art. 100, II - Essa regra é mantida no NCPC);

A ação de separação, conversão de separação em divórcio e anulação de casamento

tem como foro competente o domicílio da mulher (art. 100, I - Essa prerrogativa não

está presente no NCPC).

6.4.2 Competência funcional

A competência funcional está relacionada à função jurisdicional já exercida ou que será

exercida. Em outras palavras, leva em conta à função do órgão jurisdicional [art. 93].

Exemplos:

Ex.: O juízo da ação principal é absolutamente competente para as ações acessórias e

incidentais. Por ter exercido a função jurisdicional na ação principal, automaticamente

receberá a competência para as ações acessórias e incidentais.

o Promover ação indenizatória por acidente de trânsito. Se o acidente for grande

(isto é, der ensejo à indenização), deve-se entrar no Juízo Civil. Após a distribuição

do processo, sobrevém a sentença, condenando o réu a pagar (emissão de título

Page 56: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

executivo judicial). O que se espera, agora, é que o réu pague. Caso ele não pague,

inicia-se a execução no mesmo juízo (Competência funcional em razão da

sentença).

6.4.3 Competência em razão da matéria

A competência em razão da matéria é aquela determinada em virtude da natureza da

causa (objeto da demanda). As regras de competência em razão da matéria serão previstas

pelas leis de organização judiciária, ressalvados os casos expressos no próprio CPC (art.

91).

Obs.: Apesar da disposição da norma citada, há outros diplomas legais que contêm regras de

competência em razão da matéria. Há normas de competência em razão da matéria na

Constituição Federal, nas Constituições Estaduais, nas leis federais e nas leis de organização

judiciária.

As regras de competência em razão da matéria são regras de competência absoluta, não

admitindo prorrogação.

As normas de organização judiciária criam varas especializadas, que concentram todas as

demandas pertencentes a um determinado foro – geralmente da Capital ou de cidade de

grande porte –, tomando-se por base matéria específica.

O objetivo é especializar os servidores da justiça, inclusive e principalmente o juiz,

numa determinada matéria, o que teoricamente ensejaria uma prestação jurisdicional

de melhor qualidade.

Na CF, a matéria determina a competência das Justiças. A competência das Justiças

Especializadas vem prevista nos arts. 114 (Justiça do Trabalho), 121 (Justiça Eleitoral) e 125

(Justiça Militar).

Excluídas as Justiças especializadas, a competência será da Justiça Comum, uma vez que a

competência da Justiça Federal vem prevista nos arts. 108 (TRF) e 109 (primeiro grau) da

CF.

A competência da Justiça Estadual é residual, incluindo todas as matérias que não

sejam das Justiças especializadas ou da Justiça Federal.

Por se tratar da fixação de competência de juízo, somente após a fixação da competência

do foro terá alguma relevância a existência ou não de vara especializada em razão da

matéria.

A vara especializada em razão da matéria não modifica regra de competência de foro,

só passando a ter importância após tal determinação.

6.4.4 Competência em razão da pessoa

A competência em razão da pessoa será sempre absoluta, existindo regras na Constituição

Federal (competência da Justiça Federal de primeiro grau, do STF e STJ), nas Constituições

Page 57: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Estaduais (competência de tribunais estaduais) e nas leis de organização judiciária

(competência de juízo).

Ex.: Vara da Fazenda Pública - Concentra as demandas envolvendo o Estado e o

Município.

6.4.5 Competência em razão do valor da causa

Atualmente a relevância da competência fixada pelo valor da causa encontra-se restrita à

questão que envolve o Juizado Especial e os chamados foros regionais (distritais ou

qualquer outro nome que se dê à criação de células divisionárias de comarcas. Ex.: Foro

distrital, vara distrital, etc.).

No tocante ao Juizado Especial, faz-se a uma divisão sistemática entre o Juizado Especial

Estadual (Lei 9.099/1995), o Juizado Especial Federal (Lei 10.259/2001) e o Juizado Especial

da Fazenda Pública Estadual (Lei 12.153/2009).

Competência dos Juizados Especiais Estaduais: Causas que não superem 40 salários

mínimos e não estejam previstas no art. 3.º, II, III, e IV, da Lei 9.099/1995, envolvendo

sujeitos que não estejam elencados no art. 8.º da mesma Lei, além de não serem

faticamente complexas, não versarem sobre direito coletivo lato sensu, nem seguirem

procedimento especial.

Competência do Juizado Cível Federal: Conciliar e julgar causas de competência da

Justiça Federal até o valor de 60 salários mínimos;

Competência do Juizado Especial da Fazenda Pública: Processar, conciliar e julgar

causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos

Municípios, até o valor de 60 salários mínimos.

6.5 Competência da Justiça Federal

A competência da Justiça Federal será fixada sempre por normas determinadoras de

competência absoluta.

A competência da Justiça Federal em segundo grau de jurisdição (ações de competência

originária do Tribunal Regional Federal e em grau de recurso) está prevista no art. 108

(CF).

No art. 109 (CF), encontram-se as previsões referentes à competência de primeiro grau da

Justiça Federal, que na área cível ora são determinadas em razão da pessoa, ora em razão

da matéria.

Competência em razão da pessoa (ratione personae): Art. 109, inciso I e II

Competência em razão da matéria (ratione materiae): Art. 109, inciso III, X, XI e V-A

6.6 Modificações da competência

6.6.1 Prorrogação de competência

Page 58: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Todos os órgãos jurisdicionais possuem competência, mas a competência está relacionada

as causas que lhe são afetas. Se a ação é promovida perante órgão incompetente, deve-se

analisar qual o grau de incompetência.

A incompetência absoluta significa a total ausência de competência daquele órgão

jurisdicional para processar aquela determinada causa. O processo não pode tramitar

nesse órgão e, caso ele tramite, o resultado é nulo.

Um órgão jurisdicional relativamente incompetente é aquele que não tem

competência total para a causa, mas possui uma competência parcial. Se a

incompetência é relativa e não há reclamação, o órgão jurisdicional se torna

competente.

Obs.: O órgão que era competente pela regra determinadora tornar-se-á concretamente

incompetente.

Em outras palavras, a incompetência relativa está sujeita à prorrogação (= atribuição de

competência plena a um órgão jurisdicional até então incompetente). Nesse caso, a

sentença não será nula, afinal a competência foi prorrogada [Alegada pela parte]. Em

contrapartida, a incompetência absoluta é improrrogável [Corrigida pelo próprio juiz]

Ex.: Qual é o foro competente para o processamento da ação de divórcio? Domicílio ou

residência da mulher. Se o foro competente é aquele onde a mulher tenha

domicílio/residência, só há um foro. E se o marido processar a mulher em outra

comarca? A mulher, ao ser citada, deve entrar com uma ação de exceção de

incompetência para que o processo seja encaminhado para sua comarca. Se ela ficar

calada, o órgão jurisdicional relativamente incompetente se torna plenamente

competente.

Obs.: Quando a competência é relativa, é possível altera-la por meio de cláusula contratual.

Nota1.: A eleição do foro competente pelas partes é um exemplo de prorrogação.

Nota2.: A prorrogação também se aplica na consolidação de um órgão jurisdicional

competente para o julgamento de diversos processos que antes da prorrogação competiam a

outros órgãos jurisdicionais (Ex.: Reunião de processos em virtude da conexão).

Page 59: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Como se dá a prorrogação? Por lei (Em razão da lei) ou voluntária (Em razão da vontade

das partes).

Nota.: A hip tese de p o ogação po vo tade u ilate al do auto ão se e o t a expressamente prevista em lei (Resultado de uma análise sistêmica das regras legais a respeito

da matéria). Sempre que existir uma regra especial de foro, a proteger o autor, em detrimento

da regra geral, o demandante poderá optar por afastar a norma que teria sido feita em seu

favor e litigar no domicílio do réu.

Obs.: É possível a eleição de foro, e não de juiz.

6.6.2 Prevenção da competência

Se as ações forem ligadas por conexão ou continência, as ações podem ser reunidas para

um juízo único (art. 105) para que possa ser proferida decisão sobre todas ações

Surge daí uma pergunta: Em qual juízo reunir? Os processos são reunidos no juízo

prevento (o juízo cuja competência foi fixada em primeiro lugar).

Fenômeno da conexão entre causas da mesma competência territorial e de competência

territorial diferente (mesma comarca/seção judiciária ou comarcas/seções judiciárias

diferentes):

Se os juízos forem do mesmo foro, atenta-se para quem fez o despacho inicial

primeiramente (ato do juiz que ordena a citação do réu) [art. 106];

Se os juízos forem propostos em foros diferentes, atenta-se não somente para o

juízo, mas também para o foro. A competência preventa é aquela na qual o réu foi

citado em primeiro lugar [art. 219, caput].

PRORROGAÇÃO

LEGAL

VOLUNTÁRIA

Ausência de oposição de exceção

de incompetência relativa (art. 114)

Conexão (art. 103)

Continência (art. 104)

Prorrogação por vontade unilateral

do autor

Cláusula de eleição de foro (art. 111)

Page 60: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Obs.: O art. 106, que, ao indicar ser o juiz prevento aquele que primeiro despacha na petição

inicial, deixa margens a dúvidas quanto à natureza de tal decisão. Seria qualquer espécie de

manifestação do juiz que já o tornaria prevento ou somente a decisão positiva, determinando

a citação do demandado? A doutrina diverge sobre o tema.

Nota.: O NCPC acaba com a contradição. Enquanto o art. 59 dispõe que o juízo prevento é o do

primeiro registro ou da primeira distribuição da petição inicial, o art. 238, que trata dos efeitos

da citação, exclui a prevenção como efeito desse ato processual.

6.6.3 Perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdiciotinis)

O art. 87 (CPC) trata da prevenção originária, afirmando que se determina a competência

no momento em que a ação é proposta, sendo irrelevantes as modificações do estado de

fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário

ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. Em outras palavras,

perpetuar a competência significa concretizar o juízo para aquele processo.

Ex.: No foro central da cidade de São Paulo, existem 40 juízos cíveis. Qual será o juízo

competente? O juízo competente será aquele para o qual a ação foi distribuída. No

momento em que se distribui a ação para aquele juízo, o processo fica preso àquele

juízo (perpetuação da competência).

Nota.: A competência de juízo somente se perpetuará com a propositura da ação nas

hipóteses em que esse juízo seja a priori competente. Sendo o juízo incompetente, não haverá

perpetuação no momento de propositura da ação.

Obs.: A jurisdição não se perpetua com a propositura da demanda, já existindo antes e

continuando a existir depois desse momento processual. Apesar da consagração da expressão,

ais ade uado t ata o fe e o o o pe petuação de o pet ia .

O art. 263 determina o momento em que a ação será considerada proposta:

a) Quando distribuída, em comarcas com mais de uma vara; e

b) Quando despachada pelo juiz em comarcas em que exista apenas uma vara.

Em outras palavras,

a) Se no foro só existe um juízo: considera-se a ação perpetuada no momento em que ela

foi protocolada.

b) Se no foro existem dois ou mais juízos com competências concorrentes: Nesses foros,

existem os distribuidores. O distribuidor tem por função distribuir os processos de

maneira igualitária entre os juízos que tenham competência plena. O momento de

perpetuação nesses casos ocorre quando a petição é distribuída ao juízo.

A regra de perpetuação da competência impede que o processo seja itinerante, isto é,

evita mudanças de fato (Ex.: Domicílio) ou de direito (Ex.: Uma nova lei afirmando que

todo torcedor da Portuguesa deve ser demandado no foro de seu domicílio).

A fixação também serve para evitar eventuais atos de partes imbuídas de má-fé, que

poderiam gerar constantemente mudanças de fato para postergar a entrega da

prestação jurisdicional.

Page 61: Teoria Geral Do Processo (Marcato)

Exceções ao princípio da perpetuação da jurisdição (art. 87):

A primeira exceção legal diz respeito a modificações supervenientes da competência

em razão da matéria ou da hierarquia. Na realidade, qualquer modificação de

competência absoluta (em razão da matéria, pessoa ou caráter funcional) será exceção

ao princípio da perpetuação da competência [Ex.: Primeiramente, destaca-se que toda

vez que o Município ou Estado forem parte de um processo, a Fazenda Pública será

competente. Na hipótese do Ministério Público entrar com uma ação contra um

munícipio e uma construtora, caso o munícipio saia do processo, a ação deve ser

remetida para o juízo cível];

A segunda exceção diz respeito à extinção do órgão competente. Se o órgão

jurisdicional acaba, o processo deverá continuar perante outro órgão, por isso é

impossível falar em perpetuação da competência nessa hipótese.