25
© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservati Fondatore Francesco Brugaletta P.I. 01214650887 Diritto & Diritti ISSN 1127-8579 1 di 25 Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir estatal Autore: In: Diritto civile e commerciale SUMÁRIO: Resumo - Introdução – 1. As Penas na Antiguidade- 2. Teorias Legitimadoras do Direito Penal- 2.1. Teorias Absolutas- 2.1.1. Teoria da Retribuição Moral- 2.1.2. Teoria da Retribuição Jurídica- 2.2. Teorias Relativas- 2.2.1. Teoria da Prevenção Geral Negativa- 2.2.2. Teoria da Prevenção Geral Positiva- 2.3. Teoria da Prevenção Especial- 2.4. Teorias Unitárias- 2.4.1. Garantismo Penal- 3. Teorias Deslegitimadoras do Direito Penal- 3.1. Abolicionismo Penal- 3.2. Minimalismo Radical- 5. Visão da Pena na Legislação Penal Brasileira –– Conclusão-Referências. Resumo: Ao tratar, neste artigo, dos sentidos e funções das penas, ao longo dos anos, acabaremos por nos referir também a própria legitimação e justificação do direito de punir, tradicionalmente conhecida com a denominação de “teorias da pena”. Ab initio, será realizada uma breve exposição sobre as teorias legitimadoras, que são fundamentações teóricas que objetivam justificar o direito de punir estatal, tais como a teoria absoluta, relativa e mista. Por fim, abordaremos as teorias deslegitimadoras (abolicionismo penal e minimalismo radical), que tem como objetivo, imediato ou mediato, a abolição do direito de punir pertencente ao Estado, e a menor interferência punitiva estatal. Palavras-chave: Pena. Teorias da pena. Direito de punir estatal. Abstract: In addressing this article, the meanings and functions of the feathers over the years, we shall refer also own legitimacy and justification of the right to punish, traditionally known by the name of "theories of punishment." Initially, there will be a brief presentation on the legitimating theories, which are theoretical foundations that aim to justify the right to punish the state, such as the theory of absolute, relative and mixed. Finally, we discuss theories delegitimized (abolitionism criminal and radical

Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

1 di 25

Teorias da pena: funções e legitimação do direito depunir estatal

Autore:In: Diritto civile e commerciale

SUMÁRIO: Resumo - Introdução – 1. As Penas na Antiguidade- 2. Teorias Legitimadoras do Direito Penal-2.1. Teorias Absolutas- 2.1.1. Teoria da Retribuição Moral- 2.1.2. Teoria da Retribuição Jurídica- 2.2.Teorias Relativas- 2.2.1. Teoria da Prevenção Geral Negativa- 2.2.2. Teoria da Prevenção Geral Positiva-2.3. Teoria da Prevenção Especial- 2.4. Teorias Unitárias- 2.4.1. Garantismo Penal- 3. TeoriasDeslegitimadoras do Direito Penal- 3.1. Abolicionismo Penal- 3.2. Minimalismo Radical- 5. Visão da Penana Legislação Penal Brasileira –– Conclusão-Referências.

Resumo: Ao tratar, neste artigo, dos sentidos e funções das penas, ao longo dos anos, acabaremos pornos referir também a própria legitimação e justificação do direito de punir, tradicionalmente conhecidacom a denominação de “teorias da pena”. Ab initio, será realizada uma breve exposição sobre as teoriaslegitimadoras, que são fundamentações teóricas que objetivam justificar o direito de punir estatal, taiscomo a teoria absoluta, relativa e mista. Por fim, abordaremos as teorias deslegitimadoras (abolicionismopenal e minimalismo radical), que tem como objetivo, imediato ou mediato, a abolição do direito de punirpertencente ao Estado, e a menor interferência punitiva estatal.

Palavras-chave: Pena. Teorias da pena. Direito de punir estatal.

Abstract: In addressing this article, the meanings and functions of the feathers over the years, we shallrefer also own legitimacy and justification of the right to punish, traditionally known by the name of"theories of punishment." Initially, there will be a brief presentation on the legitimating theories, whichare theoretical foundations that aim to justify the right to punish the state, such as the theory of absolute,relative and mixed. Finally, we discuss theories delegitimized (abolitionism criminal and radical

Page 2: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

2 di 25

minimalism), which is aimed at immediate or mediate, the abolition of the right to punish belongs to thestate, less interference and punitive state.

INTRODUÇÃO

As teorias da pena possuem como objetivo principal justificar a existência de uma punição ao infrator dalei penal, nesse sentido, a pena teria uma função a realizar. Em um Estado politicamente organizado,como o Estado de Direito, caracterizado pelo fiel cumprimento e respeito às suas próprias leis, e,sobretudo à Constituição, o poder punitivo pertence ao Estado, para que seja possível a manutenção dapaz social e da harmonia entre os indivíduos. As teorias da pena “podem ser resumidas em trêsconhecidas máximas: punitur quia peccatum est; punitur ut ne peccetur; punitur quia peccatum est et nepeccetur. Respectivamente: pune-se porque pecou (teoria absoluta); pune-se para que não se peque

(teoria relativa); pune-se porque pecou e para que não se peque (teoria mista)”. 1

1. AS PENAS NA ANTIGUIDADE

Inicialmente, será feito um breve relato sobre as penas na antiguidade, fundamentalmente sobre a Lei deTalião e sobre a pena de morte, instituída, sobretudo, durante o período da Idade Média.

Não há como estabelecer com precisão a origem das penas no desenvolvimento da humanidade. Porém,pode-se afirmar que ela surgiu com os primeiros agrupamentos humanos, sem se configurar como umsistema dotado de princípios e normas.

Page 3: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

3 di 25

No Código de Hamurabi, datado de 1780 a.C, é que estão presentes os primeiros registros da Lei deTalião, popularmente conhecida como “olho por olho, dente por dente”. Era a fase da vingança privada,onde não existia a atuação estatal no direito de punir, isto é, as próprias vítimas seriam responsáveis porsolucionar os conflitos existentes, por meio da força e da violência.

Tal lei traz em si a ideia de proporcionalidade, de equivalência e equilíbrio entre a ação de um indivíduoque causou mal a alguém, e a reação que esta pessoa sofrerá como consequência da sua ação inicial, coma finalidade de castigo, de retribuir o mal causado. O crime cometido primeiramente pelo agressor, seriacontra ele praticado, pela vítima, ou então por amigos ou parentes da mesma. O criminoso é punido“talier” (por isso a origem da Lei de Talião), ou seja, da mesma maneira que causou sofrimento a outrem.

O Código de Hamurabi, instituído pelo Direito Romano, foi precursor do pensamento do princípio daproporcionalidade. Naquela época os conflitos se resolviam de uma maneira mais simples, de acordo coma Lei de Talião, preconizava-se a ideia do “castigo-espelho”. Ou seja, se “A” matou o filho de “B”, “B” teriao direito de matar o filho de “A”. Os danos seriam os mesmos e dessa forma, restariam compensados.

A regra básica seria a de que a punição deveria ser exatamente a mesma do crime cometido. Apesar deatualmente não ser mais utilizado, o sistema da Lei de Talião, a “lex talionis” cumpriu a sua função dedesenvolvimento dos sistemas sociais – pois foi capaz de criar um instrumento prático que exerceu, decerto modo, a função de punir o criminoso, e que alcançou sua finalidade de aprovar as retaliações epermitir que este fosse o único castigo.

A Idade Média, por sua vez, ficou caracterizada por ser sido um período de muita intolerância, decrueldade, de guerras religiosas, perseguições, ódio e torturas, o que também se manifestou no campojurídico.

Nesta época, foi instituído o Direito Penal Comum, formado pelo Direito Romano, Direito Canônico e

Page 4: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

4 di 25

Direito Germânico. A influência do Cristianismo durante está época foi intensa. Pensadores liberais,grandes estudiosos e principalmente aqueles que acreditavam na evolução por meio da ciência e não dodivino eram vítimas de todo tipo de sofrimento e perseguição.

A pena de morte, na época, era frequentemente utilizada e era executada com requintes de crueldade,geralmente precedida de uma série de suplícios, que tinha por finalidade não apenas aterrorizar ocondenado, mas também, e principalmente, intimidar os demais cidadãos do envolvimento com a ciência.Naquele contexto, “Deus” seria a resposta para qualquer dúvida ou questionamento.

Neste período o Direito Penal representou a expressão do funcionamento do Estado absolutista,autoritário, cruel, desumano e implacável com os infratores pertencentes às classes populares (servos,pequenos agricultores, artesões e a plebe em geral), servindo de escudo para manutenção dos privilégiose proteção aos interesses da aristocracia e do clero.

2. TEORIAS LEGITIMADORAS DO DIREITO PENAL

2.1. TEORIAS ABSOLUTAS

Para as teorias absolutas – retribuição moral e retribuição jurídica – a pena possui um fim em si mesma; osimples fato de o agente cometer um crime, já traz em si, o imperativo categórico da imposição de umapena. O agente será punido porque pecou, assim pode ser entendida a célebre frase punitur, quia pecatumest. A pena é fundamentada como retribuição ao crime cometido. O infrator da lei penal será retribuídocom a pena, deverá compensar o mal praticado com o cumprimento integral da sanção penal.

Page 5: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

5 di 25

Para o Direito Penal Clássico, a pena significa, segundo Juarez Cirino dos Santos, em sua obra DireitoPenal, parte geral, “a imposição de um mal justo contra o mal injusto do crime, necessária para realizar

justiça ou restabelecer o Direito”. 2

Neste ínterim, é importante ressaltar que, para os teóricos defensores da Teoria Absoluta, não erarelevante que a pena cumprisse funções, educasse ou ressocializasse o infrator. Para Kant e Hegel, ajustificação da pena era meramente idealista, isso porque não se considerava o direito como realidadefática, mas sim como ele deveria ser, como o ideal de direito e de justiça.

Atualmente, pode-se perceber traços da teoria absoluta, em sua essência retributiva, no art. 59 do CódigoPenal Brasileiro, no qual o legislador dispõe ao juiz que este deve aplicar a pena, conforme necessário esuficiente para reprovação do crime.

2.1.1. Teoria da Retribuição Moral

Para o defensor desta corrente, o filósofo Imannuel Kant, a pena possui uma finalidade em si mesma, poisem um sistema regido por princípios e ideais morais, advindos de Deus, ela se torna categoricamentenecessária. Dessa forma, a pena bastaria em si mesma para a realização da justiça.

Resta evidente, portanto, que a pena não carrega em si nenhuma função social ou razões de políticacriminal. Kant, ao visualizar a pena como “imperativo categórico”, consegue fundamentar a teoria daretribuição moral, indicando que aquele que comete um crime deve ser punido, pois se indispôs com amoral e com a vontade divina.

Page 6: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

6 di 25

2.1.2. Teoria da Retribuição Jurídica

Contrariando o que foi dito com relação à retribuição moral, Hegel elabora a tese da retribuição jurídica.De acordo com Hegel, expoente máximo desta tese, a pena não está vinculada ao ideal de justiça, mas sima uma exigência da razão, baseada no método dialético de pensamento.

“Vale dizer: o delito é uma violência contra o direito, a pena uma violência que anula aquela primeiraviolência; é, assim, a negação da negação do direito representada pelo delito (segundo a regra, a negaçãoda negação é sua afirmação). A pena é, portanto, a restauração positiva da validade do direito. A pena em

Hegel é uma necessidade lógica”.3

2.2. TEORIAS RELATIVAS

As teorias relativas surgiram para se contrapor às teorias absolutas. Para os idealizadores desta corrente,fundamentalmente finalistas, a pena não possui um fim em si mesma, mas ao contrário, ela é vista comoum meio para atingir determinadas finalidades, por isso, é considerada utilitarista. Isso quer dizer que apena se fundamenta por seus fins preventivos, gerais ou especiais. Fundamenta-se por razões de utilidadesocial.

Page 7: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

7 di 25

2.2.1. Teoria da prevenção geral negativa

O maior idealizador desta corrente foi Von Feuerbach, que entendia que todos os crimes teriam comomotivação psicológica a sensualidade, associada à ideia de prazer. Para Feuerbach, a função da pena erauma espécie de intimidação, seria a prevenção geral dos delitos. A pena serviria como um tipo de “coaçãopsicológica”, exercendo sobre a coletividade, o medo, o temor, pois aquele que praticasse um atodelituoso seria punido, com a aplicação da pena.

Na visão deste estudioso, a função da pena era fazer com que os potenciais infratores da lei nãocometessem o delito, pois sabiam que, caso cometessem, a eles seria imputada à pena. Por isso se diz quea função da pena, de acordo com essa corrente era de intimidação geral (coação psicológica dos seusdestinatários); todos deveriam se abster de cometerem crimes e deveriam conter seus impulsos oriundosda sensualidade.

Para esta teoria, o Estado pretende desestimular pessoas a cometerem atos delitivos pela ameaça dapena. Desse modo, não seria relevante a quantidade de pena a ser imputada ao agente, mas sim aconfiança, a certeza de que uma pena seria imposta ao infrator da lei.

Modernamente, a ideia de intimidação é vislumbrada como exemplaridade, segundo Luiz Régis Prado. Deacordo com os ensinamentos deste doutrinador,

“A concepção preventiva geral da pena busca sua justificação na produção de efeitos inibitórios àrealização de condutas delituosas, nos cidadãos em geral, de maneira que deixarão de praticar atos ilícitosem razão do temor de sofrer a aplicação de uma sanção penal. Em resumo, a prevenção geral tem comodestinatária a totalidade de indivíduos que integram a sociedade, e se orienta para o futuro, com o escopo

de evitar a prática de delitos por qualquer integrante do corpo social”.4

Page 8: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

8 di 25

2.2.2. Teoria da prevenção geral positiva

Para os adeptos da teoria da prevenção positiva a pena tem como função conscientizar toda a coletividadedos valores e princípios condizentes com o ordenamento jurídico e com a ordem social, de modo que elesnão cometam crimes. Dessa forma, estariam colaborando para o equilíbrio e paz na sociedade.

Segundo Roxim,

“Em linhas gerais, três são os efeitos principais que se vislumbram dentro do âmbito de atuação de umapena fundada na prevenção geral positiva: em primeiro lugar, o efeito de aprendizagem, que consiste napossibilidade de recordar ao sujeito as regras sociais básicas cuja transgressão já não é tolerada pelodireito penal; em segundo lugar, o efeito da confiança, que se consegue quando o cidadão que vê que oDireito se impõe; e, por derradeiro, o efeito de pacificação social, que se produz quando uma infração

normativa é resolvida através da intervenção estatal, restabelecendo a paz jurídica”.5

São defensores desta tese Welzel e Jakobs. Para Welzel a função do direito penal é a de proteger osvalores fundamentais de consciência, do caráter moral, ético e social, e só por fim, o cuidado com os bensjurídicos particulares. Neste sentido, Cerezo Mir, que entende que a função do direito penal é de fomentaro respeito de todos aos bens jurídicos elencados por ele como essenciais (princípio da intervençãomínima).

Tem-se, portanto, o interesse em reafirmar a virtude e os valores éticos, e somente após surge a

Page 9: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

9 di 25

preocupação com o ilícito cometido, não tendo tanta relevância o desvalor de resultado, e sim a açãoefetivamente praticada, que deveria ter sido evitada, considerando a conduta ética a ser seguida.

Jakobs6

, por sua vez, se baseia na teoria de Luhmann, para criar a sua teoria. De acordo com o mesmo, apena deve ser analisada de acordo com sua finalidade prática, ou seja, ela será estudada sob o enfoque dafuncionalidade para o sistema social.

“A pena, ou mais precisamente, a norma penal, aparece como uma necessidade funcional ou, ainda, comouma necessidade sistêmica de estabilização de expectativas sociais, cuja vigência é assegurada ante àsfrustrações que decorrem da violação das normas. Este novo enfoque utiliza, enfim, a concepçãoluhmanniana do direito como instrumento de estabilização social, de orientação das ações e de

institucionalização das expectativas”.7

Pode-se afirmar que, para Jakobs, a pena tem função preventiva. Ela visa manter a organização socialequilibrada, assegurar o funcionamento das instituições sociais, quando descumprida a lei penal. Destemodo, a pena é vislumbrada como algo positivo, possuindo a finalidade de manutenção da normaenquanto projeto de orientação de condutas para os contratos sociais, ressaltando que, no caso, a penadeve ser justa e adequada ao ato criminoso realizado, sendo que, somente deste modo, haveria areafirmação do ordenamento jurídico.

Concluindo, “o delito é uma ameaça à integridade e à estabilidade social, enquanto constitui expressãosimbólica da falta de fidelidade ao direito. Esta expressão faz estremecer a confiança institucional e a

pena é, por sua vez, uma expressão simbólica oposta à representada pelo crime”. 8

Page 10: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

10 di 25

2.3. Prevenção especial (individual)

Para os adeptos da prevenção especial a finalidade do direito penal e consequentemente da pena, é agirsobre a figura do delinquente, de modo concreto e efetivo. Tal corrente prevaleceu durante o século XIX eXX no ordenamento penal como um todo. A função da pena é direcionada ao delinquente, objetivandoevitar que este volte a praticar crimes no futuro.

A prevenção especial tem como fundamento básico a periculosidade individual, visando sua eliminação ourestrição. Significa que, quando é atingida tal finalidade, mantém-se a integridade do ordenamentojurídico com relação a um determinado agente infrator da norma e da lei penal. O cerne primordial destateoria é de que a pena justa é a pena necessária, e seu objetivo primário seria o de evitar a reincidência.

“Segundo Von Liszt, defensor desta teoria, a necessidade da pena mede-se com critérios preventivosespeciais, segundo os quais a aplicação da pena obedece a uma ideia de ressocialização e reeducação dodelinquente, à intimidação daqueles que não necessitam ressocializar-se e também para neutralizar os

incorrigíveis. Essa tese pode ser sintetizada em três palavras: intimidação, correção e inocuização.” 9

Modernamente, a teoria da prevenção especial é vista como uma modalidade de tratamento do deliquentena fase de cumprimento de pena, ou seja, durante a execução penal, seja por meio de métodos curativos(com o auxílio da medicina e da psicologia), seja por meio educativo (oficinas técnicas e ensino básico),visando sobretudo a ressocialização e reintegração do condenado.

2.4. TEORIAS UNITÁRIAS

Page 11: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

11 di 25

As teorias unitárias, também conhecidas como mistas ou ecléticas, predominantes na atualidade, buscamconvergir as ideias trazidas pela teoria absoluta (retribuição jurídica) com os fundamentos da teoriarelativa (prevenção geral e especial).

Para os defensores desta ideia, o importante é explicitar o fenômeno da punição em toda suacomplexidade, não importando a pureza do método utilizado. O ponto fundamental desta teoria é o de quea pena somente será considerada legítima, na exata medida em que for justa e útil. Por conseguinte, apena, ainda que justa, não será legítima, se for desnecessária (inútil), tanto quanto se, embora necessária(útil), não for justa. A pena, no Estado Democrático de Direito, deve funcionar como um princípiolimitativo, ou seja, o fato criminoso deve ser utilizado como fundamento limitador da pena, já que ela deveser proporcional à extensão do injusto e o grau de culpabilidade do autor. Em razão do exposto, não podea pena ultrapassar os limites do fato efetivamente praticado pelo autor.

Para esta teoria, a pena teria três finalidades: a retributiva, uma vez que compensaria o infrator peloinjusto praticado; a preventiva, na sua esfera especial positiva, pois o autor seria corrigido através dapena, de modo pedagógico, a não mais voltar a delinquir; a preventiva, na sua esfera especial negativa,neutralizando o agente que estaria preso, o que geraria segurança e paz social; a preventiva, no aspectogeral, por meio da intimidação aos potenciais agressores das normas penais (sentido negativo) emanutenção, relação de confiança de toda coletividade com o sistema jurídico (sentido positivo).

2.4.1. Garantismo Penal

O garantismo penal é uma teoria normativa de direito, que objetiva respeitar a estrita legalidade,fundamental no Estado Democrático de Direito, visando limitar a violência e glorificando a liberdade, eimpondo limites ao direito de punir, pertencente ao Estado. É o elo de equilíbrio entre o abolicionismopenal e a máxima influência do poder punitivo estatal.

Page 12: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

12 di 25

O garantismo seria um modelo equilibrado de aplicação da pena, direcionando a sua aplicação paraaquelas infrações penais mais graves, não sendo necessária a punição estatal nos casos de infrações demenor potencial ofensivo, sempre respeitando os princípios constitucionais e o devido processo legal.

Para Roxin10

, defensor desta teoria, o estudo do Direito Penal, deve abarcar, necessariamente, trêsmomentos, que mesmo distintos, não se afastam, e sim, se complementam, sendo eles: a ameaça (penaabstrata), a imposição (pena concreta) e a execução (cumprimento da pena).

No primeiro momento, entende Roxin, que todo poder emana do povo, este é o titular do direito de punir,e não Deus ou entes transcendentais. Para ele, papel do Estado é “criar e garantir a um grupo reunido,interior e externamente, no Estado, as condições de uma existência que satisfaça suas necessidades

vitais”. 11

Por fim, conclui Roxin, que a natureza do direito penal é subsidiária, isto é, ele somente pode interferir navida social quando haja realmente necessidade, quando os bens jurídicos lesionados forem consideradosessenciais e de suma importância. Se o fato praticado for de menor relevância para a ordem social, bastaa intervenção de outro ramo do direito. Além do mais, o direito penal não pode se ocupar de merascondutas imorais ou que não atinjam diretamente bem jurídicos (princípio da ofensividade).

A pena deve ser ajustada a medida de culpabilidade do agente, e, no momento de execução, a penacumpre seu dever de ressocialização, reintegrando o preso a coletividade. É importante notar que, nesteâmbito, em razão dos princípios constitucionais, o tratamento dado ao preso deve ser digno, e nãosubumano, preservando a estrutura da personalidade do infrator da lei.

Já Luigi Ferrajoli12

é denfensor da tese do “utilitarismo reformado”, isto é, a finalidade do Estado estáintimamente ligada com a noção de prevenção geral negativa. Este abomina a ideia de ressocialização e

Page 13: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

13 di 25

reintegração do agente, pois para ele o Estado deve evitar a realização de delitos, e não é legítima aatitude estatal de tentar mudar a personalidade, o jeito, a forma de agir dos indivíduos, mesmo que estessejam delinquentes.

Ferrajoli se preocupa principalmente com a tese de prevenção das penas informais, ou seja, objetiva aprevenção de possíveis reações públicas ou privadas arbitrárias, que podem ser motivadas da ausência ouomissão do sistema penal. Portanto, para este autor, o direito penal tem dois objetivos básicos, ambos decunho negativo: primeiro, o de prevenir futuros delitos; segundo, o de evitar reações arbitrárias, quepodem surgir do próprio indivíduo, ou do próprio Estado. Para ele, esta última ideia é o fim essencial dapena, ou seja, é objetivo da pena evitar que os próprios indivíduos exerçam a justiça com próprias mãos,cabendo ao Estado controlar e minimizar a violência.

3. TEORIAS DESLEGITIMADORAS DO DIREITO PENAL

Contrariando toda a exposição sobre as teorias acima relatadas, que embora apresentem divergênciasentre si, possuem o cerne comum em reconhecer ao direito penal a função de controlar a criminalidade,existem movimentos doutrinários que entendem que não é função legítima do Estado o controle sobre odireito de punir, são eles: abolicionismo penal e minimalismo radical.

Tais movimentos enxergam o direito penal como um subsistema funcional de reprodução material eideológica (legitimação) do sistema social-econômico dominante, ou seja, o direito penal seria ummecanismo utilizado pelos agentes de poder para manter a estrutura de relações sociais e de propriedadeexistentes, sendo, portanto, ineficaz, ineficiente e criminógeno.

Page 14: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

14 di 25

3.1. Abolicionismo Penal

Surge o abolicionismo penal, na década de 60 e 70 nos Estados Unidos, como um movimento teórico quenega validade as teorias tradicionais de defesa do direito punitivo estatal, e pretende a abolição direta eimediata de todas as instituições penais, tais como, presídios, penas, órgãos do Ministério Público, poderjudiciário, delegacias, polícia, entre outras.

“O abolicionismo penal é um movimento cuja finalidade é alterar a concepção atual do Direito Penal,demonstrando que o caminho é a descriminalização e a despenalização máximas, evitando-se encarcerar

pessoas a pretexto de castigá-las ou promover a sua recuperação”. 13

Pretendendo a abolição de todo o sistema penal, entende o abolicionismo que o direito penal é um malsocial, que, ao invés de propor soluções, e de realmente solucionar os conflitos existentes, cria cada vezmais problemas. São críticas formuladas pelo abolicionismo ao direito penal, que levam a conclusão de

que ele deve ser abolido14

: o sistema penal é arbitrariamente seletivo; recruta sua clientela entre os maismiseráveis. É um sistema injusto, produtor e reprodutor das desigualdades sociais; O sistema penal operaa margem da legalidade, violando direitos humanos elencados pela própria ordem jurídica; O sistemapenal somente intervém em situações excepcionais. Não atua sobre as “cifras ocultas da criminalidade”; Ocrime carece de consistência material (ontológica). Caráter definitorial do delito: o crime não existe; Osistema penal intervém sobre pessoas, e não sobre situações; O sistema penal intervém de maneira reativae não preventiva; O sistema penal atua só tardiamente; O sistema penal tem uma concepção falsa desociedade, sendo que a lei penal não é inerente às sociedades. E por fim, o sistema penal atua sobreefeitos e não sobre as causas da violência.

Para os defensores desta corrente, a função da pena não consegue ser realmente implementada naprática, pois nem a aplicação e nem a execução da pena são capazes de evitar a prática de novos delitos.

Page 15: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

15 di 25

Portanto, nem a prevenção geral e nem a especial, e nem mesmo a função retributiva são capazes degerar no indivíduo o medo, o temor da sanção penal, não sendo capazes também de gerar na coletividadea crença na segurança jurídica e paz social.

O direito penal não pode ser um meio hábil de impor respeito à norma penal, pois o crime deriva de umnúmero indeterminado de causas – psicológicas, sociais, culturais – não podendo ser combatidas pelotemor da pena. Os crimes ocorrem sistematicamente, continuamente como se as normas penais nãoexistissem ou não fossem capazes de serem cumpridas. O simples fato de haver reincidência é capaz deabalar as estruturas das teorias legitimadoras do direito de punir pertencente ao Estado.

Concluindo, de acordo com a crítica abolicionista, todo sistema penal, é um subsistema de manutençãodas desigualdades materiais e sociais, cuja personificação, através das penas legítimas ou não, é impostoinutilmente e seletivamente a uma categoria de pessoas (principalmente os de baixo poder aquisitivo).Percebe-se, portanto, que as penas não cumprem as funções que, em tese, deveriam cumprir, podendo serconsideradas penas perdidas.

4.2. Minimalismo radical

O minimalismo radical, também conhecido como abolicionismo mediato é considerado por algunsdoutrinadores como um passo, como uma barreira a ser ultrapassada antes de se chegar ao ideal de todasociedade, que é o abolicionismo penal.

Antes de se atingir a perfeição, seriam necessárias algumas mudanças sociais e culturais, que somenteseriam alcançadas se passassem por um estágio anterior ao abolicionismo, que é o minimalismo radical.

Page 16: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

16 di 25

“Essa contratação do sistema operar-se-á principalmente por meio da descriminalização de condutas paracuja repressão seja inadequada a intervenção do sistema penal, seja pelos custos sociais que delaresultam, seja pela ineficácia dessa intervenção, seja ainda pela possibilidade de se poder submeter acontroles mais apropriados, jurídicos (civil, administrativo, processual), ou não, como educação ouassistência social, intervenções comunitárias etc. Outras tantas formas de contração do sistema sãopropostas: despenalização, diversificação, adoção do princípio da oportunidade, adoção de penas

alternativas à prisão, com vistas à sua abolição, etc”.15

O minimalismo radical propôs uma política criminal alternativa, baseada na reformulação das estruturassociais e de poder, objetivando diminuir as desigualdades sociais, sobressaltando a liberdade, ademocracia efetiva, as formas de vida alternativas. Visa-se formular uma ciência capaz de imiscuir nosreais problemas enfrentados pela coletividade, compreendendo as necessidades dos indivíduos e do corposocial, para orientar a formulação de políticas públicas que consigam eficazmente solucioná-los.

5. VISÃO DA PENA NA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA

Resta evidente que o Código Penal não adota a teoria absoluta da pena em qualquer de suas espécies.Alguns institutos existentes neste diploma legal, como a anistia, a graça, o indulto, a abolitio criminis, aprescrição, a decadência, a desistência voluntária, o arrependimento eficaz, o perdão judicial, o regime deprogressão da pena, etc, são institutos totalmente incompatíveis com a idéia da pena como imposição deum castigo, considerando a pena como um mal em si mesmo, em razão da prática de um ato criminoso,isto é, são inconciliáveis com a idéia de uma teoria penal absoluta (retribuição moral ou jurídica).

Entretanto, o próprio Código Penal, principalmente no que se refere à cominação legal e aplicação dapena, refere-se a idéias trazidas pela teoria da prevenção geral. Ao ter como intenção, o legisladorbrasileiro, equilibrar a pena a gravidade do comportamento delituoso praticado (princípio da

Page 17: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

17 di 25

proporcionalidade), assim como determinando ao juiz, que no momento de aplicação da pena, este deveconsiderar a culpabilidade do agente, as circunstâncias e motivos do crime (art. 59 do CP), e tambémestabelecendo que a pena deva ser necessária e suficiente para a prevenção e reprovação do delito,percebe-se a existência das bases fundamentadoras da teoria da prevenção geral e também traços dateoria da prevenção especial (como a reintegração e ressocialização do condenado, por meio de cursos eoficinas técnicas oferecidas nos presídios).

Entende-se, deste modo, que a pena possui sim caráter retributivo, mas que essa retribuição éessencialmente limitadora ao direito de punir. O legislador, não se orienta por ela, ao definir infraçõespenais, mas a considera ao cominar penas, dosá-las e eleger os critérios de individualização judicial dapena. Neste sentido, evidencia-se a questão da subsidiariedade da intervenção penal.

“De fato, e como consequência natural do princípio da reserva legal, a legislação penal não outorga umaproteção absoluta aos bens jurídicos de que se ocupa. Assim, por exemplo, como regra, somente se ocupadas condutas realizadas dolosamente, e só por exceção daquelas realizadas culposamente (CP, art. 18,parágrafo único). Fica fora do direito penal toda e qualquer conduta delituosa praticada por menor dedezoito anos. Numerosas são, ainda, as hipóteses em que a efetiva intervenção do sistema penal fica acritério do ofendido, quer promovendo a ação penal privada, quer provocando a atuação do ministériopúblico, nos casos em que a lei exige representação da vítima ou de seu representante legal. Enfim,muitas são as situações em que o legislador ou privilegia o interesse das partes diretamente envolvidas ouprefere outras formas de intervenção social ou jurídica (civil, administrativa, etc), renunciando à

intervenção jurídico-penal.”16

Na legislação penal brasileira há também traços do direito penal simbólico, que é o que ocorre, porexemplo, com a nova Lei de Drogas (Lei 11.343/06), ao tratar da figura do usuário de drogas, sendo estetratado muito mais como um dependente químico, possuidor de uma doença, do que como criminoso.

Por fim, reporte-se ao chamado direito penal do inimigo. O direito penal do inimigo é uma forma de

Page 18: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

18 di 25

manifestação do direito penal, cujo objetivo é localizar e distinguir, dentre os indivíduos, aqueles quedevem ser considerados como inimigos (tais como, terroristas, criminosos organizados, autores de crimessexuais violentos, etc.). De acordo com esta corrente doutrinária, estes cidadãos não mereceriam porparte do Estado as mesmas garantias e direitos fundamentais conferidos aos outros membros dasociedade organizada, que respeitam as normas e princípios condizentes com o ordenamento jurídico. Apenalidade a ser imposta a estes infratores deve ser severa, e, caso for necessário, até mesmodesproporcional à gravidade do delito cometido. O essencial a esta tese será o de separar, distinguir, e atémesmo minimizar a prática de atos danosos à sociedade por estes indivíduos (inimigos), que estariam emguerra perene contra o ordenamento estatal.

CONCLUSÃO

Como ocorre na maioria dos Estados Democráticos, as linhas gerais e essenciais do ordenamento jurídico,como uma unidade complexa e integrada de normas e regras, estão delimitadas pela Constituição Federal.No Brasil, é a Constituição Federal de 1988 que dispõe sobre os direitos em garantias fundamentais, quedevem ser respeitados por todos os ramos do direito, e principalmente pelo direito penal.

Antes de se definir ou redefinir, as finalidades e o direito de punir, no âmbito do direito penal, deve-sepassar, necessariamente, pelo estudo, conhecimento, e análise dos fins e dos limites do próprio Estado.Em razão disso, é de suma importância o estudo sobre a Constituição.

O legislador brasileiro, ao elaborar as normas penais, é claro em não se filiar a nenhuma teoria específicasobre as finalidades da pena, muito pelo contrário, já que, nas inúmeras leis existentes sobre o assunto,pode-se encontrar posicionamentos diversificados.

Page 19: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

19 di 25

A opção político-criminal do legislador pátrio, só pode ser como obviamente se percebe, pelopragmatismo, ou seja, este não se identifica com nenhuma teoria da pena em particular. Em todoordenamento penal brasileiro, encontram-se inúmeras influências das mais diversas correntes depensamento sobre o direito de punir estatal: liberais, antiliberais, instrumentais, simbólicas, severas,dentre outras.

Pode-se afirmar que no Brasil, mesmo não havendo filiação a uma única teoria da pena, o art. 59 doCódigo Penal consagrou a teoria unitária da pena, ao determinar ao juiz a aplicação da pena “conformeseja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime”. Dessa forma, percebe-se que a“reprovação” traz a ideia de retribuição na medida da culpabilidade do agente, enquanto a “prevenção”abarca as três espécies demonstradas anteriormente, quais sejam, correção, neutralização, intimidação emanutenção da ordem e segurança jurídica.

Analisando a teoria eclética, conclui-se que a pena é uma necessidade social - ultima ratio legis – etambém é indispensável para a preservação dos bens jurídicos, elencados como essenciais à vida e adignidade da pessoa humana pelo direito penal. Portanto, a função da pena não pode ser vista de modounitário, e sim como um complexo integrado de finalidades. A essência da teoria da pena não pode serreduzida a um único e absoluto pensamento teórico, ela possui sim múltiplas funções, e somente pode serestudada como uma realidade altamente complexa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, David Teixeira de. Dosimetria da pena. São Paulo: Malheiros, 1998.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

Page 20: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

20 di 25

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia dodireito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Revan, 1997.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de José Cretella Júnior e Agnes Cretella. SãoPaulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2004,v.1.

BOSCHI, José Antonio Paganella. Das penas e seus critérios de aplicação. 3. ed. Porto Alegre: Livrariado Advogado, 2004.

CAMARGO, Antônio Luis Chaves. Sistema de penas, dogmática jurídico-penal e política criminal.São Paulo: Cultural Paulista, 2002.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, v.1.

COSTA JUNIOR, Paulo José da. Direito Penal, curso completo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 7. ed. Rio de Janeiro: RENOVAR, 2007.

FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoria del garantismo penal. Tradução de Andrés Ibáñez, AlfonsoRuiz Miguel, Juan Carlos Bayón Mohino, Juan Terradilhos Basoco e Rocio Cantanero Bandrés. Madrid:Trotta, 1997.

Page 21: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

21 di 25

FERREIRA, Gilberto. Aplicação da Pena. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

FERRI, Enrico. Princípios de Direito Criminal: o criminoso e o crime. Tradução de Paolo Capitanio.2. ed. Campinas: Bookseller, 1999.

GALVÃO, Fernando. Direito Penal. Curso completo. Parte geral. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.

GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: IMPETUS, 2008.

GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal. Parte Geral: culpabilidade e teoria da pena. São Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2005, v. 7.

MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Geral. Esquematizado. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:MÉTODO, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 8.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2008.

_____________. Individualização da Pena. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

____________. Manual de Direito Penal. Parte Geral. Parte Especial. Editora Revista dos Tribunais, 2006.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1° a 120. 5 ed.

Page 22: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

22 di 25

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

QUEIROZ, Paulo. Direito Penal. Parte Geral. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

_____________. Funções do Direito Penal. Legitimação versus deslegitimação do Sistema Penal. 2.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Tradução de Luiz Greco. Rio de Janeiro:Renovar, 2000.

_____________. Transformaciones de la teoria de los fines de la pena. Nuevas formulaciones en lãsciências penales. Revista de Direito Penal, n.11-12, jul. – dez. 1993.

SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal. Parte Geral. 21. ed. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2006.

SHECAIRA, Sergio Salomão. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

TELES, Ney Moura. Direito Penal. Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2002.

ZAFFARONI, Eugenio Raul. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistemapenal. 5. ed. Rio de Janeiro: Renavam, 2001.

Page 23: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

23 di 25

1 QUEIROZ, Paulo. Funções do Direito Penal. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 9.

2 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal, parte geral. Curitiba: ICPC; Lúmen Júris, 2006, p. 453.

3 QUEIROZ, 2005, p. 21

4 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1° a 120. 5 ed. SãoPaulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 555/556.

5 ROXIN, Claus. Transformaciones de la teoria de los fines de la pena. Nuevas formulaciones en lãsciências penales. Revista de Direito Penal, n.11-12, jul. – dez. 1993.

6 QUEIROZ, Paulo. Op cit. apud Jakobs, G. Derecho penal: parte general. Fundamentos y teoria de laimputación. Madri: Marcial Pons, 1995, p. 18.

7 SANTOS, Juarez Cirino dos. Op. Cit. apud Cerezo Mir, José. Der materiale Schuldbegriff, 1996, p. 43.

Page 24: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

24 di 25

8 SANTOS, Juarez Cirino dos. Op. cit. apud BARATTA, A. Integracion-prevencion: una nuevafundamentación de la pena dentro de la teoria sistêmica. Revista de Derecho Penal y Criminologia, v. VIII,1986, p. 81.

9 BITERNCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, volume 1. 9 ed. São Paulo:Saraiva, 2004. pág. 87

10 SANTOS, Juarez Cirino dos. Op. cit. apud ROXIN, Claus. Taterschaft undo Tatherrschaft, 1994, p. 460.

11 QUEIROZ, Paulo. Op. cit. apud ROXIN, Claus. Problemas fundamentais do direito penal. p. 27.

12 PRADO, Luiz Régis. Op. cit. apud FERRAJOLI, Luis. Derecho e razón. 1995, p. 560.

13 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral|parte especial. 2ª ed. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 2006, p 366.

Page 25: Teorias da pena: funções e legitimação do direito de punir

© 2017 Diritto.it s.r.l. - Tutti i diritti riservatiFondatore Francesco BrugalettaP.I. 01214650887

Diritto & Diritti ISSN 1127-8579

25 di 25

14 QUEIROZ, 2005, p. 90.

15 QUEIROZ, 2005, p. 102.

16 QUEIROZ, 2005, p. 81.

https://www.diritto.it/teorias-da-pena-funcoes-e-legitimacao-do-direito-de-punir-estatal/