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UFRJ – FACULDADE NACIONAL DE DIREITO Teorias do Monismo e do Dualismo Um breve artigo sobre as Teorias do Monismo e do Dualismo e sua aplicação na Comunidade Internacional. Leandra Nunes Barcellos (DRE: 111186991) 27/11/2012 Neste presente artigo farei uma breve análise sobre as teorias do Monismo e a teoria do Dualismo, objetivando a aferição de nota na disciplina de Direito Internacional Público I, ministrada pelo professor Sidney Guerra, na Faculdade Nacional de Direito (UFRJ).

Teorias Do Monismo e Do Dualismo

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UFRJ – Faculdade nacional de direito

Teorias do Monismo e do Dualismo

Um breve artigo sobre as Teorias do Monismo e do Dualismo e sua aplicação na Comunidade Internacional.

Leandra Nunes Barcellos (DRE: 111186991)

27/11/2012

Neste presente artigo farei uma breve análise sobre as teorias do Monismo e a teoria do Dualismo, objetivando a aferição de nota na disciplina de Direito Internacional Público I, ministrada pelo professor Sidney Guerra, na Faculdade Nacional de Direito (UFRJ).

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Teorias do Monismo e do Dualismo

Quando tratamos de Estados Soberanos atores da Sociedade Internacional, teremos como realidade cotidiana o conflito entre normas jurídicas internacionais e normas jurídicas internas. É frequente o fato de que normas jurídicas internacionais venham a tentar produzir efeitos no plano interno dos países soberanos.

Segundo grande parte da Doutrina o Direito Internacional seria o ramo do Direito que tentaria harmonizar as normas jurídicas do Direito Internacional com as normas jurídicas internas. A relação entre os dois tipos de normas, internas e do plano internacional, gera uma grande discussão entre os juristas, que acabaram por doutrinar as duas teorias a que se dedica esse artigo: as teorias do Monismo e a teoria do Dualismo.

Teoria do Dualismo

A teoria Dualista parte da prerrogativa de que existem duas ordens jurídicas bem distintas. A primeira ordem jurídica seria resultado única e exclusivamente da vontade de um Estado Nacional, soberano, enquanto a outra ordem jurídica seria fruto da vontade de vários Estados Soberanos. Isso não se daria de maneira implícita, como os costumes e princípios, ou de maneira expressa como os tratados internacionais, nem ainda por meio da doutrina ou das decisões dos tribunais arbitrários internacionais.

A distinção entre essas duas ordens jurídicas existentes, de origem interna e externa, está bem especificada na obra do filósofo jurista alemão Heinrich Triepel, “Direito Internacional e Direito Interno”. Em sua obra o autor afirmava que as duas ordens jurídicas não seriam nunca “secantes”, seriam no máximo “tangenciais”, ou seja, se tocariam na superfície. Isto é, as normas de uma ordem jurídica nunca penetrariam no campo da outra, sendo, portanto, distintas e separadas. Nada impede, porém, para Triepel, que um Estado, no exercício pleno de sua soberania, em próprio juízo, decida pela incorporação de uma norma internacional ao seu ordenamento jurídico. Seria esta a Teoria da Incorporação ou Recepção, ainda dentro da Teoria Dualista de Triepel, reconhecida pelo nosso ordenamento jurídico (STF) como Dualismo Moderado.

Segundo essa teoria incorpora-se a norma escrita de um tratado através de procedimentos constitucionais conhecidos. Após a publicação no Diário Oficial a norma externa passa a ter vigência no plano interno, tendo eficácia de lei. Porém, pela incorporação, pode existir o conflito entre a norma internacional incorporada e uma norma já existente no plano interno. Triepel, em sua obra, de maneira lógica, afirmava que nada obrigaria um Estado Soberano a adotar uma norma alienígena ao seu ordenamento. Porém, caso viesse a fazê-lo, seria razoável que a norma

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internacional, oriunda de várias vontades soberanas, tivesse primazia sobre a norma interna, que é fruto de uma só vontade soberana.

Sem dúvidas o Brasil é adepto da Teoria Dualista, no que diz respeito às normas de direito internacional. O direito internacional ou estrangeiro pode ser aplicado internamente, porém apenas se seguir os trâmites legais observados em nosso ordenamento jurídico. Tais procedimentos utilizados para a incorporação das normas jurídicas de direito internacional ofereceriam bastante segurança jurídica às Chancelarias dos Estados. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, tem bastante querência pela Teoria Dualista, com ênfase para a Teoria da Incorporação, dado o fato de que ela permite a manifestação soberana no momento do ato de incorporação.

Teorias do Monismo

De acordo com as teorias do Monismo o Direito é um só, e engloba o Direito Interno e o Externo. Não haveria, portanto, a distinção entre ordens jurídicas. O próprio monismo, porém, apresenta-se em duas teorias: a teoria do Monismo com Primazia do Direito Interno e a teoria do Monismo com Primazia do Direito Externo.

Primeiramente, vamos tratar da Teoria Monista com Primazia do Direito Interno. Tal teoria apresenta suas raízes e filiação doutrinária nos ensinamentos do filósofo Hegel. Para o autor, o Estado seria dotado do “Poder dos Poderes”, ou seja, seria absoluto, inquestionável. Essa seria a definição do autor para soberania. Para Hegel, a nação de monismo com primazia do direito interno seria como na seguinte passagem de sua obra: “O Estado, a Ele, tudo se deve; todos os sacrifícios e renúncias; nada de personalismo; o Estado é a resposta suficiente e bastante para todas as prerrogativas, todos os direitos (...)”. A Teoria Monista com Primazia do Direito Interno leva, não a um Direito Internacional, mas sim a um Direito Estatal para uso externo, de acordo com as circunstâncias do poder bélico e estatal do Estado. Para essa teoria, as ordens jurídicas internacionais existiriam no mesmo número dos que fossem os Estados Nacionais. A sociedade internacional não estaria regida, portanto, segundo esta teoria, por uma ordem jurídica a qual todos estariam submetidos, e sim à conveniência e interesses ou vontades conflitantes entre os Estados. Tal concepção de Direito Internacional fora adotada pela Chancelaria do III Reich e pela Chancelaria da Ex-URSS.

A teoria do Monismo com Primazia do Direito Externo tem como principal pensador o austríaco Hans Kelsen. Em seu tão aclamado livro, “Teoria Pura do Direito”, Kelsen afirmava que o ordenamento jurídico poderia ser representado visualmente por uma pirâmide, na qual as fontes ou fundamentos das normas jurídicas estariam explicadas por hierarquia. A norma superior, portanto, é fonte ou origem da norma imediatamente inferior, além de ser obrigatoriamente seu fundamento. Para Kelsen os juristas estariam livres para escolher qual a norma

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deveria prevalecer no topo da pirâmide, tornando-se fonte e fundamento de todas as outras (Grundnorm). No entanto, o autor faz uma ressalva: tal norma deveria ser de Direito Internacional. Sendo assim, se a norma superior deveria ser necessariamente de Direito Internacional, de acordo com Kelsen, ela teria primazia sobre todas de Direito Interno.

Para Kelsen, a norma fundamental da Ciência Jurídica seria uma norma do Direito Internacional Costumeiro, utilizada desde os primórdios da civilização jurídica: pacta sunt servada (Os tratados e acordos livremente firmados devem ser seguidos). A teoria do Monismo com Primazia do Direito Externo, que, a primeira vista, parece determinar o fim da supremacia soberana do Estado, na prática oferece uma inesperada margem de segurança, uma vez que o Estado terá que evitar o surgimento interno de qualquer norma contrária a uma norma internacional.

Teorias do Monismo e do Dualismo no Plano Comunitário Europeu

Embora todos os países da Comunidade Europeia adotem, na prática, a Teoria do Dualismo, admitindo a existência de duas ordens jurídicas distintas, esse quadro não se aplica necessariamente em seu próprio direito interno, pois este não engloba somente o direito nacional, mas também o direito comunitário.

O Direito Comunitário Europeu é um sistema sui generis, que não se confunde com o Direito Interno dos países membros, pois suas normas são editadas por órgãos de natureza comunitárias, nem tampouco pode ser confundido com Direito Internacional Público, pois a aplicação de tais normas rege-se por princípios próprios. Esse Direito constituiria um sistema novo e distinto de qualquer outro existente, constituído a partir de tratados instituídos pela União Europeia, que foram se adaptando às necessidades de seu bloco econômico. Para alguns juristas e doutrinadores, embora seja um sistema peculiar, seria um sistema em “estágio superior de evolução do Direito Internacional Público”. Assim, como diz Fausto de Quadros, ele teria como fonte primária seus tratados constitutivos, que são instrumentos internacionais de Direito Internacional Público.

Sendo assim, os países membros da União Europeia, na prática são adeptos da teoria do Monismo com Primazia do Direito Externo, em relação ao seu próprio bloco econômico, uma vez que as normas da União e as normas internas são um só sistema, onde prevalecem as normas da União. Quando se trata da relação com outros países, no entanto, os países membros da União Europeia são Dualistas, uma vez que as normas de Direito Internacional precisam ser incorporadas para valer com força de lei.

Conclusão

Embora não haja resposta sobre qual teoria que trata da relação entre normas jurídicas internas e externas, a Teoria do Monismo ou a do Dualismo,

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prevaleça no plano jurídico internacional, podemos afirmar que grande parte da doutrina corrobora com a Teoria do Monismo com Primazia do Direito Internacional. Podemos entender que tal teoria melhor atende as necessidades não somente dos Estados da Sociedade Internacional, mas também do Homem em si. Essa teoria, como afirma o professor Boson, um dos pioneiros nos estudos e pesquisas sobre a Constitucionalização do Direito Internacional Público no Brasil seria: “a solução de qualquer controvérsia entre Estados, e nela se assentam, logicamente, todos os princípios jurídicos fundamentais para a ordem internacional, além de ser a única doutrina capaz de levar a comunidade das nações a uma completa ordenação normativa. E é, aparentemente, a teoria certa, não só do ponto de vista lógico, como pretende Kelsen, mas também nos seus aspectos axiológicos e históricos.”