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1 TERMINAL 3 DE GUARULHOS: PROJETO, SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO LEONE, Camila (1) e MEIRELLES, Célia Regina Moretti (2). (1) Arquiteta, FAU/MACK – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. [email protected] (2) Professora Doutora, FAU/MACK – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. [email protected] RESUMO O presente trabalho discute as interfaces entre as técnicas construtivas, projeto, sustentabilidade e inovação tecnológica em edifícios aeroportuários. A pesquisa aborda os edifícios construídos para os grandes eventos esportivos, como a copa do mundo, discute a produção dos aeroportos devido a sua importância frente à mobilidade dos passageiros. Nesta pesquisa vamos discutir o terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, no âmbito da sustentabilidade e das tecnologias empregadas. A pesquisa mostra a importância de um projeto que pensa no desempenho energético, minimizando os custos com energia ao longo da vida útil do edifico, aplicando tecnologias inovadoras como os elevadores autônomos em energia, aplicação de vedações de alto desempenho, captação e reúso da água de chuva, entre outros fatores, entretanto destacamos que o edifício não produz energia renovável. Os principais legados tecnológicos deixados foram o desenvolvimento e aplicação de tecnologias de vedação aos padrões de desempenho exigidos nos aeroportos. O uso de sistemas automatizados de triagem e distribuição das bagagens no projeto se aproxima dos padrões internacionais. Palavras-chave: aeroporto, construção, sustentabilidade.

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TERMINAL 3 DE GUARULHOS: PROJETO,

SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO

LEONE, Camila (1) e MEIRELLES, Célia Regina Moretti (2).

(1) Arquiteta, FAU/MACK – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. [email protected]

(2) Professora Doutora, FAU/MACK – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. [email protected]

RESUMO

O presente trabalho discute as interfaces entre as técnicas construtivas,

projeto, sustentabilidade e inovação tecnológica em edifícios aeroportuários. A

pesquisa aborda os edifícios construídos para os grandes eventos esportivos,

como a copa do mundo, discute a produção dos aeroportos devido a sua

importância frente à mobilidade dos passageiros. Nesta pesquisa vamos

discutir o terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, no âmbito da sustentabilidade

e das tecnologias empregadas. A pesquisa mostra a importância de um projeto

que pensa no desempenho energético, minimizando os custos com energia ao

longo da vida útil do edifico, aplicando tecnologias inovadoras como os

elevadores autônomos em energia, aplicação de vedações de alto

desempenho, captação e reúso da água de chuva, entre outros fatores,

entretanto destacamos que o edifício não produz energia renovável. Os

principais legados tecnológicos deixados foram o desenvolvimento e aplicação

de tecnologias de vedação aos padrões de desempenho exigidos nos

aeroportos. O uso de sistemas automatizados de triagem e distribuição das

bagagens no projeto se aproxima dos padrões internacionais.

Palavras-chave: aeroporto, construção, sustentabilidade.

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ABSTRACT

This work discusses the interfaces between construction techniques, project,

sustainability and technological innovation in airport buildings. The research

covers the buildings constructed for sports events like the World Cup, discusses

the airports due to its importance from passenger mobility. In this research, we

discuss the terminal 3 of Guarulhos airport, in the context of sustainability and

the technologies employed. Research shows the importance of project think on

energy performance, minimizing energy costs over the useful life of the building

, using innovative technologies such as autonomous lifts energy , application of

high performance seals, capture and reuse of water rain, among other factors ,

however the building does not produce renewable energy. The main

technological legacies were the development and application of sealing

technology with the performance standards required in airports. The use of

automated systems for sorting and distribution of luggage in the project

approaches of international standards.

Keywords: Airport, Construction, Sustainability.

INTRODUÇÃO

A realização de grandes eventos esportivos como a copa de 2014 envolve o

deslocamento de uma grande quantidade de turistas nacionais e estrangeiros,

exigindo do Brasil um investimento em infraestrutura urbana para manutenção

da mobilidade, em especial em seus aeroportos.

Como exemplo da rápida expansão da demanda e do esgotamento dos

sistemas de transporte aeroviário no Brasil, o aeroporto de Cumbica, Aeroporto

Internacional Governador André Franco Montoro, apresentava em 1985 um

fluxo de transporte de 2,3 milhões de passageiros, saltando exponencialmente

para 15 milhões de passageiros em 2004, e hoje a capacidade dos terminais

está no limite. Como uma das cidades sede da Copa do mundo será São

Paulo, um dos principais legados é a ampliação da capacidade de transporte

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do aeroporto, com a implantação do terminal 3, sua capacidade de transporte

chegará a 27 milhões de passageiros por ano. (CAPRIGLIONE, 2004)

O esgotamento da capacidade dos sistemas de transporte aeroviário ocorreu

devido ao fenômeno da globalização em busca de expansão econômica ou

integração territorial entre dois locais distantes e devido ao fato de permitir

grandes deslocamentos em um tempo menor. Outro aspecto que levou ao

aumento da demanda é o fato do transporte por aeronaves está sendo cada

vez mais acessível a uma parcela considerável da população, justificando-se

assim, a permanente necessidade de ampliações ou até novas construções de

terminais, vinculado às práticas tecnológicas mais racionais, de menor impacto

ambiental e inovadoras.

Um dos principais legados para o país no evento da copa do mundo é

estabelecer o desenvolvimento sustentável com rebatimentos sociais e

ambientais nas diversas escalas. Na busca para estabelecer parâmetros de

sustentabilidade para os diversos setores envolvidos na copa do mundo, foram

criados grupos de discussão e publicações, como o trabalho de Ernst & Young

com a fundação Getúlio Vargas, Brasil Sustentável, Impactos Socioeconômicos

da Copa do Mundo 2014.

Como exemplo de critérios sustentáveis para o setor da construção civil, são

parâmetros de projeto que buscam minimizar os impactos sobre as mudanças

climáticas, durante a construção e durante a vida útil do edifício. Na operação

do edifício a minimização do uso de energias não renováveis, com aplicação de

“tecnologias energeticamente eficientes”, a produção de energia solar, a gestão

dos resíduos sólidos, tecnologias de reúso e ou a reciclagem das águas. No

âmbito socioeconômico, estabelecer critérios visando as condições de “trabalho

e pagamento, com saúde e segurança”, além de incentivar a educação e o

treinamento dos funcionários. (ERNST & YOUNG; GETÚLIO VARGAS, 2012)

Visto que aeroportos expressam aspectos monumentais, destacando-se como

marco para a região, cidade ou até mesmo país, os materiais a serem

empregados no mesmo, são de grande importância, uma vez que, são obras

quase sempre muito extensas. Nesta pesquisa vamos discutir o projeto, o

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processo construtivo do novo terminal 3 de Guarulhos, no âmbito da

sustentabilidade e das tecnologias empregadas.

CRITÉRIOS DE SUSTENTABILIDADE ADOTADOS EM AEROPORTOS

Em função das mudanças climáticas diversos órgãos internacionais estão

envolvidos em minimizar os impactos sobre o meio ambiente, como as

emissões dos gases de efeito estufa, entre eles o CDA, “Internacional de

Chicago of Department of Aviation” que produziu um manual “Sustainable

Airport Manual” (2010) voltado para sustentabilidade”. (CDA, 2010) O manual

indica a importância de ações integradas, desde o projeto para atingir a

sustentabilidade, como, “reduzir o impacto ambiental do espaço construído

sobre o meio ambiente e, ao mesmo tempo criar benefícios financeiros e

operacionais para um projeto, integrando os benefícios sociais para a

comunidade em geral”. O manual indica estratégias de projeto  

• Seleção do local próximo ao transporte coletivo (ônibus, Linhas

ferroviárias, Metro, etc.) buscando incentivar os funcionários, visitantes e

usuários a utilizar transporte de massa;

• Minimizar as superfícies impermeáveis e pavimentadas, incorporar

telhados com vegetação e com colheita à água da chuva para

reutilização;

• Melhorar a eficiência energética A) Minimizando as perdas de energia do

edifício, incorporando sistemas inteligentes e eficientes com sensores de

presença; B) A produção de energias renováveis como a solar, a

geotermia, a eólica, etc. Aplicação de sistemas de luzes econômicas

como luz de LED. C) aplicar envoltórias eficientes em termos de conforto

térmico, como por exemplo a redução das ilhas de calor, nas grandes

coberturas e outras áreas, com maximização de telhados com cobertura

verde, ou aplicar material com alta refletância ou branco, valorizar as

áreas sombreadas, entre outros fatores.

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O manual “Sustainable Airport Manual” (2010) aponta que para minimizar o

impacto ambiental o aeroporto deve aplicar tecnologias verdes e que não

poluem o ambiente em todas as esferas

• Maximizar o uso e materiais naturais, buscando estratégias e soluções

eficientes que minimizam a quantidade de material aplicado. Como por

exemplo, a aplicação de materiais “recicláveis, reutilizáveis ou

compostáveis”, e destaca a importância de valorizar os materiais locais

e regionais para incentivar a economia regional e reduzir o impacto

ambiental decorrente do seu transporte.

• Gestão dos resíduos sólidos nas construções e na administração do lixo

minimizando o impacto sobre os dos aterros sanitários.

• Valorizar os combustíveis alternativos em veículos dentro do

aeródromo, como o elétrico, biodiesel, híbridos, propano, etc.

• Proteger a fauna e a flora.

O TERMINAL 3 - AEROPORTO DE GUARULHOS

O terminal 3 de Guarulhos apresentou quatro projetos, entre eles podemos

destacar o projeto da Figueiredo Ferraz, e o projeto encomendado pela Infraero

para o consórcio MAG coordenado pelo escritório Biselli + Katchborian

Arquitetos, em conjunto com PJJ Malucelli Arquitetura, GPA Arquitetura e

Andrade Rezende Engenharia, projeto ousado e de grande beleza, com 230

000 m2 e uma estimativa para receber 19 milhões de passageiros por ano. A

partir da privatização de Cumbica, as empresas operadoras do terminal,

decidiram não utilizar o projeto desenvolvido pelo consórcio de arquitetos MAG.

O novo projeto do complexo de edifícios do terminal 3 de Guarulhos foi

desenvolvido pela empresa brasileira Engecorps, empresa do grupo espanhol

Typsa, com uma capacidade para receber 12 milhões de passageiros por ano,

e com 192 mil m². As obras começaram em outubro de 2012, com previsão de

entrega para maio de 2014. O projeto preve a construção de um novo pier para

2022, ampliando o número de aeronaves operantes no terminal, como mostra a

figura 2 com o esquema de implantação dos terminais existentes no aeroporto

de Guarulhos, e as futuras ampliações.

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Figura 1: vista externa – maquete eletrônica Fonte: Revista Infraestrutura Urbana, 2013

Figura 2: Esquema de Implantação do aeroporto Internacional de Guarulhos

Fonte: Acervo do Autor

O edifício chamado de Terminal 3 é composto de dois volumes, o edifício

principal e um píer longitudinal. A configuração do terminal promove ações

centralizadas, de controle, e de recepção conduzindo e levando todos os

passageiros a passar por determinados pontos, e em função do destino de

cada passageiro ocorrerá a redistribuição. Em entrevista realizada com Andrei

Taxiamento e pista de pouso e decolagem

Extensão para 2022

Terminal 4

Terminal de cargas

Terminal 2

Terminal 3

Estacionamento

Terminal 1 Edifício garagem

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Almeida1, arquiteto da Engecorps, ele mostrou que as decisões de projeto

buscaram soluções para comportar maior número de passageiros, como por

exemplo, as ilhas de check-in que otimizam a operação das esteiras de

bagagens, agilizando a distribuição e a locomoção dos passageiros no

embarque e desembarque. São 5 pavimentos, sendo o subsolo nível - 6,70

metros, o desembarque no nível 0,00, o embarque no nível 9,00 metros. Os

pavimentos intermediários com mezaninos nos níveis 5,00 metros e 14 metros

respectivamente. A figura 3 mostra alguns croquis dos diferentes pisos do

aeroporto.

Figura 3: Plantas esquemáticas dos pavimentos do aeroporto.

Fonte: Acervo do Autor O subsolo caracteriza-se por uma área de acesso restrito aos funcionários do

terminal. Nesse pavimento encontram-se os vestiários de funcionários,

armazéns, bagagens extraviadas, reservatórios de água para reúso,

reservatórios para combate a incêndio, água potável para abastecimento do

terminal, entre outras áreas necessárias para o funcionamento do edifício.

                                                                                                                         1   Andrei Almeida1, arquiteto da Engecorps empresa do grupo espanhol Typsa  

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No pavimento de desembarque, ficam o controle de passaporte e segurança, a

sala de recolhimento de bagagens, e acesso ao freeshop. No caso de conexão,

os passageiros devem se dirigir aos balcões de recheck-in. Neste pavimento

estão a polícia federal, a receita federal, o controle de bagagens entre outras

áreas de acesso restrito a funcionários. O píer no desembarque é voltado ao

uso exclusivo dos funcionários, como mostra o esquema da figura 4 e os fluxos

no edifício principal através da figura 5.

Figura 4: Setorização pavimento desembarque Fonte: acervo do Autor

Figura 5: Planta desembarque com indicação dos fluxos Fonte: Andrei Almeida

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Figura 6A : Sala de Restituição de Bagagens 6B: Sistema de tratamento de bagagens

Fonte: Acervo do Autor

O nível 5,00 é um nível de integração e circulação. Neste nível ocorre a ligação

dos passageiros desembarcados para o nível 0,00, onde serão retiradas as

bagagens, além disso, conecta o Terminal 3 ao edifício garagem e também ao

Terminal 2. Está previsto no futuro a construção de um hotel neste pavimento.

O saguão de embarque (+9,00 metros) possui um espaço generoso aos

passageiros, com amplos vazios, conformados por jardins, com grandes

árvores que vêm do nível +5,00. No embarque os vãos são de 18x36 metros,

tornando o ambiente livre de pilares. Nas áreas operacionais, os vãos

dependem do tipo de função e são variáveis entre 9x9 metros e 9x18 metros.

Após os passageiros passarem pelos balcões de check-in, é realizado o

controle de segurança e passaporte, e posterior, acesso à área comercial e

freeshop com diversas marcas e restaurantes. O embarque possui ainda

diversas áreas operacionais e back offices de escritórios. O píer é destinado

aos passageiros para acesso às aeronaves, e os vãos dos pilares são

novamente 18x36 metros, seu formato linear é consequência da sua

funcionalidade, pois otimiza o número de aeronaves, como mostram as figuras

abaixo.

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Figura 7: Setorização pavimento embarque

Fonte: Acervo do Autor

Figura 8: Planta embarque com indicação dos fluxos

Fonte: Andrei Almeida

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Figura 9A: Sala de embarque; 9B: praça comercial.

Fonte:  Revista Infraestrutura Urbana, 2013.

No mezanino do embarque estão localizadas as salas vips, restaurantes e

escritórios.

Segundo Andrei Almeida, as decisões quanto as soluções projetuais, materiais

utilizados e técnicas empregadas, levaram em consideração os investimentos

realizados na construção do edifício e instalações, e por outro lado os custos

associados à manutenção dos equipamentos e despesas operacionais. Nas

decisões foram ponderados que todos os custos envolvidos na vida útil do

edifício, como o desempenho, serão custeados pelos grupos gestores do

edifício ao longo dos próximos vinte anos, portanto o grupo buscou otimizar a

eficiência global do edifício.

De acordo com Andrei Almeida, foram adotadas diversas medidas que aplicam

o conceito de sustentabilidade e o menor impacto ambiental. Com estratégias

voltadas para a construção do edifício e seus materiais, estratégias para

minimizar os gastos de energia ao longo da vida útil do edifício como, a

utilização da iluminação natural, luzes econômicas, materiais de maior

eficiência térmica na envoltória diminuindo as trocas de calor entre a parte

interna e externa da edificação, além da captação das águas de chuva e o

reúso das águas, gestão integrada dos resíduos sólidos, entre outras.

Entretanto devido ao tempo de projeto e de execução, o conjunto não foi

analisado para atingir as certificações.

Na escolha dos sistemas construtivos, o prazo para entrega da obra foi uma

questão determinante, o projeto em fase preliminar previa toda a estrutura

moldada in loco, devido aos prazos estabelecidos para finalização da obra de

18 meses, foi aplicado o sistema estrutural em concreto armado pré-fabricado.

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O pré-fabricado foi aplicado em grande parte da estrutura portante, que suporta

os níveis de piso do terminal, pilares, vigas, e lajes protendidas alveolares.

Contudo os pilares que suportam a estrutura da cobertura também foram

moldados in loco, devido a maior estabilidade. Todos os subsolos devido a

questões de durabilidade, de umidade e impermeabilização, foram realizados

com concreto moldado in loco, com “fundações em estaca do tipo hélice

continua”. (CARVALHO, 2013) A estrutura da cobertura em treliça metálica

define um conceito de uma estrutura mais leve, na busca da rapidez construtiva

e menor quantidade de aço.

O desenho do terminal foi pensado para favorecer a incidência de iluminação

natural, pois grande parte dos edifícios apresentam as envoltórias em vidro,

associado ao desenho escalonado das coberturas que garantem entrada de luz

natural por cima, como pode ser visto na figura 10.

Figura 10A: visão externa do andamento da obra: 10B: 3d da vista interna

Fonte A: Copa 2014. B: Acervo do Autor Outro ponto que maximiza a luz natural no terminal são as claraboias

distribuídas ao longo de todo o edifício principal, auxiliam na iluminação e

atuam como dispositivo de segurança ao incêndio. As claraboias são

controladas a partir do sistema de detecção de fumaça e se abrem

automaticamente em caso de concentração de fumaça. Nos ambientes internos

do terminal, a iluminação é através de luz de Leds, apesar do custo inicial mais

elevado a sua maior durabilidade é um fator determinante para sua aplicação,

associado ao fato de ser uma luz energeticamente eficiente. (CARVALHO,

2013)

Os vidros de todas as fachadas do edifício são duplos de alta performance,

pois são vidros laminados e recebem uma película de butiral, em ambas as

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faces da envoltória, associado a uma câmara de 20 mm, diminuindo as trocas

térmicas entre o interior e o exterior, proporcionando economia na utilização de

ar condicionado. A composição da vedação permite a entrada de luz e diminui

a entrada do calor e do som, proporcionando um maior conforto termo acústico.

Segundo Andrei Almeida, a fachada em vidro permite uma “transmissão

luminosa de 50 %, com fator solar de 30% e atenuação acústica de 40 db”. O

conjunto por sua vez garante a transparência necessária, para que os

passageiros possam observar a pista de pouso e decolagem.

A cobertura possui alto desempenho termo acústico, pois foram aplicadas

telhas zipadas tipo sanduíche de alumínio, com núcleo em polietileno da

empresa Bemo do Brasil, produzidas com o desempenho térmico exigido nas

qualificações para o conforto térmico do edifico.

Figura 11 A: vista da montagem da estrutura da cobertura 11 B: vista da montagem da

fachada. Fontes: COPA 2014

Os revestimentos utilizados no terminal foram predominantemente em chapa

de metal perfurada da Swissmetal, chapas de alumínio das empresas

Alucomaxx entre outros fornecedores. Em algumas áreas externas foi aplicado

o steellayer, desenvolvido pela empresa Ananda e produzidos especialmente

para atingir as exigências de desempenho térmico exigido nos terminais

aeroportuários. As paredes com fechamentos opacos em stellayer foram

estruturados com steel frame, mas para atingir o desempenho térmico foi

necessário associar um isolamento em lã de rocha em conjunto com painel de

gesso nas camadas internas e nas camadas externas composições com o

painel OSB (Oriented Strand Board), uma manta de proteção contra umidade e

finalmente revestido com a placa stellayer, como mostra a figura 12. O sistema

é considerado como construção a seco. (ANANDA,2012)

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Figura 12: Revestimentos no terminal de passageiros

Fonte: Acervo do Autor

A circulação no interior do terminal é realizada através de elevadores, escadas

fixas, rolantes e deslocamento horizontal através de esteiras, uma estratégia

para minimizar as longas distâncias. Dentre as tecnologias implantadas para

facilitar o fluxo de passageiros, e do processo de embarque mais rápido foram

os quiosques de autoatendimento para chekin, despacho automático para

bagagens e portões eletrônicos de imigração e emigração (e-gate). (E-

CONSTRUMARKET, 2014)

Figura 13A: Saguão de embarque, 13B: Elevadores do saguão

Fonte: 13 A: Carvalho - Revista Infraestrutura Urbana, 2013, 13 B: Acervo do Autor

Uma das tecnologias mais inovadoras aplicadas nos edifícios foram os

elevadores, que são autônomos em energia, acumulando energia a partir do

próprio movimento.

A captação da água de chuva é realizada com o novo sistema de drenagem

chamado de Full Flow um sistema de alta performance, permitindo o dobro de

volume de drenagem, com a água preenchendo toda a tubulação, pois cria um

vácuo no tubo, garantindo a sucção da água. A água captada pela cobertura

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será direcionada para reservatórios na área de serviços do terminal, localizada

no subsolo do edifício, para tratamento e reúso. (GEBERIT, 2013)

O terminal conta com serviços de reciclagem e com unidades compactadoras

de resíduos sólidos. No subsolo ficam as áreas de compactação do resíduo

sólido reciclável recolhido em todo o terminal.

Andrei Almeida observou que na obra foi determinante a escolha por materiais

nacionais em função do financiamento do BNDES, ele observa entretanto que

nem sempre temos no Brasil materiais com a melhor tecnologia e desempenho.

Desta forma alguns materiais tiveram que ajustar as especificações para atingir

o desenho da obra. O BNDES pretende com a medida incentivar o

desenvolvimento da indústria nacional e do mercado interno.

CONCLUSÃO

No âmbito da sustentabilidade o edifício do Terminal 3 incorpora durante a vida

útil do edifício a minimização do uso de energia, com um projeto que valoriza a

iluminação natural, associado a um sistema de iluminação de alta performance,

o LED, a uma envoltória de alto desempenho térmico e acústico, elevadores

que geram a própria energia, o reúso da água pluvial e a gestão integrada dos

resíduos sólidos.

Um ponto discutível, em relação à sustentabilidade do projeto do Terminal 3, é

devido a obra não contemplar formas de energias alternativas como as células

fotovoltaicas, contudo o projeto priorizou a coleta da água de chuva, um fator

de grande relevância no contexto da sustentabilidade.

No âmbito dos legados tecnológicos deixados pela Copa de 2014, as diretrizes

do BNDES dando prioridade a aplicação de produtos nacionais em obras

financiadas pelo banco, como o Terminal 3, é de grande relevância pois

permite o desenvolvimento do parque industrial brasileiro e seu rebatimento

nos novos edifícios construídos no Brasil.

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REFERÊNCIAS

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http://www.anandametais.com.br/bra/releases/2012/steellayer_ananda_aco.asp

acesso em 30.abr. 2014.

CAPRIGLIONE, Laura. Infraero promete cubica ecológico. Folha UOL. 24.

Maio. 2004. Disponível em

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2405200419.htm acesso em

20.abril.2014

CARVALHO, Carlos. Obra: Conheça o novo terminal do Aeroporto de

Guarulhos. Revista Infraestrutura Urbana. V 31. São Paulo: PINI,2013.

Disponível em <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-

tecnicas/31/terminal-3-de-guarulhos-novo-complexo-de-passageiros-do-

296601-1.aspx> acesso em 10.abril.2014.

CDA. Manual Sustainable Airport Manual (SAM). CHICAGO: Chicago of

Department of Aviation, 2010.

COPA 2014. Copa 2014. Fotos da Obras para a Copa 2014. Disponível em

<http://copa2014.gov.br/pt-br/dinamic/galeria_imagem/38951> Acesso em 10.

abril.2014.

EDWARDS, Brian. O guia Básico para a Sustentabilidade. Barcelona:

Gustavo Gili, 2008.

ERNST & YOUNG; FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Brasil Sustentável: Impactos Socieconômicos da Copa do Mundo 2014. Departamento de

Comunicação da Ernst & Young: São Paulo: 2012.

E-CONSTRUMARKET. Brasil investe mais de US$ 3 bilhões na reforma e

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http://www.aecweb.com.br/cont/m/rdo/brasil-investe-mais-de-uss-3-bilhoes-na-

reforma-e-ampliacao-de-aeroportos_6629  Acesso  8.  abr.  2014

GEBERIT. Clean disposal: Geberit drainage systems. Disponível em

http://www.bssindustrial.co.uk/uploads/docs/1000.pdf acesso em 20.mar.2014.