Território e desenvolvimento

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    Territrio e desenvolvimento:

    as razes da centralidade do Rio de Janeirona economia nacional

    Robson Dias da Silva

    Introduo

    O estado do Rio de Janeiro, em sua atual configurao, um dos princi-pais espaos econmicos do Brasil, respondendo por aproximadamente 12% doproduto interno bruto nacional. Para os padres brasileiros, possui um territrioexguo,1no qual residem cerca de 16 milhes de pessoas e que abarca um conjun-to diversificado de atividades produtivas e tercirias, algumas de considervelrelevncia para a estrutura econmica do pas.2

    A formao econmica fluminense guarda importantes singularidadesque explicam, em grande medida, os desequilbrios referentes distribuio ter-ritorial da produo regional e polaridade acentuada que a cidade do Rio de Ja-

    Nota: Robson Dias da Silva professor do Departamento de Histria e Economia da UFRRJ e doutorandodo Instituto de Economia da Unicamp.

    Estudos Histricos, Rio de Janeiro, n 40, julho-dezembro de 2007, p. 91-113.

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    neiro exerce sobre seu interior (Davidovich, 2000). Essas singularidades so: acondio de ex-sede administrativa colonial e do pas por cerca de dois sculos(1763-1960), a separao institucional ocorrida entre a cidade do Rio e o restantedo atual territrio fluminense (1834-1975) que conformou e reforou acentua -

    das desigualdades entre as estruturas econmicas desses espaos e, por fim, asatividades ensejadas pelo seu posicionamento geogrfico, que esto diretamenterelacionadas aos pontos anteriormente assinalados.

    Se, por um lado, o interior fluminense se mantinha economicamenteatrasado e com baixa participao no PIB nacional, por outro, a cidade do Rio foise consolidando como um dos principais centros econmicos e polticos do terri -trio brasileiro, experimentando ampla modernizao de sua estrutura urba-no-produtiva. Na diviso regional do trabalho, antiga Provncia Fluminensecabia o papel de produtora agrcola, enquanto a cidade do Rio se especializavaem setores econmicos estritamente urbanos (Melo, 1996 e 2001).

    Assim, enquanto a Provncia Fluminense enfrentava dificuldades ine-rentes derrocada da atividade agrcola e crescente concorrncia vinda de ou -tras regies, tais como So Paulo e Minas Gerais, a cidade do Rio usufrua condi-o singular que contribuiu decisivamente para a consolidao de sua centrali-dade na economia nacional.3

    O presente artigo assinala as linhas gerais do processo de formao eco-nmica da regio fluminense at a dcada de 1920, destacando alguns determi-nantes da insero regional nos fluxos econmicos brasileiros. Seu objetivo melhor subsidiar o entendimento acerca da posio central da cidade do Riode Janeiro dentro da estrutura produtiva fluminense e nacional.

    1. Antecedentes da insero do Rio de Janeiro nos fluxos da economiabrasileira

    A insero do territrio compreendido pelo atual estado do Rio de Janei-ro na estrutura econmica brasileira s ganhou maior dinamismo a partir do s-culo XVIII, perodo marca do por importantes transformaes urbanas noSudeste brasileiro. A dinmica dos setores de minerao e agrcola contribuiuem larga escala para a constituio de vrios ncleos de povoamen to no territrio

    fluminense, tanto em sua parte litornea, onde a atividade porturia se destaca-va, quanto em seu interior, em localidades prximas s rotas de conexo das re-gies mineradoras s sedes porturias.

    A expanso da atividade porturia, a cultura de cana-de-acar e, futura-mente, o fato de ser sede administrativa atuaram na consolidao do ncleo ur-bano existente s margens da baa de Guanabara. No interior fluminense, por

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    sua vez, surgiram vrios ncleos de povoamento estimulados pela atividade eco-nmica nas Geraes. Vale acrescentar que outros povoados foram constitudos noterritrio fluminense, inicialmente, sob a dinmica da pecuria extensiva queveio a ser subs titu da pela cultura de cana-de-a car e a produo de aguardente.

    O advento da atividade minera dora direcionou a dinmica econmicada Colnia do Nordeste para o Sudeste, tornando necessrio o planejamento lo-gstico e a melhoria da infra-estrutura existente, com vistas ao desenvolvimentoe fiscalizao da produo. Este cenrio explica em boa medida as motivaesque ensejaram a transferncia da capital administrativa da Colnia de Salvador(BA) para a cidade do Rio de Janeiro, em 1763. Nessa poca, o territrio flumi -nense j havia se consolidado como importante regio porturia para abasteci-mento dos navios que faziam a defesa do litoral Sul da Colnia.

    A transferncia da capital incrementou a concentrao econmica emterritrio fluminense, ao passo que a expanso da produo canavieira havia

    possibilitado a estruturao de uma economia agroexportadora nas terras vizi-nhas baa de Guanabara, tendo o acar e a aguardente como seus principaisprodutos.

    A partir de ento, a regio foi adquirindo papel de destaque e centralida-de no cenrio brasileiro. As origens desse proces so pas sam pelo fato de a regioter usufrudo a vantagem de sediar a principal base de exportao existente poca em territrio brasileiro, e tambm pelo fato de ser a sede administrativacolonial. Como assinala Cano (1998: 259),

    tendo em seu por to mar timo a principal porta de entra -da e sada dos mais importantes fluxos da atividade mineradora do scu-lo XVIII, e da cafeeira no sculo XIX, e passando, tambm, a ser sede dogoverno central a partir de 1763, a Guanabara certamente usufruiu parteimportante do excedente gerado por tais economias, assim como se be -neficiou de boa parcela do gasto pblico.

    A transferncia da corte portuguesa para o Brasil (1808) foi um impor -tante divisor de guas da nossa histria. cidade do Rio, em particular, resultouem significativas transformaes de ordem social, urbana e econmica, deriva-

    das dos diversos investimentos realizados em seu exguo espao fsico. Assina-la-se que, aps alguns anos da instalao da corte em solo carioca, a cidade do Riode Janeiro foi elevada condio de capital do Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves.

    Segun do Cano (2002: 50), a transferncia da corte sinalizou para o Brasila antecipao do processo de independncia: a liberalizao dos portos e a liber-

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    dade de comrcio e da indstria praticamente liquidavam o estatuto colonial. Oautor enfatiza, alm disso, que a cri ao do primeiro banco e o incremento nacirculao monetria reforaram o processo, j em andamento, de formao deuma burguesia nacional que posteriormente, e com apoio do Estado, promoveria

    a reinsero do pas nos fluxos de comrcio internacional, atravs do caf.Nomesmo sentido, Furtado (2000: 119), em sua clssica obraFormao econmica do

    Brasil, destaca que a etapa de gestao da economia cafeeira tambm a de for-mao de uma nova classe empresria que desempenhar papel fundamental nodesenvolvimento subseqente do pas.

    Esse novo cenrio fomentou uma profunda reorganizao urbana e eco-nmica da regio fluminense, notadamente de sua poro carioca. O Rio de Ja-neiro se consolidava como espao de atrao de fluxos demogrficos e capitais.No somente a economia, mas a poltica, as manifestaes culturais, o cotidianonacional enxergavam a cidade do Rio de Janeiro como espao de excelncia.

    Com a chegada da corte, houve melhoria progressiva da infra-estrutu-ra ur bana e concentrao de uma malha de servios que atendia a nova urbani-zao territorial. Por outro lado, a quebra do ex clusivo metropolitano e a aber-tura dos portos s naes amigas imprimiram maior dinamismo econmico cidade, resultando na intensificao das suas atividades comerciais e financei-ras.

    Abreu (2006: 35), ao analisar a estrutura e a evoluo urbana carioca, as-sinala que s a par tir do s cu lo XIX que a cidade do Rio de Janeiro co mea atransformar radicalmente a sua forma urbana e a apresentar verdadeiramenteuma estrutura social estratificada em termos de classes sociais. O autor tambm

    ressalta a importncia da vinda da famlia real para a conformao do processo deurbanizao do Rio:

    (...) a vinda da famlia real impe ao Rio uma classe so-cial at ento praticamente inexistente. Impe tambm novas necessida -des materiais que atendam no s os anseios dessa classe, como facilitemo desempenho das atividades econmicas, polticas e ideolgicas que acidade passa a exercer. (Abreu, 2006: 35)

    Esses acontecimentos permitiram cidade do Rio experimentar consi -dervel crescimento econmico-social em meio ao cenrio de desarticulao vi -vido pela economia brasileira desde a falncia da chamada economia do ouro. Osdiversos surtos manufatureiros ocorridos na cidade entre,grosso modo, a che ga -da da corte e a Proclamao da Independncia (1822) so evidncias da situaosingular da economia carioca (Pignaton, 1977: 142).

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    2. A cafeicultura fluminense: expanso, auge e crise

    A cafeicultura foi a mais importante etapa da economia brasileira antesde sua industrializao, possibilitando sua reinsero (mais expressiva) nos flu-

    xos do comrcio mundial. A trajetria do caf foi marcada por mudanas subs -tanciais na estrutura econmica do pas e, especialmente, no territrio das re-gies produtoras e/ou exportadoras.4

    Destaca-se que foi em terras fluminenses que a cafeicultura teve suaprimeira etapa de sucesso como atividade central do modelo agroexportadorbrasileiro. Segundo Cardoso de Mello (1998: 56-59), esse territrio apresenta-va quatro condies necessrias para o sucesso da atividade cafeeira: existnciade uma burguesia detentora de capital-dinheiro, existncia de terras aptas, dis-ponibilidade de mo-de-obra e, por fim, existncia de demanda externa peloproduto.

    Assinala-se que a chegada da famlia real acelerou a formao da burgue-sia nacional. No tocante disponibilidade de terras, a poro fluminense do Valedo Paraba mostrou-se, a princpio, pro pcia cultura. A questo damo-de-obra foi resolvida pela adoo da forma escravista de produo e, porfim, a demanda externa do caf era preexistente, sendo alargada pelo rebaixa -mento dos preos, resultante da grande oferta brasileira do produto, o que,diga-se de passagem, possibilitou a generalizao de seu consumo.

    A cafeicultura se instalou em territrio fluminense em fins do sculoXVIII e teve seu apo geu en tre as d cadas de 1820 e 1870, quan do o Rio tornou-seo maior produtor (e exportador) mundial. A produo cafeeira seguiu, em boa

    medida, os caminhos da lavoura canavieira, em princpio como cultura comple -mentar. Posteriormente elevao dos preos internacionais, ganhoustatuse seexpandiu pela regio serrana fluminense. (Melo, 1992 e 1996). Para Lessa (2000:103), a cafeicultura teve papel de suma importncia na organizao e integraofluminense, ao injetar densidade econmica no interior.

    Os efeitos da cafeicultura em territrio fluminense devem ser analisadoslevando-se em conta que os espaos carioca e fluminense foram separadosinstitucionalmente em 1834. Nesse ano, via ato imperial, a cidade do Rio foi ele-vada condio de municpio-neutro, ao passo que o estado homnimo (todo ointerior fluminense) passou a ter sua capital sediada margem oriental da baa

    de Guanabara, no municpio de Niteri.

    As duas principais conseqncias dessa separao so: 1) a delimitaooficial do raio de alcance dos gastos pblicos, agindo no sentindo de acentuar asdesigualdades infra-estruturais5existentes entre a ci dade e o res tante; 2)pensando em termos de diviso espacial do trabalho, restou velha provnciafluminense o papel de produtora primria, atravs de culturas executadas em la-

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    tifndios escravistas. cidade-capital imperial couberam as funes burocrti-cas de sede administrativa e de espao abarcador da estrutura urbana de servios,originada para dar suporte comercializao e ao financiamento da atividadeagromercantil.

    Essa ltima conseqncia refletia, no espao, a hierarquia existente en-tre os capitais mercantil e produtivo. Cardoso de Mello (1998: 56) explica a rela-o entre esses capitais, atestando que a economia mercantil-escravista cafeeira obra do capital mercantil nacional, pois esta forma de capital se metamorfose-ava em capital-dinheiro, necessrio implantao da produo mercantil-es-cravista. No mesmo sentido, Oliveira (1982: 37) afirma que a produo se davano campo, mas as decises polticas de financiamento e de comercializaoocorriam na cidade, havendo clara predominncia do urbano sobre o rural,pois a produo agrcola estava subordinada atividade mercantil, e no o con -trrio.6

    Podemos afirmar que a centralidade fluminense na estrutura econmicabrasileira tem suas razes na etapa da economia do ouro nas Geraes,que tinhamnos portos do litoral fluminense sua principal base de apoio logstico. No entan-to, a consolidao definitiva do Rio de Janeiro (municpio neutro e provncia flu -minense, em graus diferen tes) como espao central da economia nacional se deuao lon go do sculo XIX em funo do desenvolvimento da atividade cafeeira re -gional. O caf transformou o Rio em sede principal do capital mercantil e, logo aseguir, do capital financeiro, alm de fortalecer sua centralidade no que dizia res -peito s decises polticas do pas.

    Toda essa grande dinmica, muito embora tenha efetivado a regio

    fluminense como central para o cotidiano nacional, trouxe como marca inde-lvel o aprofundamento das desigualdades intra-regionais, ou seja, acentuou emgrande medida o fosso que diferenciava as estruturas econmicas carioca efluminense.

    A introduo das estradas de ferro, ocorrida a partir da segunda metadedo sculo XIX, no foi capaz de criar no interior fluminense espaos urbanoscom estrutura semelhante observada na cidade do Rio. Pignaton (1977: 141)chama a ateno para o fato de que a in troduo da fer rovia acentuou a for a cen -tralizadora da cidade do Rio de Janeiro perante o interior fluminense, remode-lando a estrutura de importncia das cidades dessa poro territorial atravs de

    novas posies na diviso regional do trabalho.7

    Em meados do sculo XIX, a lavoura exportadora era a grande fonte dedivisas da provncia fluminense, especializada na cafeicultura, embora, segundoLeopoldi (1986: 54),tambm grande produtora de acar. No entanto, a ativida-de cafeeira regional estava envolta por fortes problemas estruturais, que podemser sintetizados em dois eixos: a) a organizao da produo no modo escravagis -

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    ta, que culminara em restrio de mercado, freio acumulao, altos custos fixose imobilizados etc.; b) a falta de terras propcias ao cultivo e em quantidades ne-cessrias ao atendimento da demanda.

    Esses problemas resultaram em elevao dos custos de manuteno da

    atividade para o atendimento da crescente demanda, que se explica pela poucaoferta de terras virgens propcias ao cultivo e pela elevao dos custos damo-de-obra escrava, especialmente observada no perodo posterior proibiodo trfico negreiro, em meados do sculo XIX. Cano (2002: 50) assinala que, aose instituir como escravista e no superar essa condio, o caf do Vale do Parabaassinava seu prprio atestado de bito.

    A cidade do Rio de Janeiro conseguia incrementar sua dinmica econ -mica atravs da estrutura de comercializao da produo cafeeira de diversas re-gies, da expanso e modernizao do setor financeiro e, especialmente, pelo fatode sediar um componente autnomo: o gas to pblico.

    A produo cafeeira fluminense e de outras regies do Sudeste brasileirotinha o porto do Rio como seu principal centro de co mercializao, o que permi-tia a contnua conformao do carter comercial da economia carioca. Em me-ados do sculo XIX, o caf era responsvel por pouco mais de 40% das ex por ta-es brasileiras. Soares (apudMelo, 1992) afirma que 79% do caf embar cadopelo por to do Rio, nos anos 1850, procediam da provncia do Rio de Janeiro, en -quanto o restante originava-se de So Paulo (11%), Minas Gerais (8%) e EspritoSanto (2%).

    Taunay (1943: 178) informa que as comisses, fretes e carretos absorvi-

    am cer ca de 40% do valor da saca de caf. imprescindvel sublinhar que a cafei-cultura fluminense tambm foi importante fonte de recursos para o Tesouro Na-cional. Melo (1992: 282) aponta que em 1890 o caf pro piciava o grosso das ren-das pblicas tanto dos estados produtores como da unio. Nesse mesmo ano, aatividade representaria cerca de 70% das receitas da provncia fluminense, ca -indo para patamares prximos aos 30% nos anos posteriores.

    Destaca-se que ao capital comercial, cada vez mais forte, estava associa-do o capital financeiro, promotor da estrutura de financiamentos no apenas cafeicultura, mas tambm aos servios e futura indstria que ali se instalaria.Pignaton sintetiza a posio carioca frente s outras economias regionais:

    A cidade do Rio de Janeiro era a metrpole da regio,mantendo sob sua dependncia as reas cafeeiras e suas cidades. Na ca-pital encontrava-se o mercado de escravos e de produtos importados, oporto, a administrao pblica e um centro consumidor de artigos desubsistncia. (Melo, 1992: 141)

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    Para Melo (2001: 224) a cons tituio de um forte centro financeiro na lo-calidade devia-se mais s funes burocrticas do que s atividades mercantis.Essa funo (centro financeiro), antes de ser uma conseqncia da economiaexportadora, esteve vinculada s funes burocrticas exercidas pela cidade

    como capital da Co l nia e do Imprio. Assinala-se, no entanto, que inexistiu, nafase inicial da cafeicultura fluminense, qualquer sistema formal de financia-mento bancrio. Fornecendo crdito pessoal ao plantador, atuava a figura da casacomissria (Lessa, 2000: 112).

    O auge da produo cafeeira fluminense ocorreu durante a dcada de1870, muito embora estivesse operando a custos crescentes. Cano (2002: 51) afir -ma que

    a ausncia de um sistema financeiro, a subordinaoque o capital mercantil exercia sobre esse caf e a presso violenta deseus custos econmicos abreviaram a agonia da cafeicultura fluminense.Sua fase urea de expanso (...) fez-se a custos crescentes. E a concor-rncia encarregou-se do resto.

    TABELA 1PRODUO EXPORTVEL DE CAF POR REGIO (EM MIL SACAS)

    Mdia anual SP RJ MG ES Total

    Vol. % Vol. % Vol. % Vol. % Vol. %

    1876-80 925 24,3 1.987 52,2 767 20,2 124 3,3 3.803 100,0

    1881-90 2.138 37,1 2.176 37,8 1.200 20,8 250 4,3 5.764 100,0

    1891-00 4.775 60,5 911 11,5 1.787 22,7 416 5,3 7.889 100,0

    1901-10 9.252 68,0 995 7,3 2.772 20,4 579 4,3 13.598 100,0

    1911-20 9.306 70,2 812 6,1 2.446 18,4 700 5,3 13.264 100,0

    1921-30 11.131 66,5 945 5,6 3.445 20,0 1.210 7,2 16.731 100,0

    Fonte: SP, RJ e MG: Taunay (1943) e Fraga (dados ajus tados aos de Taunay); ES: Ro cha e Cossetti (apud Cano,2002).

    Vale destacar que a produo cafeeira havia migrado, durante a segunda

    metade do sculo XIX, para So Paulo atingindo o Oeste Paulista , para aZona da Mata de Minas Gerais e para o territrio capixaba. A partir dessa dcada,a produo fluminense comeou a perder importncia relativa na produo na-cional, sendo, em pouco tempo, superada por suas concorrentes. A partir do fimda dcada de 1870, a produo paulista sofreu expressivo acrscimo (tabela 1),superando a fluminense. A cafeicultura de So Paulo operava a custos decrescen-

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    tes e dentro de um esquema de produo que logo se consolidaria em bases deproduo no-escravista, formando ento o Complexo Cafeeiro Paulista.

    De 1890 em diante, a cultura cafeeira fluminense perdeu, continuamen-te, participao na produo nacional. Dos quase 2,2 milhes de sacas colhidas

    entre 1881-1890, a produo da re gio caiu para novecentas mil no decnio se -guinte, tornando-se ento a terceira maior do Brasil. Na dcada de 1920, a produ-o regional foi superada pela capixaba, alm de ter se distanciado, em larga esca-la, da paulista e mineira. Assim, em pouco mais de meio sculo a produo localdeixou de representar 52% do total produzido pelo atual Sudeste brasileiro, pararesponder por to-somente 5,6% desse montante.

    Finalizando, destaca-se que os efeitos da derrocada cafeeira s no se fi-zeram mais sombrios para a regio fluminense porque ao longo do sculo haviase constitudo, em solo carioca, a mais moderna economia urbana do pas. Sobreisso, Cano (2002: 53) afirma que a urbanizao do Rio de Janeiro, a estrutura da

    comer cializao do caf, o fato de ser a sede do Gover no Central e de que seu por -to era o principal do pas, evitaram que a derrocada econmica da regio fos seainda maior. O autor salienta que os efeitos da derrocada foram inicialmenteatenuados devido ao fato de que

    as regies cafeeiras do Esprito Santo, do Vale do Para-ba paulista e de parte de Minas Gerais ainda permaneceram por muitosanos como tributrias do comrcio, das finanas, do transporte, do Esta-do e do por to do Rio de Ja neiro, transferindo a essa re gio, por tanto, par -

    te de seu excedente. (Cano, 2002: 53)

    3. O cres cimento in dustrial no Rio de Janeiro at os anos 1920

    O conjunto formado por atividades porturias, mercantis, financeiras eagrcolas marcou no somente a intensidade, mas tambm o padro de urbaniza-o do Rio de Janeiro. A concentrao dessas ativi da des permitiu ao Rio de Ja ne -iro ter posio de vanguarda no que diz respeito atividade industrial brasileiraem escala mais organizada.

    A dinmica urbana regional foi incrementada ao longo do sculo XIX, eno pero do 1800-1900, a po pula o da re gio cresceu pouco mais de 12 vezes, en -quanto a nacional ex pandiu-se cer ca de oito ve zes (tabela 2).

    Lessa (2000: 157) descreve a formao urbana carioca, no sculo XIX,como detentora de condies e caractersticas por vezes antagnicas e/ou inaca -badas. Em suas palavras, o desenvolvimento do Rio no sculo XIX plasma uma

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    peculiar anatomia social que combina traos fortes da sociedade colonial cominovaes derivadas da urbanizao. O autor enfatiza, ainda, o considervelpeso da populao escrava essencialmente em servios domsticos e do con -tingente de pobres livres no-assalariados como traos gerais do mercado de

    trabalho local da poca. Estes subsistiam, em grande parte dos casos, como arte-sos, autnomos e prestadores de servios tanto domsticos quanto ligados lo-gstica urbana.

    TABELA 2POPULAO BRASIL, CIDADE E ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    (1800-1920 % ANUAL)

    Ano Brasil* % Cidade** % Estado** %

    1800 2,3 43

    1850 8,0 2,5 181 2,9

    1872 10,1 1,0 275 1,9 1058 1890 14,3 1,9 523 3,6 1399 1,5

    1900 17,3 2,0 691 2,8 1737 2,3

    1910 23,2 2,9 905 2,7 2112 1,9

    1920 30,8 2,9 1158 2,5 2717 2,2

    Fonte: IBGE, Anurio estatstico (apud Melo, 2001).Legenda: * em mi lhes ** em milhares.

    Linhares e Levy (1971) mostram que, em 1849, 48,8% da po pu la o ca-

    rio ca eram compostos por escravos e, em 1872, esse percentual caiu para 18,3%.Essa reduo relativa foi resultante da transferncia de negros para a cafeiculturafluminense e pelo aumento do nmero de imigrantes europeus especialmenteportugueses residentes na cidade.8

    A urbanizao no associada a um processo de industrializao impossi-bilitou a criao, no Rio de Janeiro, de um proletariado urbano, tal como nos pa-ses centrais.

    Nos pases centrais a progresso da Revoluo Indus-trial destituiu o arteso e constitui o proletariado urbano. A urbanizaodo Rio de Janeiro enquadra-se no mundo da Revoluo Industrial, po-rm, sem industrializao, no constituiu o assalariado caracterstico docapitalismo industrial (Lessa, 2000: 157).

    No entanto, assinala-se que ter sido urbanizada sem industrializaono significou a ausncia de pequenas manufaturas, voltadas para o mercado lo-

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    cal, nem de alguns poucos estabelecimentos industriais orientados para o merca-do nacional coberto pela rede de cabotagem (Lessa, 2000: 170).

    A partir dos anos 1880, a produo cafeeira fluminense passou a apre-sentar claros sinais de perda de produtividade, em funo dos seus problemas es-

    truturais. Leopoldi (1986: 56) destaca que j vinha de algum tempo a presso,por partes dos fazendeiros fluminenses, por ajuda agricultura, que, como sa -bido, operava a custos crescentes.

    Apesar dos entraves do principal setor da economia fluminense, a cida-de do Rio conseguiu manter sua dinmica, muito em razo de sua posio centralpara a economia do pas. Exemplo disso o seu setor comercial: a perda de flegodo se tor pri m rio no o atingiu no primeiro instante, pois alm de ser diversifi-cado, era tributrio de outras regies agrcolas do Sudeste brasileiro. Devemosconsiderar, alm disso, que naquele momento o Rio era a principal praa finan-ceira do pas, abarcando a nica bolsa de valores, assim como as sedes dos mais

    importantes bancos nacionais e estrangeiros.J apontamos que a cidade do Rio era o es pao por exceln cia do gas to

    pblico. A con dio de capital administrativa do pas possibilitava-lhe usufruirum componente autnomo muito importante para a sustentao de sua renda.A ttulo de ilustrao, destacamos os dados contidos na tabela 3, referentes ra-zo entre receita pblica e populao residente em territrios diversos. Comovisto, ainda que a populao da cidade do Rio de Janeiro (ex-DF) fosse inferior paulista, sua receita pblicaper capitaera superior, e ex cedia em larga es ca la a desua vi zinhana direta (o antigo estado do Rio de Janeiro) e a de Minas Gerais.

    TABELA 3RECEITAS PBLICASPER CAPITA(EMMIL-RIS)

    Ano ERJ ex DF SP MG

    1907 7.694 32.656 17.825 5.600

    1910 7.690 56.189 13.290 4.945

    1915 9.212 39.631 20.389 7.321

    1920 13.694 49.355 37.954 9.489

    Fonte: Melo (2002: 225)

    A atividade industrial fluminense era muito incipiente at os anos 1850.Em sua estrutura destacavam-se pequenas fbricas que atendiam o mercado lo-cal. Por outro lado, a partir dos anos 1870, a expanso industrial seria qualitati-vamente diferente dos surtos manufatureiros anteriores, em virtude do uso pre-

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    dominante de trabalhadores livres e assalariados e mquinas movidas foramotriz (Pigna ton, 1977: 144).

    Desde ento, esse setor ganhou maior importncia na estrutura econ-mica nacional, passando a sediar os mais modernos setores fabris. Iniciou-se, na

    regio, o processo de implantao de grandes indstrias txteis, que se diferen ci-avam profundamente das unidades fabris ali localizadas, seja por sua dimensofsica, seja pelo capital investido, seja pela utilizao de trabalho livre e assalaria-do nas suas linhas de produo. Sua importncia pode ser medida pelos seguin-tes nmeros: respondia, em 1889, por 9,6% dos estabelecimentos fabris, bemcomo por 60% do montante de capital aplicado na indstria nacional. A ttulo decomparao, a segunda indstria noranking(a alimentcia) respondia por 29,7%e 15,6%, respectivamente (Pig na ton, 1977: 145). Melo e Consid era (1986: 112)avaliam que a dupla maquinizao e modernidade possibilitava a este setoratuar em mercados extraterritoriais, ou seja, a extenso de seus mercados consu-

    midores ia alm das fronteiras locais, atendendo todo o pas.Se a cidade do Rio conseguira manter sua dinmica expansiva, o interior

    fluminense sofria uma profunda desarticulao econmica resultante daderroca-dade sua principal atividade. At 1864, o financia mento da cafeicultura flumi-nense era realizado pelas casas bancrias que tinham nos comissrios seus clien-tes privilegiados (Tannuri, 1981: 24). Nesse ano, sob os efeitos de uma forte crise,vrias casas bancrias faliram, o que diminuiu sua participao e importncia nosistema bancrio nacional.

    Por sua vez, os bancos ingleses ganharam maior participao nas negoci-aes financeiras locais, especialmente naquelas ligadas ao comrcio exterior.Assim, o sistema financeiro passou a se polarizar entre os bancos estrangeiros e oBanco do Brasil, fechando-se paulatinamente uma vlvula de financiamento dacafeicultura local, ainda que fosse, como lembra Tannuri, uma opo a custos al-tos.

    Pelo lado do capital mercantil-financeiro carioca, entendemos que,sendo concentrado, via na derrocada da cafeicultura uma reduo de por tas paraseus investimentos, fazendo dos ttulos da dvida pblica uma fonte segura parasuas aplicaes. Pelo lado do governo, havia a preocupao com a situao de bai-xa liquidez da economia, que se agravava com a crescente urbanizao e diversi -

    ficao produtiva e de negcios, com o aumento do assalariamento da mo-de-obra (especialmente aps o fim do trfico negre iro), com a entrada de imigrantesestrangeiros, e com o uso mais racional e intensivo de novas tecnologias em algu -mas indstrias.

    Assim, se por um lado o j concentrado capital mercantil-financeiro ca-rioca, em meio crise da cafeicultura local, via nos ttulos pblicos uma fonte de

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    investimento de menor risco, por outro, o governo via na sua emisso uma formade aumentar o meio circulante da economia.

    Nos anos 1880 o Brasil passou por uma srie de transformaes polticas eeconmicas, com especial destaque para a Abolio da Escravatura (1888) e a Pro-

    clamao da Repblica (1889). Nessa dcada, a cambaleante cafeicultura da porofluminense do Vale do Paraba sofreu um duro golpe: parte de seu imobilizado (es-cravaria) perdeu a liquidez, agravando ainda mais a situao financeira.

    preciso destacar que o Imprio brasileiro, em seus ltimos anos, noatentou para a necessidade de reformas institucionais (especialmente financei -ras) que atendessem a presena monetria do salrio e o grande aumento do vo-lume de negcios. Oliveira (2003: 51) destaca que foi

    entre o ltimo ano do perodo imperial e o advento daRepblica que as bases para a expanso industrial se sedimentaram,principalmente por fora das reformas monetrias instauradas em 1888 iniciando o perodo denominado deencilhamento , que criaram con-dies para a expanso industrial. (...) a reforma monetria realizadapelo ltimo gabinete imperial expandiu a base monetria do pas (...).Esta poltica se estendeu pelo incio do perodo republicano, uma vezque sua continuidade foi garantida por Ruy Barbosa, primeiro ministroda Fazenda no Brasil Repblica. Com isso, a maior disponibilidade dedinheiro no mercado, ao mesmo tempo em que gerava uma intensa espe-culao, acabava tambm permitindo uma grande acumulao do capi-tal industrial e financeiro.

    Levy (1994: 203) ressalta que, se por um lado esse vis expansionista au-xiliaria os setores em dificuldades da economia fluminense, por outro era umatentativa de aumentar a liquidez da economia para tornar possvel a industriali-zao do pas. Assinala, tambm, que essa poltica acabou por incrementar o mo-vimento de transaes financeiras, que foi adquirindo, continuamente, di men-so e contornos especulativos que se prolongaram at 1892.

    Durante o encilhamento, a cafeicultura fluminense desceu de sua faseurea, e o setor mercantil-financeiro local foi empurrado a diversificar seu

    portflio de investimentos, o que determinou a aquisio de aes de diversosempreendimentos industriais, especialmente a partir da reativao do mercadoacionrio no ano de 1889. No Rio de Janeiro, as opes de investimento erammais diminutas do que as da praa paulista, que, em razo de sua agricultura, ex-pandia e diversificava as possibilidades de inverso produtiva (Tannuri, 1981:66).

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    Para Lobo (1978: 158-9), o encilhamento correspondeu a um perodopropcio ao crescimento industrial no Rio. O autor tambm destaca que h umanova correlao de foras na estrutura do poder nacional, que a Bolsa de Valorespassou a servir de instrumento de canalizao do capital para a indstria e que

    a nova lei das sociedades annimas facilitava a constituio de empresas indus-triais. preciso assinalar que a expanso industrial fluminense no fim do

    sculo XIX foi auxiliada pela poltica de financiamento industrial por partedo governo (realizada via emisso de bnus) e pela situao cambial da poca,que possibilitou a alguns setores a converso de recursos financeiros em ati-vos reais.

    3.1. A indstria fluminense nas primeiras dcadas do sculo XXNos anos inicia is do sculo XX, a cidade do Rio de Janeiro (eleva da

    condio de Distrito Federal desde 1989) sediava a mais importante praa indus-trial do pas, com setores como o txtil, de metalurgia, de alimentao e de qu -mica. Em 1907, res pondia por quase 30% da produo manufatureira do pas, se-guida por So Paulo com seus 16,1% (grfico 1). Se considerarmos a produo daantiga provncia fluminense (7,7%), a regio do atual esta do do Rio de Ja neirorespondia por quase 38% do montante nacional.

    GRFICO 1PARTICIPAO NA PRODUO INDUSTRIAL BRASILEIRA: 1907 (EM %)

    Fonte: Censo Industrial (apudPignaton, 1977).

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    Os percentuais apresentados entre os censos de 1907 e 1919 demonstramnitidamente a perda de importncia relativa da indstria fluminense frente concorrente paulista. Em 1919 as taxas percentuais da regio atingiram os 22,3%e 6,2%, respectivamente (grfico 2).

    GRFICO 2PARTICIPAO REGIONAL NA PRODUO INDUSTRIAL: EM 1919 (EM %)

    Fonte: Censo Industrial (apudPignaton, 1977).

    A estrutura produtiva fluminense era bem diversificada, muito emborafosse muito concentrada em dois setores (txteis e alimentao) que respondiam,em 1907, por 47,3% do valor da produo da indstria regional. Destacavam-se,ainda, as indstrias qumicas e de vesturio, com 9,4% e 15,9%. Em 1919, a parti-cipao dos setores txtil e de alimentao (em conjunto) na produo industrialsaltou para 58,5%, enquanto os percentuais referentes qumica e ao vesturioforam para 6,6% e 17,5%, respectivamente.

    Os motivos e determinantes que explicam a perda da liderana na pro-

    duo industrial do Rio de Janeiro para So Paulo so variados e constituem oalvo de importan tes esforos analticos. Foge ao escopo deste trabalho debater oassunto com maior profundidade, caben do to-somente o breve destaque de al-gumas linhas de raciocnio sobre o assunto.

    Para Pignaton (1977), a superao paulista deve ter ocorrido principal-mente entre 1909 e 1913, devido ao aumento de sua capa cidade para importar,

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    entrada de capitais externos e ao au men to nas exportaes de caf e de borracha.Versiani (1993: 79) aponta na mesma direo, enfatizando a importncia da re-forma tributria de 1900 para o crescimento da indstria paulista. Na verdade,em 1907 a indstria paulista j passava por uma fase de expanso, contemporane-

    amente associada reforma tributria de 1900.

    TABELA 4ESTRUTURA INDUSTRIAL DA CIDADE DO RIO

    (VALOR BRUTO DA PRODUO %)

    Setor 1907 1919

    Txteis 20,6 20,6

    Fiao e tecelagem 19,8 19,5

    Couros e peles 0,6 1,6

    Madeiras 6,3 3,0

    Metalurgia 6,6 5,3

    Cermica 2,2 1,4

    Produtos qumicos 9,4 6,6

    Alimentao 26,7 37,9

    Moagem de cereais 10,2 13,2

    Refino de acar 5,9 6,3

    Cerveja 4,3 6,5

    Vesturio 15,9 17,5

    Chapus 3,8 2,5

    Mobilirio 3,3 2,4

    Edificao 1,2 0,4

    Aparelhos de transporte 6,4 2,8

    Fonte: Lobo (1978: 606).

    Para Cano (1998: 262) a alta diversificao da indstria do Rio de Janei-ro demonstrava a existncia de alguns mltiplos e frgeis segmentos industriaisque atendiam o mercado local, contrariamente indstria paulista que, duranteos anos 1920, havia consolidado um perfil industrial orientado para os setores

    mais novos e tecnologicamente mais adiantado (Melo e Considera, 1986: 113).Os efeitos da crise cafeeira local e os provocados pela Primeira GuerraMundial agravaram sobremaneira a condio financeira e de acumulao da in-dstria fluminense, fazendo com que, aps o interregno blico, So Pau lo j co -measse a consolidar sua posio de principal centro industrial do pas (Cano,1998; Ver siani, 1993; Pignaton, 1977; Melo e Considera, 1986).

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    Assim, a par tir de ento, como ates tam Melo e Con sid era (1986: 423), atrajetria do desenvolvimento industrial carioca processou-se num cartersubordinado, isto , como uma estrutura complementar indstria paulista.Em bem pouco tempo, a indstria local perdeu parte de seu mercado (interno)para a concorrente paulista, inclusive nos setores em que era considerada hege-mnica.9Nos anos 1920, a inds tria do Rio de Janeiro j ope rava a custos maiselevados que as sediadas em territrio paulista, e assim, na medida em queavanava o processo de integrao do mercado nacional, a indstria fluminen-se substituda pela paulista at no prprio mercado local (Melo e Considera,1986: 424).

    Em fins da dcada de 1920, So Pa u lo respondia por 35% do PIB in dus-trial nacional, enquanto o percentual do territrio do Rio de Janeiro girava emtorno de 27%, sendo que a parcela do Distrito Federal era de aproximadamente

    21%. Como salientam Melo e Con treras (1988: 424), cabiam ao interior flumi-nense 6% da produo nacional, que, a ttulo de comparao, era um percentualsimilar ao de Pernambuco.

    Apesar dessas perdas, o Rio de Janeiro sus tentou-se como o se gun do es -paoda indstria brasileira, mantendo posio central em diversos ramos. Deveficar claro que o processo de perdas do Rio de Janeiro teve um carterrelativo,nosignificando uma derrocadareal. Sua estrutura produtiva manteve a trajetria deexpanso e diversificao, no havendo de modo generalizado qualquer movi-mento que indicasse encolhimento real da produo.

    Sem minimizar as dificuldades enfrentadas pela produo regional, de-vemos considerar que suas perdas so em boa medida resultantes do processo deconcentrao da produo industrial em So Paulo. O Rio de Janeiro, seme-lhana de outras economias regionais, se modernizava, porm a taxas inferiores mdia nacional. O nmero de operrios na indstria paulista cresceu 10,7% en-tre 1907-1919. Para o Brasil, essa taxa foi de 4,5% e, para o Rio de Ja neiro (cida dee estado), de 3,5% (Versia ni, 1993: 80).

    Cano (1998: 260) enfa tiza que a re gio teve (...) excelentes con diespara desenvolver um setor industrial mais amplo. Entretanto, algumas ressalvasdevem ser feitas para demonstrar que essa aparente excepcionalidade teve contra

    si uma srie de fatos que atenuaram sua capacidade germinativa, entre as quaisdestaca as deficientes condies de operao e acumulao da economia escra-vista cafeeira e as polticas cambial e tarifria que no favoreceram a industriali-zao mais decisiva (Cano, 1998: 261).

    Lessa (2000: 99) correlaciona a perda relativa da hegemonia econmicalocal derrocada de sua cafeicultura. Mostra que os interesses industriais do Rio

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    no entravam em competio com o interesse de outras unidades territoriais dopas. Para o autor, pelo fato de estar voltado para o pensar poltico nacional, ede sua base produtiva ser de alto interesse nacional, o seu favorecimento noentrava em competio com interesses de outras regies.

    Pignaton (1977: 148) sinaliza que a po sio de lideran a do Rio de Janei-ro na industrializao brasileira ocorreu paralelamente constituio de sri-os entraves estruturais. O maior desses entraves seria a herana escravista, pois autilizao de trabalho compulsrio impediu a consolidao de uma acumulaoem bases concretamente capitalistas.

    Para Melo e Considera (1986), o primeiro momento do processo de cres -cimento industrial do Rio de Janeiro ocorreu en tre 1880 e 1930. Assim comoCano (1998 e 2002), esses autores entendem que a decadncia da cafeicultura fezcom que o dinamismo industrial se arrefecesse. Eles enfatizam que esse cresci-

    mento industrial local pde ser quase que autnomo devido ao elevado gastopblico que ocorria em sua economia.Por sua vez, Leopoldi (1986) expe que o se tor se cun drio da economia

    carioca dividia-se em trs reas manufatura, extrativa e construo civil , res -salta a fragilidade do setor de transformao, e desta ca que a indstria era, comoum todo, muito diversificada. Essa caracterstica seria determinante para a fragi-lizao da indstria local. Para a autora, a derrocada da cafeicultura no sufici-ente para explicar o retrocesso industrial local, pois justamente nas dcadas de1880 e 1890 quando se acentu ou a crise no setor primrio fluminense o Rio deJaneiro se consoli dou como principal posto comercial e financeiro do pas.

    Acrescenta que o advento da Repblica confirmaria sua posio de centralidadepoltico-administrativa, que atravs de reformulaes na poltica econmica dapoca fomentaram e deram bases para a industrializao local.

    Sublinha-se que todo o setor primrio fluminense estava extremamentefragilizado, e no apenas a cafeicultura. Uma das resultantes dessa fragilidadeera a necessidade de se recorrer a outros mercados produtores para o abasteci-mento regional. Isso se convertia em fonte de vazamentos de renda para outrasunidades do pas (Lobo, 1978). Essa situao comprometia o processo de acumu-lao fluminense, pois alm de criar vazamentos, propiciava um nvel mais

    elevado no custo monetrio da cesta de consumo de sua populao. Essa elevaoimplicava um nvel salarial interno maior que o observado em outras economiasdo pas.

    Lobo (1978) acrescenta que a fragilidade da atividade agrcola respon-dia, em parte, pela acentuada terceirizao do mercado de trabalho fluminense.A combinao de debilidade agrcola com forte presena dos setores pblico,

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    mercantil e financeiro transformou a economia regional na mais urbanizada dopas, o que na poca no se conver tia em nenhuma vantagem.

    Grande parte de sua populao ocupada estava concentrada em ativida-des tercirias, especialmente na burocracia estatal e em servios gerais. Para fina-lizar, des taca mos que o cen so de mogr fico de 1919 mostra que 61,6% da po pu la -o ocupada estavam alocados em atividades do setor de servios, sendo que 15%em servios domsticos. A inexpressiva atividade manufatureira fez do empre-go regular um contrato raro no tecido social urbano do Rio (Lessa, 2000: 172).O trabalho assalariado esteve presente, alm das parcas manufaturas, nas ferro-vias, nas companhias de transporte urbano, nos contratistas de servios pblicose na estrutura militar. (...) na Polcia Militar, no Exrcito e na Marinha.

    4. Consideraes finais

    O artigo apresentou em linhas gerais o processo de formao econmicada regio correspondente ao atual estado do Rio de Janeiro, destacando a din-mica de desenvolvimento dos principais setores de sua estrutura produtiva e deservios que responderam pela constituio da posio central da cidade do Riode Janeiro na economia nacional.

    A anlise do texto abarca trs momentos especficos da formao econ-mica regional: 1) a insero regional nos primeiros fluxos importantes da econo-mia colonial; 2) a organizao e estruturao urbana do territrio durante o scu-lo XIX, ensejada pelas transformaes polticas vivenciadas pelo Brasil, pelo ad-vento da cultura cafeeira e pelas atividades de vanguarda da indstria nacional;3) a etapa inicial de consolidao do processo de perdas de participao relativana economia nacional durante as primeiras dcadas do sculo XX.

    Pelo exposto, torna-se evidente a importncia das atividades manufatu-reiras, burocrtico-administrativas, mercantis e agrcolas na conformao e or-ganizao do espao fluminense, o que exemplificado pela acentuada assime-tria historicamente observada na distribuio da renda estadual pelo seu territ-rio.

    Esses setores foram capazes, cada qual em seus perodos, de capitanear oprocesso de desenvolvimento econmico regional e de constituio do Rio de Ja -neiro como um dos espaos centrais da economia brasileira, porm se mostraramincapazes de formar uma malha produtiva regional melhor distribuda territori-almente, o que poderia contribuir sobremaneira para a reduo de vrios proble-mas enfrentados pelo espao metropolitano regional.

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    Notas

    1.O esta do do Rio de Janeiro possuicerca de 44.000 km2, cerca de 0,5% do

    total nacional.

    2.Ver CIDE (2006), IBGE (2006)Silva (2004), Oliveira (2003) e Natal(2001).

    3.Vale assinalar que essa centralidadese refere, no mbito deste trabalho, importncia e ao papel que a estruturaprodutiva e de servios carioca alcanouno equivalente nacional, que oscila entrea pri mazia e a complementaridade,

    dependendo do setor e do perodohistrico analisado.

    4.Sobre o papel da cafeicultura noprocesso de formao econmica do pas,ver Furtado (2000) e Cardoso de Mello(1998).

    5.A separao facilitou o controle e aadministrao da cidade e, no longoprazo, se mostrou um tanto negativapara o interior. Basta apontarmos, attulo de exemplo, que a derrocadacafeeira no foi vista como um problema

    regional, at porque a cidade em quasenada foi afetada por este processo(Lessa, 2000: 123).

    6.Segundo Oliveira, o capitalhegemnico nesse perodo era ocomercial e a cidade era a sua sede porexcelncia. O autor destaca que esse ca r ter de sede do capi talcomercial que responde, na maioriados casos, pelo carter que a urbanizaotoma, por exemplo, no Brasil Colnia edepois (...) no prosseguimento da

    expanso da agricultura de exportaosob a gide do caf at o final dos anos20. Lessa (2000: 122), por sua vez,destaca que o dinamismo da cidade

    do Rio de Janeiro no explicvelpelo do interior. O Rio explica oin terior flu minense, no sentido deque o patamar propulsionador emantenedor do caf fluminense foi ocapital mercantil nacional sediadono Rio.

    7.As exportaes que eram realizadasatravs de pequenos portos no litoralfluminense foram canalizadas para acapital. Com isso, a regio sul do estado Parati um bom exemplo , onde as

    atividades porturias tinham seexpandi do poca da mi nerao,regredido e tomado impulso novamentecom o caf, entrou em de cadncia. Aregio de Campos, com a ligaoferroviria, passou a enviar o acar paraa capital, o que conduziu decadncia acida de de Maca, por onde se escoavagrande parte da produo aucareira daregio. Petrpolis desenvolveu-se comocidade de veraneio, evoluindoposteriormente para atividades

    industriais. No Vale do Paraba,formaram-se novos ncleos urbanosnos entroncamentos ferrovirios.A influncia da capital aumentou nosul do Esprito Santo, em MinasGerais e no Vale do Paraba paulista(Pignaton, 1977: 141).

    8. Cerca de um quarto dos re sidenteslocais eram estrangeiros, notadamenteportugueses.

    9.J na Primeira Guerra o mercado

    do Rio de Janeiro passou a ser abastecidopela indstria paulista em gnerosalimentcios e tecidos (Pignaton, 1977:150).

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    ResumoEste artigo analisa as etapas iniciais do processo de formao da economiafluminense, destacando a dinmica de integrao regional nos fluxoseconmicos brasileiros. Objetiva-se demonstrar em linhas gerais aconstituio do Rio de Janeiro como espao central para a economia e a

    poltica brasileiras. Para tanto, focamos a evoluo urbana e a estruturao desua base produtiva, entre o sculo XVIII e as primeiras dcadas do sculo XX.Nesse perodo, a regio vivenciou dois movimentos opostos: a consolidao desua liderana na economia nacional e a fase inicial do processo de perdasrelativas no produto nacional.Palavras-chave: Rio de Janeiro, urbanizao, desenvolvimento econmico

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    estudos histricos 2007 40

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    AbstractThe article analyses the initial stages of thefluminenseeconomy, highlightingthe regional integration process in Brazilian economic flows. Its purpose is toexamineRio de Janeiro as a central space for Brazilian economy and politics.

    Therefore, the urban evolution and the productive structure building,be tween XVIII century and the first decades of XX cen tury, are stu di ed. Inthis period, the region lived two opposing movements: the leadershipconsolidation in national economy and the initial phase of the process ofrelative losses in the national product.Key words:Rio de Janeiro, urbanization, economic development

    RsumCet article analyse les tapes initiales du processus de formation de

    lconomiefluminense, soulignant la dynamique dintgration rgionale lconomie brsilienne. Le but est de montrer la centralit de la constitutionde Rio de Ja neiro en tant ques pace central de l cono mie et de la politiquebrsiliennes. Pour ce faire, nous abordons lvolution urbaine et lastructuration de sa base productive du XVIIIme sicle aux premiresd cennies du XXme si cle. Dans cette priode, la r gion a t marque pardeux mouvements contraires: la consolidation de son le adershipconomiqueau plan national et dbut de ses pertes relatives par rapport au produitnational.Mots-cls:Rio de Janeiro, urbanisation, dveloppement conomique

    Territrio e desenvolvimento