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V – TERRITÓRIO E NAÇÃO

Território e Nação

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V – TERRITÓRIO E NAÇÃO

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V – TERRITÓRIO E NAÇÃO

om área territorial de 8,5 milhões de km2, plataforma marítima de maisde 4 milhões de km2 e população de 185 milhões de habitantes, o Brasilé considerado uma das três grandes “baleias” mundiais em desenvolvi-

mento, juntamente com a China e a Índia. Paradoxalmente, o país carrega uma he-rança de desigualdades sociais e regionais, demonstradas pela alta concentração darenda e pela exclusão social, que se refletem em um grande número de pobres eindigentes.

Por sua dimensão territorial e diversidade natural, o país constitui um dosmaiores e mais diferenciados patrimônios naturais do mundo. Contém a maior flo-resta tropical do planeta (Amazônia), o extenso planalto central de cerrados – quese transformou na grande fronteira agrícola das últimas décadas –, o semi-áridonordestino – que vem sendo transformado pela agricultura irrigada – , o pantanalmato-grossense, até agora pouco explorado, uma extensa faixa costeira que seestende ao longo de 7.367 km, com resquícios de Mata Atlântica, férteis terrasroxas no Sudeste e no Sul, flora e fauna diversificada, o maior volume de água docedo planeta, amplas e variadas reservas minerais, além da plataforma marítima,ainda pouco conhecida e explorada.

Do ponto de vista populacional e cultural, possui uma experiência valiosa e umgrande potencial. Formado por raças e etnias diferentes (indígenas, africanos,europeus e asiáticos), as miscigenações daí derivadas formam uma cultura rica emultifacetada. O país mantém uma única língua, conservando, porém, toda a diver-sidade das culturas originais, com forte influência na cozinha, na música, na lite-ratura, nos costumes e na economia das diversas regiões.

A ocupação desse vasto território tem sido lenta e irregular. Do descobrimentoaté meados do século XIX a ocupação foi predominantemente costeira (à exceçãodas regiões mineradoras do século XVIII), o que levou Frei Vicente de Salvador aescrever, em meados do século XVII, que os portugueses estavam arranhando acosta do Brasil, como caranguejos. O que, de fato, ocorria, inclusive pelos obstá-culos e proibições que a metrópole impunha à ocupação do interior do país. Maistarde, Jacques Lambert caracterizou a existência de dois Brasis: um da costa e outrodo interior.

Essa herança marca a construção do território até os dias de hoje, o que podeser observado pelo mapa da densidade demográfica e pela distribuição da pro-dução entre as regiões brasileiras (ver mapa 1).

C

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Entre meados do século XIX e mea-dos do século XX, houve diversificaçãoprodutiva, crescimento industrial eurbano e integração do mercado. Noentanto, esse processo implicou umaforte concentração populacional eeconômica no Sudeste, especialmenteem São Paulo, que resultou em grandesdesigualdades econômicas e sociaisentre as regiões brasileiras. Nesse senti-do, a forte concentração econômica naárea metropolitana de São Paulo esta-beleceu as bases de uma relação cen-tro-periferia dentro do país: São Paulopassou a exportar bens industrializadospara o restante do país e importarinsumos industriais e alimentos dasdemais regiões.

A partir da segunda metade doséculo XX, porém, essa dinâmicaregional começa a se alterar. O cresci-mento das produções industrial, agrí-cola e mineral, a expansão e melhoriada infra-estrutura (transportes, energiaelétrica, telecomunicações), a mudançada capital para Brasília, o acelerado

processo de urbanização e a criação dosistema de incentivos ao desenvolvi-mento regional acarretaram umamudança no padrão locacional dasatividades econômicas, com descon-centração industrial, expansão dasfronteiras agropecuária e mineral,crescimento e desconcentração dosserviços.

O resultado é um novo e diversifica-do mapa populacional, social e produ-tivo do país, e, embora ainda forte-mente concentrado no Sudeste e noSul, o que se observa é a formação deum grande número de áreas produti-vas em várias partes do territórionacional, em setores diversificados,caracterizando um Brasil ao mesmotempo integrado e fragmentado. Aessas novas tendências produtivas secombinam novas dinâmicas territoriaisda população e da formação da redeurbana e das metrópoles, indicandoque está em curso uma nítidamudança no padrão territorial do país(ver gráfico 1).

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Do ponto de vista social, a exclusãotornou-se menos rural e mais urbana, emespecial nas grandes metrópoles, onde secombina a concentração da riqueza coma exclusão social e a marginalidade.

O presente capítulo procura discutiras diferentes dimensões do padrãoregional brasileiro e de suas tendênciase apontar os grandes temas que ali-mentam os debates em torno dos ca-minhos para a redução das desigual-dades regionais e sociais e para ummelhor ordenamento do território.

1. OS VÁRIOS BRASIS: COMO TEMMUDADO A DINÂMICA POPULACIONAL NO PAÍS?

Entre 1950 e 2000 a populaçãobrasileira mais do que triplicou, su-bindo de 52 para 170 milhões de habi-tantes. A previsão é de que alcance 200milhões de habitantes por volta de2012, embora a queda na taxa decrescimento demográfico tenha sidocontínua nas últimas décadas1.

Naquele período, a distribuiçãoregional da população apresentougrandes mudanças, impulsionadas prin-cipalmente pelos movimentos mi-gratórios e, em segundo lugar, em fun-ção das diferentes taxas de fecundidadenos estados brasileiros (ver gráficos 2 e3). Inicialmente, os movimentos migra-tórios originários do Nordeste e do esta-do de Minas Gerais, regiões de ocupa-ção antiga e estagnada, se dirigiam àcidade do Rio de Janeiro e ao estado deSão Paulo e, posteriormente, tambémpara outras regiões do país. Isso fez comque as participações do Nordeste e deMinas Gerais caíssem, respectivamente,de 47% e 20% do total nacional em1872 (primeira contagem demográfica)para 28% e 11% em 2000.

Nos últimos trinta anos2, as mu-danças populacionais aceleraram-se eapresentaram novas dimensões. A re-gião Nordeste continuou perdendopopulação, mas o fenômeno ganhouritmos diferentes em cada estado.Enquanto o Ceará e o Rio Grande do

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Norte conseguiram reduzir a emi-gração, por força da expansãoeconômica e da geração de oportu-nidades de trabalho, os estados de

Pernambuco, Alagoas e Bahia não pu-deram conter a evasão populacional.Os dois primeiros, como conseqüênciadireta da crise econômica. Já a Bahia,

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que aumentou ligeiramente a partici-pação no PIB nacional nesse período,continuou pressionada pelo tamanhode sua população, uma vez que aexpansão de sua economia se concen-trou em atividades que geram pequenademanda de trabalho, como as indús-trias petroquímica e de celulose e a cul-

tura da soja. De outra parte, embora oestado de São Paulo continue sendo oprincipal destino dos migrantes bra-sileiros, perdeu importância relativa nocenário nacional, em função da criseeconômica, da redução das oportu-nidades de trabalho e do aumento dodesemprego (ver tabela 1).

Tabela 1 – Evolução da distribuição da população – estados e regiões, 1950,1970 e 2000

Brasil 51.944.397 94.461.969 169 799 170

Região Norte 1.844.655 4.181.739 12.900.704

Rondônia 0,07 0,12 0,81Acre 0,22 0,23 0,33Amazonas 0,99 1,02 1,66Roraima 0,03 0,04 0,19Pará 2,16 2,32 3,65Amapá 0,07 0,12 0,28Tocantins 0,57 0,68

Região Nordeste 17.973.413 28.653.724 47.741.711

Maranhão 3,05 3,21 3,33Piauí 2,01 1,84 1,67Ceará 5,19 4,75 4,38Rio Grande do Norte 1,86 1,70 1,64Paraíba 3,30 2,59 2,03Pernambuco 6,54 5,56 4,66Alagoas 2,10 1,70 1,66Sergipe 1,24 0,96 1,05Bahia 9,31 8,02 7,70

Região Sudeste 22.548.494 40.324.647 72.412.411

Minas Gerais 15,06 12,32 10,54Espírito Santo 1,76 1,71 1,82Rio de Janeiro 9,00 9,64 8,48São Paulo 17,59 19,01 21,81

Região Sul 7.840.870 16.676.637 25.107.616

Paraná 4,07 7,40 5,63Santa Catarina 3,00 3,10 3,15Rio Grande do Sul 8,02 7,15 6,00

Região Centro-Oeste 1.736.965 4.625.222 11.636.728

Mato Grosso do Sul 1,07 1,22Mato Grosso 1,01 0,65 1,47Goiás 2,34 2,60 2,95Distrito Federal 0,58 1,21

Fonte: IBGE – censos demográficos.

Grandes regiões e Unidades da

Federação 2000

População residente/participação na população

1950 1970

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No Sudeste, a partir de 1995, outramudança importante ocorreu emMinas Gerais, que pela primeira vezem mais de um século deixou deperder população. Isso foi possível emfunção da diversificação da economiado estado, com a expansão da cafei-cultura, da agricultura nos cerrados ea ampliação da rede urbano-indus-trial. No Norte, o estado que maisperdeu população nos últimos anosfoi o Pará, boa parte dela tendo se

deslocado para outros estados damesma região. Já na região Sul, oParaná conseguiu conter a emigração,enquanto os gaúchos continuarambuscando oportunidades em outrosestados. Por fim, Goiás destaca-se noCentro-Oeste por constituir o segundodestino mais procurado pelos mi-grantes brasileiros, condição estimula-da pela atração exercida por Brasília epela ampliação da área de influênciado Distrito Federal (ver tabela 2).

Tabela 2 – Brasil: taxas líquidas de migração qüinqüenais por estados e regiões –população de cinco anos ou mais de idade, 1975-1980, 1986-1991, 1995-2000

1975-1980 1986-1991 1995-2000

Região Norte 5,74 0,11 0,68

Rondônia 36,76 -9,46 1,04Acre -1,49 -0,31 -0,31Amazonas 0,95 1,0 1,4Roraima 10,2 15,6 12,43Pará 5,25 0,71 -0,87Amapá 4,24 6,92 7,33Tocantins ----- 1,35 1,34

Região Nordeste -2,97 -2,35 -1,74

Maranhão -3,33 -3,18 -3,46Piauí -5,89 -2,95 -2,01Ceará -3,81 -2,21 -0,31Rio Grande do Norte -4,88 -0,03 0,31Paraíba -5,89 -3,03 -1,93Pernambuco -0,88 -2,3 -1,56Alagoas -1,81 -2,36 -2,85Sergipe -4,44 1,06 -0,26Bahia -1,89 -2,69 -2,23

Região Sudeste 2,22 1,21 0,83

Minas Gerais -2 -0,73 0,31Espírito Santo -0,37 1,95 1,3Rio de Janeiro 1,05 -0,28 0,47São Paulo 5,17 2,7 1,18

Região Sul -3,77 -0,85 0,15

Paraná -8,74 -2,61 -0,06Santa Catarina 0,54 1,17 1,39Rio Grande do Sul -0,98 -0,23 -0,31

Região Centro-Oeste 4,94 3,6 2,75

Mato Grosso do Sul 3,24 1,51 -0,13Mato Grosso 11,92 6,17 2,32Goiás -1,29 3,15 4,58Distrito Federal 16,91 3,82 1,73

Fonte: IBGE – Censos demográficos (1980, 1991 e 2000). Cálculos efetuados por Ricardo Alexandrino Garcia.Nota: * Saldo migratório do qüinqüênio dividido pela população enumerada ao final do qüinqüênio (população de 5 e mais anosde idade).Obs.: Há casos de pequeno saldo migratório, como em MG e, em parte SP, mas com grande número de imigrantes.

Estados/regiõesTaxas líquidas de migração

qüinqüenais (%)*

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Grau de urbanização – É o índice correspondente àporcentagem da populaçãoque vive em áreas urbanas.São caracterizadas comozonas urbanas todas assedes dos municípios(cidades) e todas as sedesdos distritos (vilas),independentemente donúmero de seus habitantes.Para calcular o grau deurbanização contam-setodos os moradores dessasáreas. De acordo com oCenso Demográfico de 2000,o grau de urbanização noBrasil era de 81,2%.

1.1. O acelerado processo de urbanização

No Brasil, o padrão de ocupaçãorural ao longo de vários séculos foiextensivo (baseado em grandes exten-sões de terras), em função de suacondição colonial e, mais tarde, de paísprimário exportador. Nessas fases, ascidades cumpriam o papel de centrospolíticos e de controle, e não de cen-tros de produção ou de consumo,como ocorria nos países centrais(Christaller,1966; Jacobs, 1961).

A partir do início do século XX, emsintonia com o crescimento da pro-dução industrial e ampliação do merca-do nacional, as cidades se expandem.O grande salto, de fato, ocorreu com odesenvolvimento da infra-estrutura,especialmente transportes e energiaelétrica, a partir da administração deJuscelino Kubitschek (1956-1961). Essaexpansão foi mais expressiva na regiãoSudeste, por ser a mais populosa emais desenvolvida do país.

O crescimento demográfico foiacompanhado de um rápido processode urbanização, impulsionado pelo

desenvolvimento da indústria e peloseu impacto na renda dos traba-lhadores e nos serviços urbanos. Nocampo, paralelamente, o avanço damecanização e das transformações tec-nológicas na agricultura reduziu ademanda por trabalho, o que levougrandes contingentes populacionais afugir das precárias condições de sub-sistência. Assim, o ritmo da urbaniza-ção refletiu mudanças estruturais daeconomia brasileira relacionadas dire-tamente com emprego e renda, como aredução da importância relativa daagropecuária e da indústria e o aumen-to da participação dos serviços, loca-lizados preferencialmente nas cidades.

Entre 1950 e 2000, o grau deurbanização subiu do patamar de 30%para 80% da população brasileira. Damesma forma que o crescimentodemográfico, o processo de urbaniza-ção ocorreu em ritmo desigual entre osestados e regiões do país (ver gráficos4 e 5). Enquanto em algumas unidadeso grau de urbanização superava 95%,como São Paulo e Rio de Janeiro, ou-tros ainda apresentavam taxas emtorno de 50%, como Maranhão e Pará.

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O crescimento da população e orápido processo de urbanização ge-raram o aumento de toda a redeurbana e das grandes cidades em par-ticular. O número de cidades subiu de1.889, em 1950, para 5.507, em 2000.Ao mesmo tempo, os núcleos urbanosexpandiram-se fortemente: o númerode cidades com população acima de 50

mil habitantes subiu de 38, em 1950,para 124, em 1970, e alcançou 409, em2000 (ver gráfico 6 e mapas 2 e 3).Entre estas, 202 contam com popu-lação superior a 100 mil habitantes.Muitas dessas cidades têm suas áreasurbanas contíguas a outras, o que fezampliar o tamanho das concentraçõesurbanas.

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Fonte: IBGE. Malha Municipal do Brasil (1997). IBGE. Censo Demográfico do Brasil (2000). Elaboração: Bernardo Palhares Campolina Diniz.

A atual configuração da redeurbana reflete e ao mesmo tempodetermina a nova geografia econômi-ca. Como se pode observar no mapa 3,

a rede urbana das regiões Sudeste eSul, onde estão concentradas asmaiores parcelas da produção e dariqueza, é a mais densa do país. Nessas

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regiões estão localizadas as grandesmetrópoles nacionais, com destaquepara São Paulo, Rio de Janeiro, BeloHorizonte, Porto Alegre e Curitiba. Aampliação e melhoria dos sistemas detransportes e de comunicações fortale-cem a integração econômica dessamacrorregião e reforçam a concen-tração espacial das indústrias e dosserviços. Observa-se também o cresci-mento das cidades médias nas regiõesagrícolas mais desenvolvidas, tantonas áreas consolidadas do Sudeste edo Sul, quanto nas zonas de agro-pecuária extensiva dos cerrados e dafranja amazônica. Embora nessas sub-regiões a rede urbana ainda seja dis-persa e a oferta de serviços limitada,elas vêm apresentando grande dina-mismo em função da expansão eco-nômica.

Mesmo no Nordeste, onde a altaconcentração populacional limita-se aalgumas metrópoles, como Salvador,Recife e Fortaleza, e são poucas as

cidades de porte médio, vem ocorren-do uma ligeira expansão da redeurbana. Ao lado do crescimento dasdemais capitais, novas cidades ganhamdinamismo, como decorrência daampliação das atividades agrícolas nocerrado e nas áreas irrigadas.

1.2. Concentração da pobreza: os desafios da gestão metropolitana

Existem hoje no Brasil 16 aglome-rações urbanas com mais de 1 milhãode habitantes cada, lideradas pelasmegametrópoles de São Paulo e Rio deJaneiro (ver mapa 4). Tal concentraçãopopulacional, sem o correspondentecrescimento da oferta de infra-estrutu-ra física (moradias, saneamento, trans-porte público), social (educação, saúde,lazer), emprego e renda leva grandeparte da população a viver, de maneiraprecária, em favelas ou cortiços, ondeproliferam a miséria, a degradaçãohumana e a violência.

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Região Metropolitana (RM)– As RMs foram criadas pelogoverno federal em 1973, apartir das seguintescaracterísticas: populaçãosuperior a 800 milhabitantes, mobilidadepopulacional permanentedentro da região,disponibilidade de serviçospúblicos de interessecomum, existência demetrópole de importâncianacional e de outras cidadesvinculadas à metrópoleprincipal. Até 1988, acompetência de seformalizar a criação deregiões metropolitanas erado governo federal. A Constituição de 1988delegou a criação das RMsaos estados. Atualmente, há 30 regiõesmetropolitanas.

Nesse sentido, o capítulo Pobreza eExclusão Social mostra que, em 2002, opaís possuía 49 milhões de pessoas nacondição de pobres, sendo 19 milhõesna condição de indigentes. Deste con-tingente, 10 milhões de pobres e 3 mi-lhões de indigentes viviam nas noveregiões metropolitanas, oficialmentecriadas na década de 70 (São Paulo, Riode Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, BeloHorizonte, Salvador, Recife, Fortaleza eBelém). Outros 25 milhões de pobres e9 milhões de indigentes estavam emáreas urbanas fora das nove metró-poles mencionadas (ver capítulo Pobre-za e Exclusão Social).

Essas dezesseis aglomerações urba-nas com mais de 1 milhão de habi-tantes continuam crescendo a taxas

elevadas, agravando os problemassociais brasileiros (ver tabela 3). Omaior exemplo é o da Região Me-tropolitana de São Paulo, com seus17,8 milhões de habitantes em 2000 eum acréscimo anual de 250 mil a 300mil habitantes, ou seja, mais de 1 mi-lhão de habitantes a cada quatro anos.Nessa região, em um raio de até 100km do centro de São Paulo, encontram-se outras importantes aglomeraçõesurbanas, como São José dos Campos,Campinas, Sorocaba e Santos. Com acrescente comutação diária de pessoasentre essas cidades, está se formandouma superaglomeração de 25 milhõesde habitantes, o equivalente a doisterços de toda a população daArgentina.

Tabela 3 – Aglomerações metropolitanas, população e taxa de crescimento

São Paulo 17.834 4,5 1,6 2,6

Rio de Janeiro 10.872 2,4 1,1 1,5

Belo Horizonte 4.241 4,6 2,4 3,2

Porto Alegre 3.508 3,8 1,6 2,7

Recife 3.332 2,7 1,5 2,0

Salvador 3.018 4,4 2,1 3,3

Fortaleza 2.843 4,3 2,3 3,4

Curitiba 2.718 5,5 3,2 3,9

Campinas 2.198 6,6 2,4 4,2

Brasília 2.043 8,2 2,7 4,6

Belém 1.795 4,3 2,8 3,3

Goiânia 1.675 6,2 3,1 4,3

Manaus 1.596 5,0 3,3 4,6

Baixada Santista 1.475 3,9 2,1 2,8

Vitória 1.337 6,2 2,6 4,2

São Luís 1.068 5,1 3,0 4,3

Subtotal 61.553 -- -- --

Brasil 169.591 2,5 1,6 2,0

Fonte: IBGE – Censos demográficos, vários anos.

EspecificaçõesAnos 70 Anos 90 1970-2000

Taxa média anual de crescimentoPopulação em2000 em milhabitantes

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Valor da TransformaçãoIndustrial (VTI) – É o valorgerado (adicionado) duranteo processo produtivo, pormeio da incorporação dotrabalho e da remuneraçãoao capital. Corresponde aoproduto do setor industrial eresulta do valor bruto daprodução do qual sãosubtraídos os custos dasoperações industriais(matérias-primas, insumos eserviços e materiaisauxiliares).

Mesmo a Região Metropolitana doRio de Janeiro, que teve sua taxa decrescimento demográfica reduzidadesde a década de 80 para cerca de 1%ao ano, ainda apresenta um nível deexpansão elevado (da ordem de 100mil pessoas ao ano), considerando seutamanho e as dificuldades econômicase sociais do estado.

Da mesma forma, cidades comoBelo Horizonte e Porto Alegre são alvosde preocupação. Com populações quese aproximam dos 5 e 4 milhões dehabitantes, respectivamente, seguemreproduzindo as condições precárias devida dos maiores centros brasileiros. Nocaso das metrópoles nordestinas, comoSalvador, Recife e Fortaleza, o dramasocial é ainda agravado pelos menoresníveis de escolaridade e de rendaregionais e pelas reduzidas oportu-nidades de trabalho.

Um grande desafio para o país é aadministração dessas aglomeraçõesurbanas, muitas delas com dezenas demunicípios. Em face da autonomiamunicipal, a gestão pública dessasaglomerações torna-se um problemabastante complexo e exige um grandeesforço de articulação e de cooperaçãointergovernamental.

2. QUAIS OS PRINCIPAIS DETERMINANTES DO PADRÃO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO?

Na origem das mudanças apontadasestão transformações importantesocorridas nos últimos trinta anos naindústria e na agricultura brasileiras,em conjunto com a dinamização desetores modernos da prestação deserviços.

Com relação à indústria, combina-ram-se quatro grandes tendências:ampliação do espaço de influência daRegião Metropolitana de São Paulo,

que alcançou as aglomerações urbanasvizinhas; alta concentração de indús-trias na área compreendida entre ocentro de Minas Gerais e o nordeste doRio Grande do Sul; deslocamento deindústrias tradicionais para o Nordestee criação de novas indústrias nessaregião; e surgimento de núcleos agro-minero-industriais no centro-oeste enorte do país. Na agricultura, trêsmovimentos simultâneos contribuírampara reforçar o impacto dessas trans-formações: o deslocamento da pro-dução agropecuária extensiva para aregião dos cerrados, a mudança nopadrão de produção nas áreas já con-solidadas e o crescimento da agricul-tura irrigada no Nordeste. Os serviços,por sua vez, seguem uma dinâmicasemelhante de desconcentração geo-gráfica da produção industrial eagropecuária, com o deslocamento dapopulação e o crescimento da redeurbana.

2.1. Ampliação da área metropolitana de São Paulo

As mudanças na distribuição daindústria no território foram desen-cadeadas pelo crescimento aceleradoda economia verificado a partir demeados da década de 60 até o final dadécada de 70. Nesse período, todos osestados cresceram, inclusive o próprioestado de São Paulo e sua área metro-politana. No entanto, a maioria dosestados, exceto Rio de Janeiro ePernambuco, cresceu mais que SãoPaulo, favorecendo uma ampla descon-centração industrial, viabilizada pelodeslocamento de investimentos paraoutras regiões. É o que mostram osgráficos 7 e 8, com a evolução do Valorda Transformação Industrial (VTI)para as regiões e os estados brasileiros,no período entre 1970 e 2000.

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171 Brasil: o estado de uma nação

A partir da década de 80, a criseeconômica e profundas mudançastecnológicas e organizacionais reduzi-ram esse movimento e provocaramum forte processo de reestruturação

da indústria brasileira. Como conse-qüência direta, houve queda noemprego industrial, que afetou emgrande proporção a Região Metro-politana de São Paulo (RMSP).

Fonte: IBGE – Censos Industriais (1970) e Contas Regionais (2000).

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172Brasil: o estado de uma nação

Segundo a Rais (Relação Anual deInformações Sociais, do Ministério doTrabalho), entre 1986 e 2002, quase 1milhão de empregos industriais desa-

pareceu na Grande São Paulo,enquanto no restante do país aredução foi de cerca de 700 milempregos no setor (ver gráfico 9).

Embora tenha perdido importânciarelativa na produção industrial, a áreametropolitana de São Paulo reforçouseu papel de centro econômiconacional, à medida que concentrou aprodução de serviços modernos, cons-tituindo-se na principal base de inte-gração econômica à rede de me-trópoles mundiais. Em São Paulo,intensificaram-se as atividades finan-ceiras (bancos, corretoras e bolsas deações, mercadorias e títulos), ativi-dades comerciais, serviços educa-cionais e de pesquisa (universidades,institutos de pesquisa), serviços de con-sultoria e apoio (marketing, advocacia,auditoria, engenharia, consultoriaeconômica, informática), sedes deempresas, órgãos de representaçãoeconômica, serviços de transporte decargas e passageiros, hotelaria e

restaurantes, medicina avançada, e asatividades culturais e de lazer.

Analisando a distribuição regionaldas patentes concedidas no Brasil noperíodo 1999-2001, Diniz e Gonçalves(2000) demonstram que a grande con-centração estava exatamente na áreametropolitana de São Paulo e nasregiões próximas, formando um ver-dadeiro corredor entre São José dosCampos e Uberaba, passando pela áreametropolitana de São Paulo, Campinas,São Carlos, Ribeirão Preto e áreas próxi-mas, reproduzindo o efeito de transbor-damento e de proximidade decorrentedos processos de inovação. Lemos et alii(2005, no prelo) chega a conclusõessemelhantes, partindo do desempenhodas firmas industriais exportadoras emtermos de inovação, com base nosdados da PIA-IBGE e da Pintec.

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173 Brasil: o estado de uma nação

Levantamentos realizados por Tolosa(2002), considerando os investimentosprogramados em 37 atividades pri-vadas, para o período 1995-2000, con-cluiu que um volume em torno de US$ 33 bilhões dirigiu-se à RegiãoMetropolitana de São Paulo3, US$ 16bilhões para a região de Campinas eUS$ 11 bilhões para a região de SãoJosé dos Campos, totalizando US$ 59bilhões, o que demonstra a força pola-rizadora de São Paulo e de seu entorno(ver quadro 1). Soma-se aos investi-mentos privados a maior obra de infra-

estrutura do país, que é o anel rodo-viário de São Paulo (Rodoanel), comextensão aproximada de 200 km einvestimento estimado em US$ 5 bi-lhões. Esse anel corta os grandes eixosviários que saem da cidade de SãoPaulo e facilita a integração diretaentre Santos, Sorocaba, Campinas eSão José dos Campos. Além de con-tribuir para resolver os problemas detráfego e congestionamento no muni-cípio de São Paulo, o projeto reforçaráa importância dessa mesorregião nocenário industrial do país.

Em um raio de até 100 km em torno da cidade de São Paulo concentra-se

60% da ocupação industrial brasileira. A integração da RMSP com as regiões

de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos aumenta a importân-

cia econômica e estratégica dessa mesorregião na economia brasileira (Diniz

e Diniz, 2004).

Os municípios de Campinas e São José dos Campos possuem uma das

mais avançadas infra-estruturas de ciência e tecnologia do país. Além de

importantes universidades como a Unicamp (Universidade Estadual de

Campinas) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), possuem um con-

junto de instituições de pesquisa, como o CPqD (Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento em Telecomunicações), LNLS (Laboratório Nacional de Luz

Síncrotron), IAC (Instituto Agronômico), CTA (Centro Técnico Aeroespacial),

amplo mercado de trabalho especializado e uma infra-estrutura física, que

conta ainda com crescente transporte aéreo pelo Aeroporto Internacional de

Viracopos, em Campinas. Possuem também importante base industrial, com

grande presença de empresas multinacionais e brasileiras de tecnologia, a

exemplo da Embraer, em São José dos Campos, IBM, Compaq, Rhodia, em

Campinas, entre outras (Diniz e Razavi, 1999). Essa região concentra, portan-

to, condições muito favoráveis para o desenvolvimento industrial e dos

serviços nos segmentos tecnologicamente mais complexos e sofisticados.

QUADRO 1 – Eixo de ciência e tecnologia

Page 18: Território e Nação

174Brasil: o estado de uma nação

Economia de aglomeração– É a redução dos custos deprodução em função dasexternalidades (vantagens ou facilidades)proporcionadas pelaexistência de outrasatividades que se situampróximas (aglomeradas). Por exemplo, a existência de mão-de-obra, produtoresde insumos, comércio,serviços, assistência técnicaetc., concentrados epróximos à unidade deprodução.

mecânica, eletroeletrônica e química,que possuem fortes ligações entre si esão capazes de influenciar a constitui-ção de redes em função da proximi-dade ou vizinhança com outras indús-trias e com centros urbanos dotadosde serviços modernos, gerando aschamadas economias externas e deaglomeração4. Em conseqüência,entre 1970 e 2000, a participação dosestados de Minas Gerais, São Paulo,Paraná, Santa Catarina e Rio Grandedo Sul, excluída a área metropolitanade São Paulo, foi ampliada de 33%para 48% na produção industrialbrasileira.

2.2. A reaglomeração macrorregionaldo centro de Minas Gerais aonordeste do Rio Grande do Sul

Ao mesmo tempo em que a indús-tria paulista expandia-se, o movimentode desconcentração da produção e dapopulação resultou na formação deuma ampla rede urbano-industrial quealcançou as regiões Sudeste e Sul dopaís (ver mapa 5), configurando umpolígono cujos vértices são: BeloHorizonte, Uberlândia, Londrina, PortoAlegre, Florianópolis e São José dosCampos. Nesta extensa área concen-tram-se indústrias como a metal-

A constituição desse novo espaço deconcentração da atividade econômica,dotado de condições importantes parao desenvolvimento de indústrias inten-sivas em conhecimento e inovação,deverá manter a tendência de localiza-ção de indústrias modernas – que uti-lizam tecnologia avançada, como a

microeletrônica, informática, teleco-municações, química fina e biotecnolo-gia – no referido polígono industrial.Com isso, ganha impulso o crescimen-to de metrópoles como Curitiba, BeloHorizonte, Porto Alegre, além dascidades médias, especialmente aquelaslocalizadas nas regiões Sudeste e Sul.

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175 Brasil: o estado de uma nação

Além da Região Metropolitana deSão Paulo, cabe mencionar as mesor-regiões com desempenho industrialpositivo nos últimos anos e condiçõeslocacionais favoráveis, a saber: a) PortoAlegre, Caxias do Sul; b) Florianópolis,Itajaí, Blumenau, Jaraguá do Sul,Joinville; c) Curitiba, Ponta Grossa; d) Londrina, Apucarana e Maringá; e) São José dos Campos, Taubaté; f) Campinas, Piracicaba, São Carlos,Araraquara e Moji-Guaçu; g) RibeirãoPreto, São José do Rio Preto, Franca; h) Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí,Itajubá, Poços de Caldas; i) BeloHorizonte, Sete Lagoas, Divinópolis,Itaúna; j) Uberaba, Uberlândia, SantaHelena e Catalão.

2.3. O crescimento industrial doNordeste brasileiro

Apesar de seguir o padrão de con-centração assinalado, a indústria dis-

semina-se por todas as regiõesbrasileiras. No Nordeste, o sistema deincentivos fiscais administrado pelaSudene e a melhoria da infra-estruturaregional permitiram o fortalecimentodo setor, que aumentou sua partici-pação na produção industrial brasileirade 5,7% para 8,3%, entre 1970 e 2000(Diniz e Basques, 2005, no prelo) (vermapas 6 e 7).

Bahia e Ceará foram os estadosque mais se destacaram. No casobaiano, a expansão industrial foi deci-sivamente influenciada pela insta-lação e ampliação do pólo petro-químico, uma iniciativa do governofederal, sustentada pela Petrobras eviabilizada por capital de origemdiversa: público federal, estrangeiro eprivado nacional. A esse projetosomam-se a nova unidade automotivada Ford e outras indústrias atraídasmais recentemente, como a de papelno sul do estado e a de calçados.

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176Brasil: o estado de uma nação

Já no Ceará houve a combinação dedois movimentos: a atração de indús-trias têxteis, de confecções e de calça-dos dos estados da região Centro-Sul, eo crescimento das empresas locais,como resultado de uma articulaçãoentre o poder político e a ascensão deuma nova elite empresarial, apoiadaem incentivos fiscais e mão-de-obrabarata (Coimbra e Rosa, 1999). Emboraimportantes para o aumento doemprego e da renda, essas atividadesnão apresentam condições de gerargrandes e diversificadas aglomeraçõesindustriais, ainda que a região deFortaleza reúna uma série de atributosque poderiam ampliar esse parqueindustrial, como o nível de qualificaçãoprofissional, escala, capacidade degestão e de marketing etc. Essascondições poderão ser reforçadas pelosnovos investimentos no complexo por-tuário do Pecém.

Como conseqüência da dinamizaçãoindustrial do Nordeste, entre 1970 e

2000, o estado do Ceará aumentou suaparticipação no valor agregado daindústria do Nordeste de 13% para21%, e a Bahia, de 27% para 44%,enquanto Pernambuco viu sua partici-pação cair de 38% para 14%. Com aexpansão foram criados centros indus-triais com características diversificadas(ver quadro 2).

É importante ressaltar que o desen-volvimento da agricultura irrigadaestimula a agroindústria em Petrolina(PE)/Juazeiro (BA) e Mossoró/Açu (RN),enquanto a expansão da agriculturaextensiva de grãos nos cerrados poderáfacilitar a sua implantação em locali-dades como Imperatriz (MA), Barreiras(BA), Balsas (MA) e Uruçuí (PI).

2.4. Crescimento industrial nasregiões Centro-Oeste e Norte do país

Na região Norte destacam-se doiscentros industriais: Manaus e Belém.

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177 Brasil: o estado de uma nação

O impacto do deslocamento de indústrias para a região Nordeste nas últimas décadas podeser medido pelo número de microrregiões que possuem mais de 5 mil pessoas ocupadas na indús-tria. Elas aumentaram de 10, em 1970, para 26, em 2000. Essas aglomerações, que concentram81% do emprego industrial da região Nordeste, em 2003, podem ser assim caracterizadas: • Centros industriais urbanos, de dimensão média, em expansão, que passaram a atrair

investimentos em setores industriais leves, especialmente nos segmentos têxtil, de con-fecções, calçados e produtos alimentares. Concorrem com as grandes capitais nordesti-nas por apresentar melhoria da infra-estrutura e da oferta de serviços, boas condiçõeshabitacionais e salários ainda menores (Diniz e Basques, 2005 no prelo): Aracajú, Maceió,João Pessoa, Natal, Teresina, Campina Grande e São Luís. Esta capital destaca-se aindapelo crescimento proporcionado pelos impactos da ferrovia que a liga a Carajás, pelomovimento de exportações (minério, produtos siderúrgicos, grãos) e pelos investimentosatraídos por essa infra-estrutura e pela base exportadora lá montada.

• Áreas industriais de menor dimensão e com maiores limitações na oferta de serviçosurbanos: Ilhéus-Itabuna, Feira de Santana, Caruaru.

• Grande unidade industrial isolada: Sobral.

QUADRO 2 – Novas aglomerações industriais no Nordeste

O distrito industrial de Manaus foi cons-tituído por decisão governamentalcomo parte de uma estratégia geopolíti-ca de ocupação da Amazônia. Foi apoia-do por um forte sistema de incentivosfiscais e especializou-se na produção debens duráveis de consumo, predomi-nantemente eletrônicos. Essa indústriacresceu de forma rápida nas décadas de70 e 80 e entrou em crise com a abertu-ra da economia promovida a partir de1990 (Diniz e Santos, 1999). Para adap-

tar-se ao novo contexto econômico, elapassou por reestruturações, incorporan-do inovações tecnológicas significativas,que lhe dão uma nova dimensão eimportância regional e nacional (Fi-gueiredo e Diniz, 2000). Belém, por suavez, transformou-se em base de pres-tação de serviços para a Amazônia. Suaprodução está baseada na agroindús-tria, na indústria da madeira e em pro-dutos de consumo para o mercado locale regional.

No Centro-Oeste, a cidade deGoiânia mantém-se como um pólo deserviços para a atividade agrícola daregião, mas transforma-se continua-mente, desenvolvendo um parqueindustrial mais sólido. O destaque é aformação de um corredor industrialentre Goiânia e Anápolis, especializadoem produtos farmacêuticos e vete-rinários. Com a expansão da agricul-tura nos cerrados, a agroindústria tam-bém instala-se em Campo Grande,Iguatemi e Dourados, no Mato Grossodo Sul, Sinop, Cuiabá e Rondonópolis,no Mato Grosso, Rio Verde e Itumbiara,

em Goiás, além da implantação devárias indústrias na periferia de Brasília.

2.5. Os três movimentos simultâneosda produção agropecuária

A dinâmica regional da produçãoagropecuária no Brasil pode ser sinteti-zada em três grandes movimentosespaciais: o deslocamento da produçãopecuária, de grãos e de algodão para aregião dos cerrados; a intensificaçãoprodutiva nas regiões mais desenvolvi-das; e o crescimento das áreas irrigadasdo Nordeste (ver mapas 8 e 9).

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178Brasil: o estado de uma nação

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179 Brasil: o estado de uma nação

Expansão da produção extensiva nos cerrados

A expansão da produção agro-pecuária nos cerrados foi viabilizadapelas transformações tecnológicas quepossibilitaram a incorporação produti-va dos cerrados a partir da década de70 e pela intencionalidade da políticaeconômica em termos de construçãoda infra-estrutura e barateamento daformação de capital por meio de incen-tivos governamentais.

Para o avanço tecnológico foi decisi-va a participação da Embrapa, em con-junto com as universidades, centros depesquisa e cooperativas de produtores(ver quadro Inovações na Agropecuária,no capítulo Inovação e Competiti-vidade). No que se refere à infra-estrutu-ra, além da expansão do sistema

rodoviário foi implantada a ferroviaFerronorte, ligando Cuiabá a São Paulo.

Os cerrados estão especializando-sena produção de grãos, algodão epecuária bovina. A produção brasileirados cinco principais grãos (arroz, feijão,milho, soja e trigo) multiplicou 3,6vezes em três décadas, subindo damédia anual de 25 milhões detoneladas, no triênio 1968-1970, para95 milhões de toneladas, no triênio2000-2002. Do ponto de vista da par-ticipação regional, as mudanças foramsignificativas. Enquanto a participaçãodo Sul estabilizou-se entre 46% e 47%do total nacional, a do Sudeste caiu de31% para 14%, e a nordestina de 12%para 7%. Em contrapartida, a partici-pação do Centro-Oeste subiu de 11%para 30% no mesmo período (vertabela 4 e gráfico 10).

Tabela 4 – Distribuição do valor da produção na agropecuária da produção degrãos, do efetivo de bovinos e do pessoal ocupado, por estados selecionados

Maranhão 2,1 1,5 3,8 1,7 1,9 2,6 6,7 7,4

Piauí 0,8 0,7 0,8 0,5 1,5 1,0 3,0 3,7

Paraíba 1,4 1,0 1,0 0,1 1,1 0,5 3,3 2,7

Bahia 6,1 4,4 2,1 3,3 7,2 5,3 12,1 14

Mato Grosso do Sul** --- 4,6 ---- 5,3 ---- 12,5 ---- 1,1

Mato Grosso 3,2 4,2 2,9 14,7 12 12 2,1 1,8

Goiás 4,2 5,4 7,9 9,6 9,9 10,8 3,1 2,6

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários (1970 e 1995/1996, previsão de safras).Notas:* Produção de grãos em mil toneladas, efetivo bovino em milhões de cabeças e pessoal ocupado em mil pessoas.** Em 1970 os dados estão somados aos do Mato Grosso.

1970

Valor do produtoagropecuário

Produção de grãos*

Efetivo bovino*

Pessoal ocupado*

1996 1968/70 2000/02 1970 2002 1970 1996

Estados

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180Brasil: o estado de uma nação

Outra mudança relevante foi a intro-dução e rápida expansão da cultura dealgodão no estado do Mato Grosso.Além do crescimento quantitativo, aadaptação tecnológica e climática tempermitido produzir algodão de exce-lente qualidade. Está em curso tambéma experiência inédita de produção dealgodão colorido, graças ao avanço daspesquisas da unidade da Embrapa deCampina Grande (PB). Entre 1990 e2002, o aumento da participação deMato Grosso na produção nacional dealgodão foi expressivo: o estado saltoude 3% para 53%, seguido por Goiás,que subiu de 3% para 14%. Enquantoisso, a participação de São Paulo caiude 27% para 7% e a do Paraná despen-cou de 48% para 4%.

O mesmo deslocamento na direçãocentro-oeste e norte do país tambémpode ser observado com relação àpecuária. O rebanho bovino brasileiroaumentou de 79 milhões para 185 mi-lhões de cabeças, entre 1970 e 2002.Nesse período, as participações doCentro-Oeste e do Norte no total

nacional subiram de 22% para 35%, ede 2% para 16%, respectivamente,enquanto a do Nordeste caiu de 18%para 13%, e a do Sudeste de 34% para21% (ver gráfico 11).

A ampliação de pastagens plan-tadas, as melhorias genéticas, o aper-feiçoamento do controle sanitário e domanejo pecuário têm colocado o Brasilem posição privilegiada. Hoje o paístem capacidade de atender o mercadointerno e expandir as exportações.Beneficiando-se das grandes extensõesde terras, desenvolve-se a alimentaçãode animais em pastagens naturais, daíderivando a denominação “boi verde”.Desse processo obtém-se uma carnemais saudável, em oposição ao confi-namento usado nos países desenvolvi-dos, e de grande aceitação no mercadoexterno.

Essa dinâmica vem atingindo tam-bém os cerrados nordestinos (Bahia,Piauí e Maranhão), onde a produção desoja expande-se de forma significativa.Os cerrados nordestinos possuem carac-terísticas produtivas semelhantes às das

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181 Brasil: o estado de uma nação

demais regiões de cerrados, com a van-tagem da proximidade da ferroviaCarajás-São Luís e do trecho da ferroviaNorte-Sul e do porto de São Luís, commenores custos de transporte, arma-zenagem e embarque.

Esse movimento da agricultura indicao afastamento da produção agrícolaextensiva e mecanizada, de bens demenor valor por área (grãos, algodão,

pecuária), para as regiões de terra maisbarata. Isso fica evidente quando secompara a participação na produção degrãos com a participação no valor daprodução agropecuária e no emprego.O Centro-Oeste participava no triênio2000-2002 com 30% da produção degrãos, com 14% do valor da produçãoagropecuária, e com apenas 6% do pes-soal ocupado (ver gráficos 12 e 13).

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182Brasil: o estado de uma nação

Em contraste, São Paulo participavacom 6% da produção de grãos, 18% dovalor da produção agropecuária, e 5%do pessoal ocupado. Tratam-se de agri-culturas modernas, capitalizadas emercantis, mas a diferença reside naestrutura da produção. Em sentidooposto, caracterizando atraso do setoragropecuário, o Nordeste participavacom 15% do valor da produçãoagropecuária, 7% da produção degrãos e 46% do pessoal ocupado, indi-cando a baixa produtividade do setor.

O deslocamento da produçãoagropecuária tem várias implicaçõeseconômicas, sociais e ambientais. Aexpansão da produção em padrõesmodernos e em regiões de baixa densi-dade demográfica exerce um forteefeito econômico sobre as atividadesurbanas, pela demanda de insumos,máquinas e equipamentos, serviçosbancários e comerciais etc. Por sua vez,a oferta de bens agrícolas comoinsumo à produção industrial atrai

vários projetos de processamentodessa produção. Como conseqüênciada expansão da produção e doemprego, há aumento de renda e dademanda generalizada de bens eserviços (habitação, escola, comércio,lazer). Esse conjunto de efeitos exercepoder multiplicador e expansivo dasatividades urbanas regionais, compro-vado pelo crescimento das cidadeslocalizadas nas regiões de produçãoagrícola moderna e expansiva. Do ladosocial, o dinamismo das regiõesCentro-Oeste e Norte do país vematraindo migrantes originários doNordeste, atenuando a pressão sobreas grandes áreas metropolitanas, espe-cialmente São Paulo e Rio de Janeiro,nas quais se agravam os problemassociais e de desemprego.

Contudo, a expansão acelerada daprodução aumenta os riscos dedegradação ambiental, pelo desmata-mento descontrolado e muitas vezesclandestino, pela poluição das águas e

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183 Brasil: o estado de uma nação

Agricultura extensiva eintensiva – A agriculturaextensiva caracteriza-se porseu crescimento viaincorporação de novas terrasou exigência de uma grandequantidade de terras. Em geral, é pouco intensivaem tecnologia e insumosmodernos. São exemplos aexpansão da produção desoja e da pecuária de corte.A agricultura intensiva temum grande volume ou valorda produção por área, utilizatecnologia e insumosmodernos e é, em geral,localizada em terras maiscaras e mais próximas aosgrandes mercados. Sãoexemplos a horticultura, amoderna pecuária leiteira e afruticultura irrigada.

pelos efeitos do uso de agentes quími-cos sobre a flora e a fauna. Assim, damesma forma que o alargamento dasfronteiras agropecuárias amplia opotencial para a expansão econômica,favorecendo o processo de desconcen-tração regional e de geração deemprego e renda, ele aumenta osriscos e a necessidade de cuidados econtrole sobre o meio ambiente.

As transformações estruturais daagropecuária nas regiões consolidadas

O deslocamento da agriculturaextensiva da produção de grãos, algo-dão e pecuária para as regiões Norte eCentro-Oeste foi acompanhado deimportantes transformações estrutu-rais na agropecuária do Sudeste. EmSão Paulo, há crescimento da produçãode cana-de-açúcar e laranja, além dehorticultura e fruticultura, sinalizandopara a opção por produtos de maiorvalor econômico por área plantada,coerentemente com o maior preço daterra. Em decorrência, o estado de SãoPaulo reduziu sua participação no valorda produção de grãos, entre 1970 e2002, ao contrário do que ocorreu naregião Sul e principalmente no Centro-Oeste (ver gráfico 10). Fenômenosemelhante ocorreu em Minas Gerais,Goiás e alguns estados do Sul. Além deser mais intensiva (maior produção porárea plantada), essa atividade é influ-enciada pela proximidade dos grandesmercados urbanos. No caso de MinasGerais, também tem destaque a expan-são da produção de café e leite.

No Nordeste, dois fenômenosrecentes alteram o panorama da pro-dução agrícola regional: a expansão daprodução de grãos nos cerrados daBahia, Piauí e Maranhão, já abordada,e o desenvolvimento de projetos de irri-gação em regiões semi-áridas. Entre os

principais projetos estão os do Vale doRio São Francisco, nos estados da Bahiae Pernambuco, da região de MossoróAçu, no Rio Grande do Norte, do Valedo Rio Acaraú, no Ceará, e do Vale doRio Parnaíba, no Piauí. A atividade prin-cipal tem sido o plantio de frutas comouva, manga, mamão, melão, banana emelancia. A produção contínua aolongo do ano, facilitada pelo climaquente e seco, tem permitido oabastecimento regular do mercadobrasileiro, anteriormente sujeito a ofer-tas sazonais, além de crescente expan-são de exportações. Os efeitos posi-tivos sobre a geração de renda eemprego nas respectivas regiõessomam-se às novas possibilidades deintegração produtiva com a indústria eo impacto sobre a demanda de serviçose o crescimento urbano. Para o desen-volvimento da agricultura irrigada, aEmbrapa teve, uma vez mais, impor-tante papel .

O deslocamento da produção mineral: região Amazônica e petróleo no mar

Historicamente, como o próprionome indica, a produção mineralrestringia-se ao estado de MinasGerais. No restante do territórionacional, uma produção incipiente edispersa limitava-se a atividades sim-ples ou artesanais, principalmente paraa produção de material para cons-trução civil. As exceções eram os bensenergéticos: o carvão, em Santa Cata-rina, e o petróleo, no Nordeste. Porvolta de 1970, a situação não era muitodiferente: o estado de Minas Gerais eraresponsável por 46% do valor da pro-dução mineral brasileira, seguido pelosdemais estados da região Sudeste. Osoutros estados com alguma importân-cia eram Santa Catarina (carvão) e RioGrande do Norte (petróleo).

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184Brasil: o estado de uma nação

Nas últimas décadas a transfor-mação foi grande, em conseqüência daexpansão de novas regiões produtorasde minerais metálicos no norte do país,em especial o ferro e o alumínio noestado do Pará, e o petróleo naplataforma marítima do estado do Rio

de Janeiro. Em 2000, a participação re-lativa de Minas Gerais no valor da pro-dução mineral havia caído para 13%,enquanto a do Rio de Janeiro subiupara 48% e a do Pará para 7%, segui-dos pelo Rio Grande do Norte com 5%e a Bahia com 4,7% (ver tabela 5).

Região Norte 1,0 11,2

Rondônia 0,9 0,2Acre - 0,0Amazonas 0,0 3,3Roraima - 0,0Pará 0,1 7,1Amapá - 0,5Tocantins - 0,1

Região Nordeste 10,9 15,6

Maranhão 0,5 0,1Piauí 0,1 0,1Ceará 1,0 1,2Rio Grande do Norte 5,6 5,0Paraíba 0,7 0,5Pernambuco 0,2 0,6Alagoas 0,3 0,7Sergipe 0,1 2,8Bahia 2,4 4,7

Região Sudeste 70,9 66,7

Minas Gerais 45,9 13,4Espírito Santo 5,1 1,2Rio de Janeiro 7,7 48,2São Paulo 12,2 4,0

Região Sul 15,3 3,6

Paraná 2,2 1,4Santa Catarina 9,4 1,4Rio Grande do Sul 3,7 0,9

Região Centro-Oeste 1,9 2,9

Mato Grosso do Sul - 0,2Mato Grosso - 0,2Goiás 1,9 2,3Distrito Federal - 0,2Brasil 100 100

Tabela 5 – Valor da produção mineral por estado,1970 e 2000

1970 2000

Fonte: IBGE – Censo Industrial (1970) e Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Anuário Mineral Brasileiro (2001).

(Em %)

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185 Brasil: o estado de uma nação

Tanto a implantação e o desenvolvi-mento do complexo de Carajás-SãoLuís, que envolve mineração, ferroviae porto, quanto o sucesso tecnológicodo descobrimento e exploração depetróleo em águas profundas, forampossíveis graças à competência e cor-reta orientação estratégica de duasgrandes empresas estatais brasileiras:no primeiro caso, a Companhia Valedo Rio Doce (privatizada) e, no segun-do, a Petrobras. Carajás ganha im-portância na exportação e viabilizaatividades de transformação com oparque siderúrgico que vem sendoinstalado ao longo da linha fer-roviária. Têm destaque as regiões deMarabá e Açailândia e as iniciativasrelacionadas ao porto de São Luís. Daexploração de petróleo na Bacia deCampos, que se estende no sentido dolitoral capixaba, decorreu a grandeexpansão da produção brasileira depetróleo que está aproximando o país

da tão almejada auto-suficiência. Essedinamismo tem contribuído para arecuperação da economia fluminense.

2.6. Crescimento e distribuiçãoregional dos serviços

As mudanças estruturais da econo-mia brasileira nas últimas décadas,seguindo os mesmos padrões daseconomias mundiais, têm acarretadoo crescimento dos serviços na for-mação da renda e da ocupação.5 Aanálise de dados da Pnad (PesquisaNacional por Amostra de Domicílios),para os anos de 1976 e 2003, indicaque a participação dos setores nãoprodutores de bens (excluídos, por-tanto, agricultura, mineração, indús-tria e construção) na renda total dotrabalho no Brasil subiu de 41% para70%, enquanto a ocupação da mão-de-obra cresceu de 35% para 60% (vergráficos 14 e 15).

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186Brasil: o estado de uma nação

O crescimento dos serviços ocorreuem ritmo acelerado nas últimasdécadas, seguindo o processo deurbanização. Embora concentrem-senas metrópoles, os serviços expandem-se para cidades grandes e médias, faci-litado pela melhoria dos transportes,das comunicações e da infra-estruturaurbana em geral. Entre 1976 e 2003, aparticipação da ocupação dos serviçosna rede urbana não-metropolitanasubiu de 51% para 64%. Ao mesmotempo, observa-se a tendência dedesconcentração regional também ve-rificada na produção de bens e nomovimento das populações. As partici-pações do Sudeste na renda do traba-lho e da ocupação do setor de serviçosdo Brasil caíram, respectivamente, de63% para 54% e de 57% para 48%,influenciados pelas quedas do Rio deJaneiro e de São Paulo (ver gráficos 16e 17). Nas demais regiões houveaumento da participação na renda dotrabalho e da ocupação, exceto naregião Sul, que apresentou um ligeirodecréscimo na ocupação.

Cabe destacar que, além do cresci-mento dos serviços em função dasmudanças estruturais da economia, ocrescimento do turismo tem beneficiadoinúmeras regiões, especialmente nolitoral. Do ponto de vista do turismointernacional, segundo o relatório daEmbratur, o número de entradas no paíssubiu da casa dos 250 mil turistas porano, no início da década de 70, para 4 a5 milhões por ano, a partir de 2000.

Os principais pontos de entrada dosturistas estrangeiros por via aérea con-tinuam sendo as cidades de São Paulo(40%) e Rio de Janeiro (15%). Noentanto, muitos turistas se deslocampara outras regiões do país, como ascapitais e praias do Nordeste. Vêmganhando importância as entradasdiretas pelo Nordeste (Bahia, Pernam-buco, Ceará), com predominância deturistas dos países mediterrâneos(Portugal, Espanha e Itália). Entre as 10cidades mais visitadas no Brasil, quatrosão do Nordeste (Salvador, Recife,Fortaleza e Natal). No Sul, predomina aentrada de turistas argentinos, boa

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187 Brasil: o estado de uma nação

parte por via terrestre, com grandeimpacto nas praias do Rio Grande doSul e de Santa Catarina.

O resultado é muito expressivo parao setor serviços, considerando-se que aestada média dos turistas estrangeirosno país é de quinze dias, com gastos daordem de US$ 90 por dia, o que resul-ta em uma receita anual de cerca deUS$ 5 bilhões, segundo a Embratur.

Há também o turismo interno, quedeve ser contabilizado. Além de toda a

movimentação por via terrestre, os aero-portos nacionais registram um movi-mento anual de 30 milhões de pas-sageiros, sendo 18% para o Nordeste.Considerando apenas o turismo aéreo, oarranjo das operadoras de turismo, emacordo com as empresas aéreas e o sis-tema hoteleiro, tem ampliado o sistemade pacotes semanais, a preços adequa-dos, permitindo um grande afluxo deturistas originários das regiões Sudeste eSul para o Nordeste.

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3. QUAIS AS IMPLICAÇÕES DOSPROCESSOS E DAS MEDIDAS EM CURSO NO PAÍS?

Embora a economia brasileira aindaesteja fortemente concentrada nasregiões Sudeste e Sul e, em especial, noestado de São Paulo, nas últimasdécadas, como foi ressaltado, ocor-reram mudanças significativas nessadistribuição. Em primeiro lugar, pela re-lativa desconcentração da produçãoindustrial, criando alternativas diferen-ciadas não só dentro das regiõesSudeste e Sul, como também pela

expansão da indústria nordestina epela criação de vários núcleos industri-ais nas regiões Centro-Oeste e Norte dopaís. Em segundo lugar, pela significa-tiva expansão da produção agrícola naampla região dos cerrados e pelodesenvolvimento da agricultura irriga-da na região Nordeste. Por fim, e arti-culado aos itens anteriores, vem ocor-rendo o deslocamento espacial da po-pulação, com o crescimento da redeurbana e da produção de serviços. A tabela 6 traz a distribuição do PIBentre os estados brasileiros em 1970 eem 2000.

Tabela 6 – Participação dos estados no PIB – Brasil, 1970 e 2000

Fonte: IBGE – Anuário Estatístico (1970). Contas Regionais (2000).

Rondônia 0,1 0,5

Acre 0,1 0,2

Amazonas 0,7 1,7

Roraima -- 0,1

Pará 1,2 1,7

Amapá 0,1 0,2

Tocantins -- 0,2

Maranhão 0,9 0,8

Piauí 0,4 0,5

Ceará 1,5 1,9

Rio Grande do Norte 0,6 0,8

Paraíba 0,7 0,8

Pernambuco 3,0 2,6

Alagoas 0,7 0,6

Sergipe 0,5 0,5

Bahia 3,8 4,4

Minas Gerais 8,3 9,6

Espírito Santo 1,2 2,0

Rio de Janeiro 16,1 12,5

São Paulo 39,4 33,7

Paraná 5,5 6,0

Santa Catarina 2,8 3,9

Rio Grande do Sul 8,7 7,7

Mato Grosso do Sul -- 1,1

Mato Grosso -- 1,2

Goiás -- 2,0

Distrito Federal 1,0 2,7

1970 2000

(Em %)

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189 Brasil: o estado de uma nação

Convergência de renda –Trata-se da redução dadiferença das rendas percapita entre as regiões, oque ocorre no caso de asregiões mais atrasadascrescerem a uma taxasuperior à das maisdesenvolvidas.

As evidências apresentadas compro-vam a perda relativa da região Sudesteno PIB, nas produções industrial,agropecuária e de serviços, emboratenha mantido sua participação napopulação. Ainda insuficientes, houvemelhora nos indicadores sociais dasregiões mais pobres, especialmente dasáreas rurais, cujo número de pobrescaiu de 19 milhões para 14 milhõesentre 1993 e 2003, e o número de indi-gentes de 11 milhões para 7 milhões(ver capítulo Pobreza e Exclusão Social).

O processo de desconcentraçãotambém se reflete nos indicadores deconvergência de renda entre asregiões brasileiras. Nesse sentido,vários autores demonstraram essa con-vergência, seus determinantes e suapersistência. Ferreira e Diniz (1994),analisando o período 1970-1985 con-cluíram que dezesseis entre os 25 esta-dos brasileiros aproximaram suas ren-das per capita da média nacional.Cinco deles melhoraram ainda maissuas já favoráveis posições, sendo que

esse avanço permitiu que três entreeles (Amazonas, Paraná e Santa Cata-rina) ultrapassassem a média nacional.Apenas quatro estados (Acre, Ron-dônia, Amapá e Pernambuco) cami-nharam na direção contrária. É possívelnotar que a melhoria acentuou-se como passar do tempo: entre 1970 e 1985o número de estados que convergiramsuas rendas foi de 11, passando para18 entre 1975 e 1980, e para 19 entre1980 e 1985.

A convergência, porém, foi atenuadapela crise e pelo baixo crescimentoeconômico das décadas de 80 e 90.Vários outros trabalhos analisaram dife-rentes dimensões da convergência derenda6 nos anos recentes. Diniz (1993,1995) e Ferreira e Diniz (1994) sinteti-zam as grandes transformações queestão promovendo essa convergênciano Brasil: a) ampliação da infra-estrutu-ra; b) movimento das fronteiras agrícolae mineral; c) políticas regionais explícitaspor meio de fundos públicos e de incen-tivos fiscais; d) crises econômica, social e

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190Brasil: o estado de uma nação

política do Rio de Janeiro; e) transferên-cia da capital para Brasília; f) desconcen-tração da produção industrial; g) movi-mentos migratórios; h) previdênciarural; i) melhoria da escolaridade7.

4. QUAIS AS DIMENSÕES DE UMAESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTOREGIONAL?

As mudanças assinaladas no padrãode ocupação do território brasileiroressaltam a impropriedade de basear asanálises e as políticas regionais natradicional divisão entre as cincograndes macrorregiões. Seus diferentestamanhos, diversidade socioeconômicae dinâmicas internas diferenciadas nãopermitem uma apreciação adequadados problemas regionais brasileiros e,portanto, não favorecem o encami-nhamento de melhores soluções. A issose somam a não justaposição dosrecortes territoriais que marcam asdiversidades apontadas com as divisasestaduais e os limites municipais, e asdificuldades em promover a coope-ração intergovernamental nas políticaspúblicas, o que é indispensável para odesenvolvimento equilibrado do país.Um bom exemplo do mosaico de situa-ções que hoje em dia caracteriza aFederação brasileira é fornecido peloestado de Minas Gerais, que abrigaáreas que estão entre as mais atrasadasdo país, como os vales dos riosJequitinhonha e Mucuri e o norte doestado, ao lado de áreas relativamentedesenvolvidas, dinâmicas e em proces-so de modernização, como a RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte, dosul do estado e o Triângulo Mineiro.

De forma coerente com essa neces-sidade, o atual governo vem construin-do paulatinamente uma nova PolíticaNacional de Desenvolvimento Regional(PNDR). Concebida no âmbito daretomada do crescimento econômico

com inclusão social e redução dasdesigualdades regionais, baseia-se emalgumas premissas e objetivos. Emprimeiro lugar, propõe uma política decaráter nacional e não uma soma deiniciativas setoriais ou regionais iso-ladas, como historicamente se fez noBrasil. Dessa forma, parte-se de umavisão ampla do país e de seus dife-rentes recortes territoriais (macror-regiões, mesorregiões, microrregiões,localidades), superando a noção deque a problemática regional é específi-ca do Nordeste ou do Norte, como seconvencionou discutir a questão nopaís. Em segundo lugar, ela deve serformulada e implementada em múlti-plas escalas territoriais, segundo anatureza dos objetivos ou da dimensãoregional dos projetos. Por fim, dentroda concepção de valorização dopatrimônio natural, a nova políticaregional considera a diversidade ambi-ental, econômica, social e culturalcomo vantagens a serem exploradas enão como problemas potenciais.

A base para a formulação dessa novapolítica é o reconhecimento do carátermultifacetado da questão regionalbrasileira. O mapa 10, construído combase no cruzamento dos dados de rendadomiciliar média em 2000 e variação doPIB na década de 1990 para as 583microrregiões geográficas estabelecidaspelo IBGE, permite classificar essasmicrorregiões em quatro grupos, segun-do o nível de renda e o dinamismo desuas economias: a) renda alta; b) rendamédia com médio ou baixo crescimento;c) renda baixa com médio ou baixocrescimento; e d) renda média ou baixacom alto crescimento. A diversidade desituações deixa claro que a tradicionalabordagem macrorregional na formu-lação de políticas de desenvolvimentoregional não é capaz de dar conta detão diferentes ambientes socioeconômi-cos por uma mesma via.

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191 Brasil: o estado de uma nação

Além das dificuldades em adotaruma nova abordagem que rompe comuma tradição existente no Brasil hádécadas, a implementação de umanova política nacional de desenvolvi-mento regional compatível com a rea-lidade atual do país impõe pelo menostrês grandes exigências: a reestrutu-ração das fontes de financiamento,mudanças institucionais que pro-movam a cooperação entre as dife-rentes instâncias governamentais (fe-deral, estadual, municipal), e a parceriaentre instituições públicas, organiza-ções privadas e a sociedade civil. Devetambém levar em conta a importânciada ciência e da tecnologia para ampliaras chances de desenvolvimento dasregiões mais atrasadas.

4.1. Inovação e desenvolvimentoregional

Os estudos sobre inovação e desen-volvimento tecnológico têm defendidoque, em uma sociedade crescente-mente dominada pelo conhecimento,

as vantagens comparativas estáticasbaseadas em recursos naturais perdemimportância enquanto ganham desta-que as vantagens construídas e criadas,centradas no processo de inovação. Nocaso do Brasil, essa questão precisa serqualificada, pela importância dopatrimônio natural e pelo recentesucesso inovativo em setores baseadosem recursos naturais (descoberta eextração de petróleo em águas profun-das, agricultura de cerrados, agricul-tura irrigada no semi-árido, álcool com-bustível etc).

Assim, não há nenhuma incompatibi-lidade entre a disponibilidade de recur-sos naturais e a necessidade de ino-vação. Ao contrário, o que se busca épotencializar as vantagens oferecidaspelo patrimônio natural com um tipo deexploração economicamente eficiente eambientalmente sustentável, o quesomente é possível por meio de umesforço sistemático e prioritário de ino-vação. Essa visão é coerente com as pro-postas abordadas nos capítulos Inovaçãoe Competitividade e Amazônia: sobera-

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Arranjo ou sistemaprodutivo local – É oconjunto de atividades de uma determinadaespecialização oucomplementares, situadasem uma mesma localidade.São exemplos no Brasil oconjunto de indústrias decalçados do Vale dos Sinos(RS) ou de Franca (SP), as indústrias deequipamentos detelecomunicações de Santa Rita do Sapucaí (MG),e as indústrias de confecções de Santa Cruz do Capibaribe (PE).

nia e desenvolvimento. O primeirodefende um grande esforço em pesquisae tecnologia como base para a inovação.O segundo defende uma revolução téc-nico-científica para o aproveitamentodas vantagens conferidas pela biodiversi-dade da região amazônica.

Entre as condições propícias à ino-vação estão: a capacidade empresarialde promover pesquisa e desenvolvi-mento e identificar novos produtos ouprocessos que assegurem o sucessoeconômico (produtivo e comercial) daempresa e a capacidade local de apren-der, no sentido de se criar uma atmos-fera de transformação e progresso parao aprendizado regional e coletivo(Florida, 1995; Aydalot e Keeble, 1988).Em função dessa dinâmica, o apren-dizado pode ser visto como um fenô-meno localizado, que decorre da inte-ração entre pesquisa, experiência práti-ca e ação. Os processos de aprenderfazendo, usando, interagindo e apren-dendo sintetizam a chamada economiado aprendizado (Cooke e Heidenreich,1998; Lundvall e Johnson, 1994).

Assim, regiões ou localidades tornam-se pontos de criação de conhecimento eaprendizado, na era do capitalismointensivo em conhecimento. Florida(1995) diz que “regiões devem adotar osprincípios de criação de conhecimento eaprendizado contínuo; elas devem, comefeito, tornar-se regiões que aprendem”.Para isso, as regiões devem se prepararpara oferecer uma infra-estrutura quepossa facilitar o fluxo de conhecimento,idéias e aprendizado e que, ao mesmotempo, desenvolva uma capacidade degovernança local.

Mas não se pode esperar que todasas regiões ou localidades gerem conhe-cimento de fronteira e se insiram naprodução de bens de última geraçãotecnológica. Muitas regiões ou locali-dades continuarão especializadas naprodução tradicional, inclusive de bensprimários ou de serviços simples. Como

mostram Lundvall e Johnson (2000), aeconomia do aprendizado não é neces-sariamente uma economia de alta tec-nologia, mas “(...) é uma economiaonde a habilidade para aprender é cru-cial para o sucesso econômico dos indi-víduos, empresas, regiões e países.Aprendizado é uma atividade que seinsere em todas as partes da economia,incluindo os setores tradicionais e detecnologia simples”.

No Brasil, o sucesso tecnológico emvárias frentes (Embraer, petróleo, cerra-dos) e o surgimento de arranjos e sis-temas produtivos locais confirmamque o país possui base produtiva eexperiências acumuladas localmente,que podem servir de referência para aarticulação das políticas públicas e pri-vadas. Um programa de apoio aodesenvolvimento tecnológico do paísdeveria estabelecer diretrizes regionaislevando em conta a dimensão geográ-fica do território brasileiro, as dife-renças naturais, as bases produtivasexistentes e o potencial econômico decada região ou localidade.

4.2. Uma nova regionalização emtempos de globalização

As transformações socioeconômicascontemporâneas, relacionadas com oprocesso de globalização e a crescentemobilidade do capital, aumentam avelocidade das mudanças territoriais. O processo de globalização tende aintegrar os diferentes países e regiões,por meio de uma rede (Castells, 1999)e, ao mesmo tempo, os avanços domeio técnico-científico tendem a com-primir o espaço-tempo, reduzindo aimportância da distância física (Harvey,1973). Essas novas condições resultamna desvinculação das relações econô-micas, sociais e políticas de suascondições locais e territoriais. Contudo,esse movimento é contrariado pelarigidez do capital historicamente imo-

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bilizado nos países, regiões e cidadesdesenvolvidos. As clássicas escalas ter-ritoriais, simplificadamente caracteri-zadas como local, urbano, regional,nacional e internacional passam a sesobrepor e interpenetrar, com tendên-cia ao enfraquecimento das escalasintermediárias e aumento da importân-cia dos extremos: o global e o local.

A melhoria do sistema de comuni-cações e o acesso imediato à infor-mação, em um contexto marcado pordesigualdades regionais, dão origem aum fenômeno novo que é a possibili-dade da articulação do “local” com o“global”, sem a necessária mediaçãode uma instância nacional. Isso signifi-ca que, no lugar da homogeneizaçãodos espaços econômicos nacionais, oprocesso de globalização pode des-tacar e fortalecer as diferenças entre asregiões de um mesmo país, ampliandoa competição entre as localidades.Diante dessa perspectiva, as políticasregionais clássicas adotadas no Brasil,voltadas para a promoção conjuntados espaços intermediários, correm orisco de enfraquecer-se. Isso reforça anecessidade de uma política nacional,operacionalizada segundo diferentesescalas territoriais.

Uma outra dificuldade está rela-cionada com os movimentos de mobi-lidade do capital, da produção e do

comércio em face da imobilidade daorganização político-institucional-ad-ministrativa, e dos limites territoriais,em função da presença do Estado-nação, de estados federados, regiõesmetropolitanas, municípios ou outrasformas de divisão político-territorialhistoricamente estabelecidas.

Nesse contexto, instituições supra-nacionais e multilaterais ganham peso,importância e influência sobre o es-paço nacional, ao mesmo tempo emque se observa o reforço de organiza-ções e instituições locais, a exemplodas agências locais de desenvolvimen-to, dos parques tecnológicos, dosarranjos produtivos locais, dos “clus-ters”, das incubadoras, ou outras for-mas de organização local.

No Brasil, a grande dimensão geo-gráfica e as desigualdades econômicase sociais entre as regiões ampliam asdificuldades para lidar com essas novasquestões. A consciência dessas dificul-dades, na década de 90, gerou o esta-belecimento da política dos EixosNacionais de Integração e Desen-volvimento, superando a idéia de pólosou regiões isoladas e procurandodefinir diretrizes de desenvolvimentode forma a se criar efeitos comple-mentares e sinérgicos entre infra-estru-tura física, social e atividades produti-vas (ver quadro 3).

Uma regionalização que atenda à diversidade regional e à dimensão dos diferentes objetivos e proje-tos exige um recorte territorial em múltiplas escalas. Cada uma delas seria adotada segundo os objetivose a dimensão territorial dos projetos. Além de servir como referência para as políticas regionais, a novaregionalização deveria balizar a atuação do conjunto do setor público e a articulação com as atividadesprivadas e representações da sociedade civil.

Com tais propósitos, essa regionalização deve levar em conta três critérios complementares e articula-dos: econômico, ambiental e político. O critério econômico deve apoiar-se nos efeitos da polarização exer-cida pelas cidades para a definição de macropólos, mesopólos e micropólos, em torno dos quais se recor-tariam as macrorregiões, mesorregiões e microrregiões. Soma-se a essa análise a caracterização das loca-lidades com potencial de comutação diária de pessoas por via terrestre. O critério ambiental buscaria ajustar os recortes territoriais às possibilidades de aproveitamento econômico do patrimônio natural e àsnecessidades de preservação ambiental. Por fim, o critério de representação política deveria preservar arelação entre o recorte territorial e a identidade cultural e política da população e de seus agentes com asrespectivas regiões e, ao mesmo tempo, abordaria aspectos da geopolítica e da soberania nacional.

QUADRO 3 – Critérios para uma nova regionalização

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5. O GRANDE DESAFIO: COMO CONSTRUIR UM PROJETO DE NAÇÃOA PARTIR DA INTEGRAÇÃONACIONAL?

Uma nova política de desenvolvimen-to regional terá o grande desafio decombinar os interesses da naçãobrasileira com as condições colocadaspelas transformações decorrentes dacrescente integração da economiamundial. A globalização e a abertura daeconomia têm colocado o aumento daprodutividade e da competitividadecomo prioridades na ação governamen-tal. Sabe-se que, em geral, são as regiõesmais desenvolvidas que detêm maiorpotencial para o aumento da produtivi-dade e da competitividade. Como,então, combinar a busca de eficiênciacom uma maior eqüidade regional esocial, no contexto definido por Santos(2001) como um novo período técnico-científico-informacional, em que asescalas, o tempo e a ciência se combi-nam para dar uma nova dinâmica aosprocessos? Este é o desafio básico queencontrará a política regional para asáreas menos desenvolvidas.

Nesse sentido, rever a questãoregional no Brasil evidencia a necessi-dade de desenvolver um projeto demédio e longo prazos que tenha comometa a coesão social – por meio daredução das desigualdades regionais esociais –, um melhor ordenamento doterritório e uma visão de estratégiageopolítica que inclua nossa articu-lação com os países vizinhos.

Um projeto de tal natureza apóia-sena integração nacional, vista em quatrograndes dimensões complementares earticuladas: integração físico-territorial,econômica, social e política.

A integração físico-territorial sebaseia na construção da infra-estruturafísica, especialmente transportes, ener-gia e telecomunicações, e na rede de

cidades. Os traçados das novas vias detransporte (ferrovias, rodovias, vias denavegação, linhas aéreas) terãoimpactos decisivos sobre o sentido dosfluxos e sobre a integração da econo-mia e da sociedade brasileiras. Por essarazão, eles têm papel determinantesobre a forma e as características daarticulação e da integração do espaçoeconômico e social do país. As cidadese sua capacidade de centralização ar-ticulam e orientam a ocupação doespaço. A combinação entre a infra-estrutura de transportes e as cidadesdevem ser o ponto de partida para odesenvolvimento regional e o ordena-mento do território. O mapa 11 mostraa infra-estrutura atual de transportesno Brasil.

Em contraste com a alta concen-tração populacional nas metrópoles dafaixa atlântica, a criação de novas cen-tralidades nas regiões de menor densi-dade populacional atenderia a doisobjetivos centrais. Em primeiro lugar,funcionariam como centros de pro-dução industrial e de serviços que,além de seu próprio crescimento,serviriam como suporte ao desenvolvi-mento econômico de seu entorno.Além disso, os novos centros serviriampara reorientar os fluxos migratórios efrear o crescimento demográfico dasgrandes metrópoles, contribuindo parauma melhor distribuição produtiva epopulacional no país.

O segundo aspecto da integração éa econômica stricto sensu entendidacomo a relação de complementaridadeque se estabelece entre as atividadesprodutivas de determinados setores ouregiões. Essa integração provoca a cria-ção de cadeias produtivas que refor-çam as especializações regionais epotencializam o aproveitamento dasvantagens comparativas de cadaregião, ao mesmo tempo em quefavorecem a integração técnica e a

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cooperação econômica entre setores,empresas e regiões. No entanto, essaintegração deveria, também, propiciaruma maior solidariedade entre asregiões e estados, coibindo as guerrasfiscais que vêm sendo praticadas noBrasil.

O terceiro aspecto da integração é osocial, compreendido como o processode incorporação da grande parcela dapopulação brasileira ao mercado e apadrões dignos de vida. Essa inclusãosó se efetivará, de forma plena, quandotoda a população brasileira tiver acessoaos serviços sociais básicos (educação esaúde, principalmente), a condiçõesadequadas de moradia e oportunidadede trabalho e emprego que lhe asse-

gure um padrão de renda compatívelcom as necessidades básicas de con-sumo, como está analisado nos capítu-los Pobreza e Exclusão Social eCidadania e Participação.

Por fim, a integração política é abase para o reforço da solidariedadenacional e para um projeto de nação.Ela pressupõe uma reformulação doquadro normativo do sistema federati-vo, maior descentralização política efinanceira do governo e o esforço deenvolvimento e incorporação da so-ciedade civil na construção coletiva danação.

Tendo em conta as grandes desigual-dades regionais e sociais, o atual estágiodo desenvolvimento brasileiro e os obje-

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tivos assinalados, não é possível pensarum projeto de desenvolvimentoeconômico e social sem a forte presençado Estado, por meio das diferentesescalas ou esferas de governo: federal,estadual, municipal ou local. Embora

reconhecendo o papel do governo fe-deral como instância coordenadora epromotora do desenvolvimento nacio-nal, a ação das diferentes esferas degoverno deve ser feita de forma arti-culada e complementar.

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NOTAS

1 3,1% na década de 50, 2,9% na década de 60, 2,5% na década de 70, 1,9% na década de 80 e 1,6% na déca-da de 90.

2 Os censos demográficos apuram os residentes de cinco anos ou mais que migraram durante o último qüin-qüênio. Uma estimativa mais precisa dos saldos migratórios é prejudicada pela inexistência de dados sobre asmigrações para o exterior. Estima-se que na década de 80 tenha emigrado do Brasil para o exterior mais deum milhão de pessoas.

3 Segundo Comin et alii (2002), deste total, US$ 28 bilhões estariam no município de São Paulo.

4 Este tem sido um tema recorrente na literatura sobre desenvolvimento regional e padrões locacionais da indús-tria, desde a concepção de distritos industriais, por Marshall, no final do século XIX, passando pela contribuição de Weber no início do século XX sobre o papel dos custos de transporte e das economias deaglomeração, pelas análises de insumo-produto e complexos industriais no pós Segunda Guerra (Isard, 1956)e, novamente, em tempos recentes, com distintas denominações: novos distritos industriais (Harrison, 1992),complexos industriais (Prado, 1981), parques tecnológicos e conglomerados regionais (Piore e Sabel, 1984),redes de firmas e indústrias, distritos e “milieus” inovativos (Bergman, Maier e Todtling, 1991), aprendizadocoletivo e regiões inovativas (Keeble et alii, 1998), ou mesmo modelos formais de retornos crescentes e “clus-ters” (Fujita, Krugman e Venables, 1999).

5 No caso brasileiro, há que ressaltar que o processo de terciarização (transferência de atividades antes realizadasinternamente aos setores produtores de bens para o setor de serviços) foi muito acentuado nas últimasdécadas. Além do mais, a orientação da política macroeconômica tem dado grande importância ao setor finan-ceiro, o que contribui para o aumento do peso do setor serviços.

6 Trabalhos que analisaram convergência de renda em anos recentes: considerando macrorregiões e clubes deconvergência entre estados e municípios (Gondin e Barreto, 2004; Laurini, Andrade e Pereira,2003) e entreregiões metropolitanas (Menezes e Azzoni, 2000). Em geral os trabalhos concluem pela existência de convergência, diferindo apenas em termos de intensidade e períodos.

7 A literatura internacional arrola um conjunto de variáveis a serem consideradas na análise da convergência, aexemplo de escolaridade, PIB per capita, expectativa de vida, consumo do governo, investimento em P&D, esta-bilidade política, déficit fiscal, inflação, abertura externa etc., sem contudo conseguir uma precisão analítica edemonstração empírica do papel dessas variáveis (ver Sala-i-Martin, 2001).

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