TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES wagner

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    Alfredo Wagner Berno de Almeida

    TERRITRIOS E TERRITORIALIDADES ESPECFICAS NAAMAZNIA: entre a proteo e o protecionismo

    Alfredo Wagner Berno de Almeida*

    Assiste-se, atualmente, implementao de polticas de reorganizao de espaos e territri-os, o que no constitui um produto mecnico da expanso gradual das trocas, mas sim o efeitode uma ao de Estado deliberadamente protecionista, voltada para a reestruturao de merca-dos, disciplinando a comercializao da terra e dos recursos florestais e do subsolo. Este artigodemonstra como os povos e as comunidades tradicionais so pressionados pelas medidas deproteo das agencias multilaterais e pelas polticas protecionistas urdidas pelo Estado.PALAVRAS-CHAVE: territrio, territorialidade especfica, desenvolvimento sustentvel, Amaznia,agroestratgia.

    DOSSI

    INTRODUO

    A reconceituao de territrio, consoanteas interpretaes sociolgicas sobre as transfor-maes sociais na primeira dcada do sculo XXI,tem sido marcada por novos critrios de classifi-cao, que aparentam empreender uma volta aopassado, refletindo uma conhecida e dbia com-binao entre fatores ambientais e econmicos.Incorporados pelas aes governamentais maisrecentes, tais critrios reeditam a prevalncia doquadro natural, privilegiam biomas e ecossistemascomo delimitadores de regies, flexibilizam

    normas jurdicas que asseguram os direitosterritoriais de povos e comunidades tradicionaise objetivam atender s demandas progressivasde um crescimento econmico baseado princi-palmente em commodities minerais e agrcolas.No obstante, tais reedies mostram-se emdescontinuidade com as medidas de zoneamento

    ecolgico-econmico e com os programas deproteo da natureza preconizados pelas agn-cias multilaterais, que caracterizaram a quadraneoliberal das ltimas dcadas do sculo XX.Esse elemento contrastante, que assinala umaruptura no mbito dos critrios adotados peloplanejamento oficial, que constituiria uma no-vidade, sobre cujas implicaes pretendemosaqui refletir.

    Assiste-se, atualmente, implementaode polticas de reorganizao de espaos e ter-ritrios que no so um produto mecnico daexpanso gradual das trocas, mas sim o efeito

    de uma ao de Estado deliberadamente prote-cionista, voltada para a reestruturao de mer-cados, disciplinando a comercializao da terrae dos recursos florestais e do subsolo. A distin-o entre proteo, que deriva de mecanismosde uma ao ambiental conservacionista perpe-trada por agncias multilaterais, e protecionis-mo, que consiste, como veremos adiante, numaao de Estado inspirada principalmente no po-tencial de crescimento econmico, torna-se ele-mentar para uma compreenso mais detida das

    * Antroplogo. Professor da Universidade do Estado do Ama-zonas-UEA. Pesquisador do CNPq.Av. Djalma Batista, 3578. Flores. Cep: 69050-010. Manaus Amazonas Brasil. [email protected]

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    transformaes em jogo. A denominada prote-o da natureza e o conjunto de medidas pre-

    conizadas pela Organizao Mundial do Comr-cio (OMC) estariam passando por um processode dessemantizao que leva essa mencionadaproteo a assumir sentidos opostos quelesulteriormente adotados pelas agncias multila-terais. Ainda que no se percebam alteraesprofundas na retrica protecionista e que osinstrumentos chamados de proteo no te-nham sido radicalmente modificados, observa-se que polticas protecionistas, em termos mer-cantis, deixam entreaberta a possibilidade de uso

    intensivo e imediato dos recursos naturais emprol de polticas de crescimento econmico,traduzidas pelas grandes obras como hidreltri-cas, rodovias, portos e congneres. Essas polti-cas de crescimento tm sido apontadas como so-luo para a pobreza extrema, produzindo umaterritorializao consoante o potencial de usomercantil dos recursos naturais, combinada comaes que objetivam flexibilizar os limites dasunidades de conservao e manter o combate aodesmatamento. Essa mercantilizao, que passaa abranger inclusive a floresta em p, torna-seum fator de destaque nos novos significados quea noo de proteger assume. Alguns analistasclassificam essas medidas como protecionistasou de defesa necessria, face s ofensivas mer-cantis de outros pases. nesse sentido que soimplementadas: em funo de uma perspectivaradicalista denominada desenvolvimentista.

    As instncias poltico-administrativas in-corporam, assim, o prprio termo territrio para

    designar no apenas aparatos burocrticos, mastambm programas, planos e projetos. Territri-os da Cidadania, Secretaria de OrdenamentoTerritorial, cadastro territorial e quejandos tor-nam-se termos e expresses usuais no lxico des-ses aparatos burocrticos. Os sentidos prticos deterritrio transcendem, contudo, ao significadoestrito de polticas fundirias, ambientais ou mi-nerais. Eles se apoiam em medidas protecionis-tas, tambm chamadas de medidas de defesacomercial. Os agentes do aparato poltico-bu-

    rocrtico argumentam que, com as sucessivascrises econmicas, a questo ambiental passou a

    ser ligada diretamente do desenvolvimentosustentvel, tornando-se uma agenda do Esta-do, e no apenas de grandes empresastransnacionais e de agncias multilaterais. Con-sideram que, para tanto, faz-se imprescindveldelimitar os recursos naturais estratgicos, re-formar os cdigos florestal, mineral e comerciale disciplinar a aquisio de terras por estrangei-ros. Em virtude disso que estamos constatan-do a tramitao simultnea de propostas nolegislativo de alteraes de quase todos os cdi-

    gos que regem as relaes produtivas e comerci-ais. Verifica-se, nesse contexto, uma retomadade medidas de defesa da natureza e dos deno-minados interesses nacionais, num momentoem que as exportaes para os pases europeus epara os Estados Unidos mostram-se declinantes.Esse protecionismo da natureza implica, pri-meiramente, a identificao dos recursos natu-rais estratgicos e subordin-los implantaode grandes obras de infraestrutura e expansodos produtos para o mercado de commodities,consideradas essenciais ao desenvolvimentosustentvel, o qual passa a ser reinterpretadocomo coadunado com interesses nacionais earticulado de maneira disciplinada, sem passarnecessariamente por entidades multilaterais, coma ao de determinados fundos de investimen-tos e conglomerados transnacionais.

    Uma primeira indagao que se coloca se estaramos diante do fim dos acordos comer-ciais1 firmados no mbito de agncias multilate-

    rais como a OMC, ou mesmo se essa agnciaestaria perdendo seu poder de arbitrar. Nessecontexto, possvel comear a ler nacionalcomo enfraquecimento do multilateral ou, setanto, como bilateral, isto , novas modalidades

    1 Chade (2011) sublinha que: Desde 1990, mais de 400 acor-dos comerciais foram fechados entre regies e pases. S oMxico e o Chile chegaram a fechar tratados com mais de30 pases diferentes. No comeo dos anos 90, pases comoo Brasil e a ndia abriram unilateralmente seus mercados,convencidos de que precisavam importar para modernizarsuas indstrias. A Rodada de Doha, lanada em 2001, paraformatar o novo mundo comercial, foi definitivamenteengavetada neste final de semana. (2011, p. B7).

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    de contratos comerciais passam a regular polti-cas especficas de nao para nao. Um indica-

    dor para se refletir sobre esse eventual enfra-quecimento concerne ao pronunciamento do di-rigente da OMC, Pascal Lamy, logo aps a oitavaConferncia Ministerial da OMC, entre 15 e 17de dezembro de 2011, em Genebra, assinalandouma tendncia das polticas econmicas de dife-rentes pases de erigirem obstculos livre cir-culao de mercadorias, reeditando medidas pro-tecionistas de suas indstrias, numa quadra dedesemprego e estagnao que afeta notadamentea comunidade europeia e os Estados Unidos

    (Chade, 2011, p.B7).A proposta do Brasil na Rio + 20, anunci-

    ada em 15 de fevereiro de 2012, pelo seu negoci-ador-chefe, Andr Aranha Corra do Lago, asse-vera que a Rio+20 uma conferncia da ONUsobre desenvolvimento sustentvel, para repen-sar esse desenvolvimento e determinar o objeti-vo comum dos pases para as prximas dcadas.Trata-se de uma posio que visa a fortalecer aONU e, mais diretamente, o Programa das Na-es Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),contrria, portanto, criao de uma agnciaambiental mundial, como propem os paseseuropeus encabeados pela Frana.2 Cotejan-do-se essa posio com aquela de Pascal Lamy,verifica-se que se est diante de diferentes mo-dalidades de agncias multilaterais, cujas atri-buies encontram-se agora sob o efeito do sen-so prtico de estratgias particularizantes, queobjetivam fortalecer umas agncias, enfraquecen-do outras, e vice-versa. Os acordos regulados pela

    OMC funcionariam sob o signo da proteo,penalizando medidas protecionistas, enquanto aONU, atravs de seus programas, facultaria aos

    seus membros a possibilidade de escolha, semexcluir estratgias inspiradas no protecionismo.

    As variaes nos significados de territrio tor-nam-se tributrias dessas posies diferenciadas.Pode-se dizer que os sentidos de territrio

    remetem, em primeiro lugar, a um biologismoextremado, que caracteriza o ambientalismoempresarial dos grandes fundos de investimen-tos, seja como oForest Footprint Disclosure3 (FFD),selecionando e monitorando regies de terrasarveis e de solos apropriados s grandes planta-es, seja como o Cool Earth, elegendo as flores-tas, o patrimnio gentico e a biodiversidade

    como ativos ambientais, atravs de uma combi-nao entre propriedade privada de grandesempresas (laboratrios de biotecnologia, inds-trias farmacuticas e de cosmticos) e recursosabertos s comunidades locais,4 classificadas como

    2 Segundo o negociador-chefe do Brasil: Quando se temuma conferncia das Naes Unidas, todos os pases domundo tm que concordar em qual vai ser a agenda. No uma deciso nem das Naes Unidas, nem do pas anfi-trio. uma deciso de todos. Neste caso, a deciso foi deque a Rio+20 deveria se concentrar em dois temas: a eco-nomia verde no contexto do desenvolvimento sustentvele da erradicao da pobreza e a governana internacionaldo desenvolvimento sustentvel, ou seja, de que maneiravamos estruturar o debate internacional em torno dessaquesto. Consulte-se a entrevista com o embaixador Corrado Lago (2012) .

    3 O projeto do FFD foi iniciado em 2008, com suporte daGlobal Canopy Foundation. Antes dos fundos de investi-mentos definirem onde iro aplicar seus recursos, elesquerem informaes sobre o grau de exposio das gran-des empresas com respeito a, pelo menos, cinco tipos decommodities soja, leo de palma, madeira, artigos deri-vados da pecuria e biocombustveis , tanto no processoprodutivo, quanto na cadeia de suprimentos. Setentados maiores fundos de investimento, que administram,

    juntos, cerca de US$ 7 trilhes, contam com um guiaque monitora os maiores conglomerados transnacionais,conhecido como FFD. Os ndices de desmatamento de taisprojetos tornam-se passveis de ser estimados e inibidos.Para outras informaes consultar: Forest Footprint

    Disclosure. Annual Review. 2011.4 O Cool Earth consiste num fundo de investimentos que

    articula a ao de bancos com a sensibilizao de peque-nos investidores com conscincia ambiental aguda, empases europeus e nos Estados Unidos. Mais de 20 milpessoas fizeram doaes a esse fundo durante a primeirasemana de campanha do seu site, em junho de 2007, quepromete comprar e proteger florestas na Amaznia. Essainiciativa conta com o apoio de vrias personalidades eentidades ambientais britnicas. O projeto prope que osdoadores ou pequenos investidores, patrocinem a conser-vao da floresta ou de meio acre de terra (equivalente adois mil metros quadrados de mata) com apenas 3,5 li-bras. Atravs desse dispositivo de aplicao financeira,forma-se um pblico difuso de ambientalistas de todos osmatizes, que se tornam virtuais proprietrios da floresta,dispondo suas libras para fortalecer fundos de investi-mentos que controlam ativos florestais significativos. Tra-ta-se de recursos a fundo perdido, transferidos a grandesconglomerados, e fundos que administram recursos mo-netrios que seriam idealmente aplicados em comunida-des tradicionais e teriam seu retorno efetivo com crditosde carbono respectivos. Essa frmula parece estar aproxi-mando os adversrios de ontem e constituindo as basesde um ambientalismo empresarial sofisticado, que mo-biliza pequenos ambientalistas e grandes bancos e conglo-merados, diminuindo, ao mesmo tempo, a distncia entreONGs ambientalistas e grandes empresas.O banqueiro britnico John Eliasch, vinculado ao CoolEarth, afirma ter adquirido, em fins de 2006, as terras daGethal Madeireira nos municpios de Manicor eItacoatiara, Estado do Amazonas, cujo total de hectares

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    guardis da natureza. Apoiam-se tambm nasautorizaes de pesquisa e licenas de explorao

    dos denominados minerais estratgicos, estabe-lecendo uma tenso entre os detentores dos di-reitos de explorao do subsolo e os chamadossuperficirios. Os sentidos prticos se baseiam,enfim, numa noo de crescimento econmicomais voltada para expanso das commodities euma reestruturao formal do mercado de ter-ras e seu potencial de regionalizao ouagilizao de ttulos, dirimindo conflitosfundirios localizados e dispondo, para as tran-saes de compra e venda, apenas imveis regu-

    larizados. Certamente, as inovaes tecnolgicasfazem parte dessas polticas, como si acontecercom as plantaes de cana-de-acar, que, almdo etanol e do acar, esto voltadas agora parafabricar leos para as indstrias qumica,petroqumica, de cosmticos, alimentos ebiopolmeros. Tais inovaes implicam a ampli-ao das reas de cultivo, mas o que rege a ex-panso, de maneira efetiva, seriam as flutuaesdos preos de mercado das commodities comoacar, soja, leos vegetais, de palma e depalmiste, madeira, carne in natura, milho ebiocombustveis.

    Mesmo reconhecendo os acirrados deba-tes e as dubiedades em torno das decises relati-vas a esses critrios, que objetivam estabelecernovas fronteiras, pode-se afirmar que, ao pro-piciar condies de expanso5 da produo decommodities, estariam forando a flexibilizaodos direitos territoriais de povos e comunidades

    tradicionais, redefinindo os direitos dos traba-lhadores migrantes6 e estigmatizando identida-

    des tnicas. Os novos limites estabelecidos aba-lam as normas jurdicas, como no caso do Decre-to 4887, de novembro de 2003, relativo titulaodas terras das comunidades quilombolas, e frag-mentam as territorialidades especficas (terras in-dgenas, terras de quilombos, babauais livres,faxinais, fundos de pasto, comunidades ribeiri-nhas), ou seja, as terras tradicionalmente ocupa-das e controladas de modo efetivo pelas suas res-pectivas comunidades ou pelas formasorganizativas que lhes correspondem (associaes,

    cooperativas, sindicatos, articulaes e movimen-tos). Debilitam, alm disso, os fatores identitrios,propiciando condies para a atomizao dosagentes sociais. Em decorrncia disso, fragilizamas identidades coletivas objetivadas em movi-mentos sociais, suas condies de representaoe os prprios atos de delegao, tal como sucedecom a Coordenao Indgena da Amaznia Bra-sileira (COIAB), a Articulao dos Povos e Orga-nizaes Indgenas do Nordeste, Minas Gerais eEsprito Santo (APOINME), o Conselho Nacio-nal dos Seringueiros (CNS), o Movimento Inte-restadual das Quebradeiras de Coco Babau(MIQCB), a Articulao Puxiro dos Faxinalenses(APF), a Central de Fundos de Pasto e a Coorde-nao Nacional de Articulao das Comunida-des Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

    Para uma sntese dessas transformaesem curso, pode-se recorrer, inicialmente, an-lise mais abrangente de Bensaid, explicitada nosseguintes termos:7

    A nova fase de acumulao do capital globalizado,na verdade, implica umareorganizao dos es-

    paos e territrios, um deslocamento de frontei-ras e a construo de novas muralhas de segu-rana (contra os palestinos ou na fronteira me-xicana), mais do que sua abolio em beneficiode um mercado nico sem fronteiras (2008, p.4;grifos nossos).

    ainda no conhecido. As estimativas giram, entretanto,

    em torno de 160 mil hectares. O propsito da empresaadquirente manter as comunidades locais zelando pelosrecursos florestais. Em outras palavras: os bens imveisadquiridos so privados, mas no so mantidos como re-cursos absolutamente fechados. A empresa adquirenteconcede s comunidades locais que tradicionalmenteocupam aquelas terras, nelas morando habitualmente, cul-tivando e extraindo produtos florestais a sua permann-cia, mantendo a suas prticas de uso comum dos recur-sos naturais. O propsito maior seriam os crditos de car-bono (Almeida, 2009, p.27-29).

    5 H de se discutir a to alardeada capacidade produtivadesses empreendimentos. Cabe registrar, a propsito, que expanso do mercado de commodities agrcolas e minero-metalrgicas corresponde uma precariedade nas relaesde trabalho. Consoante entidades especializadas (OMCT,CPT), h milhares de registros de pessoas sob condioanloga ao trabalho escravo, atualmente no Brasil.

    6 Consulte-se Sprandel (2007).7 Bensaid (2008).

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    A Amaznia consiste numlcus privilegi-ado para se observarem, empiricamente, tais trans-

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    prpria delimitao de Amaznia Legal est colo-cada em questo a partir de inmeros anteproje-tos de lei que pretendem excluir parte doMaranho ou do Tocantins ou do Mato Grosso.8

    De igual modo, encontram-se sujeitas a redivisespoltico-administrativas unidades da Federaoque a integram, como o Par e o Maranho.

    O ritmo clere da ao governamental, ar-ticulado com os interesses privados que promo-vem a expanso das commodities,baliza, entre-tanto, as presses polticas em todo o pas. Elas semanifestam atravs de um mercado de terras re-lativamente reestruturado, privilegiando pelomenos trs ordens de iniciativas. A primeira de-las est atrelada a medidas do poder executivo; asegunda ocorre no mbito dos debates nolegislativo, que delimita as normas; e a terceiraencontra-se referida a dispositivos jurdicos e ad-ministrativos. Eis algumas dessas manifestaes:i) A privatizao das terras pblicas sob o eufe-

    mismo de regularizao fundiria. Compre-

    ende o Programa Terra Legal, institudo a partirda implementao da Lei 11.952, de julho de2009, que visa a titular 67 milhes de hectaresna Amaznia. Essa medida regulariza a ocupa-o de terras da Unio, permitindo que sejam

    repassadas, sem licitao, reas com at 1.500hectares aos que detinham a posse dessas reas

    antes de primeiro de dezembro de 2004.9

    ii) A reduo de reas protegidas ou unidadesde conservao,10 conforme a Medida Provis-ria 558, editada em 18 de janeiro de 2012.Para implementar esses dispositivos e respon-der a demandas crescentes e de curto prazo, oaparato burocrtico tem procurado agilizar, demodo articulado, os mecanismos de aofundiria e aqueles da ao ambiental. Areformulao das bases do conhecimento tc-nico-administrativo tem sido colocada pelos

    dirigentes dos rgos governamentais comocondio fundamental para acelerar oslicenciamentos. As medidas de cadastro comtcnicas de georreferenciamento, a adoo desoftwares para aprimorar o planejamento e oavano na qualidade dos estudos ambientaisestariam criando, desse modo, condies para

    8 Um dos anteprojetos de autoria do deputado federalOswaldo Reis (PMDB-TO), que alega que o Tocantins noteria rea suficiente para produzir porque est enquadra-do na Amaznia Legal. O outro do falecido senador JonasPinheiro (DEM) e j foi aprovado em algumas comissesdo Senado. Segundo dados do IBGE, o Mato Grosso temquase metade do territrio em rea de bioma da Amaz-nia, o que contestado pela Federao da Agricultura ePecuria do Estado de Mato Grosso (Famato).

    9 Entre junho de 2010 e maio de 2011, o Programa TerraLegal cadastrou 87.992 posses, correspondentes a 10,3milhes de hectares, conforme avaliao, realizada peloIMAZON, do segundo ano do mencionado programa,intitulada: A regularizao fundiria avanou na Amaz-nia? Os dois anos do Programa Terra Legal. Belm, se-tembro de 2011.Dez dias aps ter sido sancionada, a Lei 11.952 de 2009foi objeto de Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI-4269), proposta pela Procuradoria Geral da Repblica eencaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para aPGR, a referida Lei institui privilgios injustificveis emfavor de grileiros que, no passado, apropriaram-se ilicita-mente de vastas extenses de terras pblicas. AProcuradora Dra. Deborah Duprat, que encaminhou a pro-posta ao STF, chama a ateno para os pargrafos 4 e 5do artigo 15 da referida Lei, por violao da igualdade edesvio do poder legislativo. Ela explica que os dispositi-vos determinam que, para as reas regularizadas de atquatro mdulos fiscais, o prazo de inalienabilidade fixadopelo legislador de dez anos, enquanto as reas que te-nham entre quatro e quinze mdulos fiscais, o prazo detrs anos ... tem-se uma flagrante discriminao, que be-neficia os que menos precisam, e ainda favorece a especu-

    lao imobiliria na Amaznia custa do patrimnio p-blico, destaca a Procuradora.10 A Procuradoria Geral da Repblica questionou, no dia 09

    de fevereiro de 2012, a constitucionalidade da MedidaProvisria 558, que reduz unidades de conservao naAmaznia e permite a construo de hidreltricas na baciado Tapajs. O MPF considera que as unidades de conser-vao so essenciais para a preservao do bioma amaz-nico. Argumenta tambm que quaisquer alteraes devemser realizadas a partir de discusses no Congresso Nacio-nal, sem que seja preciso editar uma MP. Sublinhe-se que,um dia aps a edio da MP, a Eletronorte enviou ao IBAMAminuta do Termo de Referncia prevendo a construo dausina de So Lus do Tapajs; cinco dias depois, em 24de janeiro, o IBAMA aprovou o plano de trabalho paradiagnstico ambiental da empresa. Verifica-se um tempoemergencial para licenciar a usina e proceder s demaismedidas de implantao de grandes projetos.

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    o deferimento dos pedidos de licena, ou seja,para que o cronograma das obras de

    infraestrutura previstas no seja alterado.iii) As tentativas de incorporao de novas ex-tenses aos circuitos mercantis ocorrem atra-vs das alteraes propostas pelos interessesruralistas para a reforma do Cdigo Flores-tal11 e para a reduo da faixa de fronteira12 epelas empresas mineradoras para a reforma doCdigo de Minerao.13 No caso do Cdigo Flo-restal, as associaes e sindicatos patronais ru-rais elegeram a questo ambiental como temapara suas mobilizaes em 2010 e 2011. Ao

    faz-lo, passaram a considerar os fatoresambientais como obstculo ampliao da ca-pacidade produtiva dos imveis rurais e s tran-saes de compra e venda de terras, dispon-

    do-os no mesmo plano de entraves em que clas-sificam os direitos tnicos, os laos de paren-

    tesco nos casos das terras de herana sem for-malidade de partilha e as prticas costumeirasde uso comum dos recursos naturais. Reduzira reserva legal14 dos imveis rurais e lutar con-tra a inalienabilidade das terras tradicionalmen-te ocupadas (terras indgenas, de comunida-des quilombolas, de comunidades de fundosde pasto, de comunidades de faxinais, dequebradeiras de coco babau, de ribeirinhos ede trabalhadores extrativistas), consideradaspelos economistas formalistas um freio ca-

    pacidade produtiva, consistem em bandeirasde luta dos chamados ruralistas.

    iv) A flexibilizao dos direitos territoriais de po-vos e comunidades tradicionais tem ocorridoatravs de: procrastinao da titulao definiti-va de terras de quilombos, condicionantes an-tepostos titulao de terras de comunidadesquilombolas15 e ausncia de medidas quanto desintruso e reduo de terras indgenas.

    Na situao de Brejo dos Crioulos oscondicionantes explicitados no texto do Decreto

    11 No que tange ao Cdigo Florestal, os debates mostram-seacirrados desde 2009, com o Projeto de Lei n 5.367, deautoria do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), ento co-ordenador da Frente Parlamentar de Agricultura, que visa-va a transformar o Cdigo Florestal em Cdigo Ambiental,mais coadunado com os interesses imediatos dosagronegcios. Os cientistas polticos tm sublinhado quese est diante de uma nova configurao da coalizo deinteresses dos agronegcios. As agroestratgias ressaltamuma imprevista aproximao entre os interesses dosagronegcios e foras polticas que sempre se perfilaram

    esquerda defendendo a reforma agrria ampla e irrestrita:Do mundo agrrio, por sua vez, so claros os novos si-nais de mudanas a que o processo poltico no poderser diferente. Desde as discusses sobre a reforma do C-digo Florestal, tendo como referncia a questo nacional,testemunha-se uma imprevista aproximao entre osagronegcios e setores da esquerda, no caso representa-dos por um parlamentar do PCdoB, Aldo Reblo, que setem traduzido em apoio de certos crculos do capitalismoagrrio brasileiro a sua reeleio. (Vianna, 2010, p.A2).

    12 Em 2006 o senador Srgio Zambiasi (PTB-RS) apresentoua PEC 49, reduzindo a faixa de fronteira de 150 km para50 km. No final de 2007, a Comisso de Constituio e

    Justia do Senado aprovou a reduo da faixa de fronteiraentre Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Os princi-pais interessados seriam empresas transnacionais de ce-lulose, que operam no Rio Grande do Sul, na proximida-de da fronteira com a Argentina e o Uruguai. Existe ainda

    uma disposio firmada na PEC que permite a estrangei-ros a compra de terras na Amaznia. A Advocacia Geralda Unio (AGU), no decorrer de 2011, emitiu parecer de-finindo as condies para a aquisio de terras por estran-geiros. Complementa a proposta do Senador Zambiasi aPEC 235/2008, do deputado federal Mendes Ribeiro Filho(PMDB-RS). Elder Ogliari sintetiza a posio do Minist-rio da Defesa a respeito dessas PECs: A rea de Defesaadmite flexibilizar a lei sobre a faixa de fronteira, mas en-tende que os 150 km devem ser mantidos. A tese foi trans-mitida pelo Coronel Gustavo de Souza Abreu, represen-tante da Secretaria Executiva de Poltica Estratgica e As-suntos Internacionais do Ministrio da Defesa, no Semi-nrio sobre Mudanas na Extenso das Faixas de Frontei-ra, ontem em Porto Alegre. (Ogliari, 2008, p. A10).

    13 H inmeras propostas ao novo Cdigo de Minerao quetramitam no Congresso Nacional. Elas convergem paraflexibilizar os direitos de terras indgenas, de quilombos e

    dos demais povos de comunidades tradicionais, permi-tindo a intruso de seus territrios por empresasmineradoras e reduzindo seus direitos queles dossuperficirios. Antes mesmo de sua aprovao, j temosviolaes desses direitos, perpetradas pelo poder executi-vo, ao sancionar decreto, como aquele datado de 29 desetembro de 2011, que titula a terra da comunidadequilombola de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais. Videnota de rodap n.16, que complementa esta.

    14 A reserva legal, tal como disposto no Cdigo Florestal,consiste numa rea preservada que deve ocupar 80% decada imvel rural no bioma amaznico, 35% no cerrado e20% no restante do pas. Os interesses ruralistas pressi-onam a reduo dessas reas, bem como sobre as reas depreservao permanente dos imveis rurais, no intuito dedisp-las produo, ou seja, aos circuitos de mercado.

    15 O exemplo mais completo desses condicionantes refere-se ao Decreto de 29 de setembro de 2011, assinado pelaPresidenta da Repblica, que declara de interesse socialpara fins de desapropriao os imveis rurais abrangidospelo Territrio de Quilombos Brejo dos Crioulos, situadonos municpios de So Joo da Ponte, Varzelndia eVerdelndia, Estado de Minas Gerais, cujo artigo 4 res-salta o seguinte: Este Decreto no interfere nas atividadesde explorao e produo de petrleo e gs natural emblocos j citados, bem como nas atividades minerrias nasfases de pesquisa, extrao e beneficiamento mineral, as-segurando-se comunidade quilombola: 1- a preservaode seus valores histricos e culturais; II- os direitos pre-vistos em lei ao superficirio; e iii) a salubridade, segu-rana e integridade fsica em face da atividade minerria,nos termos da lei.Os direitos territoriais da comunidade quilombola limi-tam-se ao solo, so transformados em direitos desuperficirios, menosprezando-se os direitos tnicos.

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    de 29 de setembro de 2011 convertem os direitosdas comunidades remanescentes de quilombos em

    direitos de superficirios, do mesmo modo querestringem seu territrio ao solo, juridicamente se-parado do subsolo, o qual estaria disponvel ex-plorao de empresas petrolferas e de minerao.

    O resultado mais perceptvel desse conjun-to de iniciativas diz respeito ao aumento das ex-tenses de terras passveis de transaes de com-pra e venda ou a disponibilizao de terras pbli-cas aos grandes empreendimentos, removendo osobstculos jurdico-formais que impediam sua li-vre comercializao. Em outras palavras, a ao

    oficial objetiva ampliar o estoque de terrascomercializveis e reestruturar o mercado de ter-ras atravs da incorporao das terras liberadasseja pelas alteraes no Cdigo Florestal, seja naredefinio da faixa de fronteira, seja peloscondicionantes dispostos no texto de novos decre-tos de titulao de quilombos, ou seja, pela rpidatitulao de terras pblicas distribudas no ritmoclere do aquecimento do mercado de terras.

    Os diferentes limites colocados aos direi-tos territoriais de povos e comunidades tradicio-nais podem ser assim resumidos: minerao emterras indgenas, identidades coletivasilegitimadas, golpes sucessivos contra a Conven-o 169, engessamento do Decreto 6.040, de 7 defevereiro de 2007, Ao de Inconstitucionalidadedo Decreto 4887, de novembro de 2003 ouglaciao do Art.68 do ADCT. Complementar-mente, pode-se mencionar a incapacidade go-vernamental de regularizao fundiria das uni-dades de conservao, sobretudo das Reservas

    Extrativistas, e ainda as dificuldades operacionaisde dirimir as sobreposies: seja de unidades deconservao e terras indgenas e tambm de ter-ras de quilombos, seja de reas reservadas parauso militar e terras tradicionalmente ocupadaspor comunidades quilombolas e ribeirinhas.

    O discurso burocrtico dos rgos gover-namentais e das agncias ambientalistas incor-pora o termo re-categorizao de unidades deconservao, chamando a ateno para as novasdistines espaciais, a partir das sobreposies e

    suas implicaes. Est em pauta uma classifica-o mais rgida de espaos geogrficos eleitos ofi-

    cialmente para garantir a implementao da po-ltica ambiental, quando confrontada com po-vos e comunidades tradicionais. Os efeitos des-sas medidas correlatas reestruturao do mer-cado de terras ainda esto por serem estimados,mas pode-se adiantar que os processos de con-solidao das territorialidades especficas estosendo afetados de maneira profunda, sobretudono que se refere s delimitaes das terras tradi-cionalmente ocupadas. As decises dos agentessociais referidos a essas terras concernem emer-

    gncia de novas formas organizativas16 mais au-tnomas e abrangentes, que se apoiem em mo-bilizaes coadunadas com realidades localiza-das, que sublinhem as limitaes governamen-tais na aplicao das normas jurdicas e busqueminstrumentos polticos capazes neutralizar os ris-cos de uma tutela e de assegurar direitosterritoriais que tm sido usurpados. Os referi-dos riscos so significativos, pois a tutela jurdi-ca caracterizada por uma ambiguidade que tantopode expressar uma proteo exercida em re-lao a quem se considera mais frgil, quantouma submisso imposta pelos centros oficiais depoder, que passariam a ter o encargo poltico ejurdico de velar pelo tutelado ou de represent-lo. Aqui se tem um plano social de tenses entretutela e ao mediadora, que sempre recoloca aquesto da representatividade nas mobilizaespolticas e nas mesas de negociao.17

    16 A emergncia destas modalidades organizativas ser objetode um texto especfico. Importa acrescentar, contudo, que o

    Conselho Nacional dos Seringueiros, em setembro de 2010,definiu em assembleia uma nova designao que inclussetodos os extrativistas. Os povos indgenas se mobilizaramno final de 2011 e incio de 2012 para a criao de umanova entidade de representao, a Articulao dos PovosIndgenas do Brasil. A CONAQ realizou seu encontro naci-onal, em agosto de 2011, enfatizando a necessidade de umatransformao de organizao de militantes para uma en-tidade de massas. Reforar a representatividade e ampli-la parece ser um ponto de aproximao entre movimentossociais que correm o risco de ficarem tutelados aos efeitospolticos das medidas protecionistas.

    17 Esta tenso concorreu para uma fragilizao quase absolu-ta na ao mediadora atual do GTA (Grupo de TrabalhoAmaznico), que foi criado em 1991-1992, com apoio dasagncias multilaterais, com o propsito de representar asociedade civil organizada da Amaznia e que chegou ater mais de 600 entidades filiadas.

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    TERRITRIOS E TERRITORIALIDADES ESPECFICAS ...

    Em resumo, pode-se afirmar que os povos ecomunidades tradicionais encontram-se premidos

    entre a inocuidade das polticas de proteo que no lograram xito na regularizao fundiriadas RESEX, na desintruso das terras indgenas,na titulao das terras de quilombos, no pleno reco-nhecimento das demais terras tradicionalmente ocu-padas (faxinais, fundos de pasto, babauais livres,comunidades ribeirinhas) e em dirimir os conflitosem situaes classificadas como de sobreposio e a ofensiva sobre seus recursos bsicosdesencadeada pelas medidas protecionistas.

    (Recebido para publicao em 30 de novembro de 2011)(Aceito em 17 de fevereiro de 2012)

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, A. W. B. de (Org.) Conflitos sociais no complexo

    Madeira. Manaus: UEA, 2009. p.27-29.BENSAID, Daniel. Os irredutveis. Teoremas da resistncia

    para o tempo presente. Trad. Wanda Caldeira Brant. SoPaulo: Boitempo, 2008.

    CHADE, J. Conferncia da OMC anuncia fim da era dosacordos. O Estado de So Paulo, So Paulo, 19 dez. 2011. p.B7, 19.

    CORRA DO LAGO. No se pode ter dois padres de con-sumo, para pas rico e pobre. Revista Valor, p. A13, 16 fev.2012. Entrevista realizada por Daniela Chiaretti.

    OGLIARI, Elder. Defesa contra a reduo da faixa de fron-teira. In: SEMINRIO SOBRE MUDANAS NA EXTEN-SO DAS FAIXAS DE FRONTEIRA. Porto Alegre, 2008.

    SPRANDEL, M. A. (Org.) Direito dos trabalhad oresmigrantes. Manaus: UEA, 2007.

    VIANNA, Luiz Werneck. O calendrio e a coluna.RevistaValor, p.A2, 04 out. 2010.

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    Alfredo Wagner Berno de Almeida - Antroplogo. Doutor em Antropologia Social pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro. Professor da Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Pesquisador doCentro de Estudos do Trpico mido-CESTU e Pesquisador do CNPq. Foi Professor Visitante na Uni-versidade Federal do Maranho e na Universidade Federal do Amazonas. Tem atuado principalmentenos seguintes temas: povos tradicionais, etnicidade, conflitos, movimentos sociais, processos deterritorializao e cartografia social, Amaznia. Publicaes recentes:Etnicidade e urbanidade: a Aldeia Bei-ja-Flor. Novos Cadernos NAEA, v. 14, p. 131-146, 2011 (co-autor); Darwin e Marx: dilogos nos trpicos para umainterpretao do Brasil. Somanlu (UFAM), Manaus, v. 5, n. 2, p. 9-27, 2006; Quilombolas, Quebradeiras de Coco

    Babau, Indgenas, Ciganos, Faxinaleses e Ribeirinhos: movimentos sociais e a nova tradio. Revista Proposta (Rio deJaneiro), Rio de Janeiro, v. 29, n. 107/108, p. 25-38, 2006.

    TERRITOIRES ET TERRITORIALIALITSSPCIFIQUES EN AMAZONIE: entre

    protection et protectionisme

    Alfredo Wagner Berno de Almeida

    On peut voir actuellement la mise enoeuvre de politiques de rorganisation des espa-ces et des territoires qui sont le rsultat non pasdun produit mcanique dexpansion progressivedes changes, mais leffet dune action dlibredu protectionnisme de ltat visant larestructuration des marchs qui rglemententlachat et la vente des terres, des ressourcesforestires et du sous-sol. Cet article montrecomment et combien les populations et lescommunauts traditionnelles vivent souspression cause des mesures de protection des

    agences multilatrales et des politiquesprotectionnistes labores par ltat.

    MOTS-CLS:territoire, territorialit spcifique,dveloppement durable, Amazonie, agro-stratgies.

    TERRITORIES AND SPECIFICTERRITORIALITIES IN THE AMAZON:between protection and protectionism

    Alfredo Wagner Berno de Almeida

    We are currently witnessing the imple-mentation of a spatial and territorial reorga-nization, though not as a natural result of gradualincrease in exchanges, but as the effect of the Statesdeliberately protectionist action to pursue marketrestructuring and the disciplined commercializationof lands and forest and underground resources.This article shows how the peoples and thetraditional communities are constrained by theprotective measures of multilateral agencies andthe protectionist policies forged by the State.

    KEY-WORDS: territory, territoriality, sustainabledevelopment, the Amazon region, agriculturalstrategy.

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