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Territorialização em Saúde – USF Sítio Wanderley A palavra “Território” apresenta uma série diversa de conceitos e significados, pode ser considerado como apenas delimitação de uma nação/estado no aspecto político, pode significar a área de atuação numa abordagem econômica ou apenas um espaço geográfico, considerando aspectos físicos. A etimologia da palavra revela uma relação de poder (terra pertencente a), dessa forma, o conceito de território esteve quase sempre relacionado com as relações de poder que se estabelecem entre os grupos sociais e destes com a natureza (RAFESTIN, 1993). Milton Santos, considerado um dos grandes pesquisadores da Geografia da Saúde, destacou a relação entre o território e a epidemiologia, ele defendia o entendimento da doença a partir de uma dinâmica social complexa. Influenciados pelo mesmo, Costa e Teixeira(1997) destacaram que o espaço geográfico apresenta-se para a epidemiologia como uma perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que permeiam a ocorrência da saúde e da doença na coletividade. Isso permitiu mudar o foco da análise centrada apenas na doença, mas para as condições na qual ela ocorria. A Territorialização em Saúde busca o conhecimento do espaço geográfico, dos aspectos físicos, sociais, políticos, ambientais, culturais e econômicos na área específica da Estratégia da Saúde da Família. Dessa forma, é possível a elaboração de projetos e atividades nas regiões das Unidades de Saúde da Família, por exemplo, para uma melhor atuação na saúde da comunidade – planejamento ascendente. Antigamente, quando não existia a comunidade, todo o território era um sítio que pertencia aos Wanderleys. Com o surgimento da fábrica da Brasilit e posteriormente da Tramontina, a ocupação do território ocorreu quando os donos decidiram lotear o terreno e vender aos funcionários das fábricas; parte da comunidade é regulamentada e outra parte foi ocupada devido a invasões. A USF Sítio Wanderley atende em torno de 6.300 famílias, onde a maioria é do gênero feminino. Está localizada no bairro da Várzea, na zona oeste do Recife. O mapa de área de abrangência da USF encontra-se na sala em que a Vigilância Ambiental ocupa e cada uma das três equipes e cada ACS da

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Territorialização em Saúde

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Territorialização em Saúde – USF Sítio Wanderley

A palavra “Território” apresenta uma série diversa de conceitos e significados, pode ser considerado como apenas delimitação de uma nação/estado no aspecto político, pode significar a área de atuação numa abordagem econômica ou apenas um espaço geográfico, considerando aspectos físicos. A etimologia da palavra revela uma relação de poder (terra pertencente a), dessa forma, o conceito de território esteve quase sempre relacionado com as relações de poder que se estabelecem entre os grupos sociais e destes com a natureza (RAFESTIN, 1993).

Milton Santos, considerado um dos grandes pesquisadores da Geografia da Saúde, destacou a relação entre o território e a epidemiologia, ele defendia o entendimento da doença a partir de uma dinâmica social complexa. Influenciados pelo mesmo, Costa e Teixeira(1997) destacaram que o espaço geográfico apresenta-se para a epidemiologia como uma perspectiva singular para melhor apreender os processos interativos que permeiam a ocorrência da saúde e da doença na coletividade. Isso permitiu mudar o foco da análise centrada apenas na doença, mas para as condições na qual ela ocorria.

A Territorialização em Saúde busca o conhecimento do espaço geográfico, dos aspectos físicos, sociais, políticos, ambientais, culturais e econômicos na área específica da Estratégia da Saúde da Família. Dessa forma, é possível a elaboração de projetos e atividades nas regiões das Unidades de Saúde da Família, por exemplo, para uma melhor atuação na saúde da comunidade – planejamento ascendente.

Antigamente, quando não existia a comunidade, todo o território era um sítio que pertencia aos Wanderleys. Com o surgimento da fábrica da Brasilit e posteriormente da Tramontina, a ocupação do território ocorreu quando os donos decidiram lotear o terreno e vender aos funcionários das fábricas; parte da comunidade é regulamentada e outra parte foi ocupada devido a invasões.

A USF Sítio Wanderley atende em torno de 6.300 famílias, onde a maioria é do gênero feminino. Está localizada no bairro da Várzea, na zona oeste do Recife. O mapa de área de abrangência da USF encontra-se na sala em que a Vigilância Ambiental ocupa e cada uma das três equipes e cada ACS da unidade possui a sua área delimitada de atuação. A comunidade é considerada mista, ou seja, há uma grande diversidade de aspectos: uma parte da comunidade é beneficiada por ruas calçadas, pavimentação, rede esgoto e água encanada, porém, nessa mesma comunidade, nas áreas de invasão, devido à falta de planejamento, os habitantes sofrem com falta de calçamento e pavimentação, além do fornecimento irregular de água e energia.

Na comunidade, o relevo é plano, ou seja, não há algum tipo de barreira ou ladeira, mas em épocas com chuva, a região alaga e dificultando a acessibilidade no terreno. Quanto à coleta de lixo, durante a visita, foi possível perceber que esta é feita regularmente e até nas áreas de difícil acesso, mesmo assim, segundo a Agente de Saúde Ambiental alguns comunitários jogam lixo em lugares indevidos, como nas lagoas, propiciando doenças e aparecimento de animais no entorno. Os principais problemas de saúde enfrentados pela comunidade são Hipertensão, Diabetes, Hanseníase e Tuberculose.

A comunidade conta com Academia da Cidade e poucas áreas de lazer, como as praças. Há muitas instituições de ensino, tanto públicas quanto privadas e existem diversas instituições religiosas. Não existem associações comunitárias e os grupos que se formam são

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aqueles estimulados pela unidade de saúde, como o HiperDia e o grupo de Saúde Mental, por exemplo.

Acompanhamos a Agente Ambiental durante um dia de visitação à comunidade cumprindo o cronograma do combate à dengue. Passamos em várias casas observando como era feito o armazenamento da água e prevenindo o aparecimento de mais casos de dengue. A agente nos contou que eles não fazem atividades ligadas à USF, mas sim ao Serviço de Vigilância Sanitária. Na maioria das casas que visitamos, observamos que havia um cuidado com os recipientes de agua, cobertos com tampas ou plásticos, entretanto, em poucas casas, esse cuidado não se fazia, dificultando ao combate à doença e causando risco a toda a comunidade. Foi possível observar que não havia esgoto a céu aberto, porém, quando perguntamos a ASA o destino dos dejetos, ela não soube informar.

Como dito anteriormente, uma das salas da USF Sítio Wanderley é ocupada por Agentes Ambientais que são responsáveis pelo cuidado ambiental da comunidade. Na teoria, essa situação deveria trazer bons resultados à população, uma vez que os agentes ambientais reconheceriam todas as características do terreno, reuniriam essas informações e poderiam junto aos profissionais de saúde fazer um plano de atuação na área de abrangência objetivando melhores condições de saúde para comunidade. Entretanto, o vínculo que a vigilância e a USF possui é apenas o espaço físico, isso reflete em ações ineficientes e/ou um tempo maior na realização da prevenção e promoção da saúde.

Essa situação vista na comunidade de Sítio Wanderley anda na contramão do eu Milton Santos havia proposto, quando afirmava que o perfil de saúde-doença numa comunidade pode ser evidenciado territorialmente e que uma boa gestão territorial refletiria na eficácia dos programas de saúde. Deve-se lembrar que há uma dinâmica social complexa por trás da epidemiologia, ou seja, aliado a Territorialização, é necessário que haja ações promotoras de educação, moradia, saúde, transporte e saneamento básico.

Referências Bibliográfica:

FARIA, R. M.; BORTOLOZZI, A. Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da geografia da saúde no Brasil

GADELHA, C. A. G.; MACHADO, C. V.; LIMA, L. D.; BAPTISTA, T. W. F. Saúde e territorialização na perspectiva do desenvolvimento. Ciência e Saúde Coletiva. 16(6). Pag 3003-3016. 2011.

http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/tersau.html - acessado em 12.04.2015