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Estudo das implicações da cambota de geometria variável de Sousa Lobo no desempenho termodinâmico de Motores de Combustão Interna Catarina Pimenta Franco Lopes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Júri Presidente: Prof. Doutor Luis Rego da Cunha de Eça Orientador: Prof. Doutor José Miguel C. Mendes Lopes Co-Orientador: Prof. Doutor Luís Alberto Gonçalves de Sousa Vogal: Prof. Doutor João Fonseca Pereira Vogal: Eng.º Sousa Lobo Outubro de 2011

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Estudo das implicações da cambota de geometria vari ável de Sousa Lobo no desempenho termodinâmico de Motore s

de Combustão Interna

Catarina Pimenta Franco Lopes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica

Júri Presidente: Prof. Doutor Luis Rego da Cunha de Eça Orientador: Prof. Doutor José Miguel C. Mendes Lopes Co-Orientador: Prof. Doutor Luís Alberto Gonçalves de Sousa Vogal: Prof. Doutor João Fonseca Pereira Vogal: Eng.º Sousa Lobo

Outubro de 2011

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II

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I

RESUMO

A tecnologia de base dos motores de combustão interna está perfeitamente dominada, no

entanto, assistimos periodicamente ao desenvolvimento de sistemas com o objectivo de

aumentar a sua eficiência e diminuir o consumo de combustível, e assim, a emissão de

poluentes.

Com este objectivo em mente é aqui apresentado o motor de cambota de geometria variável

(CGV), criado pelo Eng.º Sousa Lobo.

O movimento do ponto de accionamento de uma cambota clássica (CC) relativamente ao seu

centro de rotação realiza uma circunferência; enquanto que o ponto de accionamento da CGV

realiza uma curva que pode apresentar formas muito diversas, da família das epicicloides.

Verificaram-se as várias possibilidades geométricas da CGV em busca de um movimento do

êmbolo semelhante ao clássico, contudo com diferenças que permitam melhorar a sua

perfomance.

A nível estrutural realizaram-se estudos estáticos numa vertente comparativa com o motor CC.

Efectuaram-se várias análises e considerações, no que diz respeito às diferenças encontradas

no movimento do êmbolo.

Analisaram-se os parâmetros que influenciam o ciclo termodinâmico, recorrendo ao software

MotorIST, desenvolvido no âmbito deste estudo para o motor CGV.

Sob o ponto de vista construtivo, o motor CGV apresenta maior complexidade. Estando sujeito

a maiores esforços dinâmicos estes terão que ser estudados de uma forma mais aprofundada,

bem como a questão do equilíbrio da cambota.

A CGV apresenta maiores perdas mecânicas e emissões de CO e NOx ligeiramente superiores.

Apresenta também maior tendência para detonar. No entanto, o motor CGV possui uma

expansão real e um rendimento volumétrico superior, permitindo o aumento do binário do

motor.

Neste estudo preliminar não foram encontrados fundamentos que inviabilizassem o motor

CGV.

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II

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III

ABSTRACT

The technology behind internal combustion engines is thought to be vastly understood.

However, we periodically observe system developments aiming to increase efficiency and

reduce fuel usage and consequently reduce gas emissions.

With this objective in mind this work presents the variable geometry crankshaft (VGC) engine

developed by Eng. Sousa Lobo.

In a classic crankshaft (CC) the action point movement describes a circumference with respect

to its center of rotation whilst in a VGC the action point movement can have different

epicycloidal shapes.

Several geometrical configurations for this crankshaft were verified in the search for a piston

movement similar to the classical one, although with small crucial differences that could lead to

an increased performance.

On a structural level, the analysis of the statical loads suggest no fundamental issues that render the VGC enviable. In addition several analysis on the piston movement within the combustion chamber were made and compared to the CC case.

We also investigated the parameters that influence the thermodynamic cycle based on the

MotorIST application, developed in this work for the CGV engine.

From a manufacturing viewpoint the VGC engine presents an increased complexity and larger

dimensions. Due to higher dynamical loads a detailed and in-depth study is needed as well as a

full analysis of the crankshaft balance.

The VGC presents larger mechanical losses; concerning gas emissions it presents increasing

levels of CO and NOx. This engine also shows a tendency towards knocking. On the other hand

the VGC engine has advantages in terms of an improvement of the expansion and volumetric

efficiency leading to an increase in engine torque.

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IV

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V

PALAVRAS-CHAVE

Cambota de geometria variável

Cambota clássica

Desempenho do motor

Análise termodinâmica

Cinemática do êmbolo

KEYWORDS

Variable geometry crankshaft

Classic crankshaft

Engine performance

Thermodynamic analysis

Piston Kinematics

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VI

Page 9: Tese 1,7 MB

VII

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos os que, à sua maneira, me acompanharam e apoiaram na

elaboração deste trabalho:

Ao Professor Mendes Lopes pela sua imediata disponibilidade, paciência e colaboração em

todas as fases do trabalho e revisão crítica do texto aqui explanado. Ao Professor Luís Sousa

agradeço também a sua disponibilidade e o apoio prestado ao longo do decorrer deste

trabalho.

À minha família, especialmente à minha Mãe, pelo apoio que me deram na recta final.

Às minhas colegas de curso e grandes amigas Zélia, Luísa e Cristiana pela fundamental

revisão editorial e de texto e ao meu grande amigo Nuno pelo acompanhamento ao longo de

todo o trabalho.

Aos meus colegas de trabalho e amigos, João Alves e João Martins por todo o seu apoio e em

especial ao Rogério Mota pelo seu indispensável know-how e infindáveis brainstormings.

A todos aqueles que de alguma forma me apoiaram, contribuindo para o meu crescimento

pessoal e profissional.

Page 10: Tese 1,7 MB

VIII

Page 11: Tese 1,7 MB

9

ÍNDICE

Índice

RESUMO ............................................................................................................... I

PALAVRAS -CHAVE................................................................................................ V

KEYWORDS .......................................................................................................... V

AGRADECIMENTOS ............................................................................................. VII

ÍNDICE ................................................................................................................. 9

ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................. 11

ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................ 12

SIMBOLOGIA ...................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1 ....................................................................................................... 17

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17

CAPÍTULO 2 ....................................................................................................... 23

METODOLOGIA E ANÁLISE PRELIMINAR ................................................................ 23

2.1 Metodologia ...................................................................................................... 23

2.2 Programas utilizados ......................................................................................... 24

2.3 Análise Preliminar ............................................................................................. 26

2.3.1 Razão de transmissão entre as engrenagens das rodas dentadas da manivela

secundária (satélite) e das engrenagens fixas ................................................................... 26

2.3.2 Relação entre o comprimento da manivela principal e o comprimento da manivela

secundária .......................................................................................................................... 29

2.3.3 Desfasamento angular entre a manivela principal e a manivela secundária ............ 32

2.3.4 Análise termodinâmica qualitativa ............................................................................. 34

2.3.5 Conclusões da Análise Preliminar ............................................................................. 35

CAPÍTULO 3 ....................................................................................................... 37

ANÁLISE ESTRUTURAL ........................................................................................ 37

3.1 Implementação da geometria no SolidWorks .................................................... 37

3.2 Simulações estudadas ...................................................................................... 39

3.2.1 Motor equivalente CC ................................................................................................ 39

3.2.2 Análise Estrutural Estática ......................................................................................... 40

3.2.3 Comparação dinâmica entre CGV Aa9 e CC ............................................................ 45

3.3 Aspectos construtivos ....................................................................................... 47

3.3.1 Projecto do motor CGV ............................................................................................. 47

3.3.2 Lubrificação, órgãos auxiliares e periféricos e distribuição ....................................... 48

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10

CAPÍTULO 4 ....................................................................................................... 49

ANÁLISE TERMODINÂMICA ................................................................................... 49

4.1 Equação do movimento .................................................................................... 49

4.2 Avanço à ignição ............................................................................................... 50

4.3 Rendimento mecânico ...................................................................................... 53

4.4 Rendimento volumétrico ................................................................................... 57

4.5 Pressão e temperatura ...................................................................................... 60

4.6 Potência máxima .............................................................................................. 62

4.7 Pressão média efectiva ..................................................................................... 63

4.8 Consumo específico .......................................................................................... 64

4.9 Emissão de poluentes ....................................................................................... 65

4.10 Trabalho de compressão ................................................................................. 67

4.11 Trocas térmicas .............................................................................................. 68

CAPÍTULO 5 ....................................................................................................... 71

CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ................................................................. 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 75

ANEXO A ........................................................................................................... 77

ANÁLISE ESTRUTURAL ESTÁTICA ........................................................................ 77

ANEXO B ........................................................................................................... 83

ESTUDO GEOMÉTRICO DO MECANISMO DO MOTOR CGV ......................................... 83

ANEXO C ........................................................................................................... 87

LISTA DE INPUTS E OUTPUTS DO MOTORIST ........................................................ 87

ANEXO D ........................................................................................................... 89

CORRECÇÃO DOS VALORES DE DURAÇÃO DE COMBUSTÃO DA CGV COM A

TEMPERATURA MÉDIA DE COMBUSTÃO .................................................................. 89

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11

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. 1 Cambota de Geometria Variável ............................................................................... 20 Figura 1. 2 Curva do ponto de accionamento CC e uma das múltiplas possibilidades da CGV 21

Figura 2. 1 Relações de projecto para a CGV ............................................................................ 23 Figura 2. 2 Rr1 a Rr4 com Aa9 e desfasamento angular de 180º .............................................. 27 Figura 2. 3 CC e CGV Rr1 com Aa9 e desfasamento angular de 180º ...................................... 28 Figura 2. 4 Aa5 e Aa12 com Rr2 e desfasamento angular de 180º ........................................... 29 Figura 2. 5 CC e CGV Aa12 com Rr2 e desfasamento angular de 180º .................................... 30 Figura 2. 6 Velocidade Aa5, Aa9, Aa12 com Rr2 e desfasamento angular de 180º .................. 31 Figura 2. 7 Aceleração Aa5, Aa9, Aa12 com Rr1 e desfasamento angular de 180º .................. 31 Figura 2. 8 Desfasamento angular de 180º e de 0º entre a manivela secundária e a manivela principal ....................................................................................................................................... 32 Figura 2. 9 Desfasamento angular de 0º com Rr2 e Aa9 ........................................................... 33 Figura 2. 10 Desfasamento angular de 175º e de 185º com Aa9 e Rr2 ..................................... 33

Figura 3. 1 Manivela secundária ................................................................................................. 38 Figura 3. 2 Manivelas principais .................................................................................................. 38 Figura 3. 3 Modelação simplificada do conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV ....................... 39 Figura 3. 4 Curso do motor CGV Aa9 ......................................................................................... 40 Figura 3. 5 Condições de fronteira impostas e malha computacional utilizada .......................... 41 Figura 3. 6 Resultado do cálculo da Tensões de Von Mises para o conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV aos 270º de cambota ........................................................................................ 42 Figura 3. 7 Área de maior tensão no conjunto êmbolo, biela, cavilhão e cambota no CGV e CC aos 270º de cambota................................................................................................................... 43 Figura 3. 8 Resultado do cálculo da Tensões de Von Mises para o conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV aos 360º de cambota ........................................................................................ 43 Figura 3. 9 Área de maior tensão no conjunto êmbolo, biela, cavilhão e cambota aos 360º, CGV e CC ............................................................................................................................................ 44 Figura 3. 10 Posição do êmbolo, motor CGV e CC .................................................................... 45 Figura 3. 11 Velocidade do êmbolo, CGV e CC ......................................................................... 46 Figura 3. 12 Aceleração do êmbolo, CGV e CC ......................................................................... 46 Figura 3. 13 Volume da câmara de combustão, CGV e CC ....................................................... 47

Figura 4. 1 Volume da câmara de combustão em função do ângulo de cambota ..................... 50 Figura 4. 2 Duração da combustão em função da velocidade de rotação, CC .......................... 51 Figura 4. 3 Avanço à ignição em função da velocidade de rotação, CC .................................... 52 Figura 4. 4 Duração da combustão em função da velocidade de rotação, CGV ........................ 53 Figura 4. 5 Avanço à ignição em função da velocidade de rotação, CGV. ................................ 53 Figura 4. 6 Pressão de perdas mecânicas por atrito em função da velocidade de rotação normalizada ................................................................................................................................. 55 Figura 4. 7 Rendimento mecânico em função da velocidade de rotação normalizada .............. 56 Figura 4. 8 Pressão média indicada em função da velocidade de rotação normalizada............ 56 Figura 4. 9 Velocidade do êmbolo CC e CGV em função do ângulo de cambota ...................... 58 Figura 4. 10 Peso dos efeitos retorno à admissão e inércia do gás, motor CGV e motor CC ... 59 Figura 4. 11 Rendimento volumétrico em função da velocidade de rotação normalizada ......... 60 Figura 4. 12 Temperatura na câmara de combustão em função do ângulo de cambota, velocidade máxima de rotação .................................................................................................... 61

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12

Figura 4. 13 Pressão na câmara de combustão em função do ângulo de cambota, velocidade máxima de rotação ...................................................................................................................... 61 Figura 4. 14 Potência indicada em função da velocidade de rotação normalizada .................... 62 Figura 4. 15 Potência indicada em função da velocidade de rotação ........................................ 63 Figura 4. 16 Pressão média efectiva e binário efectivo em função da velocidade de rotação normalizada ................................................................................................................................. 64 Figura 4. 17 Consumo específico e rendimento efectivo em função da velocidade de rotação normalizada ................................................................................................................................. 64 Figura 4. 18 Concentração de CO em função do ângulo de cambota........................................ 65 Figura 4. 19 Concentração de NO em função do ângulo de cambota........................................ 66 Figura 4. 20 Temperatura de escape em função da velocidade de rotação normalizada .......... 67 Figura 4. 21 Trabalho de compressão em função da velocidade de rotação normalizada ........ 67 Figura 4. 22 Trocas térmicas até à abertura da válvula de escape por cilindro em função da velocidade de rotação ................................................................................................................. 68 Figura 4. 23 Trocas térmicas no escape espontâneo por cilindro em função da velocidade de rotação normalizada .................................................................................................................... 69 Figura 4. 24 Potência do sistema de refrigeração em função da velocidade de rotação normalizada ................................................................................................................................. 70

Figura A. 1 Estudo das tensões na geometria Aa8, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ..... 78 Figura A. 2 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa8, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ............................................................................................................................................. 78 Figura A. 3 Estudo das tensões na geometria Aa9, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ..... 79 Figura A. 4 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa9, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ............................................................................................................................................. 79 Figura A. 5 Estudo das tensões na geometria Aa10, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ... 80 Figura A. 6 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa10, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ............................................................................................................................................. 80 Figura A. 7 Estudo das tensões na geometria Aa11, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ... 81 Figura A. 8 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa11, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ............................................................................................................................................. 81 Figura A. 9 Estudo das tensões na geometria Aa12, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ... 82 Figura A. 10 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa12, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º ............................................................................................................................................. 82

Figura B. 1 Motor CGV, 45º de cambota..................................................................................... 83 Figura B. 2 Ponto de activação da CGV ..................................................................................... 84 Figura B. 3 Curva cardióide mitigada dupla efectuada pelo ponto de accionamento da cambota CGV ............................................................................................................................................. 84

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2. 1 Amplitude entre inversões de movimento nos PMS e nos PMI, desfasamento angular de 180º ........................................................................................................................... 30 Tabela 2. 2 Valores de velocidade e aceleração máxima às 3000 rpm ..................................... 31

Tabela 3. 1 Distância entre eixos, Axis1 e Axis2 para cada relação Aa modelada .................... 37 Tabela 3. 2 Propriedades da liga de Aço .................................................................................... 41

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13

Tabela 3. 3 Valores de pressão no interior da câmara de combustão para três valores de CAD ..................................................................................................................................................... 42 Tabela 3. 4 Valores máximos de tensões e deslocamento para relações de Aa8 a Aa12 ........ 44 Tabela 3. 5 Características do motor CC e CGV ........................................................................ 45 Tabela 3. 6 Velocidade e aceleração máxima para o motor CC e CVG .................................... 46 Tabela 3. 7 Valores de volume da câmara de combustão, motor CGV e CC ............................ 47

Page 16: Tese 1,7 MB

14

Page 17: Tese 1,7 MB

15

SIMBOLOGIA

a Comprimento da manivela secundária (mm)

A Comprimento da manivela primária (mm)

A Área (m2)

A Factor de frequência

Aa Relação do comprimento da manivela secundária com o comprimento da

manivela principal

AAI Ângulo de avanço à ignição (º)

Alat Área lateral da câmara de combustão (mm2)

Avar Área varrida pelo êmbolo (mm2)

Ares Área residual do cilindro (mm2)

b Comprimento útil da CGV (mm)

b Comprimento da manivela do motor CC (mm)

B Binário (N.m)

c Número de cilindros

CADEC Ângulo de fim de combustão (º)

CAD Crank angle degree Ângulo de rotação de cambota (º)

Ce Consumo específico (g.kW-1.h-1)

cp Capacidade térmica mássica a pressão constante (J.kg-1.K-1)

CGV Cambota de Geometria Variável

CC Cambota Clássica

d Diâmetro do cilindro (mm)

E Energia de activação (J.kg-1, kJ.mol-1)

H Entalpia (J)

l Curso do êmbolo (mm)

L Comprimento da biela (mm)

MCI Motor de Combustão Interna

n Velocidade de rotação (rpm)

m Número de êmbolos por manivela

nadim Velocidade normalizada com a velocidade de rotação máxima

p Pressão (MPa, bar)

P Potência (kW)

pm Pressão média (bar)

Pm Potência das perdas mecânicas (kW)

PMI Ponto morto inferior

PMS Ponto morto superior

PM Ponto(s) morto(s) superior e/ou inferior

Qter Trocas térmicas no momento de abertura da válvula de escape (J)

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16

Qesc Trocas térmicas durante o escape espontâneo (J)

Qrefr Potência do sistema de refrigeração (J)

r Raio da roda dentada da manivela secundária (mm)

R Raio da engrenagem fixa (mm)

R Constante de um Gás Perfeito (J.kg-1.K-1)

Rr Razão de transmissão entre as engrenagens das rodas dentadas da manivela

secundária e das engrenagens fixas

rc Razão de compressão

RLa Razão entre o comprimento da biela e o raio da manivela

Rld Razão entre o curso e o diâmetro

s Distância entre o eixo da cambota e o cavilhão do êmbolo (mm)

Su Velocidade de propagação de chama laminar (m/s2)

T Temperatura (K)

Tb Temperatura adiabática de chama (K)

TETA Ângulo de cambota (º)

V Cilindrada total do motor (cm3)

Vc Cilindrada unitária (cm3)

Vmax Volume máximo do cilindro (cm3)

Vres Volume residual do cilindro (cm3)

W Trabalho (J)

∆θ Amplitude angular (º)

γ Razão das capacidades caloríficas mássicas a pressão e volume constante

Γ Coeficiente de difusividade mássica (kg.m-1.s-1)

ηm Rendimento mecânico

ηv Rendimento volumétrico

θ Ângulo de cambota (º)

λ Coeficiente de excesso de ar

ρ Massa específica (kg/m3)

ÍNDICES

0 Relativo às condições ambientes (exteriores ao motor)

e Relativo a valores efectivos

fu Relativo ao combustível

i Relativo a valores indicados

m Relativo e perdas mecânicas

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17

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O problema actual do sector energético, a nível mundial, tem levado ao aparecimento de novas

tecnologias associadas aos motores e respectivas fontes de energia. As crescentes

necessidades de mobilidade individual e colectiva levaram, recentemente, ao aparecimento de

veículos com “novos” tipos de motorizações e combustíveis como por exemplo, veículos

eléctricos, sistemas híbridos, células de combustível alimentadas por hidrogénio. Esta área é

actualmente alvo de intensa investigação e novos desenvolvimentos aparecem de forma

regular. Contudo o Motor de Combustão Interna (MCI) alimentado por combustíveis fósseis

continua insubstituível numa visão a curto/médio prazo, por um conjunto significativo de razões,

algumas das quais se apresentam mais à frente. Este tipo de motor e de combustíveis são

usados como meio de geração de energia nos mais variados contextos, não só ao nível dos

transportes (terrestres, náuticos, e, em menor grau, aéreos), como ainda na geração de

energia eléctrica, accionamento de máquinas na indústria, máquinas de movimentação de

terra, accionamento de pequenos equipamentos, entre outros.

Estes motores apresentam variadíssimas vantagens, nomeadamente, baixo custo de fabrico,

associado ao recurso a tecnologias conhecidas e fortemente desenvolvidas, o que permite a

sua manutenção e reparação por técnicos não muito especializados e em lugares remotos.

Têm também um peso e um volume relativamente baixos por unidade de potência produzida,

devido à utilização de combustíveis com forte densidade energética e de fácil armazenamento

[1].

Dadas as Normas de Emissões de gases poluentes e com efeito de estufa que actualmente

têm que ser cumpridas, existe uma preocupação global na análise e investigação de novos

processos de diminuição destas mesmas emissões. Ao mesmo tempo procura-se uma maior

eficiência destes motores que, apesar de terem inúmeras vantagens, têm um baixo rendimento

global, principalmente a cargas parciais.

Neste sentido, apesar de, como já foi referido, a tecnologia que está na base dos MCI estar

perfeitamente dominada, nesta última década assistimos ao desenvolvimento e optimização de

sistemas já existentes, bem como à invenção e aplicação de outros, sempre com o objectivo de

aumentar a eficiência dos MCI e diminuir o consumo de combustível, e consequentemente, a

emissão de gases poluentes.

Estes desenvolvimentos incidiram nos MCI que utilizam como combustível quer o gasóleo quer

a gasolina, principalmente no sector automóvel, sector este que tem sido, desde há décadas, o

forte impulsionador no desenvolvimento dos mesmos.

Page 20: Tese 1,7 MB

18

Os diversos fabricantes de automóveis têm designações próprias para estes sistemas, embora

nalguns casos estejamos perante a mesma tecnologia e noutros perante sistemas realmente

exclusivos. Desta forma, seguir-se-á um breve resumo de alguns exemplos de inovações e

desenvolvimentos aplicados nos MCI, baseando-se no seu princípio.

MCI gasolina:

• Colectores de admissão com comprimento/volume variáveis em função da carga e

velocidade do motor. Existem exemplos de aplicações com dois ou três estágios e até

mesmo com regulações contínuas.

• Colectores de admissão com canais internos controlados por borboletas, estabelecendo

uma ou várias ligações (com comprimentos diferentes a utilizar em função da carga e

velocidade do motor) entre bancadas de cilindros, com o objectivo de aproveitar a contra

pressão gerada pelo fecho das válvulas de admissão, contribuindo no ciclo de admissão da

bancada adjacente.

• Regulação das árvores de cames, ou seja, a possibilidade de alteração dos tempos da

distribuição em função da carga e velocidade do motor, de forma a influenciar directamente

o rendimento volumétrico.

• Regulação contínua da amplitude de abertura das válvulas de admissão. Este sistema

assume a função da borboleta de admissão. Desta forma reduzem-se as perdas de

admissão, uma vez que por defeito a borboleta de admissão poderá passar a estar aberta

(continua presente para realizar outras funções secundárias). Por outro lado, este sistema

permite controlar com maior exactidão a quantidade de ar que entra para os cilindros,

proporcionando assim uma mistura mais precisa entre ar/combustível, com as vantagens

que daí advêm.

• Sistema de injecção directa de combustível. Apesar desta tecnologia ter já várias décadas,

só recentemente foi possível optimizar a mesma. Além de um claro aumento da precisão no

controlo da quantidade de combustível a injectar, hoje em dia é possível funcionar em modo

estratificado não só em cargas e velocidades reduzidas, mas também em cargas e

velocidades parciais do motor. Com os valores do parâmetro lambda a poderem chegar a

2,5, proporciona-se uma redução efectiva do consumo de combustível.

• Sistemas de sobrealimentação. Assiste-se actualmente a uma crescente aplicação destes

sistemas, com um objectivo real e claro de downsizing dos motores (menor espaço e peso).

Graças a estes sistemas, é possível criar motores com uma performance equivalente aos

atmosféricos com muito menor cilindrada. Consegue-se assim ter motores mais pequenos,

o que se traduzirá numa diminuição considerável do consumo de combustível, e também de

emissões de gases poluentes.

Page 21: Tese 1,7 MB

19

MCI Diesel:

• Sistema de injecção de combustível “common rail”. Este sistema tem vindo a sofrer

sucessivos desenvolvimentos, nomeadamente ao nível da pressão máxima admissível.

Começaram, de uma forma em geral, com valores de pressão de 1600 bar, atingindo hoje

em dia 2200 bar. A nível dos injectores, além dos habituais com controlo electromagnético,

temos injectores piezo eléctricos que permitem uma maior velocidade e precisão de

injecção.

• Sistemas de sobrealimentação. Existem diversas soluções, sendo hoje em dia comum a

aplicação de turbo compressores com geometria variável associados a um sistema de after

cooler. Existe também a aplicação no mesmo motor de dois turbo compressores de

dimensionamento diferente, podendo estar um, o outro ou ambos em funcionamento

dependendo da carga e velocidade do motor.

• Não há muito tempo assistimos à substituição do aço por ligas de alumínio na construção de

vários componentes dos motores, obtendo assim um ganho indirecto na redução do

consumo de combustível, devido à diminuição do peso e da inércia.

• Filtro de partículas. É hoje em dia um elemento indispensável nos motores Diesel para

garantir o cumprimento das normas actuais de emissões. Devido a este elemento não há

emissões de partículas para a atmosfera. Os mais desenvolvidos não necessitam de

aditivos no combustível, realizando a sua regeneração por eles próprios.

No trabalho aqui apresentado analisa-se mais um desenvolvimento recente e original com o

qual se pretende, tal como nos anteriormente listados, tornar o motor de combustão interna

mais competitivo e ambientalmente menos gravoso: o motor de cambota de geometria variável.

A Cambota Activa de Geometria Variável

O conceito da Cambota de Geometria Variável (CGV) foi idealizado pelo Eng.º Sousa Lobo. [2]

Ao ser aplicada aos MCI de êmbolos alternativos, esta cambota opera baseada num

mecanismo com uma dada relação de velocidades fixa, por exemplo com engrenagens. Com

duas manivelas, uma secundária e uma principal, a Cambota de Geometria Variável transmite

um movimento diferente da ligação clássica da cambota à biela e, assim ao êmbolo.

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20

Figura 1. 1 Cambota de Geometria Variável

1 – Êmbolo

5 – Roda dentada fixa

2 – Biela

6 – Apoio da cambota

3 – Cavilhão

7 – Manivela principal

4 – Manivela secundária

A Figura 1. 1 apresenta uma perspectiva da Cambota de Geometria Variável. Podem observar-

se as duas manivelas, 4 (com as engrenagens planetárias agregadas) e 7, e as duas rodas

dentadas fixas 5.

O princípio de funcionamento é bastante simples, com o movimento descendente do êmbolo,

provocado pela combustão na câmara de combustão, a manivela secundária 4 roda em torno

das rodas dentadas fixas 5 como uma engrenagem satélite. O movimento transmitido à biela

vai depender, além de outros parâmetros, da razão entre as rodas dentadas da manivela

secundária 4 e das rodas dentadas fixas 5. O exemplo aqui apresentado tem uma relação de

2:1. Esta razão será estudada no Capítulo 2.

Page 23: Tese 1,7 MB

21

Recorrendo ao uso de duas manivelas, a ligação da biela à cambota tem a particularidade de

ter um raio variável, contrariamente à Cambota Clássica (CC), que apresenta um raio

constante; simulando a utilização de duas cambotas e assim dois eixos de rotação. Portanto

este raio, que varia com o ângulo de cambota (CAD), imprime um movimento distinto do

convencional no êmbolo.

O movimento do ponto de accionamento da CGV, considerado o moente da biela,

relativamente ao seu centro de rotação, realiza uma curva diferente da circunferência do motor

CC, Figura 1. 2. Esta curva pode apresentar formas muito diversas, consoante a razão das

engrenagens fixas e planetárias, a razão das manivelas principal e secundária e o

desfasamento angular de referência entre as manivelas. As curvas são da família das

epicicloides, estando ilustrado um caso de uma cardióide mitigada dupla na Figura 1. 2.

Figura 1. 2 Curva do ponto de accionamento CC e uma das múltiplas possibilidades da CGV

Uma vez que se pretende descrever um ciclo clássico de um motor de combustão interna, o

movimento do casquilho da biela não pode ser muito diferente do do caso clássico, pelo que a

aplicação da CGV é apenas estudada para geometrias que mantenham o tipo de movimento

clássico (ver capítulo “Análise Preliminar”). Este estudo incide na diferença desse movimento,

que pode trazer vantagens para o desempenho do motor.

Dada esta pequena diferença no movimento do êmbolo no interior do cilindro, podem tirar-se

muitas conclusões qualitativas. O objectivo deste estudo é aprofundar essas conclusões,

quantificar algumas delas, e, num estudo preliminar do motor CGV, analisar as vantagens e

inconvenientes deste motor face a um motor convencional, quer sob o ponto de vista

mecânico/estrutural, quer, principalmente, sob o ponto de vista do ciclo termodinâmico.

Page 24: Tese 1,7 MB

22

No âmbito desta dissertação este estudo foi dividido nas seguintes fases:

i) uma primeira que se desenvolveu sobre o aspecto qualitativo e preliminar de um motor com

a cambota em análise;

ii) uma segunda, que teve um carácter decisivo no que diz respeito a dimensões e decisões

estruturais;

iii) uma terceira que se debruçou na componente termodinâmica de um MCI Clássico (CC) em

comparação com um MCI com a Cambota de Geometria Variável (CGV).

Page 25: Tese 1,7 MB

23

CAPÍTULO 2

METODOLOGIA E ANÁLISE PRELIMINAR

A Cambota de Geometria Variável poderá ser aplicada em qualquer tipo de MCI de êmbolos

alternativos uma vez que se baseia numa alteração da ligação entre o movimento alternativo

do êmbolo e o movimento rotativo da cambota. Desta forma, o mesmo princípio poderá ter

outro tipo de aplicações, como por exemplo a utilização desta nos pedais de uma bicicleta, de

maneira a que o esforço do utilizador possa produzir um momento superior na cremalheira1.

Neste estudo foi verificada a sua aplicação num motor de explosão de automóvel, devido à

maior sensibilidade existente para este tipo de máquinas.

2.1 Metodologia

Como referido no capítulo anterior, a CGV apresenta um raio variável com o ângulo de rotação,

logo, um movimento do êmbolo diferente do clássico. Existem três relações geométricas que

vão influenciar o comprimento útil do raio da CGV, levando assim a diferentes comportamentos

do êmbolo relativamente à sua posição, velocidade e aceleração com a posição angular da

cambota. São estes factores os seguintes:

• razão de transmissão entre as engrenagens das rodas dentadas da manivela

secundária (satélite) (r) e das engrenagens fixas (R);

• relação entre o comprimento da manivela principal (A) e o comprimento da manivela

secundária (a);

• desfasamento angular entre a manivela primária e a manivela secundária. Considera-

se desfasamento angular zero quando no PMS o raio da CGV é igual à soma dos

comprimentos das duas manivelas.

Figura 2. 1 Relações de projecto para a CGV

1 O Eng.º Sousa Lobo procurou desenvolver esse estudo com um construtor de bicicletas.

Page 26: Tese 1,7 MB

24

Estas relações serão definidas na secção 2.2 deste trabalho. Foi realizado um estudo da

variação destes parâmetros maioritariamente quantitativo, mas em algumas geometrias apenas

qualitativo, de maneira a compreender a cinemática da posição do êmbolo em função do CAD

e também as suas variações de velocidade e aceleração ao longo do ciclo, para uma

velocidade de rotação constante da manivela principal.

Foi também considerada a alteração do tempo de duração de um ciclo, já que em

determinadas razões de transmissão entre engrenagens (razões não inteiras) não observamos

a repetição do movimento ao fim de 360º. Para análise mais aprofundada foram escolhidas

geometrias com ciclos de 720º visto estar em estudo o ciclo de um motor a 4 tempos, podendo

assim tirar partido do movimento pretendido do êmbolo junto do PMS, do PMI e entre estes.

Comparando os ciclos realizados por cada uma das geometrias com o ciclo teórico Otto e

fazendo uma análise qualitativa do que seria desejado, nomeadamente no movimento e

velocidade do êmbolo, em cada tempo do ciclo termodinâmico, automaticamente foram

eliminadas algumas das geometrias por não possuírem um comportamento do êmbolo

adequado ao pretendido.

Assim, com um número limitado de geometrias a estudar, partiu-se para um estudo sistemático

do comportamento do motor sob os pontos de vista cinemático, dinâmico e termodinâmico

através da utilização de dois softwares. Para as análises pretendidas foram utilizadas algumas

ferramentas computacionais, respectivamente o SolidWorks2010 (incluindo os módulos

SolidWorks Simulation2010 e SolidWorks Motion2010) e o MotorIST.

2.2 Programas utilizados

O SolidWorks é uma ferramenta de modelação tridimensional que utiliza modelação

paramétrica quer para componentes individuais, quer para a montagem de conjuntos. A

sequência de modelação de um componente num projecto começa com o esboço de cada

peça em 2D, seguindo essencialmente três passos; a utilização de formas elementares (por

exemplo pontos, linhas, arcos de circunferência), a definição de dimensões para decidir os

comprimentos das formas e a sua localização, e a relação entre formas (coincidentes,

paralelas, tangentes, etc.). A natureza paramétrica deste tipo de modelação leva a que a

geometria em 3D seja bastante dinâmica, isto é, qualquer alteração em determinado

parâmetro, irá resultar na alteração dos restantes em conformidade. Após a construção das

peças é possível modelar o conjunto (assembly) do projecto, utilizando as relações já

mencionadas (coincidentes, paralelas, tangentes, etc.), agora entre as peças.

O SolidWorks Motion é uma ferramenta do SolidWorks que se destina à simulação da

cinemática e da dinâmica de sistemas mecânicos. Embora não seja uma ferramenta de topo

nesta área, a facilidade de utilização, que vem da total integração dentro do SolidWorks,

permite realizar simulações de forma simples e relativamente rápida. Além da fácil inclusão dos

Page 27: Tese 1,7 MB

25

componentes 3D, a definição mecânica de juntas e constrangimentos (por exemplo contactos),

ligações por cames, molas e amortecedores e a especificação de motores ligados ao

componente desejado, permitem a obtenção de resultados muito importantes, quer na fase

inicial do projecto (pela facilidade com que se alteram diversos parâmetros da modelação e da

simulação num processo iterativo) quer numa fase mais avançada do projecto.

O SolidWorks Simulation, é também uma ferramenta totalmente integrada dentro do

SolidWorks, é um módulo de análise estrutural tendo por base o método dos elementos finitos.

A simulação pode ser feita a nível do componente individual (caso se conheçam previamente

os parâmetros a nível de ligações e de esforços a que o componente estará sujeito) ou do

conjunto. A partir das definições entre os componentes no conjunto, é possível efectuar a

simulação estática (linear ou não-linear) obtendo o conjunto de tensões e deformações em

cada zona das peças. Desta forma, a ferramenta ajuda o projectista em todas as fases do

projecto que requeiram o conhecimento dos esforços internos a que o material de cada

componente estará sujeito. Com base nestas informações, o projectista poderá tomar decisões

sobre o material e a forma do componente de maneira a salvaguardar a integridade do sistema

em projecto. Entre os vários tipos de análises, com interesse para o desenvolvimento futuro do

presente trabalho, é possível realizar estudos estáticos, de frequências (frequências próprias e

respectivos modos de vibração) e de fadiga.

Através da modelação de um motor com a CGV no SolidWorks2010, é possível a variação de

todas as dimensões. Neste trabalho escolheram-se as que teriam mais interesse para o

conceito da CGV, nomeadamente da relação entre o comprimento da manivela principal e da

manivela secundária, a razão entre as engrenagens das rodas dentadas e o posicionamento

relativo das engrenagens com as manivelas.

Tendo em conta estas variações, de maneira a verificar quais as alterações no movimento, na

velocidade e na aceleração do êmbolo, foi utilizando o SolidWorks Motion2010. Foi também

com este software que se conferiu a não existência de qualquer impedimento do movimento

dos motores, nomeadamente da CGV, isto porque foi também modelado um motor CC, de

maneira a poder fazer a comparação da posição do êmbolo, e de valores de velocidade e

aceleração com o movimento clássico do êmbolo.

Através do SolidWorks Simulation2010 foi efectuado o estudo das tensões e deformações

numa análise estática da estrutura, quando aplicadas condições de fronteira e cargas em

determinados ângulos de cambota. Este estudo teve o objectivo de verificar a localização dos

pontos de maior tensão, nas geometrias da CGV estudadas e também a comparação dos

valores de tensão máximos atingidos em cada uma dessas geometrias. Existiu também a

preocupação de verificar os valores de tensão no motor CC nos locais de tensão máxima do

motor CGV. Foi ainda possível observar os deslocamentos da estrutura aquando da aplicação

da carga.

Page 28: Tese 1,7 MB

26

Como referido, para a simulação do comportamento termodinâmico do motor de explosão, no

ciclo de 4 tempos com a CGV, foi usado o código MotorIST. Este programa foi utilizado no

estudo comparativo da variação das componentes termodinâmicas do motor com a CGV e num

motor convencional.

É um software zero-dimensional (ou de valores globais, não discriminados no espaço) que

simula o comportamento termodinâmico do ciclo de um motor de explosão a 4 tempos, entre o

fecho da admissão e a abertura do escape, embora seja um modelo de zonas durante a fase

de combustão. O cálculo principal recorre a submodelos para diversos aspectos do cálculo,

nomeadamente para as entradas e saídas de gases, trocas térmicas, ocorrência de detonação,

emissão de poluentes, perdas mecânicas, etc. [3]

O estudo comparativo entre o motor CGV e o motor CC foi possível porque o programa

MotorIST é executado sobre um ficheiro de dados alteráveis que inclui as dimensões base do

motor, número de válvulas, comprimento da biela e curso. Este programa permite ainda (o mais

relevante neste estudo) alterar a lei do movimento do êmbolo em função do ângulo da

cambota; possibilitando assim o estudo de um motor CGV equivalente ao motor CC em termos

de dimensões, nomeadamente volume/cilindrada.

Deveria também ter sido utilizada uma ferramenta de simulação dos escoamentos não

estacionários nos colectores mas, devido a algumas limitações, acabou por sair do âmbito

deste trabalho. Esta acção sugere-se como trabalho futuro.

A análise dos resultados obtidos em ambos os estudos foi realizada de um modo comparativo

entre um motor com a CGV e um motor a operar nas mesmas condições com uma CC.

2.3 Análise Preliminar

Numa análise preliminar foram estudadas as várias possibilidades geométricas da CGV de

maneira a podermos compreender os vários movimentos possíveis do êmbolo no interior do

cilindro. Este estudo foi efectuado com o software SolidWork Motion após a modelação do

motor CGV no SolidWorks. Foi também modelado um motor CC equivalente, nomeadamente

no curso, de maneira a podermos efectuar uma comparação dos parâmetros de interesse

estudados. A utilização deste programa e a modelação das geometrias em análise será

explicada em detalhe no capítulo seguinte, Análise Estrutural.

2.3.1 Razão de transmissão entre as engrenagens das rodas dentadas da manivela

secundária (satélite) e das engrenagens fixas

Numa primeira abordagem foi estudada a influência da razão de transmissão entre as

engrenagens das rodas dentadas das manivelas secundária e das engrenagens fixas, na

cinemática do êmbolo, relativamente ao caso clássico. Foi também alvo de análise a

Page 29: Tese 1,7 MB

27

determinação das zonas onde possa haver avanços/atrasos numa rotação de 360º da cambota

relativamente à CC.

Como já referido, procedeu-se ao estudo somente de razões inteiras, visto que apenas se

pretendia o caso em que no final de duas rotações completas (720º) o êmbolo estivesse

novamente na mesma posição.

Foi efectuado um estudo de uma razão de 1:1 (aqui designada Rr1) a uma razão de 1:4 (Aqui

designada Rr4) entre as engrenagens da manivela principal e da manivela secundária, ( Figura

2. 2).

De maneira a compreender fisicamente esta alteração da razão de transmissão entre

engrenagens é necessário perceber que esta razão vai influenciar o número de voltas que a

engrenagem satélite dá em torno das rodas dentadas fixas da manivela principal. Uma relação

de Rr1 leva a engrenagem satélite, e consequentemente a manivela secundária, a dar duas

voltas completas, e assim sucessivamente até Rr4, em que dá cinco voltas completas.

Figura 2. 2 Rr1 a Rr4 com Aa9 e desfasamento angular de 180º

0 90 180 270 360

TETA [º]

Rr1

0 90 180 270 360

TETA [º]

Rr2

0 90 180 270 360

TETA [º]

Rr3

0 90 180 270 360

TETA [º]

Rr4

Page 30: Tese 1,7 MB

28

Este estudo foi realizado com um desfasamento angular de 180º entre a manivela principal e o

a manivela secundária, e uma relação entre os seus comprimentos de 9 (Aa9). A influência

destes parâmetros também será analisada mais à frente.

Com uma razão de 1:1 das engrenagens das rodas dentadas na manivela principal e da

manivela secundária, observamos que o movimento do êmbolo é mais rápido no PMI do que

no caso clássico, mas no PMS é consideravelmente mais lento (Figura 2. 3).

Figura 2. 3 CC e CGV Rr1 com Aa9 e desfasamento angular de 180º

Verificamos que o movimento do êmbolo é sempre mais lento no PMS do que no caso clássico,

mas que o comportamento no PMI depende da razão Rr ser par ou ímpar. Sendo ímpar, temos

(como afirmado acima) um movimento mais rápido do que no caso clássico; pelo contrário, se a

razão Rr for par o êmbolo comporta-se no PMI de um modo semelhante ao do PMS. Note-se

que este comportamento seria igual se a biela tivesse um comprimento infinito. O movimento

mais lento nos PM pode estar associado ou não a duas inversões suplementares do

movimento do êmbolo nas vizinhanças antes e depois do PM (PMS e/ou PMI). A existência ou

não dessas inversões do movimento depende da relação aqui designada por Aa entre os

comprimentos das manivelas (secção 2.3.2). No caso de haver inversão suplementar de

movimento, há três pontos mortos em vez de um único.

Nas razões Rr1 e Rr2 vemos que tanto o movimento descendente como ascendente apresenta

uma certa regularidade, semelhante ao da cambota clássica. Já para razões de 3 e 4 este

movimento apresenta-se irregular com sucessivas acelerações e desacelerações. No caso

particular de Rr4 temos o comportamento de uma razão par, que implica as três inversões de

movimentos nos PM e o já referido movimento irregular entre PM. Estas junções de

comportamentos levam a velocidades mais elevadas e acelerações e desacelerações mais

intensas na parte média do curso do que no motor CC, já que, considerando a velocidade de

rotação idêntica, o tempo para realização do ciclo completo é o mesmo.

0 90 180 270 360

TETA [º]

Rr1 CC

Page 31: Tese 1,7 MB

29

2.3.2 Relação entre o comprimento da manivela princ ipal e o comprimento da manivela

secundária

Uma outra relação geométrica que implica variações no movimento do êmbolo é a relação do

comprimento da manivela principal com o comprimento da manivela secundária. Esta relação

foi denominada por Aa ( Figura 2. 2).

Foram então estudadas relações de Aa5 a Aa12, verificando-se que, à medida que esta

relação vai aumentando, as inversões do movimento do êmbolo nos PMS e PMI são cada vez

menos pronunciadas, deixando mesmo de existir a partir de determinado valor, como podemos

ver na figura seguinte.

Figura 2. 4 Aa5 e Aa12 com Rr2 e desfasamento angular de 180º

Com uma relação de Aa5 verificou-se que o êmbolo apresenta um movimento alternado (isto é,

mais que uma inversão do sentido do movimento) tanto no PMS como no PMI, ou seja, poderá

dizer-se que tem três pontos mortos inferiores e três pontos mortos superiores. Ao atingir o

primeiro PMI o êmbolo inverte o seu movimento e volta a subir até atingir o segundo PMI. Aí

volta a descer até ao terceiro PMI e depois novamente a subir, verificando-se também uma

simetria no movimento. No seu movimento descendente e ascendente (fora das proximidades

dos PM) terá uma velocidade muito superior já que, como o tempo para um ciclo é igual para

todas as relações, terá que compensar a suavização do movimento no PMS e PMI. Podemos

observar que a inversão de movimento é superior no PMI relativamente ao PMS. Como

referido, esta diferença de comportamento entre o PMS e o PMI é devido ao comprimento da

biela; se este comprimento fosse infinito, em cada relação de manivelas teríamos exactamente

o mesmo comportamento no PMS e PMI.

À primeira vista, com uma relação de Aa12, o movimento do êmbolo é semelhante ao de um

êmbolo movido por uma cambota clássica, mas ao comparar ambos os movimentos verifica-se

0 90 180 270 360

TETA [º]

Aa5 Aa12

Page 32: Tese 1,7 MB

30

que o tempo que o êmbolo se mantém a um volume quase constante no PMI e PMS é muito

superior.

Figura 2. 5 CC e CGV Aa12 com Rr2 e desfasamento an gular de 180º

Relação PMS1

[º] PMS2

[º] PMS3

[º] ∆θ [º]

PMI1

[º] PMI2

[º] PMI3

[º] ∆θ [º]

Aa5 328 0 392 64 140 180 220 80 Aa7 340.8 0 379.2 38.4 146.6 180 210.4 63.8 Aa8 352 0 368 16 156 180 204 48 Aa9 0 162.4 180 197.6 35.2

Aa10 0 172.8 180 187.2 14.4 Aa11 0 175.2 180 184.8 9.6 Aa12 0 180

Tabela 2. 1 Amplitude entre inversões de movimento nos PMS e nos PMI, desfasamento angular de 180º

Deste estudo concluímos que até uma relação de Aa8, temos as inversões do movimento do

êmbolo no PMS e no PMI, mas a partir desta relação, estas inversões apenas se verificam no

PMI, e a partir da relação de Aa12, existe apenas uma inversão do movimento do êmbolo nos

PM.

Velocidade e aceleração

Em relação às velocidades atingidas concluiu-se, como se esperava, que quanto menor a

relação Aa mais rápido é o êmbolo nos movimentos ascendente e descendentes, atingindo aí a

sua velocidade máxima. A Tabela 2. 2 mostra os valores obtidos da velocidade e da aceleração

máxima considerando uma velocidade de rotação de 3000 rpm. Note-se que é difícil a

comparação com o motor de CC, uma vez que, com a CGV, para cada valor de Aa o curso do

êmbolo é diferente, o que afecta a cilindrada do motor.

0 90 180 270 360

TETA [º]

CGV Aa12 CC

Page 33: Tese 1,7 MB

31

Relação Velocidade máx

[m/s] Aceleração máx

[m/s2] Curso [mm]

Aa5 23.34 10,97 78.7

Aa7 20.76 8.74 78.5

Aa8 19.97 8.03 79.2

Aa9 19.35 7.48 80.1

Aa10 18.86 7.04 81.0

Aa11 18.45 6.68 81.8

Aa12 18.12 6.38 82.5 Tabela 2. 2 Valores de velocidade e aceleração máxi ma às 3000 rpm

De maneira a estudar as diferenças para cada relação Aa poderia ter-se fixado o curso,

obtendo assim cilindrada igual para todos os motores, mas optou-se por fixar o comprimento da

manivela primária, variando o comprimento da manivela secundária e por conseguinte o curso

e cilindrada do motor.

Figura 2. 6 Velocidade Aa5, Aa9, Aa12 com Rr2 e desfasamento angular de 180º

Figura 2. 7 Aceleração Aa5, Aa9, Aa12 com Rr1 e desfasamento angular de 180º

-30

-20

-10

0

10

20

30

0 90 180 270 360

Ve

loci

da

de

[m

/s]

TETA [º]

Aa5 Aa9 Aa12

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

0 90 180 270 360

Ace

lera

ção

[m

/s2]

TETA [º]

Aa5 Aa9 Aa12

Page 34: Tese 1,7 MB

32

Ao analisar a curva da Figura 2. 7 para a relação Aa5 é possível observar os três pontos

mortos juntos dos PMI e PMS em que a velocidade cai a zero e o êmbolo inverte o seu

movimento. Aos zero graus de cambota o êmbolo encontra-se no segundo PMS, de seguida

sobe e volta a inverter o seu movimento aos 32º de cambota, acelerando depois para o

primeiro PMI, onde repete as inversões de movimento.

Da análise das curvas de velocidade e aceleração correspondentes à relação Aa9 é possível

verificar que, tal como já sabíamos, as três (pequenas) inversões de movimento acontecem

apenas no PMI. Esta observação é possível devido à mudança de sinal do valor da velocidade

e aceleração na vizinhança do PMI. Também como esperado, para uma relação Aa12 temos

apenas uma inversão de movimento nos PM.

2.3.3 Desfasamento angular entre a manivela princip al e a manivela secundária

Foram consideradas mais duas alterações na geometria da CGV, ambas relacionadas com o

desfasamento angular do posicionamento da manivela secundária relativamente ao

posicionamento da manivela principal.

No PMS podemos ter o comprimento da manivela secundária “a somar” ao comprimento da

manivela principal (desfasamento angular de 0º) ou “a subtrair” (desfasamento angular de 180º)

(Figura 2. 8). Numa relação de Rr2, se no PMS a manivela secundária for posicionada de modo

a que o comprimento seja a soma (subtracção) das duas manivelas, aos 90º e aos 270º estes

comprimentos encontrar-se-ão a subtrair (somar) e no PMI estarão a somar (subtrair).

Figura 2. 8 Desfasamento angular de 180º e de 0º en tre a manivela secundária e a manivela principal

Todos os exemplos dados foram realizados com uma geometria em que os comprimentos

referidos estavam a subtrair no PMS, desfasamento angular de 180º.

Page 35: Tese 1,7 MB

33

Figura 2. 9 Desfasamento angular de 0º com Rr2 e Aa9

Verificou-se ainda a aplicação de desfasamentos angulares relativamente ao alinhamento das

duas manivelas nos PM. Foram testados desfasamentos de 175º e 185º. Na Figura 2. 10

podemos ver a alteração do movimento provocada por um ângulo de 175º e por um ângulo de

185º. Verifica-se que, apesar de ainda haver três inversões no PMI, o primeiro PMI já não é

igual ao terceiro, sendo que para um desfasamento de 175º o volume no terceiro PMI é menor

que no primeiro PMI e que para 185º se observa o inverso. No PMS também é possível

verificar que, o volume mínimo não é atingido aos 180º de cambota mas sim para um

desfasamento de 175º e depois para um desfasamento de 185º.

Figura 2. 10 Desfasamento angular de 175º e de 185º com Aa9 e Rr2

0 90 180 270 360

CC CGV

0 90 180 270 360

TETA [º]

0 90 180 270 360

TETA [º]

Page 36: Tese 1,7 MB

34

2.3.4 Análise termodinâmica qualitativa

Em paralelo com o trabalho referido nas secções anteriores foi realizada uma análise

qualitativa do que seria desejado, do ponto de vista termodinâmico, no movimento do êmbolo

em cada tempo do ciclo, particularmente a trocas de gases, duração da combustão, turbulência

na câmara de combustão e volume da câmara de combustão.

Admissão:

Seria ideal se o êmbolo se movesse mais devagar em torno do PMS. Assim sendo, durante

este tempo a válvula de admissão poderia abrir mais tarde e, desta forma, a quantidade de

gases de escape que passaria para a admissão seria menor. O curso desta válvula podia

também aumentar enquanto houvesse pouco movimento do êmbolo e consequentemente,

quando este começasse o seu movimento descendente a grande velocidade já haveria uma

área de passagem de ar considerável. Com uma velocidade descendente superior tem-se, num

motor normalmente aspirado, uma aspiração superior de ar para o interior e uma continuidade

na entrada de ar por inércia. Num motor sobrealimentado seria proveitoso mais tempo de

enchimento da câmara de combustão. Se o êmbolo também se movesse mais lentamente no

PMI a válvula de admissão poderia fechar antes do início do movimento ascendente do

êmbolo.

Compressão:

Seria proveitoso se, na fase de compressão ainda longe do PMS, o êmbolo atingisse

velocidades bastante elevadas de maneira a atingir temperaturas superiores da mistura (isto

porque sendo o início desta fase mais rápido, haveria menores perdas térmicas para a parede

do cilindro). Por outro lado, o aumento da temperatura leva ao decaimento da turbulência

devido ao aumento da viscosidade cinemática do gás.

Expansão:

No início da expansão, idealmente, a energia térmica seria melhor aproveitada se o movimento

do êmbolo fosse muito lento, com uma variação de volume da câmara de combustão muito

pequena, durante a combustão. Se no final da expansão houvesse um movimento também

lento do êmbolo, a válvula de escape poderia abrir mais tarde, aproveitando melhor a expansão

e tendo assim um escape espontâneo mais adequado.

Escape:

Se tivermos um movimento lento do êmbolo em torno do PMI, durante o escape espontâneo

haverá mais tempo para a saída de gases até a pressão no interior do cilindro igualar a

pressão no colector de escape. Se o êmbolo se movimentar em torno do PMS também mais

Page 37: Tese 1,7 MB

35

lentamente, haverá mais tempo para os últimos gases saírem da câmara de combustão por

inércia.

Após estas considerações podemos concluir que uma situação favorável seria um movimento

do êmbolo reduzido em torno do PMS e do PMI e uma velocidade elevada entre pontos mortos.

2.3.5 Conclusões da Análise Preliminar

Após todas estas considerações concluiu-se que a razão de transmissão das engrenagens das

rodas dentadas da manivela secundária e da manivela principal mais interessante seria Rr2, já

que imprime no êmbolo um movimento semelhante à situação favorável descrita na análise

termodinâmica qualitativa. Tanto no PMS como no PMI temos uma desaceleração no

movimento do êmbolo, volume constante durante alguns graus de cambota (depende de Aa),

mas no movimento descendente a ascendente existe uma semelhança ao caso clássico,

apesar de as velocidades atingida serem bastante superiores.

Relativamente à relação Aa, foram sujeitas a um maior estudo, no capítulo seguinte, as

relações de 8 a 12. A partir de uma relação de Aa9 deixamos de ter um movimento de

oscilação no PMS, o que leva a menos esforços na geometria da cambota, mas continuamos a

ter uma deslocação muito mais lenta que no caso clássico, tanto na vizinhança do PMS como

do PMI. Estas relações serão estudadas no que diz respeito a esforços de tensão, deformação

e deslocamentos, no capítulo seguinte. A análise da geometria Aa8 foi realizada de maneira a

ter uma referência comparativa de uma geometria com três inversões de movimento do êmbolo

em ambos os PM.

Page 38: Tese 1,7 MB

36

Page 39: Tese 1,7 MB

37

CAPÍTULO 3

ANÁLISE ESTRUTURAL

Após o estudo comparativo entre as várias geometrias, realizado na Análise Preliminar,

relativamente à posição, velocidade e aceleração do êmbolo ao longo de uma rotação de

cambota, foi possível reduzir o número de geometrias a analisar. Desta forma, algumas das

geometrias serão objecto de um estudo mais profundo.

Neste capítulo será apresentado o estudo dos esforços aplicados no conjunto êmbolo, biela,

cavilhão e CGV em várias posições estáticas, bem como uma apreciação das diferenças na

posição, velocidade e aceleração em comparação com o movimento proporcionado pela CC.

3.1 Implementação da geometria no SolidWorks

Êmbolo, biela e cavilhão

Nem o êmbolo nem a biela nem o cavilhão necessitaram de alterações face à sua geometria

clássica. Assim sendo, foi modelado um êmbolo com um diâmetro de 110 mm e uma biela com

um comprimento de 190 mm. A modelação destes componentes tentou seguir as formas e

dimensões usuais nestes componentes, sem nenhuma preocupação de exigências fora do

contexto deste trabalho, como por exemplo tolerâncias e ajustamentos, deformações térmicas

ou mecanismos de lubrificação.

Manivela secundária

Neste ponto do estudo foi modelada uma manivela secundária sem engrenagens de maneira a

simplificar as simulações a realizar. É possível observar na Figura 3. 1, dois eixos, sendo o eixo

denominado Axis 2, o eixo de rotação da manivela secundária. A distância entre os dois eixos

foi alterada para cada uma das geometrias em estudo, Aa8 a Aa12, respectivamente com um

comprimento de 5,63 a 3,75 mm.

Relação Distância entre

eixos [mm]

Aa8 5.63

Aa9 5.00

Aa10 4.50

Aa11 4.09

Aa12 3.75 Tabela 3. 1 Distância entre eixos, Axis1 e Axis2 pa ra cada relação Aa modelada

Page 40: Tese 1,7 MB

38

Figura 3. 1 Manivela secundária

Manivela principal

Este componente foi modelado tomando como medida importante a distância entre eixos de 45

mm. Esta medida corresponderá a um curso de 90 mm num motor CC.

Figura 3. 2 Manivelas principais

Engrenagens fixas

Tal como na manivela secundária, este componente foi modelado sem engrenagens de

maneira a facilitar as simulações a realizar.

Projecto em análise

Após a modelação de cada um dos componentes do conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV foi

modelado o conjunto (assembly) destas peças de maneira a obter o sistema mecânico a

estudar ( Figura 3. 3). Utilizando entre estas peças relações de paralelismo, concentricidade,

alinhamento de superfícies ou curvas e relação mecânica entre engrenagens, foi possível

simular o movimento relativo de cada uma destas peças.

Nesta fase do estudo, como referido, não foram implementadas as rodas dentadas nem na

manivela secundária nem nas engrenagens fixas, optando por substituir estes elementos por

superfícies cilíndricas apenas para facilitar todo o estudo, quer seja cinemático ou dinâmico.

Page 41: Tese 1,7 MB

39

Figura 3. 3 Modelação simplificada do conjunto êmbo lo, biela, cavilhão e CGV

Esta simplificação foi possível criando uma ligação mecânica (mechanical mate) entre estas

superfícies cilíndricas, ilustradas a azul na Figura 3. 3. Esta ligação simula uma relação de

engrenagens entre as superfícies em contacto seleccionadas e impõe o movimento relativo

característico desta relação entre a manivela secundária e as rodas dentadas fixas, não sendo

assim necessária a dificuldade adicional da análise e movimento com as engrenagens.

3.2 Simulações estudadas

Tendo este estudo como objectivo obter argumentos de escolha entre as relações de Aa8 a

Aa12 foram modeladas geometrias para cada uma destas relações e verificados os esforços

(tensões e deformações) no conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV.

Após a escolha de qual a relação Aa a estudar mais exaustivamente, foi efectuada uma análise

comparativa entre a CGV com esta relação e um motor equivalente com CC relativamente à

posição, velocidade, aceleração e volume na câmara de combustão ao longo de uma volta de

cambota. Esta análise tem como finalidade compreender, por exemplo, a gama de ângulos em

que a câmara de combustão do motor com CGV tem um volume menor/maior que o motor com

CC, ou ainda os intervalos em que o êmbolo do motor com CGV se desloca com menor/maior

velocidade comparativamente com o motor com CC.

3.2.1 Motor equivalente CC

Como o comprimento da manivela secundária varia com a relação Aa, o curso do êmbolo vai

também variar. Numa primeira observação poderemos ser levados a pensar que o curso é

duas vezes o comprimento da manivela principal menos o comprimento da manivela

secundária (num desfasamento de 180º), mas é um erro. Na relação Aa9, havendo três pontos

mortos inferiores, no segundo ponto morto inferior, o êmbolo já subiu em relação à sua posição

Page 42: Tese 1,7 MB

40

no primeiro ponto morto. Assim sendo, o curso terá que ser a distância entre a posição do

êmbolo no PMS e no primeiro ou terceiro PMI.

Figura 3. 4 Curso do motor CGV Aa9

Através da equação do volume do motor CGV em função do CAD (Anexo B) foi possível obter

o volume máximo na câmara de combustão; ao subtrair a esse valor o volume residual

alcançamos o valor de volume varrido pelo êmbolo (cilindrada). É assim possível, utilizando a

equação do volume para um motor CC, chegar ao valor equivalente do raio da manivela de

uma CC de modo a termos dois motores equivalentes no que diz respeito ao volume da

câmara de combustão.

3.2.2 Análise Estrutural Estática

Recorrendo ao software SolidWorks Simulation, uma ferramenta incorporada no SolidWorks, foi

possível realizar a simulação linear estática em três ângulos de cambota, 270º, 360º e 450º.

Após posicionar todas as peças nas referidas posições foi aplicada uma pressão na cabeça do

êmbolo, correspondente à pressão que os gases exercem no interior da câmara de combustão.

Os valores de pressão a impor para cada um dos ângulos de cambota analisados, foram

obtidos através do programa MotorIST após alterar apenas a equação do movimento (este

ponto será abordado em pormenor no próximo capítulo). Para uma velocidade de 1000 rpm foi

possível obter a pressão no interior da câmara de combustão, que foi usada como solicitação

(carregamento) ao conjunto modelado.

O primeiro passo na realização deste estudo foi a escolha de um material para o conjunto de

peças em questão. É importante referir que neste estudo não se pretende obter valores

absolutos dos esforços, e respectivas tensões e deformações, mas apenas uma comparação

entre o modelo com a CGV e com a CC, pelo que a escolha de um material específico para

cada um dos componentes do conjunto não é relevante. Foi assim seleccionado da biblioteca

0 90 180 270 360

TETA [º]

Page 43: Tese 1,7 MB

41

de materiais do SolidWorks Simulation uma liga de Aço genérica com as seguintes

propriedades.

Módulo de elasticidade [GPa] 210

Coeficiente de Poisson 0.28

Módulo de distorção [MPa] 7.90E+04

Massa volúmica [kg/m^3] 7700

Tensão de Rotura [MPa] 724

Tensão de cedência [MPa] 620.42 Tabela 3. 2 Propriedades da liga de Aço

Uma vez que as simulações que se efectuaram envolvem contacto entre peças de um

conjunto, é fundamental definir a forma desse contacto, podendo seleccionar-se entre no

penetration, bonded e allow penetration. De maneira a tornar este estudo o mais realista

possível optou-se por criar todas as ligações entre peças sem penetração. A geração da malha

e os cálculos no processo iterativo para a solução dependem fortemente da forma de contacto

entre peças.

Foi necessário impor certas condições de fronteira, tal como fixar as rodas dentadas fixas (para

impedir o movimento de corpo rígido) e limitar o movimento lateral do êmbolo/biela, movimento

este limitado numa situação real pelas paredes da câmara de combustão. Podemos também

visualizar a malha gerada, na figura seguinte.

Foram feitas algumas simulações iniciais em que se variou o parâmetro de controlo da

dimensão/refinamento da malha (mesh size). Como os resultados obtidos nessas simulações

muito pouco variaram com o refinamento da malha adoptou-se o valor por omissão do

programa, obtendo assim um bom compromisso entre o tempo da solução da simulação e a

qualidade dos resultados dessa mesma simulação.

Figura 3. 5 Condições de fronteira impostas e malha computacional utilizada

Page 44: Tese 1,7 MB

42

Como já foi referido, a pressão imposta em cada um dos ângulos de cambota estudados, foi

obtida através do MotorIST. Assim sendo, é possível verificar as cargas aplicadas em cada

CAD na tabela seguinte.

CAD [º] 270 360 450

Carga (pressão) [MPa] 0.1079 1.9247 0.4932 Tabela 3. 3 Valores de pressão no interior da câmar a de combustão para três valores de CAD

Nesta situação, para a geometria Aa9, num ângulo da cambota de 270º e uma carga de 0,1079

MPa, obteve-se a tensão máxima (tensão equivalente de Von Mises) de 63,7 MPa, conforme a

Figura 3. 6, onde se visualiza a gama de tensões (entre o valor mínimo, a azul, e o valor

máximo, a vermelho) sendo que, a tensão de ruptura do material é de 620,42 MPa.

Figura 3. 6 Resultado do cálculo da Tensões de Von Mises para o conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV aos

270º de cambota

É possível filtrar a visualização do nível de tensão no conjunto, de forma a serem apresentadas

apenas as regiões com nível de tensão superior ao especificado. Assim, podemos identificar na

próxima figura a região de maiores tensões localizadas na biela. Tendo em conta a posição da

geometria, este resultado pode ser considerado como esperado. Podemos também verificar

que, em comparação com um motor CC, o valor de tensão máxima é bastante próximo.

Page 45: Tese 1,7 MB

43

Figura 3. 7 Área de maior tensão no conjunto êmbolo , biela, cavilhão e cambota no CGV e CC aos 270º de

cambota

Posicionando o conjunto nos 360º de cambota, com uma pressão de 1,9247 MPa (pressão esta

que corresponde à fase da explosão) na cabeça do cilindro, obtemos o valor de 155,2 MPa

para a tensão equivalente de Von Mises. Apesar de ser mais elevada que a obtida na posição

anterior, não representa preocupação relevante, tendo em conta o significativo aumento da

pressão aplicada sobre o topo do êmbolo.

Figura 3. 8 Resultado do cálculo da Tensões de Von Mises para o conjunto êmbolo, biela, cavilhão e CGV aos

360º de cambota

Neste caso, no motor CGV, a área de maior tensão é na biela na zona do olhal superior. O

facto de as tensões máximas serem na biela salienta a importância deste componente num

eventual projecto/protótipo. Note-se que nesta posição existe simetria quer da geometria quer

do carregamento. É possível verificar que o valor de tensão no olhal superior da biela é muito

semelhante no motor CC. De referir que 0,1% da geometria do motor CC apresenta tensões

superiores às do olhal superior da biela num outro local, mas visto que o objectivo deste estudo

não foi reforçar nenhuma das geometria de maneira a eliminar locais de tensão máxima, foi

apenas comparada a tensão máxima do motor CGV, com o valor de tensão no mesmo local no

motor CC.

Page 46: Tese 1,7 MB

44

Figura 3. 9 Área de maior tensão no conjunto êmbolo , biela, cavilhão e cambota aos 360º, CGV e CC

Foram realizados os estudos detalhados para as geometrias de Aa8 a Aa12, sendo que, os

resultados se encontram resumidos na tabela seguinte. Os detalhes dos estudos poderão ser

consultados no Anexo A. Como se pode observar, as variações nos resultados obtidos nas

simulações são muito pouco sensíveis à variação da relação Aa, pelo menos para a gama de

valores estudados, ou seja, em que não há praticamente inversão do movimento do êmbolo no

PMS e PMI. Esta conclusão é importante pois permite ao projectista variar a relação entre as

medidas da manivela principal e da manivela secundária sem se preocupar com as implicações

sobre os esforços estáticos.

Tensão de Von Mises [MPa] Deslocamento [mm]

CAD 270º 360º 450º 270º 360º 450º Carga [Mpa] 0.1079 1.9247 0.4932 0.1079 1.9247 0.4932

Aa8 61.52 152.8 281.2 0.572 0.104 2.616

Aa9 63.72 155.2 291.2 0.596 0.1045 2.726

Aa10 59.13 153.0 270.3 0.565 0.102 2.585

Aa11 61.80 152.7 282.5 0.561 0.104 2.566

Aa12 64.25 152.3 293.7 0.570 0.104 2.606 Tabela 3. 4 Valores máximos de tensões e deslocamen to para relações de Aa8 a Aa12

Após a conclusão deste estudo não foi possível optar por uma relação Aa baseada nos valores

de tensão máximos atingidos no conjunto. Esta análise sugere que o projectista pode decidir a

escolha dos parâmetros sem estar demasiado constrangido pela resistência estrutural do

sistema.

Analisando os dados apresentados no capítulo anterior sabemos que a partir de uma relação

de Aa9 já não se observam as três inversões de movimento do êmbolo no PMS mas apenas no

PMI. Tendo o ponto anterior em consideração, somado ao facto de a amplitude angular entre

inversões numa relação Aa9 ser mais do dobro do que na relação Aa10 (Tabela 2. 1), aliás,

são as únicas duas relações em que temos uma diferença tão grande entre amplitudes

Page 47: Tese 1,7 MB

45

angulares, optou-se pelo estudo termodinâmico de um motor de CGV com uma relação de 9

entre os comprimentos das suas manivelas.

3.2.3 Comparação dinâmica entre CGV Aa9 e CC

Após a escolha da geometria Aa9 para analisar termodinamicamente no Capitulo 4, foi

realizado uma comparação dinâmica entre um motor CGV Rr2, Aa9 com um desfasamento de

180º com um motor CC, com um curso igual. Podemos verificar as características de ambos os

motores na tabela seguinte.

Tipo de motor CC CGV

Tipo de motor CC CGV

Diâmetro êmbolo (D) [mm] 110 110

RLa 4,5 4,22 a 4,75

Curso (l) [mm] 82,96 82,96

Rld 1,33 1,33

Cilindrada (Vc) [cm3] 871 871

Vel máxima [rpm] 6000 5000

Raio de cambota (a) [mm] 41,48 40 a 45

Nº Cilindros (c) 4 4

Biela (L) [mm] 190 190

Cilindrada total (V) [cm3] 3040 3040 Tabela 3. 5 Características do motor CC e CGV

Começando por analisar o movimento do êmbolo nos 360º de cambota na Figura 3. 10, é

possível ter uma ideia da gama de ângulos de cambota em que o volume da câmara de

combustão é maior/menor no motor CGV e também onde o êmbolo é mais rápido/lento que o

motor CC, mas para uma melhor análise podemos observar as próximas figuras.

Figura 3. 10 Posição do êmbolo, motor CGV e CC

Na Figura 3. 11 observa-se que desde o valor angular da cambota de 52,8º antes e até 52,8º

depois de PMS, o êmbolo move-se mais devagar no motor CGV do que no motor CC,

movendo-se com maior velocidade entre 52,8º depois do PMS e 60,8º antes do PMI.

0 90 180 270 360

CGV CC

Page 48: Tese 1,7 MB

46

Desde 60,8º antes até 60,8º depois do PMI, o êmbolo move-se mais devagar no motor CGV do

que no motor CC, movendo-se com maior velocidade entre 60,8º depois do PMI e 52,8º antes

do PMS.

Figura 3. 11 Velocidade do êmbolo, CGV e CC

CC CGV

Velocidade linear máxima [m/s] 13.37 19.35

Aceleração linear máxima [m/s2) 5.32 8.26 Tabela 3. 6 Velocidade e aceleração máxima para o m otor CC e CVG

Na Figura 3. 12 é de referir o facto de que em alguns troços angulares o valor da aceleração do

êmbolo no motor CGV é 1,5 vezes superior ao do motor CC. Isto tem implicações sobre os

esforços, provenientes da dinâmica, nos componentes do sistema mecânico, pelo que no

projecto deve ser dada especial atenção a este aspecto. Como ponto positivo verifica-se que a

zona de acelerações máximas é já afastada do ponto de pressão máxima na câmara de

combustão (17º depois do PMS, como referido no Capítulo 4).

Figura 3. 12 Aceleração do êmbolo, CGV e CC

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

0 90 180 270 360

Ve

loci

da

de

[m

/s]

TETA [º]

CGV CC

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

0 90 180 270 360

Ace

lera

ção

[m

/s2

]

TETA [º]

CGV CC

Page 49: Tese 1,7 MB

47

No que diz respeito ao volume na câmara de combustão verifica-se que desde os 60º antes e

até 60º depois do PMS, o volume do cilindro no motor CGV é menor que no motor CC, e que

desde 120º antes e até 120º depois do PMI, o volume do cilindro do motor CGV é maior que no

motor CC. Observa-se uma pequena vizinhança no PMI, em que o volume da câmara de

combustão do motor CC é maior que o do motor CGV, apenas numa amplitude angular de 30º.

Figura 3. 13 Volume da câmara de combustão, CGV e C C

Volume residual [cm3] 83

Volume varrido [cm3] 788

Volume total [cm3] 871

Tabela 3. 7 Valores de volume da câmara de combustã o, motor CGV e CC

3.3 Aspectos construtivos

3.3.1 Projecto do motor CGV

No que diz respeito ao eventual projecto de um motor CGV terão que ser tidos em conta alguns

pontos importantes. O facto de, nas simulações efectuadas, independentemente do CAD, os

pontos de tensão máxima serem na biela, demonstra a importância deste componente no

projecto; claro que este ponto se verifica em ambos os motores.

Em relação ao êmbolo do motor CGV, visto que este componente estará perto do PMS durante

uma amplitude angular superior à do êmbolo no motor CC (Figura 3. 10) implica que as

válvulas de escape e admissão atinjam um curso de abertura superior com o êmbolo, ainda

perto do PMS. Para evitar que haja contacto entre as válvulas e o êmbolo, sem modificar o Vres,

o formato da coroa do êmbolo terá que ser alterado com “ranhuras/recortes” mais profundos

para as válvulas.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 90 180 270 360

Vo

lum

e [

cm3]

TETA [º]

CGV CC

Page 50: Tese 1,7 MB

48

No projecto das rodas dentadas da manivela secundária e das rodas dentadas fixas o facto de,

na fase de explosão (maior pressão na câmara de combustão), serem sempre os mesmos

dentes a serem solicitados, terá que ser considerado.

Devido aos valores de aceleração atingidos, muito superiores ao motor CC, os esforços em

todos os componentes do motor CGV serão sem dúvida superiores, sendo este o ponto mais

importante do projecto deste motor.

Tendo em conta a necessidade de imobilizar as engrenagens fixas, a montagem da CGV

obriga a certos cuidados. Será uma questão interessante o uso de um cárter de cambota ao

invés de apoios da cambota. Este cárter da cambota é um componente estruturalmente não

solicitado mas com importância sob vários aspectos, nomeadamente redução de ruído.

Sendo a CGV constituída por várias peças, a sua montagem e desmontagem torna-se num

ponto complicado. Não são aqui apresentadas sugestões sobre a construção de cada uma das

peças, nomeadamente manivela principal e secundária. Esta questão teria de ser bem

analisada aquando da realização do projecto mecânico.

3.3.2 Lubrificação, órgãos auxiliares e periféricos e distribuição

No motor CGV o circuito de óleo é em tudo idêntico a um motor CC, excepto na lubrificação da

cambota. Visto que esta é composta por várias peças e engrenagens, uma lubrificação correcta

é de extrema importância. Poderá ter canais interiores de óleo, tal como uma cambota clássica,

mas estes terão que lubrificar, não só os apoios e moentes da biela, mas também os apoios da

manivela secundária e as engrenagens. Estas poderiam ser lubrificadas, por exemplo, por

injectores de óleo colocados no bloco do motor ou no cárter da cambota.

Não há qualquer impedimento no motor CGV que impossibilite a aplicação de um sistema de

distribuição típico do motor CC. Poderá ser aplicada uma corrente para o accionamento da

bomba de óleo, que se encontra no cárter como no motor CC, e uma segunda corrente para o

accionamento das árvores de cames ou de um sistema de regulação das árvores de cames

(alteração dos tempos de distribuição em função da velocidade e carga do motor).

Sendo a envolvente do motor CGV semelhante à do motor CC, não existe assim qualquer

problema na montagem típica dos órgãos auxiliares exteriores.

Page 51: Tese 1,7 MB

49

CAPÍTULO 4

ANÁLISE TERMODINÂMICA

Neste capítulo foi efectuada a análise termodinâmica de dois motores equivalentes, um CC e o

outro CGV. Ambos os ciclos termodinâmicos destes motores podem ser aproximados pelo ciclo

Otto e são aqui estudados numa variante de motor de ignição comandada por faísca, (“motor

de explosão”), sendo o combustível considerado gasolina com injecção indirecta.

Como habitual neste tipo de motores, estão equipados com duas válvulas de admissão e duas

de escape, situadas na cabeça. Tanto o desenho da cabeça do motor como a câmara de

combustão são idênticos em ambos os motores.

O controlo de carga é efectuado por uma borboleta, provocando assim uma perda de carga na

admissão e o controlo do rendimento volumétrico. Como já referido, foi estudado o caso de um

ciclo de 4 tempos, com uma razão de compressão rc=10,5 e sempre a carga máxima.

Consideraram-se motores de 4 cilindros em linha, com cilindrada unitária e total, idênticas.

Esta análise quantitativa termodinâmica foi realizada com recurso ao programa MotorIST, já

referido no Capítulo 2. Poderá ser consultada no Anexo C uma lista de Inputs e Outputs do

MotorIST.

No motor CGV considerou-se a velocidade máxima de rotação igual 5000 rpm e no motor CC

igual a 6000 rpm; esta consideração será justificada na secção 4.7. Tendo este facto em conta,

alguns dos resultados aqui apresentados, tanto do motor CGV como do motor CC, são em

função da velocidade de rotação adimensionalisada com a velocidade máxima de rotação de

cada motor, nadim.

4.1 Equação do movimento

Sendo o MotorIST um programa escrito em linguagem Fortran a modificação do programa

principal e das suas sub-rotinas torna-se relativamente fácil. A primeira alteração a ser

efectuada no programa original escrito para um motor CC, foi a modificação da lei do

movimento, de forma a obtermos a deslocação do êmbolo de um motor de CGV.

Esta alteração teve em conta o facto de haver diferenças não só na posição do êmbolo s

(distância entre o eixo da cambota e o cavilhão) mas também no comprimento do braço útil da

cambota b.

� � ��� � sin � � � cos 3���� � �� � cos � � � sin 3���� � ��� � �� � 2�� sin�2� (1)

Page 52: Tese 1,7 MB

50

� � ��� � �� � sin � � � cos�3��� � � � sin�3� (2)

O primeiro passo para o cálculo da temperatura no MotorIST é realizado na compressão ou

expansão adiabática, ' ' 1( / )T T V V γ −= com ( )V f θ= obtida a partir da geometria do motor

[3]. Assim sendo, as alterações foram realizadas na equação do volume, em função do ângulo

de rotação de cambota [4].

� � ���� � ���� �� � � � �� (3)

Para o cálculo da área, tem-se em atenção a área residual, valor que não é tido em conta na

bibliografia. A área lateral da câmara de combustão é assim a soma da área residual com a

área varrida, dependente do ângulo de cambota [5]. Assim sendo, foi também substituído, na

equação seguinte, a expressão de s e b para o motor CGV. O cálculo e aspecto final destas

equações pode ser consultado no Anexo B.

�� ! � �" � � ���� onde, �" � � #$�� � � � �� (4)

4.2 Avanço à ignição

Visto que no motor CGV o volume na câmara de combustão na vizinhança do PMS é menor

que no motor CC, as pressões e temperaturas atingidas são superiores. Com se pode verificar

na Figura 4. 12 e Figura 4. 13, imediatamente antes do PMS, a temperatura e pressão

atingidas na câmara de combustão do motor CGV são superiores às atingidas no motor CC, o

que pode levar a condições de funcionamento em que se verifica detonação.

Figura 4. 1 Volume da câmara de combustão em função do ângulo de cambota

Page 53: Tese 1,7 MB

51

Tendo este facto em mente correu-se o programa para uma gama de velocidade de rotação de

1000 a 6000 rpm, a carga total, para ambos os motores e constatou-se que o motor de CGV

detonava até uma velocidade de 3774 rpm e o motor CC até uma velocidade de 2265 rpm para

a lei de avanço à ignição que estava originalmente no MotorIST.

De maneira a evitar a detonação, alternativamente a reduzir a razão de compressão do motor,

optou-se por alterar a lei do avanço à ignição na gama de velocidades de rotação em que

ocorre detonação.

O MotorIST recorre a uma lei empírica no que diz respeito ao final da combustão. Como a

duração da combustão não se encontra modelada, impõe-se o final da combustão de maneira

a o pico de pressão ocorrer 17º de cambota após o PMS. A lei do avanço à ignição do

MotorIST tem em conta apenas duas variáveis, a velocidade de rotação e a percentagem de

abertura da borboleta; ora a cargas elevadas e velocidades de rotação baixas o avanço à

ignição é reduzido, de maneira a evitar a denotação. Na versão da qual se partiu para este

estudo, o pico de pressão era mantido nos 17º de cambota depois do PMS, impondo assim o

fim da combustão mais cedo que o que se verifica na realidade. Este erro teve que ser

corrigido. De maneira a corrigi-lo, a curva de duração de combustão foi extrapolada para baixas

rotações, como podemos observar na figura seguinte onde a duração da combustão

artificialmente reduzida a baixa rotações é evidente.

Figura 4. 2 Duração da combustão em função da veloc idade de rotação, CC

Partindo dos valores de duração de combustão extrapolados, correu-se o MotorIST com o

objectivo de modificar a lei do avanço à ignição de maneira a não ocorrer detonação no motor

CC nestas condições. Esta alteração foi conseguida diminuindo o AAI ao mesmo tempo que se

aumentou o CADEC, mantendo assim os valores de duração de combustão extrapolados, até

se verificar a ausência de detonação.

0

10

20

30

40

50

1000 2000 3000 4000 5000 6000

Δθ

Co

mb

[º]

n [RPM]

Extrapolação Original

Page 54: Tese 1,7 MB

52

Figura 4. 3 Avanço à ignição em função da velocidad e de rotação, CC

Também com base nos novos valores de duração de combustão para o motor CC, tendo em

conta que as temperaturas atingidas durante a combustão são superiores no motor CGV,

considerou-se que a combustão deveria ser mais rápida neste motor que no CC. Isto porque a

influência mais importante na velocidade de chama é a da taxa de reacção.

%& ' ( ∆*�+�,-.//////0.� �12��3453.� (5)

Dada a fortíssima dependência da taxa de reacção com a temperatura, postulada por

Arrhenius, equação (6) é de esperar uma diminuição na duração da combustão.

6 � �785 9:;<=

, cte de velocidade, função da temperatura (6)

De maneira a quantificar o aumento da velocidade de chama e assim a diminuição da duração

da combustão, foi realizado o estudo da temperatura média do motor CGV e CC durante a

combustão (Anexo D). Em seguida verificou-se a relação entre a velocidade de chama no

motor CGV e no motor CC, sendo em média 3,5% mais rápida no motor CGV.

%& ' 83.3;=> logo,

?.@AB?.@AB ' 83.@BA/////////

3.@@/////// =�,�D (7)

sendo 2.26 o valor do expoente α obtido para a gasolina por James Keck e co-autores [6].

Já com os valores de duração de combustão corrigidos, colocou-se a questão se, para o motor

de CGV, estaria correcto assumir que o pico de pressão deveria ocorrer aos 17º, tal como num

motor convencional.

Assim sendo, para velocidades em que não ocorria detonação, a partir das 4000 rpm até às

5000 rpm, no motor CGV, manteve-se a duração da combustão já corrigida, alterando o AAI e

o CADEC conjuntamente. Observou-se quando era atingido o valor de pmi máxima e para esse

AAI e CADEC verificou-se qual o ângulo de cambota em que ocorria a pressão máxima na

câmara de combustão. Confirmou-se, para toda a gama de velocidades estudada, que o

-5

0

5

10

15

1000 2000 3000 4000 5000 6000

AA

I [º

]

n [RPM]

Sem detonação Original

Page 55: Tese 1,7 MB

53

ângulo em questão é 17º de cambota após o PMS, validando-se assim que a lei empírica

universalmente utilizada também é válida para o motor CGV.

Tendo por base os novos valores de duração da combustão para o motor CGV (Figura 4. 4),

realizou-se o mesmo procedimento que para o motor CC. Com novos valores de duração da

combustão fixos, correu-se o MotorIST, diminuindo AAI e aumentando o CADEC, até não

ocorrer detonação no CGV. Ficamos assim com a Lei do Avanço à Ignição para o motor CGV;

é possível verificar na Figura 4. 5 a redução necessária dos valores em questão, de maneira a

não ocorrer detonação.

Figura 4. 4 Duração da combustão em função da veloc idade de rotação, CGV

Figura 4. 5 Avanço à ignição em função da velocidad e de rotação, CGV.

4.3 Rendimento mecânico

É possível identificar várias contribuições para as perdas mecânicas; neste trabalho foi então

efectuada uma avaliação quantitativa das perdas por atrito, a partir da alteração de alguns

parâmetros, como veremos de seguida. As perdas por bombagem no escape serão avaliadas

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000

Δθ

Co

mb

[º]

n [RPM]

-15

-10

-5

0

5

10

15

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000

AA

I [º

]

n [RPM]

Sem detonação Original

Page 56: Tese 1,7 MB

54

qualitativamente. No que diz respeito a perdas por bombagem na admissão tal como pelo

accionamento dos órgãos auxiliares não diferem entre os dois tipos de motor, pelo que serão

consideradas semelhantes.

Perdas por atrito

Podemos descriminar 5 tipos de perdas mecânicas por atrito [7]. As perdas relacionadas com o

movimento da cambota, bomba de óleo e trem de válvulas, variam linearmente com a

velocidade, ao passo que as perdas provocadas pelo accionamento da bomba de água,

alternador e pelo conjunto êmbolo, segmentos/camisa, cavilhão e biela, apresentam uma

variação quadrática. No que diz respeito às perdas mencionadas, apenas se consideraram

diferentes, entre os motores em estudo, as provocadas pela cambota, já que todos os outros

componentes são semelhantes em ambos os motores.

Devido às diferenças estruturais das cambotas em análise, teremos um maior peso relacionado

com as perdas mecânicas da CGV, visto que temos que ter em conta os apoios da manivela

principal, os moentes da cambota, os apoios da manivela secundária e ainda o movimento das

rodas dentadas.

A equação (8) é uma a modelação proposta por Bishop [8] para a pressão média de perdas

mecânicas por atrito na cambota. Tendo em conta a equação (9), o peso dos apoios da

cambota nas perdas por atrito é o mesmo que o peso dos moentes das bielas.

EF�G�H�IJ�� � 41.4 8�� = 8 N

OPPP= Q (8)

Q � RS4� TS4UVW4� XW4S

�Y (9)

em que, mb é relativo ao apoios principais da cambota, rb aos moentes da biela e m significa

o número de êmbolos por manivela clássica, no nosso caso 1. No que diz respeito às perdas

adicionais causadas pelas engrenagens presentes da CGV, foi considerado o rendimento das

engrenagens equivalente ao rendimento de um apoio. Tendo em conta que num motor de 4

cilindros temos 5 apoios principais de cambota e 1 por biela, na CGV temos mais 4 apoios por

cilindro, sendo 2 da manivela secundária e 2 apoios equivalentes às engrenagens. Passa-se

assim de 9 no motor CC para 25 apoios no motor CGV. Assim sendo temos, ZS@BA�[\S4]^\�ZS@@�1 F_`! � � �a

b .

As alterações referidas foram efectuadas no MotorIST de maneira a podermos obter a curva da

pressão média das perdas mecânicas (Figura 4. 6), em função da velocidade de rotação

adimensionalisada, e assim do rendimento mecânico, sendo possível obter todos os valores

efectivos dos parâmetros termodinâmicos aqui em análise, no motor CGV.

Page 57: Tese 1,7 MB

55

Figura 4. 6 Pressão de perdas mecânicas por atrito em função da velocidade de rotação normalizada

Perdas por bombagem

Admitindo o escape espontâneo com a mesma duração nos dois motores, o êmbolo CGV terá

que efectuar menos trabalho a empurrar o gás enquanto há diferença de pressão no interior do

cilindro e no colector de escape, isto porque durante a parte inicial desta troca de gases o

êmbolo ainda não iniciou o seu movimento ascendente, podendo assim esta troca de gases

efectuar-se inicialmente a volume quase constante. Quando o êmbolo inicia o seu movimento

ascendente a pressão no interior do cilindro está muito mais próxima da do colector de escape,

podendo assim iniciar o escape impulsionado com uma diferença de pressão menor, e assim,

menos esforço.

O controlo de carga nos motores de explosão é efectuado impondo uma perda de carga na

admissão, aumentando a perda quando se reduz a carga. Sendo o controlo igual para ambos

os motores consideram-se as perdas de carga, na admissão do motor CGV, semelhantes às do

motor CC.

Perdas por accionamento dos órgãos auxiliares

Como referido na secção 3.3.2 deste trabalho, entre o motor CGV e o motor CC, não existem

motivos para haver diferenças no posicionamento e montagem dos órgãos auxiliares. Assim

faz todo o sentido considerar semelhantes as perdas por accionamento destes órgãos, não

tendo sido efectuadas alterações no MotorIST no que diz respeito a este ponto.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

pm

[b

ar]

nadim

CGV CC

Page 58: Tese 1,7 MB

56

Figura 4. 7 Rendimento mecânico em função da veloci dade de rotação normalizada

Podemos observar as curvas do rendimento mecânico para ambos os motores, em função da

velocidade de rotação normalizada, com a rotação máxima de cada motor. Apesar das perdas

mecânicas serem maiores no CGV ( Figura 4. 6) os rendimentos mecânicos dos motores em

estudo são praticamente iguais; este facto deve-se à maior pressão média indicada no CGV

(Figura 4. 8).

cF � Zd5ZSZd

(10)

Figura 4. 8 Pressão média indicada em função da vel ocidade de rotação normalizada

Podemos observar na figura anterior a pressão média indicada para ambos os motores em

estudo, estas curvas terão uma influência directa no rendimento mecânico dos motores

(equação 10). O facto da evolução da pi com a velocidade no motor CC mostrar um

decréscimo maior à da evolução no motor CGV é responsável pelo facto de o rendimento

mecânico no motor CGV ser superior ao do motor CC à velocidade máxima, dado que as

perdas mecânicas são sempre superiores. Esta evolução é justificável tendo em conta as

60

65

70

75

80

85

90

95

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

ηm

[%

]

nadim

CGV CC

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

pi

[ba

r]

nadim

CGV CC

Page 59: Tese 1,7 MB

57

alterações efectuadas no rendimento volumétrico do motor CGV, alterações estas que veremos

de seguida.

4.4 Rendimento volumétrico

O cálculo do rendimento volumétrico no MotorIST [9] é efectuado com base nos seguintes

dados; tipo de combustível, coeficiente de excesso de ar λ, velocidade de rotação, posição da

borboleta, número e diâmetro das válvulas de admissão, curso de abertura e ângulo de fecho.

Ora, como todos estes dados são iguais em ambos os motores em estudo, o valor de

rendimento volumétrico calculado seria o mesmo. Mas tal não é o caso. Vejamos como e

porquê.

Foram realizadas algumas considerações qualitativas relativamente aos efeitos que

condicionam o rendimento volumétrico. No que diz respeito a efeitos quasi-estáticos e

aquecimento do ar admitimos que não haverá diferenças na influência destes efeitos.

Relativamente a perdas de carga e perdas sónicas podemos estar perante uma situação em

que se verifiquem desigualdades entre os motores aqui em análise. No caso do motor CC, o

movimento descendente do êmbolo na admissão é iniciado logo no PMS. Assim, quando as

válvulas de admissão ainda apresentam um curso reduzido, a velocidade do êmbolo obriga a

uma velocidade muito elevada de escoamento. No CGV, nesta altura em que o curso das

válvulas de admissão é reduzido, a velocidade do êmbolo é inferior à do êmbolo CC, só sendo

superior a partir dos 52,8º de cambota depois do PMS, diminuindo assim a velocidade de

escoamento do ar de admissão relativamente à do CC. Por outro lado, quando a válvula está

totalmente aberta, a velocidade máxima do êmbolo CGV é 1,44 vezes superior à do êmbolo

CC, o que leva a uma velocidade de escoamento consideravelmente superior no CGV. Dado

que estamos perante uma situação em que há uma compensação das perdas de carga e

sónicas, na fase inicial e intermédia da admissão, não foram consideradas alterações neste

estudo.

Page 60: Tese 1,7 MB

58

Figura 4. 9 Velocidade do êmbolo CC e CGV em função do ângulo de cambota

Os fenómenos de inércia do gás aspirado (ram effect) e retorno à admissão (backflow)

dependem ambos da velocidade de rotação do motor e assim da velocidade do êmbolo. Na

admissão, os valores de velocidade atingidos são bastante elevados o que leva a que, quando

o êmbolo atinge o PMI, o gás continue a entrar para a câmara de combustão por inércia. Ora

quanto maior a velocidade do êmbolo, maior a velocidade de entrada de ar e logo a energia

cinética gerada será também superior. A velocidades de rotação baixas, o efeito na inércia é

menos significativo, tendo muito mais peso o retorno do gás para a admissão. Assim que o

êmbolo inicia o seu movimento para o PMS, tende a “empurrar” o gás novamente para o

colector de admissão, provocando um efeito negativo no rendimento volumétrico.

No caso do motor CGV, visto que apresenta uma velocidade a meio curso superior à do motor

CC, terá uma velocidade superior de entrada de ar no cilindro na admissão, prevendo-se assim

uma melhoria do rendimento volumétrico. Prevê-se também uma diminuição no retorno à

admissão, já que, no motor CGV, desde que o êmbolo atinge o PMI1 até voltar a subir para o

PMS temos uma amplitude de 35,2º (Tabela 2. 1). Esta amplitude permite aproveitar mais

eficazmente a inércia e mesmo na situação em que a válvula de admissão feche na mesma

altura que no motor CC, o êmbolo terá “empurrado” muito menos gás de volta para a admissão.

Com a utilização de um sistema de alteração dos tempos de distribuição em função da

velocidade e carga do motor no motor CGV, será possível aproveitar o movimento do êmbolo

entre o PMI1 e o PMI3. Se, a baixas velocidades, a válvula de admissão fechar antes do

êmbolo iniciar o seu movimento para o PMS, o retorno à admissão poderá ser, senão

totalmente evitado, significativamente reduzido.

No MotorIST foram efectuadas algumas alterações de maneira a quantificar o aumento da

inércia e a diminuição do retorno do gás no motor CGV.

Visto a relação entre a velocidade máxima do êmbolo no motor CGV e no motor CC (1,44) ser

elevada e tendo em conta a influência já mencionada da velocidade do êmbolo nos efeitos em

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

0 45 90 135 180

Ve

loci

da

de

[m

/s]

TETA [º]

CGV CC

Page 61: Tese 1,7 MB

59

questão, as alterações mencionadas basearam-se num aumento de inércia da entrada do gás

de 44% em relação ao motor CC, e numa diminuição do retorno à admissão também na

mesma proporção.

Figura 4. 10 Peso dos efeitos retorno à admissão e inércia do gás, motor CGV e motor CC

A velocidade de transição entre o efeito do retorno à admissão e a inércia da entrada do gás no

cilindro depende do ângulo no qual a válvula de admissão fecha. Apesar de o atraso ao fecho

da admissão não ter sido optimizado, o aumento de inércia do ar faz com que esta fronteira,

entre as perdas por retorno e os ganhos por inércia, ocorra a uma velocidade mais baixa, este

valor de velocidade teve assim que ser alterado.

Esta modificação teve por base o valor de velocidade de transição no motor CC, e a velocidade

do êmbolo CC, a essa mesma velocidade de rotação. Assim, ao igualar-se a velocidade do

êmbolo CGV à do êmbolo CC, verificou-se, como esperado, que a velocidade de transição do

motor CGV é mais baixa. Este valor passou de 3693 rpm para 2550 rpm no motor CGV. Esta

alteração pode ser verificada na Figura 4. 10, onde é possível observar a velocidade em que o

retorno à admissão deixa de ter influência e o efeito da inércia começa a notar-se em cada um

dos motores em estudo.

Dado que não se consideram alterações nos sistemas de admissão e de escape, admitimos

que as contribuições relativas a escoamentos não estacionários, são as mesmas para ambos

os motores.

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0 2000 4000 6000

n [RPM]

Backflow Ram effect

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0 2000 4000 6000

n [RPM]

Backflow Ram effect

Page 62: Tese 1,7 MB

60

Figura 4. 11 Rendimento volumétrico em função da ve locidade de rotação normalizada

Tendo em conta todas as considerações realizadas sobre os efeitos que influenciam o

rendimento volumétrico, é possível observar na figura anterior as curvas do rendimento

volumétrico para ambos os motores em estudo. È visível o efeito do aumento do ram effect, já

que, apesar das perdas sónicas também aumentarem com a velocidade, a importância relativa

no ganho do aumento do ram effect também aumenta bastante. Embora, para ambos, o

rendimento volumétrico diminua com o aumento da velocidade de rotação, o aumento da

inércia beneficia, sem dúvida, o motor CGV.

4.5 Pressão e temperatura

De maneira a facilitar e explicar a análise dos parâmetros termodinâmicos aqui em estudo no

motor CGV e no motor CC, apresenta-se de seguida a evolução da temperatura e da pressão

na câmara de combustão em função do CAD. As evoluções apresentadas são para a

velocidade máxima de rotação de cada motor, e como se pode observar nas figuras seguintes,

a combustão inicia-se praticamente na mesma altura para ambos os motores. Como no motor

CGV, para velocidades inferiores a 4000 rpm foram efectuadas alterações no AAI de modo a

evitar a detonação (secção 4.2), na gama de velocidades de 1000 a 4000 rpm, a combustão no

motor CGV e no motor CC não começa no mesmo CAD, havendo assim um desfasamento nas

curvas, tanto de temperatura como de pressão.

40

50

60

70

80

90

100

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

ηv

[%

]

nadim

CGV CC

Page 63: Tese 1,7 MB

61

Figura 4. 12 Temperatura na câmara de combustão em função do ângulo de cambota, velocidade máxima de

rotação

Figura 4. 13 Pressão na câmara de combustão em funç ão do ângulo de cambota, velocidade máxima de

rotação

No motor CGV é possível verificar um aumento de pressão e temperatura relativamente ao

motor CC, entre os 310 e 350 graus de cambota; esta alteração deve-se ao menor volume da

câmara de combustão no motor CGV, na zona imediatamente antes do PMS, este ponto está

evidenciado na Figura 4. 1. Podemos também observar que o pico de pressão e temperatura é

superior no motor CGV, este facto pode ser também justificado com a curva de volume da

Figura 4.1; na zona imediatamente depois do PMS, o volume também é inferior no motor CGV,

levando assim a um aumento de pressão e consequentemente de temperatura. A esta

velocidade, na abertura da válvula de escape, a pressão e temperatura já são inferiores no

motor CGV; como o êmbolo neste motor é mais rápido na sua descida para o PMI, a

temperatura diminui muito mais rapidamente e assim também a pressão.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

180 240 300 360 420 480 540

Te

mp

era

tura

[ºC

]

TETA [º]

CGV CC

0

10

20

30

40

50

60

180 240 300 360 420 480 540

Pre

ssã

o [

ba

r]

TETA [º]

CGV CC

Page 64: Tese 1,7 MB

62

4.6 Potência máxima

Como foi visto no Capitulo 3, as velocidades e acelerações máximas no motor CGV são

superiores às do motor CC, isto leva obviamente a esforços dinâmicos superiores nas peças

em questão. Relativamente aos esforços estáticos foi concluído, no mesmo capítulo, que são

bastante semelhantes.

Analisando a Figura 3. 11 e a Figura 3. 12 é também visível que as velocidades e acelerações

máximas no motor CGV ocorrem num período muito curto, quando comparado com os

períodos nos quais a velocidade e aceleração é elevada no motor CC. Fazendo assim crer que,

os valores elevados de velocidade e aceleração não serão muito penalizantes, quer nas peças

quer na película de lubrificação, não tanto como se os períodos de tempo fossem iguais. Por

esta razão, tendo em conta que o coeficiente de segurança utilizado no dimensionamento das

peças seria elevado, estes picos de velocidade e aceleração, apesar de terem um valor

bastante elevado, seriam aceitáveis dado serem curtos.

Tendo a diminuição da velocidade máxima de rotação do motor CGV por base, a relação de

velocidade máxima entre os êmbolos de ambos os motores levaria a uma redução de 6000 rpm

para 4200 rpm, mas, se considerarmos os esforços combinados (estáticos e dinâmicos), então

a redução necessária será menor. Neste estudo preliminar da CGV foi considerada uma

velocidade de rotação máxima para este motor de 5000 rpm.

Figura 4. 14 Potência indicada em função da velocid ade de rotação normalizada

Tendo em conta a Figura 4. 14, o motor CGV é menos potente que o motor CC, esta conclusão

deve-se ao facto de o motor CGV ter uma velocidade de rotação mais baixa que o motor CC.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Pi

[kW

]

nadim

CGV CC

Page 65: Tese 1,7 MB

63

Figura 4. 15 Potência indicada em função da velocid ade de rotação

Tanto no motor CGV como no motor CC a curva de potência sobe com a velocidade de

rotação, até que atinge um máximo e diminui ligeiramente. Dado que o motor CGV tem uma

velocidade de rotação inferior ao motor CC, quando o motor CGV atinge o seu máximo e

começa a diminuir, o motor CC continua ainda a subir, decrescendo depois a uma velocidade

de rotação mais elevada. Como é possível observar na Figura 4. 15, à mesma velocidade de

rotação real, o motor CGV é mais potente, ou seja, apresenta um binário mais elevado como

mostra a Figura 4. 16.

4.7 Pressão média efectiva

A pressão média efectiva é definida como sendo o trabalho efectivo realizado por unidade de

volume de cilindrada do motor; esta pressão está relacionada com a pressão média indicada

(pi) através da expressão (11) [4]. No motor CGV a pressão média efectiva é superior, tendo

em conta a Figura 4. 8, a pressão média indicada, ou seja, o trabalho por unidade de volume

neste motor, é sempre superior ao do motor CC (devido ao melhor rendimento volumétrico). O

outro factor de influência (de qualquer parâmetro efectivo), é o rendimento mecânico, sendo

este bastante semelhante devido aos factos já analisados na secção 4.3.

ef � ghei (11)

0

25

50

75

100

125

150

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

Pi

[kW

]

n [RPM]

CGV CC

Page 66: Tese 1,7 MB

64

Figura 4. 16 Pressão média efectiva e binário efect ivo em função da velocidade de rotação normalizada

Sendo a pressão média efectiva superior no motor CGV então, com base na equação (12), o

binário efectivo será também superior.

jf � efk lmn (12)

O binário vai influenciar os valores de potência que, apesar dos valores superiores de binário,

são inferiores no motor CGV. Este ponto é discutido na secção 4.6.

4.8 Consumo específico

O consumo específico, ou seja, o combustível que é necessário consumir para produzir uma

unidade de trabalho, definido pela expressão (13), é uma medida do rendimento global do

motor. Este rendimento pode definir-se como a razão entre o que se obtém e o que se fornece

(equação 14) [4].

Figura 4. 17 Consumo específico e rendimento efecti vo em função da velocidade de rotação normalizada

Tendo em conta os resultados do MotorIST no motor CVG e no motor CC, relativamente a

estes parâmetros, facilmente se conclui que o motor CGV é mais eficiente que o motor CC.

0

5

10

15

0 0,5 1

pe

[M

Pa

]

nadim

CGV CC

100

150

200

250

300

350

0 0,5 1

Be

[N

m]

nadim

CGV CC

0

100

200

300

400

0 0,5 1

Ce

[g

/kW

h]

nadim

CGV CC

0

10

20

30

40

0 0,5 1

ηe

[%

]

nadim

CGV CC

Page 67: Tese 1,7 MB

65

of � opqf (13)

gf � qfoprsttqou (14)

4.9 Emissão de poluentes

As emissões de Monóxido de Carbono no motor CGV são superiores às do motor CC, como é

possível observar na Figura 4. 18. Dado a temperatura ser superior no motor CGV, até aos 55º

depois do PMS (Figura 4. 12), a taxa de reacção é superior (devido à já referida dependência

exponencial com a temperatura) provocando assim mais dissociação neste motor, o que leva a

uma maior formação de CO. Como o êmbolo atinge uma velocidade muito superior entre PM, a

temperatura vai descer mais depressa durante a expansão, passando mesmo a ser inferior à

do motor CC. Este facto provoca um decréscimo na cinética química e assim o congelamento

das reacções, daí podermos observar que a concentração de CO no motor CGV se torna

constante antes da concentração no motor CC.

Figura 4. 18 Concentração de CO em função do ângulo de cambota

As concentrações de NO são também superiores no motor CGV já que as temperaturas

atingidas são superiores. A formação do NO vai ser superior, visto que nos MCI o mecanismo

que envolve a formação do NO é o mecanismo térmico (mecanismo de Zeldivich estendido)

[10].

Por observação da Figura 4. 19, verifica-se a diminuição da cinética química e o congelamento

das reacções mais tarde no motor CGV, devido ao facto de a temperatura neste motor começar

a diminuir de forma suave. Mas, apesar deste motor ainda conseguir dissociar algum do NO

formado, quando o êmbolo inicia o seu movimento para o PMI as reacções químicas congelam

impedindo assim a dissociação de mais NO.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

380 400 420 440 460 480 500

CO

[%

]

TETA [º]

CGV CC

Page 68: Tese 1,7 MB

66

Figura 4. 19 Concentração de NO em função do ângulo de cambota

No que diz respeito às emissões de HC podemos apenas realizar uma previsão qualitativa visto

não podermos obter dados do MotorIST. Os HC possuem mais que um processo de formação

[7], sendo estes muito dependentes da geometria do motor. Assim, o MotorIST, sendo um

programa de simulação zero-dimensional, não permite (na sua versão actual) um cálculo

suficientemente fiável das emissões de HC.

Durante a compressão e combustão, a pressão no cilindro força a mistura de combustível/ar

para cavidades e interstícios da câmara de combustão; esta mistura não é queimada já que

estes volumes são pequenos demais para haver combustão (quenching entre paredes). Parte

deste gás, durante a expansão, vai sair destes pequenos volumes e será expulso durante o

escape. Outra causa para a formação de HC é a existência de uma camada de quenching nas

paredes do cilindro, composta por gás (mistura ar/combustível) parcialmente queimado ou por

queimar, quando a chama se extingue, ao aproximar da parede. Acredita-se que a terceira

fonte de hidrocarbonetos não queimados é qualquer fina camada de óleo que possa ficar nas

paredes do cilindro ou no êmbolo. Estas finas camadas podem absorver os HC antes da

combustão e libertá-los depois da combustão, assim esta percentagem de combustível evita a

queima durante a combustão.

Os hidrocarbonetos que evitaram a chama da combustão poderão ainda ser oxidados, se a

temperatura for suficiente para a reacção química acontecer. No motor CGV, no início do

tempo de expansão, tem-se uma temperatura superior à do motor CC (Figura 4. 12) pelo que

podemos assumir que, nesta fase, serão oxidados mais HC neste motor do que no motor CC.

No entanto, é sabido que ainda ocorrem reacções de oxidação durante a expansão (e muito

poucas também no escape), e aqui a temperatura no motor CGV é menor que no motor CC,

conclui-se assim que haverá menos oxidação nesta fase. Tendo estes dois pontos em conta, o

motor CGV poderá ter maiores ou menores concentrações de HC que o motor CC, não sendo

possível avaliar, nesta análise simplificada, o peso relativo da oxidação dos HC nas fases

iniciais e finais da expansão, num e no outro motor.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

340 360 380 400 420 440 460 480 500

NO

[p

pm

]

TETA [º]

CGV CC

Page 69: Tese 1,7 MB

67

Como podemos observar na figura seguinte, devido às alterações necessárias de modo a

evitar a detonação tanto no motor GCV como no motor CC, a ignição no motor CGV foi mais

retardada que no motor CC. Sendo a temperatura dos produtos e do escape superior no motor

CGV, até uma velocidade normalizada de aproximadamente 0,65, as emissões de HC nesta

gama de velocidades, em que a temperatura de escape é superior no motor CGV, poderão ser

inferiores neste motor.

Figura 4. 20 Temperatura de escape em função da vel ocidade de rotação normalizada

4.10 Trabalho de compressão

Não deixando de ter em consideração que os esforços na CGV e na CC são muito superiores

no tempo de expansão, compara-se de seguida, os trabalhos de compressão nestes motores.

Figura 4. 21 Trabalho de compressão em função da ve locidade de rotação normalizada

No motor CGV as pressões atingidas são superiores, Figura 4. 13, mas este aumento de

pressão antes do PMS (que influencia o trabalho de compressão) ocorre com o êmbolo já

700

720

740

760

780

800

820

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Te

sca

pe

[ºC

]

nadim

GCV CC

-350

-330

-310

-290

-270

-250

-230

-210

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Wco

mp

[J]

nadim

CGV CC

Page 70: Tese 1,7 MB

68

muito perto do PMS, enquanto que o êmbolo do motor CC ainda está no seu movimento

ascendente. Consequentemente, o motor CC necessita de mais trabalho para vencer as

pressões geradas na câmara de combustão.

Na gama de velocidades em que a lei de avanço à ignição foi alterada, até 0,6 na figura

anterior, o trabalho de compressão realizado pelo motor CGV é ainda menor, dado que a

combustão se inicia mais tarde. È possível verificar na Figura 4. 5 que só a partir da velocidade

de 2000 rpm é que a combustão se inicia antes do PMS, tendo até aqui avanços à ignição

negativos.

4.11 Trocas térmicas

No MotorIST o calor trocado através de uma superfície sólida é expresso da seguinte forma

[11]:

v � �w�xy � xz� (15)

sendo A a área de contacto (inclui a parede do cilindro, cabeça do cilindro e topo do êmbolo), h

o coeficiente de transmissão de calor por convecção, Tw a temperatura da superfície e Tf a

temperatura do fluido. Em que [12]:

w � {.1!�� 80?2�//////

| =} (16)

sendo k a condutividade térmica (função da temperatura) e pS a velocidade média do êmbolo.

Figura 4. 22 Trocas térmicas até à abertura da válv ula de escape por cilindro em função da velocidade de

rotação

O coeficiente de transmissão de calor por convecção no motor CGV é superior ao do motor

CC, devido às maiores temperaturas, mas a área de contacto entre a superfície sólida e o

0

100

200

300

400

500

600

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000

Qte

r [J

]

n [RPM]

CGV CC

Page 71: Tese 1,7 MB

69

fluido é menor, já que o volume no motor CGV ,na vizinhança do PMS, é inferior ao do motor

CC. Tendo em conta os resultados apresentados na figura anterior podemos concluir que, no

motor CGV, o facto de a área ser menor tem maior influência nas trocas térmicas que o facto

de o h ser superior.

No que diz respeito às trocas térmicas durante o escape espontâneo, Figura 4. 23, como já foi

referido, no MotorIST até determinada velocidade, a ignição é retardada de maneira a evitar a

detonação; logo, como é possível observar na Figura 4. 20, a temperatura, no momento da

abertura da válvula de escape, é superior, consequência da expansão associada à libertação

de energia térmica ser menor, comparativamente com o motor CC.

A partir de uma determinada velocidade a combustão começa praticamente na mesma altura

em ambos os motores, sendo possível observar que as trocas térmicas no motor CGV são

menores que no motor CC. Este facto deve-se à maior velocidade atingida pelo êmbolo e

assim à maior diminuição da temperatura e pressão dos produtos da combustão. O facto de o

rendimento volumétrico ser, nesta gama de velocidades superiores, bastante superior no motor

CGV, também influencia as menores diferenças nas trocas térmicas no escape espontâneo nos

motores em estudo.

Estes valores poderão ser importantes para os sistemas, depois das válvulas de escape,

nomeadamente o catalisador e o sistema de sobrealimentação.

Figura 4. 23 Trocas térmicas no escape espontâneo p or cilindro em função da velocidade de rotação

normalizada

Podemos observar na figura seguinte a potência do sistema de refrigeração; estes valores têm

em conta as trocas térmicas na câmara de combustão até à abertura da válvula de escape e as

trocas térmicas durante o escape espontâneo; são valores interessantes no sentido do

dimensionamento do sistema de refrigeração. Note-se que nesta figura está representada a

potência de perdas térmica e nas anteriores (Figura 4. 22 e Figura 4. 23) estão representadas

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Qe

sc [

J]

nadim

CGV CC

Page 72: Tese 1,7 MB

70

as trocas térmicas por ciclo. O facto do CC efectuar mais ciclos por unidade de tempo (roda a

maiores velocidades), explica as maiores perdas de potência térmica, apesar de as perdas por

ciclo serem globalmente semelhantes às do CGV.

Figura 4. 24 Potência do sistema de refrigeração em função da velocidade de rotação normalizada

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Qre

fr [

kW

]

nadim

CGV CC

Page 73: Tese 1,7 MB

71

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Nesta análise preliminar, estruturalmente, o motor CGV não apresenta vantagens em relação

ao motor CC. Devido à complexidade da CGV em relação à CC, apresentam-se dificuldades no

que diz respeito ao seu processo construtivo e principalmente ao nível da sua equilibragem,

embora não estudados neste trabalho.

Com base nos estudo estáticos apresentados, os esforços em análise são semelhantes em

ambos os motores, mas as superiores velocidade e aceleração máximas, do êmbolo do motor

CGV, leva com certeza a esforços dinâmicos bastante superiores. Este ponto poderá ser

atenuado, tendo em conta que as referidas velocidades e acelerações estão presentes em

curtos períodos de tempo, comparativamente com os valores máximos de velocidade e

aceleração no motor CC. Assim sendo, para os mesmos coeficientes de segurança, as peças

da CGV teriam de ser dimensionadas (maiores e mais pesadas) ou, alternativamente, poder-

se-ia reduzir a velocidade máxima do motor CGV, de modo a obter esforços idênticos.

Devido às já referidas maiores velocidades e acelerações do êmbolo no motor CGV, a questão

da lubrificação será um ponto importante a ter em consideração. Dado que a velocidade

superior poderá romper a película de óleo, talvez seja necessária a utilização de um óleo com

características adequadas.

Em relação a níveis de compacticidade, o motor CGV deverá ser mais pesado e comprido que

o motor CC, consequência do número superior de peças que constituem a CGV

comparativamente com a CC, bem como ao espaço extra para alojar o mecanismo planetário

da cambota secundária.

Estruturalmente o motor CGV representa um desafio tecnológico do qual poderão resultar

nenhumas vantagens relativamente ao motor CC. Apenas um estudo mais detalhado de

lubrificação, equilibragem e esforços dinâmicos poderão permitir situar este motor no mercado.

Em termos de performance, o motor CGV apresentou vantagens em relação ao motor CC, mas

também se verificaram algumas desvantagens. Exemplo destas últimas é a sua tendência a

detonar; o menor volume da câmara de combustão do motor CGV na vizinhança do PMS

aliado às maiores pressões e temperaturas que daí advêm, coloca o motor CGV em condições

de detonação. Esta desvantagem poderá ser contornada através da diminuição do ângulo de

avanço à ignição; no estudo apresentado foi mesmo necessário AAI negativos a velocidades

de rotação baixas.

O facto de a CGV apresentar mais peças que a CC, leva obviamente a maiores perdas por

atrito, apesar de, no aspecto global de rendimento mecânico, estas serem compensadas com

Page 74: Tese 1,7 MB

72

os valores mais elevados de pressão média indicada (melhor rendimento volumétrico). Assim

sendo, o rendimento mecânico esperado é muito semelhante em ambos os motores.

Um dos parâmetros mais importantes nos MCI é de facto uma grande vantagem no motor

CGV, o rendimento volumétrico deste motor é sem dúvida superior ao do motor CC. A

velocidade superior atingida pelo êmbolo, associada ao movimento deste em torno do PMI leva

a um aumento dos efeitos de inércia na entrada do gás para o cilindro e uma diminuição do

retorno à admissão; ora tanto o aumento da inércia como a diminuição do retorno beneficiam o

rendimento volumétrico.

Dado os esforços dinâmicos do motor CGV serem com certeza superiores aos do motor CC, foi

considerado neste estudo que a velocidade máxima de rotação é inferior no motor CGV.

Comparativamente, o motor CGV é menos potente que o motor CC, devido, precisamente a ter

uma velocidade de rotação máxima inferior.

Como já foi referido, o motor CGV apresenta um rendimento volumétrico superior e também

uma expansão real mais elevada, o que leva a valores mais elevados de pressão média

indicada em comparação com o motor CC. Visto que o rendimento mecânico é semelhante, a

pressão média efectiva, e assim o binário, é superior no motor CGV. Este motor apresenta

também uma melhor eficiência, provada pelos menores valores de consumo específico em

comparação com o motor CC.

Uma vez que a crescente preocupação ambiental é uma realidade, é sem dúvida um ponto

negativo para o motor CGV as maiores emissões de CO e NOx. No que diz respeito a emissões

de HC, este motor poderá estar em vantagem.

Embora não haja grande influência das perdas térmicas no resultado final de potência, binário,

e de consumo, verificou-se que o motor CGV tem menos trocas térmicas por unidade de

tempo, mas maiores por ciclo (roda a uma velocidade máxima mais baixa que o motor CC).

Assim, o motor CGV apresenta grande potencial no que diz respeito à sua performance,

deixando antever muitas dificuldades no que diz respeito à sua construção. Esta dificuldade é

sempre muito relevante em termos práticos industriais, pois existe sempre muita “resistência” à

mudança quando se antecipam complicações construtivas.

Trabalho futuro

O motor CGV, a nível estrutural e nesta análise preliminar, apresenta apenas desvantagens.

Assim sendo, é importante a realização de estudos dinâmicos, de frequências (frequências

próprias e respectivos modos de vibração) e de fadiga. Após estes estudos seria possível

determinar se é necessária a redução da velocidade de rotação do motor CGV

comparativamente ao motor CC, ou se seria preferível dimensionar as peças da CGV de

Page 75: Tese 1,7 MB

73

acordo com os esforços encontrados. Seria também interessante um estudo de noise–

vibration–harshness (NHV) em que seria testado o ruído e vibração emitidos pelo motor CGV.

O fabrico e montagem da CGV pode também levar a algumas complicações adicionais, sendo

assim necessária a análise do melhor método de construção das peças que constituem a CGV,

não descurando a sua montagem.

No que diz respeito ao rendimento volumétrico (principal factor a condicionar o binário do

motor), teria sido muito interessante efectuar um estudo no que diz respeito ao timing de fecho

da válvula de admissão e abertura da válvula de escape. Deste estudo talvez se pudesse

perceber que o rendimento volumétrico deste motor é ainda superior ao considerado. Seria

também útil um estudo mais aprofundado das alterações de cada um dos efeitos que

influenciam o rendimento volumétrico.

As perdas mecânicas são fundamentais no rendimento do motor, logo, será importante

perceber exactamente qual o aumento das mesmas, considerando a quantidade de peças,

apoios e a utilização de engrenagens da CGV.

Poderia também ter sido utilizada uma ferramenta de simulação dos escoamentos não

estacionários nos colectores.

As possibilidades de exploração deste motor são como mostrado imensas mas foram

condicionadas, uma vez que se trata de uma dissertação de mestrado com todas as limitações

que daí advêm. Isto não invalida nem as conclusões apresentadas nem as sugestões de

trabalhos futuros apresentados.

É de todo o interesse estudar futuramente quais as aplicações que este motor poderá vir a ter,

dadas as suas características, e explorá-lo para o caso Diesel ou para motores lean burn visto

apresentar mais tempo para a combustão.

Todos estes estudos devem ser realizados para a avaliação da viabilidade e competitividade do

motor CGV e é também indispensável compreender quais as gamas do mercado a que seria

mais adequado.

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74

Page 77: Tese 1,7 MB

75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Mendes-Lopes, J M C: “Motores de combustão interna – alguns princípios de funcionamento

e desafios a vencer”, in “Uma vida pela modernização dos Caminhos de Ferro Portugueses –

homenagem a Francisco de Almeida e Castro”, ed. Manuel Seabra Pereira, IST PRESS, Junho

2009

[2] Lobo, S: “A Manivela de Geometria Variável”

[3] Mendes-Lopes, J M C & Blancard, D & Cordeiro, A & Mega, J & Salgado, T: “MotorIST -

Simulação de um ciclo real de um motor de Explosão a 4 tempos”

[4] Mendes-Lopes, J M C: “Motores de combustão interna – uma abordagem termodinâmica”,

Instituto Superior Técnico, DEM, 2003

[5] Cordeiro, A: "Previsão do desempenho e características termodinâmicas de motores de

explosão", Instituto Superior Técnico, DEM/STA, 1995

[6] Metghalchi, M, & Keck, J C: “Burning velocities of mixtures of air with methanol, isooctane,

and indolene at high pressure and temperature”, Combust. Flame, 48, pp. 191-210 (1982).

[7] Heywood, J B: "Internal combustion engine fundamentals", McGraw-Hill Book Company,

1988

[8] Bishop, I N: ”Effect of Design Variables on Friction and Economy”, SAE Trans, vol. 73, pp.

334-358, 1965

[9] Mega, J: "Desenvolvimento de sub-modelos para a previsão do desempenho e

características termodinâmicas de motores de explosão", Instituto Superior Técnico, DEM/STA,

1995

[10] Coelho, P & Costa, M: “Combustão”, Edições Orion, 2007

[11] Blancard, D: "Desenvolvimento de sub-modelos para a previsão do desempenho de

motores de explosão", Instituto Superior Técnico, DEM/STA, 1996

[12] Annand, W J D: ”Heat Transfer in the Cylinders of Reciprocating Internal Combustion

Engines”, Proc. Inst. Mech. Engrs, vol 177, nº36, pp. 973-990, 1963

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76

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77

ANEXO A

ANÁLISE ESTRUTURAL ESTÁTICA

Neste Anexo apresentam-se as análise realizadas ao assembly do motor CGV, referidas no

Capitulo 3 deste trabalho. Na Tabela A.1 são visíveis as cargas aplicadas em cada ângulo

cambota analisado.

CAD [º] 270 360 450

Carga (pressão) [MPa] 0.1079 1.9247 0.4932 Tabela A. 1 Valores de pressão no interior da câmara de combustão para três valores de CAD

É possível observar na Tabela A.2 as características do material utilizado.

Módulo de elasticidade [GPa] 210

Coeficiente de Poisson 0.28

Módulo de distorção [MPa] 7.90E4

Massa volúmica [kg/m^3] 7700

Tensão de Rotura [MPa] 724

Tensão de cedência [MPa] 620.42 Tabela A. 2 Propriedades da liga de aço

No que diz respeito aos resultados indicam-se de seguida os valores de tensão e

deslocamento obtidos para cada uma das geometrias estudadas e para cada ângulo de

cambota analisado.

Tensão de Von Mises [MPa] Deslocamento [mm]

CAD

270º 360º 450º

270º 360º 450º

Carga [Mpa] 0.1079 1.9247 0.4932 0.1079 1.9247 0.4932

Aa8 61.52 152.8 281.2 0.572 0.104 2.616

Aa9 63.72 155.2 291.2 0.596 0.1045 2.726

Aa10 59.13 153 270.3 0.565 0.102 2.585

Aa11 61.8 152.7 282.5 0.561 0.104 2.566

Aa12 64.25 152.3 293.7 0.57 0.104 2.606

Tabela A. 3 Valores máximos de tensões e deslocament o para relações de Aa8 a Aa12

De seguida podem ser consultados cada um dos estudo realizados.

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78

Figura A. 1 Estudo das tensões na geometria Aa8, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

Figura A. 2 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa8, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

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79

Figura A. 3 Estudo das tensões na geometria Aa9, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

Figura A. 4 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa9, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

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80

Figura A. 5 Estudo das tensões na geometria Aa10, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

Figura A. 6 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa10, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

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81

Figura A. 7 Estudo das tensões na geometria Aa11, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

Figura A. 8 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa11, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

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82

Figura A. 9 Estudo das tensões na geometria Aa12, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

Figura A. 10 Estudo dos deslocamentos na geometria Aa12, ângulos de cambota 270º, 360º e 450º

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83

ANEXO B

ESTUDO GEOMÉTRICO DO MECANISMO DO MOTOR CGV

A figura seguinte representa uma posição da CGV seleccionada para a análise termodinâmica.

Assim sendo, esta cambota apresenta as relações Rr2 e Aa9, além de um desfasamento

angular de 180º.

Figura B. 1 Motor CGV, 45º de cambota

Na figura B.1, L designa o comprimento da biela, A o comprimento da manivela principal, a o

comprimento da manivela secundária, s a distância entre eixo da cambota e o cavilhão do

êmbolo, TETA o ângulo de cambota e 3TETA o ângulo da manivela secundária com o eixo das

abcissas. O comprimento útil da CGV é designado por b e é equivalente ao comprimento da

manivela no motor CC.

A posição do êmbolo em função do ângulo de cambota vai depender não só do parâmetro s,

que varia com o ângulo de cambota, mas também do valor de b, que também varia com o

ângulo de cambota. Assim sendo, no motor CGV temos duas equações relativas a parâmetros

geométricos que dependem do ângulo de cambota.

Page 86: Tese 1,7 MB

84

Figura B. 2 Ponto de activação da CGV

Na figura B.2 ( , )x y representa as coordenadas, em função do ângulo de cambota, de

qualquer ponto (ponto C na imagem anterior) da trajectória da curva realizada pelo ponto de

accionamento da CGV.

Na figura seguinte, temos as seguintes expressões para ( , )x y .

~� � � sin�� � a sin �3 � 90�� � � cos�� � a cos�3 � 90��

Figura B. 3 Curva cardióide mitigada dupla efectuad a pelo ponto de accionamento da cambota CGV

Tendo em conta as coordenadas ( , )x y apresentadas, temos para os parâmetros b e s:

2 2 2 2( cos(3 )) ( cos (3 )) 2 sin(2 )b Asen a A asen A a Aaθ θ θ θ θ= − + + = + +

2 2( cos(3 )) cos (3 )s L Asen a A asenθ θ θ θ= − − + +

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85

As alterações realizadas no MotorIST, relativas ao movimento do êmbolo, foram efectuadas

nas equações do volume e área varrida do cilindro, em função do ângulo de cambota. Nas

equações da literatura [4], relativas a estas grandezas, foram substituídos os valores de b e s.

Assim sendo, após a substituição dos parâmetros em questão, na equação seguinte podemos

observar a expressão da área varrida pelo êmbolo no motor CGV, em função do ângulo de

cambota θ.

2

( )4varrida

dA L b s

Π= + −

22 2 2 2

var 2 sin(2 ) ( ( sin cos(3 )) cos sin(3 ))4rida

DA L A a Aa L A s A aθ θ θ θ θΠ = × + + + − − × − × + × + ×

O volume máximo da câmara de combustão é a soma do volume residual com o volume do

cilindro, como indicado na equação seguinte:

max res cV V V= +

Em que o volume do cilindro é expresso da seguinte forma:

2

( )4C

dV L b s

Π= + −

Após a substituição dos parâmetros b e s obtemos a forma final do volume da câmara de

combustão do motor CGV, em função do ângulo de cambota θ:

22 2 2 22 sin(2 ) ( ( sin cos(3 )) cos sin(3 ))

4res

DV V L A a Aa L A a A aθ θ θ θ θΠ = + × + + + − − × − × + × + ×

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86

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87

ANEXO C

LISTA DE INPUTS E OUTPUTS DO MOTORIST

Inputs

RPM Velocidade de Rotação [rpm]

PcBorb Percentagem de Abertura de Borboleta [%]

C Número de Cilindros

D Diâmetro dos Cilindros [m]

L Curso [m]

LB Comprimento da Biela [m]

RC Razão de Compressão

DELTETA Incremento de Ângulo para os Cálculos [º]

LAMBDA Coeficiente de Excesso de Ar

TRET Temperatura Atmosférica [K]

TRES Temperatura dos Gases Residuais [K]

P0 Pressão Atmosférica [Pa]

nC Número de átomos de Carbono do Combustível

mH Número de átomos de Hidrogénio do Combustível

RON Índice de octano do Combustível

AAE Avanço à Abertura do Escape [º]

AFA Atraso ao Fecho da Admissão [º]

Nmax Velocidade de Rotação Máxima [rpm]

NumV Número de Válvulas de Admissão

DiamVA Diâmetro das Válvulas de Admissão [m]

DiamVE Diâmetro das Válvulas de Escape [m]

LiftA Curso das Válvulas de Admissão [m]

LiftE Curso das Válvulas de Escape [m]

ImpRendV Rendimento Volumétrico imposto

ImpAAI Avanço à Ignição imposto

ImpRendM Rendimento Mecânico imposto

DISSOC Cálculos com dissociação: 1-sim, 0-não

TIPMOT Tipo de Motor

(1: Motor comum de automóvel)

(2: Motor de automóvel "desportivo")

(3: Motor de "Jipe", Todo o Terreno)

(4: Motor com admissão variável)

Tabela C. 1 Lista de Outputs do programa MotorIST

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88

Outputs

RendV Rendimento Volumétrico [%]

AAI Avanço à ignição [º]

FimComb Ângulo após o PMS para o qual acaba a combustão [º]

x Razão mássica Ar/Fuel estequiométrica

MRET Massa de mistura retida no interior do cilindro [g]

mfu Massa de combustível admitida na mistura p/cil. [g]

Ch Consumo horário de combustível [kg/h]

Ci Consumo específico indicado [g/kWh]

Ce Consumo específico efectivo [g/kWh]

mip Pressão média indicada [bar]

mep Pressão média efectiva [bar]

Pi Potência indicada [kW]

Pe Potência efectiva [kW]

Torque Binário ao veio [N.m]

RendM Rendimento mecânico [%]

RendI Rendimento indicado [%]

RendE Rendimento efectivo [%]

TMAX Temperatura máxima atingida no ciclo [K]

TFINAL Temperatura de escape (na conduta) [ºC]

Tadia. Temperatura no cilindro (evolução adiabática) [ºC]

Wi Trabalho indicado p/ cil.[J]

We Trabalho efectivo p/ cil. .[J]

Wcomp Trabalho de compressão p/ cil. .[J]

Qter Trocas térmicas até abrir válvula escape p/cil. .[J]

Qesc Trocas térmicas (escape espontâneo) p/ cil. .[J]

Qrefr Potência para o sistema de refrigeração [kW]

Integral (% do valor do integral relativo à detonação) [%]

CO Concentração de CO [%]

NO Concentração de NO [ppm] Tabela C. 2 Lista de Outputs do programa MotorIST

Outputs em função de TETA

P Pressão [bar]

T Temperatura [K]

V Volume [m3]

Wc Trabalho de compressão [J/º]

CO Concentração de CO [%]

NO Concentração de NO [ppm] Tabela C. 3 Lista de Ouputs em função do ângulo de cambota do MotorIST

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89

ANEXO D

CORRECÇÃO DOS VALORES DE DURAÇÃO DE COMBUSTÃO DA CGV COM A

TEMPERATURA MÉDIA DE COMBUSTÃO

A partir dos valores de duração de combustão extrapolados para o motor CC, foi realizado o

estudo da temperatura média de combustão neste motor. Podemos ver em seguida os valores

de pressão e temperatura, desde o fecho da válvula de admissão, até à abertura da válvula de

escape. Estes valores foram obtidos ao correr o programa MotorIST para uma gama de

rotações de 1000 a 6000 rpm, utilizando valores de AAI e CADEC com os quais não se verifica

detonação.

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 344 641.6

346 647.9 650.2 652.1 653.5 654.3

348 655.4 660.2 663.0 664.8 666.2 666.8 668.0

350 663.1 667.8 672.2 674.9 676.6 678.1 678.8 680.3

352 675.0 679.1 683.1 685.7 687.4 688.8 689.8 691.5

354 676.7 685.6 689.2 692.9 696.6 699.6 700.2 699.5 701.5

356 686.9 694.8 701.0 713.7 721.9 725.5 725.6 720.7 714.6

358 677.6 695.7 714.1 728.8 745.5 755.6 759.8 759.3 752.3 742.5

360 676.6 686.8 714.5 748.8 767.0 787.0 798.7 803.2 802.3 793.5 780.5

362 686.2 694.5 753.6 796.8 817.0 839.3 851.9 856.7 855.3 845.2 829.9

364 694.4 717.7 810.5 859.5 880.0 903.5 916.6 921.4 919.7 908.7 891.6

366 733.6 770.2 887.2 939.1 957.8 981.0 993.6 998.1 996.2 985.2 967.8

368 814.5 851.1 987.1 1035.7 1049.7 1070.5 1081.7 1085.5 1083.6 1073.4 1057.1

370 942.3 965.5 1108.1 1148.1 1154.9 1171.6 1180.5 1183.4 1181.6 1173.0 1159.1

372 1120.6 1113.0 1249.0 1275.0 1272.4 1283.2 1289.0 1290.6 1289.1 1282.8 1272.9

374 1342.8 1290.4 1406.8 1414.2 1400.3 1403.9 1405.7 1405.9 1404.8 1401.5 1396.5

376 1598.3 1491.9 1577.3 1562.9 1536.2 1531.6 1529.0 1527.6 1526.9 1527.2 1528.0

378 1923.0 1709.1 1755.1 1716.9 1677.6 1663.9 1656.6 1653.5 1653.3 1657.4 1664.6

380 2282.8 2015.0 2021.1 1934.8 1858.6 1824.9 1806.9 1800.1 1801.7 1815.3 1838.0

382 2528.9 2297.2 2253.4 2151.7 2068.1 2025.4 2002.6 1993.9 1995.8 2012.9 2041.4

384 2655.5 2498.2 2431.4 2330.5 2248.5 2201.4 2175.8 2165.8 2167.7 2186.6 2217.1

386 2629.7 2610.4 2549.7 2464.3 2391.6 2345.4 2319.5 2309.0 2310.4 2328.7 2357.6

388 2596.0 2626.5 2607.7 2551.7 2495.4 2454.8 2431.1 2421.2 2421.8 2437.4 2460.9

390 2565.4 2594.8 2599.9 2590.6 2558.1 2527.7 2508.7 2500.2 2499.8 2510.7 2525.3

392 2528.2 2562.2 2567.6 2580.1 2589.0 2564.1 2551.7 2545.1 2543.4 2547.7 2562.0

394 2529.8 2534.4 2547.4 2559.5 2563.7 2565.9 2564.1 2559.0 2549.1 2533.7

396 2501.6 2514.6 2526.0 2532.7 2535.4 2534.4 2529.2 2518.7 2500.9

398 2482.0 2494.0 2500.2 2503.0 2501.9 2497.0 2486.8 2469.8

400 2449.9 2461.9 2468.5 2471.5 2470.7 2465.8 2455.7 2438.6

402 2430.2 2437.0 2440.1 2439.4 2434.7 2424.7 2407.7

404 2406.3 2409.5 2409.0 2404.4 2395.1

406 2379.8 Tmédia 1665.8 1615.9 1608.0 1597.2 1582.7 1576.8 1575.8 1570.9 1573.8 1572.6 1575.0

Tabela D. 1 Temperaturas durante a combustão, motor CC

Page 92: Tese 1,7 MB

90

Apresentam-se agora os valores de pressão e temperatura no motor CGV, desde o fecho da

válvula de admissão, até à abertura da válvula de escape. Estes valores foram obtidos

correndo o programa MotorIST para uma gama de rotações de 1000 a 6000 rpm, utilizando

valores de AAI e CADEC com os quais não se verifica detonação.

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

344 670.1

346 673.6 676.0 678.0 679.4 680.3

348 678.4 683.2 686.1 688.0 689.5 690.3 691.6

350 683.4 688.2 692.7 695.4 697.3 698.8 699.7 701.3

352 693.0 697.2 701.3 703.9 705.7 707.3 708.3 710.2

354 692.6 701.6 705.3 709.1 712.9 715.9 716.6 716.0 718.1

356 701.2 709.3 715.6 728.3 736.6 740.3 740.4 735.7 729.7

358 690.5 709.0 727.5 742.2 759.0 769.1 773.3 773.0 766.1 756.5

360 688.6 699.4 727.3 761.6 779.9 799.9 811.6 816.2 815.3 806.7 794.0

362 698.0 707.2 766.4 809.7 829.9 852.2 864.9 869.7 868.4 858.4 843.2

364 706.5 731.0 823.7 872.9 893.4 917.3 930.6 935.4 933.8 922.9 905.8

366 741.3 784.4 901.6 954.0 972.8 996.1 1008.8 1013.3 1011.5 1000.6 983.3

368 815.9 866.8 1003.3 1052.3 1066.4 1087.5 1098.8 1102.7 1100.9 1090.7 1074.5

370 934.0 983.3 1126.4 1166.9 1173.9 1190.9 1200.0 1202.9 1201.2 1192.6 1178.8

372 1099.9 1132.9 1269.7 1296.4 1294.1 1305.3 1311.2 1313.0 1311.5 1305.3 1295.2

374 1308.2 1312.6 1430.3 1438.5 1424.9 1429.0 1431.0 1431.3 1430.3 1427.0 1421.9

376 1550.7 1516.7 1603.8 1590.2 1564.1 1559.8 1557.4 1556.1 1555.5 1555.7 1556.5

378 1825.7 1736.4 1784.4 1747.4 1708.4 1695.1 1688.1 1685.1 1685.0 1689.0 1696.1

380 2200.9 2044.8 2053.0 1968.0 1892.1 1858.8 1841.2 1834.6 1836.2 1849.5 1871.8

382 2480.7 2328.1 2287.4 2187.2 2104.2 2061.9 2039.2 2030.6 2032.3 2049.3 2077.2

384 2640.9 2530.8 2466.8 2367.5 2286.1 2239.7 2214.3 2204.4 2206.2 2224.8 2254.8

386 2668.2 2644.0 2586.1 2502.4 2430.3 2384.7 2359.2 2348.9 2350.3 2368.3 2396.6

388 2638.5 2662.1 2645.4 2589.5 2533.9 2493.9 2470.5 2460.8 2461.4 2476.8 2499.7

390 2605.6 2630.1 2637.7 2629.0 2596.4 2566.6 2547.8 2539.3 2538.9 2549.4 2563.1

392 2571.3 2596.3 2603.6 2616.6 2625.7 2601.2 2589.2 2582.8 2580.9 2584.6 2598.5

394 2562.7 2569.5 2582.5 2594.0 2598.2 2600.0 2598.6 2593.7 2584.2 2569.3

396 2534.0 2547.3 2558.4 2565.3 2568.2 2567.2 2562.2 2551.7 2534.0

398 2511.2 2522.8 2529.2 2532.0 2531.2 2526.3 2516.3 2499.6

400 2474.5 2486.3 2493.1 2496.3 2495.6 2490.9 2480.9 2464.0

402 2449.4 2456.4 2459.7 2459.2 2454.6 2444.8 2428.0

404 2419.4 2423.0 2422.6 2418.2 2408.4

406 2386.3

Tmédia 1657.3 1640.0 1632.9 1622.3 1607.7 1601.6 1600.8 1595.5 1599.0 1597.8 1600.5 Tabela D. 2 Temperaturas durante a combustão, motor CGV

Page 93: Tese 1,7 MB

91

Tendo em conta os valores de temperatura média ( uT ), obtidos para cada velocidade de

rotação nos motores em estudos e a seguinte relação:

2,26

uCGV uCVG

uCC uCC

S T

S T

Foi possível chegar aos seguintes valores:

1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000

2,26

uCVG

uCC

T

T

0.989 1.034 1.035 1.036 1.036 1.036 1.036 1.036 1.037 1.037 1.037

Assim sendo foi considerado uma diminuição da duração da combustão do motor CGV de 3%

em relação aos valores de duração de combustão no motor CC.