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Francisco Magalhães Professor na Escola Secundária Francisco de Holanda Licenciado em Educação Física – FCDEF – Universidade do Porto; Mestre em Ciências do Desporto – Especialização na Área de Treino de Alto Rendimento Desportivo – FCDEF – Universidade do Porto; Formador da Formação Contínua de Professores. Técnico de Andebol – Nível IV (2º Grau) Campeão Nacional de Seniores Masculinos – 2ª Divisão – A. D. Fafe – 1992 /93; Vencedor da Taça Federação Portuguesa de Andebol – Seniores Masculinos – A. D. Fafe - 1991 /92; Vencedor da Taça Federação Portuguesa de Andebol – Seniores Masculinos – A. D. Fafe - 1992 /93; Campeão Nacional de Juvenis Masculinos – Vitória S. C. – 1994 /95. Tese de Mestrado RELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE EFICÁCIA E A CLASSIFICAÇÃO FINAL DE EQUIPAS DE ANDEBOL Um Estudo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão Masculina

Tese de Mestrado - Associação de Andebol de Bragaaab.pt/ficheiros/cadernosTecnicos/Resumo da tese de...Foram estudados 132 jogos realizados por 12 equipas que participaram na 1ª

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Francisco Magalhães Professor na Escola Secundária Francisco de Holanda

Licenciado em Educação Física – FCDEF – Universidade do

Porto;

Mestre em Ciências do Desporto – Especialização na Área de Treino de Alto

Rendimento Desportivo – FCDEF – Universidade do Porto;

Formador da Formação Contínua de Professores.

Técnico de Andebol – Nível IV (2º Grau)

Campeão Nacional de Seniores Masculinos – 2ª Divisão – A. D. Fafe – 1992

/93;

Vencedor da Taça Federação Portuguesa de Andebol – Seniores Masculinos –

A. D. Fafe - 1991 /92;

Vencedor da Taça Federação Portuguesa de Andebol – Seniores Masculinos –

A. D. Fafe - 1992 /93;

Campeão Nacional de Juvenis Masculinos – Vitória S. C. – 1994 /95.

Tese de Mestrado

RELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE EFICÁCIA E A

CLASSIFICAÇÃO FINAL DE EQUIPAS DE ANDEBOL

Um Estudo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão Masculina

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

RESUMO

O presente estudo emerge da necessidade de se obterem

conhecimentos acerca do contributo dos indicadores da performance

diferencial no jogo de Andebol, já que é recomendado aos treinadores que

examinem a contribuição de variáveis especificas no sucesso das suas equipas

(Lidor & Arnon,1997).

Neste sentido, foram definidos os seguintes objectivos:

1- Identificar um conjunto de indicadores da performance que

melhor se associam com a classificação final das equipas.

2- Hierarquizar os indicadores da performance face á sua

ordenação de importância no estabelecimento da

classificação final das equipas.

Foram estudados 132 jogos realizados por 12 equipas que participaram

na 1ª fase do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, na época desportiva de

1997/98. Recorremos aos seguintes catorze indicadores de eficácia:

assistências, acções defensivas positivas, faltas técnicas, faltas de 7 metros

provocadas, percentagem de eficácia de defesas do guarda-redes a remates

de ataque organizado, percentagem de eficácia de defesas do guarda-redes a

remates de contra-ataque, percentagem de eficácia de defesas do guarda-

redes a remates de livre de 7 metros, percentagem de eficácia de remates de

ataque organizado, percentagem de eficácia de remates de contra-ataque,

percentagem de eficácia de remates de livre de 7 metros, posse de bola,

relação entre golos marcados/golos sofridos, remates falhados e sanções

disciplinares.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 2

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

A análise estatística constou dos seguintes procedimentos: (i) para a

análise univariada recorremos aos valores absolutos, média, desvio-padrão,

amplitude e coeficiente de variação e (ii) para a análise bivariada utilizamos o

coeficiente de correlação de Pearson e o modelo de regressão linear simples.

Os resultados mostram que os indicadores de eficácia que melhor se

associaram com a classificação final foram os seguintes: (i) relação golos

marcados/golos sofridos; (ii) faltas técnicas; (iii) percentagem de eficácia de

defesas do guarda-redes a remates de ataque organizado; (iv) percentagem de

eficácia de remates de ataque organizado; (v) assistências; (vi) acções

defensivas positivas; (vii) percentagem de eficácia de defesas do guarda-redes

a remates de contra-ataque.

Dos resultados obtidos emerge o seguinte quadro de conclusões: (i)

existência de um perfil técnico hierarquizado e bem ajustado à realidade do

jogo de Andebol; (ii) a natureza interactiva e a importância associada dos

diferentes indicadores do jogo na classificação final das equipas; (iii) a

interactividade dos aspectos ofensivos e defensivos, genericamente

entendidos; (iv) a importância diferenciada do contributo dos diferentes

indicadores para a classificação final.

Palavras chave: Andebol; estatísticas; sucesso; correlação.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 3

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

1.INTRODUÇÃO 1.1. Preliminar Neste final de século, o Andebol masculino Português despertou de uma

letargia algo preocupante e teve inequivocamente uma notável evolução. A

justificação desta evidência sustenta-se a partir de um conjunto de resultados

desportivos de nível internacional alcançados pelas diversas selecções

nacionais e, também, por alguns clubes, nomeadamente o ABC de Braga.

De entre os êxitos conquistados, importa sublinhar os seguintes:

Selecção nacional Sub-19:

- Campeã da Europa em 1992;

- Vice-campeã da Europa em 1994.

Selecção nacional Sub-21

- 3º lugar no Campeonato do Mundo em 1995.

Selecção nacional de seniores:

- 1ª presença no Campeonato do Mundo do Grupo de Elite,

em 1997, tendo eliminado a Alemanha (duas vezes

campeã do Mundo);

- Apuramento directo para o Campeonato da Europa de

2000, em virtude de ter cometido a fantástica proeza de

eliminar a Jugoslávia (uma vez campeã do Mundo, duas

vezes campeã Olímpica e actual medalha de Bronze no

Mundial de 1999).

Clubes:

- ABC, finalista vencido da Taça dos Campeões Europeus,

em 1994.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 4

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Paralelamente a estes sucessos desportivos, outros factores têm

contribuído para que o Andebol se eleve a um dos patamares mais altos do

desporto português, como sejam a organização de provas internacionais ( 3º

Campeonato do Mundo de Esperanças em 1981, 1º Campeonato da Europa

em 1994 e Campeonato da Europa em Juvenis em 1999), o aumento

significativo do número de atletas e de equipas, a qualificação dos treinadores

nacionais (exigindo melhor nível de formação) e a promoção e divulgação da

modalidade junto das escolas do 1º ciclo do ensino básico.

Todavia, este "estado de graça" do Andebol contrasta com a fraca

produção científica realizada no domínio da Análise do Jogo,

fundamentalmente a partir da observação e análise quantitativa dos

indicadores da performance.

A Análise do Jogo tem sido uma das metodologias mais utilizadas para

mapear o conhecimento do jogo. Neste domínio, o que se procura é tão-

somente contribuir para a vasta tarefa do esclarecimento conceptual e

operativo da performance (Janeira, 1998).

Segundo Maia (1993, 1995) uma solução para a definição da

performance no contexto dos Jogos Desportivos Colectivos (JDC), e do

Andebol em particular, que ofereça alguma consistência conceptual e operativa

deve referenciar-se a dois tipos de análise:

(i) à análise das tarefas do jogo, isto é, ao conhecimento das

tarefas fundamentais realizadas pelos jogadores durante o

ataque e a defesa;

(ii) à análise do sujeito, ou seja, ao conhecimento do conjunto

diversificado de aptidões, capacidades, habilidades e

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 5

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características psicológicas que o sujeito deve possuir para

realizar com sucesso as tarefas que lhe estão

determinadas enquanto jogador.

1.2. Pertinência e Âmbito do Estudo

No Desporto, a classificação final de uma equipa numa competição

reflecte a medida absoluta do sucesso, uma vez que pode demonstrar o seu

nível de proficiência (Lidor & Arnon, 1998). Esta ideia leva-nos a colocar as

seguintes questões no âmbito do jogo de Andebol: (i) quais as razões que

levam uma equipa durante um jogo a marcar mais golos do que outra, isto é, a

ser mais eficaz do que a equipa adversária? ou, (ii) quais as razões que levam

uma equipa durante uma competição a ter mais sucesso do que outra?

Certamente que muitas das angustias, inquietações e dúvidas dos

treinadores decorrem deste tipo de questões. Inicialmente, a intervenção do

treinador baseava-se num conjunto subjectivo de observações que a pouco e

pouco se foram mostrando inadequadas e limitadas como meio de

fornecimento de feedbacks sólidos (Janeira, 1998).

Por outro lado, partindo do princípio que todos os treinadores procuram

que a fronteira do desconhecido seja cada vez menor, já que cada decisão

errada pode significar a derrota (Oliveira, 1993) as vantagens da análise

quantitativa são óbvias, uma vez que podem melhorar a intervenção do

treinador no jogo, permitindo detectar os pontos fortes e fracos dos jogadores e

das equipas e, ainda, identificar o sentido em que o nível do rendimento se está

a desenvolver. Daí a necessidade de se procurarem "pistas" mais objectivas e

concretas centradas na Análise do Jogo, porquanto estudos desta natureza

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poderão constituir-se como fonte privilegiada de informação e,

simultaneamente, dirigida para o esclarecimento de questões fulcrais do

planeamento, direcção e controlo do treino/competição.

Aliás, Ittenbach (1995) refere que os indicadores do jogo constituem um

meio válido e fiável para monotorizar a evolução das equipas ao longo da(s)

época(s) desportiva(s).

A literatura disponível é exígua no que diz respeito à identificação e

hierarquização dos indicadores da performance com a classificação final das

equipas de Andebol, facto que nos impele à realização deste estudo, cujos

objectivos e hipóteses apresentamos no ponto seguinte.

1.3. Objectivos e Hipóteses

1- Identificar um conjunto de indicadores da performance que

melhor se associam com a classificação final das equipas.

2- Hierarquizar os indicadores da performance face á sua

ordenação de importância no estabelecimento da classificação

final das equipas.

Estes dois objectivos são geradores do seguinte quadro de hipóteses.

1- Existe um lote alargado de indicadores da performance que

diferencia as equipas melhor das pior classificadas.

2- A explicação da classificação final das equipas assenta numa

hierarquia dos diferentes indicadores da performance com

supremacia dos indicadores da dimensão defensiva sobre os

indicadores da dimensão ofensiva.

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

2. REVISÃO DA LITERATURA As questões da modelação da performance têm preenchido um amplo

espaço da totalidade da pesquisa realizada no domínio das Ciências do

Desporto. É que através da ideia de modelação da performance tem sido

possível melhorar o investimento no processo de treino desportivo.

Fundamentalmente, os especialistas da modelação têm procurado identificar

um conjunto de aptidões e competências centradas no atleta e que estão

associadas à sua performance diferencial.

No âmbito dos JDC esta tarefa tem-se revelado extremamente árdua, já

que são diversos os factores condicionantes da prestação desportiva. De facto,

o atleta carrega consigo um conjunto de factores somáticos, fisiológicos,

motores, psicológicos entre outros, que condicionam a problemática do

conhecimento diferenciado da resposta do atleta ao quadro polifacetado do

jogo. Para além disso, sempre que se abordam os problemas centrados no

jogo estão presentes, para além dos anteriores factores referidos, aspectos de

ordem técnico-táctica e estratégica, o nível de importância da competição e,

também, a oposição dos adversários, aspectos estes que em conjunto

interagem e condicionam os níveis de prestação desportiva dos atletas. Este

produto final contém em si uma diversidade enorme de factores, com graus de

importância diferenciados, face a condições dificilmente previsíveis e que, em

última análise, expressam o carácter multidimensional da performance

desportiva.

Face a este quadro complexo da performance a sua avaliação tem-se

constituído como um desafio constante para treinadores e metodólogos do

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treino. Basicamente, os caminhos percorridos neste domínio têm recorrido a

ferramentas estatísticas diversas, mais ou menos poderosas (estatística

univariada vs estatística multivariada) no sentido de se identificar os

indicadores da performance ou um conjunto destes que, de uma forma

particular, diferenciem quer os jogadores quer a prestação das equipas.

Decorrente desta procura podemos detectar na literatura disponível duas

grandes avenidas investigativas. Por um lado, aquela que percorre a análise

dos factores condicionantes da performance avaliados fora da situação de jogo

(estudos analíticos, Marques, 1990). Por outro, aquela que entrando no próprio

campo de jogo, ou seja, através da Análise do Jogo procura conhecer os

maiores contributos dos diferentes indicadores no domínio da performance

diferencial, quer em jogadores, quer em equipas.

No domínio estrito da investigação em Andebol estes caminhos estão

bem identificados na literatura. Todavia, o maior volume de investigação tem

sido realizado a partir de estudos analíticos e a eleição do jogo como objecto

de investigação privilegiado tem sido um pouco descurado. Para além disso, o

número de estudos disponíveis são ainda mais raros se atendermos às

avaliações realizadas a partir dos indicadores da performance no jogo.

2.2.3. Análise da Eficácia a partir dos Indicadores do Jogo

Na literatura disponível apenas foi possível identificar o estudo realizado

por Silva (1998), no qual é abordada a ideia de modelação da performance a

partir dos indicadores avaliados no jogo.

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Este estado de indiferença pelo estudo do Andebol a partir da análise

quantitativa dos indicadores de eficácia do jogo não se compreende muito bem.

Neste domínio, diversos peritos vêm chamando à atenção, desde há longos

anos, para esta necessidade imperiosa (Franks, Goodman e Miller, 1983;

Gowan, 1987; Franks e Miller, 1991; Oliveira, 1993; Maia, 1995; Marques,

1995; McGarry e Franks, 1996; Sampaio, 1997;Janeira, 1994 e 1998;

Garganta, 1998) na medida que as competições são fonte privilegiada de

informação para o treino e através da sua análise é possível optimizar os

comportamentos dos jogadores e das equipas.

Para além disso, esta situação é ainda mais preocupante já que alguns

autores (cujos estudos referimos no ponto 2.2.2. - modelação técnico-táctica)

parecem querer centrar a sua pesquisa no domínio da observação e

quantificação da performance a partir dos indicadores do jogo, mas expressam

quer do ponto de vista metodológico, quer do ponto de vista de

operacionalização da pesquisa, insuficiências das quais decorre um tratamento

desta matéria de forma algo inconsistente.

A exiguidade de investigação no âmbito da avaliação da eficácia das

equipas a partir dos indicadores do jogo de Andebol é um facto inquestionável.

Todavia, e independentemente das ferramentas estatísticas utilizadas, os

autores têm procurado conhecer os factores que contribuem para uma equipa

ser mais eficaz do que outra.

E neste sentido, a ideia é procurar conhecer o contributo particular dos

indicadores do jogo para a vitória ou derrota das equipas, bem como identificar

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 10

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a associação que se estabelece entre estes indicadores e a classificação final

das equipas numa determinada competição.

Para dar mais consistência ao anteriormente apontado refira-se, a título

de exemplo, o volume e a qualidade investigativa que neste domínio tem sido

promovida junto do jogo de Basquetebol. Os especialistas da modelação em

Basquetebol têm recorrido de uma forma sistemática à identificação das

aptidões e competências no domínio do atleta e das equipas no sentido de

melhor compreenderem de que forma a interactividade dos jogadores no seio

da equipa se expressa por níveis diferenciados de rendimento. A clareza do

quadro anteriormente traçado está expressa inequivocamente na literatura,

bem como as vertentes essenciais de pesquisa neste âmbito. Uma delas é,

objectivamente, a Análise do Jogo a partir dos indicadores da performance. O

recurso a diferentes abordagens estatísticas tem possibilitado a avaliação de

níveis diferenciados de jogadores e de equipas, bem como a definição de perfis

técnico-tácticos no sentido de predicção do sucesso em Basquetebol (Janeira,

1994; Pinto, 1995; Ittenback, 1995; Janeira e Sampaio, 1996; Mendes, 1996;

Sampaio, 1997; Sampaio e Janeira, 1998).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Amostra

Para a realização do presente estudo, recorremos aos dados

estatísticos dos 132 jogos que compuseram a 1ª Fase do Campeonato

Nacional da 1ª Divisão Masculina de Andebol, respeitantes à época

desportiva de 1997/1998.

Cada uma das 12 equipas participantes efectuou um total de 22

jogos nesta 1ª fase da competição, disputada no sistema "todos contra

todos a duas voltas".

No Quadro seguinte apresentamos a listagem das equipas

participantes ordenadas pela pontuação final alcançada na fase da

competição referida.

Quadro 3.1. Equipas participantes na 1ª Fase do Campeonato Nacional da 1ª Divisão Masculina de Andebol, ordenadas pela respectiva pontuação final na competição.

C.F. EQUIPAS PONTUAÇAO FINAL

1º ACADÉMICO BASKET CLUBE (ABC) 632º FUTEBOL CLUBE DO PORTO (PORTO) 623º SPORTING CLUDE DE PORTUGAL (SPORTING) 544º CLUBE SPORT MARITÍMO (MARITÍMO) 495º SPORT LISBOA E BENFICA (BENFICA) 466º GINÁSIO CLUBE DO SUL (GINÁSIO) 427º ACADÉMICO CLUBE D. FUNCHAL (FUNCHAL) 418º DESPORTIVO FRANCISCO DE HOLANDA (DFH) 399º BOAVISTA FUTEBOL CLUBE (BOAVISTA) 37

10º CLUBE FUTEBOL "BELENENSES" (BELENENSES) 3711º SPORTING CLUDE DA HORTA (HORTA) 3212º ALMADA ATLÉTICO CLUBE (ALMADA) 25

Entre parêntesis estão designados os nomes pelos quais identificaremos

as respectivas equipas ao longo do presente estudo.

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3.2. Definição das Variáveis em Estudo

3.2.1. Variável dependente

Neste estudo seleccionamos como variável dependente (também

designada por variável critério) a pontuação final das equipas na competição

em análise e que expressa a influência ou efeito das variáveis independentes.

A classificação final interpreta, como é óbvio, a pontuação final. Por isso,

julgamos correcto poder intitular a variável dependente por qualquer das duas

designações.

3.2.2. Variáveis independentes

Como variáveis independentes (também chamadas variáveis de

tratamento) seleccionamos catorze indicadores de eficácia no jogo de Andebol

(que adiante definiremos), ou seja, aquelas variáveis que determinam,

influenciam ou afectam a variável dependente.

3.2.3. Indicadores de eficácia

Entendemos por indicadores de eficácia, no jogo de Andebol, o conjunto

de aspectos habitualmente avaliados nas designadas "estatísticas do jogo".

Esta avaliação é realizada em todos os jogos do Campeonato Nacional

da 1ª Divisão de Andebol, a partir de um protocolo de observação e registo

construído sobre a orientação da Federação Portuguesa de Andebol (FPA) e

do qual se apresenta um exemplar em Anexos (Anexo 4).

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Seguidamente, procederemos à apresentação e identificação, por ordem

alfabética, dos indicadores de eficácia incluídos no nosso estudo1:

Assistências (A): número total de assistências, com e sem golo, realizadas

pelos jogadores;

Acções defensivas positivas (ADP): número total de acções defensivas

positivas (desarme, intercepção e bloco) efectuadas pelos jogadores;

Defesas do guarda-redes a remates de ataque organizado (%DG-RRAO):

razão percentual entre o número total de defesas efectuadas e o número total

de golos sofridos pelo guarda-redes, na sequência de remates em ataque

organizado, ou seja, quando a defesa e o ataque se encontram organizados

nos respectivos sistemas;

Defesas do guarda-redes a remates de contra-ataque (%DG-RRC-A): razão

percentual entre o número total de defesas efectuadas e o número total de

golos sofridos pelo guarda-redes, ou seja, durante as fases de contra-ataque

(directo, indirecto, simples, apoiado, etc.) e de ataque rápido, ou seja, quando a

defesa ainda não se encontra organizada no seu sistema defensivo;

Defesas do guarda-redes a remates de livre de 7 metros (%DG-RRL7m):

razão percentual entre o número total de defesas efectuadas e o número total

de golos sofridos pelo guarda-redes, na sequência de remates de 7 metros;

1 Em itálico evidenciam-se aspectos esclarecedores de definição dos indicadores apresentados no Protocolo de Observação e Registo Estatístico de Jogos de Andebol da FPA (1998).

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Faltas de 7 metros provocadas (F7mP): número total de faltas de 7 metros

provocadas pelos jogadores;

Faltas técnicas (FT): número total de faltas técnicas (mau passe/recepção,

perda de bola, falta atacante, violação, passos, dribles, jogo passivo e outras)

cometidas pela equipa;

Posse de Bola (PB): número total de remates à baliza com o número total de

faltas técnicas realizadas pela equipa;

Remates de ataque organizado (%RAO): razão percentual entre o número

total de remates concretizados em golo e o número total de remates efectuados

pelos jogadores, durante a fase de ataque organizado, ou seja, quando o

ataque e a defesa se encontram organizados nos respectivos sistemas ;

Remates de contra-ataque (%RC-A): razão percentual entre o número total

de remates concretizados em golo pelos jogadores e o número total de remates

falhados, durante as fases de contra-ataque (directo, indirecto, simples,

apoiado, etc.) e de ataque rápido, ou seja, quando a defesa adversária ainda

não se encontra organizada no seu sistema defensivo;

Remates de livre de 7 metros (%RL7m): razão percentual entre o número

total de remates concretizados em golo pelos jogadores e o número total de

remates falhados, no remate de livre de 7 metros;

Relação entre golos marcados e golos sofridos (GM/GS): quociente entre o

número total de golos marcados e o número total de golos sofridos pela equipa;

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Remates Falhados (RF): número total de remates efectuados à baliza sem

golo (defesa do guarda-redes, bloco, trave/poste e fora) realizados pela

equipa;

Sanções disciplinares (SD): número total de sanções disciplinares (exclusão,

desqualificação e expulsão) sofridas pelos jogadores.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 16

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste Capítulo do nosso estudo consideramos dois momentos de apresentação

dos resultados.

Num primeiro momento apresentam-se os resultados da análise univariada.

Iniciamos a apresentação com os valores da Média, Desvio Padrão, Amplitude e

Coeficiente de Variação dos catorze indicadores de eficácia analisados. Expomos de

seguida, em gráficos de barra, os valores absolutos de cada indicador de eficácia para

cada uma das doze equipas em estudo.

Num segundo momento mostram-se os resultados da análise bivariada. Deste

modo, apresentamos os valores da Correlação Linear Simples (r) e da Regressão

Linear Simples (r2) de todos os indicadores de eficácia analisados relativamente à

variável dependente, remetendo para Anexos a matriz de correlação (Anexo 1); por

último, para analisar a Regressão Linear Simples, utilizamos os gráficos de dispersão

de todas as associações encontradas entre as variáveis independentes e a variável

dependente.

4.1 Análise Univariada

Com o objectivo de melhor ilustramos os catorze indicadores de eficácia

estudados, apresentamos no Quadro 4.1 os resultados da Média, Desvio Padrão,

Amplitude e Coeficiente de Variação obtidos a partir de cálculos efectuados sobre os

resultados das observações.

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Quadro 4.1. Valores da Média (M), Desvio Padrão (DP), Amplitude (A) e Coeficiente de Variação (CV) dos indicadores de eficácia no Jogo.

Indicadores M DP A CV PB 1155.08 71.60 235 0.06

%RC-A 70.00 5.0 18 0.07

%RAO 50.50 4.5 15 0.09

%RL7m 70.67 6.3 22 0.09

RF 411.33 46.24 113 0.11

F7mP 72.17 7.9 30 0.11

FT 256.92 28.36 105 0.11

%DG-R RAO 34.75 4.7 18 0.14

GM/GS 1.0 0.1755 0.54 0.17

SD 77.42 17.9 57 0.23

A 165.25 39.28 124 0.24

%DG-R RC-A 23.58 6.3 23 0.27

ADP 106.33 30.22 90 0.28

%DR-R RL7m 21.42 7.8 24 0.36

Dos resultados apresentados no Quadro 4.1. entendemos relevante efectuar

as considerações que se seguem.

Quanto aos valores da Média, podemos referir que no presente estudo a

percentagem de eficácia de remate é substancialmente superior (cerca de 20%) nos

remates de contra-ataque e nos livres de 7 metros, relativamente aos remates de

ataque organizado. É também possível observar que, ao nível de eficácia das

defesas do guarda-redes, a percentagem de eficácia no indicador %DR-R RAO é

um pouco superior (aproximadamente 10%) em relação aos outros dois indicadores

(%DG-R RC-A) e %DG-R RL7m).

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 18

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Relativamente aos valores do Coeficiente de Variação, e seguindo o critério

utilizado por D’ Hainault (1992), podemos inferir que, dos indicadores de eficácia do

presente estudo:

(i) oito têm fraca dispersão (DP inferior ou igual a 15% do valor da

Média) – PB; %RC-A; %RAO; %RL7m; RF; F7mP; FT e %DG-

RRAO;

(ii) cinco possuem média dispersão (DP entre 15% e 30% do valor da

Média) – GM/GS; SD; A; %DG-RRAO e ADP;

(iii) um indicador revela elevada dispersão (DP superior ou igual a 30%

do valor da Média) - %DG-RRL7m.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 19

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Passamos a apresentar dois quadros nos quais se procura sintetizar os

melhores e os piores resultados por equipa em cada um dos catorze indicadores de

eficácia (Quadros 4.2. e 4.3., respectivamente).

Quadro 4.2. Equipas possuidoras do melhor resultado dos indicadores de eficácia em estudo Equipas Pont. Final Indicadores de Eficácia

1º - ABC 63 %RC-A e %RL7m

2º - Porto 62 GM/GS; %RAO; %DG-RRAO; FT; F7mP e A

3º - Sporting 54 %DG-RRC-A

4º - Marítimo 49 PB

5º - Benfica 46 RF

6º - Ginásio 42 ---

7º - Funchal 41 ---

8º - DFH 39 ---

9º - Boavista 37 %DG-RRL7m

10º - Belenenses 37 ADP

11º Horta 32 ---

12º - Almada 25 SD

A análise do Quadro 4.2. permite retirar as seguintes ilações:

(i) os três primeiros classificados possuem, entre si, nove melhores resultados, o

que representa 64% do total dos indicadores em estudo;

(ii) o 2º classificado – Porto – é a equipa possuidora de seis melhores resultados

e, consequentemente, obtém parte substancial de melhores resultados (43%);

(iii) o 1º classificado – ABC- reúne apenas dois melhores resultados, ficando por

isso distante da performance do 2º classificado (Porto);

(iv) das restantes nove equipas, cinco (Marítimo, Benfica, Boavista; Belenenses e

Almada) alcançaram o melhor valor num dos indicadores em estudo;

(v) Quatro equipas (Ginásio, Funchal; DFH e Horta) não possuem quaquer melhor

resultado.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 20

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Quadro 4.3. Equipas possuidoras do pior resultado dos indicadores de eficácia em estudo Equipas Pont. Final Indicadores de Eficácia

1º - ABC 63 ---

2º - Porto 62 ---

3º - Sporting 54 PB

4º - Marítimo 49 RF

5º - Benfica 46 SD

6º - Ginásio 42 %RAO

7º - Funchal 41 %DG-RRC-A

8º - DFH 39 ADP e F7mP

9º - Boavista 37 ---

10º - Belenenses 37 %DG-RRL7m e %RC-A

11º Horta 32 GM/GS; %DG-RRAO; %RL7m e A

12º - Almada 25 GM/GS e FT

Da leitura do Quadro 4.3. observamos os seguintes aspectos:

(i) as equipas classificadas nas três últimas posições – Almada, Horta e

Belenenses – apresentam, no seu conjunto, sete indicadores de eficácia com

piores resultados, o que traduz 50% do total dos indicadores em estudo;

(ii) os dois primeiros classificados – ABC e Porto – e o 9º da tabela classificativa –

o Boavista – não têm qualquer pior resultado na totalidade dos indicadores em

estudo;

(iii) cinco equipas – Sporting (3º), Marítimo ((4º), Benfica (5º), Ginásio (6º) e

Funchal (7º) – registam o pior valor num dos indicadores em estudo;

(iv) a equipa do DFH (8º) possui dois indicadores de eficácia com piores

resultados.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 21

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

4.2. Análise Bivariada

4.2.1. Correlação Linear Simples

Para avaliar a correlação linear entre pares de variáveis recorremos aos

coeficientes de correlação de Person (r).

Este coeficiente, permite determinar a força e a direcção das relações lineares

entre duas variáveis e oscila entre -1 e +1.

Uma relação de -1 ou de +1 indicará uma associação perfeita, negativa ou

positiva, respectivamente, entre duas variáveis. A total ausência de relação leva-nos

a encontrar um valor 0 para r. Assim, quanto mais perto o r estiver de 1 mais forte é a

correlação entre duas variáveis e quanto mais próximo r estiver de 0 mais fraca será

a associação. Esta ideia é ilustrada pela Figura que a seguir apresentamos.

Correlação Ausência de Correlação negativa perfeita correlação positiva perfeita -1 Forte Fraca 0 Fraca Forte +1 Figura 4.1. Força e direcção dos coeficientes de correlação (Bryman e Cramer, 1992). O valor de r2 constitui, segundo Bryman e Cramer (1992), uma ajuda preciosa

na compreensão da correlação, já que reflecte a proporção da variação da variável

dependente (classificação final) que é explicada pela variável independente

(indicadores de eficácia), ou seja, dá-nos uma indicação da percentagem da

“variância em comum” quando se correlacionam duas variáveis.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 22

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

No Quadro seguinte apresentamos, por ordem hierárquica (do valor mais alto

para o mais baixo) os resultados encontrados na Correlação Linear Simples (r) e na

Regressão Linear Simples (r2) e, ainda, os valores do nível de significância (p).

Quadro 4.4. Hierarquização dos indicadores de eficácia em relação aos valores de r, de r2 e de p. Indicadores Valor de r p Valor de r2

GM/GS 0.956 0.001 91

FT -0.843 0.001 71

%DG-RRAO 0.810 0.001 66

%RAO 0.712 0.009 51

A 0.614 0.034 38

ADP 0.594 0.042 35

%DG-RRC-A 0.578 0.049 33

%RC-A 0.483 0.112 23

RF -0.470 0.123 22

%RL7m 0.360 0.251 13

PB -0.240 0.453 6

SD 0.187 0.561 3

%DG-RRL7m 0.075 0.818 1

F7mP -0.037 0.909 0.1 Através da análise do Quadro 4.4. podemos constatar que, dos catorze

indicadores de eficácia estudados, apenas quatro apresentam uma associação

negativa, enquanto os restantes dez indicadores têm uma relação positiva

relativamente à variável dependente classificação final.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 23

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

De acordo com o critério do software utilizado no presente estudo encontramos

sete indicadores que apresentam relação linear significativa com a classificação final:

(i) quatro dos possuem forte associação (Golos Marcados /Golos Sofridos,

Faltas Técnicas; % de Eficácia de Defesa do Guarda-Redes de

Remates em Ataque Organizado e % de Eficácia de Remates em

Ataque Organizado);

(ii) e, três têm moderada correlação (Assistências. Acções Defensivas

Positivas e % de Eficácia de Defesa do Guarda-Redes a Remates em

Contra-Ataque)

Os restantes sete indicadores de eficácia não apresentam relação linear

significativa com a classificação final. E são os seguintes:

(i) % de Eficácia de Remates em Contra-Ataque, Remates Falhados, % de

Eficácia de Defesas do Guarda-Redes a Remates de Livre de 7 metros

e Faltas de 7 metros Provocadas

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 24

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa, no domínio da performance diferencial em Desporto, tem

exigido dos investigadores a necessidade da identificação das variáveis deste

processo multivariado (o jogo), que apresentam uma maior associação com o

indicador por excelência do produto no jogo (resultado final, classificação final).

Para a descrição destes fenómenos os especialistas na modelação têm

recorrido, fundamentalmente, a procedimentos de natureza univariada e

multivariada. Por outro lado, a utilização de técnicas bivariadas que, de facto,

expressam bem a ideia de associação (correlação) entre os indicadores em

estudo, têm sido pouco exploradas em Desporto.

Efectivamente, as criticas aos métodos univariados e bivariados

apontam para uma insuficiente capacidade destes procedimentos no

entendimento de um processo que em si mesmo é multivariado. Todavia,

algumas das reflexões mais actuais parecem sugerir que, independentemente

das técnicas estatísticas utilizadas, é possível identificar um conjunto dos

indicadores do jogo que se constituem como os mais importantes no domínio

da performance. No caso específico do Basquetebol, este assunto foi

recentemente estudado por Janeira (1999). O autor refere a propósito que os

resultados encontrados a partir da ideia de "corte da performance" (estudos

univariados e bivariados) não parecem tão distantes daqueles que se obtêm a

partir de metodologias mais robustas. Fundamentalmente, o autor sugere que

mais do que posicionamentos exclusivos em torno deste ou daquele processo

de análise, o que parece ser mais importante é a contrastação dos

resultados e a reavaliação integrada do produto de todos esses estudos no

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 25

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

sentido da identificação e da definição dos elementos críticos da performance

no quadro dos indicadores do jogo.

A partir desta linha de pensamento, parece estar justificada a opção por

nós tomada relativamente à utilização da estatística bivariada no estudo da

performance diferencial em Andebol. Além disso, esta opção prende-se

igualmente com a direcção dos estudos que, no âmbito da performance

diferencial, têm sido desenvolvidos na nossa Faculdade.

Recorrendo aos procedimentos estatísticos da correlação e da

regressão linear simples, procuramos, por um lado, examinar, interpretar e

explicar o modo como os diferentes indicadores do jogo se associaram à

classificação final das equipas na 1ª Fase do Campeonato Nacional da 1ª

Divisão, na época 1997/98.

Por outro lado, quisemos, igualmente, conhecer o poder hierárquico dos

diferentes indicadores e, a partir daí, estabelecer uma ordem de importância

face à classificação final das equipas.

Em última análise, pretendemos elaborar um conjunto de ideias

esclarecedoras acerca do contributo de cada indicador no ordenamento da

classificação final e, portanto, na diferenciação das equipas face à competição

avaliada.

Embora os resultados da análise bivariada contenham informação mais

rica e substantiva e nos possam dar uma ideia de predicção, a nossa primeira

observação relaciona-se com os resultados do estudo univariado. A partir dos

nossos resultados foi possível verificar os seguintes factos:

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 26

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

(i) para uma equipa obter a melhor classificação final não

implica, necessariamente, que essa equipa reuna os

melhores valores num quadro alargado de indicadores da

performance no jogo;

(ii) o mesmo se passa para as equipas pior classificadas, isto

é, estas equipas não obtêm, obrigatoriamente, os piores

valores nos diferentes indicadores em estudo.

Decorrente do anteriormente apontado, é evidente que o nível da

performance de uma equipa é expresso pelo contributo associado de todos os

indicadores do jogo, embora este contributo expresse pesos diferenciados para

o produto final. Ou seja, a partir deste posicionamento estamos de acordo com

Lidor & Arnon (1997) quando referem que o produto final do jogo é fortemente

engrandecido por uma multiplicidade de factores que assumem graus de

importância diferenciados. De facto, as exigências neste domínio conduzem-

nos à necessidade de um esclarecimento acerca da quota parte da

participação de cada um dos indicadores do jogo. O presente estudo confirma

esta ideia, já que os nossos resultados indicam que apenas alguns dos

indicadores são melhores predictores da classificação final (GM/GS, FT, %DG-

RRAO, %RAO, A, ADP e %DG-RRC-A).

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 27

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Vejamos agora a hierarquização dos indicadores de eficácia expressa na

Figura 5.1 a partir da qual é possível evidenciar desde já três aspectos

essenciais:

(i) o indicador GM/GS (r= 0.956, p<0.01) é o indicador mais

poderoso na diferenciação das equipas;

(ii) segue-se um conjunto de seis indicadores que expressa

um contributo importante para o sucesso das equipas (FT,

r= 0.956, p<0.01 %DG-RRAO, r= 0.956, p<0.01 RAO, r=

0.956, p<0.01 A, r= 0.956, p<0.01ADP r= 0.956, p<0.01 e

%DG-RRC-A r= 0.956, p<0.01);

(iii) por último, dos restantes sete indicadores não resulta

relação linear significativa com a classificação final (%RC-

A, RF, %RL7m, PB, SD, %DG-RRL7m e F7mP).

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 28

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Figura 5.1. Hierarquização dos indicadores de eficácia com a classificação final das equipas.

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 29

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

Em primeiro lugar, sublinha-se a relevância assumida pelo indicador

GM/GS. Esta importância era de algum modo previsível. De facto, esta relação

encerra em si mesma o próprio jogo de Andebol e quantifica de forma exacta a

eficácia ofensiva (golos marcados) e a eficácia defensiva (golos sofridos) de

uma equipa. Todavia, o que engrandece este indicador é, obviamente, o

conjunto associado de todos os indicadores de eficácia. Neste sentido, é

interessante verificar que os seis indicadores que mais se correlacionam com a

classificação final são precisamente os mesmos que possuem maior

associação com a relação GM/GS (FT, %DG-RRAO, %RAO, A, ADP e %DG-

RRC-A).

Para além disso, o elevado valor de correlação do indicador GM/GS

traduz de forma categórica e inequívoca a sua relevância no domínio da

avaliação diferencial da performance em Andebol. Mas não só. Esta relação

expressa, igualmente e, em última instância, o planeamento de uma época

desportiva, a qualidade e a quantidade de trabalho no período preparatório e

competitivo, o nível da forma desportiva durante o período competitivo, a

preparação e a estratégia para cada jogo, o conhecimento minucioso de cada

adversário em cada momento da época, a capacidade de cada equipa

responder aos imponderáveis do treino e da competição (lesões, castigos,

problemas de foro interno...).

Os resultados do presente estudo apontam igualmente para o facto dos

indicadores da dimensão ofensiva terem uma ligeira supremacia relativamente

à dimensão defensiva, facto que contraria a hipótese inicial colocada para o

presente estudo. Esta constatação advém da magnitude superior dos

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

indicadores ofensivos (FT, r=-0.843 e r2=71%;RAO, r=0.712 e r2=51% e A,

r=0.614 e r2=38%) face ao valor inferior dos indicadores defensivos (%DG-

RRAO, r=0.810 e r2=66%;) ADP, r=0.594 e r2=35% e %DG-RRC-A, r=0.578 e

r2=33%).

Todavia, esta associação particular emergente dos valores do presente

estudo afigura-se algo contrária à opinião de alguns autores (Garcia, 1985;

Falkowski & Fernandez, 1985; Czerwinski, 1993), já que estes referem que as

vitórias relacionam-se, fundamentalmente, com a prestação defensiva das

equipas.

Deste modo, e a partir do contributo decisivo que a associação dos

indicadores de eficácia do ataque (FT, %RAO e A) parece ter na performance

das melhores equipas, faz sentido, desde já, sustentar a importância do

seguinte aspecto: toda a acção do jogo deve ser presidida por uma regra

básica - a redução do número de erros - no sentido de os jogadores e a equipa

poderem obter os melhores rendimentos. De facto, segundo Anton, (1998) nas

equipas de bom nível, a média de erros não deverá superar 12 perdas de bola

por jogo (FT), sendo este valor o ponto de referência para se alcançarem bons

resultados na competição.

Na verdade, no jogo de Andebol, quando uma equipa comete uma FT

(por exemplo, mau passe), isso significa perder a posse de bola e,

simultaneamente, a possibilidade de rematar e poder marcar golo. Por outro

lado, este erro técnico ocasiona inúmeras vezes o contra-ataque adversário

com as consequentes pressões que se conhecem (por exemplo, ataque do

adversário em superioridade numérica, criação de possibilidade de remate em

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 31

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

posições vantajosas). Este quadro constitui, por isso, uma dupla desvantagem,

e ao repetir-se no jogo poderá ser decisivo para o desfecho final.

Neste domínio, devemos ter presente que os índices de eficácia do

contra-ataque são normalmente elevados, entre 70-75%, (Seco, 1990; Silva,

1998; Gutiérrez, 1999) pelo que se torna crucial evitar que a equipa adversária

alcance golos através desta privilegiada situação de jogo. Torna-se então

forçoso que uma equipa aumente o seu sucesso na finalização e aumente a

atenção que põe na gestão da posse da bola e na organização da recuperação

defensiva com o objectivo de neutralizar o contra-ataque. É que, deste modo,

reduz-se a possibilidade da equipa opositora marcar golos da forma mais fácil

no jogo de Andebol (Mircea, 1994).

A eficácia do remate é um dos aspectos providenciais do jogo de

Andebol. Esta observação resulta da leitura associada dos indicadores PB e

RF (r=0.788 e r2=62%). De facto, a partir dos resultados do presente estudo

verifica-se que, grosso modo, as equipas que, dispuseram do maior número de

posses de bola foram, também, aquelas que realizaram um maior número de

remates falhados. Todavia, é importante destacar que uma equipa só tem mais

posses de bola porque falha mais no remate, (isto é, defesa do guarda-redes,

trave/poste, bloco). Por isso, ter maior número de posses de bola é pouco

relevante na medida que o aspecto fulcral é, efectivamente, a eficácia na

finalização de uma acção ofensiva.

De entre os indicadores que possibilitam uma análise acerca da eficácia

do remate no jogo de Andebol (%RAO, r=0.712 e r2=51%; %RC-A r=0.483 e

r2=23% e %RL7m r=0.360 e r2=13%), o indicador %RAO foi aquele que mais

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

contribuiu para a separação entre as melhores e piores equipas. Este resultado

parece-nos óbvio por cinco razões fundamentais:

(i) o indicador %RAO constitui a fase do jogo ofensivo

predominante no jogo de Andebol;

(ii) o indicador %RAO encerra amplo contexto do jogo ofensivo

por conter informação conjunta dos remates de 1ª e 2ª

linha;

(iii) o indicador %RAO encerra a riqueza e a diversidade dos

conteúdos técnico-tácticos ofensivos individuais (1x1), de

grupo (2x2, 3x3, etc.) e colectivos (6x6);

(iv) o indicador %RAO encerra a estratégia ofensiva para cada

jogo;

(v) o indicador %RAO encerra a mestria individual de finalizar

uma acção atacante.

Deste modo, justifica-se amplamente que os treinadores invistam muito

do seu tempo de treino na preparação do jogo de ataque organizado. Parece-

nos ser "aqui" que (quase) tudo se desenvolve, que (quase) tudo se decide. De

facto, no sucesso de uma equipa ganha cada vez mais consistência e

relevância o número total de assistências (r=0.614 e r2=38%), já que estas

constituem importantes acções do jogo ofensivo, proporcionando situações de

finalização em condições extremamente vantajosas, 1x0 (G-R). Assim sendo,

facilmente se compreende que quanto mais situações desta natureza

ocorrerem no jogo mais possibilidades de êxito terá uma equipa. Também no

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

estudo efectuado por Silva (1998), o indicador assistências evidenciou uma

forte associação com a classificação final. Esta concordância de resultados

vem reforçar o valor destas acções no contexto do jogo de Andebol.

Como se observa na Figura 5.1., sobressaem pelo seu poder de

associação com a classificação final, três indicadores definidores da dimensão

defensiva das equipas.

Destes três indicadores, dois deles exprimem o trabalho defensivo

colectivo (%DG-RRAO, r=0.810 e r2=66%; ADP, r=0.594 e r2=35%), enquanto o

outro indicador (%DG-RRC-A, r=0.578 e r2=33%) reflecte a capacidade e

talento individual do guarda-redes de Andebol.

Nesta perspectiva, estamos plenamente de acordo com Anton (1994)

quando salienta que no jogo de Andebol, face ao ataque posicional, o guarda-

redes e os defensores devem formar um bloco inseparável, cuja colaboração

mútua se dá em ambos os sentidos. E assim sendo, o êxito ou o fracasso

dessas situações de oposição defensiva ao ataque planeado do adversário

deve ser atribuído a este conjunto de jogadores. Por esta razão, o indicador

%DG-RRAO emerge de forma clara no amplo contexto do jogo defensivo de

uma equipa, já que contém em si informação conjunta acerca dos remates de

1ª e 2ª linha. Por estas razões, entendemos ser importante os treinadores

atribuírem um valor acrescido (do ponto de vista da preparação das equipas) a

este factor de rendimento.

Em nossa opinião, o seu poder como indicador de diferenciação das

equipas reflecte os seguintes aspectos essenciais da performance no Andebol:

(i) nível de prestação individual do guarda-redes;

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Relação entre indicadores de eficácia e a classificação final de equipas de Andebol

(ii) íntima colaboração entre jogadores de campo e guarda-

redes;

(iii) elevada coordenação e entreajuda entre os jogadores de

campo;

(iv) eficiente organização e desenvolvimento do(s) sistema(s)

defensivo(s);

Deste conjunto de aspectos anteriormente salientados parece-nos justo

atribuir particular destaque ao desempenho do último defensor e primeiro

atacante da equipa, o guarda-redes (Bayer, 1987). Aliás, no Andebol moderno,

o guarda-redes não se deve limitar à sua condição de "parar" remates.

Procura-se, igualmente, que ele desempenhe um papel determinante nas

acções ofensivas da sua equipa, já que grande número dos contra-ataques da

equipa iniciam-se a partir da sua agressividade atacante (por exemplo, através

de passes de elevada precisão e velocidade). Os nossos resultados mostram

uma relação positiva entre os indicadores %DG-RRAO e A (r=0.754 e r2=57%),

o que significa que o desempenho do guarda-redes no lançamento do contra-

ataque (directo) foi preponderante para a eficácia das equipas ao possibilitar

um remate isolado de um seu companheiro, 1x0 (G-R).

Mas o contributo do guarda-redes no sucesso de uma equipa foi também

fruto do valor que o indicador %DG-RRC-A possui no presente estudo (r=0.578

e r2=33%). Efectivamente, no jogo de Andebol, quando há lugar a uma defesa

a remate de contra-ataque proporciona-se um dos momentos mais belos e

atraentes do jogo, ocasionando, frequentemente, nova situação de contra-

ataque e, portanto, a possibilidade da equipa marcar golo na baliza adversária.

A este quadro de constrangimentos do jogo de Andebol os treinadores dão

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uma importância transcendente (não sofrer e marcar golo), pelo que esta ideia

reforça o valor deste elemento no jogo. No estudo de Silva (1998), o indicador

de eficácia "prestação do guarda-redes" foi, de entre onze indicadores em

estudo, o quarto factor mais importante do ponto de vista da sua associação

com a classificação final das doze selecções que disputaram o 3º Campeonato

da Europa.

Esta relevância, atribuída ao guarda-redes, confirma igualmente a

opinião de vários autores quando afirmam que se trata do elemento mais

valioso de uma equipa e do qual depende muitas vezes a vitória num jogo ou

numa competição (Bayer, 1987; Zeier, 1987; Kreisel, 1989; Barcenas & Román,

1991; Ghermanescu, 1991; Czerwinski, 1993; Trosse, 1993 e Donner, 1995).

Para além dos indicadores defensivos anteriormente referidos, um outro

indicador da eficácia defensiva emerge, de uma forma clara, dos resultados do

presente estudo - ADP (r=0.594 e r2=35%). Este indicador expressa uma ideia

de associação entre as intercepções, desarmes e blocos realizados durante o

jogo de Andebol. Todavia, a sua importância não expressa exclusivamente a

eficiência individual de cada um dos jogadores de per si para desempenharem

este tipo de tarefas, mas explica sobretudo a excelência da organização e

coesão defensiva das equipas no seu todo. Ou seja, este aspecto vem reforçar

uma vez mais a importância do trabalho colectivo da equipa no domínio

defensivo do jogo, já anteriormente evidenciado a partir do indicador %DG-

RRAO.

Do conjunto de indicadores que não expressam relação linear

significativa com a classificação final (%RC-A, r=0.483 e r2=23%; RF, r=-0.470

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 36

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e r2=22%; %RL7m, r=0.360 e r2=13%; PB, r=-0.240 e r2=6%; SD, r=0.187 e

r2=3%; %DG-RRL7m r=0.075 e r2=1%; e F7mP r=-0.037 e r2=0.001%)

ressalta o "comportamento" dos aspectos disciplinares do jogo. Na realidade,

existe a ideia que os treinadores preferem que as suas equipas joguem em

superioridade numérica (no ataque e na defesa) já que este facto parece

constituir uma vantagem uma vantagem. Todavia, e face ao resultado do

presente estudo, o que parece óbvio é a dificuldade das equipas conseguirem

tirar partido de jogarem em superioridade numérica, quer no ataque quer na

defesa. Esta é uma constatação que nos permite sugerir aos treinadores

portugueses um maior investimento neste aspecto particular do jogo de

Andebol.

Em síntese, a discussão dos resultados apontam para o seguinte quadro

de aspectos:

1- Importância associada do conjunto dos indicadores da

performance para a classificação final das equipas;

2- Magnitude diversa, mas claramente hierarquizada dos

diferentes indicadores da performance no jogo;

3- Contributo particular dos diferentes indicadores da

performance (quer do domínio do ataque, quer do domínio da

defesa) na forma substantiva, como o indicador GM/GS

emerge no contexto do jogo de Andebol;

4- Relevância da organização e estratégia ofensiva no ataque

organizado, com vista à criação de situações de vantagem

posicional ou numérica para possibilitar finalizações com maior

sucesso;

Francisco Magalhães Resumo da Tese de Mestrado 37

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5- Importância decisiva do guarda-redes no conceito do jogo

defensivo, apesar da importância da organização e da coesão

defensiva, onde estão igualmente implicados todos os

jogadores de campo;

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6. CONCLUSÕES

Do presente estudo emerge no essencial o seguinte quadro de

conclusões:

1- Os resultados do estudo bivariado à dimensão técnica da

performance no jogo das equipas avaliadas e no contexto da

competição em referência sugerem a existência de um perfil técnico

hierarquizado e bem ajustado à realidade do jogo de Andebol (ver

Quadros 7.1.);

Quadro 7.1. Perfil técnico baseado nos valores máximos e médios dos diferentes indicadores de eficácia estudados, hierarquizados pelo valor de r.

INDICADORES VALORES MÁXIMOS

VALORES MÉDIOS

GM/GS 1.33 1.00

FT 219 257

%DG-RRAO 44 35

%RAO 60 51

A 239 165

ADP 147 106

%DG-RRC-A 37 24

%RC-A 80 70

RF 343 411

%RL7m 84 71

PB 1253 1155

SD 48 77

%DG-RRL7m 32 21

F7mP 59 73

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2- Para além disso, estes resultados espelham a natureza interactiva e a

importância associada dos diferentes indicadores do jogo na classificação

final das equipas. Estas evidências justificam-se a partir dos valores de

maior ou menor correlação com a classificação final. Claramente

encontramos:

(i) fortes correlações com a classificação final (GM/GS,

r=0.956; FT, r=-0.843; %DG-RRAO, r=0.810; %RAO,

r=0.712);

(ii) moderadas correlações com a classificação final (A,

r=0.614; ADP, r=0.594; %DG-RRC-A, r=0.578);

(iii) fracas ou muito fracas correlações com a classificação final

(%RC-A, r=0.483; RF, r=-0.470; %RL7m, r=0.360; PB, r=-

0.240; SD, r=0.187; %DG-RRL7m, r=0.075; F7mP, r=-

0.037);

3- Afigura-se relevante no contexto da performance diferencial em

Andebol a interactividade dos aspectos ofensivos e defensivos,

genericamente entendidos. A confirmação desta noção decorre dos

superiores valores de correlação dos indicadores da dimensão do

ataque com a classificação final (FT, r=-0.843; %RAO, r=0.712; A,

r=0.614), mas simultaneamente da importância de alguns indicadores

da dimensão defensiva que sustentam, de forma substantiva, a

noção de sucesso na competição estudada. Neste domínio, a

robustez do indicador GM/GS (r=0.956) é a confirmação do

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anteriormente referido, já que este indicador encerra em si mesmo a

eficácia do ataque (golos marcados) e a eficácia da defesa (golos

sofridos);

4- Apesar da associação entre os diferentes indicadores (referida

anteriormente) a importância do seu contributo para a classificação

final é diversa. Assim, alguns deles mostram uma reduzida

importância na separação entre as melhores e as piores equipas.

Estamos aqui em presença de indicadores que evidenciam fraca ou

muito fraca associação face à classificação final das equipas. Está

neste caso particular o indicador (SD, r=-0.187 e r2=3%), uma vez

que é genericamente considerado pelos treinadores como

essencial para o rendimento das equipas. O que é facto é que, neste

domínio, o seu peso é semelhante em todas as equipas e,

consequentemente, a sua força separadora é diminuta.

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