Tese Mestrado Carlos Godinho

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Carlos Alberto da Graa Godinho

A S de Coimbra em conflito (1758 1780)Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 2009

CARLOS ALBERTO DA GRAA GODINHO TESE DE MESTRADO:

A S de Coimbra em conflito (1758 1780)Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

ERRATAPg. 18 Onde se l: Sem esquecer o exerccio d um poder rela, deve lerse: Sem esquecer o exerccio de um poder real. Pg. 244, nota 1932 Onde se l: em parte Infiis, deve ler-se: em parte de Infiis. Acrescendo que a traduo : so os Bispos que se encontram em territrio de infiis (cf. Antnio de Vasconcelos, A S Velha de Coimbra Apontamentos para a sua Histria, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1930, p. 367). Pg. 206 Onde se l: pedem ao Rei que se digne prescrev-los, deve lerse: pedem ao Rei que se digne proscrev-los. Pg. 247 Onde se l: bem como estavam igualmente dispensados da obrigao de permanecerem na S ao longo de toda a semana, como, de resto, acontecia com os outros doze Beneficiados, deve ler-se: bem como estavam igualmente dispensados da obrigao de permanecerem na S ao longo de toda a semana, a que, de resto, estavam obrigados os outros doze Beneficiados.

Capitulo 2.1, pginas 70 a 75, referentes a Luiz de Mello, deve incluir-se que este era formado em Cnones (como consta no A.U.C., Autos e Graus, vol. 73, fl. 86, segundo referncia de Manuel Augusto Rodrigues, Pombal e D. Miguel da Anunciao, Bispo de Coimbra, Separata da Revista de Histria das Ideias O Marqus de Pombal e o Seu Tempo, Coimbra, Faculdade de Letras, 1982, p. 217, nota 12). Bibliografia Deve acrescentar-se: VASCONCELOS Antnio Garcia Ribeiro de, A S Velha de Coimbra Apontamentos para a sua Histria, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1930.

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

Carlos Alberto da Graa Godinho

A S de Coimbra em conflito (1758 1780)Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

Dissertao de Mestrado em Histria Moderna, sob orientao dos Professores Doutores Margarida Sobral Neto e Fernando Taveira da Fonseca

Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 2009

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

A meus Pais

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

ndice:Pg. ndice....................7 Introduo..................................... 9

1. Cnegos, Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles: instituio e primeiros conflitos.15

1.1. O Cabido da Catedral de Coimbra.19 1.2. Os Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles...36 1.3. Os primeiros conflitos com o Cabido da S de Coimbra......... .53

2. O conflito do sculo XVIII....65

2.1. Objectivos do conflito e seus principais agentes 65 2.2. O desenvolvimento do conflito...78

3. As questes em presena no conflito.105

4. O fim dos Meios Cnegos e Tercenrios e a nova classe dos Beneficiados219

4.1. Resposta do Procurador do Cabido ao Bispo de Coimbra, a propsito da Representao dos Meios Prebendados221 4.2. D. Miguel da Anunciao e o pedido de extino dos Meios Cnegos e Tercenrios.232 4.3. O Motu Prprio Christus Dominus Dei Filius, do Papa Pio VI237 4.4. D. Maria I e a confirmao do Documento Apostlico.252

Concluso...259 Fontes e Bibliografia.........277 Apndice Documental......... 285

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Siglas:A.S.C. Arquivo do Seminrio de Coimbra A.U.C. Arquivo da Universidade de Coimbra B.C.F.L.U.C. Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. B.G.U.C. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

Introduo:No decurso do sculo XVIII, e particularmente na segunda metade desta centria1, o Cabido da S Catedral de Coimbra como as demais instituies senhoriais que partilhavam de semelhante poder econmico e social sofreu os efeitos da corroso de relaes que o puseram a braos com vrias demandas, particularmente as movidas aos foreiros, resultantes das lutas antisenhoriais, que em muito perturbaram a vida da instituio Capitular.2 Acrescidas, ainda, da tenso com outros importantes titulares de grandes domnios, como aconteceu, em Coimbra, a ttulo de exemplo, com o Mosteiro de Santa Cruz.3 Todavia, neste perodo, nenhum dos litgios com o Cabido foi to perturbador da vida, da ordem e da disciplina desta instituio Capitular como aquele que eclodiu no seio da Catedral de Coimbra e que lhe foi movido pelos Meios Cnegos e Tercenrios da mesma S. Se perturbador pela sua intensidade, morosidade e plangncia, foi-o essencialmente pela sua prpria natureza. que, este conflito, desabrochando no interior da prpria instituio, intentou ferila a partir de dentro, numa desestabilizao sem precedentes, que acabou por exigir medidas particularmente vigorosas para a sua soluo. Ora, foi com o intuito de conhecer os fundamentos e motivaes que subjazem a um to

Cf. Margarida Sobral Neto, Terra e Conflito Regio de Coimbra (1700 1834), Viseu, Palimage Editores, 1997, p. 179. Cf. Nuno Gonalo Monteiro, Poder Senhorial, Estatuto Nobilirquico e Aristocracia, in Jos Mattoso (dir.), Histria de Portugal, vol. IV O Antigo Regime (1620 1807), s.l., Editorial Estampa, 1997, p. 321. Segundo Jos Tengarrinha, o perodo de maior intensidade nestas lutas anti-senhoriais, em Portugal, situa-se entre 1771 e 1788 (Cf. Jos Tengarrinha, Movimentos Agrrios em Portugal (1751 1807), vol. I, Mem-Martins, Publicaes Europa-Amrica, 1994, p. 148).1

Segundo os autores acima indicados, a regio de Coimbra foi uma das mais afectadas por este tipo de movimentaes e teve como principal fundamento o agravamento das rendas fundirias sobre os agricultores. (Cf. Jos Tengarrinha, o.c., pp. 143 144). Exemplo notvel de contestao anti-senhorial na relao com o Cabido da S de Coimbra, muito embora num perodo ligeiramente posterior com incio em 1799 o que ope o Prior de Vila Nova de Monsarros a este Cabido, como pudemos averiguar em investigao anterior. (Cf. Carlos Alberto da Graa Godinho, O Clero e os Movimentos Sociais em2

Portugal nos finais do Sculo XVIII: a Contenda do Prior de Vila Nova de Monsarros com o Cabido da S de Coimbra, Trabalho realizado no mbito do Seminrio de Mestrado Movimentos Sociais e Poder,

Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2006. A propsito desta mesma questo cf. igualmente Margarida Sobral Neto, o.c., pp. 315 317). Cf. Margarida Sobral Neto, o.c., pp. 139 142. Atenda-se a que como refere Margarida Neto o Cabido de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz eram duas das maiores instituies senhoriais de Coimbra, o que originou, no raro, alguma coliso de interesses corporativos. (Cf. Ibidem, pp. 139 142).3

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grave litgio, que devastou a paz, e tranquilidade publica4 do Cabido, bem como de analisar o seu desenvolvimento, que abramos este projecto de investigao. Efectivamente, moveram-nos, como objectivos fundamentais da sua anlise, a pretenso de identificar o conjunto de factores que desencadearam to longo e complexo pleito; expor os propsitos dos intervenientes, numa necessria interaco com a sua caracterizao pessoal e institucional; aduzir os argumentos referidos por ambas as partes, no sentido de esclarecer as posies opostas face a uma mesma problemtica; examinar o desenvolvimento de todo o conflito, atendendo s suas fases distintas; e avaliar o seu desfecho, numa lgica de congruncia com o discurso, os fundamentos e a realidade institucional que sustentam tal eplogo. E porque, como na vida dos seres humanos, todos os acontecimentos histricos so fruto do seu tempo, no podamos deixar de situar tal conflito no contexto sciopoltico, religioso e cultural que lhe serve de enquadramento. Ainda que esta pretenso seja essencialmente remetida para a concluso deste estudo, pois que, no seu decorrer, optmos por dar voz aos Meios Cnegos e Tercenrios, bem assim como aos Capitulares e demais intervenientes, no sentido de compreender as razes que referenciam na defesa das suas causas. Fica-nos, contudo, um conhecimento mais alargado das problemticas polticas, sociais, mentais e religiosas deste perodo, que a bibliografia procura reflectir, sem que assim considermos fosse oportuno determo-nos excessivamente em tal emolduramento. Ao invs, para que o desenvolvimento do conflito e as questes trazidas lia fossem perceptveis em tal exposio, optmos por fazer inicialmente uma breve abordagem histrica da instituio dos Cabidos em particular do de Coimbra , bem assim como dos Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles, porquanto so estes intervenientes a dar rosto a este longo processo de demandas, considerando, inclusive, que estas assentam precisamente sobre a natureza da sua instituio. As fontes usadas na abordagem de tal problemtica so precisamente aquelas que os Meios Cnegos e Tercenrios, bem como o prprio Cabido, nos legaram, acrescidas das que completaram todo o processo conflitual, sejaInformao que o Bispo Conde deo a Sua Magestade, inserta no Discurso a favor do Cabido da Cathedral de Coimbra contra as pertenes dos Meios Prebendados, e Tercenarios da mesma, Lisboa, Regia Officina Typografica, 1778, p. 300.4

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares com o intuito de esclarecer as questes em presena, como a Conta de D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, as Informaes do Provedor e a de D. Miguel da Anunciao, assim como as determinaes superiores que fizeram pender o conflito num ou noutro sentido, como os Decretos Rgios, o Motu Prprio do Papa e o Alvar da Rainha. Fundamentais para o conhecimento e compreenso de todo o processo litigioso so, contudo, o Memorial dos Cnegos Meios Prebendados e o Discurso a favor do Cabido, documentos produzidos, como se depreende, pela pena de ambas as partes. Estas duas fontes, por si s, contm o essencial para a compreenso do conflito e para a contraposio dos argumentos aduzidos. No deixamos, no entanto, de cruzar esta transmisso, que nos oferecida, com outros dados que pudemos recolher, depois de julgados oportunos para um mais cabal esclarecimento do processo litigioso, particularmente alguns contedos dispersos, presentes no Arquivo do Seminrio Maior de Coimbra. O esquema que assumimos, como orientador de tal desiderato, reflecte a sequncia que nos parecia mais coerente para a uma eficaz exposio dos factos que pretendamos evidenciar. Assim, iniciando com a referida sntese sobre a natureza e instituio dos Cnegos, Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles, demos continuidade narrao com a referncia aos primeiros conflitos, como forma de incluir as demandas do sculo XVIII num conjunto mais alargado de conflitualidades que provinham j dos incios da poca Moderna. Logo de imediato centrmo-nos, ento, no perodo que pretendamos abordar, e que coincide com a proviso de Luiz de Mello num Meio Canonicato na S de Coimbra (1758) altura em que as demandas se retomam com especial vigor at ao desfecho final (1780), que nos permite observar uma reposio da velha ordem, assente nos princpios e argumentos jurdicos que orientaram estas instituies at a. De permeio, todavia, sentimos que era absolutamente necessrio, para um real conhecimento das motivaes e fundamentos aduzidos pelas partes, bem como da respectiva interpretao da natureza Capitular e Beneficial, expor ainda que longamente as questes em presena. De algum modo, tal abordagem constitui-se como o fundamento do conflito e, no nosso entendimento, era indispensvel consider-la. Por fim, as concluses enunciadas reflectem, a um mesmo tempo, aqueles que nos parecem ser traos distintivos do conflito em anlise, quer estejam na sua 11

origem, o potenciem, o condicionem, a favor de uma ou outra parte, e determinem o seu resultado final, como ainda procuramos que traduzam uma leitura pessoal no isenta de alguns questionamentos em aberto que se assume como uma mundividncia subjectiva de tais litgios, passvel, obviamente, de ulteriores releituras. Por fim, considerando que um projecto de investigao, ainda que pessoal, nunca tarefa isolada, mas fruto do contributo de muitos, cabe-nos agradecer, penhoradamente, a todos aqueles que, de um modo ou de outro, contriburam para a sua realizao. Antes de mais, o nosso profundo reconhecimento para com os Professores Doutores Margarida Sobral Neto e Fernando Taveira da Fonseca, pelo modo como nos orientaram e pelo entusiasmo em ns cultivado no sentido de prosseguir com um trabalho de investigao desta natureza. Professora Doutora Margarida Sobral Neto, ainda, uma palavra de profundo reconhecimento pela proximidade atenta, assdua e entusiasta que tornou possvel este trabalho; e ao Professor Doutor Fernando Taveira, o grato reconhecimento pelo cuidado e exigncia colocados na reviso cientfica, atenta e criteriosa, sem a qual o resultado final do que nos propnhamos no seria o mesmo. Um agradecimento igualmente sincero Senhora Dra. Ana Maria Bandeira, bem assim como s funcionrias do Arquivo da Universidade de Coimbra, pelo modo desvelado com que sempre atenderam s nossas solicitaes no sentido de ultrapassarmos qualquer dificuldade de interpretao da documentao em anlise. Igualmente, reconhecimento sincero para com o Seminrio Maior de Coimbra, na pessoa do seu Reitor, Reverendo Cnego Aurlio de Campos, pela confiana em ns depositada e possibilidade de acedermos ao Arquivo daquele Seminrio. Sincera gratido queremos expressar ao Reverendo Pe. Dr. Jos de Oliveira Moo que, num trabalho insano e dedicado, pelas exigncias do texto latino, de contedo

eminentemente jurdico, na forma prpria do sculo XVIII, nos facultou a traduo do Motu Prprio Christus Dominus Dei Filius, do Papa Pio VI. Ainda uma palavra de reconhecimento aos Senhores Doutores Manuel Augusto Rodrigues e Antnio de Jesus Ramos, bem como ao Reverendo Pe. Dr. Jos Eduardo Reis Coutinho, pelo interesse manifestado num ou noutro momento de realizao da tarefa a que nos propnhamos e pela palavra sempre oportuna que nos facultaram. Uma sincera palavra de gratido Senhora Dra. Isabel 12

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Maria Machado Costa, pela sua aturada dedicao no apoio prestado transcrio de alguma documentao do Arquivo do Seminrio de Coimbra e pela disponibilidade constante em auxiliar-nos na reviso do texto. Uma ltima palavra memria do Cnego Dr. Antnio de Brito Cardoso, exmio historiador da Diocese de Coimbra, que nos legou alguns dos conhecimentos iniciais de que pudemos beneficiar, patentes nalgumas das suas publicaes que nos facultou para consulta, e com quem tivemos ainda o grande privilgio de trocar algumas impresses; aprendendo dele, de resto, o trabalho aturado de pesquisa e de amor Igreja e Diocese que foi a sua qual serviu claramente na ateno cuidada sua memria histrica, de que o Cabido parte integrante. Fica-nos, por certo, este incitamento do seu zelo e da sua dedicao a uma causa que importa no olvidar. O Cabido da Diocese de Coimbra funda as suas razes nas brumas do tempo, nesse j bem distante e quase incio do segundo milnio, em plena Idade Mdia; conta na sua histria, feita de proezas e de fragilidades, com homens que, por certo, actuaram na fidelidade conscincia do seu tempo, ora vislumbrando o bem da comunidade em que se inseriam, potenciando os seus benefcios, ora vivendo as vicissitudes desse mesmo tempo. Foi, certamente, uma das grandes instituies senhoriais da Diocese e da Cidade de Coimbra, pese embora, na indagao realizada, nos tenhamos remetido a uma das suas pginas mais conturbadas; mas que, no obstante, no cerceou a sua histria ininterrupta. Continuando hoje, ainda que modestamente pois que j no usufrui da grandeza do tempo pretrito a beneficiar da grandeza da sua memria, carece que se lhe faa a necessria justia e se traga ao presente o que o passado encerra no seu ntimo.

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

1. Cnegos, Meios Cnegos, instituio e primeiros conflitos.

Tercenrios

e

Capeles:

Os Cabidos Catedralcios assumem-se desde muito cedo praticamente desde a sua fundao como verdadeiras instituies senhoriais. Tal deve-se a dois tipos de factores: a qualidade dos seus membros, que formavam a aristocracia da classe5 sacerdotal, na expresso de Gama Barros; e o seu crescente poder econmico, fruto de bens doados6, de alguns outros deixados em testamento de que passam a ser directo senhorio7 , ou mesmo de aforamento ou arrendamento dos bens imobilirios que, entretanto, iam adquirindo.8 Na verdade, os Cabidos, semelhana de outras instituies senhoriais, logo a partir da Idade Mdia, viram consolidados os seus senhorios, depois de adquirido o domnio territorial sobre determinados espaos, contnuos ou descontnuos9, onde passaram a deter igualmente privilgios de natureza jurisdicional.10

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Miguel de Oliveira, Histria Eclesistica de Portugal, 2 ed., Mem-Martins, Publicaes EuropaCf. Discurso a favor do Cabido da Cathedral de Coimbra contra as pertenes dos Meios

Amrica, 2001, p. 100.6

Prebendados, e Tercenarios da mesma, Lisboa, Regia Officina Typografica, 1778, p. 5. Este documentosublinha que, com o sucesso da Ordem Canonical, muitas foram as atenes que sobre ela recaram. Papas, Bispos, Prncipes e demais grandes senhores, bem como muitos fiis simples, fizeram grandes doaes a esta instituio eclesistica. So muitos os bens doados particularmente a partir do sculo IX, ao mesmo tempo que se procurava estender esta forma de vida a outros mbitos que no apenas as Igrejas Catedrais. (Cf. Ibidem, p. 5. Cf. J. A. Matos da Silva, O Cabido da S de Coimbra, Separata da

Revista Munda, n 1, Coimbra, 1981, p. 38). A este propsito, veja-se a doao feita pelo Conde D.Henrique e D. Teresa do Mosteiro de Lorvo S de Coimbra, com a justificao de acudir s necessidades do Bispo de Coimbra e dos seus clrigos. (Fortunato de Almeida, Histria da Igreja em

Portugal, vol. I, Edio de Damio Peres, Porto, Portucalense Editora, 1967, p. 101. Adiante referida HIP).So vrias as doaes feitas S de Coimbra. Brito Cardoso recorda ainda as doaes do Mosteiro da Vacaria, feita a esta S por D. Raimundo e D. Urraca, em 1094, com todos os seus bens e pertences e tantas outras de igrejas e respectivas rendas por solicitude dos Bispos para com os Capitulares. (Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra Notas Histricas, Coimbra, Grfica de Coimbra, 2002, p. 41. Adiante referido como O Cabido da Catedral de Coimbra).7 8 9

Cf. J. A. Matos da Silva, o.c., p. 38. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra., p. 41. Margarida Neto, o.c., p. 7. Cf. Ibidem, p. 7.

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Assim sendo, as instituies Capitulares sobressaem como detentoras de um poder eminente de carcter econmico e de um outro, que o no menos um evidente poder de carcter simblico.11 Com estes atributos, as instituies Capitulares tornam-se, com efeito, corporaes demasiado atractivas para quantos nelas desejam ingressar. Pese embora o sculo XVIII se caracterize por uma sociedade

profundamente hierarquizada, na qual cada grupo social, maneira de um corpo12, tinha as suas funes claramente definidas, o clero ainda que dividido em alto e baixo clero13 conseguia alguma mobilidade14 dentro da sua hierarquia, enquanto possibilidade que lhe advinha do seu prprio estado clerical.15Cf. Pierre Bourdieu, O Poder Simblico, Lisboa, Editorial Dfel, 1989, pp. 7 8. O autor, logo

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no incio da sua obra, define poder simblico como realidade invisvel, que s pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que querem saber que lhe esto sujeitos ou mesmo que o exercem. (Ibidem, pp. 7 8).12

Cf. ngela Barreto Xavier e Antnio Manuel Hespanha, A Representao da Sociedade e do

Poder, in Jos Mattoso (dir.), Histria de Portugal, vol. IV O Antigo Regime (1620 1807), s.l., Editorial Estampa, 1998, p. 115. Antnio Hespanha fundamenta assim esta viso da sociedade: O pensamento social e poltico medieval dominado pela existncia de uma ordem universal (cosmos), abrangendo os homens e as coisas, que orientava todas as criaturas para um objectivo ltimo que o pensamento cristo identificava com o prprio criador. (Antnio Manuel Hespanha, As Vsperas do Leviathan Instituies e

Poder Poltico: Portugal Sculo XVII, Coimbra, Livraria Almedina, 1994, p. 299). Ainda que o autor serefira ao perodo medieval, deixa-nos compreender que esta concepo de ordem se estende por toda a poca Moderna. Tanto mais que ele escreve particularmente sobre a organizao social e poltica do sculo XVII.13

Cf. Teresa Bernardino, Sociedade e Atitudes Mentais em Portugal (1777 1810), s.l., Esta mobilidade no exclusiva do clero. Tambm a frequncia da Universidade, por exemplo,

Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1986, p. 47.14

permitia uma realidade semelhante, j que os graus acadmicos tinham um carcter nobilitante e, muito embora esta fosse frequentada maioritariamente por gente de estatuto social elevado, no deixava de ter alguma transversalidade relativamente aos vrios grupos sociais. (Cf. Fernando Taveira da Fonseca, A Universidade de Coimbra (1700 1771) Estudo Social e Econmico, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1995, p. 135).15

Cf. Dominique Jlia, O Sacerdote in Michel Vovelle (dir.), O Homem do Iluminismo, Lisboa,

Editorial Presena, 1997, pp. 282 283. No pretendemos entrar em contradio com o que escrevemos no trabalho Clero e Movimentos Sociais em Portugal. A referamos: As diferenas entre o alto e o baixo clero so uma evidncia para o sculo XVIII. Ainda que constituam uma nica ordem e uma unidade espiritual, no se constituem em conjunto socialmente homogneo. semelhana de toda a sociedade do Antigo Regime opunham-se () um alto clero, nobre ou aristocrata, possuidor de bens e

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Ora, precisamente esta mobilidade exequvel que serve de suporte s lutas internas no seio do Cabido de Coimbra, pois ela confere o acesso a condies econmicas bem mais vantajosas, como o usufruto de uma prebenda16, bem como ainda promoo na participao de todos os direitos, funes eum baixo clero plebeu, por oposio ao primeiro, que vivia dos seus rendimentos. (Carlos Alberto da Graa Godinho, O Clero e os Movimentos Sociais em Portugal nos finais do sculo XVIII e incio do

sculo XIX: A Contenda do Prior de Vila Nova de Monsarros com o Cabido da S de Coimbra, Trabalhorealizado no mbito do Seminrio de Mestrado Movimentos Socais e Poder, Policopiado, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2006, pp. 10 11). Ainda que este seja o quadro caracterizador do clero secular no sculo XVIII (que procede j dos sculos anteriores), existe, todavia, alguma mobilidade dentro desta ordem social. Assim, pese embora se reservassem s classes altas as maiores dignidades eclesisticas, alguns clrigos mais modestos tiveram acesso s instituies mais reconhecidas, como o Cabido Catedralcio. O acesso ao estado clerical assumia-se j, particularmente aps a reforma Tridentina, como pertena a um grupo privilegiado, sobretudo aps a reforma de costumes e a formao teolgica e espiritual que o Conclio veio trazer. (A este propsito veja-se ainda: August Franzen, Breve Histria da Igreja, Lisboa, Editorial Presena, 1996, pp. 338 339; Manuel Clemente, A Igreja no Tempo Histria Breve da Igreja Catlica, Lisboa, Secretariado Diocesano do Ensino Religioso e Centro de Estudos Pastorais, 1978, pp. 65 69; Dominique Jlia, O Sacerdote, o.c., pp. 287 297; Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, p. 311 e pp. 428 431). Todavia, a questo da mobilidade do clero e da sua formao necessitam de posteriores anlises. Se para o estudo do primeiro aspecto teramos de analisar percursos pessoais, para concluir esta mobilidade e suas condicionantes, no estudo do segundo, haveramos de analisar aspectos que aparentemente se contradizem. Consideremos ainda que, para Fortunato de Almeida, o clero, por descuido dos Bispos quanto sua formao, num perodo adverso, de intromisso do poder secular nas questes eclesisticas, tende a desprestigiar-se. (Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, pp. 255 256). Todavia, como afirma Fernando Taveira, no sculo XVIII foram muitos os que fizeram a sua formao na Universidade de Coimbra, particularmente em Cnones. (Fernando Taveira da Fonseca, A Universidade de Coimbra, p. 159). Mais ainda: embora uma grande maioria destes estudantes seja de famlia real ou fidalga, existe uma franja, difcil de mensurar que provm de outros estratos sociais. (Cf. Ibidem, pp. 281 316). Por outro lado, refere ainda o mesmo autor: A importncia dada ao Direito Cannico radica sem dvida no peso que adquirem as questes disciplinares na igreja catlica ps-tridentina. (Ibidem, p.131). Tendo por base as informaes referidas, podemos concluir que a formao eclesistica no foi propriamente descurada, incidindo, alis, como indicado, nos estudos jurdicos.16

A Prebenda uma parcela do rendimento global do Cabido da qual cada Cnego usufrua.

Etimologicamente significa o que deve ser entregue (do latim praebere), rendimento pertencente a um Canonicato. (Voc. Prebenda, in J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo (coord.), Dicionrio da Lngua

Portuguesa, 7 ed., Porto, Porto Editora, 1994, p. 1440). A atribuio desses rendimentos fazia-se porentregas mensais, donde o nome de menses ou mesados. (Ver a composio de uma prebenda na S de Coimbra em Fernando Taveira da Fonseca, As Contas do Cabido, pp. 114 - 115). Esta instituio das prebendas surgiu particularmente aps o fim da vida em comum com o Bispo a que faremos referncia , concretamente desde meados do sculo XII. (Cf. Miguel de Oliveira, o.c., p. 99. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 44).

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prerrogativas de uma instituio que se caracterizava por um claro poder religioso e social esse poder especfico que referimos, ao caracteriz-lo como exerccio de poder simblico.17 Poder este, ainda, que compreendia, na sua afirmao, um conjunto de elementos que organizavam e manifestavam a natureza prpria da Corporao Capitular os seus Estatutos, a sua hierarquia interna, as vestes, representao pblica, privilgios, entre muitos outros factores que poderamos considerar. Sem esquecer o exerccio d um poder rela na administrao diocesana, sobretudo em situao de S Vacante. Alm do mais, esta pretenso em aceder condio imediatamente superior assentava, quantas vezes, numa certa concepo de si prprio, porquanto alguns dos pretendentes detinham algum poder econmico que assim entendiam justificava tal desiderato; ou ento pelo simples facto de se terem notabilizado nos estudos superiores, particularmente pela frequncia de Leis e de Cnones, a que correspondia uma maior visibilidade social. Era o caso de Antnio de Campos Branco e mesmo de Luiz de Mello, a quem oportunamente, no contexto dos conflitos com os Capitulares da S de Coimbra, que viriam a marcar a vida da Catedral ao longo de boa parte do sculo XVIII, nos referiremos. Para podermos enquadrar as foras em presena o Cabido, Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles faremos uma breve anlise da instituio de cada uma destas ordens hierrquicas da Catedral de Coimbra. De igual modo, numa relao estreita com o conflito que confundiu18 a referida S durante praticamente toda a segunda metade do sculo XVIII, deter-nos-emos, ainda que brevemente, na anlise das desordens que o haviam j antecedido. Estas ocorrncias, de resto, vieram a servir de base e de estmulo quelas outras que se revelariam como o mais doloroso, prolongado e persistente conflito que oporia os Meios Cnegos e Tercenrios aos Capitulares da S de Coimbra.

17 18

Cf. Pierre Bourdieu, o.c., pp. 7 8. Conta, que o Bispo Coadjutor, e futuro successor D. Francisco de Lemos de Faria Pereira

Coutinho, Reformador, e Reitor da Universidade, deo ao Marquez de Pombal, inserta em Discurso a

favor do Cabido, p. 260. A expresso exacta usada por D. Francisco de Lemos confuso. Usmosaqui um tempo verbal adaptado, embora na referncia ao seu legtimo autor.

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares 1.1. O Cabido da Catedral de Coimbra.

O Cabido da S Catedral de Coimbra, semelhana de outras instituies Capitulares, descobre a sua origem nas brumas do tempo, quando os presbteros viviam em comunidade com o seu Bispo. Esta vida em comum, que encontramos em todas as Catedrais da Europa, define um certo modus vivendi das cidades episcopais.19 Os presbteros e diconos da cidade formavam, desde os primeiros sculos, uma espcie de senado da Igreja20, de que o Bispo era a cabea e os demais ministros o corpo.21 Este senado foi ainda designado com outros nomes, como os de sindrio de presbteros, sagrada e veneranda assembleia do clero e conclio da igreja.22 Ora o clero, que viria a dividir-se, devido necessidade de servir as comunidades cada vez mais dispersas, sobretudo com a ruralizao da organizao eclesistica23, mantm um grupo de presbteros, diconos e outros ministros24, em nmero diverso, de acordo com a dimenso de cada uma das dioceses, que continua a vida comunitria com o seu Bispo, auxiliando-o na administrao e governo da Igreja Particular.25 Compartilhando com o Prelado a vida e a solicitude espiritual e temporal, no exerccio do seu ministrio episcopal, estes clrigos denominam-se ento como o Senatus Consultus19 20

Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 7.

Discurso a favor do Cabido, p. 1. Cf. Ibidem, p. 2. Cf. Memorial dos Conegos MeyosCf. Discurso a favor do Cabido, p. 1. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n

Prebendados e Tercenarios da S de Coimbra, [Manuscrito], 1775, VIII, n 2, p. 92.21

2, p. 92. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, p. 100. Cf. a noo de organizao social j referida por ngela Barreto Xavier e Antnio Manuel Hespanha, A Representao da Sociedade e do Poder, o.c., p. 115.22

Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 100. O Discurso acrescenta mais alguns nomes, como Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 2. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 8. Cf. Discurso a favor do Cabido, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 2. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n

Senatum Christi, Venerandumque Concilium. (Discurso a favor do Cabido, p. 2).23

3, p. 93.24

p. 2.25

2, p. 92. Cf. A. Brito Cardoso, o.c., p. 8. J. A. Matos da Silva refere: O Cabido tinha duas funes primordiais: a primeira, proveniente da sua prpria instituio, teria por fim administrar as coisas eclesisticas (culto); a segunda administrar os bens terrenos (mveis e imveis). (Vide: J. A. Matos da Silva, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 38).

19

Episcopi26, constituindo aos olhos dos outros presbteros e dos fiis uma verdadeira aristocracia clerical27, tanto mais que se tratava do clero Civitatensis28, que progressivamente seria integrado exclusivamente pelos ministros adstritos Catedral.29 Se certo que Santo Agostinho havia feito j da sua casa um verdadeiro Claustro30, preparando um conjunto de presbteros para o governo da Igreja, com quem vivia em comum31, s com o dealbar do sculo VIII, e concretamente com Crodogando32, Bispo de Metz, se havia de organizar a Ordem Canonical33, como instituto particular34, com ofcios e regras prprias, que agora, progressivamente, se estenderia a todo o Ocidente.35 Esta nova instituio, que visava na preocupao do Bispo fundador a reforma do clero, que se achava apartado dos seus primitivos costumes36, foi aprovada pelos Conclios Aquisgranense37 e Arelatense VI38, bem como promovida pelos diversos Prncipes e Bispos.39 Assim se constitua

26 27

A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 8.

Ibidem, p. 8. Cf. Miguel de Oliveira, o.c., p. 100. Uma vez mais retomada esta expresso que Discurso a favor do Cabido, p. 3. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 3,Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 3.

Gama Barros tanto sublinhou precisamente devido ao servio prestado junto do Prelado Diocesano.28

p. 93.29 30 31 32

Ibidem, p. 3.Cf. Ibidem, p. 3. Cf. Ibidem, p. 4. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 4, p. 93. Os Meios

Cnegos chamam-lhe Crodongo, Bispo Metense. (Memorial dos Conegos Meios Prebendados, VIII, n 4, p. 93. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 9).33 34 35 36 37 38

Discurso a favor do Cabido, p. 4. Ibidem, p. 4.Cf. Ibidem, p. 4.

Ibidem, p. 4.Cf. Ibidem, p. 4. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 4, p. 94. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 4, p. 94. A este Conclio apenas se

referem os Meios Cnegos. Trata-se, por certo, de Conclios locais. Basta dizer, a ttulo de exemplo, que o Conclio Aquisgranense se realizou em Frankfurt. (Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 4, p. 94).39

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 4. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n

4, p. 94.

20

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares efectivamente esta nova organizao eclesistica que passava a partilhar o refeitrio comum40 e estava sujeita a uma mesma regra41. Alis, tambm desta concepo de regra comum que a nova fundao toma o seu nome. Na verdade, o nome de Cnego advm, para alm da percepo de uma renda, como se fosse um canon anual42, da sujeio regra (cnon)43, enquanto estatuto que ordenava as obrigaes conjuntas.44 Ao tempo de Santo Agostinho, as normas de vida comunitria haviam sido extradas de princpios da Sagrada Escritura, de algumas prescries conciliares e, muito particularmente, da regra beneditina45, constituindo aquela que se conheceria como a clebre Regula Sancti Augustini, presente no livro do Bispo de Hipona De moribus clericorum, datado do ano de 388, e ainda na sua Carta 109.46 Todavia, ainda que esta tenha sido uma norma clebre que orientou a vida em comum de muitos clrigos com os seus Bispos, nomeadamente em Coimbra47, ter, por certo, servido ao Bispo Crodogando, em conjunto com outros preceitos tirados dos Institutos Monsticos, dos Canones e de demais Sentenas dos Padres48 para elaborar uma regra que ele prprio comps e com a qual dotou a vida comunitria do instituto agora formado.49 Em Coimbra, se certo que encontramos notcias de vida em comum do Bispo com o clero da Catedral j desde o sculo VI, inicialmente em Conmbriga e depois em Aeminium50, a Ordem Canonical51 propriamente

40 41 42 43 44 45 46

Discurso a favor do Cabido, p. 4. Ibidem, p. 4.Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 100. Cf. Ibidem, p. 100. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 8. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 101. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 14. Cf. Pierre Pierrard, Histria da Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32.

Igreja, So Paulo, Edies Paulinas, 1982, p. 53.47 48 49 50 51

Ibidem, p. 4.Cf. Ibidem, p. 4. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 9.

Discurso a favor do Cabido, p. 31.

21

dita viria a nascer na S Catedral apenas ao tempo do Bispo D. Paterno52, auxiliado pelo Conde D. Sesnando, em 108653, logo que os Mouros principiaro a ser expulsos54. Na verdade, devido invaso rabe, e suas consequncias na Pennsula Ibrica, no foi possvel estabelecerem-se os Cabidos nas diversas Catedrais, no perodo em que estes se difundiam j por todo o territrio francs.55 Assim, como afirmmos, coube ento a D. Paterno formar na Cathedral um Collegio56, confiado direco de um Preposito57, vivendo em comum segunda regra de Santo Agostinho.58

52

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, Cf. J. A. Matos da Silva, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 38. O autor cita o Portugaliae

n 6, p. 97. Ibidem, VIII, n 8, p. 100.53

Monumenta Histrica Diplomata et Chartae, doc. 657, p. 392, onde se afirma: Depois da reconquista, oConde D. Sesnando instituiu, em 13 de Abril de 1086, o Cabido de Santa Maria da S de Coimbra, era bispo D. Paterno. Por outro lado, Brito Cardoso d-nos a entender que o Cabido teria sido fundado anteriormente e agora apenas reorganizado. Diz-nos este autor que a vida em comum com o Bispo permaneceu no perodo de domnio rabe, pese embora a vida crist ter esmorecido e as instituies eclesisticas se terem desmantelado, mas no morreram na sua totalidade. (A. Brito Cardoso, O

Cabido da Catedral de Coimbra, p. 10. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, Coimbra,Grfica de Coimbra, 1995, p. 37). ainda este autor que nos diz: No dia 13 de Abril de 1086 o Bispo de Coimbra, D. Paterno () em conjunto com o alvasil de Coimbra, D. Sesnando () assinaram um documento histrico. Reorganizava a instituio capitular da S Catedral de Coimbra e oficializava a Escola da Catedral Sanctae Mariae Conimbrigense. (A. Brito Cardoso, Escola da Catedral de Coimbra e

a sua Biblioteca, Separata do Correio de Coimbra, Coimbra, Grfica de Coimbra, 1982, p. 3. A mesmareferncia data aparece em Idem, Smula da Histria da Diocese de Coimbra, Separata do Boletim da

Diocese de Coimbra Ano de 1980, I, Coimbra, Grfica de Coimbra, 1980, p. 4). Pesem embora estasafirmaes diversas, entendemos que apesar da vida comunitria do Bispo com os Clrigos da Catedral, apenas podemos falar da Corporao Capitular com a sua fundao, em 1086, por D. Paterno e D. Sesnando. Seguimos, portanto, o critrio do Discurso a favor do Cabido, p. 32. O prprio Cabido explcito ao afirmar, relativamente sua fundao: Eis-aqui a origem, e o princpio da Ordem Canonical da Cathedral de Coimbra. (Discurso a favor do Cabido, p. 32).54 55 56 57

Discurso a favor do Cabido, p. 31.Cf. Ibidem, p. 31.

Ibidem, p. 32. Ibidem, p. 32. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 5, p. 94. Dizem os

Meios Cnegos que estes nomes de Prepozito, Prior ou Decano foram tirados dos Institutos Monsticos. (Cf. Ibidem, VIII, n 5, p. 94). Brito Cardoso chama-lhe igualmente um Proposto ou Prior. (Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 37. Cf. Idem, O Cabido da

Catedral de Coimbra, p. 27). Este Propsito ou Prior tambm o Discurso o designa assim sucedeu a

22

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares A vida em comum dos Bispos com os seus Cnegos59 estaria, todavia, condenada a terminar. Assim, um pouco por toda a parte, ao longo dos sculos X e XI, esta vida comunitria foi-se desfazendo.61 Primeiro, por vontade dos prprios Bispos62 que, considerando a relaxao neste Instituto63, desejavam separar-se de uma tal obrigao. Posteriormente, secundados pelos prprios Capitulares, que passaram a residir nas suas prprias casas.64 No obstante, permaneciam para o corpo Canonical as mesmas obrigaes de servio ao Coro e ao Altar65, bem como os mesmos Officios66, assim no espiritual, como no temporal67. Com o fim da vida comunitria tambm os bens foram separados. Dividiramse os bens da Meza Episcopal68 dos da Mesa Capitular69.D. Paterno como Bispo da Diocese de Coimbra. (Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32). Fortunato de Almeida refere que inicialmente, no regmen de vida em comum, os cnegos elegiam e noutros casos o bispo nomeava, entre a comunidade, aqueles que deviam exercer certos cargos, como o prepsito, deo,

chantre, mestre-escola. Tal foi a origem das dignidades capitulares. (Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p.101). Seguimos, todavia, as indicaes de Antnio de Vasconcelos e Brito Cardoso, distinguindo a instituio do prepsito (o mesmo que proposto ou prior) e a posterior designao das Dignidades Capitulares.58

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, O itlico nosso. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 5. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n

n 6, p. 97.59 61

5, p. 95. Cf. Fortunato e Almeida, HIP, vol. I, p. 101. O Discurso refere que a vida comunitria foi sendo abandonada em cada Catedral em tempos diversos, pese embora a tentativa dos papas de dissuadir este abandono da vida comunitria. (Discurso a favor do Cabido, p. 5).62 63 64 65 66 67

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 5.

Ibidem, p. 5.Cf. Ibidem, p. 5. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 8, p. 100.

Discurso a favor do Cabido, p. 5. Ibidem, p. 6. Ibidem, p. 6. Diz-nos o Discurso que foi diversa a documentao publicada para dar forma ao

novo modo de vida dos Conegos Bullas, Canones, Rescriptos, Constituies, Declaraes, etc. (Discurso a favor do Cabido, p. 6).68 69

Discurso a favor do Cabido, p. 5. Ibidem, p. 5. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 101. Cf. Miguel de Oliveira, o.c., p. 100.

23

Portugal no foi excepo; e muito menos Coimbra. Como nas demais Catedrais do Reino, onde a vida comunitria decai ao longo da segunda metade do sculo XII70, Coimbra assiste a esta separao, muito provavelmente, em 118071, data da diviso das rendas entre o Bispo D. Pedro II e os Cnegos da Catedral72, pese embora os cronistas dos Cnegos Regulares de Santo Agostinho refiram a data de 1152.73 Seja como for, a verdade que, com a secularizao dos institutos Capitulares, os Canonicatos se tornaram muito apetecidos, pois que a Ordem Canonical dava muitos direitos honorficos, e teis na Igreja74. Da que fosse necessrio definir um nmero certo de Cnegos e suas respectivas prebendas75, de modo a que se salvaguardassem os direitos dos Capitulares contra a pretenso de muito outros que desejavam ingressar nesta Ordem Canonical76. De igual modo, esta Corporao, agora secularizada,

necessitava de um conjunto de normas claras que regulassem a sua vida e aco, porquanto a regra anterior se tornava j inadequada. Sero estes aspectos da vida do Cabido que agora analisaremos.

70

Cf. Fortunato de Almeida, o.c., p. 101. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra,

p. 43. Cf. Hugo Daniel Ribeiro da Silva, Os Capitulares da S de Coimbra (1620 1670), Dissertao de Mestrado em Estudos Locais e Regionais, Policopiado, Porto, Faculdade de Letras, 2005, p. 18.71

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 33. Diz-nos esta fonte que a esta mesma data se refere o

Cnego Pedro Alvares, nas suas Memrias. Alm disso, pouco antes haviam-se secularizado os Cabidos de Braga e do Porto. (Cf. Ibidem, p. 33).72

Cf. Ibidem, p. 33. Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 8, p. 100. Os

Meios Cnegos referem que a diviso se efectua em 1187, pouco mais ou menos. (Ibidem, VIII, n 8, p. 100). curioso que Brito Cardoso nos d a indicao de que D. Pedro II foi eleito apenas em 1182. Antes dele havia governado a Diocese de Coimbra D. Vermudo ou Bermudo, que faleceu a 5 de Setembro de 1182. (Cf. A. Brito Cardoso, Catlogo dos Bispos da Diocese de Coimbra, p. 5). Miguel de Oliveira no o refere no seu Catlogo dos Bispos de Coimbra. Logo aps a morte de D. Bermudo, em 1182, indica como Prelado Diocesano D. Martim Gonalves, eleito em 1183. (Cf. Catlogo dos Bispos Coimbra, Miguel de Oliveira, o.c., p. 301). Certo que Brito Cardoso est em consonncia com a documentao existente, particularmente a nota da diviso das rendas entre Bispo e Cabido.73 74 75 76

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 33.

Ibidem, p. 6.Cf. Ibidem, p. 6.

Ibidem, p. 7.

24

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares O nmero de Cnegos.

O nmero de Cnegos foi-se definindo com o tempo, segundo aprovao papal, distinguindo-se os Capitulares dos no Capitulares.77 Na verdade, se inicialmente no existia nmero fixo78, dependendo este das necessidades das Igrejas Catedrais, das necessidades do culto, das rendas disponveis e da vontade do Prelado79, com o tempo houve necessidade de delimitar este nmero. Em Coimbra, o primeiro Bispo a definir o nmero de Cnegos foi D. Gonalo Pais (1109 1125)80, ainda em tempo de vida comunitria do Bispo com os seus clrigos, fixando-os em trinta81, tendo por referncia o que era habitual noutras dioceses com rendimentos semelhantes.82 Na verdade, o que mais contribuiu para a definio do nmero de Cnegos foi a receita proveniente das rendas Capitulares, particularmente aps a dissoluo da vida em comum e a respectiva partilha de rendimentos83, que, no raro, eram diminutas para tantos Beneficiados, obrigando alguns deles a verem-se precisados a faltar s suas obrigaes84.

77

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 7. S os Cnegos detinham Estalo no Coro, Voz em Cf. Ibidem, p. 32. Os Meios Cnegos referiam, no seu Memorial, que inicialmente o nmero

Cabido e Prebenda. (Ibidem, p. 7).78

era diminuto, apenas se contando cinco Cnegos. (Cf. Memorial dos Conegos Meyos Prebendados, VIII, n 7, p. 98).79

Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 17; Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Cf. A. Brito Cardoso, Catlogo dos Bispos de Coimbra, p. 4. Ao situarmos cronologicamente o

Esboo Histrico, p. 37.80

governo dos Bispos de Coimbra, indicaremos particularmente este Catlogo. Miguel de Oliveira, no Catlogo presente na sua Histria Eclesistica de Portugal, apresenta algumas discrepncias quanto s datas, relativamente aos Bispos de Coimbra deste perodo.81

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 17. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 37.

p. 17.82 83 84

Discurso a favor do Cabido, p. 33.

25

No processo de diviso assentou-se que dois teros das rendas seriam pertena do Bispo e um tero pertena do Cabido.85 Iniciado, como referimos, ao tempo de D. Gonalo, tal processo divisrio continuaria com D. Martim Gonalves (1183 1193), vindo a concluir-se com D. Pedro Soares (1193 1232), depois de ouvida a S Metropolitana de Braga86, mediante assinatura de escritura de diviso, com data de 17 de Maro de 1210, posteriormente aprovada por uma Bula Pontifcia de Bonifcio VIII, datada de 1294.87 Pese embora a primeira fixao do nmero de Cnegos, no perodo subsequente que se estende at ao sculo XIV , e considerando que a classe canonical dava muitos privilgios e honrarias e porque a prebenda canonical era um fundo seguro de sustentao, acima da mdia social88, o nmero de Capitulares aumentou bastante, superando o nmero inicialmente definido por D. Gonalo.89 Para tal concorriam no s as presses sobre os Bispos e o Cabido, como tambm as recomendaes de prncipes e altas personalidades seculares.90 Neste contexto processa-se, ento, a admisso de vrios presbteros e diconos, alm de outros ministros no servio da Catedral de Coimbra. Inicialmente denominados Cnegos supranumerrios91, rapidamente

abandonam esta designao para simplesmente se apelidarem de Cnegos.

85

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 32. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo

Histrico, p. 38. Cf. Miguel de Oliveira, o.c., p. 99; Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 101. O Pe.Miguel de Oliveira diz-nos claramente que esta diviso foi seguida em todas as Dioceses: Braga, em 1145; Porto, em 1186; em seguida nas outras dioceses. (Cf. Miguel de Oliveira, o.c., pp. 99 100). Fortunato de Almeida confirma a data de 1210, como momento de diviso das rendas em trs partes, entre o Bispo e o Cabido de Coimbra: duas para o Bispo, uma para os capitulares. (Cf. Fortunato de Almeida, o.c., p. 101).86 87 88 89 90

Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, pp. 37 38. Cf. Ibidem, p. 38. Idem, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 18. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 6. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 7. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra,

p. 18.91

Discurso a favor do Cabido, p. 7. Estes supranumerrios interessavam aos Cnegos, pois

aliviavam-nos nas suas obrigaes. (Cf. Ibidem, p. 8. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de

Coimbra, p. 18; Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38).

26

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares So, ento, Cnegos in spe, in expectatione, canonici sine prebenda92, aspirando a todo o momento ocupar o lugar de Cnegos numerrios, logo que alguma das prebenda vagasse.93 Outros eram ainda admitidos como Fratres, esperando integrar, na primeira oportunidade, a corporao Capitular com plenos direitos.94 Considerada esta contnua apetncia para aceder aos Canonicatos, continuou a ser necessrio definir um nmero razovel de Cnegos em considerao das rendas disponveis e, por certo, das necessidades da Igreja Catedral. Assim, ainda nos finais do sculo XII, D. Martinho Gonalves (1183 1193)95 fixa o nmero dos Cnegos em quarenta96, determinando que este nmero no se excedesse97. Como nele se incluam as Dignidades Capitulares e duas Conezias reservadas Fbrica da S e Contadoria,98 os lugares a prover seriam ento trinta e oito.99 Este nmero, sancionado por D. Sancho e D. Dulce, sua esposa100, seria posteriormente aprovado pelo Cardeal

92

A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 18. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 8; Cf. Ibidem, p. 116. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 8. Cf. Ibidem, p. 117. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Brito Cardoso, em Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38, apresenta-nos o Bispo como

Esboo Histrico, p. 38.93

Catedral de Coimbra, p. 18. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38.94

Coimbra Esboo Histrico, p. 38.95

Martim Gonalves, com um exerccio episcopal que vai de 1183 a 1191. Todavia, em O Cabido da

Catedral de Coimbra, o mesmo autor identifica este Bispo como Martinho Gonalves, no exerccio doministrio de 1183 a 1193. Coloca-o no exerccio do ministrio no mesmo perodo, mas com o nome de Martim Gonalves, no Catlogo dos Bispos da Diocese de Coimbra, p. 5. Tratando-se do mesmo Bispo, assumimos aqui o nome pelo qual tratado no Discurso a favor do Cabido.96

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 33. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra,

p. 19. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38.97 98

Discurso a favor do Cabido, p. 33.Cf. Ibidem, p. 34. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38. A

prebenda aplicada Fbrica da S visava cobrir despesas de conservao e a aplicada Contadoria, tinha como objectivo compensar o trabalho do Contador. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de

Coimbra, p. 19.99

Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 33. Refere esta fonte que muitos Bispos e principais

100

senhores da Corte aprovaram igualmente este nmero. O objectivo era o de dar firmeza ao novo estado dos Cnegos, aps a dissoluo da vida em comum. (Cf. Ibidem, p. 34).

27

Joo de Abavila, Bispo de Santa Sabina, que, em 1228, visitou a S de Coimbra como Legado do Papa Gregrio IX101, visando pr cobro s guerrilhas102 que ento se travavam no ntimo da corporao Capitular, motivadas pelo incessante desejo de aceder s conezias. Foi este o nmero que se manteve at 1414103, pesem embora a diminuio das rendas do Cabido, o aumento das despesas com a Fbrica da S e o contnuo aumento de candidatos corporao Capitular.104 No sculo XV, fruto de uma diversidade de perturbaes, como guerras e mortandades105, as rendas do Cabido desceram drasticamente, a ponto de os Cnegos no poderem viver com a decncia devida106, chegando alguns deles a abandonar os seus deveres de Capitulares.107 Assim sendo, comprometia-se o necessrio e digno servio da Catedral de Coimbra.108

101

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 34. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo

Histrico, p. 38. Cf. Idem, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 19. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. II,p. 67, nota 4. Deve atender-se que este Legado Pontifcio veio a Portugal a fim de visitar as vrias Dioceses e no apenas Coimbra. Aqui, todavia, resolveu as questes existentes. (Cf. Discurso a favor do

Cabido, p. 34).102

A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 19. O autor refere mesmo: Era

imperioso fixar o nmero clauso para a Cannica de Coimbra, fechando assim a porta a muitos pretendentes que se acotovelavam e atropelavam, na nsia de obter um benefcio seguro para a sua sustentao, com o mnimo de encargos e responsabilidades, (Ibidem, p. 19).103

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 35. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 19. Cf. Discurso a favor do Cabido, Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302. Recordemos que o Cabido tinha a

p. 19; Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38.104

p. 8.105

obrigatoriedade de contribuir para as guerras e fatalidades que ento assolaram o Reino. (Cf. Discurso a

favor do Cabido, p. 35). Tanto mais que este perodo coincide com a consolidao da independncia dePortugal relativamente s pretenses da Coroa Espanhola. A paz entre D. Joo I e os Monarcas Espanhis foi, depois do acordo de 1402, definitivamente assinado em Segvia em 1411. (Cf. Armindo de Sousa, Realizaes, in Jos Mattoso (dir.) Histria de Portugal, s.l., Editorial Estampa, 1997, p. 417).106 107

Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 35. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I., p. 302.

p. 20.108

28

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Neste contexto, ento, D. Gil Alma (1408 1415) e o Cabido pediram ao Papa Joo XXIII que reduzisse o nmero de prebendas para trinta109, como havia sido no tempo de D. Gonalo, incluindo neste nmero as duas destinadas Fbrica e Contadoria.110 Tanto mais que em Lisboa s existiam trinta e um Cnegos e outras tantas prebendas, muito embora os rendimentos equivalessem ao dobro daqueles de que usufrua o Cabido de Coimbra.111 O Papa, aps averiguao da veracidade dos factos, concedendo jurisdio ao Prior do Mosteiro de So Jorge de Coimbra para que o verificasse112, anuiu ao pedido feito, expedindo a Bula Ecclesiarum Utilitate, com data de 29 de Maro de 1411113, mediante a qual reduzia o nmero de prebendas a trinta, com as condies solicitadas.114 Ficava assim institudo o nmero de vinte e oito canonicatos, incluindo Cnegos e Dignidades.115 Todavia, volvidos poucos anos, em 1453116, o nmero havia de baixar ainda mais, ficando reduzido a vinte e sete, uma vez que, face s despesas crescentes da Fbrica da S, por necessitar a Cathedral de obras, e reparos no seu edifcio117, o Cabido e o Bispo D. Afonso Nogueira (1453 1460)118

109

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 35. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 36. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302; Cf. A. Brito Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 35. O pedido Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 36. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302; Cf. A. Brito Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 20. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 36. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 37. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 37. Esta mesma data referida por A. Brito Cardoso, na

p. 20. Cf. Idem, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38.110

Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 20.111

feito ao Papa assemelhava-se ao que havia sido feito j com Lisboa e vora. (Cf. Ibidem, p. 35).112

Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 20.113 114

p. 20; Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302; Idem, HIP, vol. II, p. 67, nota 4.115

p. 20.116

sua obra A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 38. Na obra O Cabido da S de Coimbra, o autor refere 1458, citando Fortunato de Almeida. Todavia, Fortunato de Almeida situa o pedido feito ao Papa e sua concesso em 1458, em HIP, vol. I, p. 302, no distinguindo a data de pedido e de concesso pelo Papa. Mas na mesma obra, vol. III, p. 67, Fortunato de Almeida confirma a data do pedido: 1453.117

Discurso a favor do Cabido, p. 37.

29

fizeram novo pedido ao Papa, desta feita a Pio II, para que fosse suprimido um canonicato a favor da referida Fbrica.119 Uma vez mais o Papa anuiu ao pedido120, expedindo a Bula Romana Ecclesia de 5 de Outubro de 1458.121 Mas o nmero de Cnegos que prevaleceu at ao sculo XVIII s se fixaria um pouco mais tarde122, ainda no sculo XV, quando o Cabido, em resposta s suas necessidades, decidiu criar um Sub-Mestre Escola e um SubTesoureiro, usufruindo cada um de uma prebenda. O nmero de prebendas Capitulares fixava-se, ento, em vinte e cinco, incluindo as Dignidades.123

118

Tambm aqui cruzmos a informao com a Cronologia dos Bispos de Coimbra de Miguel

de Oliveira, Histria Eclesistica de Portugal, p. 301, uma vez que as datas de exerccio do ministrio episcopal no so coincidentes, situando Brito Cardoso este exerccio entre 1453 e 1456, na sua obra A

Diocese de Coimbra e 1453 1459, em O Cabido da Catedral. Todavia, ainda o mesmo autor que, no Boletim da Diocese de Coimbra Ano de 1985, p. 127, nos diz: em 17/09/1459 foi transferido paraArcebispo de Lisboa. O facto coincide com a Cronologia do Pe. Miguel de Oliveira, agora para a Diocese de Lisboa. (Miguel de Oliveira, o.c., p. 308).119

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 37. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 37. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 20. Cf. Provas que o Cabido da S

Histrico, p. 38; Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 302.120

p. 20. Cf. Fortunato de Almeida, o.c., p. 302.121

Cathedral de Coimbra ajuntou Causa que lhe Movero os Porcionistas da Mesma S, conhecidos (ainda que abusiv) com os nomes de Meios Conegos, e Tercenarios, Lisboa, Regia Officina Typografica,1777, p. 85. Neste documento se declara que se concede Fbrica da S a primeira prebenda que vagar. (Ibidem, p. 85).122

Na referncia instituio do Sub-Mestre Escola e do Sub-Tesoureiro Mor, Brito Cardoso diz

apenas um pouco mais tarde. (Vide: O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 20). Todavia, o autor remete para Fortunato de Almeida, que afirma, referindo-se a 1453: Ficando portanto a existir vinte e sete prebendas para cnegos e dignidades, a saber: uma para o deo, outra para o chantre, duas para o mestre-escola, duas para o tesoureiro-mor e uma para cada um dos cnegos, os quais todos, compreendidas as dignidades, perfaziam o nmero de vinte e cinco. (Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, p. 67). Assim sendo, desde meados do sculo XV que se fixou o nmero de prebendas que chegaria ao sculo XVIII.123

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 37. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra,

pp. 20 21; Cf. Idem, A Diocese de Coimbra esboo Histrico, p. 39. Nesta ltima obra, o autor afirma que este foi o nmero que chegou at ao Liberalismo. (Ibidem, p. 39). O mesmo nos d a entender Fortunato de Almeida, ao afirmar que este Estado de coisas mantinha-se ainda nos fins do sculo XVIII. (Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, p. 67).

30

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Estatutos.124

Como afirmmos j, a propsito da definio do conceito de Cnego, as Corporaes Capitulares tiveram como primeira norma de organizao da vida comunitria a Regula Sancti Augustini, logo secundada por uma regra especfica, da lavra de Crodogando, que visava organizar a vida do novo instituto Capitular.126 Todavia, estas eram directrizes de conduta da vida em comum dos Cnegos com o seu Bispo.127 Quando decaiu esta instituio da vida comunitria com o Prelado, foi necessrio definir um regulamento que organizasse secularizada.124

o128

modus

vivendi

da

Corporao

Capitular,

entretanto

Procurmos os Estatutos do Cabido da S de Coimbra. Encontram-se algumas disposies

relativas vida dos Capitulares em ndex dos Estatutos da S de Coimbra (A.U.C.). Encontrmos, tambm, os primeiros Estatutos, j transcritos, em: Ablio Queirs, Os Estatutos Capitulares de D. Afonso Nogueira (1454): Os primeiros Estatutos da S de Coimbra?, Boletim do Arquivo da Universidade de

Coimbra, vol. XXI e XXII (2001 2002), Coimbra, Arquivo da Universidade, 2003, pp. 295 314. Por fim,encontrmos uma transcrio, provavelmente do sculo XVIII, dos Estatutos da S de Coimbra, mandados elaborar por D. Joo Soares, em 1571, os Estatutos que serviram de base, como veremos, vida da Instituio Capitular, segundo a Reforma Tridentina. Mas, cruzando a informao com outra bibliografia e fontes, pudemos averiguar que os Estatutos do Cabido sofreram vrias revises, de acordo com necessidades de momento. Estes Estatutos, segundo o Discurso a favor do Cabido, datados de 1572, so os que serviro de regra desde aquelle tempo at hoje. (Discurso a favor do Cabido, p. 94).126

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 4. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra,

p. 47. Fortunato de Almeida, como j pudemos registar, diz-nos: A princpio a vida comum no era subordinada a regra determinada. Posteriormente foram organizadas para os Cnegos regras extradas da Sagrada Escritura, dos conclios e das regras monsticas, principalmente da de So Bento. No sculo XII, em Portugal, viviam os cnegos sob a observncia da regra de Santo Agostinho, como referimos a propsito da diocese de Coimbra. (Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p 101. Cf. Miguel de Oliveira, o.c., p. 99).127 128

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 4. Cf. Miguel de Oliveira, o.c., pp. 99 100; Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 101. Cf.

Miguel de Oliveira, o.c., pp. 99 100.

31

Neste novo contexto procedeu-se, ento, elaborao de novos Estatutos. Inicialmente, havia uma grande diversidade de normas estatutrias,

correspondendo estas a uma igual diversidade de ordens ou classes de Clrigos ao servio da Catedral, j que as funes eram diversificadas.130 Havia, igualmente, uma grande diversidade de regulamentos frias, romarias, pestes, etc.131 Pese embora Matos da Silva refira que os primeiros Estatutos do Cabido de Coimbra se devam ao Bispo D. Gonalo Pais (1109 1225)132, a verdade que a primeira referncia do Discurso a favor do Cabido ao Estatuto do Bispo D. Martinho (1183 1193)133, logo secundado por um outro, sobre a mesma matria, diverso e contrrio134, da autoria do Bispo D. Pedro Soeiro (1193 1232).135 Obviamente que nos encontramos em perodos distintos, porquanto o primeiro, de D. Gonalo, corresponde vida comunitria do Bispo com os seus Clrigos, enquanto os segundos compreendem a vida da instituio Capitular j secularizada. E foram precisamente os Estatutos de D. Martinho que passaram a orientar a vida dos Capitulares, por deciso do Bispo Sabinense, a quem nos referimos j, concretamente na sua visita S Catedral de Coimbra como Legado Apostlico.136 Todavia, a primeira codificao dos Estatutos, que encontramos, data de 1454, correspondendo ao tempo do Bispo D. Afonso Nogueira (1453 1459)137, numa tendncia clara de reunir num nico regulamento a diversidade

130 131 132 133 134 135

Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 47. Cf. Ibidem, p. 47. Cf. J. A. Matos da Silva, O Cabido da S de Coimbra, p. 39. Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 34.

Ibidem, p. 34.Cf. Ibidem, p. 34. Importa referir que ao tempo deste Bispo existiam muitas questes com o

Cabido a propsito da diviso das rendas. (Cf. Ibidem, p. 34). Isso pode ter motivado uma reviso dos

Estatutos, pelo menos na administrao do temporal.136

Cf. Ibidem, p. 34. Refere-nos o Discurso que o Legado Apostlico revogou o segundo Estatuto D-nos notcia destes Estatutos, com data de 1454, documentao do sc. XVIII: No

de D. Pedro Soeiro , mandando que se observasse o primeiro, de D. Martinho. (Ibidem, p. 34).137

caderno escrito de letra antiga em folhas de pergaminho, que contm a compilao dos Estatutos da S, que at alli andavam dispersos, e foram aprovados, e jurados pelo Cabido em 26 de Agosto de 1454 annos, o qual tem por ttulo em letras vermelhas: Caderno de Estatutos da S de Coimbra. (Provas que

32

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares de normas que ento se encontravam dispersas. No seu conjunto, estes Estatutos incluem trs tipos de regras ou cnones: os que constavam isolados ao longo de um liuro de anyuersarios; os que no estando escritos, eram acatados em virtude do direito consuetudinrio; e os que o Cabido entendeu deverem ser acrescentados138. Esta codificao, no obstante, dava primazia ao governo econmico do Cabido, ao provimento dos Canonicatos e s obrigaes do Coro139. Foram aprovados a 19 de Agosto de 1455.140 Em 1548, quando j se havia iniciado o Conclio de Trento141, o Bispo D. Joo Soares concedeu novos Estatutos sua S, aprovados nesse mesmo ano, a 5 de Julho, pelo Cardeal D. Joo, Arcebispo de Siponto.142o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. 84). E, na pg. 100, diz-nos: No Livro, que tem portitulo = Visitao Geral do Estado Espiritual desta S de Coimbra, tirada das Visitaes dos Prelados, costumes, e obrigaes da Casa pelo Bispo D. Joo Soares asi os Estatutos antigos, e Bullas dos dias do anno, impresso em Coimbra por Joo Alvres Imprimidor da Universidade em 1556, delle consta o seguinte (Ibidem, p. 100). E mais frente afirma o mesmo documento: No dito Livro impresso a fol. 24 se acha tambm impressa huma compilao dos Estatutos antigos do anno de 1454, de que fizemos meno no num. tantos, que tem por principio: Estatutos da S de Coimbra. (Ibidem, p. 101). Mas a data dispare, uma vez que Brito Cardoso e Ablio Queirs se referem a estes Estatutos remetendo-os para 1455. Ablio Queirs diz-nos que este data 1454 se refere ao acto de juramento dos Estatutos prestado pelo Cabido em corpo gesto em 26 de Agosto de 1454, durante o pontificado de D. Afonso Nogueira na S de Coimbra. (Ablio Queirs, Os Estatutos Capitulares de D. Afonso Nogueira (1454): Os primeiros Estatutos da S de Coimbra?, Boletim da Universidade de Coimbra, vol. XXI e XXII (2001 2002), Coimbra, Arquivo da Universidade, 2003, p. 297). 1455, ser a data da sua aprovao, como indica o mesmo autor. (Ibidem, p. 297). Por outro lado, usamos as fontes como suporte primeiro para a definio da data. Sobre estes Estatutos, transcritos pelo autor, diz-nos ainda Ablio Queirs: este caderno dos Estatutos do Cabido da S de Coimbra que aqui se oferece para estudo. () Parece estarmos perante os mais antigos Estatutos do Cabido de Coimbra, pelo menos enquanto volume, digamos, fisicamente codificado. (Ablio Queirs, o.c., p. 297). O Discurso a favor do Cabido refere a data de 1454. (Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 93).138 139 140

Ablio Queirs, o.c., pp. 297 298. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 48. Ablio Queirs, o.c., p. 297. O autor diz-nos que esta cpia estava originalmente munida de

seelo mayor do Cabido. (Ibidem, p. 297). Diz-nos tambm que o trabalho de compilao foi de Afonso Vicente, bacharel em direito cannico e Vigrio-Geral da Diocese de Coimbra. A escrita de Mendo Rodrigues, escrivo do Cabido. (Ibidem, p. 297).141

Lembremos que o Conclio de Trento, inicialmente convocado pelo Papa Paulo III a 29 de

Maio de 1536, depois fruto de diversas vicissitudes, como as guerras entre Carlos V e Francisco I de novo convocado em 1542 e, por fim, uma terceira vez em 15 de Maro de 1545, viria a decorrer de 13 de

33

Estes mesmos Estatutos, porventura com pequenas revises, o que acontecia com alguma frequncia143, viriam a ser confirmados pelo Cardeal Rainucio, em 6 de Julho de 1558, segundo mandato especial do Papa Paulo IV.144 A aprovao definitiva aconteceria, todavia, por decreto posterior de D.

Dezembro deste ltimo ano at 6 de Dezembro de 1563. As decises Conciliares seriam confirmadas pelo Papa Pio IV, na sua Bula Benedictus Deus, datada de 26 de Janeiro de 1564. (Cf. Pierre Pierrard,

Histria da Igreja, So Paulo, Edies Paulinas, 1982, pp. 185 187).142

Cf. Estatutos da S de Coimbra [Cpia manuscrita dos Estatutos dados por D. Joo Soares,

em 1548, redigida por Frei Manuel de Santa Rita], s.d., pp. 1 6, (A.U.C.). So estes Estatutos que estamos a usar na redaco deste estudo, j que os encontrmos transcritos, em documentao provavelmente do sc. XVIII, de forma completa. (Cf. Ibidem, pp. 6 120 vso). O transcritor Frei Manuel de Santa Rita. Estes Estatutos substituem os anteriores, como nos dito no corpo do texto: Dom Joo Soares, Bispo de Coimbra, Conde de Arganil, e dos nossos amados em Christo Dayam, e Cabido da Igreja de Coimbra nos foi oferecida huma petio, em que se continha, como elles capitularmente juntos considerando no maduro conselho aquillo, que pertencia ao estado, honra, e acrescentamento do culto divino, e a boa ordem, quietao, socego, e paz das pessoas da ditta igreja, determinaro, por certas, et justas causas, que a isso os movero, cassar, e anullar hum dos antigos Estatutos da ditta Igreja com authoridade legitima, e em lugar delle, quisero se ver feito, e ordenado pela mesma authoridade outro novo Estatuto, como parece, pelo novo Estatuto feito pelo mesmo Bispo, Dayam, e Cabido debaixo do aprazimento da S Apostlica, cujo theor se segue, e h tal. (Estatutos da S de Coimbra, pp. 2 e 2 vso). Logo de seguida vm as letras de Dom Joo, Arcebispo de Siponto, Nncio com poderio de Legado de Latere, que os aprovou a 5 de Julho de 1548. (Ibidem, pp. 1 vso. 5 vso).143

A periodicidade de reviso muito curta. Logo em 1595 foram revistos, com base nos

Estatutos de Lisboa, Braga e vora, pelos Doutores Simo de Castro e Ferno de Morais. (Manuel Lopes de Almeida, Acordos do Cabido de Coimbra (1580 1640), Separata do Arquivo Coimbro, Coimbra, Coimbra Editora, 1973, p. 48). Com data de 4 de Outubro de 1605, -nos dada notcia de uma alterao. (Ibidem, p. 109). E em carta de Sua Magestade dirigida ao Bispo e ao Cabido de Coimbra, com data de 9 de Julho de 1612, permitia o Rei que se fizesse novo Estatuto, com aprovao eclesistica (auctoritate apostolica). (Ibidem, p. 142). Este novo Estatuto seria posteriormente enviado ao Rei a 26 de Outubro de 1612. (Ibidem, p. 157). Pese embora estarmos perante vrias revises, e se referir mesmo novo Estatuto, na verdade o que permanece um mesmo corpo normativo com acrescentos. Comprova-o o ndice que transcrevemos e o manuscrito de 1739. Sendo o primeiro um documento provavelmente do sculo XVIII, como referimos, a transcrio dos Estatutos aprovados por D. Joo Soares em 1548. Como subsistia alguma dvida perante uma nova aprovao em 1571, comparmos o ndice que transcrevemos com o manuscrito de 1739 relativo aprovao naquela data, concluindo que os ttulos so os mesmos, com a mesma organizao interna, correspondendo os ttulos aos artigos, com texto sem aparentes alteraes, incluindo, tambm, o estatuto da peste de forma interpolada, tal qual aparece nos Estatutos de 1548.144

Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 48. Cf. Idem, Histria da Diocese

de Coimbra Esboo Histrico, p. 40.

34

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Joo Soares, datado de 25 de Maio de 1571, aps a necessria permisso da S Apostlica.145 Ainda que em 1555, sob o nome de Visitao Geral do estado espiritual desta S de Coimbra tirada das visitaes dos Prelados, costumes e obrigaes da casa pelo Bispo D. Joo Soares, assim os Estatutos antigos e bulas dos dias do ano146, este Prelado tivesse mandado recolher e imprimir, num s corpo147, toda a legislao antiga respeitante Catedral, os Estatutos que chegariam ao sculo XVIII pesem embora os acrescentos que lhes foram feitos148 so estes, datados de 1571, redigidos em conformidade145

Esta aprovao consta de manuscrito do Arquivo da Universidade de Coimbra, onde se

refere: datis Roma apud Sanctum Petrum sub Sigilo officii primario 17 nonas Julii Pontificat Domini Paulo Papa IV anno quarto; logo seguido do texto de Aprovao Apostlica, e do Prelado juntamente, com a indicao: conforme ao teor da Bulla Apostolica aqui junta com todas as clausulas, e decretos nellas escritos, penas, censuras, della em Coimbra Sub nosso Signal hoje 25 de Mayo do anno prezente de 1571. Dom Joo Soares Bispo Conde. (Estatutos da S de Coimbra (incompletos) 1739, pp. 135 e 135 vso). D-nos notcia destes Estatutos as Provas que o Cabido ajuntou, quando refere: Dos Estatutos ordenados ultimamente pelo Senhor Bispo D. Joo Soares, depois que veio do Conclio de Trento, por elle aprovados, e mandados observar em 25 de Maio de 1571 instncia do Cabido, e meios Cnegos, e tercenrios, confirmados, e mandados publicar pela S Apostlica, consta o seguinte. (Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou p. 84). Este mesmo documento volta a referir a data: Estatutos aprovados por D. Joo Soares a 25 de Maio de 1571. (Ibidem, p. 107). Podemos interrogar-nos sobre o porqu de sucessivas aprovaes e uma demora de vinte e trs anos at aprovao definitiva. Estamos em crer que tal se deve ao facto de a primeira verso dos Estatutos, surgida durante a primeira fase do Conclio de Trento, s ser definitivamente ratificada aps a concluso do mesmo Conclio. De resto, D. Joo Soares, que manda elaborar os Estatutos em 1548, participa no Conclio de 1561 a 1563 (cf. A. Brito Cardoso, Catlogo dos Bispos de Coimbra, p. 9). A sua aprovao definitiva, em conformidade com as normas conciliares, faz-se, ento, em 1571.146 147 148

A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 48.

Ibidem, p. 48.Estes acrescentos e sucessivas revises esto patentes no manuscrito de 1739. Depois de se

transcrever a Aprovao Apostlica, e do Prelado juntamente, seguem-se um conjunto de Alteraes, Assentos, e Declaraes sobre estes Estatutos da See de Coimbra. (Estatutos da S de Coimbra

(incompletos) 1739, pp. 135 vso. e ss). Brito Cardoso, refere essas alteraes, depois de considerar queos Estatutos de 1571 so a regra bsica que tem orientado o Cabido da Catedral de Coimbra atravs dos sculos: D. Afonso Castelo Branco, nas Constituies do Bispado, de 1595; D. Joo Manuel, na visitao S, em 1630; D. lvaro de So Boaventura (1672 1683), em vrias ocasies; nos anos de 1671, 1681, 1741; D. Miguel da Anunciao, na reforma de 22 de Dezembro de 1741; D. Francisco de Lemos Pereira Coutinho, quando em 1780 executou o Motu Prprio Christus Dei Filius, do Papa Pio VI. (Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, pp. 48 49. Cf. Idem, Histria da Diocese de

Coimbra Esboo Histrico, pp. 40 41).

35

com as determinaes Conciliares149, que passavam a reger a vida da instituio Capitular da S Catedral de Coimbra.

1.2. Os Meios Cnegos, Tercenrios e Capeles.

Em Portugal, no perodo medieval e moderno, muitos foram os eclesisticos que desempenharam funes de grande relevo na administrao da res pblica. A sua formao, condio social e capacidade de influncia, determinavam a escolha destes eclesisticos, de entre o alto clero, para os mais altos servios do Reino e da Igreja. Particularmente com a emergncia de uma nova organizao, a partir do sculo XVI, que assentava na especializao burocrtica150, marcada por uma diferenciao orgnica151, ou seja, com a institucionalizao de rgos prprios, cuja configurao estrutural constituir a matriz de governo do Antigo Regime152, o Rei e os Bispos reclamam uma maior mo-de-obra especializada que responda s competncias dos novos servios

administrativos. Neste contexto, a clerezia na expresso de Joaquim

149

No de mais reforar que, de entre todas as revises da vida eclesistica, aquela que se

abre para a Igreja a partir do Concilio de Trento foi a mais marcante da poca Moderna. Ainda que realizado em meados do sculo XVI, este Conclio foi recebido lentamente em muitas dioceses. Em Coimbra, foi D. Miguel da Annunciao, em pleno sculo XVIII, o grande Pastor que imprimiu a dinmica conciliar Diocese. Esta a opinio de Joo Lavrador, que afirma: D. Miguel da Annunciao dos poucos bispos na diocese de Coimbra, que de uma maneira globalizante se interessou por aplicar as energias renovadoras conciliares Diocese. (Joo Lavrador, Pensamento Teolgico de D. Miguel da

Annunciao, Coimbra, Grfica de Coimbra, 1995, p. 8). Pese embora esta perspectiva, muitos foram osBispos que assumiram a dinmica conciliar na reforma das Instituies. (A este propsito veja-se: Joaquim Romero de Magalhes, A Sociedade in Jos Mattoso (dir.), Histria de Portugal, vol. III, pp. 412 413). Estamos em crer que a dinmica de D. Frei Joo Soares se insere nesta perspectiva de Romero de Magalhes, renovando as instituies da sua diocese, nomeadamente dotando o Cabido de novos Estatutos.150

Jos Manuel Subtil, A administrao central da Coroa in Jos Mattoso (dir.), Histria de

Portugal, vol. III, p. 76. Cf. Francisco Bethencourt, Os Equilbrios Sociais do Poder in Jos Mattoso (dir.), Histria de Portugal, vol. III, p. 139.151 152

Jos Manuel Subtil, o.c., p. 76.

Ibidem, p. 76. Para a compreenso desta reformulao das instituies, veja-se este mesmo

artigo de Jos Manuel Subtil, pp. 78 89.

36

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Romero de Magalhes , porque reunia os requisitos necessrios, torna-se uma fora poltica e social que se estende a toda a administrao153. Assim se compreende que, em Portugal, muitos Cnegos, entre outros eclesisticos, sejam recrutados para o referido servio do Rei e para o servio da Igreja154. Por outro lado ainda, eram vrios os Cnegos que estavam ausentes, fora do Reino, ao servio do prprio Cabido ou, particularmente, dedicados ao estudo.155 Nestas circunstncias, estando estes Cnegos impossibilitados de cumprirem os seus deveres no Coro e no servio do Altar156, de acordo com o

153

Joaquim Romero de Magalhes, As Estruturas Polticas de Unificao in Jos Mattoso (dir.), Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 12. Cf. Ibidem, p. 91. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de

Histria de Portugal, vol. III, p. 69.154

Coimbra Esboo Histrico, p. 39; Cf. Fernando Taveira da Fonseca, As Contas do Cabido da S deCoimbra, p. 115.155

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 12. Cf. A. Brito Cardoso, A Diocese de Coimbra Esboo

Histrico, p. 39. Vrias eram as Universidades s quais se dirigiam muitos eclesisticos portugueses:Salamanca, Alcal de Henares, Paris, Bolonha Mas depois, tambm Pisa, Florena, entre outras. Mesmo no sculo XVI, com a transferncia da Universidade para Coimbra, em 1537, no deixou de haver mobilidade de alunos entre instituies universitrias. Disso mesmo nos d conta Hilde de RidderSymoens. (Cf. Hilde de Ridder-Symoens, A Mobilidade, Walter Regg (coord.), Uma Histria da

Universidade na Europa, vol. II, s.l., Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002, p. 405). Interessante aescolha em funo da mentalidade do tempo, que no cabe aqui analisar; seno apenas referir que existe um primeiro movimento de procura dos espaos humanistas, logo bloqueado pelas correntes mais conservadoras, particularmente aps o Conclio de Trento. Disso mesmo exemplo a Universidade de Paris, com o seu clebre curso de Teologia. (A este nvel veja-se: Jos Sebastio da Silva Dias, Portugal e a Cultura Europeia, Biblos Revista da Faculdade de Letras, vol. XXVIII, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1952, pp. 226 e 282; ou ainda Notker Hammerstein, que afirma mesmo: A Teologia de Paris tornou-se a guardi da ortodoxia conservadora, mantendo-se estreitamente apegada s suas bases escolsticas. Notker Hammerstein, As relaes com as Autoridades, Walter Reeg (coord.), o.c., p. 117). Afinal, como diz Baumgartner, No obstante o movimento das ideias, a vida eclesial perdura sem se transformar, numa afirmao clara de manuteno do mesmo quadro. (Cf. Mireille Baumgartner, A

Igreja no Ocidente, Lisboa, Edies 70, 2001, p. 215). Uma outra particularidade a procura, aps Trento,da formao em Cnones, como forma de responder s novas necessidades do Estado e da Igreja. (Cf. Fernando Taveira da Fonseca, A Universidade de Coimbra, p. 48; Cf. Willem Frijhoff, Graduao e Carreiras, Walter Regg (coord.), o.c., p. 357).156

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 12. Os Cnegos s podiam faltar recitao do Ofcio

Divino por doena. Cf. Estatutos da S de Coimbra, Caps. 33 e 35. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 102.

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seu ofcio, foi absolutamente necessrio admitir outros sacerdotes que os substitussem nas suas funes como Vigarios temporaes.157 Mas como estes vigrios, pela sua formao, idoneidade ou outras condies158, no estavam preparados para servirem o Coro, foi necessrio passar de Vigarios temporaes a Vigarios perptuos159, formando-se assim nas Catedrais huma corporao fixa, e permanente de Ministros, Vigarios, e subsidirios dos Conegos160. Deste modo se instituem os Porcionrios161, ou Raoeiros162, assim denominados por receberem parte de uma prebenda ou rao, para sua congrua sustentao163, e que depois se vieram a chamar tambm Meios Conegos164 ou Meios Prebendados165, Tercenrios e Quartanrios166.157

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 13. Cf. Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra

ajuntou..., p. A ii (ndex dos Documentos). Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. I, p. 102; Cf. A. BritoCardoso, A Diocese de Coimbra Esboo Histrico, p. 39. Cf. Idem, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 34. Fortunato de Almeida, identificando estes servios, diz-nos que eles, no raro, serviam de pretexto a muitos abusos. (Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, p. 64. Cf. tambm Hugo Daniel Ribeiro da Silva, o.c., p. 20).158 159 160 161

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 13.

Ibidem, p. 13. Ibidem, p. 13. Cf. Conta que o Bispo Coadjutor deo ao Marquez de Pombal, o.c., p. 261.Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 20. Cf. Ibidem, pp. 39 e 70. Esta denominao deriva de

poro, que, posteriormente, dependendo se era metade de uma prebenda, uma tera parte, uma quarta parte, ou mesmo uma quinta parte, fez derivar os nomes de porcionrio, tercenrio, quartanrio ou quintanrio. Estes beneficiados tiveram nomes distintos por toda a Europa. Se em Portugal eram denominados deste modo, em Espanha denominavam-nos racioneros e medios racioneros; em Frana, prebendrios, meios prebendados, hebdomadrios, vigrios e beneficiados; em Itlia, mansionrios; e em muitas outras usaram o simples nome de beneficiados. (Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, p. 65).162

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 39. Cf. Ibidem, p. 48. Cf. Provas que o Cabido da S

Cathedral ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos). Este documento refere-nos que enquanto adenominao de Porcionrios deriva do latim, a de Raoeiros a expresso portuguesa. (Cf. Ibidem, p. A ii (ndex dos Documentos). Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 22).163

Discurso a favor do Cabido, p. 14. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. Discurso a favor do Cabido, p. 23. Ibidem, p. 26.Cf. Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex de

34. Cf. Fernando Taveira da Fonseca, As Contas do Cabido, p. 115.164 165 166

Documentos).

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Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares Foram ainda designados como Asssios167 e Mansionrios168, uma vez que estavam obrigados a ser manentes e assduos no Coro169, o que os obrigava a serem residentes.170 Alm destes, mas numa ordem hierrquica inferior171, igualmente se instituram Capeles172 e Coreiros173, com funes de auxiliares no contexto do servio da Catedral.174 Assim, desde o primeiro momento, logo aps a separao da vida em comum com os Bispos, temos ento trs Ordens175 ou Jerarquias176 no servio da S, numa gradao de partes subalternas, e dependentes humas das outras177: os Cnegos, os Beneficiados e os Clrigos Coreiros, e Capeles178. Em Coimbra, onde semelhana de outras Catedrais do sculo XII se sentiu a necessidade destes ministros, pela ocorrncia de muitas causas, que todas167

Discurso a favor Cabido, p. 20. Cf. Ibidem, pp. 14, 70 e 108. Cf. Provas que o Cabido da S

Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos). Cf. Fernando Taveira da Fonseca, AsContas do Cabido, p. 115.168

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 21. Cf. Ibidem, p. 108. Cf. Provas que o Cabido da S

Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos). Cf. Fernando Taveira da Fonseca, AsContas do Cabido, p. 115.169

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 21. Cf. Ibidem, p. 14. Cf. Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 14. Cf. Fernando Taveira da Fonseca, As Contas do Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 26. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 16. Cf. Ibidem, pp. 17, 26 e 48. Cf. Provas que o Cabido da

p. 65; Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 34.170

Cabido, p. 115.171

p. 35.172

S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos). Cf. Fernando Taveira da Fonseca,As Contas do Cabido, p. 115.173

Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 17. Cf. Ibidem, p. 48. Cf. Fernando Taveira da Fonseca, As Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 17. Cf. Ibidem, p. 20.

Contas do Cabido, pp. 115 116; A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 34.174 175

Ibidem, p. 17. Cf. Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos). Discurso a favor do Cabido, p. 17. Ibidem, p. 17. Cf. Conta que o Bispo Coadjutor deo ao Marquez de Pombal, o.c., pp. 260

de Documentos).176 177 178

261.

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concorrio, para que os Conegos no pudessem assistir assdua, e continuamente no Coro, e no Altar179, ainda que no conheamos a data da sua instituio180, sabemos que no princpio do sculo 13 por diante181 h memria destes Porcionarios182 e de Clerigos de Coro, ou Capelles183. A eles se refere a documentao antiga do Cartrio da S184, como as Provas do Cabido, usadas pelos Cnegos no seu Discurso185, e que nos do conta destes ministros nos termos seguintes:

Que existem no Arquivo da Cathedral de Coimbra, pelos quaes se prova, que logo depois da separao da vida commua se estabelecero as tres Ordens, ou Jerarquias na mesma Cathedral conhecidas desde o anno de Christo de 1187, e da era de Cesar de 1125 pelos nomes de Conegos, Porcionarios em Latim, ou Raoeiros em Portuguez, e Capelles, at o anno de Christo de 1357, e de Cesar de 1395, sem haver do dito tempo alterao alguma, mais do que usarem os Porcionarios promiscuamente tambm do nome de Raoeiros, e os Capelles tambm o de Bacharis, ou Clrigos do Coro, de que resulta huma exuberante prova de que os ditos Capelles sempre formaro uma classe distincta, e inferior dos Porcionarios, ou Raoeiros186.Discurso a favor do Cabido, p. 40.Cf. Ibidem, p. 41.

179 180 181

Ibidem, p. 41. Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 34. Este autor diz-

nos que na S de Coimbra existiram Porcionrios desde o segundo quartel do sculo XIII. (Ibidem, p. 34).182

Discurso a favor do Cabido, p. 41. O Discurso refere ainda uma Bula de Clemente IV, datada

de 1267, dirigida ao Bispo de Coimbra, em que claramente distingue os Porcionrios dos Cnegos. (Cf.

Ibidem, p. 23).183 184 185

Ibidem, p. 41. Cf. Conta que o Bispo Coadjutor deo ao Marquez de Pombal, o.c., p. 261.Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 41. Efectivamente os Cnegos, no seu Discurso, fundamentam-se nas Provas que o Cabido da

S Cathedral de Coimbra ajuntou (Cf. Discurso a favor do Cabido, p. 41. Cf. Ibidem, pp. 41 48).186

Provas que o Cabido da S Cathedral de Coimbra ajuntou, p. A ii (ndex dos Documentos).

A. Brito Cardoso refere que na S de Coimbra houve Porcionrios desde o segundo quartel do sculo XIII, fundamentando-se em notcias posteriores. (Cf. A. Brito Cardoso, O Cabido da Catedral de Coimbra, p. 34). Tambm Fortunato de Almeida nos diz que a memria mais antiga que existe de porcionrios na S de Coimbra de 1229. (Fortunato de Almeida, HIP, vol. II, pp. 65 66). Todavia, a instituio dos Porcionrios um pouco anterior, como podemos constatar.

40

Meios Cnegos e Tercenrios em oposio aos Capitulares

Por outro lado, so ainda prova de que inicialmente a segunda e terceira Ordens se denominavam apenas como Porcionrios e Capeles as Cartas de Venda, de Arrendamento, o Livro das Kalendas, e a referncia a um Breve do Papa Clemente IV (1265 1268)188. Assim, no primeiro tipo de documentos enunciados, refere-se a existncia de um Capelo, a propsito de uma compra que o Cabido fez a um tal Martinho Salvador e sua mulher, de hum casal em Portunhos189, em que foi testemunha Petrus Presbyter Capellanus Collimbriae190, registando-se margem as datas de Maro de 1187, da era de Cristo e de 1225 da era de Csar.191 Quanto denominao de Porcionrios, refere uma Carta de Arrendamento, que o Cabido fez a Vicente Godinho e sua mulher, de fazendas em Alhadaz, e Tavarede192, a identificao do Tabelio, dizendo: Et ego Petrus Joannis Portionarius & Publicus Tabellio Sedis Colimbriensis193, esta agora com a data de Abril de 1224, da era de Cristo e de 1262, da era de Csar.194 E pudemos constatar que, da em diante, vrias so as cartas de arrendamento e de venda, subscritas por diversos Porcionrios.195 Por seu turno, o Livro das Kalendas, refere a morte de um tal Andr, Porcionrio, da Ordem dos Diconos: Anno Nativitate Domini 1263. obiit Andreas Ordonis Diaconus & Portionarius hujus Ecclesiae196. Quanto ao Breve do Papa Clemente IV, datado 12 de Setembro de 1268