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CLÁUDIO FILIPE SIMÕES COSTA ANÁLISE DAS ACÇÕES OFENSIVAS COM FINALIZAÇÃO RESULTANTES DE JOGO DINÂMICO Estudo realizado no Campeonato Europeu de Futebol de 2008 UNIVERSIDADE DE COIMBRA Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física SETEMBRO, 2010

Tese Mestrado - Cláudio Costa

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  • CLUDIO FILIPE SIMES COSTA

    ANLISE DAS ACES OFENSIVAS COM FINALIZAO RESULTANTES DE JOGO DINMICO

    Estudo realizado no Campeonato Europeu de Futebol de 2008

    UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica

    SETEMBRO, 2010

  • CLUDIO FILIPE SIMES COSTA

    ANLISE DAS ACES OFENSIVAS COM FINALIZAO RESULTANTES DE JOGO DINMICO

    Estudo realizado no Campeonato Europeu de Futebol de 2008

    UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica

    SETEMBRO, 2010

  • CLUDIO FILIPE SIMES COSTA

    ANLISE DAS ACES OFENSIVAS COM FINALIZAO RESULTANTES DE JOGO DINMICO

    Estudo realizado no Campeonato Europeu de Futebol de 2008

    UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica

    SETEMBRO, 2010

    Dissertao de Mestrado em Treino Desportivo para Crianas e Jovens Especialidade de Cincias do Desporto, na Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica da Universidade de Coimbra. Orientada pelo Professor Doutor Antnio Jos Barata Figueiredo e Co-orientada pelo Mestre Vasco Vaz

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Doutor Antnio Figueiredo, como orientador desta dissertao, garantindo sempre o apoio necessrio realizao deste trabalho. Ser orientado por algum que um exemplo de competncia nesta faculdade foi para mim uma enorme satisfao e orgulho, mas tambm aumentou o grau de exigncia e responsabilidade que um trabalho destes exige. Obrigado professor!

    Ao Mestre Vasco Vaz, como co-orientador deste estudo, pela sua disponibilidade e pelas ideias sugeridas que foram sem dvida mais-valias para a realizao desta dissertao. Sem dvida, um professor com P grande. Obrigado professor!

    Aos Professores da FCDEF-UC, pela competncia demonstrada nestes anos, dedicando-se a uma causa que a formao de excelentes alunos e a abertura de novos horizontes. Destacaria alm dos professores mencionados acima, o Professor Doutor Manuel Joo Coelho e Silva, pela sua competncia multi-disciplinar, capaz de fazer pensar qualquer mente; o Professor Doutor Lus Rama, pela sua excelncia na apresentao das aulas, reforando ainda mais o meu gosto e a minha opo pela rea do treino desportivo e condicionamento fsico; o Professor Doutor Amndio Santos, pelo que sabe e pelo que ensina na rea da fisiologia do exerccio, sendo sem dvida um excelente professor na transmisso desses conhecimentos.

    Aos Meus Pais, pelos valores transmitidos ao longo de todos estes anos, destacando a humildade, responsabilidade e a vontade de melhorar todos os dias pelo apoio que me deram, sendo sempre um suporte (que nunca abanou!) ao meu crescimento acadmico. Obrigado!

    Carla, pela sua personalidade, pela forma como mudou a minha maneira de estar na vida, pelo exemplo de vida que para mim. Obrigado pela motivao dada quando esta faltava.

    Minha famlia, pela humildade, pela unio familiar que me transmitiram e pelo carinho que sempre nutriram por mim.

  • ii

    Aos meus manos Tiago e Gonalo, ao qual tambm dedico de forma mais particular esta dissertao.

    Ao Marco e ao Nuno, que constituam comigo o trio maravilha da faculdade! Bons amigos e bons colegas.

    Aos meus colegas de mestrado. A partilha das nossas ideias so sem dvida uma mais-valia na nossa aprendizagem e com eles aprendi muito.

    Aos baixinhos, pelo prazer que me deu ensinar ao longo de toda a poca. Hoje sou sem dvida mais competente do que era no passado e isso tambm foi graas a eles. Obrigado pelo concretizar de um sonho que era ser treinador de uma equipa de futebol.

  • iii

    RESUMO

    A anlise de jogo tornou-se actualmente uma ferramenta valiosa para treinadores e investigadores de futebol, j que procura descodificar o fenmeno hipercomplexo que toda a lgica interna desta modalidade encerra.

    Sabendo ns que o objectivo primordial do jogo de futebol a finalizao do processo ofensivo, e tendo por base as equipas intervenientes no Campeonato da Europa de Futebol de 2008 realizado na Sua

    e ustria, identificmos quatro equipas de sucesso (equipas que atingiram as meias-finais) e oito equipas de insucesso (equipas que no ultrapassaram a fase de grupos) e apresentmos como objectivos deste estudo: 1) Identificar caractersticas do momento de transio defesa ataque, da fase de construo e da fase de finalizao do processo ofensivo que com maior probabilidade conduzem finalizao das aces

    ofensivas resultantes de jogo dinmico; 2) Identificar diferenas nos perfis de equipas de sucesso e equipas de insucesso (equipas que atingiram as meias-finais e equipas que no ultrapassaram a fase de grupos da competio, respectivamente) nos diferentes momentos do jogo e, 3) Identificar mtodos de jogo ofensivo preferenciais nas aces ofensivas com finalizao resultantes de jogo dinmico.

    Em 45 observaes efectuadas foram recolhidas 297 aces ofensivas com finalizao resultantes de jogo dinmico. A partir da Metodologia Observacional, elabormos um instrumento ad hoc constitudo por um formato de campo (Garganta, 1997) e por um sistema de categorias que responde em simultneo a um marco terico e realidade do estudo (Garganta, 1997; Vales, 1998). Posteriormente, elabormos a folha de recolha de dados para registo das variveis analisadas. As partidas foram gravadas em vdeo e

    observadas detalhadamente em computador num tempo posterior. O tratamento e a anlise dos dados

    foram efectuados pelo programa SPSS onde foram submetidos a anlise descritiva.

    A anlise dos resultados permitiu verificar que: 1) no momento de transio defesa-ataque percebe-se uma maior tendncia para a recuperao da posse de bola nos sectores intermdios do campo;

    2) existe preferncia por formas de recuperao dinmicas com especial relevo na recuperao por intercepo; 3) h uma maior opo por uma aco tcnica de passe, de curta/mdia distncia para a frente ou para o lado na primeira aco aps a recuperao; 4) na fase de construo, h uma tendncia para circulao de bola com amplitude mdia ou mxima e profundidade positiva com especial

    preocupao em terminar no sector ofensivo; 5) a variao de corredor um indicador fundamental no sucesso das aces, com particular destaque no nmero de variaes > 2; 6) aces ofensivas com 3-4 jogadores envolvidos e nmero de passes superior a 4 so as mais frequentes, embora se verifique alguma variabilidade; 7) a ltima aco antes da finalizao caracteriza-se por aces tcnicas de risco em que o cruzamento, passe curto/mdio para o lado e para a frente e 1x1 so as mais frequentes; 8) as aces ofensivas terminam frequentemente dentro da grande rea, embora as aces fora da rea apresentem

    percentagens relevantes; 9) existem determinados princpios de aco dos jogadores e das equipas no centro de jogo que aumentam a probabilidade de finalizao das aces ofensivas, nos quais destacamos a procura da inferioridade numrica relativa da equipa adversria no ltimo contacto do adversrio, a

    superioridade relativa na zona de recuperao e a igualdade no pressionada na zona de finalizao; 10) o

  • iv

    mtodo de jogo ofensivo mais frequente o ataque rpido e por ltimo, 11) os perfis de equipas de sucesso e insucesso revelaram-se muito idnticos, embora apresentassem algumas diferenas

    circunstanciais.

    Concluindo, este estudo revela-nos a importncia de perceber que caractersticas assumem os

    momentos e fases anteriores finalizao de forma a potenciar a finalizao do processo ofensivo.

    Palavras-Chave: FUTEBOL; ANLISE DE JOGO; ACES OFENSIVAS COM FINALIZAO; TRANSIO DEFESA-ATAQUE; FASE DE CONSTRUO; FASE DE FINALIZAO; NVEL DE SUCESSO DAS EQUIPAS.

  • v

    ABSTRACT

    Match analysis has become today a valuable tool for coaches and football investigators, as it aims

    to decode the hypercomplex phenomenon that the internal logic of this modality enclosures.

    As we know that the main objective of the football match is the offensive process finalization, using as our target population the teams that competed in the European Championship of Football of 2008 that occurred in Switzerland and Austria, we identified four successful teams (teams that reached the semi-final phase of the competition) and eight unsuccessful teams (teams that did not overcome the groups phase of the competition) and we presented as this studys objectives: 1) To identify characteristics of the moment of defense-attack transition, construction and finalization phases of the

    offensive process, that with a greater probability lead to the finalization of the dynamic offensive actions;

    2) To identify differences in the profiles of successful and unsuccessful teams on the different moments of the match; and 3) To identify preferential offensive match methods on the offensive actions with finalization derived from dynamic game.

    In the 45 observations that we made, there were collected 297 offensive actions with finalization derived from dynamic game. Starting on the Observational Methodology, we elaborated an ad hoc instrument composed by a field format (Garganta, 1997) and by a categories system that responds simultaneously to a theoretical endpoint and to the reality of the game (Garganta, 1997; Vales, 1998). Lately, we created a collecting data sheet to register the analyzed variables. The matches were recorded in

    video and watched carefully in a portable computer at an ulterior moment. Treatment and data analysis

    were made with SPSS, which allowed descriptive analysis through percentage tables.

    Data analysis allowed the following observations: 1) in the defence-attack transition moment it is evident a greater tendency to ball possession recovery on intermediate sectors of the field; 2) the preference by dynamic recovery actions, especially recovery by interception; 3) a greater option by a technical action of pass of short/middle distance, to the front or to a side as first action after ball

    possession recovery; 4) in the construction phase there is a greater tendency to middle or maxim amplitude and positive dept in ball circulation, with a special concern on ending in the offensive sector; 5) side variation (left wing, middle field and right wing) is a fundamental predictor on the actions success, particularly with a number of actions bigger than two; 6) offensive actions with 3 or 4 players involved and more than 4 passes are the most common, although there is a certain variability; 7) the last action before finalization is characterized by risk technical actions in which cross, short/middle distance pass to the side and to the front and 1x1 are the most frequent; 8) the offensive actions frequently end inside the penalty area, although actions outside this area present relevant percentages; 9) there are certain principles of actions of players and teams that increase the probability of finishing the offensive actions, in which

    we put in relief the search for the relative numerical inferiority of the opponent team at the adversarys last contact, the relative superiority at the recovery zone and the non pressed equality on the finalization

    zone; 10) the most frequent offensive play method is the fast attack and last; 11) successful and unsuccessful teams profiles showed to be similar, although presented some circumstantial differences.

  • vi

    Concluding, this study shows us the importance of understanding which characteristics are

    assumed by the moments and phases previous to the finalization phase in order to improve offensive

    process finalization.

    Key words: FOOTBALL; MATCH ANALYSIS; OFFENSIVE ACTIONS WITH FINALIZATION;

    DEFENCE-ATTACK TRANSITION; CONSTRUCTION FASE; FINALIZATION FASE; TEAMS

    SUCCESS LEVEL.

  • vii

    NDICE GERAL

    Agradecimentos Resumo / Abstract ndice Geral ndice de Figuras ndice de Tabelas Abreviaturas Lista de Anexos

    i iii vii

    x

    xi xiii xv

    Introduo 1.1. Prembulo 1.2. Pertinncia do Estudo 1.3. Problema 1.4. Objecto e Objectivos

    1 1

    2

    3 4

    Reviso Literatura 2.1. Complexidade da lgica interna de uma modalidade desportiva o caso do

    futebol 2.2. Dinmica do jogo de Futebol 2 Perspectivas diferenciadas

    2.2.1. Perspectiva Dicotmica ou Dualista 2.2.2. Perspectiva do Modelo Unitrio

    2.3. Anlise de Jogo Um dos pressupostos fundamentais para o sucesso do treinador

    2.4. A soluo para uma anlise de jogo nos JDC, particularmente o futebol 2.4.1. Dizer No ao Empirismo e Sistematizar 2.4.2. Anlise Qualitativamente Quantificvel

    2.5. Anlise de jogo no Futebol 2.5.1. Recuperao da posse de bola 2.5.2. Fase de construo do processo ofensivo 2.5.3. Fase de finalizao do processo ofensivo 2.5.4. O mtodo de jogo ofensivo 2.5.5. O centro do jogo

    5 5

    7

    7

    9 11

    14

    14

    16 17

    17

    20 23 24

    27

  • viii

    Metodologia 3.1. Amostra

    3.1.1. Caracterizao da Amostra 3.1.2. Critrios de Definio da Amostra

    3.2. Definio do Sistema de Categorias 3.2.1. Formato de Campo 3.2.2. Variveis

    3.3. Observao e Registo de Dados 3.3.1. Caractersticas do Processo de Observao 3.3.2. Procedimentos de Observao 3.3.3. Procedimentos de Registo

    3.4. Anlise da Qualidade dos Dados 3.4.1. Fiabilidade Intra-Observador

    3.5. Procedimentos Estatsticos

    29 29 29 29 31 32 33 46 46 47

    48 48 48 49

    Apresentao dos Resultados 4.1. Anlise Global

    4.1.1. Transio Defesa-Ataque Anlise das variveis 4.1.2. Fase de construo do processo ofensivo Anlise das variveis 4.1.3. Fase de finalizao do processo ofensivo Anlise das variveis 4.1.4. Anlise de outras variveis

    4.2. Anlise por nvel de sucesso das equipas 4.2.1. Transio Defesa-Ataque Anlise das variveis 4.2.2. Fase de construo do processo ofensivo Anlise das variveis 4.2.3. Fase de finalizao do processo ofensivo Anlise das variveis 4.2.4. Anlise de outras variveis

    51 51 51 55 58 59 60 60 64 68 69

    Discusso dos Resultados 5.1. Caractersticas do momento de transio defesa-ataque nas AOCF 5.2. Caractersticas da fase de construo do processo ofensivo nas AOCF 5.3. Caractersticas da fase de finalizao do processo ofensivo nas AOCF 5.4. Caractersticas de outras variveis do processo ofensivo nas AOCF 5.5. Caracterizao dos perfis das equipas de sucesso e insucesso e suas

    principais diferenas

    71 71

    75 79 80 81

  • ix

    Concluses 6.1. Limitaes do presente estudo 6.2. Concluses propriamente ditas 6.3. Sugestes para futuras pesquisas

    85 85 85 89

    Bibliografia

    91

    Anexos

  • x

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 2.1. - Comportamento estratgico dos jogadores (Bayer, 1994) Figura 2.2. - Diagrama da segmentao do fluxo conductural do jogo de Futebol

    (Castellano Paulis, 2000)

    Figura 2.3. - Modelo Unitrio da organizao do jogo de Futebol (Cervera e Malavs, 2001)

    Figura 2.4. - Convergncia dos Desenhos Observacionais (Anguera, 2003)

    Figura 3.1. - Formato de Campo definido por Garganta (1997)

    Figura 3.2. - Formato de Campo da varivel ZFIN (adaptado Silva, E., 2007)

    Figura 4.1. - Distribuio da recuperao da posse de bola por zonas, sectores e corredores

    Figura 4.2. - Distribuio da recuperao da posse de bola por zonas, sectores e corredores no campograma das Equipas de Sucesso (ES) e Equipas de Insucesso (EI)

  • xi

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 2.1. - Principais problemas da anlise de jogo nos JDC Tabela 2.2. - Vantagens da implementao da anlise de jogo Tabela 2.3. - Critrios que determinam uma anlise sistemtica do jogo (Damas &

    Ketele, 1985; Winkler, 1988)

    Tabela 3.1. - Tabela de Denominao, Codificao e Descrio de Zonas, Corredores e Sectores

    Tabela 3.2. - Tabela de denominao, codificao e descrio das categorias da varivel PA

    Tabela 3.3. - Tabela de denominao, codificao e notao das categorias da varivel PrO

    Tabela 3.4. - Tabela de denominao, codificao e descrio das categorias e subcategorias da varivel CJ

    Tabela 3.5. - Tabela de denominao, codificao e descrio dos diferentes MJO (Garganta, 1997)

    Tabela 3.6. - ndices de fiabilidade das variveis analisadas Tabela 4.1. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel ZREC

    Tabela 4.2. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel TREC

    Tabela 4.3. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PA

    Tabela 4.4. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-UCadv

    Tabela 4.5. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-ZREC

    Tabela 4.6. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PrO

    Tabela 4.7. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel AO

    Tabela 4.8. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel NVC

    Tabela 4.9. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PO

    Tabela 4.10. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel EO

    Tabela 4.11. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel UA

    Tabela 4.12. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-ZFIN

  • xii

    Tabela 4.13. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel ZFIN

    Tabela 4.14. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel MJO

    Tabela 4.15. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel ZREC por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.16. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel TREC por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.17. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PA por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.18. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-UCadv por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.19. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-ZREC por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.20. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PrO por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.21. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel AO por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.22. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel NVC por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.23. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel PO por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.24. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel EO por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.25. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel UA por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.26. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel CJ-ZFIN por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.27. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel ZFIN por nvel de sucesso das equipas

    Tabela 4.28. - Estatstica Descritiva (FA e %) da varivel MJO por nvel de sucesso das equipas

  • xiii

    ABREVIATURAS

    1x1 Drible

    AO Amplitude Ofensiva

    AOCF Aces Ofensivas com Finalizao resultantes de jogo dinmico AP Ataque Posicional

    AR Ataque Rpido

    CA Contra-Ataque

    CC Corredor Central

    CJ Centro de Jogo

    CJ-ZFIN Centro de Jogo na Zona de Finalizao

    CJ-ZREC Centro de Jogo na Zona de Recuperao

    CJ-UCadv Centro de Jogo no ltimo contacto do adversrio

    CLD Corredor Lateral Direito

    CLE Corredor Lateral Esquerdo

    CoCMF Conduo Curta/mdia frente

    CoCML Conduo Curta/Mdia lado

    CoCMO Conduo Curta/Mdia obliqua

    CoCMT Conduo Curta/Mdia trs

    CoLF Conduo Longa Frente

    CoLL Conduo Longa Lado

    CoLO Conduo Longa Obliqua

    CoLT Conduo Longa Trs

    Cruz Cruzamento

    D Desarme

    DGA Dentro da Grande rea DPA Dentro da Pequena rea

  • xiv

    Eadv Erro do adversrio

    EO Elaborao Ofensiva

    EObs Equipa Observada

    EI Equipas de Insucesso

    ES Equipas de Sucesso

    FGA Fora da Grande rea Gadv Golo adversrio

    I Intercepo

    Iadv Interveno do adversrio sem xito

    IFa Inferioridade Absoluta

    IFr Inferioridade Relativa

    IGNPr Igualdade no Pressionada

    IGPr Igualdade Pressionada

    Igr-adv Interveno do guarda-redes adversrio

    IRfav Interrupo Regulamentar a favor

    JDC Jogos Desportivos Colectivos

    MJO Mtodos de Jogo Ofensivo

    NVC Nmero de Variaes de Corredor

    O Outro

    PA Primeira Aco aps a Recuperao da Posse de Bola

    PaCMF Passe Curto/Mdio para a Frente

    PaCML Passe Curto/Mdio para o lado

    PaCMO Passe Curto/Mdio Obliquo

    PaCMT Passe Curto/Mdio para Trs

    PaLF Passe Longo para a Frente

    PaLL Passe Longo para o Lado

  • xv

    PaLO Passe Longo Obliquo

    PaLT Passe Longo para Trs

    PO Participao Ofensiva

    PrO Profundidade Ofensiva

    Rcomp Remate companheiro

    RECgr Recuperao pelo guarda-redes

    Rfinaliz Remate pelo prprio finalizador

    Rrec Remate pelo prprio recuperador

    SCJ Sem Centro de Jogo

    SD Sector Defensivo

    SMD Sector Mdio Defensivo

    SMO Sector Mdio Ofensivo

    SO Sector Ofensivo

    SPA Sem Primeira Aco

    SPa Superioridade Absoluta

    SPr Superioridade Relativa

    SPSS Statistical Program for Social Sciences TREC Tipo de Recuperao da Posse de Bola

    UA ltima Aco antes da Finalizao da Aco Ofensiva ZFIN Zona de Finalizao

    ZREC Zona de Recuperao da Posse de Bola

    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO A Amostra dos jogos observados e discriminao dos mesmos por Nvel de Sucesso das Equipas

    ANEXO B Folha de recolha de dados

  • 1

    CAPTULO I

    INTRODUO 1.1. Prembulo

    A mudana que se distingue actualmente no desenvolvimento desportivo no mundo , sem dvida a aplicao da cincia aos problemas do desporto e, em especial, a utilizao de uma tecnologia cada vez mais aperfeioada e apoiada em dados cientficos (Crespo, 1981). Se esta citao era aplicada em 1981, actualmente com a procura incessante pela winning formula, devido s exigncias da nossa sociedade e das exigncias competitivas cada vez mais elevadas do desporto, a interaco entre a cincia e o fenmeno desportivo mais intensa e obcecante.

    Actualmente, no incio do 3. milnio, um sculo e meio depois da classe universitria britnica o ter separado do Rugby, o Futebol ganhou uma importncia inesperada mesmo para os mais optimistas. Um conjunto de regras simples conjugado com a sua natureza expansiva, levou-o a converter-se no entretenimento preferido e mais popular nos cinco continentes do mundo (Paulis, 2000, Grinvald, 1999).

    O futebol um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes (jogadores) esto agrupados em duas equipas numa relao de adversidade rivalidade desportiva, numa luta incessante pela conquista da posse da bola (respeitando as leis do jogo), com o objectivo de a introduzir o maior nmero de vezes possvel na baliza adversria e evit-los na sua prpria baliza, com vista obteno da vitria (Castelo, 1994). por isso uma modalidade desenvolvida com um altssimo nvel de incerteza e imprevisibilidade, o que faz reflectir uma lgica interna catica fazendo-nos sentir confundidos com o nmero e com a enorme variabilidade de elementos, relaes, interaces ou combinaes sobre os quais assenta o funcionamento do jogo (Rosnay, 1977).

    Para descodificar todo este processo hipercomplexo que o jogo de futebol, a anlise de jogo tem sido uma ferramenta valiosa para muitos treinadores e investigadores. Queirs (1986) sustentava que a investigao futura ao nvel do futebol se deveria centrar na quantificao e qualificao das aces de jogo atravs das

  • 2

    observaes sistemticas dos comportamentos dos jogadores e das equipas em jogo. No futebol, a competio tem sido a fonte de informao mais privilegiada para a utilizao do mtodo observacional (Dufour, 1993; Gerisch & Reichelt, 1993). Portanto, treinadores e investigadores tem procurado esclarecimento acerca da performance diferencial dos jogadores e das equipas, na tentativa de determinar factores condicionantes do rendimento desportivo e acima de tudo perceber a forma como eles se inter-relacionam para induzirem eficcia (Garganta, 2001). A anlise de jogo um ramo fundamental, essencialmente para tentarmos perceber que padres, que aces comportamentais se associam eficcia das equipas e assim ser uma fonte rica de informao para investigadores e treinadores, para assim aumentarmos o conhecimento sobre o contedo do jogo.

    1.2. Pertinncia do Estudo

    Alguns autores (Garganta, 2001; Ortega, 1999) tm destacado a importncia da anlise de jogo para o processo de treino a valorao, recolha, registo, armazenamento e o tratamento dos dados atravs da observao das aces de jogo e dos comportamentos dos jogadores ou das equipas, por isso, actualmente uma ferramenta imprescindvel para o controlo, avaliao e reorganizao do processo de treino e de competio e cada vez mais determinante na optimizao do rendimento dos jogadores e das equipas. A observao por isso a principal fonte de informao que possuem os treinadores (Riera, 1995) e o seu grande objectivo separar meras opinies empricas de feitos cientficos (Carosio, 2001; Garganta, 2000). Treinadores e investigadores procuram constantemente atravs da anlise de jogo dados que permitam obter sucesso na performance, isto , procuram comportamentos de jogo que induzam eficcia na competio.

    Deste modo, fundamental encontrar indicadores de qualidade de jogo de alto nvel que permitam sistematizar os contedos, de forma a propormos metodologias adequadas aos processos de ensino do Futebol de alto rendimento e tambm de formao. pela vontade de tornar o futebol cada vez mais cientfico, e sobretudo, perceb-lo melhor, que recorremos Metodologia Observacional, uma vez que neste contexto de incerteza e aleatoriedade que o jogo de Futebol, pretende-se perceber alguma ordem no aparente caos, detectar a regularidade e o aleatrio, e procurar a

  • 3

    estabilidade na imensa variabilidade. Ou seja, encontrar um carcter de regularidade e de probabilidade de determinadas variveis do jogo relativamente a outras, que ultrapasse o mero conceito de sorte ou acaso.

    Para alm disso a Metodologia Observacional, permite-nos perceber o que difere uma equipa de outra, o que difere o processo ofensivo com finalizao do processo ofensivo sem finalizao, o que difere o golo da oportunidade de golo, entre outras coisas.

    Isto leva-nos s palavras de David Low (2002) ao afirmar que estas anlises tm como objectivo fundamental tentar encontrar factores chave da performance que levam ao sucesso desportivo.

    Neste sentido, pretende-se analisar a Fase Final do Campeonato da Europa de 2008 realizado na Sua e na ustria, em que tivemos como base fundamental do nosso estudo as Aces Ofensivas com Finalizao resultantes de jogo dinmico.

    1.3. Problema

    O futebol envolve uma variedade e complexidade de situaes que so parte da lgica interna desta modalidade e que podero ser alvo de estudo. Importa por isso direccionar as nossas ideias para um determinado tipo de situaes excluindo outras.

    Para este estudo optou-se por direcciona-lo para a anlise de variveis nas diferentes fases do jogo de forma a perceber o que potencia a finalizao do processo ofensivo (aces ofensivas com finalizao). Envolvendo o jogo de futebol um contexto varivel, imprevisvel e aleatrio, devemos objectivar ao mximo o problema e os objectivos que delinemos, assim como os meios e os mtodos de que nos serviremos para os resolver, pois s assim ser possvel analisar o problema sem a influncia das circunstncias do jogo.

    Assim, as questes que conferem sentido a este estudo so:

    - Que caractersticas assume o momento de Transio Defesa Ataque que, com maior probabilidade, conduzem finalizao da aco ofensiva no Futebol?

    - Que caractersticas assume a fase de construo do Processo Ofensivo que, com maior probabilidade, conduzem finalizao da aco ofensiva no Futebol?

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    - Que caractersticas assume a fase de finalizao do Processo Ofensivo que, com maior probabilidade, conduzem finalizao da aco ofensiva no Futebol?

    - Que perfis assumem as Equipas de Sucesso e Equipas Insucesso na finalizao das suas aces ofensivas, analisando o seu momento de Transio Defesa Ataque, a fase de construo e a fase de finalizao do Processo Ofensivo?

    - Que caractersticas do momento de Transio Defesa Ataque, da fase de construo e da fase de finalizao do Processo Ofensivo diferenciam as Equipas de Sucesso e as Equipas de Insucesso?

    1.4. Objecto e Objectivos

    O objecto de estudo deste trabalho foi a anlise das Aces Ofensivas Com Finalizao resultantes de jogo dinmico das Equipas que obtiveram sucesso e insucesso, durante a Fase Final do Euro 2008 de Futebol realizado na Sua e na ustria.

    Este estudo apresentou os seguintes objectivos:

    1) Identificar caractersticas do momento de Transio Defesa - Ataque que, com maior probabilidade conduzam finalizao da aco ofensiva;

    2) Identificar caractersticas da fase de construo do Processo Ofensivo que, com maior probabilidade conduzam finalizao da aco ofensiva;

    3) Identificar caractersticas da fase de finalizao do Processo Ofensivo que, com maior probabilidade conduzam finalizao da aco ofensiva;

    4) Identificar caractersticas do momento de Transio Defesa Ataque, da fase de construo e de finalizao do Processo Ofensivo que traduzem perfis das Equipas de Sucesso e das Equipas de Insucesso na finalizao da aco ofensiva;

    5) Identificar diferenas no momento de Transio Defesa Ataque, na fase de construo e de finalizao do Processo Ofensivo entre Equipas de Sucesso e de Insucesso na finalizao da aco ofensiva.

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    CAPTULO II REVISO DE LITERATURA

    2.1. Complexidade da lgica interna de uma modalidade desportiva o caso do futebol

    Segundo alguns estudos, como Hughes & Bartlett (2002) o futebol demasiado complexo para ser descrito atravs de simples representao de dados. A complexidade elevada desta modalidade deve-se sobretudo natureza catica que apresenta, isto , uma lgica interna sustentada por mltiplas interaces entre jogadores, objectos e regulamentos que causam por isso padres de jogo imprevisveis e completamente incertos.

    O futebol um desporto de cooperao/oposio com espaos comuns e aco simultnea (invaso), de carcter aberto, que se realizam em ambientes onde predomina a incerteza e a imprevisibilidade (Pinto, 2007). Segundo o mesmo autor, os JDC no qual inclumos o futebol, so dos mais difceis de ensinar devido sobretudo a trs factores: Imprevisibilidade (a instabilidade do meio onde a variao das condies do contexto a faz aumentar, atravs de por exemplo o espao, o ritmo, a velocidade); Arbitrariedade (o carcter arbitrrio da durao da tarefa, ao nvel temporal e espacial, dificulta a decomposio e previso da ocorrncia); Especificidade (a definio concreta do fim a atingir de difcil delimitao, dependendo da organizao estrutural e decisional dos cooperadores e da imprevisibilidade dos opositores). O jogo de Futebol caracteriza-se por uma permanente relao de foras, ou seja, pela simultnea relao de cooperao e de oposio que, a cada momento, induz uma dinmica relacional colectiva que suscita aos jogadores a realizao de julgamentos e a tomada de decises. So estes os verdadeiros actores, que a partir da autonomia que lhes concedida em cada instante pelo prprio jogo, constroem a diversidade e a singularidade do fluxo acontecimental (Jlio & Arajo, 2005), permitindo que o seu desenvolvimento possa confluir na marcao de golos na baliza adversria e no seu evitamento relativamente prpria baliza (Castelo, 1996). Como vemos pelas citaes anteriormente descritas, o futebol um fenmeno hipercomplexo que se caracteriza por:

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    Uma modalidade em que os jogadores devem constantemente adaptar-se e readaptar-se s novas situaes que o jogo lhes oferece e por sua vez devem ser capazes de elaborar e produzir novas respostas ante a constante variabilidade de situaes e a grande incerteza espacial, o que leva a que todas as situaes de jogo sejam diferentes;

    Um desporto de situao, em que o desempenho motor dos jogadores est estreitamente relacionado com a capacidade dos jogadores para responder de forma adequada e eficaz s constantes e diversas modificaes que se do no contexto do jogo.

    Logicamente como referem alguns autores (Pollard, Reep & Hartley, 1988; Franks, Goodman & Miller, 1983) a aco contnua e o ambiente dinmico que caracterizam o Futebol dificultam uma anlise objectiva da performance.

    A tabela 2.1. ilustra os principais problemas da anlise de jogo nos JDC, particularmente o Futebol.

    Tabela 2.1. - Principais problemas da anlise de jogo nos JDC Garganta

    (2001; 2000; 1998) As capacidades dos atletas so condicionadas fundamentalmente pelas

    sucessivas configuraes que o jogo vai experimentando, tornando muito complexa a observao de todos os jogadores em movimento e a percepo da sua interdependncia;

    Impossibilidade de identificar a totalidade dos condicionalismos a que o

    jogo est submetido; Dificuldade na deteco dos constrangimentos fundamentais que

    induzem alteraes importantes no decurso dos acontecimentos;

    No existem situaes exactamente idnticas e as possibilidades de combinao so imensas;

    Coexistem variveis diversas ao nvel do jogo que interagem permanentemente, o que torna muito complexa a tarefa de entender a

    quota-parte de participao dessas variveis no rendimento;

    Cantn, Ortega & Contreras

    (2000)

    Elevado numero de jogadores que participam no jogo; O carcter interactivo das condutas dos jogadores; O grau de evoluo do Futebol e a sua lgica interna;

    O grande nmero de factores que afectam directa ou indirectamente o rendimento;

    Cont.

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    Continuao da Tabela 2.1. Hughes & Bartlett

    (2002) Interaco de comportamentos humanos torna a observao bastante

    complexa;

    Jonsson, Bjarkadottir, Gislason, Borrie & Magnusson

    (s/d)

    Envolvimento de 22 jogadores demonstra um comportamento colaborativo que requer o desempenho de diversas tarefas/misses num ambiente adverso, incerto e dinmico;

    Silva

    (2006) As condies instveis e aleatrias em que ocorrem os JDC, embora

    confiram originalidade e interesse s situaes, tornam mais delicada a tarefa do experimentador e do observador

    2.2. Dinmica do jogo de Futebol Duas Perspectivas diferenciadas

    2.2.1. Perspectiva Dicotmica ou Dualista

    Na teoria dos Jogos Desportivos Colectivos (JDC), a maioria dos autores privilegiam essencialmente um modelo de organizao dualista (Castelo, 2004). Ora, segundo o mesmo autor, a organizao dualista do jogo define em termos gerais, um sistema no qual os membros do jogo so divididos em dois grupos possuindo limites rigorosamente fixos, no interior dos quais mantm relaes complexas de cooperao com o seu grupo e diversas formas de rivalidade (desportiva) com o grupo adversrio.

    De acordo com Bayer (1994), o jogo consubstancia duas fases fundamentais: o ataque (Processo Ofensivo), que determinado pela posse de bola; e a defesa (Processo Defensivo), que corresponde a procura da sua posse. O mesmo autor diferencia claramente que ter a posse de bola por parte de uma equipa implica atacar, e no ter a posse de bola implica defender. Desta forma o autor formula os princpios gerais de ataque (Figura 2.1.).

  • 8

    Fig 2.1. - Comportamento estratgico dos jogadores (Bayer, 1994)

    Neste sentido da perspectiva dualista de Posse ou No Posse de bola, Castellano Paulis (2000) evidencia um conceito de segmentao do fluxo conductural da aco de jogo de Futebol, no qual a posse/no posse de bola se revela um factor crtico na dinmica do jogo. O autor defende um conceito que contempla seis situaes: i) incio da posse de bola; ii) desenvolvimento da posse de bola; iii) final da posse de bola; iv) incio da no posse de bola; v) desenvolvimento da no posse de bola; e vi) final da no posse de bola (Figura 2.2.)

    Figura 2.2. - Diagrama da segmentao do fluxo conductural do jogo de Futebol (Castellano Paulis, 2000)

    A MINHA EQUIPA TEM A POSSE

    DE BOLA

    ATAQUE

    A MINHA EQUIPA NO TEM A

    POSSE DE BOLA

    DEFESA

    PRINCPIOS DE ATAQUE PRINCPIOS DE DEFESA

    - Conservar a bola;

    - Progresso da bola e dos

    jogadores at baliza;

    - Marcar golo na baliza adversria.

    - Recuperar a bola;

    - Impedir a progresso dos

    jogadores e da bola at baliza;

    - Proteger a baliza e o seu campo.

    INCIO DA POSSE DE BOLA FINAL DA NO POSSE DE

    BOLA

    DESENVOLVIMENTO DA

    POSSE DE BOLA

    DESENVOLVIMENTO DA NO

    POSSE DE BOLA

    FINAL DA POSSE DE BOLA INCIO DA NO POSSE DE

    BOLA

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    Parece evidente que quatro das seis situaes propostas por este autor sobrepem-se, na medida em que o incio da posse de bola coincide com a finalizao da no posse de bola para a mesma equipa assim como o final de uma possE de bola coincide com o incio da no posse de bola.

    Portanto, o jogo visto sob uma perspectiva dualista baseia-se num quadro dicotmico em funo da pertena da bola, evidenciando-se duas fases perfeitamente distintas, que compreendem princpios, comportamentos tctico-tcnicos, conceitos e finalidades, consubstanciados em interesses e objectivos opostos, ou seja, marcar golos e evitar sofr-los (Barreira, 2006). Esta perspectiva sugere a decomposio do macrosistema Futebol em dois subsistemas grupais (Equipas) com objectivos e princpios de jogo completamente distintos (um subsistema ataca e o outro defende) em que em nenhum momento, os princpios de ataque e de defesa se inter-relacionam dento do mesmo subsistema.

    2.2.2. Perspectiva do Modelo Unitrio

    Um dos critrios fundamentais da perspectiva do Modelo Unitrio sustenta-se nas palavras de Pinheiro (2001), que afirma que apesar do primeiro passo indispensvel para o processo ofensivo ser a posse de bola, este comea antes da recuperao da posse de bola.

    Rinus Michels e Bert van Lingen (in Kormelink e Seeverens, 1997) sustentam esta ideia, referindo que numa equipa de Futebol os jogadores (defesas, mdios ou avanados) so responsveis por tarefas bsicas e por suplementares. Ou seja, um defesa apesar da sua tarefa principal ter como princpios bsicos os defensivos, no se pode limitar ao cumprimento nico desses princpios, pois por vezes tem papel fundamental na organizao ofensiva da equipa (princpios complementares). Assim, uma das grandes dificuldades em construir uma equipa conseguir encontrar um balano entre o cumprimento das tarefas bsicas, sem inibir a concretizao das suplementares (Barreira, 2006).

    Da mesma ideia, Amieiro (2005) afirma que defesa e ataque esto intimamente relacionados e que, desta forma, um erro perspectivar a organizao defensiva e ofensiva de uma equipa sem uma articulao de sentido. O mesmo autor cita um exemplo que explica o Futebol actual: os onze jogadores tm de saber o que fazer em

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    posse de bola e os onze jogadores tm de saber o que fazer quando a equipa no tem a posse de bola. No entanto, uma coisa defender pelo princpio da quantidade (defender visto como um fim em si mesmo), outra coisa defender com os onze jogadores pelo princpio da qualidade (defender visto como um meio para recuperar a bola e poder atacar). Outro exemplo que vem de acordo com esta perspectiva do modelo unitrio, deixado explcito pelo mesmo autor, quando afirma que, a organizao defensiva ou ofensiva deve ser perspectivada em funo da forma como se quer, em seguida, atacar ou defender, respectivamente.

    Castelo (1996) e Ard (1998) confirmam e acrescentam que os jogadores que no intervm directamente no processo defensivo devem preparar mentalmente o ataque, enquanto os que no se implicam directamente no ataque tm a obrigao de preparar mentalmente a defesa. Assim, estas duas fases (ofensiva e defensiva), edificadas sob uma verdadeira oposio lgica, so no fundo o complemento uma da outra, estando directamente implicadas, o que traduz que a totalidade de uma fase encontra-se na totalidade da outra (Castelo, 1996).

    Mourinho (in Oliveira, Amieiro, Resende & Barreto, 2006) partilha desta perspectiva ao afirmar que no aborda nenhuma competio (jogo) em que a organizao defensiva exija mais que a organizao ofensiva ou vice-versa, da mesma forma que no prepara nenhum jogo sem que todos os jogadores tenham as suas funes defensivas e ofensivas, inclusivamente o Guarda-redes. O mesmo autor claro quanto ao sucesso desta perspectiva: Numa equipa que quer ser de topo, todos os jogadores tm de participar nos quatro momentos do jogo Guarda-redes includo.

    Este entendimento do jogo assume a Transio para um Modelo Unitrio da organizao dinmica do jogo de Futebol como mostra a figura 2.3., na medida em que os jogadores devem estar permanentemente predispostos para responder com eficincia necessidade de defender e de atacar, devendo colaborar ao mximo em ambas as funes de acordo com a situao de jogo (Cervera & Malavs, 2001).

    Em concluso desta perspectiva, centramo-nos nas palavras de Valdano (2001) ao afirmar que o ataque no se esgota no atacar, porque dentro do campo, por muito longe que esteja a bola, um jogador deve perguntar-se permanentemente: que posso eu fazer pela minha equipa?

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    Figura 2.3. - Modelo Unitrio da organizao do jogo de Futebol (Cervera e Malavs, 2001)

    2.3. Anlise de Jogo Um dos pressupostos fundamentais para o sucesso do treinador

    Definimos feedback como um conceito que comporta a diferena entre o objectivo visado e a resposta efectivamente produzida (Godinho, 2002), podendo ser adquirida intrinsecamente atravs de receptores internos (msculos e articulaes) e/ou receptores externos (olhos, ouvidos) ou extrinsecamente atravs do treinador.

    Todos aceitamos que a melhoria da performance depende em grande parte da qualidade do feedback fornecido aos seus jogadores. Essa melhoria ser limitada e estar condicionada se o treinador fornecer indicaes baseado apenas numa avaliao assistemtica e subjectiva (Garcia, 2000).

    Neste sentido, evidente que um treinador dependa largamente da obteno de informao para poder tomar decises sobre o caminho a seguir na modelao da performance da sua equipa (Silva, 2006) e assim fornecer feedback preciso, correcto e eficaz aos seus atletas e sua equipa.

    Neste sentido, vrios autores (Franks & McGarry, 1996; Ortega, 1999; Garganta, 2001; Rodrigues, 2004) referem a importncia da anlise de jogo para o processo de

    A MINHA EQUIPA TEM A BOLA A MINHA EQUIPA NO TEM A

    BOLA

    ATAQUE + DEFESA DEFESA + ATAQUE

    Transio para o

    MODELO UNITRIO

    A MINHA EQUIPA PARTICIPA

    DEFESA + ATAQUE

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    treino a valorao, recolha, registo, armazenamento e tratamento dos dados a partir da observao das aces de jogo so actualmente ferramentas imprescindveis para o controlo, avaliao e reorganizao do processo de treino e competio nos jogos desportivos colectivos e cada vez mais determinantes na optimizao do rendimento dos jogadores e das equipas.

    Com a anlise de jogo possvel incrementar os conhecimentos acerca do jogo e definir a forma como podemos modificar ou potenciar determinados comportamentos ou que tipo de estratgias o treinador pode utilizar para tentar alcanar o melhor resultado possvel, melhorando assim a qualidade do rendimento individual e colectivo, atravs da modelao das situaes de treino (Calligaris, Marella & Innocenti, 1990; Garganta, 2001, 2000, 1998). A anlise de jogo nos jogos desportivos colectivos, nomeadamente o futebol, procura reduzir a imprevisibilidade e a incerteza da modalidade construindo modelos eficazes que sejam potenciadores do sucesso que todos os treinadores procuram.

    As grandes vantagens da implementao da anlise de jogo esto descritas segundo alguns autores na Tabela 2.2.

    Tabela 2.2. - Vantagens da implementao da anlise de jogo Moutinho (1991)

    Identificar e compreender os princpios estruturais do jogo, os critrios de eficcia de rendimento individual e colectivo, e a adequao dos modelos de preparao;

    Oliveira (1993) Rentabilizar o processo de treino e as competies; Aprofundar o conhecimento sobre o jogo;

    McGarry & Franks (1994)

    Analisar e inferir tendncias ou padres de jogo; Realizar uma avaliao no parcial da performance desportiva e focar a ateno

    do treinador nos indicadores chave do comportamento desportivo;

    Bacconi & Marella (1995)

    Treinador descobrir os erros tcnico-tcticos condicionantes da prestao da sua prpria equipa para tentar corrigi-los; Analisar o nvel tcnico-tctico do

    adversrio e as suas debilidades;

    Jogador observar objectivamente a prpria prestao sob as directrizes orientadoras do treinador;

    McGarry & Franks (1995)

    Obter informaes sobre o processo de treino e a partir da tomar decises;

    Cont.

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    Continuao da Tabela 2.2. ODonoghue & Ingram (1998)

    Monitorizar a evoluo dos jogadores; Direccionar a ateno do treinador para os aspectos chave;

    Sampaio (1999) Aceder ao conhecimento da organizao do jogo e aos factores que concorrem para o sucesso desportivo;

    Planificar e organizar o treino, tornando os seus contedos mais

    objectivos e especficos; Regular a aprendizagem, o treino e a competio;

    Garganta (2001) Configurar modelos de actividade dos jogadores e das equipas; Identificar os traos da actividade cuja presena ou ausncia se

    correlaciona com a eficcia de processos e a obteno de resultados positivos

    Promover o desenvolvimento de mtodos de treino que garantam uma

    maior especificidade;

    Indiciar tendncias evolutivas das diferentes modalidades desportivas;

    Caixinha (2004) Avaliao e conhecimentos das variveis estruturais e funcionais do rendimento em futebol;

    Pacheco (2005) Aprofundar conhecimentos acerca do desenvolvimento do jogo; Hughes & Churchill (2005)

    Identificar os pontos fortes e os fracos da sua prpria equipa e do

    adversrio;

    Sousa (2005) Meio de evoluo do processo de treino e das competies e de aprofundamento do conhecimento relativo do jogo;

    Areces (2008) Aumentar conhecimentos relativos ao contedo e lgica do jogo; Modelar situaes de treino pertinentes e significativas.

    A anlise de jogo tem, portanto, como funes fundamentais diagnosticar, coligir e tratar os dados recolhidos e disponibilizar informao sobre a prestao dos jogadores e das equipas, permitindo identificar as aces realizadas por aqueles e as exigncias que lhe so colocadas para as produzirem (Garganta, 1998). sobretudo uma valiosa fonte de informao que permite aos treinadores providenciarem um feedback eficaz e bastante conclusivo sobre os comportamentos individuais (atletas) e colectivos (equipa) realizados.

  • 14

    2.4. A soluo para uma anlise de jogo nos JDC, particularmente o futebol

    2.4.1. Dizer No ao Empirismo e Sistematizar

    O Futebol um jogo de opinies e, sem dvida, muitos treinadores e dirigentes basearam e continuaro a basear as suas estratgias e tcticas nas suas opinies (Silva, 2006). Logicamente que esse tipo de observaes no s pouco vlida, como tambm normalmente imprecisa (Hughes, 2005), j que os treinadores de Futebol tendem a emitir opinies subjectivas sobre os factores determinantes do resultado do jogo, fazendo com que as suas concluses variem muito (Harris & Reilly, 1988; Dufour, 1989; Ortega, 1999). Estas emisses de opinies subjectivas so extensveis a todos os observadores e aumentam com o nmero e variabilidade dos eventos de jogo (Garganta, 2001). Riera (1995) acrescenta que mesmo a experincia dos treinadores revela-se normalmente insuficiente na anlise de jogo, uma vez que as situaes e os participantes so diferentes e a dinmica da competio irrepetvel, para alm das aces a realizar pelo adversrio serem muito mais imprevisveis.

    Deste modo, a observao baseada em opinies subjectivas dos treinadores apresenta vrios problemas que se agrupam em 3 categorias:

    Destaques Comummente os treinadores conseguem relembrar os aspectos crticos do jogo, normalmente aqueles que provocam maior impacto no espectador e perdem outros acontecimentos importantes, noutras zonas do campo (Murtough & Williams, 1999). Deste modo a informao retida pode ser limitada e influenciada por apreciaes subjectivas decorrentes de uma gama muito complexa de laos afectivos e emoes (Garganta, 1998).

    Memria A memria humana limitada e torna-se praticamente impossvel recordar com exactido os acontecimentos que se produzem durante a totalidade do jogo (Garcia, 2000; Franks et al., 1983). Num estudo realizado, apenas 12 % das aces realizadas num jogo foram recordadas da forma como realmente aconteceram. Portanto, a mente dos treinadores possui deficincias na sua habilidade para reter informao e fornecer uma observao totalmente imparcial (Joyce, 2002).

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    Conhecimento da informao do jogo A qualidade do feedback fornecido aos jogadores limitada e condicionada se o treinador apresentar como base uma observao assistemtica e subjectiva (Garcia, 2000).

    De acordo com um dos grandes propsitos da anlise de jogo que consiste em diferenciar as opinies pessoais dos factos (Garganta, 2000; Carosio, 2001), faz sentido sistematizar a anlise de jogo, isto , necessrio desenvolver sistemas e mtodos de observao que possibilitem o registo de todos os factos relevantes do jogo, para que o processo de anlise tenha fidelidade e validade (Oliveira, 1993). Estes sistemas e mtodos implementados devem ser sempre implementados de acordo com os objectivos que se querem analisar.

    Assim sendo, para fazer face observao causal e subjectiva, tem-se utilizado a observao sistemtica e objectiva, a qual tem permitido recolher um nmero significativo de dados sobre o jogo atravs de sistemas computorizados, com o objectivo de identificar os elementos crticos do sucesso na prestao desportiva, traduzindo dados em informao fivel e til (Garganta, 2001; 2003).

    Na tabela 2.3. estaro apresentados os critrios que determinam uma anlise sistemtica do jogo.

    Tabela 2.3. Critrios que determinam uma anlise sistemtica do jogo (Damas & Ketele, 1985; Winkler, 1988)

    Define com clareza os objectivos da observao; Emprega processos coerentes e repetveis;

    Define (estandardiza) as condies de observao; Emprega tcnicas/mtodos apropriados e rigorosos de observao, notao e codificao;

    Desenvolve um mtodo vivel de avaliao da observao que posteriormente aplicado;

    Os resultados so apresentados recorrendo a sequncias de imagens de vdeo e a grficos (tabelas, figuras, etc.);

    Os resultados so interpretados e posteriormente analisados para referncias futuras.

    A subjectividade, lentamente, vem cedendo lugar a interpretaes fundamentadas cientificamente (Cunha, Binotto & Barros, 2001). Atravs do uso de um sistema de observao objectivo, os treinadores podem focar a sua ateno na anlise do que eles percepcionam como crtico na performance dos seus jogadores e assim planear sesses

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    de treino baseadas nestas anlises para melhor-la (Hughes, 2005). Deste modo, a passagem do uso de tcnicas empricas e muito pouco elaboradas, para o uso de mtodos e tcnicas objectivas e sistemticas, de acordo com o que o treinador pretende da anlise, permite um feedback mais correcto e menos incerto aos seus jogadores e sua equipa antes, durante e aps a competio e permite potenciar as sesses de treino de acordo com os resultados positivos e negativos da anlise de jogo.

    2.4.2. Anlise qualitativamente quantificvel

    Na anlise da performance no Futebol, constatou-se que existem muitos estudos baseados em anlises quantitativas e poucos baseados em anlises qualitativas (Tenga & Larsen, 1998). Segundo Garganta (1998; 2001), a opo tem recado sobre sistemas de observao que concedem destaque anlise descontextualizada das aces do jogador, ao produto das aces ou comportamentos, dimenso quantitativa das aces e s situaes que culminam no objectivo do jogo. Porm, segundo o mesmo autor, estes estudos no revelam a verdadeira complexidade do Futebol.

    A anlise quantitativa de forma isolada conduz por vezes a dados irrelevantes, pouco concretos e pouco conclusivos, sobre o que determina a performance no Futebol dado que, segundo Borrie, Jonsson & Magnusson (2002) a performance desportiva consiste numa srie complexa de interrelaes entre uma grande variedade de variveis. Portanto, segundo os mesmos autores, a simples frequncia de dados no capaz de capturar a totalidade da complexidade da performance.

    A soluo passa por aumentar a relevncia na anlise qualitativa, no esquecendo a anlise quantitativa, ou seja, a soluo passa por uma combinao dos dois tipos de anlise, qualitativa e quantitativa.

    Garganta (1998) partilha desta opinio, considerando que a construo de sistemas de observao deve englobar categorias integrativas cuja configurao permita passar da anlise centrada na quantidade das aces realizadas pelos jogadores, anlise centrada nas quantidades da qualidade das aces de jogo, no seu conjunto. Assim, de acordo com esta afirmao, no Futebol no suficiente conhecer a frequncia de remates baliza, se essa informao no for acompanhada de uma varivel qualitativa, como, por exemplo, a zona onde se iniciou a aco que contribuiu para esse objectivo.

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    Portanto, o uso de dados qualitativos conjuntamente com uma anlise estatstica adequada contribuir para tornar os sistemas de anlise de jogo mais relevantes para o Futebol (Hughes, 1996).

    2.5. Anlise de Jogo no Futebol

    2.5.1. Recuperao da Posse de Bola

    Segundo Garganta (1997) uma equipa tem Posse de Bola quando qualquer um dos seus jogadores respeita pelo menos uma das seguintes situaes: i) Realiza pelo menos trs contactos consecutivos com bola; ii) Executa um passe positivo (permite a manuteno da posse de bola); iii) Realiza um remate.

    Variveis associadas recuperao da posse de bola como as zonas de recuperao, o tipo de recuperao e as relaes de cooperao oposio na zona de recuperao tm sido estudadas aprofundadamente de forma a perceber que relao existe entre estas variveis e o desenvolvimento do processo ofensivo, nomeadamente as aces ofensivas com finalizao, que so o nosso objecto de estudo.

    Zona de Recuperao da Posse de Bola

    Segundo Reis (2004), a zona do terreno de jogo onde se conquista a posse de bola um dos aspectos mais importantes no momento de transio defesa ataque.

    Estudos efectuados por Ribeiro (2003) e Reis (2004) constataram que a zona central do sector defensivo e mdio-defensivo so os locais onde se verifica maior nmero de recuperaes de posse de bola. Ao encontro desta ideia converge Costa (2005), referindo que o local em que a equipa analisada adquiriu a posse de bola com maior frequncia foi o meio-campo defensivo. Esta autora acrescenta que, sempre que nos focalizamos nas sequncias terminadas com remate, verificamos que dos sectores mais ofensivos contriburam os corredores laterais (OD e OE, respectivamente), enquanto, dos mais defensivos contribui mais o central (DC e MDC). Esta afirmao tambm sustentada pelos estudos de Silva (2007) ao concluir que tanto em equipas de nvel superior como de nvel inferior, as recuperaes de bola realizadas no sector defensivo so efectuadas preferencialmente na zona central, enquanto medida que as

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    recuperaes so realizadas nos sectores mais prximas da baliza adversria, estas so efectuadas preferencialmente em zonas laterais.

    Apesar desta predominncia visvel do sector defensivo e mdio-defensivo nas recuperaes da posse de bola, alguns estudos tm revelado concluses divergentes.

    Hughes (1990) refere que a zona de recuperao da posse de bola pode influenciar a eficcia da equipa. No estudo que realizou, a probabilidade de recuperao da bola na zona ofensiva sete vezes maior que em qualquer outra zona do terreno de jogo, ou seja, o autor verificou que cada 34 posses de bola ganhas no tero ofensivo originavam 1 golo enquanto recuperando a bola no tero defensivo, necessitou-se de 235 recuperaes para fazer um golo. Bate (1988) verificou que 50 a 60% dos movimentos que conduziram a situaes de remate tiveram origem no tero ofensivo. Reep & Benjamin (1968) verificaram que 50% dos golos provm de uma recuperao de bola no sector ofensivo e 58% dos golos no meio-campo ofensivo.

    Portanto, so vrios os estudos em que encontramos esta varivel. O campograma normalmente utilizado, para a definio das zonas de recuperao da posse de bola dispe da diviso do terreno de jogo em quatro sectores e trs corredores. Os quatro sectores transversais apresentados so o Defensivo (D), o Mdio Defensivo (MD), o Mdio Ofensivo (MO) e o Ofensivo (O), dispostos de forma sequenciada nesta ordem na direco do ataque da equipa observada. A estes se sobrepem trs corredores longitudinais esquerdo (E), central (C) e direito (D), orientados num plano frontal baliza para onde a equipa observada ataca.

    Tipo de Recuperao da Posse de Bola

    Quando analisamos a recuperao da posse de bola, para alm de abordarmos um critrio de espacializao, procuramos tambm perceber que aces tctico-tcnicas caracterizam a recuperao da posse de bola.

    O tipo de recuperao da posse de bola resulta de aces tctico-tcnicas defensivas, caracterizando-se pelas tentativas de retirar a posse de bola ao adversrio.

    Garganta (1997) afirma que mais conveniente que as equipas recuperam a posse de bola atravs de situaes dinmicas que garantam a continuidade do jogo ofensivo e

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    a sua fluidez, podendo assim criar desequilbrios e surpreender o adversrio no seu processo defensivo.

    O mesmo autor refere que a intercepo (aco tctico tcnica dinmica de recuperao de bola) a forma mais vantajosa na procura da eficcia ofensiva. Vrios estudos vo ao encontro do que Garganta retrata anteriormente, como o caso dos estudos de Mendes (2002), Ribeiro (2003) e Reis (2004), em que se verifica uma constante supremacia das sequncias ofensivas com origem na recuperao de bola por aces dinmicas, com a intercepo obtendo maior predomnio, seguido das recuperaes por erro do adversrio e o desarme.

    lgico este entendimento, j que a recuperao da bola por bola parada permite ao adversrio reorganizar-se defensivamente, tornando assim mais improvvel a realizao da aco ofensiva com eficcia. Por outro lado, a recuperao da bola a partir de aces dinmicas aliada a uma aco de pressing sobre o portador da bola e zonas prximas deste, permite a passagem do processo defensivo para o ofensivo com maior fluidez, provocando portanto maior desequilbrio na zona defensiva do adversrio.

    Primeira aco aps a recuperao da posse de bola

    Identificar que aces tctico-tcnicas so mais frequentemente utilizadas na primeira aco aps a recuperao de bola, que induzem eficcia ofensiva, uma questo muito pertinente na observao de jogo. No nos devemos restringir apenas anlise quantitativa de determinadas aces tcnicas como o passe, mas tambm pensar nele de uma forma qualitativa, isto , importante por exemplo, identificar quantos passes a equipa realizou para efectuar a aco ofensiva, mas mais importante perceber, por exemplo, que caractersticas tiveram esses passes e qual o seu efeito no final da aco ofensiva.

    Por isso Garganta (1997) afirma que o passe apenas pode ser considerado um elemento importante para a anlise de jogo, mais propriamente para a anlise da tctica da fase ofensiva, quando se consideram factores que no os estritamente quantitativos. Obviamente que este autor refere o passe como apenas um exemplo, podendo tambm ser dados outros exemplos como a conduo de bola, o drible, o cruzamento, etc.

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    Alguns autores tm procurado qualificar o passe quanto sua distncia, altura, direco e sentido (Castelo, 1996; Silva, 1998; Garganta, 1997). Silva (1998) refere que as caractersticas especficas do primeiro passe entre equipas de nveis competitivos distintos no evidenciam diferenas estatisticamente significativas, sendo o tipo de passe mais utilizado para iniciar o processo ofensivo, o curto/mdio, baixo e longitudinal.

    Garganta (1997) concluiu que uma aco de jogo aparentemente simples, como um passe longo, pode induzir desequilbrio no balano ataque/defesa e provocar rupturas no sistema defensivo adversrio. Na mesma ordem de ideias, Hughes & Franks (2005) ao analisarem os jogos dos Campeonatos do Mundo de 1990 e 1994, evidenciaram a importncia do passe longo, como forma de colocar a bola rapidamente numa zona propcia de finalizao, chegando concluso que o nmero de finalizaes obtidas atravs do passe longo foi significativamente maior do que atravs do passe curto. Outros estudos como os de Mendes (2002) e Reis (2004) realaram a utilizao predominante de passes curto/mdio e dirigidos para a frente como primeira aco aps a recuperao da posse de bola.

    Deste modo, mostra-se importante perceber se o processo ofensivo iniciado atravs de passe ou conduo de bola e caracterizar cada uma destas formas quanto distncia e direco.

    2.5.2. Fase de construo do processo ofensivo

    Amplitude Ofensiva e Nmero de Variaes de Corredor

    Vales (1998) define Amplitude Ofensiva (AO) como o nmero de corredores distintos utilizados desde a recuperao da posse de bola at finalizao da aco ofensiva. O Nmero de variaes de corredor define-se como o nmero de vezes que na Aco Ofensiva a bola circula atravs de passe para um corredor diferente (Garganta, 1997).

    Segundo Castelo (2003), as variaes de corredor criam um maior espao de jogo que proporciona um nmero mais elevado de alternativas de resoluo tctico-tcnica das situaes momentneas do jogo.

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    Para Garganta (1997) a variao de corredor um indicador de eficcia ofensiva. O mesmo autor e colaboradores (2002), chegaram mesma concluso e para alm disso verificaram um maior ndice de variao nas aces ofensivas que terminaram em remate.

    Costa (2005) constatou ser possvel associar a eficcia das sequncias ofensivas variabilidade das mesmas, uma vez que na maioria das sequncias terminadas em remate a equipa observada realizou uma (40%), duas (30,7%) e trs ou mais (20,7%) variaes de corredor. De realar ainda que das aces que no apresentaram variao de corredor uma pequena parte obteve remate (8,7%), em comparao com uma maior fatia (22,5%) que culminou sem remate.

    Pensamos portanto, que de acordo com estes dados, a variao de corredor um factor causador de instabilidade na equipa defensora.

    Participao Ofensiva

    Vales (1998) define Participao Ofensiva (PO) como o nmero de jogadores distintos da equipa observada que intervm de forma directa no desenvolvimento da Aco Ofensiva. Segundo Maas (1997), esta varivel refere-se quantidade (nmero) de jogadores envolvidos na aco ofensiva.

    Deste modo, o nmero de jogadores que intervm na sequncia ofensiva , no s um indicador quantitativo, mas poder estar relacionado com uma maior variabilidade de movimentos da bola em campo e, consequentemente, a uma maior ocupao do espao de jogo na fase ofensiva do mesmo. Faria (1998) revelou um nmero de participantes directos na sequncia ofensiva entre 2 e 6. J Rodrigues (2000) verificou uma mdia inferior a quatro elementos nas aces ofensivas com finalizao.

    Costa (2005) analisou 523 sequncias ofensivas e verificou um domnio das aces ofensivas em que intervinham directamente trs jogadores (26,3%), sendo a interveno de quatro jogadores a segunda categoria mais observada (18,8%). Matos (2006) verificou de igual modo uma predominncia de 3 a 4 jogadores envolvidos nas aces ofensivas que originaram golo.

    Percebe-se pelos estudos referidos que um reduzido nmero de intervenientes parece caracterizar as aces ofensivas.

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    Elaborao Ofensiva

    Elaborao ofensiva definida como o nmero de passes entre os jogadores da equipa observada durante a realizao da aco ofensiva.

    Mombaerts (2000) concluiu que uma sequncia de passes reduzida (1-4 passes) resulta em aces ofensivas mais eficazes. Tambm Grehaigne (2001) constata a importncia deste aspecto ao concluir que as sequncias ofensivas que resultam em golo no ultrapassam em mdia os 3-4 passes. Garganta (1997) observou uma diminuio na probabilidade de sucesso na finalizao, seja qual for a zona de finalizao, quando a aco ofensiva supera os 5 passes. O mesmo autor concluiu que a realizao da aco ofensiva se caracteriza por uma sequncia curta de passes ( 5 passes).

    Estes estudos demonstram uma opo por um nmero reduzido de passes, o que implica um aproveitamento da desorganizao defensiva adversria para realizar ataques mais rpidos.

    ltima aco antes da finalizao da aco ofensiva

    A aco que antecede a finalizao define-se como uma aco tctico-tcnica que possibilita a finalizao, isto , a fase de pr-finalizao.

    Carling, Williams & Reilly (2005) referem que a maioria dos golos no Mundial 2002 foi precedida de um passe ou de um cruzamento (29% foram precedidos de passe e 29% foram precedidos de cruzamento). De referir ainda que neste estudo os golos antecedidos por uma aco individual (drible) apresentaram uma percentagem razovel (14%).

    O mesmo autor e colaboradores, comparando as aces que precederam golos no Mundial 1998 e de 2002, verificaram que os golos precedidos de passe tiveram uma percentagem maior no Mundial 1998 do que em 2002 (47% e 29% respectivamente). O mesmo aconteceu para a categoria de drible (14% em 2002 e 20% em 1998). Pelo contrrio, a percentagem de golos por cruzamento foi maior em 2002 do que em 1998 (29% contra 18%).

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    Barreira (2006) num estudo sobre a transio defesa-ataque no campeonato portugus constatou que as condutas predominantes, imediatamente anteriores a uma finalizao eficaz, so as condutas de drible, de conduo ou de passe.

    Olhando a estes estudos, as condutas mais frequentes como ltima aco antes da finalizao so condutas de risco, como o passe, cruzamento, drible ou conduo, permitindo romper com o equilbrio defensivo da equipa adversria, provocando uma desestabilizao, que aproveitada pela equipa em posse de bola para originar situaes de finalizao.

    2.5.3. Fase de finalizao do processo ofensivo

    A fase de finalizao do processo ofensivo , como o nome indica, a ltima fase da aco ofensiva que se caracteriza por uma aco de remate, sendo a fase que qualquer equipa almeja atingir, para conseguir o principal objectivo da partida de futebol: marcar golo.

    Desta forma vrios autores tm procurado perceber algumas caractersticas desta fase como as zonas predominantes de finalizao ou a forma como termina a aco.

    Zona de Finalizao

    Vrios autores (Bezerra, 1995; Costa, 2005) tm tentado perceber quais as zonas preferenciais para o sucesso das aces ofensivas.

    Lopez (2002) num estudo do Campeonato do Mundo e Liga Espanhola verificou que 60% dos golos ocorreram dentro da rea e numa zona frontal, 26% dentro da pequena rea e 10% fora da rea.

    Yiannakos & Armatas (2006) estudaram os 32 jogos do Europeu de 2004, verificando que a maior parte das sequncias ofensivas foram finalizadas na grande rea (44,1%), seguidas das finalizadas dentro da pequena rea (32,2%) e, por fim, fora da grande rea (20,4%). Matos (2006) obteve as mesmas concluses para as aces que terminaram em golo.

    Mais recentemente, Silva (2007) constatou uma diminuio da percentagem de aces medida que nos aproximamos da baliza, tanto em equipas de nvel inferior como de nvel superior, isto , verificou-se que as aces so finalizadas

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    preferencialmente fora da rea, num menor nmero dentro da grande rea e por ltimo dentro da pequena rea.

    2.5.4. O Mtodo de Jogo Ofensivo

    Os Mtodos de Jogo (MJ) compreendem um conjunto coordenado de princpios de dispositivos e de aces tcnicas individuais, que tm por objectivo a organizao racional do ataque e da defesa, a passagem rpida da situao defensiva situao ofensiva e vice-versa (Garganta, 1997). Segundo o mesmo autor os MJ representam a forma geral das aces de jogo e expressam-se atravs do modo como os jogadores/equipa: i) ocupam o terreno de jogo e nele se movimentam; ii) gerem o tempo de jogo, impondo o ritmo ou adaptando-se ao adversrio; e iii) coordenam as tarefas nas aces individuais, de grupo e colectivas.

    De acordo com Teodorescu (1984), Claudino (1993), Luhtanen (1993), Castelo (1994) e Garganta (1997), os Mtodos de Jogo Ofensivos (MJO) confinam a forma geral de organizao das aces dos jogadores no ataque, estabelecendo um conjunto de princpios (subjacentes ao modelo de jogo), que visam a racionalizao do processo ofensivo, desde a recuperao da posse de bola at progresso/finalizao e/ou manuteno da posse de bola. Segundo Castelo (2004) os pressupostos fundamentais de qualquer MJO so: i) o equilbrio ofensivo; ii) a velocidade de transio das atitudes e comportamentos tctico-tcnicos individuais e colectivos da fase defensiva para a fase ofensiva, assim como do centro do jogo (da zona de recuperao da posse de bola at zonas predominantes de finalizao); iii) o relanamento do processo ofensivo; iv) os deslocamentos ofensivos em largura e profundidade; e v) a circulao tctica.

    Nesta reviso abordaremos apenas os trs principais MJO: Contra-ataque, Ataque Rpido e Ataque Posicional. Embora alguns autores identifiquem algumas combinaes entre estes MJO, abordaremos apenas estes porque so os mais pertinentes de acordo com o nosso objectivo de estudo.

    Para Ramos in Garganta (1997), o Contra-Ataque caracterizado por uma aco tctica, em que uma equipa logo aps ter conquistado a posse de bola, procura chegar o mais rapidamente possvel baliza adversria, sem que o oponente tenha tempo para se organizar defensivamente. Segundo Garganta (1997) o Contra-Ataque (CA) apresenta as seguintes caractersticas: i) a bola conquistada no meio-campo defensivo e a equipa

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    adversria apresenta-se avanada no terreno de jogo e desequilibrada defensivamente; ii) utilizam-se sobretudo passes longos para a frente, a circulao de bola realizada mais em profundidade do que em largura, com desmarcaes de ruptura; iii) o nmero de passes no dever ser superior a cinco; iv) rpida transio da zona de conquista da posse de bola para a zona de finalizao, com tempo de realizao do ataque inferior a 12 segundos; e v) ritmo de jogo elevado (elevada velocidade de circulao da bola e dos jogadores).

    A utilizao deste MJO por parte das equipas evidencia aspectos favorveis e desfavorveis. Segundo Garganta (1997) e Castelo (2004), os aspectos favorveis pretendem: i) criar instabilidade na equipa adversria, provocada pela rpida transio defesa-ataque; ii) criar alto grau de insegurana nos jogadores adversrios; iii) provocar um elevado desgaste tctico-tcnico, fsico e principalmente psicolgico na equipa adversria; iv) aumentar as dificuldades de marcao, dado que a maioria dos deslocamentos ofensivos so feitos de trs para a frente da linha da bola; v) potenciar a capacidade criativa e de iniciativa dos jogadores; iv) diminuir a possibilidade de sofrer um CA da equipa adversria e; v) aproveitar jogadores velozes e criativos. Quanto aos aspectos desfavorveis, Castelo (2004) considera que: i) devido velocidade do CA, h possibilidade de se perder rapidamente a posse de bola; ii) este MJO baseia-se fundamentalmente nas situaes 1x1, 1x2 e 2x2; iii) a organizao ofensiva torna-se menos coesa e permevel por no existir cobertura mtua entre os vrios jogadores; iv) existe um rpido desgaste fsico e psicolgico sobre os jogadores que tm como funo a construo do CA e; v) a necessidade de jogadores com grande esprito de sacrifcio e entreajuda.

    Relativamente ao Ataque rpido, Garganta (1997) e Castelo (2004) sustentam que este MJO apresenta as caractersticas fundamentais que foram referidas para o Contra-ataque (CA). A diferena reside na organizao defensiva adversria, que no CA apresenta-se desequilibrada defensivamente, enquanto no Ataque Rpido (AR), j se encontra organizada defensivamente no seu mtodo defensivo. Para Castelo (2004) o AR geralmente o MJO mais utilizado, o que evidencia claramente a tentativa constante e permanente de transportar o centro do jogo para espaos prximos da baliza.

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    Segundo Garganta (1997), o AR apresenta as seguintes caractersticas: i) a bola conquistada no meio-campo defensivo ou ofensivo com a equipa adversria equilibrada defensivamente; ii) a circulao de bola acontece em largura e em profundidade com passes rpidos, curtos e longos alternados e as desmarcaes so preferencialmente de ruptura; iii) o ritmo de jogo elevado (elevada circulao de bola e dos jogadores); iv) o nmero mximo de passes realizados sete; v) o tempo de realizao de ataque no ultrapassa em regra os 18 segundos e; vi) interveno directa mxima de seis jogadores sobre a bola. As vantagens e desvantagens deste MJO so fundamentalmente as mesmas do CA (Castelo, 2004).

    Segundo Garganta (1997), o Ataque Posicional (AP) pressupe uma elevada elaborao da fase de construo do processo ofensivo. As equipas que utilizam este mtodo jogam sempre num bloco compacto, com aces de cobertura ofensiva constantes, especialmente os jogadores que intervm directamente sobre a bola (Castelo, 1996).

    O AP apresenta as seguintes caractersticas: i) A bola conquistada no meio-campo defensivo ou ofensivo com a equipa adversria equilibrada defensivamente; ii) A circulao de bola acontece mais em largura do que em profundidade; iii) Nmero de passes superior a 7; iv) Tempo elevado de realizao do ataque (superior a 18); v) Ritmo de jogo lento em relao aos MJO anteriores (menor velocidade de circulao de bola e dos jogadores; vi) Nmero elevado de jogadores que intervm directamente sobre a bola (superior a 6).

    Analisando alguns estudos, verificmos:

    - Low et al. (2002) numa observao de quarenta jogos do Campeonato do Mundo de 2002 na Coreia/Japo, refere que a capacidade para manter a posse de bola e simultaneamente progredir com esta no terreno de jogo um forte indicador de uma performance de nvel superior.

    - Na mesma lgica, Garganta (1997) refere que as equipas mais bem sucedidas apostam mais frequentemente num estilo de jogo indirecto, com um nmero superior de passes, com mais jogadores intervindo directamente na bola e com um tempo de realizao do ataque mais elevado, recorrendo ao ataque posicional.

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    - Grehaigne (2001) considerou que as situaes de ataque rpido so as que maior perigo apresentam s equipas adversrias.

    2.5.5. O Centro do Jogo

    Define-se Centro do Jogo (CJ) como a zona onde a bola se movimenta num determinado instante (Castelo, 1996), isto , atravs do contexto de cooperao e de oposio dos jogadores influentes no jogo na zona do campograma onde se encontra o portador da bola.

    Portanto, a definio de CJ tem por base o nmero, a zona e a possvel participao dos jogadores da equipa observada e o nmero, a zona e a possvel participao dos jogadores adversrios na zona do campograma em que se encontra o portador da bola.

    No contexto da varivel CJ, distinguem-se duas categorias de observao divididas em seis subcategorias:

    1) Presso (P) Subcategorias Inferioridade Relativa (IFr), Inferioridade Absoluta (IFa) e Igualdade Pressionada (IGPr).

    2) Sem Presso (SP) Subcategorias Superioridade Relativa (SPr), Superioridade Absoluta (SPa) e Igualdade No Pressionada (IGNPr).

    Logo, achamos pertinente a anlise do centro de jogo no ltimo contacto do adversrio, na zona de recuperao e na zona de finalizao para percebermos que tendncia assume esta varivel no momento de Transio Defesa-Ataque e na Fase de finalizao do processo ofensivo para as aces ofensivas com finalizao.

    Analisando alguns estudos, verificmos num estudo de Barreira (2006) sobre a transio defesa-ataque no futebol portugus, que so as situaes de superioridade relativa e inferioridade relativa as mais frequentes nas zonas prximas da bola, revelando uma constante preocupao das equipas em procurar situaes de superioridade numrica na zona da bola tanto no processo defensivo como ofensivo. Por outro lado, o mesmo estudo revelou uma percentagem muito reduzida de situaes de Inferioridade ou Superioridade absoluta, constando apenas o registo destas situaes em 13 dos 5400 eventos registados.

  • 28

    Silva (2007) constatou que em zonas de finalizao existia desvantagem numrica dos atacantes em relao aos defensores. Os valores mdios desta diferena situavam-se entre 1,45 para equipas de nvel superior e 1,46 jogadores para equipas de nvel inferior, demonstrando-se assim situaes de inferioridade relativa para a equipa observada.

    Matos (2006) verificou que nos 274 golos analisados, na zona de finalizao, 76,3% ocorreram em inferioridade numrica do ataque perante a defesa, 17,9% em igualdade entre as mesmas e s 5,8% ocorreram em superioridade do ataque sobre a defesa.

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    CAPTULO III METODOLOGIA

    3.1. Amostra

    3.1.1. Caracterizao da Amostra

    O presente estudo apresenta uma amostra constituda por 297 Aces Ofensivas com Finalizao resultantes de jogo dinmico, referentes aos jogos da Fase Final do Europeu de 2008 de Futebol no escalo snior, que decorreu na Sua e na ustria.

    3.1.2. Critrios de Definio da Amostra

    Critrio 1 Tipo de Competio

    A observao de competies entre seleces, nomeadamente eventos como um Campeonato do Mundo ou da Europa, um hbito frequente neste tipo de investigao como mostra a nossa reviso de literatura. Tal escolha fundamentada no facto de serem provas onde o nvel competitivo bastante elevado, com seleces de alto nvel que levam a estes eventos os melhores atletas dos seus pases. Outro fundamento reside no facto de haver uma fase qualificao anterior fase final destas competies que de certo modo filtra as melhores seleces, pelo que decidimos utilizar os jogos do Campeonato da Europa realizados no ano de 2008 na Sua e na ustria.

    Critrio 2 Sucesso das equipas na competio

    Dentro do elevado nvel de rendimento que caracteriza esta competio, foi nossa inteno diferenciar seleces que obtiveram sucesso na competio, de seleces que o no obtiveram.

    Para diferenciar equipas de sucesso das equipas de insucesso, utilizamos como critrio a classificao das equipas na fase final. Considermos como equipas de sucesso todas aquelas que atingiram as meias-finais da competio (Espanha, Alemanha, Turquia e Rssia) e equipas de insucesso as que no ultrapassaram a fase de grupos (Repblica Checa, Sua, ustria, Polnia, Romnia, Frana, Sucia e Grcia). Existiu ainda um conjunto de seleces que obtiveram um nvel intermdio, superando a fase de grupos mas sendo eliminadas nos quartos-de-final (Portugal, Holanda, Itlia e

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    Crocia), equipas estas que foram excludas da amostra, para estabelecermos uma distino mais marcada entre os diferentes tipos de equipas.

    Realizaram-se assim 22 (vinte e duas) observaes referentes aos jogos de 4 (quatro) seleces denominadas de equipas de sucesso e 23 (vinte e trs) observaes correspondentes aos jogos de 8 (oito) seleces denominadas de equipas de insucesso, sendo ainda excludas 16 (dezasseis) observaes de jogos de 4 (quatro) seleces denominadas de nvel competitivo intermdio (ANEXO A).

    Critrio 3 Tipo de Aces Analisadas

    Para a nossa investigao optmos por analisar um conjunto de aces denominadas Aces Ofensivas com Finalizao resultantes de jogo dinmico (AOCF). Considermos pertinente esta opo para percebermos de que forma evolui o momento de Transio Defesa Ataque e o Processo Ofensivo nas suas diferentes fases (fase de construo e de finalizao) de forma a obter uma aco com finalizao e, alm disso, procurar perceber que perfis desenvolvem as equipas de sucesso e de insucesso nestas aces de finalizao e o que as distingue umas das outras.

    Definimos ento como Aces Ofensivas com Finalizao resultantes de jogo dinmico todas as aces que finalizem com:

    1) Golo; 2) Defesa do guarda-redes; 3) Intercepo de um jogador da equipa que defende, que constitui-se como

    ltimo obstculo mvel a transpor, substituindo posicionalmente o guarda-redes da sua equipa;

    4) Todas as aces em que aps uma aco de remate intencional, a bola sai pela linha final da equipa defensora. (Garganta, 1997)

    Foi tambm necessrio excluir algumas aces que culminaram em finalizao, em que no se efectuou qualquer tipo de anlise ou recolha de dados, tais como:

    1) Todas as Aces ofensivas, que segundo o rbitro da partida transgrediram as leis de jogo;

    2) Todas as aces de grande penalidade, pontap livre e lanamento linha lateral no sector ofensivo, e pontap de canto;

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    3) Todas as Aces de pontap livre e lanamento linha lateral no sector mdio-ofensivo em que no se verifique uma elaborao da Aco Ofensiva;

    4) Todas as Aces ofensivas decorridas em tempo de prolongamento, ou seja, em partes de jogos posteriores ao tempo regulamentar;

    5) Todas as Aces Ofensivas ocorridas com uma das equipas em desvantagem numrica quanto ao nmero de jogadores (Ex: 11x10;10x9);

    Respeitando estes critrios foram identificadas 297 AOCF, de 31 jogos realizados durante a Fase Final do Campeonato da Europa de 2008 realizado na ustria e na Sua. Posteriormente estas aces foram analisadas para a recolha de dados das variveis em estudo.

    3.2. Definio do sistema de categorias

    O presente estudo coloca-nos perante uma grande diversidade de situaes que necessitam de uma observao sistemtica, especfica e contnua. Sendo assim optmos pela elaborao de um instrumento ad hoc, pois permite um duplo ajuste, ou seja, reside na construo de um sistema de categorias que respondem em simultneo a um marco terico e realidade do estudo em questo (Mendo, Villena, Garca, Orozco & Roldn 2000). A razo fundamental para esta deciso foi o facto de na Metodologia Observacional a elaborao de um instrumento ad hoc ser um dos requisitos bsicos exigidos (Mendo et al., 2000). Portanto, procede-se construo de um instrumento prprio que vai ao encontro de todos os aspectos metodolgicos exigidos pelo problema e pelos objectivos propostos, apresentando sempre como referncia alguns trabalhos elaborados anteriormente.

    Para a elaborao deste trabalho utilizmos como principal referncia os estudos de Vales (1998) e Garganta (1997) pela forma clara como apresentam a metodologia conseguindo assim fornecer informao muito pertinente sobre alguns aspectos relevantes para o nosso trabalho. A partir deste trabalho obteve-se uma base rica e sustentada para iniciar o processo de construo do instrumento ad hoc pretendido.

    Neste sentido elaboramos uma combinao entre os dois instrumentos bsicos da Metodologia Observacional: o Formato de Campo e o Sistema de Categorias.

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    3.2.1. Formato de Campo

    O Formato de Campo a espacializao do terreno de jogo em vrias zonas com a mesma dimenso. Para este estudo utilizmos o Campograma (ou Formato de Campo) de Espacializao do terreno de jogo em doze zonas / categorias (Figura 3.1.) formado a partir de uma diviso longitudinal em trs corredores (lateral direito, lateral esquerdo e central) e a partir de uma diviso transversal em 4 sectores (defensivo; mdio-defensivo; mdio-ofensivo; ofensivo) definidos por Garganta (1997).

    Figura 3.1. Formato de Campo definido por Garganta (1997)

    Apresentado o Formato de Campo de suporte ao nosso estudo procedemos em seguida codificao de cada uma das zonas, corredores e sectores como mostra a tabela seguinte.

    Tabela 3.1. - Tabela de Denominao, Codificao e Descrio de Zonas, Corredores e Sectores Denominao Cdigo Descrio

    Zona 1 1 Zona correspondente ao corredor lateral esquerdo do sector defensivo. Zona 2 2 Zona correspondente ao corredor central do sector defensivo. Zona 3 3 Zona correspondente ao corredor lateral direito do sector defensivo. Zona 4 4 Zona correspondente ao corredor lateral esquerdo do sector

    mdio-defensivo.

    Zona 5 5 Zona correspondente ao corredor central do sector mdio-defensivo. Zona 6 6 Zona correspondente ao corredor lateral direito do sector mdio-defensivo. Zona 7 7 Zona correspondente ao corredor lateral esquerdo do sector

    mdio-ofensivo.

    Zona 8 8 Zona correspondente ao corredor central do sector mdio-ofensivo.

    Zona 9 9 Zona correspondente ao corredor lateral direito do sector mdio-ofensivo.

    Cont.

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    Continuao da Tabela 3.1.

    Zona 10 10 Zona correspondente ao corredor lateral esquerdo do sector ofensivo.

    Zona 11 11 Zona correspondente ao corredor central do sector ofensivo. Zona 12 12 Zona correspondente ao corredor lateral direito do sector

    ofensivo. Corredor Lateral

    Esquerdo CLE Corredor que engloba as zonas 1, 4