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 DANIEL SIGULEM Um Novo Paradi gm a de Aprendizado na Prática Médica da UNIFESP/EPM Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para concurso de Livre- Docência do Centro de Informática em Saúde – CIS-EPM. SÃO PAULO 1997 

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  • DANIEL SIGULEM

    Um Novo Paradigma de Aprendizado na Prtica Mdica da UNIFESP/EPM

    Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina, para concurso de Livre- Docncia do Centro de Informtica em Sade CIS-EPM.

    SO PAULO

    1997

  • SIGULEM, Daniel. Um Novo Paradigma de Aprendizado na

    Prtica Mdica da UNIFESP/EPM. So Paulo, 1997. 177p./

    Tese (LivreDocncia) Universidade Federal de So

    Paulo Escola Paulista de Medicina/.

    Descritores: Informtica em Sade/ Informtica Mdica/

    Universidade Virtual/ Tecnologias Educacionais/ Ensino

    Distncia/ Telecomunicao e Ensino/

  • Aos meus filhos, Fernando e Luiza.

  • Monica.

  • AGRADECIMENTOS

    aos Profs. Drs. Oswaldo Luiz Ramos e Horcio Ajzen, o suporte formao do primeiro grupo de informtica mdica da EPM;

    aos Profs. Drs. Magid Yunes, Antonio Cechelli de Mattos Paiva e Moacyr de Pdua Vilela, em cuja gesto nasceu a concepo da informtica em sade e do CIS-EPM;

    aos Profs. Drs. Nader Wafae, Fernando Jos de Nbrega, Sras. Silvia Cristina Borragini Abuchaim e Maria Conceio Veneziana Kozma, em cuja gesto se deu a implantao do CIS-EPM;

    aos Profs. Drs. Manuel Lopes dos Santos, Eduardo Katchburian e Hlio Egydio Nogueira, em cuja gesto o CIS-EPM cresceu e ganhou espao na comunidade;

    aos Profs. Drs. Hlio Egydio Nogueira, Regina Celes de Rosa Stella e Stephan Geocze, na gesto atual, onde o processo de consolidao aconteceu graas ao seu intenso apoio e incentivo.

    aos Profs. Drs. Jos Roberto Ferraro, Jos Osmar de Abreu Pestana e Mrio Silva Monteiro, atual diretoria do Hospital So Paulo, que tem apoiado e estimulado o desenvolvimento do projeto do Sistema Clnico de Informao Hospitalar do HSP;

    aos Profs. Drs. Nestor Schor, Srgio Draibe, Aparecido B. Pereira, Srgio R. Stella, Odair Marson, Oswaldo Kohlmam e Ricardo Sesso, Jos Osmar de Abreu Pestana, que sempre me estimularam na disciplina de Nefrologia e me apoiaram fora dela;

    ao Prof. Dr. Antonio Cechelli de Mattos Paiva, um dos pioneiros na introduo do microcomputador na instituio, idealizador da poltica de informtica em sade da EPM, ex-presidente da Comisso de Informtica e um dos alicerces da implantao da rede universitria da EPM;

    aos membros da comunidade da UNIFESP que tiveram participao direta na definio da poltica da informtica na instituio atravs da participao das diferentes Comisses de Informtica;

  • ao Departamento de Pediatria pelo apoio e pela confiana depositada, ao implantar o modelo de validao do paradigma de mudana do ensino no Ambulatrio Geral de Pediatria. Em especial, aos Profs. Drs. Rosana F. Puccini, Rudolf Wechsler e Dr. Carlos R. Serachi;

    aos Profs. Drs. visitantes Eduardo O. C. Chaves, Armando Freitas da Rocha, Fbio Gandour, Ricardo Machado, Hlio Menezes Silva, Pedro Srgio Nicolletti e Ernest Czogala que contriburam atravs de suas idias e do seu trabalho, e deixaram importantes marcas nas minhas linhas de pesquisa;

    ao Sr. Luiz Tadeu Jorge, diretor do Departamento de Processamento de Dados, que tem me apoiado na presidncia da Comisso de Informtica e dividido comigo os encargos do dia a dia da informtica na UNIFESP-EPM;

    ao amigo Dr. Reginaldo de Holanda Albuquerque, ex-superintendente da Coordenadoria da Cincia e da Vida do CNPq, catalizador da implantao da Informtica em Sade no pas, mente visionria, cujas concepes de futuro procuramos atingir;

    ao Prof. Dr. Meide da Silva Ano que desde o incio sempre dividiu comigo as responsabilidades do CIS-EPM;

    ao Prof. Dr. Samuel Goihman, mente brilhante e parceiro de vrios projetos;

    Prof. Monica Parente Ramos, serena, perspicaz, e a efetiva coordenadora do CIS-EPM;

    Prof. Dra. Beatriz de Faria Leo, inteligente e polmica pesquisadora;

    Sra. Nilce Manfredi, analista de sistemas, membro da primeira coordenadoria do CIS-EPM, responsvel pela rea de formao de recursos humanos at os dias de hoje, amiga e colaboradora incansvel;

    s Sras. Cludia Galindo Novoa Barsottini, Edda Maria Parente La Selva, Maria Elisa Rangel Braga e Miriam Costa, que tiveram uma participao direta muito especial na elaborao final deste trabalho;

    a toda equipe do CIS-EPM a quem se deve a construo deste novo paradigma de ensino na UNIFESP/EPM. As suas aes sempre se caracterizaram por imaginao, trabalho e criao. O seu entusiasmo sempre me motivou e estimulou;

    s Agncias de Fomento Pesquisa: FINEP, CNPq e FAPESP;

  • Organizao Mundial da Sade, Ministrio da Sade, Ministrio da Educao e do Desporto, Secretaria Estadual de Sade de So Paulo, Secretaria Municipal da Sade de So Paulo, Conselho Regional de Medicina de So Paulo, Conselho Regional de Enfermagem de So Paulo, Associao Paulista de Medicina, Instituto Paulista de Pesquisas e Estudos em Nefrologia e Hipertenso;

    s empresas, IBM do Brasil, ABC Bull, Itautec-Phlico, Dixtal, Editora Artes Mdicas.

    a todos aqueles que, direta ou indiretamente, me apoiaram e contriburam para a implantao da Informtica em Sade na UNIFESP/EPM, o meu muito obrigado.

  • SUMRIO

    RESUMO......................................................................................................................... 12

    INTRODUO ................................................................................................................ 16

    1.1. O SONHO ............................................................................................................... 17 1.2. HISTRICO............................................................................................................. 20

    1.2.1 O impacto da microinformtica...................................................................... 21 1.2.2 O computador encontra a medicina .............................................................. 22

    1.3. INFORMTICA MDICA COMO CINCIA....................................................................... 28 1.3.1 Os Principais Desafios .................................................................................. 30

    1.3.1.1 Organizao e gerenciamento da informao em sade ....................................30 1.3.1.2 O profissional da sade ..................................................................................31

    1.3.1.1.1.1Os profissionais da sade do sculo XXI..............................................33 1.3.1.2 O administrador ..............................................................................................37 1.3.1.2 O paciente ......................................................................................................40

    1.3.1.2 Repensando a educao e o ensino ...................................................................42

    OBJETIVO ...................................................................................................................... 49

    MTODOS E INSTRUMENTOS..................................................................................... 53

    3.1 IMPLANTAO DO CENTRO DE INFORMTICA EM SADE............................................. 56 3.1.1 Organizao dos recursos humanos do CIS-EPM........................................ 56 3.1.2 Formao de Recursos Humanos na Comunidade ...................................... 57

    3.1.2.1 A informtica no currculo do curso mdico.........................................................58 3.1.2.2 A informtica no currculo do curso biomdico....................................................62 3.1.2.3 Outros cursos ......................................................................................................66

    3.1.3 Linhas de Pesquisa ....................................................................................... 68 3.1.3.1 Desenvolvimento de aplicativos e sistemas ........................................................68

    3.1.3.1.1 Projetos e Programas Educacionais............................................................69 3.1.3.1.2 Sistemas de Coleta e Anlise de Informaes em Sade ...........................80 3.1.2.1 Sistemas de Apoio Deciso.........................................................................98

    3.1.4 Equipe de rede ............................................................................................ 112 3.1 PROJETO PILOTO ................................................................................................... 115

    3.2.1 Escolha do local .......................................................................................... 116 3.2.2 Infra-estrutura .............................................................................................. 116 3.2.3 Escolha das ferramentas............................................................................. 117 3.2.4 Treinamento................................................................................................. 119 3.1.1 Avaliao ..................................................................................................... 120

    RESULTADOS.............................................................................................................. 122

  • 4.1 RESULTADOS DIRETOS .......................................................................................... 123 4.1.1 Organizao dos recursos humanos dos CIS-EPM.................................... 123 4.1.2 Formao de recursos humanos na comunidade....................................... 124

    4.1.2.1 Palestras ...........................................................................................................124 4.1.2.2 Cursos de informtica........................................................................................125 4.1.2.3 Utilizao dos laboratrios de informtica .........................................................125 4.1.2.5 Servio de help desk. ........................................................................................126

    4.1.3 Desenvolvimento de aplicativos e sistemas................................................ 127 4.1.3.1 Programas educacionais ...................................................................................127 4.1.3.2 Desenvol. de Sistemas de Coleta e Anlise de Informaes em Sade: ..........134 4.1.3.3 Desenvolvimento de Sistemas de apoio deciso: ..........................................139

    4.1.4 A Rede Acadmica da UNIFESP/EPM ....................................................... 141 4.1.5 Resultados do Projeto Piloto ....................................................................... 143

    4.2 RESULTADOS INDIRETOS ....................................................................................... 146

    DISCUSSO ................................................................................................................. 148

    CONCLUSES ............................................................................................................. 167

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 172

    GLOSSRIO................................................................................................................. 199

    ANEXO A ...................................................................................................................... 219

    ANEXO B ...................................................................................................................... 225

    ANEXO C ...................................................................................................................... 229

    ANEXO D ...................................................................................................................... 237

    APNDICE A ................................................................................................................ 309

    APNDICE B ................................................................................................................ 317

    APNDICE C ................................................................................................................ 321

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Objetivos da informtica mdica para os mdicos do futuro, 33

    Quadro 2 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade, em 1990, no Curso Biomdico, 63

    Quadro 3 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade I e II, em 1992, no Curso Biomdico, 64

    Quadro 4 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade I e II, de 1995 a 1997, no Curso Biomdico, 65

    Quadro 5 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade em cursos de especializao e ps-graduao, 67

    Quadro 6 Primeira fase de treinamento oferecido aos professores do Ambulatrio Geral de Pediatria, 151

    Quadro 7 Segunda fase de treinamento oferecido aos professores do Ambulatrio Geral de Pediatria. 151

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Programa Educacional em Glomerulonefrites

    Figura 2 Programa Educacional em Oftalmologia

    Figura 3 Programa Educacional em Dermatologia

    Figura 4 Programa Educacional em Aleitamento Materno

    Figura 5 Programa Educacional em Gentica na Internet

    Figura 6 Programa Educacional em Biologia Molecular na Internet

    Figura 7 Programa Educacional em Hipertenso

    Figura 8 Universidade Virtual

    Figura 9 Clinic Manager

    Figura 10 Clinic Manager

    Figura 11 Programa SIPAC-RIM

    Figura 12 Sistema Clnico de Informaes Hospitalares SCIH.

    Figura 13 Sistema Geriatria (Gerosystem

    Figura 14 Sistema de Apoio Deciso em Nutrio

    Figura 15 Sistema de Apoio Deciso em Litase

    Figura 16 Esquema do Backbone FDDI da UNIFESP/EPM.

    Figura 17 Home-page da Universidade Federal de So Paulo

    Figura 18 Planta atual do Ambulatrio Geral de Pediatria

  • Resumo

    Introduo:

    Diante da exploso de informaes na nossa sociedade e da sua

    transio do modelo industrial para o do mundo ps-industrial, os paradigmas

    clssicos de ensino, caracterizados por rgidos currculos cristalizados,

    deixaram de ser adequados. A sociedade da informao determina que a

    medicina moderna seja orientada pela qualidade, o que implica no

    gerenciamento racional da informao em sade.

    O emprego das modernas tecnologias de teleinformtica facilitam

    o acesso informao, onde e quando necessria, auxiliando a trazer o mdico

    para mais perto do paciente. Assim, a mudana do paradigma educacional

    dentro de uma estrutura consolidada e tradicional, como a UNIFESP/EPM,

    torna-se necessria diante dos novos recursos didticos e das recentes

    tecnologias de informao. indispensvel formar o aluno de hoje na utilizao

    adequada das ferramentas de informtica, para capacit-lo a exercer a sua

    profisso em um ambiente de alta demanda e competitividade.

    Objetivos:

    Este trabalho tem por objetivo detalhar o processo evolutivo de

    instaurao de um novo paradigma de aprendizado na UNIFESP/EPM. Este

    dever habilitar seus alunos para o exerccio profissional no ambiente da nova

    sociedade da informao. Com esse novo paradigma de ensino/aprendizado no

    atendimento do paciente em ambiente rico em recursos computacionais,

  • esperamos que nossos alunos sejam capazes de tomar decises de forma

    segura; de realizar, com o corpo docente uma intensa interatividade, de modo

    que o seu ambiente de aprendizado extrapole a dimenso do espao fsico; de

    preparar-se para o exerccio profissional no sculo XXI. Com relao ao corpo

    docente, esperamos que participe efetivamente do processo de

    intercomunicao e disponibilize seu conhecimento e experincia no

    desenvolvimento de novas metodologias educacionais.

    Mtodos:

    O processo de mudana do paradigma educacional foi

    implementado atravs de:

    a) criao do Centro de Informtica em Sade CIS-EPM, suas

    linhas de pesquisa em implantao de infra-estrutura de rede,

    em sistemas de informao em sade, em sistemas de apoio

    deciso, em aplicativos educacionais, em metodologia de

    educao continuada atravs da Internet para a gerao de

    ferramentas e a sua disseminao entre a comunidade,

    associada a uma intensa atividade de treinamento, para criar a

    cultura de informtica nessa comunidade, estabelecendo assim

    as condies adequadas para a implementao da nossa

    proposta.

    b) a implantao de um projeto piloto de integrao de

    aprendizado e assistncia em ambiente rico de recursos

    computacionais no Ambulatrio Geral de Pediatria da

    UNIFESP/EPM, que objetiva validar o novo paradigma

    pretendido.

  • Resultados:

    Ao longo dos ltimos dez anos, atravs da implantao seqencial

    e crescente de infra-estrutura fsica, de comunicao e de conhecimento,

    acreditamos ter disseminado a cultura de informtica na comunidade da

    UNIFESP/EPM e, portanto, desenvolvido um ambiente de intercomunicao na

    comunidade docente, discente e de funcionrios, a Intranet, e entre esta

    comunidade e o mundo, a Internet. No total, treinamos 4.448 membros da

    comunidade, de junho de 1988 at junho de 1997. Um total de 8.109 pessoas

    utilizaram os nossos laboratrios multimdia. Ao todo, permaneceram 12.721

    horas diante dos computadores, para a realizao de trabalhos acadmicos e

    atividades de pesquisas. Ministramos a disciplina de Informtica em Sade a

    2.292 estudantes matriculados nos cursos de graduao, especializao e ps-

    graduao. Desenvolvemos e implantamos sistemas de apoio deciso,

    aplicativos educacionais para o estudante e orientao ao paciente, aplicativos

    baseados na Internet, sistemas de gerenciamento de informao em sade e

    sistemas de educao a distncia atravs da Internet.

    Formamos e capacitamos, em Tecnologia de Informtica em

    Sade, os recursos humanos envolvidos nas linhas de pesquisa e

    desenvolvimento.

    Implantamos o projeto piloto de integrao de aprendizado e

    assistncia em ambiente rico de recursos computacionais no Ambulatrio Geral

    de Pediatria da UNIFESP/EPM, no qual se objetiva validar o novo paradigma

    pretendido.

    Concluses:

  • Podemos concluir que disseminamos a cultura de informtica na

    comunidade da UNIFESP/EPM, atravs da implantao seqencial e crescente

    de infra-estrutura fsica, de comunicao e de conhecimento Desenvolvemos

    um ambiente de intensa intercomunicao na comunidade docente, discente e

    de funcionrios, a Intranet, e entre esta comunidade e o mundo, a Internet

    necessrios para a implantao no novo paradigma de aprendizado proposto.

    Dominamos as tcnicas de desenvolvimento de software,

    experincia hoje, que nos habilita para o acompanhamento dos

    desenvolvimentos futuros.

    O projeto piloto de aprendizado e assistncia implantado no

    ambulatrio de pediatria inicia nosso processo de validao desse trabalho.

    Todo esse processo implica no repensar da educao, para que o

    processo de ensino/aprendizado se mova do modelo fechado entre as quatro

    paredes de uma sala de aula para o do conhecimento compartilhado em

    ambiente aberto e de alta tecnologia de informao.

  • 1

    INTRODUO

  • 1.1. O sonho

    Pelo menos durante os ltimos trezentos anos, a luta poltica fundamental em todas as naes industrializadas tem sido em torno da distribuio da

    riqueza: quem fica com o qu? () Seja qual for a distncia que separa os ricos dos pobres, um abismo ainda maior separa os armados dos desarmados e os ignorantes

    dos instrudos. Hoje, nas naes ricas em rpida mutao, apesar de todas as iniqidades de renda e riqueza, a futura luta pelo poder ir se transformar, cada vez mais, numa luta pela distribuio e pelo acesso ao conhecimento. por isso que, a

    menos que compreendamos como e para quem flui o conhecimento, no poderemos nos proteger contra o abuso de poder, criar a sociedade melhor, mais democrtica, que as tecnologias do amanh prometem. O controle do conhecimento o ponto crucial da

    futura luta de mbito mundial pelo poder em todas as instituies humanas. Alvin Toffler

    No ambiente tranqilo, soa ao fundo uma bela msica. Um suave

    piscar no canto da tela plana do meu computador avisa que um paciente est

    conectando meu sistema unificado de informaes.

    Atravs da identificao antropomtrica da imagem da face

    transmitida, so automaticamente localizados, no banco de dados de pacientes,

    todas as informaes da histria clnica de Carmen Costa. H meses que eu

    no via a paciente apesar de ter recebido, do servio de atendimento domiciliar,

    vrios relatrios sobre a sua sade, via Internet.

  • Dona Carmen aproximou seu relgio de pulso do leitor de ondas

    curtas e, assim, apareceram no canto direito da tela seus sinais biolgicos

    bsicos, como freqncia cardaca (FC), presso arterial (PA), seu

    eletrocardiograma (ECG) cuidadosamente analisado pelo sistema bsico de

    entrada e sada de sinais vitais e tambm informaes sobre sua

    hemoglobina e a gasometria obtidos por transiluminao.

    No canto esquerdo superior da tela do computador, vejo sua

    histria clnica. Nesta, aparecem o grfico de peso da paciente, alertando para

    a adequao de seu ndice de massa corprea; dados de exames laboratoriais;

    e, em destaque, a normocolesterolemia, bem como uma referncia sobre a alta

    aderncia da paciente dieta. No tomava mais medicao hipolipemiante. O

    analisador das imagens radiolgicas no apontava alteraes patolgicas.

    Aps alguns segundos, surge no centro da tela a imagem de dona

    Carmen, que me cumprimenta e imediatamente refere uma sensao de bola

    no peito, impedindo a passagem do ar. Completando, informa que j havia

    consultado o guia eletrnico de auto-cuidado sobre seu mal-estar, tendo

    recebido a recomendao de entrar em contato com seu mdico. Interrogada

    por mim, contou que havia tido uma discusso com a vizinha e perguntava se

    podia tomar um tranqilizante.

    Verifiquei o principal sistema de apoio deciso do meu

    computador, no canto superior direito. Ele informava que no era a primeira vez

    que a paciente apresentava esse tipo de queixa; que j havia sido

    cuidadosamente investigada recentemente; e que, diante dos resultados do

    ECG e da FC normal, a chance de a paciente no estar apenas ansiosa era de

    5%.

    Esta ltima informao tambm j havia sido comparada, atravs

    da Internet, com os dados do banco de dados do consenso internacional sobre

    queixas relacionadas a stress e se encontrava na faixa de normalidade da curva

    de Gauss.

  • O sistema de apoio deciso, a partir dos dados iniciais,

    recomendou a coleta de mais algumas informaes sobre dona Carmen, com

    base no guideline da Sociedade Internacional de Psiquiatria. Essas informaes

    foram analisadas e incorporadas histria da paciente pelo sistema de

    reconhecimento de voz.

    A seguir, o sistema de prescrio e interao de drogas,

    comparando as informaes da paciente e a sugesto diagnstica, gerou a

    receita, que, acrescida de minha assinatura eletrnica, enviei pela Internet para

    a impressora da casa da paciente.

    Solicitei que me desse notcias sobre como estaria se sentindo

    dentro de uma hora e que, atravs de seu computador, escolhesse um horrio

    livre em minha agenda e viesse ao meu consultrio no dia seguinte, sem falta.

    Dona Carmen agradeceu-me e desconectou.

    Na tela do computador, surgiu um quadro de Monet, do meu site

    preferido da Internet, e a msica suave de Loreena McKennitt voltou a tocar.

    *****

  • 1.2. Histrico

    Just as banks cannot practice modern banking without financial software, and airlines cannot manage modern travel planning without shared databanks

    of flight schedules and reservations, it is increasingly difficult to practice modern medicine without information technologies.

    Edward H. Shortliffe & Leslie E. Perreault

    A primeira aplicao prtica da computao relevante para a rea

    da sade foi o desenvolvimento de um sistema de processamento de dados

    baseado em cartes perfurados, criado por Herman Hollerith em 1890.

    Primeiramente utilizado para a realizao do censo dos Estados Unidos

    daquele ano, o sistema foi, logo a seguir, adotado para solucionar problemas

    nas reas de epidemiologia e sade pblica (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990).

    A tcnica dos cartes perfurados foi amadurecida e amplamente

    utilizada nas dcadas de 20 e 30. Apenas no final da dcada de 40 comearam

    a surgir as tcnicas de armazenamento de seqncias de instrues ou

    programas.

  • A cincia da computao teve seu incio real em 1946, com

    aconstruo do ENIAC, um computador que ocupava uma rea de 450 m2,

    pesava 30 toneladas e utilizava 18 mil vlvulas as quais queimavam

    velocidade de uma a cada sete minutos (MICROSOFT ENCARTA 97). Os

    profissionais da rea da cincia da computao desenvolviam programas em

    cdigos extremamente complexos e eram indivduos altamente especializados,

    com profundo conhecimento sobre a mquina. Segundo TOFFLER (1990),

    havia uma pequena Irmandade de Dados os profissionais de processamento

    de dados, nicos capazes de fazer o crebro gigante funcionar , cujos

    sacerdotes gozavam das bnos de um infomonoplio.

    Foi apenas com a substituio das vlvulas por transistores e, a

    seguir, por chips, que os computadores se tornaram acessveis tanto aos

    laboratrios de pesquisas das universidades quanto s empresas.

    No entanto, as potencialidades de utilizao dessas mquinas

    eram amplamente acompanhadas e avaliadas por todas as reas do

    conhecimento humano, inclusive a mdica.

    1.2.1 O impacto da microinformtica

    Com o surgimento do microcomputador na dcada de 70, a

    informtica sofreu um notvel processo de democratizao e de popularizao

    (LEO, 1990). Com eles, surgiram tambm as linguagens de alto nvel

    bastante prximas da linguagem coloquial, que, associadas a poderosos

    sistemas operacionais, provocaram mudana radical no perfil dos usurios de

    computador. Os sacerdotes de Toffler, ao invs de lidar com analfabetos em

    computao, enfrentavam, agora, um grande nmero de usurios finais que

    tinham conhecimentos bsicos de informtica, liam revistas especializadas,

    compravam computadores para seus filhos usarem em casa e j no ficavam

  • impressionados diante de algum que comentasse sobre ROM e RAM

    (TOFFLER, 1990).

    Evidentemente, mquinas menores e mais baratas e programas

    cada vez mais fceis de usar contriburam para a grande exploso de mercado

    da indstria da computao.

    O impacto dessa nova tecnologia na prtica da medicina

    surpreendente. As tcnicas no invasivas de produo de imagem, como a

    ultra-sonografia, a medicina nuclear, a tomografia e a ressonncia magntica,

    alteraram sensivelmente o processo de diagnstico mdico (SIGULEM, 1988).

    Novos equipamentos de monitorizao de pacientes, como

    videolaparoscopia e analisadores automticos de eletrocardiogramas, fluxos

    sangneos e gasosos, globais e regionais, oferecem informaes vitais que

    auxiliam o mdico quer no tratamento eficaz do paciente, quer no apoio

    pesquisa.

    Na prtica mdica, a informtica ajuda na coleta, no registro e na

    anlise de dados; gera conhecimento sobre o conhecimento; e, dessa forma,

    diz respeito a todas as reas da medicina, da microscpica macroscpica e

    da assistncia individual sade coletiva (DEGOULET & FIESCHI, 1997).

    Os sistemas de informao em sade podem monitorar o

    processo de assistncia sade e aumentar a qualidade da assistncia ao

    paciente por auxiliar no processo de diagnstico ou na prescrio da terapia,

    por permitir a incluso de lembretes clnicos para o acompanhamento da

    assistncia, de avisos sobre interaes de drogas, de alertas sobre tratamentos

    duvidosos e desvios dos protocolos clnicos (HERSH, 1996).

    1.2.2 O computador encontra a medicina

  • A proposta mais antiga de utilizao da computao na rea

    mdica data de 1959, quando LEDLEY & LUSTED (1985) sugeriram o

    desenvolvimento de sistemas que pudessem auxiliar os mdicos na tomada de

    deciso.

    Esta era uma tendncia a dos sistemas voltados para o apoio

    deciso mdica , mas nem todos a seguiram. Alguns pesquisadores

    comeavam a se preocupar com a noo da informao hospitalar como um

    todo.

    Nos Estados Unidos, o primeiro projeto de informatizao

    hospitalar Hospital Computer Project foi realizado em 1962, a partir de um

    contrato firmado entre o Massachusetts General Hospital MGH e uma

    empresa de Cambridge, denominada Bold Beranek and Newman BBN, tendo

    sido financiado pelo National Institutes of Health e pela American Hospital

    Association (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990).

    Em funo desse projeto, diversos aplicativos comearam a ser

    desenvolvidos no MGH por Octo Barnett um dos profissionais que mais

    contribuies fez na rea de informtica em sade e seus associados.

    Destes, destacam-se programas de admisso e alta, relatrios de laboratrios e

    resumos de prescries.

    Na mesma poca, projetos similares comearam a ser

    desenvolvidos em outros hospitais americanos: Latter Day Saints Hospital

    LDS, em Salt Lake City (PRYOR et al. 1983), Kaiser Permanent (COLLEN,

    1990), Universidade de Stanford (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990) etc.

    De acordo com Otto Rienhoff, atual presidente da International

    Medical Informatics Association IMIA, os precursores da rea na Europa

    foram Wagner em Heidelberg e Reichertz em Hannover (Alemanha), Grmy em

    Paris (Frana), Anderson em Londres (Inglaterra) e Peterson em Estocolmo

    (Sucia) (RIENHOFF, 1997). O professor Peter Reichertz foi um dos primeiros a

    escrever, na dcada de 70, sobre a importncia da informtica mdica tanto na

  • pesquisa quanto para melhorar o currculo mdico. Tambm de Reichertz a

    viso sobre as mudanas que aconteceriam na relao entre o mdico e o

    paciente (VAN BEMMEL, 1988):

    The more a patient is able to ask a system himself

    regarding a certain diagnosis, or treatment, the more he will do so, either to avoid contact with the physician or to monitor his decision or action. The medical community will have to face that the borderline between the physician and the patients will move away from the traditional knowledge ditch which separates the provider from the consumer of health care.

    No Brasil, a situao dessa especialidade era bastante diversa do

    que ocorria na quase totalidade dos pases do hemisfrio norte e Europa, onde

    a informtica mdica implicava hardware e software avanados e abundncia

    de recursos para o desenvolvimento e a manuteno de sistemas que

    utilizavam a tecnologia de ponta (LEO, 1990).

    Apesar das restries impostas, inicialmente pelo estabelecimento

    de uma comisso para a Coordenao de Atividades na rea da Eletrnica

    (CAPRE) em 1972 e depois pela Lei Nacional de Informtica, institucionalizada

    em novembro de 1984 (BOTELHO, 1989), a rea de informtica aplicada

    sade era estudada, acompanhada e desenvolvida por grupos isolados em todo

    o pas. Destacam-se, entre outras, as iniciativas da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul, da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP, da

    Universidade de So Paulo, da Escola Paulista de Medicina e da prpria

    mquina do governo federal.

    Na Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de So

    Paulo, a informtica comeou a ser implantada em 1976, graas viso, em

    nossa opinio revolucionria na poca, de um de seus mdicos, o Prof. Dr.

    Silvio Borges (JORGE, 1997).

    Ciente das necessidades de coleta padronizada da informao e

    de seu adequado armazenamento, este professor criou o Servio de

  • Informtica, que mais tarde se transformou no Centro de Processamento de

    Dados (CPD) da Escola Paulista de Medicina.

    Diversos protocolos de coleta sistematizada de informaes foram

    idealizados pelo professor Silvio e so referidos, at hoje, por sua

    engenhosidade e adequao e por revelarem uma viso de futuro

    extremamente precisa.

    No entanto, muito pouco foi implementado. O professor vivia em

    uma poca muito alm da sua no havia nem mquinas, nem aplicativos e

    nem recursos humanos adequados para permitir que suas idias fossem

    colocadas em prtica.

    O CPD da EPM, hoje Departamento de Processamento de Dados,

    tem como tarefas o gerenciamento das informaes administrativas da

    instituio e tambm o das informaes do seu Hospital Universitrio o

    Hospital So Paulo (HSP).

    A informtica em sade comeou a ser concebida, em 1985, na

    pequena sala de informtica instalada na Disciplina de Nefrologia do

    Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, criada devido

    sensibilidade, ao incentivo e ao apoio da chefia desta Disciplina.

    Comeamos com vantagens em relao a diversos precursores da

    informtica mdica do mundo, j na era da microinformtica. Acreditvamos

    firmemente que a informtica mdica ocuparia um lugar cada vez mais

    importante dentro das instituies de sade. Tnhamos um sonho vivel, porm

    ambicioso, e para concretiz-lo necessitvamos conhecer os fundamentos

    tericos da rea e acompanhar o que estava sendo desenvolvido em centros de

    excelncia.

    A primeira oportunidade de conhecer o estado da arte, ocorreu

    em 1986 quando a Organizao Panamericana de Sade patrocinou uma

    viagem de estudos de um grupo de jovens administradores da Amrica Latina.

    Durante 15 dias de intensa convivncia e discusses, participamos do Fifth

  • Congress on Medical Informatics, do Tenth Annual Symposium on Computer

    Applications in Medical Care (SCAMC) e do workshop International

    Collaboration on the Application of Medical Informatics em Washington. Nesta

    visita, conhecemos alguns institutos de pesquisas em informtica em sade

    como a National Library of Medicine NLM sediada no National Institute of

    Health. Esta visita causou um grande impacto em todo o grupo devido a sua

    incrvel infra-estrutura de informtica composta, nesta ocasio, por 2.200

    microcomputadores e quatro mainframes IBM 3090. A NLM j era informatizada

    e possua centenas de microcomputadores disposio do pblico.

    Ainda nesta viagem conhecemos o projeto pioneiro da Lister Hill

    National Center for Biomedical Communications que desenvolvia a metodologia

    para gravar o acervo do Medline em CD-ROM.

    Tivemos ainda, durante este seminrio, contato com a rea da

    Inteligncia Artificial e nos emocionamos com a frase do Prof. Marvin Minsky,

    referindo-se a uma biblioteca do ano 2.020, citada na abertura do SCAMC pelo

    Prof. Edward A. Feigenbaum (FEIGENBAUM, 1990): voc pode imaginar que

    no passado haviam bibliotecas onde os livros no conversavam uns com os

    outros?.

    Participamos de discusses em um ambiente onde a Informtica

    Mdica j estava consolidada h mais de 15 anos e com profissionais,

    experientes na rea.

    Vimos alguns resultados e muitos projetos em desenvolvimento,

    mas era difcil absorver as dificuldades, no s porque no as conhecamos,

    mas sobretudo porque experincia no se aprende adquire-se.

    No temos hoje a menor dvida de que esta viagem nos marcou

    profundamente e definiu o rumo de nossas pesquisas.

    Conscientes da imensa distncia existente na rea entre a

    situao brasileira e a dos pases desenvolvidos, os grupos de pesquisadores,

    mapeados, agregados e estimulados pelo Dr. Reginaldo de Holanda

  • Albuquerque, superintendente da rea de Cincias da Vida do Conselho

    Nacional de Desenvolvimento Tecnolgico CNPq, comearam a movimentar-

    se e a mostrar ao pas que era preciso preocupar-se com a informtica em

    sade.

    Em fevereiro de 1988, a Secretaria Especial de Informtica (SEI)

    do Ministrio da Cincia e Tecnologia atravs da Comisso Especial de

    Informtica em Sade, composta por dezenas de representantes do setor

    sade do pas, dos governos federal, estaduais e municipais, de hospitais,

    universidades, centros de pesquisa e associaes profissionais apresentou a

    Proposta de Plano Setorial de Informtica em Sade visando orientao do

    uso da informtica, tanto nos aspectos da aplicao da tecnologia para a

    soluo dos problemas relativos a promoo, preveno e recuperao da

    sade da populao quanto nos aspectos de produo de equipamentos,

    programas e servios necessrios a essa aplicao (MINISTRIO DA CINCIA

    E TECNOLOGIA, CONIN - CONSELHO NACIONAL DE INFORMTICA E

    AUTOMAO, SEI- SECRETRIA ESPECIAL DE INFORMTICA, 1988).

    Vrias necessidades esto evidenciadas nesse documento

    (APNDICE A): a de formar profissionais especializados na rea e a de equipar

    os centros de pesquisa j existentes, bem como a de dar suporte a grupos

    emergentes, entre outras.

    Em 1986, com o apoio da ento Diretoria da Escola Paulista de

    Medicina e com a predisposio dos rgos governamentais e de fomento de

    dar suporte aos centros de pesquisa de informtica em sade, o Centro de

    Informtica em Sade da Escola Paulista de Medicina CIS-EPM deixava de

    ser um ideal de poucos e passava a ser uma necessidade institucional e um

    compromisso com a sociedade.

    Em maro de 1988, o CIS-EPM foi oficialmente inaugurado.

  • 1.3. Informtica mdica como cincia

    For the first time in the history of mankind, innovation is the fundamental raw material. Real strategic resources are no longer represented by coal, steel, or oil

    but by the cleverness and cognitive capability of man.

    Carlo De Benedetti

    No prefcio de seu livro Introduction to Clinical Informatics,

    DEGOULET & FIESCHI, (1997) renomados pesquisadores da rea de

    informtica em sade na Frana, resumem a abordagem da nova cincia da

    seguinte forma:

    Se um grupo de mdicos, cientistas da rea de computao ou

    cientistas de outras disciplinas fosse questionado sobre o que informtica

    mdica, no haveria uma resposta nica. Alguns apontariam exemplos

    concretos, considerando as aplicaes na rea da computao mdica como

    um conjunto de tcnicas e ferramentas. Outros enfatizariam a tecnologia

    propriamente dita, seu progresso nos anos recentes ou as perspectivas futuras.

    Essas respostas descrevem a ponta do iceberg, posto que apresentam a

    computao mdica apenas por suas aplicaes e tcnicas. ()

  • Informtica mdica tambm uma disciplina cientfica. Ela nos

    ajuda a entender os mecanismos da interpretao e do raciocnio mdico, da

    abstrao e da elaborao do conhecimento, da memorizao e do

    aprendizado. A cincia de gerenciar a informao mdica est na base da

    medicina. O que a informao mdica? Qual o processo que nos leva dos

    sintomas ao diagnstico e depois deciso? Qual a validade de uma estratgia

    de tomada de deciso? Quais so os mecanismos das exploraes ou

    descobertas mdicas? Qual o impacto da introduo das tecnologias da

    informao na organizao do sistema de sade? possvel definir uma tica

    para o processamento da informao? H uma srie de questes para as quais

    a informtica mdica pode fornecer respostas. Como outras disciplinas

    cientficas, a informtica mdica inclui dimenses culturais e sociolgicas que a

    colocam em um lugar especial entre as disciplinas mdicas bsicas. ()

    Informtica mdica uma cincia que, a exemplo de outras

    disciplinas, como a biologia molecular ou a neurocincia, tem razes na histria

    e nas idias da teoria da informao. caracterizada por seu objeto (medicina)

    e seus mtodos (os de gerenciamento de informao). Informtica mdica

    evoca outras disciplinas, como a matemtica, a estatstica, a lingstica e a

    cincia da cognio ou filosofia. bem adequada abordagem experimental:

    sugesto de hiptese; modelagem; experimentao, freqentemente na forma

    de desenvolvimento ou implantao de programas ou prottipos de sistemas de

    informao; avaliao; validao; e, por fim, generalizao do processo.

    A Sociedade da Informao, nesta fase ps-industrial, exige que

    a medicina moderna seja orientada pela qualidade o que implica, basicamente,

    o gerenciamento racional da informao mdica. Como a medicina aumenta a

    sua complexidade (devido a novos mtodos de investigao ou tratamento e

    diversidade de organizaes da sade, como indivduos trabalhando sozinhos,

    pequenas clnicas, ambulatrios especializados, hospitais secundrios e

    hospitais de alta complexidade, componentes estes que, para adequado

    suporte ao paciente, necessitam trabalhar em conjuno), a informtica mdica

  • um agente indispensvel para a descentralizao e a integrao. Ela ajuda a

    superar as limitaes humanas de memria ou processamento de informaes

    (por exemplo, gerenciar complexos objetos mdicos, como sinais ou imagens,

    reconstruir imagens, otimizar a dosagem de certos medicamentos, gerenciar

    grandes bases de conhecimento mdico). Com a implementao das redes de

    comunicao, a informtica mdica ajuda a trazer o mdico para mais perto do

    paciente (por exemplo, atravs da telemedicina) e facilita o acesso informao

    necessria ao cuidado timo (por exemplo, atravs do acesso ao pronturio

    eletrnico do paciente, a bases de conhecimento, ao uso de sistemas

    especialistas ou realizao de trabalho cooperativo).

    Esta definio evidencia a abrangncia da rea e, especialmente,

    demonstra a necessidade de seu relacionamento com todas as outras reas da

    medicina.

    Cabe uma explicao sobre a utilizao das expresses

    informtica mdica e informtica em sade. Dado que a rea abrange no s

    a medicina, mas tambm a enfermagem, a nutrio, a veterinria e a

    odontologia, a Sociedade Brasileira de Informtica em Sade SBIS resolveu

    utilizar o termo mais amplo sade ao invs de mdica, ao contrrio do que

    se faz na Europa, sia e nos Estados Unidos. Nessas regies, o adjetivo

    medical utilizado em sentido to amplo quanto o sade que adotamos.

    1.3.1 Os Principais Desafios

    1.3.1.1 Organizao e gerenciamento da informao em sade

    A invaso da tecnologia na nossa vida inevitvel. E, a partir de

    algum momento, comeamos a achar inadmissvel a sua ausncia: por

  • exemplo, reagimos quando, ao fazer compras em uma loja qualquer pela

    segunda vez, ela exige novamente nossos dados para um cadastro; quando o

    estabelecimento no aceita pagamento por carto de crdito ou de dbito;

    quando descobrimos que nosso telefone no digital e s funciona com pulsos;

    ou, ainda, quando temos de decifrar a letra do mdico para comprar o

    medicamento receitado.

    Todos sofrem com as dificuldades relacionadas informao (sua

    ausncia, seu armazenamento, sua recuperao e seu entendimento): o

    profissional, o administrador, o paciente.

    1.3.1.2 O profissional da sade

    O profissional da sade ainda tem de anotar em pronturios mal

    organizados e mal estruturados os dados de seus pacientes. E, o que pior,

    tem de ler e entender as anotaes dos colegas e interpretar os resultados dos

    exames que vieram do laboratrio com padres nem sempre bem definidos.

    METZEGER (1995), em seu artigo The Potential Contributions of

    Patient Care Information Systems, ilustra o calvrio de um mdico quando este

    vai passar visita a seus pacientes internados:

    a) encontrar a folha onde esto anotados os dados de

    temperatura e sinais vitais;

    b) localizar as prescries de medicamentos e quando estes

    foram administrados;

    c) encontrar as anotaes das enfermeiras;

    d) encontrar o registro do paciente e persuadir os outros a utiliz-

    lo, pois ir necessitar dele;

  • e) folhear o pronturio, normalmente com as abas amassadas, e

    procurar resultados de laboratrio, relatrios de patologia,

    relatrios de raio-X e anotaes de consultas (que geralmente

    esto faltando ou esto atrasadas);

    f) checar o que foi solicitado pelos funcionrios do hospital;

    g) ver os resultados de laboratrio e de radiologia que esto

    disponveis no computador ou telefonar diretamente ao

    laboratrio se os dados no estiverem l;

    h) ir ao departamento de radiologia e comear outra busca de

    filmes e relatrios;

    i) finalmente, ver o paciente e sua famlia.

    Um passo tpico, omitido desta descrio, a prtica de

    transcrever os prprios achados e observaes.

    Vrios estudos, a maioria realizada em hospitais universitrios,

    relatam o tempo gasto com todas essas atividades. Um desses estudos,

    abrangendo residentes de medicina interna de um grande centro mdico

    acadmico, indicou que perto de 50% de seu tempo dedicado coleta de

    informaes dos pronturios. Examinar os pacientes e passar as visitas so

    aes que consomem apenas 6% e 5% do seu tempo respectivamente (LURIE

    et al., 1989).

    Um estudo com residentes e mdicos de uma clnica de medicina

    geral mostra que eles gastam mais de 35% do seu tempo em atividades de

    documentao (MAMLIN & BAKER, 1973).

    Vrios pesquisadores investigaram as necessidades de

    informao dos mdicos durante o atendimento a pacientes em diferentes tipos

    de ambientes. Trabalhos de COVELL et al. (1985), e GORMAN & HELFAND

  • (1995), sugerem que pelo menos uma dvida levantada a cada encontro com

    o paciente.

    Essa falta de informao tem impacto significante no atendimento

    ao paciente? Estudos tm mostrado que h prescrio inadequada de

    antibiticos numa faixa que varia de 25% a 50% das ocasies; testes de

    acompanhamento de diabticos so prescritos inadequadamente de 45% a

    84% das vezes; valores semelhantes so apontados para o tratamento do

    infarto do miocrdio (ELLERBECK, 1995).

    Um dos impactos mais imediatos do acesso eletrnico s

    informaes sobre o paciente o aumento de segurana na obteno da

    informao. Uma vez que a informao necessria ao mdico est disponvel

    na hora ou pode ser impressa de forma resumida a partir do pronturio

    eletrnico do paciente, o problema passa a ser a segurana no sistema e a

    disponibilidade de terminais para o acesso ao sistema.

    Os resultados da avaliao da introduo do sistema de

    informao COSTAR (ZIELSTORFF, 1986) mostrou que o sistema

    disponibilizou as informaes necessrias em 99% das vezes contra os 72%

    avaliados quando a informao era registrada em papel (ZIELSTORFF, 1977).

    Outro estudo, em outro contexto mas sobre o mesmo sistema, verificou que, em

    30% das vezes, os pronturios em papel estavam disponveis, contra 98% da

    disponibilidade no sistema (CAMPBELL, 1989).

    1.3.1.1.1.1 Os profissionais da sade do sculo XXI

    Quais so as necessidades do mdico do futuro? A literatura

    indica (HAYNES, 1989) que os mdicos tm problemas no gerenciamento das

    informaes, inclusive:

  • a) coletar as informaes clnicas;

    b) trabalhar com probabilidades no raciocnio clnico;

    c) estabelecer comunicao precisa;

    d) manter-se atualizados;

    e) responder imediatamente s questes enquanto presta

    assistncia;

    f) executar procedimentos indicados quando as situaes os

    exijam.

    Todas as tarefas relacionadas poderiam ser auxiliadas por um

    sistema de gerenciamento de informaes. No entanto, no basta introduzir

    essa ferramenta no dia-a-dia do mdico. Uma pesquisa realizada com mdicos

    da Nova Esccia (MANN,1992) aponta para a necessidade de educao na

    rea de informtica mdica: 42% dos mdicos de famlia (family practioners) e

    62% dos especialistas daquela localidade disseram possuir computadores em

    seus consultrios. No entanto, 78% dos mdicos de famlia e 68% dos

    especialistas avaliaram suas habilidades com o computador como fracas (ou

    nulas, ou menos do que adequadas).

    Resumidamente, o Quadro 1 relaciona qual o conhecimento de informtica necessrio ao mdico, subdividido em reas e quais os objetivos de

    cada uma delas.

    Quanto ao uso da informao baseada em conhecimento, afirmam

    que as necessidades dos profissionais da sade recaem em trs categorias

    (HERSH, 1996a):

    a) ajuda para resolver um certo problema ou tomar uma deciso;

    b) ajuda para obter informaes bsicas em determinado tpico;

    c) ajuda para manter o conhecimento atualizado sobre

    determinado assunto.

  • E onde esses profissionais vo buscar respostas para suas

    perguntas? Estudos indicam que eles buscam apoio, em primeiro lugar, entre

    os colegas de trabalho e, em segundo lugar, recorrendo literatura bsica, ou

    seja, livros de referncia (CURLEY, CONNELLY, RICH, 1990) que

    freqentemente permanecem desatualizados por anos, oferecendo informaes

    ultrapassadas aos seus leitores.

    O uso de fontes de informao computadorizadas ainda muito

    pequeno, evidenciando que, apesar da crescente quantidade de fontes de

    informao disponveis, como as revistas cientficas New England Journal of

    Medicine, British Medical Journal, The Lancet, Journal of the American Medical

    Association, entre outras, os profissionais da sade devem ser extensivamente

    treinados para inclu-las no seu dia-a-dia (HERSH, 1996).

  • rea Objetivo Cultura em informtica Capacita para o uso de aplicativos. Comunicao Permite a comunicao com outros

    profissionais e o acesso a fontes de informao.

    Recuperao e gerenciamento da informao

    Permite a pesquisa, a recuperao e a organizao da informao a partir de uma variedade de fontes de informao informatizadas .

    Aprendizado baseado no computador

    Permite a seleo e o uso de aplicativos de ensino para o auto-aprendizado.

    Gerenciamento do paciente a) Informtica biomdica: uso de bases de dados e aplicativos estatsticos para o gerenciamento de pacientes; b) Apoio deciso: uso de sistemas especialistas e bases de conhecimento na assistncia ao paciente.

    Gerenciamento de consultrios Entendimento dos conceitos relacionados com o gerenciamento prtico do consultrio e o uso da informtica para apoiar tarefas.

    Sistema de informao hospitalar Entendimento do hospital como instituio e uso de sistemas de informao para suporte a assistncia, ensino e pesquisa em hospitais.

    Sistemas regionais de sade Entendimento dos conceitos relacionados com o sistema de sade regional e uso da informtica para apoiar as tarefas.

    Sistemas nacionais Entendimento dos padres de comunicao, tanto de hardware quanto da informao em sade propriamente dita, buscando a integrao da informao em sade em nvel nacional.

    Quadro 1 Objetivos da informtica mdica para os mdicos do futuro

    modificada por Sigulem, D. (KAUFFMAN & PATERSON, 1994).

    O profissional da sade tem de ser cuidadosamente preparado

    para o exerccio de sua profisso. Faz parte disso a compreenso do que a

    informao, do significado que tem no contexto da sua atividade e de como ela

    altera seu processo cognitivo, bem como de onde busc-la, como busc-la e

  • qual o impacto da sua utilizao na soluo de dvidas e problemas sobre os

    quais esteja atuando.

    1.3.1.2 O administrador

    E o que dizer do administrador? Como ser planejar estoques,

    necessidades de recursos humanos, disponibilidade ou no de leitos,

    investimentos para os prximos meses? E a qualidade da assistncia que est

    sendo prestada? Como avaliar esses parmetros sem o auxlio de ferramentas

    que agilizem o processo e armazenem os dados dos meses anteriores, de

    modo a permitir que se faam comparaes e extrapolaes?

    Por trs dcadas (1960-1990), os computadores instalados em

    hospitais de todo o mundo tiveram como funo primordial facilitar a gerao

    dos documentos necessrios para o reembolso pelo atendimento aos seus

    pacientes. Secundariamente, eram utilizados para automatizar a produo de

    relatrios de resultados de um grande volume de testes de emergncia.

    Comeando em meados dos anos 80, mudanas dramticas, objetivando

    reduzir custos, ocorreram tanto na poltica de atendimento mdico quanto na

    tecnologia, provocando importantes alteraes no uso dos computadores em

    hospitais.

    Hoje, os administradores podem ter acesso aos recursos

    necessrios para administrao e gerenciamento de seu hospital. Muitos

    hospitais j esto usando regras lgicas, visando a alertar os mdicos e outros

    profissionais que neles atuam quando os padres da assistncia no esto

    sendo alcanados.

    Os sistemas de informao hospitalar tm mudado de sistemas de

    contas a pagar e cobranas de pacientes para sistemas clnico-administrativos

  • que executam, entre outros servios, o gerenciamento da farmcia, dos

    laboratrios e da admisso de pacientes.

    Atualmente, um Sistema de Informao Hospitalar (SIH) pode ser

    definido como um sistema computadorizado, desenhado para facilitar o

    gerenciamento de toda a informao administrativa e assistencial de um

    hospital. Embora exista uma srie de SIHs no mercado internacional e alguns

    no mercado nacional, ainda so muito poucos os que conseguem se adequar

    s reais necessidades de suporte sade em um hospital.

    Desde sua concepo, a principal misso dos sistemas de

    informao dar assistncia eficiente e com alta qualidade.

    Sem um sistema adequado de informaes, uma poro

    significativa dos recursos gasta para criar, armazenar e recuperar as

    informaes dos pacientes. Essas aes, realizadas de forma trabalhosa e

    redundante, freqentemente exigem muito tempo e esforo para documentar as

    informaes necessrias de modo a possibilitar que outros profissionais

    trabalhem com elas.

    A indstria da assistncia sade est sendo puxada e

    empurrada em todas as direes por mdicos, para aumentar a qualidade da

    assistncia; por empresrios, para diminuir os custos e melhorar a estabilidade

    financeira de suas empresas; pelas agncias legais e de regulamentao que,

    para fins de auditoria, foram os hospitais a produzir detalhada documentao

    de seus procedimentos; e pela academia, para prover dados para a pesquisa e

    aumentar as oportunidades para a educao. Os sistemas de informao em

    sade situam-se no meio de todas essas demandas.

    Estimar os custos de instalao e operao de um Sistema de

    Informao Hospitalar e ainda a evoluo desses custos uma tarefa difcil.

    Mesmo os hospitais que fazem uso extensivo da tecnologia da informao

    ainda esto com seus sistemas de informao em fase de desenvolvimento e

    sempre estaro. Os Sistemas de Informao Hospitalar so sistemas vivos, que

  • tm de acompanhar permanentemente as tendncias do planejamento

    estratgico institucional e, assim, refletir a identidade da instituio. por isso

    que a soluo simplista de comprar um sistema pronto fcil, mas ineficiente.

    Na Frana, os hospitais dedicam informtica de 1% a 1,5%

    sobre seu faturamento, enquanto os investimentos dos hospitais americanos

    esto entre 2% e 3% (DEGOULET & FIESCHI, 1997). No Brasil, onde a histria

    dos SIH muito mais recente, na grande maioria dos casos, no existe um

    percentual fixo destinado rea de informtica.

    Um estudo realizado por Dorenfast, em 1995 (DEGOULET &

    FIESCHI, 1997), abrangendo os 2.938 hospitais americanos com mais de 100

    leitos, constatou que 100% contam com sistemas administrativos e 77,6%

    possuem algum tipo de gerenciamento clnico geralmente pedidos de

    exames, resultados de exames e registro resumido dos dados de pacientes

    internados. O uso do pronturio eletrnico dos pacientes muito mais limitado,

    mesmo nos Estados Unidos.

    Existem alguns sistemas de informao disponveis em mercado e

    uma srie de outros vem sendo desenvolvida em laboratrios, prometendo

    trazer avanos nos prximos anos. No entanto, nenhum deles oferece as

    ferramentas demandadas e esperadas pela comunidade mdica atualmente. A

    noo (popular) genericamente aceita que esses sistemas podem satisfazer a

    todas as demandas e resolver todos os problemas. Obviamente ingnua, essa

    noo superestima as capacidades da tecnologia da informao corrente.

    O sonho de contar com um sistema que integre harmoniosamente

    texto, imagens e sinais com os dados administrativos ainda est longe de

    acontecer, mesmo nos centros mais avanados. O que existe so vrios

    sistemas, com diferentes tecnologias, que na maioria das vezes no

    conversam entre si. comum encontrar um sofisticado equipamento de

    visualizao de imagens lado a lado com um terminal de caracteres, datado dos

  • anos 60. Hoje, o desafio , antes de mais nada, a interoperabilidade dos

    sistemas.

    1.3.1.2 O paciente

    E o paciente? No ficaria bem mais tranqilo se houvesse garantia

    de que, ao necessitar de uma internao, a equipe de atendimento do hospital

    fosse alertada sobre sua alergia penicilina?

    Um estudo da Universidade de Harvard sobre erro mdico no

    Estado de Nova Iorque demonstrou que 10,3% dos erros que conduziram a

    eventos adversos em pacientes hospitalizados resultaram do desconhecimento

    de resultados de testes e de achados laboratoriais, enquanto 9,4% resultaram

    da demora para concluir o diagnstico dos pacientes (DRAZEN et al., 1995).

    Alm de erros de prtica mdica, pode haver erros como resultado

    da falta de informao (por ausncia ou por desorganizao): foi calculado que

    de 3% a 5% das admisses em hospitais so principalmente relacionadas a

    reaes a aes de drogas; 18% a 30% dos pacientes hospitalizados tm

    alguma reao a drogas, e 70% a 80% destas seriam potencialmente evitveis

    (MELMON, 1971).

    A qualidade da assistncia de um hospital pode ser imensamente

    beneficiada quando seu sistema de informao for acoplado aos chamados

    Sistemas de Apoio Deciso (SAD). Um dos mais importantes tipos de SAD,

    incorporados em SIHs so os sistemas de alerta ou seja, os sistemas que

    informam sempre que alguma atividade estiver em desacordo com uma base de

    conhecimento preestabelecida.

    Alguns dos benefcios proporcionados por sistemas de alerta

    foram estudados atravs de um sistema que possua uma base de dados

    clnica organizada e 86 formas de alertas do tipo droga-droga, droga-alergia e

  • droga-laboratrio. O sistema fornece dois tipos de alerta: orientao de ao

    teraputica e informao. Durante um perodo de dois anos, o sistema gerou

    alertas na prescrio de drogas; houve 55,5% de alertas do tipo droga-

    laboratrio, 36,2% do tipo droga-droga e 8,3% do tipo droga-alergia. Os

    mdicos concordaram com todos os alertas do tipo orientao teraputica. Os

    farmacuticos clnicos revisaram os alertas que causaram alguma mudana na

    conduta e estimaram um benefcio total de US$ 339.372,00 e uma relao

    benefcio para custo de 4:1 para o sistema (GARDNER, HULSE, LARSEN,

    1990).

    Os sistemas de apoio deciso e as bases de conhecimento

    mdico tm sido desenvolvidos em paralelo com os sistemas de informao,

    sendo que os primeiros resultados do uso de tais sistemas tm demonstrado

    que eles facilitam o processo de tomada de deciso mdica e melhoram a

    qualidade da assistncia em sade (JOHNSTON et al., 1994). A quantidade de

    prottipos ou de sistemas prontos existentes ainda pequena,

    especialmente porque os investimentos necessrios para desenvolver e,

    posteriormente, manter atualizadas essas bases de conhecimento ainda

    muito alto. Mesmo assim, encontramos uma srie deles em uso na prtica

    clnica (ANEXO A - SISTEMAS DE APOIO DECISO EM SADE EM USO

    NA PRTICA CLNICA).

    Sabemos, atravs da literatura, bem como atravs da nossa

    experincia, que poucos sistemas de apoio deciso foram validados e muito

    poucos foram efetivamente integrados prtica clnica o processo de

    validao consome muito tempo. Alm disso, na maioria das situaes, estes

    sistemas so passivos, isto , para sua ativao necessitam de uma ao direta

    do mdico. Ora, como os profissionais so pouco treinados ou motivados para

    utiliz-los, vrios deles permanecem inertes nos laboratrios.

    Efetivamente, a integrao desses sistemas aos sistemas de

    coleta e anlise de informaes mdicas (SHORTLIFFE, 1990), transformando-

    os em recursos ativos, far com que eles sejam mais utilizados.

  • 1.3.1.2 Repensando a educao e o ensino

    CHAVES (1991), em seu livro Multimdia: Conceituao,

    Aplicaes e Tecnologia, destaca sob o ttulo Um novo Modelo: A mudana de

    paradigma o desafio lanado pelo presidente da Apple Computers, John

    Sculley:

    Pensar na educao apenas como uma forma de transferncia de

    conhecimento do professor para o aluno, como um despejar de informao de

    um recipiente para o outro, no mais possvel. No se pode mais dar aos

    jovens uma rao de conhecimento que v durar a vida inteira. Nem mesmo

    sabemos o que vo ser e fazer daqui a alguns anos. Os alunos de hoje no

    podem pressupor que tero uma s carreira em sua vida, porque os empregos

    que hoje existem estaro radicalmente alterados no futuro prximo. Para que

    sejam bem sucedidos, os indivduos precisaro ser extremamente flexveis,

    podendo, assim, mudar de uma companhia para outra, de um tipo de indstria

    para outro, de uma carreira para outra. Aquilo de que os alunos de amanh

    precisam no apenas o domnio do contedo, mas o domnio das formas de

    aprender. A educao no pode ser preldio para uma carreira: deve ser um

    empreendimento que dure a vida inteira.

    Calcado nas observaes de Alvin Toffler, segundo o qual o

    sistema de ensino que possumos j no mais adequado ao nosso tempo, por

    ter sido construdo de acordo com o modelo da sociedade industrial, CHAVES

    (1991) afirma que ser impossvel manter intacto o sistema educacional

    tradicional: Precisamos examinar cuidadosamente a sociedade que est

    emergindo para definir a educao adequada a ela. () necessrio substituir

    o ensino centrado em contedos pela criao de ambientes ricos em

    possibilidades de aprendizagem, em que os alunos possam analisar os

    processos, desenvolver as competncias, compreender os valores que, em seu

  • conjunto, os capacitaro para um aprendizado permanente, numa sociedade

    em constante mudana. E isso deve ser feito de uma forma que desafie,

    envolva e motive os alunos.

    Nos anos 60, ficou claro que um real avano na educao no

    poderia ser obtido quando se cuidava de cada parte do sistema de forma

    isolada e independente. Seria impossvel substituir os mtodos instrucionais ou

    as formas de apresentao dos contedos curriculares por mquinas ou

    mtodos atuais sem mudanas reais na configurao do processo de

    educao. Materiais curriculares (incluindo todos os tipos de mdias),

    estratgias de ensino e filosofia de ensino so to inter-relacionados e

    interconectados que uns no podem mudar sem que se considerem mudanas

    nos outros. Inspirada pelo desenvolvimento de outras disciplinas, como a

    engenharia e a cincia do gerenciamento, por exemplo, uma abordagem

    holstica foi sendo gradualmente desenvolvida, de modo a garantir que um

    problema e sua anlise no fossem isolados de seu contexto ou ambiente.

    No evidente que cada problema de educao ou treinamento

    deva ser solucionado pela utilizao de novas mdias ou diferentes estratgias

    educacionais: a abordagem holstica sugere que se fique alerta para a presena

    de um problema e para a descoberta de sua soluo. Isso resultou na

    expresso tecnologia da educao, cuja definio foi formulada nos Estados

    Unidos pela Associao para a Comunicao e a Tecnologia Educacional

    (AECT): tecnologia da educao um processo complexo e integrado que

    envolve pessoas, procedimentos, idias, dispositivos e organizao para

    analisar problemas e projetar, implementar, avaliar e gerenciar solues,

    envolvendo todos os aspectos do aprendizado humano (ELY & PLOMP, 1989).

    Todo este repensar da educao tem ocorrido pela verificao da

    ineficincia dos sistemas atuais de ensino. A recente deciso do Ministrio da

    Educao e do Desporto MEC recomenda que todos os alunos passem por

    uma reavaliao ao final de seus cursos. Os resultados da primeira avaliao

    so catastrficos e assustadores: apenas 71 faculdades (11% do total) de

  • direito, engenharia civil e administrao obtiveram a nota mxima no Exame

    Nacional de Cursos (O ESTADO DE SO PAULO, 1997). Isso torna mandatrio

    que se reflita sobre o que est sendo ensinado, como est sendo ensinado e

    por quem est sendo ensinado.

    Por que se tornar um educador?, pergunta Rubem Alves. E

    comenta: Esta pergunta parece, de sada, impertinente. No h coisa mais

    nobre que educar. Sou educador porque sou apaixonado pelo homem. Desejo

    criar condies para que cada indivduo atualize todas as suas potencialidades.

    A educao a base de uma sociedade democrtica. Vocs poderiam

    multiplicar afirmaes semelhantes a estas indefinidamente. Embalados por

    estas doces canes acerca dos elevados propsitos da sua profisso, o

    educador pode continuar a educar sem maiores problemas. Mas ser isto

    mesmo? A afirmao de que a educao a base de uma sociedade

    democrtica no pode ser usada ideologicamente para justificar proibio do

    voto aos analfabetos? O mundo do educador no divide as pessoas em

    educadas e no educadas, superiores e inferiores? Ser verdade que a

    educao um processo para fazer com que o indivduo atualize as suas

    potencialidades ou exatamente o inverso, um processo pelo qual a sociedade

    leva o indivduo a domesticar estas mesmas potencialidades, canalizando-as de

    sorte a transform-las em pensamentos e comportamentos socialmente

    aceitos? A educao transforma ou reproduz a sociedade? (ALVES,1993).

    A partir da percepo das mudanas, das tarefas dos educadores,

    dos avanos tecnolgicos, da massa de novas ferramentas desenvolvidas, no

    era mais possvel continuar educando da maneira como vinha acontecendo h

    anos.

    A Associao Americana de Escola Mdicas AAMC (1986), em

    sua reunio trienal de 1986, concluiu que (...) a Informtica Mdica a base

    para o entendimento da medicina moderna. O Comit Diretor da AAMC fez

    seis recomendaes, quatro das quais vinham sendo repetidas a cada trs

  • anos nos ltimos 36 anos. As duas novas, que foram acrescentadas nesta

    reunio, so:

    a) a Informtica Mdica deve se tornar parte integrante do

    currculo mdico. O ensino da Informtica Mdica deve incluir

    tanto os seus fundamentos quanto as suas aplicaes no

    currculo mdico;

    b) deveria haver um local definido de atividades em informtica

    mdica em unidades mdicas acadmicas, para pesquisas,

    integrao da instruo e encorajamento do seu uso na

    assistncia ao paciente.

    Mais recentemente, o ACME-TRI Report (AAMC, 1992), fazia as

    seguintes recomendaes:

    a) preciso aumentar o apoio (de setores privados e pblicos)

    para os membros das faculdades que quiserem desenvolver

    programas educacionais;

    b) consrcios de escolas mdicas que promovam o intercmbio

    de programas devem ser encorajados e apoiados;

    c) deve haver facilidades para o treinamento de membros das

    faculdades no uso de computadores para a educao mdica,

    pois este treinamento to essencial quanto o treinamento em

    novas tcnicas de pesquisa;

    d) as escolas mdicas devem pedir aos seus membros,

    responsveis por ensinar estudantes de medicina, que se

    tornem hbeis na aplicao de computadores na educao;

  • e) as escolas mdicas devem estabelecer alguma estrutura de

    organizao para promover o uso dos computadores na

    educao mdica.

    Nos Estados Unidos, a National Library of Medicine NLM (1993)

    comeou, em 1982, a apoiar programas de graduao em Informtica Mdica e

    hoje utiliza dois mecanismos de prmios para incentiv-los: Institutional Training

    Grants e Individual Fellowships. Dez programas em quatorze instituies

    oferecem estes prmios.

    A Universidade de Harvard, a partir de um subsdio institucional

    recebido da Hewlett Packard, em 1984, iniciou o desenvolvimento de aulas com

    auxlio de computador e instituiu, em 1985, um programa denominado New

    Pathway, que faz extensivo uso de mtodos educacionais ativos, como o

    Problem Based Learning (PBL), com gerenciamento de informaes, escolha

    cuidadosa de contedo e discusses em pequenos grupos de alunos. O

    elemento-chave do currculo do New Pathway foi a extensiva utilizao da

    tecnologia da computao (BARNETT et al., 1986).

    No Brasil, apesar de no existirem linhas especficas de

    financiamento para o desenvolvimento de aplicativos educacionais, muitos

    projetos de pesquisa foram submetidos, aprovados e financiados.

    Assim, comearam a ser desenvolvidos os aplicativos

    educacionais nacionais. Inicialmente, utilizando a pouca tecnologia ento

    disponvel, esses programas educacionais eram apenas livros eletrnicos. No

    entanto, eles permitiam que os alunos estudassem nos horrios mais

    convenientes, que as aulas fossem repassadas tantas vezes quanto fosse

    necessrio; que se explorassem animaes e figuras; e, finalmente,

    proporcionavam a realizao de uma avaliao do aluno sobre o assunto, com

    sugestes de leitura complementar e de reforo no caso de erros nas respostas

    s questes.

  • A seguir, com a introduo da multimdia, esses programas

    passaram a permitir que o usurio navegasse pelo seu contedo, atravs de

    links, em funo do seu interesse no momento. Alm de todas as vantagens da

    multimdia na integrao de textos, sons e imagens, os programas incorporaram

    a interatividade, permitindo a troca de informaes entre eles e seus usurios.

    O que acontecer no futuro? Ainda existem problemas com a

    educao em todo o mundo; no entanto, as chamadas para uma soluo

    imediata esto pressionando para que as novas tecnologias sejam adotadas.

    As estruturas bsicas da educao ainda so as mesmas, e a maior parte do

    ensino continua sendo oferecido em salas de aula, com grupos de estudantes

    que so orientados por um nico professor. Essa prtica antiga ,

    provavelmente, o maior impedimento para a melhoria do aprendizado. At que

    os pedagogos percebam que novos tempos exigem novas configuraes para

    ensinar e aprender, continuaremos encontrando apenas bolses de inovao

    que podem fazer ou no fazer muita diferena no que concerne ao avano

    global da aprendizagem. Os educadores tm um papel a desempenhar neste

    novo cenrio: usar a tecnologia da educao.

    Os ltimos 50 anos nos ensinaram como provocar as mudanas

    que melhoraro o aprendizado, tornando-o mais excitante. Os problemas

    crticos de nmeros e espao, especialmente em naes em desenvolvimento,

    podem ser evitados por configuraes novas e sistemticas de ambientes de

    aprendizagem em que os professores, a tecnologia e os mtodos daro sua

    melhor contribuio para o processo de ensino e aprendizado (ELY & PLOMP,

    1989).

    A viso de futuro sobre a rea da tecnologia da educao pode

    ser sintetizada na pergunta formulada pelo professor Marvin Minsky, do

    Massachusets Institute of Technology (MIT), citada pelo professor

    FEIGENBAUM (1990): Voc pode imaginar que no passado havia bibliotecas

    onde os livros no conversavam uns com os outros?.

  • As bibliotecas de hoje so armazns de objetos passivos. Mas

    no basta transform-las em bibliotecas eletrnicas. A mudana muito mais

    ampla: de paradigma, e no apenas de mdias ou suportes fsicos.

    (...) agora imagine a biblioteca como um servidor de

    conhecimento ativo, inteligente, continua FEIGENBAUM (1990). Ela armazena

    o conhecimento das disciplinas em estruturas de conhecimento complexas

    (talvez em um formalismo de representao de conhecimento ainda a ser

    inventado). Ela pode raciocinar com este conhecimento para satisfazer s

    necessidades de seus usurios. Estas necessidades so expressas em

    linguagem natural, em discurso fluente. (). O sistema pode coletar informao

    pertinente, sintetizar, procurar relaes. A biblioteca deve agir como um

    consultor em problemas especficos, oferecendo conselhos em solues

    particulares e justificando essas solues. () Assim, a biblioteca do futuro

    ser uma rede de sistemas de conhecimento nos quais pessoas e mquinas

    colaboram.

    Fazer menos negar os avanos dos ltimos 50 anos. Fazer mais

    lanar a educao em direo ao sculo XXI (ELY & PLOMP, 1989).

  • 2

    OBJETIVO

  • Knowledge is not the same as information. Knowledge is information that has been pared, shaped, interpreted, selected, and transformed; the artist in each of us daily picks up the raw material and makes of it a small artifact and at the same

    time, a small human glory.

    Edward A. Feigenbaum & Pamela McCorduck

    Esta tese tem por objetivo a descrio do trabalho de

    disseminao da cultura de informtica na comunidade da UNIFESP/EPM, que,

    desenvolvido ao longo dos ltimos dez anos atravs de implantao seqencial

    e crescente de infra-estrutura fsica, comunicao e conhecimento, pretende

    instaurar um novo paradigma de aprendizado que habilite seus alunos para o

    exerccio profissional no ambiente da Sociedade da Informao.

    Os passos desse processo foram:

    a) criar um ambiente de intensa utilizao da informtica na

    UNIFESP/EPM;

    b) planejar, desenvolver e implantar a infra-estrutura fundamental

    de intercomunicao da comunidade

  • c) docente, discente e de funcionrios, a Intranet, e entre esta

    comunidade e o mundo, a Internet;

    d) desenvolver aplicativos em sade e disponibilizar seus

    resultados para a comunidade, sob a forma de sistemas de

    gerenciamento de informao em sade e sistemas de apoio

    deciso;

    e) desenvolver e implantar uma metodologia de educao

    continuada para alunos, ex-alunos e a comunidade em geral,

    atravs da utilizao de tcnicas de multimdia e de tele-

    ensino;

    f) validar o novo paradigma pretendido, mediante a implantao

    de um projeto piloto de integrao de aprendizado e

    assistncia, em um ambiente de intensa intercomunicao e

    extensivo uso de tecnologias de informtica no Ambulatrio

    Geral de Pediatria da UNIFESP/EPM.

    Com a instaurao do novo paradigma, esperamos que nossos

    alunos sejam capazes de:

    a) tomar decises com mais segurana e confiabilidade, frente

    aos problemas apresentados por seus pacientes;

    b) buscar informaes quando e onde necessrias;

    c) realizar, com o corpo docente, uma intensa interatividade, de

    modo que o ambiente de aprendizado extrapole a dimenso do

    espao fsico;

    d) utilizar os recursos de multimdia, tirando partido de seus

    aspectos ldicos e motivacionais no aprendizado;

    e) utilizar os recursos da informtica junto aos pacientes, sob o

    enfoque primordialmente preventivo que j se delineia no

  • horizonte social, no sentido de educ-los para que se tornem

    parceiros no cuidado de sua sade;

    f) avaliar criticamente as vantagens e as desvantagens do novo

    paradigma de aprendizado.

    Com relao aos membros do corpo docente, esperamos que:

    a) participem efetivamente do processo de intercomunicao;

    b) disponibilizem seu conhecimento e experincia no

    desenvolvimento de novas metodologias educacionais;

    c) avaliem criticamente as vantagens e as desvantagens do novo

    paradigma de aprendizado.

  • 3

    MTODOS E INSTRUMENTOS

  • ... the association believes that the knowledge explosion which is occurring in medicine and the basic biomedical sciences, coupled with the physicians responsibility

    for lifelong learning dictates that medical students and practioners learn to use new strategies for managing the information and knowledge available to them for the

    treatment of patients. It is necessary for our medical schools to change the process of education to emphasize the acquisition of knowledge and emphasize information

    organizing and problem solving. Medical information science, computers and new understanding about processes of clinical decision making can be powerful factors in

    education and information management and analysis.

    Association of American Medical Colleges january, 1986.

    Para que as metas delineadas fossem atingidas, um trabalho

    lento, gradativo e muito bem planejado de infra-estrutura e comunicao

    deveria ser desenvolvido: a comunidade mdica deveria conhecer a informtica

    e a potencialidade de sua utilizao na prtica mdica; os estudantes de

    medicina necessitavam aprender a utilizar as novas ferramentas; a informao

    deveria ser coletada e organizada em bancos de dados; programas

    educacionais deveriam ser desenvolvidos; a instituio deveria se reorganizar e

    comear a destinar parte de seu oramento aquisio de computadores, ao

    treinamento de pessoal e criao da infra-estrutura fsica para a comunicao

    entre seus departamentos; a padronizao na codificao da informao

    deveria ser

  • cuidadosamente analisada e estabelecida; os avanos

    tecnolgicos deveriam ser constantemente perseguidos e incorporados.

    Seguimos fundamentalmente por dois caminhos para atingir os

    objetivos: o primeiro consistiu na implantao do Centro de Informtica em

    Sade que, atravs de suas funes especficas, bem como atravs das suas

    linhas de pesquisa e ferramentas, consubstanciou-se como gerador e/ou

    catalisador das mudanas propostas; o segundo foi a metodologia de

    implantao do projeto piloto no Ambulatrio Geral da Pediatria.

  • 3.1 Implantao do Centro de Informtica em Sade

    Ns estamos nos movendo rapidamente para uma era na qual os profissionais da sade no sero capazes de trabalhar sem um computador como extenso das

    suas mentes. A quantidade de informao muito grande. O risco muito alto. A mudana estar sempre presente. E ningum uma ilha em si mesmo. Isso nos levar a todos a trabalharmos juntos para alcanarmos o sculo XXI. Espero encontr-los por

    l!

    Bill W. Childs

    O CIS-EPM foi fundado em 1988, foi instalado em uma rea de

    180m2, equipado com 17 microcomputadores e 12 impressoras e contava

    inicialmente com cinco profissionais da rea de Informtica, um da rea de

    sade e trs mdicos, docentes de outros departamentos/disciplinas.

    3.1.1 Organizao dos recursos humanos do CIS-EPM

    Os recursos humanos do CIS-EPM foram organizados

    fundamentalmente segundo linhas de pesquisa. Esta organizao temporal e

    dinmica, havendo intercmbio de elementos entre as equipes.

  • As equipes so:

    a) equipe de cursos: responsvel pela coordenao e

    organizao de palestras, cursos extracurriculares, treinamento

    nos laboratrios, cursos curriculares e help-desk;

    b) equipe de desenvolvimento de aplicativos e sistemas:

    equipe de programas educacionais

    equipe de sistemas de informao

    equipe de sistemas de apoio a deciso

    c) equipe de rede: responsvel pela implantao, manuteno e

    suporte da REPM.

    3.1.2 Formao de Recursos Humanos na Comunidade

    O CIS-EPM operou ativamente na disseminao da cultura de

    informtica na comunidade atravs de:

    a) programa de palestras de divulgao da informtica em sade

    para a comunidade de docentes, alunos e funcionrios;

    b) cursos introdutrios sobre informtica em sade, utilizao de

    aplicativos, editores de texto, bancos de dados, planilhas

    eletrnicas, aplicativos de gerao de imagens, Epi-Info e

    registro eletrnico do paciente, colocando o aluno sempre em

    direto contato com a mquina;

    c) disponibilizao de laboratrios de informtica para que a

    comunidade pudesse realizar suas tarefas, pesquisas e

    navegar na Internet;

  • d) disponibilizao de um ativo servio de suporte aos iniciantes

    bem como aos usurios avanados;

    e) cursos curriculares voltados para estudantes de graduao,

    ps graduao e especializao.

    Passaremos a descrever os cursos curriculares oferecidos:

    3.1.2.1 A informtica no currculo do curso mdico

    A mudana um processo bastante complexo. Sendo assim, a

    nossa incluso no ensino no poderia deixar de gerar problemas relativos

    alocao de espaos destinados informtica na carga curricular dos alunos do

    curso de medicina. De quem tirar horas de aula? Da Anatomia, da Histologia,

    da Biofsica? Foi por esse motivo que introduzimos o Curso de Informtica em

    Sade apenas no 5 ano do curso mdico, um momento em que, idealmente,

    os alunos j deveriam estar utilizando as ferramentas de informtica de forma

    ampla e confortvel, e no iniciando o aprendizado do seu b-a-b.

    Assim, em 1987, introduzimos a informtica para os quintanistas

    no momento em que passavam pela disciplina de Nefrologia. Uma parte do

    contedo terico da Nefrologia era reforado atravs de programas

    educacionais americanos da empresa Cardinal programas estes que foram utilizados at o ano de 1991. A partir de ento, passamos a utilizar programas

    educacionais desenvolvidos pela equipe de educao: Programa Educacional

    em Glomerulonefrites e Programa Educacional em Fisiologia Renal.

    Os alunos do 5 ano mdico passam por uma disciplina

    denominada Bloco Comunitrio, divididos em turmas de 25 a 28 alunos cada,

    por um perodo de trs meses. Nesse perodo, seu treinamento realizado no

    Centro de Sade, no Ambulatrio de Clnica Geral e no Ambulatrio Geral de

    Pediatria da UNIFESP/EPM. Durante a passagem pelo ambulatrio de

    Pediatria, eles atendem, uma vez por semana, crianas do municpio do Embu,

  • como parte de um projeto denominado Programa de Integrao Docente

    Assistencial - PIDA-Embu (MARSIGLIA,1995).

    No Embu, estimulados por seus preceptores, os alunos coletam

    um conjunto de dados demogrficos das crianas, registram as informaes em

    um formulrio desenhado especificamente para tal fim, acrescentam os Cdigos

    Internacionais de Doenas CID (OMS, 1995) aos diagnsticos encontrados e

    discutem os casos examinados. Essa atividade, cujos dados foram analisados

    at o final de 1988 com a orientao de um professor mdico epidemiologista,

    atravs de pacotes estatsticos acontece at os dias de hoje.

    Com a disponibilidade do laboratrio de informtica do CIS-EPM e

    a cesso de 84 horas/aula pela disciplina de Bioqumica, fizemos uma

    experincia, em meados de 1990, para treinamento em informtica dos alunos

    do 1 ano do curso mdico. Foram treinados 108 alunos, divididos em turmas

    de 19 indivduos, perfazendo um total de 14 horas/aula por turma. O contedo

    oferecido consistiu de palestras sobre Informtica Mdica e de uma parte

    prtica de introduo microinformtica e uso de planilhas eletrnicas.

    Em 1991, o curso foi cancelado, em decorrncia da greve geral

    realizada nas universidades federais do pas.

    Em 1992, em associao com a equipe da disciplina de Pediatria,

    retomamos o trabalho de anlise dos dados coletados pelos alunos do 5 ano

    mdico no Embu, interrompido desde 1989. Em 16 horas/aula, cedidas

    Informtica em Sade, oferecemos um curso contendo:

    a) informtica em sade palestra terico-prtica sobre as

    potencialidades da Informtica em Sade e suas aplicaes

    prticas;

    b) introduo microinformtica;

    c) coleta, processamento e anlise de Informaes em Sade

    (atravs do programa Epi-Info (DEAN et al.,1990),

  • desenvolvido pela Organizao Mundial da Sade.

    Basicamente, o estudo desenvolvido em Epi-Info consistia em:

    reproduzir no Epi-Info a ficha de atendimento do Embu;

    programar as consistncias dos dados e as tabelas de

    diagnsticos, encaminhamentos, exames solicitados etc.;

    analisar os dados, gerando tabelas de freqncia, grficos

    e outras estatsticas;

    elaborar um resumo da anlise dos dados em um

    processador de textos e imprimi-los em transparncias para

    uma aula de discusso dos resultados obtidos.

    Naquele ano, o curso foi repetido doze vezes, at que toda a

    turma tivesse passado pelo estgio no Embu e, conseqentemente, no estgio

    em informtica. Ao todo foram treinados 108 alunos. O tempo era muito

    escasso na percepo de todos: para os alunos, ansiosos por aprender mais, e

    para os professores, que tinham sua tarefa docente a cumprir. Assim, aps

    algumas reunies com os preceptores do Bloco Comunitrio, conseguimos

    ampliar a carga horria do curso de informtica para o perodo que durasse

    aquele estgio. Com isso, aumentamos nossa carga horria de 16 horas/turma

    com 12 turmas de 9 alunos cada para 33 horas/turma com 4 turmas de 27

    alunos cada.

    Nessa mesma poca, 1993, o Centro Latino-Americano e do

    Caribe de Informaes em Cincias da Sade Bireme, comeou a oferecer

    um curso de acesso on line para a realizao de pesquisas bibliogrficas.

    Convidada por ns para participar da disciplina de Informtica em Sade, a

    equipe da Bireme passou a oferecer seu curso aos alunos do 5 ano mdico.

    Assim, o contedo programtico do curso foi ampliado, constando de:

    a) Informtica em Sade;

    b) Pesquisa bibliogrfica na Bireme - curso de acesso on line;

  • c) Introduo microinformtica;

    d) Coleta, processamento e anlise de informaes em sade

    (utilizao do programa Epi-Info e dados do Embu)

    Com a introduo do WINDOWS (1993) e seus aplicativos, substitumos o pacote Epi-Info pela planilha eletrnica EXCEL (1993), que, atravs de seus aplicativos estatsticos, permite a realizao de anlises

    simples em ambiente grfico, com o qual os alunos j comeam a estar mais

    familiarizados.

    At o final de 1996, o contedo programtico do curso dos alunos

    do 5 ano mdico manteve o contedo do ano anterior tendo sido a coleta,

    processamento e anlise de informaes em sade realizada atravs do

    aplicativo Excel

    Com a informatizao do Ambulatrio de Pediatria da

    UNIFESP/EPM, que discutiremos posteriormente, o formato do curso foi

    alterado novamente, agora passando a incluir a prtica dos aplicativos de

    informtica mdica que os alunos manipulam durante seu estgio na Pediatria.

    Assim, o contedo atual da disciplina de Informtica em Sade,

    oferecida ao 5 ano do curso mdico, consiste em:

    a) informtica em sade;

    b) introduo microinformtica;

    c) coleta, processamento e anlise de informaes