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DANIEL SIGULEM
Um Novo Paradigma de Aprendizado na Prtica Mdica da UNIFESP/EPM
Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina, para concurso de Livre- Docncia do Centro de Informtica em Sade CIS-EPM.
SO PAULO
1997
SIGULEM, Daniel. Um Novo Paradigma de Aprendizado na
Prtica Mdica da UNIFESP/EPM. So Paulo, 1997. 177p./
Tese (LivreDocncia) Universidade Federal de So
Paulo Escola Paulista de Medicina/.
Descritores: Informtica em Sade/ Informtica Mdica/
Universidade Virtual/ Tecnologias Educacionais/ Ensino
Distncia/ Telecomunicao e Ensino/
Aos meus filhos, Fernando e Luiza.
Monica.
AGRADECIMENTOS
aos Profs. Drs. Oswaldo Luiz Ramos e Horcio Ajzen, o suporte formao do primeiro grupo de informtica mdica da EPM;
aos Profs. Drs. Magid Yunes, Antonio Cechelli de Mattos Paiva e Moacyr de Pdua Vilela, em cuja gesto nasceu a concepo da informtica em sade e do CIS-EPM;
aos Profs. Drs. Nader Wafae, Fernando Jos de Nbrega, Sras. Silvia Cristina Borragini Abuchaim e Maria Conceio Veneziana Kozma, em cuja gesto se deu a implantao do CIS-EPM;
aos Profs. Drs. Manuel Lopes dos Santos, Eduardo Katchburian e Hlio Egydio Nogueira, em cuja gesto o CIS-EPM cresceu e ganhou espao na comunidade;
aos Profs. Drs. Hlio Egydio Nogueira, Regina Celes de Rosa Stella e Stephan Geocze, na gesto atual, onde o processo de consolidao aconteceu graas ao seu intenso apoio e incentivo.
aos Profs. Drs. Jos Roberto Ferraro, Jos Osmar de Abreu Pestana e Mrio Silva Monteiro, atual diretoria do Hospital So Paulo, que tem apoiado e estimulado o desenvolvimento do projeto do Sistema Clnico de Informao Hospitalar do HSP;
aos Profs. Drs. Nestor Schor, Srgio Draibe, Aparecido B. Pereira, Srgio R. Stella, Odair Marson, Oswaldo Kohlmam e Ricardo Sesso, Jos Osmar de Abreu Pestana, que sempre me estimularam na disciplina de Nefrologia e me apoiaram fora dela;
ao Prof. Dr. Antonio Cechelli de Mattos Paiva, um dos pioneiros na introduo do microcomputador na instituio, idealizador da poltica de informtica em sade da EPM, ex-presidente da Comisso de Informtica e um dos alicerces da implantao da rede universitria da EPM;
aos membros da comunidade da UNIFESP que tiveram participao direta na definio da poltica da informtica na instituio atravs da participao das diferentes Comisses de Informtica;
ao Departamento de Pediatria pelo apoio e pela confiana depositada, ao implantar o modelo de validao do paradigma de mudana do ensino no Ambulatrio Geral de Pediatria. Em especial, aos Profs. Drs. Rosana F. Puccini, Rudolf Wechsler e Dr. Carlos R. Serachi;
aos Profs. Drs. visitantes Eduardo O. C. Chaves, Armando Freitas da Rocha, Fbio Gandour, Ricardo Machado, Hlio Menezes Silva, Pedro Srgio Nicolletti e Ernest Czogala que contriburam atravs de suas idias e do seu trabalho, e deixaram importantes marcas nas minhas linhas de pesquisa;
ao Sr. Luiz Tadeu Jorge, diretor do Departamento de Processamento de Dados, que tem me apoiado na presidncia da Comisso de Informtica e dividido comigo os encargos do dia a dia da informtica na UNIFESP-EPM;
ao amigo Dr. Reginaldo de Holanda Albuquerque, ex-superintendente da Coordenadoria da Cincia e da Vida do CNPq, catalizador da implantao da Informtica em Sade no pas, mente visionria, cujas concepes de futuro procuramos atingir;
ao Prof. Dr. Meide da Silva Ano que desde o incio sempre dividiu comigo as responsabilidades do CIS-EPM;
ao Prof. Dr. Samuel Goihman, mente brilhante e parceiro de vrios projetos;
Prof. Monica Parente Ramos, serena, perspicaz, e a efetiva coordenadora do CIS-EPM;
Prof. Dra. Beatriz de Faria Leo, inteligente e polmica pesquisadora;
Sra. Nilce Manfredi, analista de sistemas, membro da primeira coordenadoria do CIS-EPM, responsvel pela rea de formao de recursos humanos at os dias de hoje, amiga e colaboradora incansvel;
s Sras. Cludia Galindo Novoa Barsottini, Edda Maria Parente La Selva, Maria Elisa Rangel Braga e Miriam Costa, que tiveram uma participao direta muito especial na elaborao final deste trabalho;
a toda equipe do CIS-EPM a quem se deve a construo deste novo paradigma de ensino na UNIFESP/EPM. As suas aes sempre se caracterizaram por imaginao, trabalho e criao. O seu entusiasmo sempre me motivou e estimulou;
s Agncias de Fomento Pesquisa: FINEP, CNPq e FAPESP;
Organizao Mundial da Sade, Ministrio da Sade, Ministrio da Educao e do Desporto, Secretaria Estadual de Sade de So Paulo, Secretaria Municipal da Sade de So Paulo, Conselho Regional de Medicina de So Paulo, Conselho Regional de Enfermagem de So Paulo, Associao Paulista de Medicina, Instituto Paulista de Pesquisas e Estudos em Nefrologia e Hipertenso;
s empresas, IBM do Brasil, ABC Bull, Itautec-Phlico, Dixtal, Editora Artes Mdicas.
a todos aqueles que, direta ou indiretamente, me apoiaram e contriburam para a implantao da Informtica em Sade na UNIFESP/EPM, o meu muito obrigado.
SUMRIO
RESUMO......................................................................................................................... 12
INTRODUO ................................................................................................................ 16
1.1. O SONHO ............................................................................................................... 17 1.2. HISTRICO............................................................................................................. 20
1.2.1 O impacto da microinformtica...................................................................... 21 1.2.2 O computador encontra a medicina .............................................................. 22
1.3. INFORMTICA MDICA COMO CINCIA....................................................................... 28 1.3.1 Os Principais Desafios .................................................................................. 30
1.3.1.1 Organizao e gerenciamento da informao em sade ....................................30 1.3.1.2 O profissional da sade ..................................................................................31
1.3.1.1.1.1Os profissionais da sade do sculo XXI..............................................33 1.3.1.2 O administrador ..............................................................................................37 1.3.1.2 O paciente ......................................................................................................40
1.3.1.2 Repensando a educao e o ensino ...................................................................42
OBJETIVO ...................................................................................................................... 49
MTODOS E INSTRUMENTOS..................................................................................... 53
3.1 IMPLANTAO DO CENTRO DE INFORMTICA EM SADE............................................. 56 3.1.1 Organizao dos recursos humanos do CIS-EPM........................................ 56 3.1.2 Formao de Recursos Humanos na Comunidade ...................................... 57
3.1.2.1 A informtica no currculo do curso mdico.........................................................58 3.1.2.2 A informtica no currculo do curso biomdico....................................................62 3.1.2.3 Outros cursos ......................................................................................................66
3.1.3 Linhas de Pesquisa ....................................................................................... 68 3.1.3.1 Desenvolvimento de aplicativos e sistemas ........................................................68
3.1.3.1.1 Projetos e Programas Educacionais............................................................69 3.1.3.1.2 Sistemas de Coleta e Anlise de Informaes em Sade ...........................80 3.1.2.1 Sistemas de Apoio Deciso.........................................................................98
3.1.4 Equipe de rede ............................................................................................ 112 3.1 PROJETO PILOTO ................................................................................................... 115
3.2.1 Escolha do local .......................................................................................... 116 3.2.2 Infra-estrutura .............................................................................................. 116 3.2.3 Escolha das ferramentas............................................................................. 117 3.2.4 Treinamento................................................................................................. 119 3.1.1 Avaliao ..................................................................................................... 120
RESULTADOS.............................................................................................................. 122
4.1 RESULTADOS DIRETOS .......................................................................................... 123 4.1.1 Organizao dos recursos humanos dos CIS-EPM.................................... 123 4.1.2 Formao de recursos humanos na comunidade....................................... 124
4.1.2.1 Palestras ...........................................................................................................124 4.1.2.2 Cursos de informtica........................................................................................125 4.1.2.3 Utilizao dos laboratrios de informtica .........................................................125 4.1.2.5 Servio de help desk. ........................................................................................126
4.1.3 Desenvolvimento de aplicativos e sistemas................................................ 127 4.1.3.1 Programas educacionais ...................................................................................127 4.1.3.2 Desenvol. de Sistemas de Coleta e Anlise de Informaes em Sade: ..........134 4.1.3.3 Desenvolvimento de Sistemas de apoio deciso: ..........................................139
4.1.4 A Rede Acadmica da UNIFESP/EPM ....................................................... 141 4.1.5 Resultados do Projeto Piloto ....................................................................... 143
4.2 RESULTADOS INDIRETOS ....................................................................................... 146
DISCUSSO ................................................................................................................. 148
CONCLUSES ............................................................................................................. 167
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 172
GLOSSRIO................................................................................................................. 199
ANEXO A ...................................................................................................................... 219
ANEXO B ...................................................................................................................... 225
ANEXO C ...................................................................................................................... 229
ANEXO D ...................................................................................................................... 237
APNDICE A ................................................................................................................ 309
APNDICE B ................................................................................................................ 317
APNDICE C ................................................................................................................ 321
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Objetivos da informtica mdica para os mdicos do futuro, 33
Quadro 2 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade, em 1990, no Curso Biomdico, 63
Quadro 3 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade I e II, em 1992, no Curso Biomdico, 64
Quadro 4 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade I e II, de 1995 a 1997, no Curso Biomdico, 65
Quadro 5 Carga horria das Disciplinas de Informtica em Sade em cursos de especializao e ps-graduao, 67
Quadro 6 Primeira fase de treinamento oferecido aos professores do Ambulatrio Geral de Pediatria, 151
Quadro 7 Segunda fase de treinamento oferecido aos professores do Ambulatrio Geral de Pediatria. 151
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Programa Educacional em Glomerulonefrites
Figura 2 Programa Educacional em Oftalmologia
Figura 3 Programa Educacional em Dermatologia
Figura 4 Programa Educacional em Aleitamento Materno
Figura 5 Programa Educacional em Gentica na Internet
Figura 6 Programa Educacional em Biologia Molecular na Internet
Figura 7 Programa Educacional em Hipertenso
Figura 8 Universidade Virtual
Figura 9 Clinic Manager
Figura 10 Clinic Manager
Figura 11 Programa SIPAC-RIM
Figura 12 Sistema Clnico de Informaes Hospitalares SCIH.
Figura 13 Sistema Geriatria (Gerosystem
Figura 14 Sistema de Apoio Deciso em Nutrio
Figura 15 Sistema de Apoio Deciso em Litase
Figura 16 Esquema do Backbone FDDI da UNIFESP/EPM.
Figura 17 Home-page da Universidade Federal de So Paulo
Figura 18 Planta atual do Ambulatrio Geral de Pediatria
Resumo
Introduo:
Diante da exploso de informaes na nossa sociedade e da sua
transio do modelo industrial para o do mundo ps-industrial, os paradigmas
clssicos de ensino, caracterizados por rgidos currculos cristalizados,
deixaram de ser adequados. A sociedade da informao determina que a
medicina moderna seja orientada pela qualidade, o que implica no
gerenciamento racional da informao em sade.
O emprego das modernas tecnologias de teleinformtica facilitam
o acesso informao, onde e quando necessria, auxiliando a trazer o mdico
para mais perto do paciente. Assim, a mudana do paradigma educacional
dentro de uma estrutura consolidada e tradicional, como a UNIFESP/EPM,
torna-se necessria diante dos novos recursos didticos e das recentes
tecnologias de informao. indispensvel formar o aluno de hoje na utilizao
adequada das ferramentas de informtica, para capacit-lo a exercer a sua
profisso em um ambiente de alta demanda e competitividade.
Objetivos:
Este trabalho tem por objetivo detalhar o processo evolutivo de
instaurao de um novo paradigma de aprendizado na UNIFESP/EPM. Este
dever habilitar seus alunos para o exerccio profissional no ambiente da nova
sociedade da informao. Com esse novo paradigma de ensino/aprendizado no
atendimento do paciente em ambiente rico em recursos computacionais,
esperamos que nossos alunos sejam capazes de tomar decises de forma
segura; de realizar, com o corpo docente uma intensa interatividade, de modo
que o seu ambiente de aprendizado extrapole a dimenso do espao fsico; de
preparar-se para o exerccio profissional no sculo XXI. Com relao ao corpo
docente, esperamos que participe efetivamente do processo de
intercomunicao e disponibilize seu conhecimento e experincia no
desenvolvimento de novas metodologias educacionais.
Mtodos:
O processo de mudana do paradigma educacional foi
implementado atravs de:
a) criao do Centro de Informtica em Sade CIS-EPM, suas
linhas de pesquisa em implantao de infra-estrutura de rede,
em sistemas de informao em sade, em sistemas de apoio
deciso, em aplicativos educacionais, em metodologia de
educao continuada atravs da Internet para a gerao de
ferramentas e a sua disseminao entre a comunidade,
associada a uma intensa atividade de treinamento, para criar a
cultura de informtica nessa comunidade, estabelecendo assim
as condies adequadas para a implementao da nossa
proposta.
b) a implantao de um projeto piloto de integrao de
aprendizado e assistncia em ambiente rico de recursos
computacionais no Ambulatrio Geral de Pediatria da
UNIFESP/EPM, que objetiva validar o novo paradigma
pretendido.
Resultados:
Ao longo dos ltimos dez anos, atravs da implantao seqencial
e crescente de infra-estrutura fsica, de comunicao e de conhecimento,
acreditamos ter disseminado a cultura de informtica na comunidade da
UNIFESP/EPM e, portanto, desenvolvido um ambiente de intercomunicao na
comunidade docente, discente e de funcionrios, a Intranet, e entre esta
comunidade e o mundo, a Internet. No total, treinamos 4.448 membros da
comunidade, de junho de 1988 at junho de 1997. Um total de 8.109 pessoas
utilizaram os nossos laboratrios multimdia. Ao todo, permaneceram 12.721
horas diante dos computadores, para a realizao de trabalhos acadmicos e
atividades de pesquisas. Ministramos a disciplina de Informtica em Sade a
2.292 estudantes matriculados nos cursos de graduao, especializao e ps-
graduao. Desenvolvemos e implantamos sistemas de apoio deciso,
aplicativos educacionais para o estudante e orientao ao paciente, aplicativos
baseados na Internet, sistemas de gerenciamento de informao em sade e
sistemas de educao a distncia atravs da Internet.
Formamos e capacitamos, em Tecnologia de Informtica em
Sade, os recursos humanos envolvidos nas linhas de pesquisa e
desenvolvimento.
Implantamos o projeto piloto de integrao de aprendizado e
assistncia em ambiente rico de recursos computacionais no Ambulatrio Geral
de Pediatria da UNIFESP/EPM, no qual se objetiva validar o novo paradigma
pretendido.
Concluses:
Podemos concluir que disseminamos a cultura de informtica na
comunidade da UNIFESP/EPM, atravs da implantao seqencial e crescente
de infra-estrutura fsica, de comunicao e de conhecimento Desenvolvemos
um ambiente de intensa intercomunicao na comunidade docente, discente e
de funcionrios, a Intranet, e entre esta comunidade e o mundo, a Internet
necessrios para a implantao no novo paradigma de aprendizado proposto.
Dominamos as tcnicas de desenvolvimento de software,
experincia hoje, que nos habilita para o acompanhamento dos
desenvolvimentos futuros.
O projeto piloto de aprendizado e assistncia implantado no
ambulatrio de pediatria inicia nosso processo de validao desse trabalho.
Todo esse processo implica no repensar da educao, para que o
processo de ensino/aprendizado se mova do modelo fechado entre as quatro
paredes de uma sala de aula para o do conhecimento compartilhado em
ambiente aberto e de alta tecnologia de informao.
1
INTRODUO
1.1. O sonho
Pelo menos durante os ltimos trezentos anos, a luta poltica fundamental em todas as naes industrializadas tem sido em torno da distribuio da
riqueza: quem fica com o qu? () Seja qual for a distncia que separa os ricos dos pobres, um abismo ainda maior separa os armados dos desarmados e os ignorantes
dos instrudos. Hoje, nas naes ricas em rpida mutao, apesar de todas as iniqidades de renda e riqueza, a futura luta pelo poder ir se transformar, cada vez mais, numa luta pela distribuio e pelo acesso ao conhecimento. por isso que, a
menos que compreendamos como e para quem flui o conhecimento, no poderemos nos proteger contra o abuso de poder, criar a sociedade melhor, mais democrtica, que as tecnologias do amanh prometem. O controle do conhecimento o ponto crucial da
futura luta de mbito mundial pelo poder em todas as instituies humanas. Alvin Toffler
No ambiente tranqilo, soa ao fundo uma bela msica. Um suave
piscar no canto da tela plana do meu computador avisa que um paciente est
conectando meu sistema unificado de informaes.
Atravs da identificao antropomtrica da imagem da face
transmitida, so automaticamente localizados, no banco de dados de pacientes,
todas as informaes da histria clnica de Carmen Costa. H meses que eu
no via a paciente apesar de ter recebido, do servio de atendimento domiciliar,
vrios relatrios sobre a sua sade, via Internet.
Dona Carmen aproximou seu relgio de pulso do leitor de ondas
curtas e, assim, apareceram no canto direito da tela seus sinais biolgicos
bsicos, como freqncia cardaca (FC), presso arterial (PA), seu
eletrocardiograma (ECG) cuidadosamente analisado pelo sistema bsico de
entrada e sada de sinais vitais e tambm informaes sobre sua
hemoglobina e a gasometria obtidos por transiluminao.
No canto esquerdo superior da tela do computador, vejo sua
histria clnica. Nesta, aparecem o grfico de peso da paciente, alertando para
a adequao de seu ndice de massa corprea; dados de exames laboratoriais;
e, em destaque, a normocolesterolemia, bem como uma referncia sobre a alta
aderncia da paciente dieta. No tomava mais medicao hipolipemiante. O
analisador das imagens radiolgicas no apontava alteraes patolgicas.
Aps alguns segundos, surge no centro da tela a imagem de dona
Carmen, que me cumprimenta e imediatamente refere uma sensao de bola
no peito, impedindo a passagem do ar. Completando, informa que j havia
consultado o guia eletrnico de auto-cuidado sobre seu mal-estar, tendo
recebido a recomendao de entrar em contato com seu mdico. Interrogada
por mim, contou que havia tido uma discusso com a vizinha e perguntava se
podia tomar um tranqilizante.
Verifiquei o principal sistema de apoio deciso do meu
computador, no canto superior direito. Ele informava que no era a primeira vez
que a paciente apresentava esse tipo de queixa; que j havia sido
cuidadosamente investigada recentemente; e que, diante dos resultados do
ECG e da FC normal, a chance de a paciente no estar apenas ansiosa era de
5%.
Esta ltima informao tambm j havia sido comparada, atravs
da Internet, com os dados do banco de dados do consenso internacional sobre
queixas relacionadas a stress e se encontrava na faixa de normalidade da curva
de Gauss.
O sistema de apoio deciso, a partir dos dados iniciais,
recomendou a coleta de mais algumas informaes sobre dona Carmen, com
base no guideline da Sociedade Internacional de Psiquiatria. Essas informaes
foram analisadas e incorporadas histria da paciente pelo sistema de
reconhecimento de voz.
A seguir, o sistema de prescrio e interao de drogas,
comparando as informaes da paciente e a sugesto diagnstica, gerou a
receita, que, acrescida de minha assinatura eletrnica, enviei pela Internet para
a impressora da casa da paciente.
Solicitei que me desse notcias sobre como estaria se sentindo
dentro de uma hora e que, atravs de seu computador, escolhesse um horrio
livre em minha agenda e viesse ao meu consultrio no dia seguinte, sem falta.
Dona Carmen agradeceu-me e desconectou.
Na tela do computador, surgiu um quadro de Monet, do meu site
preferido da Internet, e a msica suave de Loreena McKennitt voltou a tocar.
*****
1.2. Histrico
Just as banks cannot practice modern banking without financial software, and airlines cannot manage modern travel planning without shared databanks
of flight schedules and reservations, it is increasingly difficult to practice modern medicine without information technologies.
Edward H. Shortliffe & Leslie E. Perreault
A primeira aplicao prtica da computao relevante para a rea
da sade foi o desenvolvimento de um sistema de processamento de dados
baseado em cartes perfurados, criado por Herman Hollerith em 1890.
Primeiramente utilizado para a realizao do censo dos Estados Unidos
daquele ano, o sistema foi, logo a seguir, adotado para solucionar problemas
nas reas de epidemiologia e sade pblica (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990).
A tcnica dos cartes perfurados foi amadurecida e amplamente
utilizada nas dcadas de 20 e 30. Apenas no final da dcada de 40 comearam
a surgir as tcnicas de armazenamento de seqncias de instrues ou
programas.
A cincia da computao teve seu incio real em 1946, com
aconstruo do ENIAC, um computador que ocupava uma rea de 450 m2,
pesava 30 toneladas e utilizava 18 mil vlvulas as quais queimavam
velocidade de uma a cada sete minutos (MICROSOFT ENCARTA 97). Os
profissionais da rea da cincia da computao desenvolviam programas em
cdigos extremamente complexos e eram indivduos altamente especializados,
com profundo conhecimento sobre a mquina. Segundo TOFFLER (1990),
havia uma pequena Irmandade de Dados os profissionais de processamento
de dados, nicos capazes de fazer o crebro gigante funcionar , cujos
sacerdotes gozavam das bnos de um infomonoplio.
Foi apenas com a substituio das vlvulas por transistores e, a
seguir, por chips, que os computadores se tornaram acessveis tanto aos
laboratrios de pesquisas das universidades quanto s empresas.
No entanto, as potencialidades de utilizao dessas mquinas
eram amplamente acompanhadas e avaliadas por todas as reas do
conhecimento humano, inclusive a mdica.
1.2.1 O impacto da microinformtica
Com o surgimento do microcomputador na dcada de 70, a
informtica sofreu um notvel processo de democratizao e de popularizao
(LEO, 1990). Com eles, surgiram tambm as linguagens de alto nvel
bastante prximas da linguagem coloquial, que, associadas a poderosos
sistemas operacionais, provocaram mudana radical no perfil dos usurios de
computador. Os sacerdotes de Toffler, ao invs de lidar com analfabetos em
computao, enfrentavam, agora, um grande nmero de usurios finais que
tinham conhecimentos bsicos de informtica, liam revistas especializadas,
compravam computadores para seus filhos usarem em casa e j no ficavam
impressionados diante de algum que comentasse sobre ROM e RAM
(TOFFLER, 1990).
Evidentemente, mquinas menores e mais baratas e programas
cada vez mais fceis de usar contriburam para a grande exploso de mercado
da indstria da computao.
O impacto dessa nova tecnologia na prtica da medicina
surpreendente. As tcnicas no invasivas de produo de imagem, como a
ultra-sonografia, a medicina nuclear, a tomografia e a ressonncia magntica,
alteraram sensivelmente o processo de diagnstico mdico (SIGULEM, 1988).
Novos equipamentos de monitorizao de pacientes, como
videolaparoscopia e analisadores automticos de eletrocardiogramas, fluxos
sangneos e gasosos, globais e regionais, oferecem informaes vitais que
auxiliam o mdico quer no tratamento eficaz do paciente, quer no apoio
pesquisa.
Na prtica mdica, a informtica ajuda na coleta, no registro e na
anlise de dados; gera conhecimento sobre o conhecimento; e, dessa forma,
diz respeito a todas as reas da medicina, da microscpica macroscpica e
da assistncia individual sade coletiva (DEGOULET & FIESCHI, 1997).
Os sistemas de informao em sade podem monitorar o
processo de assistncia sade e aumentar a qualidade da assistncia ao
paciente por auxiliar no processo de diagnstico ou na prescrio da terapia,
por permitir a incluso de lembretes clnicos para o acompanhamento da
assistncia, de avisos sobre interaes de drogas, de alertas sobre tratamentos
duvidosos e desvios dos protocolos clnicos (HERSH, 1996).
1.2.2 O computador encontra a medicina
A proposta mais antiga de utilizao da computao na rea
mdica data de 1959, quando LEDLEY & LUSTED (1985) sugeriram o
desenvolvimento de sistemas que pudessem auxiliar os mdicos na tomada de
deciso.
Esta era uma tendncia a dos sistemas voltados para o apoio
deciso mdica , mas nem todos a seguiram. Alguns pesquisadores
comeavam a se preocupar com a noo da informao hospitalar como um
todo.
Nos Estados Unidos, o primeiro projeto de informatizao
hospitalar Hospital Computer Project foi realizado em 1962, a partir de um
contrato firmado entre o Massachusetts General Hospital MGH e uma
empresa de Cambridge, denominada Bold Beranek and Newman BBN, tendo
sido financiado pelo National Institutes of Health e pela American Hospital
Association (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990).
Em funo desse projeto, diversos aplicativos comearam a ser
desenvolvidos no MGH por Octo Barnett um dos profissionais que mais
contribuies fez na rea de informtica em sade e seus associados.
Destes, destacam-se programas de admisso e alta, relatrios de laboratrios e
resumos de prescries.
Na mesma poca, projetos similares comearam a ser
desenvolvidos em outros hospitais americanos: Latter Day Saints Hospital
LDS, em Salt Lake City (PRYOR et al. 1983), Kaiser Permanent (COLLEN,
1990), Universidade de Stanford (BLOIS & SHORTLIFFE, 1990) etc.
De acordo com Otto Rienhoff, atual presidente da International
Medical Informatics Association IMIA, os precursores da rea na Europa
foram Wagner em Heidelberg e Reichertz em Hannover (Alemanha), Grmy em
Paris (Frana), Anderson em Londres (Inglaterra) e Peterson em Estocolmo
(Sucia) (RIENHOFF, 1997). O professor Peter Reichertz foi um dos primeiros a
escrever, na dcada de 70, sobre a importncia da informtica mdica tanto na
pesquisa quanto para melhorar o currculo mdico. Tambm de Reichertz a
viso sobre as mudanas que aconteceriam na relao entre o mdico e o
paciente (VAN BEMMEL, 1988):
The more a patient is able to ask a system himself
regarding a certain diagnosis, or treatment, the more he will do so, either to avoid contact with the physician or to monitor his decision or action. The medical community will have to face that the borderline between the physician and the patients will move away from the traditional knowledge ditch which separates the provider from the consumer of health care.
No Brasil, a situao dessa especialidade era bastante diversa do
que ocorria na quase totalidade dos pases do hemisfrio norte e Europa, onde
a informtica mdica implicava hardware e software avanados e abundncia
de recursos para o desenvolvimento e a manuteno de sistemas que
utilizavam a tecnologia de ponta (LEO, 1990).
Apesar das restries impostas, inicialmente pelo estabelecimento
de uma comisso para a Coordenao de Atividades na rea da Eletrnica
(CAPRE) em 1972 e depois pela Lei Nacional de Informtica, institucionalizada
em novembro de 1984 (BOTELHO, 1989), a rea de informtica aplicada
sade era estudada, acompanhada e desenvolvida por grupos isolados em todo
o pas. Destacam-se, entre outras, as iniciativas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP, da
Universidade de So Paulo, da Escola Paulista de Medicina e da prpria
mquina do governo federal.
Na Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de So
Paulo, a informtica comeou a ser implantada em 1976, graas viso, em
nossa opinio revolucionria na poca, de um de seus mdicos, o Prof. Dr.
Silvio Borges (JORGE, 1997).
Ciente das necessidades de coleta padronizada da informao e
de seu adequado armazenamento, este professor criou o Servio de
Informtica, que mais tarde se transformou no Centro de Processamento de
Dados (CPD) da Escola Paulista de Medicina.
Diversos protocolos de coleta sistematizada de informaes foram
idealizados pelo professor Silvio e so referidos, at hoje, por sua
engenhosidade e adequao e por revelarem uma viso de futuro
extremamente precisa.
No entanto, muito pouco foi implementado. O professor vivia em
uma poca muito alm da sua no havia nem mquinas, nem aplicativos e
nem recursos humanos adequados para permitir que suas idias fossem
colocadas em prtica.
O CPD da EPM, hoje Departamento de Processamento de Dados,
tem como tarefas o gerenciamento das informaes administrativas da
instituio e tambm o das informaes do seu Hospital Universitrio o
Hospital So Paulo (HSP).
A informtica em sade comeou a ser concebida, em 1985, na
pequena sala de informtica instalada na Disciplina de Nefrologia do
Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, criada devido
sensibilidade, ao incentivo e ao apoio da chefia desta Disciplina.
Comeamos com vantagens em relao a diversos precursores da
informtica mdica do mundo, j na era da microinformtica. Acreditvamos
firmemente que a informtica mdica ocuparia um lugar cada vez mais
importante dentro das instituies de sade. Tnhamos um sonho vivel, porm
ambicioso, e para concretiz-lo necessitvamos conhecer os fundamentos
tericos da rea e acompanhar o que estava sendo desenvolvido em centros de
excelncia.
A primeira oportunidade de conhecer o estado da arte, ocorreu
em 1986 quando a Organizao Panamericana de Sade patrocinou uma
viagem de estudos de um grupo de jovens administradores da Amrica Latina.
Durante 15 dias de intensa convivncia e discusses, participamos do Fifth
Congress on Medical Informatics, do Tenth Annual Symposium on Computer
Applications in Medical Care (SCAMC) e do workshop International
Collaboration on the Application of Medical Informatics em Washington. Nesta
visita, conhecemos alguns institutos de pesquisas em informtica em sade
como a National Library of Medicine NLM sediada no National Institute of
Health. Esta visita causou um grande impacto em todo o grupo devido a sua
incrvel infra-estrutura de informtica composta, nesta ocasio, por 2.200
microcomputadores e quatro mainframes IBM 3090. A NLM j era informatizada
e possua centenas de microcomputadores disposio do pblico.
Ainda nesta viagem conhecemos o projeto pioneiro da Lister Hill
National Center for Biomedical Communications que desenvolvia a metodologia
para gravar o acervo do Medline em CD-ROM.
Tivemos ainda, durante este seminrio, contato com a rea da
Inteligncia Artificial e nos emocionamos com a frase do Prof. Marvin Minsky,
referindo-se a uma biblioteca do ano 2.020, citada na abertura do SCAMC pelo
Prof. Edward A. Feigenbaum (FEIGENBAUM, 1990): voc pode imaginar que
no passado haviam bibliotecas onde os livros no conversavam uns com os
outros?.
Participamos de discusses em um ambiente onde a Informtica
Mdica j estava consolidada h mais de 15 anos e com profissionais,
experientes na rea.
Vimos alguns resultados e muitos projetos em desenvolvimento,
mas era difcil absorver as dificuldades, no s porque no as conhecamos,
mas sobretudo porque experincia no se aprende adquire-se.
No temos hoje a menor dvida de que esta viagem nos marcou
profundamente e definiu o rumo de nossas pesquisas.
Conscientes da imensa distncia existente na rea entre a
situao brasileira e a dos pases desenvolvidos, os grupos de pesquisadores,
mapeados, agregados e estimulados pelo Dr. Reginaldo de Holanda
Albuquerque, superintendente da rea de Cincias da Vida do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Tecnolgico CNPq, comearam a movimentar-
se e a mostrar ao pas que era preciso preocupar-se com a informtica em
sade.
Em fevereiro de 1988, a Secretaria Especial de Informtica (SEI)
do Ministrio da Cincia e Tecnologia atravs da Comisso Especial de
Informtica em Sade, composta por dezenas de representantes do setor
sade do pas, dos governos federal, estaduais e municipais, de hospitais,
universidades, centros de pesquisa e associaes profissionais apresentou a
Proposta de Plano Setorial de Informtica em Sade visando orientao do
uso da informtica, tanto nos aspectos da aplicao da tecnologia para a
soluo dos problemas relativos a promoo, preveno e recuperao da
sade da populao quanto nos aspectos de produo de equipamentos,
programas e servios necessrios a essa aplicao (MINISTRIO DA CINCIA
E TECNOLOGIA, CONIN - CONSELHO NACIONAL DE INFORMTICA E
AUTOMAO, SEI- SECRETRIA ESPECIAL DE INFORMTICA, 1988).
Vrias necessidades esto evidenciadas nesse documento
(APNDICE A): a de formar profissionais especializados na rea e a de equipar
os centros de pesquisa j existentes, bem como a de dar suporte a grupos
emergentes, entre outras.
Em 1986, com o apoio da ento Diretoria da Escola Paulista de
Medicina e com a predisposio dos rgos governamentais e de fomento de
dar suporte aos centros de pesquisa de informtica em sade, o Centro de
Informtica em Sade da Escola Paulista de Medicina CIS-EPM deixava de
ser um ideal de poucos e passava a ser uma necessidade institucional e um
compromisso com a sociedade.
Em maro de 1988, o CIS-EPM foi oficialmente inaugurado.
1.3. Informtica mdica como cincia
For the first time in the history of mankind, innovation is the fundamental raw material. Real strategic resources are no longer represented by coal, steel, or oil
but by the cleverness and cognitive capability of man.
Carlo De Benedetti
No prefcio de seu livro Introduction to Clinical Informatics,
DEGOULET & FIESCHI, (1997) renomados pesquisadores da rea de
informtica em sade na Frana, resumem a abordagem da nova cincia da
seguinte forma:
Se um grupo de mdicos, cientistas da rea de computao ou
cientistas de outras disciplinas fosse questionado sobre o que informtica
mdica, no haveria uma resposta nica. Alguns apontariam exemplos
concretos, considerando as aplicaes na rea da computao mdica como
um conjunto de tcnicas e ferramentas. Outros enfatizariam a tecnologia
propriamente dita, seu progresso nos anos recentes ou as perspectivas futuras.
Essas respostas descrevem a ponta do iceberg, posto que apresentam a
computao mdica apenas por suas aplicaes e tcnicas. ()
Informtica mdica tambm uma disciplina cientfica. Ela nos
ajuda a entender os mecanismos da interpretao e do raciocnio mdico, da
abstrao e da elaborao do conhecimento, da memorizao e do
aprendizado. A cincia de gerenciar a informao mdica est na base da
medicina. O que a informao mdica? Qual o processo que nos leva dos
sintomas ao diagnstico e depois deciso? Qual a validade de uma estratgia
de tomada de deciso? Quais so os mecanismos das exploraes ou
descobertas mdicas? Qual o impacto da introduo das tecnologias da
informao na organizao do sistema de sade? possvel definir uma tica
para o processamento da informao? H uma srie de questes para as quais
a informtica mdica pode fornecer respostas. Como outras disciplinas
cientficas, a informtica mdica inclui dimenses culturais e sociolgicas que a
colocam em um lugar especial entre as disciplinas mdicas bsicas. ()
Informtica mdica uma cincia que, a exemplo de outras
disciplinas, como a biologia molecular ou a neurocincia, tem razes na histria
e nas idias da teoria da informao. caracterizada por seu objeto (medicina)
e seus mtodos (os de gerenciamento de informao). Informtica mdica
evoca outras disciplinas, como a matemtica, a estatstica, a lingstica e a
cincia da cognio ou filosofia. bem adequada abordagem experimental:
sugesto de hiptese; modelagem; experimentao, freqentemente na forma
de desenvolvimento ou implantao de programas ou prottipos de sistemas de
informao; avaliao; validao; e, por fim, generalizao do processo.
A Sociedade da Informao, nesta fase ps-industrial, exige que
a medicina moderna seja orientada pela qualidade o que implica, basicamente,
o gerenciamento racional da informao mdica. Como a medicina aumenta a
sua complexidade (devido a novos mtodos de investigao ou tratamento e
diversidade de organizaes da sade, como indivduos trabalhando sozinhos,
pequenas clnicas, ambulatrios especializados, hospitais secundrios e
hospitais de alta complexidade, componentes estes que, para adequado
suporte ao paciente, necessitam trabalhar em conjuno), a informtica mdica
um agente indispensvel para a descentralizao e a integrao. Ela ajuda a
superar as limitaes humanas de memria ou processamento de informaes
(por exemplo, gerenciar complexos objetos mdicos, como sinais ou imagens,
reconstruir imagens, otimizar a dosagem de certos medicamentos, gerenciar
grandes bases de conhecimento mdico). Com a implementao das redes de
comunicao, a informtica mdica ajuda a trazer o mdico para mais perto do
paciente (por exemplo, atravs da telemedicina) e facilita o acesso informao
necessria ao cuidado timo (por exemplo, atravs do acesso ao pronturio
eletrnico do paciente, a bases de conhecimento, ao uso de sistemas
especialistas ou realizao de trabalho cooperativo).
Esta definio evidencia a abrangncia da rea e, especialmente,
demonstra a necessidade de seu relacionamento com todas as outras reas da
medicina.
Cabe uma explicao sobre a utilizao das expresses
informtica mdica e informtica em sade. Dado que a rea abrange no s
a medicina, mas tambm a enfermagem, a nutrio, a veterinria e a
odontologia, a Sociedade Brasileira de Informtica em Sade SBIS resolveu
utilizar o termo mais amplo sade ao invs de mdica, ao contrrio do que
se faz na Europa, sia e nos Estados Unidos. Nessas regies, o adjetivo
medical utilizado em sentido to amplo quanto o sade que adotamos.
1.3.1 Os Principais Desafios
1.3.1.1 Organizao e gerenciamento da informao em sade
A invaso da tecnologia na nossa vida inevitvel. E, a partir de
algum momento, comeamos a achar inadmissvel a sua ausncia: por
exemplo, reagimos quando, ao fazer compras em uma loja qualquer pela
segunda vez, ela exige novamente nossos dados para um cadastro; quando o
estabelecimento no aceita pagamento por carto de crdito ou de dbito;
quando descobrimos que nosso telefone no digital e s funciona com pulsos;
ou, ainda, quando temos de decifrar a letra do mdico para comprar o
medicamento receitado.
Todos sofrem com as dificuldades relacionadas informao (sua
ausncia, seu armazenamento, sua recuperao e seu entendimento): o
profissional, o administrador, o paciente.
1.3.1.2 O profissional da sade
O profissional da sade ainda tem de anotar em pronturios mal
organizados e mal estruturados os dados de seus pacientes. E, o que pior,
tem de ler e entender as anotaes dos colegas e interpretar os resultados dos
exames que vieram do laboratrio com padres nem sempre bem definidos.
METZEGER (1995), em seu artigo The Potential Contributions of
Patient Care Information Systems, ilustra o calvrio de um mdico quando este
vai passar visita a seus pacientes internados:
a) encontrar a folha onde esto anotados os dados de
temperatura e sinais vitais;
b) localizar as prescries de medicamentos e quando estes
foram administrados;
c) encontrar as anotaes das enfermeiras;
d) encontrar o registro do paciente e persuadir os outros a utiliz-
lo, pois ir necessitar dele;
e) folhear o pronturio, normalmente com as abas amassadas, e
procurar resultados de laboratrio, relatrios de patologia,
relatrios de raio-X e anotaes de consultas (que geralmente
esto faltando ou esto atrasadas);
f) checar o que foi solicitado pelos funcionrios do hospital;
g) ver os resultados de laboratrio e de radiologia que esto
disponveis no computador ou telefonar diretamente ao
laboratrio se os dados no estiverem l;
h) ir ao departamento de radiologia e comear outra busca de
filmes e relatrios;
i) finalmente, ver o paciente e sua famlia.
Um passo tpico, omitido desta descrio, a prtica de
transcrever os prprios achados e observaes.
Vrios estudos, a maioria realizada em hospitais universitrios,
relatam o tempo gasto com todas essas atividades. Um desses estudos,
abrangendo residentes de medicina interna de um grande centro mdico
acadmico, indicou que perto de 50% de seu tempo dedicado coleta de
informaes dos pronturios. Examinar os pacientes e passar as visitas so
aes que consomem apenas 6% e 5% do seu tempo respectivamente (LURIE
et al., 1989).
Um estudo com residentes e mdicos de uma clnica de medicina
geral mostra que eles gastam mais de 35% do seu tempo em atividades de
documentao (MAMLIN & BAKER, 1973).
Vrios pesquisadores investigaram as necessidades de
informao dos mdicos durante o atendimento a pacientes em diferentes tipos
de ambientes. Trabalhos de COVELL et al. (1985), e GORMAN & HELFAND
(1995), sugerem que pelo menos uma dvida levantada a cada encontro com
o paciente.
Essa falta de informao tem impacto significante no atendimento
ao paciente? Estudos tm mostrado que h prescrio inadequada de
antibiticos numa faixa que varia de 25% a 50% das ocasies; testes de
acompanhamento de diabticos so prescritos inadequadamente de 45% a
84% das vezes; valores semelhantes so apontados para o tratamento do
infarto do miocrdio (ELLERBECK, 1995).
Um dos impactos mais imediatos do acesso eletrnico s
informaes sobre o paciente o aumento de segurana na obteno da
informao. Uma vez que a informao necessria ao mdico est disponvel
na hora ou pode ser impressa de forma resumida a partir do pronturio
eletrnico do paciente, o problema passa a ser a segurana no sistema e a
disponibilidade de terminais para o acesso ao sistema.
Os resultados da avaliao da introduo do sistema de
informao COSTAR (ZIELSTORFF, 1986) mostrou que o sistema
disponibilizou as informaes necessrias em 99% das vezes contra os 72%
avaliados quando a informao era registrada em papel (ZIELSTORFF, 1977).
Outro estudo, em outro contexto mas sobre o mesmo sistema, verificou que, em
30% das vezes, os pronturios em papel estavam disponveis, contra 98% da
disponibilidade no sistema (CAMPBELL, 1989).
1.3.1.1.1.1 Os profissionais da sade do sculo XXI
Quais so as necessidades do mdico do futuro? A literatura
indica (HAYNES, 1989) que os mdicos tm problemas no gerenciamento das
informaes, inclusive:
a) coletar as informaes clnicas;
b) trabalhar com probabilidades no raciocnio clnico;
c) estabelecer comunicao precisa;
d) manter-se atualizados;
e) responder imediatamente s questes enquanto presta
assistncia;
f) executar procedimentos indicados quando as situaes os
exijam.
Todas as tarefas relacionadas poderiam ser auxiliadas por um
sistema de gerenciamento de informaes. No entanto, no basta introduzir
essa ferramenta no dia-a-dia do mdico. Uma pesquisa realizada com mdicos
da Nova Esccia (MANN,1992) aponta para a necessidade de educao na
rea de informtica mdica: 42% dos mdicos de famlia (family practioners) e
62% dos especialistas daquela localidade disseram possuir computadores em
seus consultrios. No entanto, 78% dos mdicos de famlia e 68% dos
especialistas avaliaram suas habilidades com o computador como fracas (ou
nulas, ou menos do que adequadas).
Resumidamente, o Quadro 1 relaciona qual o conhecimento de informtica necessrio ao mdico, subdividido em reas e quais os objetivos de
cada uma delas.
Quanto ao uso da informao baseada em conhecimento, afirmam
que as necessidades dos profissionais da sade recaem em trs categorias
(HERSH, 1996a):
a) ajuda para resolver um certo problema ou tomar uma deciso;
b) ajuda para obter informaes bsicas em determinado tpico;
c) ajuda para manter o conhecimento atualizado sobre
determinado assunto.
E onde esses profissionais vo buscar respostas para suas
perguntas? Estudos indicam que eles buscam apoio, em primeiro lugar, entre
os colegas de trabalho e, em segundo lugar, recorrendo literatura bsica, ou
seja, livros de referncia (CURLEY, CONNELLY, RICH, 1990) que
freqentemente permanecem desatualizados por anos, oferecendo informaes
ultrapassadas aos seus leitores.
O uso de fontes de informao computadorizadas ainda muito
pequeno, evidenciando que, apesar da crescente quantidade de fontes de
informao disponveis, como as revistas cientficas New England Journal of
Medicine, British Medical Journal, The Lancet, Journal of the American Medical
Association, entre outras, os profissionais da sade devem ser extensivamente
treinados para inclu-las no seu dia-a-dia (HERSH, 1996).
rea Objetivo Cultura em informtica Capacita para o uso de aplicativos. Comunicao Permite a comunicao com outros
profissionais e o acesso a fontes de informao.
Recuperao e gerenciamento da informao
Permite a pesquisa, a recuperao e a organizao da informao a partir de uma variedade de fontes de informao informatizadas .
Aprendizado baseado no computador
Permite a seleo e o uso de aplicativos de ensino para o auto-aprendizado.
Gerenciamento do paciente a) Informtica biomdica: uso de bases de dados e aplicativos estatsticos para o gerenciamento de pacientes; b) Apoio deciso: uso de sistemas especialistas e bases de conhecimento na assistncia ao paciente.
Gerenciamento de consultrios Entendimento dos conceitos relacionados com o gerenciamento prtico do consultrio e o uso da informtica para apoiar tarefas.
Sistema de informao hospitalar Entendimento do hospital como instituio e uso de sistemas de informao para suporte a assistncia, ensino e pesquisa em hospitais.
Sistemas regionais de sade Entendimento dos conceitos relacionados com o sistema de sade regional e uso da informtica para apoiar as tarefas.
Sistemas nacionais Entendimento dos padres de comunicao, tanto de hardware quanto da informao em sade propriamente dita, buscando a integrao da informao em sade em nvel nacional.
Quadro 1 Objetivos da informtica mdica para os mdicos do futuro
modificada por Sigulem, D. (KAUFFMAN & PATERSON, 1994).
O profissional da sade tem de ser cuidadosamente preparado
para o exerccio de sua profisso. Faz parte disso a compreenso do que a
informao, do significado que tem no contexto da sua atividade e de como ela
altera seu processo cognitivo, bem como de onde busc-la, como busc-la e
qual o impacto da sua utilizao na soluo de dvidas e problemas sobre os
quais esteja atuando.
1.3.1.2 O administrador
E o que dizer do administrador? Como ser planejar estoques,
necessidades de recursos humanos, disponibilidade ou no de leitos,
investimentos para os prximos meses? E a qualidade da assistncia que est
sendo prestada? Como avaliar esses parmetros sem o auxlio de ferramentas
que agilizem o processo e armazenem os dados dos meses anteriores, de
modo a permitir que se faam comparaes e extrapolaes?
Por trs dcadas (1960-1990), os computadores instalados em
hospitais de todo o mundo tiveram como funo primordial facilitar a gerao
dos documentos necessrios para o reembolso pelo atendimento aos seus
pacientes. Secundariamente, eram utilizados para automatizar a produo de
relatrios de resultados de um grande volume de testes de emergncia.
Comeando em meados dos anos 80, mudanas dramticas, objetivando
reduzir custos, ocorreram tanto na poltica de atendimento mdico quanto na
tecnologia, provocando importantes alteraes no uso dos computadores em
hospitais.
Hoje, os administradores podem ter acesso aos recursos
necessrios para administrao e gerenciamento de seu hospital. Muitos
hospitais j esto usando regras lgicas, visando a alertar os mdicos e outros
profissionais que neles atuam quando os padres da assistncia no esto
sendo alcanados.
Os sistemas de informao hospitalar tm mudado de sistemas de
contas a pagar e cobranas de pacientes para sistemas clnico-administrativos
que executam, entre outros servios, o gerenciamento da farmcia, dos
laboratrios e da admisso de pacientes.
Atualmente, um Sistema de Informao Hospitalar (SIH) pode ser
definido como um sistema computadorizado, desenhado para facilitar o
gerenciamento de toda a informao administrativa e assistencial de um
hospital. Embora exista uma srie de SIHs no mercado internacional e alguns
no mercado nacional, ainda so muito poucos os que conseguem se adequar
s reais necessidades de suporte sade em um hospital.
Desde sua concepo, a principal misso dos sistemas de
informao dar assistncia eficiente e com alta qualidade.
Sem um sistema adequado de informaes, uma poro
significativa dos recursos gasta para criar, armazenar e recuperar as
informaes dos pacientes. Essas aes, realizadas de forma trabalhosa e
redundante, freqentemente exigem muito tempo e esforo para documentar as
informaes necessrias de modo a possibilitar que outros profissionais
trabalhem com elas.
A indstria da assistncia sade est sendo puxada e
empurrada em todas as direes por mdicos, para aumentar a qualidade da
assistncia; por empresrios, para diminuir os custos e melhorar a estabilidade
financeira de suas empresas; pelas agncias legais e de regulamentao que,
para fins de auditoria, foram os hospitais a produzir detalhada documentao
de seus procedimentos; e pela academia, para prover dados para a pesquisa e
aumentar as oportunidades para a educao. Os sistemas de informao em
sade situam-se no meio de todas essas demandas.
Estimar os custos de instalao e operao de um Sistema de
Informao Hospitalar e ainda a evoluo desses custos uma tarefa difcil.
Mesmo os hospitais que fazem uso extensivo da tecnologia da informao
ainda esto com seus sistemas de informao em fase de desenvolvimento e
sempre estaro. Os Sistemas de Informao Hospitalar so sistemas vivos, que
tm de acompanhar permanentemente as tendncias do planejamento
estratgico institucional e, assim, refletir a identidade da instituio. por isso
que a soluo simplista de comprar um sistema pronto fcil, mas ineficiente.
Na Frana, os hospitais dedicam informtica de 1% a 1,5%
sobre seu faturamento, enquanto os investimentos dos hospitais americanos
esto entre 2% e 3% (DEGOULET & FIESCHI, 1997). No Brasil, onde a histria
dos SIH muito mais recente, na grande maioria dos casos, no existe um
percentual fixo destinado rea de informtica.
Um estudo realizado por Dorenfast, em 1995 (DEGOULET &
FIESCHI, 1997), abrangendo os 2.938 hospitais americanos com mais de 100
leitos, constatou que 100% contam com sistemas administrativos e 77,6%
possuem algum tipo de gerenciamento clnico geralmente pedidos de
exames, resultados de exames e registro resumido dos dados de pacientes
internados. O uso do pronturio eletrnico dos pacientes muito mais limitado,
mesmo nos Estados Unidos.
Existem alguns sistemas de informao disponveis em mercado e
uma srie de outros vem sendo desenvolvida em laboratrios, prometendo
trazer avanos nos prximos anos. No entanto, nenhum deles oferece as
ferramentas demandadas e esperadas pela comunidade mdica atualmente. A
noo (popular) genericamente aceita que esses sistemas podem satisfazer a
todas as demandas e resolver todos os problemas. Obviamente ingnua, essa
noo superestima as capacidades da tecnologia da informao corrente.
O sonho de contar com um sistema que integre harmoniosamente
texto, imagens e sinais com os dados administrativos ainda est longe de
acontecer, mesmo nos centros mais avanados. O que existe so vrios
sistemas, com diferentes tecnologias, que na maioria das vezes no
conversam entre si. comum encontrar um sofisticado equipamento de
visualizao de imagens lado a lado com um terminal de caracteres, datado dos
anos 60. Hoje, o desafio , antes de mais nada, a interoperabilidade dos
sistemas.
1.3.1.2 O paciente
E o paciente? No ficaria bem mais tranqilo se houvesse garantia
de que, ao necessitar de uma internao, a equipe de atendimento do hospital
fosse alertada sobre sua alergia penicilina?
Um estudo da Universidade de Harvard sobre erro mdico no
Estado de Nova Iorque demonstrou que 10,3% dos erros que conduziram a
eventos adversos em pacientes hospitalizados resultaram do desconhecimento
de resultados de testes e de achados laboratoriais, enquanto 9,4% resultaram
da demora para concluir o diagnstico dos pacientes (DRAZEN et al., 1995).
Alm de erros de prtica mdica, pode haver erros como resultado
da falta de informao (por ausncia ou por desorganizao): foi calculado que
de 3% a 5% das admisses em hospitais so principalmente relacionadas a
reaes a aes de drogas; 18% a 30% dos pacientes hospitalizados tm
alguma reao a drogas, e 70% a 80% destas seriam potencialmente evitveis
(MELMON, 1971).
A qualidade da assistncia de um hospital pode ser imensamente
beneficiada quando seu sistema de informao for acoplado aos chamados
Sistemas de Apoio Deciso (SAD). Um dos mais importantes tipos de SAD,
incorporados em SIHs so os sistemas de alerta ou seja, os sistemas que
informam sempre que alguma atividade estiver em desacordo com uma base de
conhecimento preestabelecida.
Alguns dos benefcios proporcionados por sistemas de alerta
foram estudados atravs de um sistema que possua uma base de dados
clnica organizada e 86 formas de alertas do tipo droga-droga, droga-alergia e
droga-laboratrio. O sistema fornece dois tipos de alerta: orientao de ao
teraputica e informao. Durante um perodo de dois anos, o sistema gerou
alertas na prescrio de drogas; houve 55,5% de alertas do tipo droga-
laboratrio, 36,2% do tipo droga-droga e 8,3% do tipo droga-alergia. Os
mdicos concordaram com todos os alertas do tipo orientao teraputica. Os
farmacuticos clnicos revisaram os alertas que causaram alguma mudana na
conduta e estimaram um benefcio total de US$ 339.372,00 e uma relao
benefcio para custo de 4:1 para o sistema (GARDNER, HULSE, LARSEN,
1990).
Os sistemas de apoio deciso e as bases de conhecimento
mdico tm sido desenvolvidos em paralelo com os sistemas de informao,
sendo que os primeiros resultados do uso de tais sistemas tm demonstrado
que eles facilitam o processo de tomada de deciso mdica e melhoram a
qualidade da assistncia em sade (JOHNSTON et al., 1994). A quantidade de
prottipos ou de sistemas prontos existentes ainda pequena,
especialmente porque os investimentos necessrios para desenvolver e,
posteriormente, manter atualizadas essas bases de conhecimento ainda
muito alto. Mesmo assim, encontramos uma srie deles em uso na prtica
clnica (ANEXO A - SISTEMAS DE APOIO DECISO EM SADE EM USO
NA PRTICA CLNICA).
Sabemos, atravs da literatura, bem como atravs da nossa
experincia, que poucos sistemas de apoio deciso foram validados e muito
poucos foram efetivamente integrados prtica clnica o processo de
validao consome muito tempo. Alm disso, na maioria das situaes, estes
sistemas so passivos, isto , para sua ativao necessitam de uma ao direta
do mdico. Ora, como os profissionais so pouco treinados ou motivados para
utiliz-los, vrios deles permanecem inertes nos laboratrios.
Efetivamente, a integrao desses sistemas aos sistemas de
coleta e anlise de informaes mdicas (SHORTLIFFE, 1990), transformando-
os em recursos ativos, far com que eles sejam mais utilizados.
1.3.1.2 Repensando a educao e o ensino
CHAVES (1991), em seu livro Multimdia: Conceituao,
Aplicaes e Tecnologia, destaca sob o ttulo Um novo Modelo: A mudana de
paradigma o desafio lanado pelo presidente da Apple Computers, John
Sculley:
Pensar na educao apenas como uma forma de transferncia de
conhecimento do professor para o aluno, como um despejar de informao de
um recipiente para o outro, no mais possvel. No se pode mais dar aos
jovens uma rao de conhecimento que v durar a vida inteira. Nem mesmo
sabemos o que vo ser e fazer daqui a alguns anos. Os alunos de hoje no
podem pressupor que tero uma s carreira em sua vida, porque os empregos
que hoje existem estaro radicalmente alterados no futuro prximo. Para que
sejam bem sucedidos, os indivduos precisaro ser extremamente flexveis,
podendo, assim, mudar de uma companhia para outra, de um tipo de indstria
para outro, de uma carreira para outra. Aquilo de que os alunos de amanh
precisam no apenas o domnio do contedo, mas o domnio das formas de
aprender. A educao no pode ser preldio para uma carreira: deve ser um
empreendimento que dure a vida inteira.
Calcado nas observaes de Alvin Toffler, segundo o qual o
sistema de ensino que possumos j no mais adequado ao nosso tempo, por
ter sido construdo de acordo com o modelo da sociedade industrial, CHAVES
(1991) afirma que ser impossvel manter intacto o sistema educacional
tradicional: Precisamos examinar cuidadosamente a sociedade que est
emergindo para definir a educao adequada a ela. () necessrio substituir
o ensino centrado em contedos pela criao de ambientes ricos em
possibilidades de aprendizagem, em que os alunos possam analisar os
processos, desenvolver as competncias, compreender os valores que, em seu
conjunto, os capacitaro para um aprendizado permanente, numa sociedade
em constante mudana. E isso deve ser feito de uma forma que desafie,
envolva e motive os alunos.
Nos anos 60, ficou claro que um real avano na educao no
poderia ser obtido quando se cuidava de cada parte do sistema de forma
isolada e independente. Seria impossvel substituir os mtodos instrucionais ou
as formas de apresentao dos contedos curriculares por mquinas ou
mtodos atuais sem mudanas reais na configurao do processo de
educao. Materiais curriculares (incluindo todos os tipos de mdias),
estratgias de ensino e filosofia de ensino so to inter-relacionados e
interconectados que uns no podem mudar sem que se considerem mudanas
nos outros. Inspirada pelo desenvolvimento de outras disciplinas, como a
engenharia e a cincia do gerenciamento, por exemplo, uma abordagem
holstica foi sendo gradualmente desenvolvida, de modo a garantir que um
problema e sua anlise no fossem isolados de seu contexto ou ambiente.
No evidente que cada problema de educao ou treinamento
deva ser solucionado pela utilizao de novas mdias ou diferentes estratgias
educacionais: a abordagem holstica sugere que se fique alerta para a presena
de um problema e para a descoberta de sua soluo. Isso resultou na
expresso tecnologia da educao, cuja definio foi formulada nos Estados
Unidos pela Associao para a Comunicao e a Tecnologia Educacional
(AECT): tecnologia da educao um processo complexo e integrado que
envolve pessoas, procedimentos, idias, dispositivos e organizao para
analisar problemas e projetar, implementar, avaliar e gerenciar solues,
envolvendo todos os aspectos do aprendizado humano (ELY & PLOMP, 1989).
Todo este repensar da educao tem ocorrido pela verificao da
ineficincia dos sistemas atuais de ensino. A recente deciso do Ministrio da
Educao e do Desporto MEC recomenda que todos os alunos passem por
uma reavaliao ao final de seus cursos. Os resultados da primeira avaliao
so catastrficos e assustadores: apenas 71 faculdades (11% do total) de
direito, engenharia civil e administrao obtiveram a nota mxima no Exame
Nacional de Cursos (O ESTADO DE SO PAULO, 1997). Isso torna mandatrio
que se reflita sobre o que est sendo ensinado, como est sendo ensinado e
por quem est sendo ensinado.
Por que se tornar um educador?, pergunta Rubem Alves. E
comenta: Esta pergunta parece, de sada, impertinente. No h coisa mais
nobre que educar. Sou educador porque sou apaixonado pelo homem. Desejo
criar condies para que cada indivduo atualize todas as suas potencialidades.
A educao a base de uma sociedade democrtica. Vocs poderiam
multiplicar afirmaes semelhantes a estas indefinidamente. Embalados por
estas doces canes acerca dos elevados propsitos da sua profisso, o
educador pode continuar a educar sem maiores problemas. Mas ser isto
mesmo? A afirmao de que a educao a base de uma sociedade
democrtica no pode ser usada ideologicamente para justificar proibio do
voto aos analfabetos? O mundo do educador no divide as pessoas em
educadas e no educadas, superiores e inferiores? Ser verdade que a
educao um processo para fazer com que o indivduo atualize as suas
potencialidades ou exatamente o inverso, um processo pelo qual a sociedade
leva o indivduo a domesticar estas mesmas potencialidades, canalizando-as de
sorte a transform-las em pensamentos e comportamentos socialmente
aceitos? A educao transforma ou reproduz a sociedade? (ALVES,1993).
A partir da percepo das mudanas, das tarefas dos educadores,
dos avanos tecnolgicos, da massa de novas ferramentas desenvolvidas, no
era mais possvel continuar educando da maneira como vinha acontecendo h
anos.
A Associao Americana de Escola Mdicas AAMC (1986), em
sua reunio trienal de 1986, concluiu que (...) a Informtica Mdica a base
para o entendimento da medicina moderna. O Comit Diretor da AAMC fez
seis recomendaes, quatro das quais vinham sendo repetidas a cada trs
anos nos ltimos 36 anos. As duas novas, que foram acrescentadas nesta
reunio, so:
a) a Informtica Mdica deve se tornar parte integrante do
currculo mdico. O ensino da Informtica Mdica deve incluir
tanto os seus fundamentos quanto as suas aplicaes no
currculo mdico;
b) deveria haver um local definido de atividades em informtica
mdica em unidades mdicas acadmicas, para pesquisas,
integrao da instruo e encorajamento do seu uso na
assistncia ao paciente.
Mais recentemente, o ACME-TRI Report (AAMC, 1992), fazia as
seguintes recomendaes:
a) preciso aumentar o apoio (de setores privados e pblicos)
para os membros das faculdades que quiserem desenvolver
programas educacionais;
b) consrcios de escolas mdicas que promovam o intercmbio
de programas devem ser encorajados e apoiados;
c) deve haver facilidades para o treinamento de membros das
faculdades no uso de computadores para a educao mdica,
pois este treinamento to essencial quanto o treinamento em
novas tcnicas de pesquisa;
d) as escolas mdicas devem pedir aos seus membros,
responsveis por ensinar estudantes de medicina, que se
tornem hbeis na aplicao de computadores na educao;
e) as escolas mdicas devem estabelecer alguma estrutura de
organizao para promover o uso dos computadores na
educao mdica.
Nos Estados Unidos, a National Library of Medicine NLM (1993)
comeou, em 1982, a apoiar programas de graduao em Informtica Mdica e
hoje utiliza dois mecanismos de prmios para incentiv-los: Institutional Training
Grants e Individual Fellowships. Dez programas em quatorze instituies
oferecem estes prmios.
A Universidade de Harvard, a partir de um subsdio institucional
recebido da Hewlett Packard, em 1984, iniciou o desenvolvimento de aulas com
auxlio de computador e instituiu, em 1985, um programa denominado New
Pathway, que faz extensivo uso de mtodos educacionais ativos, como o
Problem Based Learning (PBL), com gerenciamento de informaes, escolha
cuidadosa de contedo e discusses em pequenos grupos de alunos. O
elemento-chave do currculo do New Pathway foi a extensiva utilizao da
tecnologia da computao (BARNETT et al., 1986).
No Brasil, apesar de no existirem linhas especficas de
financiamento para o desenvolvimento de aplicativos educacionais, muitos
projetos de pesquisa foram submetidos, aprovados e financiados.
Assim, comearam a ser desenvolvidos os aplicativos
educacionais nacionais. Inicialmente, utilizando a pouca tecnologia ento
disponvel, esses programas educacionais eram apenas livros eletrnicos. No
entanto, eles permitiam que os alunos estudassem nos horrios mais
convenientes, que as aulas fossem repassadas tantas vezes quanto fosse
necessrio; que se explorassem animaes e figuras; e, finalmente,
proporcionavam a realizao de uma avaliao do aluno sobre o assunto, com
sugestes de leitura complementar e de reforo no caso de erros nas respostas
s questes.
A seguir, com a introduo da multimdia, esses programas
passaram a permitir que o usurio navegasse pelo seu contedo, atravs de
links, em funo do seu interesse no momento. Alm de todas as vantagens da
multimdia na integrao de textos, sons e imagens, os programas incorporaram
a interatividade, permitindo a troca de informaes entre eles e seus usurios.
O que acontecer no futuro? Ainda existem problemas com a
educao em todo o mundo; no entanto, as chamadas para uma soluo
imediata esto pressionando para que as novas tecnologias sejam adotadas.
As estruturas bsicas da educao ainda so as mesmas, e a maior parte do
ensino continua sendo oferecido em salas de aula, com grupos de estudantes
que so orientados por um nico professor. Essa prtica antiga ,
provavelmente, o maior impedimento para a melhoria do aprendizado. At que
os pedagogos percebam que novos tempos exigem novas configuraes para
ensinar e aprender, continuaremos encontrando apenas bolses de inovao
que podem fazer ou no fazer muita diferena no que concerne ao avano
global da aprendizagem. Os educadores tm um papel a desempenhar neste
novo cenrio: usar a tecnologia da educao.
Os ltimos 50 anos nos ensinaram como provocar as mudanas
que melhoraro o aprendizado, tornando-o mais excitante. Os problemas
crticos de nmeros e espao, especialmente em naes em desenvolvimento,
podem ser evitados por configuraes novas e sistemticas de ambientes de
aprendizagem em que os professores, a tecnologia e os mtodos daro sua
melhor contribuio para o processo de ensino e aprendizado (ELY & PLOMP,
1989).
A viso de futuro sobre a rea da tecnologia da educao pode
ser sintetizada na pergunta formulada pelo professor Marvin Minsky, do
Massachusets Institute of Technology (MIT), citada pelo professor
FEIGENBAUM (1990): Voc pode imaginar que no passado havia bibliotecas
onde os livros no conversavam uns com os outros?.
As bibliotecas de hoje so armazns de objetos passivos. Mas
no basta transform-las em bibliotecas eletrnicas. A mudana muito mais
ampla: de paradigma, e no apenas de mdias ou suportes fsicos.
(...) agora imagine a biblioteca como um servidor de
conhecimento ativo, inteligente, continua FEIGENBAUM (1990). Ela armazena
o conhecimento das disciplinas em estruturas de conhecimento complexas
(talvez em um formalismo de representao de conhecimento ainda a ser
inventado). Ela pode raciocinar com este conhecimento para satisfazer s
necessidades de seus usurios. Estas necessidades so expressas em
linguagem natural, em discurso fluente. (). O sistema pode coletar informao
pertinente, sintetizar, procurar relaes. A biblioteca deve agir como um
consultor em problemas especficos, oferecendo conselhos em solues
particulares e justificando essas solues. () Assim, a biblioteca do futuro
ser uma rede de sistemas de conhecimento nos quais pessoas e mquinas
colaboram.
Fazer menos negar os avanos dos ltimos 50 anos. Fazer mais
lanar a educao em direo ao sculo XXI (ELY & PLOMP, 1989).
2
OBJETIVO
Knowledge is not the same as information. Knowledge is information that has been pared, shaped, interpreted, selected, and transformed; the artist in each of us daily picks up the raw material and makes of it a small artifact and at the same
time, a small human glory.
Edward A. Feigenbaum & Pamela McCorduck
Esta tese tem por objetivo a descrio do trabalho de
disseminao da cultura de informtica na comunidade da UNIFESP/EPM, que,
desenvolvido ao longo dos ltimos dez anos atravs de implantao seqencial
e crescente de infra-estrutura fsica, comunicao e conhecimento, pretende
instaurar um novo paradigma de aprendizado que habilite seus alunos para o
exerccio profissional no ambiente da Sociedade da Informao.
Os passos desse processo foram:
a) criar um ambiente de intensa utilizao da informtica na
UNIFESP/EPM;
b) planejar, desenvolver e implantar a infra-estrutura fundamental
de intercomunicao da comunidade
c) docente, discente e de funcionrios, a Intranet, e entre esta
comunidade e o mundo, a Internet;
d) desenvolver aplicativos em sade e disponibilizar seus
resultados para a comunidade, sob a forma de sistemas de
gerenciamento de informao em sade e sistemas de apoio
deciso;
e) desenvolver e implantar uma metodologia de educao
continuada para alunos, ex-alunos e a comunidade em geral,
atravs da utilizao de tcnicas de multimdia e de tele-
ensino;
f) validar o novo paradigma pretendido, mediante a implantao
de um projeto piloto de integrao de aprendizado e
assistncia, em um ambiente de intensa intercomunicao e
extensivo uso de tecnologias de informtica no Ambulatrio
Geral de Pediatria da UNIFESP/EPM.
Com a instaurao do novo paradigma, esperamos que nossos
alunos sejam capazes de:
a) tomar decises com mais segurana e confiabilidade, frente
aos problemas apresentados por seus pacientes;
b) buscar informaes quando e onde necessrias;
c) realizar, com o corpo docente, uma intensa interatividade, de
modo que o ambiente de aprendizado extrapole a dimenso do
espao fsico;
d) utilizar os recursos de multimdia, tirando partido de seus
aspectos ldicos e motivacionais no aprendizado;
e) utilizar os recursos da informtica junto aos pacientes, sob o
enfoque primordialmente preventivo que j se delineia no
horizonte social, no sentido de educ-los para que se tornem
parceiros no cuidado de sua sade;
f) avaliar criticamente as vantagens e as desvantagens do novo
paradigma de aprendizado.
Com relao aos membros do corpo docente, esperamos que:
a) participem efetivamente do processo de intercomunicao;
b) disponibilizem seu conhecimento e experincia no
desenvolvimento de novas metodologias educacionais;
c) avaliem criticamente as vantagens e as desvantagens do novo
paradigma de aprendizado.
3
MTODOS E INSTRUMENTOS
... the association believes that the knowledge explosion which is occurring in medicine and the basic biomedical sciences, coupled with the physicians responsibility
for lifelong learning dictates that medical students and practioners learn to use new strategies for managing the information and knowledge available to them for the
treatment of patients. It is necessary for our medical schools to change the process of education to emphasize the acquisition of knowledge and emphasize information
organizing and problem solving. Medical information science, computers and new understanding about processes of clinical decision making can be powerful factors in
education and information management and analysis.
Association of American Medical Colleges january, 1986.
Para que as metas delineadas fossem atingidas, um trabalho
lento, gradativo e muito bem planejado de infra-estrutura e comunicao
deveria ser desenvolvido: a comunidade mdica deveria conhecer a informtica
e a potencialidade de sua utilizao na prtica mdica; os estudantes de
medicina necessitavam aprender a utilizar as novas ferramentas; a informao
deveria ser coletada e organizada em bancos de dados; programas
educacionais deveriam ser desenvolvidos; a instituio deveria se reorganizar e
comear a destinar parte de seu oramento aquisio de computadores, ao
treinamento de pessoal e criao da infra-estrutura fsica para a comunicao
entre seus departamentos; a padronizao na codificao da informao
deveria ser
cuidadosamente analisada e estabelecida; os avanos
tecnolgicos deveriam ser constantemente perseguidos e incorporados.
Seguimos fundamentalmente por dois caminhos para atingir os
objetivos: o primeiro consistiu na implantao do Centro de Informtica em
Sade que, atravs de suas funes especficas, bem como atravs das suas
linhas de pesquisa e ferramentas, consubstanciou-se como gerador e/ou
catalisador das mudanas propostas; o segundo foi a metodologia de
implantao do projeto piloto no Ambulatrio Geral da Pediatria.
3.1 Implantao do Centro de Informtica em Sade
Ns estamos nos movendo rapidamente para uma era na qual os profissionais da sade no sero capazes de trabalhar sem um computador como extenso das
suas mentes. A quantidade de informao muito grande. O risco muito alto. A mudana estar sempre presente. E ningum uma ilha em si mesmo. Isso nos levar a todos a trabalharmos juntos para alcanarmos o sculo XXI. Espero encontr-los por
l!
Bill W. Childs
O CIS-EPM foi fundado em 1988, foi instalado em uma rea de
180m2, equipado com 17 microcomputadores e 12 impressoras e contava
inicialmente com cinco profissionais da rea de Informtica, um da rea de
sade e trs mdicos, docentes de outros departamentos/disciplinas.
3.1.1 Organizao dos recursos humanos do CIS-EPM
Os recursos humanos do CIS-EPM foram organizados
fundamentalmente segundo linhas de pesquisa. Esta organizao temporal e
dinmica, havendo intercmbio de elementos entre as equipes.
As equipes so:
a) equipe de cursos: responsvel pela coordenao e
organizao de palestras, cursos extracurriculares, treinamento
nos laboratrios, cursos curriculares e help-desk;
b) equipe de desenvolvimento de aplicativos e sistemas:
equipe de programas educacionais
equipe de sistemas de informao
equipe de sistemas de apoio a deciso
c) equipe de rede: responsvel pela implantao, manuteno e
suporte da REPM.
3.1.2 Formao de Recursos Humanos na Comunidade
O CIS-EPM operou ativamente na disseminao da cultura de
informtica na comunidade atravs de:
a) programa de palestras de divulgao da informtica em sade
para a comunidade de docentes, alunos e funcionrios;
b) cursos introdutrios sobre informtica em sade, utilizao de
aplicativos, editores de texto, bancos de dados, planilhas
eletrnicas, aplicativos de gerao de imagens, Epi-Info e
registro eletrnico do paciente, colocando o aluno sempre em
direto contato com a mquina;
c) disponibilizao de laboratrios de informtica para que a
comunidade pudesse realizar suas tarefas, pesquisas e
navegar na Internet;
d) disponibilizao de um ativo servio de suporte aos iniciantes
bem como aos usurios avanados;
e) cursos curriculares voltados para estudantes de graduao,
ps graduao e especializao.
Passaremos a descrever os cursos curriculares oferecidos:
3.1.2.1 A informtica no currculo do curso mdico
A mudana um processo bastante complexo. Sendo assim, a
nossa incluso no ensino no poderia deixar de gerar problemas relativos
alocao de espaos destinados informtica na carga curricular dos alunos do
curso de medicina. De quem tirar horas de aula? Da Anatomia, da Histologia,
da Biofsica? Foi por esse motivo que introduzimos o Curso de Informtica em
Sade apenas no 5 ano do curso mdico, um momento em que, idealmente,
os alunos j deveriam estar utilizando as ferramentas de informtica de forma
ampla e confortvel, e no iniciando o aprendizado do seu b-a-b.
Assim, em 1987, introduzimos a informtica para os quintanistas
no momento em que passavam pela disciplina de Nefrologia. Uma parte do
contedo terico da Nefrologia era reforado atravs de programas
educacionais americanos da empresa Cardinal programas estes que foram utilizados at o ano de 1991. A partir de ento, passamos a utilizar programas
educacionais desenvolvidos pela equipe de educao: Programa Educacional
em Glomerulonefrites e Programa Educacional em Fisiologia Renal.
Os alunos do 5 ano mdico passam por uma disciplina
denominada Bloco Comunitrio, divididos em turmas de 25 a 28 alunos cada,
por um perodo de trs meses. Nesse perodo, seu treinamento realizado no
Centro de Sade, no Ambulatrio de Clnica Geral e no Ambulatrio Geral de
Pediatria da UNIFESP/EPM. Durante a passagem pelo ambulatrio de
Pediatria, eles atendem, uma vez por semana, crianas do municpio do Embu,
como parte de um projeto denominado Programa de Integrao Docente
Assistencial - PIDA-Embu (MARSIGLIA,1995).
No Embu, estimulados por seus preceptores, os alunos coletam
um conjunto de dados demogrficos das crianas, registram as informaes em
um formulrio desenhado especificamente para tal fim, acrescentam os Cdigos
Internacionais de Doenas CID (OMS, 1995) aos diagnsticos encontrados e
discutem os casos examinados. Essa atividade, cujos dados foram analisados
at o final de 1988 com a orientao de um professor mdico epidemiologista,
atravs de pacotes estatsticos acontece at os dias de hoje.
Com a disponibilidade do laboratrio de informtica do CIS-EPM e
a cesso de 84 horas/aula pela disciplina de Bioqumica, fizemos uma
experincia, em meados de 1990, para treinamento em informtica dos alunos
do 1 ano do curso mdico. Foram treinados 108 alunos, divididos em turmas
de 19 indivduos, perfazendo um total de 14 horas/aula por turma. O contedo
oferecido consistiu de palestras sobre Informtica Mdica e de uma parte
prtica de introduo microinformtica e uso de planilhas eletrnicas.
Em 1991, o curso foi cancelado, em decorrncia da greve geral
realizada nas universidades federais do pas.
Em 1992, em associao com a equipe da disciplina de Pediatria,
retomamos o trabalho de anlise dos dados coletados pelos alunos do 5 ano
mdico no Embu, interrompido desde 1989. Em 16 horas/aula, cedidas
Informtica em Sade, oferecemos um curso contendo:
a) informtica em sade palestra terico-prtica sobre as
potencialidades da Informtica em Sade e suas aplicaes
prticas;
b) introduo microinformtica;
c) coleta, processamento e anlise de Informaes em Sade
(atravs do programa Epi-Info (DEAN et al.,1990),
desenvolvido pela Organizao Mundial da Sade.
Basicamente, o estudo desenvolvido em Epi-Info consistia em:
reproduzir no Epi-Info a ficha de atendimento do Embu;
programar as consistncias dos dados e as tabelas de
diagnsticos, encaminhamentos, exames solicitados etc.;
analisar os dados, gerando tabelas de freqncia, grficos
e outras estatsticas;
elaborar um resumo da anlise dos dados em um
processador de textos e imprimi-los em transparncias para
uma aula de discusso dos resultados obtidos.
Naquele ano, o curso foi repetido doze vezes, at que toda a
turma tivesse passado pelo estgio no Embu e, conseqentemente, no estgio
em informtica. Ao todo foram treinados 108 alunos. O tempo era muito
escasso na percepo de todos: para os alunos, ansiosos por aprender mais, e
para os professores, que tinham sua tarefa docente a cumprir. Assim, aps
algumas reunies com os preceptores do Bloco Comunitrio, conseguimos
ampliar a carga horria do curso de informtica para o perodo que durasse
aquele estgio. Com isso, aumentamos nossa carga horria de 16 horas/turma
com 12 turmas de 9 alunos cada para 33 horas/turma com 4 turmas de 27
alunos cada.
Nessa mesma poca, 1993, o Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informaes em Cincias da Sade Bireme, comeou a oferecer
um curso de acesso on line para a realizao de pesquisas bibliogrficas.
Convidada por ns para participar da disciplina de Informtica em Sade, a
equipe da Bireme passou a oferecer seu curso aos alunos do 5 ano mdico.
Assim, o contedo programtico do curso foi ampliado, constando de:
a) Informtica em Sade;
b) Pesquisa bibliogrfica na Bireme - curso de acesso on line;
c) Introduo microinformtica;
d) Coleta, processamento e anlise de informaes em sade
(utilizao do programa Epi-Info e dados do Embu)
Com a introduo do WINDOWS (1993) e seus aplicativos, substitumos o pacote Epi-Info pela planilha eletrnica EXCEL (1993), que, atravs de seus aplicativos estatsticos, permite a realizao de anlises
simples em ambiente grfico, com o qual os alunos j comeam a estar mais
familiarizados.
At o final de 1996, o contedo programtico do curso dos alunos
do 5 ano mdico manteve o contedo do ano anterior tendo sido a coleta,
processamento e anlise de informaes em sade realizada atravs do
aplicativo Excel
Com a informatizao do Ambulatrio de Pediatria da
UNIFESP/EPM, que discutiremos posteriormente, o formato do curso foi
alterado novamente, agora passando a incluir a prtica dos aplicativos de
informtica mdica que os alunos manipulam durante seu estgio na Pediatria.
Assim, o contedo atual da disciplina de Informtica em Sade,
oferecida ao 5 ano do curso mdico, consiste em:
a) informtica em sade;
b) introduo microinformtica;
c) coleta, processamento e anlise de informaes