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Teste comparativo de desempenho entre 4 canivetes chineses O título a principio seria “retenção de fio de 4 canivetes chineses”, mas para ser justo, este teste que inclusive já usei antes para tentar observar a retenção de fio de algumas lâminas, apesar de verificar sim a retenção de fio no material escolhido, no caso toucinho, a geometria geral das lâminas é fator determinante no resultado e não só o tipo de aço e seu tratamento térmico. Comprei 18 kg de toucinho comum e a intenção inicial era testar 3 canivetes, sendo 6 kg para cada canivete. Mas o pai pediu que separasse cerca de 2 kg de pedaços maiores para dar uma “enriquecida no feijão” e ai neste momento resolvi incluir um

Teste Comparativo de Desempenho Entre 4 Canivetes Chineses

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Teste comparativo de desempenho entre 4 canivetes chineses

O título a principio seria “retenção de fio de 4 canivetes chineses”, mas para ser justo, este teste que inclusive já usei antes para tentar observar a retenção de fio de algumas lâminas, apesar de verificar sim a retenção de fio no material escolhido, no caso toucinho, a geometria geral das lâminas é fator determinante no resultado e não só o tipo de aço e seu tratamento térmico.

Comprei 18 kg de toucinho comum e a intenção inicial era testar 3 canivetes, sendo 6 kg para cada canivete. Mas o pai pediu que separasse cerca de 2 kg de pedaços maiores para dar uma “enriquecida no feijão” e ai neste momento resolvi incluir um quarto canivete e deixar apenas 4 kg de toucinho á cargo de cada um.

Os 3 canivetes inicialmente designados têm geometrias de fio absolutamente iguais, com os mesmos desbastes de alívio e micro-fio de 20

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graus de cada lado em cada um deles. Suas geometrias gerais são completamente dessemelhantes e ficou claro durante o teste que isso afeta de forma determinante o resultado em termos de degradação dos fios.

Os canivetes foram o popular Ganzo G-704 em aço 440C, o Inron MY803 em 9Cr13MoV e o clone Spyderco em aço D-2. Eles foram selecionados por terem durezas semelhantes e porque estas durezas estão próximas à dureza que considero ideal para os aços em questão, sendo que no caso do Ganzo a dureza de 59 RC é a ideal! O Inron tem 60 RC e o clone Spyderco 60/61 RC.

Resolvi então adicionar ao teste o Enlan EL-02 em 8Cr13MoV e 61 RC, só que ele ao contrário dos outros está com uma geometria de fio de diferente, pois seu micro-fio é de apenas 15 graus de cada lado. Eu queria ver na prática como uma lâmina com média/boa habilidade de corte graças à geometria geral se comportaria com um micro-fio um pouco mais agudo, ou seja, que favorecesse mais a habilidade de corte.

Esta não foi uma decisão aleatória, mas baseada nas características gerais da lâmina ( geometria ), tipo de aço e sua dureza, que no caso específico tende a ter uma maior estabilidade de fio.

Como foi conduzido o teste:

Claro que a afiação foi checada antes do início e todos os canivetes estavam cortando de forma “suave” papel fino tipo de bula e claro, todos rapavam cabelo sem o menor problema ou esforço.

Foram pesadas 4 porções de 4 Kg cada de recortes em formatos de placas de toucinho comum. Cada canivete iria processar portanto 4 Kg de toucinho, sem nenhum tipo de retoque nos fios até finalizar os 4 kg, nem mesmo chaira de aço lisa, absolutamente nada independente da queda de desempenho ao longo do teste.

Foi padronizado o seguinte procedimento: inicialmente eram cortadas longas tiras de no máximo 3cm de largura, então a seguir foram aparadas as porções de carne de cada tira ( as que continham alguma ), então, com um corte oblíquo em uma ponta da tira a lâmina era levada rente à pele e “corria” rente a mesma, removendo a camada de gordura, ficando as peles “light”. Após todas as peles terem sido decapadas, procedeu-se o corte das “tiras” de gordura, de forma que resultasse em pedaços não maiores que 2x1cm; finalmente foi-se proceder os cortes mais demandantes, o das peles em si, que resultaram em pedaços mais ou menos homogêneos de cerca de 3x3cm ou 3x2cm. Todos os cortes foram efetuados sobre uma tábua de madeira de lei.

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- Na bandeja grande a gordura picadinha; no tabuleiro ao fundo as peles picadas; na pequena bacia um toucinho só com pele e carne e na bandeja de metal as aparas de carne e uns pedaços grandes para o feijão. À esquerda a minha velha tábua onde foram efetuados os cortes.

Para minimizar o efeito de fatiga do pulso e ombros, após cada porção de 4 kg era feito uma pausa de cerca de 15 minutos, durante a qual o canivete em questão era cuidadosamente lavado com água e sabão e uma bucha de espuma, sem o polímero abrasivo das scotch brite. Secava-se o canivete e o guardava para avaliação no dia seguinte, com maior claridade para melhor avaliar o fio ( este teste foi durante à noite ).

Desempenho dos canivetes nas atividades:

O Ganzo foi de longe o com pior desempenho, tanto no quesito recorte das tiras e principalmente na decapagem de gordura das mesmas, sendo esta tarefa em particular bem mais difícil quando comparado aos demais. Aparar os pedaços de carne também não foi muito eficiente. Quanto a picagem da gordura foi satisfastório; na picagem das peles onde pela espessura das mesmas a geometria geral não exerce maior influência ele se saiu como o

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Enlan e o Inron, ficando os 3 atrás do clone do Spyderco, graças ao grau de curvatura do fio deste em si e em relação à empunhadura.

O Enlan e o Inron tiveram bom desempenho geral, com uma certa vantagem para o Enlan graças à sua geometria de fio mais eficiente em termos de habilidade de corte.

O clone do Spyderco Military literalmente brilhou em todos os quesitos nas diferentes tarefas e com a vantagem extra de uma ótima ergonomia de empunhadura. Disparado o melhor do teste!

Avaliação dos fios:

Todos os canivetes apresentaram algum nível de degradação dos fios, mas em variados graus. O máximo possível de cada lâmina era usado nos cortes, mas como eram efetuados em tábua, isto normalmente limita o maior uso da porção próxima à empunhadura, então os danos quando presentes se restringem do meio para a ponta das lâminas.

Na inspeção visual sob luz forte ( lanterna de LED de alta potência ), todos apresentaram uma tênue linha reflexiva de luz, na seguinte ordem de reflexão da mais intensa para a menos intensa: Enlan, Ganzo, Inron e Spyderco clone. Normalmente todos apresentaram um pequeno trecho de cerca de 3 ou 4mm onde a reflexão era um pouco mais intensa, ponto este correspondente à porção de mais frequente impacto da lâmina na tábua, sempre proporcional à própria média da linha reflexiva de cada um.

Todos continuavam fatiando papel fino, sendo claramente perceptível pontos em que nitidamente o fio “corria” um pouco ou dava umas “engasgadas”, mas nenhum deles rasgou o papel quer seja efetuando os cortes lentamente ou de forma rápida. Graduando o desempenho do pior para o melhor foi: Ganzo, Enlan, Inron e Spyderco clone.

Dos 4 canivetes, apenas o Spyderco clone continuava rapando cabelo com relativa boa eficiência; os demais rapavam de forma falha, com a seguinte graduação do pior par ao melhor: Ganzo, Enlan e Inron. ( todos testados apenas nos pontos reflexivos, ou seja, do meio para a ponta das lâminas ).

Tentando “trazer de volta” os fios:

Inicialmente a idéia era apenas utilizar chairas de aço liso para tal tarefa, entretanto as chairas de aço liso que tenho são da Mundial e com dureza anunciada de 60/61 RC, portanto igual ou pouca coisa superior à dureza de 3 dos 4 canivetes, o que poderia ainda que numa hipótese remota causar algum dano aos fios e/ou à própria chaira.

Então optei por usar minhas hastes cerâmicas “mais lisas”, que apesar de

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ser certo que promovem algum desgaste, elas mais dão polimento ( e para isso são usadas ) do que efetivamente removem quantidades significativas de aço. Foram 3 passadas alternadas de cada lado, sem pressão, basicamente com pouco mais que o peso de cada lâmina e sempre no ângulo exato do fio em questão, quer fossem os 3 de 20 graus de cada lado ou o do Enlan com 15 graus de cada lado.

O resultado é que todos melhoraram bem o desempenho, todos rapando cabelo quase tão bem quanto antes do teste e todos cortando papel fino sem “correr ou engasgar”, porém algumas observações interessantes e dignas de nota.

Após serem passados nas hastes cerâmicas, todos os fios foram observados sob magnificação de 20x ( o ideal é que fosse de pelo menos 50x, mas uma lupa de 20x é o que disponho ) e TODOS sem exceção apresentaram nano-dentes ( uso a expressão nano-dentes porque normalmente alguns micro-dentes são visíveis à olho nu sob a correta iluminação e ângulo, o que não é o caso aqui ).

Algumas conclusões valiosas eu posso tirar deste teste em particular e com relação à estes canivetes na forma como se apresentavam ( não vou cometer o erro de afirmar que isto é extrapolável para outras tarefas de corte e lâminas, pois não havia controle rígido dos materiais e forças empregados, assim como muitas das avaliações são subjetivas e não foi feita nenhuma repetição para se verificar comportamentos médios ):

• O principal fator de degradação foi sem sombra de dúvida o rolamento dos fios, mesmo nestas durezas entre 59 e 61 RC

• Além do rolamento, também houve degradação dos fios por micro-fraturas e/ou despreendimento de carbonetos da matriz de aço, notadamente no caso do D-2 e 440C, mas também do 9Cr13MoV e do 8Cr13MoV

• O fio do Enlan EL-02 em que pese ter o aço que pela composição química deveria apresentar a maior estabilidade de fio, foi o que apresentou a maior severidade ( quantidade visível de nano-dentes sob magnificação de 20x ) e isto se deu certamente por sua geometria mais aguda de micro-fio que proporcionou menor sessão transversal de matriz de aço para suportar e estabilizar este mesmo fio

• Como esperado, apesar de ainda muito pequenos pois não visíveis à olho nu, os maiores nano-dentes foram do clone Spyderco em aço D-2, seguido do Ganzo em aço 440C e do Enlan em 8Cr13MoV e finalmente do Inron em 9Cr13MoV ( observar que se fosse em mesma geometria de fio quase certamente as posições do Enlan e do Inron se inverteriam )

• Apesar de todos os fios terem sido “restaurados” a uma condição de uso

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prático bem satisfatória, todos eles devem ser considerados “estressados” e portanto provavelmente susceptíveis a degradação em velocidade e ritmo mais acelerados que fios “zero km”

• Pode ser ( e acho mesmo bem provável ) que o uso de uma chaira lisa a intervalos regulares durante os processos de corte teria o efeito de minimizar a degradação final dos fios

• Mesmo apresentando maior degradação final o fio com geometria mais agressiva de 15 graus de cada lado mostrou-se vantajoso neste teste pois mesmo com esta degradação mostrar desempenho igual ou pouco superior à alguns fios mais obtusos ( isto deve ser tomado com ressalvas, pois as geometrias gerais tiveram muita influencia e eram diversas o suficiente para sobrepujar este efeito ou ganho aparente )

• Resultados completamente diversos poderiam ser obtidos ao serem usadas lâminas com geometrias gerais e de fios diversas, diferentes aços e tratamentos térmicos

• Cada um deve escolher a geometria de fio que mais se adéqüe às suas lâminas e aos seus usos e que para aços relativamente comuns e em variadas geometrias, ao menos para mim, a combinação de desbaste de alívio e micro-fio de 20 graus de cada lado propicia um binômio de bom desempenho e boa retenção de fio para a quase totalidade das tarefas de corte cotidiano.

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* Neste tabuleiro somente a gordura picadinha que foi "frita" para extração da gordura e resultou no que chamamos aqui em casa de "biscoitinho de gordura", super crocante, desmancha na boca e pode ser comido como tira gosto ou colocado no feijão ou em uma farofa. Especificamente para este fim, a gordura picadinha é temperada apenas com 15 g de sal por kg. Detalhe importante: como a gordura picadinha foi temperada com sal, a gordura extraida não apresentará a coagulação depois de esfriar uma vez colocada na lata para guardar os torresmos ou carne.