Upload
votuong
View
251
Download
6
Embed Size (px)
Citation preview
CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CEP
CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA
TESTE DE JARROS COM EFLUENTE DE UMA EMPRESA DE PRODUTO DE LIMPEZA
ANDERSON LUIS ROSA
Lajeado, novembro de 2015.
CENTRO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CEP
CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA
TESTE DE JARROS COM EFLUENTE DE UMA EMPRESA DE PRODUTO DE LIMPEZA
ANDERSON LUIS ROSA
Documento apresentado na disciplina de
Estágio, do Curso Técnico em Química, como
exigência para a obtenção do título de Técnico
em Química.
Orientador: Prof. Ms. Cátia Viviane Gonçalves
Lajeado, novembro de 2015.
AGRADECIMENTOS
De forma especial agradeço:
A Instituição UNIVATES na figura de todos os professores que me
ajudaram e ensinaram tanto e com tamanha dedicação de forma que palavra
não podem fazer jus ao sentimento de carinho despertado.
Em especial a minha orientadora hoje e sempre Prof.ª Cátia Viviane
Gonçalves. Deixa-me uma lição de perseverança, compreensão, admiração e
amizade que levo pelo resto de minha vida.
Acima de tudo agradeço a minha família na figura de minha mãe e irmã
que me apoiaram e lutaram para que tivesse uma oportunidade de adquirir
conhecimento para obter um futuro melhor. Ao meu pai que jamais será
esquecido.
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho de conclusão foi elaborado sob forma de artigo
científico, com a pretensão de ser uma primeira versão do trabalho a ser
apresentado para a Revista Estudo e Debate, publicação do Centro
Universitário UNIVATES.
Após o texto inicial (primeira versão do trabalho a ser submetido no
futuro), disponibilizou-se dois apêndices: I) licença de instalação da empresa
onde foi desenvolvido o estágio e II) instruções de submissão aos autores,
disponível em http://www.univates.br/revistas/index.php/estudoedebate.
Dentro do sistema de classificação de periódicos, anais, jornais e
revistas denominado de Qualis/CAPES, a referida revista é classificada como
B4 para a área interdisciplinar.
TESTE DE JARROS COM EFLUENTE DE UMA EMPRESA DE PRODUTO DE LIMPEZA
Anderson Luís Rosa1 Resumo: Diante da crescente produção industrial de produtos químicos para limpeza e do
consequente aumento do consumo, torna-se necessário alternativas para o tratamento do efluente gerado no processo produtivo. O presente estudo tem a finalidade testar diferentes produtos - de uma mesma linha de produtos comerciais – vendidos para tratamento de efluente gerado em empresas de produtos de limpeza. Para os testes foi utilizado o equipamento jar test com diferentes produtos. De forma geral, conclui-se que a empresa, em um primeiro momento, gastaria menos para tratar internamente o efluente da mesma. Podendo o efluente tratado ser utilizado para lavagem de pisos e jardins, e o seu lodo encaminhado a fertirrigação ou utilizado como componente em empresa de adubos
Palavras-chave: Resíduo líquido industrial, polímero aniônico, jar test.
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas verificou-se um acelerado processo de
urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis, o que
provocou sensível aumento de volume e diversificação dos resíduos sólidos e
líquidos gerados e sua distribuição espacial. Desse modo, o encargo de
gerenciar os resíduos tornou-se uma tarefa que demanda ações diferenciadas
e articuladas, as quais devem ser incluídas entre as prioridades dos órgãos
públicos (BRAGA, 2005).
Além disso, a imagem das empresas causadoras de danos ambientais
por vazamento de produtos químicos foi afetada negativamente. Frente a esse
quadro, empresas com maior potencial poluidor passaram a desenvolver e
implementar instrumentos de gestão ambiental corporativa para a melhoria do
fluxo de informação, interno e externo, além de propiciar a redução de risco de
acidentes (SHREVE & BRINK, 1997).
O setor químico foi o pioneiro na elaboração de diretrizes para a gestão
ambiental corporativa. A Canadian Chemical Producers Association (CCPA)
lançou, em 1984, um documento denominado Statement of Responsible Care
and Guiding Principles, contendo princípios específicos para a gestão
1 aluno do Curso Técnico de Química - [email protected]
responsável do processo de produção em todo o ciclo de vida do produto,
dando ênfase à proteção da saúde humana e do meio ambiente e à segurança
industrial e do produto (BORDIN, 2005).
O documento, além de detalhar as iniciativas que as empresas precisam
tomar para atender aos princípios do Responsible Care, destaca a necessidade
de comprometimento de todos os envolvidos na produção, na distribuição e no
recebimento dos produtos das respectivas empresas, assim como da troca
permanente de informações com a comunidade vizinha (BORDIN, 2005).
Segundo Bordin (2005) a adoção desses princípios em vários outros
países, como Estados Unidos (EUA), Inglaterra e Brasil, contribuiu para
resgatar uma imagem mais positiva da indústria química perante a opinião
pública.
O Instituto Brasileiro de Estatísticas, no Atlas do Saneamento do IBGE
de 2011, contata que no Brasil apenas 29% dos municípios contam com uma
rede de coleta e tratamento adequados de esgotos sanitários. Em termos
populacionais, quase 90% da população não dispõe de tratamento adequado a
seus efluentes (IBGE, 2011).
No caso de efluentes industriais, a dificuldade de uso de estações é
maior. Cada tipo de indústria utiliza matérias-primas diversas e produz resíduos
químicos e fisicamente diferentes, os quais necessitam de tipos específicos de
tratamento (KRIEBEL, 2012).
Dessa forma, a escolha do melhor método ou da melhor tecnologia para
tratamento dos efluentes é um processo que demanda muito estudo (BORDIN,
2005).
O efluente final tratado pode ser despejado em cursos de águas
naturais, depende de sua classificação, que é dada pela Resolução CONAMA
no 357/05 que aborda a classificação dos corpos d’água e estabelece as
condições e padrões de lançamento. Além dessa Resolução Federal, existe
ainda, no Estado do Rio Grande do Sul, a Resolução CONSEMA no 128/2006
que estabelece padrões de emissão de efluentes industriais e domésticos.
De modo geral, indústrias de produtos de limpeza geram um efluente
com características biodegradáveis, sendo de fácil tratamento através de
processos biológicos (KRIEBEL, 2012).
Na realidade brasileira, o reaproveitamento dos efluentes (resíduos
líquidos) é visto basicamente como uma atividade privada. Como tal, a sua
execução está habitualmente associada à ideia de “empresa”, com o propósito
claro de gerar lucro para os seus executores (LEME, 2010).
Após todos esses processos, o efluente líquido tratado adquire uma
qualidade que torna possível o seu descarte nos corpos hídricos, segundo a
legislação CONAMA 357/05. Uma vez que o setor industrial é um importante
usuário de água, muitas empresas já estão reutilizando a água reciclada em
seus processos, o que diminui os custos referentes à captação, seja da rede de
abastecimento, seja da natureza – o que vem se tornando uma prática quase
inexistente (LEME, 2010).
Segundo Leme (2010) o uso da água reciclada pode ocorrer na irrigação
paisagística de parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de
autoestradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais.
Irrigação de campos para cultivos de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos,
plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas.
Os usos industriais mais comuns são: refrigeração, alimentação de
caldeiras, água de processamento, uso em banheiros (descargas), lavagem de
chão. Além da irrigação paisagística, combate ao fogo, sistemas de ar
condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, etc
(SANTOS, 2011).
O tratamento dos efluentes parece ser a solução definitiva para o
combate à poluição, mas ele resulta em outro produto: o lodo, que pode conter,
além de grande concentração de matéria orgânica, organismos patogênicos,
metais pesados e outras substâncias perigosas (COSTA et al., 2012).
É de extrema importância que ele receba tratamento (desinfecção e
purificação) antes de sua utilização e/ou destinação final (COSTA et al., 2012).
O destino mais comum dos lodos de tratamento de efluentes é o seu descarte
em aterros privados.
O lançamento de lodos em estado líquido em solo argiloso ocasiona um
aumento das concentrações de metais potencialmente tóxicos. Dependendo
das características do lodo descartado, pode ser um ótimo fertilizante orgânico,
usado diretamente ou após processo de desidratação. Se for usado deste
modo, poupa o ambiente, reduz custos de produção no campo e amplia a
produtividade das lavouras (COSTA et al., 2012).
A reciclagem da matéria orgânica e dos nutrientes é o principal ganho
para o meio ambiente, que ainda pode reduzir o uso de adubos químicos
(COSTA et al., 2012).
No caso da poluição da água por resíduos industriais o fator implicante é
a degradação por processos naturais. Sua composição geralmente inclui
substâncias químicas tóxicas, como metais pesados (chumbo, cobre etc.),
pesticidas, que acima dos níveis de concentração podem trazer sérios riscos
tanto para a humanidade, como para o meio ambiente, visto que a
contaminação pode se estender também aos solos (SHREVE, 2007).
Segundo Shreve (2007) toda essa poluição gerada é eliminada
diretamente em cursos d’água, em canais subterrâneos ou a céu aberto, para
então, chegar a córregos, causando grandes problemas ambientais e
epidemiológicos. A recuperação dos prejuízos causados pelo descarte
inadequado de efluentes gera despesas muito maiores do que o tratamento o
qual nos últimos anos, tornou-se indispensável.
A qualidade da água é importante tanto para se comprovar uma
determinada atividade poluidora, quanto para estabelecer meios para seu uso.
Pode ser avaliada através de diversos parâmetros, os quais traduzem suas
principais características físicas, químicas e biológicas (SHREVE, 2007).
Dentre as características físicas, são analisados parâmetros de cor,
turbidez e odor. Características químicas são dadas através da dureza,
corrosividade, alcalinidade, entre outras. E, por fim, as biológicas são aplicadas
à presença de microrganismos patogênicos, algas e bactérias (BRAGA, 2007).
Infelizmente, em virtude da alta taxa de poluição causada por atividades
industriais, está cada vez mais difícil encontrar água potável que possa ser
ingerida diretamente sem tratamento prévio. Desta forma, tanto a coleta quanto
o tratamento dos efluentes são de extrema importância para garantir a
preservação dos recursos hídricos e a saúde da população (NOVAIS, 2012).
Dentre as alternativas que podem minimizar esse problema, além da
diminuição do uso de água, está a possibilidade de realização de tratamento
dos efluentes de forma que possam ser reutilizados no processo. Assim, forma
uma espécie de ciclo fechado, no qual a água é utilizada, passa por tratamento
e volta a ser reutilizada, sucessivamente (MACÊDO, 2007).
Diante do exposto, o presente estudo buscou uma alternativa para o
tratamento de efluente da empresa Girando Sol - que há 25 anos produz
amaciante, amaciante concentrado, desinfetante, detergente, lava roupas,
alvejante, alvejante sem cloro, ceras e limpador perfumado. Atualmente, a
empresa Girando Sol utiliza os serviços de uma empresa terceirizada (externa)
de coleta e tratamento de efluentes líquidos industriais.
2 ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO
Várias são as alternativas para realizar o gerenciamento dos resíduos
sólidos e líquidos, como, por exemplo, por meio da reciclagem. A reciclagem é
o processo de reaproveitamento de resíduos sólidos, é considerado o melhor
método de destinação do lixo, em relação ao meio ambiente, uma vez que
diminui a quantidade de resíduos enviados a aterros sanitários, e reduz a
necessidade de extração de matéria-prima diretamente da natureza (SANTOS,
2011).
É indiscutível a importância da reciclagem de resíduos sólidos e líquidos,
estando entre as alternativas mais viáveis para o tratamento correto desses
resíduos, trata-se do reaproveitamento de materiais beneficiados como
matéria-prima para um novo produto (SANTOS, 2011).
Segundo o mesmo autor Santos (2011), a demanda ambiental é
crescente e cada vez mais as empresas são cobradas para que aliem
desenvolvimento e preservação ambiental. Porém, as usinas de reciclagem
também causam impacto ambiental, especialmente pelos resíduos gerados.
O gerenciamento correto dos resíduos sólidos e líquidos e os resultados
da reciclagem são expressivos em vários campos. No meio ambiente a
reciclagem pode reduzir a acumulação progressiva de resíduos; a produção de
novos materiais, como, por exemplo, o papel, que exigiria o corte de mais
árvores; as emissões de gases como metano e gás carbônico; as agressões ao
solo, ar e água; entre outros tantos fatores negativos (GUTERRES, 2005).
No aspecto econômico a reciclagem contribui para uma utilização mais
racional dos recursos naturais e a reposição daqueles recursos que são
passíveis de reaproveitamento (DI BERNARDO et al, 2012).
O problema dos efluentes nos remete a uma análise sobre o modo de
produção e os hábitos da população, constantemente incentivados para que o
sistema gire e se obtenha mais lucratividade (GUTTERES, 2005).
Diante disso, a gestão ambiental nas organizações tem ganhado
espaço, especialmente após a percepção que os ganhos podem aumentar,
diminuindo os custos de produção por meio de medidas como o reuso, reciclo e
a diminuição dos efluentes líquidos (GUTTERES, 2005).
Percebe-se que uma das alternativas de tratamento de efluentes
utilizada para empresas do ramo de limpeza é o uso do polímero. Segundo
Novais (2012), essa opção se deve por ser um material de baixo custo que
acelera o processo de decantação, tornando o tratamento mais eficaz.
Os polímeros são de grande importância em vários setores industriais,
por apresentarem compatibilidade com outros materiais, baixa densidade e
flexibilidade. Devido a essas propriedades, muitas vezes substitui matérias-
primas tradicionais, como os metais (MARINHO, 2005).
2.1 Polímeros
Os polímeros são compostos químicos resultantes de reações químicas
de polimerização. São formados por macromoléculas, ou seja, compostos
orgânicos ou inorgânicos de massa molar elevada e constituídos, em sua
maioria, por átomos não pesados, como o carbono, o nitrogênio e o silício.
Possuem várias unidades repetitivas ao longo da cadeia, denominadas “meros”
(MARINHO, 2005).
Podem ser naturais ou sintéticos, como exemplo de polímeros naturais
orgânicos cita-se látex e amido e como inorgânicos a sílica e o grafite.
Exemplos de polímeros sintéticos orgânicos tem-se o polietileno e como
inorgânicos o poli (cloreto de fosfonitrila). Podendo ser divididos ainda de
acordo com suas cargas: quando positiva é chamado de catiônico, e negativa,
por aniônico (BAIRD, 2002).
Os polímeros sintéticos (polieletrólitos, constituídos de poliacrilamida)
continuam sendo os mais utilizados para o tratamento de efluentes. Eles
promovem a coagulação ou floculação das partículas em suspensão
transformando-as em partículas maiores posteriormente removidas por
decantação, flotação ou filtração. São lineares e solúveis em água e sua carga
elétrica pode ser negativa (aniônica), positiva (catiônica) ou não iônica. Sendo
aniônico, ele atrairá as cargas positivas como é o caso de sais e hidróxidos
metálicos. Sendo catiônico se ligará a cargas negativas como o silicone ou
substâncias orgânicas. Os não-iônicos não apresentam carga (DI BERNARDO,
2012).
Os polímeros aniônicos são polieletrólitos com massas molares típicas
entre 12-15 mg.mol-1 (mais de 150.000 monômeros de acrilamida por
molécula), comercialmente disponíveis na forma sólida (granular) necessitando
de intensa agitação durante a dissolução em concentrações recomendadas
entre 0,25 e 1,0% (p/v) para uma dissolução satisfatória, sendo eficientes em
dosagens muito baixas (GUTTERRES et al., 2005).
Estes polímeros em geral são efetivos dentro de uma ampla faixa de pH,
cujas características aniônicas permitem a neutralização de cargas positivas
presentes na superfície das partículas suspensas em meio aquoso. Além disso,
por efeitos de adsorção e formação de pontes intermoleculares de partículas
em suspensão, é possível formar flocos maiores que serão mais facilmente
separados do meio (BAIRD, 2002).
Cabe ressaltar que o tipo de polímero a ser utilizado depende das
características do efluente e de resultados de testes de bancada (por exemplo:
teste de jarros ou jar test) para avaliação da dosagem a ser utilizada (BAIRD,
2002).
Um dos primeiros padrões de eficiência em teste de jarros, é a
clarificação, que tem por objetivo a remoção dos sólidos através de produtos
químicos e representa uma parte bastante delicada e importante do tratamento
de água, pois se for falha, pode-se ter problemas sérios nas operações
seguintes (MACÊDO, 2007).
Os ensaios realizados nos equipamentos de jar tests, reproduzem as
mesmas condições utilizadas durante o tratamento físico-químico em escala
real. Para que isso ocorra, existem três fases fundamentais: a) agitação rápida
que favorece a dispersão dos produtos químicos adicionados, b) agitação lenta
que promove a agregação dos flocos formados e c) período de repouso em que
ocorre a sedimentação dos flocos e a clarificação do líquido tratado.
2.2 Coagulação
É o processo de aglutinação das partículas presentes na água formando
flocos que possam ser separados na fase de sedimentação e filtração (LEME,
2010).
As principais etapas do processo é a coagulação e a sedimentação.
Para a coagulação pode ser adicionado produtos químicos, os mais usados
são o sulfato de alumínio, sulfato férrico, sulfato ferroso, cloreto férrico,
aluminato de sódio e os polieletrólitos (SANTOS, 2011).
Há ainda os auxiliares na coagulação que são produtos alcalinos como o
óxido de cálcio, carbonato de sódio, hidróxido de sódio e polieletrólitos
(SANTOS FILHO, 1990).
2.3 Floculação
É neste processo que se adiciona os polieletrólitos. Eles irão promover o
crescimento dos flocos após a coagulação.
Para Novais (2011) o uso de polímeros trocadores de íons na etapa de
clarificação de efluente está se tornando cada vez mais comum com o objetivo
de reciclá-lo ou para disposição no meio ambiente, de acordo com a legislação
específica.
Figura 1: Modelo esquemático dos processos de coagulação e floculação, com
a utilização de um polieletrólito.
Fonte: PASTOR et al., 2004
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Após a revisão de literatura sobre as principais formas de tratamento de
efluentes da indústria de produtos de limpeza, optou-se por realizar teste de
jarros in loco (na empresa) e em laboratório externo (Laboratório de
Biorreatores da Univates) com o uso de produtos encontrado no mercado
(Axchem Brasil).
Para a realização dos testes de jarros foram utilizados os seguintes
materiais: jar test, pHmetro, seringa volumétrica, auxiliar de coagulante AXFIX
AC sL, coagulante AXFIX AX 8557, coagulante AXFIX AX 6544, coagulante
AXFIX CIS e polímero aniônico AXFLOC AF 151M (0,2%).
Para o teste de jarros realizado na empresa, foi coletado uma única vez,
o efluente direto do tanque de armazenamento de efluente (5 L), realizada
medição de pH e separado três jarros de 1 L com o volume de 500 mL. Os
jarros foram identificados com números e receberam diferentes tratamentos:
1) Jarro 1 = pH AXFIX AC SL (regulador de pH) + AXFIX AX 8557
(coagulante) + polímero aniônico (0,2%)
2) Jarro 2 = pH AXFIX AC SL (regulador de pH) + AXFIX AX 6544
(coagulante) + polímero aniônico (0,2%)
3) Jarro 3 = pH AXFIX AC SL (regulador de pH) + AXFIX CIS
(coagulante) + polímero aniônico (0,2%).
Foi corrigido o pH do efluente bruto e após colocados no equipamento
denominado de jar test com velocidade constante (100 rpm) por 60 segundos,
adicionado o coagulante em seguida mantida a velocidade constante (30 rpm)
por 5 minutos. Após a coagulação adicionou-se o polímero aniônico e em
seguida interrompeu-se a agitação.
Para fins de comprovação dos resultados obtidos no teste realizado na
empresa (in loco) o teste foi refeito, após 2 meses, no Laboratório de
Biorreatores da Univates, sendo que não houve alteração metodológica no que
se refere aos produtos utilizados. A alteração foi no equipamento jar test
(porém utilizada as mesmas velocidades) e nos jarros utilizados - os jarros
foram substituídos por béqueres de 2 L com uso de 1 L de efluente.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para o teste realizado na empresa, o efluente bruto foi coletado direto do
tanque de armazenamento, de 15.000 L de fibra de vidro localizado no tempo,
para os jarros. Para o teste realizado na Univates, foi utilizada bombona
plástica de 5 L para o transporte (Fig. 2).
Figura 2: Embalagem plástica utilizada no transporte de efluente bruto.
Fonte: o autor.
Quando do teste in loco, ou seja, na empresa, o pH inicial do efluente
bruto foi de 5,44 e o aspecto visual do efluente bruto pode ser observado na
Figura 3.
Figura 3: Aspecto visual do efluente bruto.
Fonte: o autor.
Conforme especificações do fabricante do produto, o pH ideal para
adição de coagulante é entre 11-12.
Para tanto, no ensaio denominado de Jarro 1, adicionou-se 500 mL de
amostra de efluente bruto, em seguida foi adicionado o regulador de pH AXFIX
AC SL até obter-se um pH de 11,98 – a adição foi gradual e a quantidade final
de produto utilizada foi de 14 mL (ou seja, 28 mL/L). Após o ajuste inicial de
pH, adicionou-se - da mesma forma - até a quantidade de 14 mL do coagulante
AXFIX AX 8557 (ou seja, 28 mL/L). Devido a característica do produto houve
alteração de pH, de 11,98 foi para 8,12. A formação de flocos foi observada
após 5 minutos da adição do coagulante. O polímero aniônico só foi adicionado
após a observação visual da formação de flocos, a quantidade utilizada final foi
de 3,0 mL de polímero aniônico (0,2%) (ou seja, 6 mL/L). Após 3 minutos
interrompeu-se a agitação e observou-se que os flocos, inicialmente pequenos,
com a adição do polímero tornaram-se maiores facilitando a flotação, que
ocorreu em aproximadamente 3 minutos.
No ensaio denominado de Jarro 2, adicionou-se 500 mL de amostra de
efluente bruto, com adição de 14 mL de regulador de pH AXFIX AC SL,
obtendo-se um pH de 11,95.
Dosou-se 14 mL do coagulante AXFIX AX 6544. Devido a característica
do produto, o pH baixou de 11,95 para 8,02. Com esse procedimento notou-se
a formação de pequenos flocos. Após 5 minutos adicionou-se o polímero.
Dosou-se 3,0 mL de polímero aniônico (0,2%). Após esse período,
interrompeu-se a agitação e observou-se que os flocos, inicialmente pequenos,
com a adição do polímero tornaram-se maiores facilitando a flotação que
ocorreu em aproximadamente 3 minutos.
Para realização do ensaio denominado de Jarro 3, adicionou-se 500 mL
de amostra de efluente bruto. O pH estava em 5,44, muito baixo para o
coagulante reagir. Adicionou-se o regulador de pH AXFIX AC SL pH o pH foi
para 12,0. Dosou-se 14 mL do coagulante AXFIX AX CIS. Devido a
característica desse produto, o pH baixou de 12,00 para 8,02. Com esse
procedimento notou-se a formação de pequenos flocos, momento ao qual
adicionou-se o polímero aniônico.
Dosou-se 3,0 mL de polímero aniônico (0,2%), sob agitação lenta. Após
esse período, interrompeu-se a agitação e observou-se que os flocos,
inicialmente pequenos, com a adição do polímero tornaram-se maiores
facilitando a flotação que ocorreu em aproximadamente 3 minutos. O efluente
acabou por flotar.
Os resultados visuais dos 3 ensaios (Jarro 1, 2 e 3) pode ser observado
na Figura 3.
Figura 3: Resultado dos ensaios, na esquerda para a direita: Jarro 1, Jarro 2 e
Jarro3.
Fonte: o autor.
Dessa forma, pode-se observar que no ensaio denominado de Jarro 1,
onde foi utilizado AXFIX AX 8557 associado ao polímero aniônico, houve uma
flotação menor, o que contribuiu para que a amostra apresentasse parâmetros
de cor e turbidez maiores do que os dos outros experimentos. No ensaio
denominado de Jarro 2, no qual foi utilizado AXFIX AX 6544, houve pouca
melhora de resultado no que diz respeito aos parâmetros de cor e turbidez. No
Jarro 3, no qual foi utilizado AXFIX AX CIS, ocorreu um resultado satisfatório.
Com o objetivo de confirmar os resultados, realizou-se teste de
comprovação no Laboratório de Biorreatores da Univates, após 2 meses do
primeiro ensaio na empresa. O motivo da necessidade de confirmação dos
resultados obtidos foi motivado pela linha de produção da empresa ser
dinâmica e heterogênea ao longo do período de enchimento do tanque de
armazenamento.
A repetição do teste acabou se mostrando muito importante pois os
resultados obtidos nos teste in loco (na empresa) não se repetiram no
laboratório.
Inicialmente já se pode comprovar que a aparência visual do efluente
bruto não era a mesma, e quando realizada a medição de pH esse se mostrou
diferente também 9,1. Para obtenção do pH na faixa ótima do coagulante 11-
12, foi adicionou-se 9 mL AXFIX AC SL (regulador de pH) para obtenção do pH
12,03. Após o ajuste do pH inicial foi adicionado coagulante até obtenção de
pH 8, porém mesmo nesse pH, não foi observado formação de flocos (Fig. 4)
como no teste realizado na empresa.
Figura 4: Resultado do teste realizado na Univates.
Fonte: o autor.
Devido à quantidade insuficiente de coagulante não foi possível a
realização de mais testes de jarros.
Atualmente o destino final do efluente bruto que chega ao tanque de
armazenamento 15.000 L, é o seu envio, por caminhões tanque de 12.000 L,
para tratamento terceirizado (externo) em estação de tratamento de efluentes,
ao custo de R$ 149,00/m3. O valor do frete é R$ 800,00 – lembrando que a
empresa transportadora possui Licença de Operação para transporte de
efluentes perigosos (Classe I).
Caso a empresa opte por realizar o tratamento na própria empresa com
uso de produtos, e utilizando-se o melhor resultados obtido no jar test realizado
in loco (ou seja, no Jarro 3), obtem-se os dados apresentados na Tabela 1.
Considerando-se a adição de todos os produtos, têm-se um custo de R$
161,74 por metro cúbico (1.000 L) de efluente bruto.
Tabela 1 – Cálculo de custo do tratamento por m³ de efluente bruto.
Produto
Preço do quilograma do
produto (set/2015) - sem frete
gramas de produto por litro de efluente
bruto
Custo com produto por
m3 de efluente bruto
Axfix AC SL R$ 2,98 33,6 g R$ 100,12
Axfix CIS R$ 1,95 31,36 g R$ 61,15
Polímero aniônico (0,2 %)
(Axfloc AF 151M) R$ 16,85 0,028 g R$ 0,47
Os custos para envio e tratamento externo do volume de 12 m3 –
capacidade total do tanque é de R$ 1.788,00. Se considerarmos os valores
apresentados na Tabela 1, e o volume total do tanque de armazenamento (12
m3), obtem-se o custo de R$ 1.940,88 apenas em produtos, desconsiderando-
se o frete, tempo de funcionário, responsabilidade técnica, energia elétrica e
monitoramento do corpo hídrico receptor do efluente tratado.
6 CONCLUSÃO
Conclui-se que os resultados obtidos na primeira realização dos testes
foram bastante significativos, pois permitem a visualização da eficácia dos
testes sobre as amostras tratadas quando comparadas ao efluente bruto.
Porém o teste realizado na UNIVATES não apresentou um resultado
satisfatório, o que gerou pesquisa interna na empresa para avaliação do motivo
do diferente pH observado. Um possível motivo, seja a heterogeneidade da
característica do efluente oriundo da linha produtiva – por exemplo pode-se
citar a situação de derramamento de produto (resíduo líquido) com danificação
de caixas de papelão ou fardos de filme plástico (resíduo sólido). Outro ponto
gerador de efluente eventual é a volta de veículos de entrega com retorno de
produto avariado.
De forma geral, conclui-se que a empresa, em um primeiro momento,
gastaria mais para tratar internamente o efluente da mesma com os químicos
fornecidos pela empresa Axchem Brasil.
7 REFERÊNCIAS BAIRD, C. Química Ambiental. São Paulo: Bookman Companhia Editora, 2002. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2009.
BORDIN, A. Reciclagem de plástico e tratamento de efluentes: uma possibilidade para o reuso da água. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, IFRS – Campus Sertão, 2005. BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentável. 2ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. COSTA, F. et al. Tratamento do Efluente de uma Usina Química Pelo Método de Lodos Ativados Convencional e Combinado com Carvão Ativado. Engenharia Sanitária e Ambiental, vol. 8, nº 4 out/dez, 2013. CRQ IV, Informativo. Edição 105 Set/Out, 2010. CRQ IV, Informativo. Edição 107 Jan/Fev, 2012. DI BERNARDO L. et al. Ensaios de tratabilidade da água e dos resíduos gerados em estações de tratamento de água. São Paulo: Ed. Rima, 2012. DI BERNARDO. Métodos e técnicas de tratamento de água. ABES,1993. ENQ-UFRGS. Tratamento de Água para Caldeira. Disponível em: abes.org.br. Acesso em 01/10/2015. GUTTERES, M. et al. Uso da água e a caracterização das correntes
residuais de curtumes. Tecnicouro, Novo Hamburgo, v.7, n. 3, 2005.
IBGE. Atlas do Saneamento IBGE - 2011 (Dados 2000 a 2008). Disponível em: ibge.gov.br. Acesso em 05/11/15. KRIEBEL G. Nível Básico. Alimentação Química: O problema dos polímeros. Volume 2 , Número 6. Nov/Dez, 2012.
LEME, F. C. Teorias e técnicas de tratamento de águas. Rio de Janeiro: Ed. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2ª edição (Atualizada), 2010. MACÊDO, Jorge Antônio Barros de. Águas e Águas. Belo Horizonte – MG: CRQ – MG, 2007. MARINHO, Jean R. D. Macromoléculas e Polímeros. São Paulo: Manole, 2005. O Planeta pede água. Jornal da UNESP. Disponível em: Acesso em: unesp.gov.br. Acesso em: 05/11/2015. NOVAIS,E. da S. Utilização de polímeros catiônicos e aniônicos no tratamento de efluentes. Faculdade de Tecnologia de Sorocaba. Curso de Tecnologia em Polímeros – Produção em Plásticos, 2012. SANTOS FILHO, Davino F. dos. Tecnologias de Tratamento de Água. São Paulo, Editora Nobel, 1990. SANTOS, Gabriel Rosa. Estudo de Clarificação de Água de Abastecimento Público e Otimização da Estação de Tratamento de Água. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos). Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Química, Rio de Janeiro, 2011. SHREVE, R. Norris & BRINK, Joseph A. Indústrias de Processos Químicos. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 1997.
APÊNDICES
I) licença de instalação da empresa onde foi desenvolvido o estágio e
II) instruções de submissão aos autores, disponível em
http://www.univates.br/revistas/index.php/estudoedebate.