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Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiro n Joao Batista foi baleado e disse que nao apontou o matador do procurador Pedro Jorge Apos doze anos de silencio, o ven- dedor Joao Batista Viana Pereira, uma das principais testemunhas do assassinato do procurador Pedro Jorge, decidiu contar, em entrevis- ta exclusiva ao DIARIO, o que viu na noite de 3 de marco de 1982. Jo- ao Batista, que foi ferido nas costas com um tiro disparado pelo pisto- leiro que matou o procurador, fez, na epoca, um reconhecimento do assassino na Policia Federal, mas sem sucesso. "A dnica caracteristi- ca que eu recordo a que ele tinha cabelos encaracolados e, no dia do reconhecimento, apontei justamente um agente da PF como o assassi- no", explicou, em entrevista na noite de quinta-feira. Esse fato, segundo Joao Batis- ta, teria deixado os policiais irrita- dos. "Eu so consegui reconhecer a pessoa quando os suspeitos foram colocados de costas porque foi as- sim que eu vi o criminoso no dia do assassinato". 0 vendedor estava a 20 metros de distancia do pistoleiro e, na ocasiao, nao memorizou ou- me. As testemunhas citadas nao fo- ram localizadas pelo DIARIO. Vitima - "Eu nao me considero uma testemunha-chave, como me classificaram, mas sim uma vitima do destino", declarou Joao Batista. Por causa do tiro, ele perdeu o rim esquerdo e o baco. Alem disso, passou cem dias com o intestino exposto. 0 vendedor revelou que vai entrar na Justica com uma acao contra a Uniao por danos fisicos sofridos na epoca. "Desde a epoca do episodio eu queria entrar com a acao, mas nao obtive sucesso", disse. Joao Batista contratou os advogados Vancrlio Marques Torres e Ivanil- do Carneiro de Oliveira para defen- de-lo. A testemunha disse que pro- curou ter acesso tambem a conta do Hospital para dessa forma ser res- sarcido pela Uniao, mas no conse- guiu. Apesar de ser uma testemunha im- portante, Joao Batista prefere nao fazer julgamentos a respeito dos envolvidos no episodio. No entan- to, adiantou que no esperava que Ferreira fosse preso novamente. "Imaginava que ele estava no Exte- rior, tinha feito uma cirurgia plasti- ca e nunca mais seria reconheci- do", opinou. Julio Jowbina tras caracteristicas, como o porte fisico da pessoa que atirou. Ainda internado no Hospital Geral de Urgencia, na Caxanga, Joao Ba- tista prestou dois depoimentos a PF. "Nunca acusei ninguem, por- que nao tinha certeza. Inclusive, nao viajei para a Bahia num heli- coptero com o objetivo de apontar Elias Nunes Nogueira como autor dos disparos". Segundo o ex-major Jose Ferreira dos Anjos, as testemunhas William Jose Costa da Silva, Ana Maria Cristovao, dona de um fiteiro pro- ximo ao local do crime, e Maria Eunice Guimaraes, funcionaria da Padaria Jardim Atlantico (onde o procurador foi morto), disseram, em depoimento, que Eduardo Costa foi o verdadeiro assassino. 0 ban- cario foi preso, mas libertado em seguida porque o ex-deputado Jose Apolinario de Siqueira, "Xinxa da Cebola", forneceu um alibi para o acusado. Segundo Ferreira, o par- lamentar disse que o bancario jan- tava com ele no momento do cri- Joao nao esquece o dia do homicidio

Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiro · Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiro ... na noite de 3 de marco de 1982. Jo- ... estou incompleto", diz. Ele, no en-

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Page 1: Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiro · Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiro ... na noite de 3 de marco de 1982. Jo- ... estou incompleto", diz. Ele, no en-

Testemunha diz que n^o reconheceu p&oleiron Joao Batista foi baleadoe disse que nao apontou o matador doprocurador Pedro JorgeApos doze anos de silencio, o ven-dedor Joao Batista Viana Pereira,uma das principais testemunhas doassassinato do procurador PedroJorge, decidiu contar, em entrevis-ta exclusiva ao DIARIO, o que viuna noite de 3 de marco de 1982. Jo-ao Batista, que foi ferido nas costascom um tiro disparado pelo pisto-leiro que matou o procurador, fez,na epoca, um reconhecimento doassassino na Policia Federal, massem sucesso. "A dnica caracteristi-ca que eu recordo a que ele tinhacabelos encaracolados e, no dia doreconhecimento, apontei justamenteum agente da PF como o assassi-no", explicou, em entrevista nanoite de quinta-feira.

Esse fato, segundo Joao Batis-ta, teria deixado os policiais irrita-dos. "Eu so consegui reconhecer apessoa quando os suspeitos foramcolocados de costas porque foi as-sim que eu vi o criminoso no dia doassassinato". 0 vendedor estava a20 metros de distancia do pistoleiroe, na ocasiao, nao memorizou ou-

me. As testemunhas citadas nao fo-ram localizadas pelo DIARIO.Vitima - "Eu nao me considerouma testemunha-chave, como meclassificaram, mas sim uma vitimado destino", declarou Joao Batista.Por causa do tiro, ele perdeu o rimesquerdo e o baco. Alem disso,passou cem dias com o intestinoexposto.0 vendedor revelou que vai entrarna Justica com uma acao contra aUniao por danos fisicos sofridos naepoca. "Desde a epoca do episodioeu queria entrar com a acao, masnao obtive sucesso", disse. JoaoBatista contratou os advogadosVancrlio Marques Torres e Ivanil-do Carneiro de Oliveira para defen-de-lo. A testemunha disse que pro-curou ter acesso tambem a conta doHospital para dessa forma ser res-sarcido pela Uniao, mas no conse-guiu.Apesar de ser uma testemunha im-portante, Joao Batista prefere naofazer julgamentos a respeito dosenvolvidos no episodio. No entan-to, adiantou que no esperava queFerreira fosse preso novamente."Imaginava que ele estava no Exte-rior, tinha feito uma cirurgia plasti-ca e nunca mais seria reconheci-do", opinou.

Julio Jowbina

tras caracteristicas, como o portefisico da pessoa que atirou.Ainda internado no Hospital Geralde Urgencia, na Caxanga, Joao Ba-tista prestou dois depoimentos aPF. "Nunca acusei ninguem, por-que nao tinha certeza. Inclusive,nao viajei para a Bahia num heli-coptero com o objetivo de apontarElias Nunes Nogueira como autordos disparos".Segundo o ex-major Jose Ferreirados Anjos, as testemunhas WilliamJose Costa da Silva, Ana MariaCristovao, dona de um fiteiro pro-ximo ao local do crime, e MariaEunice Guimaraes, funcionaria daPadaria Jardim Atlantico (onde oprocurador foi morto), disseram,em depoimento, que Eduardo Costafoi o verdadeiro assassino. 0 ban-cario foi preso, mas libertado emseguida porque o ex-deputado JoseApolinario de Siqueira, "Xinxa daCebola", forneceu um alibi para oacusado. Segundo Ferreira, o par-lamentar disse que o bancario jan-tava com ele no momento do cri-

Joao nao esquece o dia do homicidio

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Joao nao esquece o dia do homicidio0 dia 3 de marco de 1982 nao

sai da memoria do vendedor JoaoBatista Viana Pereira, 35 anos,uma das principais testemunhas doassassinato do procurador PedroJorge . Na epoca, Joao Batista erafuncionario do banco Bandeirantese tinha 21 anos . Ser testemunha deum dos episodios que mais abala-ram o Estado, segundo o vendedor,foi um acaso do destino, afinal elenunca tinha ido ate a Padaria Jar-dim Atlantico, na rua Edson Regis,onde o procurador foi morto.

Naquele dia, ele chegou do tra-balho e parou num fiteiro ao ladoda padaria para comprar cigarros.Depois, atravessou a rua e andoucerca de 20 metros. 0 disparo res-ponsavel pela morte de Pedro Jorgefoi ouvido em seguida . "Eu olheipara tras, vi um homem de cabelos

encaracolados com uma arma e ten-tei correr para um predio que esta-va em obras. Depois de dar trespassos, senti o tiro em minhas cos-tas. Eu cai e imaginei que estavasendo assaltado", lembra.

Joao Batista ainda tentou atra-vessar a avenida, mas a vista escu-receu e ele caiu . "Uma multidaome cercou, mas apenas uma senho-ra que estava acompanhada do filhome ajudou contra a vontade do ra-paz, que ficou com medo", afir-mou.

A testemunha passou tres diasna Unidade de Tratamento Intensi-vo (UTI) e mais 30 dias internadono Hospital Geral de Urgencia, naav. Caxanga . Joao Batista disse queso soube da morte de Pedro Jorge,seu vizinho na epoca, varios diasdepois, enquanto estava operado.

"Inclusive eu nao sabia que PedroJorge era procurador da Republica,pela simplicidade e discricao dele.Na manha do dia do crime, eu faleicom o procurador, com quern eumantinha um relacionamento ape-nas de vizinho", disse.

Joao Batista supoe que o pisto-leiro o atingiu porque queria fugirna direcao em que ele estava."Nao sei se ele queria me matarpor eu estar no local na hora do cri-me", disse.

A vida do vendedor mudoubastante depois do episodio. "Euera mais ativo, jogava bola. Hojeestou incompleto", diz. Ele, no en-tanto, diz que nunca foi ameacadopor ter sido uma testemunha damorte do procurador. Hoje, o ex-bancario esta casado e tern doffs fi-lhos e prefere nao dizer onde morapara evitar preocupacoes futuras.