Upload
luciano-araujo-da-costa
View
17
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FACULDADE UNIDA - EAD
Objetivos da Aula:
1. Compreender
que a “orientação
espiritual” se dá em
meio ao cotidiano
da vida.
2. Discernir a
diferença entre ser
“professor” e ser
“pai”.
Teologia
Aconselhamento
Página 1
Prof. Abdruschin Schaeffer Rocha
Introdução:
Segundo Eugene Peterson, “existem três atividades
pastorais tão básicas, tão críticas, que determinam a
forma de todas as outras: oração, leitura da Bíblia e
orientação espiritual”. São básicas e, além disso,
“silenciosas”, pois não chamam a atenção e, por
isso, muitas vezes são negligenciadas. Para Peterson,
diante de um quadro de tantas urgências no
trabalho pastoral, não somos incentivados a nos
apegarmos a elas. Essas três atividades “são
compostas por atos que envolvem atenção: ao orar,
posto-me perante Deus, atento a Ele; ao ler as
Escrituras, presto atenção ao que Deus falou e como
agiu durante dois milênios, primeiro em Israel e
depois em Cristo; ao orientar alguém espiritualmente,
fico atento ao que está fazendo na vida daquela
pessoa que se encontra diante de mim” (PETERSON,
2000). Todos esses atos nos levam a centralizar nossa
atenção em Deus, por causa de Seus
FACULDADE UNIDA - EAD
Teologia
Aconselhamento
Página 2
relacionamentos: comigo, com Seu povo e com
uma pessoa específica.
Peterson usa como metáfora do ministério pastoral
uma figura geométrica: o triângulo. Para ele, os
ângulos que compõem um triângulo representam as
três atividades que compõem um ministério de
cuidado pastoral.
Para Peterson, “a oração significa relacionar-se
primeiro com Deus e, depois, com o mundo, ou seja:
o mundo é visto não como um problema a ser
solucionado, mas como uma realidade, na qual
O Ministério Pastoral Para Peterson
Oração
Administração
Pregação Ensino
Privado Público
FACULDADE UNIDA - EAD Página 3
A oração é sempre
“ato segundo”, pois
é resposta à
“palavra” de Deus.
A experiência com
as Escrituras deve se
dar mais pela
audição do que
pela leitura.
Quando lemos,
estamos no
controle; quando
ouvimos é o falante
quem controla.
Teologia
Aconselhamento
Deus está agindo”. A oração, nesse sentido, nos
empurra a agirmos de acordo com a ótica de Deus.
Nesse sentido, a oração nunca é a primeira palavra,
mas a segunda. “Deus diz a primeira. A oração é a
réplica, não o primeiro discurso...”.
Por leitura da Bíblia Peterson entende o trabalho de
transformar olhos em ouvidos. Ou seja, ultrapassa a
mera leitura, pois ler a Bíblia não é o mesmo que
ouvir Deus. “Ouvir é um ato interpessoal, que envolve
duas ou mais pessoas em razoável proximidade. A
leitura envolve uma pessoa com um livro escrito por
alguém que pode estar a muitos quilômetros de
distância, ou morto há séculos, ou ambas as coisas”.
“Ouvindo, o falante está no controle; na leitura,
quem controla é o leitor. Muitos preferem ler a ouvir,
pois do ponto-de-vista emocional exige menos, “e
pode-se adaptar a leitura de forma a atender às
conveniências pessoais”.
Finalmente, a orientação espiritual é o trabalho feito
“entre domingos”, que se caracteriza não pela
proclamação dominical diante de uma
congregação reunida, mas pela conversação com
uma pessoa, ou pequenos grupos, ou mesmo pela
FACULDADE UNIDA - EAD Página 4
Teologia
Aconselhamento
reclusão no estudo e na oração, em que se busca
descobrir o “significado das Escrituras, desenvolver
uma vida de oração, guiar o crescimento em
direção à maturidade”. Na tentativa de buscar
elementos que nos ajudem a entender melhor a
prática do aconselhamento, gostaria de me deter
um pouco nesta última atividade proposta por
Peterson, chamada “orientação espiritual”.
1. ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL EM MEIO AO ORDINÁRIO
Vivemos imerso em uma cultura que aprendeu a
celebrar o “extraordinário”, o “grande” e, por isso
mesmo, paulatinamente estamos perdendo a
capacidade de enxergar o “ordinário” e “pequeno”.
Obviamente, isso traz implicações sérias à prática do
aconselhamento. Peterson afirma: “A cultura nos
condiciona a nos aproximarmos das pessoas e
situações como jornalistas: ver o grande, explorar as
crises, editar e resumir o comum, entrevistar o
fascinante. As Escrituras, porém, e as melhores
tradições pastorais nos treinam em um sentido
diferente: notar o pequeno, persistir no comum,
apreciar o obscuro” (PETERSON, 2000, p. 137).
FACULDADE UNIDA - EAD Página 5
Teologia
Aconselhamento
Não é à toa que Peterson define a orientação
espiritual como o trabalho feito “entre domingos”.
Com isso ele quer afirmar que tal tarefa se dá em
meio à cotidianidade da vida — longe da
extraordinariedade dos momentos especiais de
celebração (cultos), que ocorrem em dias especiais
(domingos), em lugares ditos especiais (templos),
conduzidos por pessoas consideradas especiais
(clero). A prática do aconselhamento possui essa
característica de acontecer naqueles momentos em
que não estamos vivendo experiências de êxtase
com o sagrado. Acontece no dia-a-dia, e talvez por
isso não goze do mesmo status daquelas práticas
dominicais, tais como a pregação e a adoração.
Você já notou como as pessoas parecem não ter
problemas nos cultos de celebração realizados
dominicalmente nas igrejas locais? É como se por um
pequeno momento elas vivessem o paraíso! Mas,
logo, logo precisam encarar os problemas que as
esperam já na segunda-feira. Pulam, cantam e
dançam com extrema “paixão” no domingo, e
parecem se arrastar com impressionante letargia ao
longo da semana. O aconselhamento, pois,
FACULDADE UNIDA - EAD Página 6
O aconselhamento
é requerido lá onde
a crise parece não
ter solução: na
rotina da vida.
Teologia
Aconselhamento
normalmente é requerido lá onde a crise parece
não ter solução: na rotina da vida. Bem se expressa
Peterson quando diz: “A orientação espiritual é o
aspecto do ministério que explora e desenvolve esta
atenção absorvente e devota aos „detalhes
específicos dos incidentes diários‟ e às „ocorrências
cotidianas da vida contemporânea” (PETERSON,
2000, p. 137,138).
“Notar o pequeno, persistir no comum, apreciar o
obscuro” constituem posturas que, embora destoem
de nossas práticas culturais, devem acompanhar o
conselheiro em sua tarefa de ajudar as pessoas a se
re-situarem. Frequentemente, a origem do problema
que aflige determinada pessoa pode ser
encontrada nos “pequenos detalhes” de uma
conversa com o aconselhando. Se o conselheiro não
tiver “olhos” para as pequenas coisas — as coisas
comuns que envolvem o histórico de vida de alguém
—, deixará de ser relevante em boa parte dos casos
que atender. Além disso, a orientação espiritual
também é a tarefa de levar as pessoas a se livrarem
daquela visão que os tornam reféns da
“publicidade” e a discernirem o “material de vida
FACULDADE UNIDA - EAD Página 7
Teologia
Aconselhamento
misturado” aos “entulhos” da existência, mas ao
mesmo tempo capaz de ajudá-las a resignificarem
suas próprias vidas.
Portanto, o trabalho de orientação espiritual não
goza de muito glamour e, além disso, consiste em
prestar atenção ao obscuro, discreto, silencioso,
entediante e periférico. No entanto, “[...] as partes
„sem importância‟ do ministério podem ser as mais
importantes. O que fazemos nos momentos em que
pensamos não estar desempenhando tarefa
significativa talvez seja o que faça mais diferença”
(PETERSON, 2000, p. 148).
2. A DESPROPORÇÃO ENTRE “PROFESSORES” E “PAIS”
Em 1 Coríntios 4:15, Paulo nos dá um bom “caminho”
para pensarmos a natureza da orientação espiritual.
Em relação aos coríntios ele afirma: “[...] ainda que
tivésseis milhares de professores em Cristo, não teríeis,
contudo, muitos pais”. Paulo nesse texto estabelece
uma diferença entre ser professor e ser pai, que se
aplica em grande medida à prática do
aconselhamento. Além disso, podemos concordar
FACULDADE UNIDA - EAD Página 8
Teologia
Aconselhamento
com ele que mesmo hoje não dispomos de tantos
“pais” quanto dispomos de “professores”. Como
vimos na primeira “aula”, aconselhar não significa
“dar conselhos”. Mas, de fato, é mais fácil dizer à
pessoa o que deve fazer do que estar com ela,
acompanhando-a pacientemente à medida que
prossegue; é mais fácil indicar a direção do que
trilhar com ela o caminho da cura.
Portanto, há uma desproporção entre “professores”
e “pais” quando o assunto é cuidar de pessoas. O
aconselhamento deve ser feito por pessoas que se
enquadram nessa segunda categoria. “Pais”
denotam a necessidade constante de um
relacionamento interpessoal. Nesse sentido, a
prática do aconselhamento pressupõe uma pessoa
• Mostram o caminho
Professores
• Caminham junto
Pais
FACULDADE UNIDA - EAD Página 9
Teologia
Aconselhamento
sábia, mais do que a sabedoria; uma pessoa
amorosa, mais do que lições sobre o amor; uma
pessoa comprometida, mais do que discursos sobre
o compromisso.
Deixar a orientação espiritual à responsabilidade de
livros, vídeos ou programas de televisão, também é
problemático na medida em que a ajuda que seria
adequada a uma pessoa, num determinado
momento, pode não ser a outra (ou à mesma), em
outro momento. Portanto, é uma atividade levada a
efeito pessoalmente, e cada pessoa que entra numa
parceria com seu conselheiro deve ser vista como
única, o que significa, também, que sempre estamos
descobrindo novos “vestígios” da graça de Deus.
Todo conselheiro deve lembrar-se que as formas da
graça não se repetem, pois é multiforme. C.S. Lewis
disse: “O céu conterá muito mais variedade do que
o inferno”. “Não existe muita originalidade no
pecado” (PETERSON, 2000, p. 150)
FACULDADE UNIDA - EAD Página 10
Teologia
Aconselhamento
PETERSON, Eugene. Um pastor segundo o coração
de Deus. Rio de Janeiro: Textus: 2000.
PETERSON, Eugene. Um pastor segundo o coração
de Deus. Rio de Janeiro: Textus: 2000.