Texto Completo Tradução Fundamentos Da Economia Heterodoxa e Pós Keynesiana

Embed Size (px)

DESCRIPTION

tradução do capitulo 1 do livro do Lavoie de economia de 2014

Citation preview

  • Fundamentos da economia heterodoxa e ps-keynesiana

    1.1 A necessidade de uma alternativa

    1.1.1 A crise financeira global

    A crise financeira global tem sido um sinal de alerta para os Economistas. O alarme deve ter tocado muito antes, quando o Japo e, em seguida, a sia Oriental foram atingidos por uma enorme crise financeira na dcada de 90. Mas, alguns no mundo ocidental prestaram muita ateno nas dificuldades desses pases distantes.

    dito s vezes que a crise financeira mundial teve incio no vero de 2006, quando os

    preos dos imveis nos EUA pararam de subir e comearam a cair, mas poucos pensariam que esse fenmeno local pudesse causar uma crise mundial. Surpreendentemente, e demonstrando a importncia da globalizao, os primeiros sinais de tenso financeira surgiram nos mercados bancrios europeus no incio de 2007, quando os bancos europeus comearam a expressar ansiedade sobre o valor de seis investimentos financeiros nos EUA. A mini crise ocorreu no vero de 2007, e apesar das dificuldades encontradas pelos emitentes de papel comercial garantido por ativos, a maioria de ns acreditava que os bancos centrais, tinham desempenhado

    o seu papel e aliviado as tenses. Esta iluso persistiu at setembro de 2008, quando as agncias ( Freddie Mac -

    Enterprise/ Fanny Mal) patrocinadas pelo governo, tiveram que ser resgatadas, quando os bancos de wall street caram um aps o outro ( Washington/ Waschovia), e logo em seguida a AIG teve que ser socorrida pelo governo e em seguida uma sria de bancos europeus, incluindo os sistemas irlandeses e islandeses. O ponto alto foi quando o governo americano largou o Lehman Brothers, e essa foi uma notcia assustadora para todo o mundo bancrio.

    Os papis coorporativos comearam a entrar em colapso, devido aos cortes habituais

    de financiamento e at mesmo a General Motors precisava ser resgatada pelos governos Canadenses e Americanos. A recesso econmica causada pelo comportamento imprudente dos banqueiros e a fraude de classificaes de credibilidade das agncias levaram a grandes dficits Oramentrios. Como as receitas de alguns pases caram, eles tentaram conter essa queda com programas de estmulos e obtiveram algum sucesso.

    Mas, este no foi o fim do problema. No final de 2009, observou-se que pequenos pases da zona do euro, como a Grcia, tinham maus indicadores econmicos e parte das dvidas

    foram ocultadas das estatsticas oficiais, criando assim, uma preocupao com a capacidade de resgate. Os investidores perceberam que a zona do euro teve uma configurao peculiar, projetado para um mundo em que as crises financeiras no poderiam ocorrer, como o Banco Central Europeu, em contraste com a maioria dos outros bancos centrais, porque normalmente no compram ttulos do governo.

    Isso exacerbou as preocupaes dos investidores sobre a capacidade de alguns pases da zona do Euro para resgatar essa dvida. A preocupao com a Grcia, acabou se

    espalhando para outros pases como: Irlanda, Portugal, Espanha e Itlia. O Banco Central Europeu recusou se a intervir e findou comprando ttulos quando j era tarde demais, causando assim, uma crise da divida. No momento da escrita (2013) difcil ver onde e quando todo esse tumulto globalizado ir acabar. A previso de alguns economistas que esta uma tempestade perfeita.

    A grosso modo. Os Economistas tiveram trs reaes crise financeira. A reao do meio foi dizer que a Teoria Convencional existente boa, mas precisa ser ligeiramente ajustada em conta, alguns elementos que antes eram deixados de lado e que preciso explicar que a crise

    no pode ser prevista. A segunda reao, associada a autores novos clssicos e neo austracos, ou aqueles

    que Paul Krugman chamou Economistas de gua doce, foi argumentar que a crise foi causada por regulamentaes equivocadas, mais intervenes governamentais, decises imprudentes tomadas por parte do Banco Central, oramentos governamentais doentios, e pelos chineses impertinentes que manipulavam a sua taxa de cmbio. Finalmente, a terceira reao afirmar

  • que as instituies, os regulamentos e as polticas econmicas tm sido baseadas nas teorias econmicas erradas, e que estes precisam ser apagados.

    Naturalmente, esta ltima opinio sempre foi a crena de autores heterodoxos, e ps keynesianos em particular, mas com a chegada da crise financeira, vrios ex partidrios do Mainstream , ou seja, os economistas convencionais mudaram as suas mentes e tem sido bastante crticos da Teoria Standard , ou seja, Teoria padro.

    1.1.2. Retrataes

    Talvez a tal retratao mais surpreendente a de Richard Posner, um Juz e Professor da

    Universidade de Chicago. Posner foi um defensor do liberalismo econmico do livre comrcio, e da ideologia de Miltom Friedman. Em seu livro, intitulado O fracasso do Capitalismo, Posner (2009) argumenta que a desregulamentao foi longe demais e que o mercado financeiro precisa ser urgentemente regulamentado, porque o mercado bancrio tem um significado sistmico que outras indstrias no possuem. Em um artigo, provocativamente intitulado como me tornei Keynesiano, Posner (2009) vai mais longe, afirmando que Ns aprendemos desde setembro de 2008 que a presente gerao de economistas no descobriram como a economia funciona. Posner acredita que a Teoria Geral de Keynes, apesar de sua

    aparente antiguidade, o melhor guia para a crise, porque Keynes queria ser realista sobre as tomada de decises, ao invs de explorar o quanto um economista poderia comear por assumir que o que as pessoas realmente fazem porque basearam suas decises em alguma aproximao de anlise do custo benefcio.

    Um ponto muito semelhante, mostrando a desordem nas hipteses obviamente contratual, sobre o comportamento humano visto por economistas convencionais, tambm foi feita por Akerlof e Shiller (2009), quando escreveu que em sua tentativa de limpar a

    macroeconomia e torn La mais cientfica, os macroeconomistas impuseram uma estrutura de pesquisa e disciplina centrando se sobre a forma de como a economia se comportaria se as pessoas tinham apenas motivos econmicos e se tambm foram totalmente racionais. Robert Skidelsky (2009), bigrafo e historiador de Keynes, alegou que, para entender a economia era melhor no ser um profissional da economia, a vantagem de no ter sofrido uma lavagem cerebral para ver o mundo como a maioria dos economistas enxergam. Eu sempre considerei suas suposies sobre o comportamento humano absurdamente estreitas.

    Os antigos vencedores do prmio do Banco da Sua em Cincias Econmicas em Memria de Alfred Nobel ( a que vamos nos referir simplesmente como o Prmio Nobel de Economia a partir de agora) como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, tm sido crticos implacveis da economia convencional. Como refletido na maioria de suas obras, criticando tanto os seus pressupostos quanto a sua aparente falta de conhecimento de economia Keynesiana elementar, como os mais novos e famosos autores clssicos revertendo argumentos para pr keynesianos para combater a justificativa de programas de estmulos. A acusao mais abrasiva provavelmente a de Willem Buiter, Professor LSE ex membro do Comit de Poltica

    Monetria do Banco da Inglaterra. Na seguinte longa citao, Buiter questiona a utilidade de todos os modismos em Macroeconomia ao longo dos ltimos 30 anos. Na verdade, assim como ns, retorna aos velhos autores Keynesianos como Tobin, ou autores Ps Keynesianos como Minsky, ou aqueles autores que demonstram originalidade, como Shiller Akerlot e Stiglitz, cujas obras mostram preocupaes que esto perto daqueles encontrados nas obras de autores Ps Keynesianos.

    Na verdade, a tpica Macroeconomia da graduao assim como a Economia Monetria

    vistas na Universidade anglo americanas durante os ltimos 30 anos ou mais podem ter um retrocesso de dcadas graves de investigaes do comportamento econmico agregado e compreenso relevante para a poltica econmica. Foi um desperdcio privado e socialmente custoso de tempo e outros recursos.

    A maioria macroeconmica dominante de inovaes tericas desde os anos 70 ( o novo clssico, a revoluo das expectativas racionais, associadas aos nomes como Robert, E. Lucas, Jr. Edward Prescatt, Tomas Sargent, Robert Barro, etc, e a nova teorizao Keynesiana de

  • Michael Woodford das hipteses. As pesquisas tendem a serem motivadas pela lgica interna, intelectuais enigmticos afundados na busca do capital e de estabelecer a esttica de um programa de investigao, quando deveria haver um poderoso desejo de compreender como funciona a economia, muito menos como a economia funciona durante momentos de estresse e instabilidade financeira...

    Em ambas, as novas abordagens so Keynesianas ou novos clssicos para a Teoria

    Monetria ( e a Macroeconomia em geral), a verso mais forte da hiptese dos Mercados eficientes (EMH) foi mantida.

    Esta a hiptese de que os preos dos ativos agregados refletem totalmente todas as informaes de fundamental importncia , e assim, fornecem os sinais adequados para a alocao de recursos.

    Mesmo durante os anos 60, 70, 80, 90 e antes de 2007, o fracasso do manifesto dos Mercados eficientes (EMH) em muitos dos principais mercados de ativos, era bvio para

    praticamente todos aqueles cujas habilidades cognitivas no tinham sido deformadas por uma moderna educao P.H.D Anglo Americana.

    Porm, a maior parte dos profissionais em Economia continuaram a engolir o anzol, a linha e o lastro dos mercados eficientes (EMH), embora houvesse os defensores influentes de toda razo, incluindo o James Tobin, Robert Shiller, George Akerlof, Hyman Minsky, Joseph Stiglitz e Behaviorista para financiar as abordagens ( Buiter, 2009).

    H de fato uma grande dose de insatisfao com a Teoria Econmica e com os

    Economistas em todos os nveis. Os administradores do FMI criaram um inqurito para descobrir, porqu o conselho do FMI levou diversos pases a terem resultados to desastrosos e descobriram que a falha estava nas Teorias defendidas por seus economistas. Os governos e os funcionrios do Banco Central esto cada vez mais cautelosos com o conselho proposto por profissionais em Economia. Gerentes de grandes fundos de investimentos, queimados pela crise financeira, procuram vises alternativas sobre economia. Os alunos, em especial os da Frana, lanaram um movimento em protesto, chamado ps autista ( 2000) e seguiu se com o PEPS Economia (2013) movimento que h muito que se queixava que eles esto sofrendo uma

    lavagem cerebral, porque os professores em Economia apresentavam apenas uma nica viso, sem dizer aos alunos que existem outras Teorias. Os estudantes se queixavam , ainda, que toda a nfase sobre tcnicas e formalizao, com pouca ligao com os eventos econmicos reais (Fulibrook, 2003). At mesmo a rainha da Inglaterra reclamou em novembro de 2008 que ningum havia aparentado ser capaz de prever a crise financeira global ( Earl, 2010). Demorou, mais da metade de um ano para que Economistas Ortodoxos Britnicos enviassem uma resposta para a rainha, argumentando que tudo isso foi causado por falta de imaginao da sua parte.

    1.1.3. A necessidade de uma alternativa ps keynesiana O argumento apresentado aqui que, enquanto a previso um mau conselho tem sido

    muito maior pela hegemonia da economia neoclssica , ou seja, o fato de que departamentos de economia em todo o mundo tm sido monopolizado por esta nica viso, isso est em contraste com o que ocorre em outros departamentos da Universidade, como a Sociologia ou Psicologia, onde diretamente pontos de vista opostos so dados como o orgulho do lugar e so utilizados nos primeiros livros didticos.

    Dissidncia, ou pelo menos um certo tipo de dissidncia, foi reprimido em departamentos de Economia. Mas, a dissidncia o que necessrio para um ambiente acadmico vibrante.

    A dissidncia, no entanto, deve ir alm da crtica: uma alternativa positiva tambm deve ser apresentada. Esse o principal objetivo do livro.

    A crise demonstrou claramente, se tal demonstrao foi realmente necessria aps o fracasso do consenso de Washington apenas alguns anos antes, de que algo que tinha fornecido tais maus conselhos aos decisores. Como poderia ser encontrado no site do Financial bastante

    conservador em 2009, a crise de crdito tem destrudo a f na ideologia do livre comrcio. Em vista destas falhas, nosso dever apoiar e desenvolver as tradies heterodoxas que questionam a eficincia e a estabilidade de Mercados Irrestritos.

    Neste livro, gostaria de destacar o ps keynesiano como uma corrente em Economia, veremos mais frente que essa escola de pensamento pode ser subdividida em vrias

  • vertentes. Mas, por enquanto, podemos dizer, primeiramente que essa corrente se estende e generaliza as ideias que foram desenvolvidas pelos seguidores radicais de John Maynard Kerias vertentes. Mas, por enquanto, podemos dizer, primeiramente que essa corrente se estende e generaliza as ideias que foram desenvolvidas pelos seguidores radicais de John Maynard Keynes ( da o termo ps keynesian).

    Isso desenvolveu se inicialmente principalmente na Universidade de Crambridge. A

    originalidade dessas ideias tornaram se bem evidentes na dcada de 50, pesquisadores como Nicholas kaldor e Joan Robinson, veio para proeminncia. Naturalmente, h tambm outros economistas heterodoxos famosos em cambrige , mais notavelmente, Richard Kahn, Pierro Sraffa e Marice Dobb.

    Esta gerao foi ento seguida por outra, a de Luigi Pasinetti, Geoffrey Hsdcourt e Wynne Godley, que veio com ideias prprias, embora compatvel com esta corrente de Cambrige.

    Outros de fora de Cambrige tambm fizeram contribuies para essa tradio, o mais notvel, certamente, Michal Kalecki, o Economista polons. No incio dos anos 70, vrios economistas americanos contriburam a sua maneira e ajudaram a institucionalizar a economia ps keynesiana. Naturalmente, os contribuintes para a economia ps keynesiana, podem ser encontrados em todo o mundo e em certos casos, podem ser associados com outras escolas de pensamento, como o caso para John Kemeth Gallbaraith, que usualmente entendido como algum tipo de institucionalista radical.

    Tabela 1.1 Heterodoxia contra a economia Ortodoxa:

    Nomes alternativos

    Economia Heterodoxa / Economia Ortodoxa

    Ps Classicos

    Paradigma da Economia Neoclssica

    Economia Poltica radical do paradigma dominante

    No ortodoxo

    Economia Heterodoxa ou economia do mundo real

    Economia marginal

    A nova economia do velho paradigma

    1.2 Economia Heterodoxa

    1.2.1 Economia Heterodoxa contra a economia ortodoxa Nesta fase, so necessrias algumas definies. A Tabela 1.1 mostra os nomes das

    alternativas que foram dadas as correntes de pensamento na economia. Optamos por chamar de economia heterodoxa e economia ortodoxa; Um economista que no faz parte do grupo heterodoxo, ento, por definio, deve pertencer ortodoxia. Veremos na prxima seo que estas duas correntes podem ser definidas por suas principais caractersticas e crenas

  • metodolgicas. A economia ortodoxa muitas vezes referida como a economia Neoclssica, marginalismo ou tradicionais da economia dominante. Ao longo da ltima dcada, vrios autores como David Colander (2000) e John Davis (2006) alegaram que todos esses termos no so sinnimos. Em particular, esses autores tm argumentado que obras importantes na corrente ortodoxa no utilizam alguns dos principais pressupostos que definem a economia neoclssica e da utilizao de mtodos marginalistas, fazendo referncias a teoria dos jogos, economia

    experimental, economia comportamental, neuroeconomia e economia de complexidade no linear. Isto verdadeiro particularmente no campo da microeconomia, apesar de alguns elementos continuarem apontando um quadro Neoclssico, claro que a macroeconomia, com as expectativas racionais, ainda esto totalmente dentro do neoclssico. Por isso, at que se prove o contrrio no vejo nada de errado em assimilar economia ortodoxa ao paradigma neoclssico.

    Na verso de 1992 do livro, fiz referncias ao paradigma do ps clssico , em

    oposio ao paradigma neoclssico, e tambm porque algumas das preocupaes dos economistas ps clssicos refletiram as preocupaes dos economistas clssicos, tais como Ricardo e Marx. No mesmo esprito, Heinrich Bortis (1997) sugeriu o nome economia poltica "Clssico-keynesiana '. Eu tambm uso ocasionalmente o termo economia "pouco ortodoxa"ou "no-ortodoxo". Malcolm Sawyer (1989) props o termo " economia poltica radical 'para identificar um conjunto de escolas dissidentes mais ou menos homogneas, de modo a distingui-las de maneira autnoma e "economia poltica", que tambm tem sido utilizado por autores

    direitista que se preocupam com a escolha do pblico e o crescimento do setor pblico. Fullbrook (2013) sugeriu a utilizao de duas expresses, "novo paradigma

    econmico"e 'velho paradigma econmico ", propondo dez caractersticas distintas. Em seus esforos reagrupou todos aqueles frustrados com economia ortodoxa, como que dando seguimento ao movimento econmico ps-autista, Fullbrook criou uma anlise econmica do mundo real, foi a principal publicao da Associao Mundial de Economia. O inverso da economia ortodoxa poderia tambm ser chamado de mundo real da economia.

    Eu decidi adotar a denominao "economia heterodoxa". Ao longo dos anos, em

    especial desde o final da dcada 90, mas, mais ainda, a partir de meados dos anos 2000, o termo "economia heterodoxa" tornou-se cada vez mais popular para designar o conjunto de economistas que se vem como pertena a uma comunidade de economistas distintos do paradigma dominante. De Fato, agora h uma enorme Diretrio de Economia Heterodoxa (Jo, 2013), que fornece informaes teis todos os jovens estudantes que procuram uma economia alternativa. Como resultado, Vou falar dos "economistas heterodoxos", como tem sido sugerido, em particular, por FredericLee (2009).

    possvel resumir em poucas palavras a diferena entre a economia ortodoxa e economia heterodoxa? Embora muito mais ser dito na prxima seo, nesta fase podemos concentrar na definio de economia como um exemplo. A definio mais aceita, que pode ser encontrada em todos os livros de texto ortodoxos, que de Lionel Robbins (1932, 16 p.),que definiu a economia como "uma cincia que estuda o comportamento humano como uma relao entre fins e meios escassos que tm usos alternativos ", somando-se esta dizendo que a economia o estudo do "comportamento condicionado pela escassez" (p. XXXI). Quando

    perguntado, alguns dos meus alunos definiu a economia neoclssica como o estudo de uma curva inclinada para cima de oferta com uma curva negativamente inclinada de demanda! Lee (2013a, p. 108) por contraste define economia heterodoxa como "uma cincia histrica do processo de abastecimento social".

    Eu encontrei esta definio e considerei bastante ambgua, e pessoalmente eu prefiro a definio oferecida por John Weeks (2012), que se ope definio padro de economia baseada na escassez, propondo vez que "a economia o estudo do processo pelo qual a sociedade traz a sua disposio recursos para a produo, bem como a distribuio da produo

    entre os seus membros. 1.2.2 Escolas de pensamento Heterodoxo Quem so esses economistas heterodoxos? Frederic Lee (2009, p. 7), em sua Histria da

    Economia Heterodoxa, lista o seguinte: 'Ps -keynesianos Sraffia, Marxistas-radicais, institucionalistas evolucionrios , feministas, austracos e a economia ecolgica ".

  • Tabela 1.2 d uma lista similar das vrias escolas de pensamento que tenho associado com economia heterodoxa no passado. Ps-keynesianos so listados em primeiro lugar, no por causa de sua importncia numrica, mas sim porque eles so o tema deste livro, embora deve-se salientar que Radicais / marxistas so provavelmente mais numerosos entre economistas heterodoxos, com os institucionalistas em seguida.

    Como veremos mais tarde, esses vrias escolas de pensamento tm caractersticas

    metodolgicas em comum, embora isso no possa sempre ser bvio, porque os membros de cada escola geralmente se especializam em diferentes campos ou porque eles fornecem diferentes tipos de crticas contra a economia ortodoxa, sendo assim os contatos entre as vrias escolas podem ser bastante escassos.

    A crise financeira deu impulso a todas as escolas alternativas de pensamento, em particular a economia keynesiana heterodoxa. Estudantes de alguns departamentos de economia desprovidos de cursos heterodoxos criaram seus prprios conjuntos de palestras. Jornalistas, que

    at muito recentemente, ainda estavam no temor de Milton Friedman, agora se voltam para Keynes para fornecer alguma explicao sobre o que est acontecendo. Os livros de John Kenneth Galbraith, um ps-keynesiano Institucionalista, voltaram moda, nomeadamente o seu livro de 1955 A Grande queda de 1929. Alm disso, a crise financeira trouxe tona os pontos de vista j conhecidos.

    Tabela 1.2 Escolas de pensamento econmico heterodoxo

    Escolas de pensamento Associaes

    Ps Keynesianos Grupo de Estudo ps keynesiano (PKSG)

    Associao de Estudos Keynesianos ( ADEK)

    Associao Keynesiana Brasileira (AKB)

    Radicais, Marxistas, (URPE)

    (AHE)

    (IIPPE)

    (AFIT)

    Economia Poltica Evolucionria (EAEPE)

    Economistas Feministas (IAFFE)

    Economia Humanstica e Social (ASE)

    (PEKEA)

    Economia Ecolgia (ISEE)

    Estruturalistas .....

    .

    .

    .

    .

    .

    Economistas Ps-keynesianos- Hyman P. Minsky - para, como medida em que jornalistas no Wall Street Journal e outros jornais estavam fazendo referncias a um "momento Minsky". Conferncias Minsky, organizado pelo Instituto de Economia Levy, agora atrai os presidentes de alguns dos bancos da Reserva Federal dos EUA. Toda essa ao em torno Minsky levou a novas edies de trs de seus livros, que por um tempo pode ser encontrado at

    mesmo em livrarias de aeroportos. Mas o renascimento do pensamento econmico alternativo no para por a. Estende-se a

    a todas as marcas de economia heterodoxa (ver Tabela 1.2), em especial o marxismo e o

  • regulamento escolar francs, cuja credibilidade tambm foi dada por um impulso. De fato, em suas explicaes da crise, h semelhanas substanciais entre os escritos de vrios ps-keynesianos, nomeadamente aqueles preocupados com o estudo de uma economia monetria da produo, e as dos membros do regulamento escolar francs (por exemplo, Robert Boyer,Jacques Mazier, Dominique Plihon, Frdric Lordon), a Conveno Escolar Francesa(nomeadamente Andr Orlan e sua notavelmente presciente livro de 1999), e alguns

    keynesianos Marxistas que compartilham laos estreitos com a escola ps-keynesiana (como James Crottye Gerald Epstein nos EUA ou Grard Dumnil e Dominique Lvy em Frana).

    A principal razo pela qual os autores de vrias origens e tradies tm em comum uma compreenso dos eventos da ltima dcada que eles possuem uma viso comum do que economia.

    Os leitores devem ter notado que os institucionalistas e economistas comportamentais esto listados na Tabela 1.2 com o qualificador adicional 'antigo'. Isto porque, como veremos,

    alguns dos economistas comportamentais que permanecem dentro da tradio neoclssica, enquanto os novos institucionalistas so derivados da teoria econmica neoclssica. Como resultado, os Institucionalistas antigos da economia comportamental poderiam igualmente ser chamados de Institucionalistas originalmente da economia comportamental inicial. Os economistas do trabalho da velha tradio institucionalista ajudaram a criar um novo campo - das relaes laborais - que ainda impermevel influncia neoclssica (Kaufman, 2010a). Novos-austracos levam um ponto de interrogao, porque, como veremos na prxima seo,

    embora eles se considerem como economistas heterodoxos, eles no endossam as principais caractersticas comuns s outras escolas heterodoxas. O aparecimento de baseado agente- modelagem, dos quais existem vrias marcas, nesta lista pode surpreender alguns leitores. Mas, depois de uma discusso com alguns desses profissionais, tenho chegado concluso de que alguns baseados em agentes modeladores compartilham muitas das crticas que os ps-keynesianos tratariam de economistas neoclssicos, e que as principais caractersticas de seus modelos so genuinamente de natureza heterodoxa. Quanto dinmica do sistema, Michael Radzicki (2008, p. 157) tem argumentado persuasivamente 'viso do mundo com a mesma lente

    "que dinamicistas sistema como institucionalistas e ps-keynesianos, e existem ligaes certamente estreitas sobre os resultados e da anlise-dvida promovidos pela dinamicistas do sistema e a anlise coerente-fluxo defendida por alguns ps-keynesianos.

    Num recente artigo, baseado em quase 20 critrios, Earl e Peng (2012) tentou avaliar em que medida oito dessas escolas, alm dos novos institucionalistas e a nova economia comportamental, so mais heterodoxas do que ortodoxas.

    Alm da heterodoxia e da ortodoxia, os economistas podem ser divididos em dois

    grandes grupos: Os convencionais e os dissidentes. A corrente principal corresponde essencialmente a vista do livro didtico. "A sua existncia como um todo coerente intelectual geralmente mais fortemente expresso em livros didticos na graduao superior e nos nveis de ps-graduao "(Colander et al., 2007-08, p. 306). Os dissidentes, como argumentado por Backhouse (2004), so eles prprios subdivididos em dois grupos adicionais: os dissidentes ortodoxos e os dissidentes heterodoxas. Aqueles trs grupos so representados na figura 1.1, com os discordantes heterodoxos esquerda, os convencionais, direita, e os dissidentes

    ortodoxos entre os outros dois grupos. Escolas de pensamento, tais como os ps-keynesianos,os marxistas, os radicais e os antigos institucionalistas so claramente dissidentes heterodoxos. Dissidentes ortodoxos incluem autores como o institucionalista Oliver Williamson. Em seu artigo sobre a natureza da economia heterodoxa e economia neoclssica, Davis (2006, p. 27) no usa a terminologia proposta por Backhouse, mas acho que este o que ele tem em mente quando diz que "a economia heterodoxa ps-1980 um complexa estrutura, sendo composto de dois tipos diferentes de trabalho amplamente heterodoxa. . . : A tradicional heterodoxia esquerda e da "nova heterodoxia" resultante de outras importaes de cincia '. Sua "heterodoxia

    tradicional" dissidncia heterodoxa de Backhouse, enquanto sua "nova heterodoxia" (mais tarde chamado de "heterodoxia dominante 'em Davis (2008, p. 359)) a dissidncia ortodoxa. De igual modo, aqueles que coador et al. (2007-08, p. 309) chamam de "fora da corrente principal heterodoxo economistas "so dissidentes heterodoxas de Backhouse, enquanto o seu 'dentro do convencionais economistas heterodoxos "so dissidentes ortodoxos de Backhouse.

  • Lawson (2009b, pp. 93-114), sem, no entanto, usando os termos dissidncia ortodoxo e heterodoxo dissidncia, mas, obviamente, estando de acordo com essa nomenclatura, explica longamente porque a nova heterodoxia de Davis no faz parte do programa heterodoxo, e porque dissidentes heterodoxos so sim comprometidos com o projeto metodolgico perseguido por economistas dos convencionais.

    Frederic Lee (2009, p. 4) tambm utiliza uma nomenclatura ligeiramente diferente, uma

    mais provocante uma vez que semelhante a religio, uma analogia que, no entanto, pode ser bastante adequado para economia, chamando "herticos" aqueles que Backhouse nomearia dissidentes ortodoxos, enquanto os dissidentes heterodoxas so denominados 'blasfemos ". Aqui Lee usa os hereges prazo em um sentido diferente da de Keynes na Teoria Geral. No contexto da economia, os hereges acreditam na metodologia convencional, mas eles defendem modificaes doutrina. Assim, eles no so realmente uma ameaa e so tolerados, tanto mais que se eles vm dos escales superiores da hierarquia. Em contrapartida, os blasfemos so no-

    crentes. Eles rejeitam o ncleo do convencionais, negam sua relevncia e de verdade, e no desejam melhorar a sua doutrina. Eles tm a sua prpria agenda, sem relao com a dos convencionais. Eles so apstatas, que apostataram do convencional, dando-se inteiramente. Eles so os dissidentes heterodoxos.

    Assim economistas heterodoxos so dissidentes em economia. Mas o conceito de dissidncia muito mais amplo do que o de heterodoxia. Dissidentes heterodoxos no so susceptveis de tornar-se parte dos convencionais, e sua posio na hierarquia provvel que se

    mantenha precria. Em contrapartida, os dissidentes ortodoxos podem se transformar em dissidentes

    heterodoxos ou pode tornar-se parte dos convencionais, quer a partir de sua prpria vontade ou porque a maior parte da profisso moveu-se para suas proposies. Backhouse oferece alguns exemplos de ortodoxos dissidentes, como o desequilbrio da escola francesa no final de 1970, com Malinvaud e Benassy.

    Milton Friedman foi certamente um dissidente na dcada de 1950, mas, em seguida, seus pontos de vista tornaram-se dominantes na dcada de 1960. Da mesma forma, o novo

    modelo de consenso, agora melhor conhecido como o modelo de equilbrio geral dinmico estocstico (o modelo DSGE), com base em como era em uma funo central de reao do banco envolvendo a taxa de juros ao invs do estoque de oferta de dinheiro, certamente foi considerado como dissidncia ortodoxa no seu incio, mas agora o po com manteiga dos pesquisadores do banco central. O prprio Keynes, com a publicao da Teoria Geral em 1936, foi provavelmente considerado como um ortodoxo dissidente. Como Herbert Simon (1997, p. 14) diz: "sem a aceitao dos mtodos de pensamento marginalista. A Teoria Geral no teria

    tido o enorme e relativo impacto imediato que tinha sobre o pensamento dos economistas convencionais'. Este, por sinal, levanta um problema mencionado por Wladimir Andreff (1996) e por Earl e Peng (2012,p. 466): e se algumas posies heterodoxas dissidentes eram para se tornar o mais aceito paradigma? Poderamos ainda cham-los de opinies heterodoxas? Esta uma pergunta um tanto retrica, porque, como dito anteriormente, uma possibilidade bastante improvvel agora. Outros exemplos de dissidncia ortodoxa pode incluir o trabalho de autores to diversos como Robert Shiller, Richard Thaler, Colin Camerer, Harvey Leibenstein, Dan

    Rodrick, Herbert Simon, Ronald Coase, Wassily Leontief, Amartya Sen, George Akerlof, Paul Krugman, Joseph Stiglitz, Oliver Williamson ou William Vickrey, os ltimos nove economistas tendo ganho o Prmio Nobel de Economia. Alguns tm explicitamente que eles certamente no queriam balanar o barco convencional. Por exemplo Thaler, o economista comportamental, citado como tendo dito que ele no queria 'para lanar resduos para toda a matemtica, aparelho de cincia dura que os economistas tinham construdo aps a Segunda Guerra Mundial "(Fox, 2009, p. 187).Outros, como Simon e Vickrey, voltaram-se para economia heterodoxa.

    1.3 Pressupostos Heterodoxos e Paradigmas Ortodoxos

    At agora, tenho afirmado que existem duas comunidades de economistas, a heterodoxa e a ortodoxa. Os filsofos da cincia chamariam estes programas de investigao (Imre Lakatos)

  • de tradies de investigao (Laudan) ou paradigmas (Kuhn). As pesquisas de programas estendem-se por todas as reas e domnios da economia; dentro de cada campo, cada um engloba vrias teorias ou escolas de pensamentos; cada teoria entretm vrios modelos. A nossa tarefa nesta seo identificar os elementos essenciais de cada um dos dois grandes programas de investigao, o que Leijonhufvud chamou de pressupostos de uma pesquisa de tradio, isto , o conjunto de crenas metafsicas comumente realizada, o que no pode ser colocado de

    maneira formal, e que so anteriores constituio dos pressupostos que governam modelos especficos. Estes so os fundamentos do programa de investigao ou o seu meta-axioma. Eles so grandes generalidades um pouco na natureza das crenas cosmolgicas (Leijonhufvud, 1976, p. 72). Tony Lawson (2006) expressa isso dizendo que economistas ortodoxos e heterodoxos no compartilham o mesma ontologia: eles discordam sobre seus preconceitos, da natureza e da estrutura da realidade.

    Embora Marxistas, Institucionalistas, estruturalistas, Evolucionaristas, Scio-

    economiastas, o circulo Francs e escolas de regulamentao, Sraffians e Ps-Keynesianos podem ter substancialmente opinies diferentes sobre vrios temas, tais como a teroria do valor ou relevante anlise do longo prazo, eu acredito que eles possuem as mesmas crenas metafsicas, antes mesmo dos elementos que constituem o ncleo de suas respectivas teorias. Da mesma forma, Lawson (2009b, p.123) argumenta que essas vrias escolas de pensamento heterodoxas matem implcitamente uma concepo comum dos fenmenos sociais, e que, em grande medida eles podem ser identificados em sua maioria atravs do tipo de questes

    levantadas, de modo que podemos ver tradies distintas como nas divises de trabalho. Estes economistas heterodoxos so, assim, ligados por algo mais do que sua antipatia pela economia neoclssica. Se eles no gostam da teoria econmica ortodoxa precisamente porque a economia ortodoxa transmite pressupostos que so contrrias s crenas metafsicas detidas por esses economistas. por isso que eles se tornaram heterodoxos.

    Mostrando que os economistas heterodoxos asseguram pressupostos que so diferentes daqueles acolhidos no mainstream ir ajudar a responder principal objeo de uma alternativa para a economia neoclssica. Os economistas convencionais raramente entendem por que um

    economista gostaria de trabalhar fora da economia neoclssica, que muitas vezes acredita-se ser oferecedora de uma nica aboradagem vivel para os problemas econmicos. Aqueles que no esto dentro da ortodoxia esto a serem ditos como margem da cincia. O que se argumenta aqui que existem duas tradies de pesquisa em economia, cada uma com os seus prprios pressupostos e que no se podem ser chamados mais cientificas do que o outro, mesmo o programa de pesquisa ortodoxo ser muito mais formalizado.

    Varios economistas tm tentado identificar o que torna a economia heterodoxa distinta

    da economia ortodoxa ou neoclssica. Esta no uma tarefa fcil, como Andrew Mearman (2012a) no lembra. Ao longo dos ltimos 20 anos aproximadamente, eu argumento que heterodoxia e a ortodoxia podem ser distinguidos atravs de quatro pares de pressopostos, e recentemente adiciono um quinto; tudo isso pode ser encontrado na Tabela 1.3. Estes cinco pares resultam, no meu entendimento, dois programas de investigao, bem como a partir de minha leitura e de colegas economistas interessados em metodologia, alguns dos quais, como Malcolm Sawyer (1989, pp. 18-21) e Mauro Baranzini e Roberto Scazzieri (1986, pp. 30-47),

    sugeriram os mesmos elementos essenciais. Mais recentemente, Mark Setterfield (2003) endossou esses mesmos pressupostos. No estou afirmando que a Tabela 1.3 representa a verdade absoluta, ou que os pares no poem ser reorganizados, ou novos pares possam ser apresentados. Eu s estou alegando que se trata de uma forma conveiente de descrever duas grandes vises de economia. De fato, na tentativa, a posteriori, para verificar se estes pressupostos tambm se aplicam a economia feminista e ecolgica, dois campos sobre os quais eu sabia pouco, descobri que esses cinco pressupostos fazem um bom trabalho em descrever essas duas tradies (Lavoie, 2003a, 2009a).

    Tabela 1.3 - Pressupostos dos programas de investigao heterodoxos e ortodoxos

  • Pressupostos Escola Heterodoxa Escola Ortodoxa

    Epistemologia/Ontologia

    Realismo. Instrumentalismo.

    Racionalismo Racionalidade de um

    ambiente consistente,

    satisfao dos agentes.

    Racionalidade consistente de

    hyper modelos, otimizao

    dos agentes.

    Mtodo Holismo, organicismo. Individualismo, atomicismo.

    Ncleo Econmico Produo, Crescimento e

    riqueza.

    Cmbio, alocao e escassez

    Polticas Centrais Mercado regulamentado Livre Mercado

    1.3.1 O instrumentalismo contra Realismo

    A maioria dos estrangeiros concorda que a economia deveria ser sobre a realidade econmica devendo ser comprovadamente relevante para ele (Werner, 2005, p.17). Alguns metodlgos da economia, mais notavelmente Lawson (1994), argumentam que o pressuposto fundamental o realismo. Ele argumenta que todos os outros pressupostos seguem a partir dele.

    Isso pode ser assim, embora o prprio Lawson parece presta um pouco de ateno para outro pressuposto, atomicismo, mas acho que vale a pena descrever todos os outros.

    Realismo vs realisticness(pouco realista?)

    Lawson, particularmente direto de sua Cambridge Realist Workshop, teve um extraordinrio impacto sobre metodologia econmica ao promover uma discusso sobre

    ontologia, isto , sobre o exame da natureza e da existncia dos fenmenos em questo, e um nmero de economistas Ps-Keynesianos tm dado apoio explcito sua filosofia do ponto de vista do realismo transcendental e realismo crtico (por exemplo Arestis, 1996; Dunn, 2008; Fontana, 2009). Como Patrick Baert (1996, p.513) tem ironicamente escrito: Um espectro est assombrando a filosofia das cincias sociais. chamado de realismo crtico, e, desnecessrio dizer, mas est se espalhando de forma constante em toda a comunidade acadmica. De fato, vrios livros em economia tm se dedicado a estudos sobre realismo crtico e outros tem se dedicado a um debate entre Lawson e seus crticos sobre o tema da ontologia e economia. Neste

    livro, Fullbrook (2009, p. 1) afirma que o principal ponto de Lawson o sucesso da cincia depender de encontrar e utilizar mtodos, incluindo modos de raciocnio, apropriado natureza dos fenmenos. Lawson acredita que, embora alguns fatos distintos possam ser identificados, uma conjuno constante de eventos raramente ocorre quando se analisa fenmenos econmicos e sociais. Como resultado, o pesquisador deve ir alm dos fenmenos superficiais e encontrar as verdadeiras estruturas e mecanismos causais que explicam os fenmenos observados, indo ao essencial, em vez do mais geral. Isso, de acordo com Lawson, no o que os economistas

    ortodoxos fazem. Se isso soa excessivamente filosfico e vago afinal, parece-me que todos tentam ir

    beneath (abaixo?) dos fenmenos superficiais pode-se preferir, em vez de se referir o mais p no cho sobre o conceito de realisticness (pouco realista?), com o qual estou mais vontade. De acordo com Muskali Mki (1989, p 179), ao falar sobre os pressupostos de uma teoria, devemos no falar sobre o realismo de hipteses e teorias, mas sim sobre a sua realisticness (pouco realista?)...unrealisticness significa no estar sobre a realidade ou

  • observaes, sendo desnecessrio, ser falso, refutado em testes, idealizando, exagerando, simplista, implausvel, praticamente irrelevante. Ambos realisticness e unrealisticness so propriedades de representaes. Lawson (2009c, p.171) concorda com esta distino, dizendo que realisticness(pouco realista?) aplica-se s propriedades de teorias reais, e sugerindo que se deve no dizer que as teorias tradicionais por falta de realismo, mas sim que eles no tm realisticness(pouco realista?).

    H indcios fortes de que certamente autores heterodoxos atribuem grande importncia para discutir e modelar a economia com base em hipteses realistas. Caldwell (1989, p. 55) avalia que a crtica mais contundente dos ps-keynesianos contra a economia neoclssica que ela no tem realismo, ou melhor, qe ela tem realisticness (pouco realistas?), argumentando ainda que os Ps-Keynesianos possuem um valor de explicao em vez de predio, caracterstica que, certamente, pode tambm ser aplicadas a institucionalistas, que enfatizam o mtodo narrativo. De modo semelhante, Morris Altman (2006, p. XVI), um autor mais perto do

    ramo radical da economia comportamental, afirma que o que fundamental para a economia comportamental a valorizao do significado para a anlise econmica do realismo de sua hiptese para modelagem em termos de comportamento e dimenses institucionais. Assim, como Lee (1994) diz, as teorias devem ser empiricamente fundamentadas. E, de fato, como Smithin (2009, p.56) concorda a nfase no realismo dos pressupostos e modelos macroecmicas parece ser anlogo ao Lee...conceito de teoria fundamentada.

    Instrumentalismo em ao.

    Por outro lado, peguemos o pressuposto neoclssico do instrumentalismo, defendido por Milton Friedman (1953), em seu famoso ensaio sobre metodologia. O instrumentalismo a acreditar que a verdade de uma afirmao terica irrelevante. Uma hiptese ouvida quando permite previses precisas, em particular quando pode-se encontrar um valor e calcula-lo de uma posio de equilbrio. Se o pressuposto real ou no irrelevante, Friedman (1953, p.14) foi ao ponto de considerar que as hipteses com base no descontrole de representaes

    descritivas imprecisas da realidade foram mais teis; em ltima instncia, seja a previso precisa ou no irrelevante (cf. Taleb, 2007, p. 280). A postura tomada por Friedman, que Nathan Berg e Gerd Gigerenzer (2010) chama de Friedman como se doutrina, deu a economistas neoclssicos a liberdde para comear a partir de bases completamente irreais. Robert Lucas (1981, p. 270), o fundador da nova economia clssica, continuou esta tradio, alegando que a insistncia sobre o realismo de carter econmico subverte a utilidade pontencial de modelos na reflexo sobre a realidade, acrescentando que bons modelos tiveram

    que necessariamente ser artificiais, abstratos e manisfestarem o irreal. Em contrapartida, para (a maioria) os economistas heterodoxos, uma teoria pode no

    estar correta a menos que inicie a partir do real ou de hipteses realistas, embora se reconhea que as hipteses so sempre abstraes e simplificaes, e, portanto, meios para evitar a confuso de um modelo com detalhes insignificantes. No entanto, no se deve comear a partir de premissas que so descritivamente falsas. As estruturas de modelos no podem ser construdos em fundaes que descrevem uma economia imaginria ou idealizada. O que

    necessrio uma abstrao, no uma fico. Muitos economistas heterodoxos concordariam com Nicholas Georgescu-Roegen (1971, p. 319) qque afirma quando abstao perde o contato com a realidade, a cincia torna-se dogmtica. O desejo heterodoxo de hipteses realistas pode estar relacionado ao fato de que os economistas heterodoxos atribuem grande importncia para o mtodo de contar histrias. Uma explicao tem de ser fornecida, geralmente associada a algum mecanismo causal, que vai alm da to simples reinvindicao como de que a oferta ou procura mudou; por conseguinte, este ou o que aconteceu. Assim preciso ir alm do fenmeno superficial, e examinar os mecanismos ou as estruturas que causam o que est acontecendo. O

    que necessrio uma explicao dos processos causais no trabalho. Obviamente, se a histria tem que ser contada e as explicaes apresentadas, preciso ter mais ateno e examinar os pressupostos iniciais, que devero ser devidamente descritivos.

    Economistas heterodoxos no esto interessados nas economias contrafactuais que tm sido o playground de investigadores na teoria de equilibrio geral, tais como Arrow, Debreu ou

  • Frank Hahn, e que so agora objeto de estado de arte dos modelos ortodoxos. Por exemplo, quando Bliss (1975, p. 301) apresenta o modelo de equilbrio geral intertemporal, que o gmeo do, agora popular, modelo DSGE, ele afirma que claro, que o modelo no serve para representar a realidae e que no o seu propsito. Hahn fez muitas reivindicaes semelhantes quanto a irrelevncia de seu trabalho para a poltica pblica. Infelizmente atuais pesquisadores neoclssicos no parecem conseguir isso, como eles afirmam que as variaes no modelo de

    Ramsey, primeiro desenhado para descrever uma economia planificada, deve ser bom suficiente para estudar o capitalismo.

    Tome-se como mais um exemplo de instrumentalismo neoclssico a chamada Funo cpula(?) Gaussiana que foi usado por engenheiros financeiros para modelar a correlao de inadimplncia em transformao de Asset-Backed Securities (ABS) e os preos dos Collaterized Debt Obligations (CDO), que foram feitas por parcelas de ABS e preos dos CDO-squared, os quais foram compostos por fraes de CDO (Salmon, 2009). Como sabemos, esses derivativos

    financeiros decorrentes de operaes de securitizao estavam no centro do sistema financeiro da crise. Em vez de confiar nos registros de devedores para reunir dados histricos sobre inadimplcias reais para avaliar correlao e risco, os economistas financeiros observaram a evoluo dos preos da CDS (Credit Default Swaps) o Asset-Backed Securities Index (ABX) supondo que os mercados de CDS podem correr risco de inadimplncia. Outro exemplo o valor de risco de modelos que tiveram como base de alta frequncia e estimativas muito precisas; mas eles se basearam em amostras que no incluiram eventos catastroficos e que foram

    baseadas numa baixa volatilidade do mercado de aes, como apontado por Boyer et al.(2005, 145 p.). Nesses dois casos, temos o intrumentalismo em ao. O que conta mais obter um nmero. Se esse nmero confivel no importante. O fato das crises financeiras anteriores, tais como a crise Tequila, tm mostrado que os mercados no necessariamente pem de lado o preo de risco; o fato de que os preos de CDS tenham surgido num curto perodo de tempo, elevando o preo da habitao, no pareceu importar tanto; o fato de uma conveniente distribuio normal no tempo mostrada pelo fsico Benot Mandelbrot no para descrever dados financeiros, por sub-representao de eventos extremos, tambm pareciam de pouca

    importncia; e, finalmente, o fato do passado(recente) no garantia de um futuro, tambm ignorado.

    Instrumentalismo, em contraposio ao realismo, implica, como Paulo Davidson (1984, p.572) disse, prefervel ser precisamente errado, em vez de mais ou menos certo. Por outro lado, Ps-Keynesianos dizem acreditamos que melhor desenvolver um modelo que enfatize as caractersticas especiais do mundo econmico em que vivemos do que continuamente refinar e polir um modelo bem preciso, mas irrelevante (ibid., p.574). Nassim Taleb (2007, pp. 284-5)

    diz quase a mesma coisa, argumentando que os economistas heterodoxos qurem estar amplamente certos ao invs de precisamente errados, procurando ser de aproximadamente certos atravs de um amplo conjunto de eventualidades em vez de ser perfeitamente bem em um modelo estreito, segundo previses precisas. O histrico nos mostra menos nfase em mtodos formais. Por exemplo, Lawson (2009a) argumetnou, que certamente poderia encaminhar uma explicao adequada Crise Financeira Global omitindo mtodos formais completamente.

    Alguns podem argumentar que h uma boa dose de realisticness em muitos modelos dominantes, em particular nos modelos apresentados pelos novos autores Keynesianos. Isto pode certamente ser concedido. Realisticness est integrado nas hipteses auxiliares assimentria de informao, racionamento de crdito, com restries de liquidez households(imvis ou bens de consumo?), preos rgidos. Algum realismo tambm adicionado ao estado da arte de modelos DSGE, atravs da introduo de atritos no sistema financeiro e assumindo a existncia de bancos(!). As principais premissas, no entanto, se baseiam no conhecimento dos agentes ao tentar maximizar sua utilidade para alguma funo

    eterna, desafiar o senso comum, como referido adiante. Economistas ortodoxo, mesmo sendo divergente divergentes entre seus autores, mantm seus fundamentos irrealistas com hipteses auxiliares realistas. A questo, ento, se possvel chegar a um modelo que descreve o mundo real de forma adequada, adicionando caracteristicas realistas auxiliares.

  • Nicholas Kaldor (1966, p 310), por exemplo, achava que no era possvel: tentar aliviar o programa das suas bases irreais, todo o edficio ruiria, como ele colocou, removendo o andaime suficiente para causar todo um colapso na estrutura, como um baralho de cartas. Na verdade, Kaldor pesnou que este defeito da teoria neoclssica foi to importante que ele reetiu o mesmo argumento seis anos depois.

    O processo de remoo do andaime, como diz o ditado em outras palavras, de relaxar

    as hiptes bsicas irreais ainda no foi iniciado. Na verdade, o andaime se torna mais

    espesso e mais impenetravl com cada sucessiva reformulao da teoria, com uma margem

    de incerteza crescente quanto a existncia de uma contruo slida por baixo. (Kaldor,

    1972, p.1239)

    Isso certamente pode ser observado na macroeconomia neoclssica, que se esfora em sempre obter extraordinrios fundamentos irreais. O mesmo pode ser dito sobre os novos economistas comportamentais: enquanto eles pretendem aliviar as caractersticas mais realistas do modelo neoclssico do homem racional, como a crena de que os agentes tm acesso a todos

    as informaes, sem qualquer custo, eles esto sendo forados a se sobrepor aos outros, com suposies ainda mais irrealistas, como a maximizao da utilidade dos agentes precisar agora de habilidade computacionais extraordinrias para lidar com as novas informaes onerosas do ambiente.

    1.3.2 Modelo consistente de Racionalidade contra Meio consistente de Racionalidade

    Intimamente relacionado com o realismo e o instrumentalismo est o tipo de

    racionalidade que se presume em nossos modelos econmicos. Aps a revoluo de

    expectativas racionais, o nico tipo de racionalidade admissvel para macroeconomistas

    convencionais o modelo consistente de racionalidade, que tambm podemos chamar

    de racionalidade ilimitada. Ao so apenas os agentes econmicos assumindo conhecer

    todas as contingncias, a partir de agora para a eternidade; desde a revoluo de

    expectativas racionais eles esto assumindo conhecer como o mundo funciona. Apesar

    do fato de que os economistas vm discutindo uns com os outros durante sculos sobre

    a representao adequada da economia, modeladores devem assumir que no h um

    nico modelo aceito pela economia l fora e que todos concordam sobre como ele

    funciona. Este uma RARE (rara) aceitao em consenso dos novos

    macroeconomistas, como observado anteriormente. Como Philip Mirowski (2011, p.

    503) diz, macroeconomistas ortodoxos chegaram a confundir o ser racional com o

    pensar de um economista ortodoxo (orthodox macroeconomists came to conflate being

    rational with thinking like na orthodox economist). O que isto implicava era que os

    agentes sabiam somente o verdadeiro modelo da economia (que, convenientemente,

    foi estipulado como idnticos com a microeconomia neoclssica).

    verdade que os economistas comportamentais tm tentado modificar isso

    atravs da introduo de agentes heterogneos no reino das expectativas, os

    comerciantes e os grafistas, que contam com as tendncias, ao lado de investidores

    racionais que ainda olham para os fundamentos, fazem pouco progresso nas revistas

    conceituadas. A maioria dos economistas comportamentais que publicaram em revistas

    conceituadas, de acordo com a Doutrina de Friedman, argumentam que objetivo de

    seus modelos no so fornecer uma descrio verdica dos processos de deciso reais

    que esto sendo utilizados pelos agentes econmicos, mas para prever o resultado

    (Berg e Gigerenzer, 2010, p.159). Ainda assim, na minha opinio, o segmento mais

    radical da Economia Comportamental o grupo ainda se dedica descrio do processo

    de deciso real ao invs de estudar os desvios em relao racionalidade neoclssica

    deve ser classificada sob a gide da economia heterodoxa. Esse outro grupo lida com o

    que eu chamo de Meio consistente de Racionalidade.

  • Os agentes econmicos, segundo essa viso, vivem num meio desprovido de

    qualquer informao relevante ou caracterizado por uma sobrecarga de informaes no

    confiveis, e, portanto, deve seguir algumas regras simples para tomar decises sem

    perder muito tempo e recursos. Agentes tentam alcanar normas e modificar seu

    comportamento a curto prazo quando estas normas no esto satisfeitas, reagindo,

    assim, para que eles percebam os desequilbrios. No longo prazo, as normas so

    alteradas, se os agentes so continuamente superados nas suas decises, ou se mudanas

    na sociedade em geral tm um impacto sobre o que considerado normal no campo

    econmico. Um bom exemplo disso a aceitao gradual da alegao de que um

    retorno normal sobre o capital prprio, a famosa norma ROE imposta por investidores

    financeiros aos gestores, deveria ser nada menos do que 15%, embora essa norma seja

    incompatvel com a mdia macroeconmica das economias ocidentais, como tem sido

    demonstrado por Plihon (2002). Mais sobre a racionalidade razovel ser dito no

    Captulo 2.

    1.3.3 Atomicismo versus Holismo

    O terceiro par de pressupostos diz respeito a metodologia: o individualismo

    metodolgico ou atomicismo contra o holismo ou organicismo. Para Lawson, a concepo de uma economia baseada em tomos isolados uma caracterstica essencial da falta de realismo

    das teorias ortodoxas. Atomicismo, como praticado por economistas neoclssicos, tem um longa histria. Voltaire, em seu famoso romance, Candide, j estava tirando sarro atravs de seu personagem Pangloss daqueles que, como Leibniz, pensam que no interagindo Monads asseguram que vivem no melhor de todos os mundos possveis. H certamente uma grande semelhana com a analise neoclssica, pois alegam que o inicio do nvel de otimizao individual e o isolamento levam a concorrncia entre as livre empresas, gerando um timo de Pareto. Da mesma forma, a incerteza na anlise neoclssica frequentemente representada em

    termos de partculas subatmicas se sujeitando a um movimento browniano aleatrio. No mbito do subprime da crise, atomizao exemplificado pela longa realizada crena de que a anlise de risco pode se concentrar exclusivamente sobre empresas e bancos, sem levar em conta as condies e implicaes macroeconmicas, ou seja, ignorando o risco sistmico. Outro exemplo seria o envolvimento do comportamento do consumidor: os autores neoclssicos supem que o consumo e despesas dificilmente so influenciados pelo marketing e publicidade, e que os consumidores no so interdependentes.

    Em contrapartida, os autores heterodoxos tm tido uma abordagem mais holstica. Em relao aos consumidores, eles tm enfatizado a predisposio para replicar o comportamento dos outros ou para recuperar o atraso na busca de status de bens posicionais e o papel de inovaes no crdito ao consumo. Muitos autores Ps-Keynesianos vem esta interdependncia como uma fora motriz na Crise Financeira Global, nas famlias de baixa e mdia renda, cujo poder de compra se manteve estvel ao longo dos anos, tm tentado manter o consumo imobilirio se comportando como as classes superiores, cujo verdadeiros rendimentos tm subido rapidamente durante o mesmo perodo de tempo (Brown, 2008; Barba e Pivetti, 2009;

    Zezza, 2008). Ainda mais relevante para a crise, talvez, a observao do efeito manada ou do comportamento de grupo ser a essncia dos mercados financeiros (Woknilower, 1983, p.179).

    Em (quase) todos os modelos heterodoxos h classes sociais, trabalhadores, capitalista, empresrios, banqueiros e rentistas. A considerao dessas classe, para a proposio de distribuio de renda ou para a teoria da demanda efetiva, surge a partir do pressuposto de que a definio de preferncias individuais no so o suficiente para nos permitir compreender a sociedade. Considerar indivduos como um ser social, em vez de atomistas, permite s

    introduzir de maneira explcita instituies dominantes e poderosas. Enquanto os economistas do mainstream verem instituies como imperfeies que impedem a concorrncia perfeita, autores heterodoxos proporcionam alguma estabilidade (Hogson,1989, p.116). Estabilidade, no

  • mundo de incerteza, se desenvolve ao longo das linhas de interdependncia orgnica, graas a convenes sociais.

    Pode-se querer saber como a dicotomia, atomstica/holstica, pode ser encaixar na modelagem com base nos agentes. Por um lado, com a modelagem baseada nos agentes, obviamente, comea com uma multiplicidade atomstica de agentes, famlias ou empresas. Por outro lado, os modeladores devem projetar regras que os seus agentes tm de seguir para

    interao uns com os outros. Estas regras constituem uma estrutura social que muito mais complexa do que o excesso de demanda padro de regras associadas a economia ortodoxa, para no falar da inanidade do agente nico representante que preenche os modelos DSGE. Alm disso, uma caracterstica chave da modelagem baseada nos agentes a emergncia de propriedades macroeconmicas, que no podem ser derivadas a partir do comportamento individual. A partir dessa perspectiva, parece claro que a modelagem baseada nos agentes, ou pelo menos, algumas verses do mesmo, pertencente tradio heterodoxa.

    Propriedades emergentes podem ser consideradas como paradoxos macroeconmicos, ou falcias da composio, que contradizem a pura agregao de um agente representativo. Autores heterodoxos prestam considervel ateno para esses paradoxos, lembrando as contradies de Marx referentes ao capitalismo. O que parece razovel para um nico individuo ou nao leva a conseqncias no intencionais ou at mesmo a um comportamento coletivo irracional quando todos os indivduos agem de uma maneira semelhante. A ttulo de exemplo, podemos pensar nos oito paradoxos seguintes observados no passado por autores ps-

    keynesianos, resumido na Tabela 1.4: o paradoxo da poupana; o paradoxos de custos; o paradoxo dos dficits pblicos; o paradoxo da dvida; o paradoxo da tranqilidade; o paradoxo da liquidez; o paradoxo de risco; e o paradoxo de profit-led growth. Alguns desses paradoxos, certamente o paradoxo da poupana, so bem conhecidos, e precisam de pouca discusso. E todos esses paradoxos so certamente relevantes para Crise Financeira Global, quer como causa ou como uma forma de sair da crise.

    Tabela 1.4 Holismo: Alguns Ps-Keynesianos macro-paradoxos

    Paradoxo da Poupana (Keynes, 1936) As taxas de poupana mais elevadas levam a uma produo reduzida;

    Paradoxo de custos (Kalecki, 1969; Rowthorn, 1981)

    Aumento dos salrios reais conduzem a uma elevao da taxa de lucro;

    Paradoxo dos Dficits Pblicos (Kalecki, 1971)

    Dficits do governo aumentam os lucros privados

    Paradoxo da dvida (Fisher, 1933; Steindl, 1952)

    Os esforos para desalavancar pode levar a uma maior alavancagem de taxas;

    Paradoxo da tranqilidade (Minsky, 1975) A estabilidade desestabilizadora

    Paradoxo da Liquidez (dow, 1987;

    Nesvetailova, 2007)

    Novas maneiras de criar liquidez final atravs

    da transformao de ativos lquidos em ilqidos

    Paradoxo de Risco (Wojnilower, 1980) A existncia de uma cobertura de risco individual leva a mais risco global;

    Paradoxo de profit-led demand (blecker, 1989)

    Restries salariais generalizadas levam a uma desacelerao no crescimento, mesmo quando todas as economias parecem ser profit-led

    Trs paradoxos macroeconmicos formalizados

    Paradoxo da poupana de Keynes diz que o aumento da propenso a poupar levar a

    reduo da produo. Na sua verso de crescimento, diz-se que ele ir levar a uma reduo na taxa de efetiva de crescimento do produto. Com famlias super endividadas, o paradoxo da

  • poupana um ato contra a recuperao, pois as famlias tentam desesperadamente restaurar seus nveis anteriores de riqueza, economizando uma proporo maior de suas receitas. Uma rpida verificao confirma que a noo de paradoxo da poupana j desapareceu da maioria dos princpais manuais de economia. A Crise Financeira Global ilustrou a falta de conscincia desse paradoxo, pois vrios novos economistas clssicos parecem aprovar a viso de Hayek que a compra de consumo adicional de mercadorias iria aumentar o desemprego (Robinson, 1973,

    p.94). Felizmente, alguns tomadores de deciso entendem o paradoxo da poupana: Mark Carney (2008, p. 2), o ex-Presidente do Banco do Cand e agora Presidente do Banco da Inglaterra, disse em discurso durante a Crise Financeira apontando que seria indivdualmente racional para as pessoas quererem economizar mais mas em tempos de incerteza, se todos os individuos pouparem, torna-se coletivamente irracional.

    O paradoxo de custos, em sua verso esttica, diz que uma diminuio dos salrios reais no vo aumentar os lucros das empresas e, ao contrrio, levaro a uma queda na taxa de

    emprego. Isto foi explicado por Kalecki (1969, p. 26) num artigo Polons, cujo primeiro escrito em 1939, concluiu que uma das principais caractersticas do sistema capitalista o fato de que a vatangem de um nico empreendedor no necessariamente beneficiar todos os empresrios como uma classe. Uma verso dinmica foi proposta por Robert Rowthorn (1981). Consta que o aumento dos salrios reais (em relao produtividade) pode gerar taxas de lucro mais elevadas. Isso vai de encontro com a anlise microeconmica que demosntra que as margens de lucro mais baixas. Mas se os salrios reais mais elevados geram consumo agregado mais

    elevado, vendas mais elevadas, maiores taxas de utilizao da capacidade e, consequentemente, um maior investimento de despesas, taxas de lucro sero impulsionadas para cima. Isto, obviamente, no nada mais do que uma variante do problema da realizao do lucro de Marx, sublinhado por exemplo, por Amit Bhaduri (1986). No meio de uma crise, importante resistir aos apelos para reduzir os custos do trabalho, em esforo para melhorara rentabilidade das empresas. Enquanto isso vai ser rentvel para as empresas que conseguirem as maiores redues dos salrios reais, o efeito global ser prejudicial para toda economia, e certamente afetar o mundo, como iremos discutir nos prximos captulos.

    O paradoxo dos Dficits Pblicos podem ser diretamente atribuidos a Kalecki (1971). Este mostra que os dficits pblicos mais elevados desempenham um papel semelhante ao das exportaes lquidas mais elevadas sobre o lucro empresarial. Dficits pblicos mais elevados do origem a lucros mais elevados das empresas, assim como um maior dficit pblico leva a um aumento da renda e do emprego seguindo o ensinamento de Keynes. Enquanto os principais autores costumavam argumentar sobre o efeito do crowding-out nas atividades do governo, baseando-se no efeito de equivalncia de Ricado ou no aumento das taxas de juros reais, vrios

    governos tm se engajdo em polticas fiscais expansionistas em 2009, de modo a sustentar a demanda agregada e os lucros das empresas, apesa da crise financeira. Quando as coisas vo realmente errado, teorias neoclssicas so jogadas para fora da janela, sendo substituda pelas mais pragmticas teorias realistas. Deve-se admitir, porm, que o pragmatismo no ocorre por muito tempo, j que os governos rapidamente chamam programas de consolidao oramentrio, especialmente na Europa.

    Quatro paradoxos ligados ao sistema financeiro

    Depois, h o paradoxo da dvida. Este paradoxo tambm baseado no conceito de

    demanda eficaz que foi apresentado por Joseph Steindl (1952, cap. 9), que era um seguidor de Kalecki. De um ponto de vista estritamente microeconmico, seria acreditar que sempre possvel para os agentes econmicos reduzir ou aumentar as taxas de suas dividas, simplesmente por tomar a deciso de faz-lo. Embora isso possa ser verdade para as famlias, pode ser bastante difcil para as empresas e instituies financeiras tomadas como um grupo.

    Para reduzir o peso do endividamento, as empresas podem decidir cortas suas despesas de investimento e, consequentemente, pedir montantes emprestados. No entanto, se todas as empresas esto buscando este esquema, cortar emprstimos e investimento, no podemos elaborar hipteses corretas, para o abrandamento da acumulao de capital, reduz-se a rentabilidade global das empresas e, portanto, o acmulo de ganhos retidos. No final, a

  • influncia da proporo da taxa real pode aumentar, movendo se numa direo que o oposto do que pretendido pelos empresrios. Isto o que Steindl (952, p.119) e Jan Toporowski (2005, p.126) chamam de divida forada. O paradoxo da dvida pode tambm se aplicar aos governos: como eles reduzem os gastos do governo e buscam outras medidas de austeridade para reduzir a dvida pblica, a dvida pblica em relao ao PIB pode subir em vez disso.

    Algo semelhante pode acontecer com os bancos e outras instituies financeiras quando

    eles tentam reduzir seus ndices de influncia. Isso est ligado ao efeito da deflao da dvida de Irving Fisher. Como os bancos vendem alguns de seus ativos, num esforo para reduzir a leverage (alavancagem ou pontos de influncia?) ou recuperar a liquidez, tais vendas foradas derrubam o preo desses ativos, que agora so vendidos com prejuzo, assim reduz-se os fundos prprios dos bancos, de modo que o ndice de leverage (alavancagem ou influncia?) esto aumentando em vez de cair. Outros esforos para reduzir a quantidade de emprstimos podem colocar os devedores em dificuldades financeiras, como so observados em

    tempos de crise de crdito, de modo que as tentativas novamente individuais para reduzir a razo de influncia (ou para aumentar o ndice de capital para ativos) pode de fato conduzir a um efeito macroeconmico oposto. Isto pode ser associado com o que poderamos chamar de paradoxo da rejeio bancria. Quando a economia est calma ou est entrando numa recesso, pode ser racional para cada banco individualmente, tomar medidas de proteo contra as perdas de crdito por racionamento de crdito e rejeio da concesso de novos emprstimos. Mas como reconhecido pelo Governador do Banco da Inglaterra, se todos os bancos fazem o

    mesmo, suas aes iro intensificar a crise e aumentar as suas eventuais perdas (Carney, 2008, p. 2).

    Tambm intimamente ligada ao sistema financeiro o paradoxo de tranquiidade. Esta uma expresso que eu inventei h quase 30 anos (Lavoie, 1986a, p. 7), ao estudar as obras de Minsky. De acordo com Minsky, uma economia em crescimento estvel uma contradio em termos. O crescimento rpido de livre mercado na economia vai necessariamente se transformar numa especulativa economia em expanso. Num mundo de incertezas, sem informaes completas sobre os fundamentos, uma sequncia de anos de sucesso diminui a percepo de

    risco e incerteza. Pessoas tendem a esquecer as dificuldades encontradas no passado: pontos de viragem, a queda dos preos dos ativos, crises de crdito e recesses. Conforme o tempo passa, memrias se apagam e os agentes econmicos se atrevem a assumir maiores nveis de risco. Ou ento, como o tempo passa, o nvel de risco calculado por modelos de engenharia financeira, tais como os mais populares modelos de risco, aparecem para obter menores valores, porque a ltima recesso apenas uma observao remota entre uma srie de anos de sucesso mais recente. Quanto mais tempo uma economia permanece num estado tranqilo de crescimento,

    menos provvel permanecer em tal estado. Como o prprio Minsky diz: cada estado nutre sua fora para conduzir sua prpria destruio (Minsky, 1975, p. 128). Em trs palavras, o paradoxo da tranqilidade, diz que a estabilidade desestabilizadora (Minsky, 1982, p. 26). Aplicando a economia monetria, isso implica que uma srie de operaes financeiras com sucesso induzir os bancos a realizarem estruturas financeiras cada vez mais arriscadas.

    O que Minsky estava reivindicando h 30 anos parece bastante presciente hoje: Ao longo de um perodo com a economia indo bem, pontos de vista sobre a mudana da estrutura

    da dvida aceitvel. Na tomada de negcios que acontecem entre os bancos, banqueiros de investimento, e empresrios, aceitveis montantes da divida so utilizados para aumentar o posicionamento de vrios tipos de atividades de financiamento (Minsky, 1977, p. 24). A almofada de segurana a diferena entre o adicional de receitas esperadas de alguma nova atividade e os compromissos financeiros exigidos por esta atividade fica reduzida ao longo do tempo. Para Minsky, a instabilidade e a fragilidade crescente do sistema financeiro so caractersticas inerentes a uma economia capitalista no regulamentada. Parte dessa estabilidade desestabilizadora est ligada s inovaes financeiras, que sero introduzidas ou expandidas

    quando as coisas vo bem (ibid.). Este ponto de vista do sistema financeiro uma reminiscncia de John Kenneth Galbraith, que, em seus vrios livros, principalmente A Short History of Financial Euphoria (1990), argumenta que a euforia especulativa no capitalismo de mercado foi um resultado inevitvel, com especuladores e banqueiros aproveitando a onda usando alavancagem, e acredito que eles se tornam ricos, porque eles so espertos.

  • O paradoxo da tranqilidade , certamente o corao da Crise Financeira Global. Mas no menos importante para a crise do subprime o paradoxo de liquidez. Nas teorias modernas de finanas do tipo neoclssico, com toda a certeza as hipteses sobre eficincia de mercado, a liquidez de pouca importncia. Supe-se que a informao de bens de mercado sempre conseguem chegar a um preo de transao, que reflete o valor fundamental do ativo. O que est em causa apenas o retorno esperado e o risco estimado do ativo. Em contraste, a liquidez um

    elemento crucial da economia ps-keynesiana (Davidson, 2009). Investidores devem estar sempre preocupados com a impossibilidade de descontar seus ativos. No deve haver algum operador de mercado que garanta a compra de ativos, se o mercado de repente seguir um nico caminho. Estes operadores de mercado so negociantes, com acesso a linhas de crdito emitidos por bancos, ou os prprios bancos com acesso liquidez do banco central.

    O paradoxo da liquidez pode ser visto de dois ngulos. Primeiro, h o fato bvio tambm ligada proposio da divida-deflao de Fisher, que na tentativa dos agentes

    econmicos para se tornar transformaes com mais liquidez anteriormente ativos lquidos em no to lquido. O frenesi para se livrar de ativos leva para baixo o preo desses ativos e pode transformar em um s caminho esse mercado de ativos, sem comprador, levando a um total congelamento, como ocorreu em alguns mercados durante a Crise Financeira Global. Como Sheila Dow (1987, p.85) diz: as tentativas de aumentar o estoque de ativos lquidos s ter sucesso ao reduzi-lo; isso o paradoxo da liquidez, amarrado a inovaes no sistema financeiro que acabamos mencionando. As inovaes financeiras parecem aumentar a liquidez quando elas

    realmente esto diminuindo. Este segundo paradoxo j foi apontado por Minsky, mas recentemente foi salientada num livro.Anastasia Nesvetailova (2007, p.78) afirma que Minsky e seus seguidores, defendem que toda inovao institucional que leva a ambas as novas formas para financiar negcios e novos substitutos para os ativos em dinheiro, diminuem o volume de liquidez disponvel para resgatar as dividas contrada. Assim, continua ela, no processo de expanso do sistema financeiro, ao contrrio das aparncias, se torna progressivamente iliquidos. O sistema financeiro fica cada vez mergulhado, com todo mundo pensando que eles podem acessar facilmente meios de pagamento, mas com praticamente ningum segurando

    ativos seguros sem perda de capitais risco. O paradoxo da liquidez pode ser estendido para um paradoxo de risco. As inovaes

    financeiras projetadas para reduzir o risco no nvel microeconmico, repartindo-a um nmero maior das instituies financeiras como o caso da securitizao, obrigaes da dvida colateralizadas, swaps de crdito, swaps de equidade, swaps de taxas de juros, e toda a gama de futuros financeiros e derivativos acabam criando uma macroeconomia com uma quantidade maior de risco sistmico. Por exemplo, agora amplamente reconhecido que o uso extensivo de

    modelos matemticos para quantificar o risco, produzindo a iluso de concreto e objetivando avaliaes, os bancos so encorajados por outras instituies financeiras para buscar estratgias mais arriscadas e usar mais alavancagem. Reguladores famosos dos EUA, como Alan Greespan o Presidente da Federal Reserve Chairman e Tim Geithner o ex-Presidente da New York Fed, e ex-Secretario de Tesouro ambos alegaram to tarde quanto 2006, que o crdito de derivativos foram um fator de estabilizao do sistema financeiro, uma vez que reduziu a concentrao da exposio individual ao risco, espalhando o risco de crdito para os mais aptos

    para lidar com ele. Mesmo economistas de esquerda, como Michel Aglietta (1996), argumentam que a securitizao teria efeitos benficos sobre a economia. Cada agente microeconmico acredita que ele ou ela est agora coberto contra riscos; mas o risco ainda existe em contrapartida. Na verdade, mesmo se em contrapartida parece ser seguro, pode no ser, e seu fracasso pode transbordar. A iluso de liquidez induz os agentes a tomar decises ainda mais arriscadas. Assim, a reduo de risco de inovaes financeiras microeconmicas acabam produzindo um ambiente macroeconmico mais arriscado. Derivativos foram comparados aos mercados contingentes do modelo de equilbrio geral La Arrow-Debreu. Mas o que fazemos

    no vivemos num mundo assim. completamente imaginrio. Vivemos num mundo fundamento na incerteza La Keynes.

    Produtos financeiros derivados no estabilizam a economia. Enquanto eles so uma ferramenta de gesto de riscos, mercados de derivativos, na verdade, aumentam os riscos de crdito, uma vez que na primeira sinal de crise ou de instabilidade, a primeira coisa a evaporar

  • a liquidez que essas ferramentas so supostas para fornecer (Mckenzie, 2011, p. 212). Assim, em ltima anlise, como resumido muito tempo atrs por outro seguidor de Minsky, Albert M. Wojnilower (1980, p. 309), a hiptese de imunidade ao risco financeiro gira sempre por ser ilusrio, podendo ser considervel a quebra de riscos e custos. Wojnilower foi particularmente perspicaz sobre isso, uma vez que, j em 1984, ele previu que o resgate da AIG de suas vendas de CDS:

    A recente entrada de grandes companhias de seguros no negcio de bancos e seguradoras

    de investimento e ttulos contra a inadimplncia, representa mais um esforo para estender

    a rede de segurana. Agora, pode ser presumido que as autoridades tero de intervir para

    interditar uma cascata de no cumprimentos apenas se salvar a indstria de seguros.

    (Wojnilower, 1985, p. 356).

    1.3.4 Escassez versus Abundancia

    Eu tenho alertado o leitor para o fato de que a definio ortodoxa da economia centra-se

    na noo de escassez, uma definio que os autores heterodoxos rejeitam. A escassez o sustentculo da economia neoclssica. Como Parguez (2012-13, p. 55) aponta, a escassez na economia neoclssica desempenha um papel semelhante ao de austeridade na religio, onde a austeridade "a virtude suprema de renunciar prazeres da vida mundana para alcanar a alegria de vida aps a morte ". Hayek (1941, pp. 373-7), ao rejeitar a economia de Keynes, est precisamente invocando a importncia crucial da escassez. Para proclamar a existncia de uma economia de prosperidade ou uma economia de abundncia, assim como Keynes, foram

    negados os fundamentos da ortodoxia. Um ponto semelhante feito por Galbraith (1958) em seu livro A Sociedade Afluente. No modelo neoclssico, a principal caracterstica de uma economia de mercado capitalista a boa alocao de recursos, reais e financeiros. O preo, como enfatizado por Hayek, suposto para fornecer todas as informaes necessrias para compor a funo do sistema de mercado de forma eficiente, porque os preos so a medida da escassez, de modo que o conhecimento de preos permite que os agentes respondam s mudanas em recursos escassos.

    Mas este realmente o caso? Certamente, no que diz respeito aos ltimos

    acontecimentos, podemos supor que preos fizeram m afetao de recursos financeiros, assim como a securitizao forneceu preos enganosos e muitos recursos financeiros foram colocados no mercado imobilirio. Isso s foi precedido pela runa no mercado de aes em 2001, quando os mercados de aes em todo o mundo levaram uma surra, enquanto a Nasdaq, em particular, afundou e nunca se recuperou totalmente. Ento o imobilirio-bolha foi imediatamente seguido pela super-alta de preos de commodities, produtos alimentcios e leo, com estes preos em queda acentuada apenas alguns meses mais tarde, dando, assim, uma forte indicao

    de que esses preos tinham subido apenas como resultado da atividade especulativa injustificada e no como uma consequncia de mudanas nos fundamentos. Na verdade, tem-se argumentado que os preos elevados de commodities ter surgido a partir dos esforos dos gestores financeiros para encontrar novas condutas que seriam correlacionadas com os retornos sobre obrigaes e aes. Portanto, a alta dos preos do petrleo, commodities e dos alimentos resultaram de entradas de recursos nos mercados futuros destes produtos, visto que os gestores de fundos seguiram uma estratgia de diversificao de carteira que os levou a especular sobre futuros

    ndices (Wray, 2008; Davidson, 2008). Novamente, pode-se pensar que esses mercados de derivados no tm qualquer influncia sobre o mundo real; mas eles pela razo de serem mais lquidos, induzem os agentes econmicos a basear suas decises nestes mercados futuros, com o resultado que os preos locais dependem dos preos futuros, em vez de os preos futuros serem (apenas) dependentes de preos locais esperados.

    Vrias condies sero definidas em modelos ortodoxos para preservar a escassez de fora das condies padro de economias de cmbio onde as dotaes so fixas: o estoque de dinheiro ser assumido como sendo exgeno; pleno emprego e utilizao da capacidade total

    sero assumidos em todos os momentos. O pressuposto fundamental para a maioria da macroeconomia ortodoxa moderna, suposio esta que impulsiona todos os resultados e as

  • polticas padro, a existncia de uma taxa natural nica de desemprego (ou de uma nica e no-acelerada taxa de inflao do desemprego, a NAIRU). Seja qual for a caracterstica realista introduzida no modelo, a singularidade prevista da taxa natural de desemprego ir remover qualquer espao para polticas alternativas. O mesmo pode ser dito sobre a taxa de juros natural: ela probe qualquer criatividade ou ideia na poltica do banco central.

    A Escassez justifica oferta e anlise de demanda. Ela governa o comportamento da

    economia. Ela explica por que os economistas neoclssicos agregam tanta importncia atribuio de recursos ou por que tantos deles definem as tcnicas de otimizao com restries quanto a eptome da economia ortodoxa e uma condio para o esforo cientfico. Quando todos os recursos so escassos, eles esto plenamente empregados, e, portanto, todas as questes giram em torno do uso adequado dos recursos existentes, em vez de em torno da criao de novos produtos. A escassez particularmente evidente nos modelos de cmbio puros. As hipteses suplementares que podem ser encontradas nos diferentes modelos sofisticados de

    produo so neoclssicas, no entanto, so introduzidas precisamente para salvaguardar todas as principais condies e resultados do modelo de troca pura (Rogers, 1983; Pasinetti, 2007, p 20). Produo na economia neoclssica uma forma de troca indireta, entre agentes de consumo individuais que possuem recursos que so passados para os mesmos agentes individuais, batizados a essa altura como produtores. Estes produtores so o mesmo que negociantes que tentam se beneficiar de carncias existentes.

    No programa de pesquisa heterodoxo, em especial na tradio ps-keynesiana, a noo

    de escassez posta de lado, enquanto a de reprodutibilidade colocado para o primeiro plano (Roncaglia, 1978, p 5;. Pasinetti, 1981, 24 p.). Com sua nfase na produo, economistas heterodoxos embarcaram na tradio dos economistas clssicos, com a sua preocupao para as causas do progresso e da acumulao. Em sua reviso da crtica a Cambridge, Rymes (1971, p. 2) deixa claro que a preocupao Sraffiana (VER Piero Sraffa) para a reprodutibilidade est na linhagem do pensamento econmico de Robinson, Kaldor e at Harrod. Como foi salientado por Pasinetti (1981, p. 7), os autores clssicos, em particular Ricardo, focaram na permanente caracterstica da reprodutibilidade, considerando que os bens produzidos poderiam ser

    multiplicados sem limites e, assim, julgando que, alm de terra, condies de escassez s poderiam ser de natureza temporria. Assim, para ps-keynesianos, os preos no so um ndice de escassez em geral; em vez disso, os preos refletem os custos unitrios de produo desses bens reprodutveis ou de servios.

    No modelo ps-keynesiano onde a produo no est desagregada, a nfase na produo aparece atravs do pressuposto de que nas mercadorias, em geral, nem o capital nem o trabalho plenamente empregado. Neste sentido, os recursos no so escassos. O maior problema no

    a forma de aloc-las, mas a forma de aumentar a produo ou a taxa de crescimento. Isto geralmente possvel para aumentar a taxa de utilizao da capacidade e haver reservas de trabalho. O princpio da escassez substitudo pelo princpio da demanda efetiva. A verdadeira restrio no fornecer, mesmo que a demanda efetiva. Como Kaldor (1983b, p. 6), diz: "para a produo a ser determinada demanda, o excesso de capacidade deve existir, bem como o trabalho de desempregados ". Arestis (., 1996, p 112) concorda: "A procura efetiva na anlise ps-keynesiana sugere que a escassez de demanda, em vez de escassez de recursos, que deve

    ser confrontado na economia moderna, de modo que a sada normalmente limitada pela procura eficaz, embora seja reconhecido que as restries de oferta esto presentes em economias capitalistas modernas."

    Eu estaria preparado para argumentar que, se a economia ortodoxa o programa de pesquisa de um mundo de escassez, a economia heterodoxa o programa de pesquisa de um mundo em abundncia (s vezes no meio da pobreza). John Weeks (2012) colocou as coisas de uma forma mais impressionante: "A economia da escassez uma tolice perniciosa. Em contraste a economia de recursos ociosos aborda a realidade. o mesmo que a diferena entre

    alquimia e qumica, astrologia e astronomia, evoluo e criacionismo.

    1.3.5 Mercados livres contra Mercados Regulamentados

  • Isso nos leva ao quinto e ltimo dos nossos pressupostos fundamentais, o do papel dos mercados em relao ao papel do estado. Os economistas convencionais apresentam grande confiana na capacidade desinibida dos mercados para gerar estabilidade e pleno emprego, e para entregar solues para qualquer problema econmico ou social. As verses mais extremas da teoria neoclssica reivindicam que a instabilidade e desemprego podem prevalecer somente quando h interferncia governo no funcionamento dos mercados, dificultando, assim, o

    mecanismo de preos de alcanar o equilbrio. Nesta verso da economia ortodoxa, o mercado sabe tudo e o nico provedor da verdade. Tudo isso est bem expresso na seguinte citao:

    [As crenas fundamentais da economia neoclssica] so de que a busca do auto-interesse individual conduzir a uma sociedade melhor, que a interveno governamental alm da estreita manuteno restritiva da lei e da ordem devem ser minimizados se no eliminados e que os poderes de mercados livres devem ser

    liberados em praticamente todas as partes da sociedade, internamente e no exterior. Para este fim, reformas estruturais so recomendadas para desregulamentar, liberalizar, privatizar e abrir o maior nmero indstrias e aspectos da economia possvel, pois as foras benficas da mo invisvel, se apenas autorizados a operar livremente, iria melhorar a vida das pessoas, criar riqueza, produzir prosperidade e levar a felicidade mxima. (Werner, 2005, p.3).

    Por outro lado, os economistas heterodoxos so muito desconfiados de mercados livres. Embora os economistas ps-keynesianos e seus colegas heterodoxos reconheam o dinamismo transmitido pelo empreendedorismo em um sistema capitalista, que junto com Joseph Schumpeter, acreditam ser a sua principal qualidade na oposio para eficincia alocativa esttica, eles questionam a sabedoria de cegamente dependentes dos mercados. Eles suspeitam da sua injustia, da sua incapacidade de se autorregular, sua tendncia para caminhos desestabilizadores e seu esbanjamento de recursos. De fato, alguns economistas heterodoxos - Os marxistas - prefeririam eliminar capitalismo completamente.

    Alm disso, os economistas heterodoxos acreditam que os preos descontrolados - preos altamente flexveis - Geram instabilidade em vez de estabilidade. Em contrapartida, os preos pegajosos com alguma inrcia so mais provveis de gerar estabilidade. Assim, eles acreditam que necessria a regulao estatal, tanto em nveis micro como macro, visto que os custos de tal interveno do governo so mnimos em comparao com os custos do capitalismo desregulado. Aos olhos dos economistas heterodoxos, no por acaso que o nmero de crises financeiras em todo o mundo, em geral, e nos EUA, em particular, tem ocorrido a uma alta

    velocidade e cerscendo desde a desregulamentao espalhada por todas as economias no incio de 1980. Engenheiros Financeiros - poucos - fizeram uma baguna no sistema financeiro, como se tornou evidente em 2007. A desregulamentao financeira foi baseada no pedido por economistas ortodoxos que os reguladores deveriam deixar que as finanas se autorregulassem, pois os mercados sabem o preo do risco e a alocariam de forma eficiente, e essa disciplina do mercado, juntamente com a vigilncia dos acionistas, deveriam por limites a tomada de riscos excessivos. Este edifcio intelectual entrou em colapso, assim como o edifcio intelectual com

    base em um sistema auto regulador entrou em colapso em 1930, mas a maioria dos economistas ainda se mantm ligados a essas ideias.

    O quinto pressuposto havia sido identificado claramente pelo prprio Keynes 75 anos anterior. Aqui est o que ele estava dizendo, em seguida:

    Eu tenho dito que estamos divididos em dois grupos principais. O que que constitui essa

    segmentao que nos divide desse modo? De um lado esto os que acreditam que o sistema

    econmico existente , no longo prazo, um sistema auto regulvel, mesmo com rangidos e

    gemidos e empurres, e interrompido por defasagens, interferncia externa e erros. Do

    outro lado do golfo so aqueles que rejeitam a ideia de que o sistema econmico existente

    , em qualquer sentido significativo, auto ajustvel. (Keynes,1973, XIII, pp. 486-7)

  • O autor ps-keynesiano, Minsky, tambm tem sido muito claro sobre esta diviso entre os economistas, com foco no lado financeiro:

    Em um mundo com as finanas capitalistas simplesmente no verdade que a busca pelo

    seu prprio interesse pessoal vai levar a economia ao equilbrio. A auto interesse dos

    banqueiros, investidores alavancados, e dos produtores de investimento pode levar a

    economia a expanses inflacionistas e contraes na criao de desemprego. Fornecimento

    e anlise de demanda - onde os processos do mercado levam a um equilbrio - no explicam

    o comportamento de uma economia capitalista, para o sistema econmico capitalista isto

    significa que a economia tem foras desestabilizadoras endgenos. Fragilidade financeira,

    que um pr-requisito para a instabilidade financeira, , fundamentalmente, um resultado

    de processos do mercado interno. (Minsky, 1986, p. 280)

    Alguns leitores podem se perguntar se realmente importante saber se a economia

    estvel ou no. Mas pense da seguinte maneira: o quo til pode ser uma teoria que assume a partir de o incio que os mercados financeiros nunca podem estar errados, que eles estabilizam a economia, e que nunca pode haver qualquer defeito? Ser que essa teoria til na elaborao de regras para regular o sistema bancrio ou financeiro? Outro exemplo, poderia ser a transio dos

    pases do Leste Europeu em direo ao capitalismo, enquanto conselheiros e os polticos no parecem compreender que o capitalismo tem de ser domado e necessita de instituies fortes (Marangos, 2004).

    A diviso, aqui evocada por Keynes e Minsky, muito mais importante agora do que era 25 ou 75 anos atrs. E as foras presentes so as mesmas que as descritas por Keynes, quando ele disse que a "escola auto ajustada depende em seu contedo de todo o corpo do pensamento econmico organizado e suas regras" (1973, XIII, p. 488). Este corpo organizado hoje composto por todas as universidades norte-americanas importantes, junto com o

    departamento estrangeiro de economi