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8/17/2019 Texto Criacao de Bezerras
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Criação de Bezerras
Disciplina Bovinos de Leite
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1. Cuidados com a vaca gestante
As práticas de criação de bezerros têm início com os cuidados com a vacagestante. A maior parte do crescimento fetal ocorre durante o terço final da gestação, o
que resulta em uma maior exigência de nutrientes pela vaca. Entretanto, o que se observa
é uma redução no consumo de matéria seca desses animais, principalmente no último
mês pré-parto. A dieta desses animais deve ser balanceada de acordo com as
recomendações em literatura de forma a se evitar partos com condição corporal acima de
3,75 - 4,0 (em uma escala de 1 a 5), além de se reduzir ocorrência de distúrbios
metabólicos como febre do leite e cetose no pós-parto.
Animais parindo com alta condição corporal geralmente apresentam partosdistócicos, aqueles que requerem auxílio humano, o que pode acarretar em problemas na
saúde da vaca, como retenção de placenta e metrite, além de aumentar o risco de morte
do bezerro durante o parto. O acompanhamento de partos deve ser realizado com cautela
evitando-se tracionar o bezerro em ocasiões desnecessárias. O acompanhamento do
parto deve ser feito com visitas freqüentes ao piquete maternidade, monitorando-se o
rompimento da primeira e segunda bolsa e o aparecimento das patas dianteiras e do
focinho do bezerro. O não aparecimento destas estruturas pode refletir o mau
posicionamento do bezerro (Figura 2), o que então exige intervenção. Um veterinário bemtreinado pode corrigir problemas de posicionamento, como uma das patas para trás ou o
bezerro de costas, sem causar muitos danos à saúde da vaca e do bezerro.
Figura 2. Mau posicionamento de bezerros ao parto.
Os partos distócicos (que sofreram intervenção) estão altamente relacionados com
menor produção de leite da vaca, assim como com problemas relacionados a saúde do
bezerro. Dentre estes problemas, destacam-se a baixa capacidade de controle da
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temperatura corporal durante as primeiras horas de vida (Figura 3); assim como a
reduzida absorção de anticorpos (Figura 4).
Figura 3. Temperatura retal de bezerros provenientes de partos eutócicos (E) (s/intervenção), moderadamente distócicos (M) e severamente distócicos (D). Adaptado deVermorel et al. (1989).
Figura 4. Concentração plasmática de imunoglobulina após parto eutócicos (E) (s/intervenção), moderadamente distócicos (M) e severamente distócicos (D). Todos osbezerros receberam 5% PV de colostro com a mesma qualidade às 2 e 12h após onascimento. Adaptado de Vermorel et al. (1989).
Horas de vida
T e
m p e r a t u r a c o r p o r a l ( C ° )
Horas de vida
I m u n o g l o b u l i n a p l a s m á t i c a ( m g / m L )
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Todas as vacas do rebanho devem receber as vacinas recomendadas no período
pré-parto. Estas vacinas são de grande importância para a saúde dos bezerros uma vez
que fornecem proteção a patógenos através do consumo de colostro.O ambiente em que o parto ocorrerá é também de grande importância para a
saúde futura do bezerro. O piquete, ou baia maternidade, deve ser um ambiente seco,
com boa ventilação e, acima de tudo, limpo. A localização da maternidade é estratégica
uma vez que o freqüente monitoramento se faz necessário, tanto para se evitar
intervenções necessárias tardias como para garantir fornecimento de colostro o mais
rápido após o nascimento possível. Deve-se evitar ao máximo que o recém nascido seja
exposto a sujeira, seja esta proveniente de cama ou tetos sujos. Um dos principais pontos
do manejo do colostro também visa reduzir a exposição de recém nascidos a patógenospresentes no ambiente.
2. Cuidados com o recém-nascido
2.1. Colostro
Muitos são os cuidados com o bezerro após o nascimento, mas o mais importante
deles é o fornecimento de colostro, a primeira secreção ou primeiro leite da vaca. Faz
muitos anos que se conhece o importante papel do consumo de colostro por bezerrosrecém nascidos, porém essa atividade ainda é negligenciada por alguns produtores. O
colostro tem uma composição um pouco diferente do leite, apresentando menores teores
de lactose, mas maiores teores de gordura, sólidos totais, minerais e vitaminas, e
principalmente proteína (Tabela 5). O maior teor de proteína do colostro se deve
principalmente ao maior teor de imunoglobulinas (Ig), ou anticorpos.
Devido às diferenças no tipo de placenta com relação a outros mamíferos, como
os primatas, por exemplo, a qual não permite a passagem de anticorpos da mãe para o
feto, os bovinos e outros ruminantes nascem sem Ig circulante. Desta forma, estesanimais são totalmente dependentes do consumo de colostro para adquirir imunidade até
que seu sistema imune comece a produzir seus próprios anticorpos, o que geralmente
ocorre entre 2 ou 3 semanas.
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Tabela 5. Alteração na composição de colostro conforme as ordenhas
Colostro (ordenha pós-parto)
Parâmetro 1 2 3 LeiteGravidade Específica 1.056 1.040 1.035 1.032
Sólidos, % 23.9 17.9 14.1 12.9
Proteína, % 14.0 8.4 5.1 3.1
Caseína, % 4.8 4.3 3.8 2.5
IgG, mg/mL 48.0 25.0 15.0 0.6
Gordura, % 6.7 5.4 3.9 3.7
Lactose, % 2.7 3.9 4.4 5.0
Adaptado de Foley e Otterby (1978)
Do total de Ig no colostro, 85-90% é IgG, a classe das imunoglobulinas mais
importante para a saúde do animal, uma vez que está relacionada a imunidade sistêmica.
As classes IgA e IgM estão mais relacionadas a imunidade local do intestino, sendo a
última mais eficiente neste papel. Enquanto o IgM e IgA são produzidos na própria
glândula mamária para serem transferidos, o IgG é transferido da corrente sangüínea da
mãe para o colostro. Esta transferência ocorre no final da gestação, contra um gradiente
de concentração, podendo levar a reduções no IgG circulante da vaca. A vacinação devacas no final da gestação leva a produção de anticorpos específicos, os quais serão
transferidos para o colostro.
De forma geral, novilhas apresentam colostro com menor quantidade de
anticorpos, uma vez que apresentam menor quantidade e variedade de anticorpos
circulante resultante da menor exposição a patógenos (ou antígenos) durante sua vida.
Alguns autores citam ainda que o mecanismo de transferência de Ig circulante para o
colostro deve ser menos desenvolvido em animais mais jovens ou de primeira cria. A
relação linear entre gravidade específica do colostro e concentração de anticorpos levou àadaptação de um densímetro para monitoramento da qualidade de colostro (Figura 5).
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Figura 5. Detalhe do colostrômetro.
O colostrômetro é uma importante ferramenta na avaliação da qualidade docolostro a ser fornecido aos bezerros. Entretanto, como a gravidade específica é
dependente da temperatura, as leituras devem seguir as recomendações do fabricante
com relação à temperatura do colostro de modo a não se super ou subestimar a
qualidade. O colostro pode ser classificado em três faixas de acordo com a concentração
de Ig: 1) < 22 mg/mL, baixa qualidade; 2) 22-50 mg/mL, qualidade moderada; e 3) > 50
mg/mL, alta qualidade (Figura 6).
Figura 6. Exemplos de leitura de qualidade de colostro utilizando-se colostrômetro.
Para se garantir uma adequada transferência de imunidade, o colostro deve ser
fornecido logo após o nascimento ou o mais rápido possível, uma vez que a absorção de
Ig é reduzida com o passar do tempo, além de apresentar boa qualidade. Pode-se notar
que a imunidade passiva é dependente da capacidade de absorção de Ig (fator tempo) e
da quantidade de Ig ingerida (fator qualidade).
Alta qualidade
Baixa qualidade
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A maior absorção de Ig ocorre no jejuno. O Ig se liga à membrana de células
intestinais sendo internalizado por pinocitose. O vacúolo, ainda sem enzimas digestivas
funcionais, migra para a membrana lateral onde libera o Ig por exocitose, o qual alcança osistema linfático e finalmente a corrente sangüínea. A perda na habilidade de absorção,
denominada fechamento (closure), ocorre com o passar do tempo após o nascimento
(Figura 7), e está relacionada ao desenvolvimento de atividade enzimática dentro do
vacúolo, o que degradaria o Ig internalizado; e a perda na capacidade de internalização
de Ig com o tempo. Não se tem certeza da existência de um receptor específico para Ig o
qual seria internalizado juntamente com Ig. Após 24-36 horas de vida, o animal é incapaz
de absorver Ig.
Figura 7. Efeito do volume e do tempo após o nascimento para a primeira alimentação nopico de concentração sérica de IgG de bezerros holandeses (Stott et al., 1979).
A transferência de imunidade passiva adequada ocorre quando o animal apresenta
às 48 horas de vida, concentração maior ou igual a 10 mg/mL, sendo 15 mg/mL o ideal, oque é garantido pelo fornecimento de colostro de boa qualidade (>50 mg/mL) nas
primeiras horas de vida e 12 horas depois, na quantidade de 5% do peso vivo animal por
refeição (2 L). Quando estes valores não são alcançados, as taxas de mortalidade são
significativamente aumentadas (Figura 8), conforme observado em levantamento do
NAHMS (1993). Quando o colostro de boa qualidade não está disponível, uma
alimentação extra 6 horas depois da primeira pode garantir imunidade, entretanto em
operações de grande porte esta prática se torna impossível.
Horas de vida no fornecimento de colostro
P i c o d e
c o n c e n t r a ç ã o s é r i c a d e I g G ( m g / m L )
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Figura 8. Sobrevivência de bezerros com adequada (>10 mg/mL) ou inadequada (
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até 50° C ou em microondas em baixa potência, sempre retirando o que for
descongelando para evitar superaquecimento. A alta temperatura reduz a qualidade do
colostro uma vez que proteínas, como é o caso das imunoglobulinas, podem serdesnaturadas.
Figura 9. Armazenamento de colostro em garrafas plásticas
Figura 10. Armazenamento de colostro em bandejas e saco plástico.
O animal não deve mamar na mãe pois o aleitamento natural não garante oconsumo da quantidade ideal de colostro. O fornecimento pode ser feito através de
mamadeira, balde ou bibeirão, sendo o primeiro o meio mais fácil uma vez que o animal
nasce com o instinto de mamar e não de beber a partir do balde. O animal deve consumir
a quantidade referente a 5% de seu peso vivo por refeição, seja de forma voluntária ou
não, mesmo que por acaso tenha mamado na mãe antes do atendimento. Caso o animal
não queira mamar deve-se fazer uso de tubo esofágico (Figura 11), garantindo o consumo
adequado com relação à quantidade e horário. Alguns autores acreditam que a absorção
8h após
retirada
do
freezer
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de Ig seja menor quando o colostro é fornecido via tubo esofágico, uma vez que o colostro
cai no rúmen e leva de 2-4 horas para chegar ao intestino. Entretanto, vários trabalhos
demonstraram que o fornecimento via tubo esofágico não acarreta em falha natransferência passiva (Failure of Passive Transfer).
Figura 11. Tubo ou sonda esofágica.
Nos últimos anos apareceram no mercado alguns substitutos ou suplementos para
colostro, sendo estes colostro ou plasma secos pelo processo de spray-dry, soro
desidratado e até misturas de Ig purificadas. Entretanto, a maior parte dos trabalhos
mostra que poucos destes produtos foram eficientes em aumentar a concentração de Ig
circulante em bezerros. Além disso, o uso desses não é econômico quando comparado à
formação de um banco de colostro bem manejado. Receitas de colostro artificial,
contendo ovo entre outros ingredientes, devem ser evitadas.O fornecimento prolongado de colostro e/ou leite transição tem se mostrado
benéfico. Apesar de não haver absorção após 24-36 horas do nascimento, ocorre uma
proteção local contra agentes patogênicos, devido à presença de imunoglobulinas.
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Tabela 6. Guia prático de fornecimento de colostro (Adaptado de Quigley, 1996).
Item SIM NÃOMaternidade Permita que a parição das vacas ocorra
em maternidade limpa e seca. Não esqueça de separar as vacaspré-parto do resto do rebanho.
No caso de utilizar baias, nãoesqueça de limpá-las entre parições.
Separar bezerros Separe o bezerro de sua mãe o maiscedo possível.
Não deixe o bezerro com a vaca pormais de uma hora.
Fornecimento decolostro
Forneça a primeira alimentação decolostro o mais cedo possível.
Utilize o colostro da mãe, se for de boaqualidade.
Forneça pelo menos 3 L de colostro naprimeira alimentação e mais 3 L 12hdepois. Se a qualidade puder serdeterminada e se o colostro tiver boaqualidade, pode-se fornecer 2L naprimeira alimentação.
Use uma sonda esofágica se o bezerronão consumir voluntariamente aquantidade desejada.
Não forneça colostro de vacas queapresentaram secreção de colostroantes ou durante o parto.Não forneça colostro contendosangue ou mastite.
Não espere o bezerro levantarsozinho para mamar.
Não permite que o bezerro recebacolostro mamando diretamente desua mãe ou que consuma quantidadeinferior a 2L.
Não utilize sonda esofágica suja ouquebrada.
Qualidade docolostro
Mensure a qualidade do colostro antesde sua utilização
Forneça somente colostro de boaqualidade.
Guarde colostro excedente em refeiçõesde 1 ou 2 L. Descongelecuidadosamente para que os anticorpossejam preservados.
Utilize colostro de baixa qualidade ouleite de transição somente para alimentarbezerros mais velhos.
Não forneça colostro com baixa
densidade (“aguado”), principalmentese for proveniente de uma novilha.
Não utilize ou armazene colostro quecontenha sangue ou outro tipo deanormalidade.
Não coloque colostro congelado emágua fervendo ou descongele-o emmicroondas em potência alta pormais de 1 minuto, isso destruirá seusanticorpos.
Não forneça colostro de baixaqualidade nas duas primeirasalimentações.
Outras práticas demanejo
Mergulhe o umbigo do bezerro emsolução de iodo o mais cedo possível.
Coloque o bezerro em local seco e limpo.
Continue fornecendo colostro de menorqualidade ou leite de transição durante 2ou 3 dias após o nascimento.
Não utilize soluções de ordenha ououtras soluções que não iodo 5-7%para a cura do umbigo.
Não agrupe bezerros ou utilizeinstalação úmida e suja.
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2.2. Cura do umbigo
O umbigo é uma estrutura que está relacionada a vários órgãos do animal,incluindo o fígado (Figura 12). Deste modo, a assepsia e a cicatrização do mesmo são
primordiais para a saúde do bezerro. Após o nascimento do bezerro, seu umbigo deve ser
cortado caso seja maior que aproximadamente 5 cm e desinfetado ou “queimado” com
solução de iodo de 7 à 10%. A aplicação de iodo no umbigo deve ser repetida pelo menos
a cada 12 horas por dois dias. A prática de se amarrar o umbigo provou ser prejudicial
para a boa cicatrização, levando a muitos problemas e até a morte de bezerros. A
utilização de outros produtos para a cura do umbigo, como mata-bicheiras, repelentes, e
até mesmo soluções iodadas utilizadas na sala de ordenha, devem ser evitados pois nãopossuem concentração de iodo suficiente para promover a cicatrização. Processos
inflamatórios podem ocorrer levando o animal à morte (Figura 13).
Figura 12. Estrutura do umbigo
Figura13. Exemplos de processos inflamatórios devido a inadequada assepsia do
umbigo.
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2.3. Identificação e pesagem
A identificação do animal, seja por meio de tatuagem, brinco ou colar, deve ser
realizada logo nas primeiras horas de vida do bezerro. Quando for realizada a colocação
de brincos, é importante que seja feita assepsia e cura para que a cicatrização seja
rápida, impedindo a ocorrência de processo inflamatório e a perda do brinco.
O bezerro deve também ter sua data de nascimento e peso ao nascer registrados,
possibilitando assim a avaliação o acompanhamento do desenvolvimento do animal. O
peso ao nascer é muito importante para avaliar o sucesso da fase de aleitamento da
propriedade, uma vez que permite o cálculo do ganho de peso durante esta fase.
Figura 14. Pesagem e identificação de bezerros
3. Sistemas de Aleitamento
Os sistemas de aleitamento podem ser divididos em natural e artificial. O
aleitamento natural é realizado geralmente em propriedades que possuem animal não
especializado, onde não há impossibilidade de se ordenhar as vacas sem a presença do
bezerro (Figura 15). Existem muitas variações nos métodos de aleitamento natural,
podendo o animal mamar durante toda ou parte da lactação. A mamada também pode ser
realizada em apenas um dos quartos (tetas), que são alternados conforme a ordenha, ou
ainda nos quatro quartos, quando é deixado o resíduo de leite após a ordenha. O sistema
natural de aleitamento não é o mais adequado do ponto de vista de manejo de bezerros,
pois não permite o conhecimento da quantidade de leite consumida pelo animal. Ainda, o
sistema de mamada do resíduo dos quatro quartos geralmente leva a problemas de
diarréia, uma vez que o teor de gordura do leite do final da ordenha é elevado.
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Figura 15. Presença do bezerro para ordenha e detalhe de bezerro em aleitamento
natural
No sistema de aleitamento artificial, os animais podem ser aleitados através de
mamadeiras, bibeirões ou baldes (Figura 16). Os três métodos de fornecimento são
igualmente eficientes quando a higiene desses utensílios é realizada de forma adequada.
Quando a limpeza e a higiene desses não é realizada corretamente, problemas como
diarréia e redução no desempenho podem ocorrer, principalmente com o uso de
mamadeira e bibeirão. A dificuldade de higienização de bicos tem levado produtores à
adoção de baldes ao invés de mamadeira ou bibeirão, principalmente quando o tratador é
do sexo masculino. Um nível mínimo de higiene deve existir para que o aleitamento
artificial tenha sucesso, inclusive quando baldes são utilizados para o fornecimento.
Figura 16. Bezerros em aleitamento através de mamadeira, bibeirão ou balde.
A desvantagem do uso de baldes está no fato de ser necessária a individualização
dos bezerros. Em sistemas onde os animais são criados em baias ou piquetes coletivos, é
difícil determinar que bezerros foram alimentados antes de prosseguir. Nestes casos, o
uso de canzil ou mesmo a contenção individual dos animais é necessária de forma a
garantir o aleitamento de todos os indivíduos (Figura 17).
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Figura 17. A - Individualização de bezerros utilizando-se canzil ;B – Dificuldade de aleitamento de bezerros criados coletivamente
O emprego do aleitamento coletivo é muito comum na Nova Zelândia. Embora este
sistema reduza de forma marcante o tempo gasto com o aleitamento, reduzindo custos
com mão-de-obra, requer atenção especial. Para que este sistema funcione, é necessária
a formação de lotes bastante homogêneos do ponto de vista de peso e tamanho dos
animais, impedindo assim que alguns animais não tenham oportunidade de mamar. Da
mesma forma, é importante que o número de bezerros no lote seja menor que o número
de bicos disponíveis, reduzindo problemas de dominância (Figura 18).
Figura 18. Aleitamento coletivo de bezerros
A B
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Alguns produtores têm insistido em adotar a mamadeira com o argumento de que
a goteira esofagiana, dobra que leva o leite direto para o abomaso, não se fecha quando
o leite é fornecido no balde. Entretanto, vários trabalhos mostram que o fechamento dagoteira independe do posicionamento da cabeça do animal. O fechamento ocorre em
função de estímulos nervosos, principalmente visuais, como a chegada do tratador e a
visualização do balde ou do leite. Um experimento clássico demonstrou que quando o
leite é fornecido diretamente no esôfago do animal, a goteira esofagiana se fecha
somente quando o animal está esperando o fornecimento de leite (Figura 19). Com a
idade este estímulo se perde e alguns animais ainda em aleitamento podem perdê-lo
também, tomando o leite em goles e não sugando como se tivesse um canudinho.
Contudo, estes animais podem ser treinados a fechar a goteira apenas deixando-osmamar com o auxílio do bico de uma mamadeira ou dos dedos do tratador.
Figura 19. Fechamento da goteira esofagiana em resposta a estímulo visual
A temperatura do leite a ser fornecido deve ser próxima à temperatura corporal do
animal. O fornecimento de leite frio em regiões de clima quente não apresenta problema
algum aos bezerros, o quais apresentam mesmo desempenho e incidência de diarréia
que animais recebendo leite morno. Entretanto, o consumo de leite apresentando
temperatura inferior a 10°C pode reduzir a secreção de fluídos e enzimas abomasais e
pancreáticas. Por outro lado, em países de clima frio, o fornecimento de leite em
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temperatura abaixo da temperatura corporal pode resultar em redução no desempenho,
visto que o animal gasta energia para elevar a temperatura do leite consumido.
Muitos trabalhos foram conduzidos nas décadas de 60 e 70 para avaliar apraticidade e possibilidade do aleitamento de bezerros uma vez ao dia em comparação a
duas ou mais vezes. Estes trabalhos demonstraram que o aleitamento uma vez ao dia
reduz custos com mão-de-obra em 40%, devido ao menor tempo gasto com o aleitamento
de bezerros, possibilitando que funcionários envolvidos com ordenha e alimentação de
vacas realizem também esta tarefa. Embora a maior parte dos trabalhos não mostre
diferenças quanto ao desempenho de animais, a adoção do aleitamento uma vez ao dia
exige maior habilidade de manejo, principalmente por que implica em bezerros mais
susceptíveis a estresse, infecções e ocorrência de diarréias, especialmente em bezerrosque recebem grande quantidade leite. Ainda em relação a maior habilidade de manejo de
bezerros, é importante salientar que a ocorrência de diarréia e flutuações no consumo de
leite são mais comuns em bezerros que recebem todo o leite em uma única refeição, do
que em bezerros que recebem refeições menores e mais freqüentes. Mesmo com
algumas vantagens, apenas 0,6% dos produtores americanos aleitam seus bezerros uma
vez ao dia e apontam como principal motivo para esta decisão o fato de que o aleitamento
em uma única refeição reduz de forma marcante o tempo de permanência com os
bezerros. O horário de aleitamento é uma oportunidade para observar e conhecer osanimais e, portanto, diagnosticar problemas. Quando se faz aleitamento uma vez ao dia
perde-se a oportunidade de detectar problemas de saúde ou manejo mais rapidamente.
Considerações práticas
1) O manejo da vaca gestante também afeta a saúde do recém nascido. Realize um bom
manejo de vacas pré-parto, mantenha o piquete maternidade sempre limpo e seco e evite
partos distócicos desnecessários.
2) Todos os cuidados com a recém nascida são importantes mas atenção especial deve
ser dada ao fornecimento de colostro, tanto com a qualidade do fornecido quanto ao
horário de fornecimento de forma a obter máxima transferência de imunidade.
3) O sistema de aleitamento a ser adotado depende do tipo de animal explorado, onde em
rebanhos com vacas mestiças o aleitamento natural é necessário para a “descida” do
leite.
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4) No sistema artificial de aleitamento, a utilização de mamadeira, bibeirão ou balde são
igualmente eficientes desde que a higiene e limpeza dos utensílios sejam bem feitas.
III. Manejo Alimentar até o Desaleitamento
Fase de Aleitamento
1. Dieta Líquida
Após 2 dias de fornecimento de colostro, o animal pode passar a receber leite ou
sucedâneo na quantidade mínima de 4 L , divididos em 2 refeições. Trabalhos mostramque o aleitamento em apenas uma refeição não traz problemas com relação a diarréia e
desempenho animal mas o horário de fornecimento de alimento é também um horário
para observação e diagnóstico de problemas os quais seriam detectados tardiamente no
caso de uma refeição. A dieta líquida do animal pode ser composta por leite integral, leite
descarte ou sucedâneos, ou ainda uma mistura dos três.
A decisão no uso de sucedâneo deve se basear em seu custo por litro diluído,
comparado ao preço do leite vendido à indústria, sua composição e a oferta de leite
descarte na propriedade. De maneira geral, para a adequada formulação de umsucedâneo, devem ser utilizados ingredientes que contenham carboidratos, proteínas e
gorduras os quais o bezerro seja capaz de degradar. Quando ingerido, o sucedâneo
passará diretamente para o abomaso, devido à ação da goteira esofagiana. Sendo assim,
a degradação deste alimento é inteiramente dependente de enzimas secretadas pelo
próprio animal, não havendo ação de bactérias.
Segundo o NRC (1989), os sucedâneos devem ter pelo menos 22% de proteína
bruta (PB), sendo a fonte protéica de origem láctea ou não. A decisão da adoção do tipo
de fonte protéica deve se basear em sua digestibilidade, balanço de aminoácidos eausência de fatores antinutricionais. As proteínas lácteas são as melhores fontes para
bezerros jovens uma vez que apresentam alta digestibilidade (87-97%, dependendo da
fonte), bom balanço de aminoácidos e ausência de fator antinutricional. A formação de
coágulo de leite à partir de caseína no abomaso ocorre devido à presença de renina. A
renina é uma enzima secretada pelo abomaso em sua forma inativa, sendo ativada pela
secreção de HCl neste mesmo compartimento. A formação do coágulo se dá com a
formação de para-caseinato, produto da ligação de cálcio e caseína. Proteínas do soro
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como a β-lactoglobulina não são hidrolizadas no abomaso, sendo a formação de coágulo
de sucedâneos contendo este tipo de proteína irrelevante. Sugere-se que a falta de
formação de coágulo poderia aumentar a passagem de leite para o duodeno,ultrapassando sua capacidade de digestão, e resultar em diarréia. Entretanto, trabalhos
mostram que o simples aumento no fluxo de leite para o duodeno não causa diarréia.
Assim, a fato de um sucedâneo formar ou não coágulo no abomaso não reflete um
produto de melhor ou pior qualidade.
O custo e o desenvolvimento de novos produtos para consumo humano têm
levado empresas produtoras de sucedâneos à buscarem fontes alternativas de proteína.
A proteína da soja é a fonte de origem vegetal com maior potencial para inclusão em
sucedâneos, entretanto sua utilização tem resultado em menor saúde e desempenhoanimal quando comparada a proteínas lácteas. A maior limitação no uso de proteínas de
soja em sucedâneos é a presença de uma grande variedade de fatores antinutricionais.
Esta fonte protéica apresenta inibidores de proteases que reduzem a digestibilidade e o
crescimento animal; proteínas antigênicas, as quais causam inflamação no intestino,
reduzindo a absorção; carboidratos indigestíveis que resultam em diarréia; lecitinas,
responsáveis por danos intestinais e menor crescimento animal; e taninos e fenóis, os
quais formam complexos com enzimas e proteínas do alimento, reduzindo sua
digestibilidade e crescimento animal. Alguns tratamentos podem ser feitos para que estesfatores antinutricionais sejam reduzidos. Este tipo de proteína tem substituído pelo menos
50% da inclusão de proteína de origem láctea. Entretanto, não se recomenda seu
fornecimento nas primeiras 3 semanas de vida, uma vez que o aparelho digestivo de
bezerros é pouco adaptado à digestão de proteína não-lácteas, havendo prejuízo no que
diz respeito ao desempenho destes animais (Figura 20). Apesar da digestibilidade de
produtos provenientes do processamento de soja, utilizados em formulações de
sucedâneos, variar de 64-94,5%, trabalhos mostram que estas proteínas são menos
susceptíveis à hidrólise por tripsina, quimotripsina e enzimas pancreáticas.Pesquisas mais recentes têm avaliado a inclusão de proteínas de plasma animal
em sucedâneos para bezerros. Estas proteínas, de origem bovina e suína, apresentam
alta qualidade e solubilidade, além de bom balanço de aminoácidos quando comparadas
à proteína do leite. Em trabalho onde sua inclusão foi de 25% da fonte protéica, os
animais apresentaram maior consumo de concentrado e maior ganho de peso que
animais recebendo somente proteína do leite. Outros trabalhos não confirmam estes
resultados, e quando a inclusão foi de 50% houve redução no desempenho animal. Se faz
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necessários maior número de trabalhos para determinação do nível máximo de inclusão
desta fonte protéica de alta qualidade. Seu alto custo também tem reduzido o interesse
em sua inclusão em formulações de sucedâneos.
Figura 20. Ganho de peso diário e conversão alimentar de oito experimentos ondebezerros foram alimentados com sucedâneo contendo somente proteína do leite (soro ouproteína do soro) ou contendo 50% da proteína como proteína de soja (Tomkins et al.,1994)
Concluindo-se, as fontes de proteína devem ser preferencialmente de origem
láctea como concentrado de soro, leite desnatado em pó, soro em pó, entre outros.
Proteínas de origem vegetal, como a proteína da soja, podem ser utilizadas desde que
passem por processamento especial permitindo a redução de fatores antinutricionais e
aumento de digestibilidade, não sendo recomendadas para bezerros com menos de 3
semanas de idade. Adicionalmente, algumas fontes de proteínas farinha de ossos ou
farinha de peixe, não devem ser utilizadas na formulação de sucedâneos uma vez que
pesquisas demonstraram sua baixa utilização pelo animal e conseqüente baixo
desempenho.
Com relação às fontes de carboidratos, deve-se lembrar que bezerros apresentam
baixa atividade de carboidrases, exceto de lactase. Assim sendo, os carboidratos
utilizados em quantidade por estes animais são a lactose, a galactose e a glucose. A
maior parte das formulações disponíveis hoje no mercado apresenta a lactose do soro de
leite como principal fonte de carboidrato. Roy estimou que o limite de glucose digerida é
de 12 g/kg PV, o que para um bezerro de 45 kg significa um consumo máximo de 540 g/d.
Numa taxa de alimentação de sucedâneo de 10% do peso vivo, este animal consumiria
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21
de 260-300 g/d de lactose, não atingindo o limite. Entretanto, trabalhos mais recentes
mostraram que bezerros consumindo até 19 g/kg PV não apresentaram diarréia. Esses
dados mostram que a quantidade de carboidratos pode ser aumentada sem que ocorramprejuízos. Apesar da atividade de amilase e maltase serem pequenas em bezerros, vem
crescendo o interesse na utilização de amido em formulações de sucedâneo, devido ao
seu baixo custo. A maior parte dos trabalhos mostra que o amido pode substituir parte da
lactose nessas formulações sem reduzir o desempenho animal quando este sofre algum
tipo de processamento que leve à sua pré-gelatinização.
A fonte de lipídeos também deve ser cuidadosamente escolhida. A gordura do leite
tem uma digestibilidade de 95-97% mas seu alto custo levou à utilização de sebo bovino
ou suíno, óleo de coco ou de palma, nos sucedâneos. Estas fontes alternativasapresentam menor digestibilidade graças a maior quantidade de ácidos graxos de cadeia
longa e menor poder de emulsificação quando comparadas ao leite. O óleo de coco é o
que apresenta maior digestibilidade, mas quando é fornecido como única fonte pode
resultar em diarréia e deficiência de ácidos graxos essenciais. Essas fontes de gordura
devem sofrer processo de dispersão e homogeneização, com redução de tamanho de
partícula de 3-4 µm, para seu melhor aproveitamento. Podem ainda ser adicionados
agentes emulsificantes como a lecitina, mono e diglicerídeos. O nível de gordura do
sucedâneo deve ser em torno de 10%, sendo que níveis superiores reduzem o consumode concentrado, atrasando a idade à desaleitamento.
Para a formulação de um sucedâneo deve-se ainda adicionar fontes de vitaminas
e minerais em quantidades que atendam às exigências do animal, geralmente imitando
concentrações encontradas no leite. Entretanto, maiores quantidades de cálcio devem ser
adicionadas uma vez que este pode se ligar a gordura formando sabões de cálcio. As
fontes de minerais e vitaminas são escolhidas de acordo com sua solubilidade.
A formulação de um sucedâneo deve ser realizada com a escolha de ingredientes
de boa qualidade, que apresentem boa solubilidade, e sejam desprovidos de fatoresantinutricionais.
A adição de medicamentos em sucedâneos é prática comum nos Estados Unidos,
sendo produtos preferidos em sistemas intensivos de criação de bezerros ou regiões onde
exista problema com coccidiose. Podem ser utilizados antibióticos como clortetraciclina,
oxitetraciclina e neomicina, além de decoquinato e lasalocida. A adição desses
medicamentos deve estar dentro das recomendações de dosagem para que sejam
eficientes, levando geralmente a aumentos em ganho de peso diário (Figura 21).
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22
Figura 21. Ganho de peso de 3 experimentos onde bezerros receberam sucedâneosmedicados ou não. Os medicamentos testados foram combinações de diferentesquantidades (ppm) de oxitetraciclina ou neomicina, conforme legenda. Dentro de cadaexperimento, barras com letras diferentes são estatisticamente diferentes ao nível de 5%.(Tomkins et al ., 1994).
A baixa utilização de sucedâneos no Brasil se deve a vários fatores. O primeiro
ponto a ser levado em consideração é a formulação desses produtos no Brasil. Muitos
sucedâneos apresentam fonte protéica de baixa qualidade, geralmente à base de soja.
Caso esta fonte protéica não tenha sofrido processamento para redução de fatoresantinutricionais e aumento da digestibilidade, pode resultar em redução no desempenho e
alta mortalidade. Trabalhos iniciais com sucedâneos no Brasil apresentaram um alto
índice de mortalidade de bezerros, geralmente devido a quadro de diarréia,
provavelmente decorrente de fatores antinutricionais. A adição de “enchimentos” de baixa
qualidade para se fechar uma formulação geralmente também pode levar ao baixo
desempenho. Fontes protéicas de baixa qualidade, não homogeneizadas e dispersas de
maneira adequada podem levar ao seu mau aproveitamento e redução no desempenho
animal. Ingredientes com baixa solubilidade resultam em sucedâneos de difícil diluição. Osucedâneo não se diluí de forma homogênea, formando grumos e muitas vezes se
depositando no fundo do balde de fornecimento. A má diluição acarreta em
desbalanceamento do produto consumido e portanto, o desempenho animal fica
comprometido.
O alto custo de matérias-primas de alta qualidade e a falta de equipamentos para
processamento dos mesmos pode levar ao uso de ingredientes ruins e
0.36
0.05
0.18
0.16
0.21 0.25
0.43
0.180
0.15
0.3
0.45
0.6
Exp. 1 Exp. 2 Exp. 3
K g / d
Não medicado 100 Oxi/200 Neo 200 Oxi/400 Neo 400 Oxi/800 Neo
a
a
a
b
bb
b
b
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Exp. 1 Exp. 2 Exp. 3
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Não medicado 100 Oxi/200 Neo 200 Oxi/400 Neo 400 Oxi/800 Neo
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conseqüentemente ao baixo desempenho. À frustrações quando se adota o uso de
sucedâneo.
Entretanto, a produção de sucedâneos no Brasil recebeu atenção de váriasmultinacionais, as quais já comercializavam este tipo de produto em outros países. Estas
empresas trouxeram suas formulações para o Brasil e têm garantido, como empresas
idôneas, uma boa qualidade destes produtos.
Com a entrada de novas formulações no mercado nacional esperava-se que
sistemas de produções de bezerros que adotassem estas não tivessem redução no
desempenho de seus animais. Infelizmente isto vem ocorrendo com freqüência. O
principal fator limitante para o uso de sucedâneos, de má ou ótima qualidade, é a falta de
mão-de-obra especializada capaz de fornecer este tipo de alimento. A maior parte dosfuncionários de fazendas leiteiras te baixa escolaridade, sendo incapaz de ler as
instruções do fabricante no rótulo do produto ou até seguir instruções dadas por seu
superior. A falta de cuidado para que a diluição seja feita com água em quantidade e
temperatura ideais geralmente acarreta em menor desempenho animal. Pode-se observar
com freqüência funcionários diluindo uma determinada quantidade do pó com mais água
do que o recomendado para que um saco de sucedâneo possa alimentar mais bezerros.
Entretanto, desta forma o animal tem um menor consumo de matéria seca, tendo seu
desempenho reduzido, principalmente durante as primeiras semanas quando o consumode concentrado não é capaz de compensar este fato.
No Brasil, a maior parte das fazendas fornece leite descarte, proveniente de vacas
com mastite e/ou resíduo de antibióticos. Nos Estados Unidos por outro lado, a crescente
preocupação com o uso de antibióticos em subdoses tem levado ao uso de sucedâneos
ou às práticas de fermentação e pasteurização do leite descarte de forma a reduzir o
número de patógenos ou destruir resíduo de antibióticos. A pasteurização só é
economicamente viável em propriedades onde se alimentam 315 bezerros por dia. A
fermentação pode ser utilizada de forma satisfatória em regiões de clima frio, oupropriedades que possuam sistema para refrigerar grandes quantidades, uma vez que a
temperatura acima de 25 °C pode levar a fermentação putrefativa e não àquela desejável
com produção de ácido láctico. Em regiões de clima quente podem ser utilizados
preservantes como o formaldeído mas a falta de mão de obra qualificada pode levar a
problemas.
Embora o custo de produção possa ser reduzido com o fornecimento de menores
quantidades de leite, o qual perfaz 70% do custo com alimentação e manejo, quantidades
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de leite inferiores a 4L não fornecem nutrientes suficientes para desempenho adequado
devido ao baixo consumo de energia e proteína (Tabela 7).
Tabela 7. Potencial de ganho de acordo com a quantidade de leite fornecida.
L/dia
Consumo
MS (g)
Consumo de
energia
metabólica (Mcal)
Ganho permitido
pela energia
metabólica (g)
Consumo de
proteína bruta
(g)
Ganho permitido
pela proteína bruta
(g)
2 250 1.34 -- 65.5 139
4 500 2.68 354 127 380
6 750 4.03 756 190 627
8 1000 5.37 1050 254 868Baseado em equações do NRC (2001).
A quantidade de leite a ser fornecida às bezerras tem se tornado um tema
polêmico devido a novos programas de alimentação desenvolvidos por companhias de
sucedâneos e por Universidades americanas. Estes programas sugerem fornecimento de
maiores quantidades de sucedâneo (2x o convencional) durante as duas primeiras
semanas de vida da bezerra, de forma a obter ganhos de até 900g/d (Diaz et al., 1998 e
2001), já que neste período os animais apresentam maior eficiência de ganho (Figura 22).
O programa prevê ainda que estes animais sejam desaleitados entre 6 e 8 semanas. É
bom lembrar que existem diferenças de objetivo do aumento da quantidade de leite
fornecida neste programa, quando comparado com a criação de vitelo. O aleitamento ad
libitum de leite integral resulta em maior deposição de gordura, já o crescimento acelerado
de novilhas deve focar no crescimento esquelético e muscular. Assim, a adoção de
sucedâneos com maior teor de proteína e moderados teores de gordura é mandatório
para o sucesso do programa.
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Figura 22. Eficiência de ganho de peso e custo/kg ganho em váriosestágios do crescimento
Independentemente do fornecimento de leite, o animal deve receber água de boa
qualidade já na primeira semana de vida. O fornecimento de água no mesmo horário do
fornecimento do leite pode levar ao consumo descontrolado de água, afetando a formaçãodo coágulo de leite no abomaso. Vários trabalhos demonstraram que a disponibilidade de
água está diretamente relacionada ao consumo de concentrado e à recuperação de
quadros de diarréia (Tabela 8). A falta de acesso à água pode levar a reduções no
consumo de concentrado e ganho de peso da ordem de 30%.
Tabela 8. Consumo de concentrado, ganho de peso e saúde de bezerros com acesso
livre ou sem acesso a água.
Água a vontade Sem acesso a águaNo. de bezerros 20 21
Consumo de concentrado (kg/4 semanas) 11.72c 8.08d
Ganho de peso (kg/4 semanas) 8.45c 5.26d
Bezerros com diarréia 19 21
Dias com diarréia 4.5 5.4
Kertz et al. (1984)
0
10
20
30
40
50
60
7080
90
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Idade (meses)
A u m e n t o e m P
V ( % )
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
C u s t o / k g d e g a n h o
aumento em PV (%) Custo/kg de ganho
0
10
20
30
40
50
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Idade (meses)
A u m e n t o e m P
V ( % )
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0,05
0,10
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C u s t o / k g d e g a n h o
aumento em PV (%) Custo/kg de ganho
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2. Dieta Sólida
Após o nascimento os animais devem passar a receber concentrado à vontade, depreferência individualizados, permitindo um controle diário do consumo de cada animal. O
concentrado deve apresentar teores aproximados de 18% de proteína bruta e 78% de
nutrientes digestíveis totais (NDT), níveis de FDA entre 6 e 20% e FDN entre 15 e 25%. A
forma física do alimento concentrado é muito importante e pode ser determinante no
consumo de matéria seca. Alimentos finamente moídos devem ser evitados pois reduzem
seu consumo podendo causar parakeratose por ficarem presos entre papilas do rúmen.
Quando se prepara o alimento para peletização este deve ser finamente moído, o que tem
levado concentrados totalmente peletizados ao desuso. Formulações mais modernas sãocompostas por pelete que contém geralmente uma parte dos carboidratos, fonte protéica,
além de minerais e vitaminas, e por outros ingredientes que contenham mais carboidratos
ou representem a fonte de fibra. Nos Estados Unidos tem sido crescente ainda o uso de
grãos processados na formulação de concentrados para bezerros (Figura 23).
Figura 23. Concentrado peletizado e concentrado peletizado,contendo parte de seus ingredientes processados
O principal objetivo na fase de aleitamento do bezerro é estimular o consumo de
concentrado. Durante esta fase o animal desenvolverá o sistema de digestão próprio deruminantes e, ao final, deverá estar apto a sobreviver e crescer apenas se alimentando de
dieta sólida contendo concentrado e volumoso. A fase de transição de pré-ruminante para
ruminante está relacionada ao desenvolvimento do rúmen, onde se estabelecerão
bactérias amilolíticas num primeiro momento e depois celulolíticas e metanogênicas. Além
do estabelecimento de bactérias que cumprirão o papel de fermentadores, o animal deve
ter estruturas capazes de absorver e metabolizar os produtos finais dessa fermentação,
ou seja, um rúmen funcional, com papilas desenvolvidas.
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Na fase pré-ruminante, a dieta é basicamente líquida, o principal órgão digestivo é
o abomaso, a fonte de energia é principalmente glucose e a protéica, totalmente
proveniente da dieta (Figura 24). No ruminante, a dieta está na forma sólida, as fontes deenergia são o AGVs e glucose proveniente de digestão intestinal, e a fonte protéica é
composta de proteína microbiana e proteína sobrepassante. Durante a fase de transição
estas duas situações se misturam e o manejo alimentar será determinante de uma
transição mais lenta ou mais precoce.
Linha do tempo
Dieta Líquida Líquida + Sólida SólidaÓrgão Abomaso Abomaso + Rúmen Rúmen
Energia Glicose Glicose/AGV AGV
Proteína Dieta Dieta/Bact. Bact./Bypass
Desmama
Figura 24. Alterações na dieta, órgãos de digestão e fontes deenergia e proteína conforme o desenvolvimento do rúmen debezerros
3. Desenvolvimento Ruminal
O desenvolvimento de bezerros recém-nascidos à condição de ruminante
funcional, envolve uma série de mudanças anatômicas e fisiológicas do aparelho digestivo
(Beharka et al ., 1998). Embora o desenvolvimento do aparelho digestivo desses animaisseja inato, a idade do animal per se tem pouco efeito no desenvolvimento das papilas
ruminais.
Ao nascer estes animais apresentam o retículo-rúmen pouco desenvolvido e não
funcional, representando apenas 30% do total dos quatro compartimentos (Tabela 9;
Figura 25). As maiores mudanças em termos de desenvolvimento vão ocorrer no retículo-
rúmen, o qual será colonizado por diferentes tipos de bactérias e terá sua musculatura e
parede interna (papilas) desenvolvidas, como também enzimas funcionais na parede do
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rúmen. Por volta de 3 a 4 semanas, dependendo da alimentação do animal, o retículo-
rúmen passa a corresponder a 60% do total dos quatro compartimentos, enquanto que o
abomaso somente a 27%. Um animal com mais de 12 semanas de vida, apresenta osistema digestivo próprio de um ruminante, sendo o retículo-rúmen 85% e o abomaso
apenas 7% do total dos quatro compartimentos.
Tabela 9. Mudanças com a idade nas proporções de compartimentos do trato digestivo de
bezerros recebendo leite e concentrado.
Idade Retículo-rúmen + omaso abomaso
Nascimento aos 21 dias 30 % 70%
22 aos 56-84 dias 60% 37%Mais de 84 dias 85% (s/ omaso) 7%
Adaptado de Crowley et al . (1991)
Figura 25. Alterações nas proporções dos compartimentos digestórios de bezerrosconforme o desenvolvimento do rúmen
Para que o desenvolvimento do sistema digestivo do recém-nascido ocorra
algumas condições devem ser atendidas: 1) estabelecimento de microrganismos no
rúmen; 2) presença de líquido; 3) fluxo de material do rúmen para fora do rúmen; 4)
capacidade de absorção do tecido; 5) substrato disponível (Quigley, 1996b).
Ao nascer, o rúmen de bezerros é totalmente desprovido de bactérias ou
protozoários, característicos da população microbiana de ruminantes. Sua exposição a
esta população durante e após a parição contribuem para a colonização do rúmen. O
contato animal-animal parece ser o mais importante para o estabelecimento de
Abomaso(Estômago verdadeiro)
Omaso
Rúmen
Retículo
Esôfago
GoteiraEsofagiana
Omaso
Abomaso
Rúmen
Retículo
Retículo
Rúmen
OmasoAbomaso
Abomaso(Estômago verdadeiro)
Omaso
Rúmen
Retículo
Esôfago
GoteiraEsofagiana
Omaso
Abomaso
Rúmen
Retículo
Retículo
Rúmen
OmasoAbomaso
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microrganismos, embora as fontes sejam as mais diversas como a saliva da mãe, esterco,
cama, ou leite e outros alimentos (Yokoyama & Johnson, 1988).
Trabalhos tentando avaliar a seqüência de estabelecimento de bactérias no rúmende bezerros mostram que com 1 dia de vida, já pode ser encontrada uma grande
quantidade de bactérias aeróbias. Este tipo de população se mantém em animais
alimentados apenas de leite até que grãos sejam fornecidos, independentemente da
idade do animal, sendo substituídas por bactérias anaeróbias. A atividade celulolítica
aumenta gradualmente até a sexta semana de vida, quando alcança níveis de um
ruminante adulto.
O adequado estabelecimento de microrganismos no rúmen e o processo de
fermentação de substrato dependem da presença de água no meio. Somente em meioaquoso parte do alimento será solubilizado, possibilitando o início do processo
fermentativo. A importância do fornecimento de água para bezerros desde os primeiros
dias de vida tem sido demonstrada na literatura. A disponibilidade de água estimula o
consumo de concentrado (Kertz et al ., 1984), o qual é primordial para o desenvolvimento
do rúmen e promove o aumento no consumo total de alimento (Thickett et al ., 1981). O
trabalho de Kertz e colaboradores (1984) demonstrou que bezerros com acesso restrito à
água apresentam consumo de concentrado e desempenho 31% e 38%, respectivamente,
menores que animais com água disponível.O desenvolvimento do sistema digestivo também é dependente da habilidade
deste se contrair, possibilitando o fluxo de fluído ruminal (produtos da fermentação +
partículas não ou pouco fermentadas) e a regurgitação de material a ser remastigado. A
atividade muscular do rúmen do recém-nascido é pequena, não sendo observadas
contrações ou regurgitação. Quando alimento sólido é fornecido, contrações podem ser
observadas em animais com 3 semanas de vida, e o hábito de remastigar, com apenas 1
semana (Van Soest, 1994).
Muitos trabalhos têm mostrado que o desenvolvimento de papilas, responsávelpela absorção de produtos finais de fermentação, é dependente principalmente da
presença de alimentos sólidos no rúmen, e conseqüente produção de ácidos graxos
voláteis resultantes de fermentação (Quigley et al ., 1996 a). Desta forma, o adequado
desenvolvimento de papilas é resultado da ação de produtos de fermentação ruminal,
além de estímulo físico causado pelo alimento consumido. Resultados de pesquisa
indicam que o principal estímulo para o desenvolvimento do rúmen é a presença de
ácidos graxos voláteis (Tamate et al ., 1962; Murdock & Wallenius, 1980; Quigley et al .,
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1996 a). Dentre os principais AGV produzidos no rúmen, o ácido butírico é o mais
importante em relação ao crescimento em número e tamanho de papilas, seguido pelo
ácido propiônico; tendo o ácido acético pouca importância. A maior produção dessesácidos graxos voláteis ocorre com a fermentação de alimentos concentrados, com alto
teor de carboidratos e proteína (Tabela 10). Assim, é indispensável disponibilizar alimento
concentrado para o animal desde a primeira semana de vida (Anderson et al ., 1987).
Tabela 10. Efeito da relação volumoso : concentrado na proporção de ácidos graxosvoláteis no rúmen de vacas em lactação
Proporção
Relação volumoso:concentrado Ácido acético Ácido propiônico Ácido butírico
100:0 71.4 16.0 7.9
75:25 68.2 18.1 8.0
50:50 65.3 18.4 10.4
40:60 59.8 25.9 10.2
20:80 53.6 30.6 10.7
Adaptado de Church (1988)
Já no início da década de 50 pesquisadores da Universidade de Cornell
demonstraram a importância da dieta sólida para o desenvolvimento do rúmen quando
observaram a regressão do desenvolvimento ruminal substituindo o fornecimento de dieta
de grão e feno por leite em bezerros jovens já desmamados (Harrison et al ., 1957).
Mudanças neste compartimento são dinâmicas e altamente dependentes do tipo de dieta
do animal. A troca de dieta composta principalmente de concentrado para aquela de
forragem reduz o desenvolvimento papilar, epitelial e muscular. Adicionalmente, a
completa retirada de alimento sólido leva ao total desaparecimento de papilas ruminais,
regressão do tecido do compartimento ruminal e ausência de crescimento do mesmo. O
crescimento de papilas ruminais foi mínimo em bezerros alimentados somente a base de
leite, o qual não sofre fermentação ruminal, quando comparados com animais
alimentados com alimento concentrado ou feno (Tamate et al ., 1962).
Beharka e colaboradores (1998) demonstraram o efeito da forma física da dieta no
desenvolvimento anatômico, microbiano e fermentativo do rúmen de bezerros recém-
nascidos. Oito bezerros holandeses foram canulados no rúmen aos 3 dias de vida sendo
alimentados com dieta moída ou não, composta de 25% de feno de alfafa e 75% de
concentrado. Animais alimentados com a dieta não moída apresentaram menor consumo.
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O pH ruminal decresceu após 2 semanas de vida e voltou a aumentar após a 10 ª semana,
sendo influenciado pela forma física da dieta. O pH ruminal foi menor (P
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observaram que o fornecimento de feno para bezerros, após a desmama com 8 semanas
de vida, reduziu os níveis de corpos cetônicos (BHBA e ACAC), provavelmente pela
redução na produção de ácido butírico no rúmen. Se o fornecimento de feno fosserealizado antes da desmama as custas do fornecimento de concentrado, acarretaria no
atraso no desenvolvimento do rúmen graças à menor produção de butirato.
A seqüência de figuras a seguir, disponibilizada no site da pela Penn State
University, demonstra de forma clara a importância do fornecimento de concentrado para
o desenvolvimento do rúmen, possibilitando o desaleitamento a partir de 6 semanas de
idade, em bezerreiros bem manejados. A função do feno, ou de outra forragem, será de
aumentar o tamanho do compartimento ruminal e portanto a capacidade de consumo do
bezerro, o que será necessário somente após o desaleitamento.
Figura 26. Exterior do sistema digestivo superior (retículo-rúmen, omaso e abomaso) e interior doretículo rúmen de um bezerro alimentado durante 6 semanas somente com leite. Reduzidotamanho do rúmen; reduzido desenvolvimento de papilas no rúmen e no retículo; e a ausência dacoloração escura associada a adequada alimentação de bezerros.
Figura 27. Bezerro alimentado com leite e feno durante 12 semanas. Apesar do maiortamanho dos compartimentos, o desenvolvimento interno ainda é bastante reduzido.
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Figura 27. Adequado desenvolvimento de papilas, tanto no retículo quanto no rúmen, debezerro alimentado durante 8 semanas com leite e concentrado.
Figura 28. Adequado desenvolvimento de papilas, tanto no retículo quanto no rúmen, debezerro de 6 semanas, alimentado com leite e concentrado.
Figura 29. Rúmen de bezerro com 8 semanas de vida, alimentado com leite, feno econcentrado. A inclusão de feno na dieta retarda o desenvolvimento de papilas.
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4. Desaleitamento
O desaleitamento precoce é uma ferramenta de manejo muito importante do ponto
de vista econômico na produção de fêmeas de reposição. O custo de alimentação dos
animais é reduzido com a retirada do leite e com a introdução de misturas concentradas
como dieta principal. Adicionalmente, o menor tempo demandado para a alimentação
desses animais reduz o custo com mão-de-obra. Segundo QUIGLEY III (1996), o animal
está pronto, do ponto de vista fisiológico, quando atinge o consumo de 700 g/d de
concentrado durante três dias consecutivos. Observa-se a campo que pelo menos três
diferentes critérios para desaleitamento são utilizados por produtores, sendo eles: 1)
consumo de concentrado; 2) idade do animal; e 3) peso do animal.
Pesquisadores compararam 3 níveis de consumo para o desaleitamento e
observaram que o consumo de 400 g/d foi adequado e reduziu dias ao desaleitamento
quando comparado com consumos de 650 e 900 g/d. O uso deste critério parece
inadequado quando se compara o consumo de animal de raça de pequeno porte (Jersey)
com animal de raça grande porte (holandês) e estes autores demonstraram que o
acréscimo de 10 kg no peso ao nascer reduziu o número de dias necessários para se
alcançar o consumo em 6,8 dias. O critério consumo para o desaleitamento implica em
bezerros mais leves devendo ter um consumo maior em porcentagem de peso vivo.
Assim, GREENWOOD et al . testaram 3 níveis de consumo em % do peso ao nascer (PN)
(1, 1,5 e 2%) como critério de desaleitamento, com o objetivo de reduzir a variação na
idade ao desaleitamento. Os autores observaram um aumento no número de dias para ao
desaleitamento com o aumento na meta de consumo em % PN. Entretanto, o número de
dias necessários para que o consumo fosse de 1,5 e 2% PN não foi estatisticamente
diferente, demonstrando que pode haver um platô para o consumo necessário ao
desaleitamento. O ganho de peso dos animais desaleitados em idade mais jovem (1%
PN) não foi negativamente afetado uma vez que apresentou o maior consumo total de
concentrado.
Entretanto, uma vez que é quase impossível monitorar o consumo de vários bezerros
diariamente, o desaleitamento vem sendo realizado baseado na idade do animal. A maior
parte dos produtores tem adotado 8 semanas de vida como a idade de desaleitamento em
fazendas leiteiras americanas, mas em sistemas bem manejados esta pode ser realizada
com sucesso em até 6 semanas de vida. WINTER (1985) comparou o desempenho de
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animais sendo desaleitados de forma abrupta com 3, 5 e 7 semanas de vida. O autor não
observou efeito negativo no desempenho dos animais em função de idade de
desaleitamento. O grupo desaleitado em idade mais jovem apresentou ganho de pesoreduzido nas duas semanas seguintes ao desaleitamento. Entretanto, nas semanas
seguintes o ganho de peso foi comparável ao ganho dos outros grupos. Na semana do
desaleitamento, em animais com desaleitamento à 3a semana, o consumo de concentrado
observado foi de apenas 257 g/d, valor abaixo do recomendado na literatura. Todavia, o
consumo destes animais aumentou para 914 g/d na semana seguinte (4a semana) e foi
ainda superior na 5a (1300 g/d). Os dados de digestibilidade da dieta, assim como os
dados de produção de AGV no rúmen, na semana do desaleitamento não foram
diferentes quando se comparou a idade ao desaleitamento. Segundo os autores, estesdados indicam que animais recebendo dieta com alta energia desenvolvem a capacidade
de digestão de alimento tão cedo quanto à 3a semana de vida.
Em 1994, QUIGLEY III, observou os efeitos no consumo, crescimento e parâmetros
metabólicos de bezerros da raça Jersey desaleitados precocemente por três métodos: 1)
desaleitamento abrupto aos 35 dias; 2) desaleitamento gradativo aos 35 dias e 3)
desaleitamento quando o consumo fosse de 454 g por dois dias consecutivos. O ganho
de peso de animais que sofreram desaleitamento gradativo foi inferior ao de outros
tratamentos uma vez que o consumo reduzido de substituto de leite não resultou aaumento suficiente no consumo de concentrado. Os animais do tratamento 3 foram
desaleitados com idade média de 40 dias de vida, quando o consumo de concentrado
alcançou a meta de 454 g durante dois dias. Os dados de parâmetros sanguíneos
refletiram o padrão de consumo de concentrado, não havendo diferenças entre os
diferentes métodos de desaleitamento. Uma rápida análise mostrou que o desaleitamento
realizado de acordo com o consumo de concentrado levou ao desaleitamento mais tardio
e com maior custo. O autor sugere também que animais de menor porte, como bezerros
da raça Jersey, podem ser desaleitados com base em um consumo de concentradomenor que 700 g/d, no caso 454 g/d sem que ocorra redução no desempenho animal.
Este trabalho confirma a sugestão de GREENWOOD et al . de se realizar o
desaleitamento de acordo com o consumo de concentrado referente a % do PN do
bezerro.
A adaptação do animal ao alimento sólido é fundamental para que o
desaleitamento ocorra com sucesso. A mudança na forma física do principal componente
da dieta (retirada de um alimento líquido de alta palatabilidade) também é um fator de
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estresse para o animal. Algumas práticas de manejo têm sido realizadas com o intuito de
se encorajar o consumo de concentrado pelo animal como o fornecimento de parte do
concentrado no fundo de um balde juntamente com o fornecimento de leite. Entretanto,não está claro se o estímulo ao consumo de concentrado através dessas práticas se deve
ao manejo alimentar ou a adaptações metabólicas. LUCHINI et al . (1993) utilizaram dessa
prática em experimento quando compararam 3 regimes de alimentação: fornecimento de
leite, fornecimento de leite com suplemento no fundo do balde e fornecimento de leite
após “drenching” com o suplemento. Os tratamentos foram aplicados no período entre 19
e 26 dias de vida, quando ocorreu o desaleitamento, sendo os animais alocados em
dietas com alta ou baixa energia após esse período. Os dados de peso e ganho de peso
mostram que bezerros que receberam “drench” apresentaram melhor desempenho.Entretanto, o consumo de concentrado foi semelhante para os tratamentos indicando que
o manejo pré-desaleitamento tem pequeno efeito no consumo no período pós-
desaleitamento. Os autores concluem que o consumo pós-desaleitamento depende mais
da adaptação fisiológica à dieta de grãos do que do manejo alimentar aplicado no pré-
desaleitamento.
O desaleitamento é um fator de estresse para o bezerro o qual é forçado a várias
mudanças: 1) sua principal fonte de nutrientes muda da forma liquida para a forma sólida;
2) a quantidade de matéria seca que o animal recebe é diminuída com o não fornecimentodo leite; 3) o bezerro deve se adaptar ao tipo de digestão e fermentação própria de
ruminantes; 4) mudanças de manejo e instalações geralmente ocorrem juntamente com o
desaleitamento (QUIGLEY III, 1996). A adaptação do animal à fermentação é essencial
para que a taxa de crescimento do animal não seja afetada. Para isso, o animal deve ter o
rúmen parcialmente desenvolvido e capaz de absorver e metabolizar produtos finais da
fermentação antes do desaleitamento.
O desaleitamento precoce tem como objetivo reduzir o custo da criação de
bezerros, tanto com relação ao custo de alimentação quanto a redução da exigência demão de obra. Dois critérios de desaleitamento podem ser utilizados: idade do animal ou
consumo de concentrado. Recomenda-se desaleitar o bezerro quando seu consumo de
concentrado for pelo menos 700 g durante três dias consecutivos. Como a prática de
pesagem e controle do consumo de concentrado não é adotada como rotina, a maioria
dos produtores adota a idade como critério de desaleitamento. O desaleitamento é feito
com 8 semanas de vida do animal na maior parte das propriedades leiteiras, entretanto
vários trabalhos demonstram que o desaleitamento pode ser realizado com sucesso com
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5 ou 6 semanas de idade, dependendo do consumo de concentrado que estará
relacionada ao desenvolvimento do rúmen e à condição de ruminante.
As taxas de crescimento do nascimento à cobertura giram em torno de 500 a 700g/d, em bezerreiros bem manejados, e é dependente da quantidade de leite fornecida à
esses animais.
Considerações práticas para levar para casa
1) A escolha da dieta líquida deve ser basear não somente no custo por litro como
também em sua composição.
2) O consumo de concentrado é inversamente proporcional ao consumo de leite.Portanto, o fornecimento restrito de leite estimula o consumo de concentrado, permitindo
o desaleitamento precoce e obtenção de menor custo/kg ganho de peso vivo.
3) Concentrados palatáveis, secos, livres de mofo, etc. devem ser fornecidos desde os
primeiros dias de vida para permitir o desenvolvimento ruminal.
4) A disponibilidade de água também é extremamente importante para o desenvolvimento
ruminal, devendo ser fornecida desde os primeiros dias de vida do bezerro. O leite não
fornece quantidade de água suficiente para bezerros, não devendo ser a única fonte.
5) O fornecimento de feno deve ser evitado durante a fase de aleitamento uma vez queapresenta baixo teor de energia e proteína, além de apresentar baixo consumo voluntário.
V. INSTALAÇÕES PARA BEZERRAS EM ALEITAMENTO
Durante a fase de aleitamento, é importante que as instalações de bezerros sejam
secas, ventiladas (mas sem ventos gelados), limpas, com sombra, e que permitam acesso
fácil e adequado ao alimento e a água. Existem inúmeras opções de instalações para
bezerros em aleitamento, desde de bezerreiros fechados e coletivos até casinhasindividuais confeccionadas com os mais diversos materiais. Entretanto, ao adotar
determinado tipo de instalação deve-se objetivar os itens acima, sem esquecer que os
agentes causais das diarréias são transmitidos via oral/fecal. Devem ser evitadas a
superpopulação de animais e a adoção de sistemas que não individualizem os mesmos. A
Figura 34 mostra exemplos de bezerreiros inadequados, seja por má ventilação ou difícil
acesso ao alimento.
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Figura 34. Exemplos de bezerreiros inadequados
A utilização de piquetes, com espécie forrageira estabelecida na área, é pouco
freqüente devido à dificuldade no controle de fatores desfavoráveis e no fornecimento
individual de leite. No caso da adoção de criação de bezerros em aleitamento de forma
coletiva em piquete, o terreno deve ser bem drenado, ter sombra e água disponível, além
de cocho que facilite o consumo de concentrado.A adoção de baias coletivas também dificulta o aleitamento individual de bezerros
e, além disso, gera a necessidade de investimento na compra de cama, no caso do piso
ser de cimento, e de canzil, para evitar que bezerras mamem umas nas outras. Este tipo
de instalação para bezerras em aleitamento, criadas em grupo também está associada a
maiores taxas de disseminação de doenças. A área a ser disponibilizada por animal é de
1,5 a 1,8 m2 / animal.
A individualização de bezerras em aleitamento, principalmente com o objetivo de
se reduzir problemas como a diarréia e animais mamando uns aos outros, tem sidorecomendada. A individualização dos animais também facilita a alimentação, evitando
problemas com dominância, e permite um controle mais rígido da saúde do animal e do
consumo individual, tanto de concentrado quanto de água. O abrigo individual deve ainda
prover contato dos animais com carrapato, de forma a possibilitar a criação de resistência
aos patógenos da tristeza bovina parasitária.
A individualização de bezerras pode ser realizada através da adoção de
bezerreiros com baias individuais ou de gaiolas ou casinhas. No caso da adoção de baias
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de contenção, esta deve apresentar uma área de 0,60 x 1,50 m. Se o piso for de cimento,
é necessário o uso de cama, o que pode aumentar o custo de produção. Uma opção é a
utilização de bezerreiro com piso ripado e elevado, o qual garante ambiente seco e limpopara que o animal se deite.
Figura 35. Exemplos de bezerreiros adequados: individualização, boa ventilação,ambiente limpo, seco e com acesso fácil a água e ao alimento
Vários tipos de casinhas ou gaiolas podem ser utilizadas com sucesso na criação
de bezerras, assim como instalações de piso ripado elevado (Figura 36). Como regra
geral, a instalação desses animais deve fornecer sombra ao animal, ter boa ventilação e
estar sempre limpa e seca, devendo o contato entre animais evitado. A utilização de
casinhas tropicais (Figura 37), desenvolvidas pela Embrapa Pecuária Sudeste, tem sido
recomendada como boa instalação para individualização de bezerros em aleitamento,
podendo ser transferida para local mais seco e limpo por apenas uma pessoa. A escolha
do local para disposição das casinhas também é importante, devendo ser escolhidos
terrenos planos, de maneira que as casinhas não fiquem bambas, além de apresentar boa
drenagem, evitando-se assim a formação de lama. Também é importante lembrar que
adaptações ao projeto original devem ser feitos com cautela para que a casinha seja leve,
possibilitando sua remoção para área mais limpa por uma pessoa, além de ter cocho que
não impeça o consumo de concentrado pelo animal. É comum observarmos propriedades
que adotam casinhas tropicais mas insucesso, sendo vários pontos negligenciados:
• Área acidentada e com má drenagem;
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• Casinhas pesadas, não permitindo sua movimentação e troca de lugar;
• Utilização de cochos que não permitem o consumo de concentrado pelo animal;
• Utilização de correntes curtas que não permitem que o animal alcance o cocho deconcentrado;
Figura 36. Exemplos de casinha/gaiolas individuais
Figura 37. Casinha tropical