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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS
DEPARTAMENTO DE HIDRULICA E SANEAMENTO
GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO - 2012
Disciplina: SHS614 Saneamento e Meio Ambiente para Arquitetura
TEXTO DE APOIO DIDTICO [material restrito da disciplina]
Prof. Tadeu Fabrcio Malheiros
1. CONTEXTO O processo de transformaes resultante do conjunto de aes
antrpicas na busca de condies de sobrevivncia e ampliao de padres de
vida, possibilitou melhoria das condies de sade da populao em geral. Mas
foi, principalmente nas ltimas dcadas, que indicadores de sade e
econmicos de pases em desenvolvimento apontaram aumento significativo
da expectativa de vida, reduo da taxa de mortalidade infantil e em crianas
com menos de cinco anos (Tabela 1), crescimento da renda per capita (Figura
4), bem como ampliao da infra-estrutura de saneamento, com destaque para
esgotamento sanitrio (Tabela 2)
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Tabela 1. Expectativa de vida, taxa de mortalidade infantil por mil
nascidos vivos, taxa de mortalidade em crianas at cinco anos, para os anos
de 1980 e 2002, conforme grupo de pases e no mundo.
Pases
Expectativa de vida Taxa de mortalidade infantil
(mil nascidos vivos)
Taxa de mortalidade em crianas at cinco anos
Ano
Ano Ano
1980 2002 1980 2002 1980 2002
Grupo Renda Baixa 53 59 110 79 174 121
Grupo Renda Mdia 66 70 57 30 76 37
Grupo Renda Alta 74 78 12 5 15 7
Mundo 63 67 79 55 119 81
Fonte : The World Bank 2004 (p 110)
Obs: Grupo Renda Baixa: pases com renda nacional bruta per capita menor do que
735US$ de 2002; Grupo Renda Mdia: pases com renda nacional bruta per capita entre
735US$ e US$ 9.076; Grupo Renda Alta: pases com renda nacional bruta per capita maior do
que US$ 9076.
Tabela 2. Acesso a instalaes sanitrias melhoradas, para os anos
1990 e 2002, conforme grupo de renda de pases e no mundo.
Pases
Populao com acesso (%)
Ano - 1990
Populao com acesso (%)
Ano 2002
rea
rea urbana rural urbana rural
Grupo Renda Baixa 58 20 71 31
Grupo Renda Mdia 75 29 82 43
Grupo Renda Alta -- -- -- --
Mundo 75 27 81 38
Fonte : The World Bank 2004 (p 154)
Obs: acesso a instalaes sanitrias melhoradas: acesso a no mnimo instalao
adequada para disposio/afastamento de esgoto que previna contato com agentes
infecciosos.
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Fonte: UNEP 2002
Figura 1. Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (US$ 1995/capita) no perodo entre 1972 e 1998.
Destaca-se na Tabela 3 a questo do padro de consumo,
principalmente de pases desenvolvidos. H necessidade de reflexo profunda
por parte dos pases ricos e pobres, para que os pases desenvolvidos
diminuam presso sobre o consumo de recursos naturais, e cooperem
tecnologicamente para que os pases em desenvolvimento avancem em bases
sustentveis.
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Tabela 3. Nmero de veculo de passageiro por mil habitantes, para os anos 1990 e 2001
Pases
Veculos de passageiros
Veculos de passageiros
(por mil habitantes) (por mil habitantes)
1990 2001
Grupo Renda Baixa 4 8
Grupo Renda Mdia 26 40
Grupo Renda Alta 396 436
Mundo 91 ---
EUA 573 516
Alemanha 386 481
Fonte: The World Bank 2004 (p. 162)
No contexto brasileiro, indicadores nacionais acompanharam mesma
tendncia, destacando a taxa de mortalidade infantil, que em 1980 era de 67
(The World Bank 2004), em 1991 era de 45,2 (RIPSA 2002) e em 2002 reduziu
para 33 bitos de menores de um ano de idade por mil nascidos vivos (The
World Bank 2004); e a porcentagem de municpios com servios de
abastecimento de gua, coleta de esgoto e coleta de lixo que pulou para 98%,
52% e 100% em 2000, respectivamente.
Outras transformaes importantes, ocorridas neste perodo no Brasil,
principalmente no que tange ao processo gesto ambiental local, trouxeram
ampliao de espaos de atuao democrtica, de atividades de educao
ambiental, do nmero de rgos de atuao na rea ambiental, conforme
figuras 2 e 3. (IBGE 2005)
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Fonte: IBGE 2005
Figura 2. Percentual de Municpios com Conselho Municipal de Meio Ambiente, total e ativos, por classes de tamanho da populao dos municpios e Grandes Regies 2002
Fonte: IBGE 2005
Figura 3. Municpios, por tipo de rgos Municipais de Meio Ambiente, segundo classes de tamanho da populao dos municpios e Grandes Regies - 2002
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Ao mesmo tempo, um olhar pelas lentes da sustentabilidade, aponta
questes preocupantes, que merecem maior reflexo sobre os rumos da
sociedade e seus impactos na sade pblica e ambiental, no curto, mdio e
longo prazos. O contnuo aumento dos nveis de desigualdade scio-
econmica, de dificuldade de acesso aos diversos servios e equipamentos
pblicos disponibilizados, do consumo elevado de recursos naturais acima da
capacidade e de auto recuperao de ecossistemas ecologicamente
importantes. Como exemplo, a Figura 4 apresenta o ndice Paulista de
Vulnerabilidade Social IPVS, criado pelo SEADE, e que tem como objetivo
permitir ao gestor pblico e sociedade uma viso mais detalhada das
condies de vida do seu municpio, com a identificao e a localizao
espacial das reas que abrigam os segmentos populacionais mais vulnerveis
pobreza, incorporando ao sistema de indicadores de desenvolvimento,
iniciado com o IPRS, mais um instrumento para a avaliao das polticas
pblicas.
Fonte: SEADE 2005
Figura 4. Distribuio dos Setores Censitrios, por Localizao, segundo ndice Paulista de Vulnerabilidade Social IPVS, Estado de So Paulo, 2000
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Destaque tambm dado s diferenas intra-regionais, intra-estaduais e
intra-municipais que por vezes se mostram, significativas, quando se observa
os indicadores de saneamento nas regies do Brasil. Conforme IBGE, (2000,
apud Philippi Jr e Malheiros 2005, p.188), em 2000, pelo menos 92% dos
municpios da Regio Norte e 82% da Regio Centro Oeste no dispunham de
rede de coleta de esgotos, enquanto que na Regio Sudeste eram 7% dos
municpios com esta deficincia.
Como resultado destas diferenas regionais, principalmente nos nveis
de acesso a servios bsicos e de abertura de oportunidades sociedade,
problemas que impulsionam processos migratrios, e a ampliao do conjunto
de polticas nacionais, entre elas, a Poltica Nacional de Meio Ambiente,
Constituio Federal, Poltica Nacional de Sade, Poltica Nacional de
Desenvolvimento Urbano, Poltica Nacional de Educao Ambiental, Leis de
Crimes Ambientais, estados e municpios se vem pressionados em suas
demandas e responsabilidades. No entanto, o componente da receita municipal
no cresceu, na mdia, no mesmo ritmo das demandas impostas pela
legislao e pela prpria sociedade, hoje, mais sensibilizada pelas questes do
desenvolvimento sustentvel.
Esforos, portanto, para atender compromissos nacionais de aumento
da justia social, eficincia econmica e proteo ambiental, vm sendo
empreendidos nos diversos mbitos, por meio da elaborao de planos de
desenvolvimento sustentvel, destacando, por exemplo, a Agenda 21
Brasileira, as muitas Agendas 21 Locais, e a insero do componente
ambiental nas agendas da sade, educao, desenvolvimento urbano,
econmico, entre outros.
Entretanto, apesar dos esforos empreendidos e avanos alcanados, o
processo como um todo ainda se encontra em estgio inicial. Torna-se
necessrio e urgente, neste momento, aplicao de sistema de avaliao
estratgica sobre este conjunto de aes e processos voltados a construo da
sustentabilidade nos mbitos federal, estadual, regional e local, de forma a
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melhor compreender a sua dinmica, medir efetividade e orientar polticas
pblicas.
Mousinho (2000) destaca em sua pesquisa a importncia da promoo
de cultura de avaliao de polticas, planos, programas e projetos, na rea
governamental e no governamental, o que contribui para ajustar a trajetria
planejada rumo ao desenvolvimento sustentvel, no devendo ser entendida
como sistema de ao punitiva, mas de orientao na tomada de deciso.
Van Bellen (2001) discute o problema efetivo de mensurar a
sustentabilidade e que est relacionado utilizao de ferramenta que capture
toda a complexidade do desenvolvimento, sem reduzir a significncia de cada
um dos componentes do sistema.
A efetividade de polticas e aes visando o desenvolvimento
sustentvel depende da operacionalizao do conceito de sustentabilidade, e
de estabelecimento de suporte para avaliar avanos em direo aos objetivos
da sustentabilidade. Conforme pesquisa realizada por Siena (2002), a
avaliao da sustentabilidade do desenvolvimento do Estado de Rondnia
apontou graves problemas nos diferentes indicadores, aspectos e dimenses,
desde participao feminina no processo poltico at acesso a rede de gua e
esgoto sanitrio, passando por conhecimento e cultura, investimentos em
pesquisa e desenvolvimento, degradao e desigualdade de renda. Pelos
resultados da avaliao e de acordo com a abordagem adotada, o
desenvolvimento do Estado de Rondnia est localizado numa faixa de quase
insustentvel.
Rossetto (2003) prope um Sistema Integrado de Gesto do Ambiente