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Prova de Filosofia da Linguagem Resumo O presente trabalho tem por objetivo analisar a tese da indeterminação da tradução, formulada pelo filósofo W. V. Quine, passando por sua crítica a semântica internalista, a explanação de seu posicionamento externalista, o célebre exemplo do “gavagai” e a tese da enescrutabilidade da referência. Crítica a uma semântica internalista Quine formula a sua tese da indeterminação da tradução ao objetivo de combater os defensores de uma semântica mentalista (chamados de internalistas ), ideia segundo a qual o significado de uma palavra é uma entidade alojada na mente do falante. Para explicar este posicionamento, Quine elabora a imagem do “mito do museu” como paradigma da semântica não crítica , no qual as “coisas expostas são significados e as palavras são etiquetas” colocadas sobre estas coisas, mudar de linguagem, traduzir, para eles, seria mudar a etiqueta destas coisas. Os significados seriam, então, entidades mentais , semelhantes às ideias platônicas, sendo, portanto, entidades determinadas. Posicionamento Naturalista de Quine Para Quine a linguagem é uma “arte social” que é adquirida através do comportamento aberto das outras pessoas em circunstâncias publicamente reconhecíveis, rejeitando-se assim, como consequência, qualquer sentido útil de uma linguagem privada. Quine situa-se entre os externalistas por tomar os significados como coisas do mundo e a linguagem como sendo fundada pelas evidências sensórias. Ao rejeitar o posicionamento da semântica mentalista por um posicionamento naturalista , elaborando a tese do significado de estímulo, ele não abandona apenas a imagem do discurso como museu, renuncia-se também a garantia da determinação dos significados, enquanto entidades que existem na mente, o significado só existe, para os naturalistas, enquanto propriedade do comportamento. Quine nos dá o exemplo da tentativa de descobrir os significados das palavras de um nativo, supõe-se que os significados das palavras estão determinados na mente do nativo, mesmo quando se atribui importância a sua análise comportamental. Numa perspectiva naturalista não há significado algum, nem semelhança nem distinção de significado, além dos que estão implícitos nas disposições das pessoas do comportamento aberto .

Texto - Fil. Da Ling. - Quine

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Filosofia Analítica - Quine

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Prova de Filosofia da Linguagem

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar a tese da indeterminação da tradução,

formulada pelo filósofo W. V. Quine, passando por sua crítica a semântica internalista,

a explanação de seu posicionamento externalista, o célebre exemplo do “gavagai” e a

tese da enescrutabilidade da referência.

Crítica a uma semântica internalista

Quine formula a sua tese da indeterminação da tradução ao objetivo de combater

os defensores de uma semântica mentalista (chamados de internalistas), ideia segundo a

qual o significado de uma palavra é uma entidade alojada na mente do falante.

Para explicar este posicionamento, Quine elabora a imagem do “mito do museu”

como paradigma da semântica não crítica, no qual as “coisas expostas são significados e

as palavras são etiquetas” colocadas sobre estas coisas, mudar de linguagem, traduzir,

para eles, seria mudar a etiqueta destas coisas. Os significados seriam, então, entidades

mentais, semelhantes às ideias platônicas, sendo, portanto, entidades determinadas.

Posicionamento Naturalista de Quine

Para Quine a linguagem é uma “arte social” que é adquirida através do

comportamento aberto das outras pessoas em circunstâncias publicamente

reconhecíveis, rejeitando-se assim, como consequência, qualquer sentido útil de uma

linguagem privada. Quine situa-se entre os externalistas por tomar os significados como

coisas do mundo e a linguagem como sendo fundada pelas evidências sensórias.

Ao rejeitar o posicionamento da semântica mentalista por um posicionamento

naturalista, elaborando a tese do significado de estímulo, ele não abandona apenas a

imagem do discurso como museu, renuncia-se também a garantia da determinação dos

significados, enquanto entidades que existem na mente, o significado só existe, para os

naturalistas, enquanto propriedade do comportamento. Quine nos dá o exemplo da

tentativa de descobrir os significados das palavras de um nativo, supõe-se que os

significados das palavras estão determinados na mente do nativo, mesmo quando se

atribui importância a sua análise comportamental. Numa perspectiva naturalista não há

significado algum, nem semelhança nem distinção de significado, além dos que estão

implícitos nas disposições das pessoas do comportamento aberto.

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O exemplo do gavagai e a indeterminação da tradução

Quine utiliza o célebre exemplo do “gavagai” ao analisar a situação em que

precisa-se elaborar uma tradução radical, ou seja, aquela em que a tradução da

linguagem de um povo até então desconhecido. O nativo utilizava o termo “gavagai”,

aparentemente, da maneira que utilizamos o termo coelho, porém Quine defende que

afirmar que os termos correspondem-se seria ilegítimo, posto que “gavagai” poderia

denotar tanto coelho, quanto parte não destacada do coelho ou fase do coelho.

Como coelho é um termo de referência dividida, ele não pode ser dominado sem

que domine o seu princípio de individuação. Como saber onde cessa um “gavagai” e

começa o outro? O que distingue o coelho, parte não destacada do coelho e fases de

coelho é a sua individuação. Neste caso a ostensão ou o simples condicionamento não

dão conta de resolver o problema. Os termos coelho, parte não destacada de coelho e

fase de coelho diferem não apenas em significados, eles são verdadeiramente coisas

diferentes. Então a própria referência se encontra completamente inescrutável, a

referência não pode ser investigada nem pela ostensão repetida.

Portanto, se é impossível determinar a força referencial entre linguagens não

relacionadas e se a tese do significado de estímulo não é suficiente para dar conta

completamente de determinar o significado, então a argumentação acaba levando Quine

a expor sua tese da indeterminação da tradução. Na tentativa de traduzir elaboram-se

manuais de tradução que podem ser diferentes entre si mesmo fazendo referência a um

determinado comportamento, sendo impossível elaborar uma tradução radical.