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Narrativa ]COMUNICAÇÃO LITERÁRIA O que faz do homem aquilo que ele é, um ser distinto de todos os demais seres vivos, é a linguagem, a capacidade de comunicar com os outros homens, partilhando com eles todo o tipo de informação. Pela linguagem o homem é capaz não apenas de comunicar (transmitir e receber informações), mas também, e principalmente, de recolher e tratar dados, elaborando a informação que transmite. Em suma, graças à linguagem, o homem é capaz de pensar e de comunicar. Pensamento e linguagem estão, portanto, indissoluvelmente ligados. Podemos dizer que não há pensamento sem linguagem, nem linguagem sem pensamento.A Literatura é uma forma particular de comunicação, provavelmente tão antiga como o homem. Também aqui encontramos um emissor (autor), um receptor (leitor) e uma mensagem (a obra literária) que circula de um para o outro. Autor --> Texto literário --> Leito r Ao distinguirmos uma variedade específica de comunicação – comunicação literária caracterizada por uma mensagem diferenciada, estamos implicitamente a estabelecer uma oposição entre o texto não literário e o texto literário. Vejamos então de forma sintética quais são esses traços distintivos. Texto não literário Texto literário Linguagem denotativa Tendência para a objectividade Predomínio da função informativa Significante como mero suporte do significado Respeito pela norma linguística Finalidade utilitária Relação de correspondência com o real Linguagem conotativa Tendência para a subjectividade Predomínio da função poética Significante assume valor expressivo Desvio relativamente à norma linguística Finalidade estética Relação de verosimilhança com o real GÉNEROS LITERÁRIOS Dissemos atrás que a literatura, entendida como a busca do prazer estético através da linguagem, é tão antiga como o homem. É uma afirmação arriscada, porque não existem documentos que a comprovem. Dado que a invenção da escrita é relativamente recente na história da humanidade, os registos literários mais antigos têm escassos milhares de anos. Mas sabemos todos que a linguagem oral

Texto narrativo

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Texto narrativo

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Narrativa

Narrativa

]COMUNICAO LITERRIA

O que faz do homem aquilo que ele , um ser distinto de todos os demais seres vivos, a linguagem, a capacidade de comunicar com os outros homens, partilhando com eles todo o tipo de informao. Pela linguagem o homem capaz no apenas de comunicar (transmitir e receber informaes), mas tambm, e principalmente, de recolher e tratar dados, elaborando a informao que transmite. Em suma, graas linguagem, o homem capaz de pensar e de comunicar. Pensamento e linguagem esto, portanto, indissoluvelmente ligados. Podemos dizer que no h pensamento sem linguagem, nem linguagem sem pensamento.A Literatura uma forma particular de comunicao, provavelmente to antiga como o homem. Tambm aqui encontramos um emissor (autor), um receptor (leitor) e uma mensagem (a obra literria) que circula de um para o outro.

Autor--> Texto literrio--> Leitor

Ao distinguirmos uma variedade especfica de comunicao comunicao literria caracterizada por uma mensagem diferenciada, estamos implicitamente a estabelecer uma oposio entre o texto no literrio e o texto literrio. Vejamos ento de forma sinttica quais so esses traos distintivos.

Texto no literrioTexto literrio

Linguagem denotativa

Tendncia para a objectividade

Predomnio da funo informativa

Significante como mero suporte do significado

Respeito pela norma lingustica

Finalidade utilitria

Relao de correspondncia com o real Linguagem conotativa

Tendncia para a subjectividade

Predomnio da funo potica

Significante assume valor expressivo

Desvio relativamente norma lingustica

Finalidade esttica

Relao de verosimilhana com o real

GNEROS LITERRIOS

Dissemos atrs que a literatura, entendida como a busca do prazer esttico atravs da linguagem, to antiga como o homem. uma afirmao arriscada, porque no existem documentos que a comprovem. Dado que a inveno da escrita relativamente recente na histria da humanidade, os registos literrios mais antigos tm escassos milhares de anos. Mas sabemos todos que a linguagem oral precede a escrita e, por isso, no corremos o risco de errar ao afirmarmos que antes de as primeiras narrativas serem registadas pela escrita j existiam contos que os mais velhos transmitiam aos mais novos; antes de a poesia circular em cancioneiros j existiam canes; antes de squilo e Aristfanes escreverem as suas tragdias e comdias j havia certamente representaes por ocasio das festividades.

Tradicionalmente distinguem-se trs gneros literrios: o lrico, o narrativo e o dramtico.As formas narrativas mais frequentes so o romance, a novela e o conto. De forma algo simplista podemos dizer que do romance para o conto h uma progressiva reduo na complexidade da aco, no nmero de personagens, na diversidade de espaos e na durao temporal. Menos frequente, a epopeia uma narrao, geralmente em verso, de acontecimentos grandiosos com interesse universal ou nacional (p. ex. Os Lusadas).

CATEGORIAS DA NARRATIVA

A narrativa, como qualquer outro texto literrio, obedece ao esquema apresentado atrs: pressupe sempre a existncia de um emissor (autor) e de receptores (leitores), enquanto o texto narrativo a mensagem.Mas a narrao tambm ela um acto comunicativo. Encontramos a um emissor (designado narrador), receptores (os narratrios), uma mensagem (o discurso narrativo que recria a histria). Essa histria recriada pelo discurso do narrador contempla uma aco, envolvendo personagens e decorrendo em certos espaos e ao longo de um certo perodo de tempo. Narrador, narratrio, aco, personagens, espao e tempo so as chamadas categorias da narrativa.

Portanto, no gnero narrativo encontramos de facto dois actos comunicativos, estando um encaixado no outro. o que se pretende mostrar com o seguinte esquema:

Autor--> Narrativa Narrador

>

Discurso

>

Narratrio

--> Leitor

Analisemos mais pormenorizadamente cada uma dessas categorias.

Narrador: a entidade responsvel pelo discurso narrativo, atravs do qual uma "histria" contada. O narrador nunca se identifica com o autor: este um ser real, enquanto aquele um ser de fico, uma "personagem de papel" que s existe na narrativa. Pode ser exterior "histria" que narra ou identificar-se com uma das personagens (presena) e s pode contar aquilo de que teve conhecimento (cincia).PresenaNARRADOR PARTICIPANTE

AutodiegticoO narrador identifica-se com a personagem principal. A narrao feita na 1 pessoa.

HomodiegticoO narrador identifica-se com uma personagem secundria. A narrao feita na 1 pessoa.

NARRADOR NO PARTICIPANTE

HeterodiegticoO narrador totalmente alheio aos acontecimentos que narra. A narrao feita na 3 pessoa.

Cincia Focalizao omniscienteO narrador revela um conhecimento absoluto, quer dos acontecimentos, quer das motivaes. capaz de penetrar no ntimo das personagens, revelando os seus pensamentos e as suas emoes.

Focalizao externaO narrador um mero observador, exterior aos acontecimentos. Narra aquilo que pode apreender atravs dos sentidos: descreve os espaos, narra os acontecimentos, mas no penetra no interior das personagens.

Focalizao internaEste tipo de focalizao distingue-se da "focalizao externa, porque o narrador adopta o ponto de vista de uma personagem, narrando os acontecimentos tal como eles foram vistos por essa personagem.

Narratrio

Enquanto a existncia do narrador evidente, a do narratrio menos visvel. que o narrador revela sempre a sua presena, atravs do discurso que elabora (se existe uma narrao, ela da responsabilidade de algum), enquanto o narratrio pode ser explicitamente identificado pelo narrador, ou, o que mais frequente, ter apenas uma existncia implcita. Normalmente, no encontramos ao longo do discurso do narrador nenhuma referncia ao destinatrio do discurso (narratrio), o que leva a que a sua existncia seja frequentemente ignorada. Mas na realidade existe sempre um narratrio, cuja existncia exigida pela prpria existncia do narrador, j que quem narra narra para algum. O narratrio nunca se confunde com o leitor/ouvinte.

Ao- Por ao, entendemos o conjunto de acontecimentos que se desenrolam em determinados espaos e ao longo de um perodo de tempo mais ou menos extenso.Aco principal constituda pelo conjunto das sequncias narrativas que assumem maior relevo.Ao secundria constituda por sequncias narrativas consideradas marginais, relativamente aco principal, embora geralmente se articulem com ela. Permitem caracterizar melhor os contextos sociais, culturais, ideolgicos em que a aco se insere.Sendo a ao um conjunto de sequncias narrativas, existem vrios possibilidades de articulao dessas sequncias.

Encadeamento As sequncias sucedem-se segundo a ordem cronolgica dos acontecimentos:

S1--> S2--> S3--> S4--> Sn

Encaixe Uma aco introduzida no meio de outra, cuja narrao interrompida, para ser retomada mais tarde:

A--> B

--> A

Alternncia Duas ou mais aces vo sendo narradas alternadamente:

A--> B--> A--> B--> A

Personagens

As personagens suportam a aco, visto que atravs delas que a aco se concretiza. Elas vo adquirindo "forma" medida que a narrao evolui, num processo designado por caracterizao.

Caracterizao direta Os traos fsicos e/ou psicolgicos da personagem so fornecidos explicitamente, quer pela prpria personagem (autocaracterizao), quer pelo narrador ou por outras personagens (heterocaracterizao).

Caracterizao indireta Os traos caractersticos da personagem so deduzidos a partir das suas atitudes e comportamentos. observando as personagens em aco que o leitor constri o seu retrato fsico e psicolgico.

Relevo

Personagem principal(protagonista)Assume um papel central no desenrolar da aco e por isso ocupa maior espao textual.

Personagem secundriaParticipa na aco, sem no entanto desempenhar um papel decisivo.

FiguranteNo tem qualquer participao no desenrolar da aco, cabendo-lhe apenas ajudar a compor um ambiente ou espao social.

Composio

Personagem redonda(modelada) dinmica; possui densidade psicolgica, vida interior, e por isso surpreende o leitor pelo seu comportamento.

Personagem plana(desenhada) esttica; caracteriza-se por possuir um conjunto limitado de traos que se mantm inalterados ao longo da narrao. Frequentemente assume a forma de personagem-tipo, na medida em que representa determinado grupo social ou profissional.

Personagem coletivaRepresenta um conjunto de indivduos, que age como se fosse movido por uma vontade nica.

Espao

Espao fsico o espao real, exterior ou interior, onde as personagens se movem.

Espao socialDesigna o ambiente social em que as personagens se integram. A caracterizao deste espao feita principalmente pelo recurso aos figurantes.

Espao psicolgico o espao interior da personagem, o conjunto das suas vivncias, emoes e pensamentos.

Tempo

Tempo da histria(cronolgico)Aquele ao longo do qual decorrem os acontecimentos narrados.

Tempo do discursoResulta do modo como o narrador trata o tempo da histria. O narrador pode respeitar a ordem cronolgica ou alter-la, recuando no tempo (analepse) ou antecipando acontecimentos posteriores (prolepse). Pode ainda narrar ao ritmo dos acontecimentos, recorrendo ao dilogo (isocronia), fazer uma narrao abreviada (resumo ou sumrio), ou at omitir alguns acontecimentos (elipse).

Tempo psicolgico de natureza subjectiva; designa o modo como a personagem sente o fluir do tempo.