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INTRODUÇÃO A REALIDADE DO PADRE NO BRASIL QUE PADRE? “Vida e o Ministério dos Presbíteros” CNBB-2010 Nos últimos dois anos foram feitas duas pesquisas entre os sacerdotes: uma sobre a realização humano-afetiva do presbítero católico em seu ministério (coordenada por Pe. Edênio Valle); e outra sobre o perfil do presbítero brasileiro, conduzida pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS). De todos os abundantes dados resultantes das pesquisas, a mídia se concentrou quase exclusivamente, e com grande evidência, sobre a resposta a uma pergunta do CERIS a respeito do envolvimento afetivo dos padres com mulheres, que teve 41% de respostas afirmativas. A interpretação da imprensa foi no sentido de uma experiência sexual dos padres. Diante da ressonância negativa deste tipo de divulgação na opinião pública, a CNBB achou oportuno divulgar uma nota, que reproduzo em parte: “A afirmação da pesquisa, ‘O senhor, na condição de padre, nunca se envolveu afetivamente com uma mulher?’, é ambígua e oferece a possibilidade a respostas de peso diverso. De fato, ‘envolvimento afetivo’ inclui um vasto leque de empenho nos afetos humanos, e não apenas a relação sexual. Portanto, é indevido afirmar que 41% dos padres tiveram ‘relações sexuais com mulheres’. Se fosse verdade que, em algum momento da vida, 41% dos sacerdotes tiveram alguma fraqueza ou queda no campo da castidade, isto ainda não poderia ser Na abertura da Assembléia, Dom Orani João Tempesta e Dom Odilo Pedro Scherer; ao fundo, cartaz do Projeto Nacional de Evangelização

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INTRODUÇÃO

A REALIDADE DO PADRE NO BRASIL

QUE PADRE?

“Vida e o Ministério dos Presbíteros”CNBB-2010

Nos últimos dois anos foram feitas duas pesquisas entre os sacerdotes: uma sobre a realização humano-afetiva do presbítero católico em seu ministério (coordenada por Pe. Edênio Valle); e outra sobre o perfil do presbítero brasileiro, conduzida pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS). De todos os abundantes dados resultantes das pesquisas, a mídia se concentrou quase exclusivamente, e com grande evidência, sobre a resposta a uma pergunta do CERIS a respeito do envolvimento afetivo dos padres com mulheres, que teve 41% de respostas afirmativas.

A interpretação da imprensa foi no sentido de uma experiência sexual dos padres. Diante da ressonância negativa deste tipo de divulgação na opinião pública, a CNBB achou oportuno divulgar uma nota, que reproduzo em parte: “A afirmação da pesquisa, ‘O senhor, na condição de padre, nunca se envolveu afetivamente com uma mulher?’, é ambígua e oferece a possibilidade a respostas de peso diverso. De fato, ‘envolvimento afetivo’ inclui um vasto leque de empenho nos afetos humanos, e não apenas a relação sexual.

Portanto, é indevido afirmar que 41% dos padres tiveram ‘relações sexuais com mulheres’. Se fosse verdade que, em algum momento da vida, 41% dos sacerdotes tiveram alguma fraqueza ou queda no campo da castidade, isto ainda não poderia ser interpretado como situação estável de infidelidade ao dever do celibato [...] Por outro lado, é interessante notar que a mesma pesquisa do CERIS mostrou que a quase totalidade dos sacerdotes (94%) sente-se feliz com sua escolha e não hesitaria em optar novamente pelo sacerdócio, como estado de vida. Isso seria inexplicável se eles levassem uma vida dupla, que é sempre fonte de desgaste, estresse, desajuste e falta de alegria de viver e seria impensável a disposição em optar novamente pelo ministério presbiteral, como caminho de vida”.

VÁRIOS MODELOS

A reflexão dos bispos em Itaici foi bem mais ampla do que este aspecto, embora

importante, da maturidade afetiva dos padres. Ela abrangeu a espiritualidade e a

Na abertura da Assembléia, Dom Orani João Tempesta e Dom Odilo Pedro Scherer; ao fundo, cartaz do Projeto Nacional de Evangelização

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fraternidade sacerdotal, o ministério sacerdotal dentro da realidade brasileira atual, a dimensão humano-afetiva e sexual. Tudo foi tratado com amor e carinho por parte dos bispos, que consideram os padres seus colaboradores, co-responsáveis e amigos.

Dizia-me um deles ter ficado muito impressionado com o amor dos bispos pelos seus sacerdotes e, ao mesmo tempo, ter percebido que essa reflexão os levou a um amor ainda maior para com eles, no sentido de redescobrir a exigência de relacionamentos verdadeiros, com uma aproximação de amizade e diálogo aberto, sincero, feito de carinho e, quando necessário, de decisão. Tempo atrás, havia praticamente um único modelo de sacerdote, identificado com o ministério paroquial. Agora os modelos se tornaram vários, no mundo.

PARA O BRASIL, PE. ALBERTO ANTONIAZZI DESCREVE APROXIMADAMENTE OS SEGUINTES:

“PADRE-PASTOR”, que se dedica com muita generosidade ao serviço da comunidade (muitas vezes podem ser 5, 20, 30, 40, às vezes até 80 ou 100 comunidades!). Freqüentemente, sobretudo se é pároco, ele é sobrecarregado por múltiplas tarefas, nem todas de sua competência, mas impostas ou solicitadas pelo bem da comunidade: celebrações de sacramentos, atendimentos pessoais, atividades sociais...

“PADRE LIGHT” (definição de Pe. Edênio Valle), que divide o tempo entre o ministério e a própria vida particular, com amplos momentos fora da paróquia e disponibilidade limitada a poucos horários.

“PADRE MIDIÁTICO-CARISMÁTICO”, que ocupa espaço na mídia, sobretudo na TV. Apresenta um tipo de linguagem e de culto marcados por alta intensidade emocional. Tem bastante influência sobre os fiéis, que passam a cobrar dos outros sacerdotes a mesma maneira de celebrar e de se comunicar. Também os seminaristas são induzidos a imitá-lo, sonhando um sacerdócio conforme esse padrão.

“PADRE TRADICIONAL”, que se inspira no exercício do sacerdócio anterior ao Concílio Vaticano II. Tenta recuperar formas exteriores do passado, na vida pessoal e no ministério.

“PADRE ESPECIALISTA” em campos da teologia e da pastoral (professor, pesquisador). Presta um serviço precioso à Igreja. Porém, não são raros os casos em que sua especialização é, para ele, mais importante que a espiritualidade e o ministério sacerdotal, com pouca disponibilidade para o serviço pastoral.

VIDA EM COMUNHÃO

O sacerdote se encontra atualmente diante de grandes desafios provocados pelas mudanças rápidas e radicais da nossa sociedade. Uma constatação comum é que os padres estão cansados, estressados: isso depende da sobrecarga de atividades diferentes, como notamos, mas também dos problemas novos que devem enfrentar e para os quais não se sentem preparados em nível intelectual, social, psicológico.

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Basta pensar nos problemas dos divorciados, da bioética, da moral sexual, da pastoral nas cidades, da pressão dos movimentos religiosos fundamentalistas (as “seitas”), da globalização, da modernidade em geral, etc. Em Itaici, os bispos optaram por não publicar um documento sobre o tema, mas dirigiram uma carta aos sacerdotes, “Queridos irmãos presbíteros”, para indicar que quiseram, em primeiro lugar, expressar seu amor pessoal para eles.

Na carta, os bispos apontam o Cristo Bom Pastor para os padres. O Bom Pastor como modelo de sua vida e de seu ministério pastoral, chamando-os a representá-lo em si mesmos. O caminho é a vivência da Palavra, que deve preceder a pregação e deve levá-los a se doar totalmente aos irmãos. Os bispos realçam, gratos, a fidelidade de muitos sacerdotes à própria vocação e sua generosa dedicação ao apostolado.

Ao mesmo tempo, não escondem falhas a serem corrigidas: excesso de ativismo, dificuldade no relacionamento com o povo e com os colegas padres, pouco cultivo da espiritualidade, intransigência e autoritarismo, aburguesamento, pouca valorização dos leigos, arrefecimento da opção preferencial pelos pobres. Para isso, os padres são encorajados ao engajamento na sociedade, de modo especial nas pastorais sociais. A nem sempre pacífica fidelidade ao ideal do celibato é inserida no contexto de relações humanas de amizade e fraternidade e enraizada num grande amor, vivo e pessoal, por Jesus Cristo.

É justamente esta dimensão de comunhão que perpassa toda a carta, fazendo eco à intuição profética do papa, que, no início do terceiro milênio, indicou à Igreja o caminho de uma espiritualidade de comunhão. É na fraternidade (entre si, com os leigos e leigas e com o bispo) que os sacerdotes poderão realizar plenamente sua vocação, sob todos os aspectos: o afetivo, porque os relacionamentos sadios de amizade ajudam a construir a maturidade humana; o espiritual, porque uma autêntica espiritualidade evangélica não é individualista, e sim comunitária; o pastoral, porque, juntos (com os leigos e leigas) os sacerdotes podem resolver melhor os problemas, ler os “sinais dos tempos” e valorizar a diversidade na comunhão. Em Itaici, a CNBB também lançou o Projeto Nacional de Evangelização (“Queremos ver Jesus”), que se propõe a ser um grande mutirão missionário pelo Brasil afora. Mas, para que não seja apenas um sonho, faz-se mister contar com sacerdotes plenamente realizados.

"... a mídia se concentrou quase exclusivamente, e com grande evidência,

sobre a resposta a uma pergunta do CERISa respeito do envolvimento afetivo dospadres com mulheres, que teve 41%

de respostas afirmativas"

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TEXTO 01 - A VOCAÇÃO

VOCAÇÃO À LUZ DE APARECIDA.

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Ecumênico Vaticano II, recorda, em seu número 5, o Chamado, portanto, a vocação universal à santidade; pela graça do Batismo, quando somos incorporados na Igreja, recebemos as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e somos constituídos o novo Povo de Deus, ou seja, Povo de Sacerdotes, Profetas e Reis. Na Igreja existem duas condições pessoais dentro das quais se pode

responder à vocação: a condição clerical e a condição laical, e dentro dessas duas condições pode-se também viver o estado religioso, que é o daqueles que professam os Conselhos Evangélicos de pobreza, castidade e obediência.

O Documento de Aparecida, fruto da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, trata as duas condições, especificando o modo de viver a vocação de Discípulos-Missionários em cada um dos três graus do Sacramento da Ordem, na condição laical e no estado religioso.

O Documento de Aparecida possui uma página de ouro no capítulo quinto, dedicado à comunhão, onde afirma que na Igreja todos somos discípulos missionários. Tanto o Bispo como o presbítero, o diácono, o leigo, o consagrado e a consagrada, todos vamos no caminho do seguimento de Jesus Cristo.

Então, qual é a diferença? Aparecida o diz no subtítulo 5.3: “Discípulos missionários com vocações específicas”. Assim, o Bispo é missionário de Jesus, Sumo sacerdote; o presbítero, de Jesus Bom Pastor; o diácono, de Jesus Servidor; os leigos e leigas, de Jesus Luz do Mundo; e os consagrados e consagradas, de Jesus Testemunho do Pai. Todos somos discípulos-missionários!

“Os leigos também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais, sob a guia de seus pastores. Estes estarão dispostos a abrir para eles espaços de participação e confiar-lhes ministérios e responsabilidades em uma Igreja onde todos vivam de maneira responsável seu compromisso cristão. Aos catequistas, ministros da Palavra e animadores de comunidades que cumprem magnífica tarefa dentro da Igreja, os reconhecemos e animamos a continuarem o compromisso que adquiriram no Batismo e na Confirmação” (DAp 211).

O Diácono, além do seu serviço habitual na vida paroquial e diocesana, teria uma diversidade de desafios, como o acompanhamento na criação e na formação de novas comunidades eclesiais; no fortalecimento de uma comunhão entre os diáconos e com os

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presbíteros; o ministério ao lado dos mais necessitados e excluídos da sociedade; o apostolado familiar e a colaboração na renovação das Pastorais Sociais.

O Papa Bento XVI assim se expressou com relação aos presbíteros: “Os primeiros promotores do discipulado e da missão são aqueles que foram chamados “para estar com Jesus e ser enviados a pregar” (cf. Mc 3,14), ou seja, os sacerdotes. Eles devem receber de modo preferencial a atenção e o cuidado paterno dos seus Bispos, pois são os primeiros agentes de uma autêntica renovação da vida cristã no povo de Deus. A eles quero dirigir uma palavra de afeto paterno desejando “que o Senhor seja parte da sua herança e do seu cálice” (cf. Sl 16,5). Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e o centro de sua vida, então experimentará a alegria e a fecundidade da sua vocação. O sacerdote deve ser antes de tudo um “homem de Deus” (1Tm 6,11); um homem que conhece a Deus “em primeira mão”, que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os “sentimentos de Jesus” (cf. Fl 2,5). Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus – o Deus encarnado em Jesus Cristo – aos homens, e de ser representante do seu amor.

Falar de discipulado-missão, é falar da centralidade e da dimensão constitutiva da Igreja. Ontem, como hoje, Jesus segue chamando e enviando; e o seguimento é a atitude básica que se pode viver em diferentes formas na comunidade eclesial. Hoje, mais que em outros tempos, esse seguimento implica um estilo novo de vida no meio da sociedade. O Papa nos disse que “Discipulado e missão são como as duas faces de uma mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva (Hb 4,12). Com efeito, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (DAp 146).

Com a consciência de pastores, fizemos esta pergunta em Aparecida: Como nós, Bispos, vivemos esta dimensão de ser discípulos missionários? A esse respeito vêm à memória as palavras de Agostinho de Hipona: “Lembra-te que estás mais acima não porque sejas o primeiro. Mas, à frente, como o dono da vinha que constrói uma torre para poder ver melhor a vinha… Lembra-te que és servo dos servos de Deus”.

Também a vida religiosa é um dom do Pai, por meio do Espírito Santo, à Igreja; é um caminho especial do seguimento de Jesus; está convocada a ser discípula, missionária e servidora do mundo; é testemunho de que somente Deus basta para chegar à vida de sentido e de alegria. Essas são algumas das belas expressões que utilizaram os Bispos latino-americanos e caribenhos para se referir à vida consagrada.

No campo da missão, as consagrada e consagrados estão chamados a fazer um anúncio explícito do Evangelho, especialmente aos mais pobres, em seus lugares de presença, em sua vida fraterna e em suas obras. Também estão chamados a colaborar, a partir de seus carismas fundacionais, na gestação de uma nova geração de discípulos missionários e de uma nova sociedade onde se respeite a justiça e a dignidade da pessoa humana. E, por último, está chamada a ser experta em comunhão, tanto no interior da Igreja como na sociedade.

Na riqueza de vocações na Igreja, leigos, diáconos, presbíteros, bispos, consagrados, quero ressaltar que a maior, primeira e mais sublime vocação é a santidade. Sem a santidade de vida e de estado nossa pregação é nula. Refeitos por um compromisso de anunciar o Evangelho,

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na vida própria de cada um, busquemos sempre novas formas para viver e dar testemunho da santidade, iluminando nossa vida com a nossa palavra e o nosso exemplo.

TEXTO 2 – A FORMAÇÃO

A FORMAÇÃO DO SACERDOTE PARA O COMPROMISSO EVANGELIZADOR

Na carta de apresentação do Documento de Aparecida (DA), o Santo Padre Bento XVI elogia as palavras do documento “que expressam o desejo de reforçar a formação cristã dos fiéis em geral e dos agentes de pastoral em particular”. É um tema recorrente no documento que aparece citado muitas vezes com múltiplas referências, mas que tem um desenvolvimento especial nos números 276 a 346. Basta dar uma olhada

nos índices temáticos gerais para perceber que a formação é uma prioridade nas conclusões da Conferência de Aparecida.

A formação dos sacerdotes para o compromisso evangelizador é absolutamente necessária em nossa Igreja e está em plena relação com o discipulado e a missão. “Ser discípulo de Cristo é um caminho de educação para nosso verdadeiro ser, para a forma correta de ser homens” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, aos 21.12.2007).

Como devemos considerar esta formação? É somente uma assimilação de conhecimentos? Que características deve ter?

Como falamos de formação no contexto do discipulado e da missão, estamos nos referindo a uma autêntica “transformação em Cristo” (DA 351), a um processo no qual o sacerdote busca identificar-se com Cristo, com seu ideal de vida e, realizando em si essa transformação, busca compartilhá-la com os demais. O sacerdote se forma segundo o modelo de Cristo para que a transformação ontológica em Cristo, que se produz nele por meio da ordenação, se reflita em seu agir, em seu modo de pensar, em sua vontade.

Esta formação é um trabalho contínuo de autoformação. Cada sacerdote deve viver numa constante formação, deve formar-se a si mesmo tratando de modelar Cristo em sua pessoa. A formação é um processo pelo qual o discípulo busca reproduzir em sua vida o modelo de Cristo, o ideal do sacerdote. É o discípulo que tem o dever e o compromisso de seguir o Mestre movido por uma convicção pessoal.

O seguimento de Cristo não é só “um caminhar atrás” d’Ele, mas sim um esforço constante de assimilação do Mestre, de fazer-se “outro Cristo”, de identificar-se com Jesus em seu querer, em seu pensar, em seu agir, em seus sentimentos. É aprender d’Ele a ser sacerdote, é modelar o próprio coração conforme o de Cristo que nos disse: “aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). É aprender d’Ele.

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Às vezes, nesta autotransformação do discípulo, o que conta não é o esforço pessoal, nem sequer os métodos de formação, senão a clareza com a qual se percebe o modelo, o ideal formativo. Estamos então diante de um problema de identidade: muitas vezes, o discípulo segue uma imagem deformada de Jesus. A formação do sacerdote evangelizador só será eficaz se ele procura identificar-se com um Cristo verdadeiro, sem deformações.

Jesus não é uma pessoa do passado, mas de hoje, que além disso enviou o Espírito Santo e deixou uma estrutura visível na Igreja, guiada pelo seu Vigário, para que continue sua obra. Cristo quis agir com mediações humanas e quer que nós, seus sacerdotes, sejamos os que impulsionemos hoje, agora, os seus discípulos a formar-se para imitar Cristo em suas vidas, para plasmar em todo seu ser a identidade de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, suas virtudes, seus sentimentos, sua hierarquia de valores, seu modo de relacionar-se com Deus, com os homens e com o mundo. Para que o sacerdote seja de verdade evangelizador, tem que se formar na escola de Cristo. Só assim poderá ser um bom formador para seus irmãos e levá-los ao ideal que nos determina o Senhor.

A formação do discípulo para a missão é necessariamente uma formação dentro da Igreja, tal qual Jesus a quis, com sua hierarquia, com sua doutrina, com seus sacramentos, com seu modo de rezar, com suas normas de vida. O Senhor Jesus, único Salvador, não estabeleceu apenas uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico: Ele mesmo está na Igreja e a Igreja está n’Ele. Por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, inseparavelmente unida a seu Senhor. Jesus Cristo, com efeito, continua sua presença e sua obra de salvação na Igreja e através da Igreja, que é seu corpo. E assim como a cabeça e os membros de um corpo vivo, ainda que não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo e a Igreja não se confundem, mas também não se separam, pois se constituem um único “Cristo total”.

FORMAÇÃO

formação para a missão deve ser permanente, sobretudo naqueles que estão mais envolvidos na missão, como os sacerdotes e os religiosos. Ao mesmo tempo, também deve ser integral, abrangendo toda a pessoa humana, em todas as suas dimensões (DA 279; 299). Neste sentido, o DA considera quatro áreas de formação: espiritual, humana, pastoral e doutrinal (DA 194; 207; 212; 280; PDV 72).

FORMAÇÃO ESPIRITUAL

O DA apresenta umas linhas muito claras para a formação espiritual, especialmente a partir do número 129. Ele parte da vocação à santidade e segue com a configuração com Cristo que está na base da santidade, assim como a ação do Espírito Santo que, através dos sacramentos, nos ilumina e vivifica (DA 153).

A FORMAÇÃO ESPIRITUAL é o alicerce sobre o qual se assenta toda a formação do discípulo. Infelizmente, na América Latina temos que constatar algumas deformações sobre a formação espiritual. Às vezes ela se apresenta somente como uma espiritualidade horizontal, subjetivista. Outras vezes se acentua a espiritualidade da procura, que prescinde da Revelação e prefere explorar a psicologia, os fenômenos culturais emergentes ou uma vaga consideração da ação do Espírito.

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Se o homem de hoje procura novas ‘espiritualidades’ holísticas, ecléticas e seculares, pseudocientíficas, cibernéticas, parapsicológicas e psicotrópicas, mescladas com religiões orientais ou autóctones, nós temos que fazer um exame de consciência e perguntar-nos se não influi decisivamente nessas novas buscas o triste fato de que não temos sido capazes de oferecer-lhe o que verdadeiramente pode preencher sua alma.

Para buscar uma verdadeira formação espiritual temos que recordar que, na origem da fé e da espiritualidade católica, não está o homem que procura Deus, mas o Deus que se revela. É verdade que o homem é capaz de Deus e por isso pode buscá-lo, mas não é menos verdade que Deus se revela e o cume desta revelação é Jesus Cristo. A Bíblia não expressa a experiência religiosa do homem que busca Deus, mas sim o Mistério de amor de um Deus transcendente que intervém neste mundo, que se revela aos homens, que estabelece uma aliança de amor com eles, que se encarna e os redime por amor. É verdade que há outras religiões com uma espiritualidade de procura, porém a católica não é uma espiritualidade de busca, mas de acolhida, de resposta.

O centro da espiritualidade cristã é Cristo; é viver no amor de correspondência a Ele: “vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). A espiritualidade cristã nos leva a afirmar como Paulo: “Minha vida é Cristo” (Fl 1,21) e “sei em quem coloquei minha fé” (2 Tm 1,12). Ela se fundamenta numa relação pessoal com Deus em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A espiritualidade sacerdotal tem como base a espiritualidade cristã e busca uma união mais completa e total com Cristo, uma identificação plena com Ele, uma intimidade total com Ele. O sacerdote, por sua formação espiritual, busca Cristo e, ao mesmo tempo, procura ser e agir como Cristo, Bom Pastor, Cabeça da Igreja.

“Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e centro de sua vida, então experimentará a alegria e a fecundidade de sua vocação. O sacerdote deve ser antes de tudo ‘um homem de Deus’ (1 Tm 6,11), um homem que conhece a Deus em primeira mão, que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os sentimentos de Jesus. Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus – o Deus encarnado em Jesus Cristo – aos homens, e de ser representante do seu amor. Para cumprir sua altíssima missão, o sacerdote deve possuir uma sólida estrutura espiritual e viver toda a sua existência animado pela fé, a esperança e a caridade. Ele tem de ser, como Jesus, um homem que procure, através da oração, o rosto e a vontade de Deus, cultivando igualmente sua preparação cultural e intelectual” (Bento XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida, aos 13.05.2007). Por isso, a formação do sacerdote deve chegar aos “aspectos vitais e afetivos, ao celibato e a uma vida espiritual intensa fundada na caridade pastoral, que se nutre na experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos”. O sacerdote deve valorizar o celibato como um dom de Deus “que lhe possibilita uma especial configuração com o estilo de vida do próprio Cristo e o faz sinal de sua caridade pastoral na entrega a Deus e aos homens com coração pleno e indiviso” (DA 195-196).

A FORMAÇÃO ESPIRITUAL PERMANENTE implica um caminho de contínua conversão à santidade. João Paulo II considerava a santidade como “a perspectiva na qual deve situar-se o caminho pastoral”. A santidade é viver a vontade de Deus por amor e no amor. “A santidade não consiste numa determinada prática. Consiste numa disposição do coração que nos torna humildes e pequenos nos braços de Deus, conscientes de nossa debilidade e confiantes até a audácia em sua bondade de Pai”; “se o Batismo é um verdadeiro

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ingresso na santidade de Deus por meio da inserção em Cristo e da habitação de seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial” (João Paulo II, Novo Millennio ineunte 31). Estas palavras de João Paulo II foram dirigidas a todos os cristãos, desde os bispos até o recém-batizado; mas cada um as vive a partir de sua própria responsabilidade, de sua própria situação, em sua vocação pessoal e comunitária. Por causa do nosso ministério, é nosso dever de sacerdotes guiar os fiéis neste caminho que, antes de tudo, deve basear-se na vida de oração e na vivência dos sacramentos e da moral cristã. Os sacerdotes “são os primeiros agentes de uma autêntica renovação da vida cristã no povo de Deus” (Bento XVI, Discurso Inaugural); são, por assim dizer, os guias de seus irmãos no amor a Deus sobre todas as coisas e no amor ao próximo seguindo o exemplo do Senhor.

Espiritualidade - É uma ação importante para ser cristão, é algo muito simples, mas absolutamente fundamental para o cristão. Indica concretamente o estar sob a ação do Espírito, ou seja, do Espírito Santo que nos é envidado da parte de deus Pai e de seu Filho, Jesus Cristo. Ele nos faz conhecer o Pai e s3eu plano de amor para conosco, através de pessoa e obra salvifica de Jesus. Trata-se de um conhecer no sentido bíblico: ou seja, uma vivencia concreta da verdade salvifica, que se torna luz e vida para a pessoa humana.

A espiritualidade Cristã - Na sua essência é sempre trinitária: refere-se ao Pai. Fonte e destino de todo bem; ao filho, o Deus encarnado, que na sua pessoa histórica nos revela ao desígnios de salvação do Pai, ao espírito santo, a terceira pessoa divina, que faz com que a obra redentora de Cristo se torne uma realidade viva e atual na nossa existência.

A Espiritualidade – Diz diretamente respeito à vivencia cristã no interior da Comunidade eclesial; o critério de uma autentica espiritualidade cristã nunca é primeiramente uma devoção pessoal, sentimentos religiosos ou praticas de perfeição moral, mas o seguimento de Jesus, na fidelidade ao Evangelho com a incessante Busca da vontade de Deus

Resumindo, espiritualidade – é fazer com que o Espírito de Jesus impulsione, motive e que nosso ser e agir, e que não nos deixamos conduzir por outro espírito, como, por exemplo, nosso próprios interesses e gostos subjetivos, incapazes de proporcionar luz e vida na nossa existência. Espiritualidade é um estado de consciência da pessoa, não é uma doutrina, é o que nos leva dentro do coração, é o discernimento em ação. É mais do que só viver, é sentir a vida que pulsa em todas as coisas, é respeitar a si mesma, para respeitar o próximo e a natureza.

A ORAÇÃO E OS SACRAMENTOS são o alimento da santidade. A oração nos recorda constante-mente o primado de Cristo e, em relação com Ele, o primado da vida interior e da santidade (NMI 38). O sacerdote evangelizador deve ser um homem de oração que ensina os seus irmãos a rezar e os guia no caminho da oração. Porém a oração por si só não serve se não está unida aos sacramentos, fonte segura da graça divina, e à resposta moral no amor a Deus e aos nossos irmãos.

FORMAÇÃO HUMANA

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A FORMAÇÃO HUMANA pode parecer muitas vezes algo acessório e secundário; no entanto, ela faz parte desse esforço pessoal por modelar Cristo no discípulo. A formação humana abrange as áreas que constituem a base onde se assenta o restante da formação: inteligência, vontade, consciência, paixões, sentimentos, imaginação, memória. É a formação humana que favorece o amadurecimento da personalidade, o equilíbrio no caráter e a aquisição das virtudes que permitem aproximar-se do ideal de Cristo, o homem perfeito. Não se pode descuidar deste aspecto da formação nem no discipulado nem na preparação para a missão.

A FORMAÇÃO HUMANA não pode ignorar a formação específica das paixões e dos sentimentos. O Catecismo da Igreja Católica (nº 1762) nos recorda que as paixões são componentes naturais do psiquismo humano, que asseguram o vínculo entre a vida sensível e a vida do espírito. A formação humana ensina a ordenar as paixões para que colaborem na identificação com Cristo. Guiadas pela vontade, se orientam para o bem e para a busca da santidade. As emoções e os sentimentos podem ser assumidos nas virtudes ou pervertidos nos vícios (CIC 1763-1775).

Através de sua formação humana, o sacerdote busca viver o mandato de São Paulo: “Tende entre vós os mesmos sentimentos de Cristo: o qual, sendo de condição divina, não reteve avidamente o ser igual a Deus. Mas se despojou de si mesmo tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens e aparecendo em sua aparência como homem; e se humilhou a si mesmo, obedecendo até a morte e morte de cruz” (Fl 2,5-8). Este é um magnífico resumo do que deve ser a formação humana do sacerdote, alguém que, seguindo o exemplo de Cristo, se despoja de si mesmo fazendo-se servo e humilhando-se na obediência até a morte de cruz.

FORMAÇÃO PASTORAL

Também neste ponto, e creio que especialmente aqui, deve-se aplicar o princípio de que toda a formação do discípulo e, especialmente toda a formação do sacerdote para a missão, deve tomar Jesus Cristo como modelo. Todo programa de formação pastoral, especialmente se vai dirigido aos presbíteros, deve tomar como modelo Cristo, que é o pastor por excelência.

A FORMAÇÃO PASTORAL É TAMBÉM AUTO-FORMAÇÃO e se dirige não só à preparação direta para a ação pastoral, mas sobretudo à formação de uma sensibilidade pastoral, de um coração pastoral. O cristão, pelo Batismo, foi chamado a ser apóstolo, não só a fazer apostolado. Por isso, temos de construir primeiro as bases do apóstolo no ser, antes que no agir, fazendo calar no coração os mesmos ideais apostólicos que moviam a entrega generosa de Cristo: o amor pela salvação de uma alma, o desejo do bem em tudo, o desejo de construir o Reino de Cristo no mundo começando por si mesmo. No sacerdote, é necessária uma consciência profunda da missão, até chegar a exclamar como São Paulo: “Ai de mim se não pregar o Evangelho” (1 Cor 9,16). Com esta consciência se dá um sentido apostólico a toda a vida do sacerdote. Com ela, as atividades apostólicas serão animadas pelo amor sobrenatural e não se reduzirão a um trabalho social.

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Na formação pastoral não se busca agradar a todo o mundo nem aprender a ser simpático com todos, senão ser eficazes portadores da revelação cristã para o mundo de hoje. A missionariedade não pretende converter a Igreja em um clube de amigos, mas em uma rede de apóstolos, de evangelizadores, que vivem unidos em um corpo e atuam por todo o mundo buscando sempre o bem e a verdade no amor.

A formação pastoral do sacerdote não pode ignorar sua identidade mais profunda. “O sacerdote não pode cair na tentação de se considerar só mero delegado ou apenas representante da comunidade, mas sim um dom para ela, pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo. “Todo Sumo Sacerdote é tirado dentre os homens e colocado para intervir a favor dos homens em tudo o que se refere ao serviço de Deus” (Hb 5,1; DA 193). “O presbítero, à imagem do Bom Pastor, é chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades. A caridade pastoral, fonte da espiritualidade sacerdotal, anima e unifica sua vida e ministério. Consciente de suas limitações, ele valoriza a pastoral orgâ nica e se insere com gosto em seu presbitério” (DA 198).

FORMAÇÃO DOUTRINAL Quantas vezes os melhores agentes de pastoral que temos na diocese, inclusive

sacerdotes, ao participarem de cursos de formação doutrinal, retornam com grandes problemas de fé. Que foi que sucedeu? Houve uma formação doutrinal insuficiente? Não preparamos apologeticamente nossos agentes de pastoral? Foram simplesmente formados ideologicamente? Não é fácil discernir o que ocorreu, mas fica muito claro que a transmissão da fé exige uma fidelidade aos conteúdos da fé, a verdade revelada, e que esta não se adquire por contato. É necessário estudá-la, refleti-la, argumentá-la, aprofundá-la. Por isso, dentro da formação permanente, não se pode descuidar da formação bíblico-doutrinal (DA 226c). Falando da missão, Bento XVI, no discurso inaugural da V Conferência, dizia que “temos que educar o povo na leitura e meditação da Palavra de Deus: que ela se converta em seu alimento para que, por própria experiência, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida. Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem a fundo? Temos de fundamentar nosso compromisso missionário e toda nossa vida na rocha da Palavra de Deus. Para isso, animo os Pastores a esforçar-se em dá-la a conhecer”. Deste modo, o Papa assinalava a formação doutrinal na fidelidade à Revelação cristã como uma condição indispensável para anunciar a Boa Nova. Não se anuncia o que não se conhece.

Para os sacerdotes, hoje, se faz necessária uma rigorosa formação filosófico-teológica, na maior fidelidade ao Magistério e à Tradição da Igreja, uma formação profunda e sistemática, bem estruturada e racional, que não se contenta com a aprendizagem de conceitos e dados soltos.

O presbítero tampouco pode ser um homem que não leve em conta a cultura na qual exerce seu ministério. “O presbítero é chamado a conhecê-la para semear nela a semente do Evangelho, ou seja, para que a mensagem de Jesus chegue a ser uma interpelação válida, compreensível, cheia de esperança e relevante para a vida do homem de hoje, especialmente para os jovens” (DA 194).

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O sacerdote, que quiser viver a fundo seu compromisso evangelizador, não pode descuidar da catequese. Na Igreja do século XXI como na Igreja dos primeiros séculos, a catequese é o meio ordinário para crescer no conhecimento dos mistérios de Deus. O Papa Bento XVI nos dizia que “um grande meio para introduzir o Povo de Deus no mistério de Cristo é a catequese. Nela se transmite de forma simples e substancial a mensagem de Cristo. Convirá portanto intensificar a catequese e a formação na fé, tanto das crianças como dos jovens e adultos. A reflexão madura da fé é luz para o caminho da vida e força para ser testemunhas de Cristo. Para isso se dispõe de instrumentos muito valiosos como o Catecismo da Igreja Católica e sua versão mais breve, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica” (Discurso Inaugural).

“A catequese nunca pode ser só um ensinamento intelectual; sempre deve implicar também uma comunhão de vida com Cristo, um exercitar-se na humildade, na justiça e no amor. Só assim avançamos com Cristo em seu caminho; só assim se abrem os olhos de nosso coração; só assim aprendemos a compreender a Escritura e nos encontramos com Ele. O encontro com Jesus requer escuta, requer a resposta na oração e na prática do que Ele nos ensinou. Conhecer Cristo é conhecer Deus; e só a partir de Deus compreendemos o homem e o mundo, um mundo que do contrário fica como uma questão sem sentido” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, em 21.12.2007).

A formação doutrinal do povo de Deus já não se realiza somente através de homilias, conferências, cursos de Bíblia ou de teologia, mas também com a ajuda dos meios de comunicação: imprensa, rádio e televisão, sites de Internet, foros e tantos sistemas para comunicar eficazmente a mensagem de Cristo a um grande número de pessoas. O compromisso evangelizador deve chegar a todos os meios de comunicação e de diálogo que nos oferece a cultura atual.

Em Aparecida se lançou a Missão Continental, um sinal de esperança para a Igreja do Continente, na qual todos nós fiéis estamos envolvidos. Esta missão não poderá ser levada a cabo sem o compromisso evangelizador dos presbíteros, formados segundo o ideal de Cristo, que vivam em união com Ele e que se identifiquem com Ele em seu querer e em seu agir. São eles os que, na prática, levarão adiante esta missão guiando o povo de Deus que peregrina na América Latina.

A Igreja não pode contentar-se em responder aos novos desafios que se apresentam no mundo da cultura ou nas sociedades de hoje. Ela deve ser propositiva. A missão da Igreja é propor com coragem Cristo. Como a samaritana do Evangelho, temos que transmitir nossa experiência de Cristo como Messias, como Salvador, aos homens e mulheres de hoje. A missão continental é um envio dos discípulos que encontraram o Senhor para que vão propô-lo aos seus irmãos. Os sacerdotes são os primeiros discípulos e, por isso, os primeiros missionários.

Que a Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora de Aparecida, mãe solícita do Brasil e primeira evangelizadora, nos guie nesta missão para levá-la a bom termo!

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TEXTO 3 – O MINISTÉRIO DO PRESBÍTERO

SITUAÇÕES QUE AFETAM E DESAFIAM A VIDA E O MINISTÉRIO DE NOSSOS PRESBÍTEROS

O terceiro desafio se refere aos aspectos vitais e afetivos, ao celibato e a uma vida espiritual intensa fundada na caridade pastoral, que se nutre na experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos; também o cultivo de relações fraternas com o Bispo, com os demais presbíteros da diocese e com os leigos. Para que o ministério do presbítero seja coerente e testemunhal, ele deve amar e realizar sua tarefa pastoral em comunhão com o bispo e com os demais presbíteros da diocese. O ministério sacerdotal que brota da Ordem Sagrada tem

uma “radical forma comunitária” e só pode ser desenvolvido como uma “tarefa coletiva”(Pastores Dabo Vobis, 17). O sacerdote deve ser homem de oração, maduro em sua opção de vida por Deus, fazer uso dos meios de perseverança, como o Sacramento da Confissão, da devoção à Santíssima Virgem, da mortificação e da entrega apaixonada por sua missão pastoral.

A VOCAÇÃO E A IDENTIDADE DO SACERDOTE

João Paulo II nos diz, na Pastores Dabo Vobis, e o Doc. 93 da CNBB (Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil) recorda que “A vocação sacerdotal é um dom de Deus, que constitui certamente um grande bem para aquele que é o seu primeiro destinatário. Mas é também um dom para a Igreja inteira, um bem para a sua vida e missão. (Doc. 93, n. 104). Portanto, ser sacerdote é um privilégio. Não para se sentir “maior” ou “melhor” do que os outros, o mais importante, para ser servido; mas ao contrário, a exemplo de Jesus, é ser um servidor do querido povo de Deus. Ser sacerdote é uma bonita vocação, é um dom de Deus; e quem recebe um dom, recebe também uma tarefa.

1. A IDENTIDADE DO SACERDOTE

Uma primeira reflexão é sobre a identidade sacerdotal. Somos um povo sacerdotal. Por força do batismo todos participamos do sacerdócio comum de Cristo, participamos da sua tríplice missão: sacerdotal, régia e profética. Mas quis o Senhor escolher alguns e colocá-los à frente de seu povo para orientá-lo, conduzi-lo e santificá-lo. Cristo associou os Apóstolos à sua própria missão: “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio a vós” (Jo 20, 21). A configuração a Cristo, mediante a consagração sacramental (ordenação), define o sacerdote no seio do Povo

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de Deus, fazendo-o participar a seu modo no poder santificador, de magistério e pastoral do próprio Jesus Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja.

A identidade sacerdotal nasce da configuração a Cristo daquele que recebe a imposição das mãos do Bispo. Esta configuração é tão íntima que faz o sacerdote um “alter Christus”. “Do ser configurado com Cristo decorre um agir conforme ao de Cristo”. (Doc. 93, n. 50). Assim, o sacerdote encontra a sua “razão de ser” na união vital e operacional da Igreja com Cristo. Nele, o Senhor continua a exercer no seu Povo aquela atividade que só a Ele pertence, enquanto Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja. Pela sua ação o sacerdote torna tangível a ação própria de Cristo. Assim sendo, a identidade do sacerdote deriva desta participação específica no Sacerdócio de Cristo. Portanto, o ordenado se torna, na Igreja e para a Igreja, imagem real, viva e transparente de Cristo Sacerdote. É a representação sacramental de Cristo Cabeça, Pastor e servidor do povo de Deus. É uma responsabilidade muito grande!

2. O QUE SE ESPERA DE UM PADRE?

O nosso povo tem um carinho muito grande pelos seus padres. Espera que ele seja sinal da bênção de Deus. Nós não temos o direito de frustrar esse povo. E mais, temos a obrigação de corresponder ao que ele espera de nós. O nosso povo espera que sejamos amigos na fé e padres segundo o coração de Jesus Cristo. Aquele que foi escolhido para o serviço do povo de Deus, que recebeu a imposição das mãos do Bispo e foi ungido para esta missão, tem o dever especial de ser sinal da santidade. Em que consiste a santidade? Podemos dizer que santidade significa “ter os mesmos sentimentos” de Jesus Cristo: verdadeira paixão pelo Reino, profunda compaixão pelo próximo, sobretudo os mais sofredores. Assim, o padre deve evitar as formas de vida que não estão de acordo com o próprio ministério. O sacerdote é ministro de Cristo e da sua Esposa.Pontos fundamentais a respeito do que se espera de um sacerdote:

QUE SEJA SINAL SACRAMENTAL DA PRESENÇA DE CRISTO: que exerça sua função sacerdotal: tornar presente o Cristo, cabeça do Corpo. Anunciador de Cristo e não de si mesmo;

QUE SEJA HOMEM DA IGREJA E DO POVO: por força da ordenação, o padre não se pertence a si mesmo, mas a Cristo e à Igreja. Através do mistério de Cristo, o sacerdote é inserido também no mistério da Igreja, e torna-se participante de Cristo “Servo e Esposo da Igreja”. O presbítero deve ser fiel à Esposa, tornando operante a multiforme doação de Cristo à sua Igreja. Chamado por um ato de amor, absolutamente gratuito, o sacerdote deve amar a Igreja como Cristo a amou, consagrando a ela todas as suas energias e dando-se com caridade pastoral até dar quotidianamente a sua própria vida. O sacerdote não poder exprimir o seu amor ao Senhor e à Igreja sem traduzi-lo em amor real e incondicionado ao Povo cristão. Sendo homem da Igreja ele é também o homem do povo. O sacerdote deve recordar sempre que o Senhor e Mestre “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10, 45) e que se ajoelhou a lavar os pés dos seus discípulos (cf. Jo 13, 5). Portanto, dará autêntico testemunho do Senhor Ressuscitado se exercer a autoridade gastando-se no humilde serviço.

QUE SEJA O HOMEM DA ORAÇÃO: O sacerdote deve ser profundamente vinculado à oração. Não há fecundidade pastoral sem fecundidade espiritual. Jesus Rezou, alimentou a sua

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experiência de Deus para fortalecer-se no ministério público. Portanto, ao sacerdote é necessário o silêncio e a oração para cultivar e aprofundar a relação existencial com a pessoa divina do Senhor Jesus.

QUE SEJA O HOMEM DA PALAVRA (EDUCADOR DA FÉ): o sacerdote deve encontrar na Palavra de Deus a fonte de sua fidelidade e de sua espiritualidade. Em virtude da ordenação, o padre torna-se mestre da Palavra, ministro dos sacramentos e guia da comunidade. Não convencerá ele, o seu rebanho, da necessidade de nutrir-se da Palavra de Deus se não for ele, por primeiro, um homem que se nutre da Palavra do Senhor.

QUE SEJA O HOMEM DA EUCARISTIA: não existe sacerdócio sem eucaristia. Existe uma conexão íntima entre a centralidade da Eucaristia, a caridade pastoral e a unidade de vida do presbítero. Espera-se do sacerdote que ele seja um homem eucarístico, que ame a eucaristia e que cultive esse amor na vida do povo. “O sacramento da Ordem foi instituído na última ceia com a Eucaristia e em função dela. A Eucaristia ocupa o centro da vida do presbítero, devendo ele celebrá-la a cada dia, conforme recomendou João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia. A Eucaristia é a fonte principal da espiritualidade presbiteral, fundamentando o sentido do ministério do presbítero.” (Doc. 93, n. 51). Ao presidir a eucaristia o sacerdote o faz “in persona Christi”; portanto, se o presbítero empresta a Cristo a inteligência, a vontade, a voz e as mãos para, mediante o seu ministério, poder oferecer ao Pai o sacrifício sacramental da redenção, deverá fazer próprias as disposições do Mestre e viver, como Ele, sendo dom para os seus irmãos;

EUCARISTIA E OS SACERDOTES

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,51).

Vivenciamos ainda a riqueza incomensurável e os inúmeros benefícios que se resultaram da celebração do 16º Congresso Eucarístico Nacional [Tema: “Eucaristia, Pão da Unidade dos Discípulos Missionários”; Lema: “Fica conosco, Senhor!” (cf. Lc 24,29) – Brasília, 13 a 16 de maio de 2010]. De forma toda especial, os sacerdotes, ao celebrarem e ao distribuírem o Pão da Unidade aos seus irmãos e irmãs, são chamados a serem autênticos operários da unidade, fortalecendo o rebanho do Senhor na fé, no amor e na caridade. Neste sentido, são muito significativas duas celebrações que ocorrem neste mês de junho: (1) A Solenidade de Corpus Christi, do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo; (2) O encerramento do Ano Sacerdotal, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Assim se expressa a íntima e essencial ligação que há entre a Eucaristia e os sacerdotes.

Segundo o Documento de Aparecida, a vida e o ministério do sacerdote devem ser centrados “na escuta da Palavra de Deus e na celebração diária da Eucaristia” (n. 191). Realmente, a Eucaristia deve ser o centro da vida e do ministério do sacerdote. Como afirmou recentemente o Papa Bento XVI: “Gostaria de convidar cada sacerdote a celebrar e viver com intensidade a Eucaristia, que está no coração da missão de santificar (...) O sacerdote é chamado a ser ministro deste grande Mistério, no Sacramento e na vida” (Audiência Geral − 05 de maio de 2010).

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Precisamos descobrir cada vez mais o valor da Eucaristia em nossa vida. É o próprio Jesus Cristo que nos assegura: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo” (Jo 6,51). Afirmando a importância da Eucaristia, o Documento de Aparecida cita as seguintes palavras tão profundas de São Alberto Hurtado [padre jesuíta chileno (1901-1952), que se destacou por seu profundo zelo apostólico para com a juventude e os mais pobres, canonizado em 23 de outubro de 2005 pelo Papa Bento XVI]: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada!” (n. 191).

QUE ELA SEJA, EM SEU MINISTÉRIO, O HOMEM DOS “TRÊS LUGARES”: do púlpito (de onde ele distribui o pão da palavra), do altar (de onde ele distribui o pão da Eucaristia) e do confessionário (de onde ele exerce o ministério do perdão). Portanto, assim sendo, com certeza ele ajudará os fieis a crescerem nos ensinamentos de Jesus.Conclusão: Nunca se esqueça de Maria, a Mãe dos sacerdotes. O nosso pai fundador, Dom Orione, nos ensinou isso: “Tudo com Maria; nada sem Maria”. Não se pode ter a Deus como Pai se não tiver Maria por Mãe. Consagre a ela o seu ministério, as suas alegrias e também o seu cansaço, quando ele vier. Ela, com certeza, saberá te consolar como Mãe e intercessora.

TEXTO 4 – SACERDOTE HOJE

SACERDOTES HOJE

No turbilhão das grandes mudanças que afetam profundamente a vida contemporânea, entre as argumentações de defesa da laicidade do estado, ou nas incidências da linguagem do pensamento pluralista das sociedade. Diante de todas essas mudanças, do pluralismo e, particularmente, no centro da questão crucial para a vida humana – o seu sentido, incluindo a compreensão de onde viemos e para onde vamos – a Igreja, profeticamente, recoloca esta

pergunta no seu próprio coração e na pauta dos assuntos que interessam os andamentos da vida do mundo neste momento grave e desafiador de sua história: Sacerdote, porque és?

O ministério sacerdotal é um dom para a Igreja e para o mundo. Urge aprofundar a compreensão das medidas e o alcance do sacerdócio como dom. O padre como dom. E sendo assim, o sacerdote é dádiva de Deus. O Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianey, patrono dos padres, aquele que tocou com o seu ministério, de modo admirável e inesquecível, a vida da França, no seu tempo, afirmava, ‘o sacerdócio é o amor do coração de Jesus’. Agradecido pelo dom do seu sacerdócio, que fez de uma vila sem importância, em razão da excelência de sua vida sacerdotal, o grande centro de referência, batendo, pelas razões da busca de Deus e do sentido para a vida, a imbatível Paris de todos os tempos. Como dom, o sacerdote não é promotor e agente de um tipo de mercado religioso que hoje se multiplica. Embora perdendo forças, nos cenários contemporâneos, com a mercantilização de milagres e curas, arrebanhando incautos e sofridos, amalgamando tudo com uma linguagem que inclui gritarias e uma sensação de manipulação de Deus. Deus é amor. Jesus Cristo é o amor encarnado de Deus. O amor vem de Deus.

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E todo aquele que ama nasceu de Deus – e conhece a Deus. Quem não ama não chegou a conhecer Deus. Pois Deus é amor, ensina o evangelista João na sua primeira carta. Ele continua, ‘foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho Único ao mundo para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados’ (I Jo 4,7-10).

O sacerdote é dom porque o seu ministério sacerdotal, desdobrado em conduta, serviços, vivências e posturas, é manifestação e concretização deste amor. O Padre, homem escolhido entre homens e constituído em favor de todos, é discípulo missionário servidor do povo de Deus. E sustentado pela contínua busca da santidade de vida, é facilitador desse indispensável e inadiável encontro pessoal com o Cristo vivo, levando todos ao reconhecimento e à sabedoria de pautar a sua vida tendo Deus como seu centro e fonte inesgotável do seu sentido. O sacerdote, por isso mesmo, faz anteceder às suas muitas tarefas no labor de cada dia a serviço do povo, anunciando o Evangelho, o cuidado e o compromisso com a condição do seu ser. É a santidade de vida que alavanca, fecunda e torna exitoso o serviço prestado na condição própria de sacerdote.

Um olhar atento e sincero deve ser lançado sobre a presença e vivência sacerdotal neste momento da vida da Igreja e de sua missão no coração do mundo. Não deixando de considerar e tomar providências quantos aos descompassos de vidas e condutas sacerdotais questionáveis, é preciso reconhecer a magnitude, em quantidade e extensão, do serviço de padres na vida de famílias, de pessoas, de grupos, dos pobres, na cultura e na congregação das comunidades de fé. Fazendo deste serviço uma escola de amor, longe do modelo de mercado religioso de milagres e curas.

Um compromisso empenhado para ser e fazer de todos discípulos pela escuta da Palavra de Deus, interpelando vidas e condutas, e pela vivência dos sacramentos como fonte amorosa da graça de Deus que transforma e sustenta. O sacerdote, pois, não é um mero delegado na comunidade, mas um dom para ela, pela unção do Espírito Santo e por sua especial união com Cristo. Na cultura atual, o padre é chamado a conhecê-la profundamente, conduzindo todos, como facilitador, para beber na fonte do mistério do amor de Deus, pela Palavra e pelos Sacramentos. O sacerdote está empenhado no caminho missionário da Igreja como “advogada da justiça e defensora dos pobres”, assim afirma o Papa Bento XVI. O mundo precisa de sacerdotes. A Igreja, no conjunto amplo de sua missão a serviço da vida, orando e refletindo, empenha-se e se compromete com a qualificação permanente dos seus sacerdotes fazendo deles verdadeiro dom na vida do mundo, um servidor indispensável.

SACERDÓCIO É UM DOM, NÃO UM DIREITO

Mensagem do secretário da Congregação para o Clero aos sacerdotes

ORAÇAÕ CONSAGRATÓRIA

A ORDENAÇÃO DOS PRESBÍTEROS – COOPERADORES DOS BISPOS

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1562. «Cristo, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, por meio dos seus Apóstolos tornou os bispos, que são sucessores deles, participantes da sua consagração e missão; e estes, por sua vez, transmitem legitimamente o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos na Igreja» (43). O seu cargo ministerial foi transmitido em grau subordinado aos presbíteros, para que, constituídos na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores da Ordem episcopal para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo» (44).1563. «O ofício dos presbíteros, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo. Por isso, o sacerdócio dos presbíteros, embora pressuponha os sacramentos da iniciação cristã, é conferido mediante um sacramento especial, em virtude do qual os presbíteros, mediante a unção do Espírito Santo, ficam assinalados com um carácter particular e, dessa maneira, configurados a Cristo-Sacerdote, de tal modo que possam agir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça» (45).

1564. «Os presbíteros, embora não possuam o pontificado supremo e dependam dos bispos no exercício do próprio poder, todavia estão-lhes unidos na honra do sacerdócio; e, por virtude do sacramento da Ordem, são consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (46), para pregar o Evangelho, ser pastores dos fiéis e celebrar o culto divino como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento (47).

1565. Em virtude do sacramento da Ordem, os sacerdotes participam das dimensões universais da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual que receberam na ordenação prepara-os, não para uma missão limitada e restrita, «mas sim para uma missão de salvação de amplitude universal, "até aos confins da terra"» (48), «dispostos, no seu coração, a pregar o Evangelho em toda a parte» (49).

1566. «É no culto ou sinaxe eucarística que, por excelência exercem o seu múnus sagrado: nela, agindo na pessoa de Cristo e proclamando o seu mistério, unem as preces dos fiéis ao sacrifício da cabeça e, no sacrifício da Missa, tornam presente e aplicam, até à vinda do Senhor, o único sacrifício do Novo Testamento, o de Cristo, o qual de uma vez por todas se ofereceu ao Pai, como hóstia imaculada» (50). É deste sacrifício único que todo o seu ministério sacerdotal tira a própria força (51).

1567. «Cooperadores esclarecidos da Ordem episcopal, sua ajuda e instrumento, chamados para o serviço do povo de Deus, os presbíteros constituem com o seu bispo um único presbyterium com diversas funções. Onde quer que se encontre uma comunidade de fiéis, eles tornam de certo modo, presente o bispo, ao qual estão associados, de ânimo fiel e generoso, e cujos encargos e solicitude assumem, segundo a própria medida, traduzindo-os na prática do cuidado quotidiano dos fiéis» (52). Os presbíteros só podem exercer o seu ministério na dependência do bispo e em comunhão com ele. A promessa de obediência, que fazem ao bispo no momento da ordenação, e o ósculo da paz dado pelo bispo no final da liturgia de ordenação, significam que o bispo os considera seus colaboradores, filhos, irmãos e amigos e que, em contrapartida, eles lhe devem amor e obediência.

1568. «Os presbíteros, elevados pela ordenação à Ordem do presbiterado, estão unidos entre si numa íntima fraternidade sacramental. Especialmente na diocese, a cujo serviço, sob o bispo respectivo, estão consagrados, formam um só presbitério» (53). A unidade do presbitério tem uma expressão litúrgica no costume segundo o qual, durante o rito da ordenação presbiterial, os presbíteros impõem também eles as mãos, depois do bispo.

§1538 A integração em um desses corpos da Igreja era feita por um rito chamado ordinatio, ato religioso e litúrgico que consistia numa consagração, numa bênção ou num sacramento. Hoje a palavra "ordinatio" é reservada ao ato sacramental que integra na ordem

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dos bispos, presbíteros e diáconos e que transcende uma simples eleição, designação, delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um dom do Espírito Santo que permite exercer um "poder sagrado" ("sacra potestas") que só pode vir do próprio Cristo, por meio de sua Igreja. A ordenação também é chamada "consecratio" por ser um pôr à parte, uma investidura, pelo próprio Cristo, para sua Igreja. A imposição das mãos do bispo, com a oração consecratória, constitui o sinal visível desta consagração.

§1556 Para desempenhar sua missão, "os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com especial efusão do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos transmitiram a seus colaboradores, mediante a imposição das mãos, este dom espiritual que chegou até nós pela sagração episcopal"

§1558 "A sagração episcopal, juntamente com o múnus de santificar, confere também os de ensinar e de reger... De fato, mediante a imposição das mãos e as palavras da sagração, é concedida a graça do Espírito Santo e impresso o caráter sagrado, de tal modo que os Bispos, de maneira eminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em seu nome ('in eius persona agant')." "Os Bispos, portanto, pelo Espírito Santo que lhes foi dado, foram constituídos como verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores."

§1573 O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposição das mãos pelo Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o candidato é ordenado.

PRECE DE ORDENAÇÃO

Bispo: Assisti-nos, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, autor da dignidade humana e distribuidor de todas as graças, que dais crescimento e vigor a todas as coisas, e, para formar um povo sacerdotal, estabeleceis, em diversas ordens, os ministros de Jesus Cristo, vosso Filho, pela força do Espírito Santo. Já no Antigo Testamento, ensinais prefigurativos surgiram vários ofício por vós instituídos, de modo que, tendo à frente Moisés e Aarão, para guiar e santificar o vosso povo, lhes destes colaboradores de menor ordem e dignidade. Assim, no deserto, comunicastes a setenta homens prudentes o espírito dado a Moisés que, com o auxílio deles, pôde mais facilmente governar o vosso povo. Do mesmo modo, derramastes copiosamente sobre os filhos de Aarão da plenitude concedida a seu pai, para que o serviço dos sacerdotes segundo a Lei fosse suficiente para os sacrifícios do tabernáculo, que eram sombra dos bens futuros. Na plenitude dos tempos, Pai santo, enviastes ao mundo o vosso Filho, Jesus, Apóstolo e pontífice da nossa fé. Ele, pelo Espírito Santo, a vós se ofereceu na cruz, como hóstia pura, e fez os seus Apóstolos, santificados na verdade, participantes da sua missão; e lhes destes colaboradores para anunciar e consumar em todo o mundo a obra da salvação. Concedei também, agora, à nossa fraqueza, Senhor, este colaborador, de que tanto necessitamos no exercício do sacerdócio apostólico. Nós vos pedimos, Pai todo-poderoso, constituí este vosso servo na dignidade de Presbítero; renovai em seu coração o Espírito de santidade; obtenha, ó Deus, o segundo grau da Ordem sacerdotal, que de vós procede, e sua vida seja exemplo para todos. Seja ele cooperador de nossa Ordem episcopal para que as palavras do Evangelho, caindo nos corações humanos através de sua

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pregação, possam dar muitos frutos e chegar até os confins da terra, com a graça do Espírito Santo. Seja ele juntamente conosco fiel dispensador dos vossos mistérios, de modo que o vosso povo renasça pela água da regeneração, ganhe novas forças do vosso altar, os pecadores sejam reconciliados e os enfermos se reanimem. Que ele esteja sempre unido a nós, Senhor, para implorar a vossa misericórdia em favor do povo a ele confiado e em favor de todo o mundo. Assim, todas as nações, reunidas em Cristo Jesus, se convertam em um só povo, para a consumação do vosso Reino. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

O sacerdócio é um dom de Deus e, portanto, não pode ser exigido como um direito para o Clero.

Guiado por esta oração, Dom Piacenza mostra como “o sacerdócio é essencialmente um dom” de Deus e, portanto, possui “uma dignidade que todos – fiéis, leigos e clero – devem reconhecer”.

“Trata-se de uma dignidade que não provém dos homens, mas que é puro dom da graça, ao qual a pessoa foi chamada e que ninguém pode exigir como um direito.”

“A dignidade do presbiterado, doada pelo Pai todo-poderoso, deve aparecer na vida dos sacerdotes, em sua santidade, em sua humanidade disposta a acolher, em sua humildade e caridade pastoral, na luminosidade da fidelidade ao Evangelho e à doutrina da Igreja, na sobriedade e solenidade das celebrações dos mistérios divinos, no hábito eclesiástico.”

“Todo sacerdote deve recordar – a ele mesmo e ao mundo – que foi objeto de um dom sem merecê-lo e que não se pode merecer, que o converte em presença eficaz do Absoluto no mundo para a salvação dos homens.”

“O sacerdote, revestido do Espírito do Pai todo-poderoso, foi chamado a ‘guiar’, com o ensinamento e a celebração dos sacramentos e, sobretudo, com a própria vida, o caminho de santificação do povo que lhe foi confiado, com a certeza de que é este o único fim pelo qual o próprio presbiterado existe: o Paraíso.”

TEXTO – 5 - ESPIRITUALIDADE MARIANA DO SACERDOTE MINISTRO

1. A MÃE DE CRISTO SACERDOTE.

Quando o sacerdote ministro reflete e vive o tema mariano, redescobre mais profundamente o mistério de Cristo Sacerdote que se prolonga na Igreja, de que o sacerdote participa de modo especial.

Maria gerou, formou e deu à luz Jesus Cristo em toda sua realidade de filho de Deus, cabeça de seu Corpo Místico, Redentor e Sacerdote. Maria é,

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pois Mãe de Deus, Mãe da Igreja, associada a Cristo Redentor, Mãe de Cristo Sacerdote. A maternidade em Maria diz respeito a Cristo em toda a sua realidade. Toda a vida de Maria é de associação a Cristo Sacerdote, Mediador e Redentor.

Esta união de Maria a Cristo Sacerdote se expressa em diversos pontos fundamentais:= aceitação dos planos salvíficos do Pai em sintonia com o sim de Cristo Sacerdote (Hebreus 10, 5-7; Lucas 1,38), = perseverança neste sim durante toda a vida até o sacrifício da cruz, = associação a Cristo Sacerdote e Vítima, Mediador e Redentor, = intercessão como mediação materna participante da única mediação de Cristo Sacerdote.

2. - A MÃE DA IGREJA, POVO SACERDOTAL.

A Igreja é povo sacerdotal (1Pedro 2,5-9) porque nela se anuncia Cristo Sacerdote e porque toda ela participa da realidade sacerdotal do Senhor. Maria é o tipo e a personificação da Igreja.

Se Maria é mãe e modelo da Igreja, povo sacerdotal, o é também por sua associação maternal a Cristo Sacerdote. A realidade sacerdotal de Cristo, que associa a Maria, continua na Igreja.A Igreja exerce sua função sacerdotal anunciando a Cristo (linha profética), celebrando seu sacrifício redentor e salvífico (linha cultual e litúrgica), comunicando-o aos homens (linha hodegenética ou de direção e serviço da caridade).A função sacerdotal da Igreja tem, pois, dimensão mariana: = anunciar a Cristo nascido de Maria, = presencializar a Cristo que associa a Maria, = comunicar a salvação de Cristo que quis e segue querendo a colaboração de Maria.

A Igreja se faz mais virgem e mãe quando na "missão apostólica" imita o "amor materno" de Maria (LG 65). Por isso: = A Igreja, ao contemplar Maria, entra mais na profundidade do mistério da encarnação; = Anunciando e venerando a Maria, atrai os crentes ao seu Filho; = “Em seu trabalho apostólico, se fixa com razão naquela que gerou a Cristo, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem, para que também nasça e cresça por meio da Igreja nas almas dos fiéis” (LG 65).

3. - A MÃE DO SACERDOTE MINISTRO.

Maria vê em cada sacerdote um “Jesus vivente” (São João Eudes). A realidade sacerdotal da Igreja, que é também realidade materna, se atualiza principalmente por meio do ministério dos sacerdotes. É maternidade ministerial, que encontra em Maria sua figura, o tipo.

Maria segue associada ao sacrifício de Cristo que se faz presente na eucaristia pelo ministério dos sacerdotes.

A relação de Maria com o sacerdote ministro se fundamenta, pois, em uma realidade querida por Cristo: = é Mãe especial do sacerdote (realidade e amor), = é modelo de sua relação com Cristo e do seu atuar apostólico, = atua como associada a Cristo Sacerdotal e Mãe da Igreja.

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Os santos sacerdotes da história (como São João de Ávila, São João Eudes, São Antonio Maria Claret...) ao acentuar também o paralelismo entre Maria e o sacerdote: = pela vocação ou eleição especial, = pela consagração aos planos salvíficos de Deus em Cristo, = pela união com Cristo Sacerdote e Vítima (na cruz e na eucaristia), = pela fidelidade à ação e missão do Espírito Santo, = pelo fato de comunicar Cristo ao mundo (instrumento de graça).

4. - NA VIDA ESPIRITUAL E NO MINISTÉRIO SACERDOTAL.

A espiritualidade sacerdotal é uma vivência do ministério no Espírito de Cristo (PO 13).A graça e o caráter sacramental da Ordem urgem a viver esta realidade sacerdotal, que

é eminentemente mariana, posto que Maria é parte integrante do ministério de Cristo anunciado, presenciado (celebrado), comunicado e vivido pelo sacerdote.

Na santificação própria e na ação ministerial, a sintonia do sacerdote com Cristo se expressará também com esta dimensão mariana de: = conhecê-la no ministério de Cristo Sacerdote e da Igreja Povo sacerdotal, = amá-la com atitude relacional imitada de Cristo, e com o gozo de ver em Maria o melhor fruto da redenção, = imitá-la especialmente com razão à sua associação esponsal com Cristo, a sua contemplação da palavra e a sua fidelidade generosa à ação do Espírito Santo, = celebrá-la no contexto do mistério pascal de Cristo, especialmente na eucaristia, sacramentos, liturgia das horas e ano litúrgico, = invocá-la pedindo sua intercessão para o caminho da configuração com Cristo Bom Pastor e para o processo de evangelização.

A atitude espiritual do ministro deve ser, pois, de amor fraterno, de que Maria é modelo para ''todos aqueles que, na missão da Igreja cooperam na regeneração dos homens''(LG 65).

Viver os ministérios ''no Espírito de Cristo'' (PO 13) inclui a imitação da atitude materna de Maria, associada a Cristo Sacerdote e Redentor.Segundo as doutrinas do magistério, a devoção mariana do sacerdote se fundamenta em: = a relação do sacerdote com Cristo Sacerdote, que quis nascer de Maria e a quis associar à sua obra redentora, = a relação do sacerdote com a Igreja Povo Sacerdotal, da qual Maria é Mãe e exemplo, = a relação de Maria com razão a Cristo Sacerdote, a Igreja e ao sacerdote ministro, como objeto especial de sua maternidade.

MARIA, MÃE E MODELO DO SACERDOTE.

Existe uma ligação especial que une Maria e os sacerdotes, chamados a viverem e doarem com alegria a fé em Cristo.

Qual é a relação entre Maria e o sacerdote? Quais relações existem entre a maternidade de Maria e o sacerdócio apostólico? Frei Raniero Cantalamessa partiu destas perguntas em sua última pregação de Advento e também indicou uma forte analogia entre Maria e o sacerdote:

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"Maria, por obra do Espírito Santo, concebeu Cristo e, depois de tê-lo nutrido e carregado em seu ventre, deu à luz em Belém; o sacerdote, ungido e consagrado pelo Espírito Santo na ordenação, é chamado também ele a preencher-se de Cristo para depois dar a luz e fazê-lo nascer nas almas mediante o anúncio da palavra, da administração dos sacramentos". Se esta é portanto uma analogia no plano objetivo, da graça, destacou, há também uma analogia no plano subjetivo. E sublinhou que o sacerdote "Não pode limitar-se a transmitir aos outros um Cristo que aprendeu nos livros que não se tornou carne de sua carne e sangue do seu sangue": "A relação pessoal, comum a Maria e ao sacerdote, se resume na fé. Maria, escreve Agostinho, por fé concebeu e por fé deu à luz! (fide concepit, fide peperit); também o sacerdote pela fé leva Cristo em seu coração e mediante a fé o comunica aos outros".Frei Cantalamessa se deteve assim sobre o "sim" de Maria a Deus, que não foi, certamente, um ato de fé fácil. "Maria se encontrou em uma solitude absoluta. Quem poderia dizer aquilo que ela sabe? Aquilo que aconteceu? Não há em quem confiar a não ser em Deus. E Maria, como toda adolescente em Israel que estava se aproximando do casamento, sabia bem o que estava escrito na lei de Moisés, no Deuteronômio - capítulo 22, e isto é, que se descobrissem que a moça no dia das bodas não era virgem devia ser levada para a porta da casa paterna e apedrejada pelo povo do vilarejo”.

Deus – destaca frei Cantalamessa – "não tira nunca as criaturas dos consensos, escondendo-lhes as conseqüências”. O vemos em todos os grandes chamados de Deus. E lembra que Simeão dirá a Maria que uma espada lhe traspassaria a alma.

Então Maria se coloca diante de nós como modelo que se doa com alegria. "Maria disse amém a Deus, um amém total, com todo o significado que esta palavra tem na Bíblia, ao ponto que Deus se torna o amém: 'Eu, Pai, porque assim é do vosso agrado'. Maria disse verdadeiramente um pleno 'sim' a Deus, de tal maneira que pode abraçar a vontade de toda a humanidade. Naquele momento representava todos nós. Portanto, a fé de Maria, veneráveis padres e irmãos, é um ato de amor, de docilidade e livre, porque Deus quer só atos livres, mesmo que suscitados pela graça de Deus”.

E reafirma que, como evidenciado pelo Concílio Vaticano II, a grandeza de Maria é a fé. Maria caminhou na fé, progrediu nela. Portanto todos “devem e podem imitar Maria em sua fé, mas de maneira toda especial deve fazê-lo o sacerdote”.

“O que os fiéis colhem imediatamente em um sacerdote e em um pastor, é se este crê - se crê naquilo que diz e naquilo que celebra. Quem, do sacerdote busca antes de tudo Deus, percebe logo; quem não busca dele Deus, pode ser facilmente enganado e induzido ao engano. O próprio sacerdote, fazendo-o sentir importante, brilhante, ao passo com os tempos, enquanto que, na realidade, é um 'bronze que soa e um címbalo que retine'", acentuou.

O pregador da Casa Pontifícia comentou, portanto, que há duas brevíssimas palavras que Maria pronunciou no momento da anunciação que são ditas pelo sacerdote no momento de sua ordenação: “Eis me aqui” e “Amem”. Exatamente deste “sim”, deste “Amém” deve partir o sacerdote:

“A renovação espiritual do sacerdócio católico, desejado pelo Santo Padre, será proporcionado pelo deslanche com o qual cada um de nós, sacerdotes e bispos da Igreja, seremos capazes de pronunciar de novo um alegre: 'Eis-me aqui' e 'Sim, eu quero!', fazendo reviver a unção recebida na ordenação. Jesus entrou no mundo dizendo: “Eis, que venho, para fazer, ó Deus, a vossa vontade!' (Hb 10, 7). Nós o acolhemos, neste Natal, com as mesmas palavras: 'Eis, que venho, Senhor Jesus, para fazer vossa vontade!”.

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”MARIA É MODELO PERFEITO PARA SACERDOTES “. Somos motivadosl, a interiorizar pela nossa devoção a Mãe de Jesus e nossa Mãe. “Quando Deus decidiu fazer-se homem no seu Filho, necessitava do “sim” livre de uma criatura como Maria. Deus não atua contra a nossa liberdade. E aconteceu uma coisa verdadeiramente extraordinária: Deus se faz dependente da liberdade; do sim de uma criatura, e este espera este “sim”. São Bernardo diz uma frase significativa para entendermos esta dependência de Deus: .

“O Céu, a terra, e Deus mesmo esperam o quê dirá esta criatura.” O sim de Maria é a porta através da qual Deus pôde entrar no mundo, fazer-se homem. O Papa Bento XVI, meditando sobre a relação que existe entre Maria e os Sacerdotes, explicou na abertura do Ano Sacerdotal no dia 15 de agosto: “ A Mãe de Deus, é modelo perfeito para a existência dos sacerdotes porque ambos estão profundamente enraizados no mistério da Encarnação. A Encarnação, o fazer-se homem no Filho, era desde o início o que realizava o dom de si; ao doar-se com muito amor na Cruz, para fazer-se pão para a vida do mundo. Esta atitude de Deus me faz compreender pela fé que SACRIFÍCIO, SACERDÓCIO E ENCARNAÇÃO vão juntos e Maria está no centro deste Mistério. Este Ano Sacerdotal que vivenciamos convida a todos nós, e de forma bem especial, aos sacerdotes, a olharem Maria como modelo perfeito da própria existência, invocando-a como Mãe do Supremo e Eterno Sacerdote, Rainha dos Apóstolos, auxílio dos presbíteros em seu ministério.

Contemplando o tema Maria é modelo perfeito para sacerdotes, durante este retiro espiritual guardo em meu coração as lições que tenho aprendido na escola de Maria:a) Deixar-me totalmente conquistar por Cristob) Conhecer profundamente o Senhor pela Palavra e pela Eucaristia c) Ver no sacerdote, outro Cristo e a figura do Bom Pastor que cuida,defende, protege, corrige e orienta as ovelhas.d) Ser amigo dos irmãos sacerdotes, rezando por eles, amando-os, acolhendo suas fragilidades e tendo consciência que a santidade dele também depende de todos nós, não não sejamos omissos no serviço aos pobres, a Mãe e o “Modelo perfeito para sacerdotes”.