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Texto - Pela extinção dos comentários irresponsáveis sobre Polícia Militar

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Texto publicado no jornal Diário de Assis, em 01/08/2012, p. 02.

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Page 1: Texto - Pela extinção dos comentários irresponsáveis sobre Polícia Militar

_______________________________________________________________________________________ Texto de Adilson Luís Franco Nassaro, publicado no jornal Diário de Assis, Assis/SP, em 01/08/2012, p. 02.

Soube que a Folha SP publicou no dia 24 de

julho de 2012 um artigo sob o título "Pela extinção

da PM". Algumas pessoas perguntaram qual minha

opinião; então, não vou me omitir e vou dar minha

posição:

O articulista filósofo soma argumentos para

condenar de forma irresponsável e generalizante as

ações da Polícia Militar e sua estrutura, mas o

fundo de sua critica no texto seria a “vinculação da

polícia com instituições militares”. Para tanto, ele

referencia uma recente “indicação da ONU” que,

segundo ele, sugeriu extinção das polícias militares.

No Brasil, as polícias militares não trabalham

vinculadas ao Exército e apenas sua estética é

militar. E o erro da manifestação, causado pela

desinformação que atinge até um doutor, deve ser

objeto de melhor elucidação: confunde-se “militar

de polícia”, caso da PM brasileira, com “polícia de

militar”, hipótese do "MP - Military Police" norte-

americano (como lembra o ilustre administrativista

Álvaro Lazzarini). E nada há de errado em ter

policiais no regime jurídico administrativo militar,

isto é, sujeitos à disciplina e hierarquia militar, mas

já nos acostumamos a ler considerações equi-

vocadas a respeito, em decorrência de questões

ideológicas inconfessáveis.

A propósito da aventada “recomendação” da

ONU, também é necessário fazer reparos: trata-se

de uma entre 170 recomendações para

aperfeiçoamento do sistema de segurança pública e

foi elaborada pelo representante da Dinamarca. Na

verdade, literalmente o representante propõe que o

governo brasileiro trabalhe para abolir um dito

“sistema separado de polícia militar”, agregando-a

ao mecanismo nacional de prevenção a tortura e

execuções extrajudiciais por policiais, sem detalhar

mais a respeito, conforme se verifica dos textos

originais: “119.14. Adopt Bill No. 2442 in order to

guarantee the independence and autonomy of the

members of the National Preventive Mechanism, in

conformity with Brazil’s obligations under the

OPCAT* (Denmark)”; (…) 119.60. Work towards

abolishing the separate system of military police by

implementing more effective measures to tie State

funding to compliance with measures aimed at

reducing the incidence of extrajudicial executions by

the Police. (Denmark)”.

Como bem observou o Conselho dos

Comandantes Gerais (das polícias militares e

corpos de bombeiros militares do Brasil) em recente

nota: “Tanto é verdade esta interpretação que o

mesmo documento recomenda ao Brasil que

estenda a outros estados da federação a

experiência do Rio de Janeiro de Unidades de

Polícia Pacificadora, integrada por policiais

militares: 119.62. That other state governments

consider implementing similar programs to Rio de

Janeiro’s UPP Police Pacifying Unit (Australia)” e,

complementando: “É desconhe-cido de boa parte

da sociedade que a experiência de polícias de

natureza militar não é uma exclusividade brasileira,

estando também presentes em vários países como

Holanda, Itália, França, Espanha, Portugal,

Argentina e Chile, dentre tantos outros”.

Então, pelos mesmos fundamentos da tese

apresentada na inconsequente proposta do autor,

que surgiu logo depois da divulgação de uma

ocorrência em São Paulo com morte de um

cidadão, deveria defender também a extinção da

polícia londrina e da australiana pelas mortes de

dois brasileiros, como é do conhecimento geral.

Essas duas polícias têm características militares e

não foram condenadas em seus respectivos países

porque os brasileiros desobedeceram ordens de

polícia. Em Londres, o brasileiro foi morto por

disparo de arma de fogo; na Austrália, o outro

brasileiro, por descarga elétrica (de arma “taser”).

Logo depois do irresponsável comentário

publicado no jornal, pedindo “extinção” da força

pública, orgulho da maioria dos paulistas - com

cento e oitenta anos de história - surgiu um

procurador do Ministério Público Federal, vejam só,

propondo a “intervenção em São Paulo” caso não

fosse trocado de imediato o comando da Polícia.

Poderia o novo grito cobrar melhoria da segurança

Pela extinção dos comentários irresponsáveis sobre polícia militar

Page 2: Texto - Pela extinção dos comentários irresponsáveis sobre Polícia Militar

_______________________________________________________________________________________ Texto de Adilson Luís Franco Nassaro, publicado no jornal Diário de Assis, Assis/SP, em 01/08/2012, p. 02.

das fronteiras do país, portal para entrada de

drogas e armas e lutar contra o tráfico (competência

da União); mas ele utilizou o método de maior

repercussão, com crítica infundada em terreno

alheio. Poucos dias depois, o Diário de São Paulo

promoveu uma pesquisa que comprovou: quase

90% dos paulistas entende que o Comando não

deve ser trocado e que a Polícia Militar acerta mais

do que erra em suas ações.

Mas, é sempre assim e infelizmente já vamos nos

acostumando. Quando surge uma ocorrência

impactante em que morre uma pessoa de certa

projeção (como é o caso do empresário que a mídia

divulgou exaustivamente) aparecem os "arautos" de

plantão que tentam condenar a Polícia Militar como

um todo, generalizando alguma eventual falha (que

nunca deixou de se apurar, com as devidas

responsabilizações se for o caso, ao contrário do

que acontece em muitos outros ambientes...). E,

quando morre um policial em serviço, ou executado

por vingança - e vários foram assim vitimados

recentemente -, a repercussão nunca é a mesma:

não há interesse nessa matéria, ela "não merece" o

esforço do articulista.

Então vamos refletir e filosofar para valer, sem

medo da verdade. Que país é esse em que a

autoridade policial (militar ou civil) é desacatada e o

infrator apenas "paga cesta básica" (isso se chegar

a ser condenado); que país é esse em que o

cidadão foge de bloqueio policial e nenhuma

responsabilidade é imputada a ele... E por isso

muitos irresponsáveis, bêbados e drogados ao

volante - empresários ou não -, até criminosos,

questionam uma iniciativa de abordagem, desafiam

ostensivamente qualquer iniciativa que o policial

toma para defender a própria sociedade (da qual o

policial faz parte), provocam, xingam e até chutam

os testículos de um sargento fardado como

aconteceu na última sexta-feira a noite em

ocorrência em que eu mesmo compareci e registrei

na minha região.

Pergunto: por que o crime praticado contra um

policial, que representa o próprio Estado, não tem

punição mais grave, como acontece nos países

apresentados pelos mesmos "pensadores

modernos" de sempre como modelo para nós?

Querem viver no caos, é isso? Está cada vez mais

difícil ser policial ou professor em uma sociedade

carente de educação e de aparato legal que não

estimule a impunidade. E a quem interessa uma

polícia enfraquecida? Concluo com o mesmo

pensamento de um eminente chefe norte-

americano que disse: “não existe democracia forte

sem uma polícia forte”.

Mas eu confio muito em nossa Polícia e nos seus

excelentes profissionais, que constitui a grande

maioria: os cidadãos de bem sabem defendê-la e

defendê-los, também.

Em São Paulo, especialmente, a Polícia Militar

tem mostrado muita eficiência e até poucos erros

pela sua dimensão. Não existe no Brasil uma

estrutura policial tão bem montada, preparada e

administrada como a Polícia Militar de São Paulo.

Falhas existem, pois se trata de um órgão policial

complexo, com quase 100.000 homens

(policiamento territorial, policiamento de trânsito

urbano e rodoviário, policiamento ambiental, policia-

mento de choque, policiamento aéreo e bombeiros).

E vamos continuar corrigindo essas falhas, pois

servimos para proteger vidas, fazer cumprir a lei,

combater a criminalidade e preservar a ordem

pública. Isso é muito sério, uma missão que poucos

conhecem bem a ponto de escrever sobre ela com

legitimidade e, por isso, a insinuação sobre

"extinguir a PM" já soa como irresponsável.

O filósofo que se propôs a assinar o artigo

inicialmente referenciado deveria conhecer melhor

a Instituição antes de expressar-se com base

apenas em leituras superficiais sobre assunto tão

grave, material que coleta no próprio jornal que

patrocina sua crítica não construtiva e infundada.

Adilson Luís Franco Nassaro