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ADOLESCÊNCIA POSITIVA Vinte e cinco portugueses, infectados à nascença com VIH, chegaram à adolescência, graças às novas terapêuticas. Mónica é uma rapariga serena, de pele mulata. Circula no Hospital da Estefânia, com o à-vontade de quem conhece bem aqueles corredores. Entra sempre na sala 4, serviço 1, Unidade de Imuno- Hematologia. Crianças minúsculas correm, outras permanecem imóveis, o rosto pálido marcado por uma estranha seriedade adulta de quem já pensa na vida sem saber o que isso é. Mónica, segura nos seus dezassete anos, vem para mais uns dias de cama de hospital. De quatro em quatro meses é preciso saber como estão as células T4, se é preciso alterar a terapêutica. Mónica tem VIH (vírus de Imuno-Deficiência- Humana). Faz parte do grupo de vinte e cinco adolescentes seropositivos, entre os onze e os dezassete anos, que são seguidos pelo pediatra Lino Rosado. Este, chama-lhes os “Long Survivers” (sobreviventes de longa duração). Mas podia, perfeitamente, chamar-lhes os pioneiros. Pertencem à primeira geração de infectados que tendo contraído à nascença VIH, nos finais dos anos 80 e início dos 90, conseguiram atingir a adolescência. São os primeiros filhos da sida a engrossar a juventude portuguesa, a viver a doença como crónica. Jovens de vidas normais, que estudam, namoram, sem marcas que lhes escrevam na testa a sua seropositividade. Seguram-se à vida através de uma complicada terapêutica anti-retrovírica de alta potência, que inclui várias tomas diárias de muitos comprimidos, sem faltas nem atrasos. “ Quando nasceram a esperança de vida era de meia dúzia de anos ou nem tanto…”. Nasceram com a sida presa ao sangue, infectados pelas mães na altura do parto. Então, do VIH sabia-se apenas que trazia morte certa e que nutria simpatia por grupos de risco. Homossexuais. Prostitutas. Toxicodependentes. Os medicamentos eram poucos e nada eficazes, com a toxicidade e os efeitos secundários a suplantar os benefícios. Quando em 1996 a terapia de alta potência, a poder dos anti retrovíricos, começou a aplicar-se em crianças, tudo mudou. A morbilidade e a mortalidade baixaram drasticamente, o tempo de hospitalização diminuiu, aumentou a esperança de vida… Contudo, é impossível dizer que vão viver até… A fragilidade social é comum a quase todos os jovens com VIH. A sida prospera na exclusão, na miséria. A falta de recursos económicos, a marginalização, a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde aumenta a vulnerabilidade. Muitos destes adolescentes tornam-se órfãos. Alguns já o são. A Comissão Nacional de Luta Contra a Sida já entregou na Assembleia da República um documento onde defende “ a criação de medidas legislativas que eliminem os preconceitos, tabus e prejuízos que envolvem os portadores da doença. É uma verdadeira luta contra a descriminação. Em Portugal, morrem cada vez menos crianças com sida. E cada vez menos se tornam seropositivas, graças ao aumento de mulheres que

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ADOLESCÊNCIA POSITIVA

Vinte e cinco portugueses, infectados à nascença com VIH, chegaram à adolescência, graças às novas terapêuticas.

Mónica é uma rapariga serena, de pele mulata. Circula no Hospital da Estefânia, com o à-vontade de quem conhece bem aqueles corredores. Entra sempre na sala 4, serviço 1, Unidade de Imuno-Hematologia. Crianças minúsculas correm, outras permanecem imóveis, o rosto pálido marcado por uma estranha seriedade adulta de quem já pensa na vida sem saber o que isso é. Mónica, segura nos seus dezassete anos, vem para mais uns dias de cama de hospital. De quatro em quatro meses é preciso saber como estão as células T4, se é preciso alterar a terapêutica. Mónica tem VIH (vírus de Imuno-Deficiência- Humana). Faz parte do grupo de vinte e cinco adolescentes seropositivos, entre os onze e os dezassete anos, que são seguidos pelo pediatra Lino Rosado.

Este, chama-lhes os “Long Survivers” (sobreviventes de longa duração).Mas podia, perfeitamente, chamar-lhes os pioneiros. Pertencem à primeira geração de infectados que tendo contraído à nascença VIH, nos finais dos anos 80 e início dos 90, conseguiram atingir a adolescência. São os primeiros filhos da sida a engrossar a juventude portuguesa, a viver a doença como crónica. Jovens de vidas normais, que estudam, namoram, sem marcas que lhes escrevam na testa a sua seropositividade. Seguram-se à vida através de uma complicada terapêutica anti-retrovírica de alta potência, que inclui várias tomas diárias de muitos comprimidos, sem faltas nem atrasos. “ Quando nasceram a esperança de vida era de meia dúzia de anos ou nem tanto…”. Nasceram com a sida presa ao sangue, infectados pelas mães na altura do parto. Então, do VIH sabia-se apenas que trazia morte certa e que nutria simpatia por grupos de risco. Homossexuais. Prostitutas. Toxicodependentes. Os medicamentos eram poucos e nada eficazes, com a toxicidade e os efeitos secundários a suplantar os benefícios. Quando em 1996 a terapia de alta potência, a poder dos anti retrovíricos, começou a aplicar-se em crianças, tudo mudou. A morbilidade e a mortalidade baixaram drasticamente, o tempo de hospitalização diminuiu, aumentou a esperança de vida…

Contudo, é impossível dizer que vão viver até…A fragilidade social é comum a quase todos os jovens com VIH. A sida prospera na exclusão, na

miséria. A falta de recursos económicos, a marginalização, a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde aumenta a vulnerabilidade. Muitos destes adolescentes tornam-se órfãos. Alguns já o são.

A Comissão Nacional de Luta Contra a Sida já entregou na Assembleia da República um documento onde defende “ a criação de medidas legislativas que eliminem os preconceitos, tabus e prejuízos que envolvem os portadores da doença. É uma verdadeira luta contra a descriminação.

Em Portugal, morrem cada vez menos crianças com sida. E cada vez menos se tornam seropositivas, graças ao aumento de mulheres que realizam testes ao VIH antes ou durante a gravidez. Uma grávida infectada que se submeta a uma terapêutica anti-retroviral antes do parto, faça uma cesariana electiva e não amamente, reduz o risco de contágio ao bebé a 1%. Parece, finalmente, ser possível soltar um sorriso.

Contudo, a infecção pelo VIH está a aumentar entre os heterossexuais, que representam 40% dos novos casos registados. Na Europa, a seguir à Ucrânia, Portugal é o país com maior número de infectados. São já muitos os que sucumbiram à doença.

Raquel Moleiro in Única / Novembro , Expresso (adaptado).

I- Após uma leitura global do texto, releia-o de modo a seleccionar a informação necessária para responder às questões que se seguem:

1. Refere, de acordo com a autora, quem são “os pioneiros”.2. Explica o poder dos anti-retrovíricos em fase anterior e posterior a 1996.3. Mostra de que forma é possível reduzir o risco de contágio de VIH à

nascença.4. Propõe sinónimos para as seguintes palavras:

4.1. Drasticamente.4.2. Vulnerabilidade.

5. Dá a tua opinião, de uma forma breve, acerca dos preconceitos, dos tabus e da exclusão social de que são alvo os adolescentes portadores de VIH.

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II- Funcionamento da Língua.1.Classifica, atendendo à sua formação, as palavras:1.1. “imóveis”.1.2. “engrossar”.1.3.”Sida”.2. Classifica como verdadeira ou falsa, cada uma das relações de forma indicadas para os pares de palavras, corrigindo as que considerares falsas. 2.1. Trás/Traz - palavras homónimas.

2.2. Despensa/ Dispensa - palavras homófonas.3. Refere a classe a que pertencem os vocábulos destacados na frase:” Parece, finalmente,ser possível soltar um sorriso.” 4.Considera o adjectivo nesta declaração:” Para muitos, o maior bem é a saúde”.

4.1. Menciona o grau em que se encontra. 4.2. Reescreve a declaração colocando o mesmo adjectivo no grau normal.

5.De modo a manter a coesão frásica dos enunciados, completa as frases, fazendo a concordância do verbo entre parênteses (conjugado no presente do indicativo) com o sujeito.

1.1.Comer bem e praticar desporto, _____(fazer) bem à saúde. 1.2. Ou o Pedro ou a Marta ______(ir) acompanhar-me na viagem.