Upload
web76280
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/23/2019 texto_2752643
1/6
DECISO
RECURSO EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIONAL E
TRIBUTRIO. ALEGAO DE QUE A IMUNIDADE
RECPROCA (ART. 150, INC. VI, ALNEA A, DA
CONSTITUIO DA REPBLICA) ALCANARIA O
IMPOSTO SOBRE CIRCULAO DE MERCADORIAS E
SERVIOS INCIDENTE SOBRE ENERGIA ELTRICA
FORNECIDA AOS PRDIOS PBLICOS MUNICIPAIS:
IMPROCEDNCIA. BENEFCIO EXTENSIVO SOMENTE A
CONTRIBUINTE DE DIREITO. JULGADO RECORRIDO
EM DESARMONIA COM A JURISPRUDNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO PROVIDO.
Relatrio
1. Recurso extraordinrio interposto com base no art. 102, inc. III,
alnea a, da Constituio da Repblica contra o seguinte julgado do
Tribunal de Justia de Minas Gerais:
Cuida a espcie de mandado de segurana, no qual o MUNICPIO
DE SO JOO NEPOMUCENO busca obter uma ordem judicial para que
o impetrado se abstenha de exigir o ICMS sobre a tarifa da
energia eltrica consumida nos prdios pblicos, quando da
prestao de servios pblicos e da iluminao pblica
municipal, conforme se verifica das faturas anexadas aos autos
(f. 10/92).
(...) Foroso concluir que a imunidade recproca atinge o ICMS
cobrado do impetrante, uma vez que incidente de forma indireta
em seu patrimnio e tambm sobre seu servio pblico prestado.
(...)
Todavia, a controvrsia no versa exclusivamente sobre a
incidncia do ICMS na energia consumida pelo Municpio
impetrante, em seus prdios e servios pblicos. Analisando a
7/23/2019 texto_2752643
2/6
causa de pedir da inicial, o impetrante tambm sustenta que a
cobrana do tributo sobre o fornecimento de energia eltrica
utilizada para a iluminao pblica indevida.
Entretanto, no especial caso em exame, o Municpio de So Joo
Nepomuceno no arca com o encargo financeiro do ICMS incidente,
uma vez que o transfere aos administrados quando cobra a
contribuio para o custeio da iluminao pblica. O ICMS,
assim, no repercute sobre seu patrimnio, de modo que no h
que se falar em imunidade recproca, conforme decidido pelo
colendo Supremo Tribunal Federal, na ADI 457-8/MC, citada pelo
eminente Desembargador Relator.Com a devida vnia, concedo parcialmente a segurana, para
determinar a no incidncia do ICMS apenas sobre a tarifa de
energia eltrica consumida nos prdios e servios pblicos do
Municpio de So Joo Nepomuceno (fls. 153-157 grifos
nossos).
2. O Recorrente sustenta contrariedade ao art. 150, inc. VI, alnea
a, da Constituio da Repblica.
Alega que a imunidade intergovernamental recproca no alcana o
ICMS exigido do Municpio por empresas concessionrias de telefonia ou de
fornecimento de energia eltrica (fl. 192).
Apreciada a matria trazida na espcie, DECIDO.
3. Razo jurdica assiste ao Recorrente.
4. O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que a
imunidade recproca prevista no art. 150, inc. VI, alnea a, da
Constituio da Repblica beneficia somente o contribuinte de direito do
Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios, razo pela qual no
tem relevncia a possibilidade de transferncia, ou no, do respectivo
encargo financeiro a terceiro. Nesse sentido:
7/23/2019 texto_2752643
3/6
CONSTITUCIONAL. TRIBUTRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO. IMUNIDADE. ICMS. ENERGIA ELTRICA. ART. 150, VI,
a, DA CF. MUNICPIO DE SANTARM. SERVIO PRESTADO POR
CONCESSIONRIA. INAPLICABILIDADE. 1. A imunidade tributria
pressupe a instituio de imposto incidente sobre servio,
patrimnio ou renda do prprio Municpio, o que no ocorre no
caso, j que o fornecimento de energia eltrica prestado por
intermdio da concessionria. Precedentes. 2. Agravo regimental
improvido (AI 574.042-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Turma, DJe 29.10.2009
grifos nossos).
CONSTITUCIONAL. TRIBUTRIO. ANLISE DE LEGISLAO ORDINRIA.
OFENSA INDIRETA CONSTITUIO. ICMS. MUNICPIO. CONTRIBUINTE
DE FATO. IMUNIDADE TRIBUTRIA RECPROCA. INAPLICVEL. AGRAVO
IMPROVIDO. I - O acrdo recorrido decidiu a questo com base
na legislao ordinria e na jurisprudncia do STJ. A ofensa
Constituio, se ocorrente, seria indireta. Incabvel,
portanto, o recurso extraordinrio. II - A imunidade de quetrata o art. 150, VI, a, da Constituio somente se aplica ao
imposto incidente sobre servio, patrimnio ou renda. III -
Como no contribuinte de direito do ICMS relativo a servios
de energia eltrica e telefonia, o Municpio no beneficirio
da imunidade prevista no art. 150, VI, a, da Constituio.
Precedentes. IV - Agravo regimental improvido (AI 634.050-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe 13.8.2009
grifos nossos).
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTRIO.
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELTRICA PARA ILUMINAO PBLICA. ICMS.
IMUNIDADE INVOCADA PELO MUNICPIO. IMPOSSIBILIDADE. 2. A
jurisprudncia do Supremo firmou-se no sentido de que a
imunidade de que trata o artigo 150, VI, a, da CB/88, somente
se aplica a imposto incidente sobre servio, patrimnio ou
7/23/2019 texto_2752643
4/6
renda do prprio Municpio. 3. Esta Corte firmou entendimento
no sentido de que o municpio no contribuinte de direito do
ICMS, descabendo confundi-lo com a figura do contribuinte de
fato e a imunidade recproca no beneficia o contribuinte de
fato. Agravo regimental a que se nega provimento(AI 671.412-
AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 25.4.2008 grifos
nossos).
MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINRIO.
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELTRICA PARA ILUMINAO PBLICA. ICMS.
IMUNIDADE INVOCADA PELO MUNICPIO. CONSTITUIO FEDERAL, ART.150, INCISO VI, LETRA "A". As decises anteriores foram
desfavorveis ao requerente, o que transmuda o seu pedido em
tutela antecipada em recurso extraordinrio, cujo deferimento
est condicionado verossimilhana das alegaes contidas no
apelo extremo. Condio inexistente no caso, visto que, de
acordo com o acrdo recorrido, o fornecedor da iluminao
pblica no o Municpio, mas a Cia. Fora e Luz Cataguases,
que paga o ICMS Fazenda Estadual e o inclui no preo doservio disponibilizado ao usurio. A imunidade tributria, no
entanto, pressupe a instituio de imposto incidente sobre
servio, patrimnio ou renda do prprio Municpio. Ademais, de
acordo com o art. 155, 3, da Magna Carta, o ICMS o nico
imposto que poder incidir sobre operaes relativas a energia
eltrica. Medida cautelar indeferida (AC 457-MC, Rel. Min.
Carlos Britto, Primeira Turma, DJ 11.2.2005 grifos nossos).
Trata-se de agravo contra deciso que negou processamento a
recurso extraordinrio interposto com fundamento no art. 102,
III, "a", da Constituio Federal, interposto em face de
acrdo que entendeu que o Municpio recorrente no goza de
imunidade recproca referente ao ICMS. Alega-se violao aos
arts. 1, III, 18, 150, IV, "a", 182 e 183, da Carta Magna. O
Ministrio Pblico Federal, em parecer do Subprocurador-Geral
7/23/2019 texto_2752643
5/6
da Repblica, Dr. Francisco Adalberto Nbrega, opinou pelo
desprovimento do recurso (fls. 235/241): "Para anlise do
mrito, resta, pois, somente o argumento relativo ao princpio
da imunidade ante o recolhimento do ICMS incidente sobre o
fornecimento de energia eltrica. Porm, neste ponto, no
merece provimento o apelo extremo, posto que a imunidade de que
cuida o artigo 150, VI, a, da CRFB somente se aplica a imposto
incidente sobre servio, patrimnio ou renda do prprio
Municpio. Na hiptese vertente, a recorrida quem presta o
servio sujeito referida exao, pelo que resta afastado o
princpio da imunidade tributria." Esta Corte firmouentendimento no sentido de que imunidade recproca no
beneficia o contribuinte de fato. Neste sentido, o RE 71.300,
2 T., Rel. Adalcio Nogueira, DJ 30.04.71, assim ementado:
"EMENTA - IMUNIDADE FISCAL RECPROCA. No tem aplicao, na
cobrana do imposto sobre produtos industrializados. O
contribuinte de iure o industrial ou produtor. No possvel
opor a realidade econmica forma jurdica, para excluir uma
obrigao fiscal precisamente definida em lei. O contribuintede fato estranho relao tributria e no pode, alegar, a
seu favor, a imunidade recproca." No mesmo sentido, o RE
72.863, 1 T., Rel. Luiz Gallotti, DJ 24.02.72. E,
monocraticamente, o RE 255.673, Rel. Marco Aurlio, DJ
06.10.04. Assim, nego seguimento ao agravo (art. 557, caput, do
CPC). Publique-se. Braslia, 26 de abril de 2006 (AI 550.300,
Rel. Min. Gilmar Mendes, deciso monocrtica, DJ 18.5.2006;
grifos nossos).
5.Dessa orientao jurisprudencial divergiu o julgado recorrido.
6.Pelo exposto,dou provimento ao recurso extraordinrio(art. 557,
1-A, do Cdigo de Processo Civil e art. 21, 2, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal) e denego a ordem de segurana pleiteada.
7/23/2019 texto_2752643
6/6
Publique-se.
Braslia, 1 de fevereiro de 2010.
Ministra CRMEN LCIA
Relatora