TEXTOS DISSERTATIVOS

Embed Size (px)

Citation preview

1. A apresentao direta de seu ponto-de-vista ou argumento bsico: A convivncia com um dependente de lcool ou drogas, alm de todos os seus reveses, tambm pode se tornar um vcio poderoso, uma doena. Mes, mulheres e irmos de dependentes costumam assumir para si a tarefa de consertar a ovelha negra da famlia. Quando do por si, passaram a viver em funo do problema alheio. Ora se comportam como salvadores, ora assumem o papel de vtima, ora cooperam e alimentam ainda mais o vcio. 2. A prpria indagao do tema, transformando-o em interrogao e/ou fazendo perguntas sobre ele: Ser que existem fatos ( no preconceitos ) a confirmarem a inpcia ou mesmo a inferioridade de certas raas, estacionadas durante o processo evolutivo, a meio caminho entre o animal e o homem? So perguntas, no afirmaes. Mas, por que admitiramos, no plano individual, a existncia de gnios e retardados e tememos faz-lo no plano racial? (Emir Calluf, Gazeta do Povo) 3. Uma definio do tema a ser questionado: A gria um patrimnio comum, um instrumento de comunicao que parece imprescindvel, sobretudo, para a juventude. At mesmo as geraes que a condenavam acabaram por assimilar algumas expresses de maior ocorrncia. (Thas Montenegro Chinellato) 4. Uma anlise do tema, um esquema de suas partes ( que, geralmente, sero questionadas uma a uma no desenvolvimento da redao): O esprito humano por natureza curioso, reflexivo. O mundo que o instiga a pensar deve tambm instig-lo a desafiar, criticar e questionar as idias que a coletividade e a sua cultura oferecem. Trabalhamos idias quando escrevemos. (Wendel Johnson) 5. Usando dados da Histria: Desde que aprendeu a manejar o fogo e a roda, o homem passou a gerar uma fora produtiva, a qual desencadeou as invenes, as conquistas e o progresso. Mas essa produtividade prejudicou o relacionamento entre os povos, assim como entre patro e empregado, no domnio pela tecnologia e na explorao da mo-de-obra. 6. Uma Citao que ser ratificada ou negada:

'Navegar preciso, viver no preciso'. Com leve estremecimento de susto aplica-se o antigo verso do poeta Fernando Pessoa ao sistema de informao, pesquisa e correspondncia por computador, a comunicao on line, a Internet. (Marilene Felinto) 7. Expondo o ponto de vista oposto com o fim de combat-lo durante o desenvolvimento: Na medida em que a caa proibida no Brasil, no se pode admitir a existncia de uma Associao Brasileira de Caa nem de lojas de caa e pesca. Um novo captulo da Constituio brasileira probe essas atividades. Caa no esporte, porque esporte pressupe igualdade de condies entre os contendores, um conhecimento prvio, de ambas as partes, das regras do jogo, e a existncia de um juiz que faa cumprir essas regras. (Cacilda Lanuza) 8. Com dados estatsticos: A cada ano que passa, mil crianas morrem por dia debaixo do cu brasileiro. Morrem de doenas para as quais a medicina criou uma infinidade de nomes, todos sinnimos de um s mal: fome, subnutrio. (Eric Nepomuceno) 9. Alguns fatos representativos: Que pases em guerra, ou vtimas de catstrofes, tenham conhecido e ainda conheam a fome, compreensvel, ainda que no se explique. Que pases vtimas de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a rao alimentar, entende-se. (Marilda Prates) 10. Uma pequena narrativa: Dentro de uma ambulncia, um paciente est em estado grave. Perto dele, um mdico jovem, com pouca experincia nesse tipo de atendimento, tenta dar os primeiros socorros. Mas a situao se complica. Neste momento, muito longe daquele local, entra na operao de socorro um outro mdico, profissional bem mais experiente, capaz de comandar com tranqilidade uma situao como essa. Ele est no hospital para onde o paciente est sendo levado. Esse mdico tambm v, por uma tela de televiso, o prprio paciente. como se ele estivesse l. Situaes como essa, que a princpio parecem ser privilgio do futuro, podero ocorrer mais breve do que se imagina. (Cilene Pereira, Isto)

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: poltica, corrupo, crise moral)

FICHA MAIS LIMPA(Fonte: Jornal Zero Hora - 21/6/2010) Mais uma vez, a Justia acabou se revelando mais rigorosa em relao s exigncias de moralidade na poltica do que o prprio Congresso. Na ltima semana, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a chamada Lei da Ficha Limpa valer para todos os candidatos condenados por crimes graves em rgos colegiados, incluindo casos nos quais a condenao seja anterior sano da lei, em 4 de junho. Prevaleceu, portanto, a tese de que o Direito Eleitoral deve proteger a moralidade, e evitou-se assim o risco de o novo instrumento se tornar incuo. Com essa manifestao da Justia, perdem alguns polticos que, a partir da ampliao do alcance da lei, ficaro impedidos de concorrer em outubro e devero, por isso, tentar derrubar a norma. Em compensao, ganham os eleitores, pois assim correro menos riscos de eleger quem tem contas a acertar com a Justia. Mesmo levado a agir de alguma forma por um projeto de iniciativa popular apresentado em setembro do ano passado com o respaldo de 1,3 milho de assinaturas, o Congresso vinha desde ento hesitando em atender ao clamor popular. A aprovao s ocorreu depois do abrandamento do texto, que limitou o impedimento do registro de candidatura apenas para condenados em ltima instncia. Mesmo assim, o Senado ainda tentou um recurso semntico para abrandar as exigncias, mudando o tempo verbal os que tenham sido, como saiu da Cmara, para os que forem condenados. Felizmente, na interpretao do TSE, prevaleceu a tese do relator da consulta sobre o projeto Ficha Limpa, ministro Cludio Versiani, de que a causa da inelegibilidade incide sobre a situao do candidato no momento do registro, com prazo at 5 de julho. No se trata, como argumentou o relator, de perda de direito poltico, de punio, pois inelegibilidade no constitui pena. A condenao que, por si s, sob esse ponto de vista, impede algum de sair em busca de voto. S o corporativismo dos polticos capaz de justificar a necessidade de a Justia Eleitoral se pronunciar, impedindo o registro de candidaturas que os prprios partidos deveriam vetar, em respeito aos eleitores. Confrontada com a exposio de sucessivos descalabros na poltica e na administrao pblica de maneira geral, a sociedade brasileira tem razes de sobra para se mostrar cada vez menos tolerante com prticas do gnero. Esse o tipo de deformao que s se mantinha pelo fato de ter sido associada a polticos a ideia de impunidade e pela insistncia de muitos deles em buscar votos para garantir imunidade ou tratamento privilegiado. O projeto que o TSE se encarregou de tornar um pouco mais rigoroso pode no ser abrangente o suficiente para as necessidades do pas e no confere 100% de garantia ao eleitor de estar optando por um candidato tico. Mas, diante da falta de disposio dos parlamentares em se mostrarem mais rigorosos, constitui um alento na luta pela moralizao.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: relaes exteriores, acordo nuclear, energia nuclear)

A confisso do chanceler(Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 22/6/2010) O presidente Lula e o ministro das Relaes Exteriores, Celso Amorim, s podem culpar a si prprios por terem "queimado os dedos", como acaba de reconhecer o chanceler, na tentativa de mediar, ao lado da Turquia, a crise em torno do programa nuclear iraniano. A chamada Declarao de Teer, pela qual o Ir concordou em enriquecer no exterior 1.200 quilos de urnio para uso em um reator de pesquisas medicinais, foi celebrada pelo governo brasileiro como um triunfo da sua atuao diplomtica em escala global. O acordo no impediu, como se sabe, que os Estados Unidos conseguissem aprovar no Conselho de Segurana (CS) da ONU um quarto pacote de sanes contra a Repblica Islmica pela insistncia em manter os seus projetos de enriquecimento de urnio, proibidos em decises anteriores do CS. A recusa iraniana a se submeter irrestritamente fiscalizao da agncia atmica das Naes Unidas, a AIEA, e a descoberta de instalaes nucleares clandestinas no pas tambm foram invocadas para justificar a nova rodada de punies. S o Brasil e a Turquia votaram contra. Numa entrevista ao jornal londrino Financial Times, publicada domingo, Amorim desenvolveu um raciocnio que colide com os fatos para anunciar que, de agora em diante, s a convite o Brasil voltar a se envolver com o problema iraniano de forma "proativa". Segundo ele, foi como se Braslia tivesse levado uma rasteira de Washington. Nas suas palavras: "Queimamos os nossos dedos por fazer aquilo que todos diziam que seria til e, no fim, descobrimos que algumas pessoas no aceitavam um "sim" como resposta." A aluso aos Estados Unidos bvia. O argumento se baseia na carta que o presidente Barack Obama enviou ao seu colega Lula em abril e que o governo mais tarde vazou para a imprensa a fim de provar que o Brasil foi incentivado a procurar uma soluo negociada com o Ir. Na mensagem, embora duvide da disposio iraniana "para um dilogo de boa-f" e advirta que "continuaremos a levar adiante nossa busca por sanes", Obama considera que um acordo como o que seria selado em Teer representaria "uma oportunidade clara e tangvel de comear a construir confiana mtua". No fosse pelo proverbial pequeno detalhe, a verso do Itamaraty se sustentaria. Obama no precisaria ter escrito o que pode ser lido como um claro encorajamento. Bastaria o silncio para exprimir a sua presumvel contrariedade com as gestes brasileiras. Entre a carta e a pronta rejeio americana Declarao de Teer, um ms depois, acentuou-se em Washington um debate em surdina ao cabo do qual a linha-dura personificada pela secretria de Estado Hillary Clinton prevaleceu sobre os moderados da Casa Branca.

O detalhe, por assim dizer, que o Brasil no foi a campo no Ir porque os Estados Unidos o estimularam a ir e depois lhe teriam dado as costas. Pelo menos desde que se preparou a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, em novembro do ano passado, o governo assumiu ostensivamente a inteno de se promover a mediador do contencioso sobre o programa nuclear suspeito de se destinar produo da bomba atmica. Nos clculos do Itamaraty, a iniciativa daria ao Brasil, na arena poltica global, o equivalente ao que significa o investment grade para as transaes financeiras do Pas. Tamanha certeza ? ou soberba ? levou o governo a tratar como impatriticas as advertncias sobre a desproporo entre os custos (reais) e os benefcios (eventuais) da empreitada lulista para desarmar um confronto que em ltima anlise se entrelaa com os conflitos crnicos do Oriente Mdio e com os interesses estratgicos dos Estados Unidos na regio. Agora, o prprio ministro Celso Amorim se rende fora das coisas como elas so e no como ele e o presidente Lula, com o seu voluntarismo desenfreado, gostariam que fossem. Mas at na hora de pensar o que devia ter pensado antes, o diplomata tenta debitar a terceiros pases o malogro da poltica aventureira que chamuscou a imagem do Brasil como um interlocutor amadurecido e responsvel. E tudo porque o presidente Lula imaginou que popularidade interna e liderana internacional so a mesma coisa.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: telefonia, empresas de telefonia, mercado de telecomunicaes, telecomunicaes.)

A 'blindagem' da Oi(Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 22/6/2010) S no causa espanto a disposio do presidente Luiz Incio Lula da Silva, revelada pelo Estado na edio de sbado, de impedir que uma empresa estrangeira assuma o controle da operadora Oi ? no que seria uma operao entre empresas e investidores privados, na qual a ingerncia estatal seria indevida ? porque o governo nunca escondeu sua disposio de interferir na gesto da empresa e sua inteno de preservar-lhe o carter "nacional". A constituio da gigante brasileira do setor de telefonia, por meio da compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi, resultou de uma deciso do governo Lula, que alegou a necessidade "estratgica" de o Brasil ter uma empresa em condies de competir com gigantes internacionais da rea de telecomunicaes que j atuam no Pas, como a espanhola Telefnica, a Portugal Telecom, a Telecom Italia e o grupo empresarial comandado pelo mexicano Carlos Slim. Para legalizar a nova empresa, o governo props a mudana da legislao e, para tornar vivel a compra da BrT pela Oi ? que ocorreu em 2008 ?, ofereceu vultosos financiamentos do Banco do Brasil e do BNDES. Por meio de bancos federais ou suas subsidirias e de fundos de penso vinculados a empresas estatais, o governo detm 49% do capital da operadora. Em entrevista publicada em maro pelo Estado, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, anunciou que o processo de absoro da BrT pela Oi estava praticamente concludo e que, mesmo sendo "uma companhia nova, completamente diferente", a "Oi passou da posio de alvo para a de caador". As coisas no parecem estar to tranquilas. Detentora da concesso de telefonia fixa em So Paulo e de 50% da operadora de telefonia celular Vivo, a Telefnica teria interesse em comprar os 50% da Vivo em poder da Portugal Telecom. Se o negcio se concretizar, a Portugal Telecom, que tem interesse em manter operaes no Brasil, considerado um mercado lucrativo, poderia fazer uma oferta pelo controle da Oi e disporia de capital suficiente para adquiri-la. Quando viram que a empresa portuguesa poder se interessar em comprar a Oi, os dirigentes desta empresa correram para buscar a proteo do governo contra a investida do capital externo. O presidente Luiz Eduardo Falco e os scios privados que controlam a empresa ? os empresrios Srgio Andrade, da Construtora Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do Grupo La Fonte ? se reuniram na semana passada com o presidente Luiz Incio Lula da Silva por mais de duas horas e meia para expor suas aflies e, segundo uma fonte ouvida pela reprter do Estado Karla Mendes, saram do encontro sorridentes, "pois o presidente disse que tambm quer uma empresa brasileira forte e que no quer vend-la". Infelizmente para as finanas pblicas e, sobretudo, para os usurios de telefones fixos ou mveis, este apenas mais um episdio de ingerncia do governo num negcio que, do

ponto de vista financeiro e operacional, deveria ser conduzido inteiramente pela iniciativa privada, cabendo ao Estado brasileiro ? por meio de agncias reguladoras, e no do governo ? a regulamentao e a fiscalizao de suas atividades, com vistas preservao do interesse pblico, em particular assegurando o atendimento adequado da populao por meio da eficiente prestao de servios, a preos razoveis. No foi essa a preocupao do governo do Partido dos Trabalhadores quando se esforou para tornar vivel a compra da BrT pela Oi e no , tambm, sua preocupao neste momento, ao receber com simpatia o pedido de socorro dos donos da empresa. O que menos o preocupa o atendimento do usurio ou a proteo do dinheiro pblico. A fuso das operadoras patrocinada pelo governo resultou na forte concentrao do mercado, o que reduziu a concorrncia e, por isso, tende a prejudicar o usurio. Em razo do enorme interesse do governo no assunto, at mesmo a mudana das regras para a atuao e operao das empresas no setor de telefonia foi proposta e aprovada. Financiamentos concedidos Oi esto entre as maiores operaes j realizadas por bancos ligados ao governo federal.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: mercado internacional, poltica cambial, comrcio chins internacional.)

A nova promessa chinesa(Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 22/6/2010) A maior potncia exportadora, a China, terror dos concorrentes em quase todos os mercados, vai adotar uma poltica de cmbio mais flexvel, anunciou no fim de semana seu banco central. As potncias ocidentais h muito tempo acusam o governo de Pequim de manter o yuan desvalorizado para baratear as exportaes chinesas. Segundo a avaliao quase unnime, essa uma poltica desleal e incompatvel com as boas prticas da competio. Congressistas americanos ameaam impor barreiras a produtos chineses, se a distoro cambial for mantida. Dirigentes do FMI e do Banco Mundial participam do coro a favor da mudana cambial. A promessa chinesa, desta vez, surgiu uma semana antes de uma reunio do G-20, formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes. Diante da perspectiva de presses mais fortes, Pequim se antecipou e tentou apresentar um discurso tranquilizador. A maioria dos governos cobra das autoridades chinesas duas mudanas. Como primeiro passo, o banco central da China deve descolar o yuan da moeda americana. Depois, deve permitir uma valorizao suficiente para eliminar a vantagem competitiva "artificial". Este segundo passo o mais importante. Mas o outro significativo porque a moeda chinesa acompanhou o dlar durante 23 meses, desde o agravamento da crise nos EUA. Foi o recurso usado pelas autoridades de Pequim para neutralizar a depreciao da moeda americana. Esse expediente foi uma forma bvia de manter o yuan desvalorizado e autoridades de quase todo o mundo reclamaram do truque. Segundo o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, o problema real era a desvalorizao do dlar, porque a moeda chinesa apenas acompanhava a americana. Ele fez esse comentrio em pelo menos duas ocasies ? em abril, em Washington, e depois em Xangai, no dia 2 de junho. "Os Estados Unidos esto mantendo o dlar fraco para ajudar seu setor de exportao e a China no quer ser menos competitiva", disse Mantega. "O Brasil", acrescentou, "foi a maior vtima do dlar fraco." Ele parece haver esquecido de apenas dois detalhes: 1) o yuan j era subvalorizado antes da crise de 2008; 2) a China j tomava e continuou tomando mercados do Brasil na Amrica Latina e tambm nos EUA e isso se explica em boa parte por sua poltica de cmbio. O governo chins j havia prometido um cmbio mais flexvel. Nos ltimos cinco anos, essa promessa nunca resultou numa valorizao significativa do yuan. A moeda chinesa nunca deixou de ser, durante esse perodo, um importante fator de competitividade. Os governos do mundo rico mantiveram a presso sobre Pequim durante esse tempo, mas com xito quase nulo. As conferncias do G-20, institudas em novembro de 2008, nunca foram um bom cenrio para esse jogo. Em todas as declaraes, sempre se destacou a

importncia de maior equilbrio nas trocas internacionais, mas nunca houve, nem poderia haver, referncia explcita ao yuan. Referncias desse tipo continuaram ocorrendo nos encontros do G-7, composto pelas maiores economias capitalistas. A presso poderia ser um pouco mais aberta na prxima conferncia do G-20, no fim desta semana. Nessa fase de sada da crise, qualquer esforo para reduzir os desequilbrios do comrcio mundial ganha uma importncia extraordinria. Mas o banco central da China tentou limitar as expectativas causadas pelo comunicado de sbado. A poltica ser alterada, mas o yuan ser mantido "basicamente estvel e em nvel razovel e equilibrado", segundo novo informe divulgado no domingo. A mensagem provavelmente a seguinte: o cmbio ser mais flexvel, mas a valorizao, se ocorrer, ser lenta e gradual e ningum deve cobrar mais do que isso. Autoridades da zona do euro receberam a promessa, apesar de tudo, com otimismo e palavras encorajadoras ao governo chins. Segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, a China mostra boa disposio, "mas preciso aguardar os prximos desdobramentos". Pelo menos ele, em Braslia, no se limita a jogar a culpa nos americanos.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: poltica social, amparo social, pobreza, benefcios sociais, cidadania.)

Copa do Mundo e Renda Bsica de Cidadania(Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, Philippe Van Parijs - 22/6/2010) Aos olhos do mundo, o Brasil tem ido muito bem nos ltimos anos. Uma das reas que atraram a ateno foi sua luta contra a pobreza. Em parte, pelo que j alcanou com o Bolsa-Famlia. E, em parte, por causa da perspectiva ambiciosa que o governo brasileiro deu a todos os programas sociais quando, em janeiro de 2004, o presidente Lula sancionou uma lei que estabeleceu o objetivo de uma Renda Bsica de Cidadania para todos os brasileiros. Em todo o mundo, esse arrojado passo veio como uma surpresa. Quando o debate internacional sobre o ideal de uma renda bsica universal se desencadeou, nos anos 80, era bvio que essa era uma ideia restrita aos pases mais ricos. Muitos desses pases haviam introduzido programas de renda mnima, pelos quais chefes de famlia pobres tm o direito a um benefcio porque so registrados como desempregados ou porque sua renda declarada menor que certo patamar. Mas, desde que achem um emprego, o benefcio cancelado ou reduzido: o esforo punido com a retirada do benefcio. Da o desenvolvimento da "armadilha do desemprego" em que pessoas tendem a cair. Na Europa Ocidental, na Amrica do Norte, mais tarde no Japo e na Coreia, acadmicos e ativistas comearam a propor que esses benefcios focalizados no fossem cancelados, mas universalizados na forma de uma Renda Bsica de Cidadania paga a todas as pessoas. Se todos receberem o benefcio, no apenas os pobres, estes no estaro mais presos numa armadilha da pobreza. Tambm no haver nenhum estigma, porque os ricos e os pobres o recebero. No o objetivo dessa universalizao fazer os ricos ainda mais ricos, pois o sistema de Imposto de Renda deveria ser ajustado para que os ricos financiem seus benefcios." Tudo isso faz muito sentido, parece, nos pases mais ricos que j experimentaram sistemas focalizados de transferncias e descobriram seus efeitos perversos, mas no em pases com um incipiente Estado de bem-estar. Entretanto, logo se ouviram vozes no Brasil, na frica do Sul, no Mxico, na Argentina e noutros pases afirmando o contrrio. Os que acreditavam que uma Renda Bsica de Cidadania se espalharia primeiro nos pases mais ricos, dizem, esto to errados quanto Karl Marx, quando ele afirmou que uma revoluo socialista poderia ocorrer somente num pas altamente industrializado. Por qu? A razo fundamental que os sistemas de benefcios dependentes da renda das pessoas so particularmente difceis de administrar quando uma alta proporo da populao vive um pouco acima da linha da pobreza e trabalha na informalidade. Compreendi este ponto quando o senador Eduardo Suplicy me levou para visitar uma repartio em So Paulo na qual os administradores pblicos verificavam se as pessoas que se inscreviam no Programa Bolsa-Famlia se qualificavam para receber o benefcio. Um

homem com os culos quebrados tinha de se lembrar quanto ganhou no ano passado, ora trabalhando, ora no, num posto de gasolina e quanto sua esposa havia ganho como arrumadeira de diversas casas e esporadicamente ao vender mercadorias na feira local. Para muitas pessoas vivendo em dificuldades compreensivelmente difcil lembrar essas coisas com grande preciso. O risco de haver arbitrariedade, injustia, clientelismo e corrupo est em toda esquina. A nica soluo estrutural, com uma economia em grande parte informal, consiste em fazer o sistema de benefcios universal, financi-lo com recursos pblicos e que no use a renda pessoal como a base da taxao. O Programa Bolsa-Famlia um esquema baseado na renda familiar por pessoa. Como dependente da renda, vulnervel por todos os argumentos mencionados, mas representa um progresso. Esses obstculos fazem com que possamos olhar para alm do Bolsa-Famlia em direo Renda Bsica de Cidadania. Para caminhar em direo a esse destino necessrio faz-lo gradualmente com uma reforma tributria. Pode ser combinado com a obrigao da frequncia escola, na medida em que essa obrigao realmente venha a prover um benefcio adicional de educao, para quem de outra forma ficaria sem ela, em vez de se retirar a segurana de renda das famlias mais frgeis. Qualquer condio imposta alm do requisito da renda precisa ser avaliada em termos de quais desses dois tipos de efeitos vo prevalecer. Por exemplo, quanto mais exigente for a condicionalidade em termos do desempenho educacional, o mais provvel que as famlias em pior situao sejam penalizadas. desnecessrio dizer que a Renda Bsica de Cidadania, assim como o Programa BolsaFamlia, no so panaceias. Eles precisam ser parte de uma poltica social mais ampla, que tambm abranja o acesso universal gua e energia eltrica, a um nvel decente de educao bsica e aos cuidados com a sade para todos. Mas a Renda Bsica de Cidadania parte central de qualquer conjunto de polticas que podem ser seriamente colocadas para combinar os objetivos de "fome zero" e de "emprego para todos" em circunstncias contemporneas. A experincia brasileira notvel, mas ainda est longe de chegar ao fim da estrada. Ser comparada com as experincias de outros pases e submetida a um escrutnio simptico, porm crtico, de um grande nmero de acadmicos de muitos pases por ocasio do 13. Congresso Internacional da Basic Income Earth Network (Bien), ou Rede Mundial da Renda Bsica, que se realizar na Universidade de So Paulo em 30 de junho, 1. e 2 de julho prximos (ver www.bien2010brasil.com). Pode o Brasil mostrar o caminho a outros pases indo ainda mais longe do que o fez em direo a uma genuna Renda Bsica de Cidadania? Sem dvida, ser mais difcil do que vencer a Copa do Mundo mais uma vez. Mas para muitas pessoas nesse pas e em todo o mundo muito mais importante.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: uso de carto de crdito, economia popular, endividamento, gastos pessoais.)

Medo de inadimplncia nos cartes de crdito tem base(Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo - 22/6/2010) Os bancos brasileiros comeam a se preocupar com o uso de cartes de crdito pela nova classe mdia, considerando que um afrouxamento do crescimento pode desencadear uma onda de inadimplncia. A preocupao largamente justificada, porm as instituies financeiras deveriam reconhecer que, em grande parte, so responsveis por essa eventualidade. Durante muito tempo os bancos procuraram difundir o uso de cartes de crdito levando em conta que os ganhos que auferiam das empresas comerciais que aceitavam o pagamento com carto permitiam assumir o risco da inadimplncia dos portadores de carto. A oferta foi realizada sem levar em conta a capacidade financeira dos clientes, e nem todos tinham conta no banco emissor do carto. Felizmente, houve um acordo entre os bancos para que emitissem carto s quando fossem realmente pedidos. No entanto, com o alargamento das classes C e D, os bancos foram solicitados a emitir novos cartes sem verificar a capacidade financeira dos seus titulares. E mais: utilizaram no apenas o atrativo do "pagamento mnimo", como inventaram o crdito rotativo para estimular os titulares dos cartes a recorrer a emprstimos vinculados aos cartes, chegando, em caso de atrasos, a cobrar juros de 238,30%, taxa muito maior do que a do cheque especial (181,30%), que j era muito elevada diante do crdito pessoal, com taxa de 42,9%. E no esqueamos de que esse aumento da emisso de cartes de crdito ocorreu quando o crdito consignado se ampliava e que a poltica de casa prpria baixada pelo governo se traduz por um endividamento de prazo muito longo, em que o muturio far tudo para no perder o imvel adquirido, que a garantia para a instituio financeira. Alm disso, os bancos aceitaram que as lojas oferecessem pagamentos a prazo longo, muitas vezes com a garantia dos cartes de crdito. Neste contexto, pode-se entender a preocupao dos bancos com a possibilidade futura de uma exploso de inadimplncia, quando se considera que s no ms de abril se registraram 224,4 milhes de operaes com cartes de crdito. Caberia aos bancos mostrarem-se mais cautelosos na distribuio de cartes, fixando um limite de financiamento para eles. Seria bom, tambm, que estudassem a possibilidade de eliminar o "pagamento mnimo", que um convite ao endividamento, e recusassem operaes com prazos de pagamentos de mais de trs meses.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: calamidade pblica, enchentes, descaso do poder pblico, tragdia, catstrofes.)

Uma tragdia que se repete(Fonte: Jornal Gazeta do Povo - 23/6/2010) A imagem de terra arrasada do pequeno municpio de Unio dos Palmares, Alagoas, atingido pela enchente avassaladora que afeta estados do Nordeste, publicada pela Gazeta do Povo e grande parte dos jornais do pas na primeira pgina, ontem, comoveu os brasileiros pela violncia das guas. Alm de destruir totalmente a cidade e afetar gravemente outros 30 municpios, as chuvas causaram a morte de dezenas de pessoas e o desaparecimento de pelo menos outras 600 500 delas somente em Unio dos Palmares. Esse era o triste primeiro balano da enchente em Alagoas e Pernambuco, os estados mais atingidos, que deixaram sem casas, at agora, outras 120 mil pessoas. A defesa civil comparou o rastro de destruio da fora das guas, em Unio dos Palmares e outros municpios ao longo de uma faixa de 60 km s margens do Rio Munda, em Alagoas, tragdia da tsunami na sia, que ceifou milhares de vidas e aniquilou cidades costeiras. No para menos. Os dramticos depoimentos de testemunhas do conta de que, nesse estado, a situao totalmente desoladora. Famlias destrudas buscam nos meios dos destroos os corpos de seus entes queridos. No h gua potvel. Os moradores estavam bebendo gua salobra. Muitos feridos ficaram sem atendimento mdico adequado. A energia eltrica foi interrompida por mais de um dia. As estradas interditadas. E o socorro demorou a chegar. Em Pernambuco, o cenrio no era diferente. Especialmente no municpio de Palmares, no Sul, com o transbordamento do Rio Una. So milhares os desabrigados. A fora da correnteza destruiu duas pontes, provocando a total interdio da BR-101. O que se v nesses dois estados nordestinos uma tragdia anunciada. A mesma que assolou Santa Catarina e Minas Gerais, em 2008, que atingiu com menos gravidade alguns municpios paranaenses, no incio deste ano, e que afetou com a mesma violncia o estado do Rio de Janeiro, em abril ltimo. As enchentes no Rio haviam causado mais mortes do que qualquer outro incidente semelhante, em 2010, em qualquer parte do mundo. Nos ltimos 12 meses, aquela inundao havia sido considerada a quinta mais fatal do mundo. Os nmeros de mortos passaram de 100. Como assustador o nmero de desaparecidos em Alagoas, as autoridades temem que as chuvas possam ter causado uma tragdia muito maior. evidente que os mais atingidos so sempre os mais pobres, que habitam as encostas e as margens dos rios. Milhares de famlias, oprimidas pela desigualdade econmica e social e pela omisso do poder pblico, na luta desesperada pela sobrevivncia, habitam qualquer

pedao de terra, correndo toda a sorte de riscos. Em nmeros, esse quadro por ser resumido da seguinte forma: um relatrio de 2009 do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra que apenas 11% das pessoas expostas a catstrofes naturais vivem em pases pobres, mas que em pases pobres que ocorrem mais de 53% das mortes. Esse um problema complexo e difcil de resolver. No h como desalojar, a curto prazo, as imensas populaes das reas de risco e de ocupaes irregulares dos grandes centros urbanos e de boa parte dos municpios brasileiros. Alm de ser praticamente impossvel fazer obras monumentais de conteno. O desmatamento causa de muito desses desastres uma realidade ainda marcante. A falta de educao muito mais. S custa de muito planejamento e investimentos gigantescos, a longo prazo, que esse quadro poder ser alterado, gradativamente. Mas preciso comear a encarar o problema com a seriedade que merece, com polticas globais e aes integradas entre governos e municpios. Nenhum brasileiro merece pagar esse preo pelo descaso com a vida humana.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: reforma tributria, cobrana de impostos, reforma fiscal, tributao, injustia social.)

Fim ao escrnio tributrio(Fonte: Jornal Gazeta do Povo, Marco Tlio Kalil Ferreyro e Fernando Bertuol - 23/6/2010) No curso da histria econmica do pas, o crescimento da carga tributria foi assustador, principalmente considerando-se o fato de o Brasil ser um pas ainda em estgio de desenvolvimento. Em 1947, com o registro sistemtico das contas nacionais do pas, a carga era de 13,8% do PIB. Em 1965, com a chamada Reforma de Campos e Bulhes, que introduziu a tributao via valor adicionado (ICMS), passa para 19% do PIB e em 1970, com a consolidao dessa mesma reforma, Escreva com facilidade e pula para 25% do PIB, mantendo-se nesse patamar at 1993. J em 1994, a partir do advento do Plano elegncia! Real estabilizao monetria e necessidade de ajuste fiscal , passa para 29,7% do PIB e, desde ento, vem aumentando gradativamente ano a ano, atingindo a 35% em 2009, segundo dados divulgados pelo governo federal. Todavia, o que absolutamente nefasto o fato de o crescimento da carga tributria ter se dado na contramo da capacidade do pas em produzir riquezas. De 1995 at 2008 a carga tributria aumentou em 42,64%. No mesmo perodo, o PIB per capita cresceu em termos reais apenas 26,05%. Cremos que para mudar essa realidade no h outro caminho seno atravs da racionalizao/reduo do gasto pblico e diminuio do tamanho do Estado na economia. Juros elevados e elevada carga de impostos desestimulam novos investimentos, retraem a economia, impedindo a gerao de emprego e renda. Se ao menos os governos retornassem parte do esforo fiscal que impem sociedade contribuinte em investimentos na educao, sade e segurana, poderamos oferecer uma boa perspectiva s futuras geraes. Sabidamente, os governos tendem a cobrir o rombo de suas contas com o simples aumento de tributos. Ora, porque pensaria a administrao pblica em nvel federal, por exemplo, em atacar os verdadeiros problemas estruturais que impedem um ajuste fiscal permanente, j que tal atitude implicaria mudanas, principalmente no que se refere ao funcionalismo, baixssima eficincia dos servios prestados, na quebra de corporativismos pblicos evidentes e malvolos? Vale lembrar um clebre ensinamento de Maquiavel, em O Prncipe, sobre as dificuldades e perigos da instituio de uma nova ordem de coisas e que ainda vigora com plena fora. Isso porque os beneficirios da ordem antiga lutaro

bravamente para mant-la e os que se beneficiaro da nova ordem iro defend-la tibiamente porque no tem certeza dos seus benefcios. Tal situao explica, em parte, as dificuldades quase intransponveis de se implementar uma profunda, completa e indelevelmente necessria, reforma fiscal. Diante desse doloroso escrnio tributrio, que tem sido preconizado pelos governos nas suas diferentes esferas, talvez seja realmente a hora de a sociedade contribuinte promover uma verdadeira insurreio antitributria. Os consumidores no esto mais propensos a aceitar candidamente essa retrica governamental de fazer ajuste pelo lado da receita e somente prometer, mas nunca cumprir, o ajuste pelo lado da despesa pblica, situao nefasta que apenas pereniza a inrcia do Estado naquilo que ele deveria efetivamente atacar: seu gigantismo, seu corporativismo e sua ineficincia que demarcam uma mquina governamental pesadssima, autofgica, ineficiente e perdulria. Chega de tanto imposto! Cada vez mais, os governos abocanham o bolso do cidado, das famlias contribuintes e o caixa das empresas. Decididamente, o governo no cabe dentro do PIB. Enquanto que nos ltimos cinco anos o PIB do pas cresceu 28%, somente as despesas com pessoal e encargos sociais aumentaram 39%. O mais perverso, no entanto, que, alm de gastar muito, o governo gasta muito mal, no h qualidade no gasto pblico. Basta ver os pssimos servios prestados pelo Estado em contrapartida aos impostos nas reas da sade, segurana, educao e justia. Se considerarmos o que gastamos com planos de sade, educao em escolas privadas e segurana privada, a carga de impostos que recai sobre a sociedade contribuinte salta para algo prximo a 70%! Um verdadeiro assalto.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Cinema infantil, filmes infantis, filmes para crianas.)

O MUNDO CRUEL(Fonte: Jornal Folha.com, Luiz Rivoiro, 30/5/2010) O que um filme "para crianas"? Ou, reformulando, o que seria um filme "adequado" para menores? Assim como uma infinidade de questes acerca do futuro da humanidade, essa uma pergunta que me fao quase todos os finais de semana quando me pego planejando com os garotos a nossa prxima ida ao cinema. Muita gente pode achar isso tolice, j que tem a resposta na ponta da lngua: "Ora, qualquer produo que apresente bichinhos fofos, animais falantes ou crianas espertinhas, algo como Backyardigans e Pinky Dinky Doo, certo?" Huuuummm... Sim. No. Mais ou menos. Cada vez mais, no entanto, a chamada indstria do entretenimento vem se sofisticando e introduzindo questes complexas em suas produes voltadas para o pblico infantil. J falei aqui, por exemplo, de UP - Altas Aventuras, da Pixar. Seu foco obviamente a criana, mas impossvel ignorar o apelo e a enorme carga de significados que sua sequncia inicial sobre a passagem do tempo, vida e morte capaz de tocar fundo qualquer adulto e, ainda assim, encantar o pblico infantil. Esse apenas um exemplo de temas ditos "adultos" introduzidos de forma consciente em tramas aparentemente pueris. H outros, claro, como a questo da preocupao com o futuro do planeta em Wallie., tambm da Pixar, ou a descoberta do ser "humano" para alm da aparncia exterior em Shrek, da Dreamworks, ou ainda sobre a consolidao da amizade apesar das diferenas, como vemos em A Era do Gelo, da Fox. Mas no s isso. Para alm dos chamados temas "nobres", existe uma outra vertente. Mais cruel. E, ao meu ver, igualmente necessria. Nesta categoria, encaixam-se especificamente os filmes dirigidos/produzidos por Tim Burton. Seus personagens quase sempre no so bonitos. Muito pelo contrrio. So feios. Melhor, horrorosos. Por dentro e por fora. Expem na sua bizarrice o que h de pior no ser humano. D uma olhada em A Fantstica Fbrica de Chocolate, por exemplo. Ningum ali, salvo o garoto Charlie e sua famlia, l muito normal. Williy Wonka chega mesmo a apresentar sinais claros de sadismo ao "punir" as crianas que visitam a sua fbrica (e olha que a verso de Johnny Depp d uma suavizada no personagem interpretado por Gene Wilder na verso de 1971, ainda mais cruel). E d para dizer que um filme para crianas? Claro que sim! Os meninos l em casa adoram! E no s esse. Mais sinistros, O Estranho Mundo de Jack, A Noiva Cadver, 9, Alice no Pas das Maravilhas ainda tem a ousadia de falar de aberraes, monstros, fantasmas, vampiros, cadveres, bonecos nada bonitinhos, personagens amalucados. Os temas e a paleta de cores vo muito alm do universo "azul beb e cor de rosa e bichinhos cuti-cuti" que normalmente povoam o imaginrio que os pais insistem em construir para seus filhos. Mas o mundo afinal de contas no assim? Por acaso no devemos nos acostumar com a existncia da morte em nossas vidas? Ou com todo o "dark side" da raa humana? Ou, enfim, com a existncia do mal? A meu ver, sim.

Claro que no acho que as crianas devam ser expostas a altas doses de violncia, sangue, tripas, torturas ou coisas do gnero. bvio que no. Cada coisa a seu tempo, sem dvida. Mas considero vlida a proposta de Burton de tratar de temas aparentemente "tabus" de maneira ao mesmo tempo criativa e bizarra. E as crianas sabem o que est rolando. Quando Jack sequestra o Papai Noel para se apoderar do Natal, por exemplo, elas sabem que aquilo no certo. So mais espertas do que podemos admitir, ainda que teimemos em no aceitar isso em nome de uma suposta e perene "inocncia" infantil. Nada disso. O que eles veem na tela apenas um conto de Natal, uma fantasia, como tantas outras. Um pouco diferente aqui e ali, mas no fim de tudo, uma fantasia. S isso. E ningum vai sair por a cortando cabeas s por que a Rainha assim o diz em Alice. Por isso me irrito com gente que se dispe a mudar o final dos contos escritos pelos irmos Grimm ou tornar as canes infantis politicamente corretas (e olha que, no original,os contos de fada so muito, mas muito mais cruis do que as verses lanadas por aqui). Assim no se muda a realidade, tenta-se maqui-la, pint-la de azul beb e cor de rosa. Salva-se o gato, mas e da? Sabemos muito bem que h muito mais cores por a, algumas nem to brilhantes. Aos poucos, as crianas tambm iro descobrir isso.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: envolvimento emocional dos brasileiros com o futebol, futebol, Copa do Mundo na frica, disputa esportiva.)

LIES AFRICANAS(Fonte: Zero Hora, 3/7/2010) A intensa repercusso popular da eliminao do Brasil na Copa do Mundo da frica do Sul evidencia mais uma vez a importncia que o futebol tem para o pas. Foi nesse esporte, talvez mais que em qualquer outro, que nosso pas conquistou suas mais importantes vitrias e evidenciou notveis padres de qualidade individual e de equipe. Por isso, a cada nova competio mundial, o pas se veste patrioticamente de verde-amarelo, mobiliza-se em cada recanto de sua geografia, comemora com ardor as vitrias e sofre intensamente com derrotas como a de ontem. Tudo muito compreensvel. Mesmo com esse envolvimento emocional dos brasileiros, importante que se tenha a tranquilidade de ver em tudo apenas uma disputa esportiva. Importante, mas apenas uma derrota. Um triunfo teria ampliado a autoestima do pas, mas no seria decisivo para nenhum dos grandes destinos nacionais. Numa disputa esportiva, o insucesso tambm faz parte do jogo. No adianta, depois de consumado, tentar fazer uma caa aos culpados, como se houvesse apenas um e como se o nico critrio para a avaliao de virtudes e defeitos de uma equipe deva ser o da vitria eventual. bvio que a crtica deve ser feita e que sbio ver onde houve equvocos, quais foram as falhas e onde ttica e tecnicamente a Seleo poderia ter sido melhor. Sem passionalismos, o Brasil precisa a partir de agora renovar-se, sabendo ver quais foram as virtudes e quais foram os pontos fracos do grupo que o representou na frica do Sul. Afinal, pelo fair play indispensvel nesta hora, preciso reconhecer que os brasileiros no so os nicos a praticar futebol de excelncia. Reconhecer a existncia de outras foras faz parte de um exerccio de humildade, revelador de grandeza. Sobram lies africanas, positivas e negativas, em todos os setores. Para nosso pas, que daqui a quatro anos ter a responsabilidade de ser a sede dessa mesma competio, essas lies so especialmente oportunas e valiosas. O Brasil despediu-se da Copa da frica, mas j est classificado para 2014. Temos que pensar no apenas que o Hexa foi adiado por mais quatro anos, mas tambm que todos os brasileiros tm a obrigao de contribuir para que a nossa Copa seja bem-sucedida. Evidentemente, a maior responsabilidade cabe s autoridades encarregadas de tocar o projeto, que j est atrasado. essa nossa tarefa: alm de prepararmo-nos para em 2014, retomar o caminho das vitrias com inteligncia e responsabilidade. A todos os brasileiros, compete interpretar adequadamente o insucesso de ontem e lembrar que o futebol de nosso pas continua sendo o primeiro do mundo em ttulos. Esquecer que a vida continua equivale a perpetuar a derrota. Nossa resposta deve ser a preparao da Copa de 2014 para que possamos retomar, com inteligncia, talento e responsabilidade, o caminho das vitrias.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: sade pblica, atendimento mdico populao, atendimento mvel por ambulncias, socorro mdico e paramdico.)

Servio deficiente(Fonte: Zero Hora, 3/7/2010) Alm de contar com poucas opes de atendimento na rea de sade, a populao de muitos municpios do interior do Estado ainda enfrenta uma inaceitvel demora quando necessita de uma ambulncia do Servio de Atendimento Mvel (Samu). Como quem est s voltas com uma situao de emergncia no tem condies de esperar alm do tempo admissvel, esta uma questo emergencial, para a qual o poder pblico precisa encontrar solues, e logo. A eficincia no pronto atendimento um pressuposto para conferir eficincia ao Sistema nico de Sade (SUS). Por isso, administradores pblicos s voltas com precariedade na prestao desse tipo de servio precisam agir rpido para permitir que a populao de municpios mais afastados possa contar com mais agilidade. Em princpio, o problema no deveria ser atribudo apenas ao fato de as chamadas por socorro em muitos municpios serem direcionadas para outras regies. Mesmo com essa tentativa de simplificao, o atendimento poderia funcionar sem maiores problemas se toda a estrutura estivesse montada justamente para fazer o melhor. No tem sido esse, porm, o padro de atendimento em muitas cidades do Interior, nas quais os bombeiros acabam invariavelmente chegando antes da ambulncia para prestar socorro. Obviamente, o atendimento em situaes de emergncia acaba tendo um custo proporcionalmente maior e mais difcil de ser bancado no caso de cidades de menor porte. Ainda assim, como os servios nessa rea so compartilhados, este um problema diante do qual os administradores pblicos no podem se conformar. inadmissvel que tantos gachos possam estar sendo preteridos na hora de um problema de sade simplesmente por residirem longe dos maiores centros urbanos. Essa uma deficincia que precisa ser enfrentada logo, pois o que est em questo a sade e mesmo a vida dos gachos.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Ficha limpa, projeto ficha limpa, poltica, corrupo, direito eleitoral, candidatura de polticos.)

FICHA LIMPA, ENTRE O INCUO E O ILGICO(Fonte: Jornal Folha.com, Hlio Schwartsman, 19/5/2010) A pedidos, comento hoje a aprovao do projeto de lei Ficha Limpa, que amplia as restries candidatura de polticos que tm problemas com a Justia. Agrada-me a ideia de que uma proposta concebida e desenvolvida pela chamada sociedade civil tenha finalmente chegado ao Legislativo atravs da figura do Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLP). No uma empreitada fcil. Para valer, PLPs precisam ser encampados por no mnimo 1% do eleitorado nacional, distribudo por pelo menos cinco Estados, com no menos de trs dcimos por cento dos eleitores de cada um deles --normalmente, muito mais simples encontrar entre os 594 parlamentares um que subscreva o teor do projeto e o apresente como se fosse seu. Seja como for, os organizadores do movimento Ficha Limpa optaram pelo caminho mais difcil, mas tambm mais fortemente simblico do PLP, e conseguiram a faanha de, em pouco mais de um ano, reunir 1,6 milho de assinaturas. Mobilizando um bocadinho a opinio pblica, fizeram tambm com que os parlamentares, por instinto contrrios a tudo o que possa embaraar-lhes os movimentos, votassem a favor da proposta pelos significativos placares de 76 a 0 (no Senado) e 388 a 1 (na Cmara; o deputado solitrio ao que tudo indica se confundiu na hora de apertar os botes), ainda que modificando-a substancialmente. Receio, porm, que se encerrem por aqui meus elogios ao Ficha Limpa. Entrando no mrito do projeto, ele fica entre o incuo e o ilgico. Levantamento feito pela Folha com os 70 deputados federais paulistas, os 3 senadores pelo Estado mais os 37 lderes partidrios no Congresso revelou que, desses 110 apenas um, Paulo Maluf, estaria impedido de concorrer se o projeto j estivesse em vigor. Maluf o nico que j foi condenado por crime considerado grave para polticos (delitos como racismo, homicdio, estupro, trfico de drogas, desvio de verbas pblica) em rgo colegiado. Na verso original da proposta, qualquer condenao bastava para tornar o sujeito inelegvel. Os deputados, contudo, alteraram o projeto para que a proibio s ocorresse aps sentena proferida por tribunal de segunda instncia (ou superior). No se pode afirmar que seja um despropsito completo. Por este Brasil afora, no muito difcil imaginar um poderoso cacique local aliando-se a um juiz, um promotor e um delegado (basta um de cada) para providenciar o flagrante e a condenao do poltico rival, banindo-o assim da vida pblica por oito anos. Digamos que, com a exigncia do rgo colegiado, conluios desse tipo ficariam mais custosos.

Creio que exista tambm um problema de lgica por trs do projeto. Pelo menos de acordo com o ideal racionalista clssico, numa democracia representativa funo do eleitor --e de mais ningum-- selecionar o candidato no qual depositar sua confiana. claro que o mundo no funciona exatamente como preconizavam os filsofos iluministas. Mas, mesmo assim, tendo a desconfiar de solues que procurem "corrigir" o cidado. E o pressuposto do Ficha Limpa, vamos admiti-lo, o de que o eleitor incapaz at mesmo de distinguir bandidos de pessoas honestas. Cuidado, no estou afirmando que ele saiba. Se soubesse, no teramos os mandatrios que temos. Parece-me, porm, complicado tentar suprir com leis e regulamentos o que falta em informao/educao. De resto, o resultado um pouco cartorialista. Digamos que o controle exercido pelo Ficha Limpa s ocorre "a posteriori" e de forma imperfeita. No possuir condenaes no significa em absoluto que o sujeito no seja um bandido. Nosso sistema judicial compatvel com inmeros adjetivos, mas no com termos como "eficiente" ou "certeiro", em especial quando lida com acusados poderosos. Para dar uma ideia, de acordo com o site da Transparncia Brasil (www.transparencia.org.br), dos 110 parlamentares que fizeram parte do levantamento da Folha, 36 (Maluf excludo) j haviam sido condenados em primeira instncia ou eram rus em processos ou haviam sido indiciados por crimes que, se confirmados por tribunais, os tornariam inelegveis. Como j propus numa coluna recente, acho que a chave para o problema fazer com que o partido assuma responsabilidade pelas atitudes de seus filiados eleitos: se o poltico deslizar, tanto ele quanto a sigla so punidos. Em relao ao sujeito, a pena j est estabelecida: cassao do mandato e inelegibilidade por oito anos. preciso, ento, discutir a sano que cabe ao partido. No caso dos cargos majoritrios, acho que poderamos pensar em proibir a agremiao de apresentar postulantes ao mesmo posto pelos mesmos oito anos. Se um senador pelo partido P se revelou um crpula e foi merecidamente cassado ou condenado pela Justia em crime relacionado funo, a P ficaria por oito anos impedido de lanar qualquer candidato a senador por aquele Estado. Seria preciso bolar algo parecido para os cargos proporcionais (deputados e vereadores). Percebam que h uma diferena grande entre esse sistema e o Ficha Limpa. Enquanto o projeto recm-aprovado apenas pune quem j cometeu o delito e foi condenado em segunda instncia, o mecanismo que proponho levaria (pelo menos em teoria) as legendas a investigar um pouco melhor os postulantes a cargos pblicos e a barrar as pessoas que cheiram a encrenca. De alguma forma, desjudicializaramos (sei que a palavra horrvel) o processo, o que me parece positivo. Encerro, porm, com uma mensagem de ceticismo. Apesar de estar eu prprio propondo uma alterao no sistema, tendo a ver com desconfiana a tal da reforma poltica, que costuma ser vendida como a redeno de todos os problemas nacionais. Exceto pelo fim do voto obrigatrio e do teto de representantes na Cmara, que me parecem mudanas necessrias, receio que discusses como financiamento pblico de campanha e voto distrital misto apenas nos levariam a trocar dificuldades conhecidas por atribulaes ignotas. Pode at ser divertido, mas no soluo. Acredito at que no existam solues. Como j tive a oportunidade de escrever neste espao, pesquisas no campo da neurocincia revelam um eleitor cada vez mais passional e pouco dado a reflexes polticas e at mesmo racionais.

Nesse cenrio, a democracia boa no porque traduza num clculo desapaixonado a vontade geral das pessoas, mas simplesmente porque um sistema que consegue com certa eficincia promover algum tipo de alternncia no poder e assim pacificar a sociedade.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Cosmologia, origem da vida, histria do universo, galxias e estrelas. )

UNIVERSO, UMA HISTRIA DE ERROS(Fonte: Jornal Folha.com, Hlio Schwartsman, 13/5/2010) Com algum atraso, comento o livro "Criao Imperfeita", do fsico Marcelo Gleiser, lanado em maro ltimo. Gostei bastante. uma obra de receita improvvel: junte uma competente reviso da fsica de partculas com um panorama dos ltimos trabalhos em cosmologia e salpique um pouco do que j se publicou sobre a origem da vida; acrescente mistura um tom memorialista e extraia deliciosas concluses epistemolgicas, que, se no questionam a base da cincia ocidental, pelo menos lanam novos "insights" sobre as motivaes dos que a escreveram e o tipo de busca em que se enredaram. Como sou menos do que um aprendiz em fsica e biologia, no me aventuro muito nessa seara. S o que posso dizer que Gleiser, como bom professor --atualmente, ele d aulas no Dartmouth College, em New Hampshire (EUA)--, quase claro em suas explicaes. Ao ler seus esclarecimentos sobre brions, lptons e supercordas, ficamos com a sensao, certamente enganosa, de ter compreendido tudo. Deixemos, entretanto, os quarks e bsons para os fsicos. O que me interessa discutir aqui a filosofia da cincia por trs do livro. A tese central de Gleiser que, desde os primeiros filsofos gregos, sempre foi a busca por princpios de unificao e simetria que inspirou os cientistas. Desvendar o mundo equivalia a descobrir a ordem matemtica por trs das coisas. "A matemtica o alfabeto no qual Deus escreveu o universo", disse certa vez Galileu Galilei. E o astrnomo de Pisa no foi o primeiro nem o ltimo a tentar ler o divino na ordem natural. A tradio, com efeito, remonta aos gregos --especialmente os pitagricos e a Plato--, mas prosperou, ecoando at mesmo em Einstein, para quem "o Senhor no joga dados". (Diga-se, "en passant", que, embora muitos gostem de citar Einstein como exemplo de cientista religioso, este no o caso. certo que ele adorava metforas envolvendo a imagem de Deus, mas, na verdade, era um judeu ateu de boa cepa. Numa carta http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1505200804.htm escrita em 1954 --ou seja, um ano antes de sua morte-- ao filsofo alemo Eric Gutkind, o fsico no deixa margem a dvidas: "A palavra Deus para mim nada mais que expresso e produto da fraqueza humana, a Bblia uma coleo de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que so bastante infantis. Nenhuma interpretao, no importa quo sutil, pode mudar isso"). De volta a Gleiser, o autor sustenta que em virtude desse amor pela simetria, ao qual chama de "encantamento jnico", que a fsica persegue at hoje uma teoria que unifique

todas as quatro foras da natureza --eletromagnetismo, gravidade, e as foras nucleares forte e fraca. S que perfeitamente possvel que essa supersimetria pela qual ansiamos com tanto ardor no exista. E, se precipitado desde j abrir mo de busc-la, ainda mais errado erigir essa simetria em dogma. E a Gleiser se prope a contar uma histria um pouco diferente. Segundo ele, possvel interpretar a histria do universo como uma histria de assimetrias. Foi um ligeiro excesso das partculas de matria sobre as de antimatria nos primeiros instantes aps o Big Bang --um desequilbrio-- que tornou possvel a existncia de galxias e estrelas. De modo anlogo, ao que tudo indica, pequenas flutuaes randmicas (trmicas, de radiao ou sabe-se l o qu) --um desequilbrio-- esto na origem das molculas orgnicas das quais somos constitudos. Tambm as mutaes, que permitiram a transformao de tomos de carbono ligados a meia dzia de elementos qumicos baratos em organismos complexos, so fruto de erros aleatrios de replicao. Evidentemente, Gleiser no est propondo que viremos do avesso a forma de fazer cincia. Para sermos rigorosos, ele no est nem mesmo sugerindo que a narrativa dos desequilbrios seja superior a uma outra, que enfatize as simetrias. (Mal e mal, foi a busca pela harmonia que nos legou todo o conhecimento que acumulamos at agora). No fundo, a diferena entre essas duas narrativas de ordem esttica. O que ele diz, e me parece ao mesmo tempo extremamente sensato e humilde, que a cincia uma busca sem fim. No existem nem jamais existiro teorias finais. Nunca poderemos conhecer tudo, pois existem limitaes para o que podemos medir. E, no que se torna um "Leitmotiv" ao longo do livro, s conhecemos o que podemos medir. Com isso, a cincia fica como que condenada a ser no mximo a melhor explicao que uma determinada poca pode dar ao conjunto de observaes (mensuraes) com as quais lida. Da no decorre, evidentemente, que a especulao deva ser banida da cincia. preciso porm que, em algum momento, as especulaes encontrem amparo na experincia, ou o discurso deixa de ser cientfico e se torna apenas metafsico. Os limites, claro, so tudo menos definidos. Uma boa teoria pode surgir dcadas antes de que sejam produzidos os equipamentos capazes de test-la. Nesse interstcio, ela no deixa de ser uma hiptese cientfica. Por outro lado, se a cada no verificao de um fenmeno previsto pela teoria, os fsicos vo ajustando os parmetros para procurar um pouquinho mais longe e a teoria vai sendo "esticada". Ela no chega a ser falseada, mas talvez seja o caso de acionar o sinal amarelo. Para Gleiser, mais ou menos esse o cenrio da fsica de partculas, que vai exigindo aceleradores de energias cada vez mais altas. hora de considerar a possibilidade de certas partculas conjecturadas pelo nosso desejo de simetria no existirem. O tom memorialista de "Criao" d um bom tempero, pois Gleiser conta como se deu sua transformao de apaixonado defensor de teorias unificadas em ctico desse tipo de narrativa. Evidentemente a trajetria do autor no constitui prova de nada, mas inegvel que confere sabor obra. E, por falar em sabor, vale destacar uma gostosa ironia. Gleiser, que um dos cientistas que criticam o radicalismo ateu de Richard Dawkins, acaba, ainda que sem o alarde de seu colega ingls, desferindo mais um formidvel golpe contra Deus. Na narrativa das

assimetrias que ele esboa, j no restaria a Deus nem mesmo o papel de Grande Gemetra ou de Arquiteto do Universo. O universo e a vida so o resultado de uma cadeia de erros e imperfeies. Se a matemtica o alfabeto divino, Deus dislxico (desculpem, no resisti piada).

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Cozinhar, cozinhar para curar depresso, vida domstica.)

COZINHAR PARA VIVER(Fonte: Jornal Folha.com, Luiz Caversan, 29/5/2010) Minha me errava no sal. Dificilmente acertava o ponto do condimento cuja funo bsica realar o sabor dos alimentos. Portanto, cozinhava mal, a coitada, mas isso acontecia no porque ela fosse displicente com o bem estar da famlia, mas sim porque, alm de ser a tpica dona de casa de jornada dupla, detestava cozinhar. Fui criado em um ambiente feminino, com duas irms, tia, primas, amigas da tia, das irms e das primas que tornaram a infncia e boa parte da adolescncia repletas de smbolos do universo da mulher. A comida, desse modo, deveria ser uma delas. Talvez por conta da relativa restrio financeira, que impedia que se fosse muito alm do trivial simples, meu repertrio culinrio sempre foi, nos primeiros anos de vida, muito restrito. Comia-se basicamente para se alimentar, no pelo prazer que uma refeio pudesse proporcionar. Isso apesar a influncia italiana de um lado da famlia e portuguesa do outro... Da a surpresa quando, de repente e no mais que de repente, ali pelos 20 anos, descobri a alegria e a satisfao de cometer um prato de comida que exigisse uma elaborao mnima. Uma descoberta que felizmente me acompanha at hoje. O primeiro prato, um cozido portugus, foi perpetrado quando sa da casa dos pais, na ento muito longnqua zona leste de So Paulo sem metr, para morar em Pinheiros, mais perto do local onde minha vida jornalstica se iniciava. Convidei a famlia toda para o apartamento que dividia com o tambm recentemente evadido de casa Joo Manuel, amigoirmo de origem lusitana e que me passou a receita. Que foi realizada com um xito surpreendente, inclusive para mim. Todos se fartaram com a variedade de carnes e legumes cozidos com temperos muito perfumados. Impossvel esquecer como ficou bom o piro, completamente no ponto. Pois isso: quem se lembra do ponto de um piro elaborado 30 anos atrs tem mesmo uma relao muito boa com a comida... E acho que a coisa mais ou menos assim mesmo: quem tem a ver com as lides do forno e fogo, tem; quem no tem, no tem. Para quem gosta desse tema, to antigo quanto o homem e to em voga hoje em dia, recomendo fortemente o filme "Jules e Julia", da diretora Nora Ephron, com Meryl Streep e Amy Adams. Encantador o desfile de pratos e sensaes que alm de tudo estabelecem incrveis ligaes entre duas geraes, dois mundos distintos, e cujo grande ponto de

contato justamente, mais que o paladar, a capacidade de realizar alguma coisa que vai agradar muito este sentido, desta maneira satisfazendo-se a si prprio. Em mais de uma ocasio, a personagem de Amy, Julie, deixa claro a importncia para ela da personagem de Meryl, Julia, uma mulher ftil que se torna uma grande cozinheira e que, compartilhando seus talentos, praticamente ensinou os EUA a cozinhar, pelo menos a cozinhar francesa. "Julia mudou a minha vida", diz Julie, que sofria enfurnada num subrbio de Nova York e renasce graas ao fantstico universo da gastronomia que descobre na vida e nos livros de Julia. Certamente o encanto do filme vem muito de uma identificao com esse "renascer" na cozinha, porque trata-se de espcie de terapia ocupacional que j me tirou do buraco algumas vezes. A mais marcante ocorreu coisa de uma dcada atrs, quando uma surto de depresso fortssimo me prendeu dias dentro de casa e a nica conexo que conseguia estabelecer com a vida (e o mundo) era por meio da comida que acabava preparando na base do esforo, mas que me manteve minimamente lcido. S e triste, devorava livros de receitas, ia para a cozinha, preparava diversos pratos e... os devorava, j ento um pouquinho menos triste. Outro dia isso voltou a acontecer, mas em circunstncias diversas. Tinha uma deciso profissional muito sria e difcil para tomar, o que me causou uma quase incontrolvel ansiedade. Que poderia, claro, ser resolvida na base do Rivotril. Mas o remdio que escolhi foi muito mais prazeroso: fui para a cozinha e passei a tarde preparando pratos. Assim, foi surgindo desde uma salada de bacalhau com batatas e alcaparras em creme de feijo branco no lugar da maionese, at um molho de tomate italiano doce bem encorpado, daqueles para guardar e ir usando aos poucos. Alm de um delicioso ragu de cordeiro, que ficou cozinhando horas, um feijo bem temperado, acrescido de fatias de paio portugus, batatas ao forno com azeite virgem e alecrim, pinhes para um pur que ainda vai ser preparado e, de quebra, uma omelete de aspargos brancos. Nada demais, e nada que combinasse muito entre si, mas a geladeira ficou bem animada. E o cozinhar, outra vez, serviu para, muito alm de manter-se, sentir-se vivo... Fazer um alimento virar comida uma excepcional maneira de exercer controle sobre alguma coisa, o que significa dizer exercer controle sobre a prpria existncia. Alm, claro, de ser muito gostoso.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Revoluo tecnolgica, tecnologia, futurstica, aldeia virtual planetria.)

POLEGAR OU INDICADOR(Fonte: Jornal Folha.com, Luiz Caversan, 22/5/2010) O futuro j chegou, e a dvida agora uma s: indicador ou polegar? Como vou falar com o mundo, todo o mundo: com o indicador, o dedo mais exigido pelo manuseio do cobiado Iphone ou similares touchscreen? Ou com o polegar, "ferramenta" indispensvel para o pessoal mais pragmtico do BlackBerry e congneres? Porque no existe outra maneira de fazer parte dessa imensa e sensacional comunidade, dessa nossa aldeia globalizada em que todos falam ou podem falar com todos o tempo todo, seno por intermdio dos instrumentos mveis de comunicao dos quais Iphones e BlackBerrys so, por enquanto, as expresses mximas. Olhe agora para o seu lado e voc muito provavelmente ver algum teclando. Na fila, na rua, no bar, na escola, no trabalho, na cozinha, no metr, na balada, na cama, at em velrio vi outro dia um cara de olhos vermelhos ali, tec tec, certamente dando uma m notcia... Ok, os laptops e os net books tambm (ainda?) cumprem satisfatoriamente essa funo. Mas, o smartphone como prolongamento da mo, da mente e da fala um caminho sem volta. Ento, que esse caminho seja o mais suave possvel, que nossas vidas se enriqueam e cada vez nos libertemos mais nesse mundo sem fronteiras, e no, ao contrrio, nos escravizemos criando/fantasiando/inventando novas necessidades desnecessrias, banalizando e/ou tornando suprflua aquela que a mais revolucionria forma de comunicao pessoal da histria. Voc que est navegando no seu aparelhinho agora, veja aqui, nesta nova Folha.com, por exemplo, a imensido de possibilidades que a tecnologia coloca literalmente na sua mo, e aproveite: viaje, conhea, saiba, conclua, duvide, interfira, opine, entre, saia, volte a entrar. Quando me tornei jornalista, 33 anos atrs, as palavras surgiam do chumbo derretido e eram praticamente carimbadas no papel. Agora, elas fluem exatamente como o pensamento que as gerou. Muita coisa incrvel aconteceu de l para c, mas nunca vi tamanha revoluo tecnolgica em curso, acontecendo agora, na minha frente (na minha mo...). E fascinante fazer parte dela, seja por meio dos textos que aqui aparecem, seja pela incrvel convivncia socioantropolgica proporcionada pelo Facebook, seja pelo cri-cri do Twitter, pelo "velho e

bom" e-mail, seja pelo Ipad que para mim ainda no chegou, mas j j est por aqui, seja por conta da mais nova e fantstica possibilidade tecnolgica que vai pintar logo logo. Vamos l, escolha um dedo e fale com sua aldeia --que virtual, planetria e absolutamente real-- ou cale-se para sempre.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Me, dia das mes, maternidade abalada, injustia.)

TRS MES(Fonte: Jornal Folha.com, Luiz Caversan, 8/5/2010) Me nmero 1 - passou dos cem anos de vida, , cercada pelos bisnetos, netos e filhos, alguns muito talentosos e famosos, envolvida em carinhos e lembranas delicadas, marcadas inclusive por um relacionamento de uma vida toda com um dos principais pensadores que este pas j produziu. Me nmero 2 - viveu num discreto recolhimento, quebrado apenas pelas ocasies em que seu filho famoso, alis o mais famoso de todos, prestou-lhe homenagens pblicas. A fama do filho fez com que a senhora de mais de 90 anos fosse reverenciada por centenas, enquanto ele demonstrava pblica e sofridamente todo o seu amor beira do tmulo a que o corpo daquela lady baixou recentemente. Me nmero 3 - aos 15 anos, conhecida apenas pela letra J. Grvida precocemente, perdeu o filho que esperava. Furtivamente e abalada com a maternidade interrompida, invadiu um hospital e levou para casa um recm nascido, como se fora seu. Descoberta, devolveu a criana e simbolicamente perdeu o filho pela segunda vez. Por conta do delito "gravssimo", trancafiaram-na em um abrigo de menores. Sequestradora. Nada a ver uma com a outra, essas histrias, a no ser o fio condutor da maternidade e a evidncia que seus personagens ganharam no noticirio recente. Dona Maria Amlia, a primeira me, foi casada com o grande Sergio Buarque de Hollanda, deu ao mundo e ao Brasil em particular Chico Buarque, alm de outros filhos talvez menos abenoados pelo talento, mas no menos queridos em uma famlia harmnica e saudvel, conduzida pela sua forte personalidade. Personalidade essa que, aps a morte do marido, manteve em evidncia uma postura correta de conduzir as coisas numa perspectiva de tolerncia e progressismo, o que a levou a ser amiga e admirada at pelo presidente Lula, mas desde o tempo em que ser amiga de Lula era uma temeridade. Recentemente comple tou um sculo de vida e, ao falecer, obteve homenagens e reconhecimento merecidos. Dona Laura era uma mulher discreta e reclusa, mas consta que tambm de muita fora de carter, tendo sido a principal incentivadora e apoiadora, em seus princpios e por toda a vida, da carreira musical mais bem sucedida do pas. Lady Laura sempre mereceu o carinho e a dedicao ostensiva do filho, Roberto Carlos, o que se estendeu aos fs deste, que s dezenas a homenagearam quando de sua morte tambm recente, amparando o pranto pblico do "rei". s histrias de convivncia pacfica, amor e solidariedade se contrape a triste sina de J.

Descrita como "atormentada e doente" pelo prprios policiais que a conduziram presa, aquela menina, uma criana de fato, teve seu ato de inconsequente insanidade, de infantil delrio, duramente interpretados pelo promotor Oswaldo Monteiro da Silva Neto, que pediu sua priso. No menos intolerante foi o juiz Caio Fer raz de Camargo Lopasso, que, acatando a argumentao do promotor, no procurou encontrar maneiras de oferecer menina e sua famlia alternativa qualquer para lidar com essa desgraa dupla (a perda do beb e a tentativa de sequestro de outra criana) que no a priso numa instituio absolutamente famigerada como a Febem, ou seja l que nome tenha hoje em dia. Os sentimentos em relao s mes normalmente se alinham em torno da bondade e do amor, sobretudo por conta dessa data, to comercial quanto ainda assim importante para todos, que se comemora neste domingo. Apesar da ausncia, assim ser com a famlia de dona Maria Amlia, certamente assim ser com a famlia de Roberto Carlos. Mas no o que vai acontecer com a famlia de J, sem dvida nenhuma. Resta saber, talvez por mrbida curiosidade, que tipo de sensao tero o promotor Oswaldo e o juiz Caio, que no deram nenhuma chance a J e sua famlia (atendimento mdico, reeducao assistida, apoio psico-social?), ao desejarem, para suas prprias, um feliz dia das mes?

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Paternidade, falsa paternidade, teste de paternidade, gentica.)

O MITO DA FALSA PATERNIDADE(Fonte: Jornal Folha.com, Marcelo Leite, 26/5/2010) Devo a Etienne Joly, do Instituto de Farmacologia e Biologia Estrutural de Toulouse (Frana), a indicao de um artigo fascinante: "Desenfreada Paternidade Mal-Atribuda: A Criao de um Mito Urbano". Nele, o australiano Michael Gilding, da Universidade de Tecnologia Swinburne, demole a noo largamente difundida de que 20% ou at 30% das crianas nascidas no foram geradas pelos homens que acreditam serem seus pais biolgicos.

Escreva com facilidade e elegncia!

Para o australiano, a cifra mais provvel de falsas paternidades deve ficar entre 1% e 3%. Ele defende que no existe base firme nem para os cerca de 10% usualmente empregados por geneticistas, como confirmou coluna o brasileiro Sergio Danilo Pena, da UFMG e do Laboratrio GENE, que faz testes de paternidade desde 1982. Joly deu a dica num desses lugares fantsticos engendrados pela internet, Faculty of 1000. Que no se perca pelo nome, pois na realidade so cerca de 2.300 cientistas do mundo todo que selecionam e avaliam regularmente aqueles artigos --entre as centenas de milhares da literatura cientfica-- que merecem ateno, no importa onde tenham sido publicados. O artigo de Gilding tem a serenidade e a sabedoria de coisas antigas e boas. Saiu h cinco anos, uma eternidade para os padres frenticos da pesquisa contempornea, num peridico australiano obscuro, "People and Place". No fosse pelo francs Joly, jamais apareceria no radar de jornalistas de cincia, nem mesmo dos que vivem implicando com a biotecnologia e a sociobiologia - dois alvos do australiano, depois de militantes de direitos paternos. Por falar em bom e antigo, uma sbia senhora usava dizer: "Os filhos de minha filha meus netos so; os de meu filho so ou no". H tambm quem diga que as piores coisas do mundo so vento pelas costas e sogra pela frente.

O brasileiro Sergio Pena apoia sua estimativa de 10% de paternidades falsas num trabalho de 1999 de Ricardo Cerda-Flores e Ranajit Chakraborty --este "um dos maiores especialistas em gentica estatstica no mundo", em sua avaliao. O estudo, intitulado "Estimativa de No-Paternidade na Populao Mexicana de Nuevo Len: Um Estudo de Validao com Marcadores Sanguneos", saiu no "American Journal of Physical Anthropology". Os prprios autores admitem que os sete testes utilizados tinham capacidade preditiva baixa e excluiriam no mximo 70% dos casos possveis. Ou seja, vrios pais falsos poderiam escapar entre os espaos da malha frouxa. O ideal seria usar testes de DNA, no exames de sangue. Mas Cerda-Flores e Chakraborty reafirmam sua confiana no tratamento estatstico que deram aos dados experimentais e parcela de 11,8% de pais falsos obtida, com margem de erro de dois pontos percentuais (mximo de 13,8% e mnimo de 9,8%). Ora, o australiano aponta que no existem estudos publicados com base em DNA exibindo percentuais acima de 3%. A maioria oscila em torno de 1%. Apesar disso, queixa-se Gilding, geneticistas e mdicos continuam a dar entrevistas e palestras ou a escrever artigos reafirmando, com toda a nfase, a cifra de bastardos entre 10% e 30%. Os nicos estudos de base gentica que chegam faixa de 20%-30%, contudo, so os que colhem os dados de clnicas e institutos especializados em testes de paternidade. Aqui o problema est no bvio vis da amostra: s procura esses servios quem tem razes para dvidas. Surpreendente, neste caso, que a cifra de chifres com resultados no seja maior. Seriam trs os responsveis pela perpetuao interessada da lenda urbana, na opinio de Gilding: os militantes de direitos paternos, a indstria gentica de testes de paternidade e os sociobilogos (hoje repaginados como "psiclogos evolucionistas" e seguidos at por colunistas fervorosos como Luiz Felipe Pond, da Ilustrada. As organizaes que defendem pais revoltados com a obrigao legal de pagar penses aos filhos e ex-mulheres s tm a ganhar com a lenda. Disseminar a crena de que at um tero deles pode estar pagando para alimentar os filhos de outros homens e suas mes adlteras espicaa o ressentimento inerente situao em que se encontram. Deve ajudar muito a atrair simpatizantes e doadores. A perpetuao do mito obviamente tambm interessa aos estabelecimentos que fazem testes de DNA. Quanto mais homens houver desconfiados sobre a procedncia dos genes de seus filhos, maior ser a clientela potencial. Sem isso, ela ficaria reduzida ao contingente magro de mes solteiras em busca de reconhecimento legal do direito penso. Mais insidioso o interesse dos sociobilogos em pisar no acelerador da falsa paternidade. Eles podem ter mudado de nome e de estilo, trocando os silogismos neolticos da dcada de 1970 pelo verniz acadmico da "psicologia evolucionista", mas no trocaram de programa: "Explicam o comportamento animal e humano em termos de competio gentica", resume Gilding.

Esse povo confere credibilidade intelectual tese no demonstrada da falsa paternidade galopante. Ela se encaixa como uma luva na noo de que as fmeas tm dois interesses primordiais em relao com o sexo: um, conseguir parceiros com genes bons (homens bonitos e fortes); dois, garantir as melhores condies de sobrevivncia para os poucos e preciosos portadores de seus prprios genes (maridos ricos e poderosos). Como nem sempre a segunda condio est associada com a primeira, haveria em muitos casamentos (de gente) e acasalamentos (de aves, como o cuco proverbial, e outros tantos bichos) um incentivo embutido para a infidelidade feminina. Um quarto das mulheres, pelo menos, sucumbiria tentao gentica. No , contudo, o que dizem as pesquisas de opinio sobre comportamento sexual, ressalva o desmancha-prazeres australiano. Os levantamentos publicados indicam taxas entre 2% e 6% de esposas que traem, conforme o pas e a poca. Pode-se alegar que as mulheres mentem para os pesquisadores, mas tambm parece provvel que muitas das que pulam a cerca o faam com proteo contraceptiva. Alm disso, poucas daro o azar de engravidar justo na escapada, e menos ainda sero tontas de no abortar (pouco importa o que digam as leis e as novelas de TV brasileiras). Em resumo, a lenda urbana da falsa paternidade desenfreada no encontra apoio em dados publicados e verificveis, como devem fazer a boa cincia e o jornalismo confivel. Mas quem est preocupado com os fatos da realidade emprica, diante de uma ideia to sedutora? Bem, esta coluna continua preocupada com isso, mais ainda no momento em que se lana no mundo virtual e fascinante da internet.

Escreva com facilidade e elegncia!

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Expanso econmica, desenvolvimento nacional, infraestrutura, obras pblicas.)

O DESAFIO DA INFRAESTRUTURA(Fonte: Jornal Zero Hora, 3/6/2010) O balano do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), feito ontem pela Casa Civil, revela que, desde janeiro de 2007, os recursos investidos somam R$ 463,9 bilhes, volume significativo para um pas historicamente pouco comprometido com planos continuados de execuo de projetos de interesse imediato para a sociedade. O mesmo levantamento, porm, demonstra que, por diferentes razes, menos da metade das obras previstas pelo maior plano dos investimentos do pas j foi concluda. E acaba reforando os resultados de levantamento do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) que, embora criticado pelo Planalto por no levar em conta perodos recentes, quando as verbas para obras aumentaram, faz um alerta oportuno para desafios a serem enfrentados em reas como a de rodovias e aeroportos.

O levantamento da Casa Civil reconhece que grandes empreendimentos, como a duplicao do trecho Sul da BR-101, se encontram hoje com o selo amarelo, conveno escolhida para designar um projeto merecedor de ateno especial. O mesmo estudo demonstra que, na rea energtica, metade da programao foi concluda, enquanto no setor de transporte areo a situao preocupa, particularmente no caso de reformas de alguns complexos importantes, como as do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, de Braslia. Isso significa que, mesmo aplicando mais em relao a anos anteriores, como alardeado a cada balano oficial do PAC, o pas ainda investe menos do que o necessrio em reas essenciais. Isso ajuda a explicar a particularidade de, em algumas reas, o pas enfrentar problemas srios j neste momento, o que exige providncias imediatas e eficazes. A situao particularmente preocupante pelo fato de o pas ter conseguido atenuar internamente os efeitos da crise econmica global, retomando um ritmo de expanso da atividade econmica visto pela grande maioria dos analistas como consistente e com tendncia a se manter nos prximos anos. Alm desse horizonte previsvel, o pas ainda ter pela frente alguns eventos importantes que demandam mais infraestrutura, como o caso da Copa das Confederaes em 2013, da Copa do Mundo em 2014, com jogos por diferentes capitais, e dos Jogos Olmpicos em 2016, no Rio de Janeiro. A combinao de estabilidade com crescimento continuado acena tambm com um aumento considervel na demanda por rodovias, responsveis por 70% do transporte de carga no pas, e pela oferta de bens e servios de maneira geral, incluindo desde energia eltrica at a rede hoteleira. O pas no pode correr o risco de precisar conter a expanso econmica por carncias em reas como a de transporte ou a energtica. Isso significa a necessidade de investir ainda mais do que hoje e, ao mesmo tempo, de zelar permanentemente pelo rigor no cumprimento do cronograma de execuo das obras. O pas no pode correr o risco de precisar conter a expanso econmica por carncias em reas como a de transporte ou energtica.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Drogas, trfico de entorpecentes, crime organizado, organizaes criminosas.)

O CERCO AO TRFICO(Fonte: Jornal Zero Hora, 3/6/2010) Num momento em que o trfico de entorpecentes e o crescente poder do crime organizado surgem como fatos nefastos para a sociedade brasileira e como empecilhos para a normalizao da vida das pessoas, um episdio como o ocorrido no Morro da Embratel, em Porto Alegre, merece destaque. Moradores do local promoveram uma reao organizada contra a imposio da lei do silncio e do toque de recolher por parte de um consrcio de traficantes. A reao permitiu que as quadrilhas fossem desarticuladas pelas foras policiais e os quadrilheiros presos. Trata-se de um exemplo que deixa lies importantes, a comear pela demonstrao de que, com apoio dos cidados, a polcia pode ser eficaz e gil, mapear o crime e seus tentculos e produzir resultados promissores na guerra contra a criminalidade. O caso do Morro da Embratel reflete, de alguma maneira, a exausto da sociedade em relao presena prepotente das organizaes criminosas que, alm de representarem uma usina de crimes e um evidente fator de desagregao social, impem-se s comunidades como espcies de Estados paralelos. A unio dos cidados entre si e com as autoridades a maneira mais adequada de eliminar essas distores e de isolar os traficantes. O exemplo carioca das Unidades de Polcia Pacificadora (UPP) confirma que esse o caminho para o resgate de populaes e territrios para a cidadania, evitando sua marginalizao e sua rendio ao crime. Obviamente, a colaborao da sociedade nesse tipo de operao sempre de alto risco e precisa ser cercada do mximo de cuidado, devido ao risco de represlias. Por isso mesmo, o esforo recompensado da comunidade ameaada exemplar, pois os moradores do Morro da Embratel valeram-se de recursos singelos, como o telefone, para contribuir na operao, reforando a importncia de haver cada vez maiores facilidades para a realizao, com segurana, desse tipo de colaborao.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Educao da criana, castigos e agresso, forma de organizao social, medo.)

FILHOS DO MEDO(Fonte: Jornal Zero Hora, Eliani Gracez Nedel, 3/6/2010) O ser humano encontrou no medo uma forma de organizao social. Surge, assim, a cultura do medo. Impor limites, para alguns, impor o medo. E, assim, milhares e milhares de crianas foram educadas pelo medo, para o medo e com medo. Crianas que cresceram limitadas, angustiadas e, claro, infelizes. Quando uma criana educada com medo, ela se torna obediente e incapaz de impor sua vontade diante das relaes desiguais. O medo assume uma representao marcante e limitadora da potencialidade humana. Por isso, a educao, historicamente, se deu atravs de castigos e agresso. E, assim, ao longo dos sculos, o medo foi o carro-chefe da educao. Como bons filhos do medo, tememos at mesmo a liberdade, pois o medo impe um limite atroz, e por isso desconhecemos a liberdade. Medo de morrer, medo da velhice, medo da doena, medo de perder o que foi conquistado, medo de promover mudanas na vida, por isso preferimos a mesmice, medo do desconhecido. Medo de encarar um novo desafio e perder tudo. Medo de ter que comear tudo outra vez. Medo! Medo! Medo! Onde h o medo, no pode haver sabedoria, dizia um filsofo antigo. No sabemos mais viver sem medo e sem disseminar o medo. Seja atravs de uma chinelada no filho ou um olhar ameaador. Tem at quem pense que s respeitamos aqueles a quem tememos. por no saber fazer se respeitar de outra forma, que o ditador impe o medo e alguns pais usam o chinelo. Quanta ausncia de sabedoria! Tudo isso, porque ao invs de criar a cultura da felicidade e ensinar aos filhos como fazer bom uso da liberdade, por falta de sabedoria, criamos a cultura do medo. E hoje, por mais que uma mudana no paradigma da educao seja necessria, tememos a mudana. Foram sculos e mais sculos de educao pelo medo. E, com isso, a liberdade, em pessoas despreparadas para ela, tomou caminhos tortuosos. Tudo isso porque a liberdade na cultura do medo foi afastada, extirpada como se fosse um grande mal. O desafio grande, acabar com a cultura do medo dar a todos os seres humanos a mesma condio de igualdade ou de liberdade. Por isso hoje se fala em rede ou teia na rea da educao e da famlia. Onde uma pessoa no mais importante do que a outra. O problema : quem que sabe educar sem se impor atravs do medo? Onde esto nossos sbios? Ditadores, poderamos apontar um monte, mas, sbios, quem conhece um?

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Sistema prisional brasileiro, direitos humanos, violncia.)

SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO(Fonte: Jornal Zero Hora, Rodrigo Puggina, 3/6/2010) J me tiraram a comida e o sol, j levei chute e bofetada. Abriram as pernas da minha mulher, arrancaram a roupa da minha me. No tem mais o que tirar de mim, s dio. (J.M.E. 31 anos, preso no Rio de Janeiro) Essa frase, coletada quando da Caravana Nacional de Direitos Humanos nos Presdios Brasileiros, nos mostra, minimamente, ao que submetemos, diariamente, a grande maioria dos presos do nosso pas, bem como seus familiares.

Escreva com facilidade e elegncia!

Imaginemos, ento, como sairo dos presdios essas pessoas submetidas a tanta violncia. Imaginemos contra quem retornar tamanha raiva e dio. Sairo de l pessoas que no acreditam em nada mais, que dividiram suas celas superlotadas com baratas e ratos, e que, contrariando todas as probabilidades da psicanlise, conseguiram resistir e no enlouquecer. Confesso que estou assustado e com medo. Estamos criando nossos monstros em estabelecimentos estatais, os quais deveriam tratar e dar condies para que estas pessoas tenham uma vida com dignidade e possam retornar e conviver conosco em sociedade. Mesmo assim, sem dvida que muitos dos cidados de bem diro que isso ainda pouco para esses criminosos monstruosos. O pior que, se formos realmente conhecer o sistema prisional, perceberemos que a imensa maioria das pessoas que esto presas so pobres ou miserveis e que esto presas por crimes contra o patrimnio ou trfico de drogas e, muitas vezes, entraram para o submundo simplesmente por uma falta de assistncia sistemtica do poder pblico (e isto, obviamente, se repete no sistema prisional do nosso pas). Experimentssemos investir, na pessoa do preso, o que se gasta para manter cada um nos presdios, sem dvida que muitos no estariam no sistema prisional ou cometendo crimes.

Precisamos ser rpidos. Estamos em ano eleitoral e podemos escolher polticos que estejam realmente preocupados com esta temtica. Que estejam preocupados com segurana pblica e saibam pensar polticas pblicas srias, de maneira tcnica, e no poltica. E que, obviamente, se preocupem com os direitos humanos de todos, estejam estes presos ou livres, pois isso beneficiar toda a sociedade.

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Sociedade chinesa, invenes chinesas, universidades da China.)

TEM UM CHINS NA MINHA FRENTE(Fonte: Jornal Zero Hora, Alfredo Fedrizzi, 3/6/2010) O que h em comum entre uma arma manual, um navio, uma ponte, uma gaita de boca, uma escova de dentes, um estribo, um ventilador, o macarro, o papel higinico e o tratamento da tireoide? Parece pegadinha, mas no ! incrvel, mas o que citei tem em comum os chineses. Eles inventaram isso tudo, alm de uma srie interminvel de outras descobertas, da cincia pura s cincias aplicadas. Para os que tm uma viso equivocada dos chineses e acham que copiam tudo e fazem produtos desnecessrios a custos baixssimos, pode ser espantoso. Mas inegvel que foram a vanguarda de milhares de descobertas que fazem parte do nosso cotidiano. Fizeram 15 invenes extraordinrias por sculo. Quando se l a histria desse povo milenar, se v que pesquisavam absolutamente tudo. Algumas das suas descobertas so de 2 mil anos antes de Cristo. H universidades pelos quatro cantos da China, com pesquisadores incrveis. O livro O Homem que Amava a China, do bioqumico ingls Joseph Needham, da Universidade de Cambridge, mostra parte do que fizeram. Joseph esteve l pela primeira vez em 1943, apaixonou-se pelo pas, morou l, apoiou as universidades na poca da guerra com o Japo e foi o responsvel pela incluso das cincias na Unesco, quando a ONU criou a entidade que seria somente cultural e de ensino. O que mais chegou at ns direto dos chineses? lcool de gros, produo de ao, vinagre, amianto, cadeiras dobrveis, carrinho de mo, carvo como combustvel, conservao de cereais, conservao de cadveres, associao de alimentos ao diabetes, diques contra inundaes, drogas contra a malria, fertilizantes, fogos de artifcio, fsforo, guarda-chuva dobrvel, m, instrumentos musicais de cordas, mapas, moinhos, panelas de cozinha, proteo biolgica de plantas, pontes mveis, repelentes contra traas, distino entre sangue arterial e venoso, ventilador domstico. E mais, muito mais. Diante de tantas invenes, a questo que fica : por que uma civilizao que inventou quase tudo de significativo para a humanidade deixou que a cincia moderna se desenvolvesse na Europa? No sculo 16, durante o Renascimento na Europa, a China parou. Alguns especialistas dizem que o pas parou de tentar, ou que no foi dotado da mania europeia de experimentar e melhorar e que nunca existiu na China uma classe mercantil a que os jovens aspirassem pertencer. Durante sculos, a ambio do estudante chins foi participar da burocracia, evitando o mundo da competio e do aperfeioamento. Outros apontam o gigantismo do Estado e, ainda, o totalitarismo dos imperadores e o regime comunista. No momento em que a China est se tornando o principal parceiro comercial do Brasil, cabe saber um pouco mais sobre sua instigante cultura, at porque a inventividade est

ressurgindo por l. O pas reduziu suas luzes durante trs ou quatro sculos, mas sua histria to longa, que as centenas de anos em que esteve ofuscada significam pouco na ordem mundial. Quem sabe essa recente retomada chinesa no sirva de exemplo para o nosso Rio Grande?

REDAO DISSERTATIVA PRONTA (Temas relacionados: Corrupo poltica, corrupo no legislativo paranaense, decadncia moral dos polticos.)

PERMANNCIA INSUSTENTVEL(Fonte: Jornal Gazeta do Povo, 3/6/2010) Est nas mos do Poder Judicirio o afastamento cautelar do presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus (DEM), e do primeiro-secretrio, Alexandre Curi (PMDB), dos respectivos cargos que ocupam na Mesa Diretora do Legislativo Paranaense. Neste momento, o Judicirio tem a oportunidade de desempenhar o papel para o qual foi constitucionalmente institudo e restabelecer a ordem quebrada pela Assembleia Legislativa.

Escreva com facilidade e elegncia!

Os atos praticados nas ltimas dcadas levaram o Legislativo a uma desmoralizao sem precedentes. Contratao de parentes sem concurso, de funcionrios fantasmas e desvio de recursos pblicos num valor que supera facilmente R$ 100 milhes se tornaram corriqueiros na Casa do Povo. Chegou-se ao fundo poo. No h outro caminho sociedade para