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CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA CREA-MG 7° CONGRESSO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS (CNP) TEXTOS REFERENCIAIS 2010

Textos Referenciais

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Textos em voga para discussão do seminário de profissionais 2010 do CREA Minas.

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CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA,

ARQUITETURA E AGRONOMIA

CREA-MG

7° CONGRESSO NACIONAL

DOS PROFISSIONAIS (CNP)

TEXTOS REFERENCIAIS

2010

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2010: UM ANO QUE FARÁ A DIFERENÇA

Estamos chegando a 2010, um ano de expressivos desafios, tanto em termos de ameaças como de oportunidades.

As ameaças decorrem, no plano externo, principalmente, dos obstáculos que precisam ser superados para a retomada do desenvolvimento mundial, após sua maior crise desde os anos 1930. No Brasil, embora menos afetado pelo efeito dominó decorrente da crise dos sistemas financeiros americano e europeu, as restrições impostas pela redução das demandas internacionais passaram a exigir de nós consistentes posicionamentos estratégicos. E as informações de que se dispõe sobre os indicadores nacionais destes doze meses pós-crise permitem-nos afirmar que estamos conseguindo fazer, exitosamente, “a lição de casa”.

As oportunidades são imensas e desdobram-se de forma verdadeiramente auspiciosa a partir dos embates que vêm acontecendo no seio dessas ameaças. Vale destacar ainda a louvável proatividade demonstrada pelos brasileiros. E para ficarmos apenas nas áreas do desenvolvimento nacional em que labutam os profissionais de nosso Sistema, exemplificaremos: a) na área das engenharias, a fabricação de automóveis expandiu-se, mantiveram-se elevadas as encomendas da industria aeronáutica, a construção de navios e plataformas de petróleo prepara-se para um grande salto, quantitativo e qualitativo, e a construção civil vê-se diante de uma demanda até mesmo difícil de atender; 2) a área da agronomia, por sua vez, não se viu afetar pela crise mundial, que, antes, estimulou a produção de alimentos, crescendo expressivamente as receitas decorrentes dessas valorizadas commodities, e o país parte em busca, antes mesmo da expansão das fronteiras agrícolas, para a conquista de crescentes níveis de produtividade; 3) na área da arquitetura e urbanismo é grande o esforço empreendido pelos profissionais, tanto junto aos municípios como às Secretarias de Desenvolvimento Urbano e ao Ministérios das Cidades, para dar consequência aos princípios preconizados pelo Estatuto das Cidades, propugnando pela discussão e aprovação de Planos Diretores de maior qualidade.

É nesse contexto que situamos a missão institucional do Sistema Confea/Crea, de: “defender os interesses sociais e humanos, promover a valorização profissional, o desenvolvimento sustentável e a excelência do exercício e das atividades profissionais”. Seguindo essa linha de ação, sob o tema central de “Construindo uma Agenda Estratégica para o Sistema Profissional: desafios, oportunidades e visão de futuro”, se desenvolverá o “processo dos congressos profissionais de 2010”, ou seja, o 7º CNP precedido pelos 27 CEPs e por mais de três centenas de eventos microrregionais precursores.

Pretende-se que esse processo sensibilize o universo profissional, mobilizando para o conjunto de eventos, pelo menos, 50 mil lideranças. Para tanto, a CON

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– Comissão Organizadora Nacional do 7º CNP, com o apoio das 27 COEs – Comissões Organizadoras Estaduais, desenvolvem intenso programa de trabalho e promovem a elaboração e distribuição de Textos Referenciais motivadores da discussão do tema central acima mencionado. E tem mais, deverá ser especialmente considerado o momento nacional em que acontecerá essa intensa movimentação profissional: as eleições gerais no país, quando mais de 30.000 candidatos concorrerão à Presidência da República, ao Senado Federal, à Câmara Federal e às Assembléias Legislativas. Nesse momento, os cidadãos-profissionais serão duplamente desafiados para, de um lado, discutirem as mudanças inadiáveis demandadas pelo país e elegerem os mais aptos para viabilizá-las, e de outro, eles próprios implementarem as mudanças referidas pelos objetivos estratégicos solidariamente estabelecidos pelas lideranças do sistema profissional.

A metodologia a ser adotada considerará como balizadores dessa discussão os Eixos Referenciais da Formulação Estratégica do Sistema Profissional (formação profissional, exercício profissional, organização do sistema, integração profissional e inserção internacional) e os desdobramentos destes eixos nos 13 Objetivos Estratégicos estabelecidos em 2009.

Com base nesses objetivos foram, e continuam sendo, elaborados os Textos Referenciais provocadores da ampla participação que se deseja de todos os profissionais integrantes do Sistema Confea/Crea. A primeira série desses textos vai gravada neste PENDRIVE, uma colaboração da MÚTUA aos trabalhos dos congressos profissionais, para distribuição antecipada aos participantes da 66ª SOEAA. Na sequência, à medida que outros textos – nacionais e estaduais – forem sendo elaborados, serão imediatamente divulgados no site do Confea e no banner da 7º CNP, podendo ser baixados e gravados no PENDRIVE.

Os Textos Referenciais ora disponibilizados são os seguintes:

1. No Eixo Referencial da Formação Profissional, o texto AS AÇÕES ORIENTADAS PARA A INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS PROFISSIONAL E DE FORMAÇÃO, elaborado por Danilo Silli Borges;

2. No Eixo Referencial da Formação Profissional, o texto SISTEMAS EDUCACIONAL E PROFISSIONAL: INTEGRAÇÃO NECESSÁRIA EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE, elaborado por Ruy C.C. Vieira;

3. No Eixo Referencial da Formação Profissional, o texto A ERA DO

CONHECIMENTO: OS NOVOS DESAFIOS PARA OS PROFISSIONAIS

DE ENGENHARIA, elaborado por Neri dos Santos;

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4. No Eixo Referencial do Exercício Profissional, o texto SUBSÍDIOS PARA O PLANEJAMENTO DA FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Álvaro Cabrini Jr. e Celso Roberto Ritter;

5. No Eixo Referencial do Exercício Profissional, o texto A VALORIZAÇÃO DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA NA ESTRUTURAÇÃO DO SETOR PÚBLICO, elaborado por Alceu Fernandes Molina Jr.;

1. No Eixo Referencial do Exercício Profissional, o texto UM ENFOQUE SOBRE A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS E DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Edison Flávio Macedo;

6. No Eixo Referencial da Organização do Sistema, o texto O FORTALECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES PROFISSIONAIS INTEGRANTES DO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Paulo Roberto da Silva;

7. No Eixo Referencial da Organização do Sistema, o texto O FORTALECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES PROFISSIONAIS INTEGRANTES DO SISTEMA CONFEA/CREA: EXPERIÊNCIA DO PARANÁ, elaborado por Álvaro Cabrini Jr. e Claudemir Marcos Prattes;

8. No Eixo Referencial da Organização do Sistema, o texto O GESPÚBLICA E O MODELO DE EXCELÊNCIA GERENCIAL BUSCADO PELO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Edson Cezar Mello Jr.;

9. No Eixo Referencial da Organização do Sistema, o texto EM BUSCA DE MAIOR PRODUTIVIDADE DO SISTEMA, elaborado por Valmir

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Pontes;

10. No Eixo Referencial da Integração Profissional e Social, o texto SUBSÍDIOS PARA A INTEGRAÇÃO DO SISTEMA CONFEA/CREA COM OS SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS, elaborado por Francisco Machado da Silva;

11. No Eixo Referencial da Integração Profissional e Social, o texto ELEMENTOS PARA UMA POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL DO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Aloísio Lopes;

12. No Eixo Referencial da Integração Profissional e Social, o texto AVALIANDO OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DA INSERÇÃO INTERNACIONAL DO SISTEMA CONFEA/CREA, elaborado por Carmem Eleônora C. Amorim Soares.

Tenhamos todos um bom trabalho junto aos Congressos Profissionais de 2010.

Marcos Túlio de Melo

Presidente do Confea

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Eixo Referencial

Formação Profissional

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AS AÇÕES ORIENTADAS PARA A INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS PROFISSIONAL E DE FORMAÇÃO

Danilo Sili Borges

Engenheiro Civil; Reserch Officer in the field of Structures, LNEC, Lisbon; Assessor do Confea; Professor Adjunto (aposentado) da Universidade de Brasília.

SHIS QI 15 conjunto 2 casa 13 – Lago Sul – Brasília – DF – CEP 71635-220 – Brasil – Telefone: (55) 61 92121350 – Fax 55 61 32570867 – e-mail [email protected]

RESUMO

A educação de toda a população de um país e especificamente a formação de seus engenheiros são os maiores fatores de desenvolvimento e competitividade no mundo globalizado.

Não basta resolver o problema da quantidade de engenheiros e nem mesmo a questão da sua qualidade vista por critérios absolutos, pois não basta que a sua formação seja boa, ela deve ser orientada para as necessidades do país. Essa compatibilização tem que ser feita.

Nem o Sistema Profissional, nem o Sistema Educacional, isoladamente ou em conjunto, podem criar os perfis profissionais dos engenheiros com propriedade, talvez surja daí as dificuldades de integração desses sistemas, como preconizada há 76 anos pela legislação pátria.

Sugere-se que novos protagonistas participem dessa definição facilitando a integração dos Sistemas Educacional e Profissional. Esses protagonistas podem ser os setores produtivos, de planejamento e de defesa do país por disporem de informações que não são próprias daqueles, mas que permitirão uma adequada visão de futuro.

O ingresso na docência superior de profissionais renomados deve ser estimulado.

A participação de representantes do Confea nos processos de autorização e reconhecimento de cursos, principalmente nas verificações in loco, é um outro fator que pode fomentar a integração desejada.

Palavras-chave

Integração, Sistema Profissional, Sistema de Formação, Docentes, Confea

INTRODUÇÃO

Duas verdades são hoje consensuais nos fóruns que discutem desenvolvimento, competitividade e educação. A primeira é que a principal condição para o crescimento econômico e social de um país é a educação da sua população; a segunda é que a tecnologia criada, intra-fronteiras, é a mola mestra desse desenvolvimento e até da segurança do país.

Certamente teria sido este conceito que levou o advogado Barack Obama a declarar, logo no prólogo do seu livro A audácia da esperança, “Eu desejo que o país tenha menos advogados e mais engenheiros”, referindo-se naturalmente aos Estados Unidos.

Thomas Friedman, conceituado articulista do The New York Times, na edição 20 de outubro de 2009, admite que a razão primeira da crise econômica americana é a dificuldade que o ensino público nos Estados Unidos vem passando, fundamentado na opinião de Todd Martin ex-executivo global da PepsiCo and Kraft Europe que afirma “Nosso fracasso educacional é o fator mais importante no declínio da competitividade

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global dos americanos... justamente no momento em que a tecnologia trouxe a competição estrangeira para o país”.

O salto dos países asiáticos, que são os que pressionam toda a economia mundial, liderados pela China, começou nos bancos das escolas e foi na formação de seus engenheiros que se consolidou.

O número de engenheiros por mil habitantes da PEA – População Economicamente Ativa - é um índice sempre presente em discussões desse tipo, mas é preciso interpretá-lo com cuidado. No Brasil são 6, nos Estados Unidos, em boa parte da Europa e no Japão são 25, na França são 15. Daí se pode concluir apressadamente que abrir cursos de engenharia e aumentar o número de engenheiros resolverá o problema. Essa solução simplória certamente não funcionará por si só, nem aqui, nem nos Estados Unidos. Que nos desculpe o presidente Obama.

O desenvolvimento tecnológico está assente no conhecimento do estado da arte das ciências. O engenheiro é o profissional que transforma esses conhecimentos em produtos e processos. O Brasil tem experiências muito bem sucedidas na Embrapa, na Petrobrás e na Embraer entre outras.

A educação é um tipo de varinha mágica do crescimento econômico e social e da competitividade de um país, seja ele o dono da maior economia mundial, seja um país emergente como o Brasil.

A Agenda Estratégica para o nosso Sistema Profissional passa necessariamente pela adequação da formação dos profissionais da engenharia à visão de futuro, que não deve ser apenas a do Confea ou a do Sistema Educacional, mas a do país.

É desse assunto que vamos tratar neste texto referencial, cuja proposta é provocar polêmicas e reflexões.

ENGENHEIROS ADEQUADOS ÀS NECESSIDADES DO PAÍS

A formação dos profissionais do nosso Sistema é um tema recorrente nas nossas reuniões. Temos comissões de educação em todos os Creas e no Confea. Afinal, estamos nisso há muito tempo. Foi por inspiração dos engenheiros do final do século XIX e início do século XX que a nossa regulamentação profissional pôs, em lei, essas preocupações.

Há 76 anos, o então governo do presidente Vargas baixou o Decreto 23569/1933, regulamentando as profissões dos engenheiros e dos arquitetos. Nele se determinava a representação da área educacional no Conselho Federal e nos regionais. Trinta e três anos depois, em 1966, o Congresso Nacional aprovou e o executivo sancionou a Lei 5194/66. As representações do setor educacional nos nossos conselhos foram mantidas.

Caso raro, ou talvez único nas leis que regulamentam profissões, essa representação dos professores no Confea e nos CREAs mostra a clarividência dos legisladores que entenderam a importância da tecnologia no desenvolvimento nacional e que da resposta pronta do setor educacional para a atualização do ensino tecnológico é que se teria o suporte para o desenvolvimento. É bom destacar que esse modo de pensar esteve presente em 1933 e em 1966. A representação nos conselhos foi a via escolhida pelo legislador, nas duas ocasiões, para garantir a integração dos Sistemas Educacional e Profissional.

Já vencida a primeira década do século XXI, seria de se admitir, após tantos anos sob o espírito e letra de leis que determinaram o ajustamento dos sistemas, que esse fosse um tema já pacificado. A realidade, no entanto, é bem outra.

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Eis nos aqui, refletindo sobre a necessária integração entre a formação do engenheiro e o que a sociedade espera do seu desempenho profissional. Será que os preceitos legais não funcionaram? E por quê?

É sobre isso que teremos que discutir. A qualidade dos nossos engenheiros é que vai, em boa parte, determinar os caminhos do desenvolvimento do país. Isso, é bom que se entenda, não é retórica. Somente pelo domínio da tecnologia e pela criatividade e inovação nos seus processos é que deixaremos de ser primordialmente exportadores de commodities para nos tornarmos produtores e exportadores de produtos de alto valor agregado.

LEIS E FORMAÇÃO PROFISSIONAL AO LONGO DO TEMPO

Quando foi baixado o Decreto 23569, em 1933, existiam poucas escolas de engenharia no país. Todas seguiam o mesmo currículo. As modalidades eram poucas e as atribuições eram concedidas pelo título acadêmico, sem discussões.

Ainda na vigência do decreto citado, sob a pressão da industrialização que o Brasil experimentava, algumas propostas inovadoras para cursos de engenharia começaram a surgir. A Lei 5194/66 abriu as portas para a flexibilização das atribuições profissionais. Veja os artigos 10 e 11 dessa lei.

Art. 10 - Cabe às Congregações das escolas e faculdades de Engenharia, Arquitetura e Agronomia indicar ao Conselho Federal, em função dos títulos apreciados através da formação profissional, em termos genéricos, as características dos profissionais por elas diplomados.

Art. 11 - O Conselho Federal organizará e manterá atualizada a relação dos títulos concedidos pelas escolas e faculdades, bem como seus cursos e currículos, com a indicação das suas características.

Como consequência, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia baixou a Resolução 218/73 para a concessão das atribuições profissionais. O Sistema Profissional se adaptou à modernização dos cursos.

Certo para alguns, errado para outros, o número de títulos acadêmicos em engenharia cresceu muito, com a conseqüente pulverização da profissão de engenheiro em centenas de formações, pelas decisões unilaterais emitidas pelo Sistema Educacional, que o Sistema Profissional acompanhou, normalmente sem um ai sequer.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394 de 1996, definiu as Diretrizes Curriculares para os cursos superiores. Consagrou-se assim uma grande flexibilidade curricular, que o Confea está acompanhando, para a concessão de títulos e atribuições por meio da Resolução 1010/05.

O QUE SE PRETENDE QUANDO SE FALA EM INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS

A integração prescrita pela legislação, ao tornar obrigatória a representação do Sistema Educacional no Sistema Profissional por docentes, permite algumas ilações. Primeira, a falta de simetria. O Sistema Profissional também deveria se fazer representar no Sistema Educacional. Possivelmente a intenção do legislador foi tornar os professores representantes, interfaces entre os sistemas. Representantes de escolas e cursos nos Creas e no Confea e reciprocamente.

O Sistema Profissional pretende se fazer ouvir na adequação dos cursos às necessidades regionais e nacionais. Na adequação da localização dos cursos quanto à proximidade do parque industrial, e a tantas outras condicionantes. Mas terá mesmo o Sistema Profissional esse conhecimento para interferir no processo? Da mesma forma, terá o Sistema Educacional, composto por experts em educação e não em engenharia e

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seus problemas, o conhecimento profundo das necessidades nacionais para a área tecnológica?

A representação das escolas nos conselhos regionais configura a tentativa legal da articulação dos sistemas que poderíamos chamar de integração na base. Ela deveria funcionar para promover o diálogo entre as escolas de uma região e o Crea correspondente, tanto nos aspectos formais e administrativos, quanto no referente aos atendimentos curriculares para a concessão de atribuições. Infelizmente as hipóteses desse funcionamento falharam. O que se observa, regra geral, em que pesem exceções, é que o conselheiro indicado pelos cursos acaba por se tornar apenas mais um conselheiro do Crea. A instituição de ensino chega ao ponto de não saber quem a representa no regional e, como consequência, não o utiliza num diálogo que na maioria dos casos não ocorre de nenhuma forma.

A representação dos docentes no Confea, indicados pelos pares em nível nacional, deveria instruir o Sistema Profissional sob os pontos fortes e fracos do ensino tecnológico e municiá-lo de argumentos no seu diálogo, ou melhor, no seu pretendido diálogo, com a cúpula do Sistema Educacional. E teríamos então uma integração na cúpula dos sistemas. Esse diálogo, essa integração, nunca existiu, em que pese a insistência das diretorias do Conselho ao longo desses 76 anos. E é por isso que o assunto é recorrente nos nossos encontros. Esse distanciamento é que levou à pulverização da engenharia. A arquitetura soube pelo posicionamento forte de suas entidades de classe manter a sua integridade profissional.

Ao longo desse processo a desvalorização da engenharia e dos seus profissionais foi intensa. Vimos aviltados o conceito social dos engenheiros, seus salários e até sua participação, como classe, nas decisões das áreas que lhe são afetas.

Poder-se-ia levantar aqui o empobrecimento curricular dos cursos de engenharia, se os compararmos, até mesmo, com aqueles do currículo único de 1933, mas isso é para outra oportunidade.

A UNIVERSIDADE E OS SEUS VALORES

Na década de 60, acreditava-se que o grande mal do ensino superior era o regime de cátedra. Dizia-se que o professor catedrático era o último vestígio do feudalismo. Senhor absoluto das decisões no âmbito da matéria que ministrava, chegava a essa posição através de concurso público bastante disputado. Não havia então nas universidades o tempo integral ou a dedicação exclusiva. Nas áreas profissionais, como a da engenharia, o professor catedrático era quase sempre um renomado profissional com intensa militância em sua área. Um profissional de “mão cheia” como se dizia naquela época.

Não havia, também, cursos de mestrado ou de doutorado. A livre docência, constituída de provas, era muitas vezes o primeiro passo para o ápice da carreira acadêmica.

A partir da década de 60 uma nova estrutura para o ensino superior foi criada. Seus valores passaram a ser os estritamente acadêmicos, tal como nas ciências básicas. Os valores do exercício profissional foram pouco a pouco sendo alijados da estrutura educacional superior.

Os profissionais renomados na vida prática da engenharia não têm mais lugar na academia, não preenchem os seus requisitos – mestres, doutores, artigos publicados preferencialmente em revistas estrangeiras. É óbvio que houve um avanço, jovens e talentosos engenheiros fizeram a opção pela docência, pelo estudo aprofundado, pela pesquisa das ciências da engenharia. São eles que subsidiam o mundo prático do dia-a-dia profissional, mas não fazem essa prática. Suas especializações profundas os levam ao conhecimento dos detalhes de um campo da sua ciência. São peritos na análise, mas a prática profissional é síntese e é arte. Síntese dos conhecimentos das ciências da engenharia e outras, e isso a universidade não pode propiciar aos estudantes da

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engenharia. Afinal, ainda não se descobriu como criar uma espécie de HU – hospital universitário – para a prática da engenharia nas unidades universitárias. A solução tentada tem sido a famosa integração universidade-empresa, que tem colhido alguns êxitos como o das incubadeiras de empresas e o da Coppe (RJ), mas tudo isso tem sido insuficiente para mudar o status da engenharia e sua importância como geradora das soluções técnicas de que o país necessita.

Abrir mais escolas e mais vagas é parte da solução, mas por si só não resolverá a questão. O problema também não se restringe a qualidade dos cursos, pois as escolas são competentes em seus corpos docentes.

A solução passa pela adequação desses cursos às necessidades do país, do seu parque industrial, das atividades rurais, da tecnologia desafiadora e veloz do mundo globalizado, aos requisitos das políticas de estado estabelecidos para o desenvolvimento do país.

ENGENHEIROS PARA QUÊ?

Engenheiros para o desenvolvimento nacional, o que pressupõe o atendimento das necessidades da população; engenheiros para o aumento da competitividade da nação no comércio exterior; engenheiros para trabalharem nas tecnologias que suportam a defesa nacional, a incolumidade do nosso território; engenheiros que no seu desempenho profissional e cívico tenham a sustentabilidade dos sistemas naturais e humanos como parâmetro prioritário; engenheiros que saibam expressar suas idéias com clareza, tanto por escrito, quanto oralmente. Afinal, engenheiros cidadãos completos, valorizados pelo conhecimento que possuem e por suas ações na sociedade.

A pretendida, há muito procurada e sempre difícil, integração dos Sistema Educacional e Profissional deve ter essa finalidade. E tem, mas nunca se aproximou dela. Certas posições criam antagonismos como o artigo 69 do Decreto 5773/2006 que desobriga os professores de se inscreverem nos conselhos profissionais da sua profissão e da qual sejam docentes. Desnecessário e no caso do Confea conflitante com a Lei 5194/66.

Estarão os Sistemas Profissional e Educacional preparados para a definição do perfil desses profissionais? Conhecem realmente as necessidades do setor produtivo, industrial e agrícola? Sabem projetar essas necessidades para o futuro? Conhecem as políticas e estratégias do estado brasileiro – aquelas que perpassam diversos governos? Têm capacidade de formular políticas educacionais que atendam as necessidades da segurança do país, cada vez mais presentes na medida em que o nosso território, principalmente a Amazônia, é alvo das ambições de muitos e quando nossa riqueza petrolífera se vai tornando realidade? Se adicionarmos a esse quadro um setor produtivo competitivo será conveniente estarmos preparados para ameaças e conflitos. Nossa segurança não estará garantida pela aquisição de artefatos bélicos, até porque ninguém vende o que tem de mais avançado e nem repassa tecnologia de ponta, nesse ou em qualquer outro setor, mesmo que tenha assinado contratos para transferi-la junto com suas vendas.

Sabemos da competência técnica de setores específicos das forças armadas, mas precisamos de mais, precisamos que essa competência esteja nas indústrias, nas universidades, nas empresas consultoras. A defesa dos interesses brasileiros vai além das doutrinas militares. Deve ser um valor nacional.

E vamos insistir na pergunta: será que o Sistema Profissional e o Sistema Educacional são suficientes para essas definições? Eles dominam as políticas públicas de estado e as demandas da defesa?

Não terá sido por essa falta de conhecimento especializado e específico que os sistemas não tiveram o que dizer um ao outro durante esses últimos 76 anos?

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O Sistema Confea-Crea, como organismo que agrega as diversas representações profissionais e que visa sempre ao interesse da sociedade, pode e deve chamar para a integração entre os Sistemas, novos parceiros, pelos seus conhecimentos e domínio de áreas específicas. Sugerimos o setor de planejamento do Governo Federal (políticas de estado), o Ministério da Defesa, a CNI e a CNA. Alguns resíduos de interesses corporativos se diluirão frente à grandeza dos objetivos de formar profissionais para um Brasil desenvolvido, justo e solidário.

O SISTEMA EDUCACIONAL E A EDUCAÇÃO NA ÁREA TECNOLÓGICA

Com frequência, nos nossos encontros e fóruns, volta a proposta do Sistema Confea-Creas realizar o chamado exame de ordem, como fazem organismos reguladores de outras profissões. Esse exame pretende avaliar se a formação acadêmica dos novos profissionais atinge o nível considerado desejável pelos seus pares para o exercício daquele ofício. Quem não é aprovado não tem atribuições e nem o título profissional correspondente. Há quem diga que a média de aprovações nesses exames é a nota do sistema de ensino correspondente. Talvez seja apenas um indicador da adequação dos cursos às exigências da prática profissional, do modo como é vista pelos que estão no desempenho da vida prática e que são os que formulam esses exames.

Nem sempre se consegue unificar soluções que abranjam todo o universo em estudo. As regras gerais para a educação podem estar nesse grupo. As profissões de base tecnológica devido a suas especificidades e a sua importância para o país devem ser olhadas e consideradas com critérios específicos, como certamente muitas outras.

Os engenheiros, egressos das universidades, na sua maioria não tem como objetivo serem docentes ou pesquisadores dessas instituições. Suas vidas profissionais se darão fora desses muros. Seus valores serão diferentes, mas suas competências não são necessariamente menores que a dos colegas cientistas e professores.

Ao longo dos anos, alguns acumulam experiências que não podem ser descartadas na formação de novos profissionais, mas os valores para a admissão na área acadêmica impedem que isso ocorra. E se perde uma interessante possibilidade de fertilização entre o saber acadêmico e o saber da engenharia praticada.

O desafio é como avaliar o curriculum vitae de um engenheiro para que ele possa ser admitido como docente, por concurso, sem que ele tenha a titulação formal acadêmica, mas tendo o conhecimento da sua área profissional. A questão é como fazer corresponder um doutorado e trabalhos publicados a execução de estudos, projetos, administração de serviços de engenharia. O Acervo Técnico registrado pode ser esse instrumento.

Quanto vale uma patente registrada em presença de um artigo publicado numa revista científica estrangeira? Essa é apenas uma pergunta entre muitas que se poderiam formular.

Certamente os critérios devem ser diferenciados para não perdermos o know how dos melhores profissionais ou limitá-los ao mundo fora da academia.

Outro problema é o da desvalorização do professor de tempo parcial, que sempre se mostrou um elemento imprescindível na retroalimentação dos cursos tecnológicos.

A universidade deve cultivar antes de tudo a universalidade. Estar aberta a outros valores, além dos que são gerados dentro dos seus muros, ter humildade e não ser temerosa do mundo externo. Só assim será possível a integração.

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DESTAQUES PARA A DISCUSSÃO NOS CONGRESSOS

• Que peso você atribui a integração dos Sistemas para a formação de profissionais adequados ao desenvolvimento e a segurança do nosso país?

• O Acervo Técnico de um profissional do nosso sistema não poderia ser avaliado segundo critérios estabelecidos pelos dois sistemas – Profissional e Educacional– na contagem de pontos para seu ingresso na carreira docente?

• Um profissional experiente e renomado na sua atividade, que queira ingressar na docência teria que ser necessariamente um professor em dedicação exclusiva ou tempo integral?

• O Sistema Profissional deve ter o direito de interferir – mais do que opinar – sobre a abertura de novos cursos, levando em conta sua localização e os meios físicos, humanos e financeiros que dispõe?

• A verificação in loco das condições de funcionamento de um curso de engenharia ficaria melhor se na equipe de verificação houvesse um profissional indicado pelo Confea, docente ou não?

• A média de aprovados num exame de ordem é a avaliação do êxito do Sistema Educacional naquela área?

• Como você avalia a participação de órgãos governamentais estratégicos e de representações empresariais juntamente com os Sistemas Profissional e Educacional na definição dos perfis dos profissionais do nosso Sistema?

• Que outras sugestões você daria para aumentar a integração entre os Sistemas

Profissional e Educacional?

CONCLUSÕES

• Há 76 anos a procurada integração entre os Sistemas Profissional e de Formação não foi alcançada, apesar das Leis 23569/33 e 5194/66 a determinarem.

• Às vezes a regulamentação do setor educacional mais atrapalha do que propicia essa integração. A não exigência de que docentes se registrem nos conselhos profissionais é emblemática.

• O exercício das diversas profissões regulamentadas é muito diferente, não há como prescrever procedimentos padronizados para o ensino em todas as áreas.

• A titulação acadêmica – mestrado, doutorado – sem uma equivalência com as realizações profissionais, impede que a experiência dos nossos mais destacados profissionais seja difundida no espaço acadêmico;

• A integração pressupõe o conhecimento das políticas estratégicas e de segurança do estado brasileiro e das políticas dos setores produtivos. Os Sistemas Educacional e Profissional, mesmo em conjunto, não dispõem desses conhecimentos. É preciso, nessa discussão, incorporar novos protagonistas.

• Não é suficiente o aumento de vagas e de cursos de engenharia para termos o problema do desenvolvimento tecnológico resolvido. É preciso qualidade e adequação dos engenheiros aos objetivos do país.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasiltec: Programa Brasileiro de Aceleração em Engenharia (2008) CNI/Senai/ IEL. Brasília.

Friedman, Thomas L. The New Untouchables. The New York Times, New York, 20 out. 2009.

Inova Engenharia: Propostas para a Modernização da Educação em Engenharia no Brasil (2006). Senai/DN IEL/C. Brasília

Macedo, Edison Flávio (2004) Flexibilização das Atribuições Profissionais. Confea.

Santos, Neri dos (2004) A era do conhecimento: os novos desafios para profissionais de engenharia. Textos Referenciais. 61ª SOEAA, 119-128. Confea.

Vieira, Ruy C. Camargo (2004) Sistemas educacional e profissional: integração necessária em busca da sustentabilidade. Textos Referenciais. 61ª SOEAA, 37-45. Confea.

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A ERA DO CONHECIMENTO: OS NOVOS DESAFIOS PARA OS PROFISSIONAIS DE

ENGENHARIA

Neri Dos Santos, Dr. Ing. Eng◦ Mecânico

Professor Titular do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo:

Este artigo tem como principal objetivo introduzir os fundamentos da era do conhecimento, apresentando as suas perspectivas no contexto de uma nova economia. Esses fundamentos permitem a compreensão e a importância de dois pontos fundamentais: as transformações que estão ocorrendo na sociedade atual e que estão levando a humanidade da era industrial para a era do conhecimento e os fatores decisivos que estão provocando essas transformações. Por outro lado, procura-se discutir como o conhecimento e seus ativos estão contidos nos produtos de nosso dia-a-dia, o que são os ativos intangíveis de uma determinada organização e como se processa os desdobramentos de sua valorização no mercado. Enfim, procura-se definir os novos desafios para os profissionais de engenharia.

1. Introdução: as transformações que estão ocorrendo na sociedade atual

O mundo atual passa por uma série de transformações. De fato, o momento presente é um ponto de inflexão entre a era da certeza e do raciocínio lógico (era industrial), e uma nova era caracterizada pela imprecisão, pelo futuro desconhecido e pelo número infinito de possibilidades que se apresentam (era do conhecimento). O que mais caracteriza este momento é a sua complexidade dinâmica. Para Mariotti (1999), complexidade quer dizer diversidade, convivência com o aleatório, com mudanças constantes e com conflitos, é ter de lidar com tudo isso, mobilizando potenciais criadores e transformadores. Este passa a ser então o novo papel das organizações: mobilizar potenciais criadores e transformadores para sobreviverem a essa complexidade e a imprevisibilidade do futuro.

Para que as organizações possam se preparar para enfrentar essa nova realidade, é preciso, num primeiro momento, compreender melhor o que está acontecendo. O entendimento do funcionamento do mundo dos negócios, em todos os seus aspectos, é necessário para a tomada de decisões bem sucedidas. Os fatores ambientais, como as forças competitivas, regulamentos, legislação e tendências sócio-econômicas, constituem um ponto de partida para decidir como organizar e gerenciar os fatores internos da organização, como recursos humanos, infra-estrutura, estrutura organizacional e definição de estratégias.

Essas mudanças no mundo dos negócios vêm acontecendo, de maneira mais visível, desde o final da década de 1980 e, hoje, pode-se perceber uma série de evidências empíricas irrefutáveis. A globalização, por exemplo, trouxe para o dia-a-dia das empresas, a abertura de mercados e a dura realidade da concorrência global. As inovações tecnológicas revolucionaram todas as áreas, mas, sem dúvida, os maiores avanços se deram na área das telecomunicações, principalmente no que diz respeito às tecnologias de informação e de comunicação. Os avanços nesta área imprimiram mudanças consideráveis no mundo dos negócios. A noção tradicional de tempo e espaço foi ultrapassada de maneira tal que, hoje, em segundos, grandes distâncias podem ser eliminadas.

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Segundo Hesselbein et al (1997), essas transformações são tão profundas que é possível afirmar que está havendo uma terceira revolução industrial. Na verdade, pode-se chamá-la de revolução da informação. Esta era pós-industrial passa de uma sociedade baseada na manufatura, para outra cujo valor da informação, serviços, assistência e distribuição aumentou de maneira inimaginável. Stewart (1998), lembra que até o Papa João Paulo II reconheceu a crescente importância do know how, da tecnologia e da habilidade em sua encíclica Centesimus Annus, de 1991, ao escrever: “Se antes a terra, e depois o capital eram os fatores decisivos da produção (...) hoje o fator decisivo é cada vez mais o homem em si, ou seja, seu conhecimento”. O autor ressalta que o poder da força muscular, o poder das máquinas e até o poder da eletricidade estão sendo constantemente substituídos pelo poder do cérebro. Para Oliveira (1992), esta é a era da economia do saber: ganha a guerra quem sabe mais, quem sabe aprender e quem aprende mais depressa. Isso se aplica aos indivíduos, às organizações e aos países.

2. Os fatores decisivos das transformações

A era do conhecimento pode ser caracterizada por três fatores decisivos que são: o conhecimento e os relacionamentos internos e externos à organização, e não mais o capital, os recursos naturais ou a mão-de-obra. Stewart (1998), em seu livro Capital Intelectual, já em seu prefácio define o que o capital intelectual, baseado no conhecimento, é hoje mais importante que os ativos aos quais as empresas se acostumaram. Segundo ele, “(...) ao contrário dos ativos tangíveis, com os quais empresários e contadores estão familiarizados (propriedade, fábricas, equipamento, dinheiro,...), o capital intelectual é intangível. É o conhecimento da força de trabalho: a competência e a intuição de uma equipe, (...) ou o know-how dos trabalhadores (...). É a rede eletrônica que transporta a informação na empresa a velocidade da luz, permitindo reagir ao mercado mais rápido que seus rivais. É a cooperação – o aprendizado compartilhado – entre uma empresa e seus clientes que forja uma ligação entre eles, trazendo com muita freqüência o cliente de volta”. O autor resume tudo isso em uma frase: “O capital intelectual constitui a matéria intelectual - conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência - que pode ser utilizada para gerar riqueza”.

2.1 – Os ativos do conhecimento

Hoje em dia, empresas baseadas no conhecimento valem muito mais que seus ativos podem representar. Algumas empresas valem de 3 a 4 vezes mais. Este gap entre os ativos da empresa e seu valor real só pode ser explicado pelos ativos intelectuais. Um exemplo bem representativo dessa realidade é a Microsoft, no qual seu maior patrimônio, sem dúvida nenhuma, é o conhecimento armazenado e o potencial de seus funcionários. É interessante que, quando uma empresa tem um histórico de sucesso, ela vale tanto pelo que já conquistou, como pelo que seus funcionários ainda poderão produzir. Sem dúvida, a gestão desse potencial não é um processo simples, mas é um dos desafios que as empresas deste novo século terão que aprender a lidar.

As organizações vencedoras neste século XXI serão aquelas que conseguirem acúmulo de saber, ou seja, a participação de muitos, o empenho coletivo, a capacidade das pessoas envolvidas de se relacionarem umas com as outras, dentro de uma linguagem comum, de esforço conjunto. Este novo “ativo” tem uma particularidade muito interessante: se antes o capital era guardado para aumentar a riqueza de seu proprietário, hoje ele deve ser compartilhado, porque o conhecimento compartilhado cresce, enquanto o conhecimento não utilizado se torna obsoleto e perde seu valor.

Isso não significa que o objetivo das organizações mudou. A obtenção de lucros e a maximização do capital continuam sendo a razão de existir das organizações, ou pelo

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menos da maioria. Arie de Geus (1998) concorda e diz que isso justifica o interesse pelo aprendizado organizacional que tem emergido nos últimos anos. O autor afirma que, a menos que as empresas consigam acelerar o ritmo em que aprendem, seu principal ativo ficará estagnado e seus concorrentes passarão a sua frente. O aprendizado, a informação e o conhecimento são “bens” muito mais democráticos, embora sejam hoje, fatores de diferenciação estratégicos entre as empresas. Oliveira (1992), lembra que a maior dificuldade encontrada pelas empresas para negociar com o capital do saber é ter de expor seus problemas e compartilhar a própria ignorância, inclusive com concorrentes, clientes e fornecedores. Isso pode ser uma barreira ao aprendizado para muitas empresas, mas é preciso definir estratégias para superar qualquer dificuldade que possa existir e fomentar o processo de aprendizado contínuo.

2.2 – A disseminação do conhecimento

Lévy (1994), afirma que a força das nações, regiões, empresas e indivíduos para prosperar são conferidos pela ótima gestão do conhecimento, seja técnico, científico, da ordem de comunicação ou derivem da relação ética com o outro. “Quanto melhor os grupos humanos conseguem se constituir em coletivos inteligentes, em sujeitos cognitivos, abertos, capazes de iniciativa, de imaginação e de reação rápida, melhor assegura seu sucesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso”.

Neste sentido, é importante que as organizações desenvolvam uma postura voltada para o aprendizado e destaque em seus princípios, filosofia, perfil de seus funcionários, infra-estrutura e estrutura organizacional, meio de maximizar seu processo de aprendizagem. O foco deve estar na aquisição, armazenagem, processamento e, principalmente, na disseminação e uso da informação e do conhecimento.

3. A organização do conhecimento e seus principais ativos

Segundo Sveiby (1998), para enxergar uma organização do conhecimento, os executivos devem procurar ver as organizações como se elas fossem constituídas de estruturas de conhecimento e não de capital.

3.1 – O conhecimento nos produtos

Analise uma lata de cerveja. Avalie o que ela simboliza. É certamente uma representação do trabalho industrial, uma evolução tecnológica magnífica da substituição do aço pelo alumínio. Mas é só isso? Com toda a certeza, não. Segundo Stewart (1998), uma lata de cerveja é muito mais: ela simboliza uma nova economia baseada no conhecimento, um indicativo de como o conhecimento tornou-se o componente mais importante da atividade de negócios. Se nos detivermos a observar como esse evento acontece, começaremos a entender uma extraordinária transformação de uma estrutura que ocorre radical e violentamente — uma revolução.

O aço era a matéria-prima dessa lata há quarenta anos. A sua substituição pelo alumínio é, desde 1855, uma missão dos seus fabricantes. A partir da década de 50, produzir latas de alumínio transformou-se num nicho de mercado óbvio, apesar das dificuldades técnicas. Mesmo com uma redução no custo da energia - insumo indispensável à sua produção - seu refinamento era ainda extremamente dispendioso, tornando-o mais caro que o aço. O diferencial competitivo que se constituiu na base da vitória do alumínio sobre o aço foi sua maior maleabilidade, permitindo a fabricação de latas utilizando menos metal. No final dos anos 60, a Coca-Cola™ e a Pepsi-Cola™ começaram a usar latas de alumínio – o triunfo do

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know-how sobre a natureza. Metade do peso da lata de aço (matéria-prima) foi substituída por conhecimento.

Na realidade, 35 anos após a primeira lata ter sido fabricada, os investimentos em capacidade intelectual conseguiram fazer com que uma lata de cerveja vazia pesasse apenas 14 gramas, cerca de ¾ do peso original — menos material e mais tecnologia, 25% dela é conhecimento. A elevada proporção do alumínio que é reciclado, outro ponto de ação do conhecimento (ao menos 3 em cada 4 latas de alumínio são recicladas no Brasil), deve-se a uma tecnologia que consome apenas 5% da energia necessária à produção de uma folha laminada, se comparada ao processamento de matérias-primas virgens. Com mais cérebros têm-se a mesma quantidade de cerveja com menos material e energia. O fato de podermos amassá-la com a mão quando vazia contrasta com sua auto-sustentabilidade quando cheia e empilhada até alturas de 2 metros, além de poder ir a quase 0° C ou agüentar sol de 40°C. Sua rigidez e auto-sustentação no empilhamento são produzidas pelo gás do seu interior – dióxido de carbono ou nitrogênio. Menor quantidade de metal, menor consumo de energia, sua rigidez mantida por algo que não vemos: “o talismã do operário da era industrial tornou-se um ícone da era do conhecimento, a economia do intangível” (Stewart, 1988).

Agora, cerca de um século e meio após a aparição pública do metal alumínio, surge os primeiros exemplares de latas de papel. Em quanto tempo estarão substituindo, com vantagem, as latas de alumínio? Dez anos transcorreram-se entre a concepção da primeira lata de alumínio e sua industrialização em massa. Caso o diferencial competitivo da lata de papel se configure como real – custo, biodegradabilidade, incombustibilidade, reciclabilidade, resistência etc. – bem menos que uma década terá transcorrido quando a industrialização das latas de papel for uma realidade, considerando-se que muito mais conhecimento está disponível hoje do que há meio século atrás.

3.2 – O conhecimento nas organizações

Da mesma forma, observa-se hoje o crescimento fantástico da Internet em todo o mundo e, particularmente, no Brasil. A figura 1 evidencia o sucesso meteórico desta tecnologia em relação a outras, desenvolvidas pelo ser humano do final do século XIX ao final do século XX.

Figura 1 – O sucesso meteórico da Internet (Fonte: Revista Veja, 29/07/98).

O potencial da competência, que representa o homo sapiens do século XXI, em gerar conhecimento, a partir de informação, é de tal ordem que podemos considerar que tudo aquilo que funciona já está obsoleto. De fato, ao final do século XV, com a descoberta da

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impressão por Gutenberg, o que era informação manuscrita passou, gradativamente, a ser informação impressa, e a humanidade evoluiu do obscurantismo da Idade Média para o Renascimento. Da mesma forma, ao final do século XX, com a descoberta da tecnologia digital capaz de armazenar milhares de páginas de textos e imagens, seguramente, o que hoje, ainda é informação impressa, rapidamente se transformará em informação digital, permitindo, então, que a humanidade evolua de uma sociedade capitalista industrial para uma sociedade neo-socialista do conhecimento.

Portanto, o conhecimento é, atualmente, mais importante do que qualquer outro fator de produção da era industrial sejam recursos naturais, trabalho humano, mão-de-obra ou mesmo capital.

É cada vez mais claro que a criação do conhecimento e de competências é uma prioridade organizacional. Esses recursos influenciarão o futuro das empresas por meio da inovação tecnológica, desenvolvimento de novos produtos, busca e abertura de novos mercados. Algumas dessas competências estão entranhadas na cultura organizacional. Muitas dessas competências são baseadas no conhecimento tácito que compõe parte significativa dos ativos intangíveis de uma organização. O sucesso de uma empresa decorre de sua capacidade e especialização na criação do conhecimento organizacional, entendida como a capacidade de criação de um conhecimento novo, difundi-lo na organização como um todo e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas (Nonaka & Takeuchi, 1997).

3.3 – Os ativos intangíveis

A função primeira do pessoal de nível gerencial é ver a empresa como uma organização do conhecimento. A identificação da essência de uma organização do conhecimento passa pela necessidade de separar o intangível do tangível.

Tem sido freqüente testemunharmos a venda de empresas por valores significativamente maiores do que seus valores contábeis registrados – o mercado pagou US$ 9.00 a mais por cada US$ 1.00 do balanço patrimonial da Microsoft™ (Sveiby, 1998). Da mesma forma, na compra da Lotus™ pela IBM™ por um valor 50 vezes maior que seu valor contábil, os executivos da IBM™ foram indagados sobre o que estavam comprando. A resposta foi imediata: a imaginação dos funcionários da Lotus™. O que faz a diferença? Qual a natureza desse valor para o mercado, e por que a relação valor mercado/valor contábil pode ser tão alta e variável? Qual o ativo secreto e de elevado valor agregado que cria esse diferencial comparativamente às indústrias automotivas ou siderúrgicas em geral?

Em geral, pode-se dizer que empresas de base tecnológica apresentam proporções de ativos intangíveis acima do seu valor contábil. Da mesma forma, pode-se dizer que as empresas de serviços (bancos, financeiras, telecomunicações, energia, engenharia consultiva e imobiliárias) são também, avaliadas acima de seu valor contábil. Essas empresas trabalham, sobretudo, com ativos intangíveis.

Por outro lado, empresas integrantes de uma mesma cadeia produtiva, com encadeamento semelhante nos seus sistemas de produção – apesar de apresentarem valores contábeis equivalentes – podem registrar valorizações acionárias bem diferentes. Essa ocorrência pode ser exemplificada para um setor tradicional da economia mundial: o siderúrgico. As empresas desse setor que adotaram a concepção e as práticas operacionais de unidades estratégicas de negócios, baseadas no Sistema Toyota de Produção (TPS), geraram uma rentabilidade significativamente maior do que aquelas que mantiveram uma organização taylorista-fordista de produção. Portanto, esses ativos invisíveis são intangíveis por não serem concretos, palpáveis. Todos, entretanto, têm origem nos recursos humanos de uma organização, e podem ser classificados em três tipos que, juntos, formam um balanço

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patrimonial de ativos intangíveis – competência dos indivíduos e os seus relacionamentos, internos e externos à organização.

O desenvolvimento de ativos de uma organização é um dos maiores objetivos da gestão empresarial. Esta tarefa é entendida como de grau complexo, na medida em que os ativos mais valiosos de uma organização são bens intangíveis e não bens de capital, como máquinas, imóveis e fábricas. O valor dos relacionamentos com um cliente ou com um fornecedor, não é menos importante do que o valor de uma fábrica.

Assim, se um gerente direciona sua atenção para o pessoal de dentro da empresa, serão criados relacionamentos internos intangíveis – processos otimizados, inovações em projetos de produtos. Direcionando os esforços para fora, além de produtos (bens tangíveis), serão criados relacionamentos externos intangíveis, tais como as relações com clientes.

O resultado do trabalho com clientes é a construção de uma “imagem” no mercado – um exemplo do relacionamento externo – que pertence em parte à empresa e, em parte, aos indivíduos que a criaram. Os esforços direcionados para dentro geram o que conhecemos como organização. Tanto a construção da imagem como da organização compõem, juntamente com a competência dos indivíduos, as estruturas de conhecimento da empresa.

A razão da inclusão da competência individual no balanço de ativos intangíveis se justifica por ser impossível conceber uma organização sem pessoas, admitindo-se, entretanto, que elas sejam membros voluntários, uma vez caracterizados um tratamento justo e uma responsabilidade social compartilhada. Uma organização do conhecimento é caracterizada por uma elevada relação pessoas / sociedade.

Modelos gerenciais, sistemas administrativos informatizados, pesquisa, desenvolvimento & engenharia, patentes e cultura organizacional integram a estrutura interna (os relacionamentos internos) que, associados às pessoas, constituem o que chamamos de organização.

O grau de satisfação dos clientes define o valor dos ativos intangíveis que integram a estrutura externa (os relacionamentos externos), constituída por marcas, reputação, imagem, relações com clientes e fornecedores.

Um típico balanço patrimonial de ativos intangíveis ressalta que eles têm implicações no desempenho de uma organização do conhecimento. Logo, é comum determinar o valor desses ativos pela diferença entre o valor contábil e o de mercado.

É importante frisar que os ativos intangíveis de uma organização, se mal gerenciados, seguramente irão comprometer o desempenho da organização, podendo por vezes contribuir para o fracasso do negócio. A violação da lógica empresarial das organizações do conhecimento e, em conseqüência, a perda do potencial criativo que constitui a sua essência, se traduz invariavelmente numa estratégia autopredatória.

Neste tipo de organização, a gestão de ativos intangíveis gera lucros tangíveis. A evasão de talentos numa organização do conhecimento está associada, não só à perda de capacidade de atendimento às demandas, mas também, e pior ainda, à perspectiva de redução de suas competências distintivas perante o mercado.

3.4 – A organização baseada no conhecimento

O conhecimento é o diferencial competitivo que, cada vez mais, será responsável pela atração de clientes pelas empresas, nos mais diferentes ramos de atividade econômica.

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Assim sendo, como conhecer melhor o que significa ser uma organização baseada no conhecimento?

Os computadores são uma espécie de símbolo nessas organizações, uma vez que seu potencial para mudar o perfil dos negócios é imenso. Uma empresa de importação e comércio, em fase de crescimento num mundo globalizado, triplica seus postos de trabalho, aumenta suas vendas em oito vezes e, necessariamente, eleva o número de megabytes do computador cerca de trinta vezes. O acompanhamento de vendas por produto, cor, cliente, região etc., permite que os investimentos em pesquisa e inovação sejam extremamente seletivos para a construção das bases do amanhã.

É importante a essa altura estabelecer uma distinção entre organizações que vendem conhecimento como um derivativo, e aquelas que vendem conhecimento como um processo. Mesmo considerando-se sua dependência por ativos intangíveis, uma é gerenciada pela informação e outra pelo conhecimento (Sveiby, 1998).

As empresas fazem basicamente dois tipos de investimento: os investimentos em bens de capital, tradicionalmente conhecidos (propriedades, equipamentos etc.) e os investimentos de longo prazo, bem representados por P,D&E1, capacitação de pessoal, etc.

A partir de levantamentos feitos por organismos norte-americanos, pode-se constatar que os gastos do setor privado na aquisição de bens de capital da era industrial pouco oscilaram ao longo dos últimos anos (em torno de US$ 110 bilhões). Entretanto, os investimentos em equipamentos de informática praticamente dobraram de 82 (US$ 49 bilhões) à 87 (US$ 86,2 bilhões). O ano de 1991 é tido como o Ano I da era do conhecimento nos EUA, uma vez que os investimentos em geração e transmissão de conhecimento ultrapassaram os investimentos em bens de capital.

A esta constatação, deve-se agregar outra, relativa a geração de conhecimento por meio de P,D&E por parte de algumas empresas americanas e japonesas, envolvendo investimentos maiores do que em bens de capital. Nonaka & Takeuchi (1997) afirmam que se os investimentos em P,D&E começarem a ultrapassar os investimentos em bens de capital, pode-se dizer que a empresa está começando a deixar de ser um local onde se produz para se transformar num local onde se pensa.

Quando isso ocorre, a primeira dificuldade é o entendimento do que foi incorporado ao patrimônio da empresa. A otimização do que já existe é de percepção clara. As tarefas são feitas mais rapidamente e melhor, os produtos tornam-se mais baratos ou são produzidos em quantidades maiores. Alguns autores consideram esses efeitos como eventos técnicos previstos. Entretanto, os resultados efetivos de segunda ordem são tão ou mais importantes que os ganhos de eficiência. A invenção do carro é um bom exemplo: as fronteiras das cidades foram ampliadas, criando empregos na construção de casas e estradas, vendas de lâmpadas para iluminação de ruas, etc...

Percebe-se, também, que uma empresa está voltada para o conhecimento quando ela se vê envolvida em novos domínios de atividade, como por exemplo, a preocupação com detalhes valiosos dos clientes, a realização de simulações para avaliação de cenários prospectivos do seu ambiente de negócio, até a geração de negócios a partir do conhecimento em si. Hoje, está claro que o retorno dos investimentos feitos em computadores é, seguramente, dez vezes maior do que o equivalente em equipamentos da chamada era industrial. Nesta mesma direção, a recompensa para o investimento em geração e transmissão de conhecimento é equivalente ao retorno sobre o investimento em outra forma de ativo

1 P,D&E: Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia

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intangível, como por exemplo, em P,D&E. Cada real gasto em P,D&E gera oito vezes mais do que cada real investido em um novo equipamento (Stewart, 1998). P,D&E leva à inovação, gera produtos e serviços novos, com maior valor agregado. O novo equipamento permite apenas fazer melhor o que já era feito.

Um exemplo recente de triunfo do conhecimento em relação aos bens de capital é a indústria automobilística japonesa. A escassez de recursos e espaço fez com que as empresas japonesas investissem no uso intensivo do conhecimento ao invés de capital, contrariamente ao modelo norte-americano. Resultado: fábricas com pequenos estoques em processo, peças, partes e componentes solicitados à medida da necessidade, informada em tempo real. O uso intensivo de informação associado à inventividade da produção resultou no conhecido sistema kanban, o precursor, para nós, do sistema just-in-time de uso corrente hoje entre clientes e fornecedores em vários ramos da atividade econômica.

As organizações do conhecimento quando usam de forma correta a informação, contribuem significativamente para a eliminação de gastos inúteis de tempo e dinheiro que, conseqüentemente, contribuem para a redução drástica do capital de giro.

3.5 – A nova economia baseada no conhecimento

A economia do conhecimento é extremamente sutil, considerando-se que nela a informação assume realidade própria separada dos bens tangíveis que conhecemos, impelindo-nos ao aprendizado da competição com conhecimento. Essa competição se dá por meio da venda de produtos e serviços. A venda de bens, por parte de uma empresa, na velha e na nova economia, é diferenciada em vários aspectos.

Compra de bens em uma empresa da velha economia:

� Escolha, venda, pagamento, crédito/contabilidade, entrega: a mercadoria e informação no mesmo lugar, fluxo físico e de informação convergente;

� A fabricação do bem: cada máquina e cada especialista incorporam todo o conhecimento necessário no mesmo lugar.

Compra de bens em uma empresa da nova economia:

� Escolha, venda, pagamento, crédito/contabilidade, entrega: locais diferentes conectados por redes, fluxo físico e de informação divergente;

� A fabricação do bem: máquina e conhecimento de como realizar tarefa, não são sinônimos.

Ao analisarmos essas constatações frente aos tipos de ativos intangíveis de uma empresa – o conhecimento nas organizações – percebe-se que os relacionamentos externos estão baseados mais em fluxos de conhecimento gerados pelos ativos intangíveis do que em fluxos financeiros.

Stewart (1998) consolida com clareza esses conceitos: “Um fato definitivo sobre as organizações da era do conhecimento é que o conhecimento e a informação assumem sua própria realidade que pode ser dissociada do movimento físico dos bens e serviços. Essa divergência gera pelo menos duas implicações: primeiro – o conhecimento e os ativos que o criam e distribuem podem ser administrados, da mesma forma que os ativos físicos e financeiros. Na verdade os ativos intelectuais e físico-financeiros podem ser gerenciados separadamente, juntos ou um em relação ao outro. Segundo — se o conhecimento é a maior fonte de riqueza, os indivíduos, as empresas e os países devem investir nos ativos que produzem e processam o conhecimento. (...) Entender que poder gerenciar o fluxo de informações pode ser uma enorme fonte de eficiência e lucros. (...) O insight que conferiu à reengenharia sua principal fonte de valor foi que os fluxos de informação, quando

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dissociados do movimento de produtos e serviços, podem ser gerenciados de forma muito mais eficiente do que quando estão associados”.

Uma empresa tradicional é formada por um conjunto de ativos físicos, diferentemente da empresa baseada no conhecimento, na qual os principais ativos são intangíveis. Como a substituição do capital de giro por informação é uma realidade, os ativos intelectuais freqüentemente substituem os ativos físicos nas empresas baseadas no conhecimento.

Outra realidade é que o dispêndio de uma empresa do conhecimento com informação é tão significativo que superou percentualmente o equivalente à economia industrial baseada no capital. Entretanto, em setores que não podem deixar de possuírem ativos, pode-se dizer que quanto mais diferenciado e próprio for o trabalho, maior será a possibilidade de se possuir ativos. Também é verdade que, empresas dos setores imobiliário, químico, siderúrgico, por possuírem bens de capital muito elevados, terão que fazer uso intensivo de informação e conhecimento para gerar lucros representativos.

Como vimos, os ganhos primários e imediatos com a utilização do conhecimento para aumentar a produtividade traduzem-se em: “fazer a mesma coisa com menos”. A competitividade necessária ao futuro das empresas exigirá que se faça mais em novos negócios, por meio do gerenciamento eficaz dos ativos mais valiosos: informação, conhecimento e ativos intangíveis.

4. Os novos desafios para os profissionais da engenharia

Os negócios da era do conhecimento, considerando a caracterização anteriormente apresentada, exigem dos futuros profissionais de engenharia uma intimidade tanto com os produtos dessa era como com o seu gerenciamento.

À medida que identificamos e localizamos os engenheiros do conhecimento, percebemos que as organizações que os possuem em grande número são bastante horizontalizadas e nelas o trabalho do conhecimento engloba planejar, supervisionar, programar e gerenciar as atividades, ou seja, transformar mão-de-obra em cérebro-de-obra. A atividade a ser desenvolvida por este profissional consiste, basicamente, em converter informações em conhecimentos, utilizando suas próprias competências, contando com o auxílio de fornecedores de informações ou de conhecimento especializado. Essa concepção traz no seu contexto uma outra: uma remuneração relacionada com sua habilidade, conhecimento e desempenho do negócio.

O que se faz hoje, em termos de atividade profissional de engenharia, é bem diferente do que se fazia há dez anos. Infelizmente, num primeiro momento e, principalmente, para aqueles que não reconhecem a sociedade do conhecimento, essa revolução deixou de fora pessoas que executam trabalhos de rotina. Cada vez mais cresce o número de engenheiros que trabalham no reino da informação e das idéias. Em 20 anos (2004 - 2024) a força de trabalho do setor secundário no mundo deverá estar reduzida à metade, contrariamente aos postos de trabalho que lidam com informação, que deverão triplicar. A constatação de que existe um percentual crescente de “engenheiros do conhecimento” é nítida: informação = matéria-prima; conhecimento = produto.

Ao contrário do que vem sendo propalado quanto ao estabelecimento de um caos gerado pelo desemprego na nova sociedade do conhecimento, há uma explosão de empregos para os engenheiros do conhecimento. Os cargos executivos e gerenciais têm crescidos em proporção inversa aos cargos de apoio. Numericamente, não são apenas mais pessoas trabalhando com conhecimento. O conteúdo do conhecimento de todo o trabalho tem crescido exponencialmente em todos os ramos de atividade, mesmo nas atividades agro-

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pecuárias. A habilidade do engenheiro deixou de ser apenas técnica e passou a ser técnico-gerencial. O componente gerencial responde, cada vez, pelas oportunidades de emprego na área de engenharia.

5. Conclusão

A recompensa dada pelo mercado à criação de valor é incontestável. Da mesma forma que a movimentação dos mercados de trabalho tem sido feita, reconhecendo o conhecimento como a maior força de valor econômico, o exemplo que vem dos países desenvolvidos tecnologicamente é sempre uma boa oportunidade para reflexão: a expectativa não poderia ser outra que não a recompensa das pessoas que trabalham com o cérebro. Há uma real e crescente desigualdade de renda que tenderá a se agravar em curto prazo, identicamente ao que ocorreu no início da revolução industrial. O início da estruturação desta nova sociedade do conhecimento será da mesma forma turbulento.

O que deve ser considerado é que a economia mundial não é mais industrial, mas, por outro lado, os novos mercados de trabalho não estão suficientemente mapeados, sendo claras, no entanto, as forças que vêm reduzindo as recompensas pelo trabalho físico e concedendo maiores recompensas ao trabalho baseado no conhecimento. O diferencial salarial prova o crescente papel do conhecimento na criação do valor e da riqueza. Pesquisas realizadas mostram que, cada ano de educação adicional na força de trabalho de uma cidade, região ou país, eleva sua produtividade em 3%, resultando em parte uma maior eficiência, como também um maior conteúdo em conhecimento.

De fato, neste início de século XXI, uma nova era está surgindo para a humanidade, uma era baseada no conhecimento e nos relacionamentos das pessoas, que irá afetar todos os aspectos da nossa vida, tanto do ponto de vista individual quanto organizacional. Do ponto de vista organizacional, antigas verdades e crenças não são mais aplicáveis nesta nova realidade. A ênfase agora é na gestão dos ativos intangíveis que são os que mais agregam valor a organização. Por outro lado, o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e de comunicação, o aparecimento de uma geração de novos produtos inteligentes e de engenheiros do conhecimento, está fazendo com que a engenharia e a gestão do conhecimento seja um imperativo integrante de qualquer negócio.

A engenharia e a gestão do conhecimento está surgindo como uma nova disciplina e, seguramente, vai levar algum tempo até que tenhamos uma disciplina científica totalmente estruturada, em termos conceituais e metodológicos. Da mesma forma, vai levar algum tempo até que tenhamos a aceitação geral para acessar e avaliar, objetivamente, como essa disciplina e seus processos contribuirão para a competitividade organizacional.

6. Destaques para discussão nos Congressos

A partir das considerações abordadas no texto formula-se algumas questões para discussão:

1) Quais estratégias devem ser elaboradas para garantir o progresso do Brasil em direção a uma economia do conhecimento?

2) Como capacitar a população brasileira sobre a natureza da economia do

conhecimento?

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3) Como encorajar o debate de como o conhecimento pode ser usado para o avanço nacional do bem-estar da população e dar ao Brasil um marco de distinção que seja universalmente valorizado?

4) Como encorajar o investimento privado nas indústrias do conhecimento e

encorajar uma inovação de mercado para prover fontes locais de capital de risco?

5) Como apoiar a criação de incubadoras da alta tecnologia para pequenas e

médias empresas?

7. Referências

CAVALCANTI, M., GOMES, E., PEREIRA, A., Gestão de Empresas na Sociedade do Conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001. CRAWFORD, R. Na Era do Capital Humano. São Paulo: Editora Atlas, 1997. DAVENPORT, T. H. & PRUSAK, L. Conhecimento Empresarial. São Paulo: Editora Campus, 1998. DAVENPORT, T. From data to Knowledge. CIO Magazine, abril 1999. Documento da Web: www.cio.com/archive. DE LONG, D., DAVENPORT, T., BEERS, M. What is a Knowledge Management Project? Research Note. Documento da Web: www.businessinnovation.ey.com/mko, fevereiro 1997. EDVINSSON, L. & MALONE, M. S., Capital Intelectual. São Paulo: Makron Books, 1998. Ernst & Young LLP – Consulting. Blueprint for Success: How to Put Knowledge to Work in Your Organization. USA, 1998. Ernst & Young LLP – Consulting. Energy file: A Report on Knowledge Management for the Energy Industry. USA, Spring 1997. GUNDRY, J. & MIETES, G., Team Knowledege Management: a Computer Aproch. Documento da Web: www.knowab.co.uk/wbteam.html. Dezembro de 1996. HESSELBEIN, F., MARSHALL G., RICHARD B., eds. Organization of the Future. Jossey-Bass, a Wiley Company: San Francisco, 1997. JOHNSON, A. R. Using Knowledge Management as Framework for Competitive Intelligence. Documento da Web: www.aurorawdc.com/ekma.htm. Abril de 1998. KLEIN, D. A. A Gestão Estratégica do Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998. LÉVY, P. L'intelligence collective. Pour une anthropologie du cyberspace. La Découverte, Paris, 1994. MALHOTRA, Y. What is Knowledge Management? Documento da Web: www.brint.com/papers/copint.htm. 1993a. MARIOTTI, H. As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade. São Paulo: Editora Palas Athena, 2000. MCRAE, H. The World in 2020: Power, Culture and Prosperity. Boston: Harvard Business School Press, 1994. MILER, R. Measuring What People Know: Human Capital Accounting for the Knowledge Economy. Paris: OCDE, 1996. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H., Criação de Conhecimento na Empresa. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997. OLIVEIRA, D.P.R. Sistemas, Organização & Métodos, Atlas: São Paulo, 1992. RUGGLES, R. Knowledge Tools: Using Technology to Manage Knowledge Better. Working Paper Ernst & Yong. Documento da Web: www.businessinnovation.ey.com/mko/pdf/tools.pdf. SKYRME, D. From Information Resources Management. Are You Prepared? Documento da Web: www.skyrme.com/pubs/on97full.htm. 1997b.

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Prof° Neri Dos Santos – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas – Universidade Federal de Santa Catarina

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STEWART, T. A. Capital Intelectual: A Nova Vantagem Competitiva das Empresas. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1998. SVEIBY, K. E., A Nova Riqueza das Organizações. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1998. TERRA, J.C.C., Gestão do Conhecimento. São Paulo: Editora Negócios, 2001. THURROW, L. C., O Futuro do Capitalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

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Eixo Referencial

Exercício Profissional

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A VALORIZAÇÃO DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA NA ESTRUTURAÇÃO DO SETOR PÚBLICO

Alceu Fernandes Molina Junior

Engenheiro Agrônomo e Advogado com especialização em Engenharia Econômica e Direito Público, ocupando atualmente o cargo e função de Superintendente de Planejamento, Programas e Projetos do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (SPP / Confea).

Quadra Interna 04, Guará I, Brasília - DF, CEP: 71.010-062, Brasil, Fone: (+55 61) 3381 4322, Fax: (+55 61) 3381 4322, e-mail: [email protected]

RESUMO

Segundo trabalhos efetuados por especialistas da área, das condições fundamentais e dos principais indicadores da valorização profissional destacam-se: a Dignidade, a Realização, o Reconhecimento, a Segurança, e as Perspectivas Promissoras. A Dignidade é determinada pelo respeito que a sua presença impõe. A certeza interior que o profissional tem de que está fazendo o melhor, da melhor maneira possível e que ninguém, em momento algum poderá desestabilizar a sua atuação.

A Realização Profissional ocorre ao ver materializado as idéias sem intervenções, sem mutilações, sem comprometimentos, percebendo o trabalho concatenado por inicio, meio e fim da atividade desenvolvida. Daí surge o Reconhecimento Profissional, valorosa manifestação do mercado reconhecendo a realização de um trabalho personalizado e diferenciado.

Nenhum profissional, porém, se sentirá valorizado se estiver inseguro na relação com o local de trabalho. A Segurança, portanto, é também uma condição absolutamente indispensável para indicar a presença da valorização profissional. Ocorre, no entanto, que esta precisa ser conquistada à custa de uma eficaz competência profissional.

Assim, caso o trabalho não confira perspectiva de futuro, não se vislumbra continuidade, denotando não valer a pena consumir energia e esforços em novas capacitações e necessárias atualizações.

E como se situa esse assunto no que se refere aos profissionais da área das engenharias, e que atuam vinculados funcionalmente à estrutura do Estado, quer seja projetando empreendimentos ou acompanhando sua execução? São esses devidamente valorizados (?) haja vista ser o Estado financiador, regulador, e contratante de obras e serviços de engenharias em âmbito nacional.

Palavras-chave

Valorização, engenharias, carreiras, ensino, proposição.

INTRODUÇÃO

No âmbito dos profissionais integrantes da área tecnológica, parece ser consenso que os profissionais atuantes nas áreas das engenharias passaram por um crescente processo de desvalorização das suas atividades, iniciado após o término da década de 1970 e intensificado após o término da década de 1980.

Como cenário a ser visitado para que possamos entender ou até mesmo buscar subsídios para verificarmos a veracidade da questão apresentada, vislumbra-se olhar para a realidade daqueles estudantes e profissionais, que almejavam exercer, ou que já

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exerciam seus ofícios nesses segmentos enquanto egressos das escolas de engenharias.

O fato é que ao longo da década de 1970 e até mesmo no início da de 1980, constatava-se uma aquecida demanda de mercado para os profissionais com formação nessas áreas, notadamente naquelas pertinentes aos conhecimentos da indústria de transformação. Por sua vez, interessante movimento também era observado dos jovens que almejavam uma promissora carreira profissional, onde se constatava uma saudável disputa desses pela busca do conhecimento necessário a garantir uma aprovação, e conseqüente ingresso nas escolas, faculdades ou universidades com formação em ciências exatas – engenharias.

Nesse contexto, tudo parecia apontar para a opção de um modelo desenvolvimentista de crescimento para o país, oportunizando e demandando, para tanto, profissionais detentores de conhecimentos tecnológicos e da indústria de transformação, a ser materializado em uma próspera e reconhecida carreira profissional, concomitante ao crescente e próspero desenvolvimento industrial da nação.

Desenvolvimento industrial esse que infelizmente não aconteceu nos moldes esperados pela sociedade. E, mais, o cenário que se vislumbrava passou a ser dominado por uma política de substituição das importações privilegiando uma reserva de mercado, onde, ao invés de se fomentar o necessário desenvolvimento tecnológico que alçaria o país a uma maior independência nessa área, fez-se contribuir com uma acomodada restrição à competição de mercado fundamentado na livre concorrência e competitividade industrial, estacionando ou até mesmo paralisando o desenvolvimento industrial nacional, acrescido por um indesejável endividamento externo do país, tendo sido agravado pela dependência externa do Brasil aos derivados do petróleo, uma baixa produção nacional, e a crise da oferta desses no mercado internacional.

Saímos de um promissor cenário desenvolvimentista que se apregoava, e nos vimos inseridos em um cenário estagnado, e que só contribui para com o desaparelhamento e desmonte da máquina estatal no que se refere à sua capacidade de projetar e construir seus próprios caminhos e futuro. E, pior, passamos a prestigiar e potencializar o conhecimento nas áreas de controle e de juridicidade, haja vista que o cenário vivenciado passou a imperar e a abrigar os constantes conflitos de gestão da coisa pública, calcados nos esparsos recursos financeiros disponíveis para investimentos nas esferas governamentais (fruto do endividamento externo), e também do setor privado (fruto de uma baixa, e contínua perda da condição de competição mercadológica, e conseqüente restrição ao investimento inovador).

Vimos que com o advento da Carta Magna de 1988 - nossa Constituição Cidadã, muito se buscou resgatar os indispensáveis direitos coletivos, fundamentos basilares da democracia garantidos em direitos de segunda geração. Da mesma forma se adentrou nos direitos de terceira geração aprimorando os conceitos da sustentabilidade, e até mesmo evoluiu-se na abordagem da necessidade do cumprimento da função social da propriedade. Parece-nos que as coisas se encontravam em um estado de letargia no que se refere à necessidade do desenvolvimento do país a bem, e em prol da sociedade, e que esses valores careciam de um contundente resgate.

Ocorre, no entanto, que parece não se encontrar contemplado na CF de 1988 a mesma amplitude e enfoque dedicados às estruturas jurídicas e de controle que o Estado se constituiu a partir daí, ou seja, contemplar também uma ação contundente a sustentar as estruturas de governo com um viés desenvolvimentista. Prestigia-se eficazes, necessárias e adequadas remunerações para as estruturas constituídas de controladoria, auditoria, e jurídico. Porém, onde estão as indispensáveis, e também bem remuneradas, estruturas governamentais constituídas por profissionais que cuidam do desenvolvimento tecnológico – os engenheiros! Seria esse um trabalho a ser executado tão só pela iniciativa privada? Nesse específico acreditamos e já temos provas recentes de que a

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teoria do Estado Mínimo sucumbiu frente aos ávidos interesses privados, muitas vezes agindo em detrimento àqueles coletivos e necessários ao bem estar e promotores da justiça social.

O fato é que no exato momento em que o Estado é chamado a projetar e executar seu papel empreendedor, e não só regulador e controlador, não vislumbramos marcantes estruturas constituídas de engenheiros, tal como vemos e reconhecemos aquelas de controle (Controladoria Geral da União – CGU), jurídica (Advocacia Geral da União – AGU) e de auditoria no aspecto do controle externo dos investimentos (Tribunal de Contas da União – TCU). Interessante, ainda, se faz observar que muitos daqueles eficientes servidores que ocupam essas funções, são detentores de formação tecnológica, fato que nos leva a refletir qual a real razão que os levaram a se preparar para uma atuação de projetar e executar em determinada área do conhecimento e, passarem a atuar, no entanto, em área específica de controle e fiscalização governamental (?).

Portanto, imperativo se faz buscar um equilíbrio das forças, de tal forma a contemplar competentes estruturas do Governo detentoras dos conhecimentos tecnológicos nas áreas de projetos, e conseqüentes execução desses, em mesmo nível daquelas detentoras de conhecimentos de gestão, controle, fiscalização e de juridicidade, sob pena de atravancarmos e emperrarmos um propício momento desenvolvimentista que o país atravessa. Afinal, não podemos nos esquecer que ao se licitar determinada obra que incorra em especializado serviço de engenharia, imperativo se faz deter conhecimentos do projeto básico do que se quer construir, bem como explicitá-lo em projetos executivos na visão de como este deverá ser edificado. Assim, garantido está um viável e adequado certame licitatório para se buscar na iniciativa privada, o adequado parceiro que materializará o empreendimento tal como concebido e projetado, e dentro dos custos planilhados sem os intermináveis e indesejáveis aditamentos contratuais.

Já no cenário mais atual, e ao olharmos de forma comparativa para o mercado de trabalho em geral, deparamo-nos com uma interessante situação demonstrada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE. Base 2007.) que permitem ter uma visão geral das principais ocupações, salários e jornada para a população ocupada. Como já se imaginava os destaques são para as carreiras jurídicas de Juízes e Desembargadores que auferem remuneração na ordem de R$ 13.956,00 os Diretores Gerais com R$ 7.371,00 e Médicos R$ 7.029,00.

Demonstra a pesquisa mediante ranking de salário 2007, ocupar os Juízes e Desembargadores o topo da lista, seguidos pelos Diretores Gerais em segundo lugar, e a seguir os Médicos em terceiro. Da área tecnológica aparecem os Engenheiros Eletroeletrônicos e afins (5º - R$ 4.266,70), Engenheiros Civis e afins (6º - R$ 4.229,50), outros Engenheiros Arquitetos e afins (7º - R$ 3.736,20), Engenheiros Mecânicos (9º - R$ 3.551,70), Agrônomos e afins (13º - R$ 3.277,00), Engenheiros Químicos (14º - R$ 3.248,60), e os Arquitetos (17º - R$ 3.108,90).

Tomando-se por base as supracitadas informações, e comparando-as com as carreiras oferecidas no âmbito da administração direta estatal, observamos que aquelas integradas pelos auditores fiscais, controladores gerais, gestores, advogados e integrantes do judiciário, demonstram perfeita compatibilidade com os melhores salários pagos pela iniciativa privada. Destaca-se, no entanto, a vantagem da estabilidade aplicada ao funcionalismo público (Estatutário), acrescida do significativo diferencial salarial percebido por estes ao ingressarem no quadro dos inativos enquanto aposentados, quando comparados com aqueles vinculados ao regime geral da previdência social (INSS), e contratados sob a égide da CLT(Celetista).

Já no caso das carreiras pertinentes à engenharia não se pode afirmar a mesma situação. É fato que os valores oferecidos para os profissionais que desejarem iniciar uma carreira em um órgão público até guardam uma estreita correlação com os valores

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oferecidos pela iniciativa privada. Porém, além das restritas opções de quadros para esses profissionais oferecidos pela administração pública, certamente muito se deixa a desejar quando se observa as possibilidades de uma satisfatória e progressiva remuneração a ser percebida ao longo da carreira, tal como oferecido nas outras supracitadas áreas de formação. Raras exceções podem ser observadas a exemplo dos empregos em específicas áreas como aquelas na área petrolífera (ex.: Petrobras), que mais se assemelha ao perfil de uma grande empresa da iniciativa privada, e não da carreira estatal.

E o que dizer das Instituições de Ensino Superior – IES no que se refere a deterem o necessário conhecimento a ser repassado ao corpo discente, notadamente ao cumprimento do papel de formadoras dos egressos engenheiros a serem inseridos no mercado de trabalho. Verifica-se nos conteúdos pedagógicos desses cursos que interessante resposta pode ser observada ao proporem uma sólida formação científica, e profissional geral, que capacite o profissional a absorver e desenvolver novas tecnologias, permitindo a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos econômicos, sociais e ambientais, com visão ética e humanística, em atendimento as demandas da sociedade.

Nesse específico, olhando para o Sistema Educacional (IES - Formação) bem como para o Sistema Profissional (Confea/Creas - Fiscalização do exercício e atividade profissional) na qual esses profissionais estarão inseridos, cabe ressaltar que a Lei nº. 5.194, de 1966, bem estabelece no seu art. 1º que as profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo são caracterizadas pelas realizações de interesse social e humano que importem na realização dos seguintes empreendimentos: a) aproveitamento e utilização de recursos naturais; b) meios de locomoção e comunicações; c) edificações, serviços e equipamentos urbanos, rurais e regionais, nos seus aspectos técnicos e artísticos; d) instalações e meios de acesso a costas, cursos, e massas de água e extensões terrestres, e e) desenvolvimento industrial e agropecuário.

No entanto, e ainda no aspecto da formação, observa-se que a crise econômica dos anos 80 e as incertezas criadas pelos altos índices de inflação, impactaram também no ensino superior contribuindo para a distorção do segmento. Estudos mostram que o número de inscrições totais em exame vestibular baixou de 1,8 milhões em 1980 para 1,5 milhões em 1985, voltando a 1,8 milhões só em 1989. Já o número total de vagas no período aumentou apenas de 404.814 em 1980, e para 466.794 em 1989. As matrículas passaram de 1.377.286 em 1980 e 1.367.609 em 1985, chegando a 1.518.904 em 1989, demonstrando, portanto, um crescimento inferior ao da população no mesmo período (Fonte: MEC/INEP, 2000).

Na década de 90, o ensino superior apresentou considerável expansão, mas demonstra ter enfrentado dificuldades que afetaram a sua eficácia e qualidade, haja vista que o número de instituições existentes passou de 918 para 1.097 com as universidades privadas aumentando de 40 para 83, e as públicas de 55 para 72. As 72 universidades públicas indicaram se encontrar bem distribuídas entre as cinco regiões; o mesmo não acontecendo com as instituições privadas, onde 85% concentraram-se nas regiões Sul e Sudeste (Fonte: MEC, www.mec.gov.br). Portanto, das 1.097 instituições existentes, em média 37,3% localizam-se nas capitais dos estados e 62,7% no interior, mas com grandes variações e desuniforme concentração regional.

Importantes mudanças têm ocorrido nas instituições de ensino que se relacionam principalmente com os novos processos e relações advindos do impacto do desenvolvimento científico e inovação tecnológica, e também por várias ações implementadas pelo Governo Federal. Nesse contexto, tem surgido novas oportunidades no mercado de trabalho, com atuação profissional em campos distintos do conhecimento, frente maior pressão social por melhor qualidade de vida e preservação dos recursos ambientais. Há de se destacar as ações implantadas pelo governo federal na melhoria

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da qualidade e expansão do ensino médio, como por exemplo, a criação dos IFETs (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) e REUNI, programa de Expansão das Universidades Federais Brasileiras. Esse programa é uma das ações integrantes ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e foi instituído em reconhecimento ao papel estratégico das universidades – em especial do setor público – para o desenvolvimento econômico e social (www.reuni.mec.gov.br).

De acordo com informações que constam do portal do Ministério da Educação (MEC) (www.reuni.mec.gov.br) é possível caracterizar e qualificar as três etapas da expansão recente das universidades federais brasileiras a partir de três ciclos:

1º. Ciclo: Expansão para o Interior (2003/2006): Criação de dez novas universidades federais em todas as regiões; consolidação de duas universidades federais; criação e consolidação de 49 campi universitários, interiorização da educação pública e gratuita com efeitos imediatos sobre o atendimento à forte demanda do interior; impacto positivo nas estruturas – física, política, social, cultural, econômica, ambiental; criação e ampliação da oferta de novas oportunidades locais e regionais; e combate às desigualdades regionais e espaciais;

2º. Ciclo: Expansão com Reestruturação (2007/2012): Adesão da totalidade das 54 instituições federais de ensino superior (então existentes em dezembro de 2007); 26 projetos com elementos componentes de inovação; consolidação e implantação de 95 campi universitários; quadro perceptível de ampliação do número de vagas da educação superior, especialmente no período noturno;

3º. Ciclo: Expansão com ênfase nas interfaces internacionais (2008): Criação de universidades federais em regiões territoriais estratégicas, com objetivos de ensino, pesquisa e extensão no âmbito da integração e da cooperação internacional sob liderança brasileira. Encontra-se em processo de criação e/ou implantação: Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), sediada em Foz do Iguaçu (PR); Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), sediada em Santarém (PA); Universidade Luso-Afro-Brasileira (UNILAB) em Redenção (CE) e Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), sediada em Chapecó (SC).

Com esse programa de reestruturação das Universidades, o Governo Federal adotou uma série de medidas a fim de retomar o crescimento do ensino superior público, criando um programa multidimensional e, ao mesmo tempo, acadêmico, político e estratégico. Os efeitos da iniciativa podem ser percebidos pelos expressivos números da expansão, iniciada em 2008 e prevista para concluir-se em 2012, e pela oportunidade que representa para a reestruturação acadêmica com inovação que significará, em curto prazo, uma verdadeira revolução na educação superior pública do país.

Finalizando, e olhando as dificuldades vivenciadas por afirmativas medidas desenvolvimentistas de governo como aquela retratada pelo Programa de Aceleramento do Crescimento – PAC, o que não caracteriza a existência de um projeto e planejamento sustentável de crescimento para o país, parece-nos que carece a administração pública direta de uma eficaz e competente equipe de profissionais engenheiros, altamente qualificados e dedicados ao planejamento de grandes projetos para a nação (ex.: projetos de infraestrutura que leve em consideração a existência e integração de diferentes modais, e adequada estrutura portuária), e indispensável acompanhamento técnico na implementação desses, juntamente com aqueles profissionais que exercem as atividades de controle e fiscalização dos recursos financeiros aplicados nas obras e empreendimentos executados pelos parceiros legalmente contratados da iniciativa privada.

Relacionados os fatos, e objetivando um efetivo patrocínio da valorização das profissões das engenharias, e que possam promover ações de resgate da importância desses profissionais para o desenvolvimento de um necessário crescimento sustentável, destacam-se as seguintes proposições:

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1. Desenvolver ações que apontem para a reestruturação e reorganização de uma específica e prestigiada lotação desses profissionais a ser constituída no âmbito da esfera governamental: Adequada Carreira no âmbito do Estado com remuneração compatível com as Carreiras Típicas – Auditoria, Controladoria e Jurídica.

2. Para tanto, imperativo se faz sensibilizar os gestores públicos sobre tais necessidades, bem como interagir com os representantes e integrantes dos Ministérios Públicos, e Procuradorias Gerais no sentido de demonstrar a citada fragilidade que o poder público detém ao buscar empreender projetos que aplicam expressivos recursos financeiros.

3. Também interessante se demonstra fomentar a criação de carreiras na área da Engenharia Pública, no âmbito das Unidades da Federação (26 Estados e o DF), bem como nas administrações municipais. A fundamentação para tanto está na baixa capacidade, e as restritas equipes de profissionais com formação na área tecnológica que os municípios dispõem para melhor planejar e projetar seu desenvolvimento urbano e rural. Da mesma forma, observa-se uma baixa capacidade operacional na elaboração de bons projetos de infraestrutura, habitação e saneamento, a ser demonstrado e conveniado por esses entes públicos com os seus respectivos Estados, e até mesmo se habilitarem a obtenção de recursos federais disponíveis para tais finalidades. Outro interessante e adequado instrumento a ser utilizado para essas iniciativas reside na aprovada lei da assistência técnica pública e gratuita (Lei nº. 11.888/08).

4. Por fim, desejável se faz, realizar concretas iniciativas em conjunto com as Entidades de Classe de Profissionais, bem como Organizações Sindicais desses, no sentido de promover e demonstrar para a sociedade em geral, a importância dos profissionais engenheiros no contexto do desenvolvimento sustentável para as presente e futuras gerações. Tais iniciativas podem ser potencializadas mediante inserção do temário, e implementação de ações concretas e afirmativas via projetos: Pensar o Brasil, Valorização Profissional e/ou Fortalecimento das Entidades constantes do portfólio do Confea.

CONCLUSÕES

Portanto, vemos nos fatores conjunturais nacionais e internacionais, bem como nos fundamentos econômicos das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, um claro enfraquecimento do pensamento neoliberal baseado na concorrência perfeita, onde, ao Estado cabe, exclusivamente, a função de manter a estabilidade monetária (Teoria Monetarista, ou Teoria do Estado Mínimo).

Mecanismos como a desregulamentação, as privatizações, a desmedida ênfase na propriedade privada e inconseqüente abertura ao exterior baseado tão só na competitividade internacional com a redução da proteção social, mostram-se medidas desastrosas, e apontam para a falência dos Estados nacionais que não mais detêm poderes para determinar suas próprias políticas econômicas, bem como fomentar um necessário viés desenvolvimentista que garanta o crescimento do país.

Surgem, então, as questões sociais, como o desemprego, baixos níveis de renda, analfabetismo, fome, miséria, entre outras, decorridas das continuadas transferências de responsabilidades estatais para a sociedade civil, também conhecida como exclusões sociais e a busca do lucro pelo lucro apregoado pelo capitalismo puro (fator socialmente excludente).

Nesse cenário, imperativo se faz ao Estado reorganizar, e reestruturar, a sua capacidade de bem planejar, e acompanhar de forma tecnicamente competente a execução dos projetos contratados com os parceiros da iniciativa privada legalmente licitados.

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Mesmo porque, certamente o Estado só conseguirá contratar a adequada execução de seus projetos, ou até mesmo viabilizar eficazes convênios com os outros entes públicos, se os trabalhos forem corretamente concebidos em todas as suas especificidades e fundamentos técnicos.

Daí surge a necessidade de uma qualificada equipe multiprofissional com formação nas áreas das engenharias, adequadamente valorizada e remunerada, cujo precípuo propósito é bem conceber e detalhar projetos contidos em um plano nacional de desenvolvimento (PND), a serem implementados pelas esferas públicas em seus diferentes níveis (federal, estadual e municipal), e em parceria com a iniciativa privada devida e legalmente contratada.

Certamente, e se bem empreendida essa tarefa, fortalecido sairá o Estado quando da contratação de suas obras ou estabelecimento dos termos de convênios, haja vista a existência e correta definição dos objetos a serem licitados, desdobrados em projetos básicos tecnicamente elaborados, e projetos executivos adequadamente explicitados.

Nesse cenário prevalecerá a eficiência técnica e administrativa do Estado, a economicidade e correta aplicação dos recursos financeiros públicos, além do melhor funcionamento das estruturas de fiscalização e controle, considerando o correto planejamento, concepção e detalhamento de execução das obras e serviços de engenharias contratados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MEC/INEP. REUNI/PDE. Dados históricos e estatísticos. Conselheiros Federais Eng. Civ. Etelvino de Oliveira Freitas, Eng. Agr. Pedro Shigueru

Katayama, Eng. Agr. Francisco Xavier Ribeiro do Vale. Contribuições.

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UM ENFOQUE SOBRE A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS E DAS PROFISSÕES DO SISTEMA CONFEA/CREA

Edison Flavio Macedo

Engenheiro eletricista, professor universitário, ex-presidente do Crea/SC e ex-conselheiro federal, atual Gerente de Programas e Projetos do Confea.

SQN 309 – Bloco K – Ap. 605 – CEP: 70755-110 - Brasília - DF – Brasil - Tel.: (+55 61) 3298.0304 – E-mail: [email protected].

RESUMO

Os integrantes do Sistema Confea/Crea sempre discutem em seus eventos a importante questão da valorização profissional. Na maior parte das vezes essa discussão se limita ao enfoque da remuneração profissional, quer seja ela o salário dos empregados, quer seja o honorário dos autônomos. Este texto tenta abordar a questão também sob outros ângulos. E vai buscar inspiração nos trabalho de Jaime Pusch sobre uma Política de Valorização Profissional, e nas contribuições de Enio Padilha sobre “as cinco condições fundamentais indicativas da verdadeira valorização profissional”. Antes disso, entretanto, cogita do próprio significado dos termos envolvidos, das disposições capituladas no Código de Ética Profissional e nos fundamentos que podem ser encontrados no Código de Ética do Cidadão, que é a Constituição Federal de 1988. Ao final, chega a uma tríplice indagação: o que o profissional pode fazer por sua própria valorização? E que contribuições o Sistema poderia dar à valorização de seus integrantes? E os governos de vários níveis, teriam eles algum compromisso com a valorização dos principais agentes de seu desenvolvimento? Como se vê, é um tema que perpassa, e é perpassado, por todos os demais assuntos que serão discutidos no transcurso dos congressos nacional, estaduais e seus eventos precursores, em 2010. Tal a importância do tema que o Confea, para discuti-lo nacional e organizadamente, incluiu em seu Portfólio de Programas e Projetos 2009 um projeto específico.

Palavras-chave

1. Valorização Profissional; 2. Sistema Confea/Crea; 3. Sistema de trabalho profissional; 4. Mercado de trabalho profissional; 5. Desenvolvimento sustentável.

I. INTRODUÇÃO

� A definição dos termos:

- Como dizia Voltaire “posso discutir qualquer assunto, desde que, preliminarmente, se definam os termos”, por isso começaremos este texto com algumas definições de HOUAISS sobre valor, valorizar, valorização e profissional.

- Valor: medida variável de importância que se atribui a um objeto ou serviço necessário aos desígnios humanos e que, embora condicione o seu preço monetário, freqüentemente não lhe é idêntico; qualidade humana de natureza física, intelectual ou moral, que desperta admiração ou respeito; capacidade de satisfazer necessidades; utilidade, préstimo, serventia; qualidade do que alcança a excelência, do que obtém primazia ou dignidade superior.

- Valorizar: dar valor, importância a (algo, alguém ou a si próprio) ou reconhecer-lhe o valor de que é dotado.

- Valorização: ato ou efeito de valorizar(-se)

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- Profissional: relativo a profissão; próprio de uma determinada profissão; responsável e aplicado no cumprimento dos seus deveres de ofício.

- Em nosso trabalho A Pletora dos Conselhos e o Engessamento da Sociedade (ainda não publicado) assim conceituamos “profissional” e “cidadão-profissional”:

O profissional, ou o cidadão-profissional, por sua vez, é um cidadão que, mediante um aprendizado formal e específico, adquiriu uma determinada qualificação e uma reconhecida capacitação para o exercício de um pretendido trabalho, ofício ou profissão (Art. 5°, XIII, da CF/88). Ou seja, é um cidadão especialmente preparado para o desempenho das múltiplas atividades sócio-produtivas a todo instante demandadas pelo processo de desenvolvimento da Sociedade.

Em função do grau de complexidade dessas atividades – bem como pela ameaça que possam representar à incolumidade pública -, os cidadãos-profissionais podem, ou não, ter seus trabalhos, ofícios ou profissões regulamentadas; se regulamentadas, elas podem, ou não, ter a verificação de seus exercícios e a fiscalização de suas atividades a cargo de uma pessoa jurídica de direito público criada por lei, do tipo Ordem ou Conselho Profissional.

� O que aponta o Código de Ética Profissional:

- Impõe situar a Valorização Profissional não apenas como um “valor puramente corporativo” que se esgota no viés da remuneração profissional, mas como parte importante de um “valor social” que se procura solidariamente construir.

- De forma simplificada e exemplificativa podemos considerar a Valorização Profissional como um edifício, com suas fundações, sua estrutura e suas funcionalidades. Nesse edifício hipotético as fundações poderiam ser assemelhadas aos princípios éticos solenemente pactuados, que embasam o Código de Ética Profissional adotado. Esses princípios éticos são organizados no Código como segue:

o do objetivo da profissão

o da natureza da profissão

o da honradez da profissão

o da eficácia profissional

o do relacionamento profissional

o da intervenção profissional sobre o meio

o da liberdade e segurança profissionais

- Nessa analogia, a estrutura desse edifício – suas vigas e pilares - é representada por um conjunto de elementos característicos do sistema de formação (diretrizes curriculares, títulos e habilitações acadêmicas) e outro conjunto característico do sistema do exercício (diretrizes profissionais, títulos e habilitações profissionais). Na multiplicidade e complexidade dos elementos dessa estrutura, mais de 3000 distintos cursos formam profissionais que se apresentam ao mercado de trabalho sob a forma das 302 profissões ora reconhecidas, conforme disposto inicialmente na Resolução nº 473/2002.

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- as funcionalidades dessa construção, por sua vez, ficam evidenciadas pela complexa teia de relações dessas profissões entre si e pela dinâmica dos relacionamentos das mesmas com a sociedade e com os órgãos incumbidos de suas verificações, fiscalizações e aperfeiçoamento.

- O artigo 6º do CEP – do capítulo Da Identidade das Profissões e dos Profissionais - bem sintetiza o sentido transversal, poderíamos dizer, de uma Valorização Profissional que pretenda ser, simultaneamente, ética e cidadã:

O objetivo das profissões e a ação dos profissionais volta-se para o bem estar e o desenvolvimento do homem, em seu ambiente e em suas diversas dimensões, como indivíduo, família, comunidade, sociedade, nação e humanidade; nas suas raízes históricas, nas gerações atual e futura.

- No artigo 12 - do capítulo Dos Direitos Profissionais -, por outro lado, podemos encontrar o justo respaldo às legítimas reivindicações remuneratórias:

Artigo 12: São reconhecidos os direitos individuais universais inerentes aos profissionais, facultados para o pleno exercício de sua profissão, destacadamente: a) ... ... e) à justa remuneração proporcional à sua capacidade e dedicação e aos graus de complexidade, riscos, experiência e especialização requeridos por sua tarefa; ...

- Diga-nos colega, o que mais sobre a Ética poderemos considerar?

� Conceito amplo da Valorização Profissional

Antes de maior aprofundamento, diremos que o conceito de Valorização Profissional é, simultaneamente, composto e complexo. Por isso seu conteúdo não poderá ser apreendido apenas pela visualização de suas externalidades mais óbvias. Efetivamente, haverá que identificar, senão todos, pelo menos alguns de seus pressupostos.

Considerando ainda o exemplo do edifício, poderemos dizer que a construção somente existirá se, para a obtenção das funcionalidades para as quais foi prevista, for implantada, sobre uma conveniente base, uma planejada estrutura. De outra forma, o edifício não passará de um “castelo de cartas” e seus construtores “meros improvisadores”.

Edgar Morin, ao discorrer sobre os Princípios do Conhecimento Pertinente (livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro), sugere que, para que o conhecimento seja pertinente, a educação deverá tornar visíveis as relações entre, de um lado, “os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro lado, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários”.

Tornar visíveis significa desenvolver um esforço de ampliação dos conhecimentos que se deverá dispor, desenvolvendo-lhes os aspectos referentes ao contexto, ao global, ao multidimensional e ao complexo relacionados a cada uma dessas realidades, problemas ou questões. Ao final veremos mais sobre essas categorias.

- Diga-nos Colega, que outras considerações você incluiria nessa relação?

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II. A VALORIZAÇÃO: UM IMPERATIVO SOB VÁRIOS ÂNGULOS

Valorização, como vimos, é o ato de valorizar(se). E valorizar significa “dar valor, importância a (algo, alguém ou a si próprio) ou reconhecer-lhe o valor de que é dotado”.

Acontece que em cada diferenciado ângulo de focalização do indivíduo-cidadão-profissional objeto de nossos estudos, diferenciados serão os requisitos de sua valorização. A seguir, alguns desses ângulos:

- Primeiro, dos seres humanos que habitam este convulsionado planeta, hoje com quase sete bilhões de indivíduos, a maior parte dos quais completamente carente dos principais recursos para uma sobrevivência digna e produtiva. Assinale-se que, nas últimas décadas especialmente, além das condições sócio-econômicas desses seres (vide índice de Gini e IDH) crescem as ameaças decorrentes da progressiva deterioração das condições ambientais.

- Segundo, dos indivíduos- cidadãos, aqueles que integram as chamadas sociedades organizadas que se desenvolvem sob a égide de uma constituição nacional caracterizadora de seus principais valores e norteadoras das aspirações sociais e econômicas pactuadas. No Brasil são quase duzentos milhões. Urge, portanto, que tais princípios e valores sejam efetivamente levados à prática por meio de Projetos Nacionais legitimados, objetivados por políticas públicas consistente e implementados por planos de governo eficazes;

- Terceiro, dos cidadãos-profissionais, aqueles que, optando por uma formação comum e por uma ética consensuada, perseguem objetivos de contínuo aperfeiçoamento científico e tecnológico comprometidos com a indispensável defesa dos interesses sociais e humanos, sempre relacionados aos empreendimentos das áreas de atuação que lhe são próprias. No SISTEMA CONFEA/CREA esses cidadãos-profissionais chegam a quase um milhão.

Figura 2: Sistema Profissional

Seres hum anos -indivíduos

Indivíduos-cidadãos

C idadãos-profissionais

Seres hum anos -indivíduos

Indivíduos-cidadãos

C idadãos-profissionais

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III. ALGUMAS QUESTÕES DE ORDEM GERAL:

a) O que Maslow nos diz sobre os Seres Humanos?

Segundo a “teoria da motivação ou da hierarquia das necessidades”, defendida por Abraham Maslow, as necessidades humanas (e conseqüentemente a valorização que decorre de suas satisfações) estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência, numa pirâmide, em cuja base estão as necessidades mais elementares (as fisiológicas) e no ápice as necessidades mais elevadas (de auto-realização). Entre esses extremos, assim elas evoluem:

Figura 3: Pirâmide de Maslow

a) necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase e excreção);

b) necessidades de atendimento à segurança (segurança do corpo, do emprego, de recursos, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade),

c) necessidades de atendimento às necessidades de amor e relacionamento (amizade, família, intimidade sexual);

d) necessidades de estima (auto-estima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeito aos outros); e

e) necessidades de realização pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceitos, aceitação dos fatos).

Eis ai as necessidades que estão a merecer nossas primeiras atenções na desafiante jornada que desenvolveremos para a construção de uma base sólida para a Valorização Profissional.

b) O que nos diz a constituição Federal de 1988 sobre os Indivíduos-cidadãos?

A Constituição Federal da República Federativa do Brasil estabelece em seu Preâmbulo:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e

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comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa.

No Título I – Dos Direitos Fundamentais – podemos ler:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

No Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais consta:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (seguem-se 77 incisos de direitos e garantias).

Ainda no Título II, agora com relação aos Direitos Sociais, vamos encontrar 34 incisos na seqüência do caput do artigo 6º:

Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

E, finalmente, numa abordagem não exaustiva de nossa Carta Magna, vamos encontrar no título VII – Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica – a seguinte disposição:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único - É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

O conjunto dessas disposições constitucionais, resultante de um alentado trabalho histórico em prol de liberdades individuais tão acalentadas - e submetidas a processo de limitação autoritária por mais de duas décadas – surge agora como uma plataforma sobre a qual os indivíduos vão conceber e implementar seus projetos de cidadania, os cidadãos vão encontrar os indispensáveis estímulos para sua qualificação profissional e os profissionais vão buscar o necessário reconhecimento para a proposição de políticas de valorização.

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c) Alguns importantes macro-indicadores internacionalmente aceitos para medir a valorização dos seres humanos e dos indivíduos-cidadãos

Citaremos dois, pelo menos dois: o Índice de Gini e o IDH.

- Quanto ao Índice de Gini, transcrevemos a seguir consideração sobre o mesmo colhida do site Desafios do Desenvolvimento.

Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo.Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. Na prática, o Índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de Gini da distribuição da renda do trabalho no Brasil caiu de 0,541, em 2006, para 0,528, em 2007, posicionando o país quase no final da lista de 177 países considerados. Apesar dessa melhoria o Brasil continua tendo índice muito pior do que os outros países do BRIC, sigla representativa do grupo de países de maior potencial dentre os emergentes. O grupo inclui China (0,470), Rússia (0,399) e Índia (0,368).

- Quanto ao IDH

O IDH foi criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Seus valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo; com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio; e com índices maiores que 0,800 são considerados de desenvolvimento humano alto.

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) coloca o Brasil na 70ª posição mundial dentre 177 países estudados, com IDH de 0,800, atrás de outros sul-americanos como Uruguai (0,852), Chile (0,867) e Argentina (0,869). Nas Américas ocupa a 15ª posição.

Como se vê, é muito grande o desafio que se nos apresenta. O Brasil, considerado como país emergente, incluído no grupo do G20, e apesar de suas imensas potencialidades, ainda está posicionado de forma extremamente constrangedora no “rank” mundial quando se trata da distribuição da renda e dos indicadores da educação, longevidade e renda.

- Diga-nos Colega, que outros indicadores você incluiria?

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IV. DIFERENTES VISÕES DA VALORIZAÇÃO

4.1. Uma visão limitada da valorização nos levaria a questões puramente internas, corporativistas e, no caso do Sistema Confea/Crea, altamente conflitantes no âmbito das mais de 300 profissões diferenciadas existentes. Efetivamente, o incrível contencioso das atribuições profissionais tem levado esses segmentos a um impressionante desgaste de suas energias, principalmente no âmbito municipal onde as atividades profissionais se desenvolvem. Os itens abaixo poderiam, por si só, constituírem amplo material de debate visando a otimização das relações dessas profissões entre si e com a sociedade brasileira.

Figura 4: Microscópio

a) visão da remuneração profissional:

- Salários (dos empregados) – considerando a existência de um Salário Mínimo Profissional estabelecido em lei;

- Honorários (dos autônomos) – considerando a existência de Tabelas de Honorários Profissionais registradas nos Conselhos Regionais;

- Lucro (dos empresários) – considerando as condições de mercado

b) visão das reservas de mercado:

- Combate ao exercício ilegal das profissões (leigos) – considerando a aplicação de sanções legais e administrativas;

- Combate às exorbitâncias de atribuições (profissionais) – considerando o grande contencioso histórico;

- Implementação das Matrizes do Conhecimento – considerando o advento e a implementação de nova normatização disciplinadora.

c) visão do emprego tradicional:

- Pleno emprego, sub-emprego e desemprego – considerando as jornadas de trabalho, as remunerações praticadas e a regularidade do exercício;

- Emprego Público – considerando a grande dissintonia ora existente nos Planos de Cargos e Salários, em flagrante desfavor das profissões do Sistema Confea/Crea;

- Emprego Privado – considerando, como diria Wladimir Pirró y Longo, a “microcefalia do setor produtivo nacional” e as dificuldades de ocupação no Brasil, por brasileiros, de espaços de trabalho de mais elevadas densidades tecnológicas.

d) visão dos indicadores referenciais ou condições fundamentais da Valorização Profissional (aproveitadas do artigo elaborado pelo engenheiro eletricista Enio Padilha, cujo inteiro teor está disponível no site www.eniopadilha.com.br). O colega Enio resumiu seu entendimento sobre o que denominamos acima de “visão limitada da valorização” da seguinte forma:

é preciso ver o clássico objetivo de melhorar a remuneração não mais como um objetivo e sim como uma conseqüência de um processo. Para isso é preciso revisitar o conceito de Valorização Profissional. E entender que, ganhar mais não significa, automaticamente, ser mais valorizado. No entanto, quando se é, realmente, valorizado pelo mercado, ganhar mais é uma conseqüência natural.

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E propôs cinco condições fundamentais indicativas da verdadeira valorização profissional:

I. a dignidade profissional, que é determinada pelo respeito que a sua presença impõe. A certeza interior que você está fazendo o melhor, da melhor maneira possível e que ninguém, em momento algum, poderá desestabilizar a sua atuação;

II. a realização profissional, que se dá quando você consegue ver materializada as suas idéias sem intervenções, sem mutilações, sem comprometimentos. A sensação maravilhosa de ver que o seu trabalho teve princípio, meio e fim;

III. o reconhecimento profissional, que é aquela impagável manifestação do mercado (não apenas do cliente) de que seu trabalho é diferenciado e valioso;

IV. a segurança profissional, que é uma condição indispensável para determinar que você tem valor profissional. A tão sonhada valorização profissional nunca chegará para um profissional que não seja absolutamente seguro quanto ao seu trabalho. Que não tenha certezas profissionais. Que não transpire convicção e competência;

V. a perspectiva promissora, que é representada pela confiante visão de futuro construída pelo profissional. Se o seu trabalho não lhe dá perspectiva promissora, você não tem uma vida ligada a esse trabalho. Ele, definitivamente, não vale a pena.

4.2. Uma visão ampla da valorização, por sua vez, nos levaria à necessidade da formulação de uma Política de Valorização Profissional capaz de considerar, dentre outros pontos:

- o profissional, a profissão, a sociedade e o Estado;

- o delineamento da identidade profissional (propósito, missão, visão, princípios e valores);

- o processo de qualificação continuada dos profissionais;

- a inserção do profissional no ciclo histórico e no processo de desenvolvimento;

- a visão do mercado de oportunidades, tanto na área privada como na pública, em meio às mudanças tecnológicas e estruturais;

- as profundas implicações sobre esse mercado, decorrentes do intenso dinamismo do processo de globalização;

- as atuais eficiência e a eficácia das organizações representativas desses profissionais e o conjunto de ações pretendidas visando o fortalecimento das mesmas;

- instrumentos, mecanismos e recursos de todas as ordens disponibilizáveis.

Em 2001, para estimular o debate em torno dos temas do IV Congresso Nacional de Profissionais, solicitamos do Arquiteto Jaime Bernardo Pusch a elaboração de um “texto referencial” abordando a questão da Valorização Profissional. Desse texto aproveitaremos agora alguns trechos, como se estivéssemos hipoteticamente entrevistando o autor.

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- Diga-nos Jaime, como seria a condução de uma “política de valorização profissional”?

- Não seria possível hodiernamente pensar-se na formulação de quaisquer políticas sem a participação do segmento social a que ela se destina. Por isso, dentro de uma perspectiva democrática, a manifestação de cada cidadão e de todos é fundamento de legitimidade. A via prática – seria desnecessário dizer – é pela condução evolutiva através de seus representantes. Democraticamente, a formulação desta política deve surgir do âmbito do sistema profissional e ter sua condução por seus representantes. Este sistema já está pronto. É o sistema Confea/Crea.

- Compete ao Confea ou aos Creas promover uma política de valorização profissional? Teriam porventura essas organizações o poder, o dever ou a faculdade da ação?

- Olhando pelo prisma do direito, vamos encontrar a resposta na própria lei regulamentadora das profissões, a Lei 5.194/66. Em seu artigo 1º caracteriza nossas profissões pelas “realizações de interesse social e humano”. Se forem profissões que visam o Homem e a Sociedade, já temos uma resposta. O sistema Confea/Crea pode, deve e tem a vontade fundada de promover uma política de valorização profissional. Eis que existe em função do profissional e a ele se volta na sua caracterização de realizador social e humano. E isso se desdobra nos coletivos profissionais e em cada um dos engenheiros, arquitetos, engenheiros agrônomos, geólogos, geógrafos, meteorologistas, tecnólogos e técnicos.

- Qual é o papel do Sistema Confea/Crea?

- Ao mesmo tempo em que o Sistema Confea/Crea é o legítimo promotor de uma política de valorização profissional, ele é um dos alvos das mudanças que essa política puder formular. Não é uma contradição. Antes, uma tomada de consciência dos profissionais de que uma de suas instituições – como todas em geral – oferece respostas muito lentas no tempo e que precisa de uma revisão em seus fundamentos, práticas e alcance. Também é uma tomada de consciência do próprio sistema. Efetivamente, não se pode supor que seja possível promover ações que visem a valorização profissional sem que a capacidade de resposta institucional com elas esteja afinada.

- E quanto a elaboração dessa política, quais os primeiros passos?

- O primeiro passo para a elaboração de uma política de valorização profissional é o estabelecimento de um diagnóstico da situação atual das profissões. Devemos elaborar objetivamente um “perfil da coisa” e, com sinceridade, detectarmos o grau de descompasso com uma realidade projetada, as causas dos fatos e os possíveis recursos a serem acionados para a sua reversão. Depois, dentro ainda do modelo sistêmico, faremos um roteiro de avaliação.

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Jaime Pusch também sugere que, dentre outros, sejam devidamente examinados alguns pontos por ele destacados e relacionados ao SISTEMA DE TRABALHO PROFISSIONAL, conforme os desenhos e indicações a seguir:

Figura 5: Sistema de Trabalho Profissional

a) em relação ao profissional e o serviço: formação básica, papel social, liderança, capacidade agenciadora, direitos e deveres, sociabilidade, ética, iniciativa, auto-estima, adequabilidade, compatibilidade, qualidade, atualidade e atribuições profissionais;

b) em relação ao cliente e a remuneração: identificação do perfil, obrigatoriedade da contratação, correta utilização, justa remuneração e confiabilidade;

c) em relação ao ambiente regulatório: regulamentação, atualidade legal, fiscalização, agilidade, presença classista e cidadania.

- Diga Colega, de que outras visões você cogitaria?

CONTROLECONTROLEPoder gestor (público)Poder gestor (público)

AMBIENTE ATUAL

PROFISSIONAISPROFISSIONAIS

PROCESSO

SERVIÇOSPROFISSIONAIS

Solicitação de serviços

Resultado dos Serviços

Técnicas e procedimentosRemuneração

Normas

Expectativas eExpectativas ecarências dacarências dacomunidadecomunidade

AMBIENTE MODIFICADO

Satisfação daSatisfação dacomunidadecomunidade

CONTROLECONTROLEPoder gestor (público)Poder gestor (público)

AMBIENTE ATUAL

PROFISSIONAISPROFISSIONAIS

PROCESSO

SERVIÇOSPROFISSIONAIS

Solicitação de serviços

Resultado dos Serviços

Técnicas e procedimentosRemuneração

Normas

Expectativas eExpectativas ecarências dacarências dacomunidadecomunidade

AMBIENTE MODIFICADO

Satisfação daSatisfação dacomunidadecomunidade

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V. ALGUNS PRÉ-REQUISITOS DA VALORIZAÇÃO PROFISSIO-NAL

Alguns dos pré-requisitos básicos da Valorização dos seres humanos-indivíduos-cidadãos-profissionais e diretamente dependentes das capacidades que eles possuem, ou procuram desenvolver, são:

- a consciência dos direitos e dos deveres - é o começo de tudo, é o mínimo que se espera de todos aqueles que vivem numa sociedade capaz de oportunizar aos cidadãos, primeiro, e aos cidadãos-profissionais, depois, a proatividade indispensável para assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento e a igualdade. Reconhece-se que não é um aprendizado fácil, principalmente quando se vive numa sociedade permissiva em que os maus exemplos são dados pelos ocupantes de posições de ampla visibilidade social, eletivas ou não, em todos os poderes da República. Mas a história tem demonstrado que as sociedades humanas tem a compulsão da mudança e, mais cedo ou mais tarde, liberta potenciais inimagináveis para a superação de seus problemas;

- a capacidade de lutar por eles - tomemos emprestado do famoso pensador argentino José Ingenieiros (As Forças Morais) um trecho que nos ajudará a entender, e internalizar, este pré-requisito: “O pensamento e a ação devem andar juntos como a bússola que orienta e a hélice que impulsiona, para que possam ser eficazes”. Essa capacidade é dependente, fundamentalmente, não apenas da existência e do exercício de efetiva liderança como do grau de proatividade que as mesmas possam apresentar. Lembramos aqui o conceito de proatividade de uma das apostilas do Gespública: “capacidade de se antecipar aos fatos, a fim de prevenir a ocorrência de situações indesejáveis e aumentar a confiança e a previsibilidade dos processos”.

- a capacidade de estabelecer consensos – sobre essa poderemos exemplificar invocando algumas – digamos assim - provas documentais:

1. os documentos mais emblemáticos e recentes do consenso dos seres humanos–indivíduos são a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta da Terra, ambos da ONU;

2. os documentos alusivos ao consenso dos cidadãos são as Constituições de cada País, por eles solene e democraticamente aprovadas. (a CF88 no caso brasileiro). Esse consenso, entretanto, parece não ter sido suficiente ainda, no Brasil, para desencadear outro resultado a ele diretamente relacionado: um consistente Projeto de Nação alinhando políticas, programas, projetos e planos de governo;

3. os documentos alusivos ao consenso dos cidadãos-profissionais, por sua vez, são os Códigos de Ética Profissional. No Sistema Confea/Crea o CEP atual foi proposto pelo CDEN em 2002 e nesse mesmo ano adotado pelo Confea, por meio da Resolução 1.002/2002;

4. outro documento exemplificativo desse consenso é o da Formulação Estratégica do Sistema Profissional (versões 2007 e 2008), que estabelece os Objetivos Estratégicos do Sistema Profissional a partir dos quais são desdobradas as Metas e os Projetos das organizações que o integram.

E tem mais, o Sistema Confea/Crea institucionalizou, pelo menos, dois processos para a obtenção de consensos relacionados aos seus objetivos estratégicos:

- os Congressos Nacionais de Profissionais (CNPs), precedidos pelos 27 Congressos Estaduais de Profissionais (CEPs), e estes pelos Encontros

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Microrregionais de Profissionais (EMRs), eventos esses que se realizam desde 1993; e

- as edições anuais da Formulação Estratégica do Sistema Profissional, que a partir de 2007 ampliaram o seu foco e passaram a abranger a totalidade das organizações que integram esse Sistema.

Saliente-se, por importante, que esses dois importantes processos serão unificados a partir de 2010, vez que tal unificação permeará o temário do VII CNP.

- Diga Colega, que outros requisitos você incluiria?

VI. ALGUNS REQUISITOS DA VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL

Estes requisitos conjugam-se com os pré-requisitos vistos anteriormente para compor uma visão mais compreensiva que se necessita ter relativamente a:

a) primeiro, a necessidade de cada profissional construir, desde os seus primeiros fundamentos, uma identidade profissional própria. Mais uma vez apelando para Houassis, poderemos dizer que: uma identidade “é o conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graças às quais é possível individualiza-las”. E o que é “profissional” também já vimos anteriormente. Um exemplo, que encontramos no site www.vocation.com.br, talvez sirva para sedimentar nosso entendimento sobre a identidade em apreço. É o seguinte:

IDENTIDADE PROFISSIONAL: Você já tem a sua? 1. Você tem consciência de quais são os seus sonhos e como poderá realizá-

los? 2. você tem a impressão de que está no rumo certo para alcançar o seu lugar no

mundo do trabalho sem deixar seus sonhos (pessoais e profissionais) perdidos no caminho?

3. você sabe quais são os tipos de atividades profissionais mais apropriadas ao seu perfil?

4. você sabe dizer quais são as suas principais competências e habilidades? 5. você sabe quais as profissões mais indicadas para colocar em prática as suas

competências e habilidades? 6. você já teve a oportunidade de indicar seus traços marcantes que poderão

diferenciá-lo no desempenho profissional? 7. você está convencido de que fez a escolha profissional adequada para a sua

vida? 8. você já tem traçado um projeto de vida? 9. você tem disponibilizado um tempo para planejar a sua carreira? 10. você considera o curso escolhido uma chance para o exercício de uma

profissão que vá lhe proporcionar prazer e qualidade de vida?

b) segundo: a necessidade da internalização da Identidade do Sistema Profissional a que se pertence. Essa identidade “é constituída pelo conjunto de representações que seus integrantes formulam sobre o significado dessa organização, em um contexto social, isto é, quem é uma organização ‘depende de como seus integrantes compreendem a si mesmos como uma organização”. Não se confunda identidade com imagem, esta é apenas “uma representação construída pelos observadores externos”.

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Em processo memorável, desenvolvido no transcurso da Formulação Estratégica do Sistema Profissional, em 2007, foi pactuada pelas lideranças participantes a seguinte redação representativa da Identidade do Sistema Confea/Crea:

Negócio: Defesa dos interesses sociais e humanos relacionados aos empreendimentos profissionais e preservação dos preceitos éticos pactuados.

Missão: Atuar eficiente e eficazmente como instância superior da verificação, da fiscalização e do aperfeiçoamento do exercício e das atividades profissionais, orientando seus esforços de agente público para a defesa da cidadania e a promoção do desenvolvimento sustentável.

Visão: Ser reconhecido pela sociedade e pelo universo profissional como uma instituição colocada à serviço da qualidade de vida e do bem-estar dos brasileiros, e como tal, socialmente eficaz, organizacionalmente eficiente e eticamente responsável.

Princípios e Valores: - Integridade, ética e cidadania; - Ciência&Tecnologia e soberania; - Serviços de excelência à sociedade; - Valorização profissional e funcional; - Participação e posicionamento social. - Unidade de ação, parceria e transparência.

-

c) terceiro: necessidade de uma visão prospectiva dos espaços de atuação profissional: a Formulação Estratégico do Sistema Profissional (FES) foi realizada com base em consistente “visão de futuro”. E para obtê-la foram realizados três exercícios de “construção de cenários prospectivos”, o primeiro em 2003, do qual resultou a publicação denominada Cenário Minerva, e o segundo e terceiro como parte do processo de realização das FES-2007 e FES-2008.

Embora não sendo do escopo deste trabalho, apresentamos na sequência um Box referente aos eventos (“fatos portadores do futuro”) considerados quando da cenarização realizada em 2008:

- Novo modelo de formação acadêmica; - atendimento às necessidades do mercado de profissionais requalificados em

curto prazo; - recuperação e fortalecimento do complexo de instituições de PD&I; - crescimento anual do PIB; - equilíbrio estrutural da economia internacional; - aumento de investimentos em infraestrutura; - Agências reguladoras e marcos regulatórios; - Exploração da camada do pré-sal; - Mitigação dos impactos das mudanças climáticas na sustentabilidade

ambiental; - Crescimento da produção agrícola; - Copa do Mundo de 2014; - Desenvolvimento das cidades (planos diretores); - Mudanças na regulamentação das profissões; - Demandas sociais por mais qualidade na gestão das organizações; - Reconhecimento do papel social do Sistema Confea/Crea pela sociedade; e - Inserção internacional do Sistema Profissional.

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Em relação a esses eventos foram consideradas as oportunidades (relativas a eventos com alta probabilidade de ocorrência no período cenarizado – 2010/2014), as transições (eventos que ainda não ocorrem, mas contam com condições favoráveis para que venham a ocorrer) e os desafios (eventos que não ocorrem hoje, e também não contam com condições favoráveis a que venham ocorrer até 2014, mas que foram incluídos no Cenário Desejado).

VII. ELEMENTOS PARA A DEFINIÇÃO DE UMA POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL

Algumas linhas de ação para o estabelecimento, primeiro, e a implementação, depois, das Diretrizes de uma Política de Valorização Profissional:

1ª Linha - o que o profissional poderá fazer por si mesmo (com base na identidade profissional própria que estabeleceu e na identidade do sistema profissional que internalizou):

- a conscientização do momento histórico (interesse pelos assuntos político, sociais, econômicos e ambientais da nação e de seu tempo);

- a conscientização do perfil necessário (o que mais a sociedade e o mercado demandam dos profissionais – vide os estudos sobre o Engenheiro do Século XXI e Inova Engenharia, da CNI);

- a conscientização de suas responsabilidades (perfeito domínio da forma e do conteúdo do atual Código de Ética Profissional);

- a preparação para a ação competente (implementação de plano de qualificação continuada)

Em relação à conscientização do perfil necessário, vejam o que nos informa o estudo conjunto realizado pelo SENAI/IEL, com o título INOVA ENGENHARIA:

A nova realidade de rápida evolução tecnológica exige que o engenheiro tenha: - sólido conhecimento das áreas básicas; - capacidade para apropriar-se de novos conhecimentos de forma autônomo e

independente; - espírito de pesquisa para acompanhar e contribuir com o desenvolvimento científico

e tecnológico do país; - capacidade para conceber e operar sistemas complexos, com competência para

usar modernos equipamentos, principalmente recursos computacionais, estações de trabalho e redes de comunicação;

- aptidão para desenvolver soluções originais e criativas para os problemas de projetos, da produção e da administração;

- pleno domínio sobre conceitos como a qualidade total, produtividade, segurança do trabalho e preservação do meio ambiente;

- habilidade para trabalhar em equipe, para coordenar grupos multidisciplinares e para conceber, projetar, executar e gerir empreendimentos de engenharia;

- conhecimento de aspectos legais e normativos e compreensão de problemas administrativos, econômicos, políticos e sociais, de forma a compreender e intervir na sociedade como cidadão pleno, principalmente no que se refere às repercussões éticas, ambientais e políticas de seu trabalho;

- domínio de línguas estrangeiras, necessário para o acesso direto às informações geradas em países avançados, onde surgem as principais inovações;

- percepção de mercado e capacidade de formalizar novos problemas, além de encontrar sua solução.

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2ª Linha - o que o Sistema poderá fazer pelo profissional

- prepará-lo para a cidadania-profissional;

- apoiá-lo no esforço de educação continuada;

- instrumentalizá-lo para a ação “social e humana”;

- combater o exercício ilegal da profissão;

- cenarizar a participação profissional nos PND e PEDs;

- conscientizar e prevenir sobre as infrações éticas

- garantir o cumprimento da legislação do SMP

- facilitar o intercâmbio internacional;

- apoiar o associativismo e o cooperativismo.

3ª Linha - o que a união, os estados e os municípios poderão fazer pelos profissionais

- projetos nacional, regionais, estaduais e municipais de desenvolvimento;

- políticas públicas de geração de empregos, de ciência e tecnologia, energética, de transportes, de saneamento básico, agrícola, industrial etc.;

- inserção soberana no processo de globalização;

- Planos de Cargos e Salários, nos vários níveis, valorizadores do trabalho profissional;

- garantia do cumprimento da legislação profissional;

- recuperação das instituições de PD&I;

- planos de governo, nos vários níveis, com ações voltadas à geração de emprego e incentivo ao desenvolvimento C&T.

E agora Colega, queremos ver a sua proatividade, ajudando a formular para o Sistema Profissional uma Política de Valorização.

VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo o que foi dito, evidenciam-se as colocações de Edgar Morin sobre as categorias referenciais do “conhecimento pertinente” e do novo compromisso de sempre considerá-las em relação às questões de nosso tempo ou, até mesmo, às atividades cotidianas.

Fica para os leitores o exercício do cruzamento da questão da Valorização Profissional com cada uma dessas categorias, ou seja:

1. o contexto (é insuficiente o conhecimento dos dados e informações isoladamente);

2. o global (o global é maior do que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de forma inter-retroativa ou organizacional);

3. o multidimensional (considera as várias dimensões comportadas pelo tema: política, social, econômica, etc);

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4. o complexo (que considera a união entre a unidade e a diversidade).

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLASI, João Henrique. Responsabilidades Profissionais. Florianópolis, Crea/SC, 1984, 32 p.

de CASTRO, Orlando Ferreira. Deontologia da Engenharia, Arquitetura e Agronomia e Legislação Profissional. Goiânia, Crea/GO, 1995, 527 p.

MACEDO, Edison Flavio. Manual do Profissional. 4ª edição/Confea. Florianópolis. Gráfica Recorde, 1999. 199 p.

PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Elementos para uma política de valorização profissional. Florianópolis. Crea/SC. 1985. 33 p.

MACEDO, Edison Flavio e PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Código de ética Profissional Comentado – engenharia, arquitetura, agronomia, geologia, geografia e meteorologia. Brasília. 2003.

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Eixo Referencial

Organização do Sistema

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O FORTALECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES PROFISSIONAIS INTEGRANTES DO SISTEMA CONFEA/CREA – A EXPERIÊNCIA DO

PARANÁ

Claudemir Marcos Prattes – Administrador de Empresas, com especialização em Gestão Empresarial, Marketing, Gestor da Assessoria de Apoio às Entidades de Classe – CREA-PR

Álvaro José Cabrini Júnior – Engenheiro Agrônomo, com especialização em Planejamento e Desenvolvimento Agrícola, Presidente do CREA-PR, Gestão 2006/2011

Endereço: Rua Dr Zamenhof 35, Alto da Glória – Curitiba-PR – 41 3350-6925 – 43 9996-3502 – [email protected]

RESUMO

O presente texto tem por finalidade apresentar a forma de fortalecimento do Sistema Profissional e das profissões através da integração das organizações profissionais com a sociedade, tendo as organizações profissionais em especial as Entidades de Classe como os atores principais neste processo, considerando a capilaridade e a capacidade das entidades na realização dos objetivos estratégicos estabelecidos pelo Sistema Profissional. Apresentaremos o trabalho de base realizado no Paraná com as organizações profissionais focados na melhoria da qualidade de vida dos profissionais, na sustentabilidade das profissões e nas diversas interfaces do sistema com lideranças e com a sociedade.

PALAVRAS-CHAVE

Fortalecimento, excelência, parlamentar, integração, entidade.

I - INTRODUÇÃO

O sistema CONFEA/CREA nunca será forte sem que as organizações que o compõem estejam fortalecidas.

As organizações necessitam cumprir efetivamente as suas funções primordiais de formação, qualificação, defesa dos direitos dos profissionais e da integração destes com o meio e a sociedade. E quando falamos de realização profissional entenda-se como o resgate da auto-estima e do exercício ético das profissões.

Entendemos que o processo de fortalecimento das organizações profissionais é estabelecido de acordo com quatro linhas estratégicas de atuação:

Gestão: que consiste no fortalecimento do sistema interno de gerenciamento, melhoria dos produtos e serviços e a constituição de uma estrutura sólida que é a base de

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sustentação da organização. O objeto é a corporação, e deve ser a base de sustentação de todo o processo.

Mobilização: a participação dos profissionais é fundamental, mobilização e organização são fatores cruciais para desenvolvimento das organizações. Para tanto, é necessária a oportunização de “bandeiras” das grandes causas que proporcionarão a mobilização esperada.

Políticas públicas: necessariamente precisa-se de uma boa base de sustentação, é a atuação externa “o ato de quebrar a casca do ovo” e se mostrar à sociedade com organização, mobilização e principalmente foco. A demonstração de objetividade é fundamental para a atuação junto às políticas públicas.

Atuação profissional: onde se concentra o grande campo de atuação das organizações na defesa dos direitos dos profissionais, quer seja na busca de oportunidade de atuação profissional ou na luta pela reserva de competência e responsabilidade. Em foco a inserção profissional.

Diante destas linhas de atuação apresentaremos o que denominamos o Modelo de Excelência Profissional para uma organização e seus fatores críticos de sucesso, modelo utilizado pelo Prêmio CREA da Qualidade nas Organizações Profissionais – PCQ, que é uma das ações estratégicas do CREA-PR.

Sua finalidade é reconhecer e premiar as organizações profissionais que comprovem alto desempenho em suas gestões.

II - MODELO DE EXCELÊNCIA PROFISSIONAL

Este modelo sistêmico está alinhado a conceitos universais de gestão.

As questões e temas relacionados à busca pela realização e integração profissionais através da defesa dos direitos e a melhoria do ambiente do exercício das profissões da Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Geociências.

Ao mesmo tempo responde às exigências próprias de sua natureza pública quanto à impessoalidade, eficiência, legalidade, moralidade e publicidade.

Como conseqüência, propicia a melhoria do indivíduo na perspectiva de desenvolvimento de sua excelência pessoal, é a criação do “caldo de cultura”.

O programa ativo que traduz esta ideia de excelência profissional é o PCQ, que é aplicado às Entidades de Classe.

O programa mantém as características universais da gestão de excelência e é de grande utilidade para a avaliação, diagnóstico e desenvolvimento de sistemas de gestão de qualquer tipo de organização, seja de pequeno, médio ou grande porte.

O modelo de excelência profissional busca estimular o aperfeiçoamento e desenvolvimento da qualidade nas gestões das organizações e de seus profissionais associados.

Fomenta o desenvolvimento cultural, político, científico, tecnológico, econômico e social das organizações e de seus profissionais associados.

Traz às organizações profissionais um referencial para a melhoria contínua de seus processos, ao mesmo tempo em que reconhece institucional e publicamente a excelência da qualidade da gestão conquistada pela organização.

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Outro fator primordial é a divulgação das boas práticas de gestão desenvolvidas que são importantes instrumentos ao processo de fortalecimento das organizações profissionais.

O PCQ adota um instrumento de avaliação composto por cerca de 400 itens e subitens, com uma carga de pontuação de 1.001 pontos.

São promovidas auditorias especializadas que resultam em relatórios de gestão que trazem referencias e identificam pontos fortes e fracos de cada organização.

O relatório de gestão é um documento extremamente útil para definições estratégicas das organizações, ou seja, potencializar os pontos fortes diante das oportunidades de melhoria e fortalecer os pontos fracos da organização.

O modelo é estruturado em nove critérios básicos, e em cada critério existe uma base devidamente instrumentada dentro do CREA-PR para assessoramento às organizações, sendo eles:

1 - MODELO DE GESTÃO:

Consiste em um modelo integrado de planejamento estratégico da organização. Baseia-se na gestão da informação, de pessoas e na gestão financeira.

Inicia-se com a definição de políticas e na composição da identidade organizacional até a implantação da rotina do dia-a-dia.

O CREA-PR institucionalizou a Assessoria de Apoio às Entidades de Classe que tem por finalidade contribuir com as organizações através de idéias e soluções fundamentadas em metodologia de gestão.

2 - ATUAÇÃO JUNTO AO SISTEMA CONFEA/CREA:

Neste critério a base fundamental de análise é o nível de atuação e contribuição para o processo de disciplinamento e controle do exercício profissional.

A avaliação segue desde o processo de escolha dos representantes da organização e sua avaliação, e ainda as contribuições da organização com a melhoria das condições do exercício profissional.

O CREA-PR possui programas que visam à orientação das entidades de Classe quanto ao papel do conselheiro, programas de qualificação dos candidatos eleitos “Pró-pleno” e qualificação dos Inspetores. Promove ainda a parceira com as entidades de classe nas fiscalizações programáticas do conselho, como as fiscalizações preventivas integradas, fiscalização integradas de acessibilidade, entre outras.

3. QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL:

O objeto deste critério é analisar o envolvimento da organização com iniciativas que promovam o aperfeiçoamento técnico do profissional e do prestador de serviços profissionais, como os serviços de formação e qualificação de mão-de-obra especializada.

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O CREA-PR possui o programa contínuo de qualificação e aperfeiçoamento profissional que estabelece parceria na promoção dos eventos, programa conhecido como “Pró-CREA”.

4. AMBIENTE ASSOCIATIVO:

Este critério promove a integração entre os profissionais e principalmente da organização com o sistema.

Fomenta as parcerias com instituições de ensino e a aproximação com acadêmicos. Identifica, analisa e compreende as necessidades e expectativas dos profissionais.

Examina ainda como a organização mede e intensifica a satisfação e a fidelidade dos profissionais em relação aos produtos e serviços ofertados.

O CREA-PR fomenta e auxilia na estruturação do programa “CREAjr” e recentemente institucionalizou a Assessoria de Apoio às Instituições de Ensino.

5. ÉTICA PROFISSIONAL:

Busca o comprometimento da organização com a defesa corporativa e a contribuição da organização com a busca pela melhoria da qualidade de vida dos profissionais.

Fatores importantes são trabalhados neste critério, como a implantação e o funcionamento das comissões de ética profissional das organizações.

Os trabalhos em prol da defesa da justa remuneração profissional, fundamentado na criação e aplicação das tabelas referenciais de honorários, e na defesa e promoção do salário mínimo profissional.

O CREA-PR fomenta a integração das comissões de ética das organizações com as instituições de ensino, com acadêmicos e com a comissão de ética do conselho. Os encontros anuais de comissões de ética também são instrumentos importantes aplicados pelo Conselho.

6. POLÍTICAS PÚBLICAS:

O planejamento e os trabalhos desenvolvidos pela organização quanto a sua participação e envolvimento com as políticas públicas do município, região e estado.

A existência e o bom funcionamento dos convênios de Engenharia ou Arquitetura e Agronomia públicas e a representatividade da organização junto a Conselhos Municipais.

A participação na elaboração e aprimorando dos Planos Diretores dos municípios, dos trabalhos em defesa do meio ambiente e também da atuação da organização na produção de ideias e soluções às gestões municipais.

A agenda parlamentar do CREA-PR em parceria com as entidades de classe é o grande instrumento fomentador das políticas públicas.

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7. COMUNICAÇÃO:

Este critério avalia como a organização se relaciona interna e externamente com funcionários, clientes, profissionais, com o sistema e com a sociedade. Avalia as formas de comunicação utilizadas pela organização e a sua efetividade.

O CREA-PR desenvolve procedimentos e ferramentas ágeis e úteis à construção de programas de divulgação e informação prestada pelas entidades de classe. Estrutura ainda programas institucionais como publicações orientativas, debates e seminários sobre comunicação eletrônica e impressa.

8. LIDERANÇA:

Avalia o perfil de liderança da organização e o comprometimento pessoal dos membros da alta direção da organização na disseminação e atualização de valores e diretrizes da organização.

Empenho na promoção da cultura da excelência em gestão e examina ainda como a alta direção da organização analisa criticamente o desempenho global da organização.

O CREA-PR disponibiliza cursos de aprimoramento aos gestores das entidades de classe e ainda promove encontros específicos de troca de experiências, o que denominamos “Gestão Solidária” entre as entidades de Classe.

9. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA E SOCIAL:

Examina a relação ética e transparente da organização com todos os públicos com os quais se relaciona.

Está voltada para o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras. Respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais como parte integrante da estratégia da organização.

O CREA-PR realiza em parceria com especialistas e entidades classe cartilhas orientativas quanto a questões de segurança, gestão de resíduos e responsabilidade social. Especial destaque para os programas permanentes como o de Acessibilidade.

III - FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

O modelo de excelência é integrado por quatro estruturas transversais que são a base de sustentação e os fatores primordiais de integração entre profissionais e destes com a sociedade.

Nestes fatores destacam-se o compromisso com a qualidade e excelência no exercício profissional.

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1 - GOVERNANÇA COOPERATIVA

É o sistema de gerenciamento estratégico adotado pelo CREA-PR. Baseado na ideia da gestão participativa propicia o espaço de integração entre os profissionais.

Através dela é possível integrar de forma simples, objetiva e efetiva o Conselho com as entidades de classe, inspetores, conselheiros, instituições de ensino, empresas e profissionais.

Em um momento oportuno resulta na integração com a sociedade e a aproximação das instâncias decisórias do Conselho com os seus diversos públicos.

A Governança tem um papel fundamental de envolver as organizações profissionais que compõem o sistema na definição de estratégias comuns. Leva a soma de esforços em prol de resultados que são comuns entre as organizações.

Este é o espaço de definições estratégicas, de troca de experiências fundamentadas em união e integração fortalecendo os princípios associativistas e éticos.

2 - PROGRAMA DE EXCELÊNCIA – CREA E ENTIDADES DE CLASSE

Este programa busca a promoção e o reconhecimento público do bom exercício das profissões, fundamentado em ações voltadas a construção de um ambiente orientado e reservado ao exercício ético das profissões.

Conceitualmente, o programa busca a excelência no exercício das profissões nas atividades de planejamento, execução e manutenção. Seu objetivo é o de promover, reconhecer e certificar a excelência no planejamento, execução e manutenção de obras e serviços de engenharia, arquitetura, agronomia e geociências.

O horizonte estabelecido é que o programa de excelência em projetos seja um fator decisivo para despertar na sociedade o reconhecimento do valor das profissões e dos profissionais.

O programa traz conceitualmente os fatores de legalidade e estabelece as recomendações cautelares necessárias e desejáveis em todas as fases de atuação profissional, quer seja no planejamento, execução ou manutenção. Apresentamos as etapas em que o programa está sendo trabalhado:

Planejamento de Edificações

Empreendimentos Rurais

Empreendimentos Industriais

Espaço Urbano

O grande instrumento de reconhecimento público e de valorização profissional do programa de excelência é a Certificação de Qualidade e Excelência em todas as fases do programa.

A certificação é precedida de cursos de capacitação e aprimoramento profissional e submete trabalhos reais dos profissionais a uma avaliação criteriosa baseada em uma lista de verificação elaborada por diversos especialistas em todo o Estado.

A avaliação é realizada em parceria com instituições de ensino e fundações vinculadas a instituições de ensino, o que proporciona transparência e isonomia quanto às avaliações realizadas. Está prevista também a realização de auditorias periódicas para a manutenção e renovação da certificação.

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A certificação é um grande instrumento de valorização profissional e valoração dos serviços técnicos, e proporciona um grande instrumento de marketing pessoal e profissional aos participantes.

3 - AGENDA PARLAMENTAR

O trabalho de Agenda Parlamentar está fundamentado essencialmente na Lei nº 5.194/66, que, em seu artigo 1º, trata do caráter social das profissões e também na Constituição Federal, que estabelece a participação da sociedade civil organizada nas gestões públicas, fundamentada nos princípios de gestão pública e transparência.

Com o objetivo de estender os princípios de gestão democrática e de cooperação, utilizamos a Governança Cooperativa para a institucionalização da Agenda Parlamentar.

Busca a integração do Sistema Profissional com os gestores públicos, líderes municipais, estaduais e nacionais, visando a construção de uma agenda positiva de melhoria das gestões públicas.

A implementação de debates públicos iniciados nos municípios sobre as propostas da engenharia, arquitetura, agronomia e geociências, constitui-se na sistemática produção de propostas e soluções.

A conseqüente inclusão destas nos planos de governo municipais e na estruturação de um plano para o desenvolvimento de políticas públicas em âmbito estadual.

O programa tem a liderança das Entidades de Classe e do CREA-PR em parceria com Instituições de Ensino, Conselheiros, Inspetores e representantes de outros segmentos da sociedade local.

De forma detalhada, elaboram e analisam diagnósticos dos municípios paranaenses para a definição de propostas de melhoria das gestões municipais, do espaço físico territorial e da dinâmica sócio-econômica.

Este trabalho é realizado de forma priorizada nos municípios que são definidos pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e também pelo IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social como os municípios que detêm a hierarquia de centralidades no Estado.

O estudo “Hierarquia de centralidades” (IBGE) e “Os Vários Paranás” (IPARDES) nos trouxeram a priorização de 31 municípios para a realização do estudo.

Operacionalmente, a Agenda Parlamentar visa à sistemática produção de ideias e soluções apresentadas como propostas e com sua conseqüente inclusão nos planos de governo e na formulação das políticas públicas municipais.

Utilizando-se da Governança Cooperativa, os profissionais de forma organizada realizam visitas às principais lideranças municipais, em especial o poder executivo, legislativo, judiciário e as principais lideranças municipais.

Nestas visitas são apresentados os diagnósticos, bem como as propostas fundamentadas em ideias e soluções para os problemas identificados.

Ainda por ocasião da Governança Cooperativa, realiza-se audiência pública para dar ciência à sociedade dos documentos encaminhados às lideranças municipais.

A continuidade do programa se dá através de diversos desdobramentos como a realização de novas audiências públicas pré-programadas, onde ocorrem novas apresentações de propostas e acompanhamento das propostas já encaminhadas.

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O fechamento anual dos trabalhos é a realização de estudo fundamentado nos diagnósticos e propostas apresentadas em todos os municípios.

Através de metodologia específica são agregadas todas as informações em um documento único, com formato base de planejamento estratégico. Este documento é apresentado ao parlamento estadual e nacional, em especial à bancada paranaense no Senado e na Câmara dos Deputados.

Está prevista também a entrega deste documento aos candidatos ao governo do estado, cujo objeto é de que políticas públicas sejam implantadas fundamentadas na tendência de ocorrência de problemas comuns em diversos municípios do estado.

Importante destacar que o trabalho em âmbito municipal continua e os esforços para a implementação das propostas são parte de um processo contínuo.

4 - COMISSÕES DE ÉTICA DAS ORGANIZAÇÕES

As corporações têm o comprometimento com a preceituação ética.

Conforme é proclamado no Código de Ética Profissional, em seu artigo 7º, “as entidades, instituições e conselhos integrantes da organização profissional são igualmente permeados pelos preceitos éticos das profissões e participantes solidários em sua permanente construção, adoção, divulgação, preservação e aplicação”.

Cabe a uma comissão de ética de uma organização profissional a promoção, o aperfeiçoamento e o resgate da boa atuação profissional, particularmente no concernente à conduta ética do profissional ante a profissão, aos seus colegas e à sociedade.

Baseado nestes princípios, o CREA-PR fomenta a criação e implantação das comissões de ética nas organizações profissionais.

Estudos foram desenvolvidos e aplicados em treinamentos e discussões realizadas dentro do grande ambiente de integração das organizações profissionais, a Governança Cooperativa.

A comissão de ética profissional deve ser regida por regimento interno devidamente aprovado em forma estatutária, e tem função de nortear os procedimentos para apreciação de eventuais infrações éticas.

As comissões de ética das organizações profissionais atuam decisivamente de três formas:

Prevenção – divulgando, esclarecendo e orientando a atuação profissional em conformidade com os preceitos éticos da profissão.

Conciliação – mediando e conciliando desinteligências entre profissionais e recuperando a sua boa conduta.

Correção – aplicando sanções em casos de desvio de conduta ética, na forma do estatuto da organização, quando couber, e encaminhando denúncia à Câmara Especializada do CREA, que jurisdiciona o profissional infrator.

Utilizando-se da Governança Cooperativa do CREA-PR, realizam-se encontros anuais de todas as comissões de ética das organizações profissionais em parceria com a comissão de ética do Conselho.

Participam também os inspetores, conselheiros, representantes de Instituições de Ensino, departamento de fiscalização do CREA-PR e acadêmicos do CREAjr –PR.

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Nestes encontros são analisados os resultados obtidos no exercício, em especial na atuação preventiva, e é neste ambiente que são definidas as estratégias de atuação.

Desta forma, o planejamento das ações voltadas à ética profissional, tanto de fiscalização do Conselho quanto a atuação externa junto aos profissionais e acadêmicos são objetivos únicos e focados por todos os membros integrantes da organização profissional.

QUESTÕES PARA A DISCUSSÃO NOS CONGRESSOS

O Sistema CONFEA/CREA existe porque existem as organizações profissionais.

A representação e a composição do Sistema Profissional estão fundamentadas na representatividade das entidades de classe e das instituições de ensino.

A sustentabilidade do sistema pode dispensar o fortalecimento destas organizações?

As entidades de classe são os “braços e pernas” do sistema profissional, a capilaridade necessária para a realização dos grandes sonhos, e dos grandes projetos nacionais, estaduais.

Estes ideais podem ser obtidos se estas corporações não estiverem perfeitamente integradas com o sistema e extremamente fortalecidas em suas bases profissionais?

A criação de um modelo institucionalizado de excelência profissional para as organizações proporciona um referencial de fortalecimento. Medir, controlar, gerenciar e principalmente planejar, antever o futuro, com definições de objetivos claros. Conhecer a si mesma.

Como saber se o que está sendo feito é realmente o caminho certo que levará ao resultado esperado? É possível ser forte e representativa sem um referencial?

Trabalhar a ética: esta é a temática proposta, mas não com trabalhos isolados.

O importante é concentração de esforços, definição de foco e atuação conjunta por todas as organizações que compõem o Sistema Profissional.

As comissões de ética das organizações podem ser vistas como peças fundamentais na manutenção de um bom ambiente ético para o exercício das profissões?

Em toda a existência do sistema profissional, concentraram-se esforços em coibir a atuação dos maus profissionais com penalizações, ações corretivas e aprimoramento das rotinas internas processuais.

A ideia lançada é o nivelamento por cima, priorizar o bom exercício profissional, valorizar interna, externa e publicamente os bons a despeito dos maus.

O que vale mais, punir os maus ou aplaudir os bons?

Apresentamos a ação parlamentar com demonstração de organização, mobilização, planejamento e de aplicação de conhecimento técnico em prol da melhoria da qualidade de vida da população com integração aos diversos segmentos da sociedade.

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A agenda parlamentar é um caminho válido e resolutivo para o fortalecimento institucional e principalmente das profissões?

CONCLUSÃO

O texto apresentado é um modelo em permanente construção, muitas mãos participam desta obra.

A descoberta de novas oportunidades que podem ser incorporadas neste modelo acontecem freqüentemente. O importante é que a essência de todo o trabalho de planejamento e desenvolvimento está fundamentada nos princípios éticos e legais que são permanentes, o que torna o trabalho dinâmico sem ser volúvel.

O modelo é um processo de melhoria contínua, com elevado nível de mobilização, representatividade e participação no desenvolvimento das ideias.

A excelência e o modelo sistêmico de gestão profissional são ideias em aberto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei Federal nº 5.194 de 24 de dezembro de 1966.

PRATTES, Claudemir Marcos e PUSCH, Jaime. As Entidades de Classe e a Ética Profissional. Cadernos do CREA-PR nº 5. 2ª Ed Curitiba, 2007.

PRATTES, Claudemir Marcos e PUSCH, Jaime, Programa de Excelência em Projetos. Cadernos temáticos de excelência do CREA-PR. 2ª Ed. Curitiba, 2008.

CREA-PR, II Ciclo do PCQ, Caderno do Participante nº 2. Curitiba, 2009.

PUSCH, Jaime. Ética e Responsabilidade Profissional. Cadernos do CREA-PR nº 1. 4ª Ed. Curitiba, 2007.

PUSCH, Jaime. Responsabilidade Profissional. Cadernos do CREA-PR n.º 3. Curitiba, 2006.

PUSCH, Jaime, Do projeto ao Edifício. Cadernos temáticos de excelência do CREA-PR. Curitiba, 2009.

KOTLER, PHILIP, Marketing de Serviços Profissionais. 2ª Ed. Brasileira, 2002

WELCH, Jack, Paixão por Vencer a bíblia do sucesso, 12ª Ed., 2005

FALCONI, V. F., Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia-a-dia, 8ª Ed., Nova Lima-MG, 2004

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O GESPÚBLICA E O MODELO DE EXECELÊNCIA GERENCIAL BUSCADO PELO SISTEMA CONFEA/CREA

Edson Cezar Mello Junior – Administrador de Empresas, com especialização em Gestão Estratégica da Informação, Gerente de Planejamento e Gestão do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

Endereço: Rua 08 Norte Lote01, Águas Claras – Brasília-DF – 61 3350-6925 – 61 9274-2510 – [email protected]

RESUMO

Nos últimos anos, muito se tem escrito e falado sobre o papel dos Conselhos de Fiscalização Profissional. Grande parte dessa discussão leva a conclusões e ações equivocadas que ameaçam a própria existência de tais autarquias. Na busca de uma resposta o Sistema Confea/CREA, composto pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia(Confea) e pelos 27 Conselhos Regionais(CREA), busca apresentar-se como um conjunto de instituições públicas que possua um modelo de gestão de excelência orientado a resultado à sociedade brasileira. Nesse texto apresentaremos como o Modelo de Excelência em Gestão Pública(MEGP) do Programa Nacional Gespública vem de encontro a essa necessidade.

PALAVRAS-CHAVE

Modelo, excelência, resultado, gestão, pública.

I - INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, muito se tem escrito e falado sobre o papel dos Conselhos de Fiscalização Profissional. Grande parte dessa discussão leva a conclusões e ações equivocadas que ameaçam a própria existência de tais autarquias, como a edição da Lei 9.649, de 27 de maio de 1998 que deu aos Conselhos a personalidade jurídica privada e mais recentemente o parecer exarado pela Comissão de Juristas constituída pela Portaria nº 426, de 6 de dezembro de 2007, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que as coloca na égide de entidades paraestatais, ou seja, pessoas jurídicas que não integram a administração direta ou indireta e nem o Estado. As definições apresentadas nesses instrumentos põem em xeque a sustentabilidade do Sistema Confea/CREA, pois deslocam a natureza de sua arrecadação de anuidades para o viés da não obrigatoriedade.

Na busca de uma resposta o Sistema Confea/CREA, composto por 28 autarquias públicas federais, quer apresentar-se como um conjunto de instituições públicas que possua um modelo de gestão de excelência orientado a resultado à sociedade brasileira. Essa afirmação é notadamente clara na visão de futuro do Confea:

Ser reconhecido pela sociedade e pelo universo como uma instituição colocada a serviço da qualidade de vida e do bem

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estar dos brasileiros, e como tal, socialmente eficaz, organizacionalmente eficiente e eticamente responsável

No âmbito da gestão pública, o Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão instituiu o Gespública. Trata-se de um programa governamental com a missão de promover a gestão pública de excelência, visando contribuir para a qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão e para o aumento da competitividade do país. Neste âmbito, a preocupação com uso de ferramentas e técnicas que levem as organizações a gerar resultado a sociedade vem consolidando o Modelo de Excelência em Gestão Pública(MEGP).

Em 2007 o Sistema Confea/CREA, por meio de proposta do Colégio de Presidentes e de Decisão Plenária do Confea, instrumentalizou a intenção de conduzir seus conselhos no caminho da excelência gerencial preconizada pelo Gespública.

Posto isso, tem-se um Modelo de Excelência em Gestão Pública e o apoio do Programa Gespública para sua aplicação. Avançar na soma desses conceitos a uma Gestão Estratégica Orientada a Resultados ao Cidadão torna-se o grande passo.

II - MODELO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA

O Modelo de Excelência em Gestão Pública(MEGP) é alicerçado no atendimento aos princípios constitucionais do ser público (impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência) e em fundamentos contemporâneos de boa gestão tais como gestão participativa, gestão baseada em processos e informações, valorização das pessoas, visão de futuro, aprendizado organizacional, foco em resultados e inovação.

Em 2008 o Confea por meio do Projeto Estratégico Modelo de Excelência em Gestão, buscou a adequação mais operacional do Modelo a realidade do Sistema Confea/CREA.

Assim sendo, para uma breve apresentação do Modelo proposto, passaremos nos próximos tópicos a descrever um resumo daquele trabalho.

1 – FUNDAMENTOS DA EXCELÊNCIA:

Como o Modelo foi concebido a partir da premissa de que é preciso ser excelente sem deixar de ser público, ele deve estar alicerçado em princípios da gestão pública das organizações e em fundamentos próprios da gestão de excelência contemporânea. Juntos, princípios e fundamentos definem o que se entende hoje por excelência em gestão pública. Assim, os fundamentos considerados e que se destacam, são:

1.1. PENSAMENTO SISTÊMICO: Entendimento das relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a organização e o ambiente externo, com foco na sociedade.

1.2. APRENDIZADO ORGANIZACIONAL: Busca contínua e alcance de novos patamares de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento de informações e experiências.

1.3. CULTURA DA INOVAÇÃO: Promoção de um ambiente favorável à criatividade, à experimentação e à implementação de novas idéias que possam gerar um diferencial para a atuação da organização.

1.4. LIDERANÇA E CONSTÂNCIA DE PROPÓSITOS: A liderança é o elemento promotor da gestão, responsável pela orientação, estímulo e comprometimento para o

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alcance e melhoria dos resultados organizacionais e deve atuar de forma aberta, democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando o desenvolvimento da cultura da excelência, a promoção de relações de qualidade e a proteção do interesse público. É exercida pela alta administração, entendida como o mais alto nível gerencial e assessoria da organização.

1.5. ORIENTAÇÃO POR PROCESSOS E INFORMAÇÕES: Compreensão e segmentação do conjunto das atividades e processos da organização que agreguem valor para as partes interessadas, sendo que a tomada de decisões e a execução de ações devem ter como base a medição e análise do desempenho, levando-se em consideração as informações disponíveis.

1.6. VISÃO DE FUTURO: Indica o rumo de uma organização e a constância de propósitos que a mantém nesse rumo. Está diretamente relacionada à capacidade de estabelecer um estado futuro desejado que dê coerência ao processo decisório e que permita à organização antecipar-se às necessidades e expectativas dos cidadãos e da sociedade. Inclui, também, a compreensão dos fatores externos que afetam a organização com o objetivo de gerenciar seu impacto na sociedade.

1.7. GERAÇÃO DE VALOR: Alcance de resultados consistentes, assegurando o aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para todas as partes interessadas.

1.8. COMPROMETIMENTO COM AS PESSOAS: Estabelecimento de relações com as pessoas, criando condições de melhoria da qualidade nas relações de trabalho, para que elas se realizem profissional e humanamente, maximizando seu desempenho por meio do comprometimento, de oportunidade para desenvolver competências e de empreender, com incentivo e reconhecimento.

1.9. FOCO NO CIDADÃO E NA SOCIEDADE: Direcionamento das ações públicas para atender, regular e continuamente, as necessidades dos cidadãos e da sociedade, na condição de sujeitos de direitos, beneficiários dos serviços públicos e destinatários da ação decorrente do poder de Estado exercido pelas organizações públicas.

1.10. DESENVOLVIMENTO DE PARCERIAS: Desenvolvimento de atividades conjuntamente com outras organizações com objetivos específicos comuns, buscando o pleno uso das suas competências complementares para desenvolver sinergias.

1.11. RESPONSABILIDADE SOCIAL: Atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de cidadania com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, e ao mesmo tempo tendo também como um dos princípios gerenciais a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, potencializando a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades.

1.12. CONTROLE SOCIAL: Atuação que se define pela participação das partes interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da Administração Pública e na execução das políticas e dos programas públicos.

1.13. GESTÃO PARTICIPATIVA: Estilo de gestão que determina uma atitude gerencial da alta administração que busque o máximo de cooperação das pessoas, reconhecendo a capacidade e o potencial diferenciado de cada um e harmonizando os interesses individuais e coletivos, a fim de conseguir a sinergia das equipes de trabalho.

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2 - DETALHAMENTO DO MODELO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA:

O Modelo de Excelência em Gestão é constituído de oito partes integradas, que orientam a adoção de práticas de excelência em gestão. Cada uma destas partes recebe a denominação de Critérios e tem a finalidade de conduzir as organizações a padrões elevados de desempenho e de excelência em gestão.

Os critérios do modelo são aplicáveis a toda e qualquer organização de caráter público e relacionam-se com os fundamentos do GESPÚBLICA vistos acima. Seu desdobramento se dá na forma de requisitos mensuráveis ou fatores de avaliação que permitem acompanhar o desenvolvimento da gestão e identificar os pontos passíveis de melhoria.

Os critérios estabelecem o que se espera de uma gestão com excelência. Os requisitos constituem o cerne do processo de avaliação e devem ser evidenciados pelas práticas de gestão da organização e pelos resultados decorrentes dessas práticas.

2.1. CRITÉRIO LIDERANÇA

Este critério examina a governança pública e a governabilidade da organização, incluindo aspectos relativos à transparência, eqüidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Também examina como é exercida a liderança, incluindo temas como mudança cultural e implementação do sistema de gestão da organização. O Critério aborda a análise do desempenho da organização enfatizando a comparação com o desempenho de outras organizações e a avaliação do êxito das estratégias.

O principal produto associado ao critério de Liderança é a Identidade Organizacional, sendo que sua construção acontece no contexto do critério Estratégias e Planos e, a internalização da identidade, por iniciativas de práticas de aprendizagem e de comunicação continuada.

2.2. CRITÉRIO ESTRATÉGIAS E PLANOS

Este critério examina como a organização, a partir da análise dos ambientes interno e externo, da sua missão institucional e da sua visão de futuro formula suas estratégias e as desdobra em planos de ação de curto e longo prazo e acompanha a sua implementação, visando o atendimento de sua missão e a satisfação das partes interessadas.

Os produtos relativos ao requisito estratégias devem pelo menos alcançar;

A identidade do sistema/organização;

Análise prospectiva;

Objetivos estratégicos;

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Diretrizes estratégicas;

Metas gerenciais com indicadores e itens de controle;

Planos de ação com requisitos de acompanhamento da execução e avaliação de resultados.

2.3. CRITÉRIO CIDADÃOS

Este critério examina como a organização, no cumprimento das suas competências institucionais, identifica os cidadãos usuários dos seus serviços e produtos, conhece suas necessidades e avalia a sua capacidade de atendê-las, antecipando-se a elas.

Verifica como ocorre a divulgação de seus serviços, produtos e ações para fortalecer sua imagem institucional e como a organização estreita o relacionamento com os cidadãos-usuários, medindo a sua satisfação e implementando e promovendo ações de melhoria.

Produtos do critério cidadãos:

Banco de dados das categorias dos cidadãos-usuários;

O processo de identificação das necessidades dos cidadãos-usuários.

O processo de divulgação dos seus resultados aos cidadãos-usuários.

O processo de avaliação da imagem da organização perante os cidadãos-usuários.

O processo de atendimento ao universo potencial dos cidadãos-usuários identificados.

2.4. CRITÉRIO SOCIEDADE

Este critério examina como a organização aborda suas responsabilidades perante a sociedade e as comunidades diretamente afetadas pelos seus processos, serviços e produtos e como estimula a cidadania. Examina, também, como a organização atua em relação às políticas públicas do seu setor e como estimula o controle social de suas atividades pela Sociedade e o comportamento ético.

Produtos do critério sociedade:

As necessidades da sociedade identificadas;

Os projetos e programas formulados que contribuam para as políticas públicas.

O plano de comunicação com os recursos e canais de veiculação das iniciativas e seus respectivos objetivos para a sociedade.

O processo de avaliação da imagem da organização perante os cidadãos-usuários.

2.5. CRITÉRIO INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Este critério examina a gestão das informações, incluindo a obtenção de informações comparativas pertinentes e como a organização identifica, desenvolve, mantém e protege os seus conhecimentos. Examina também a implementação de processos gerenciais os quais têm por objetivo disponibilizar informações atualizadas e íntegras aos usuários e assegurar a sua confidencialidade.

Produtos do critério informação e conhecimento:

Acervo das informações da organização tratadas, protegidas e acessíveis por níveis gerenciais;

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Sistema de informação estruturado e implementado;

Acervo da memória administrativa da organização;

Processo de socialização da informação aos públicos.

2.6. CRITÉRIO PESSOAS

Este critério examina os sistemas de trabalho da organização, incluindo a organização do trabalho, a estrutura de cargos, os processos relativos à seleção e contratação de pessoas, assim como a gestão do desempenho de pessoas e equipes. Também examina os processos relativos à capacitação e ao desenvolvimento das pessoas e como a organização promove a qualidade de vida das pessoas interna e externamente ao ambiente de trabalho.

Produtos do critério pessoas:

Resultados de metas de melhoria ou de manutenção relativos a perigos e riscos relacionados à saúde ocupacional, à segurança e à ergonomia;

Fatores mitigados ou eliminados que afetam o bem estar, a satisfação e a motivação de diferentes grupos de pessoas.

Conjunto de iniciativas da organização voltadas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas fora do ambiente de trabalho.

Mecanismos instituídos e aprimorados para avaliar a satisfação das pessoas.

2.7. CRITÉRIO PROCESSOS

Este critério examina como a organização gerencia, analisa e melhora os processos finalísticos e os processos de apoio. Também examina como a organização gerencia o processo de suprimento, destacando o desenvolvimento da sua cadeia de suprimento. O Critério aborda como a organização gerencia os seus processos orçamentários e financeiros, visando o seu suporte.

Produtos do critério processos:

Grau de atualização da árvore normativa do Sistema;

Grau de atendimento às aquisições planejadas;

Nível de implementação dos processos gerenciais;

Indicadores Econômico-Financeiros periódicos para a tomada de decisões.

2.8. RESULTADOS

Este critério examina os resultados da organização, abrangendo os orçamentário-financeiros, os relativos aos cidadãos-usuários, à sociedade, às pessoas, aos processos finalísticos e processos de apoio, assim como aos relativos ao suprimento. A avaliação dos resultados inclui a análise da tendência e do nível atual de desempenho, pela verificação do atendimento dos níveis de expectativa das partes interessadas e pela comparação com o desempenho de outras organizações.

III – PROGRAMA GESPÚBLICA E A GESTÃO POR RESULTADOS

O Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública está implementado pelo Governo Federal desde 2005 e é fruto do avanço de iniciativas voltadas à missão de contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão e ao aumento da competitividade do País. O GesPública se caracteriza por possuir uma abrangência nacional e por se direcionar às organizações públicas em geral, sendo aberto a todas as esferas de governo e a todos os poderes.

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O Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP) é a principal referência do Programa GesPública. Para implementá-lo nas organizações que aderem ao modelo, o programa GESPÚBLICA tem instrumentos de auto-avaliação organizacional que, com base nos requisitos medem o grau de maturidade da gestão e o nível de excelência das práticas adotadas.

Como a figura mostra a busca pela excelência é trilhada pela melhoria contínua através de ciclos de auto-avaliação que sistematizam o quanto a organização está perto ou longe do modelo referencial. É essa avaliação que possibilita às organizações planejar e desenvolver seus ciclos de aprendizagem e melhoria, que levam a patamares mais elevados de qualidade da gestão.

Mas é nesse ponto que muitas organizações se perdem. Como vimos cada critério de excelência se materializa em produtos. Entretanto, somente a aplicação de ferramentas de gestão e a entrega de produtos não garantem o atendimento da finalidade do órgão de natureza pública: gerar resultado a sociedade.

Necessário se faz que tenhamos o desenvolvimento do modelo com foco no ganho social que ele produzirá.

Assim, o Modelo proposto alcança seus objetivos para a excelência em gestão pública quando as lideranças dessas organizações públicas exercem uma administração pública que seja focada em resultados e orientada ao cidadão. Isso é possível pelo uso de informação e conhecimento para identificar junto aos cidadãos e a sociedade as políticas públicas cujo resultado seja o necessário e esperado. A partir daí dá-se o estabelecimento de estratégias e planos que sejam operacionalizados por pessoas comprometidas com a melhoria da qualidade dos serviços públicos e por meio de processos que permitam criar valor público para o cidadão proporcionando o ganho social.

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IV – QUESTÕES PARA A DISCUSSÃO NOS CONGRESSOS

O Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP) proporciona ao Sistema Confea/CREA ferramentas de gestão capazes de elevá-lo a um padrão de eficiência e efetividade esperado pela sociedade. Entretanto, a simples adoção do modelo não garante o sucesso. Há que se investir vontade política e se ter adaptabilidade a mudança e constância de propósitos. Tudo isso depende do comprometimento de todo o Sistema e da compreensão dos profissionais frente a períodos de transição e mudanças no exercício da fiscalização.

Que esforço estamos dispostos a investir?

Como visto no início desse texto, o Sistema Confea/CREA deve apresentar-se com instituições públicas que possuam um modelo de gestão de excelência e que busquem resultado à sociedade brasileira como resposta as indagações sobre sua finalidade ou existência.

Seria esse modelo o condutor desse processo?

O Modelo proposto para a excelência em gestão firma-se na visão das lideranças por uma administração pública que seja focada em resultados e orientada ao cidadão.

As lideranças do Sistema Confea/CREA têm essa visão, ou há ainda espaço para administrações com visões corporativistas e patrimonialistas e no uso das instituições como meio para apoiar outras organizações?

As discussões em torno da existência, finalidade ou mudança para o direito privado dos conselhos de fiscalização em muito se assemelha a discussão que antecederam o processo de privatizações brasileiro onde se questionava a finalidade daqueles órgãos ou empresas vinculadas ao Estado pela dificuldade de se vislumbrar o ganho social gerado com o recurso público investido. Quando as lideranças do Sistema ou os profissionais que buscam esse sistema entendem que o resultado esperado do Confea e dos CREA seja voltado ao interesse corporativo dos profissionais aquela visão tende a ser aprofundada.

Como equacionar o resultado esperado pela sociedade de uma autarquia federal que faça a fiscalização do exercício e da atividade profissional com o resultado corporativista muitas vezes esperado pelos profissionais?

O Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão abriu consulta pública sobre o anteprojeto de Lei Orgânica elaborado pela comissão de juristas que propõe os conselhos de fiscalização como entidades paraestatais, ou seja, pessoas jurídicas que não integram a administração direta ou indireta e nem o Estado. Tais definições põem em xeque a sustentabilidade do Sistema, pois deslocam a natureza de sua arrecadação de anuidades para o viés da não obrigatoriedade.

Qual deve ser a estratégia adotada pelo Sistema Confea/CREA frente a essa ameaça?

CONCLUSÃO

O Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP) começa a ser uma realidade no Sistema Confea/CREA. Em regionais como o do Paraná e do Rio Grande do Sul a implantação demonstra a assertividade de opção pelo modelo. No Confea já se realizou a primeira autoavaliação.

Em seu papel de órgão central do Sistema, o Confea busca também criar mecanismos de incentivo junto aos CREA para adesão ao Modelo.

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Por meio de sua Formulação Estratégica, o Sistema Profissional colocou-se um objetivo estratégico de implantar tal Modelo em todas as organizações do Sistema até 2014.

Entretanto, necessário se faz a compreensão do comprometimento exigido. A adoção do modelo como um ato formal de assinatura de convênio ou de uso de ferramentas pode se transformar na prática apenas que a organização continue descumprindo sua finalidade e sem gerar resultados à sociedade, só que fará isso com belos gráficos e selos de qualidade. A história recente da gestão pública demonstra que é possível ser eficiente e eficaz, mas com nenhuma ou pouca efetividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei Federal nº 5.194 de 24 de dezembro de 1966.

BRASIL, Lei 9.649, de 27 de maio de 1998.

CONFEA, Modelo de Excelência em Gestão Pública

PALVARINI, Bruno Carvalho. O Programa GesPública e um Modelo de Gestão para o Brasil. Artigo no site eletrônico : www.gespublica.gov.br

ORTIZ, Argemiro Rincon, et al. A proposta da reforma do aparelho do Estado e suas possíveis implicações. Artigo no site eletrônico : www.buscalegis.ccj ufsc.br

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, et al. Proposta de organização da administração pública e das relações com entes de colaboração. Artigo no site eletrônico: www.gespublica.gov.br

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O Fortalecimento das Organizações Profissionais Integrantes do Sistema Confea/Crea

Paulo Roberto da Silva (1)

Entidade fortalecida é aquela que é reconhecida por sua atuação destacada na defesa de seus representados e da sociedade, com princípios éticos, na busca da melhor qualidade de vida com responsabilidade social e ambiental (2).

RESUMO- O presente trabalho aborda a questão do fortalecimento das organizações profissionais do Sistema Confea/Crea, focaliza os pontos críticos, propõe questões para discussão dos profissionais e a necessidade de se criar um programa excelência em gestão para a sustentabilidade dessas organizações em face da importância que têm no plano estratégico do sistema, sobretudo nas relações com a sociedade de modo proporcionar o mais eficiente, eficaz e efetivo cumprimento de seus objetivos institucionais e sociais, bem como adequar continuamente esses papéis às constantes mudanças políticas, sociais e econômicas de seu ambiente. Palavras-chave – Fortalecimento, Organizações Profissionais, Sustentabilidade das Organizações Profissionais

1- INTRODUÇÃO O 7º Congresso Nacional de Profissionais – 7º CNP a realizar-se em 2010, evento que tem como escopo a discussão e a definição de políticas, estratégias e programas de atuação e a integração do Sistema Confea/Crea com a sociedade, elegeu como tema principal A Construção de uma Agenda Estratégica para o Sistema Profissional: desafios, oportunidades e visão de futuro. Nesse contexto, o fortalecimento das organizações profissionais que integram o Sistema Confea/Crea se reveste de grande importância face ao papel que elas desempenham no campo da engenharia, da arquitetura e da agronomia. Uma entidade de classe forte e atuante junto aos profissionais que a integram e à sociedade em geral é a mais eficiente e eficaz das ações para a almejada estratégia de integração com essa mesma sociedade. Nesse contexto o Confea vem discutindo essas questões há bastante tempo. Em 2007 seu Planejamento Estratégico teve como um dos objetivos a modernização administrativa e tecnológica, aperfeiçoamento dos processos administrativos e o “desenvolvimento do Sistema Profissional”, com a finalidade de cumprir o dispositivo legal de promover a unidade de ação entre seus públicos de relacionamento para o ___________

(1) Engenheiro Agrônomo, MSc Engenharia Hidráulica e Saneamento, Especialista em

Avaliação da Educação Superior.Professor de Legislação e Ética, Faculdade Agronomia

UPIS-DF.Assessor do Confea. Brasília-DF, 61-33483828, [email protected]

(2) definição por consenso das entidades nacionais integrantes do CDEN. II Workshop,

Brasília, 09 e 10 de julho de 2009

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cumprimento de suas respectivas missões. Destacam-se nesse objetivo as ações propostas para a estruturação das organizações do Sistema para realizar com qualidade a verificação e fiscalização do exercício e atividades dos profissionais e a criação de um programa de unidade de ação sustentada das organizações do Sistema

Também a “Valorização Profissional” se constituiu em grande objetivo do plano estratégico de 2007, incluindo, dentre outros objetivos específicos, o fortalecimento das entidades de classe representativas do Sistema. Assim, o reconhecimento sobre a necessidade de se apoiar as entidades de classe estava devidamente validado pelo Confea que, já em 2007, incluiu em seu portfólio o Projeto Fortalecimento das Entidades Nacionais, caracterizando-se como atividade de integração e de sustentabilidades das organizações profissionais. Em agosto de 2007 foi realizado um seminário para discutir a viabilidade de se implantar um projeto para o fortalecimento das entidades nacionais. A idéia de se conceber tal projeto foi inspirada na experiência em andamento no Crea-PR que desenvolvia uma linha de ação com as entidades de classe regionais. A grande questão que se colocava naquele Conselho Regional era que “se o Crea dependia da atuação dessas entidades para o seu bom funcionamento, era necessário, portanto, que as entidades fossem fortes e politicamente atuantes”. Não era essa a situação na quase totalidade das instituições regionais. Muitas das entidades de classe eram desorganizadas, com pouca assiduidade de seus associados, baixo rendimento técnico e político e quase todas deficitárias em face do elevado índice de inadimplência. Não tinham um plano de gestão de seus negócios e tampouco uma estratégia de atuação junto ao sistema profissional. Também não atuavam na área de qualificação profissional, políticas públicas para o setor, atenção aos associados, ética e exercício da profissão e outras tantas frentes de trabalho típicas de entidade de classe como liderança, sistemas de comunicação com a sociedade e seus associados e responsabilidade social. Essa situação das entidades de classe profissionais no estado do Paraná não é muito diferente daquela verificada nas entidades nacionais.

Como poderiam essas entidades sem definições claras e consistentes sobre a sua missão, visão futura e negócios, desempenhar o papel de legítimas interlocutoras da sociedade que supostamente deveriam representar junto ao CREA com resultados satisfatórios e qualidade desejada? Assim como o Crea-PR se interessou e passou a trabalhar a questão, também o Confea, que se vale do apoio técnico e político das entidades nacionais dos profissionais de todas as modalidades, pôs-se a campo com o mesmo objetivo de elaborar e implantar um projeto de fortalecimento das entidades de classe em nível nacional. Além da experiência do Crea-PR, havia, por outro lado um constante clamor por parte das instituições de classe nacionais no sentido de se destinar recursos do sistema para apoio à sustentabilidade dessas instituições. O Confea, portanto, pretendia, num primeiro momento, discutir as condições de sustentabilidade das “organizações profissionais nacionais” e partir daí, encaminhar uma proposta de um Plano de Apoio ao Fortalecimento dessas organizações.

O projeto de 2007 de Apoio ao Fortalecimento das Organizações Profissionais tinha como escopo o “apoio ao desenvolvimento e ao fortalecimento das organizações profissionais para que possam contribuir para a sustentabilidade do sistema; a valorização profissional e a participação social proativa e promover espaços de visibilidade e respeitabilidade institucional”. Seu objetivo incluía a elaboração de um novo cadastro e catálogo das entidades e o plano de desenvolvimento e fortalecimento das organizações nacionais de profissionais, sugerindo-se aos Crea a adoção de modelo análogo para as entidades regionais e locais. Entretanto, por razões operacionais internas do Confea, não foi possível a sua implantação no ano de 2008.

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2- Planejamento Estratégico do CONFEA

O CONFEA, há mais de 10 anos, consciente da importância de desenvolver uma

visão estratégica de seu ambiente de atuação e das suas competências para atuar nesse ambiente, vem desenvolvendo seu planejamento estratégico. Tal planejamento representa o esforço deliberado para “inventar” o seu próprio futuro por meio da formulação de sua estratégia.

O primeiro exercício ocorreu em 1997 com a análise ambiental e a definição dos conceitos fundamentais do Sistema. Em 1999, foi elaborado o primeiro planejamento estratégico, denominado de CONFEA 2000 Plano de Ações Estratégicas. Este documento apresentou 19 ações para o período de 2000-2003. No ano de 2003, com a eleição de um representante de uma nova corrente política para a Presidência da República, estudos de cenários prospectivos foram elaborados para o Sistema (Cenário Minerva 2004/2007), apresentando uma visão de futuro para o país e seus impactos no Sistema Profissional. À luz desta visão de futuro, em 2005 um trabalho de planejamento estratégico foi desenvolvido, resultando na Agenda Estratégica CONFEA 2005/2006 com 36 ações.

Em 2006, iniciou-se uma nova gestão no CONFEA. As novas diretrizes foram organizadas em quatro políticas: Modernização Administrativa e Tecnológica; Aperfeiçoamento e Aplicação de Instrumentos Normativos; Desenvolvimento Sustentável do Sistema, Articulação com a Sociedade e Valorização Profissional. Com novas diretrizes foi aprovado o Plano Estratégico do CONFEA 2007 que marca uma transição entre uma fase em que o processo de planejamento ocorria de forma episódica e a fase atual, em que começa a ser implantado um processo de planejamento contínuo. Nesse sentido, ainda em 2007, os líderes das organizações que compõem o Sistema Profissional, por meio da constituição do Comitê de Planejamento Estratégico do Sistema, se posicionaram favoravelmente à realização de um trabalho participativo de Formulação Estratégica do Sistema (FES).

Essa decisão demonstrou o grau de consciência das lideranças do Sistema Profissional quanto à necessidade de formular estratégias corporativas consistentes e efetivamente direcionadas à unidade de ação que se deseja. Por isso, o Plano Estratégico 2008/2010 representou um avanço significativo para o Sistema Profissional. Ele foi obtido por meio de um processo democrático que contou com todos os segmentos da representação profissional e, inovadoramente, com representantes do setor produtivo e da sociedade. Este foi, sem dúvida, um grande impulso à construção de um Novo Sistema Profissional.

Em 2008, o Comitê de Planejamento Estratégico do Sistema – CPES realizou, de forma participativa com todas as organizações integrantes do Sistema, a revisão da sua FES para o período 2009/2014. Assim, a identidade do Sistema Confea/Crea é a expressão das finalidades e realidades de cada organização integrante do Sistema e referência pra o horizonte do planejamento, assim formulada:

. � Negócio: Normatização, orientação e fiscalização do exercício e das atividades

profissionais em defesa da sociedade, valorização dos profissionais e concessão de benefícios.

� Missão: Defender os interesses sociais e humanos, promover a valorização profissional, o desenvolvimento sustentável e a excelência do exercício e das atividades profissionais.

� Valores: Integridade, Ética e Cidadania; Ciência & Tecnologia e Soberania; Valorização Profissional e Funcional; Serviços de Excelência à Sociedade;

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Participação e Posicionamento Social; Unidade de Ação, Parceria e Transparência; Educação Contínua e Inovação Permanente; Compromisso com o Desenvolvimento Sustentável.

� Visão: Ser reconhecido como um sistema eficaz e comprometido com a excelência do exercício e das atividades profissionais, em prol da sustentabilidade sócio-econômico e ambiental. Como resultado dessa nova identidade, foram definidos na Formulação

Estratégica do Sistema Profissional 2008/2014 treze objetivos estratégicos, estruturados em 4 eixos temáticos e 13 dimensões referenciais. Os quatro Eixos Referenciais estão assim definidos: formação profissional, exercício profissional, organização profissional e integração profissional e social. A partir desses eixos foram estabelecidos 13 Objetivos Estratégicos do Sistema Profissional, a saber:

• Desenvolver ações orientadas para a integração dos Sistemas Profissional e de Formação

• Desenvolver ações de apoio a educação continuada • Concluir a aplicação do novo modelo de ART e Acervo Técnico em todo o país • Implantar as diretrizes nacionais de fiscalização nos Creas • Operacionalizar a Resolução nº 1010/2005 e suas matrizes do Conhecimento

em todos os Creas • Promover a discussão nacional das questões referentes ao desenvolvimento

sustentável • Implantar o Modelo de Excelência em Gestão Pública em todas as organizações

do Sistema Profissional • Desenvolver ações de educação corporativa no âmbito do Sistema • Desenvolver a unidade de ação e a sustentabilidade das organizações

componentes do Sistema Profissional • Integrar programática e operacionalmente todas as organizações do Sistema

Profissional • Integrar institucional e operacionalmente o Sistema Profissional com os demais

sistemas públicos e privados • Definir a política e a estratégia de uma comunicação e marketing do Sistema

Profissional • Promover a inserção internacional do Sistema Profissional

O objetivo estratégico “Desenvolvimento da unidade de ação e da sustentabilidade das organizações componentes do Sistema Profissional” está inserido na dimensão “Sustentabilidade das Organizações Profissionais”, pertencente ao 3º eixo temático, a Organização do Sistema. É nesse terceiro eixo, dimensão e objetivo estratégico do Confea que se enquadra o tema objeto deste trabalho: O Fortalecimento das Organizações Profissionais Integrantes do Sistema Confea/Crea. 3- O Fortalecimento das Organizações Profissionais Integrantes do Sistema Confea/Crea.

A base do Sistema Confea/Crea é constituída pelas entidades profissionais, por meio de seus representantes. Elas desempenham papel fundamental, pois os diferente órgãos se alinham estrategicamente às ações do sistema profissional visando proporcionar o mais eficiente, eficaz e efetivo cumprimento de seus papéis profissionais,

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institucionais e sociais, bem como adequar continuamente esses papéis às constantes mudanças políticas, sociais e econômicas de seu ambiente.

No nível federal, ou seja no Confea, as entidades de classe nacionais tem

participação por meio do CDEN. Nos Crea atuam as entidades regionais. Em quaisquer dos casos elas se apresentam sob a forma de entidades de ensino, sindicais, federativas ou associativas e são muito heterogênias, diferindo em suas condições de sustentabilidade econômica, social e estrutural. A grande maioria tem dificuldades para se sustentarem,o que gera impactos negativos na consecução de seus objetivos estatutários. Por isso, verifica-se a necessidade de estruturação institucional das Entidades Nacionais e Regionais visando a implementação de um processo sustentável para sua atuação com comprometimento dos seus associados. Somente assim estarão aptas para o efetivo desempenho de suas atividades fins e, conseqüentemente, o fortalecimento do todo o Sistema Confea/Crea. 3.1- Situação das Entidades Nacionais

No primeiro semestre de 2009 o Confea realizou uma pesquisa junto às 28 entidades nacionais com a finalidade de conhecer a real situação dessas organizações profissionais. A grande maioria atua no âmbito federativo (46,2%), congregando entidades estaduais (pessoa jurídica).Algumas dessas também admitem profissionais individuais de sua respectiva área de atuação (pessoa física). As entidades de cunho associativo, aquelas que congregam associados profissionais individuais, pessoas físicas, representam 25%, enquanto que as sindicais e de ensino somam 14, 29% cada. Com vistas a traçar o perfil de atuação das entidades e o grau de interação com os profissionais, o sistema e a sociedade em geral, a pesquisa considerou as seguintes dimensões:

Número de associados Quanto ao número de associados, 17,8% das entidades possui mais de 30 sócios (pessoas jurídicas e pessoas físicas), As demais (82,2%) tem menos de 30 associados e 50% fica abaixo da marca de 12 entidades regionais registradas como associadas. Entretanto, é preciso notar que nessa categoria está a maioria das instituições federativas, as quais congregam apenas as entidades estaduais, cujo número máximo possível seria 27.Também as entidades associativas, que supostamente deveriam congregar maior número de sócios (pessoas físicas e jurídicas), nenhuma atinge a quantidade de 30 associados. Em qualquer das situações é bastante baixo o índice de sócios, pois algumas apenas tangenciam os mínimos exigidos pela legislação. O § 1º, do artigo 62 da Lei 5.194/66 exige que para a obtenção do registro as entidades deverão estar legalizadas e contar no mínimo trinta associados engenheiros, arquitetos ou engenheiros-agrônomos. Por outro lado a Resolução 1011/2005 do CONFEA estabelece em seu artigo 5º que a entidade nacional federada deve comprovar a filiação de, pelo menos, uma entidade de classe por região geopolítica do País Infra-estrutura Apenas nove das 28 entidades nacionais (32,0%) possuem sede própria. As demais funcionam em locais cedidos por outros órgãos. No quesito pessoal de apoio as entidades nacionais estão muito aquém de suas necessidades. Embora 60,7%

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disponham de pelo menos um funcionário próprio, insuficiente na maioria dos casos e 21,43% tem funcionários cedidos, cinco instituições não tem funcionário algum. Quanto à dedicação dos funcionários de 23 entidades, apenas em 14 delas o empregado é contratado em regime de tempo integral e nas demais somente em tempo parcial. Sustentabilidade Financeira A grande maioria das entidades (82,1%) se mantém por meio das anuidades pagas pelos associados, entretanto o índice de inadimplência é muito elevado. Noventa e dois por cento (92%) das entidades tem índices iguais ou acima de 50% de sócios inadimplentes. Poucas delas recebem doações (14,3%) e apenas duas tem receitas provenientes de serviços prestados por meio de oferta de cursos de aperfeiçoamento ou especialização(7,1%). Os auxílios financeiros do Confea e dos Crea são utilizados por 67,8 e 17,8% . das entidades respectivamente. Outras receitas como prestação de serviços, projetos especais são praticadas por cerca de 46% das entidades nacionais. Entretanto, ainda assim, os recursos financeiros são insuficientes para a manutenção de suas atividades em níveis satisfatórios. Todas as entidades reclamam que não podem executar seus programas conforme estatuídos em face da escassez de recursos financeiros e cerca de 30% delas não conseguem equilibrar as receitas com as despesas anuais. Por outro lado, poucas entidades nacionais (14,3%) prestam serviços remunerados a empresas e órgãos governamentais.

Participação do Profissional nas Entidades As principais atividades das entidades de classe de nível nacional se restringem à promoção de congressos. Cerca de 90% das entidades informaram que realizam esse tipo de evento, sendo a sua maioria com periodicidade entre um e dois anos (75%). Entretanto, a freqüência de associados é relativamente baixa. Vinte e um por cento (21%) delas conseguem reunir menos de 50 profissionais nesses eventos, o que, efetivamente é pouco para uma entidade de classe de abrangência nacional. Também no que se refere às atividades ordinárias das entidades é baixo o índice de participação dos associados. Essa baixa participação dos profissionais, tanto no que se refere ao número de associados e, principalmente na falta de interesse no pagamento das anuidades e pouco ou quase nenhum envolvimento nas atividades programadas, precisa ser mais bem pesquisada para se descobrir as verdadeiras razões desse comportamento diante da Entidade de Classe. Chama atenção, ainda, o fato de que apenas 17,8% das entidades têm programas de educação continuada para os profissionais de sua área de atuação, o que não condiz com a atualidade do mercado de trabalho que está a exigir constantes aperfeiçoamentos e especializações por parte dos profissionais. Também na área de certificação profissional somente 21,4% das entidades tem envolvimento. Por outro lado quase 80% participa de discussões nas questões relacionadas à ética e remuneração profissional, passando para 90% quando se trata de assuntos sobre regulamentação e exercício das profissões, enquanto que a representação em órgãos externos ao sistema é praticada por 75% das entidades nacionais.

Participação Social e Comunicação das Entidades Cerca de 80% das entidades tem participado das discussões de políticas públicas para o setor da engenharia. A participação em campanhas sociais, embora

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menor (57,1%), é razoável. O envolvimento das entidades de classe em programas sociais e na discussão de políticas públicas é determinante para a valorização profissional, tendo ficado claro nos encontros promovidos pelo Confea a necessidade de se reforçar esse segmento de atividades como forma de se fortalecer as instituições. Na área da comunicação, o meio mais utilizado para atingir os associados é a internet (96,4%). Cerca de cinqüenta e sete por cento (57%) das entidades nacionais publica revistas em suas áreas de atuação e apenas 10,7% pratica inserções publicitárias em outros veículos de comunicação. Também é baixo o índice de entidades que tem políticas de estratégias de comunicação (46,4%). Poucas têm campanhas publicitárias próprias (28,5%) e, ao contrário do esperado, apenas 46,4% participa de campanhas publicitárias do sistema Confea/Crea. Programas de Capacitação Profissional A capacitação profissional é um ponto fundamental para o desenvolvimento do associado e deve ser fortemente considerado pelas entidades. Porém, esta não tem sido colocada como prioridade alta, pois, apenas 39,3% das entidades nacionais oferece programas de educação continuada. Oito das vinte e oito entidades tem parcerias em programas de financiamento para a educação continuada (28,6%) e em seis delas os custos do treinamento são bancados pelos próprios profissionais (21,4%). Na área do intercâmbio internacional, cerca de 40% das entidades de classe mantém programas em parceria com órgãos públicos e privados de alguns paises.

3.2 – O que é uma Entidade Fortalecida É importante registrar que a situação atual das entidades de classe nacionais não difere muito das regionais. Os diagnósticos realizados pelo Crea-PR, em 48 organizações profissionais daquele estado, mostram situações semelhantes às relatadas no item anterior deste trabalho. Entretanto, mais importante ainda é a consciência que essas instituições regionais e nacionais têm sobre as suas fragilidades e o desejo expresso de buscar a melhoria na sua gestão com vistas a melhor desempenhar suas funções constitucionais. As organizações profissionais do sistema Confea/Creas têm, por outro lado, o entendimento que entidade fortalecida não é sinônimo de dinheiro em caixa. Nesse sentido, as entidades de classe nacionais sindicais, de ensino, associativas e federativas chegaram a um consenso sobre o que deveria ser uma entidade fortalecida, com a seguinte definição:

“Entidade de Classe fortalecida é aquela que é reconhecida com atuação destacada na defesa de seus representados e da sociedade, com princípios éticos na busca da melhor qualidade de vida com responsabilidade social e ambiental”.

3.3 – Fragilidades institucionais das Organizações Profissionais do Sistema Confea/Crea Diante dos resultados dos diagnósticos realizados pelo Confea no âmbito das entidades de classe nacionais e pelo Crea-PR nas regionais e considerando a definição de entidade fortalecida e atuante, não é difícil apontar as fragilidades estruturais, com vistas ao estabelecimento de um plano para a melhoria do desempenho dessas organizações profissionais. É interessante registrar, ainda, as explicações apontadas

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pelas entidades para as possíveis causas de seu enfraquecimento. As mais antigas, precursoras do sistema Confea/Crea, alegam que a proliferação, com conseqüente pulverização das entidades, é a grande causa do enfraquecimento das associações de classe. Os dispositivos legais (art 62, § 1º da Lei 5.194/66) deveriam ser modificados, segundo essas organizações profissionais. Por outro lado, as entidades nacionais entendem que a maior causa do enfraquecimento está na falta de políticas para o financiamento por meio de auxílios financeiros do Sistema. De um modo geral foram constatadas as seguintes fragilidades nas Organizações Profissionais Nacionais do Sistema Confea/Crea:

Fragilidades: - capacidade de elaboração de projetos e captação de recursos - utilização de recursos financeiros disponibilizados pelo Confea - Parte das entidades não utiliza recursos do sistema Confea/Crea - Receitas deficitárias - inadimplência dos associados - captação de recursos externos ao sistema - fontes de receitas por prestação de serviços remunerados - sede própria - Carência de pessoal de apoio - número de associados - participação dos associados em eventos ordinários e congressos - educação continuada - parcerias para educação continuada - capacitação de lideranças - intercâmbio/representação/participação em programas sociais - representatividade em órgãos públicos e privados - integração com estudantes/formandos - planos para atração de novos associados - políticas de comunicação/divulgação - publicações (jornais 28%, revistas 57%) - campanhas do Sistema profissional - campanhas publicitárias

4- Conclusão Ficou evidenciado que as entidades não apresentam homogeneidade, diferindo em suas condições de sustentabilidade econômica, social e estrutural, gerando impactos característicos na consecução de seus objetivos estatutários. As organizações profissionais que integram o sistema Confea/Crea não dispõem, de maneira geral, de um plano de ação estratégico que leve em conta a excelência gerencial. Por conseqüência amargam baixo desempenho em suas atividades constitucionais, tem pouco poder de atração e manutenção de associados e receitas abaixo do desejável. Este quadro inquietante impossibilita totalmente a execução de ações minimamente necessárias à sua sustentabilidade. Diante do que aqui foi apresentado e discutido, fica evidenciada a necessidade de se elaborar um plano de ação para o Fortalecimento das Organizações Profissionais Integrantes do Sistema Confea/CREA. Este é o grande desafio para todo o Sistema Confea/CREA, mas, antes de tudo é preciso que a comunidade de profissionais da engenharia, arquitetura e agronomia esteja de fato

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consciente e engajada nessa tarefa. Assim, pode-se colocar as seguintes indagações para a reflexão de todos profissionais: - o que deveria ser feito pelas entidades para obter maior visibilidade e respeito por parte dos associados e da sociedade em geral? - As organizações profissionais podem ser consideradas “a inteligência” do Sistema profissional? - É oportuna a criação de um plano de ação estratégica para as entidades de classe regionais e nacionais colocarem em prática, à exemplo da experiência do Crea-PR? - O Confea e os Crea deveriam criar grupos de assessoramento para orientar e fornecer suporte metodológico às entidades de classe para a implantação de um plano de excelência em gestão? - A criação de um programa de educação continuada, com oferta de cursos de especialização e aperfeiçoamento profissional deveria ser uma preocupação das entidades de classe? - qual o papel das entidades de classe junto à formação profissional ? - qual a importância e como deve ser feita a integração com o sistema de formação profissional – graduação e pós-graduação ? - A Mútua e as Cooperativas de Crédito deveriam subsidiar ou financiar ações de educação continuada dos profissionais por meio de parcerias com as entidades de classe/ - A integração com o Crea-Jr deveria ser incluída nos planos de ação das entidades de classe? - O que as entidades de classe profissionais deveriam fazer para atrair e manter o interesse dos associados e futuros profissionais? - O parágrafo 1º do art. 62 da Lei 5.194/66 estabelece que para o registro no sistema Confea/Crea as entidades de classe deverão contar no mínimo trinta associados engenheiros, arquitetos ou engenheiros-agrônomos. Esse dispositivo contribui para a proliferação de entidades de classe? Deveria ser modificado, aumentando-se a exigência? - Como pode ser melhorado o desempenho do Sistema Confea/Crea na gestão dos assuntos das organizações profissionais regionais e nacionais? - A acreditacão de profissionais para o desenvolvimento de atividades especializadas e ainda a outorga de títulos de especialização, à semelhança das sociedades de especializações da medicina, não seria uma atividade de elevada importância para a valorização das entidades de classe da engenharia, arquitetura e agronomia? 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Confea (2009) Planejamento Estratégico do Sistema Profissional 2009/2014, Confea 31p. Confea (2009) Projeto Fortalecimento das Entidades de Classe Nacionais. WWW.confea.org.br Confea (2007) Textos Referenciais da 64ª SOEAA e 6º CNP. 144p CREA-PR (2009) Prêmio CREA da Qualidade nas Organizações Profissionais, Crea-Pr, 25p. Macedo, Edison F. Discutindo o Novo Pacto profissional e Social. 64ª SOEAA e 6º CNP, Rio de Janeiro, agosto de 2007, 61p.

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EM BUSCA DE MAIOR PRODUTIVIDADE DO SISTEMA

Valmir Pontes

Eng. Aeronáutico, Msc. Engenharia de Transportes, Conselheiro do Crea-DF.

SQS – 103 – I – 605 70342-090 – Brasília-DF Brasil Tel. 55 61 3226-6476 e-mail: [email protected]

Palavras-Chave

1. câmaras, colegiado, conselheiro, instância, plenário.

RESUMO

O autor parte da premissa que a produtividade do sistema, no trato das questões do dia a dia é muito baixa. Identifica possíveis causas e apresenta à discussão possíveis soluções. Focaliza fortemente o funcionamento das Câmaras Especializadas, que no geral não cumprem sua função de órgão técnico colegiado, dando ênfase a aspectos de natureza burocrática. Quando muito, tendem a se comportar como colegiado jurídico, no que bem não se saem, uma vez que exercitam a pretensa interpretação jurídica fora do contexto factual técnico, que na realidade condiciona a própria interpretação jurídica. Tudo porque fatos de fundamentação técnica são a “matéria prima” com que trabalham os engenheiros e demais profissões vinculadas ao Sistema. O Resultado é que em assim sendo o exercício do contraditório fica prejudicado nos recursos as instâncias superiores, causando pouca objetividade no trabalho dessas instâncias, pela freqüente falta de fundamentação técnica na profundidade devida. Essa fundamentação sendo posto em prática ao nível da Câmara Especializada, como é de seu potencial, não há necessidade da maioria dos processos ir até o Confea.

INTRODUÇÃO

As pautas de trabalhos das sessões plenárias do Confea são extremamente pesadas, com quantidade muito grande de processos a ser relatados e votados, o que pode comprometer a qualidade de suas decisões. O autor entende que não há necessidade de que grande parte

dos processos originados nos Creas possam recorrer até a terceira instância. Desenvolve sua argumentação procurando provar esse ponto de vista a partir da comparação qualitativa de características dos componentes dos colegiados nos Sistema Confea/Crea e no Poder Judiciário. Com base no que conclui, propõe uma modificação na sistemática de tramitação de processos, de forma que reduza em muito a sobrecarga da pauta do Confea. Ao mesmo tempo, sua proposição em sendo posta em prática, proporciona condições para o aumento

da produtividade das câmaras especializadas do Creas, sem aumento sensível de custos e com possibilidades de ampla redução do tempo de tramitação dos processos nos Creas.

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A proposição apresentada parte da consideração de que o trabalho das câmaras especializadas tem fundamentação técnica e, como tal, essa dimensão deve ser suficientemente prestigiada no tratamento dos processos administrativos, dentro do Sistema, uma vez que lidam com fatos técnicos, os quais condicionam a aplicação das leis, mesmo no âmbito de processos judiciais. Assim não procedendo, os Creas se tornam vulneráveis a decisões judiciais equivocadas, mesmo quando têm razão. Por outro lado, identifica uma tendência dos colegiados do Sistema de mimetizar os colegiados do Poder Judiciário, com perda de qualidade de suas decisões, por não as fundamentarem tecnicamente.

Finalmente o autor reflete sobre o fato de que as atividades do Sistema se tornam cada vez mais complexas, o que requer uma dedicação maior da parte dos conselheiros, em função de sua importância na concepção, direção, e participação nos colegiado. Isso é dificultado pelo sistema de trabalho não remunerado a que estão sujeitos e pela renovação total de seus quadros no período de cada três anos.

1. Desenvolvimento.

1.1Características dos Componentes dos Colegiados.

Inicialmente, façamos uma análise comparativa da estruturas de funcionamento do Sistema Confea/Crea e o do Poder Judiciário, sob o enfoque da tramitação de processos. Ao se identificar suas semelhanças e diferenças, nossa criatividade pode ser provocada com vistas a identificarmos oportunidades de adaptação ou modificação em busca de maior eficiência nas atividades internas do Sistema.

Vejamos, então, a estrutura do Pode Judiciário, identificando de forma simplificada e esquemática a constituição das instâncias decisórias da Justiça Federal, onde tramitam ações que digam respeito aos Creas e ao Confea. Isso pode ser esquematicamente representado por um triângulo com o vértice voltado para baixo e a base na parte superior (Figura 1). O vértice representa o nível de primeira estância, onde as decisões são tomadas por um juiz singular. Esse é o nível em que os juizes iniciam suas carreiras. As decisões são monocráticas e há realmente muito trabalho, especialmente para os juízes substitutos. No segundo nível, situado no esquema na altura intermediária do triângulo invertido, temos os tribunais regionais federais, os quais são constituídos por diversos colegiados, normalmente denominados turmas, onde atuam os desembargadores, juízes bem mais experientes e com muitos anos de prática. O órgão onde são tomadas as decisões terminativas na segunda instância é o tribunal pleno, ao qual se recorre em certos tipos de ações que tem o caráter de recurso. O terceiro nível decisório ocorre no Superior Tribunal de Justiça – STJ, estruturado, também, em turmas, colegiados agora constituídos por Ministros do Tribunal. Esse é o topo da carreira desses magistrados, naturalmente os mais experientes e que satisfizeram todos os requisitos da carreira, para que lá chegassem.

Vejamos agora a estrutura do Sistema Confea/Crea. Pode ser esquematicamente representado pelo mesmo triângulo, porém, em posição invertida, isto é, com a base situada na parte inferior e o vértice apontando para cima (Figura 1). É oportuno salientar que nesse esquema estamos representando apenas à dimensão técnica vinculada às modalidades de Engenharia (Arquitetura e Agronomia), que caracterizam os colegiados especializados do Sistema, onde despontam suas câmaras especializadas. Assim, temos que sua primeira instância decisória já é um colegiado. Colegiado esse constituído por profissionais de formação semelhante e vivências profissionais as mais diversas na modalidade, que são eleitos pelas entidades registradas nos Creas. Isso significa que as decisões de primeira

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estância no Sistema Confea/Creas são potencialmente as mais corretas do ponto de vista técnico, entre os três níveis decisórios do Sistema, justamente em função de sua constituição.

Sua segunda instância é constituída pelo plenário, em cada um dos Creas, situado à semelhança dos tribunais regionais no nível intermediário da altura do triângulo. Cabe-lhe decidir os recursos contra as decisões das câmaras especializadas. É constituído de um amplo colegiado (pleno), onde participam todos os conselheiros das modalidades representadas nos Creas. É, pois, um colegiado amplamente diversificado, e seus membros não têm formação semelhante, como a têm os conselheiros das câmaras especializadas. Nos recursos ao plenário contra as decisões das câmaras especializadas, conforme preceituam os regimentos internos dos Creas, os relatores não podem pertencer à câmara onde o processo recebeu decisão de primeira instância. Isso significa que, do ponto de vista do balizamento técnico, o exame da questão já se distancia enormemente do nível decisório de primeira estância. É, porém, um nível muito importante, dada à multiprofissionalidade abrigada pelo Sistema, pois nele poderá ser desnudado qualquer possível viés de corporativismo de modalidade, nas decisões de primeira estância. Diferentemente, porém, do que acontece nos tribunais regionais, o plenário de cada um dos Creas só trabalham em pleno.

Figura 1. Representação Esquemática da Composição das Instâncias do Judiciário e do Sistema Confea/Crea.

Prosseguindo na comparação: das decisões do plenário de cada Crea cabem recursos ao Confea, que os decidem em Plenário. Aí, porém, o nível técnico de exame das questões que lhe são levadas é enormemente reduzido, porque o número de conselheiros federais é muito pequeno (21) em relação à quantidade de áreas de atuação da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia, com sua ampla gama de modalidades. Onde, mesmo que em cada modalidade se possa ter formação profissional semelhante, a diversidade de vivência e experiência de cada profissional amplia ainda mais o espectro da dispersão de natureza técnica. Esse aspecto tem significativos efeitos no funcionamento do Confea, que por isso mesmo tende a se comportar como corte judicial, com seu respectivo suporte administrativo. Esse aspecto será examinado em detalhes mais adiante.

A análise comparativa das características dos componentes dos colegiados no Sistema Judicial e no Sistema Confea/Creas está sintetizada na tabela 1 que, apresenta uma

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estimativa da efetividade potencial das decisões em ambos os sistemas, por instâncias, em função das referidas características.

Justiça Federal - Sistema Confea/Crea

Instância Composição Formação Experiência Efetividade

Primeira Singular/Colegi. Semelh./Semelh. Inicial/Diversificada Menor/Máxima

Segunda Colegi/Colegi. Semelh./Diversif. Média/Dispersa Maior/Reduzida

Terceira Colegi./Colegi. Semelh./Diversif. Máxima/ + Dispersa Máxima/ + Reduzida

Verifica-se, assim, que a Câmara Especializada é a instância de maior efetividade técnica no exame das questões atinentes à sua própria modalidade dentro do Sistema. Ou seja, a apreciação das questões relativas aos profissionais e empresas perde efetividade técnica à medida que sobem de nível decisório dentro do Sistema.

Enquanto a efetividade das decisões judiciais tende a ser tecnicamente (do ponto de vista estritamente jurídico) mais consistente no Sistema Judiciário, à medida que as decisões sobem de uma instância para a superior, no Sistema Confea/Crea, pelos os motivos acima destacados, dá-se o contrário. Há, porém, um viés interno ao Sistema, que faz com que seus colegiados tendam a se comportar como se fossem do Poder Judiciário.

A explicitação da efetividade potencial das decisões submetidas às diversas instâncias do Sistema, tendo em conta as matérias a que cabe às câmaras especializadas decidir, é o ponto de partida para algumas considerações a respeito da busca de maior eficiência nos trabalhos do Sistema no campo da tramitação dos Processos.

1.2. Maior Eficiência na Decisão de Processos,

O adequado disciplinamento matéria até aqui tratada pode permitir que haja recursos de suas decisões ainda no âmbito das câmaras, especialmente nas câmaras daqueles Creas que tenham elevado número de conselheiros, as quais, à semelhança dos colegiados de segunda instância do Poder Judiciário, podem funcionar por turmas. Resulta daí, ainda, à possibilidade de recurso ao pleno de cada uma dessas câmaras especializadas, antes do indispensável recurso ao plenário de cada Crea. Justamente para, assim, cumprir a função democratizante da decisão em colegiado amplo, de formação e experiência diversificadas, necessária à identificação de possível viés corporativista nas decisões das câmaras especializadas.

Por outro lado, o funcionamento das Câmaras divididas em turmas (nos Creas onde isso for possível) permitirá aumentar sensivelmente a produtividade dessas mesmas câmaras, a mesmo custo (ordem de grandeza) como se elas se multiplicassem até por quatro. Isso nos Creas onde haja grande número de conselheiros por câmara, e elevado volumes de processos a serem decididos.

Veja-se um exemplo onde isso tudo pode ficar mais claro. Admitamos que um Crea tenha uma câmara especializada onde existem trinta conselheiros titulares. E que essa câmara se reúna uma vez por mês, com uma elevada pauta de processos a decidir. Essa câmara pode ser dividida, para efeito de decisões processuais (usando os mais diversos critérios possíveis), em quatro turmas de sete conselheiros titulares (os dois restantes permitiriam

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flexibilidade de substituição), com possibilidade ainda de que em caso de necessidade sejam substituídos pelos seus suplentes. Ninguém pode garantir que uma decisão discutida e votada por sete conselheiros que conhecem a matéria seja menos eficiente do que se discutida por trinta conselheiros, onde nem todos conhecem as bases das matérias a ser discutidas.

Passar-se-ía, assim, a ter a oportunidade de uma reunião de câmara semanal, onde o custo dessa realização, ao cabo de um mês, seria o mesmo de uma Sessão da Câmara com a presença de trinta conselheiros titulares. Resultaria ainda a possibilidade de atendimento semanal aos processos merecedores de urgência, mantendo-se um fluxo continuo na tramitação dos possessos, o que não só aumentaria a produtividade da câmara, possivelmente multiplicada por quatro, mas, também, reduziria, em muito, o prazo para a tramitação dos processos, atuando, assim, em favor do administrado, com a redução do tempo de tramitação. Restaria ainda a possibilidade de recurso ao pleno das câmaras, uma necessidade claramente manifesta, quando uma decisão nesse nível recebe nova argumentação ou esclarecimentos de natureza técnica, independentemente de ser um fato novo e que naturalmente requer uma apreciação técnica. O que não será possível ao nível do plenário do Crea, porque muito acertadamente os regimentos internos dos Creas não permitem que o relator pertença à mesma câmara decisora de primeira estância. Só então é que um recurso à decisão do pleno da câmara subiria ao plenário do Crea, onde sua decisão completaria a tramitação, recebendo a decisão definitiva, o que poderíamos chamar de “transitado em julgado” em termos administrativos.

Naturalmente, situações intermediárias entre o proposto e a situação atual ocorreriam em função do número de conselheiros que integram as diversas câmaras especializadas dos Creas pelo País. Essa sistemática contribuiria enormemente para aliviar a pauta de trabalhos das reuniões plenárias do Confea, que de tão sobrecarregada permite supor que as decisões não podem ser examinadas em toda a profundidade devida, e cuja tendência é de que muitas das matérias possam ser aprovadas por unanimidade, sem discussão.

A possibilidade de recurso ao Confea deverá ser mantida para algumas espécies de processo, como, por exemplo, os de Ética, ou mesmo outros mais, cuja natureza porventura o recomende. Para tanto, porém, seriam estabelecidos requisitos de admissibilidade, que pudessem realmente funcionar como filtros para desafogarem a pauta do Confea, de forma que os demais processos pudessem ser mais bem examinados, não só pelos conselheiros em Plenário, mas pelas próprias comissões permanentes do Confea. A adoção dos procedimentos aqui examinados permite desafogar a pauta de trabalhos, com sensível redução do volume de processos que são canalizados para o Confea, a partir de todos os Creas do país (vinte e sete). Esse alívio nas pautas de trabalho poderá permitir ao próprio Confea melhor se desincumbir de suas tarefas rotineiras, voltadas para suas finalidades imediatas, e, também, aprofundar o nível de fundamentação de suas decisões.

1.3. O Fato Técnico Condicionando a Interpretação da Lei.

Prosseguindo na linha de argumentação até aqui desenvolvida, mantendo o foco no trabalho das câmaras especializadas, especialmente porque elas trabalham totalmente voltas para uma única modalidade de Engenharia, ou de Arquitetura ou de Agronomia (conceito simplificado de modalidade: um “cacho engenharias” afins), é que seu trabalho há que ser focalizado em sua dimensão técnica. Essa dimensão é especialmente importante nas questões levadas ao Poder Judiciário. A tendência, mesmo num ambiente repleto de profissionais da área técnica, é deixar que o pessoal da área jurídica trate de todas as

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questões de relacionamento com o Poder Judiciário. Não se percebe que questões de base técnica não podem prescindir da participação do profissional dessa área, com interação com profissionais do setor jurídico (é trabalhar a quatro mãos). Isso é fundamental para que possam, em conjunto, evidenciar os fatos técnicos, em função dos quais os textos legais hão de ser interpretados, e que lhes darão o necessário suporte para a fundamentação técnica da decisão judicial que vier a ser prolatada.

Esse é o caso típico e freqüente nas ações em que às vezes Creas perdem, em litígios judiciais com os Conselhos Regionais de Química (CRQ), onde a ausência de uma fundamentação técnica permite que decisões judiciais totalmente equivocadas prevaleçam, em virtude da informação técnica não ter sido oportunamente levada aos operadores do direito, diretamente envolvidos. Não sendo de se estranhar que já tenha havido decisão tomada em desfavor do Crea, por haver sido entendido pelo operador da decisão jurídica que o litígio Crea versus CRQ fosse um conflito de interesses entre engenheiros civis (Crea) e engenheiros químicos (CRQ), ao invés de ser entre engenheiros (todos) e químicos, que não são engenheiros, como é o caso.

Não se comete nenhuma heresia ou agressão ao princípio constitucional da observância do devido processo legal e do amplo direito de defesa dos administrados, ao se propor a conclusão de expressivo número de processo na segunda instancia do Sistema. Ou seja, para a maioria dos processos não há necessidade de que eles cheguem até a terceira instância, isto é, ao Confea, para que tenham “transitado em julgado” administrativamente. Isso porque, em sendo sua fundamentação de natureza técnica, pelos motivos acima explicitados, o Confea, nada poderá acrescentar de forma adequadamente fundamentada, no sentido de aperfeiçoar ou corrigir decisão tomada na primeira instância.

Na realidade, doutrinariamente os textos legais são tidos como disposições abstratas que só se concretizam interpretadas (isto é aplicadas) em relação a um fato concreto Ou seja, o fato influencia a própria interpretação do texto da lei, no contexto em que ela é aplicada. Assim, em todas as decisões sobre os processos fundamentação técnica, dento do sistema, o fato técnico deve condicionar a interpretação do texto normativo que a ele vai ser aplicado. Esta fundamentalidade da maior importância para o Sistema não é suficientemente percebida, especialmente no âmbito das câmaras especializadas, daí a importância de se destacar a dimensão técnica dos trabalhos não só das câmaras, mas das demais instâncias decisórias do Sistema Confea/Creas.

O que se acabou de afirmar pode até parecer inusitado. Isso porque, em virtude da falta de uma percepção mais ampla da necessidade de fundamentação técnica em grande número de decisões, há um viés que induz todos os colegiados do Sistema a se comportar como colegiados judiciais. Dão exagerada dimensão aos aspectos legais das matérias a decidir, como se a legalidade fosse o único princípio a ser observado no processo administrativo. Nesse particular, não se saem muito bem em suas decisões, pois o resultado não é tecnicamente bom (juridicamente), em virtude da comum tendência a interpretar os textos das resoluções do Confea como se leis o fossem. Se lhes interpreta, porém, apenas gramaticalmente, no extremo rigor de sua literalidade.

1.3. Da Necessidade da Observação da Legislação Federal.

Todos os regimentos internos dos Creas têm o dispositivo que diz (ARt. 4º): ”compete ao Crea cumprir e fazer cumprir a legislação federal, as resoluções, as decisões normativas, as decisões plenárias baixadas pelo Confea (...)”. O Sistema, no entanto, tende a trabalhar só

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com as resoluções e demais atos emitidos pelo Confea, sem atentar que antes delas há que se atender a legislação federal, começando na própria Constituição Federal (1988). Nela há ênfase para os direitos individuais e sociais sempre presentes no exercício da atividade profissional, de aplicação imediata, sem necessidade de regulamentação. A própria Lei do Administrado (Lei 9784/99), que tem grande número de dispositivos em favor do administrado, é pouco citada nos Creas, a não ser para lembrar aos conselheiros o prazo de trinta dias (art. 49) para relato de processos. Aspecto, aliás, interessante, já que os conselheiros, no caso, são pensados pela administração com se funcionários dos Creas fossem, diante da dificuldade de atender a grande número de processos a ser decididos em prazo razoável. O que mais uma vez vem corroborar a necessidade de as câmaras serem divididas em turmas, reduzindo-se assim o intervalo entre as sessões, com aumento de produtividade, e maior possibilidade de atendimento ao administrado em prazos razoáveis.

A par disso, há que se atentar que os conselheiros, mesmo sendo integrantes de todos os níveis decisórios dos Creas e de suas diretorias, e por isso mesmo responsáveis formais pela inteligência do Sistema, têm severas limitações de tempo para a ele se dedicar. Isso a par do fato de que leis recentes têm atribuído novas exigências ao setor público, determinando novos procedimentos de controle público, interno e externo, as quais, em interação com leis antigas implicam uma concomitância de incidências difíceis compatibilizar adequadamente.

Outro aspecto a recomendar o exame das sugestões aqui apresentadas é a complexidade crescente do cumprimento das disposições da lei 5.194/66, conjugada com a observância de outras leis federais mais recentes, que condicionam sua aplicação. Isso faz com que de sua não observância possa resultar ilegal o cumprimento das disposições de algumas resoluções do Confea. À medida que avança a complexidade tecnológica, com diversidades e convergências cada vez maiores, necessário se faz maior participação dos conselheiros nos Creas, pois integram todos os seus patamares decisórios. A situação requer continuidade de pessoas, para manutenção de equipes e grupos de trabalho em atividades complexas, com efetivos de conselheiros que além das limitações de dedicação apontadas, se renova completamente a cada três anos à taxa de um terço por ano.

A questão tratada no parágrafo imediatamente acima é colocada como um problema a ser mais bem identificado, cuja solução não me ocorre. Aqui é trazida justamente para ser exposta à criatividade dos participantes do Congresso Nacional de Profissionais para que a discutam em suas diversas etapas, no sentido de melhor identificá-la e propor soluções, em benefício da eficiência do Sistema.

CONCLUSÕES

1. As decisões das câmaras especializadas em processos de fundamentação técnica detêm maior probabilidade de acerto, não havendo, por isso, necessidade de que de suas decisões haja recurso além do plenário dos Creas.

2. Algumas categorias de processo poderão ter acesso recursal ao Confea desde que

atendam critérios de admissibilidade. 3. O não acesso recursal ao Confea não infringe o princípio do devido processo legal e

amplo direito de defesa.

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4. Os Creas podem dividir suas câmaras especializadas em turmas de trabalho para realização de sessões de decisão sobre processos que nela tramitem, o que lhe proporciona aumento de produtividade e redução do prazo de tramitação dos processos.

5. O sistema confea/Crea deve fundamentar suas decisões não só em aspectos legais mas

sobretudo nos fatos técnicos subjacentes que recomendam a decisão, pois eles dão suporte á fundamentação legal.

6. Não basta ao sistema que seus colegiados atentem apenas para os aspectos legais

destacados na legislação pertinente. 7. Há ainda muitos outros aspectos no eixo Organização do Sistema sobre os quais é

necessário refletir e discutir, em busca da necessária eficiência na administração pública, princípio constitucional explícito em seu artigo 37, caput.

DESTAQUES PARA A DISCUSSÃO NOS CONGRESSOS

Além dos assuntos diretamente ligados aos tópicos abordados neste texto, há diversos outros que com eles se relacionam, no eixo organização do sistema, que também aqui são colocados, para os quais se pede a participação dos colegas para sua discussão; 1. Você reconhece a real necessidade de aprofundamento do nível de abordagem das

questões tratadas no Sistema, uma vez que são cada vez mais complexas e causam grande impacto na Sociedade?

2. Se você concorda ou discorda com o autor, manifeste-se a respeito. Especialmente, se

discorda, compareças aos eventos do CEP para defender seu ponto de vista e formular propostas que possam contribuir para aumentar a eficiência do Sistema.

3. Você concorda que as câmaras especializadas são capazes de despenhar o papel

relevante que o autor lhes atribui? Senão, por quê? 4. Da forma que as Câmaras trabalham atualmente, estariam elas em condições de

explicitar a devida fundamentação técnica de suas decisões? 5. Não lhe parece que as câmaras apesar de terem o nome de especializadas, fazem um

trabalho de natureza predominantemente burocrática? 6. Há creas em que as Câmaras especializadas são mistas, isto é, uma câmara é integrada

por modalidades diferentes, isso contradiz argumentação do autor? 7. Há muitos assuntos que chegam ao plenário do Confea para decisão, sem que nenhum

seus conselheiros tenha formação ou vivência nas áreas em questão. Parece-se-lhe válido que o Plenário decida assim mesmo, quando suas decisões têm implicação direta na vida de muitos profissionais?

8. Que lhe parece a idéia do Confea criar uma espécie de “Senado Especializado”, ao qual

deveriam ser submetidas questões que possam se enquadrar na situação do item acima. Os membros desse “Senado” seriam, por exemplo, os expoentes existentes do País nas matérias em exame, os quais seriam especialmente convidados para essa missão, uma vez que o Sistema tem a obrigação formal de saber quem são e onde estão?

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9. Valorização profissional é a “palavra de ordem” que está em todas as manifestações no

âmbito do Sistema. Essa valorização tem que ser verificada fora do Sistema. Ou seja, é a Sociedade que nos haverá de valorizar. É possível a Sociedade valorizar os profissionais, sem valorizar o Sistema, já que ele é a grande interface com a sociedade?

10. Que lhe parece, a idéia se convidar profissionais não militantes no Sistema e

representantes da Sociedade como um todo, para que venha participar de “oficinas” nas etapas estaduais do CNP, para nos dizer como vêem o Sistema e nossas profissões?

11. Os Critérios de representatividade estabelecidos pela lei 5.194/66 para conselheiros e

entidades no Sistema continuam válidos, considerando que à época de sua publicação as escolas que formavam profissionais de nível superior nas áreas de “exatas”, era poucas, quase todas públicas, e praticamente não se conseguia dar um telefonema interurbano?

12. Expressivo percentual de conselheiros chega aos Creas com pouquíssimo conhecimento

do Sistema. Depois de três anos de participação, quando poderiam se tornar mais produtivos como conselheiros, são obrigados a se afastar dos Creas, por conclusão do mandato. Ocorre-lhe algum modo de se aproveitar a experiências desses conselheiros, de alguma forma no Sistema, uma vez que a complexidade de seu funcionamento não é compatível com um permanente início de processo de aprendizagem?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 23 ª Ed. São Paulo, Malheiros 2008. Dantas, David Diniz. Interpretação Constitucional no Pós-Positivismo, São Paulo, Madras Editora Ltda. 2004, Eros, Roberto Grau. Ensaio e Discurso sobre a Interpretação do Direito. 4ª Ed. São Paulo, Malheiros Editores. 2006. Ferraz, Sérgio e Dallari, Adilson Abreu. Processo Administrativo. 2ª Ed. São Paulo,, Malheiros Editores, 2003. Müller, Friedrich. O Novo Paradigma do Direito: Introdução à Teoria e Metódica Estruturantes do Direito. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007. Reale, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. 5ª Ed. São Paulo, Editora Saraiva, 2003.

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Eixo Referencial

Integração Profissional e

Social

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7º CNP – “Construindo uma Agenda Estratégica para o Sistema Profissional: desafios, oportunidades e visão de futuro”

ELEMENTOS PARA UMA POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL DO SISTEMA CONFEA/CREA

Aloisio Lopes

Jornalista Profissional, graduado pelo UNI-BH em 1994. Assessor de Comunicação e Marketing do Confea. Diretor do Departamento de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Jornalistas.

SEPN 716 Norte – Bloco 1 - apt 15 – Asa Norte – Brasilia – DF – 70770/515

Brasil – Telefone: 55 61-9196-9216 – Email: [email protected]

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RESUMO

Pretende este texto apresentar ao leitor um conceito e visão de comunicação pública, como extensão do direito da sociedade à informação. A partir dessa concepção, pretende desenvolver elementos para a formulação de uma política de comunicação institucional, entendida esta como a desenvolvida por órgãos públicos, empresas ou entidades do terceiro setor, considerando-se, dentre outras características, a relação com os públicos envolvidos, para construção/manutenção da imagem da instituição. Pelo texto, depreende-se que ela deve ser vista de forma dialógica, participativa, buscando autonomizá-la frente aos sistemas convencionais de comunicação, ao mesmo tempo que utiliza-se de aparatos tecnológicos da comunicação para cumprir sua função social.

Palavras-chave

Comunicação pública, comunicação institucional, marketing institucional, Sistema Confea/Crea.

INTRODUÇÃO

A missão do Sistema Confea/Crea, estabelecida em seu Planejamento Estratégico, é a defesa dos interesses sociais e humanos, a promoção da valorização profissional, o desenvolvimento sustentável e a excelência do exercício e das atividades profissionais. Sua visão é de ser reconhecido como um sistema eficaz e comprometido com a excelência. Dentre os valores, destacamos “Integridade, Ética e Cidadania, Participação e Posicionamento Social e Compromisso com o Desenvolvimento Sustentável”.

Dentre os objetivos estratégicos para o período 2009/2014, diretamente ligados ao propósito deste texto, destacamos “promover discussão nacional das questões referentes ao desenvolvimento sustentável com a participação das organizações e das lideranças profissionais” e “definir a política e a estratégia de uma comunicação e marketing do sistema profissional.

A comunicação institucional, por sua vez, é uma dimensão referencial do eixo temático integração profissional e social.

A MAIOR COMUNIDADE PROFISSIONAL DO BRASIL

Engenheiros, arquitetos, agrônomos, geólogos, meteorologistas, tecnólogos e técnicos formam a maior comunidade profissional do Brasil. Uma união com mais de 800 mil profissionais, cerca de 1200 entidades associativas, quase 100 entidades sindicais, mais de 1000 instituições de ensino, uma Mútua de Assistência Profissional com 27 Caixas Estaduais e um Conselho Federal e 27 Conselhos Regionais.

Antes de abordarmos as especificidades da comunicação institucional, recorro à reflexão da professora Maria Helena Canõ, sobre o propósito dos conselhos profissionais. Para ela, “O Estado, ao regulamentar uma profissão, objetiva a defesa dos interesses de toda a sociedade, associados à preservação de sua segurança,

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saúde, liberdade e patrimônio”. Essa defesa da sociedade, segundo ela, é alcançada ao impedir a atuação de pessoas não habilitadas no exercício de profissões, que possam causar dano material, físico, moral ou ético a pessoas físicas e jurídicas que se utilizam de serviços profissionais especializados.

DIREITO À INFORMAÇÃO PÚBLICA

A Constituição da República assegura, em seu artigo 5º, inciso XXXIII, que “ todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.” 1

Devemos aqui entender informação pública, não só aquela gerada por órgãos de governo, mas a que diz respeito “a temas de interesse coletivo” (Duarte), englobando também autarquias, empresas privadas, entidades associativas, dentre outros.

Segundo Pierre Zémor (Paris – 1995), a relação com o cidadão é complexa e, em nosso caso, com licença intelectual do especialista francês, também com o profissional, porque ele é “um interlocutor ambivalente: ao mesmo tempo em que respeita e se submete à autoridade das instituições públicas, ele protesta sobre a falta de informação, ou sobre suas mensagens mal construídas, incompletas ou mal divulgadas.”

Neste sentido, as ouvidorias cumprem papel fundamental, pois são canais de comunicação adequados para receber e intermediar demandas dos diversos públicos.

Saber ouvir e dar respostas é instrumento fundamental para a comunicação institucional, que, como todo processo de comunicação social, deve ser dialógica, participativa. Comunicação de mão única não constrói reputação, cerceia a liberdade e obstaculariza o desenvolvimento social e cultural.

RELACIONAMENTO COM OS PÚBLICOS

A dimensão e a complexidade do Sistema Confea/Crea requer um tipo de comunicação dinâmica. A visão estática de públicos não coaduna com nossa realidade institucional. Recorrendo à professora Margarida M. K. Kunsc, entendo que os acontecimentos e comportamentos é que vão determinar os públicos estratégicos (stakeholders). Sabemos, por exemplo, que o que se comunica para o público interno terá repercussões no público externo. No mesma lógica, a forma como a instituição trata um fornecedor interfere na imagem que dela se tem o público interno e externo.

Vejamos na ilustração os atores principais deste processo de Comunicação:

1 O direito à informação, bem como a regulação do setor de Comunicação no Brasil é objeto de discussão

da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, que acontece em Brasília de 14 a 16 de dezembro de 2009.

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Esses agentes buscam informações do tipo institucionais, de gestão, de utilidade pública, de prestação de contas ou

de interesse particular do profissional ou empresa.

A comunicação institucional é uma atividade meio e como tal cumpre papel relevatne na construção da imagem da instituição. A metáfora do espelho, usada por Gaudêncio Torquato (2003 – pag.14) para analisar a imagem que determinado público tem de uma instituição é bastante clara neste sentido. “Quando o espelho está quebrado, fragmentado, a imagem que se reflete nele fica distorcida. Quanto maiores as rachaduras, tanto maiores as distorções. A teoria dos vasos comunciantes é aplicável para o bom funcionamento da área de comunicação de qualquer instituição, pois somente com a integração dos setores e unidades, e em se tratando de sistema profissional, com a integração com os Regionais e Entidades, poderemos desenvolver uma política de comunicação realmente eficiente.

Na busca de um tipo de comunicação mais ético e justo, a professora Margarida Maria Krohling Hunsch (USP) cita o pesquisador norte-americano James Grunig, para defender uma comunicação simétrica, ou seja, “uma comunicação que busca o interesse da organização e o interesse dos públicos”. Isso porque, a comunicação

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institucional, seja de órgãos públicos ou privados não deve nunca, por uma questão de inteligência, credibilidade e, principamente de respeito ao profissional e ao cidadão, ser uma comunicação “chapa branca”. A importância da informação na sociedade e suas determinações no campo da economia, da cultura e da educação, nos cobra modelos democráticos, onde a diversidade de opiniões seja respeitada e o direito do cidadão/associado/registrado colocado sempre em primeiro lugar.

A comunicação midiática, realizada com a intermediação de veículos como rádio, TV, jornal, revistas, internet, cumpre papel determinante na construção da imagem e na reputação da instituição. Portanto, ter uma relação profissional, transparente e ágil com esses é uma necessidade primária. Não podemos perder de vista o poder de agenda (2) da mídia na sociedade. Com a democratização do acesso à informação, verificado principalmente com o desenvolvimento tecnológico, hoje a mídia pode não determinar o que pensar (manipular), mas consegue ainda determinar quando pensar.

Um fenômeno observado nos últimos anos, no entanto, deve ocupar lugar de destaque na definição de um plano de comunicação do Sistema Confea /Crea. Tal fenômeno foi denominado, pelo jornalista e pesquisador Francisco Santana, de “Mídia das Fontes”. Nele, atores sociais que até então eram considerados apenas fontes, passam a fornecer informações diretamente à sociedade, interferindo na construção da agenda midiática. Desta forma, as fontes são agregadas ao processo de produção e de difusão de informação. Hoje grandes instituições possuem suas estruturas próprias de comunicação, com jornais periódicos, revistas, emissoras de TV e de rádio, além dos portais interativos de internet. Os exemplos mais clássicos são a TV Câmara e a TV Senado, dispondo cada uma de cerca de 100 jornalistas em seus quadros.

No Sistema Confea/Crea, iniciativas dessa natureza também estão em gestação, com programas de rádio ou TV em alguns estados, revistas periódicas de entidades e algumas experiências exitosas com WEB TV e Rádio. Necessário pois reforçar esses investimentos, para que a comunicação institucional do Sistema Confea/Crea se qualifique e se torne referência para a mídia externa e por extensão para toda a sociedade.

Constituir estruturas próprias de comunicação tem sido uma opção de órgãos públicos e do terceiro setor, como forma de democratizar a comunicação. E que essas estruturas sejam integradas, fortalecendo a ação enquanto Sistema. Nesse processo, a plataforma web tem se apresentado como a mais adequada. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Focus (Confea – 2009) mais de 70% dos profissionais conhecem e acessam o sites do Confea e dos Creas. No atual portal do Confea o número médio de acessos é 130 mil/mês. Some-se a isso o mailling de quase 400 mil endereços eletrônicos.

A criação de uma rede nacional de informações da fiscalização do exercício profissional e das atividades profissionais da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia poderá ser um excelente instrumento de promoção da comunicação do Sistema Confea/Crea com os profissionais e com a sociedade.

Em que pese a atração tecnológica, a comunicação interpessoal continua tendo peso considerável no processo de comunicação social e institucional. Daí a importância do bom atendimento em nossas mais de 500 inspetorias bem como o contato pessoal dos mais de 800 fiscais, no dia a dia com profissionais, contratantes e órgãos parceiros das atividades de fiscalização. O envolvimento dos fiscais, portanto, como agentes de comunicação, é outro elemento fundamental para uma boa política de comunicação institucional.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL / OPORTUNIDADES E VISÃO DE FUTURO

As atividades dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea interferem na vida cotidiana dos cidadãos brasileiros, da montagem de equipamentos à pesquisa científica. No planejamento, na construção, na organização do espaço urbano e rural, ou seja, do calçado ao creme de cabelo, passando pelos automóveis, celulares, e uma infinidade de itens e situações.

O desenvolvimento sustentável, a busca da reversão do aquecimento global, enfim a temática do meio ambiente constituiu-se num espaço que reúne interesse dos profissionais e de toda a sodiedade, já que a preservação do planeta é a preservação da própria vida dos atuais e futuros habitantes da Terra.

As inovações tecnológicas e a atuação dos profissionais na busca de redução de gases de efeito estufa geram resultados benéficos para a toda a humanidade. Esse é ponto positivo que deve ser explorado. O sistema profissional tem autoridade para convocar cada cidadão para que faça sua parte. Portanto, é uma excelente oportunidade a promoção de uma campanha nacional pela redução da emissão de gases de efeito estufa, com incentivo e valorização das ações dos profissionais, das empresas, e de cada cidadão brasileiro. Seria uma forma de demonstrar a responsabilidade social das profissões registradas no Sistema Confea/Crea e representadas pelas entidades e que, provavelmente, poderiam contar com apoio de ONGs internacionais com trabalho neste mesmo sentido. Uma delas é Campanha de Liderança Climática 2020 coordenada pela organização não-governamental americana State of the World Forum, cujo objetivo é antecipar em 30 anos, de 2050 para 2020, as metas mais importantes para frear o aumento das temperaturas.

A Agenda 21 Global estabelece em seu capítulo 40 a necessidade da informação para a tomada de decisões e recomenda a criação de redes de informações sobre meio ambiente, como forma de municiar agentes locais, nacionais e internacionais na tomada de decisões. O Confea, como um dos signatários da Agenda 21 Brasileira, os Conselhos Regionais e Entidades envolvidos na implementação das agendas estaduais e locais dariam grande contribuição à sociedade se criassem e mantivessem uma rede de informações pela sustentabilidade, protagonizada pelos entes dos Sistema e pelos profissionais.

MARKETING INSTITUCIONAL

Na comunicação não midiática, assume papel determinante a qualidade de nossos relacionamentos institucionais. E aqui o marketing, na acepção de Philip Kotler é ferramenta indispensável, para " satisfazer pessoas de forma ética e verdadeira, fidelizar o cliente, transformar um produto num bem acessível a todos que o

desejam."

Para isso, um programa de comunicação interna, o treinamento e qualificação do atendimento e uma articulação bem feita com a sociedade e com as entidades profissionais vinculadas ao Sistema profissional, são elementos importantes para o nosso marketing institucional e para a preservação da reputação e da credibilidade da instituição, consideradas por executivos e especialistas, os ativos mais importantes para as organizações neste início de século.

O estabelecimento, cumprimento e participação, pró-ativa, no calendário de eventos do Sistema Confea/Crea é outro fatore importante para a aplicação da política de comunicação institucional.

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Indicadores de resultados e auditoria da imagem, neste sentido, são ferramentas imprescindíveis para o monitoramento da política de comunicação institucional pretendida. Neste caso, não se trata apenas de conhecer as impressões que o profissional, empresas e setores da sociedade têm da instituição e dos seus serviços, mas também de acompanhar o movimento da opinião desses segmentos frente aos fatos da realidade, principalmente dos considerados “ fatos portadores de futuro”, ou seja, que influenciam no funcionamento de nossa organização, independentemente de nossa vontade.

DESTAQUES PARA A DISCUSSÃO NOS CONGRESSOS

- Uma política integrada de comunicação fortalece o sistema profissional, ao beneficiar-se da capilaridade para projetar sua unidade. Os Creas estão dispostos a implementá-la, junto com o Confea?

- Diferenciação do papel regulador/fiscalizador do Sistema Confea/Crea e o papel político representantivo das entidades, pontos em comum e as parcerias desejáveis. Nosso espelho não estaria quebrado e passando uma imagem distorcida para a sociedade?

- Interferência do marco regulatório do setor de comunicação no Brasil no direito à informação e no desenvolvimento da comunicação corporativa. Os profissionais do Sistema Confea/Crea devem ser estimulados a participar de fóruns mais amplos que visem ampliar o acesso da população à informação?

- O posicionamento social do Sistema Confea/Crea é importante para o fortalecimento de sua imagem na sociedade? Existe um limite nessa atuação?

- O padrão de atendimento e o acolhimento de propostas contribuem para melhorar a avaliação de nosso desempenho junto aos nossos públicos. Como fazer isso do ponto de vista administrativo, legal e cultural?

- Que tipo de ações/comportamentos comprometem a imagem institucional do Sistema Confea/Crea? O que fazer para não ampliar as distorções existentes nas fissuras do nosso espelho? Qual o papel dos profissionais registrados, dos dirigentes do Sistema e dos servidores (inclusive fiscais)?

- Na produção de conteúdos e sua difusão, um sistema de comunicação institucional deve priorizar temas corporativos ou buscar um equilíbrio com temas de interesse geral do profissional/cidadão?

- As campanhas nacionais de mídia são suficientes para aumentar o reconhecimento institucional junto à sociedade?.

- Para alcançar a eficácia de sua comunicação, o Sistema Confea/Crea e as Entidades devem mobilizar energias para ações conjuntas de fiscalização e para assumir o protagonismo na discussão de temas relacionados ao meio ambiente e à inovação tecnológica?

CONCLUSÕES

A comunicação pública gerada numa sociedade condiciona o espaço onde se definem e discutem os assuntos que qualificamos de interesse público. A comunicação pública determina a qualidade das relações sociais, ao estabelecer as formas de acesso à

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informação e ao exercício da liberdade de opinião e expressão nas discussões sobre as preocupações e controvérsias de interesse público.

Vivemos numa sociedade cada vez mais global e interativa, a uma velocidade vertiginosa. A execução de qualquer medida programática por parte de entidades públicas requer, cada vez mais, o seu reconhecimento pelo público e a compreensão pela comunidade em que se insere.

Assume, por isso, vital importância a adoção de modelos de articulação com as diversas partes interessadas, de uma estratégia de comunicação que suporte os valores e a missão da instituição e ao mesmo tempo busque a maior participação dessas mesmas comunidades, utilizando-se de todos os recursos tecnológicos disponíveis.

Para valorizar as profissões registradas e defender os interesses da sociedade, o Sistema Confea/Crea deve desenvolver uma política de comunicação institucional integrada, que potencialize as suas ações normatizadoras e fiscalizadoras. Uma das manifestações desta integração é a divulgação de temas de interesse nacional do Sistema em todas as publicações dos Creas e Entidades, fortalecendo uma imagem de unidade do sistema profissional. Mas além da comunicação midiática, a política de comunicação institucional deve contar com ações de marketing que valorizem o serviços prestados pelo sistema profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.confea.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=8415&pai=8&sid=10&sub=8&sub=8>. Acesso em 13 de outubro de 2009.

Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Planejamento Estratégico do Sistema Profissional 2009/2014 – Edição: Confea – 2009.

Duarte, Jorge – Comunicação Pública.

<http://jforni.jor.br/forni/files/ComP%C3%BAblicaJDuartevf.pdf>. Acesso em 17 de outubro de 2009.

Economist Intelligence Unit (2005) - Reputação e Imagem - Os Maiores Riscos – Reprodução autorizada para a FSB Comunicações.

Kunsc, Margarida M.K. – Teorias e Conceitos – Novos Desafios para o Profissional de Comunicação.

<http://www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/relacoespublicas/teoriaseconceitos/0084.htm>

Ribeiro, Eduardo. Rossi, Marco Antônio. Lima, Paulo Vieira (2003) - A Imagem do Serviço Público no Brasil. O Desafio de Romper o Descrédito da Sociedade Brasileira. In Torquato, Gaudêncio. A Comunicação no Serviço Público – A Comunicação nos Três Poderes. Poá. São Paulo. Mega Brasil, pp. 14 - 21.

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Rodrigues, Malena Rehbein (2002) - Agendando o Congresso Nacional: da Agenda Setting à Crise da Democracia Representativa. In Motta, Luiz Gonzaga. Imprensa e Poder. Brasília. Editora Universidade de Brasília. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado, pp 108.

Sant`Anna Francisco (2009) - Mídia das Fontes – Um Novo Ator no Cenário Jornalístico Brasileiro – Editora Gráfica do Senado.

Zamor, Pierre. La Communication Publique. PUF, Col. Que sais-je? Paris, 1995

(tradução resumida do livro; prof. Dra. Elizabeth Brandão)

http://www.ucb.br/comsocial/mba/ComunicacaoPublicaPierreZemortraducao.pdf - acesso em 2 de julho de 2005

www.mundodomarketing.com.br/7,10622,philip-kotler-fala-sobre-os-novos-tempos-do-

marketing.htm – acesso em 12 de novembro de 2009

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AVALIANDO OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DA INSERÇÃO INTERNACIONAL DO SISTEMA CONFEA/CREA

Carmem Eleonôra C. Amorim Soares SQN – Bloco D – Apto 510 – Asa Norte – Brasília – DF – Brasil – CEP: 70754040 Tel.: 0xx 61 3483715 – Fax: 0xx 61 3483768 [email protected]; [email protected]

RESUMO

Este texto tem como objetivo subsidiar os debates e fundamentar as proposições no transcurso dos trabalhos do 7º Congresso Nacional de Profissionais- 7º CNP.

Ao longo dos seus 75 (setenta e cinco) anos, o Confea vem desenvolvendo ações legitimadas por lei que disciplinam o exercício profissional e as atividades profissionais, porém as mudanças tecnológicas e institucionais das últimas duas décadas resultaram na transformação do modelo de crescimento e na abertura brasileira à competição internacional.

O Sistema vem reascendendo a discussão sobre os rumos do desenvolvimento e agora com um novo viés, o sustentado. Por isso, se abre uma excelente oportunidade de reflexão e análise sobre registro e certificação profissional diante dos modelos existentes no mundo.

No texto, a questão da inserção internacional do Sistema Confea/Crea é demonstrada pela análise em linhas gerais do processo de globalização e do novos paradigmas que se refletem num primeiro desafio, que é a necessidade da consolidação de um modelo que harmonize as condições do exercício profissional para atender a mobilidade profissional.

Palavras-chave: Confea/Crea, Inserção, Internacional, Desafios e Oportunidades.

INTRODUÇÃO

A inserção internacional brasileira nos leva a iniciar os comentários pelos idos cinqüenta e entender que diversos autores têm procurado dar um caráter preciso ao termo integração. A integração deve ser entendida como um processo de liberalização das relações econômicas, principalmente de trocas comerciais entre os Estados membros do bloco regional, de movimentos de capitais, pessoas e de tecnologia, que sejam amparados por uma estrutura institucional, dispondo de mecanismos específicos de ajustes e negociações.

Com o aparecimento de dezenas de novos países independentes e uma diplomacia efetiva mundial, há a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) que surge no imediato pós-guerra, em 1950, refletindo o alargamento das fronteiras, antes restritas a Europa, aos Estados Unidos e ao Japão, regiões estas que influenciam periferias maiores ou menores que englobam países com diferentes níveis de modernização, passando a conviver com a globalização que impõe riscos e oportunidades sobre as economias, traz com ela conceitos de soberania, hegemonia, universalização, entre outros.

Durante as décadas seguintes a chancelaria brasileira coloca que, em linhas gerais, a estratégia de inserção internacional do Brasil, é a de que a América Latina, todavia o MERCOSUL, fica na prioridade da Agenda. O multilateralismo, por sua vez, é uma opção estratégica para as relações comerciais, uma tendência que vem se acentuando desde o início do mesmo período, com o fortalecimento do papel de global trader do País e, como tal, tem todo o interesse em manter um relacionamento externo amplo e variado. Com

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participação em instâncias multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), e também atua em diferentes foros internacionais e regionais, como a ONU e o Grupo do Rio.

Os anos noventa mostraram que globalização não é apenas uma tendência, mas uma necessidade imposta pela conjuntura atual. Um fenômeno onde as nações se reuniram para disciplinar as regras de convivência internacional tanto no âmbito comercial e financeiro, quanto no político e econômico. Vale salientar o lado positivo disso com o estabelecimento do intercâmbio cultural e comercial entre nações, facilitado pelo avanço dos meios de comunicação, ferramentas necessárias ao desenvolvimento do planeta, que empregam tecnologias a serviço da humanidade. Podemos ainda observar que os bens de consumo, a moda, a medicina, enfim a vida e o comportamento do ser humano sofrem influência direta da globalização.

Os quatro países membros do Cone Sul têm se preocupado constantemente em manter uma inserção comercial global, sem privilegiar um ou outro país, a fim de garantir um escopo maior de atuação na cena internacional. Será que esta direção equilibra suas importações e exportações? Pode com isto o MERCOSUL praticar o regionalismo aberto, na medida em que foi, originalmente, concebido precisamente para aumentar e melhorar a participação de suas quatro economias no mercado mundial?

Bom, para você que está buscando entender o porquê do Sistema Confea/Crea está discutindo um tema que mexe tanto com economia deve ter algum sentido. Vamos tentar provocar o leitor. A globalização vai gerando uma série de paradoxos. O primeiro está associado à crescente importância que tem sido dada às políticas nacionais requeridas para adaptar os sistemas produtivos a um grau maior de interdependência com outras economias.

É consensual se dizer que a competitividade no mercado internacional requer estímulos localizados e ambiente favorável aos níveis macro e meso-econômico entendido assim como tal a estabilidade de preços, preços relativos alinhados, disponibilidade de instituições eficientes para canalizar poupança para a área produtiva, a fim de gerar e difundir tecnologia, etc.

Até aí ponto para nós arquitetos, engenheiros, agrônomos já que nosso dia-a-dia reflete claramente a tecnologia. Podemos assim visualizar a operacionalidade do que citamos? É fato que as próprias pressões externas tornam menos trivial a identificação dos objetivos puramente nacionais. Além disso, a expansão da burocracia estatal tem, freqüentemente, esbarrado no enfraquecimento do seu poder, explicável, em parte, por essa própria dificuldade em justificar a existência de diversas atividades públicas na ausência de um projeto nacional.

Como combater a pressão da globalização sobre a América Latina? Até o processo de integração nessa região foi formatado de modo desestruturado, dando ênfase apenas ao desenvolvimento econômico, crendo que ao atingir a eficiência na economia resolver-se-iam os problemas sociais. Ledo engano...

Os ensaios de constituição de blocos regionais na América Latina, como MERCOSUL, Comunidade Andina, Caricom e até a ALBA se, de um lado, seguem a tendência à regionalização, de outro, visam a objetivos que diferem muito entre si (de alianças políticas conjunturais, à abertura limitada de mercados ou a projetos mais ambiciosos de integração econômica e coordenação de políticas comuns) e diferem porque, em vários casos, estão à mercê de peculiaridades e heterogeneidades regionais ou pela correlação de forças desiguais entre as partes constitutivas.

Especialistas colocam que a esses movimentos associativos regionais que poderiam vir a ser um fator de reequilíbrio da ordem mundial, chegam a ser tentativas de constituição de alianças bilaterais, ditas “estratégicas” ou apenas conjunturais, entre países de regiões

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distantes, mas supostamente com características ou interesses também supostamente semelhantes.

Dentro dessa visão Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai cientes da necessidade de promover o desenvolvimento, bem como modernizar suas economias para ampliar a oferta e qualidade dos bens e serviços firmaram o Tratado de Assunção, em março de 1991. O MERCOSUL pode não ser um bloco ideal, mas se conforma como um passo histórico no processo de integração competitiva dos países da América Latina na economia mundial. Demonstra que diante do quadro de globalização, as nações da América Latina não poderão continuar isoladas, fragmentadas ou em atitude de confrontação, e hoje já adiciona a Venezuela como Estado membro internalizado pelo Brasil e como associados a Bolívia, o Chile, o Peru e o Equador.

Outro caminho que surge é a Aliança Bolivariana para as Américas que representa uma tentativa de integração econômica regional que não se baseia essencialmente na liberalização comercial, mas em uma visão de bem-estar social, troca e de mútuo auxílio econômico. Será a ALBA a resposta para nossas economias latinas?

O SISTEMA CONFEA/CREA, A EDUCAÇÃO E A QUESTÃO INTERNACIONAL

Para entendermos o porquê de o Sistema estar discutindo inserção internacional no 7º Congresso Nacional de Profissionais (CNP), voltamos ao ano de 2008 quando foi aprovado o Plano de Formulação Estratégica do Sistema Confea/Crea 2009/2011 que apresenta no Eixo 4: Integração Profissional e Social, cujo Objetivo 13 é Intercâmbio Internacional.

Como chegou a discussão de questões internacionais no Confea? O tema não é novo, já tinha sido ventilado na década de sessenta, pois o Plano Desenvolvimentista da Era JK trouxe ao país a figura do “estrangeiro” e sabiamente quando editada a Lei 5.19 de 1966 o artigo 2º expressava: “Art. 2º O exercício, no País, da profissão de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-agrônomo, observadas as condições de capacidade e demais exigências legais, é assegurado: a) aos que possuam, devidamente registrado, diploma de faculdade ou escola superior de engenharia, arquitetura ou agronomia, oficiais ou reconhecidas, existentes no País; b) aos que possuam, devidamente revalidado e registrado no País, diploma de faculdade ou escola estrangeira de ensino superior de engenharia, arquitetura ou agronomia, bem como os que tenham esse exercício amparado por convênios internacionais de intercâmbio; c) aos estrangeiros contratados que, a critério dos Conselhos Federal e Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, considerados a escassez de profissionais de determinada especialidade e o interesse nacional, tenham seus títulos registrados temporariamente”.

Mas só com o advento da globalização versus integração no final da década de oitenta é que o tema voltou a ser destaque na agenda do Confea,

em 1989, num fórum de discussão da legislação profissional no Brasil entre profissionais brasileiros e argentinos, que em 1992 recebeu o Uruguai e formou uma comissão denominada Comissão de Integração da Agrimensura, Agronomia, Arquitetura e Engenharia para o MERCOSUL (CIAM).

Coube, no Brasil, ao Confea a condução desta instituição, que hoje se encontra na vanguarda do processo de integração dos serviços profissionais no Cone Sul, com um arcabouço legal de trinta e seis resoluções, das quais se destacam código de ética, metas para intercâmbio de informações, serviços profissionais temporários, critérios únicos e de validade nacional e, comissões profissionais por especialidade. As maiores contribuições da Comissão são o documento sobre o mecanismo para o exercício profissional temporário, propondo que a mobilidade profissional seja implementada no MERCOSUL com as condições necessárias para o registro e o exercício profissional, respeitando os princípios de reciprocidade e consenso, bem como participando ativamente no processo de preparação das negociações como organização convidada de

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diversos fóruns governamentais e empresariais da área de Serviços do MERCOSUL, das comissões pró-ALCA (Associação de Livre de Comércio das Américas(ALCA) ou nos encontros precedentes às reuniões da Organização Mundial do Comércio(OMC).

Como se comportou o Sistema Confea/Crea nas discussões relacionadas à globalização, nos seus 75 anos de existência? Como viabilizar o intercâmbio técnico-científico, buscar o desenvolvimento e a valorização profissional, fortalecer a troca de experiências na área do ensino, discutir e estabelecer parâmetros e convênios que permitam a integração das atividades profissionais de diferentes países? Estas são algumas indagações que você deve verificar como as ações do Confea se tornam eficazes para o conseqüente acesso a mercados, especialmente na identificação de informações e oportunidades para os profissionais brasileiros.

Efetuando uma retrospectiva nas ações de integração gestionadas pelo Conselho Federal é notório que vem sendo desenvolvidas ações com diversas instituições internacionais, sendo a primeira delas a filiação, em 1999, à Federação Mundial das Organizações de Engenharia (FMOI), organização que possui mais de 90 instituições em todo o mundo. Além de participar de missões nas Convenções Mundial de Engenheiros, Convenções da União Pan-americana de Associações de Engenheiros (UPADI), discussões internacionais acerca do exercício profissional como as Jornadas sobre Acreditação de Cursos de Engenharia na Ordem dos Engenheiros de Portugal e apresentação de trabalhos em congressos técnicos, bem como divulgação da regulamentação , legislação e fiscalização do Sistema Confea/Crea.

Outra iniciativa importante do Confea no cenário internacional é a assinatura de convênios e protocolos com instituições estrangeiras para cooperação técnico-científica, intercâmbio de informações e tecnologias, troca de experiências no exercício profissional, na educação, processos de fiscalização. As parcerias realizadas entre Confea e a Ordem dos Engenheiros de Portugal, a de Moçambique e a de Angola e a União Nacional de Arquitetos e Engenheiros de Construção de Cuba seguem a linha da reciprocidade de tratamento de profissionais de Engenharia e Arquitetura consolidando o mercado para os brasileiros que lá exercem atividades, mas também abrem o campo para o exercício profissional nesses países e também espaço para que eles venham trabalhar no Brasil.

Ao analisar a matéria do ponto de vista de reciprocidade na educação, diante do processo de globalização acelerado, vê-se que os países estão em uma corrida para estabelecer cooperação a fim de promover a seus alunos, docentes e pesquisadores oportunidades para o crescimento profissional que se transforme em ganho para o país. Um exemplo claro disto é o Tratado de Bolonha, é o que alguns chamam "jogo da educação" onde a ciranda financeira opera livremente, segundo opinião de especialistas, e o Brasil não pode ficar de fora deste cenário. Será abrindo mercado para a mercantilização do Ensino Superior que iremos conquistar espaço? Ou será melhor nos pautar em acordos de cooperação que tragam benefícios para nossos estudantes no exterior e, também, nos tornemos atraentes para que estudantes estrangeiros venham ao Brasil interessados no conhecimento que temos a oferecer e, futuramente como profissional podermos fixar um modelo de reciprocidade!

É sabido que existe a dificuldade da revalidação de diplomas e reconhecimento de créditos que impossibilitam essa troca de experiências, além disso, o domínio de um idioma estrangeiro também é outro entrave para a internacionalização. Torna-se muito difícil que as próprias IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) consigam promover mobilidade entre seus alunos sem que eles precisem retroceder em seu processo de aprendizagem. Outro ponto levantado é a necessidade de um estreitamento nas relações com os países vizinhos a respeito da cooperação. Especialistas dizem que o Brasil se mantém muito ocupado tentando estabelecer acordos com os Estados Unidos e a União Européia, é claro, importantes do ponto de vista do desenvolvimento, mas que ignora as

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possibilidades com os pares da América Latina, sendo que existe, sim, muito a ser feito e a ganhar com essas cooperações.

Vale destacar que para ocorrer a mobilidade se faz mister uma serie de elementos que antes de mais nada são impostas pelas normas internacionais ou seja, para que um tratado seja válido internamente, basta que preencha todos os requisitos de validade contudo, não basta que um tratado seja válido para que o mesmo seja eficaz e produza seus efeitos no ordenamento interno.Nesse sentido, é possível que uma norma válida internacionalmente não seja eficaz internamente, não conseguindo, assim, produzir os efeitos desejados.

Há de se verificar que toda e qualquer norma internacional deve ser internalizada, isto é, quando o Confea assina um protocolo de intenções com uma congênere internacional, este documento só será transformado em acordo de reconhecimento recíproco com a anuência das autoridades governamentais e, após isto, poderá surtir efeito legal no que diz respeito ao exercício profissional de estrangeiro nos países signatários.Um exemplo disto é a norma Exercício Profissional Temporário regulada pela Decisão n º 25 do Conselho Mercado Comum do MERCOSUL, internalizada por meio do Decreto Legislativo nº 347, de 2008, de 24 de dezembro de 2008.

O “Mecanismo para o Exercício Profissional Temporário”, implementado pelo ato internacional em epígrafe, dará importante contribuição à livre circulação de trabalhadores do MERCOSUL, dimensão primordial para a consolidação e o aprofundamento do processo de integração. Assim sendo, julgamos que o ato internacional em debate, na medida em que promove a dinamização do comércio de serviços, bem como a livre circulação de trabalhadores no âmbito do bloco, tem amplo mérito. Saliente-se, por último, que do ponto de vista constitucional, jurídico e regimental não há reparos a fazer à propositura em comento.

DESAFIOS PARA O BRASIL

Para lidar com as profundas mudanças vividas na transição do milênio, colocam-se novas exigências quanto ao papel dos distintos agentes econômicos, governamentais e da sociedade em geral, bem como se apresentam novas demandas para políticas e instrumentos de regulação, tanto públicos, como privados.

É premente a formulação de novas estratégias e alternativas de desenvolvimento, em níveis mundial, nacional e local, para trabalhar com os desafios sugeridos, exigindo novos modelos e instrumentos institucionais, normativos e reguladores que sejam capazes de solucionar questões que se apresentam diante da emergência da era do conhecimento e do padrão de acumulação dominado pelas finanças. Devem-se considerar também as mudanças associadas aos novos mecanismos de governança em nível mundial, que incluem as condições estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras instituições e agências internacionais.

A internacionalização traz benefícios para todos, mas o processo não evoluirá sem a conjugação de esforços entre sociedade, setor empresarial e governo. No que concerne ao papel da sociedade ocorreu uma verdadeira revolução no modelo mental antes predominante, no qual a internacionalização significava criar empregos em outros países e ser mais competitivo. No lado empresarial, houve uma significativa evolução nos objetivos estratégicos, um grande movimento para ganhar capacidade competitiva e coragem para enfrentar novas realidades. Já o governo, vem com uma presença mais marcante e um discurso cada vez mais intenso nos vários fóruns internacionais, além de imprimir algumas medidas fiscais de incentivo.

No passado, os investimentos das empresas brasileiras no exterior tinham como objetivo o aproveitamento de benefícios em paraísos fiscais. A busca de ganhos de competitividade e ampliação de mercado é o motivador atual. O primeiro passo no

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processo de internacionalização é começar a exportar, associado a um esforço comercial, mas que pode ser a mera replicação do modelo local. Tornar-se efetivamente internacional exige mudanças em toda a organização para entender e aprender sobre a diversidade do mundo.

O governo brasileiro para incentivar o comércio exterior estabeleceu condições bastante favoráveis para empresas brasileiras e multinacionais com operações no país disputarem fatias do mercado internacional de outsourcing (é a transferência das atividades conhecidas como atividades meio, e nunca as atividades fins (produto final), para uma empresa terceirizada), que tem como principais players Índia, China, Filipinas, Rússia e outras economias emergentes.

Ainda que as principais dificuldades para a inserção internacional derivam de questões internas, paralelamente às medidas de desoneração tributária e de capacitação, outras frentes devem ser abertas com o intuito de promover a marca Brasil no exterior. Essas iniciativas devem levar em conta as características do setor, em que predominam empresas de capital nacional de médio e grande porte e empresas de capital estrangeiro, já plenamente inseridas em operações globais.

Outras iniciativas externas que poderiam favorecer o posicionamento das empresas brasileiras é a implementação de uma agenda de política comercial direcionada à promoção de acordos de serviços. Essa agenda comercial para o setor deveria combinar estratégias de negociação de acordos bilaterais e regionais com uma consistente atuação na OMC, onde, ao lado da Índia e de outros países em desenvolvimento, há espaço para a criação de coalizões do tipo G-20. Além de assegurar acesso a mercados e transparência nos principais mercados, ao influenciar as discussões sobre o tema em fóruns internacionais, o Brasil se firmaria como player no setor, promovendo de maneira singular a marca Brasil no exterior.

Diante da crise mundial você acha que ela representa, em si, o maior desafio para o processo de integração? A queda da demanda mundial e a ausência de crédito estão contribuindo para o acirramento do protecionismo? Será que pode se converter no maior perigo para o processo de integração entre os países? São indagações que deixamos para reflexão.

O MERCOSUL é uma região que gosta de desperdiçar chances e potenciais. Num bom momento de crescimento econômico em todos os países, alguns deles perdem tempo com populismo, ou reeditam conflitos ultrapassados e riscos antigos. O relançamento do MERCOSUL em bases tão nitidamente políticas será um equívoco e poderá ter um custo econômico para o Brasil? O bloco só terá condições de sobreviver na medida em que consiga viabilizar-se economicamente? Alguns colocam que o substrato econômico e comercial se não avançar, de nada adianta traçar planos grandiosos nos terrenos político ou social, que o edifício não se sustenta.

O desconhecimento da existência de profissionais treinados para simular e implementar mudanças em tecnologia e a falta nacional de reconhecimento e de garantia de qualidade e controle de programas de educação em engenharia são grandes desafios.

ANALISANDO AS OPORTUNIDADES

A internacionalização das grandes empresas brasileiras já está acontecendo. Quando analisamos a participação brasileira no mercado internacional por porte de empresa, percebemos que as grandes empresas representam mais de 90% do total exportado pelo país. O maior desafio do Brasil é o de aumentar a participação das pequenas e médias empresas no mercado internacional.

Quando avaliamos historicamente a corrente de comércio internacional brasileira, percebemos que o país encontra-se em constante evolução, saindo de US$ 108,9 bilhões em 1998, para US$ 281,2 bilhões em 2007. É fato que o Brasil vem exportando mais.

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Mas a grande questão é: como está a atuação brasileira comparada com a atuação dos demais países do BRICM, por exemplo? Enquanto o Brasil está exportando US$ 160 bilhões, a Índia está exportando US$ 140 bilhões, a Rússia US$ 365 bilhões, o México US$ 267 bilhões e a China US$ 1,2 trilhões.

Os países são desafiados de formas cada vez mais complexas a se inserirem de maneira competitiva no mercado internacional, a fim de conseguirem manter suas economias domésticas sólidas e prósperas; e ao mesmo tempo integradas na atual lógica internacional.

As oportunidades e os desafios são muitos. O Brasil dispõe de importantes potencialidades para capitalizar em seu favor, sobretudo por meio da correta identificação e aproveitamento de novos espaços que se abrem nesse período de transformações. Para tanto, deve ser capaz de articular e mobilizar forças em torno de um projeto nacional, bem como superar seus problemas estruturais – sobretudo as desigualdades sociais e regionais – que representam um pesado obstáculo a seu desenvolvimento.

Acima de tudo, recomenda-se a definição e implementação de novo projeto de desenvolvimento que reforce mutuamente a articulação entre política macroeconômica e política de desenvolvimento social, produtivo e, particularmente, de ciência, tecnologia e inovação, para uma inserção mais competitiva e autônoma, que assegure a coexistência entre o avanço do processo de globalização e a construção de bases produtivas modernas e dinâmicas e fortalecimento do capital social.

A agenda de oportunidades para o Confea na inserção internacional tem alguns pilares que já são notados, um é a aproximação com o governo, onde as demandas das negociações internacionais já colocam o Conselho Federal com interlocutor, a exemplo nas reuniões das comissões de monitoramento bilaterais que acompanham a evolução do comércio bilateral, tratam contenciosos comerciais, e estimula o entendimento entre representantes de entidades e/ou empresas do setor privado dos dois países com vistas a superar problemas pontuais. Essas Comissões identificam os países com os quais se devem dialogar e avançar em acordo de reconhecimento mútuo de profissionais e seus acervos técnicos com órgãos homólogos nesses países para que possamos fazer os contatos e incluir o tema na agenda bilateral com os países selecionados.

Ademais, no âmbito do MERCOSUL o Conselho Federal é reconhecido com organização responsável para elabora e firmar os acordos de reconhecimento recíproco para o exercício profissional na região. Com relação ao setor empresarial o Confea participa do Grupo de Serviços de Exportação de Bens e Serviços de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, reconhecido pelo governo e consultado nas questões voltadas às negociações internacionais, acompanhando o desenrolar das discussões no âmbito do MERCOSUL, ALCA, UE/MERCOSUL e OMC.

Muitas empresas brasileiras estão investindo em processos de internacionalização, criando suas próprias estruturas. Em um estudo feito pela Fundação Dom Cabral e pela Columbia University, intitulado “A Decolagem das Multinacionais Brasileiras”, encontramos as 20 principais multinacionais brasileiras: Vale, Petrobras, Gerdau, Embraer, Votorantim, Companhia Siderúrgica Nacional, Camargo Corrêa, Odebrecht, Aracruz Celulose, Weg, Marcopolo, Andrade Gutierrez, Tigre, Usiminas, Natura, Itautec, America Latina Logística, Ultrapar Participações, Sabó Indústria e Comércio de Autopeças e Lupatech.

A importância do intercâmbio comercial do Brasil com os sócios do Mercosul para a indústria brasileira reside na composição das nossas exportações. Essa composição evidencia uma contribuição especial de produtos industrializados. Em 2008, dos US$ 21,7 bilhão vendidos pelo Brasil ao Mercosul, os produtos industrializados representaram 95% do total.

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Na segunda semana de novembro de 2009, a revista britânicaThe Economist reservou a capa para o Brasil. Com o título "O Brasil decola", a publicação analisa em uma série de reportagens a rápida recuperação da economia brasileira em meio à crise econômica mundial, e diz, em editorial, que o País finalmente fez jus ao 'B' dos Brics, grupo de emergentes formado também por Índia, Rússia e China. A revista, no entanto, alerta que a arrogância pode ser o maior risco para a economia brasileira, a qual precisa de alguns cuidados para manter o crescimento.

A The Economist dedica uma atenção especial a aspectos que considera relevantes na conjuntura brasileira atual. Segundo a revista britânica, as sucessivas crises que atingiram a economia do País no passado tornaram seu sistema financeiro sólido, como ficou comprovado no final do ano passado, auge da crise econômica global.

De acordo com a revista, o Brasil difere dos outros Brics por ser uma democracia, ao contrário da China; não ter tensões étnicas em seu território, como é o caso da Índia; e, diferentemente da Rússia, ter uma pauta de exportações diversificada. Registra ainda, os prognósticos para a economia brasileira são bons devido à exploração do pré-sal e à demanda por alimentos e commodities vinda da Ásia. Em 2014, ano que a Copa do Mundo será realizada no Brasil, o País deve ser a quinta economia do mundo, à frente de Reino Unido e França. Então perguntamos, o Brasil decola?Isto não é uma oportunidade para o Sistema Confea/Crea?

CONCLUSÃO

Transformações significativas na sociedade também serão essenciais. O sistema educacional brasileiro não terá de ser aprimorado muito além do necessário para atender às necessidades atuais? E a infra-estrutura não deverá ter padrões de internacionais? Governo, leis e regulações deverão também assumir padrões internacionais e as políticas públicas adequadas deverão ser desenhadas e implementadas, não?

A inserção internacional do Brasil dificilmente poderia ocorrer a partir de processos puramente internos. A construção de uma política de alianças no plano externo para que a configuração do quadro diplomático brasileiro é necessária para começar a se inverter de modo mais favorável, o que acabou ocorrendo de maneira mais definitiva com os acordos que criaram o MERCOSUL.

Assim, o Confea consolida-se como uma instituição que busca a inserção competitiva, num mundo caracterizado pela consolidação de blocos regionais de comércio e no qual a capacitação tecnológica é cada vez mais importante para o progresso econômico e social, onde a melhoria das condições de vida dos habitantes da região deve ser estabelecida pela coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os países participantes, em termos de comércio exterior e política agropecuária, industrial, fiscal, monetária, cambial, de serviços, de transporte e de comunicações com a harmonização das legislações respectivas e a adoção de política comercial unificada com os blocos comerciais.

O processo de internacionalização exige investimentos significativos e tem retorno demorado. Os desafios estão em dois eixos: o da estratégia e o da preparação das pessoas. Tudo começa com o desenvolvimento de competência na formulação e na implementação da estratégia de negócio e de gestão. Vantagens competitivas tradicionais, como baixo custo de produção e acesso a matéria-prima e tecnologia, continuam sendo necessárias, mas não são suficientes?

O caminho do sucesso implica em que as organizações se desgarrem do passado para poder entender as novas realidades. Alianças, aquisições e integração são palavras que passam a ter significado mais amplo e mais complexo? Será preciso abrir nossas fronteiras e nossas cabeças para vislumbrar a contratação de estrangeiros pelas empresas brasileiras e enviar brasileiros para executar serviços no exterior?

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A internacionalização é um processo que exige mais do que ações para encorajar, mas também para promover, e necessita, acima de tudo, de liderança. A exigência é ser globalmente competitivo para evitar que o Brasil se restrinja ao papel de uma eficiente plataforma de transformação de matéria-prima. E você como líder não quer se comprometer com o processo? A nossa resposta deve única, não? Sim nós podemos!!!!!!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BAPTISTA, Luiz Olavo."O MERCOSUL - suas instituições e ordenamento jurídico". São Paulo: LTr. 1998.

BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 4. ed. Brasília: Unb, 1994.

BIZZOZERO, Lincon, GRANDI, Jorge. Havia uma sociedade civil del Mercosur: viejos y nuevos actores en el tejido subregional. Integración e Comércio, n.3, p. 33-50, Set./dic., 1997.

CALDAS, Ricardo W. Introdução à globalização: noções básicas de economia, marketing e globalização/Ricardo W. Caldas, Carlos Alberto A. do Amaral; Celso Bastos Editor. São Paulo, Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1998.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo:Saraiva, 1988.

FURTADO, C. O capitalismo global. São Paulo, Paz e Terra, 1998.

Jurisprudência da Corte que integra o livro de Antonio Boggiano, "Teoria del derecho internacional - Las relaciones entre los ordenamientos jurídicos". Buenos Aires: La Ley. 1996.

O Conselho e os Conselheiros, Manual dos Conselheiros. Brasília: Confea, 2005.

O futuro da indústria: as empresas de educação: coleção de artigos / Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Instituto Evaldo Lodi / núcleo central. - Brasília: MDIC / ITS: IEL / NC, 2006.

O Estadão, 'Economist' dedica capa à 'decolagem' da economia brasileiraquinta-feira, 12 de novembro de 2009.

PEÑA, Felix. El Mercosur y sus perspectivas: una opción por la inserción competitiv, Felix a mundial, conferencia proferida no Seminario sobre Las perspectivas de los Procesos de Integración Subregional en América Latina y América del Sur, Bruxelas, 4-5 de novembro de 1991 [mimeo. s.e.].

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro, Record, 2001.

SOARES,Carmem Eleonôra Amorim e outros.MERCOSUL e os Serviços Temporários. Brasilia: Confea, 1998.

TROVÃO, Antônio de Jesus. Artigo publicado no Boletim Jurídico de Uberaba-MG, em 25 de março de 2006.

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TÍTULO: “SUBSÍDIOS PARA A INTEGRAÇÃO DO SISTEMA CONFEA/CREA COM OS SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS”

Autor: Francisco Machado da Silva

Resumo Curricular: Engº. mecânico, engº. de segurança do trabalho, presidente do Crea-DF; foi conselheiro federal do Confea; foi coordenador nacional do CDEN; foi Secretario de Segurança e Medicina do Trabalho (MTE); fundador da ANEST; AIEST; ANDEST; OEAA; ATAB; ABRAEST; SECONCI-DF; Conselheiro Regional (15 anos);

Endereço: SQN 106, Bloco I, Apartamento 405 – CEP: 70742090 – Asa Norte – Brasília-DF – Tel. +55 61 3273-8975 / +55 61 3961-2802 – e-mail: [email protected]

RESUMO

A integração do Sistema Confea/Crea com os Sistemas Públicos e Privados só se fará de forma sustentável se for precedida de ações e práticas de Valorização Profissional e fortalecimento das organizações profissionais (entidades de classe), no âmbito do sistema Confea/Crea. Portanto é preciso criar mecanismos legais que garantam esses pressupostos. Este tema é um dos mais significativos para as discussões, pois é exatamente a finalidade precípua do 7º CNP, requerendo participação, entusiasmo, vontade política e capacidade de liderança. Há oportunidades na sociedade brasileira (Sistemas públicos e privados) para construirmos juntos as parcerias necessárias, que levarão o Brasil a ser a 5ª potencia mundial em 2016. Nossos profissionais valorizados e categorias fortes e organizadas sedimentarão essa integração sustentável, promovendo o Desenvolvimento Nacional. Um novo pensamento do Sistema é possível? Esse processo democrático (7º CNP) requer a participação de todos, mas principalmente dos Presidentes dos Creas, dos Conselheiros Federais e Regionais, dos Presidentes de Entidades Nacionais e Regionais, dos Coordenadores de Câmaras, Comissões e GT’s, pois esta liderança estará na linha da frente para organizar, motivar, discutir e propor e (mais na frente) acompanhar a homologação no Plenário do Confea (caráter deliberativo).

Palavras Chaves: Participação; Integração, Valorização Profissional, fortalecimento das organizações profissionais, desenvolvimento nacional.

TÓPICO 1: INTRODUÇÃO:

“Nós estamos cansados de ver pessoas formadas em engenharia virando analistas de banco, analistas de mercado (...) Houve uma transferência de uma profissão que é símbolo do desenvolvimento e de crescimento do país para uma função de mera especulação financeira ou de venda de ilusões”. (Luiz Inácio Lula da Silva).

Os textos referenciais do 7º CNP foram extraídos dos Objetivos Estratégicos do Sistema Confea/Crea que foram consensuados pelo universo profissional no transcurso dos processos de “FORMULAÇÃO ESTRATÉGICA”, realizados no triênio 2007/2009, no país, que são:

� Desenvolver ações orientadas para a integração dos Sistemas Profissional e de Formação;

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� Desenvolver ações de apoio à Educação Continuada;

� Concluir a aplicação do novo modelo de ART e Acervo Técnico em todo o país;

� Implantar as Diretrizes Nacionais de Fiscalização nos Creas;

� Operacionalizar a Resolução 1.010 e suas Matrizes do Conhecimento em todos os Creas;

� Promover a discussão nacional das questões referentes ao Desenvolvimento Sustentável;

� Implantar o Modelo de Excelência em Gestão em todas as organizações do Sistema;

� Desenvolver ações de Educação Corporativa no âmbito do Sistema;

� Desenvolver a unidade de ação e a sustentabilidade das organizações competentes do Sistema Profissional;

� Integrar programática e operacionalmente todas as organizações do Sistema;

� Integrar institucional e operacionalmente o Sistema Profissional com os demais Sistemas públicos e privados;

� Definir a política e a estratégia da Comunicação e do Marketing do Sistema Profissional;

� Promover a Inserção Internacional dos Profissionais e de suas organizações.

Estes 13 (treze) Objetivos Estratégicos do Sistema, por sua vez, foram ancorados em 5 (cinco) EIXOS REFERENCIAIS, a seguir:

• Formação profissional;

• Exercício profissional;

• Organização profissional;

• Integração profissional; e

• Inserção internacional.

Caberá a cada autor de texto referencial (Específicos e Gerais) elaborar conjunto mínimo de informações, de forma sucinta e didática, visando motivar a discussão, que redunde em “Proposições Finais de Metas e Projetos” para o horizonte de 2009 a 2014.

A finalidade precípua do 7º CNP é a “discussão e a definição de políticas estratégicas, planos e programas de atuação e à maior integração do Sistema Confea/Crea com a sociedade”, sendo que o tema central é: “Construindo uma agenda estratégica para o Sistema Profissional: desafios, oportunidade e visão de futuro”.

O foco do tema a mim proposto é abordar mecanismos legais e ferramentas sociais que intensifiquem a interação e integração entre nosso Sistema e a sociedade, que é uma das “Metas do Milênio” – Parceria.

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Esse é o desafio, que não é pequeno. A sociedade não reconhece (ainda) que nosso Sistema seja o pólo Formulador de Políticas Públicas no país. Mesmo que detendo 70% do PIB nacional a tecnologia representada no Sistema Confea/Crea não é ouvida pelos que traçam as políticas públicas neste Brasil. Esse é um dos 5 (cinco) paradigmas do Sistema Confea/Crea, desde nossa fundação há 76 anos atrás, que deve ser “quebrado” e vencido.

Para isso é preciso vontade política de nossas principais lideranças, coragem, trabalho duro e principalmente: a participação de nossos profissionais e entidades de classe nesse processo “de mão-dupla”.

Cabe ainda destacar que o 6º CNP, realizado em 2007 no Rio de Janeiro, cujo tema central foi “Pacto Profissional e Social” teve 45 (quarenta e cinco) Propostas Sistematizadas, que já foram homologadas pelo Plenário do Confea (caráter deliberativo), que merecem ser relidas e estudadas, dado a riqueza dos debates ali ocorridos.

Assim, mãos à obra, façamos proposições de metas e projetos referentes a este tema, a seguir tratado.

Após a leitura, gostaria de receber suas sugestões e críticas pelo e-mail: [email protected], para meu aprimoramento e crescimento profissional. Obrigado!

TÓPICO 2: IDENTIFICAÇÃO DO SISTEMA CONFEA/CREA E SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS.

Obviamente precisamos radiografar e dissecar cada ente acima, para entender e propor a integração sustentável entre as partes.

A. SISTEMA CONFEA/CREA/MÚTUA:

É constituído por cidadãos – profissionais, integrados às organizações tipo autarquias especiais, associações, sindicatos, órgãos consultivos, instituições de ensino e empresas, a seguir descritos, que busca a potencialização das partes, pela ação sistêmica, visando o aperfeiçoamento do exercício profissional, a defesa da sociedade, e o desenvolvimento sustentável da nação.

• Confea – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, é autarquia federal, criada pelo Decreto Federal nº 23.569/33 e consolidado pela Lei 5.194/66.

• Crea – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, é autarquia federal, criada pelo Decreto Federal nº 23.569/33 e consolidado pela Lei 5.194/66, constituído em 27 (vinte e sete) unidades da Federação.

• Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais dos Creas: Constituída da Mútua nacional (sede Bsb) e de 27 (vinte e sete) Caixas Estaduais, autorizada pela Lei Federal 6496/77 e criada pela Resolução do Confea 252/77.

• Organizações Profissionais (Entidades de Classe - Associativas e Sindicais), com amparo na Constituição Federal de 1988, Artigo 5º, inciso XVII e Artigo 8º.

• Instituições de Ensino: Criadas e mantidas pela iniciativa privada ou pelo Governo Federal, Estadual ou Municipal.

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• CP – Colégio de Presidentes: Órgão consultivo do Confea, criado pela Resolução 245/77, colegiado integrado por 27 (vinte e sete) presidentes de Creas.

• CDEN – Colégio de Entidades Nacionais: Órgão consultivo do Confea, criado pela Resolução 1011/05, constituído de 28 (vinte e oito) Entidades Nacionais (associativas e sindicais).

• CCEC – Coordenadorias Nacionais de Câmaras Especializadas dos Creas: Órgão consultivo do Confea, criado pela Resolução 245/77, integrado por 9 (nove) Coordenadorias Nacionais (Grupos/Modalidade/Especialidade).

• Crea-Jovem – Órgão consultivo do Confea, já instalado em 12(doze) Creas;

• Crea-Sênior – Órgão consultivo do Confea, já instalado em 3 (três) Creas.

• Cooperativa de Crédito – Instituição financeira, pertencente ao Sistema financeiro nacional, autorizada a funcionar e fiscalizada pelo Banco Central. Já instaladas em diversos Creas.

• Empresas de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, que realizem obras ou serviços nesse âmbito, devem ser registradas no Crea (jurisdição), bem como registrar a ART por essas atividades profissionais. São mais de 200.000 em todo o país.

B. SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS:

São Entidades/Órgãos/Empresas constituídos nos 3 Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário), nos 3 níveis federativos (União, Estados e Municípios), incluso o Ministério Público, Tribunal de Contas e Agências Reguladoras, em todas as ramificações pertinentes.

• A 2ª vertente deste pólo (Sistemas Públicos e Privados), são os Conselhos Profissionais Regulamentados, totalizando 28 Conselhos, congêneres do Sistema Confea/Crea.

• A!3ª vertente deste pólo, é constituída pelas ONG’s e OSCIP’s, aos milhares, em nosso âmbito profissional ou não, que integram as forças produtivas da sociedade.

• A 4ª vertente, são os Partidos Políticos, Empresas em geral, Mídia, em todas as ramificações, com expressivo poder de influência na sociedade e nos destinos pátrio.

• A 5ª vertente, são as Centrais Sindicais, Confederações, Federações, Sindicatos, Associações, nos âmbitos Patronais e dos Trabalhadores, nas áreas urbana, rural, marítima e aérea, que fazem parte da sociedade, com expressivo poder de influência.

• A 6ª vertente, são as instituições de ensino, institutos e academias de ciência e tecnologia, incluso a ABNT, que congrega o poder intelectual da sociedade.

• A 7ª vertente, são as entidades internacionais com sedes e filiais no Brasil, incluso as Embaixadas e Câmaras Comerciais, em toda a ramificação pertinente.

• A 8ª vertente, são todas as organizações locais tais como associações de bairros, em todos os níveis sociais, de gênero e espécie, aos milhares, que são as principais forças e redutos dos políticos no país.

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TÓPICO 3: CONTEXTO DO SISTEMA CONFEA/CREA E SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS:

A - Sistema Confea/Crea (avanços, características, paradigmas, pressões, conflitos, ameaças e fragilidades):

A.1 – Avanços:

Após a maior revolução de nossa historia profissional (criação da ART e Mútua), destacamos a seguir os principais avanços a partir de 1978, que mechem no nosso “DNA” Profissional:

• Resolução 1010/05;

• SIC;

• Partilha da ART na origem (Creas);

• Capacitação e conhecimento técnico-cientifico de nossos profissionais;

• Maior Conselho Profissional do Mundo (até que se prove o contrário).

A.2 – Características diferenciadas do Sistema Confea/Crea:(*)

• As peculiares características multiprofissional, multiinstitucional e multinível, que o diferencia de todos os demais “congêneres” tanto no Brasil como no exterior;

• A multiinstitucionalidade o situa como um verdadeiro “sistema de organizações” – sindicais, associativas, educacionais e autárquicas -, exigindo gestões empreendedoras, eficientes e criativas para a viabilização de sua indispensável eficácia;

• A multiprofissionalidade, representada pelos mais de 290 diferentes títulos do Sistema, em contínua expansão, é um atestado eloqüente da penetração capilar de suas profissões regulamentadas no tecido político, social e econômico da nação, caracterizando-se por isso como fator dinâmico do desenvolvimento nacional, sendo efetivo partícipe de mais de 70% das atividades geradoras do Produto Interno Bruto;

• Como um Sistema multinível, ele abrange praticamente todas as etapas atuais de formação profissional nas diferenciadas áreas de sua abrangência, conformando assim uma complexa e hierarquizada estrutura de trabalho que requer um apurado controle da intensa interação das profissões regulamentadas a ele submetidas;

(*) Extraído em parte do livro: “Código de Ética Profissional Comentado”.

A.3 – Paradigmas:

Nosso Sistema carrega um fardo histórico (cinco paradigmas) desde a fundação (1933):

• Os “profissionais” estão distantes do Sistema (apenas cerca de 8% - média nacional – participam das eleições);

• A “sociedade” não nos reconhece como pólo formulador de políticas públicas (participamos com 70% do PIB Nacional);

• A Ética Profissional não desenvolve a contento seu papel junto aos profissionais e sociedade (somos criticados pelo corporativismo e lentidão);

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• Os Estudantes de nossas categorias estão distantes do Sistema (o Crea-Jovem foi criado para quebrar esse paradigma, ainda não conseguiu);

• O 5º paradigma: “O Sistema Profissional a reboque do Sistema de Ensino”, foi “quebrado” e vencido com a Resolução 1010/05. Esta foi a maior Revolução do Sistema nos últimos 30 anos.

A.4 – Pressões:

São cada vez maiores as pressões dos que preconizam a divisão do atual Sistema Confea/Crea em vários Sistemas Uniprofissionais, com as seguintes alegações:

• “A crescente complexidade e dispersão do SISTEMA ATUAL, que compromete irremediavelmente sua eficácia;

• O grande desejo e o presumido direito de algumas categorias integrantes do Sistema atual de ASSUMIREM SEU ESPAÇO PRÓPRIO E PROTAGONIZAREM COM INDEPENDÊNCIA SEUS PAPÉIS;

• O entendimento de que essa separação propiciará, a cada um dos Sistemas resultantes, melhores condições de atendimentos às DEMANDAS SOCIAIS;

• A visão distorcida dos PAPÉIS e das FUNÇÕES SOCIAIS de um SISTEMA PROFISSIONAL;

• Fisiologismo de grupos e a influência de lideranças, face à omissão ou o comodismo da maioria”.

A.5 – Conflitos

• Atribuições Profissionais:

Como defini-las e fiscalizá-las para o complexo das Categorias, Modalidades e Especialidades, distribuídas em 3 “TRONCOS” e em 3 diferentes níveis de formação?

• Representação:

Como tratar as representações de categorias, modalidades e especialidades: paridade ou proporcionalidade? Como tratar as Entidades e Instituições de Ensino? Em que proporções? Em que limites?

Como tratar a Representação direta dos profissionais no Sistema Confea/Crea/Mútua? Eleições com chapas? Em todos os níveis? Em toda a estrutura?

• Integração:

Como integrar socialmente os vários níveis e as diferentes categorias legalmente vinculadas a mesma estrutura de trabalho profissional?

• Ética, Salário Mínimo, Honorários:

Como compatibilizar com os princípios da ética as lutas pessoais e classistas por uma melhor remuneração, tendo em vista tanto as peculiaridades regionais e profissionais?

A.6 – Ameaças

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Todos os Sistemas Profissionais Regulamentados no país, exceto a OAB, estão ameaçados de sobrevivência, pela insegurança jurídica quanto à atualização das Anuidades, que devem ser regidas por Lei e não por Resolução.

Com referencia ao nosso Sistema, a outra ameaça que nos ronda á a atualização da ART, pelos mesmos motivos acima.

A.7 – Fragilidades:

A principal fragilidade do Sistema Confea/Crea está na sustentabilidade no âmbito dos Creas (Região Norte, principalmente) e das Entidades de Classe, pela ausência de Legislação especifica para o Fundo de Sustentabilidade do Sistema, bem como ausência de mecanismos de partilha de ART na origem, para as entidades nacionais (Projeto de Lei a ser elaborado).

Com referencia às Entidades de Classe Regionais, deve-se repassar às mesmas de forma compulsória e mensal, taxas de 5%, 10% e 15% da ART ao se colocar no “campo da ART”, o código da entidade (Aprovado no 6º CNP).

Cito ainda outras fragilidades: insegurança jurídica na Legislação da Mútua; fragilidade gerencial (excelência e qualidade) no Sistema; entidades nacionais e estaduais fracas (sempre com “pires” na mão); conflito de atribuições profissionais; ausência de registro de Instituições de Ensino, bem como registro de Cursos das Instituições nos Creas (há exceções); ausência de notificação nos Entes Públicos por falta de ART de cargo e função; dicotomia legislativa para o registro de professores de nossas profissões nos Creas; lentidão e burocracia excessivas no Sistema; centralização excessiva; ausência de profissionalismo no âmbito do Sistema.

É obvio que sempre há exceções à regra geral.

B – SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS (DESAFIOS E OPORTUNIDADES).

O mundo está em transformação, requerendo mudanças e respostas rápidas e eficazes por parte dos Entes Públicos e Privados, em beneficio da sociedade. O Brasil já é a 8ª economia mundial e em 2016 será a 5ª potencia econômica. No Brasil já há sinais de abertura e reconhecimento de que não se faz desenvolvimento nacional sem a engenharia, arquitetura e agronomia, palavras do próprio presidente da república.

As oportunidades estão se potencializando com a descoberta do pré-sal no país (seremos o 6º maior produtor de petróleo do mundo em 2015), na realização da copa 2014 em 12 cidades brasileiras e as olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, que sem dúvida alavancarão enormes oportunidades e investimentos, como nunca, de forma associada, de crescimento e desenvolvimento nacional.

O Brasil exerce grande influencia mundial no campo diplomático e comercial como porta-voz dos países emergentes na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio.

Possui, com abundancia, os 3 (três) principais elementos e recursos de sustentabilidade que são: energia, água e alimento. É nesse contexto que se erguem os Entes Públicos e Privados no país, requerendo dos mesmos mudanças de comportamento nos âmbitos do planejamento, administração de excelência, qualidade, produtividade, competitividade e ousadia. O que já mudou (e está mudando) nesse contexto?(*)

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• A Constituição de 1988 permitiu ao Brasil criar uma ampla rede de proteção social, com forte impacto na redução da pobreza e na distribuição de renda.

• Ganham relevância a agenda ecológica e a redução das diferenças econômicas e sociais.

• Os investimentos em tecnologia de ponta nas últimas décadas colocou o Brasil entre os países mais competitivos do agronegocio no mercado internacional.

• Em 2008 ocorreu a maior crise econômica pós – 1929. Passados 80 anos, o mundo se vê no centro de um novo furacão econômico, com impacto social sem precedentes.

• O Brasil até então fechado em suas fronteiras, “abre as portas para as nações amigas”. Entramos na competição dos mercados mundiais de bens e serviços. Estamos agora produzindo bens e serviços da mais moderna tecnologia. A reação interna precisa ser rápida para fazer frente aos efeitos chocantes de uma globalização vertiginosa.

• Cai o muro de Berlim. Não é exatamente uma vitória do capitalismo clássico sobre o socialismo. Antes, uma vitória da cidadania sobre o Estado totalitário. Também cai o apartheid. As ideologias fundadas no século XIX e experimentadas no século XX já não fazem mais sentido.

• Os futurólogos da guerra fria previam um mundo dividido em dois grandes blocos de Estados mundiais para o século XXI. Pelo contrário, nunca na historia houve tantas nações como temos hoje. Apenas as fronteiras tornaram-se mais facilmente transponíveis. As guerras pela autonomia nacional e étnica se intensificam em quase todos os continentes.

• Nossos tradicionais adversários do Mercosul hoje são nossos parceiros comerciais.

• O Estado brasileiro passa a se retirar dos setores produtivos. Inaugura-se o processo das privatizações com uma vigorosa entrada de capitais e tecnologias estrangeiras. O Estado-produtor, principal patrão de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos, reduz-se significativamente tanto na esfera Federal, como nas de Governos Estaduais e Prefeituras.

• O conceito da relação de trabalho fundada no emprego passa a ser reformulada. Fala-se muito freqüentemente em mercado de oportunidades. O profissional já não é mais visto como mero trabalhador subordinado, mas como unidade produtiva autônoma. A relação empregatícia: capital + trabalho = produção, supera-se conceitualmente pela fórmula: capacidade + oportunidade = sucesso.

• A era das comunicações está montada na telefonia celular móvel e na Internet. A Internet é a fonte principal de comunicação entre indivíduos e grupos, e ao mesmo tempo, trás as informações em tempo real. Isto nunca aconteceu antes. O Site é a entrada e a saída das informações.

• A relação do profissional com seu cliente passa a ser regulada também pelo Código de Proteção ao Consumidor. Novos princípios de relacionamento contratual devem ser observados em favor do cliente, sobretudo no que concerne à qualidade dos serviços.

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• Funções tradicionais da administração pública vêem sendo substituídas progressivamente pelas ONG’s, OSCIP’s e agências reguladoras. Emerge o chamado Terceiro Setor.

• Os meios de produção, hoje, são indissociáveis da informática. Práticas profissionais e mesmo profissões tradicionais estão desaparecendo. O especialista e o generalista perdem o terreno. Sobressai-se o profissional polivalente.

• Até o clima mudou. E isto constitui desafios para a Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

(*) Extraído (parte) do texto referencial de Jaime Pusch (Valorização Profissional).

TÓPICO 4: VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL E SUSTENTABILIDADE DAS ENTIDADES DE CLASSE

No tópico anterior discorremos sobre paradigmas, pressões, conflitos, ameaças e fragilidades do Sistema Confea/Crea, bem como sobre os desafios e oportunidades que o mundo globalizado oferece ao país por meio dos Entes Públicos e Privados.

A incapacidade até agora demonstrada pelo Sistema Confea/Crea em administrar esses conflitos é a principal responsável pelo reduzido grau de eficácia do Sistema Profissional em interagir e integrar-se aos Sistemas Públicos e Privados. Porque?

Não haverá integração sustentável sem a pratica da valorização profissional e do fortalecimento das Entidades de Classe (organizações profissionais). Mas esse tema será alvo de outro texto referencial no 7º CNP, mas que aqui tem interfaces com o tema a mim proposto.

Há propostas concretas para a prática da valorização profissional e fortalecimento das organizações profissionais que serão abordadas aqui (sucintamente) e de forma mais ampla, em outro “texto”.

Todo esse processo inicia-se com a PARTICIPAÇÃO (essa é a principal “chave”). Sem participação não iremos construir uma Agenda de integração com a sociedade.

Há 5 “Palavras Mágicas” para quebrar a inércia e iniciar o processo de construção, interação e integração dentro do Sistema Confea/Crea (7º CNP) e à maior integração com a sociedade (Entes Públicos e Privados):

1ª PALAVRA CHAVE:

PARTICIPAÇÃO: Não adianta apenas criticar e ficar “atirando pedras”, mas é preciso ter responsabilidade e “entrar” no Sistema, propondo medidas que venham operar as mudanças que precisamos. O “Eu sozinho” é substituído por “Nós podemos”. É um conjunto de idéias e ações que alavancam as mudanças. A humildade também faz parte desse processo de quebra de paradigmas.

2ª PALAVRA CHAVE:

INTERAÇÃO: É preciso discutir cada tema no 7º CNP e demais iniciativas do Sistema Confea/Crea, iniciando-se em sua entidade de classe e câmara especializada do Crea, que são os eventos precursores.

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Só assim teremos densidade, qualidade, comprometimento, crescimento, credibilidade e sustentabilidade. “O riacho corre para o rio, que corre para o mar, que corre para o oceano”.

3ª PALAVRA CHAVE:

ESTUDAR: É preciso estudar, refletir, pesquisar, analisar, fazer retrospectos e discutir o tema, pois a construção propositiva requer aprofundamento e conhecimento do “ponto” e “contra-ponto” (prós e contras), observando o passado e vislumbrando o futuro.

4ª PALAVRA CHAVE:

ENTUSIASMO: As mudanças só se farão com entusiasmo, sacrifício, amor, perseverança, vontade política, determinação, obstinação, trabalho duro, competência, tudo isso de forma associada e coletiva.

Nesse processo democrático (7º CNP) requer a participação de todos, mas principalmente dos Presidentes dos Creas, dos Conselheiros Federais e Regionais, dos Presidentes de Entidades Nacionais e Regionais, dos Coordenadores de Câmaras, Comissões e GT’s, pois estes estarão na linha da frente para organizar, motivar, discutir e propor e (mais na frente) acompanhar a homologação no Plenário do Confea (caráter deliberativo).

5ª PALAVRA CHAVE:

LIDERANÇA: A implementação dessas medidas não poderá prescindir de uma firme vontade política aliada a uma reconhecida capacidade de liderança, ancorada nos princípios do interesse público, qualidade, responsabilidade, compromisso profissional e social.

Finalizando, devemos envolver ainda os candidatos às eleições de 2010 no país, visando comprometê-los com as Políticas Públicas no âmbito do Sistema, imprescindíveis para as mudanças no Brasil, que envolvem nossas categorias profissionais, destacando-se: desenvolvimento sustentável, educação de qualidade, ciência, inovação tecnológica e soberania nacional.

TÓPICO 5: INTEGRAÇÃO DO SISTEMA CONFEA/CREA COM OS SISTEMAS PÚBLICOS E PRIVADOS (ESTRATÉGIAS E VISÃO DE FUTURO)

Para chegar a este ponto central do tema a mim proposto, necessitou-se de debruçarmos (autor e leitores) sobre o âmago (intestino) de cada Ente envolvido (Sistema Confea/Crea e Sistemas Públicos e Privados), para entender e compreender os diversos agentes, visando propor no 7º CNP, de forma inteligente e racional, MEDIDAS EFICAZES para operar as mudanças que queremos, isto é, dar o “remédio certo para o doente”.

Assim dissecamos e identificamos os diversos agentes que compõe os referidos Entes (“Tópico 2”); explicitamos os paradigmas, conflitos, pressões, ameaças e fragilidades do Sistema Confea/Crea, bem como desafios e oportunidades dos Sistemas Públicos e Privados (“Tópico 3”); e demonstramos que só haverá integração sustentável entre estes Entes, se houver Valorização Profissional e Fortalecimento das Organizações Profissionais, (“tópico 4”).

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Então na verdade concluímos que: é preciso fortalecer-se para integrar-se e não o contrário. Só assim haverá sustentabilidade. Esse é o maior desafio hoje do Sistema Confea/Crea.

Pode ser feito de forma paralela, isto é, vamos fortalecendo e simultaneamente integrando as partes? SIM. A seguir, apresento subsídios para a valorização, fortalecimento (Organizações Profissionais) e a integração dos Entes, em tela. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto já que o fórum para isso é o 7º CNP. A seguir apresento os subsídios:

• Propor Projeto de Lei para repassar 5% das ART’s para as Entidades Nacionais (a ser subtraída dos atuais 35%, repassados compulsoriamente para a Mútua e Confea);

• Implementar ação política para que o Sistema Confea/Crea participe do “Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social”, Órgão consultivo da Presidência da República (já estão lá 12 organizações, entre elas: CUT e CBIC), (participamos dos 70% do PIB);

• Criar Frentes Parlamentares em todas as Assembléias Legislativas (Estaduais e DF) e Câmaras Municipais, “pela valorização da Engenharia, Arquitetura e Agronomia”. Já foram criadas no DF e Minas Gerais. A nível nacional já foi criada a Frente Parlamentar pela Engenharia, Arquitetura e Agronomia na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. O objetivo é aprovar Leis e PEC’s para fomentar as mudanças que queremos, no Sistema e no país;

• Elaborar e propor “Cartilha” de Projeto de Nação, visando as futuras mudanças nos Estatutos dos Partidos Políticos e na Constituição Brasileira. O objetivo é implementar Políticas Públicas de Desenvolvimento Sustentável para o Brasil 2016 (5ª potencia econômica mundial);

• Elaborar Projetos de Leis estabelecendo porcentagens maiores no orçamento da União, Estados e Municípios, para a educação, ciência e tecnologia (inovação);

• Elaborar Projetos de Lei para a preservação e soberania da Amazônia;

• Implementar parcerias com o Ministério Público e Tribunais de Conta, em todo o país.

• Fortalecer (e criar) Fóruns de Entidades de Classe Regionais e de Conselhos Profissionais, bem como do Crea-Jovem e Crea-Sênior (Valorização Profissional);

• Implementar (e criar) ONG’s e OSCIP’s de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, pela valorização de nossas categorias (já foram criadas no DF e SP) (OEAA);

• Implementar (e criar) Academias de Letras, no âmbito da Engenharia, Arquitetura e Agronomia (já foram criadas no DF, PE, SC); (Valorização Profissional). (ATAB).

• Implementar a propaganda institucional como caminho de disseminação da cultura institucional, (avessa aos personalismos e cultos à personalidade) e engajada na disseminação da engenharia, arquitetura e agronomia.

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“O Brasil precisa deixar de ser o país das oportunidades perdidas” – João Paulo dos Reis Veloso.

TÓPICO 6: CONCLUSÃO (VISÃO DE FUTURO)

Nosso Sistema passou por 3 (três) revoluções que ancoraram nossas esperanças e nos dão combustível para avançarmos:

• Criação da ART;

• Criação da Mútua;

• Aprovação da Resolução 1010/05.

Qual será a próxima revolução no Sistema Confea/Crea? Que Sistema queremos? Que país queremos? As páginas estão em branco. Vamos escrever juntos, com participação, o nosso futuro?

ESSE É O MAIOR DESAFIO DO 7º CNP.

Afinal qual foi o retrato do Sistema Confea/Crea nestes últimos 30 anos (pós ART e Mútua)? Que metas alcançou? Que projetos de desenvolvimento escolheu? Quais foram os resultados obtidos? E como tratou as questões dos profissionais, das entidades e da sociedade? O que perdeu? O que ganhou?

Esse retrato é possível fazer, conforme relato (de forma sucinta) nos tópicos anteriores. Qual será o retrato do Sistema Confea/Crea daqui a 30 anos, em 2040? Que metas podem ser alcançadas? Que planejamento pode ser feito? Que conjunto de medidas deverá ser seguido? Será que esta geração de profissionais está apta a promover esse debate? Um novo pensamento do Sistema é possível? Pensamento esse que não poderá seguir premissas prontas, modelos concebidos como receitas; mas sim pensamentos concebidos pelas forças das entidades de classe e profissionais do Sistema, envolvendo todas as correntes, que tenham como base ações e metas de médio e longo prazo. Dessa formas as respostas emergirão de um profundo debate com as mais importantes lideranças do Sistema, que irão nortear a estratégia do novo Sistema Confea/Crea, visando a valorização profissional, fortalecimento das organizações profissionais e a integração sustentável com a sociedade, para construir um novo Estado Brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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4. CASALI, Alípio. Ética, valorização Profissional e Projeto Brasil. In textos Referenciais ao IV CNP. Foz do Iguaçu, Confea, 2001.

5. BOFF, Leonardo. Ethos Mundial. Brasília, Letraviva Editorial Ltda., 2000, 165 p. 6. BLASI, João Henrique. Responsabilidades Profissionais. Florianópolis, Crea/SC,

1984, 32 p. 7. SAGAN, Carl.Bilhões e Bilhões – Reflexos sobre a Vida e Morte na Virada do

Milênio. São Paulo. Companhia das Letras, 1998, 265 p.

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8. MACEDO, Edison Flavio. Planejamento Institucional dos Conselhos Regionais. Florianópolis, Crea/SC. Editora Papa Livros, 1996. 150 p.

9. MACEDO, Edison Flavio. Sistemas Profissionais e Sociedade. Florianópolis. Edição do Autor, 1991. 112 p.

10. MACEDO, Edison Flavio. Manual do Profissional. 4ª Edição/Confea. Florianópolis, Edição do Autor, 1999. 199 p.

11. MACEDO, Edison Flavio. Cenários ao Alcance de Todos. Brasília. Confea, 2003, 76 p.

12. PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Elementos para uma Política de Valorização Profissional. Florianópolis, Crea/SC, 1985. 33 p.

13. PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Manual do Formando. Florianópolis/SC, Crea/SC, 1987. 60 p.

14. PUSCH, Jaime Bernardo de Carvalho. Sobre uma Política de Valorização Profissional. In Textos Referenciais ao IV CNP. Foz do Iguaçu, Confea, 2001.