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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE MATEMÁTICA LANTE – Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-CONSTRUTIVISTA COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA AFETIVIDADE EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FRANCISCO CARLOS PEREIRA POLO CUBATÃO/SP 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE MATEMÁTICA

LANTE – Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino

A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-CONSTRUTIVISTA COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA AFETIVIDADE EM EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

FRANCISCO CARLOS PEREIRA

POLO CUBATÃO/SP2010

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FRANCISCO CARLOS PEREIRA

A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-CONSTRUTIVISTA COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA AFETIVIDADE EM EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA

Trabalho Final de Curso apresentado à Coordenação do Curso de Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista Lato Sensu em Planejamento, Implementação e Gestão de EAD.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________Prof. Nome - Orientador

Sigla da Instituição

______________________________________________________________Prof. Nome

Sigla da Instituição

______________________________________________________________Prof. Nome

Sigla da Instituição

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Este trabalho configura a conclusão do curso de Especialização Lato Sensu em Planejamento, Implementação e Gestão de Educação a Distância. Este trabalho foi desenvolvido parcialmente em grupo, visto que o autor deste trabalho o desenvolveu juntamente com os brilhantes alunos César Antônio Zangrande, Francisco Itamar da Silva Gisela de Barros Alves e Joacir Carvalho Leite. Cada um dos quatro integrantes do grupo inicial teve a oportunidade de analisar individualmente os dados coletados pelo grupo e concluir as atividades propostas de acordo com sua realidade.

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Dedico esta monografia à minha esposa e filhos pela paciência, compreensão, admiração, respeito e incentivo ao meu esforço profissional neste e em muitos momentos de minha vida

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Agradeço a Deus, nossa fonte suprema de força e inspiração e a todos que, direta ou indiretamente, contribuiram para a realização desta monografia, especialmente ao amigo e companheiro de trabalho, Joacir Carvalho Leite, por sempre acreditar no meu potencial.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar como a tutoria focada no processo sócio-interacionista age como elemento potencializador da afetividade. Buscou-se conceituar a afetividade, o sócio-interacionismo, a afetividade no sócio-interacionismo, de modo a estabelecer uma relação direta sobre a importância desses três conceitos para a Educação a Distância (EAD). Foi utilizado um referencial bibilográfico que possibilitou observar que a tutoria focada no processo sócio-interacionista constitui elemento potencializador relevante para o desenvolvimento da afetividade nessa modalidade de ensino..

Palavras–chave: Afetividade, Sócio-Interacionismo, Tutoria.

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 08

1.1 JUSTIFICATIVA 09

1.2 OBJETIVOS 09

1.2.1 OBJETIVOS GERAIS 09

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 10

1.3– REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 1.4- METODOLOGIA 17

2 A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-INTERACIONISTA COMO POTENCIALIZADORA DA AFETIVIDADE EM EAD.

2.1 AFETIVIDADE : CONCEITOS 18

2.2 O SÓCIO-INTERACIONISMO 19

2.3 A AFETIVIDADE NO PROCESSO INTERACIONISTA 20

2.4 A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-INTERACIONISTA COMO ELEMENTO POTENCIALIZADOR DA AFETIVIDADE 22 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 24 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25

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INTRODUÇÃO

A Educação a Distância (EAD) vem se consolidando cada vez mais no cenário

educacional obrigando “alunos, professores e instituições a desempenharem novos

papeis no processo de ensino e aprendizagem” (Valente e Mattar, 2007, p.65).

Dentro desta concepção é de suma importância uma investigação quanto à

participação do tutor nos Sistemas de Tutoria em Educação a Distância, uma vez que é

nele que estão centradas as perspectivas de interação entre alunos e a instituição.

Para Vygotsky (1993, p. 25) a formação de questões afetivas e cognitivas estão

intimamente relacionadas. Para este autor, quem separa o pensamento do afeto nega de,

antemão, a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo.

Para Argento (2010,) o papel da interação social ao longo do desenvolvimento do

homem foi a ênfase do interesse de Vygotsky. Isto significa que o homem é herdeiro de

toda a evolução filogenética (espécie) e cultural, e seu desenvolvimento dar-se-á em

função de características do meio social em que vive. Donde surge o termo sociocultural

ou histórico atribuído nesta teoria.

Observando a “natureza social” do ser humano, que desde o berço vive rodeado

por seus pares em um ambiente impregnado de cultura, Vygotsky fez apologia ao

princípio de que o próprio desenvolvimento da inteligência é produto dessa convivência.

Para ele, “na ausência do outro, o homem não se constrói homem.” Neste sentido, nos

parece relevante destacar a questão da criação de vínculos afetivos nos Sistemas de

Tutoria na EAD, especialmente na tutoria a distância, como parte integrante do processo

educativo.

O tutor é uma peça indispensável no processo de orientação dos alunos de um

curso a distância (Peters, 2003, p.58), além da orientação tem como objetivo estreitar

laços de convivência e conhecimento junto ao grupo. No entanto, esta tarefa exige certa

complexidade em parte pela fase de transição da Educação presencial para a EAD que

está ocorrendo e em parte pela mudança de paradigma ocorrida com essa transição, que

na maioria das vezes ocorre de forma fria, e sem a observância dos referenciais de

qualidade em Ead do MEC, gerando um considerável índice de evasão nos cursos

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estabelecidos. Como estreitar laços de convivência estimulando a construção de

conhecimentos de forma colaborativa, quando falamos de grupos heterogêneos,

separados geograficamente, comunicando-se na maioria das vezes de forma assíncrona

num mundo plenamente acostumado à situação presencial? Nunan (1999:71) ressalta,

por exemplo que, embora a instrução mediada pela rede facilite a aprendizagem

independente e colaborativa e esteja em harmonia com a visão construtivista do

conhecimento, e embora ela ofereça um grande potencial para aqueles que aderem a

abordagens de aprendizagem construtivistas, centradas no aluno e colaborativas, não há

nada inerente ao meio virtual que conduza a isso. Com base nesta questão, pretendemos

discutir a construção de vínculos afetivos e os aspectos motivacionais dessa construção.

JUSTIFICATIVA

O geométrico crescimento da EAD , uma nova modalidade de ensino, com nova

dinâmica, num país de dimensões continentais como o Brasil, delineou novos cenários

educacionais. Alguns destes cenarios apresentam inquietações que merecem reflexões

por parte daqueles que estão envolvidos em projetos no campo da EAD. Por exemplo,

muitos alunos do contexto da EAD se queixam da impessoalidade e da falta de

afetividade na construção da aprendizagem, ocasionando uma taxa considerável de

evasão e quando não um prejudicial distanciamento pedagógico na relação tutor-aluno.

Torna-se necessário, portanto, analisar como a afetividade e seus aspectos

motivacionais constituem elementos relevantes para a construção da aprendizagem.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Pesquisar no sistema de tutoria a distância como se estabelecem as relações de

afetividade entre aluno e tutor, no que diz respeito ao vínculo e motivação para o

processo de construção do conhecimento.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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• Analisar o perfil de tutoria focada no processo sócio-interacionista,

buscando compreender se este referencial teorico pode ser um

potencializador da afetividade em curso a distância.

• Compreender a relação existente entre a afetividade nos Sistemas

de Tutoria e a evasão de alunos.

• Compreender quais as implicações da afetividade na tutoria a

distância;

• Analisar as implicações da afetividade na tutoria presencial;

• Analisar a relação existente entre as Tecnologias da Informação e

Comunicação (TICs) nos Sistemas de Tutoria e a afetividade.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA : CONCEITOS

A EAD representa uma nova modalidade de ensino, com nova dinâmica e está

tomando um espaço que antes era ocupado somente pela educação presencial. A imagem

do ensino convencional que se tem é aquela em que uma jovem professora entrava na

sala de aula e utilizando do quadro negro, passava o conteúdo programático aos alunos

com o uso de giz, lousa e apagador. Hoje, isso está mudando gradativamente e os

instrumentos que eram considerados padrões ao ensino são alterados, seguindo a

evolução da informática: o quadro negro tem virado uma tela de computador, o giz é o

próprio teclado e tudo pode ser apagado com o clicar de uma tecla. Entretanto, é

necessário destacar que a postura do docente e da instituição são primordias para dar este

outro tom a sala de aula. Ressalta-se, ainda, que mesmo com uma intensa utilização da

TICs no processo educacional, a sala de aula pode reproduzir as piores práticas do

ensino tradicional.

No contexto apontado acima, Moran (2000) afirma que a Educação a Distância

se refere ao processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, em que

professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. Esta modalidade de

ensino carrega algumas peculiaridades que a torna alvo de discussões mais específicas e a

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diferem da educação presencial. (Ruble, 1986 e Keegan, 1996 apud Seraphin, 2002)

citam algumas características que fazem com que a EaD pertença a outra categoria de

educação: o distanciamento geográfico; a retrocomunicação (troca nos dois sentidos); o

recurso a uma ou várias mídias; a disseminação em massa (ou sua possibilidade); o

isolamento relativo do aprendiz.

Segundo o Decreto nº 5622 de 19 de Dezembro de 2005, a EAD

Caracteriza-se como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades em lugares ou tempos diversos.

Diante dessa realidade, estão sendo implantados e oferecidos em todos os estados

e Distrito Federal do Brasil, gradativamente, cursos nessa modalidade seja na forma de

extensão, ensino técnico, graduação ou especialização, criando, assim, novas perspectivas

de aprendizagem e aperfeiçoamento no âmbito educacional, especialmente no ensino

superior. As iniciativas de criação de novos modelos de cursos que tem como base o

ambiente virtual ocorrem por parte dos poderes público e privado e com apoio da

legislação específica, já que este tipo de educação é reconhecido oficialmente pelo

Ministério da Educação (MEC).

Ao traçar diretrizes para a educação, em 1972 a UNESCO afirmou que

A educação deve ter por finalidade não apenas formar as pessoas visando uma profissão determinada, mas sobretudo colocá-las em condições de se adaptar a diferentes tarefas e de se aperfeiçoar continuamente, uma vez que as formas de produção e as condições de trabalho evoluem: ela deve tender, assim, a facilitar as reconversões profissionais (UNESCO, 1972)

Contando com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), a

Educação a Distância cria uma alternativa a mais para pessoas com dificuldade em se

adequar às exigências da educação presencial, possam dar continuidade aos seus

estudos. Estas pessoas com a vida cada vez mais corrida, com afazeres além do horário

tradicional de trabalho e a necessidade de cumprir compromissos familiares, são o alvo

de iniciativas no campo da EAD, pois esta modalidade é uma alternativa para dar

continuidade aos estudos, sem uma exigência de dias e horários para comparecer em

uma instituição de ensino presencial. Isso faz com que haja uma mudança de visão e

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prática em relação ao processo de construção do conhecimento, uma vez que alunos e

professores manterão um processo de comunicação e interação essencialmente virtual e

quase sempre de forma assíncrona.

Dessa forma, como bem afirma Moran (2005), o momento é de organização da

EAD e a necessidade é de se transpor as adaptações em relação ao que ocorre na

educação presencial. Para ele, nas interações on-line pode existir uma interação virtual

fria quando não se está familiarizado ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) em

uso. Decorre daí a necessidade de investir na afetividade para suprir a dita frieza dos

AVAs

A AFETIVIDADE : DEFINIÇÃO

“Os sentimentos modificam o pensamento, a ação e o entorno;

a ação modifica o pensamento, os sentimentos e o entorno;

o entorno influi nos pensamentos, nos sentimentos e na ação;

os pensamentos influem no sentimento, na ação e no entorno.”

José Antonio Marina

Para melhor demonstrarmos a importância da Afetividade na Educação a

Distância, é necessário entender sua definição.

Importa destacar que é possível pensar em EAD com outras carateristicas

que não apenas a frieza apontada pelo Moran. Segundo Valente (2002), o “estar junto

virtual” é a abordagem da educação a distância (EAD) que oferece maiores condições

para implantar situações de construção de conhecimento e exige o envolvimento, o

acompanhamento e o assessoramento constante do participante.

Ainda, segundo este autor, essa modalidade pressupõe uma situação-problema do

formador em relação aos participantes, para que eles possam iniciar, conjuntamente, a

interaprendizagem. É por intermédio dessas relações intersubjetivas que se produzem a

forma autêntica da reflexão e da ação. E é no ciclo pensar-agir e agir-pensar que essa

conunidade passa a refletir sobre o seu fazer diário.

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O que importa na interação é a troca e a busca de um objetivo comum, que terá

como resultado a construção do saber, que acontece por meio da colaboração coletiva e

do compartilhamento da informação entre os sujeitos. Portanto, a abordagem “estar junto

virtual” não representa o paradigma conducionista, tutorial, mas enfatiza as interações do

mediador com os participantes, priorizando sempre a construção do conhecimento, não

desmerecendo os aspectos afetivos presentes nesta construção.

Moran (2000) asserta que o afetivo é um componente básico do conhecimento e

está intimamente ligado ao sensorial e ao intuitivo. O afetivo se manifesta no clima de

acolhimento, de empatia, inclinação, desejo, gosto, paixão, de ternura, de compreensão

para consigo mesmo, para com os outros e para com o objeto do conhecimento.O afetivo

dinamiza as interações, as trocas, a busca, os resultados. O clima afetivo prende

totalmente, envolve plenamente, multiplica as potencialidades. O homem

contemporâneo, pela relação tão forte com os meios de comunicação e pela solidão da

cidade grande, é muito sensível às formas de comunicação que enfatizam os apelos

emocionais e afetivos mais do que os racionais.

Entendemos aqui um novo papel ao professor que, na condição de tutor, passa a

desempenhar importantíssima relevância , pois ele será o elemento que vai garantir aos

alunos uma interação e utilização do ambiente virtual do curso e, além disso, ser o elo

entre os alunos e todos os profissionais e recursos envolvidos na EAD.

Aqui temos como foco a atuação do tutor no processo de comunicação e interação

entre os alunos e o curso oferecido, utilizando-se para isto dos Ambientes Virtuais de

Aprendizagem (AVAs), não como um espaço só de comunicação, mas de troca de

experiências, construção do conhecimento e sobretudo como também uma possibilidade

de se estabelecer vínculos afetivos que permitam aos alunos fortalecer sua auto-estima e

vislumbrar uma aprendizagem realmente significativa e autônoma.

Nessa linha de entendimento, Freire (1983) afirma que somente na comunicação

tem sentido a vida humana e destaca que o pensar do educador somente ganha

autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela

realidade, portanto, na intercomunicação. Por isto, o pensar daquele não pode ser um

pensar para estes e nem a estes imposto.

Sendo assim, a afetividade apresenta-se como um elemento fundamental em todo

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o processo de ensino-aprendizagem. Belloni (2003) alega que a afetividade determina a

atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência vivida, promove os impulsos,

percebe os fatos de maneira positiva ou negativa, cria uma disposição indiferente ou

entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre a depressão e a euforia.

Borba (2006) concebe afetividade como a maneira através da qual as circunstâncias

existentes ao nosso redor nos afetam interiormente. Ainda segundo ele, a relação entre os

personagens que compõem a EAD é meramente mecanicista e cognitiva, causando

desestímulo e evasão de alunos. Nesse caso, convém pontuar que a comunicação escrita

é outro elemento importantíssimo na EAD e ela precisa funcionar de forma inequívoca,

sem que nossos sentimentos e pontos de vista gerem ruídos que desestimulam o aluno no

seu processo de aprendizagem (Anderson e Elloumi, 2004).

Com a utilização das TICs na EAD, as distâncias geográficas tornam-se quase

inexistentes e da mesma forma o problema temporal. Isto possibilita a produção da

informação e do conhecimento de forma criativa, aumentando também as possibilidades

de interação e comunicação entre os alunos, como afirma Peluso (1988). Segundo ele, as

relações afetivas dos alunos melhoram sua qualidade se essa interatividade ocorrer de

forma permanente e contínua, tornando-os realizados e auto-suficientes.

Fenômenos afetivos, de natureza subjetiva, estão intimamente relacionados à ação

do meio sócio-cultural e contribuem diretamente na qualidade das interações entre as

pessoas (Leite e Tassoni, 2000). Tais fenômenos apontam questionamentos acerca do

“que ensinar” e “como ensinar”.

Longhi et al (2009), investigando o afeto e a cognição na pesquisa científica,

encontraram a discussão sobre o papel da afetividade na subjetividade humana desde o

Século VI A.C., afirmando que da Grécia antiga à Modernidade quase sempre razão e

emoção foram tratadas de forma dissociada. Mesmo no início do Século XX, quando

movimentos filosóficos e científicos impulsionaram debates sobre pensamento,

conhecimento, comportamento, razão, raciocínio e intelecto, as emoções ficaram à parte.

Embora tenha surgido a Ciência Cognitiva para entender como o conhecimento é

adquirido e usado, somente com a consolidação das grandes teorias psicológicas como

Gestalt, Psicanálise, Behaviorismo, Epistemologia Genética, Psicologia Cultural e

Sóciohistórica, é que se passa a enfatizar a afetividade nas atividades cognitivas.

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Nas últimas décadas do Século XX percebe-se, de acordo com Oliveira (1992,

p.75), uma tendência unificadora das dimensões afetivas e cognitivas do funcionamento

psicológico do ser humano. Essa tendência situa-se, segundo a autora, na necessidade de

recomposição do ser psicológico, pois áreas aplicadas como a educação pedem “uma

abordagem mais orgânica do ser humano.”

Segundo Chauí ( 1999, p.9) nos Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano,

Leibniz rejeita a teoria empirista de Locke (1632-1704), segundo a qual a origem das

idéias encontra-se na experiência, apenas uma “tábula-rasa”, uma folha de papel em

branco. Para Leibniz, ao contrário, a experiência só fornece a ocasião para o

conhecimento dos princípios inatos ao intelecto:

Não se pode imaginar que se possa ler na alma, sem esforço e sem pesquisa, essas eternas leis da razão, como o édito do pretor é lido em seu caderno; mas é bastante que as descubramos em nós por um esforço de atenção, uma vez que a ocasião é fornecida pelos sentidos.

Os empiristas teriam razão ao afirmar que as idéias surgem do contato com o

mundo sensível, mas errariam ao esquecer o papel do espírito. Por isso, Leibiniz

completa a fórmula de Locke – “Nada há no intelecto que não tenha passado antes pelos

sentidos”, com o adendo “a não ser próprio intelecto.”

O CONSTRUTIVISMO SÓCIO-HISTÓRICO OU SÓCIO-INTERACIONISMO

No contexto apresentado, e com apoio da teoria sócio-interacionista, ou

Construtivismo Sócio-Histórico, de Vygotsky (1984) e na concepção de que é possível

aliar afetividade à racionalidade, percebemos que nos ambientes virtuais e interativos de

aprendizagem há diferentes graus de complexidade que propiciam os alunos a

construírem, gradativa e permanentemente, seu próprio conhecimento, possibilitando a

atuação do docente na chamada Zona de Desenvolvimento Proximal que, segundo o

autor é :

[...] a distância entre o nível do desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p.112)

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Desta forma, os AVAs, aliado ao potencial de suas interfaces e uma ação tutorial

comprometida com a construção do conhecimento, podem estimular o trabalho

colaborativo, favorecendo, assim, o desenvolvimento cognitivo.

O construtivismo sócio-histórico é um movimento que se consolidou no início do

Século XX e tem suas raizes na filosofa (LEOPARDI; THOFERN, 2006). Ainda,

segundo os autores, os construtivistas de maior relevância são Piaget, Wallon e

Vygotsky, os quais preconizam que a construção do conhecimento ocorre sob o prisma

da interação do sujeito-objeto com o meio ambiente.

Na abordagem construtivista, a interação sujeito-objeto aparece como uma

estrutura bipolar, em que estes dois elementos são inseparáveis, formando uma única

estrutura , pois no processo de construção não há sujeito sem objeto e não objeto sem

sujeito. O construtivismo é uma teoria do conhecimento que estabelece uma estrutura

com dois pólos, o sujeito histórico e o objeto cultural em interação recíproca, num

movimento dialético e sem interrupção das construções já acabadas, para sanar lacunas

ou necessidades.

O construtivismo é dialético e supõe uma visão de totalidade integradora. É movimento de mudança e transformação. Por ser dialético, supera os conflitos e desequilíbrios, para atingir níveis estruturais qualitativamente superiores. (MATUI, 1995)

A ideia do construtivismo é sustentada no fato de que o indivíduo não é mero

produto do ambiente, nem resultado de suas disposições internas, mas uma construção

própria, produzida dia a dia, como resultado da interação entre o ambiente e as

disposições internas. Aqui, conhecimento é sinônimo de construção do ser humano.

A teoria baseia-se em que o ser humano não nasce inteligente, mas também não é

totalmente dependente da força do meio. Desta forma, interage com o meio ambiente

respondendo aos estímulos externos, analisando, organizando e construindo seu

conhecimento, num processo contínuo de fazer e refazer.

Dentro deste contexto, entendemos então a necessidade de compreender as inter-

relações alunos e tutor a partir da afetividade ou vínculo afetivo como um componente

inerente ao processo de construção do conhecimento dos alunos na Educação a

Distância. Pretendemos verificar nestas discussões como foi a postura do tutor para

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evitar o isolamento virtual que pode ser sentido nos alunos que buscam fazer estes novos

cursos e demonstrar uma postura autônoma de aprendizagem durante o estudo.

METODOLOGIA

A pesquisa em curso tem objetivo de buscar uma revisão teórica que procure,

através de artigos científicos e outros trabalhos acadêmicos, abordar a afetividade na

Educação a Distância (EAD).

Foi utilizada uma ampla pesquisa bibliográfica , considerando os padrões

estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Segundo Macedo (1994, p.13) :

Pesquisa bibliográfica é a busca de informações bibliográficas, seleção de documentos que se relacionam com o problema de pesquisa (livros, verbetes de enciclopédia, artigos de revistas, trabalho de congressos, etc) e o respectivo fichamento das referências, para que sejam posteriormente utilizadas (na identificação de material referencial ou na bibliografia final).

Os resultados estão apresentados netse trabalho Final de Curso Individual que

será apresentado no pólo da Universidade Aberta do Brasil em Cubatão, estado de São

Paulo.

A afetividade como elemento potencializado pela tutoria focada no processo

sócio-interacionista foi o objeto de estudo deste trabalho, com uma ampla revisão

bibliográfica. Buscou-se autores dos mais diversos pensamentos no intuito de auxiliar a

elucidação do tema.

O trabalho foi dividido em três temas principais : sócio-interacionismo,

afetividade, e a tutoria ficada no processo sócio-interacionista como elemento

potencializador da afetividade.

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A TUTORIA FOCADA NO PROCESSO SÓCIO-INTERACIONISTA COMO POTENCIALIZADORA DA AFETIVIDADE EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA.

AFETIVIDADE : CONCEITOS

Existem diversas definições de afetividade para a ciência, mesmo porque é uma

palavra utilizadas em diversas áreas do conhecimento humano. Na linguagem geral, afeto

relaciona-se com sentimentos de ternura, carinho e simpatia. Nas mais variadas

literaturas, afetividade está relacionada aos mais diversos termos : emoção, estados de

humor, motivação, sentimento, paixão, atenção, personalidade, temperamento e outros.

Afetividade vem do latim “afectus” e para Wallon (1941) tem um significado

mais amplo, no qual se inserem várias manifestações – das basicamente orgânicas

(primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta, como a fome

ou a saciedade) às manifestações relacionadas ao social (sentimento, paixão, emoção,

humor, etc).

Segundo Almeida apud Wallon a afetividade é um domínio funcional, cujo

desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores : o orgânico e o social. Entre esses

dois fatores existe uma relação estreita, tanto que as condições medíocres de um podem

ser superadas pelas condições mais favoráveis do outro. Essa relação recíproca impede

qualquer tipo de determinismo no desenvolvimento humano, tanto que

...a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais de sua existência, onde a escolha individual não está ausente.(Wallon, 1959, p.28).

Depois da determinação da afetividade inicialmente pelo fator orgânico, ela passa

a ser influenciada pela ação do meio social. Tanto que Wallon defende uma evolução

progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se distanciando da base orgânica,

tornando-se cada vez mais relacionadas ao social.

Conceitualmente, ainda segundo Silva apud Wallon, a afetividade deve ser

distinguida de suas manifestações, diferenciando-se do sentimento, da paixão, da

emoção. A afetividade é um campo mais amplo, já que inclui esses últimos, bem como

as primeiras manifestações de tonalidades afetivas basicamente orgânicas.

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A afetividade, assim como a inteligência, não aparece pronta nem permanece

imutável. Ambas evoluem ao longo do desenvolvimento; são constrídas e se modificam

de um período a outro, pois, à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades se

tornam cognitivas.

Almeida relata ainda que a afetividade é, ainda, um campo aberto para

investigações. Wallon indica caminhos a serem trilhados para estudos complementares

ao estabelecer nítida diferença, em sua obra, entre a afetividade e suas manifestações e ao

identificar que, no desenvolvimento humano, existem estágios que são

predominantemente afetivos.

Não poderíamos dar continuidade ao trabalho sem a definição do conceito de

afetividade, que muito ajudará a compreender sua potencialidade para uma tutoria focada

no processo sócio-interacionista.

O SÓCIO-INTERACIONISMO

A abordagem sócio-interacionista entende a aprendizagem como um fenômeno

que se realiza na interação com o outro. A aprendizagem acontece por meio da

internalização, a partir de um processo anterior, de troca que possui uma dimensão

coletiva (Oliveira, 2004). Segundo Vygotsky, a aprendizagem deflagra vários processos

internos de desenvolvimento mental, que tomam corpo somente quando o sujeito

interage com objetos e sujeitos em cooperação. Uma vez internalizados, esses processos

tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento.

Para Vygotsky, um processo interpessoal, portanto, é transformado num processo

intrapessoal. Para Vygotsky existem dois níveis de conhecimento : o real e o potencial.

No primeiro, o indivíduo é capaz de realizar tarefas com independência, e caracteriza-se

pelo desenvolvimento já consolidado. No segundo, o indivíduo só é capaz de realizar

tarefas com a ajuda do outro, o que denota desenvolvimento, porque não é em qualquer

etapa da vida que um indivíduo pode resolver problemas com a ajuda de outras pessoas.

Partindo desses dois níveis, Vygotsky define a Zona de Desenvolvimento

Proximal como a distância entre o conhecimento real e o potencial; nela estão as funções

psicológicas ainda não consolidadas.

Ela é a distânca entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto

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ou em colaboração com companheiros mais capazes (Vygotsky, 1998, p.75).

A tutoria focada no processo sócio-construtivista tende a agir como elemento

facilitador na construção da aprendizagem, ampliando possibilidades e potencializando a

afetividade, algo tão caro e fundamental na EAD.

Neste processo, o desenvolvimento cognitivo centra-se na possibilidade de o

sujeito ser, constantemente, colocado em situações problema que provoquem a

construção de conhecimentos e conceitos, a partir da Zona de Desenvolvimento

Proximal. Ou seja, o sujeito necessita usar os conhecimentos já consolidados,

desestabilizados por novas informações, que serão processadas, colocadas em relação

com outros conhecimentos, de outros sujeitos, num processo de interação, para só então,

serem consolidadas como um conhecimento novo (Oliveira, 2004).

No contexto da EAD, consideramos a importância do material didático nesse

processo, como também os recursos tecnológicos da instituição de ensino, entretanto,

frisamos que um corpo de tutores focados no sócio-construtivismo abrirá um leque sem

precedentes para o potencial desenvolvimento da afetividade, propiciando uma interação

mútua cada vez mais real, e com isso uma aprendizagem de qualidade mais eficaz em

EAD.

A AFETIVIDADE NO PROCESSO SÓCIO-INTERACIONISTA

Segundo Bonatto et al apud Uler (2006) o sócio-interacionismo aliado à visão de

que os processos de interação e de comunicação permitem unir aspectos afetivos à

racionalidade, nos dá um direcionamento para entender , elaborar e propor formas de

atuação que permitam incorporar a afetividade nas atividades dos ambientes virtuais de

aprendizagem.

Na EAD ainda há um longo caminho a seguir no que se refere aos estudos sobre

como estimular o aluno por meio de sua emoção e afetividade, no desenvolvimento de

seus aprendizados. Na comunicação mediada por tecnologia, própria da EAD, os tutores

devem ser também afetivos, espirituosos, sérios. Portanto, é fundamental que se conheça

bem o aluno e seu perfil porque algumas formas de comunicação e atitudes podem

funcionar de forma equivocada ao emitirmos nossas ideias e sentimentos, gerando ruídos

de comunicação e desestímulo ao propósito educativo(Anderson & Elloumi, 2004).

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Isto nos leva a pensar também em outro aspecto relacionado à afetividade : as

escolas deveriam entender de seres humanos e de amor tanto quanto de conteúdos e

técnicas educativas, porque, segundo pensadores da educação, elas tem contribuído em

demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de

fantasias, de símbolos e dores.

Segundo Struchiner & Gianella, 2005 apud Coelho, 2003; Gianella et al 2003

embora muitas iniciativas de EAD tenham adotado a figura do tutor como responsável

pela gestão direta do processo educativo junto aos alunos, alguns autores questionam o

conceito de tutoria, ressaltando que o profissional potencializador da aprendizagem além

de complementar e facilitar a mediação pedagógica deve estabelecer uma comunicação

empática com o estudante. Pensar neste mediador ultrapassa o conceito de tutoria já que,

analisando o significado da palavra, tutor é aquele que tutela, que ampara, confere

proteção, dependência e sujeição (Gianella et al, 2003). Bem se sabe que essas

carcterísticas não fazem parte do perfil de um profissional de um ambiente de

aprendizagem que busca a potencialização do ato educativo numa ação participativa,

criativa, relacional e, principalmente, reflexiva. O papel do professor na relação

pedagógica é uma das características fundamentais da EAD, principalmente quando o ato

educativo é entendido como um momento de construção do conhecimento, de

intercâmbio de experiências e de criação de novas formas de participação.

Ainda, segundo as autoras, pensar neste mediador pedagógico ultrapassa o

conceito de tutoria e se aproxima de uma concepção de um profissional que facilita a

construção de significados por parte dos alunos nas suas interpretações do mundo. O

professor de EAD deverá possuir uma concepção clara da construção do conhecimento

como um processo dinâmico e relacional advindo da reflexão conjunta sobre o mundo

real. A afetividade, neste contexto, é grande aliada do tutor para consecução desses

objetivos, tendo como subsídio a facilitação do processo sócio-interacionista do qual a

Educação a distância tem se aprimorado através dos Ambientes Virtuais de

Aprendizagem (AVA's) desenvolvidos pelas instituições.

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TUTORIA FOCADA NO SÓCIO-INTERACIONISMO: ELEMENTO

POTENCIALIZADOR DA AFETIVIDADE.

A mediação que o tutor a distância exerce nos Ambientes Virtuais de

Aprendizagem (AVAs) é de fundamental importância para o desempenho do aluno de

Educação a Distância (EaD) e elemento potencializador das relações de ensino e

aprendizagem que envolvem os participantes de um curso nessa modalidade (Tijiboy et

al, 2009).

Segundo Peters (2003), a didática do ensino a distância não deve ser reduzida ao

conjunto daquele artifícios e daquelas providências tecnológicas que apenas possibilitam

o ensinar e o aprender a distância. Requer, principalmente, uma análise das situações

específicas de aprendizagem dos sujeitos. Para Litto (2004), adiciona-se naturalmente,

como elemento que antecede o trabalho, o completo diagnóstico das necessidades, tanto

do discente em potencial, como da região onde está inserido e, durante o

desenvolvimento dos cursos ec a posteriori, a avaliação.

Ainda segundo Litto, há um novo desafio a ser enfrentado nesse processo de

expansão : o de buscar um padrão de qualidade cada vez maior. O desafio de pensar a

EAD no Brasil, na vertente do crescimento da qualidade, provoca discussões sobre as

políticas públicas que regulamentam essa modalidade, o credenciamento das instituições

e a autorização para cursos – questões legais, estruturais, etc. De igual forma acontece

com os aspectos didáticos que envolvem os processos de estrutura organizacional,

planejamento, produção de materiais, etc. E, principalmente, os processos de

aprendizagem – modo como os alunos aprendem, focado especialmente nas práticas

correntes e nas ideias pedagógicas inerentes à educação.

Em suma, afirmamos que a não-observância dessas regras remete uma instituição

ao fracasso em EAD, de nada adiantando o incentivo à afetividade numa estrutura falha.

O elemento potencializador essencial da afetividade é, portanto, uma estrutura bem

adequada ao processo sócio-interacionista.

Uma abordagem interessante seria um investimento na aprendizagem

colaborativa, fruto do processo sócio-interacionista, que “enriquece a construção do

conhecimento, pois amplia o olhar, a visão, a percepção, a reflexão, a indagação de cada

indivíduo” (Okada, 2003, p.164) pois,

Os ambientes de educação que emergem desta concepção são, consequentemente, marcados pela contextualização das aprendizagens, pela decisão conjunta sobre os materiais a

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trabalhar, pela identificação dos objetivos a atingir e pelo envolvimento da comunidade na definição de uma estratégia para a construção e experienciação das situações e contextos de produção do conhecimento. (Dias, 2004, p.26).

Ainda Segundo Dias a criação de ambientes virtuais de aprendizagem que

privilegiem a circulação de informações e a construção do conhecimento é apresentada

como uma possibilidade de construção de comunidades virtuais de aprendizagem.

Sabemos que a afetividade é uma condição intrínseca à personalidade. E que na

perspectiva vygotskyana, o ensino deve ser pautado em situações que desafiem os alunos

a buscar soluções baseadas no compartilhamento dos conceitos cotidianos e na

investigação realizada através do trabalho coletivo e cooperativo (Dias, 2004, p.22). É

um grande desafio para aqueles que se propõem a pensar a educação a distância enfatizar

a afetividade na “rede de construção do conhecimento, de produção de arte, de

democratização e disseminação de informação” (Alves, Lago, Nova, 2003).

Portanto, ensinar é uma prática que não pode ser compreendida dentro de uma

perspectiva imobilizadora do conhecimento e da sua transferência a estudantes e sim ter

como pano de fundo a afetividade, sentimento plausível e impreterível no processo

sócio-interacionista, pois, conforme aponta Freire (1980), cada um de nós é um ser no

mundo, com o mundo e com os outros. Sendo assim, o ensino precisa estar centrado no

aluno :

O ensino centrado no aluno deveria basear-se na empatia, na autenticidade, confinça nas potencialidades do ser humano, na pertinência do assunto a ser aprendido, na aprendizagem participativa, na totalidade da pessoa, na auto-avaliação e na auto-crítica. (GADOTTI, 2004, p.13).

O embasamento teórico demonstrou que o processo sócio-interacionista é, sem

dúvida, um potencializador da afetividade em EAD. Cabe aos tutores, nesse novo

momento do ensino, uma reflexão sobre a importância da afetividade e lembrar que

segundo Okada (1992, p.45) as práticas de formação que tomem como referência as

dimensões coletivas contribuem para a emancipação profissional e para a consolidação

de uma profissão que é autômoma na produção dos seus saberes e dos seus valores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada neste trabalho abordou a tutoria focada no processo sócio-

interacionista como potencializadora da afetividade em Educação a Distância (EAD).

O trabalho foi dividido em três grandes partes centrais : a afetividade, o sócio-

interacionismo e a tutoria focada no sócio-interacionismo.

O desafio de pensar a EAD no Brasil, na vertente do crescimento da qualidade,

provoca discussões sobre as políticas públicas que regulamentam essa modalidade.

Embora muitas iniciativas de EAD tenham adotado a figura do tutor como responsável

pela gestão direta do processo educativo junto aos alunos, questiona-se ainda o

profissional-tutor, ressaltando-se que deve ser um potencalizador da aprendizagem, além

de complementar e facilitar a mediação pedagógica e estabelecer uma comunicação

empática com o aluno.

O papel do professor-tutor na relação pedagógica é uma das características

fundamentais da EAD, principalmente quando o ato educativo é entendido como um

momento de construção do conhecimento, de intercâmbio de experiências e de criação de

novas formas de participação.

A afetividade, neste contexto, é grande aliada do tutor para consecução desses

objetivos, tendo como subsídio a facilitação do processo sócio-interacionista do qual a

EAD tem se aprimorado através dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA's)

desenvolvidos pelas instituições.

Os resultados nos levam a entender que o sócio-construtivismo é o modelo mais

adequado para criação de quaisquer vínculos em EAD, e que o foco nessa teoria de

aprendizagem é elemento impreterível para potencialização da afetividade.

Portanto ensinar é uma prática que não pode ser compreendida dentro de uma

perspectiva imobilizadora do conhecimento e de sua transferência a estudantes e sim

propiciar que o foco afetividade, através do processo sócio-interacionista, atenda aos

anseios mais divergentes dos alunos, para quem o ensino precisa estar centrado.

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