Theodor Adorno - Sobre Sujeito e o Objeto

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    SOBRE SUJEITO E OBJETOTheodor W. Adorno

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    Em se tratando de consideraes sobre sujeito e objeto, a dificuldade consiste em indicar do que sedeve propriamente falar. notrio que os termos so equvocos. Assim, sujeito pode referir-se tanto aoindivduo particular [einzelne Individuum] quanto a determinaes gerais; de acordo com os termos dosProlegmenos kantianos, conscincia em geral. A ambigidade no pode ser eliminada simplesmentemediante uma classificao terminolgica. Pois ambas as significaes necessitam-se reciprocamente;mal podemos apreender uma sem a outra. No possvel excluir mentalmente o momento daindividualidade humana [Einzelmenschlichkeit] - chamada egoidade por Schelling - de qualquer conceito de sujeito; se no fosse indicada de alguma maneira, sujeito perderia todo o sentido.Inversamente, o indivduo humano singular - to logo se reflete de alguma maneira sobre ele numaforma conceitual universal enquanto indivduo, e no se tem em mente s o esse a qualquer de um homem particular [besonderen Menschen] - transforma-se j num universal, semelhana do que ficaexplicitado no conceito idealista de sujeito; at mesmo a expresso homem particular necessita doconceito genrico; se no fosse assim, careceria de sentido. At mesmo os nomes prprios trazemimplcita uma referncia ao universal. Valem para algum que se chama assim e no de outra maneira;e um [einer] a forma elptica de um homem. Pois bem, por outro lado, para escapar desse tipo decomplicaes, se se quisesse definir ambos os termos, cair-se-ia em uma aporia que se junta problemtica do definir, continuamente retomada pela filosofia moderna desde Kant. que, de certamaneira, os conceitos de sujeito e de objeto - ou melhor, aquilo a que se referem - tm prioridade sobrequalquer definio. Definir o mesmo que capturar - objetividade, mediante o conceito fixado, algoobjetivo, no importa o que isto seja em si. Da a resistncia de sujeito e objeto a se deixarem definir.Para determin-los, requer-se refletir precisamente sobre a coisa mesma, a qual recortada peladefinio com vistas a facilitar seu manejo conceptual. Por isso, convm tomar, em princpio, aspalavras sujeito e objeto como as fornece a linguagem polida pela filosofia, como sedimento da histria;claro que no para persistir em semelhante convencionalismo, seno para avanar a anlise crtica.Poder-se-ia partir da idia, supostamente ingnua, mas, na realidade, j mediada, de que um sujeito,seja qual for sua natureza, um sujeito cognoscente, defronta-se com um objeto, seja qual for a suanatureza, objeto do conhecimento. A reflexo denominada 'intentio obliqua' na terminologia filosficaconsiste ento em voltar a referir esse conceito multvoco de objeto ao no menos multvoco de sujeito.Uma segunda reflexo reflete aquela e define melhor o que ficou vago, em prol dos contedos desujeito e objeto.

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    A separao entre sujeito e objeto real e aparente : verdadeira, porque no domnio do conhecimentoda separao real consegue sempre expressar o cindido da condio humana, algo que surgiu pelafora; falsa, porque a separao que veio a ocorrer no pode ser hipostasiada nem transformada eminvariante. Esta contradio na separao entre sujeito e objeto comunica-se teoria do conhecimento. verdade que no se pode prescindir de pens-los como separados; mas o psvdos (a falsidade) daseparao manifesta-se em que ambos encontram-se mediados reciprocamente: o objeto, mediante osujeito, e, mais ainda e de outro modo, o sujeito, mediante o objeto. A separao torna-se ideologia,exatamente sua forma habitual, assim que fixada sem mediao. O esprito usurpa ento o lugar doabsolutamente subsistente em si, que ele no : na pretenso de sua independncia anuncia-se osenhoril. Uma vez radicalmente separado do objeto, o sujeito j reduz este a si; o sujeito devora oobjeto ao esquecer o quanto ele mesmo objeto. Mas, a imagem de um estado originrio, temporal ouextratemporal, de feliz identificao de sujeito e objeto, romntica; por longo tempo, projeo danostalgia, hoje reduzida mentira. A indiferenciao, antes que o sujeito se formasse, foi oestremecimento do cego nexo natural, o mito; as grandes religies tiveram seu contedo de verdade noprotesto contra ele. Alm do mais, indiferenciao no unidade; esta exige, j segundo a dialtica

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    platnica, diversidade, cuja unidade ela constitui. O novo horror, o da separao, transfigura, diantedaqueles que o vivem, o antigo, o caos, e ambos so o sempre-idntico. Esquece-se, pela angstiafrente ao sem-sentido que se escancara, a no menor frente aos deuses vingativos da qual omaterialismo epicurista, e o cristo no temais quiseram livrar os homens (1). Isto no realizvel ano ser atravs do sujeito. Se ele fosse liquidado em vez de superado numa forma mais elevada, issooperaria no somente a regresso da conscincia, mas sim a recaida em uma real barbrie. Destino, asubmisso natureza dos mitos procede de uma total menoridade social, de uma poca em que a autoconscincia ainda no tinha aberto os olhos, em que ainda no existia o sujeito. Ao invs de evocar oretorno daquela poca, mediante a prxis coletiva, dever-se-ia extinguir o feitio da antigaindiferenciao. Seu prolongamento a conscincia da identidade do esprito que, repressivamente, seidentifica ao que lhe diverso. Se fosse permitido especular sobre o estado de reconciliao, nocaberia imagin-lo nem sob a forma de indiferenciada unidade de sujeito e objeto nem sob a de suahostil anttese; antes, a comunicao do diferenciado. Somente ento o conceito de comunicaoencontraria seu lugar de direito como algo objetivo. O atual to vergonhoso porque trai o melhor, opotencial de um entendimento entre homens e coisas, para entreg-lo comunicao entre sujeitos,conforme os requerimentos da razo subjetiva. Em seu lugar de direito estaria, tambm do ponto devista da teoria do conhecimento, a relao entre sujeito e objeto na paz realizada, tanto entre oshomens como entre eles, e o outro que no eles. Paz um estado de diferenciao sem dominao, noqual o diferente compartido.

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    Na teoria do conhecimento, entende-se geralmente por sujeito o mesmo que sujeito transcendental.Segundo a doutrina idealista, o sujeito transcendental, ou constri kantianamente o mundo objetivopartindo de um material no qualificado, ou, ento, desde Fichte, engendra-o pura e simplesmente. Nofoi preciso esperar pela crtica ao idealismo para se descobrir que este sujeito transcendental,constitutivo de toda experincia de contedo, , por sua vez, abstrao do homem vivo e individual. evidente que o conceito abstrato de sujeito transcendental - as formas do pensamento, a unidadedestas e a produtividade originria da conscincia - pressupe o que promete instituir: indivduosviventes, indivduos de fato. As filosofias idealistas tiveram isto presente. bem verdade que Kant, nocaptulo sobre os paralogismos psicolgicos, procurou desenvolver uma diferena fundamental entre osujeito transcendental e o emprico, conforme uma hierarquia de constituio. Seus sucessores,entretanto - sobretudo Fichte e Hegel, mas tambm Schopenhauer - pretenderam resolver a dificuldadeineludvel do crculo ilimitado atravs de sutis argumentaes. Recorreram com freqncia ao motivoaristotlico, de acordo com o qual o primeiro para a conscincia - aqui: o sujeito emprico - no oprimeiro em si, e postula, como sua condio ou sua origem, o sujeito transcendental. Mesmo apolmica husserliana contra o psicologismo, junto com a distino que estabelece entre gnese evalidade, no passa de uma prolongao dessa forma de argumentar. Ela apologtica. umatentativa de justificar o condicionado como se fosse incondicionado, o derivado como primrio.Repete-se um 'topos' da tradio ocidental inteira, de acordo com o qual somente o primeiro ou,segundo a frmula de Nietzsche, somente aquele que no passou pelo devir [das nicht Gewordene]pode ser verdadeiro. No se pode desconhecer a funo ideolgica dessa tese. Quanto mais oshomens individuais so reduzidos a funes da totalidade social por sua vinculao com o sistema,tanto mais o esprito, consoladoramente, eleva o homem, como princpio, a um ser dotado do atributoda criatividade e da dominao absoluta.

    No obstante, a pergunta pela realidade do sujeito transcendental muito mais grave do que seapresenta na sublimao do sujeito em esprito puro e, mais ainda, na revogao crtica ao idealismo.Em certo sentido, como o reconheceria por fim o idealismo, o sujeito transcendental mais real, asaber, mais determinante para a conduta real dos homens e para a sociedade formada a partir disso,que esses indivduos psicolgicos dos quais foi abstrado o transcendental e que pouco tm a dizer nomundo; que, por sua vez, se tornaram apndice da maquinaria social e, por fim, ideologia. O homemsingular vivente (der lebendige Einzelmensch] - tal como forado a atuar e para o que tambm foicunhado em si - , enquanto encarnao do 'homo oeconomicus' , antes o sujeito transcendental que oindividuo vivente, pelo qual, contudo, deve se fazer passar imediatamente. Neste sentido, a teoria do

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    idealismo foi realista e no necessitava envergonhar-se frente a adversrios que rechaavam seuidealismo. Na doutrina do sujeito transcendental, expressa-se fielmente a primazia das relaesabstratamente racionais, desligadas dos indivduos particulares e seus laos concretos, relaes quetm seu modelo na troca. Se a estrutura dominante da sociedade reside na forma da troca, ento aracionalidade desta constitui os homens; o que estes so para si mesmos, o que pretendem ser, secundrio. Eles so deformados de antemo por aquele mecanismo que transfiguradofilosoficamente em transcendental. Aquilo que se pretende mais evidente, o sujeito emprico, deveriapropriamente considerar-se como algo ainda no existente; nesse aspecto, o sujeito transcendental constitutivo. Presumidamente origem de todos os objetos, ele est objetificado (Vergegenstndlicht] emsua rgida intemporalidade, perfeitamente de acordo com a doutrina kantiana das formas fixas eimutveis da conscincia transcendental. Sua fixidez e invariabilidade que, segundo a filosofiatranscendental, produz os objetos - ou, ao menos, lhes prescreve as regras - a forma reflexa dacoisificao dos homens, consumada objetivamente nas relaes sociais. O carter fetichista, ilusosocialmente necessria, converteu-se historicamente no 'prius' daquilo que, de acordo com o seuconceito, ele seria o 'posterius'. O problema filosfico da constituio inverteu-se como refletido numespelho; mas, em sua inverso, expressa a verdade sobre a situao histrica alcanada; uma verdadeque, todavia, teria que ser mais uma vez negada teoricamente, num segundo giro copernicano. Emtodo caso, ela tem tambm seu momento positivo: a sociedade, enquanto precedente, mantm viva a simesma e a seus membros. O indivduo particular deve ao universal a possibilidade de sua existncia; opensar d testemunho disso, ele que, por sua parte, uma condio universal e, portanto, social. No s no sentido fetichista que o pensamento precede ao indivduo. S que, no idealismo, se hipostasiaum aspecto que no pode ser concebido seno numa relao com outros. Mas o dado, o escndalo doidealismo, que no entanto ele no capaz de descartar, demonstra sempre de novo o fracasso dessahipstase.

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    Pelo conhecimento da primazia do objeto, no restaurada a velha 'intentio recta', a servil confiana noser-assim do mundo exterior, tal como aparece mais aqum da crtica, como um estado antropolgicodesprovido de autoconscincia, a qual s se cristaliza no contexto da referncia do conhecimento aocognoscente. A crua confrontao de sujeito e objeto no realismo ingnuo , sem dvida,historicamente necessria, e nenhum ato de vontade pode elimin-la. Mas , ao mesmo tempo, produtode uma falsa abstrao e j constitui um elemento da coisificao. Visto isso, no se deveria maiscontinuar arrastando sem auto-reflexo a conscincia objetificada por si mesma e precisamente comotal, orientada para fora, virtualmente exteriorizadora. A virada para o sujeito que, alis, desde o incio,tende ao primado deste, no desaparece simplesmente com sua reviso; esta se realiza, e no emltimo lugar, em favor do interesse subjetivo da liberdade. Mais que isso, a primazia do objeto significaque o sujeito , por sua vez, objeto em um sentido qualitativamente distinto e mais radical que o objeto,porque ele, no podendo afinal ser conhecido seno pela conscincia, tambm sujeito. O conhecidoatravs da conscincia deve ser um algo, pois a mediao se refere ao mediado. Mas, o sujeito,quintessncia da mediao, o como e, enquanto contraposto ao objeto, nunca o que, postulado porqualquer representao concebvel do conceito de sujeito. Potencialmente, embora no atualmente, osujeito pode ser abstrado [weggedacht] da objetividade; o mesmo no ocorre com a subjetividade emrelao ao objeto. Um ente no se pode escamotear ao sujeito, indiferentemente de como este estejadeterminado. Se o sujeito no algo - e algo designa um momento objetivo irredutvel - ento no nada; at como 'actus purus' necessita da referncia a um agente. A primazia do objeto a 'intentioobliqua' da 'intentio obliqua', no a requentada 'intentio recta' ; o corretivo da reduo subjetiva, no adenegao de uma participao subjetiva. Mediatizado tambm o objeto, s que, segundo seu prprioconceito, no est to absolutamente referido ao sujeito como o sujeito objetividade. O idealismoignorou esta diferena e, com isso, embruteceu uma espiritualizao sob a qual se disfara aabstrao. Mas isso conduz a uma reviso da posio relativa ao sujeito que prevalece na teoriatradicional. Esta o exalta na ideologia e o difama na prxis do conhecimento. Se se quiser, entretanto,alcanar o objeto, suas determinaes ou qualidades subjetivas no devem ser eliminadas: issocontradiria, precisamente, a primazia do objeto. Se o sujeito tem um ncleo de objeto, ento asqualidades subjetivas do objeto constituem, com ainda maior razo, um momento do objetivo. Pois o

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    objeto torna-se algo somente enquanto determinado. Nas determinaes que aparentemente o sujeitoapenas lhe agrega, impe-se a prpria objetividade do sujeito: todas elas so tomadas de emprstimo objetividade da 'intentio recta'. Tampouco para a doutrina idealista, as determinaes subjetivas soalgo meramente agregado; sempre so exigidas tambm pelo que se deve determinar, e a se afirma aprimazia do objeto. Inversamente, o objeto supostamente puro, livre de qualquer acrscimo depensamento ou intuio, exatamente reflexo da subjetividade abstrata: somente esta torna o outroigual a si atravs da abstrao. O objeto da experincia irrestrita, ao contrrio do substratoindeterminado do reducionismo, mais objetivo que esse substrato. As qualidades que a tradicionalcrtica do conhecimento elimina do objeto e credita ao sujeito devem-se, na experincia subjetiva, primazia do objeto; sobre este ponto, o predominio da 'intentio obliqua' enganava. Sua herana coube auma crtica da experincia que alcana at seu prprio condicionamento histrico e, em ltima anlise,social. Pois a sociedade imanente experincia e no allo genos (2). Somente a tomada deconscincia do social proporciona ao conhecimento a objetividade que ele perde por descuido enquantoobedece s foras sociais que o governam, sem refletir sobre elas. Crtica da sociedade crtica doconhecimento, e vice-versa.

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    S legtimo falar a respeito da primazia do objeto quando essa primazia em relao ao sujeito,entendido este no sentido mais lato, determinvel de alguma maneira; quando algo mais, portanto,que a coisa em si kantiana, como causa desconhecida do fenmeno. Tambm esta, apesar de Kant,contm j - pelo mero fato de contrapor-se ao que suscetvel de predicao categorial - certamente,um mnimo de determinaes em si; uma delas, de ndole negativa, seria a acausalidade. Ela conseguefundar uma anttese com relao opinio convencional que est conforme com o subjetivismo. Aprimazia do objeto comprova-se pelo fato de que este altera qualitativamente as opinies daconscincia coisificada, que cultivam uma relao sem atritos com o subjetivismo. Este no tange orealismo ingnuo enquanto contedo, mas sim trata pura e simplesmente de proporcionar critriosformais de sua validade, assim como o confirma a frmula kantiana do realismo emprico. Em favor daprimazia do objeto fala, sem dvida, algo que no se concilia com a doutrina kantiana da constituio:que a 'ratio', nas modernas cincias da natureza, espia por cima do muro que ela mesma ergueu;vislumbra uma pontinha do que no est de acordo com as suas decantadas [eingeschliffenen] categorias. Tal expanso da 'ratio' abala o subjetivismo. Mas aquilo pelo qual o objeto se determinaenquanto o precedente, em oposio ao seu aparato subjetivo, pode-se perceber no que, por sua vez,determina o aparato categorial pelo qual - segundo o esquema subjetivista - ele deve ser determinado:aquilo que se capta na condicionalidade do condicionante. As determinaes categoriais, de acordocom Kant as nicas que proporcionam a objetividade, so, se se quiser, na verdade meramentesubjetivas, porquanto so por sua vez algo posto. Deste modo, a 'reductio ad hominem' torna-se a runado antropocentrismo. O fato de que mesmo como 'constituens', o homem seja algo feito pelos homens,desencanta a propriedade criadora do esprito. Mas como a primazia do objeto necessita da reflexosobre o sujeito e da reflexo subjetiva, a subjetividade, ao contrrio do que ocorre no materialismoprimitivo - que no admite propriamente dialtica - converte-se aqui em um momento conservado.

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    Aquilo que se apresenta sob o nome de fenomenalismo, que nada se sabe seno atravs do sujeitocognoscente, aliou-se desde o giro copernicano ao culto do esprito. Ambos so fundamentalmentemodificados pelo conhecimento da primazia do objeto. O que Hegel buscava no interior do parntesesubjetivo rompe os parnteses com conseqncia crtica. A asseverao geral de que as inervaes,as inteleces, os conhecimentos so apenas subjetivos, j no melindra tanto, to logo a subjetividadeseja entendida como configurao do objeto. Iluso o encantamento do sujeito em seu prpriofundamento de determinao; sua posio como verdadeiro ser. preciso trazer de volta o prpriosujeito sua subjetividade; seus impulsos no devem ser banidos do conhecimento. A iluso dofenomenalismo , no entanto, uma iluso necessria. Ela testemunha o quase irresistvel contexto geralde ofuscamento que o sujeito, enquanto falsa conscincia, produz e da qual ao mesmo tempo parteintegrante. Em tal irresistibilidade funda-se a ideologia do sujeito. A conscincia de um defeito, o da

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    limitao do conhecimento, transformada, para se poder melhor suport-la, em uma vantagem. Onarcisismo coletivo esteve em ao. Mas no teria podido impor-se com tal estringncia, no teriapodido produzir as filosofias mais imponentes, se no tivesse uma base verdadeira, embora distorcida.Aquilo que a filosofia transcendental exaltou na subjetividade criadora o cativeiro do sujeito em si,oculto para ele mesmo. Em todo objetivo pensado por ele, permanece preso como um animal dentro desua carapaa da qual quisesse, em vo, libertar-se; s que a este no lhe ocorreria alardear comoliberdade o seu cativeiro. Bem que se poderia perguntar por que o fizeram os homens. O cativeiro doseu esprito extremamente real. O fato de que, enquanto sujeitos cognoscentes, dependam deespao, tempo e formas de pensamento, marca sua dependncia em relao espcie. Esta sesedimentou em tais constituintes; no por isso estes valem menos. O a priori e a sociedade estoentrelaados. A universalidade e a necessidade dessas formas, sua glria kantiana, no outra coisado que aquela que constitui como unidade os homens. Estes necessitariam dela para sua 'survival'.Seu cativeiro foi interiorizado: o indivduo no est menos cativo dentro de si que dentro dauniversalidade, da sociedade. Da o interesse em reinterpretar sua priso como liberdade. O cativeirocategorial da conscincia individual reproduz o cativeiro real de cada indivduo. Mesmo o olhar daconscincia que descobre aquele cativeiro determinado pelas formas que ele lhe implantou. Nocativeiro em si, poderiam os homens perceber o cativeiro social: impedir tal coisa constituiu e constituium interesse, capital da conservao do 'status quo'. Por causa deste interesse a filosofia teria deperder seu rumo, com uma necessidade no menor que a daquelas mesmas formas. To ideolgico jera o idealismo, antes mesmo de se ter disposto a glorificar o mundo como idia absoluta. Acompensao primitiva implica que j a realidade, elevada condio de produto de um sujeitopresumidamente livre, , por sua vez, justificada como livre.

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    O pensamento da identidade, imagem encobridora da dicotomia imperante, j no se d mais ares deabsolutizao do sujeito, na poca da impotncia subjetiva. Em seu lugar, forma-se um tipo depensamento da identidade, aparentemente anti-subjetivista, cientificamente objetivo: o reducionismo;dizia-se do jovem Russel que ele era neo-realista. Ele a forma caracterstica contempornea daconscincia coisificada, falsa por seu subjetivismo latente e tanto mais perniciosa. O resto modeladoconforme o padro dos princpios de ordenamento de uma razo subjetiva e, em consonncia com ocarter abstrato desta, torna-se tambm abstrato. A conscincia coisificada, que se entende mal a simesma como se fosse natureza, ingnua: toma a si mesma - algo que veio a ser e que completamente mediato em si - como se fosse, conforme expresso de Husserl, a esfera do ser dasorigens absolutas, e quilo que ela arma diante dela como sendo a coisa to ansiada. O ideal dedespersonalizao do conhecimento por amor objetividade no retm desta nada mais que seu 'caputmortuum'. Reconhecida a primazia dialtica do objeto, fracassa a hiptese de uma cincia prtica noreflexiva do objeto enquanto determinao residual, aps a retirada do sujeito. O sujeito ento deixa deser um adendo subtravel da objetividade. Pela eliminao de um momento que lhe essencial, estafica falseada, no purificada. A representao que guia o conceito residual de objetividade tambm temento seu prottipo em algo posto, feito pelo homem; de nenhuma maneira, na idia daquele Em si ao qual ela substitui pelo objeto purificado. Seu modelo , antes, o lucro daquilo que resta no balano umavez deduzidos os custos gerais de manuteno. Mas, este o interesse subjetivo, levado e reduzido forma de clculo. O que conta para a prosaica objetividade [Sachlichkeit] do pensar orientado pelo lucro tudo menos a coisa [Sache] mesma: esta se perde naquilo que ela rende para algum. Oconhecimento, no entanto, deveria ser guiado pelo que no mutilado pelas trocas ou - pois no hnada mais que no esteja mutilado - pelo que se oculta por trs das operaes de troca. O objeto estto longe de ser um resduo desprovido de sujeito quanto de ser algo posto pelo sujeito. Ambas asdeterminaes mutuamente hostis esto adaptadas uma outra: o resto, com o qual a cincia sesatisfaz como sendo a sua verdade, produto de seu proceder manipulativo, subjetivamenteorganizado. Definir o que objeto seria, por sua vez, contribuir para essa organizao. A objetividades pode ser descoberta por meio de uma reflexo sobre cada nvel da histria e do conhecimento,assim como sobre aquilo que a cada vez se considera como sujeito e objeto, bem como sobre asmediaes. Nessa medida, o objeto , de fato, como ensinava o neokantismo, "inesgotavelmenteproposto". s vezes, o sujeito, como experincia no-restringida, chega mais perto do objeto que o

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    'residuum' filtrado, podado segundo as exigncias da razo subjetiva. A subjetividade no-reduzidaconsegue atuar, de acordo com sua valorizao histrico-filosfica contempornea, polmica, maisobjetivamente que as redues objetivistas. Todo conhecimento est enfeitiado sob o encanto - e noem ltima instncia porque as teses epistemolgicas tradicionais pem de cabea para baixo seuobjeto [Gegegenstand]: 'fair is foul, and foul is fair'. O que engendra o contedo objetivo da experinciaindividual no o mtodo da generalizao comparativa, seno a dissoluo do que impede essaexperincia, enquanto no livre, de entregar-se ao objeto sem reservas e, como disse Hegel, com aliberdade que distende o sujeito cognoscente at que se perca no objeto, ao qual aparentado emvirtude de seu prprio ser-objeto. A posio-chave do sujeito no conhecimento experincia, noforma; o que em Kant chama-se enformao [Formung], essencialmente deformao. O esforo doconhecimento , preponderantemente, a destruio de seu esforo habitual, a violncia contra o objeto.O ato aproxima-se de seu conhecimento quando o sujeito rasga o vu que tece ao redor do objeto. Eles capaz disso quando, com passividade isenta de angstia, se confia sua prpria experincia. Nospontos em que a razo subjetiva fareja uma contingncia subjetiva, transluz a primazia do objeto:naquilo que neste no acrscimo subjetivo. O sujeito agente, no 'constituens' do objeto; issotambm tem suas conseqncias para a relao entre teoria e prxis.

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    Mesmo depois da segunda reflexo do giro copernicano, mantm certa verdade o teorema maisdiscutvel de Kant, o da distino entre a coisa em si transcendente e o objeto [Gegenstand]constitudo. Pois o objeto [Objekt] teria sido outrora o no-idntico, liberado do encanto subjetivo eapreensvel mediante a autocrtica deste - se que ele j objeto - e no, em vez disso, aquilo queKant esboou com o conceito da idia. Um tal no-idntico aproximar-se-ia bastante da coisa em sikantiana, embora este se ativesse ao ponto de fuga de sua coincidncia com o sujeito. No serianenhum resduo de um 'mundus intelligibilis' desencantado, e sim mais real que o 'mundus sensibilis',na medida em que o giro copernicano de Kant abstrai daquele no-idntico, e nisso encontra seu limite.Mas, ento, kantianamente, o objeto aquilo que posto [Gesetzte] pelo sujeito, o tecido formal subjetivo lanado sobre o algo desqualificado; finalmente, aquela lei que, por sua referncia subjetiva,rene no objeto os fenmenos desintegrados. Os atributos da necessidade e da universalidade, queKant aplica ao conceito enftico de lei, possuem a fixidez coisal e so impenetravelmente idnticos aomundo social com o qual colidem os viventes. Essa lei que, segundo Kant, o sujeito prescreve natureza, suprema elevao de objetividade na concepo dele, a expresso mais perfeita do sujeitoassim como de sua alienao de si: o sujeito substitui o objeto no extremo de sua pretenso formante.Isso, entretanto, tambm tem sua razo paradoxal, pois o sujeito de fato tambm objeto, s que,independizando-se como forma, esquece como e por meio de que ele mesmo foi constitudo. Ainverso copernicana de Kant consegue expressar exatamente a objetificao [Objektivierung] do sujeito, a realidade da coisificao [Verdinglichung]. Seu contedo de verdade o bloco empilhado, demodo algum ontologicamente, mas historicamente, entre sujeito e objeto. O sujeito o erige atravs desua pretenso supremacia sobre o objeto e, com isso, engana-se sobre o objeto. Comoverdadeiramente no-idntico, o objeto tanto mais afastado do sujeito, quanto mais o sujeito constitui o objeto. O bloco que faz a filosofia kantiana queimar seus neurnios (3) , ao mesmo tempo, produtodessa filosofia. O sujeito, como espontaneidade pura, apercepo originria, aparentemente princpioabsolutamente dinmico, est, no entanto, em virtude de seu 'chorismos' de qualquer material, nomenos coisificado que o mundo das coisas constitudo segundo o modelo das cincias da natureza.Pois, atravs do 'chorismos', a espontaneidade absolutamente pretendida , em si, embora no paraKant, paralisada; forma que, embora deva ser forma de algo, por sua prpria natureza no pode, noentanto, entrar em ao recproca com nada. Sua brusca separao da atividade dos sujeitosindividuais, que deve ser desqualificada enquanto psicolgico-contingente, destri a apercepooriginria, o princpio mais ntimo de Kant. Seu apriorismo despoja o ato puro precisamente datemporalidade, sem a qual no possvel entender o que pode significar dinamismo. O agir retornacomo um ser de segunda ordem; explicitamente, como todos sabem, no giro do ltimo Fichte emrelao Doutrina da cincia de 1794. Kant codifica tal ambigidade objetiva do conceito de objeto, enenhum teorema sobre o objeto tem o direito de saltar por cima dela. Em sentido estrito, a primazia doobjeto significaria que no h objeto que esteja abstratamente contraposto ao sujeito, mas que

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    necessariamente aparece como tal; seria preciso eliminar a necessidade dessa aparncia ilusria.

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    Mas tambm no h propriamente sujeito. Sua hipstase no idealismo leva a absurdos. Eles poderiamser resumidos nisto: a determinao do sujeito inclui dentro de si aquilo a que ele se contrape. E denenhum modo s porque, como 'constituens', pressupe o 'constitutum'. Ele j objeto na medida emque esse h implcito na doutrina idealista da constituio - tem que haver sujeito para que este possaconstituir qualquer coisa que seja - , foi tomado, por sua vez, da esfera da facticidade. O conceitodaquilo que h no significa outra coisa do que algo existente [Daseiendes] e, como algo existente[Daseiendes], o sujeito cai a priori sob o objeto. Mas como apercepo pura, o sujeito quereria ser opura e simplesmente outro de tudo o que est ai [Daseiendes]. Tambm aqui aparece, negativamente,um aspecto verdadeiro: que a coisificao a que o sujeito soberano submeteu tudo, includo ele, aparncia. Para o abismo de si mesmo, ele transporta tudo quanto escaparia coisificao: claro quecom a absurda conseqncia de que, com isso, concede salvo-conduto a qualquer outra coisificao. Oidealismo falsamente projeta para o interior a idia de uma vida correta. O sujeito, como imaginaoprodutora, como apercepo pura, como ao livre [freie Tathandlung] enfim, cifra aquela atividade na qual realmente se reproduz a vida dos homens e antecipa nela, com fundamento, a liberdade. Por isso,nem o sujeito simplesmente desaparece no objeto ou em seja quem for presumidamente superior noser, nem pode ser hipostasiado. O sujeito, no seu pr-se a si mesmo, aparncia ilusria e, ao mesmotempo, algo sobremodo real do ponto de vista histrico. Ele contm o potencial da superao de suaprpria dominao.

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    A diferena entre sujeito e objeto perpassa tanto o sujeito quanto o objeto. Ela no deve serabsolutizada nem apagada do pensamento. No sujeito propriamente tudo imputvel ao objeto; o quenele no objeto, faz estalar semanticamente o "". A forma subjetiva pura da teoria do conhecimentotradicional, de acordo com seu prprio conceito, pode ser pensada em cada caso unicamente comoforma do objetivo e no sem ele, e sem ele no pode sequer ser pensada. O que h de fixo no Euepistemolgico - a identidade da autoconscincia - est evidentemente moldado segundo a experinciano-refletida do objeto persistente: o prprio Kant refere-o essencialmente a isso. Esse no teria podidoreclamar como condies de objetividade as formas subjetivas se, tacitamente, no tivesse concedidoa estas uma objetividade, que tomou emprestado quelas s quais contraps o sujeito. No extremo aque a subjetividade no entanto se reduz, desde o ponto de sua unidade sinttica, somente reunidoaquilo que j copertence. De outra maneira, a sntese seria mero arbtrio classificatrio. Claro quetampouco esta solidariedade representvel sem a realizao subjetiva da sntese. Mesmo a respeitodo 'a priori' subjetivo, a objetividade de sua validade s pode ser afirmada na medida em que tem umlado objetivo; sem este, o objeto constitudo 'a priori' seria uma pura tautologia para o sujeito. Seucontedo, enfim - a matria do conhecimento para Kant - , em funo de seu carter indissolvel, deseu ser dado e de sua exterioridade em relao ao sujeito, tambm algo objetivo neste. De acordo comisto, o sujeito, por sua vez, facilmente julgar-se-ia - o que no estava muito distante da concepo deHegel - um nada, ficando o objeto como absoluto. Mas isto outra vez iluso transcendental. O sujeitotorna-se um nada por sua hipstase, a coisificao do no coisal. Ela protesta porque no podesatisfazer o critrio, no fundo ingnuo-realista, da existncia. A construo idealista do sujeito fracassaem sua confuso com algo objetivo como um ser-em-si, algo que ele precisamente no : segundo amedida do ente, o sujeito condenado a no ser nada. O sujeito tanto mais quanto menos , e tantomenos quanto mais cr ser, quanto mais se ilude em ser algo para si objetivo. Como momento, noentanto, ele inextinguvel. Eliminado o momento subjetivo, o objeto se desfaria difusamente, damesma forma que os impulsos e instantes fugazes da vida subjetiva.

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    Objeto, embora debilitado, tambm no [nada] sem sujeito. Se faltasse o sujeito como momento doobjeto mesmo, a objetividade deste tornar-se-ia um 'nonsens'. Na fraqueza da teoria do conhecimento

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    8 de 9 5/1/2005 22:40

    de Hume, isto se torna flagrante. Ela estava subjetivamente orientada, enquanto acreditava poderprescindir do sujeito. A relao entre sujeito individual e transcendental deve ser considerada a partirdisso. O individual, como tem sido repetido com inmeras variantes desde Kant, parte integrante domundo emprico. Sua funo, no entanto, sua capacidade de experincia ausente no sujeitotranscendental, pois algo puramente lgico no pode fazer experincia - , na verdade, muito maisconstitutiva que a atribuda ao sujeito transcendental pelo idealismo - por sua vez, uma abstrao daconscincia individual - funo esta que foi muito profunda e pr-criticamente hipostasiada. O conceitode transcendental recorda, no obstante, que o pensamento, em virtude dos momentos deuniversalidade que lhe so imanentes, ultrapassa a sua prpria irredutvel individuao. Tambm aanttese entre universal e particular to necessria quanto falaz. Nenhum dos dois existe sem o outro;o particular s existe como determinado e, nesta medida, universal; o universal s existe comodeterminao do particular e, nesta medida, particular. Ambos so e no so. Este um dos motivosmais fortes de uma dialtica no-idealista.

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    A reflexo do sujeito sobre seu prprio formalismo reflexo sobre a sociedade, com o paradoxo deque, de acordo com a inteno do ltimo Durkheim, os formadores [Formanten] constitutivos originam-se socialmente, embora, por outro lado - ponto em que pode insistir a teoria do conhecimentocorrente - sejam objetivamente vlidos; as argumentaes de Durkheim o supem j em cadaproposio que demonstra seu carter condicionado. Este paradoxo talvez seja expresso do cativeiroobjetivo do sujeito dentro de si. A funo cognoscente, sem a qual no haveria diferena nem unidadedo sujeito, evadiu-se por sua vez. Ela consiste essencialmente naqueles formadores; na medida emque h conhecimento, este deve exercer-se de acordo com eles, mesmo ali onde se projeta para maisalm deles. Eles definem o conceito de conhecimento. No so no entanto absolutos, mas sim vieram aser o que so da mesma forma que a funo cognoscente como tal. No de todo impossvel quepoderiam perecer. Predicar seu carter absoluto poria como absoluta a funo cognoscitiva, absoluto osujeito; relativiz-los revogaria dogmaticamente a funo cognoscitiva. Alega-se contra isso que esteargumento implicaria no tolo sociologismo: Deus criou a sociedade, e a sociedade criou o homem eDeus imagem dele. Mas a tese da antecedncia somente absurda enquanto hipostasiado oindivduo ou sua forma anterior biolgica. Do ponto de vista da histria da evoluo, antes cabepresumir a prioridade temporal ou, pelo menos, a contemporaneidade da espcie. Que "o" homem devater existido antes da espcie, ou reminiscncia bblica, ou puro platonismo. A natureza, nos seusgraus inferiores, est cheia de organismos no individuados. Se, com efeito, os homens, segundo tesede alguns bilogos modernos, nascem muito menos aparelhados que outros seres vivos, no podemconservar sua existncia seno por meio de um trabalho social rudimentar, isto , associados; o'principium individuationis' lhes secundrio, hipoteticamente, uma espcie de diviso de trabalhobiolgica. inverossmil que, no princpio, tenha surgido, primeiro, arquetipicamente um homemindividual qualquer. A crena nisso projeta miticamente para o passado, ou para o mundo eterno dasidias, o 'principium individuationis' j plenamente constitudo na histria. A espcie talvez se tenhaindividuado por mutao para, logo, atravs de individuao, reproduzir-se em indivduos, apoiando-seno biologicamente singular. O homem resultado, no Eidos; o conhecimento de Hegel e de Marxfunda suas razes no mais ntimo das chamadas questes da constituio. A ontologia "do" homem -modelo da construo do sujeito transcendental - orienta-se segundo o indivduo desenvolvido, como oindica gramaticalmente a equivocidade que encerra a expresso "o", a qual designa tanto o sergenrico quanto o indivduo. Neste sentido, o nominalismo, em oposio ontologia e muito mais doque essa, contm o primado da espcie, da sociedade. Essa, todavia, est de acordo com onominalismo pelo fato de que logo renega a espcie, talvez porque esta lembra os animais: a ontologia,ao elevar o indivduo forma da unidade e, perante a pluralidade, a um ser-em-si; o nominalismo, aoqualificar irreflexivamente o indivduo, segundo o modelo do homem individual, como o verdadeiro ente.Ele renega a sociedade nos conceitos, na medida em que a reduz a uma abreviatura do indivduo.

    Theodor W. Adorno, junho de 1969

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    9 de 9 5/1/2005 22:40

    (1). Adorno alude aqui frmula crist "No temais", sem a qual a interpretao da complexa frase "...welche der epikureische Materialismus und das christliche Frchtet euch nicht von den Menschennehmen wollten..." fica equivocada, fato que ocorreu com a traduo castelhana que a verteu para: "...que el materialismo epicreo y el temed vosotros del cristianismo no quisieron arrancar de entre loshombres..." ("... que o materialismo epicurista e o temei do cristianismo no quiseram arrancar dos homens...") (N.T.).

    (2). Allo genos: expresso utilizada por Aristteles para significar uma coisa de outro gnero, algo pertencente a uma outra esfera e, eventualmente, misturado em outro assunto, de forma indevida(N.T.).

    (3). " sich die Stirn eindenk", expresso idiomtica, cuja traduo literal seria, aproximadamente,fundir a cuca, a qual, no entanto, evitamos por trazer implcita uma certa aluso confuso mental, nosentido psicolgico da expresso (N .T.).

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