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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL THIAGO PARENTE MONTEIRO DIMENSIONAMENTO E DETALHAMENTO DE CÁLICES DE FUNDAÇÃO COM INTERFACE LISA FORTALEZA 2011

THIAGO PARENTE MONTEIRO DIMENSIONAMENTO E … · A todos que de alguma forma desejaram minha obtenção do Grau de Engenheiro ... O presente trabalho tem como objetivo geral criar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL

THIAGO PARENTE MONTEIRO

DIMENSIONAMENTO E DETALHAMENTO DE CÁLICES DE FUNDAÇÃO COM INTERFACE LISA

FORTALEZA 2011

ii

THIAGO PARENTE MONTEIRO

DIMENSIONAMENTO E DETALHAMENTO DE CÁLICES DE FUNDAÇÃO COM INTERFACE LISA

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. Dr. Joaquim Eduardo Mota

FORTALEZA 2011

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências e Tecnologia

M779d Monteiro, Thiago Parente.

Dimensionamento e detalhamento de cálices de fundação com interface lisa / Thiago Parente Monteiro. – 2011.

56 f. : il. color., enc. ; 30 cm. Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Departamento de

Engenharia Estrutural e Construção Civil, Curso de Engenharia Civil, Fortaleza, 2011. Orientação: Prof. Dr. Joaquim Eduardo Mota. 1. Concreto pré-moldado. 2. Fundações (engenharia). I. Título.

CDD 620

iv

AGRADECIMENTOS

À Deus, acima de tudo pela vida, e por guiar, proteger e iluminar todos os meus

passos. Que me dê força para continuar a caminhada em busca dos meus objetivos.

Aos meus pais, Francisco José de Sousa Monteiro e Maria de Lourdes Parente

Monteiro, que sempre me incentivaram e acreditaram em mim.

A minha namorada Tatiane Paixão Vieira de Freitas, que sempre me apoiou nos

momentos mais difíceis dessa trajetória de curso, nunca me deixando fraquejar em momento

algum.

Ao professor, Joaquim E. Mota, pelo incentivo e pela dedicada orientação para a

elaboração desta monografia.

Aos meus amigos Paulo José, Bruno Lopes, Paulo Henrique e Marcelo Felipe por

todos estes anos de caminhada.

Aos professores pelo apoio direto e indireto, que tanto contribuíram para a minha

formação pessoal e profissional.

A todos que de alguma forma desejaram minha obtenção do Grau de Engenheiro

Civil.

v

RESUMO

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma planilha eletrônica de dimensionamento e detalhamento de cálices de fundação com interface lisa. O roteiro de cálculo foi elaborado a partir da análise dos resultados dos estudos experimentais e numéricos desenvolvidos na Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo (EESC-USP) sobre a ligação pilar fundação por meio de cálices. Os modelos de dimensionamento estudados resultaram em alguns parâmetros divergentes sendo eles: a) a posição de aplicação da resultante de pressão superior na parede frontal; b) ao comportamento das paredes transversais; c) a força normal com pequena excentricidade; d) a determinação da espessura mínima da parede do colarinho e; e) adaptação do modelo de comportamento da base do pilar pré-moldado com o modelo do cálice. Ao final, é apresentado um exemplo detalhado do dimensionamento e detalhamento de um cálice com interface lisa, incluindo o auxílio da planilha eletrônica desenvolvida. Palavras-chaves: cálices de fundação, dimensionamento, detalhamento e interface lisa.

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Ligação pilar-fundação por meio de cálice. ......................................................... 2 Figura 2.1 - Formas de cálice de fundação (El Debs, 2000). ................................................... 5 Figura 2.2 - Transferência dos esforços em cálice de paredes lisas (EL DEBS, 2000) –

adaptado por CAMPOS (2010). ...................................................................................... 6 Figura 2.3 - Detalhes da transmissão das forças pelas paredes do cálice (EL DEBS, 2000) -

adaptada por CAMPOS (2010). ...................................................................................... 7 Figura 2.4 - Modelo de biela e tirante (MORAIS, 2010). ........................................................ 8 Figura 2.5 - Modelo atrito cisalhamento (EL DEBS, 2000). ................................................... 8 Figura 2.6 - Armaduras constituintes de um cálice de fundação (CAMPOS, 2010). ................ 9 Figura 3.1 - Características geométricas e resultantes de forças no cálice (CAMPOS, 2010). 12 Figura 3.3 - Flexão e disposição da armadura s,hftA na parede transversal 1 (CAMPOS, 2010) -

adaptado de (EL DEBS, 2000)...................................................................................... 16 Figura 3.4 - Arranjo das armaduras do cálice com interface lisa – (LEONHARDT &

MÖNNIG, 1978) adaptado por (EL DEBS, 2000). ....................................................... 17 Figura 3.5 - Esquema de forças atuantes no modelo de projeto proposto para cálice com

interface lisa ................................................................................................................. 19 Figura 3.6 - Idealização de pressões na parede transversal 1 do cálice com interface lisa

(CANHA, 2004). .......................................................................................................... 21 Figura 3.7 - Modelagem do comportamento da parede transversal 1 do cálice com interface

lisa - ............................................................................................................................. 21 Figura 4.1 - Características geométricas do cálice de fundação (CAMPOS, 2010). ............... 22 Figura 4.2 - Transferência de forças no cálice com interface lisa (CANHA, 2004) – (adaptado

por CAMPOS, 2010) .................................................................................................... 25 Figura 4.3 - Armaduras constituintes do cálice (CAMPOS, 2010) ........................................ 26 Figura 4.4 - Configuração das fissuras nas paredes transversais de cálice com interface lisa -

CANHA ....................................................................................................................... 28 Figura 4.5 - Modelo de projeto para a parede transversal frontal para cálice com interface lisa

..................................................................................................................................... 29 Figura 4.6 - Localização da armadura horizontal principal e respectivas alturas úteis

(CAMPOS, 2010). ........................................................................................................ 31 Figura 4.7 - Detalhamento da armadura horizontal utilizada nos modelos de Jaguaribe Jr.

(2005) e ........................................................................................................................ 32 Figura 4.8 - Localização da armadura vertical principal no cálice com interface lisa

(CAMPOS, 2010). ........................................................................................................ 33 Figura 4.9 - Dimensionamento das paredes longitudinais como consolo curto (CAMPOS,

2010). ........................................................................................................................... 34 Figura 4.10 - Detalhamento da armadura vertical (CAMPOS, 2010). ................................... 35 Figura 4.11 - Detalhe da distribuição das armaduras verticais principais e secundárias no

cálice (CAMPOS, 2010). .............................................................................................. 35 Figura 4.12 - Localização da armadura vertical secundária no cálice com interface lisa

(CAMPOS, 2010). ........................................................................................................ 36 Figura 4.13 - Localização da armadura horizontal secundária no cálice com interface lisa

(CAMPOS, 2010). ........................................................................................................ 37 Figura 4.14 - Dados de entrada do projeto. ........................................................................... 39 Figura 4.15 - Características geométricas do colarinho. ........................................................ 39 Figura 4.16 - Pressões na parede. ......................................................................................... 40 Figura 4.17 - Área da armadura horizontal principal longitudinal. ........................................ 40

vii

Figura 4.18 (a) - Solicitações resultantes nas paredes transversais. ....................................... 41 Figura 4.18 (b) - Resultantes nas armaduras horizontais transversais. ................................... 41 Figura 4.19 - Área da armadura horizontal principal transversal. .......................................... 42 Figura 4.20 - Dimensionamento da armadura vertical principal. ........................................... 42 Figura 4.21 - Dimensionamento da armadura vertical secundária. ........................................ 43 Figura 4.22 - Dimensionamento da armadura horizontal secundária. .................................... 43 Figura 4.23 - Detalhamento da armadura horizontal principal............................................... 44 Figura 4.24 – Escolha da bitola da armadura horizontal principal. ........................................ 44 Figura 4.25 – Detalhamento da armadura vertical principal .................................................. 45 Figura 4.26 – Detalhamento da armadura horizontal secundária. .......................................... 46 Figura 4.27 – Detalhamento da armadura horizontal secundária. .......................................... 47

viii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1 1.1 Considerações iniciais ............................................................................................ 1 1.2 Justificativa ............................................................................................................ 2 1.3 Objetivos ................................................................................................................ 3 1.4 Apresentação do trabalho ...................................................................................... 3

2 CONCEITOS INICIAIS ............................................................................................... 4 2.1 Definição de cálice de fundação ............................................................................. 4 2.2 Transferência de esforços ...................................................................................... 5 2.3 Comportamento de consolo ................................................................................... 7

2.3.1 Modelo de bielas e tirantes .............................................................................. 7 2.3.2 Modelo atrito-cisalhamento ............................................................................. 8

2.4 Armaduras do cálice .............................................................................................. 9 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 11

3.1 Recomendações de projeto segundo Leonhardt & Mönnig (1978), NBR 9062:1985 e El Debs (2000) ............................................................................................ 11

3.1.2 Propriedades geométricas e forças atuantes no cálice .................................... 11 3.1.2 Dimensionamento das paredes do cálice........................................................ 14 3.1.3 Arranjo das armaduras do cálice ................................................................... 17

3.2 Modelo de projeto e recomendações de Canha (2004) ........................................ 18 4 ROTEIRO DE CÁLCULO......................................................................................... 22

4.1 Características geométricas do cálice e forças atuantes no cálice ...................... 22 4.2 Armaduras do cálice ............................................................................................ 26

4.2.1 Armaduras horizontais principais ( ,s hplA e ,s hptA ) .......................................... 26 4.2.1 Armadura vertical principal ,s vpA .................................................................. 32 4.2.3 Armaduras secundárias ( ,s vsA e ,s hsA ) ........................................................... 36

4.3 Aplicação da planilha de dimensionamento e detalhamento .............................. 38 5 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 48 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 49

1

1 INTRODUÇÃO

O primeiro capítulo desse trabalho tem como principal finalidade contextualizar o

tema em estudo, evidenciando as justificativas, os objetivos e a estrutura do trabalho.

1.1 Considerações iniciais

A utilização de estruturas de concreto pré-moldado vem sendo implementada aos

poucos como uma das saídas para a automação de processos na construção civil, o seu uso

implica na eliminação de algumas etapas dentro do canteiro de obras como a armação, a

execução de formas e o preparo e lançamento de concreto; obtendo um menor tempo de

construção.

Na concepção e no desenvolvimento de um projeto estrutural de concreto pré-

moldado, as ligações entre os elementos tornam-se a parte de maior relevância, pois devem

atender uma série de critérios relativos à produção e execução, de tal forma que torne o

processo viável. Sua função principal é assegurar a transmissão das solicitações através das

interfaces dos elementos, de modo que as partes interajam entre si como um único sistema

estrutural.

Segundo El Debs (2000), as ligações mais simples, normalmente articulações,

acarretam elementos mais solicitados à flexão comparados com similares de concreto

moldado no local, bem como estrutura com pouca capacidade de redistribuição de esforços. Já

as ligações que possibilitam a transmissão de momentos fletores, chamadas de ligações

rígidas, tendem a produzir estruturas com comportamento próximo aos da estrutura de

concreto moldado no local. Elas são via de regra, mais difíceis de executar, ou então mais

caras, ou reduzem uma das principais vantagens da pré-moldagem que é a rapidez da

execução.

Dentre os tipos de ligação pilar-fundação, a mais executada no Brasil é a de

cálices pré-moldados que corresponde no embutimento de um trecho do pilar (comprimento

de embutimento) em uma cavidade do elemento de fundação.

2

Figura 1.1 - Ligação pilar-fundação por meio de cálice.

Fonte: http://www.set.eesc.usp.br/2enpppcpm/apresentacoes_pdf/ST2.pdf/4-Gabriela%20M.Campos.pdf

1.2 Justificativa

Sendo as ligações um dos pontos de maior relevância nas estruturas de concreto

pré-moldado, por se tratar de regiões onde há concentrações de tensão e por ser um local

delicado no que diz respeito ao dimensionamento e à montagem da estrutura, vários trabalhos

experimentais e numéricos já foram realizados sobre a ligação pilar-fundação através de

cálices de concreto pré-moldados na Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de

São Paulo (EESC-USP).

Entre os estudos já realizados sobre cálices de fundação com interface lisa existem

alguns pontos de divergência tais como:

A consideração do esforço da parede do cálice ser flexo-tração ou tração;

O tipo de distribuição de pressões adotado na parede transversal frontal do

cálice;

Com base nessas divergências, torna-se necessário uma junção e análise dos seus

resultados encontrados para que obtemos um roteiro (planilha automatizada) de cálculo e

detalhamento para este elemento.

3

1.3 Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo geral criar uma planilha de cálculo para

dimensionamento e detalhamento de cálices de fundação com interface lisa.

Os objetivos específicos são:

Fazer um levantamento bibliográfico dos estudos já realizados sobre

ligações pilar-fundação através de cálices;

Analisar os estudos já realizados e sintetizar suas conclusões em um

roteiro de cálculo.

1.4 Apresentação do trabalho

O primeiro capítulo trata da contextualização do problema, justificativa e

objetivos.

O segundo capítulo aborda definições sobre cálices de fundação, bem como suas

vantagens e desvantagens; é apresentado também o mecanismo de transferência de esforços

da ligação e a disposição das armaduras constituintes do cálice.

No terceiro capítulo são apresentadas algumas recomendações de projeto feitas

por Leonhardt & Mönnig (1978), pela NBR 9062:2006, El Debs (2000) e Canha (2004) sobre

dimensionamento e detalhamento de cálices de fundação com interface lisa.

O quarto capítulo apresenta um roteiro de cálculo e de detalhamento para as

paredes do cálice baseado nas revisões bibliográficas do capítulo 3 e no trabalho de Campos

(2010) junto com um exemplo de dimensionamento de cálice com interface lisa.

O quinto capítulo é reservado para as conclusões e sugestões para trabalhos

futuros.

4

2 CONCEITOS INICIAIS

Será dada, no presente capítulo, uma abordagem introdutória referente aos

conceitos iniciais sobre a ligação pilar – fundação por meio de cálice, bem como o

comportamento e a análise da transferência dos esforços nas paredes e a disposição das

armaduras.

2.1 Definição de cálice de fundação

A ligação pilar × fundação por meio de cálice corresponde no embutimento de um

trecho do pilar (comprimento de embutimento) em uma cavidade do elemento de fundação;

após o encaixe do pilar no cálice, o espaço vazio que fica entre o colarinho e o pilar é

preenchido com graute ou concreto moldado no local.

A locação do pilar é feita utilizando cunhas de madeira que são colocadas no

espaço entre o pilar e o colarinho auxiliando na centralização do mesmo.

Dentre os tipos de ligação pilar × fundação, a mais executada no Brasil é a de

cálices pré-moldados tendo como principais vantagens:

Facilidade na etapa de montagem;

Permite a absorção de desvios dimensionais de geometria ou de locação da

obra;

Boa capacidade de transmitir os esforços solicitantes, com comportamento

semelhante ao de uma ligação monolítica.

Como desvantagens têm:

No processo executivo da ligação há necessidade de maiores cuidados na

concretagem do concreto de enchimento, principalmente no seu

adensamento;

O uso do colarinho em divisas só é possível quando existe uma

determinada distância entre o pilar e a divisa.

Na Figura 2.1 são mostradas algumas variações da posição do cálice de acordo

com o tipo de fundação utilizada.

5

Figura 2.1 - Formas de cálice de fundação (El Debs, 2000).

2.2 Transferência de esforços

A transferência dos esforços advindo do pilar até a fundação é realizada por

intermédio das paredes do cálice (paredes longitudinais e transversais). A Figura 2.2 ilustra o

mecanismo de transferência para cálices com interface lisa.

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Figura 2.2 - Transferência dos esforços em cálice de paredes lisas (EL DEBS, 2000) – adaptado por CAMPOS

(2010).

A força cortante (V) e o momentos fletor (M) são transmitidos do pilar para as

paredes transversais (Parede 1 e 2) do colarinho, através do concreto ou graute de

preenchimento; comprimindo a parede transversal frontal (Parede 1) na sua parte superior e

ocorrendo o mesmo na parede transversal posterior (Parede 2), na sua parte inferior. Essa

transferência de forças na ligação mobiliza forças de atrito na interface pilar-colarinho, sendo

a direção da força ,supatF , na parede 1, no sentido do esforço normal e na parede 2 a direção da

força ,infatF depende da relação entre as solicitações e da geometria.

O pilar transfere a força normal (N) diretamente para o fundo do cálice, tendo seu

valor reduzido pela força de atrito mobilizada na base do elemento de fundação.

A resultante da distribuição de pressões na parede transversal frontal sup( )H gera

esforços transversais que são transmitidos para as paredes longitudinais (paredes 3 e 4), pois

estas possuem rigidez maior para transmitir os esforços para a base do cálice. As paredes 3 e 4

apresentam um comportamento de consolo engastado na fundação (Figura 2.3).

7

Figura 2.3 - Detalhes da transmissão das forças pelas paredes do cálice (EL DEBS, 2000) - adaptada por

CAMPOS (2010).

2.3 Comportamento de consolo

Segundo El Debs (2000), os consolos são peças de concreto armado que se

projetam de pilares ou paredes para servir de apoio para outras partes da estrutura ou para

cargas de utilização. Os consolos constituem-se em balanços bastante curtos (suas dimensões

possuem a mesma ordem de grandeza), merecendo um tratamento à parte do dispensado às

vigas, pois, em geral, não vale a teoria técnica de flexão. Os principais modelos para calcular

os consolos são o “modelo da biela e tirante” e o “modelo de atrito-cisalhamento”.

2.3.1 Modelo de bielas e tirantes

Segundo Torres (1998), o modelo de biela e tirante (também chamado de “treliça”

ou de “escora e tirante”) consiste em idealizar o comportamento da estrutura, substituindo o

fluxo de tensões de compressão e tração respectivamente por elementos comprimidos (bielas)

e tracionados (tirantes). Esses elementos são interconectados por nós, resultando na formação

de uma treliça idealizada. A posição das bielas e dos tirantes é escolhida a partir das tensões

que ocorrem em cada região (Figura 2.4).

8

Figura 2.4 - Modelo de biela e tirante (MORAIS, 2010).

2.3.2 Modelo atrito-cisalhamento

El Debs (2000), afirma que a idéia básica deste modelo é admitir que o concreto

submetido a tensões de cisalhamento desenvolva fissuraras no plano de tensões. A integridade

das partes separadas por essa fissura potencial é garantida pela colocação de uma armadura

cruzando essa superfície, que irá produzir força normal e que consequentemente, mobilizará

forças de atrito que equilibram o cisalhamento.

Figura 2.5 - Modelo atrito cisalhamento (EL DEBS, 2000).

9

2.4 Armaduras do cálice

Na Figura 2.6 são apresentadas as armaduras que constituem o cálice de fundação

com interface lisa e suas disposições espaciais.

Figura 2.6 - Armaduras constituintes de um cálice de fundação (CAMPOS, 2010).

,s hplA : Armadura horizontal principal longitudinal

,s hptA : Armadura horizontal principal transversal

,s vpA : Armadura vertical principal

,s hsA : Armadura horizontal secundária

,s vsA : Armadura vertical secundária

As paredes transversais são as que recebem diretamente as pressões sup fH e infH

advindas dos pilares, sendo gerados nessas paredes esforços transversais que são resistidos

por armaduras localizadas na parede transversal frontal e posterior. A armadura horizontal

10

principal longitudinal ( ,s hplA ) é responsável por transmitir a força sup fH por meio das paredes

longitudinais até a armadura vertical principal localizada na intersecção das paredes

transversais e longitudinais. Para cálice com interface lisa, o dimensionamento da armadura

vertical principal e a verificação da resistência a compressão do concreto devem ser feitos

considerando as paredes longitudinais como consolos. A armadura vertical principal é

dimensionada conforme o tipo de consolo, sendo especificado, para cada tipo, um modelo de

cálculo. As armaduras verticais secundárias e as armaduras horizontais secundárias ( ,s vsA e

,s hsA ) são utilizadas na ligação cálice-fundação para resistir esforços secundários e controlar a

fissuração nas paredes do colarinho (CAMPOS, 2010).

11

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Recomendações de projeto segundo Leonhardt & Mönnig (1978), NBR 9062:1985

e El Debs (2000)

Os modelos de cálculo mais utilizados para dimensionamento e detalhamento da

ligação pilar-fundação fundamentam-se nas recomendações de projeto desenvolvido por

Leonhardt & Mönnig (1978) e pela ABNT 9062:1985 junto com algumas considerações de El

Debs (2000). As recomendações de projeto de Leonhardt & Mönnig (1978) não consideram

as forças de atrito que ocorrem nas paredes lisas do colarinho conduzindo a resultados mais

conservadores no dimensionamento do cálice.

3.1.2 Propriedades geométricas e forças atuantes no cálice

A Figura 3.1, reproduz um esquema geral das características geométricas e das

resultantes de forças transmitidas ao cálice de fundação.

12

Figura 3.1 - Características geométricas e resultantes de forças no cálice (CAMPOS, 2010).

Conforme a Figura 3.1, obtemos as dimensões geométricas do cálice:

b Base da seção transversal do pilar.

h Largura da seção transversal do pilar.

jh Espessura da junta; recomendado pela ABNT 9062:1985 um jh

mínimo de 5 cm.

intb Base interna entre as paredes do colarinho:

int 2 jb b h (3.1)

inth Largura interna entre as paredes do colarinho:

int 2 jh h h (3.2)

Espessuras mínimas das paredes do colarinho:

int int

100 mm1 ou3

chh b

(3.3)

Base externa entre as paredes do colarinho:

t int 2ex cb b h (3.4)

13

Largura externa entre as paredes do colarinho:

t int 2ex ch h h (3.5)

Espessura mínima da base da fundação:

200bfl mm (3.6)

O comprimento de embutimento ( embl ) é função da excentricidade do

carregamento, e da interface das paredes do cálice. A Tabela 3.1 mostra os valores utilizados

por Leonhardt & Mönnig (1978) e da ABNT NBR 9062:1985.

Tabela 3.1 - Comprimento de embutimento do pilar segundo Leonhardt & Mönnig (1978) e ABNT NBR

9062:2006.

* h é a dimensão da seção transversal do pilar paralela ao plano de ação do momento.

Conforme a tabela 3.1, observa-se que os valores apresentados por Leonhardt &

Mönnig (1978) são mais conservadores que os especificados pela ABNT NBR 9062:1985.

Caso a excentricidade seja maior que 0,15 e menor que 2,0 devemos interpolar

linearmente a relação d

d

MN h

para definição do comprimento de embutimento. A ABNT

9062:1985 especifica 40embl cm e caso o pilar seja solicitado por esforço de tração, o

comprimento de embutimento deve ser multiplicado pelo coeficiente de 1,15.

Os valores das resultantes das distribuições de pressões nas paredes transversais e

o ponto de aplicação da força resultante na parede transversal posterior são apresentados nas

Tabelas 3.2 e 3.3.

14

Tabela 3.2 - Resultantes de pressões e ponto de aplicação de sup,dH segundo ABNT NBR 9062:2006.

Tabela 3.3 - Resultantes de pressões e ponto de aplicação de sup,dH segundo modelo de Leonhardt &

Mönnig (1978).

Comparando os valores dos parâmetros das Tabelas 3.2 e 3.3, constatamos que

não há diferença entre recomendações da ABNT NBR 9062:1985 e do modelo de Leonhardt

& Mönnig (1978).

3.1.2 Dimensionamento das paredes do cálice

Segundo Campos (2010), para o dimensionamento do cálice, os elementos de

fundação devem ser calculados para resistir à totalidade das forças verticais e horizontais e

momentos transmitidos pelos pilares, incluindo os momentos de 2º ordem globais.

A distribuição das armaduras do cálice pode ser vista na Figura 3.2, sendo

sugerida por Leonhardt & Mönnig (1978) e adaptada por El Debs (2000).

15

Figura 3.2 - Distribuição das armaduras do cálice (CANHA, 2004).

Considerando a transferência de esforços apresentada no estudo de El Debs

(2000), temos que as paredes longitudinais possuem alta rigidez a flexão; os esforços na

parede 2 são transmitidos, praticamente, diretamente para a base e as pressões na parede 1 são

transmitidas por flexão, quase totalmente, para as paredes 3 e 4.

Esse modelo de transferência dos esforços foi baseado na antiga Norma Italiana

CNR – 10025:1984 (Figura 3.3), e funciona apenas para cálice interface lisa. Segundo El

Debs (2000), o momento fletor atuante na parede 1 desenvolve-se num trecho de altura igual a

um terço do comprimento de embutimento a partir do topo do colarinho. Deve-se dispor de

armadura longitudinal para absorver as tensões de tração nesse trecho.

16

Figura 3.3 - Flexão e disposição da armadura s,hftA na parede transversal 1 (CAMPOS, 2010) - adaptado de (EL

DEBS, 2000).

A tensão devido à distribuição de pressão na parede transversal frontal é:

sup,

int3d

cdemb

Hl b

(3.7)

Sendo seu valor mínimo igual a 0,6 cdf .

As paredes longitudinais devem dispor de uma armadura horizontal principal

,s hpA (Equação 3.8) capaz de absorver a força sup,dH das paredes transversais, sua distribuição

deve ser feita a uma altura de 3embl a partir do topo do colarinho.

sup,, 2

ds hp

yd

HA

f

(3.8)

A determinação das demais armaduras: armadura vertical principal s, pvA ,

armadura vertical secundária s,vsA e armadura horizontal secundária s,hsA são obtidas a partir

do modelo de consolo mais adequado. Podem-se classificar os consolos em três tipos, de

acordo com a inclinação da biela de compressão. São eles:

a) Consolo curto (1 0,5tg ): Modelo de bielas e tirantes;

b) Consolo muito curto ( 0,5tg ): Modelo de atrito-cisalhamento;

c) Consolo longo ( 1tg ): Modelo da Teoria da Flexão

O roteiro de cálculo apresentado no capítulo 4 especifica o procedimento de

cálculo para cada tipo de consolo.

17

3.1.3 Arranjo das armaduras do cálice

A Figura 3.4 ilustra o arranjo das armaduras do cálice com interface lisa para

situações de grande e pequena excentricidade.

Figura 3.4 - Arranjo das armaduras do cálice com interface lisa – (LEONHARDT & MÖNNIG, 1978) adaptado

por (EL DEBS, 2000).

18

3.2 Modelo de projeto e recomendações de Canha (2004)

O trabalho experimental desenvolvido por Canha (2004) apresenta uma análise da

transferência de tensões do pilar para as paredes do cálice. Através de ensaios em modelos

físicos e numéricos foram propostas recomendações de projeto.

As dimensões geométricas do cálice com interface lisa obedecem às

especificações já apresentadas no modelo de Leonhardt & Mönnig (1978) e da NBR

9062:1985, sendo eles:

a) Recomenda um jh (espessura da junta) mínimo de 5 cm;

b) int int

100 mm1 ou3

chh b

; Espessura mínima da base da fundação ( 200bfl mm );

c) O comprimento de embutimento segue a tabela abaixo:

O modelo de dimensionamento proposto por Canha (2004) considera o atrito

existente entre a face do pilar e das paredes do cálice e a excentricidade da força normal na

base do pilar. A transferência dos esforços na ligação pilar fundação está representada na

Figura 3.5.

19

Figura 3.5 - Esquema de forças atuantes no modelo de projeto proposto para cálice com interface lisa

(CANHA, 2004).

Onde:

,sup, sup,at d dF H (3.9)

,inf, inf,at d dF H (3.10)

, , ,at bf d bf dF N (3.11)

Aplicando o somatório das forças horizontais, verticais e momento fletores e

considerando o equilíbrio, obtemos:

, ,sup, ,inf, 0d bf d at d at dN N F F (3.12)

, , sup, inf, 0d at bf d d dV F H H (3.13)

sup, inf, ,sup,

,inf,

` 0,5

0,5 0d d nb d emb d emb d at d nb

at d nb

M N e V l H l y H y F h e

F h e

(3.14)

Manipulando as equações de equilíbrio e substituindo os valores das forças de

atrito, Canha (2004) obteve a Equação 3.13 para o cálculo de sup,dH :

2

2 2

sup

` 0,5 ` 0,51 1

`

nb nbd d nb d emb

femb

y h e y h eM N e V l

Hl y y h

(3.15)

20

Os parâmetros da Equação 3.15 recomendados por Canha (2004) para o cálculo de

sup,dH são:

a) Coeficiente de atrito μ = 0,6 para cálice com interface lisa

b) Excentricidade da reação na base da fundação 4nbe h

c) 6emby l

d) ` 10emby l

No estudo de Canha (2004) constatou-se que a parede transversal frontal (parede

1) é submetida a uma flexo-tração, apresentando um comportamento de uma viga biapoiada.

Segundo Campos (2010), parte da pressão oriunda do pilar foi transmitida

diretamente para os apoios com diferentes inclinações e a outra parcela ocasionou flexão na

parede. Existem ainda forças de atrito que resultam da pressão de contato do pilar e da junta

no cálice que não são direcionadas para os apoios (Figura 3.6). Uma modelagem do

comportamento da parede está apresentada na Figura 3.7. A modelagem consistiu em variar o

percentual da força sup ,f dH , que causa flexão na parede transversal com distribuição

parabólica no meio do vão e da força sup ,t dH , que causa tração na parede transversal que vai

direto para os apoios da viga, fazendo o ajuste do grau 1n da parábola. Adotou-se um ângulo

45 de inclinação das fissuras, devido às dimensões nas duas direções serem iguais.

Calibrando o modelo com os resultados dos modelos ensaiados, Canha (2004) sugeriu os

valores de sup , sup, 0,35f d dH H , sup , sup, 0,65t d dH H e 1 5n indicando que a parede está

submetida a 35% de flexão e a 65% de tração.

21

Figura 3.6 - Idealização de pressões na parede transversal 1 do cálice com interface lisa (CANHA, 2004).

Figura 3.7 - Modelagem do comportamento da parede transversal 1 do cálice com interface lisa -

(CANHA, 2004).

22

4 ROTEIRO DE CÁLCULO

Neste capítulo será apresentado um roteiro de cálculo para cálices de fundação

com interface lisa, o referido roteiro terá como base o trabalho de Campos (2010) e algumas

considerações dos modelos apresentados no capítulo 3.

4.1 Características geométricas do cálice e forças atuantes no cálice

Figura 4.1 - Características geométricas do cálice de fundação (CAMPOS, 2010).

a) Seção do Pilar

A base e a largura da seção transversal do pilar são dados obtidos do projeto

estrutural.

b) Espessura da junta ( )jh :

A espessura da junta (distância entre a face externa do pilar e a face interna do

colarinho) deve ter espaço adequado de modo que o concreto de preenchimento possa ser

adensado de forma correta, não podendo essa distância ser menor que 5 cm. Caso a junta seja

preenchida por graute auto adensável sua espessura pode ser reduzida.

c) Distância interna entre as paredes do colarinho

Da geometria da Figura 4.1, obtemos a base e a largura interna entre as paredes do

colarinho:

23

int 2 jb b h (4.1)

int 2 jh h h (4.2)

d) Espessura da parede do colarinho

A espessura mínima da parede do colarinho é obtida pela Equação 4.3, está

fórmula é adotada por Campos (2010), sendo um valor intermediário entre o valor mínimo

recomendado por seu trabalho (Equação 4.4) e o valor indicado por Leonhardt & Mönnig

(1978) (Equação 4.5):

int int1

3,5ch h ou b (4.3)

int int13ch h ou b (4.4)

int int14ch h ou b (4.5)

O valor obtido da equação 4.3 deve ser maior que o valor mínimo indicado pela

norma ABNT NBR 9062:2006, que é de 10 cm, sendo o espaço resultante adequado para a

distribuição de todas as armaduras resultantes do dimensionamento, respeitando os valores de

cobrimento indicado pela NBR 6118:2003.

e) Distância externa entre as paredes do colarinho

Da geometria da Figura 4.1, obtemos a base e a largura externa entre as paredes

do colarinho:

t int 2ex cb b h (4.6)

t int 2ex ch h h (4.7)

f) Comprimento de embutimento

Segundo Campos (2010), o cálculo do comprimento de embutimento (Equação

4.8) obedece às recomendações estabelecidas pela ABNT NBR 9062:2006 (Tabela 4.1). Os

comprimentos de embutimento são determinados de acordo com a interface das paredes do

colarinho e do pilar (no caso deste trabalho a ênfase é apenas em cálices com interface lisa) e

de acordo com a excentricidade da força normal: pequena ou grande excentricidade. Para

valores intermediários de excentricidade, pode-se interpolar linearmente a relação de

momento fletor e força normal para definição, Caso a excentricidade resulte próximo dos

limites, recomenda-se adotar as respectivas recomendações de pequena ou grande

excentricidade. O valor mínimo recomendado pela Norma Brasileira é de 40 cm.

24

Tabela 4.1 - Comprimentos de embutimento recomendados pela ABNT NBR 9062:2006

(pequena excentricidade) 1,50 40

(grande excentricidade) 2,0 40

embd

demb

l h cmMe ou

N hl h cm

(4.8)

g) Comprimento do colarinho

O comprimento do colarinho ( cl ) é obtido da diferença entre o comprimento de

embutimento e da espessura da junta de concreto abaixo do pilar pré-moldado (Equação 4.9).

Campos (2010) recomenda 1 cm para a junta podendo ser adotados valores maiores,

com a finalidade de possíveis ajustes e acomodações de erros.

1c embl l cm (4.9)

h) Coeficiente de Atrito

O coeficiente de atrito na interface entre a junta e os elementos pilar e cálice é um

dos principais parâmetros na avaliação do comportamento da ligação cálice-fundação, pois

influencia na determinação do valor resultante da pressão superior e inferior de compressão

atuante nas paredes transversais do cálice. Baseado nos estudos de Canha (2004), o valor de μ

= 0,3 (forma de madeira) para o coeficiente de atrito no caso de cálice com interface lisa é o

mais recomendado para o dimensionamento da ligação, pois trabalha a favor da segurança.

i) Excentricidade da força normal na base

A equação para o cálculo da excentricidade da força normal na base ( nbe ) (Equação

4.10) foi recomendada no estudo de Canha (2004).

4nbhe (4.10)

j) Distância de aplicação das pressões sup fH e infH

Os pontos de aplicação da pressão superior e inferior são determinados

considerando uma distribuição retangular das pressões.

y: Distância do ponto de aplicação da resultante de pressão sup fH ao topo do colarinho.

25

10embly (4.11)

y': Distância do ponto de aplicação da resultante de pressão infH à base do pilar.

`10embly (4.12)

k) Resultante de pressão das paredes transversais ( sup fH e infH )

Segundo Campos (2010), as pressões nas paredes do cálice mobilizam três forças

de atrito ,supat fF , ,infatF , ,at bfF atuando, respectivamente, na parede transversal frontal, na

parede transversal posterior e na base da fundação, além de considerar a excentricidade nbe da

reação da força bfN na base do pilar. A excentricidade deve ser considerada, pois, devido à

flexo – compressão, a reação na base do pilar é excêntrica. Além disso, pode ocorrer o

deslizamento do pilar e da junta em relação à base ocorrendo consequentemente um

acréscimo do deslocamento da reação.

Figura 4.2 - Transferência de forças no cálice com interface lisa (CANHA, 2004) – (adaptado por CAMPOS,

2010)

26

A força de compressão superior oriunda da pressão do pilar na parede transversal

frontal (Equação 4.13) foi desenvolvida por Canha (2004).

2

2 2

sup

` 0,5 ` 0,51 1

`

nb nbd d nb d emb

femb

y h e y h eM N e V l

Hl y y h

(4.13)

A força de compressão inferior oriunda da pressão do pilar na parede transversal

posterior é obtida da equação de equilíbrio das forças horizontais (Equação 4.14)

inf sup f dH H V (4.14)

4.2 Armaduras do cálice

4.2.1 Armaduras horizontais principais ( ,s hplA e ,s hptA )

Figura 4.3 - Armaduras constituintes do cálice (CAMPOS, 2010)

27

Armadura horizontal principal longitudinal – ,s hplA

Segundo Campos (2010), a armadura horizontal principal longitudinal transmite a

solicitação horizontal sup fH por meio das paredes longitudinais até a armadura vertical

principal como ilustrado na Figura 4.2 (b). As paredes longitudinais se comportam como

consolos recebendo indiretamente a força sup fH .

A armadura horizontal principal longitudinal é composta de dois ramos: ramo

externo ( ,s hpleA ) localizado no perímetro externo das paredes longitudinais e representado pela

cor vermelha na Figura 4.3; e pelo ramo interno ( ,s hpliA ) localizado na parte interna das

paredes longitudinais e indicado na cor verde na Figura 4.3.

A armadura ,s hplA pode ser obtida, a partir da Equação (4.15):

sups, 2

fhpl

yd

HA

f

(4.15)

Deve-se distribuir a armadura ,s hplA nas paredes longitudinais em uma altura de

3embl a partir do topo do colarinho.

Armadura horizontal principal transversal – ,s hptA

O tipo de solicitação que a força de compressão oriunda da pressão do pilar causa

na parte superior da parede transversal frontal é um dos pontos de divergências entre os

modelos de dimensionamento da armadura horizontal principal transversal. Alguns modelos

como o manual da empresa Munte, indica que a sup fH causa flexão na mesma, já outros como

o da norma CNR 10025:1998, indica que essa pressão superior causa tração na parede.

Campos (2010) citando Canha et al. (2009), expõe as conclusões da pesquisa

teórico-experimental realizada na EESC-USP:

a) A parte superior da parede transversal frontal da ligação é submetida à tração e a

flexão, e que a tração prevalece sobre a flexão;

28

b) A flexo-tração é constatada pela tração dos ramos internos e externos da armadura

horizontal principal transversal e pela configuração de fissuras no topo da parede

(Figura 4.4). A parte superior da parede transversal frontal apresenta um

comportamento de viga simplesmente, em que as fissuras são causadas pela

transferência por flexo-tração da força sup fH para as paredes longitudinais.

Figura 4.4 - Configuração das fissuras nas paredes transversais de cálice com interface lisa - CANHA

et al. (2009).

c) A distribuição de pressões no canto superior da parede transversal frontal pode ser

dividida em duas partes (Figura 4.5):

sup f fH : causa flexão na viga e tem uma distribuição parabólica de grau 2

(n = 2), sendo simplificada para uma distribuição uniforme (n = 0) devido

a questões práticas sup(15% )fH ;

sup f tH : é transmitida para os apoios da viga com uma inclinação de

ângulo . O ângulo 45 foi adotado, pois foi o valor médio das

inclinações das fissuras dos modelos ensaiados ( sup85% fH );

29

Figura 4.5 - Modelo de projeto para a parede transversal frontal para cálice com interface lisa

(adaptado de CANHA et al. (2009))

Logo, a resultante da distribuição de pressões no topo da parede transversal

superior é obtida da soma das duas parcelas:

sup sup supf f f f tH H H (4.16)

Onde:

sup f fH : parcela da pressão superior que causa flexão na parede transversal frontal

sup f tH : parcela da pressão superior que causa tração na parede transversal frontal

Após o estudo de Canha (2009) onde foi constatado que a parte superior da parede

transversal frontal é submetida à flexo-tração, vários modelos de cálices foram ensaiados por

Nunes (2009) diferenciando o dimensionamento da armadura horizontal principal transversal,

ora sendo calculada com flexo-tração, ora com tração.

Os resultados desses ensaios comprovaram que se a parede transversal frontal for

submetida apenas a tração há um pequeno acréscimo da área de aço (aumento máximo de

18%) quando comparada com a armadura submetida à flexo-tração, assim Campos (2010)

indica o dimensionamento considerando apenas tração, por esse método resulta em cálculos

menos complexos.

Segundo Campos (2010), uma distribuição com maior área de aço para o ramo

externo é a melhor situação, pelo esforço nessa região ser mais intenso e também devido à

situação de montagem do cálice, onde uma força de encunhamento causa flexão nas paredes,

tracionando a armadura. É indicada ainda, a distribuição de ,1 3 s hptiA para o ramo interno e de

,2 3 s hpteA para o ramo externo. Considerando somente tração da parede, as resultantes são

determinadas pelas Equações (4.17) e (4.18):

30

sup 0f fH (4.17)

sup supf t fH H (4.18)

As resultantes que atuam nos dois ramos da armadura ,s hptA são obtidas das

equações 4.19 e 4.20.

sup sup, 2

f t f fs hpte

N MR

z

(4.19)

sup sup, 2

f t f fs hpti

N MR

z

(4.20)

Onde:

sup f fM : Momento fletor oriundo da pressão sup f fH

sup f tN : Força normal oriunda da pressão sup f tH

z : Distância entre as resultantes ,s hpteR e ,s hptiR

Os esforços sup f fM e sup f tN são calculados segundo as Equações (4.21) e

(4.22), respectivamente, e o braço z pela Equação (4.23):

int intsup sup 4 8

cf f f f

b h bM H

(4.21)

supsup cos

2f t

f t

HN

sen

(4.22)

`z d d (4.23)

Sendo que:

45o

d : Distância do centro de gravidade da armadura externa até a parte interna da parede.

`d : Distância do centro de gravidade da armadura interna até a parte interna da parede.

Na Figura 4.6 é indicada a localização das armaduras e identificação dos termos d

e d’.

31

Figura 4.6 - Localização da armadura horizontal principal e respectivas alturas úteis (CAMPOS, 2010).

Considerando somente tração na parede transversal frontal, as resultantes ,s hpteR e

,s hptiR , serão iguais, pois a parcela de sup fH que causa flexão na parede transversal ( sup f fH )

é igual a 0, implicando em um momento fletor nulo. O cálculo da armadura horizontal

principal transversal é feito pela Equação (4.24) para o ramo externo e pela Equação (4.25)

para o ramo interno.

,,

s hptes hpte

yd

RA

f

(4.24)

,,

s hptis hpti

yd

RA

f

(4.25)

Campos (2010) citando Canha (2004) e Nunes (2009) indica que a armadura ,s hptA

deve ser distribuída em um trecho de altura igual a 3embl a partir do topo do cálice.

A área de armadura horizontal principal deve ser o maior valor entre ,s hplA e ,s hptA

devem ser dispostas simetricamente. Essa consideração deve ser adotada devido às duas

armaduras horizontais serem distribuída na mesma altura.

O detalhamento das armaduras horizontais principais está ilustrada na Figura 4.7,

este modelo foi desenvolvido por Jaguaribe Jr. (2005) e Nunes (2009). O ramo externo é

composto de um quadro de armadura fechado disposto ao longo do perímetro externo das

paredes do colarinho e o ramo interno é formado de quatro elementos de armadura em forma

de U dispostos na parte interna das quatro paredes do cálice. No caso da consideração do

esforço de flexo-tração das paredes transversais do cálice, as áreas resultantes de aço para o

ramo interno é diferente da área de aço para o ramo externo (Campos 2010).

32

Figura 4.7 - Detalhamento da armadura horizontal utilizada nos modelos de Jaguaribe Jr. (2005) e

Nunes (2009) - (adaptado de CAMPOS (2010)).

4.2.1 Armadura vertical principal ,s vpA

O modelo de dimensionamento para a armadura ,s vpA e verificação da resistência

a compressão do concreto devem ser feitos considerando as paredes longitudinais como

consolos, conforme indicado pelo modelo de Leonhardt & Mönnig (1978) e verificado através

de ensaios realizados no trabalho de Canha (2004). Seu dimensionamento é obtido a partir do

modelo de consolo mais adequado, sendo especificado, para cada tipo, um modelo de cálculo,

faz se necessário a verificação do esmagamento da biela comprimida.

A armadura ,s vpA , resultante do cálculo equivale à área de aço necessária para

cada canto do cálice.

Podem-se classificar os consolos em três tipos, de acordo com a inclinação da

biela de compressão. São eles:

a) Consolo curto (1,0 0,5)tg : modelo de biela e tirante

b) Consolo muito curto ( 0,5)tg : modelo de atrito-cisalhamento

d) Consolo longo ( 1,0)tg : teoria da flexão

Onde é o ângulo formado entre a biela de compressão e o eixo horizontal,

calculado de acordo com a Equação (4.26):

0,852

c

cext

l yarc tg hh

(4.26)

33

Figura 4.8 - Localização da armadura vertical principal no cálice com interface lisa (CAMPOS, 2010).

A seguir é apresentado o método de cálculo desenvolvido por Campos (2010):

Consolo curto: (1,0 0,5)tg

,vp

s vpyd

RA

f

(4.27)

0,85cbcb cd

bie c

R fh h

(4.28)

Considerando a atuação da carga indireta a tensão na armadura é de no máximo

435 MPa e a tensão do concreto deve ser limitada em 0,85 cdf .

34

Figura 4.9 - Dimensionamento das paredes longitudinais como consolo curto (CAMPOS, 2010).

Consolo muito curto: ( 0,5)tg

A armadura vertical principal é calculada pela Equação 4.29:

sup

,

0,82

f

s vpyd

H

Af

(4.29)

Segundo a ABNT NBR 9062:2006, o valor de é definido de acordo com as

situações abaixo:

a) μ = 1,4, para concreto lançado monoliticamente;

b) μ =1,0, para concreto lançado sobre concreto endurecido intencionalmente rugoso (5

mm de profundidade a cada 30 mm);

c) μ = 0,6, para concreto lançado sobre concreto endurecido com interface lisa.

A verificação do esmagamento do concreto é feito em função da tensão de

cisalhamento de cálculo, de acordo com a Equação (4.30):

sup 3,0 0,9 62

fwd wu yd

c c

Hf MPa

h d

(4.30)

Sendo que é a taxa geométrica da armadura vertical principal.

A armadura ,s vpA , também pode ser calculada pela Equação (4.31) igualando a

tensão de cisalhamento de cálculo com a tensão de cisalhamento última, o que resulta em:

35

sup

,

32

0,9

fc c

s vpyd

Hh d

Af

(4.31)

Adotar a maior área de aço entre as calculadas pelas Equações (4.30) e (4.31) para

a armadura ,s vpA . A tensão na armadura também deve ser limitada em 435 MPa e o resultado

de ,s vpA , não deve ter valor menor que a calculada para o caso de consolo curto.

Consolo longo: ( 1,0)tg

Segundo Campos (2010), as paredes longitudinais devem ser dimensionadas como

uma viga em balanço engastada na fundação, onde uma força sup 2fH atuante na

extremidade gera um momento de engastamento. O dimensionamento de ,s vpA , segue a ABNT

NBR 6118:2003. Assim, como no caso de consolo muito curto, a armadura ,s vpA , resultante

do dimensionamento, não deve ter área menor quando comparada com a calculada para

consolo curto.

O detalhamento da armadura vertical do cálice apresentado na Figura 4.10

assegura uma boa ancoragem da armadura vertical no elemento de fundação, transferindo

todas as tensões da armadura para o concreto.

Figura 4.10 - Detalhamento da armadura vertical (CAMPOS, 2010).

Figura 4.11 - Detalhe da distribuição das armaduras verticais principais e secundárias no cálice (CAMPOS,

2010).

36

4.2.3 Armaduras secundárias ( ,s vsA e ,s hsA )

Segundo Campos (2010), as armaduras verticais secundárias e as armaduras

horizontais secundárias são utilizadas na ligação cálice-fundação para resistir a esforços

secundários e controlar a fissuração nas paredes do colarinho. As distribuições das armaduras

secundárias do cálice estão ilustradas nas Figuras 4.12 e 4.13. A armadura ,s vsA é disposta no

meio das paredes do colarinho e a armadura ,s hsA é distribuída ao longo dos 2 3 inferiores da

altura útil das paredes longitudinais e transversais.

Figura 4.12 - Localização da armadura vertical secundária no cálice com interface lisa (CAMPOS, 2010).

37

Figura 4.13 - Localização da armadura horizontal secundária no cálice com interface lisa (CAMPOS, 2010).

Para o dimensionamento das armaduras secundárias, adota-se as recomendações

de Campos (2010), conforme o tipo de consolo:

Consolo curto: (1,0 0,5)tg

, ,0, 40s vs s vpA A (4.32)

, ,0, 25s hs s vpA A (4.33)

Consolo muito curto: ( 0,5)tg

, ,0,50s vs s vpA A (4.34)

, ,0, 25s hs s vpA A (4.35)

Os valores obtidos para ,s hsA e ,s vsA , não devem ser menores que os calculados

para o caso de consolo curto. As armaduras também devem ser dispostas nas paredes

transversais e longitudinais com espaçamento entre 15 e 30 cm.

38

Consolo longo: ( 1,0)tg

As paredes longitudinais são calculadas como uma viga em balanço engastada na

fundação e sua ,s vsA é dimensionada como uma armadura de pele da viga de acordo com a

Equação (4.36):

, 0,10%s vs c extA h h (4.36)

Segundo Campos (2010), na distribuição de ,s vsA , o espaçamento deve ser menor

que 3cd ou 20 cm. A armadura horizontal secundária para resistir ao esforço cortante de

sup 2fH deve ser calculada segundo os modelos de cálculo I ou II da ABNT NBR 6118:2003

para elementos lineares sujeitos a força cortante. As armaduras ,s hsA e ,s vsA , não devem ter

área menor quando comparadas com as calculadas para consolo curto.

4.3 Aplicação da planilha de dimensionamento e detalhamento

A seguir será apresentado um exemplo de dimensionamento e detalhamento de

cálice com interface lisa com auxílio da planilha eletrônica desenvolvida com base no roteiro

de cálculo do item anterior.

Exemplo: Dimensionar e detalhar um cálice de fundação com interface lisa

considerando um carregamento de 250dN kN , 200dM kN m e 50dV kN ; um pilar

pré-moldado com seção de 40 cm x 40 cm embutido em sua cavidade; 20ckf MPa e

500yf MPa .

1) Os dados de entrada do exemplo são subdivididos em 4 planilhas (Figura 4.14):

carregamento, características dos materiais, seção do pilar e considerações de projeto. Na

planilha “CARREGAMENTO” o usuário entra com os valores dos esforços advindos do pilar e

na planilha “CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS” são informados o ckf e o .yf

A seção do pilar é fornecida, tendo que ser indicado qual lado o carregamento

atua, pois para o cálculo da espessura da parede do cálice ( ch ) é utilizado o comprimento do

referido lado.

Outros parâmetros de entrada são a espessura da junta do concreto de

preenchimento e o cobrimento da armadura.

39

Figura 4.14 - Dados de entrada do projeto.

2) As características geométricas do colarinho (Figura 4.15) são calcaludas com base nas expressões desenvolvidas no item 4.3 e seus valores são obtidos de forma direta na planilha.

Figura 4.15 - Características geométricas do colarinho.

3) A planilha “PRESSÕES NA PAREDE” (Figura 4.16) fornece:

O ponto de aplicação das resultantes da distribuição de pressões nas

paredes transversal frontal e posterior;

O comprimento de embutimento e o comprimento do consolo;

A excentricidade da força normal;

Força sup fH e infH .

40

O coeficiente de atrito deve ser informado pelo usuário. É indicado o valor 0,3

que se refere ao da forma de madeira.

Figura 4.16 - Pressões na parede.

4) A armadura horizontal é obtida em seguida (Figura 4.17), sendo dividida em

dois ramos:

Ramo interno: ,1 3 s hplA

Ramo externo: ,2 3 s hplA

Figura 4.17 - Área da armadura horizontal principal longitudinal.

5) A armadura horizontal transversal é calculada dividindo a força sup fH em duas

parcelas; em seguida são calculados os valores das solicitações sup f fM , sup f tN (Figura 4.18

(a)).

41

Figura 4.18 (a) - Solicitações resultantes nas paredes transversais.

A Figura 4.18 (b) nos fornece as forças que atuam nos dois ramos da armadura

horizontal principal transversal bem como a distância entre essas forças.

Figura 4.18 (b) - Resultantes nas armaduras horizontais transversais.

42

6) A armadura horizontal é obtida em seguida (Figura 4.19), sendo dividida em

dois ramos:

Ramo interno: ,1 3 s hplA

Ramo externo: ,2 3 s hplA

Figura 4.19 - Área da armadura horizontal principal transversal.

7) O dimensionamento da armadura vertical principal é considerado um

comportamento de consolo. A verificação da armadura é feita tanto para consolo curto como

consolo longo, sendo adotado o valor com maior área de aço. (Figura 4.20).

Figura 4.20 - Dimensionamento da armadura vertical principal.

43

8) As armaduras secundárias também são calculadas conforme as recomendações

de consolo da ABNT NBR 9062:2006. A verificação da armadura é feita tanto para consolo

curto como consolo longo, sendo adotado o valor com maior área de aço. (Figura 4.21 e 4.22).

Figura 4.21 - Dimensionamento da armadura vertical secundária.

Figura 4.22 - Dimensionamento da armadura horizontal secundária.

9) A armadura horizontal principal deve ser o maior valor entre as armaduras

horizontais longitudinais e transversais, a área de aço que deve ser distribuída a uma distância

igual a um terço do comprimento de embutimento deve ser disposta em dois ramos (Figura

4.23). A planilha de cálculo nos fornece as áreas de aço possíveis para as armaduras

horizontais externas e internas (Figura 4.24), cabendo o usuário a escolha da bitola a ser

utilizada.

44

Figura 4.23 - Detalhamento da armadura horizontal principal.

Figura 4.24 – Escolha da bitola da armadura horizontal principal.

Para as demais armaduras o mesmo processo de escolha da bitola para armadura

se aplica.

45

Figura 4.25 – Detalhamento da armadura vertical principal

46

Figura 4.26 – Detalhamento da armadura horizontal secundária.

47

Figura 4.27 – Detalhamento da armadura horizontal secundária.

48

5 CONCLUSÃO

O estudo deste trabalho teve como objetivo desenvolver uma planilha eletrônica

de cálculo baseada nos principais modelos empregados no dimensionamento e detalhamento

de cálices de fundações com interface lisa e nos resultados dos estudos teórico –

experimentais em cálices de fundação realizados na EESC-USP. O roteiro de cálculo é

baseado nos trabalhos de Leonhardt e Mönnig (1978), El Debs (2000), Canha (2004), Campos

(2010) e na NBR 9062:2006.

A utilização da planilha é apresentada através do exemplo de dimensionamento e

detalhamento de cálice de fundação com interface lisa onde são demonstrados os passos de

entrada de dados, bem como o modo de obtenção de resultados na planilha. A interface da

planilha foi demonstrada no item 4.4 para que durante a utilização do mesmo facilite o

processo de entrada de dados e obtenção dos resultados.

Alguns dos parâmetros de projeto adotados no roteiro de cálculo são expostos

abaixo:

a) O contato do pilar com a parte superior da parede transversal frontal gera uma

distribuição de retangular de pressões, determinando à posição de aplicação da pressão

sup fH igual a 10emby l ;

b) No dimensionamento da armadura horizontal principal é considerado somente força de

tração atuando nas paredes transversais. Os resultados dos estudos de Nunes (2009)

comprovaram que se a parede transversal frontal for submetida apenas a tração há um

pequeno acréscimo da área de aço (aumento máximo de 18%) quando comparada com

a armadura submetida à flexo-tração;

c) A armadura horizontal principal é dividida em dois ramos, sendo o ramo externo 2 3

da armadura horizontal principal transversal e o ramo interno 1 3 da armadura

horizontal principal. Está distribuição é sugerida por Campos (2010), pois o ramo

externo da armadura é mais solicitado que o ramo interno e também devido à situação

de montagem do cálice, onde uma força de encunhamento causa flexão das paredes;

d) A espessura mínima da parede do colarinho adotada no roteiro de cálculo deste

trabalho é de int int1 3,5ch h ou b . Campos (2010) recomenda que a espessura

mínima seja calculada pela expressão int int1 4ch h ou b , sendo respeitado sempre

o limite mínimo imposto pela ABNT NBR 9062:2006 que é de 10 cm.

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REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, 2006. CAMPOS, G. M. Recomendações para projeto de cálice de fundação. 2010. 204 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010. CANHA, R. M. F. Estudo teórico-experimental da ligação pilar-fundação por meio de cálice em estruturas de concreto pré-moldado. 2004. 279 f. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004. CONSIGLIO NAZIONALE DELLE RICERCHE. CNR-10025: Istruzioni per il progetto, l´esecuzione ed il controllo delle strutture prefabbricate in calcestruzzo. ITEC/La prefabricazione. Roma, 1998. EL DEBS, M. K. Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações. 1. ed. São Carlos: EESC-USP, 2000. JAGUARIBE JR., K.B. Ligação pilar fundação por meio de cálice em estruturas de concreto pré-moldado com profundidade de embutimento reduzida. 2005. 177 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005. LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto: princípios básicos sobre armação de estruturas de concreto armado. v.3. Rio de Janeiro: Interciência, 1978. NUNES, V. C. P. Análise experimental de cálice de fundação com ênfase nos esforços nas paredes transversais do colarinho. 2009. 132 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009. TORRES, F. M. Análise teórico-experimental de consolos de concreto armado. 1998. 112 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1998.