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Ética Deontológica de Kant

Professor Domingos Faria

v180514

Colégio Pedro Arrupe

Filosofia

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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A resposta deontológica de Kant

Ética Deontológica de KantQual é o bem último? A boa vontade

Qual é o critério da ação correta? O Imperativo categórico

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Introdução

• A ética de Kant é deontológica (absolutista):1 Agir corretamente é agir com a intenção de cumprir o dever por dever.2 As consequências não contam na determinação do seu valor moral.

• Continua a ser uma das alternativas principais ao utilitarismo.• Kant desenvolveu a sua ética sobretudo no livro “Fundamentação da

Metafísica dos Costumes” (1785).

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Para começar...

Para começar...

Suponha-se que uma criança entra numa padaria para comprar umpão. A padeira apercebe-se de que pode enganar a criança no troco,mas está preocupada que os outros clientes possam dar-se conta desseembuste e que os possa perder. Por isso, ela decide dar à criança otroco justo.a

aEste caso é inspirado nas pp. 27-28 do livro de Kant. Para uma animação deste caso: ver aqui.

1 Será a conduta da padeira moralmente correta?2 Será que fazer a coisa certa por causa do medo das

consequências é uma ação moralmente correta?

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Boa Vontade

T1. “Neste mundo, e até fora dele, nada é possível pensarque possa ser considerado como bom sem limitação a não seruma só coisa: uma boa vontade. (. . . ) A boa vontade parececonstituir condição indispensável do próprio facto de sermosdignos de felicidade. (. . . ). A boa vontade não é boa poraquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançarqualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer,isto é, em si mesma”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pp. 21-23.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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Boa Vontade

Boa vontade• É algo que tem valor intrínseco.• É a única coisa que tem valor incondicional (ou seja, é boa em todas e

quaisquer condições ou circunstâncias).

• Todas as outras coisas valiosas, como a coragem e inteligência, nãotêm valor incondicional.

• Isto porque tais coisas podem ser usadas para o mal: uma pessoa podeusar a sua inteligência e coragem para prejudicar e explorar os outros.

• Só a boa vontade não pode ser usada para o mal.

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Boa Vontade

E a felicidade?• Mesmo que tenha valor intrínseco, não tem esse valor em todas as

circunstâncias.• A felicidade pode ser usada para o mal: a felicidade que resulta de uma

pessoa traiçoeira, que prejudica de forma propositada os outros, não é algorealmente bom.

• A felicidade é boa apenas na medida em que temos uma boa vontade.

Importância das intenções e das máximas• Se a boa vontade é bem último, na avaliação moral das ações a única coisa

que interessa são as intenções dos agentes e não as consequências.• Isto porque a nossa vontade manifesta-se através das nossas intenções.• Por sua vez, as nossas intenções expressam-se através de máximas (como p.e.

"devemos ser honestos").• As máximas são regras ou princípios que nos indicam a intenção dos agentes.

Mas o que é exatamente uma boa vontade?Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 10 / 60

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Boa Vontade

T2. “Para desenvolver o conceito de uma boa vontadealtamente estimável em si mesma (. . . ) vamos encarar oconceito do Dever que contém em si o de boa vontade. (. . . )Deixo aqui de parte todas as ações que são logo contrárias aodever (. . . ); pois nelas nem sequer se põe a questão de saberse foram praticadas por dever, visto estarem até emcontradição com ele. Ponho de lado também as ações que sãomeramente conformes ao dever (. . . ) porque a isso sãolevados por outra tendência”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pp. 26-27.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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Boa Vontade

O que é exatamente uma boa vontade?É a vontade do agente guiada exclusivamente pela sua intenção em cumpriro dever por dever, e não movida por inclinações ou interesses.

• Quem tem uma boa vontade faz aquilo que deve fazer, aquilo que émoralmente correto, pelas razões corretas.

Kant esclarece essa ideia ao distinguir:(1) Ações contrárias ao dever.(2) Ações meramente conformes ao dever.(3) Ações realizadas por dever.

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Dever

T3. “Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e háalém disso muitas almas de disposição tão compassiva que(. . . ) acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta ese podem alegrar com o contentamento dos outros, enquantoeste é obra sua. Eu afirmo porém que neste caso uma talação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não temcontudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelharcom outras inclinações, por exemplo o amor das honras que,quando por feliz acaso topa aquilo que efetivamente é deinteresse geral e conforme ao dever, é consequentementehonroso e merece louvor e estímulo, mas não estima; pois àsua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais açõesse pratiquem, não por inclinação, mas por dever”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pp. 28-29.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 13 / 60

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Dever

Ações

Contrárias ao dever(Ex.: Maltratar uma pessoa.)

De acordocom o dever

(Ex.: Ajudar uma pessoa)

Meramente conformesao dever

(Ex.: Ajudar uma pessoa por

interesse ou compaixão.)

Realizadas por dever(Ex.: Ajudar uma pessoa apenas

para cumprir a obrigação moral.)

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Dever

Em suma, Kant distingue três tipos de ações:

(1) Ações contrárias ao dever: são as ações que, em geral,desrespeitam absolutamente o que é moralmente devido (matar,roubar, difamar, etc.)

(2) Ações meramente conformes ao dever: são ações que, emboraestejam de acordo com aquilo que devemos fazer, não sãomotivadas pelo sentido do dever, mas sim por interesses ouinclinações (não difamar por receio das consequências, etc.)

(3) Ações realizadas por dever: são ações que cumprem o dever porpuro e simples respeito pelo dever – apenas para cumprir aobrigação moral (não difamar porque não devo difamar, etc.)

Para Kant, só tem valor moral as ações realizadas por dever .

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Mas, no que se baseiam as ações realizadas por dever?• Na razão... Quando agimos por dever estamos a agir racionalmente.• Ou seja, agir por dever implica fazer aquilo que é correto tendo como

único motivo ou intenção obedecer à lei moral que a razão impõe.• Pelo contrário, quando agimos por outros motivos (inclinações)

estamos a agir em função de desejos não racionais. (Desejos esses quetiram todo o valor moral às nossas ações).

Mas, por que motivo os nossos deveres morais resultam da razão?• Toda a moral baseia-se num princípio racional fundamental.

• Racional – porque todos o reconhecemos como verdadeiro a priori ,usando unicamente a razão.

• Fundamental – porque é dele derivam todos os nossos deveres moraisespecíficos.

E, qual é esse princípio racional fundamental?É o imperativo categórico.Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 16 / 60

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Exercícios

Figura 1

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Exercícios

Figura 2: Segundo Kant, a ação do Calvin tem valor moral?Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 18 / 60

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Exercícios

• Segundo Kant, a ação do Calvin (de não atirar a bola de neve à Susie)tem valor moral?

• De acordo com Kant, o Calvin, ao deitar a bola de neve para o chão edesistir de a atirar à Susie, realiza uma ação meramente conforme aodever.

• Ou seja: Calvin efetua a ação correta, não por amor ao dever mas pormedo de maiores males. Ao agir desse modo age por interesse e por issoa sua acção não tem valor moral.

• Para Kant, o Calvin faz o bem mas por maus motivos. Portanto, a açãode Calvin não tem valor moral.

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ExercíciosDetermina o valor moral das seguintes máximas:

• “Não deves roubar, senão Deus castiga-te”.• Não tem valor moral – é uma ação meramente conforme ao dever –

motivada por sentimento de medo.• Segundo Kant, devemos abster-nos de realizar atos imorais por esses

atos serem contrários à razão, e não pelo medo de sermos castigados poralguém.

• “Não minto porque se o fizer, arrisco-me a que a minha namorada jánão goste de mim”.

• Não tem valor moral – é uma ação meramente conforme ao dever –motivada por sentimento de medo.

• “Há adolescentes que se divertem a maltratar mendigos na rua”.• Não tem valor moral – é uma ação contrária ao dever.

• “Ajudo um mendigo na rua apenas por ter pena dele”.• Não tem valor moral – é uma ação meramente conforme ao dever –

motivada por sentimentos de compaixão.Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 20 / 60

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Exercícios

Determina o valor moral das seguintes máximas:• “A Sofia faz doações para ações de caridade apenas para aumentar a

sua popularidade entre os amigos”.• Não tem valor moral – é uma ação meramente conforme ao dever –

motivada por interesse.• “Aristides de Sousa Mendes e Oskar Schindler, durante a segunda

guerra mundial, salvaram muitos judeus, fazendo o que consideravamcorreto e não o que era mais fácil fazer, nem o que lhes traria maisbenefícios”.

• Tem valor moral – é uma ação realizada por dever.• “Uma pessoa está a afogar-se e outra pessoa salva-a. Esta tirou-a da

água para receber uma recompensa pelo salvamento”.• Não tem valor moral – é uma ação meramente conforme ao dever –

motivada por interesse.

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Segundo Kant:(1) Do que depende o valor moral de uma ação?(2) O que é agir por dever?(3) Porque razão a boa vontade tem valor incondicional?

Para debater:(4) Concordas com a perspetiva de Kant sobre o valor da

boa vontade? Porquê?a

aUm vídeo de Michael Sandel sobre a ética de Kant: ver aqui.

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Teoria da correção de Kant

BoaVontade

PorDever

ImperativoCategórico

Fórmulado fimem si

Fórmulada lei

universal

consisteem seguir

consisteem agir

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Teoria da correção de Kant

Teoria da correção de Kant: Imperativo Categórico• Uma ação é moralmente correta se, e só se, não infringe as regras

morais corretas.• As regras morais corretas são aquelas que passam no teste do

imperativo categórico; assim, as regras morais corretas são:(1) aquelas que podemos querer que sejam adotadas

universalmente; (fórmula da lei universal)(2) aquelas que nos levam a tratar as pessoas como fins, e

não como meros meios. (fórmula do fim em si)

Mas, o que são imperativos? E como Kant os distingue?

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Imperativos

Imperativos são ordens(Ex.: “Lê o livro sobre a moral kantiana”)

Imperativos Hipotéticos(Ex.: “Não copies no teste,

se correres o risco de ser apanhado”.)

Relativos e Condicionais

Só se aplicam na condição (hipótese)de se ter determinadosdesejos ou inclinações.

Não têm valor moral

Imperativos Categóricos(Ex.: “Independentemente de tudo o resto,

ajuda os amigos em necessidade”.)

Absolutos e Incondicionais

Dá-nos uma obrigação moralincondicional, não dependendo

dos nossos desejos enecessidades particulares.

Têm valor moral

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Imperativo Categórico

Para Kant os imperativos categóricos são os nossos deveres absolutos.Mas, como descobrimos qual é o nosso dever numa dada circunstância?

Formulações do imperativo categóricoKant formula o imperativo categórico de diversas formas para determinarquais são os nossos deveres. Nós vamos estudar as seguintes:

(1) A fórmula da lei universal.(2) A fórmula do fim em si.

Ainda que nos pareçam muito diferentes, para Kant são apenas maneirasdistintas de exprimir a mesma ideia (p. 84).

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(1) Fórmula da Lei Universal

T4. “O imperativo categórico (. . . ) é este: Age apenassegundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo quererque ela se torne lei universal. (. . . ) Temos que poder quererque uma máxima da nossa ação se transforme em leiuniversal: é este o cânone pelo qual a julgamos moralmenteem geral. Algumas ações são de tal ordem que a sua máximanem sequer se pode pensar sem contradição como lei universalda natureza, muito menos ainda se pode querer que devemser tal. Em outras não se encontra, na verdade, essaimpossibilidade interna, mas é contudo impossível querer quea sua máxima se erga à universalidade de uma lei da natureza,pois que uma tal vontade se contradiria a si mesma”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pp. 62, 66.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 28 / 60

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(1) Fórmula da Lei Universal

Fórmula da Lei UniversalAge apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo quererque ela se torne lei universal.

• A ideia é que devemos agir apenas de acordo com regras (máximas)que podemos querer que todos os agentes adotem.

• Isto não consiste em ver se teria boas ou más consequências que todosagissem de acordo com uma determinada regra (máxima).

• Consiste, antes, em mostrar se é ou não possível todos agiremsegundo essa regra (máxima).

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(1) Fórmula da Lei UniversalDe uma forma mais prática, o teste para se determinar a moralidade deuma ação é o seguinte:

Teste do imperativo categórico (da lei universal)Questões:

(1) Que regra (máxima) estamos a seguir se realizarmos estaação?

(2) Estamos dispostos a que essa regra (máxima) seja seguida portodos e em todas as situações? Ou seja, (i) é possível todosagirem segundo essa regra? E, caso isso seja possível, (ii)podemos consistentemente querer que assim seja?

Respostas:SIM: essa regra (máxima) torna-se lei universal e,

consequentemente, o ato é moralmente permissível.NÃO: essa regra (máxima) não pode ser seguida e,

consequentemente, o ato é moralmente proibido.Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 30 / 60

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Exercícios

Ex1: A Francisca é dona de um hotel que nunca engana os clientes, fazendosempre um preço justo. Ela faz isso não por interesse (para não perder osclientes), mas simplesmente por dever de ser honesta.

• Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?• Sim. Porque (1) a máxima é “venderás sempre a um preço justo,

porque é um dever ser honesto”. E (2) é possível todos agirmos segundoessa máxima e queremos que todos obedeçam a essa máxima.

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Exercícios

Ex2: O Gustavo mente ao Joel sobre uma traição da sua namorada Daniela,pois, não quer que o Joel sofra (tem assim compaixão por ele). Aconteceque o Joel passa a andar traído sem o saber.

• Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?• Não. Porque (1) a máxima é “mentirás porque tens compaixão”. E (2)

não poderíamos querer que a mentira fosse uma lei universal, pois issoderrotar-se-ia a si mesmo: as pessoas descobririam rapidamente que nãopodiam confiar no que os outros disseram, e por isso ninguém acreditarianas mentiras.

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Exercícios

Ex3: Homem em apuros que decide pedir dinheiro emprestado, prometendorestituir o dinheiro, mas não tem a intenção de o devolver.

• Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?• Não. Porque (1) a máxima é “faz promessas com a intenção de as não

cumprires”. E (2) esta máxima não poderia tornar-se lei universal; pois,se todos fizessem promessas com a intenção de as não cumprirem, aprópria prática de fazer promessas desapareceria (uma vez que estabaseia-se na confiança entre as pessoas).

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Exercícios

Ex4: Homem que se recusa a auxiliar os necessitados.• Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?

• Não. Porque (1) a máxima é “recusa-te sempre a ajudar os outros”. E(2) trata-se de uma máxima que não podemos querer ver transformadaem lei universal; pois algures, no futuro, esse próprio homem poderáprecisar de assistência dos outros, e não quererá de forma consistenteque os outros sejam indiferentes ao seu problema.

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Exercícios

Ex5: O Henrique usou cábulas e copiou no exame de filosofia. De facto, elenão se sentia preparado, pois no dia anterior ao exame foi com os amigospara o bar e, assim, não teve tempo para estudar.

• Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?• Não. Porque (1) a máxima é “sempre que não te sentires preparado

para um exame irás usar cábulas ou copiar”. E (2) trata-se de umamáxima que não podemos querer ver transformada em lei universal; pois,se essa máxima fosse universalizada nenhum exame realizado mereceriaconfiança por parte dos avaliadores. Os próprios exames deixariam de serobjeto de confiança e para nada serviriam as avaliações dado que setornaria generalizada a suspeita.

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(2) Fórmula do Fim em Si

Uma outra fórmula do imperativo categórico, a fórmula do fim em si, é aseguinte:

T5. “Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tantona tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre esimultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pp. 73.

É sempre errado instrumentalizar as pessoas, ou seja, usá-las como simplesmeios para atingir os nossos fins.

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(2) Fórmula do Fim em Si

Kant estabelece uma diferença entre o valor das pessoas e coisas.

Valor

Pessoas

Têm valor intrínseco,absoluto, isto é,

dignidade.

Porque são agentes racionais,dotados de autonomia1.

Coisas

Têm valor apenascomo meios para fins.

São os fins humanosque lhes dão valor.

1As pessoas são agentes livres com capacidade para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos eguiar a sua conduta pela razão.Professor Domingos Faria (v180514) Ética Deontológica de Kant Colégio Pedro Arrupe Filosofia 37 / 60

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(2) Fórmula do Fim em Si

• As pessoas são seres racionais, e tratá-las como fim em si significarespeitar a sua racionalidade.

• Assim, nunca poderemos manipular as pessoas, ou usá-las para alcançaros nossos objetivos.

• Para respeitar as pessoas, devemos tratá-las como seres racionais eautónomos – como fins em si.

• Existe uma violação da autonomia e racionalidade de uma pessoaquando, por exemplo, obrigámo-la a fazer o que ela não quer.

• Segundo a fórmula do fim em si, não é errado tratar as pessoas comomeios – é errada tratá-las como simples meios (desrespeitando aautonomia e a racionalidade das pessoas).

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Exercícios

Ex: Imagina que pedes dinheiro emprestado a um amigo e não tensqualquer intenção de o devolver.

• Seguindo a fórmula do fim em si, poderás fazer isso?• Não; pois, se mentisses ao teu amigo, estarias apenas a manipulá-lo e a

usá-lo como um mero meio.• Como seria tratar o teu amigo como um fim?

• Dizias a verdade ao teu amigo, que precisavas de dinheiro para um certoobjetivo mas não serias capaz de devolvê-lo.

• O teu amigo poderia, então, tomar uma decisão sobre o empréstimo – eassim fazer uma escolha racional, livre e autónoma.

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Autonomia vs. Heteronomia

O Imperativo Categórico é a lei fundamental.Mas quem é o legislador desta lei?

Para Kant, o Imperativo Categórico não é uma ordem externa que tenha-mos de cumprir (heteronomia).

Pelo contrário, o Imperativo Categórico é uma lei que a boa vontade dáa si mesma (autonomia).

Assim, ao seguirmos o Imperativo Categórico temos autonomia da vontade.Para Kant a verdadeira liberdade consiste nisso.

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Autonomia vs. Heteronomia

T6. “Liberdade, se bem que não seja uma propriedade davontade segundo leis naturais, não é por isso desprovida de lei,mas tem antes de ser uma causalidade segundo leis imutáveis,ainda que de uma espécie particular; pois de outro modo umavontade livre seria um absurdo. (. . . ) Que outra coisa podeser, pois, a liberdade da vontade senão autonomia, isto é, apropriedade da vontade de ser lei para si mesma? Mas aproposição: «A vontade é, em todas as ações, uma lei para simesma», carateriza apenas o princípio de não agir segundonenhuma outra máxima que não seja aquela que possa ter-sea si mesma por objeto como lei universal. Isto, porém, éprecisamente a fórmula do imperativo categórico e o princípioda moralidade; assim, pois, vontade livre e vontade submetidaa leis morais são uma e a mesma coisa”.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p. 100.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Deveres Perfeitos e Imperfeitos

Os deveres que resultam da adoção do imperativo categórico podem serdivididos de acordo com dois critérios:

1 Temos deveres para connosco próprios e deveres para com os outros;2 Temos deveres perfeitos e imperfeitos.

A distinção (1) é bastante óbvia. Mas em que consiste a distinção traçadaem (2)?

• Os deveres perfeitos têm um caráter negativo: são proibições moraisabsolutas.

• Os deveres imperfeitos têm um caráter positivo: diz-nos que hácertos fins obrigatórios de beneficiência.

• os deveres perfeitos têm prioridade sobre os deveres imperfeitos.

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Deveres Perfeitos e Imperfeitos

A tabela seguinte ilustra a articulação entre (1) e (2):

Deveres paraconnosco

Deveres para com osoutros

Deveres perfeitos Não acabar com aprópria vida

Não fazer promessasenganadoras

Deveresimperfeitos

Desenvolver os nossostalentos

Beneficiar os outros

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Críticas à ética de Kant

Objeções à ética deontológica de Kant:1 Regras morais absolutas?2 Conflitos de deveres3 Além das pessoas4 O lugar das emoções em ética

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(1) Regras morais absolutas?

O Imperativo Categórico implica que temos determinados deveresperfeitos com caráter absoluto. Assim, por exemplo, nunca devemosmentir. Mas será isto plausível?

MentiraImagina que um teu amigo está a fugir de um assassino e tu conseguesescondê-lo em tua casa. Porém, o assassino bate à tua porta e perguntapelo teu amigo. Se tu lhe disseres a verdade, o assassino descobrirá o teuamigo e matá-lo-á. Deves mentir ou dizer a verdade?

Intuitivamente parece errado não mentir nesta situação; aqui a mentiraparece ser moralmente correta. Logo, a ideia de haver deveres absolutosparece implausível.

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(2) Conflitos de deveres

A ideia de que temos deveres perfeitos levanta um outro problema: e seestes entrarem em conflito?DilemaJosé prometeu solenemente obedecer a todas as ordens de Maria. Nunca lheocorreu que ela o mandasse torturar Carlos, uma pessoa inocente.

Neste caso temos um conflito de deveres:1 O José tem o dever absoluto de cumprir as suas promessas.2 O José tem o dever absoluto de não torturar inocentes.

Assim, o José está perante um dilema sem saída: faça o que fizer, agirá deuma forma errada. Por isso, é insustentável defender que as regras moraissão absolutas.

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(3) Além das pessoas

A fórmula do fim em si, do imperativo categórico, exige respeito pelaspessoas, concebidas como agentes racionais e morais, dotados de autonomia.

• Contudo, nesse sentido do termo, muitos seres humanos não sãopessoas (como, por exemplo, os recém-nascidos humanos e osdeficientes mentais profundos).

• Ora, seguindo a ética kantiana, se tais seres não são pessoas, então nãomerecem respeito e podem ser tratados simplesmente como um meio.

• Contudo, tal ideia parece absurda. Pois, seria profundamente erradotratá-los como simples meios.

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(4) O lugar das emoções em ética

A ética kantiana, ao considerar que para agir moralmente temos de nosabstrair de todas as nossas inclinações e seguir um imperativo ditadopela razão, parece esvaziar a moralidade de algumas emoções que lhe estãofrequentemente associadas, como:

• a compaixão,• a simpatia e• o remorso.

Contudo, parece inegável que os nossos sentimentos, desejos e emoçõestambém têm um papel a desempenhar no domínio da moralidade.

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Sumário

1 Resposta de Kant ao problema da fundamentação da moral

2 Teoria do bem: Boa Vontade

3 Teoria da correção: Imperativo Categórico

4 Deveres Perfeitos e Imperfeitos

5 Críticas à ética de Kant

6 Outras versões de deontologia

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Outras versões de deontologia

1 Deontologia prima facie2 Contratualismo

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Deontologia prima facie

É possível ultrapassar algumas críticas à deontologia absolutista de Kantcom uma deontologia prima facie. David Ross defende uma deontologiaprima facie com as seguintes teses:

Deontologia prima facie de David Ross(T1) Não existe um princípio ético fundamental que seja correto.(T2) Todos os princípios éticos corretos são deveres prima facie.

• Quanto a (T1): ao contrário do utilitarismo de Mill e da deontologiade Kant, para Ross os atos são moralmente corretos ou errados porrazões muito diferentes, irredutíveis a uma só razão mais básica.

• Quanto a (T2): um dever prima facie é um dever para o qual temossempre uma razão moral, mas tal razão é suscetível de ser suplantadapor outras razões morais em alguma circunstância possível.

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Deontologia prima facie

Ross apresenta-nos uma lista dos nossos deveres mais gerais, reconhecendoque esta poderá estar incompleta:

1 Fidelidade: Cumpre as tuas promessas.2 Reparação: Compensa os outros por qualquer mal que lhes tenhas

feito.3 Gratidão: Retribui fazendo bem àqueles que te fizeram bem.4 Justiça: Opõe-te às distribuições de felicidade que não estejam de

acordo com o mérito.5 Desenvolvimento pessoal: Desenvolve a tua virtude e o teu

conhecimento.6 Não maleficência: Não prejudiques os outros.7 Beneficência: Faz bem aos outros.

Problema: como sabemos que são estes os nossos deveres?

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Deontologia prima facieComo sabemos que são estes os nossos deveres?

• É por intuição racional que sabemos ter estes deveres.• Todos são auto-evidentes (para um agente suficientemente

amadurecido).• Nenhum deles, no entanto, é absoluto: todos correspondem a deveres

prima facie.• O agente terá de confiar na sua perceção e intuição (falível) para

descobrir, em casos particulares, aquilo que de facto deve fazer emcasos de conflito de deveres prima facie.

Possível objeção:• Se a deontologia de Ross está dependente das intuições morais de cada

agente e tendo cada agente em geral intuições diferentes,• então como podemos ter conhecimento objetivo da verdade moral?• então não acabará por se estar comprometido com um subjetivismo

moral?• Será possível haver um consenso sobre intuições morais?

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Contratualismo

Outra ética de caráter deontológico, mas com um princípio éticofundamental, é o contratualismo.

Contratualismo• Uma ação é moralmente correta se, e só se, não infringe as regras

morais corretas.• As regras morais corretas fundamentam-se num acordo hipotético,

ou seja, as regras morais corretas são aquelas que seriam acordadas poragentes apropriadamente racionais, na posse da informação adequada.

Problema: que regras morais corretas se escolheriam nesse acordohipotético?

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ContratualismoPara contratualistas como Thomas Hobbes, os agentes que participamno contrato ético têm uma motivação fundamentalmente egoísta.

• Os participantes, sendo racionais, concordarão seguir normas que serevelem mutuamente vantajosas.

• Pois, se cada indivíduo se limitar a perseguir os seus interesses semnenhum tipo de consideração pelos interesses dos outros, todos ficarão aperder.

• Assim, aceitarão uma proibição de maltratar.• Os participantes também poderão revelar-se dispostos a beneficiar os

outros para que também colham benefícios, caso venham a precisar deajuda.

• Assim, aceitarão um dever de beneficência.Objeções:

• Parece não haver lugar para o reconhecimento de deveres em relaçãoaos seres humanos das gerações futuras. (Pois, os humanos das geraçõesfuturas nada nos poderão fazer para nos beneficiar ou prejudicar).

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Contratualismo

Para contratualista como Thomas Scanlon, os agentes que participamno contrato ético procuram sobretudo justificar as suas ações perante osoutros, dado que os reconhecem como agentes racionais dignos de respeito.

• As regras eticamente permissíveis obedecem a princípios que podem serjustificados perante cada pessoa.

• Ou seja, as regras morais corretas são aquelas que "ninguém possarejeitar razoavelmente enquanto base para um acordo geral, livre einformado" (Scanlon 1998, p. 153).

• Com base nisso, as partes contratantes aceitarão:• Proibição de maltratar,• Dever de beneficência,• etc.

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Síntese das Teorias Éticas

Há um princípio ético fundamental?

NÃO

DeontologiaPrima Facie

SIM

Deontologiaabsolutistade Kant

Contratualismo Utilitarismodas Regras

Utilitarismodos Atosde Mill

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Para falar com o professor:• [email protected]• http://www.domingosfaria.net

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