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Timor Leste A alfabetização comun itária no Timor No final de 2001, o Mackenzie retorna ao Timor para a primeira avaliação do programa que lá está sendo desenvolvido em conjunto com outras instituições de ensino brasileiras. Mackenzie 40 E m sua terceira visita ao país, a professora Fátima Chassot voltou ao Timor mais uma vez, no final de 2001. “O programa tem duração prevista de um ano, com a viagem precursora para a seleção de alfabetizadores, feita em junho de 2001.A segunda, para a capacitação do pessoal selecionado, em agosto (que coincidiu com as primeiras eleições livres no país). E a de dezembro – primeira das viagens bimensais de acompanhamento e avaliação, de acor- do com o modelo adotado pelo Alfabetização, no programa nacional. “No Brasil, elas são mensais”, conta Fátima, ao explicar que o programa vai até agosto de 2002. É bom lembrar que o Mackenzie – uma das cinco universidades brasi- leiras que desenvolvem o Programa de Alfabetização Comunitária no Timor Leste – é responsável por 24 salas de aula naquele país, distribuídas em três distritos – Aileu, Manufahi e Manatuto. No último, o maior do Timor, algumas são voltadas para o Oceano Índico e outras, para o Mar do Timor.Entre as últimas há duas que se situam na montanha mais alta do Timor – 2.470 metros! O objetivo das viagens de avaliação não é apenas ve- rificar o andamento do processo de al- fabetização – e isso inclui não só os alunos como também os coordenado- res e os professores – mas também acompanhar o desenvolvimento do trabalho como um todo, ou seja, avaliar o desempenho da infra-estru- tura e da logística que permite a ma- nutenção do ensino no país. O Programa de Alfabetização Co- Mackenzie 41 munitária tem, no Timor, característica sui generis que o reveste de uma aura duplamente importante. Como se sabe, o Timor Leste sempre foi colônia de Portugal, ainda que nunca tenha recebido qualquer manifestação con- creta de interesse por parte da Coroa portuguesa. Com a Revolução dos Cra- vos, ocorrida em Portugal entre 1974 e 1975, a situação do país se deteriorou de repente. Diante do manifesto desin- teresse de Portugal, que deixou sua ex- colônia livre para proclamar a inde- pendência, o Timor Leste, de território pequeno porém rico em recursos mi- nerais (leia-se petróleo) despertou a ganância da Indonésia, país governado há décadas por uma ditadura selvagem e impiedosa. O quase quarto de século passado sob o terror das milícias in- donésias – que trucidaram homens, mulheres e crianças em nome da im- posição de seus interesses – resultou, entre outras coisas, na tentativa de extirpar usos e costumes próprios dos timorenses – entre eles, a língua por- tuguesa. A população fala, atualmente, o tétum e o bahasa (indonésio), como decorrência dessa imposição. No en- tanto, a mobilização em torno de um Timor livre, que resultou no empenho internacional para garantir a inde- pendência do povo sofrido, tem na lín- gua portuguesa uma bandeira, um sím- bolo que aglutina tendências. Por re- miniscências familiares, ou por mo- tivos religiosos – os timorenses são ca- tólicos fervorosos –, saber falar e es- crever português tornou-se uma ques- tão de honra. O depoimento de um alfabetizador timorense dá a dimensão disso:“Foi a língua portuguesa que os nossos dirigentes usaram para conta- tar um ao outro no interior do país e no exterior, nos países amigos do idioma oficial português, para convo- car a solidariedade.Assim, não há razão para rejeitar a adoção do português como nossa língua oficial, porque não estamos a andar sozinhos”. Por isso mesmo, a ação dos educadores do Mackenzie é, na verdade, uma missão, mais do que um simples trabalho. E a população sente isso. Nas salas de aula, alunos com idade que variam entre 20 e 50 anos re- presentam cerca de 60% do total; observa-se uma ligeira predomi- nância do sexo femini- no; além de clara pre- ponderância de agri- cultores e de pessoas do lar (89% do total). Na porta da casa simples, a professora Fátima descansa uns minutos, ao lado do veterano timorense. Lá como cá, há os comportados e os que gostam de... folia! O programa envolve várias fases de atividades e vai até agosto deste ano. Fotos Fátima Chassot/Regina Brito

Timor Leste A alfabetização comunitária no Timor · 2018. 9. 20. · Timor Leste A alfabetização comunitária no Timor No final de 2001, o Mackenzie retorna ao Timor para a primeira

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Page 1: Timor Leste A alfabetização comunitária no Timor · 2018. 9. 20. · Timor Leste A alfabetização comunitária no Timor No final de 2001, o Mackenzie retorna ao Timor para a primeira

T i m o r L e s t e

A alfabetização comun itária no TimorNo final de 2001, o Mackenzie retorna ao Timor para a primeiraavaliação do programa que lá está sendo desenvolvido em conjuntocom outras instituições de ensino brasileiras.

Mackenzie40

Em sua terceira visita ao país, aprofessora Fátima Chassotvoltou ao Timor mais uma vez,

no final de 2001. “O programa temduração prevista de um ano, com aviagem precursora para a seleção dealfabetizadores, feita em junho de2001.A segunda,para a capacitação dopessoal selecionado, em agosto (quecoincidiu com as primeiras eleiçõeslivres no país). E a de dezembro –primeira das viagens bimensais deacompanhamento e avaliação,de acor-do com o modelo adotado pelo

Alfabetização, no programa nacional.“No Brasil, elas são mensais”, contaFátima,ao explicar que o programa vaiaté agosto de 2002.

É bom lembrar que o Mackenzie –uma das cinco universidades brasi-leiras que desenvolvem o Programade Alfabetização Comunitária noTimor Leste – é responsável por 24salas de aula naquele país, distribuídasem três distritos – Aileu, Manufahi eManatuto. No último, o maior doTimor, algumas são voltadas para oOceano Índico e outras,para o Mar do

Timor. Entre as últimas há duas que sesituam na montanha mais alta doTimor – 2.470 metros! O objetivo dasviagens de avaliação não é apenas ve-rificar o andamento do processo de al-fabetização – e isso inclui não só osalunos como também os coordenado-res e os professores – mas tambémacompanhar o desenvolvimento dotrabalho como um todo, ou seja,avaliar o desempenho da infra-estru-tura e da logística que permite a ma-nutenção do ensino no país.

O Programa de Alfabetização Co-

Mackenzie 41

munitária tem, no Timor, característicasui generis que o reveste de uma auraduplamente importante. Como sesabe, o Timor Leste sempre foi colôniade Portugal, ainda que nunca tenharecebido qualquer manifestação con-creta de interesse por parte da Coroaportuguesa.Com a Revolução dos Cra-vos,ocorrida em Portugal entre 1974 e1975, a situação do país se deterioroude repente.Diante do manifesto desin-teresse de Portugal,que deixou sua ex-colônia livre para proclamar a inde-pendência, o Timor Leste, de territóriopequeno porém rico em recursos mi-nerais (leia-se petróleo) despertou aganância da Indonésia, país governadohá décadas por uma ditadura selvageme impiedosa.O quase quarto de séculopassado sob o terror das milícias in-donésias – que trucidaram homens,mulheres e crianças em nome da im-posição de seus interesses – resultou,entre outras coisas, na tentativa de

extirpar usos e costumes próprios dostimorenses – entre eles, a língua por-tuguesa.A população fala, atualmente,o tétum e o bahasa (indonésio), comodecorrência dessa imposição. No en-tanto, a mobilização em torno de umTimor livre, que resultou no empenhointernacional para garantir a inde-pendência do povo sofrido, tem na lín-gua portuguesa uma bandeira,um sím-bolo que aglutina tendências. Por re-miniscências familiares, ou por mo-tivos religiosos – os timorenses são ca-tólicos fervorosos –, saber falar e es-crever português tornou-se uma ques-tão de honra. O depoimento de umalfabetizador timorense dá a dimensãodisso:“Foi a língua portuguesa que osnossos dirigentes usaram para conta-

tar um ao outro no interior do país eno exterior, nos países amigos doidioma oficial português, para convo-car a solidariedade.Assim,não há razãopara rejeitar a adoção do portuguêscomo nossa língua oficial, porque nãoestamos a andar sozinhos”. Por issomesmo, a ação dos educadores doMackenzie é, na verdade, uma missão,mais do que um simples trabalho. E a

população sente isso.Nas salas de aula, alunoscom idade que variamentre 20 e 50 anos re-presentam cerca de60% do total; observa-seuma ligeira predomi-nância do sexo femini-no; além de clara pre-ponderância de agri-cultores e de pessoas dolar (89% do total).

Na porta da casa simples,

a professora Fátima descansa

uns minutos, ao lado do

veterano timorense.

Lá como cá, há os

comportados e os que

gostam de... folia!

O programa envolve várias fases de atividades e vai até agosto deste ano.

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Então, elas se alternam nas janelas eno interior da sala, numa demons-tração única do que é ser solidário.

Aproveitei também para aplicarum teste, elaborado no Brasil em con-junto com a professora Regina, parasaber como os alfabetizadores estãocom relação ao uso da língua por-tuguesa, as dificuldades que en-frentam para ensinar, e outro, paraverificar até que ponto os alunos con-seguem assimilar o que estão apren-dendo. Interessante a reação dosalunos. Tudo o que levamos é vistocomo uma prova. Eles se sentemsendo testados e demonstram, de iní-cio, um certo receio. Curioso que, nodecorrer do trabalho, essa postura vaiperdendo força. Mas nossa intençãoverdadeira é testar a forma e o con-teúdo do programa. E chegamos àconclusão de que é prematuro fazertal avaliação porque, no fundo, assalas de aula tiveram, até o momen-to, apenas um mês e meio de traba-lho efetivo.Acredito que uma avalia-ção mais correta deve ocorrer napróxima viagem de avaliação.”

O depoimento emocionado, densoe rico, revela apenas uma pequenaparte da experiência de vida que otrabalho no programa trouxe para aprofessora Fátima. Que nos permite,no entanto, perceber a envergadura ea extraordinária dimensão do que estásendo feito.

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Mackenzie42

O relato da

professora Fátima

“Na viagem do final de2001 consegui visitar 22das 24 salas de aula queestão sob a responsabili-dade do Mackenzie. Asduas que faltaram ficamem pontos que não po-diam ser alcançados na-quele momento devido àintensidade das chuvas. Ofinal do ano não é umaépoca propícia para viajarpelo país, cuja rede de es-tradas é bastante precária.As salas de aula estãomuito espalhadas, numterritório ligado por vias quesão, na verdade, trilhas.Muitas vezes chegávamosaté um certo ponto em jipescom tração nas quatro rodase depois éramos obrigados acontinuar a pé, pelo meio domato. Nunca me imagineitrilhando um caminho nomeio da vegetação alta, como guia à frente cortando omato com facão para abrirpassagem. Pois isso aconte-ceu! Cheguei a caminharnove horas assim, sob chuva,atravessando riachos quehaviam se transformado em rioscom forte correnteza, para chegar àssalas de aula. Uma aventura! E queaventura! Eu estava de keds, jeans ecamiseta do Mackenzie, por reco-mendação do guia.Ao sairmos a pé,ele nos disse para deixar tudo nocarro a fim de termos mais liberdadede movimentos. Até sangue-sugasconheci no caminho! Ufa! Querodeixar aqui bem claro que todo o es-forço foi recompensado, apesar de euter vivido momentos de muita ten-são, de medo, de incerteza e de abso-luto esgotamento físico! No fundo, euqueria muito fazer pessoalmenteessa primeira avaliação – conhecer

as condições das salas de aula, ver orosto dos alunos, saber o que esta-vam fazendo. Sentir as suas dificul-dades. Isso me permitiria, eventual-mente corrigir ou modificar, quandoe onde necessário, o programa desen-volvido em conjunto aqui no Mac-kenzie. Não queria apenas conheceros professores e os coordenadores.Sentia que precisava vê-los integra-dos em suas salas de aula.

Entrar nas aldeias, ver os alunosse aproximarem com caderno e lá-pis, conversar com eles, sentir o cari-nho que me ofereciam, e perceber avontade de cada um de mostrar otrabalho feito... Nossa! Foi muito,

muito emocionante! Pudepegar nos cadernos dos pro-fessores, assistir a algumasaulas. Quando cheguei lá noalto da montanha, após umaexaustiva caminhada (ou se-ria escalada!?), ver as fichasque a gente ensinou a fazer,com o nome do aluno nelasescrito, me devolveu toda aenergia consumida até ali.Vios cartazes que utilizamos naalfabetização e, sobretudo,constatei que muitos alunosnão só estão entendendo aproposta como vêm utilizan-

do com proveito todo o material quefornecemos.Aliás, o que me chamouparticularmente a atenção foi a von-tade que os alunos têm de mostrar otrabalho, de deixar claro o próprioesforço. Se você considerar que omaterial escolar – que vai desde omobiliário até lápis e cadernos –ainda não tinha chegado e quemuitos alunos sentavam no chão, ouem cima de pedras para assistir àsaulas, é mais fácil ter a noção decomo é o dia-a-dia por aqui. O mo-delo do programa prevê salas deaula com 25 alunos. Pois bem, hácasos de aldeias onde até 90 pessoasquerem participar dos trabalhos.

Mackenzie 43

Professor do distrito de Aileu.

Aviagem de capacitação que

as professoras Fátima e Re-

gina fizeram juntas no meio do

ano passado, revela tanto aspec-

tos ligados à educação, quanto

relacionados com o coroamento

de um processo histórico único –

o resgate de um povo pela

união, pela solidariedade, pelo

empenho e pela abnegação.

“O objetivo primeiro do nosso

retorno ao Timor Leste era ca-

pacitar os alfabetizadores sele-

cionados na viagem anterior. Foi

emocionante participar daquele

momento porque as salas de aula

se enchiam de pessoas vindas dos

mais longínquos distritos e aldeias

do país, que queriam ser capacita-

das para transmitir conhecimentos

novos à população em geral. Mui-

tos desses alfabetizadores não co-

nheciam a experiência de vida de

outras regiões do país e, naquele

momento, tiveram a oportunida-

de de se comunicar, de transmitir

as próprias experiências. De falar

dos hábitos da sua região de ori-

gem. De interagir os idiomas –

quatro ou cinco deles, com estru-

turas lingüísticas diferentes, que

se encontraram em um momento

simplesmente precioso”, conta a

professora Regina.

O número de pessoas capaci-

tadas chegou a 170, num período

de cerca de 20 dias de trabalho

intenso. Das oito da manhã às seis

da tarde, com pausas para almoço

e lanche, tempo muito curto, mas

suficiente. Some-se a isso o en-

volvimento dos timorenses com as

atividades políticas que estavam

ocorrendo no país. No final de

agosto, o Timor estaria elegendo

os integrantes da Assembléia

Constituinte, responsáveis pela ela-

boração de todo um conjunto de

leis a serem implantadas num país

novinho em folha.

Em meio a tantas e tão variadas

atividades, ficou clara, para as pro-

fessoras Fátima e Regina, a forte

ligação entre o grupo do Alfabeti-

zação Comunitária, os alfabetiza-

dores e os alfabetizandos locais.

“Um exemplo simples e único dis-

so aconteceu no dia 15 de agosto,

feriado nacional, dedicado às ativi-

dades religiosas em função do dia

de Nossa Senhora. Nós não po-

díamos nos dar ao luxo de perder

um só dia de trabalho e nem pre-

cisamos explicar os motivos. Os ti-

morenses sentiram isso e reagiram

de uma maneira que nos impres-

sionou. As pessoas foram à ceri-

mônia religiosa logo cedo e às 10

horas da manhã estavam todas de

volta para dar continuidade aos

trabalhos. Foi muito gratificante.

Todo o país estava parado, não

havia nem quem fizesse as re-

feições mas os nossos capacitan-

dos estavam ali, ansiosos por

aprender. Uma experiência mar-

cante para nós. Foi como que uma

maneira de eles nos dizerem o

quanto éramos importantes. Foi

uma forma singela de nos mos-

trarem o quanto estavam gratos”,

diz Regina emocionada.

A capacitação, em agosto de 2001

Atividade coletiva do curso de capacitação.

Luta

“Pássaro sem espaço

Rio sem leito

Árvore sem floresta

Mas dou sinais de mim!”

Poema de Fernando Sylvam (1917-1993), nascido em Dili, capital do Timor.

A capacitação, em agosto de 2001

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Mackenzie 45

T i m o r L e s t e

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“Timor Loro Sa’e é umapágina nova: na vida dostimorenses e na dos que porlá passam. É sempre assim.Quando o mundo queparece novidade sedescortina à nossa frente –um mundo que se mostranovo, ainda que seja anossa rua de todos os dias.

Estar aqui é assim,contínua descoberta decheiros, histórias,sussurros... Encontrosbarulhentos, em ruasdesordenadamente cheiasde tudo – crianças, contâi-neres, ambulantes, microlets,cambistas, cães... Reen-contros esquisitos comcenas já vistas em outrossítios... Redescobertasinevitáveis de seres quenunca quisemos ser...

Estranhamente, esteshomens, estas mulheresquerem nos ouvir... Gostamde nossos sons... Sorriem,sinceramente, com nossapresença... Percebem o quefalamos?... Precisam dissoque, presunçosamente,parecemos lhes dar?

Talvez não haja resposta:calam-se, pois não sería-mos capazes de entendê-los. Não pela dificuldadeda língua – pobres de nós,que só falamos o português!– mas pela diferença devida.

Penso muito no ‘seu’João... ‘Seu’ João Magno.‘Seu’ João de Ainaro. Deum sorriso timorensementedolorido, magnanimamentedoce. Quem sou eu paradizer-se meu servo, ‘seu’João? Quem sou eu paraensinar algo para quemsofreu a vida? Para esseque sabe o que é calar umalíngua? Para quem conhecea verdade da fome? Paraquem, de fato, já sentiu dor?Para quem experimentou afrieza de todas as monta-nhas? Quem sou eu paraquerer mexer numa existên-cia tão próxima do sublime?Eu, sempre tão mesqui-nhamente eu mesma... ounem sequer isso...

Participamos de umamissão de solidariedade.Que solidariedade é essa anossa que carrega o pesode uma série de atosunitários? Egocentricamentesolitários. Egoisticamentesolidários.Insuportavelmente solitários. Maquiavelicamentesolidários.

Estar com aqueleshomens e mulheres é averdadeira solidariedade.Solidariedade de não sersó. Solidariedade de sersol. Solidariedade desorriso sincero.Solidariedade de querer

todas as coisas. Solidarie-dade de cada palavra.Solidariedade de gestoscontidos, mas reais.Solidariedade de esperarpelo outro. Solidariedadede vontade de vida.

‘Seu’ João, desculpe-mepor essa violência camu-flada de solidariedade.

‘Seu’ João e todos osoutros joões e marias e xime-nes e belos e gusmões... éque me pegam pela mão eme ensinam... A ter qualqueresperança. A olhar nitidamente em volta. A oferecer uma forçasilenciosa. A buscar uma fé.A ser povo de um país. A transformar palavras ematos. A acreditar que o outropode ser bom. A tentarfazer-me um pouco gente.”

Regina Helena Pires de BritoDili, 24 de agosto de 2001

A equipe brasileira de alfabetizadoresNa mente e... no coração

O poema (à esquerda) é um de-sabafo: “A gente aqui, no nosso dia-a-dia, não dá valor a tanta coisa... Lá, noTimor, aprendemos a fazer isso.Aprendemos o que é solidariedade e aimportância de dedicar atenção, ca-rinho, de ensinar. Fatos tão marcantespara as pessoas quanto o auxílio mate-rial que elas recebem”.

São palavras da professora-capaci-tadora Regina Helena Pires de Brito,que, a convite da professora Maria deFátima Chassot, coordenadora geraldo Programa de Alfabetização Comu-nitária no Mackenzie, integra a equipeenvolvida com o programa.

A professora Regina e Naan (abaixo) –

“Um doce de menina” –, e na porta da

representação diplomática brasileira (alto).

Os brasileiros – 1 Francisco

Osler (ONU); 2 João

Alberto – Universidade

Santa Cecília – Santos ;

3, 4 e 5 Eduardo, Laércio

e Estanislau – Senai, SP;

6 Professora Lourdes –

Unimontes, de Montes

Claros, MG; 7 e 8

Professoras Regina

e Fátima; 9 Professora

Ignez – Faculdade

Interlagos.

A ilha de Timor situa-se entre o Sudoeste asiático e o Pa-

cífico Sul, a cerca de 500 quilômetros da Austrália, e é

uma das ilhas mais orientais do arquipélago indonésio,

no grupo das pequenas ilhas Sunda. Divide-se em Timor

Oeste (a parte legítima da Indonésia) e Timor Leste,

ocupado de 1975 a 1999 pelo regime vizinho.

Timor Leste tem cerca de 480 quilômetros de com-

primento e 100 quilômetros de largura no seu ponto

mais largo. O território em si tem área de 18.899 qui-

lômetros quadrados, e é constituído pelo enclave de Oe-

Cusse (na costa norte da parte ocidental), pela ilha de

Ataúro (a 23 quilômetros de Dili), pelo ilhéu de Jaco (se-

parado, por canal, da ponta leste) e pela metade ori-

ental da ilha de Timor.

Onde fica Timor Leste?Onde fica Timor Leste?

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