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Interpretação e Produção de Textos

Tipologia Textual

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  • Interpretao e Produo de Textos

  • Professora conteudista: Ana Lcia Machado da Silva

  • SumrioInterpretao e Produo de TextosUnidade I

    1 IMPORTNCIA DA LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO EPARTICIPAO NA SOCIEDADE ........................................................................................................................1

    1.1 Leitura como experincia pessoal ...................................................................................................21.1.1 Como lemos .................................................................................................................................................7

    1.2 Estratgias de leitura .......................................................................................................................... 121.3 Leitura como aspecto social ............................................................................................................ 251.4 Leitura na formao prossional ................................................................................................... 261.5 Leitura de texto literrio .................................................................................................................... 30

    2 AS DIFERENTES LINGUAGENS .................................................................................................................... 312.1 Linguagem verbal e linguagem no verbal ............................................................................... 332.2 Linguagem formal e informal ......................................................................................................... 35

    3 NOES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO .......................................................................................... 373.1 Da organizao discursivo-textual ................................................................................................ 41

    3.1.1 Texto descritivo ........................................................................................................................................ 423.1.2 Texto narrativo ......................................................................................................................................... 463.1.3 Texto argumentativo ............................................................................................................................. 503.1.4 Texto expositivo ....................................................................................................................................... 703.1.5 Texto opinativo ........................................................................................................................................ 713.1.6 Texto injuntivo ......................................................................................................................................... 78

    4 TEXTOS ORAIS E TEXTOS ESCRITOS .......................................................................................................... 834.1 Retextualizao ................................................................................................................................... 90

    Unidade II

    5 ESTILOS E GNEROS DISCURSIVOS .......................................................................................................... 965.1 Gneros textuais virtuais ................................................................................................................100

    6 SUPORTE DE GNEROS TEXTUAIS ...........................................................................................................1036.1 Suporte convencional .......................................................................................................................1056.2 Suporte incidental .............................................................................................................................106

    7 QUALIDADES DO TEXTO ..............................................................................................................................107 7.1 Fatores externos do texto .............................................................................................................. 107

    7.1.1 Intencionalidade ...................................................................................................................................1087.1.2 Aceitabilidade .........................................................................................................................................1087.1.3 Situacionalidade ....................................................................................................................................1097.1.4 Informatividade .....................................................................................................................................1097.1.5 Intertextualidade .................................................................................................................................. 110

  • 7.2 Fatores internos do texto ............................................................................................................... 1167.2.1 Coeso e coerncia .............................................................................................................................. 116

    8 ESCRITA E PRODUO CRIATIVA E ACADMICA ..............................................................................1318.1 As escritas ..............................................................................................................................................1318.2 As escritas no tempo ........................................................................................................................1348.3 Produo criativa ...............................................................................................................................1398.4 Produo acadmica .......................................................................................................................148

    8.4.1 Resumo .................................................................................................................................................... 1488.4.2 Artigo cientco .................................................................................................................................... 149

    8.5 Dicas para produo de texto informativo ..............................................................................1518.6 Complemento gramatical ...............................................................................................................154

    8.6.1 Dicas de regras gramaticais ............................................................................................................. 1608.6.2 Reforma ortogrca ........................................................................................................................... 166

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    Unidade IAPRESENTAO

    Caro aluno,

    Tendo em vista a importncia da leitura e da produo de textos e como os textos se multiplicam em gneros, linguagens e materiais, tambm mltiplos, os objetivos gerais da disciplina Interpretao e Produo de Textos consistem em ampliar o universo cultural e expressivo do aluno; trabalhar e analisar textos orais e escritos sobre assuntos da atualidade; produzir na linguagem oral e escrita textos diversos.

    Quanto aos objetivos especcos, estes tm o propsito de lev-lo a valorizar a leitura como fonte de conhecimento e prazer; aprimorar as habilidades de percepo das linguagens envolvidas na leitura; ler e analisar diversos estilos e gneros discursivos com senso crtico; identicar as ideias centrais do texto; ampliar seu vocabulrio ativo; expressar-se com coerncia, conciso e clareza, visando eccia da comunicao.

    1 IMPORTNCIA DA LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO E PARTICIPAO NA SOCIEDADE

    Ler signica aproximar-se de algo que acaba de ganhar existncia.

    talo Calvino

    Interpretao e Produo de Textos uma disciplina que abrange o bsico do uso da lngua: a leitura e a produo. O tempo todo ns usamos a lngua portuguesa, ou seja, o tempo todo falamos, ouvimos, lemos e escrevemos, e, quando praticamos essas aes, estamos, na verdade, interpretando e produzindo textos.

    nossa volta est cheio de textos: conversaes entre os familiares, os colegas, as crianas, em casa, no local de trabalho, nas ruas; recados, MSN, torpedo, twitter; informaes em outdoors, placas, embalagens; notcias televisivas, novelas, lmes; pesquisas em jornais, livros, sites.

    A comunicao mediada por uma innidade de signos. Na atualidade, em que a comunicao interplanetria, estabelecemos innitas conexes com pessoas de todos os cantos do mundo, o que nos obriga a decodicar um universo poderoso de mensagens e a nos adaptar a elas: comunidades virtuais do Orkut, conversas pelo MSN, compras e negcios fechados pela rede, e tem mais, se essa informao foi dominantemente verbal at o momento, agora tambm se torna visual com a chegada do YouTube. Sabemos o quanto a fora da imagem exerce fascnio e entendemos, denitivamente, que no h mais

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    como sobreviver neste mundo sem que tenhamos de adaptar-nos constantemente s novas e diferentes linguagens disponveis.

    Saiba mais

    A palavra signo usada em vrios contextos. O mais trivial, poderamos dizer assim, o astrolgico. No contexto dos estudos da lngua, signo quer dizer unidade signicativa de qualquer lngua, dotada de duas faces: signicante (imagem acstica) e signicado (conceito). Da que toda e qualquer palavra da nossa lngua um signo.

    Entretanto, da leitura tambm fazem parte textos que no usam a lngua. Podemos ler um olhar, um gesto, um sorriso, um mapa, uma obra de arte, pegadas na areia, nuvens carregadas no cu, sinais de fumaa avistados ao longe e tantos outros. Lemos at mesmo o silncio!

    A leitura sensorial um dos nveis de leitura e tem como base os cinco sentidos: tato, paladar, audio, olfato e viso.

    fundamental reconhecer que o sentido de todas as coisas chega at ns, principalmente, por meio do olhar, da compreenso e da interpretao dos mltiplos signos que enxergamos, desde os mais corriqueiros nomes de ruas, por exemplo at os mais complexos como o caso de uma poesia repleta de metforas. O sentido das coisas, portanto, vem at ns por meio da leitura, um ato individual de construo de signicado num contexto que se congura mediante a interao autor/texto/leitor.

    A leitura uma atividade que solicita intensa participao do leitor e exige muito mais que o simples conhecimento lingustico compartilhado pelos interlocutores (autor e leitor): o leitor , necessariamente, levado a mobilizar uma srie de estratgias, tanto de ordem lingustica quanto de ordem cognitivo-discursiva, com a nalidade de levantar hipteses, validar ou no essas hipteses, preencher as lacunas que o texto possa apresentar, enm, participar de forma ativa da construo do sentido do texto. Dessa forma, autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interao por meio da linguagem. nesse intercmbio de leituras que se renam, se reajustam e redimensionam hipteses de signicado, ampliando constantemente a nossa compreenso dos outros, do mundo e de ns mesmos.

    O exerccio pleno da cidadania passa, necessariamente, pela garantia de acesso aos conhecimentos construdos e acumulados e s informaes disponveis socialmente. E a leitura a chave dessa conquista.

    1.1 Leitura como experincia pessoal

    A leitura perpassa nossa vida. Ela comea quando nascemos, quando passamos a distinguir luz e movimento. Como os olhos so os instrumentos da viso, atravs deles que formamos uma memria visual. As clulas nervosas dos olhos so sensveis luz; elas captam imagens e transmitem a informao para o crebro, atravs do nervo ptico, e no crebro as imagens so decodicadas.

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    Ao nascer, reagimos instintivamente ao toque e agarramos qualquer objeto colocado em nossa mo. Tambm reagimos com prazer ao calor, maciez e presso suave. Alm da leitura ttil, desde tenra idade igualmente fazemos a leitura gustativa, anal, as papilas gustativas que temos na boca identicam diferentes sabores. A lngua tem reas especcas para cada tipo de sabor: amargo na parte posterior, azedo nos lados, salgado no meio e doce na ponta. Sabores cidos, amargos ou azedos provocam caretas nos bebs, enquanto uma mamadeira com leite adocicado os leva a sugar com mais vontade.

    Quer leitura mais importante do que distinguir e reagir ao cheiro da me? Por meio da sensibilidade do olfato associamos o cheirinho da mame fonte de conforto, prazer e alimento. No entanto, dela reconhecemos no apenas o cheiro, mas tambm a voz.

    Dica: J assistiu ao excelente lme Os cinco sentidos? Trata-se de uma histria sobre pessoas em busca de relaes humanas. Todas elas, de alguma forma, perderam um dos sentidos. Em comum, s tm o fato de morarem no mesmo prdio. Uma histria sensvel sobre pessoas normais, com qualidades e defeitos, e suas relaes com o mundo.

    Retomando a leitura visual, agora vamos fazer uma experincia. Quer experimentar? Que livro voc

    escolheria para ler, tendo por nico critrio o desing da capa?

    A escolha feita por voc o resultado da leitura visual. A capa que agradou mais sua sensibilidade

    visual foi escolhida por voc. Todos temos experincia leitora, anal, lemos o tempo todo, no trabalho, em casa, na rua, mas no

    temos conscincia disso. Proponho, ento, uma pausa para pensarmos um pouco sobre nossa histria de leitura.

    Alm dos sentidos, sentimentos e emoes so fatores que colaboram com nossas leituras e marcam

    gostosas ou desastrosas experincias. Espero que voc no tenha nenhum relato sobre leitura, vivido na infncia ou na adolescncia, to sofrido ou humilhante quanto o da personagem do conto Felicidade clandestina, da grande escritora Clarice Lispector.

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    Felicidade clandestina

    Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto ns todas ainda ramos achatadas. Como se no bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possua o que qualquer criana devoradora de histrias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

    Pouco aproveitava. E ns menos ainda: at para aniversrio, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mos um carto-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morvamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrs escrevia com letra bordadssima palavras como data natalcia e saudade.

    Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingana, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, ns que ramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha nsia de ler, eu nem notava as humilhaes a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela no lia.

    At que veio para ela o magno dia de comear a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possua As reinaes de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se car vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

    At o dia seguinte eu me transformei na prpria esperana de alegria: eu no vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

    No dia seguinte fui sua casa, literalmente correndo. Ela no morava num sobrado como eu, e sim numa casa. No me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para busc-lo. Boquiaberta, sa devagar, mas em breve a esperana de novo me tomava toda e eu recomeava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem ca: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e no ca nenhuma vez.

    Mas no cou simplesmente nisso. O plano secreto da lha do dono da livraria era tranquilo e diablico. No dia seguinte l estava eu porta de sua casa, com um sorriso e o corao batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda no estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do dia seguinte com ela ia se repetir com meu corao batendo.

    E assim continuou. Quanto tempo? No sei. Ela sabia que era tempo indenido, enquanto o

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    fel no escorresse todo de seu corpo grosso. Eu j comeara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, s vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, s vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

    Quanto tempo? Eu ia diariamente sua casa, sem faltar um dia sequer. s vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas voc s veio de manh, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que no era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

    At que um dia, quando eu estava porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua me. Ela devia estar estranhando a apario muda e diria daquela menina porta de sua casa. Pediu explicaes a ns duas. Houve uma confuso silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de no estar entendendo. At que essa me boa entendeu. Voltou-se para a lha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e voc nem quis ler!

    E o pior para essa mulher no era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da lha que tinha. Ela nos espiava em silncio: a potncia de perversidade de sua lha desconhecida e a menina loura em p porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi ento que, nalmente se refazendo, disse rme e calma para a lha: voc vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: E voc ca com o livro por quanto tempo quiser. Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

    Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mo. Acho que eu no disse nada. Peguei o livro. No, no sa pulando como sempre. Sa andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei at chegar em casa, tambm pouco importa. Meu peito estava quente, meu corao pensativo.

    Chegando em casa, no comecei a ler. Fingia que no o tinha, s para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer po com manteiga, ngi que no sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas diculdades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu j pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

    s vezes sentava-me na rede, balanando-me com o livro aberto no colo, sem toc-lo, em xtase purssimo.

    No era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.1

    1 Clarice Lispector. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

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    Gostou do texto? Esse conto suscitou lembranas de suas (des) aventuras no mundo da leitura? Lembra-se se ouvia ou lia contos de fada na infncia? Recorda-se dos textos obrigatrios na escola? Voc tinha (ou tem) aquele av que contava os causos do interior de pessoas que juravam ver assombraes? Sua adolescncia foi marcada por leitura apaixonante? Um nico tipo de texto ou autor?

    E hoje? Entre os elencados abaixo, o que voc l regularmente? jornais histrias em quadrinhos

    revistas semanais best-sellers

    romances Bblia

    e-mail outros Sua leitura pode ser frequente em relao ao lado prtico da vida, restringindo-se, por exemplo,

    a e-mails. Ou voc l bastante por prazer, estendendo sua leitura a textos de co ou histrias em quadrinhos? Talvez voc seja aquele leitor sempre antenado nos acontecimentos relevantes do pas e do mundo e, por exemplo, leia habitualmente revistas semanais de notcias.

    Voc tambm deve ler para o curso de graduao e poder ser que faa algum outro curso, de ingls,

    informtica etc. Considerando suas leituras em curso e observando a relao descrita logo abaixo, qual ou quais opes voc assinala e por que ou so suas leituras regulares?

    obras completas artigos

    captulos de livros manuais didticos

    trechos de livros outros

    Enm, o leitor seduzido pela leitura, desconsiderando-se neste processo qualquer artifcio que possa torn-la uma obrigao. Antes de ser apreendido, um texto escrito, um livro, um gibi um objeto, tem forma, cor, textura.

    Tradicionalmente, em situao de ensino, ns lemos para aprender a ler, para buscar uma resposta etc., enquanto no cotidiano a leitura regida por outros objetivos, que conformam nosso comportamento de leitor e nossa atitude frente ao texto. No dia a dia, ns lemos para agir (ao ler uma placa), ou para sentir prazer (ao ler um gibi ou um romance), ou para nos informarmos (ao ler uma notcia de jornal). Essas leituras, guiadas por diferentes objetivos, produzem efeitos diferentes, que modicam nossa experincia de leitor diante do texto.

    Ler responder a um objetivo, a uma necessidade pessoal.

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    Reexo: Escreva um pargrafo sobre o que leitura e sua importncia.

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    1.1.1 Como lemos

    Caro aluno, voc tem conscincia de como l? Abaixo, encontrar duas palavras enquadradas. Leia-as em voz alta e de forma rpida.

    PLANTAR

    CISALHAMENTO

    Com certeza voc fez um reconhecimento instantneo ao ler a primeira palavra, como se ela saltasse da folha para os seus olhos. No entanto, ao ler a segunda, provavelmente o fez mais devagar, talvez leu slaba por slaba, com exceo do nal mento, que voc reconheceu e leu de um s golpe, globalmente.

    Temos, assim, dois modos de ler. Um deles a leitura global, durante a qual o leitor l palavra por palavra, reconhecendo-as instantaneamente. Caso no haja esse reconhecimento, o leitor usa outro modo, que o de anlise e sntese: letra por letra ou slaba por slaba na leitura de palavra, ou de palavra por palavra na leitura de frases (Kato, 1985).

    A leitura global ocorre sempre que o leitor se depara com palavras conhecidas, familiares, na maioria das vezes usadas no cotidiano. A leitura de anlise e sntese significa detalhar a palavra ou em letra ou em slaba e depois rel-la de uma vez. Mesmo aquele leitor acostumado a ler sempre e diversos textos, conhecedor do assunto lido, muitas vezes se depara com palavras desconhecidas.

    Uma pessoa que est sendo alfabetizada, ou tem muita diculdade para ler, tem um processo sofrvel de leitura de palavras simples como plantar: p... pa... pan... plan... plant..., planta..., plantar. No caso aqui exemplicado, a pessoa l letra por letra para formar slaba. Quando ela chega ltima letra, nem lembra mais das primeiras (letras).

    A leitura relaciona-se memria. Se a pessoa demora muito para ler uma palavra, se o seu processo analtico (letra por letra), a memria no retm as primeiras letras. a leitura decodicada, na qual o leitor no ter a compreenso do que leu, no conseguir dar sentido palavra.

    Durante a leitura, a nossa memria ativada. Ns temos a memria de curto prazo e a memria de longo prazo.

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    A memria de curto prazo funciona para reter, em breve instante, um passado imediato. Smith (1999) nos d um exemplo: voc acabou de procurar um novo nmero na lista telefnica e tenta disc-lo sem consultar a lista uma segunda vez. Voc conseguir se lembrar dos oito dgitos se algum, nesse momento, perguntar as horas? Os dgitos desaparecero de sua mente. A memria de curto prazo, em resumo, tem um limite para o que capaz de reter e um limite de tempo durante o qual seu contedo pode ser retido.

    A memria de curto prazo tem capacidade para guardar de seis a sete itens (sejam sete dgitos de telefone, sete palavras ou ideias) e somente pelo tempo que dermos ateno a eles. No momento em que voltamos a ateno, ou mesmo parte da ateno, para outra coisa, algo se perde. Inversamente, enquanto damos ateno ao que est na nossa memria de curto prazo, no podemos prestar ateno em mais nada.

    Assim, quando uma pessoa consegue identicar somente quatro, cinco letras na leitura, sua memria de curto prazo car ocupada com essas letras e ela no compreender a palavra. Quando a pessoa chegar ao ante, j ter esquecido as letras anteriores elef.

    Para superar o congestionamento da memria de curto prazo...

    primeiro, a pessoa precisa ler mais rapidamente. Aumentar a velocidade na leitura das palavras.

    segundo, aprender a ler no nvel do signicado (reter ideias e no palavras).

    Testes:

    1. Voc sabe quantas palavras l em um minuto? Cronometre um minuto. Durante esse tempo, leia o texto a seguir em voz alta. A leitura deve durar apenas um minuto. Depois de completar esse perodo de leitura, conte quantas palavras foram lidas. Por exemplo, no enunciado O espanhol falado na Espanha e em mais 43 pases. Nos Estados Unidos uma das lnguas estrangeiras mais faladas. temos mais de vinte palavras, sendo elas: o, espanhol, , falado, na, Espanha, e, em, mais... O texto que voc ler fala sobre o Museu da Lngua Portuguesa, localizado na cidade de So Paulo. Leia-o no seu ritmo.

    Recursos de interatividade e tecnologia para apresentar os contedos so os diferenciais de um dos museus mais frequentados do Brasil. O acervo exposto de forma inovadora e inusitada. A visitao feita de cima para baixo. No auditrio do terceiro andar pode ser assistido um vdeo de dez minutos sobre o surgimento da lngua portuguesa. Depois a pessoa passa para a Praa da Lngua, onde um audiovisual, com textos projetados por toda a sala, ilustra a riqueza do idioma falado no Brasil.

    No segundo andar, uma galeria exibe uma tela de 106 metros com projees simultneas de lmes sobre o uso cotidiano do portugus. Totens esta seo leva o nome de Palavras Cruzadas explicam as vrias inuncias de outros povos e lnguas na formao do idioma. Uma linha do tempo, que mostra a histria do idioma, e uma sala (Beco das Palavras) com jogo eletrnico didtico sobre a origem e o signicado das palavras encantam pelos recursos

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    interativos. Completa esse andar uma exposio de painis que mostram a histria do prdio que abriga o museu e a Estao da Luz.

    Por m, o primeiro andar possui um espao para mostras temporrias. A inaugurao homenageou Grande Serto: Veredas, de Guimares Rosa. J houve tambm exposies sobre Clarice Lispector e Gilberto Freyre.

    Os elevadores do museu tambm compem o espao expositivo, pois tm vista panormica para a rvore da Palavra, uma escultura de 16 metros, criada pelo artista Rac Farah, e ainda oferecem udio que repete um mantra composto por Arnaldo Antunes

    Agora, complete: eu li ____ palavras em um minuto.

    2. Falamos em memria e o teste abaixo justamente sobre ela. Aceita o desao?

    Para saber a quantas anda sua memria em relao aos acontecimentos de sua vida, faa este teste. Para cada um dos substantivos da lista abaixo voc deve anotar a primeira lembrana concreta que lhe ocorrer e se esforar ao mximo para recordar a data (se estudava, se trabalhava, onde morava, ambiente frequentado). A lembrana deve ser de uma situao real, corriqueira ou especial, e no uma associao simples de palavras. Caso voc se lembre de duas situaes diferentes ao mesmo tempo, escolha a que lhe parece mais clara.

    Por exemplo: po. Minha av fez po quando voltei de frias. Mais ou menos em fevereiro de 1989 (ou h dez anos, h dois meses, h trs dias...)

    oresta tigela

    vinho ouro

    p hospital

    beijo cadeira

    tempestade milho

    biblioteca cidade

    Separe suas respostas em dois grupos, o primeiro com eventos acontecidos nos ltimos cinco anos e o segundo com lembranas ocorridas h mais de cinco anos.2

    Resultado dos testes:

    1. Se voc leu 100 palavras ou mais, voc tem boa velocidade na leitura. Se leu menos de 100, recomendo que volte ao texto e releia o trecho at completar um 1 minuto. Voc ver que a cada leitura as palavras cam mais familiares e ela ocorre de forma mais veloz. Quanto mais velocidade, mais condio de compreenso de leitura.

    2 Revista Galileu, set., 5.

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    2. A revista Galileu oferece a seguinte interpretao:

    Se a maioria dos acontecimentos ocorreu nos ltimos cinco anos, provvel que voc tenha menos de 40 anos de idade. Nessa faixa, o padro de memria relaciona-se ao fenmeno efeito de novidade. As lembranas que voc colocou como memrias so informaes retidas pelo seu crebro e podem simplesmente desaparecer em dias ou meses.

    Se a maioria dos fatos tem mais de cinco anos, provvel que elas tenham ocorrido entre seus 10 e 20 anos de idade, devido ao efeito de reminiscncia. Esse perodo o mais marcante da vida das pessoas, e so desse intervalo as memrias mais claras a partir dos 40 anos. So, de fato, memrias, constitudas e estabelecidas, e dificilmente sero esquecidas.

    A memria de longo prazo tudo o que ns sabemos sobre o mundo, como bem resume o especialista em leitura Smith (1999, p. 45). Essa memria denida por sua grande capacidade de durao. O leitor ativa seus conhecimentos guardados e organizados na memria quando l e essa ativao o ajuda a entender o texto.

    Esses conhecimentos so:

    de lngua: fonolgico, morfolgico e sinttico. O leitor, por exemplo, j tem na memria de longo prazo a memorizao de determinada palavra, reconhece-a quando a l, sabe o signicado dela.

    de texto. O leitor tem na sua memria a estrutura, por exemplo, de texto narrativo. Quando tem em mos um conto, um romance, o leitor sabe identicar que o texto uma histria e no um texto opinativo.

    de mundo. O leitor ativa seus conhecimentos de seu mundo social, cultural etc. e os relaciona com o texto lido.

    Segundo Kleiman (2007), a compreenso da leitura est relacionada com o conhecimento adquirido

    ao longo da vida, seja conhecimento lingustico, textual ou de mundo, todos esto relacionados ao conhecimento prvio, ou seja, relacionados com o contexto e a linguagem habituais e comuns ao leitor. Essa ligao entre texto e leitor proporcionar a interao necessria para a aquisio de novos conhecimentos acerca do assunto discutido na leitura, culminando no entendimento e incluso do tema no contexto do leitor e, consequentemente, na construo de signicados para a leitura. Nesse sentido, Freire (2006, p. 29) conclui:

    Desde o comeo, na prtica democrtica e crtica, a leitura do mundo e a leitura da palavra esto dinamicamente juntas. O comando da leitura e da escrita se d a partir de palavras e de temas signicativos experincia comum dos alfabetizandos e no de palavras e de temas apenas ligados experincia do educador.

    Dessa forma, o conhecimento prvio est relacionado com o contexto e a linguagem e possui grande relevncia na construo de signicados para um texto. Segundo Kleiman (p. 25), a ativao do

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    conhecimento prvio , ento, essencial compreenso, pois o conhecimento permite e possibilita o estabelecimento da coerncia, recurso que, juntamente com a coeso, est disposto no texto de modo a facilitar a articulao entre as diversas partes que o compe.

    Voltando pergunta inicial: como voc l? Talvez voc tenha pensado, entre exasperado e divertido: Ora, eu leio com os olhos! Pois ao responder dessa maneira voc est e no est, ao mesmo tempo, com a razo!

    Voc no pode ler com os olhos fechados, ou no escuro, ou se o material impresso estiver ruim. Ou seja, a viso tem papel a desempenhar na leitura. No entanto, no suciente para a leitura, uma vez que ela a unio da Informao Visual (IV) o texto com a Informao No Visual (I noV) conhecimento prvio do leitor.

    Consideremos os exemplos apontados por Smith (1999):

    1) Verique se para fazer uma leitura, depender somente dos olhos suciente. Leia a seguir o texto em sueco:

    Det nns inget i l sningen, care sig man ser.

    Se o leitor no tiver conhecimento prvio sobre a lngua sueca, no conseguir ler o texto, mesmo usando a viso. H tipos de informao que tambm so necessrios, como conhecer a lngua, conhecer o assunto e ter certa habilidade no ato de ler. Todos esses conhecimentos so I no V.

    Quanto mais informao no visual o leitor tiver, menos depender da informao visual. Ou vice-versa, quanto menos I no V, mais o leitor precisar da informao visual. A leitura de um texto ser mais fcil quanto mais informao prvia voc tiver sobre o texto. Por outro lado, o texto de difcil leitura exige mais dos olhos, mais tempo, melhor luz, melhor impresso.

    Como bem esclarece Smith, uma habilidade bsica da leitura usar ao mximo os conhecimentos prvios que se tem e depender o mnimo da informao proporcionada pelos olhos.

    2) Que deciso o seu crebro toma quando l:

    210 LI0N STREET

    Voc viu o nmero 210 e duas palavras em ingls, Lion Street. Se voc checar melhor, ver que o dgito 0 exatamente igual letra O. A informao visual a mesma, mas o seu crebro decidiu que um nmero e o outro letra.

    Os olhos olham, mas o crebro que v. Na verdade, os olhos no veem nada, eles colhem a informao visual na forma de luz e a transformam em impulsos de energia nervosa, que passa pelas bras do nervo ptico em direo ao crebro.

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    Sobre os olhos, podemos dizer ainda que eles no se movem de forma suave e contnua, a menos que estejam xos sobre um objeto em movimento, como um pssaro ou dedo em movimento. Os olhos pulam esporadicamente de um foco para outro. No caso da leitura, os olhos no se movimentam suavemente pelas linhas e pela pgina; movem-se em crculos, saltos e pulos. No jargo da rea de estudo sobre leitura, esse movimento chamado de sacada.

    3) Este exemplo vamos dividir em duas etapas.

    a) Peo a voc ver somente de relance, muito rapidamente mesmo, as 25 letras do retngulo:

    J L K Y L P A J M R W K H M Y O E Z S X P E S L M B

    Das 25 letras, quantas podem ser vistas com um simples olhar? Com certeza, no muitas, talvez quatro ou cinco letras, porque quantidade que qualquer pessoa pode ver em uma situao como essa. A limitao no est nos olhos, mas no crebro, que precisa lidar com a informao nova e encontrar sentido nela.

    b) Novamente, peo-lhe dar uma rpida olhada nas 26 letras organizadas abaixo:

    A GEADA DANIFICA AS PLANTAES

    Quanto voc conseguiu ver das 26 letras? O resultado, desta vez, certamente : tudo. Voc no viu somente parte, mas todas as palavras. Anal, as letras formam uma sequncia de palavras que fazem sentido; sentido esse disponvel mais pela I no V do que pela IV.

    H um limite de informao visual com o qual o crebro pode lidar. Assim, quanto menos informao no visual, mas rpida e ecazmente o leitor compreende o que l.

    Para uma pessoa se envolver em uma atividade de leitura, necessrio, primeiro, que a pessoa se sinta capaz de ler.

    1.2 Estratgias de leitura

    Ser capaz de ler e de compreender o texto fator essencial para uma pessoa se envolver em uma atividade de leitura. No entanto, os textos nunca dizem tudo, dependem, por conseguinte, do trabalho interpretativo do leitor; o que no signica que o leitor esteja livre para atribuir qualquer sentido ao que l. Na leitura de certos textos, basta ler algumas partes buscando a informao necessria para encontr-la; j outros precisam ser lidos vrias vezes.

    A leitura , ento, o resultado da interao entre o que o leitor j sabe e o que ele retira do texto. Nesse sentido, a compreenso de um texto um processo que se caracteriza pela utilizao de conhecimento prvio, ou seja, a partir do conhecimento que o leitor adquire ao longo de sua vida: o conhecimento lingustico, que corresponde ao vocabulrio e s regras da lngua; o textual, que engloba as noes e os conceitos sobre o texto; e o de mundo, que corresponde ao conhecimento pessoal do leitor. Por meio desses conhecimentos ele ir construir o sentido do texto.

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    Uma estratgia um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informao. A leitura, como qualquer atividade humana, uma conduta inteligente.

    Usamos estratgias na leitura, mas tambm essas estratgias se desenvolvem e se modicam durante a leitura. Com efeito, no h maneira de desenvolver estratgias de leitura a no ser atravs da prpria leitura.

    Estratgias so procedimentos que abrangem os objetivos da leitura, o planejamento das aes para atingir os objetivos, sua avaliao e possvel mudana. Elas envolvem o cognitivo e o metacognitivo, ou seja, as estratgias so usadas de forma inconsciente (estratgias cognitivas) ou de forma consciente (estratgias metacognitivas).

    Quando o texto atende s expectativas do leitor, este l e compreende, utilizando as estratgias cognitivas inconsciente e automaticamente. Quando o texto no atende expectativa do leitor, ou seja, causa algum tipo de diculdade, o leitor desautomatiza a leitura, conscientizando-se das estratgias e se faz a seguinte pergunta: o que farei para entender o texto?

    Partimos para um exemplo: que grau de diculdade causa o texto abaixo?

    Bye-bye, bonecas e carrinhos

    Existe uma fase na vida chamada puberdade. Todos, meninos e meninas, passam por ela entre os 9 e 12 anos.

    A puberdade representa a passagem da infncia para a adolescncia. Ou seja, quem chega a essa etapa vai deixando de ser criana, mas ainda no adolescente. A criana torna-se um pr-adolescente.

    Nessa fase o corpo comea a ganhar novas caractersticas: pelos nascem nas axilas e perto dos rgos sexuais, as mamas das meninas comeam a aparecer, e o pnis dos meninos vai cando maior.

    Algumas meninas passam a usar suti e outras at menstruam.

    Entre os meninos, comum surgir o interesse por revistas que trazem fotos de mulheres nuas, como a Playboy.

    Com as transformaes da puberdade, comum surgirem dvidas e curiosidades.3

    O grau de diculdade, com certeza, zero. Voc leu o texto sem nenhum sobressalto, empregando as estratgias de leitura de forma inconsciente. Voc conhece o assunto, a palavra puberdade explicada no prprio texto, as frases, em sua maioria, esto na ordem direta (sujeito e verbo), no existe contradio nas informaes do texto.

    3 Cavalcanti, Gabriela. Folhinha, 7, nov., 98.

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    Uma das estratgias cognitivas da leitura, que rege o comportamento inconsciente e automtico do leitor, o princpio da economia. O leitor tende a reduzir, ao menor nmero, personagem, objeto, processo e evento medida que vai lendo. O leitor ajudado nessa tendncia, porque o prprio texto tem repetio de termo, substituio de palavra, pronomes, frases denidas.

    Por exemplo: Existe uma fase na vida chamada puberdade. Todos, meninos e meninas, passam por ela entre os 9 e 12 anos. Nesse trecho, o leitor depara-se com frase que dene um termo (puberdade) e com substituio de termo (fase na vida chamada puberdade repetida e substituda pelo termo ela). Ns no temos duas informaes diferentes entre fase na vida chamada puberdade e ela.

    Outra estratgia cognitiva a de canonicidade, relacionada expectativa do leitor em relao ordem natural do mundo, como: causa antes do efeito, ao antes do resultado. Isso signica que o leitor espera frases lineares: sujeito depois verbo; sujeito, verbo e depois complemento do verbo; sujeito, verbo, complemento do verbo e depois advrbio, e assim por diante.

    Um exemplo famoso de texto que causa diculdade, porque no segue a ordem direta da frase, o nosso Hino Nacional. Vamos ler o seu incio:

    Ouviram do Ipiranga as margens plcidasDe um povo herico o brado retumbante

    A ordem direta sujeito + verbo + complemento. Nessa ordem, o Hino caria: as margens plcidas do (rio) Ipiranga + ouviram + o brado retumbante de um povo heroico. Como todo texto que no segue a ordem direta, o Hino Nacional causa diculdade no leitor.

    A terceira estratgia a da coerncia. O leitor escolhe uma interpretao que torne o texto coerente. O texto tem que seguir a regra de no contradio, que no apresentar nenhuma informao que contradiga o seu contedo.

    A ltima estratgia cognitiva a da relevncia, que a escolha da informao mais relevante para o desenvolvimento do tema por parte do leitor. Essa estratgia leva o leitor a identicar a ideia principal do texto, a resumir o texto e a usar a estrutura do texto; enm, a estratgia que serve para extrair o que importante no texto para o leitor.

    importante saber, caro aluno, que existe a informao textual e a contextual. A ideia principal do autor a informao textual, e a ideia principal para o leitor a contextual. A informao importante textualmente, porm, pode no ser considerada pelo leitor, pois como ele tem um motivo para ler, pode considerar como fundamental uma ideia secundria. Um leitor experiente busca as duas informaes: a importante, permeada no texto, e a dele, que responde a seu objetivo de leitura.

    O resumo, estratgia desse processo, mostra a capacidade do leitor de detectar a ideia principal e tem trs objetivos: conservar a informao essencial, economizando palavras, eliminando

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    informaes redundantes e secundrias, substituir elementos e aes por termos generalizantes, e adaptar-se a cada tipo de pblico.

    Usar a estrutura do texto para compreend-lo melhor outro recurso dessa ltima estratgia. No caso do texto narrativo, essa compreenso ocorre por meio das categorias da narrativa: exposio, acontecimento desencadeado, complicao, resoluo, m e moral.

    As estratgias metacognitivas, por sua vez, so operaes realizadas com algum objetivo em mente, sobre as quais h controle consciente: o leitor capaz de dizer e explicar a sua ao. Essas estratgias regulam a desautomatizao consciente das estratgias cognitivas. Nesse sentido, por meio da autoavaliao da prpria compreenso e da determinao de objetivos para a leitura, os leitores so capazes de dizer o que no entendem sobre o texto e para que esto lendo o texto.

    Quando o leitor sabe que no est entendendo o texto, pode lanar mo de vrios expedientes, tais como: voltar e reler; procurar o signicado de uma palavra no dicionrio; procurar o signicado de um termo recorrente no texto; fazer um resumo do que leu; procurar um exemplo para um conceito. Dependendo de sua diculdade, o leitor cria formas de resolver o problema. Para tanto, preciso que ele tenha conscincia de sua falha de compreenso.

    As estratgias cognitivas so aquelas inconscientes para o leitor, as que ele realiza para atingir seu objetivo de leitura. Trata-se de um conhecimento implcito, no verbalizado, so os chamados automatismos da leitura. Esse conhecimento abrange desde aquele sobre como pronunciar o portugus, passando pelo conhecimento do vocabulrio, at o conhecimento sobre o uso da lngua. Essas estratgias regem o comportamento automtico e inconsciente do leitor. O leitor prociente tem exibilidade e independncia na leitura. Ele dispe de vrios procedimentos para chegar aonde quer, ou seja, ele regula o prprio conhecimento ou consegue chegar aonde sua vontade consciente determina.

    A determinao de objetivos um recurso que possibilita a leitura e a compreenso dos textos e desenvolvida e aprimorada pelo prprio leitor, convertendo-se em uma estratgia metacognitiva. De acordo com Kleiman (2007, p. 34), uma estratgia de controle e regulamento do prprio conhecimento, que envolve, alm dos objetivos, a formulao de hipteses, atividades que necessitam de reexo e controle consciente sobre o prprio conhecimento, sobre o prprio fazer, sobre a prpria capacidade. Elas se opem aos automatismos e mecanicismos tpicos do passar do olho que muitas vezes tido como leitura na escola.

    Temos, assim, as seguintes estratgias metacognitivas:

    Estratgia de previso: torna possvel prever o que ainda est por vir com base em suposies, ou seja, atravs do gnero de texto, do autor ou mesmo do ttulo. possvel vericar diversos indcios que muitas vezes nos informam o que encontraremos no texto. O conhecimento prvio do leitor sua viso de mundo facilitar essa estratgia. Cabe a ele uma prvia anlise desses indcios antes da leitura.

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    O ttulo, por exemplo, leva-nos a imaginar sobre o gnero do texto (se poema, conto, artigo cientco etc.), sobre o assunto tratado por ele, entre outras previses. Ou seja, o ttulo cria expectativa no leitor.

    EXERCCIOS

    1. Que livro voc escolheria apenas pelo ttulo?

    A breve segunda vida de Bree Tanner.

    A fria.

    A batalha do labirinto.

    Centenrio do Corinthians.

    Cem anos de solido.

    2. Que expectativa cria o ttulo?

    O evangelho segundo Jesus Cristo.

    Lavoura arcaica.

    Espelho.

    Fugidinha.

    Sim senhor.

    Agente 86.

    3. Em relao ao ttulo Chef prossional:

    a) Em que tipo de texto o ttulo adequado?

    b) Qual o assunto provvel?

    4. Leia a tirinha e explique se ela atende expectativa do leitor ou no quanto ao nal da histria.

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    5. Que tipo de conhecimento prvio o leitor precisa ter para entender as duas tirinhas da Turma da Mnica?

    Resoluo dos exerccios:

    1. Caro aluno, no existe resposta certa ou errada. A expectativa que ns criamos varivel e s vlida quando no conhecemos o texto.

    2. Se voc, por um acaso, j leu todos os ttulos do exerccio 2, no far previso; voc ter certeza sobre o assunto que cada um deles trata. As atividades de estratgia de previso somente so vlidas quando o leitor ainda no leu o texto ou est lendo e imagina o que poder acontecer em seguida.

    3. Se voc souber que a palavra chef geralmente associada ao prossional que cria receitas culinrias, prepara pratos considerados criativos e de alta qualidade, ento voc imaginar que o tipo de texto tcnico, destinado a um pblico especializado na rea, e o assunto provvel ser como preparar certos pratos ou como agir no local de trabalho do mestre-cuca ou outro assunto ligado ao mtier desse prossional.

    4. Existe quebra de expectativa, porque o leitor espera reao diferente quando uma pessoa socorre outra que chora de dor. Cebolinha no faz o que a gente espera, ele coloca o esparadrapo na boca do Casco para este pare com tanto barulho ao chorar de dor.

    5. O leitor precisa conhecer as personagens da Turma da Mnica, do desenhista Maurcio de Sousa, e a caracterizao de cada uma. Somente assim o leitor pode entender que o Casco no toma banho nem suporta cheiro de limpeza e por isso coloca um protetor no nariz ao encontrar Mnica depois que ela toma banho. Da mesma forma, somente tendo esse conhecimento o leitor poder entender tambm a segunda tirinha, que mostra a reao dos vendedores quando ouvem que Magali no poder comer doce por um tempo. Magali uma personagem conhecida por ser muito gulosa, motivo de felicidade dos vendedores de guloseimas.

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    H dois tipos de previso: um, que se baseia no contedo do texto, e outro, na estrutura. Previses sobre o texto narrativo, por exemplo, podem ocorrer atravs das caractersticas das personagens, da ilustrao, do ttulo, dos conhecimentos prvios dos gneros literrios. As previses sobre o texto informativo podem ser feitas a partir dos conhecimentos anteriores do leitor sobre o assunto, sobre a estrutura dos textos informativos e os indcios como cabealho, ttulo, introduo, figura etc.

    Estratgia de inferncia: permite captar o que no foi dito no texto de forma explcita. A inferncia aquilo que lemos, mas no est escrito, como explica o seguinte exemplo: Batiam um prego na parede. Podemos entender que batiam com um martelo, embora no esteja explcito.

    Estratgia de visualizao: a visualizao consiste nas imagens mentais, como cenrios e guras. uma forma de inferncia, em que o leitor faz elaborao de signicados do texto, seja de co ou no co. Essa estratgia eleva o nvel de interesse do leitor, porque se ele consegue visualizar o que l, ele d continuidade leitura, consegue entender melhor o texto. Ressalto que as imagens so profundamente pessoais.

    Estratgia de seleo: permite que o leitor se atenha s palavras teis, desprezando as irrelevantes. Um exemplo seria xar-se no substantivo em vez de no artigo que o antecede, pois quem determina o gnero o substantivo.

    Estratgia de pensamento em voz alta: quando o leitor verbaliza seu pensamento enquanto l. Ele faz reexes sobre o contedo que est assimilando em voz alta.

    Estratgia de questionamento: fazer perguntas ao texto desde o incio at o m da leitura, objetivando o melhor entendimento. Ex.: Qual a informao essencial proporcionada pelo texto e necessria para conseguir o meu objetivo na leitura?

    Estratgia de conexo: relacionar o que se l com os conhecimentos prvios. H trs tipos de conexo:

    1. De texto para texto: relao entre o texto lido com outros textos.

    2. De texto para leitor: conexo entre o que o leitor l e os episdios de sua vida.

    3. De texto para mundo: conexo entre o texto lido e algum acontecimento mais global.

    As estudiosas Bencke e Gabriel zeram um interessante e til levantamento das estratgias que os leitores usam para compreender o texto. A lista longa, mas essencial.

    Descrio da estratgia

    01 Estabelecer um objetivo geral para a leitura.

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    02 Vericar se o que vou ler viabiliza o meu objetivo.

    03 Examinar ligeiramente o texto inteiro.

    04 Dar uma olhada geral no texto para ver do que trata.

    05 Dar uma olhada na quantidade de pginas do texto.

    06 Ver como a organizao e a sequncia do texto.

    07 Organizar um roteiro para ler.

    08 Identicar as dicas do texto que permitiriam formular hipteses corretas sobre o seu contedo antes da leitura.

    09 Levantar hipteses sobre o contedo do texto.

    10 Supor qual ser o contedo por conhecer quem o autor.

    11 Supor qual ser o contedo pelo ttulo.

    12 Ler um texto a partir das hipteses e questes levantadas.

    13 Deduzir informaes do texto para melhor compreend-lo.

    14 Fazer suposies sobre o signicado de um trecho do texto, quando no entendo.

    15 Vericar se as hipteses sobre o contedo do texto esto certas ou erradas.

    16 Pensar sobre por que z algumas suposies certas e outras erradas sobre o texto.

    17 Vericar o que j sei e conheo sobre o assunto tratado pelo texto.

    18 Relacionar o assunto do texto com o que j conheo sobre o assunto.

    19 Consultar o dicionrio para entender o signicado de palavras novas.

    20 Consultar fonte externa quando no compreendo palavra, frase, pargrafo.

    21 Dar continuidade leitura quando no compreendo palavra, frase, pargrafo.

    22 Fixar a ateno em determinados trechos do texto.

    23 Ler as informaes importantes com ateno e as outras supercialmente.

    24 Ficar atento a nomes, datas, pocas e locais que aparecem no texto para poder compreend-lo.

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    25 Ler com ateno e devagar para ter certeza de que estou entendendo o texto.

    26 Concentrar-me na leitura quando o texto difcil.

    27 Fazer perguntas sobre o contedo do texto.

    28 Questionar o texto para entend-lo melhor.

    29 Tentar responder s questes que z sobre o texto para ver se o estou entendendo.

    30 Responder s questes que z sobre o texto.

    31 Fazer anotaes ao lado do texto.

    32 Fazer anotaes sobre os pontos mais importantes do texto.

    33 Fazer anotaes no texto para entend-lo melhor.

    34 Grifar o texto para destacar as informaes que considero importantes.

    35 Usar marca-texto para destacar as informaes que acho importantes para lembr-las depois.

    36 Relembrar os principais pontos do texto.

    37 Relembrar os principais pontos do texto para vericar se os compreendi totalmente.

    38 Criar imagens mentais de conceitos ou fatos descritos no texto.

    39 Visualizar a informao do texto para lembr-la melhor.

    40 Escrever com minhas palavras as informaes que destaquei como as mais importantes.

    41 Fazer lista dos tpicos mais importantes do texto.

    42 Listar as informaes que entendi com facilidade.

    43 Fazer um resumo do texto.

    44 Fazer um resumo do texto para organizar as informaes mais importantes.

    45 Copiar os trechos mais importantes do texto.

    46 Fazer um esquema do texto para relacionar as informaes importantes.

    47 Pensar em maneiras alternativas de ler o texto para entend-lo.

    48 Fazer algumas interrupes na leitura para ver se estou entendendo o texto.

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    49 Parar para reetir se compreendi bem, ou no, o que li.

    50 Avaliar quanto entendi do texto e voltar quelas partes em que no me sinto seguro.

    51 Reler trechos quando encontro alguma informao que considero difcil de entender.

    52 Reler trechos para inter-relacionar as informaes do texto.

    53 Voltar a ler alguns pargrafos ou pginas quando me distraio.

    54 Fazer a releitura do texto.

    55 Voltar ao texto e reler os pontos mais signicativos.

    56 Reler o texto vrias vezes quando tenho diculdade para entend-lo.

    57 Reler em voz alta os trechos que no compreendi.

    58 Ler em voz alta quando o texto difcil.

    59 Analisar se as informaes so lgicas e fazem sentido.

    60 Analisar as guras, os grcos e as tabelas referentes s informaes do texto.

    61 Interpretar o que o autor quis dizer.

    62 Pensar acerca de implicaes ou consequncias do que diz o texto.

    63 Diferenciar as informaes da opinio do autor.

    64 Opinar sobre as informaes do texto.

    65 Fazer comentrios crticos sobre o texto.

    66 Vericar se atingi o objetivo que havia estabelecido para a leitura.

    67 Conversar com meus colegas sobre os textos que li para ver se, de fato, entendi o texto lido.4

    Permeando todas as estratgias cognitivas, existem, ento, as metacognitivas, que dizem respeito

    aos conhecimentos do leitor sobre o processo de leitura. As estratgias metacognitivas tm tambm a ver com a capacidade do leitor de perceber quando no compreende um texto e utilizar, nesse caso, estratgias apropriadas para resolver o problema.

    O leitor consciente tem conhecimento de seus recursos e de seus limites cognitivos, de seus interesses

    e motivaes, das intenes do autor e das estratgias. Ele tambm sabe quando compreende ou no

    4 Revista Signo. Universidade de Santa Cruz do Sul, v. 34, n. 57, p. 134-152, jul.-dez., 2009.

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    o texto; o que compreende ou no; de que precisa para a compreenso e o que pode fazer quando no acontece a compreenso.

    Espero que este nosso livro-texto o ajude, caro aluno, justamente a tomar conscincia sobre seu

    desempenho e a superao de seus problemas (quando os houver) para a compreenso leitora.

    EXERCCIOS

    As propostas de atividades seguintes sobre estratgias de leitura so da pesquisadora Souza (2010).

    Com base no poema de Manuel Bandeira, faa as atividades, quando possvel.

    Porquinho-da-ndia

    Quando eu tinha seis anosGanhei um porquinho-da-ndia.Que dor de corao eu tinhaPorque o bichinho s queria estar debaixo do fogo! Levava ele pra salaPra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,Ele no se importava:Queria era estar debaixo do fogo. No fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... O meu porquinho-da-ndia foi a minha primeira namorada.

    1. Complete os quadros, fazendo as conexes:

    a) Conexo texto-leitor:

    Aps a leitura do poema............................................, de ............................................, lembrei-me de que, um dia, eu tambm............................................

    b) Conexo texto-texto:

    Quando eu li ............................................, de ............................................, lembrei-me de que eu j tinha visto (em um programa na televiso, ou........................................).............................................

    Cartaz: conexo texto-mundo:

    O poema ......................................., de .................................., lembra-me......................................................

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    2. Inferncia: Quando voc leu o poema, voc fez inferncias?

    Eu uso para prever: SIM NO Observao

    O ttulo

    O nome do autor

    O que eu j sei sobre o assunto

    O que eu sei sobre o gnero (poema)

    O que eu sei sobre a organizao e a estrutura do texto

    O que eu sei sobre a personagem

    H palavras desconhecidas no poema?

    Palavra Signicado inferido Dicas do texto Frase do texto

    3. Visualizao: quando voc l, voc visualiza mentalmente. Complete o quadro sobre essa estratgia:

    Eu visualizo a m de: SIM NO Observao

    Fazer previso e inferncia

    Esclarecer algum aspecto do texto

    Lembrar

    Eu visualizo:

    Personagem, pessoas, criaturas

    Ilustraes ou caractersticas do texto

    Eventos ou fatos

    Espao e/ou lugar

    Eu visualizo, usando:

    Meus sentidos (olfato, audio, paladar)

    Minha reao fsica (calor, frio, com sede, estmago doendo etc.)

    Uma reao emocional (alegria, tristeza, nimo, solido etc.)

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    4. Quadro sntese para visualizao: esta atividade vale para a leitura de outro texto a sua escolha.

    1.Leia o texto de sua escolha, de preferncia um de co, e no se esquea de utilizar todos os seus sentidos ao usar sua imaginao.

    2. Agora, escreva, a partir de sua leitura, a complementao das frases abaixo e crie outras se julgar necessrio.

    3. Comente e compare com seus colegas de curso suas respostas.

    Ttulo do livro:

    Nome do autor:

    Eu vejo:

    Eu escuto:

    Eu posso sentir:

    Eu cheiro:

    Eu posso saborear:

    Comentrio nal do leitor:

    Resoluo dos exerccios:

    1. Ao completar os quadros do exerccio 1, aps a leitura do poema Porquinho-da-ndia, voc relacionou o texto com: voc, outro texto e com o mundo. As relaes so inmeras e no possvel se fazer uma previso. Voc pode, por exemplo, ter relacionado o poema com sua infncia e se lembrado de um bichinho de estimao de sua famlia; voc pode ter relacionado o poema com outro poema, com a letra de uma msica, com um programa televisivo que fale de animal ou de criana etc.; e, por fim, voc pode ter relacionado o poema, por exemplo, com um comportamento bastante atual na sociedade de hoje, que tem resultado no crescimento do nmero de pet shops.

    2. As inferncias so feitas antes e durante a leitura, e suas previses podem ou no ser conrmadas no texto. Por exemplo, voc pode ter inferido, ao ler o ttulo, que o poema tratava de como cuidar de um porquinho-da-ndia e no da relao entre uma criana e seu bichinho de estimao. So

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    vrias as possibilidades de inferncia. Quanto palavra, talvez a nica desconhecida seja justamente porquinho-da-ndia, conhecido tambm como pre.

    3. A leitura de um texto verbal pode nos remeter a nossos cinco sentidos. Ser que voc se lembrou do cheirinho de seu primeiro animal de estimao?

    4. Para realizar a atividade 4, voc deve ter escolhido um texto j lido ou ento selecionou um texto de co para ler. Ao utilizar o quadro sntese para visualizao, certamente tomou conscincia de que ns lemos e usamos a estratgia de visualizao.

    1.3 Leitura como aspecto social

    O ato de ler um processo abrangente e complexo. um processo de compreenso, de entender o mundo a partir de uma caracterstica particular do homem: sua capacidade de interao com o outro atravs das palavras, que, por sua vez, esto sempre submetidas a um contexto.

    A leitura, dessa forma, nunca poder ser entendida como um ato passivo, pois quem escreve o faz

    pressupondo o outro. Ou seja, a interao leitor-texto se faz presente desde o incio da construo do texto.

    Segundo Souza (1992, p. 22), a leitura , basicamente, o ato de perceber e atribuir signicados por meio de uma conjuno de fatores pessoais com as circunstncias, como o momento e o lugar. Diz ela que ler interpretar uma percepo sob as inuncias de um determinado contexto e que esse processo leva o indivduo a uma compreenso particular da realidade.

    Um leitor crtico no apenas um decifrador de sinais. Ele aquele que se coloca como coenunciador, travando um dilogo com o escritor, sendo capaz de construir o universo textual e produtivo na medida em que refaz o percurso do autor, instituindo-se como sujeito do processo de ler.

    Nessa concepo de leitura, em que o leitor dialoga com o autor, a leitura se torna uma atividade social de alcance poltico. Ao permitir a interao entre os indivduos, a ao de ler no pode ser entendida apenas como a decodicao de smbolos grcos, mas sim como a leitura do mundo, que deve ser constituda de sujeitos capazes de compreender o mundo e nele atuar como cidados.

    A leitura crtica sempre leva produo ou construo de outro texto: o do prprio leitor. Em outras palavras, a leitura crtica sempre gera expresso: o desvelamento do ser leitor. Assim, esse tipo de leitura muito mais do que um simples processo de apropriao de signicado; a leitura crtica deve ser caracterizada como um estudo, pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser no mundo dirigido ao outro.

    O leitor se institui no texto em duas instncias:

    no nvel pragmtico: o texto, enquanto objeto veiculador de uma mensagem, est atento em relao ao seu destinatrio, mobilizando estratgias que tornem possvel e facilitem a comunicao.

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    no nvel lingustico-semntico: o texto uma potencialidade signicativa que se atualiza no ato da leitura, levado a efeito por um leitor institudo no prprio texto, capaz de reconstruir o universo representado a partir das indicaes, das pistas gramaticais que lhe so fornecidas.

    Essa uma perspectiva que concebe a leitura como um processo de compreenso amplo, envolvendo aspectos sensoriais, emocionais, intelectuais, siolgicos, neurolgicos, bem como culturais, econmicos e polticos.

    O leitor atribui signicados ao texto e, nessa atribuio, h que se levar em conta a interferncia da bagagem cultural do receptor sobre o processo de decodicao e interpretao da mensagem. Assim, no momento da leitura, o leitor interpreta o signo sob a inuncia de todas suas experincias com o mundo, ou seja, sua memria cultural que direcionar as decodicaes futuras.

    1.4 Leitura na formao prossional

    Existem outros tipos de texto alm dos literrios (poemas, contos etc.) ou do cotidiano (conversao, e-mail etc.).

    Na rea prossional existem os textos tcnicos, muitos, e tambm os livros-texto. O prossional l esse material procura de informaes especcas. Fora esses instrumentos, muitos outros livros so mais olhados do que estudados, uma vez que o leitor busca referncias, sendo desnecessrio mergulhar totalmente em todos os livros.

    Dicionrios, listas telefnicas, enciclopdias, catlogos, registros e bibliograas so outros textos procurados por prossionais de vrias reas. Contudo, esses leitores nunca leriam do incio ao m esses textos.

    Inclumos tambm textos que podem ser entregues aos prossionais: carta, formulrio, contas, revistas, peridicos, anncios.

    Atualmente, livros de autoajuda tambm fazem parte da lista de textos lidos pelos prossionais, como aponta interessante estudo sobre o que os prossionais leem. No resultado aparecem os livros de autoajuda, especialmente os que tratam do mundo do trabalho, do universo prossional. Leia a seguir esse estudo:

    Estudo mostra impacto dos livros de autoajuda

    Os livros de autoajuda prossional constituem o mais recente fenmeno do setor editorial brasileiro. Um dos segmentos com maior crescimento, tambm o responsvel pelos novos best-sellers do mercado. Exemplo recente O monge e o executivo, que j vendeu mais de 1,1 milho de cpias no Brasil.

    A receptividade to grande, que muitas editoras esto aumentando os lanamentos na rea, tambm chamada light business. Quase 95% do catlogo de ttulos da Sextante, que

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    detm os direitos da obra citada, composto de livros de autoajuda prossional. Graas a esse segmento, a editora cresceu 60% nos ltimos dois anos. Do faturamento da Campus/Elsevier, uma das principais editoras de livros de negcios do pas, 10% provm do light business.

    Em relao ao perl dos leitores, a procura por esses livros parece no ter restries em relao a idade, sexo ou cargos. De estagirios aos principais executivos das empresas, todos parecem recorrer, com maior ou menor frequncia, a esse tipo de leitura. Em recente pesquisa realizada pela revista Exame com 30 presidentes de grandes empresas (edio 879), 57% armaram ter lido pelo menos um livro desse segmento nos ltimos 12 meses, sendo o mais citado O monge e o executivo.

    Para entender melhor o que e qual a extenso desse fenmeno, o Ateli de Pesquisa Organizacional realizou um estudo sobre a inuncia que os livros de autoajuda prossional exercem em prossionais e executivos, e qual o seu impacto sobre as empresas, principalmente na gesto e no desenvolvimento de pessoas. A pesquisa qualitativa foi realizada com quatro grupos de discusso, compostos por prossionais/leitores, gestores/leitores e prossionais e gestores/no leitores, com idade entre 28 e 35 anos.

    Os resultados so bastante reveladores, sobretudo no que diz respeito ao relacionamento entre os prossionais, seus colegas, superiores e a prpria empresa. De acordo com Suzy Zveilbil, scia do Ateli e diretora da ComSenso Agncia de Estudos do Comportamento Humano, ca clara a relao entre o cotidiano do trabalho e a busca por essa literatura.

    A presso, o estresse e a sobrecarga do dia a dia acabam atropelando o bom senso e o tempo de conduo de algumas aes, principalmente na gesto de pessoas e no desenvolvimento prossional. Nesse contexto, o livro de autoajuda exerce um papel importante na vida de seus leitores, dando sentido a diversas dvidas e inseguranas cotidianas. Por ser uma leitura fcil e acessvel, recoloca o leitor diante de alguma situao desejada, explica Zveilbil.

    Segundo os participantes da pesquisa, os livros de autoajuda prossional:

    ocupam um espao, antes vazio, na busca de respostas.

    preenchem as expectativas de dar rumo a situaes obscuras.

    oferecem maior segurana para lidar com o cotidiano de trabalho.

    encaminham aes e conrmam ou criam novas perspectivas ou percepes.

    Outra funo essencial a de humanizar o ambiente de trabalho. curioso destacar que as pessoas acabam recorrendo a um recurso impessoal (livro) para, justamente, combater a frieza e a impessoalidade do trabalho, destaca Suzy. Nesse aspecto, diz ela, ele cumpre a funo de substituir a relao com o outro (chefe, pai, conselheiro ou qualquer outra autoridade). Anal, o outro no est sempre disponvel, no est na prateleira. O livro serve, ento, como mediador mudo das relaes.

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    Em geral, os livros so indicados ou recomendados pelos colegas de trabalho, amigos e parentes. Muitos tambm escolhem os livros pela indicao de revistas, na internet ou mesmo no tendo critrios preestabelecidos: simplesmente vo livraria e compram o livro com o tema ou o ttulo mais interessante. Fora O monge e o executivo, entre os mais citados esto Quem mexeu no meu queijo?, Pai rico, pai pobre, A arte da guerra e O gerente minuto. Os autores mais lembrados so Lair Ribeiro, Iami Tiba, Roberto Shinyashiki e Luis Marins.

    A percepo sobre os resultados desses livros, porm, varia muito de acordo com as pessoas, independentemente de serem leitores ou no leitores. Para a diretora do Ateli, existe uma segmentao que varia de acordo com o interesse e a relao entre o leitor e o livro. O estudo constatou a existncia de cinco pers distintos:

    Religiosos: sempre esto lendo algum livro de autoajuda. Recorrem a eles sempre que necessitam e tentam convencer colegas e amigos sobre a importncia dos efeitos da leitura.

    Criteriosos: Selecionam a leitura por temas relevantes. Leem livros indicados e recomendados por conhecidos e tm noo que aproveitaro apenas parte do contedo, no o todo.

    Enrustidos: Armam que leem, mas tendem a explicar muito que uma leitura ocasional. No assumem nada que comprometa sua imagem de leitor independente e eventual. Sabem que h preconceito, e preferem evitar crticas e confrontos.

    Complacentes: Mesmo recomendados, os livros de autoajuda so vistos como superciais e pouco convincentes. Acreditam que um nicho importante para algumas pessoas e tendem a defender aqueles que leem.

    Cticos: So muito crticos em relao aos livros de autoajuda prossional e a seus leitores. No leem essa literatura de forma nenhuma e acreditam que esses livros so totalmente comerciais e de aproveitamento zero. Defendem outros meios de desenvolvimento prossional.

    Entre os adeptos (religiosos e criteriosos), muitos chegam a dizer que se formam e desenvolvem praticamente apenas com os livros de autoajuda. Em alguns grupos, ler uma forma de pertencer a esses grupos.

    Os que encaram esse tipo de literatura com mais reservas reconhecem a supercialidade com que os temas so abordados. Entretanto, dependendo do efeito que geram, os livros acabam tornando-se a supercialidade com cara de profundidade, avalia Suzy.

    O estudo do Ateli de Pesquisa Organizacional tambm indica que os prossionais podem ser induzidos leitura pelas empresas, sob diversas formas. Em muitas organizaes, os livros de autoajuda servem como um dos recursos utilizados pela rea de RH para se aproximar do funcionrio. Em outros casos, os livros so recomendados pelos gestores a suas equipes. E h tambm cursos e treinamentos em que a leitura dessas obras indicada ou exigida como parte do processo.

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    Para Luis Felipe Cortoni, scio do Ateli e diretor da LCZ Consultoria, os resultados do estudo revelam condutas que precisam ser reavaliadas pelas empresas. A pesquisa mostrou que a prpria rea de RH ocializa a indicao desses livros e que muitos adeptos se formam e se desenvolvem somente com esse tipo de ajuda. preciso reetir o que isso signica em termos de consistncia nas competncias desses prossionais e qual o real impacto para os negcios, questiona Cortoni. Ser que os lderes e gestores so formados dessa maneira? At que ponto isso benco?, pergunta ele.

    Na sua avaliao, a postura do gestor que tambm indica livros de autoajuda para seus colaboradores tambm merece uma reexo. Quando ele toma essa atitude, est substituindo seu papel de coach ou indicar esses livros faz parte desse papel? O livro fala o que o chefe quer ou deveria falar: de novo, um dilogo mediado por um mudo.5

    No existe uma estratgia especca de leitura para prossionais. Os leitores uentes em todos os

    aspectos da leitura tm sua ateno direcionada informao mais relevante para suas nalidades. A maneira seletiva como leem todos os tipos de texto signica que no extraem todas as

    informaes que o autor lhes fornece, mas procuram deliberadamente somente a informao de que precisam, como se procurassem em um mapa um caminho entre dois lugares.

    Resumo do perl de leitor prossional:

    leitor estabelece um objetivo para cada leitura.

    avalia o prprio comportamento durante o ato de ler.

    aprende a detectar ambiguidades e incoerncias do texto.

    aprende a resolver problemas de compreenso selecionando as estratgias adequadas.

    adota diferentes estilos de leitura para diferentes materiais e para atingir diferentes objetivos.

    questiona o que l.

    Reexo: qual a importncia das estratgias elencadas abaixo para um tipo de texto como o do quadro na pgina seguinte?

    Estratgias:

    avaliar a exatido das informaes.

    avaliar a supercialidade/profundidade com que o tema foi tratado pelo autor.

    reconhecer ambiguidades, confuses e imprecises.

    valorizar a pertinncia ou o alcance das concluses ou generalizaes.

    5 Disponvel em: www.lczconsultoria.com.br e em http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/notas07/300320078.htm

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    moeda compra venda var. %

    dlar 1,7198 1,7208 1,00%

    libra 2,7126 2,7185 0,48%

    euro 2,3721 2,3735 0,28%

    1.5 Leitura de texto literrio

    A inteno do texto literrio o esttico, ou seja, o trabalho que o autor faz com a palavra. O autor nunca diz tudo, de forma explcita, ele leva o leitor a inferir, imaginar, criar e completar o texto lido. Ler texto literrio envolve, ento, estratgias como explicar e aclarar signicados obscuros, sugeridos e ou explcitos.

    Outro aspecto da leitura literria o objetivo. Dificilmente uma pessoa l um romance de 300 pginas para buscar uma informao que ela encontraria facilmente em uma enciclopdia. O objetivo outro: promover, valorizar e desfrutar do mundo esttico-artstico do texto literrio.

    Para a obteno desse efeito esttico-literrio, consideramos:

    a leitura pela prpria leitura, sem ns prticos.

    no padronizao da leitura com esquemas rgidos.

    recriao de textos literrios como ilustrao, comentrio etc.

    confrontao de opinies entre os leitores.

    ativao da cultura por parte do leitor.

    Um aspecto importante a ressaltar a relao entre a leitura de texto literrio e o sentido literal/no literal.

    O sentido literal o bsico, construdo como preferencial pelo leitor. O sentido literal um efeito do funcionamento da lngua e no uma simples propriedade imanente da palavra (Marcuschi, 2008).

    O sentido no literal sempre foi distinto do sentido literal e associado ao texto e ao autor. O sentido no literal no convencional e se d nas metforas, atos de fala indiretos, implicaes, ironias.

    O quadro mostra a diferena:

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    Sentido literal Sentido no literal

    Automtico

    Obrigatrio

    Normal

    No marcado

    Indispensvel

    No gurativo

    No automtico

    Opcional

    Fortuito

    Marcado

    Dispensvel

    Figurativo

    Indireto

    Apesar de esse quadro ser muito generalizado, podemos armar que o sentido pode ser identicado em trs aspectos:

    1. Lingustico: o sentido se acha nos usos comuns do dicionrio.

    2. Psicolgico: o sentido se d pelo uso intencional.

    3. Interacional: o sentido ocorre no processo interativo entre o leitor e o texto (autor).

    Na leitura de texto literrio, os sentidos dependem do contexto da lngua. O leitor pode no ter diculdade em relao ao tema, mas pode encontrar muita diculdade na forma como o autor usou a lngua: palavras polissmicas, estrutura da frase indireta etc.

    De forma geral, a fruio esttica de texto literrio deve comear de um gosto pessoal por envolver tanto o lado racional-intelectual do leitor quanto o lado emocional-afetivo.

    2 AS DIFERENTES LINGUAGENS

    A linguagem o instrumento com que o homem pensa e sente, forma estados de alma, aspiraes, volies e aes, o instrumento com que inuencia e inuenciado, o fundamento ltimo e mais profundo da sociedade humana.

    L. Hjelmslev

    A linguagem nasce da necessidade humana de comunicao. Nela e com ela, o homem interage com o mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, sejam elas verbais ou no, precisamos, inicialmente, pensar que elas existem para que possamos estabelecer comunicao, para que possamos interagir. Mas, o que , em si, comunicar?

    Se desdobrarmos a palavra comunicao, teremos:

    Comunicao: comum + ao, ou melhor, ao em comum.

    De modo geral, todos os signicados encontrados para a palavra comunicao revelam a ideia de se estabelecer relao com algum, de haver transferncia de informao. Observe:

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    A palavra comunicao deriva do latim communicare, cujo signicado tornar comum, partilhar, repartir, trocar opinies, estar em relao com. Assim, podemos armar que, historicamente, comunicao implica participao, interao entre dois ou mais elementos, um emitindo informaes, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicao exista, ento, preciso que haja mais de um polo: sem o outro, no h partilha de sentimentos e ideias ou de comandos e respostas.

    Para que a comunicao seja eciente, necessrio que haja um cdigo comum aos interlocutores.

    Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999, p. 28) para fundamentar o conceito de linguagem:

    Entende-se por linguagem qualquer sistema de signos simblicos empregados na intercomunicao social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto , contedos da conscincia.

    A linguagem vista, ento, como um espao em que tanto o sujeito quanto o outro, que com ele interage, so inteiramente ativos. Por meio dela, o homem pode trocar informaes, ideias, compartilhar conhecimentos, expressar intenes, opinies e emoes. Desse modo, reconhecemos a linguagem como um instrumento mltiplo e dinmico, isso porque, considerados os sentidos que devem ser expressos e as condies de que dispomos em dada situao, valemo-nos de cdigos diferentes, criados a partir de elementos como som, imagem, cor, forma, movimento e tantos outros.

    Vale salientar a ideia de que o processo de signicao s acontece verdadeiramente quando, ao nos apropriarmos de um cdigo, nos fazemos entender por meio dele.

    A linguagem humana caracteriza-se pela extrema diversidade e pela complexidade de suas formas de organizao e de suas formas de atividade. E ela que confere s organizaes e atividades humanas uma dimenso social.

    A linguagem humana se apresenta, inicialmente, como uma produo interativa associada s atividades sociais, sendo ela o instrumento pelo qual os interactantes, intencionalmente, emitem pretenses validade relativas s propriedades do meio em que essa atividade se desenvolve. Com efeito, na medida em que os signos cristalizam as pretenses validade designativa, se esto disponveis para cada um dos indivduos, eles tambm tm, necessariamente, uma dimenso transindividual, veiculando representaes coletivas do meio, que se estruturam em conguraes de conhecimentos que podem ser chamadas de mundos representados.

    Conforme Bronckart (1999), trs tipos de mundo podem ser distinguidos:

    1. Linguagem representa o mundo objetivo (fsico).

    2. Linguagem representa o mundo social (coletivo, de conversao etc.).

    3. Linguagem representa o mundo subjetivo (experincia individual).

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    A linguagem introduz uma distncia nas relaes que os organismos humanos mantm com o meio e, por conseguinte, provoca a autonomia das prprias produes. A linguagem organiza-se, ento, em discursos, em textos, que se diversicam em gneros. por meio dos textos que os mundos representados so construdos.

    Cada lngua realiza o processo representativo geral da linguagem humana, mas ela o faz de acordo com suas modalidades prprias, isto , cada lngua tem sua semntica prpria, que, por sua vez, d origem s variadas culturas.

    De modo geral, a linguagem tem um carter histrico. Os mundos representados j foram ditos bem antes de ns, e os textos e signos que os constituram continuam trazendo os traos dessa construo histrica permanente.

    Nessa abordagem, a lngua fato social, produto de aes de seres humanos organizados em comunidades. A linguagem , em outras palavras, uma prtica social, e como tal exige do usurio da lngua um olhar a partir de algum lugar scio-historicamente marcado e atravessado por conotaes ideolgicas.

    A linguagem implica, alm da conscincia e responsabilidade de seus usurios, a interao entre eles. Para que duas ou mais pessoas possam compreender-se mutuamente, preciso que seus contextos sociocognitivos sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes. Em outras palavras, seus conhecimentos devem ser compartilhados, uma vez que impossvel duas pessoas partilharem exatamente dos mesmos conhecimentos.

    Ao entrar em uma interao, cada um dos parceiros j traz consigo sua bagagem cognitiva, ou seja, j , por si mesmo, um contexto. A cada momento da interao, esse contexto alterado, ampliado, e os parceiros se veem obrigados a se ajustar aos novos contextos que se vo originando sucessivamente.

    2.1 Linguagem verbal e linguagem no verbal

    Chamamos de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicao. Certamente voc j observou que o ser humano utiliza as mais diferentes linguagens: a da msica, a da dana, a da pintura, a dos surdos-mudos, a dos sinais de trnsito, a da lngua que se fala, entre outras. Como vemos, a linguagem produto de prticas sociais de uma determinada cultura que a representa e a modica, numa atividade predominantemente social.

    Considerando o sistema de sinais utilizados na comunicao humana, costumamos dividir a linguagem em verbal e no verbal. Assim, temos:

    a. Linguagem verbal: aquela que utiliza as palavras para estabelecer comunicao. A lngua que voc utiliza, por exemplo, linguagem verbal.

    b. Linguagem no verbal: aquela que utiliza outros sinais que no as palavras para estabelecer comunicao. Os sinais utilizados pelos surdos-mudos, por exemplo, constituem um tipo de linguagem no verbal.

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    Unidade I

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    EXERCCIOS

    1. A lngua atividade simblica, uma vez que as palavras criam conceitos, que ordenam e categorizam o mundo. Das palavras: cadeira, instalao e pr do sol, qual d existncia a uma realidade inventada?

    2. O texto Se os tubares fossem homens de Bertold Brecht (1898-1956), poeta, romancista e dramaturgo alemo, terico renovador do teatro moderno foi construdo em linguagem verbal (a lngua). Transforme-o em linguagem no verbal, ou seja, faa uma representao visual (um desenho) do texto. Depois, verifique o que voc destacou do texto para fazer seu desenho: que ideologia foi destacada?

    Se os tubares fossem homens

    Se os tubares fossem homens, perguntou a lha de sua senhoria ao senhor K., seriam eles mais amveis para com os peixinhos?

    Certamente, respondeu o Sr. K. Se os tubares fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre gua fresca e adotariam todas as medidas sanitrias adequadas. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que no morresse antes do tempo.

    Para que os peixinhos no cassem melanclicos, haveria grandes festas aquticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres tm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente, haveria tambm escolas nas gaiolas. Nessas escolas, os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direo goela dos tubares. Precisariam saber geograa, por exemplo, para localizar os grandes tubares que vagueiam descansadamente pelo mar.

    O mais importante seria, naturalmente, a formao moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrica contente, e que todos deveriam crer nos tubares, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que esse futuro s