Tipos de Áreas Protegidas (nível internacional) e a Gestão de Mosaicos Cláudio C. Maretti, PhD (dirigente do WWF-Brasil, membro do Conselho Mundial e da

Tipos de Áreas Protegidas (nível internacional)

e a Gestão de Mosaicos

Cláudio C. Maretti, PhD (dirigente do WWF-Brasil, membro do Conselho Mundial

e da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da UICN)

II Seminário sobre Mosaico de Áreas Protegidas na Amazônia(MMA Arpa, AM-SDS-Ceuc, GTZ, WWF-Brasil), 26-28 nov. 2008

Tipos de Áreas Protegidas e a Gestão de Mosaicos

• Definição de área protegida– unidade de conservação e áreas protegidas lato sensu

• Algumas dimensões da tipologia das áreas protegidas– objetivos (categorias)– tipos de gestão ou governação– efetividade de gestão

• Além das áreas protegidas individuais, conjuntos e sistemas (e sub-sistemas)

Outros Apoios BibliográficosBrasil. 2000. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. (“Lei do Snuc” e demais diplomas legais associados.)CBD. 1992. Convention on Biological Diversity. CBD. 2004. Programme of Work on Protected Areas (Decision VII/28). Convention on Biological

Diversity.UNESCO (Comité… del Patrimonio Mundial…). 1999. Directrices prácticas sobre la aplicación de la

Convención para la Protección del Patrimonio Mundial.

Maretti, C.C. 2005. Conservação e valores; relações entre áreas protegidas e indígenas: possíveis conflitos e soluções . In: Ricardo, Fani (org.). 2004 (nov.). Terras indígenas & unidades de conservação da natureza: o desafio das sobreposições . São Paulo, Instituto Socioambiental, pp. 85–101.

Maretti, C.C. et alii. 2005. From pre-assumptions to a ‘just world conserving nature:’ the role of category VI in protecting landscapes. In: Brown, J. et alii. (eds.) The protected landscape approach: linking nature, culture and community. Gland: IUCN and others, p. 47–64.

Maretti, C.C.; Sanches, R.A. et alii. 2003. Protected areas and indigenous and local communities in Brazil; lessons learned in the establishment and management of protected areas by indigenous and local communities. Durban: IUCN, V World Parks Congress. 72 p.

Maretti, C.C. 2001. Comentários sobre a Situação das unidades de conservação no Brasil. Revista de Direitos Difusos, ano I, vol. 5, Florestas e Unidades de Conservação, Editora Esplanada - ADCOAS e Instituto Brasileiro de Advocacia Pública, fev. 2001, pp. 633–52.

Phillips, Adrian. Turning ideas on their head; the new paradigm for protected areas. In: Jaireth, Hanna & Smyth, Dermot (eds.) Innovative governance: indigenous peoples, local communities and protected areas . Ane Books, New Delhi, 2003, pp.: 1–27.

etc… (além de experiência própria)





O Que São Áreas Protegidas?• Definições principais

– “intuitiva” (costumeira), Snuc (Brasil), CBD (internacional mais “oficial”), UICN (internacional mais aceita), “WHC”...

• Alguns elementos (mais ou menos comuns)– “separada” (“set aside”) [do desenvolvimento]– intocável– proteção da natureza (recursos naturais, processos ecológicos, diversidade

biológica, serviços ambientais, valores, direito ao ambiente...)– definição de uso do solo– limite geográfico definido– objetivos complementares– administração própria– ...

O Que São Áreas Protegidas?• Definições principais

– “intuitiva” (costumeira), Snuc (Brasil), CBD (internacional mais “oficial”), UICN (internacional mais aceita), “WHC”...

• Alguns elementos (mais ou menos comuns)– “separada” (“set aside”) [do desenvolvimento] ou intocável– proteção da natureza (recursos naturais, processos ecológicos, diversidade

biológica, serviços ambientais, valores, direito ao ambiente...)– definição de uso do solo– limite geográfico definido– objetivos complementares– administração própria; etc...

Definição de Área Protegida

• UICN: “Uma área protegida é ‘um espaço geográfico claramente definido, reconhecido, dedicado e gerido, mediante meios legais ou outros meios efetivos, de modo a alcançar a conservação a longo prazo da natureza e dos serviços ecológicos e valores culturais associados’.”


• UICN: “Uma área protegida é um espaço geográfico claramente definido, reconhecido, dedicado e gerido, mediante meios legais ou outros meios efetivos, de modo a alcançar a conservação a longo prazo da natureza e dos serviços ecológicos e valores culturais associados.”

Definição de Unidades de Conservação

• Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, unidade de conservação é o "espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.

(Lei [nacional] nº. 9.985, de 18 de julho de 2000)



[importante]

• tridimensional – inclui espaço aéreo e em

profundidade

• limites definidos, acordados e

demarcados



[importante]

• necessidade de ser específico a uma área definida

• tridimensionalidade menos taxativa, mas presente

(fora da definição)

• não inclui possibilidades relativamente mais genéricas

(reserva legal, áreas de preservação permanente etc.)



• legalmente definido• acordado para gestão por coletivos, governos, parcerias etc.• reconhecido com base em direito social ou

consuetudinário• potencial uso em acordos, convenções etc. (e Banco Mundial de Dados de Áreas Protegidas ou “World

Database on Protected Areas – WDPA”)



• nível de formalização



[diferencial]

• compromisso específico

(com a conservação da natureza)

vinculado por legislação, convenções,

direito consuetudinário etc.



[diferencial]

• compromisso específico

(com a conservação da natureza)



[novidade internacional]

• postura ativa (planos, ações, acordos

etc.) para alcançar seus objetivos

(pode se optar por não tocar na área)



• planos, ações, acordos etc. para alcançar

seus objetivos

[atenção à capacidade das organizações e

das equipes e parcerias]



• definido legalmente (decreto publicado etc.)

• com base em acordos internacionais ou

convenções

• com base em direito social ou consuetudinário

(“costumeiro”)

[padrão + Patrimônio Mundial + IUCN-Ceesp]

[uma das dimensões das APs para UICN]



• mais restrita (governamental)

• não inclui possibilidades comunitárias, privadas

etc. se independentes

• definido legalmente (decreto publicado etc.)



• efetividade da gestão (com base nos objetivos)

(ciclo de gestão)

[uma das dimensões das APs para UICN]



• necessidade de mais foco e maior clareza

• necessidade de ciclo de gestão completo



• caráter definitivo

• conservação para sempre (perpetuidade)

(não à efemeridade, temporalidade, só objetivos

de curto prazo etc.)



• perenidade ausente ou não muito

taxativa



• manutenção in situ de ecossistemas, habitats e caráter natural ou semi-natural, e populações (biológicas) viáveis em seu entorno natural• no caso de espécies domésticas ou cultivadas (agrobiodiversidade), manutenção no entorno onde foram desenvolvidas mais restrita



• “II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral” padrão mais clássico



• diversidade biológica em níveis genético, de

espécies e de ecossistemas

• geodiversidade

• ...(definição mais abrangente)

diálogo intercultural mais fácil



Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos:

I - ... manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos...;

II - ... espécies ameaçadas...;

III - ... preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;

IV - ... desenvolvimento sustentável...;

V - ... princípios e práticas de conservação da natureza no processo de

desenvolvimento;

VI - ... paisagens naturais...;

VII - ... características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,

espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - ... recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas...;

X - ...meios ... para atividades de pesquisa científica...;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - ... educação e interpretação ambiental, a recreação...;

XIII - ... recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais,

respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as

social e economicamente.



• alimentação e água

• regulagem de enchentes, secas degradação de

solos e doenças• ciclos de nutrientes

•funções recreacionais, espirituais, benefícios

não materiais• sem interferir com a conservação

processos e serviços ecológicos

(mitigação e adaptação às mudanças climáticas)



• valores à sociedade

• processos e serviços ecológicos

(mitigação e adaptação às mudanças climáticas)



• praticamente todos os valores que não

interferem com a conservação

• praticas de gestão tradicional (que colaboram

com gestão, de aspectos específicos)

• áreas protegem multiplicidade de valores

• necessitamos multiplicidade de apoios (de atores

sociais)


• Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, unidade de conservação é o "espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.• menor consideração sobre valores sociais

Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos: ...

V - ... princípios e práticas de conservação da natureza no processo

de desenvolvimento; ...

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; ...

XIII - ... subsistência de populações tradicionais, respeitando e

valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social

e economicamente.





Unidades de Conservação e Áreas Protegidas lato sensu

• Principal diferença: objetivo de conservação da natureza (como foco principal)

• Terras indígenas e outras áreas protegidas lato sensu a partir do Programa de Trabalho de APs (“CoP” CDB 2004): áreas com outros fins, mas que colaboram com a conservação da diversidade biológica

• Definição internacional (UICN, CDB etc.) considera outros atores sociais, além dos governos: áreas de conservação comunitária (“community conserved area - CCA” ou “ICCA”); áreas privadas; etc., além de “recomendar” a gestão compartilhada

• Outras áreas (não instituídas, não específicas, não delimitadas etc.) não são áreas protegidas

Síntese da Definição de Área Protegida Stricto Sensu (Unidade de Conservação)• Objetivo claro de conservação da natureza– Diversidade biológica (variedade genética, espécies,

ecossistemas...), processos ecológicos, valores físicos (geológicos etc.) e valores culturais associados

• Localização específica e delimitação• Gestão apropriada para os fins

Mas, fundamental é a consciência (e ampliação) da multiplicidade de valores à elas atribuídos (sempre sociais (e culturais), sejam científicos, econômicos, místicos, locais, nacionais, etc. etc.)









Como Classificar as Áreas Protegidas?

• Classificação de objetivos de gestão– UICN referência mais forte

• Nível de restrição (ou permissividade) a usos – como simplificadamente se supõe a diferença entre UCs PI e US

• Entidade gestora – proposta UICN (“Tilcepa WCPA/Ceesp”) de governança, por exemplo:

– órgãos governamentais– privados– comunidades locais– sistemas mistos

– ou níveis de governo no Brasil

• Níveis de efetividade de gestão – Seguindo “framework” (estrutura) da “IUCN-WCPA”

Classificação Internacional (UICN)

• é linguagem comum

• pode ser aproveitada para outros fins

• não é reconhecimento internacional (Patrimônio

Mundial, Ramsar, reserva da biosfera)

• não é imposição para sistemas nacionais ou

subnacionais

Objetivos Gerais para as Áreas Protegidas Stricto Sensu (UICN)

• Conservar composição, estrutura, funções e potencial evolutivo da diversidade biológica

• Contribuir a estratégias de conservação regionais• Manter diversidade de paisagens, ecossistemas, espécies etc.• De tamanho suficiente para alcançar os objetivos e mantê-los a longo prazo• Manter os valores para sempre (conforme tenha sido os seus objetivos [mas

poderiam se acrescentar outros valores posteriormente definidos])• Funcionar de acordo a planos (de manejo/gestão, uso...), com monitoramento e

avaliação, permitindo a gestão adaptativa• Ter sistema de gestão (ou governação) claro e equitativo

• Além de (quando for o caso): aspectos específicos da paisagem; elementos físicos (geologia etc.); funções reguladores (serviços ecológicos); valores científicos, culturais, não-materiais; beneficiar comunidades locais; propiciar recreação, pesquisa científica, educação; sensibilização para a conservação em geral; etc.

Categorias de Áreas Protegidas (por objetivos)categoria UICN

objetivos principais alguns objetivos e características complementares

algumas categorias brasileiras (Snuc)

Ia • proteger a diversidade biológica (conservar ecossistemas, preferencial/e em larga escala)• conservar de aspectos físicos (quando for o caso)• local de pesquisas e referência científica

– propiciar educação ambiental (para sociedades sustentáveis)– conservar valores culturais e espirituais– minimizar impactos

ReBio, EsEc, (RecEcol fed.)

Ib • manter a integridade ecológica (área natural, sem infra-estruturas...)

– normal/e grandes áreas– propiciar experiências com natureza

(não há correlação específica)

II • proteger a diversidade biológica (estrutura, processos...)• propiciar educação e recreação

– representatividade ecológica– normal/e áreas médias a grandes

parque, RPPN

III • conservar aspectos naturais específicos (pode incluir biodiversidade associada)

– conservar valores naturais e espirituais– aplicáveis em situações já limitadas (poucas opções de conservação)

Monum.natural, Arie, (ref. vida silvestre?)

Categorias de Áreas Protegidas (por objetivos)categoria UICN

objetivos principais alguns objetivos e características complementares

algumas categorias brasileiras (Snuc)

IV • proteger espécies ou habitats específicos (muitas vezes exigindo conservação ativa)

– proteger fragmentos– fragmentos– propiciar acesso mais fácil

(não há forte correlação específica), (reserva de fauna?)

V • manter paisagens terrestres e marinhos• conservar valores da interação entre humanidade e natureza• práticas de gestão tradicionais (possivelmente)

– conservação em ampla escala– propiciar disfrute– produtos e serviços ecológicos– aprendizagem

APA

VI • proteger ecossistemas naturais e uso sustentável de recursos naturais em sinergia (mutuamente benéficos)• [reconhecer formas tradicionais, “reaprender” e promover melhorias na relação entre humanidade, particularmente comunidades locais, e natureza]

– seguridade intergeracional para comunidades locais– reaprendizagem de relações com a natureza– alternativas sociais e econômicas– preferecial/e grandes áreas

ResEx, floresta, RDS

IIIIV

Suposição de Nível de Restrição





• não é categoria de área protegida





Efetividade de Gestão (UICN)

Efetividade de Gestão (UICN)

• não é categoria de área protegida

Possibilidades Menos Ortodoxas de Organização por Tipos de APs

• Com objetivos de conservação da natureza– pública e com domínio público

• UCs de proteção integral (ReBio, EsEc, ParNa...)• UCs de uso sustentável com participação de comunidades locais na gestão (ResEx, RDS...)• UCs de uso sustentável com possibilidade de concessões florestais (FloNa, FlorEst...)

– pública com domínio variável (APAs, MoNa etc.)– privada reconhecida (RPPN)– privada não reconhecida

• por indivíduos• por pessoas jurídicas• coletiva, por comunidades locais...

(áreas de conservação comunitária - “CCA”)

Possibilidades Menos Ortodoxas de Organização de Tipos de APs

• Com outros objetivos (p.ex. sociais, culturais, econômicos...) servindo para conservação da natureza– pública com domínio público (com direitos das comunidades, como TIs)– privada coletiva (quilombos)– privada

• por indivíduos• por pessoa jurídica

• Não área protegida (pela definição), mas colaborando com a conservação da natureza– por exemplo

• produção sustentável• áreas de preservação permanente (APPs)• reservas legais (RLs)

Elementos de Organização Menos Ortodoxa

• Objetivo geral – conservação da natureza ou não

• Ente que define (quem define)– público, com diferentes níveis– privado, em diferentes tipos

• Domínio, propriedade ou posse– público ou privado

• Reconhecimento (ou não) – integrar ou não o sistema

• Objetivos mais específicos – P.ex.: turismo, pesquisa, defesa de modelos de sustentabilidade (comunidades

locais) etc.• Nível de restrição (ou permissividade)

– P.ex.: UCs-PI, UCs-US com comunidades locais, UCs-US com possibilidade de concessões etc.

• Outros?

Conjuntos de Áreas Protegidas

• Princípios– Respeitar as definições específicas– Buscar a complementaridade e sinergia– Aumentar potencial de resultados (positivos)– Diminuir custos (lato sensu)

Sistemas de Unidades de Conservação

• Objetivos maiores

• Complementaridade entre as áreas (unidades)– Ecológica

– em temos de objetos e objetivos de representação da diversidade biológica» no local (mosaicos etc.)» redes ecológicas (“ecological networks”)» diferentes possibilidades (p.ex. usos anteriores)» objetivos específicos (turismo, uso sustentável etc.)

– De funcionamento– capacitação– comunicação – etc.

Mosaicos de Áreas Protegidas

Solução para avançarmos nos mega-espaços de conservação da Amazônia brasileira

Obrigado!

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