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Tiragem: 23200 País: Portugal Period.: Mensal Âmbito: Tecnologias de Infor. Pág: 57 Cores: Preto e Branco Área: 18,50 x 27,60 cm² Corte: 1 de 11 ID: 64258141 01-05-2016 OS DOMADORES DE IDEIAS Textos: Hugo Séneca Estão entre as mentes mais brilhantes que surgiram em Portugal nos últimos 20 anos. Nem todos têm como principal objetivo o dinheiro ou sucesso comercial; há também quem tenha optado por fazer carreira académica – e manifestamente afastasse dos planos de vida qualquer iniciativa de empreendedorismo. Nas páginas que se seguem, vai poder confirmar que não há uma só maneira de ser bem sucedido nas tecnologias: a rampa da ribalta tanto pode demorar quase duas décadas a chegar, como pode ficar definida seis meses depois da apresentação de uma ideia de negócio ao mundo. Uma coisa é certa: sem pessoas não há ideias que singrem. E por isso este texto revela ideias e também um pouco dos “cérebros” portugueses que, de algum modo, ajudaram a mudar as tecnologias aquém e além fronteiras. A ordem dos textos não pretende ser reveladora do grau de sucesso.

Tiragem: 23200 Pág: 57 Cores: Preto e Branco Period ... Ex… · Outsystems tem provado paulatinamente que a expectativa não era infundada: no início do ano a softwarehouse anun-

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Âmbito: Tecnologias de Infor.

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OSDOMADORES DEIDEIAS

Textos: Hugo Séneca

Estão entre as mentes mais brilhantes que surgiram em Portugal nos últimos 20 anos. Nem todos têm como principal objetivo o dinheiro ou sucesso comercial; há também quem tenha optado por fazer carreira académica – e manifestamente afastasse dos planos de vida qualquer iniciativa de empreendedorismo. Nas páginas que se seguem, vai poder confirmar que não há uma só maneira de ser bem sucedido nas tecnologias: a rampa da ribalta tanto pode demorar quase duas décadas a chegar, como pode ficar definida seis meses depois da apresentação de uma ideia de negócio ao mundo. Uma coisa é certa: sem pessoas não há ideias que singrem. E por isso este texto revela ideias e também um pouco dos “cérebros” portugueses que, de algum modo, ajudaram a mudar as tecnologias aquém e além fronteiras. A ordem dos textos não pretende ser reveladora do grau de sucesso.

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TEMA DECAPA

Tudo começou em Faro. Duas cancelas, um leitor de passaportes ele-trónicos, e uma câmara que tira uma foto que permite conferir se os dados biométricos do portador coincidem com os dados que constam no chip do passaporte. Até 2008, nunca uma marca tinha conseguido desenvolver uma solução similar para aeroportos. A Vision-Box, que vinha apurando a tecnologia de processamento de imagens, não de-saproveitou a oportunidade – e passados nove anos, está em condições de reclamar a liderança no mercado dos sistemas de reconhecimento facial em aeroportos internacionais.Hoje, a Vision Box disponibiliza portas de aeroporto que reconhecem rostos de viajantes para mais de 50 países – e tem clientes com nomes sonantes como JFK, de Nova Iorque, e Schipol, de Amesterdão. Mais de 80 milhões de passageiros são identificados pelos rostos através dos sistemas da empresa liderada por Bento Correia e Miguel Leitman.

Apesar de líder incontestada, a empresa lisboeta não deixou de vis-lumbrar o longo prazo: no verão passado, a Vision-Box estreou, em Aru-ba, uma solução que permite usar o rosto em vários pontos de controlo.

As portas de aeroporto são apenas parte do negócio: a Vision-Box já conta com um total de três mil sistemas de gestão de identidades imple-mentados, e pretende expandir soluções biométricas para os serviços de estado, comércio, ou bancos. Em 2015, foi à boleia das tecnologias da Vision-Box que o Aeroporto de Lisboa e o SEF tornaram-se pionei-ros do projeto de Fronteiras Inteligentes da Comissão Europeia para o Espaço Schengen. Em paralelo, prossegue a aposta no reconhecimen-to de objetos, veículos ou pessoas em imagens de videovigilância – a área que deu o “empurrão” tecnológico inicial e que permitiu acumu-lar o conhecimento necessário para outras atividades.

Questionado pela Exame Informática, Bento Correia, CEO da empre-sa, chegou admitir uma ida para a Bolsa que permitisse fazer a expan-são do negócio. Essa possibilidade ainda não se confirmou – o que não impediu a empresa de garantir no final de 2015 um investimento da Keensight Capital, que não foi revelado publicamente (há rumores que apontam para valores entre os 10 e os 30 milhões de euros). A Keensi-ght Capital deverá manter uma posição minoritária na empresa. A in-jeção de capital tem como objetivo manter o crescimento em ritmo de cruzeiro. Em 2015, a Vision Box estimou, em entrevista ao Económico, fechar o ano com 35 milhões de euros de faturação.

Manuela Veloso migrou para os EUA na déca-da de 1980, para prosseguir estudos. Uma vez nas terras do Tio Sam, tirou mestrado e dou-toramento. Depois, desdobrou-se em aulas por algumas das universidades mais pres-tigiadas: MIT, Harvard, e Carnegie Mellon, onde se mantém e fez escola, tendo como epicentro o laboratório CORAL e como ob-jetivo máximo o desenvolvimento de robôs colaborativos (alguns operam como assis-tentes no dia-a-dia do Departamento de Aprendizagem Máquina da universidade). É uma das mentoras da liga de futebol ro-bótico RoboCup (chegou a liderar a federa-ção da modalidade) e liderou a Associação para o Avanço da Inteligência Artificial. Não faz previsões quanto à capacidade dos ro-bôs para dominar tarefas relacionadas com a criatividade ou as artes, mas não tem dú-vidas de que autómatos e humanos vão ter de aprender a coexistir no dia-a-dia.

BENTO CORREIAVISION BOX

MANUELA VELOSOUNIVERSIDADE DE CARNEGIE MELLON

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INOVAÇÃO POTENCIAL COMERCIAL EMPREENDEDORISMO

Sem ladrões não haveria polícias; sem fraude nas telecomunicações, não haveria WeDo Technologies. A culpa da fraude não é seguramente da WeDo, mas a empresa fundada em 2001 e, posteriormente, comprada pela Sonae, não tem parado de se distinguir no desenvolvimento de soluções que de-tetam – e antecipam – padrões de fraude. Em 2013, nos relatórios da Gart-ner, que costumam apresentar nomes mais sonantes, pontificou a WeDo, enquanto líder mundial no segmento de Garantia de Receita.

A denominação de Garantia de Receita pode parecer eufemismo para deteção de fraude, mas é uma evolução de negócio que a WeDo começou a explorar depois de ganhar a operadora Oi como cliente. Foi nessa altu-ra que surgiu a RAID – uma plataforma que tem como objetivo garantir que a faturação cobrada aos clientes de uma empresa está correta. Tanto no combate à fraude como na análise da faturação, as soluções da WeDo têm por base a análise dos dados de comunicações e transações efetua-das dentro e fora de uma organização. É a partir dos grandes volumes de dados processados em tempo real que a WeDo garante que uma tesoura-ria não é lesada por falhas humanas e tecnológicas, ou por mentes imagi-nosas, que usam diferentes mecanismos tecnológicos para lançar o golpe.

Com Rui Paiva ao leme, a WeDo lançou-se no mercado depois de um spinoff da Optimus. Dada a reticência dos operadores em enveredar por soluções criadas por profissionais ainda conotados com a Optimus, a jo-vem empresa teve de aprender a ganhar clientes no estrangeiro. A difi-culdade inicial revelou-se proveitosa: hoje a empresa disponibiliza solu-ções em cerca de 150 países e tem em curso um plano de diversificação que abrange soluções para os segmentos de comércio, energia, e finanças. Além da deteção de fraudes, a empresa já conta com soluções de cobrança e previsão de risco de créditos, sistemas de gestão de encomendas, equi-pamentos ou equipas, otimização de negócios e análise de tráfego. A es-tratégia de diversificação acaba de ganhar uma nova vertente: No portfolio da WeDo passou a constar uma plataforma especializada na monitorização de redes que ligam máquinas e objetos (Internet das Coisas).

Hoje, a WeDo Technologies conta com mais de 530 trabalhadores, e fa-tura 56,6 milhões de euros – mais de 70% deste valor vem do estrangeiro.

Paulo Rosado só ganhou popularidade em Portugal depois de ter figurado numa lista dos donos de empresas mais promis-soras da Fortune. Entre o ano 2000 e a atualidade, o líder da Outsystems tem provado paulatinamente que a expectativa não era infundada: no início do ano a softwarehouse anun-ciou ter captado um investimento de 55 milhões de euros junto do fundo North Bridge. O investimento será aplicado na expansão comercial e geográfica de uma plataforma que permite produzir aplicações por interface gráfica, reduzin-do substancialmente o tempo de desenvolvimento e dando a cada empresa a capacidade de fazer as respetivas ferra-mentas. Paulo Rosado admite uma ida para a Bolsa em breve.

RUI PAIVAWEDO TECHNOLOGIES

PAULO ROSADOOUTSYSTEMS

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TEMA DECAPA

Ainda não há um campeonato do mundo da produção de biomateriais – mas Rui Reis está convicto de que, se algum dia esse improvável cam-peonato tiver lugar, as equipas do Grupo de Investigação de Biomate-riais, Biodegradáveis e Biométicos da Universidade do Minho (Grupo 3B's) serão fortes candidatas ao título. À falta de um campeonato, é o prémio Clemson que serve de maior distinção. Em 2014, o líder do Grupo 3B's tornou-se o primeiro “não norte-americano” a receber a categoria mais prestigiada do não menos prestigiado Prémio Clemson.

O prémio atribuído pela Sociedade Americana de Biomateriais (SFB), que é a principal referência científica na matéria, teve como objetivo distinguir o investigador minhoto pelo impacto alcançado com a produção de artigos científicos, livros especializados, regis-to de patentes e comunicações. Antes deste Oscar dos Biomateri-ais, Rui Reis recebeu uma bolsa de 2,35 milhões de euros do Conse-lho Europeu de Investigação (ERC) para o uso de células estaminais e biomateriais na produção de soluções para a medicina regenera-tiva e ainda um financiamento de mais de 3,2 milhões de euros para um projeto de nanomedicina.

Atualmente, o atual vice-reitor da universidade do Minho lidera projetos de investigação orçados em mais de 35 milhões de euros. Com mais de 700 artigos científicos publicados, Rui Reis não só se distingue como o investigador com maior volume de produção de “literatura ci-entífica” em Portugal, como ainda figura nas listas dos investigadores mais citados a nível mundial. Entre os pares, é o trabalho em torno dos biomateriais de origem natural que merece maior reconhecimento.

O trabalho prolixo valeu-lhe dois cargos internacionais: o de pre-sidente da Sociedade Internacional para a Engenharia de Tecido e Me-dicina Regenerativa; e a liderança Instituto Europeu de Excelência em Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa (IEEETMR). Este últi-mo título também pode ser encarado como um prémio para Portugal – e para o norte do País em especial. O IEEETMR conta com 22 filiais de 13 países - e está sedeado no AvePark. Recentemente, o IEEETMR deu a conhecer uma nova vaga de investigação: a produção de tecidos, cartilagens e ossos com impressoras 3D (ver página 66).

«Quais são os mecanismos cerebrais que levam à iniciação voluntária de ações?». A questão tem guiado boa parte da investiga-ção de Rui Costa. O diretor de investigação da Fundação Champalimaud dedicou gran-de parte do trabalho à análise dos circuitos criados por gânglios cerebrais e o papel que assumem na aprendizagem, no suporte a ações inatas ou no domínio de ações atra-vés da experiência. O estudo permite sa-ber como é que o cérebro controla os mo-vimentos do corpo – e também pode dar pistas importantes no estudo de doenças neurológicas como o Parkinson, ou a Co-reia de Huntington. Licenciado na Univer-sidade Técnica de Lisboa e pós-graduado na Universidade do Porto, rumou para os EUA para se doutorar. É já enquanto investiga-dor no Programa de Neurociências da Fun-dação Champalimaud que recebe uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação. Tem vários prémios no currículo: Seeds of Scien-ce Prize for Life Sciences, medalha de Prata do Ministério da Saúde, Ordem de Sant’Ia-go da Espada, Prémio da Carreira de Jovem Investigador da Fundação Jean-Louis Jean-tet, entre outras distinções.

RUI COSTAFUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD

RUI REIS UNIVERSIDADE DO MINHO

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Com o projeto Tetrasolar, o trabalho iniciado por Elvira Fortunato fecha uma das his-tórias mais bem sucedidas das ciências portuguesas. A diretora do Centro de Inves-tigação dos Materiais da Faculdade de Ciência e Tecnologias da Universidade Nova (CENIMAT) começou por despertar a atenção de alguns gigantes como a Samsung e a Fiat com o desenvolvimento de tecnologias que permitiram substituir por tran-sístores transparentes os transístores opacos dos ecrãs hoje conhecidos como LCD.

Além de evitar as situações de arrastamento de imagens, a solução tinha outra van-tagem: permitiu substituir o silício amorfo, que está classificado como sendo tóxico e poluente, por óxidos de zinco, índio, estanho e gálio. Tendo em conta o impacto prometido no dia-a-dia de milhões de consumidores, a solução, que deu origem a duas patentes, já poderia ser considerada um grande feito para a maioria dos inves-tigadores, mas até nem foi a inovação mais promissora desenvolvida sob a liderança da diretora do Cenimat: em 2008, a equipa do instituto da Universidade Nova conclui o desenvolvimento do primeiro transístor de papel – mais uma vez, sem necessitar de silício. O projeto catapultou Elvira Fortunato para o estrelato científico e o reco-nhecimento não tardou a gerar o reconhecimento dentro e fora de portas. O Conse-lho Europeu de Investigação atriubuíu-lhe um primeiro prémio avaliado em 2,5 mi-lhões de euros e colocou-a no top 5 da investigação da eletrónica transparente. Em 2010, recebe das mãos do presidente Cavaco Silva a Ordem do Infante D. Henrique.

Curiosamente, todas estas distinções foram atribuídas quando o projeto da ele-trónica de papel de Elvira Fortunato estava no primeiro capítulo. Passados oito anos, a equipa liderada por Elvira Fortunato e Rodrigo Martins anuncia ter concluído to-dos os componentes para produzir dispositivos eletrónicos de papel (transístor, me-mória, ecrã, sensor de cor, célula solar, chip e antena de rede sem fios). O que, pelo menos em teoria, abre caminho aos alicerces mais elementares para uma nova era dominada pela eletrónica descartável, que promete ser menos poluente e onerosa que os dispositivos eletrónicos que dependem do silício.

A solução foi batizada de Tetrasolar. É provavelmente, o projeto made in Portu-gal que melhor combina ciência e potencial comercial. Resta saber se a indústria na-cional ou internacional aposta na eletrónica de papel – ou pelo contrário a combate. Quanto a Elvira Fortunato, não será de descartar novidades para breve. Ou não fos-se a investigadora responsável por inovações abriram caminho ao registo de 16 pa-tentes – uma delas em parceria com a Samsung.

Quando as marcas de telemóveis começaram a apostar nos ecrãs táteis, a Edig-ma deu a conhecer uma tecnologia que permitia que, virtualmente, tudo pu-desse ter interatividade através do tato. A solução valeu os primeiros títulos e fotos nos jornais a Miguel Peixoto de Oliveira, o então líder da empresa de Braga. Nos últimos seis anos, a Edigma não parou de desenvolver soluções: foi assim que chegou à tecnologia Ultra Skin, que tem como propósito ajudar a transformar qualquer televisor numa interface tátil. LG, Samsung, NEC e Pa-nasonic que deram mostras de interesse na tecnologia. Mais recentemente, a Edigma teve direito a novo momento mediático enquanto fornecedora tecno-lógica de um dos componentes do carro do futuro da Mercedes. Atualmen-te, o empreendedor minhoto, que é doutorado na área de Marketing, divide o tempo entre a Edigma e a empresa de soluções de interatividade Unedged.

MIGUEL PEIXOTO DE OLIVEIRAEDIGMA

ELVIRA FORTUNATOCENIMAT

Tiragem: 23200

País: Portugal

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Gonçalo Quadros, João Carreira e Diamantino Costa, colegas na Uni-versidade de Coimbra, não tiveram de esperar muito para chegar ao topo das tecnologias. Em 1998, depois de uma exposição numa con-ferência, o trio de ex-estudantes de doutoramento recebe o primeiro contacto da NASA.

A agência espacial dos EUA tinha interesse em conhecer uma solu-ção de suporte a sistemas críticos, que evita bugs e erros ou, em alter-nativa, garante que esses sistemas se comportam dentro de um padrão que não compromete o funcionamento de todo um dispositivo. Foi as-sim que a Xception, a plataforma antibugs da Critical, ganhou forma e a empresa de Coimbra abriu portas de clientes de nomes sonantes (exér-citos português e americano, agências espaciais europeia, chinesa e ja-ponesa, AgustaWestland, EADS, Thales Alenia Space).

Os primeiros clientes da Critical Software estavam no estrangeiro. Pelo que não é de estranhar o pioneirismo com que a Critical Software, em 1999, abriu uma delegação em São Francisco (se não foi a primei-ra startup portuguesa a fazê-lo, ficou muito perto disso). Numa entre-vista de carreira para a Exame Informática, Gonçalo Quadros, o CEO da Critical Software, recorda como a seleta indústria aeroespacial ajudou a moldar um dos lemas ainda hoje seguidos pela empresa: «Estar em segundo não é suficientemente bom».

A mesma ambição que levou ao desenvolvimento de soluções para alguns dos clientes mais exigentes do mundo está patente na estratégia de expansão que levou à abertura de escritórios no Reino Unido, Ale-manha, Brasil, Angola e Moçambique.

Com o processo de digitalização em curso, Quadros e os restantes membro da cúpula (Diamantino Costa saiu da empresa) perceberam que não seriam só as indústrias militar e aeroespacial a necessitar de sistemas resilientes, que garantem a continuidade de um serviço, mes-mo quando algum dos módulos falha. E assim se iniciou a diversifica-ção que levou ao lançamento das spinoffs Critical Links, Critical Ma-terials, Critical Health, Critical Manufacturing e ItGrow.

Em paralelo, a tecnológica de Coimbra empenhou-se em alguns pro-jetos emblemáticos, que ajudaram a consolidar a marca dentro e fora de portas: a reformulação do 112, enquanto número de emergência da UE; o desenvolvimento de uma plataforma que permitiu contemplar o alargamento do espaço Schengen e a participação na recém-lança-da missão ExoMars deram à startup coimbrã um currículo que poucos conseguem igualar em Portugal.

Cláudia Ranito é formada em Engenharia dos Materiais, mas foi durante um estágio na área da Medicina que teve o primeiro vis-lumbre da ideia de negócio que abriu cami-nho à Medbone: a produção de ossos sin-téticos, com características de porosidade e resistência mecânica similares às dos os-sos humanos. O que facilita a integração do implante no corpo do paciente. Hoje, a Me-dbone exporta ossos sintéticos para mais de 30 países. Os produtos têm por base uma cerâmica sintética, que combina hidroxia-patita e fosfato de tricálcio. A empresa se-diada em Cascais garante que os respetivos produtos superam os concorrentes no que toca à resistência mecânica. Além de solu-ções para a área da ortopedia, a empresa li-derada por Cláudia Ranito já evoluiu para o desenvolvimento de implantes dentários e para a área veterinária.

CLÁUDIA RANITOMEDBONE

GONÇALO QUADROSCRITICAL SOFTWARE

Tiragem: 23200

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Tecnologias de Infor.

Pág: 63

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Jorge Sá Couto e João Paulo Sá Couto iniciaram o negócio na fase final da pri-meira vaga do ZX Spectrum. Jorge reparava computadores na arrecadação dos pais, em Barca de Água, Porto; João Paulo assegurava a entrega e a vertente co-mercial. Foi com esta primeira divisão de tarefas – que haveria de permanecer até hoje com as devidas afinações – que a dupla nortenha lançou a Tsunami e chegou a 2001 com uns auspiciosos 52 milhões de euros de faturação. Nessa al-tura dominada por lojas que fabricavam desktops à medida, a JP Sá Couto dis-putava a liderança do ranking das fabricantes portuguesas – e volvidos 10 anos, haveria de tornar-se a única sobrevivente do top 5 dessas marcas (Carré & Ri-beiro, Solbi, Criterium e Triudus desapareceram), que não conseguiram acom-panhar a migração para os portáteis e o reforço das poderosas HP, Dell, Toshiba e, mais tarde, Asus e Lenovo.

A marca Tsunami “cavalgou” os ventos de bonança do desktop, mas acabou por sofrer um apagão a meados da década passada. Ao declínio não será alheia a forma como a JP se reposicionou na era dos portáteis: quando expirou o prazo do modelo de negócio das marcas de informática nacionais, que se limitavam a encomendar componentes na Ásia, a JP Sá Couto deparou com a oportunidade providencial de se tornar o principal fornecedor do e-Escolinhas. Foi assim que surgiu o portátil Magalhães, que superou as 700 mil unidades distribuídas e abriu caminho aos mercados da América Latina.

Quando os menos versados esperavam que os irmãos Sá Couto lançassem fá-bricas noutras paragens, a empresa evoluiu para um modelo de apoio/consulto-ria para governos e empresas locais que queiram instalar essas fábricas. Com esta estratégia, a companhia passou a evitar parte dos riscos inerentes à produção de software e hardware de educação. As mudanças não chegaram a afetar um im-portante trunfo: uma profícua parceria com a Intel.

Atualmente, a empresa está presente em 80 mercados; já distribuiu mais de nove milhões de portáteis em mais de 100 mil escolas. Em 2014, faturou 331 mi-lhões de euros. Em paralelo, resistiu à polémica em torno da Fundação para as Co-municações Móveis. Hoje chama-se JP-Inspiring Knowledge (JP-IK). O lifting contemplou ainda o lançamento da marca MyMaga e a reabilitação da Tsunami.

José Manuel Moura garantiu um lugar na história da ciência ao ajudar a desenvolver um algoritmo que permite detetar e emendar erros produ-zidos nos códigos binários que são gerados durante a leitura de um disco rígido. O projeto, que foi levado a cabo com o investigador Aleksandar Kavcic dentro da Universidade de Carnegie Mellon (CMU), foi determi-nante na miniaturização dos discos rígidos e haveria de valer, já em 2016, a maior indemnização alguma vez paga por uma empresa de tecnologias (a Marvell) pela violação de uma patente detida por uma Universidade (750 milhões de dólares). Mas este não é o único feito do investigador português radicado nos EUA desde os anos 1980 (curiosidade biográfica: é marido de Manuela Veloso que também figura nesta lista). José Manuel Moura é um dos líderes do programa CMU/Portugal; é membro da di-reção do IEEE e membro das Academias de Inventores e Engenharia dos EUA. Recebeu várias distinções na CMU – a universidade onde leciona.

JORGE SÁ COUTOJP INSPIRING KNOWLEDGE

JOSÉ MANUEL MOURAUNIVERSIDADE DE CARNEGIE MELLON

Tiragem: 23200

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Tecnologias de Infor.

Pág: 64

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TEMA DECAPA

Antes de iCloud e Azure, houve MobiComp. Na altura, a Apple não era uma marca de telemóveis, e a Microsoft ainda não tinha despertado para necessidade imperiosa de ter um Windows verdadeiramente mó-vel – como o Symbian era na altura.

Em 2009, a Microsoft tentou dar o primeiro passo de adaptação de um Windows Mobile focado no segmento empresarial para um Windows Mobile que tinha de evoluir para o público em geral. E estava disposta a investir: em simultâneo com o anúncio de um centro de investigação especializado em serviços móveis, a gigante de Redmond anunciou a compra da MobiComp, por um valor nunca revelado.

Na altura, a MobiComp era a menina dos olhos do empreendedoris-mo tecnológico português: tendo todos os operadores portugueses como clientes, a empresa minhota abriu escritórios em Espanha, Reino Uni-do, Dubai e Finlândia com o objetivo de potenciar a internacionalização de uma plataforma que facilitava o acesso a jogos, notícias e utilitários.

O que teria acontecido à Mobicomp se não tivesse sido comprada? Carlos Oliveira deverá ser a pessoa em melhor posição para o respon-der: depois da venda, o empresário Licenciado em Engenharia de Sis-temas e Informática pela Universidade do Minho, assumiu por pouco tempo a direção do Centro de I&D em tecnologias de mobilidade que a Microsoft instalou em Portugal. Mais tarde, integra o Governo de Pas-sos Coelho como secretário de estado com as pastas da inovação e em-preendedorismo. «Em nenhum país do mundo se faz recurso ao cré-dito bancário para lançar uma empresa», diz pouco depois de chegar ao cargo. Anuncia um pacote de medidas de apoio ao empreendedo-rismo, mas sai a meio do mandato.

O projeto mais recente dá pelo nome de Startup Braga, incubado-ra que pretende funcionar como expansão do eixo tecnológico que liga Lisboa ao Porto.

Em 2001, a Tekever era uma empresa de sof-tware – que fazia os negócios com discrição. Só com a entrada no segmento aeroespacial descolou como atração mediática. Desen-volveu drones para os militares portugueses no Kosovo; construiu máquinas voadoras de maiores dimensões; e está a desenvolver um satélite. Pedro Sinogas mantém a liderança de uma empresa que divide o raio de ação entre soluções empresariais como a Mobi-zy e ambiciosos projetos como a constru-ção de uma fábrica de drones em Ponte Sor. Antes de criar a Tekever, Sinogas foi inves-tigador no Inesc.

A Farfetch é a prova de que há mesmo males que vêm por bem. Depois de perder o com-boio nas plataformas de ERP, José Neves co-munica à equipa uma mudança de raio de ação. E assim nasce a loja de artigos de luxo na Internet que dá pelo nome de Farfetch. De 2008 até hoje, a Farfetch valorizou-se em mais de mil milhões de dólares. O negócio nada tem de tecnologicamente complexo. José Neves explica: «Quantos sites conhe-ce que vendem Gucci e Valentino? Se hou-ver mais algum provavelmente está a vender coisas em segunda mão ou falsificações».

PEDRO SINOGASTEKEVER

JOSÉ NEVESFARFETCH

CARLOS OLIVEIRASTARTUP BRAGA

Tiragem: 23200

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Tecnologias de Infor.

Pág: 65

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Área: 18,50 x 26,77 cm²

Corte: 9 de 11ID: 64258141 01-05-2016

A Aptoide pode ser considerada a se-gunda vida empresarial de Paulo Tre-zentos: numa primeira fase, o entusiasta do software aberto dedicou-se à Cai-xa Mágica e à distribuição de sistemas operativos Linux. A "segunda vida" em-presarial começa com a Aptoide - e tem tido mais sucesso. A ponto de se tornar a principal alternativa à Play, da Google, nas apps para Android. A Aptoide conta com mais de 100 milhões de utilizadores e distribui mais de 500 mil apps, com mais dois mil milhões de downloads. Além da vertente empresarial, Paulo Trezentos dá aulas no ISCTE.

Montar um call center em cinco minu-tos? A Talkdesk consegue – e foi devido a essa ligeireza que a empresa formada por dois ex-alunos de Técnico chamou a atenção nos EUA. Na origem do negó-cio que captou 13,5 milhões de euros de investimento está uma ideia desenha-da à mesa de um café, por Tiago Paiva e Cristina Fonseca com o intuito de parti-cipar num concurso em São Francisco, EUA. Além de ganharem o concurso, os jovens garantiram os primeiros clien-tes para uma plataforma que disponi-biliza ferramentas que, dantes, só esta-vam disponíveis para grandes empresas.

Hoje, a Uniplaces é o “rosto” de uma geração de empresários e consumido-res que a gíria conhece como Millen-nials. Tendo como raio de ação a procura de residências universitárias, a startup confirma que, na Net, o simples fun-ciona. «A propriedade intelectual pode não ser tão diferenciadora quanto o mo-delo de negócio», recorda o jovem que criou a Uniplaces com Ben Grech e Ma-riano Kostelec. Recentemente, captou um investimento de 22 milhões de eu-ros. Para 2016, a empresa fixou como objetivo o mercado europeu. Em 2017, serão os EUA.

A partir dos laboratórios da Uptec, Ma-nuel Lopes gizou uma nova geração de casas, que se movimentam ao longo dia para garantir maior exposição solar. O conceito pressupõe motores que fazem girar um edifício ou que inclinam pai-néis solares. A Casas em Movimento estima que esta nova geração de cons-truções permita poupanças de 80% nos custos de energia. A empresa já teve um protótipo exposto na cidade do Porto, mas ainda não conseguiu impor o con-ceito revolucionário. Falta-lhe superar um desafio de monta: a adoção do mer-cado imobiliário e da construção civil.

Hoje, a Feedzai tem vindo a conquistar o mercado dos EUA com uma ferramen-ta que, em menos de um segundo, de-teta potenciais fraudes em transações com cartões de crédito. Antes disso, o negócio estava centrado na previsão de riscos de ataques cardíacos em doentes nos cuidados intensivos. Ambas solu-ções têm por base a análise de grandes volumes de dados – mas foi na deteção de fraudes que o negócio singrou. Nuno Sebastião, o líder da empresa, é forma-do na London Business School. Antes da Feedzai, trabalhou na ESA e na Cri-tical Software.

Doutorada pela Universidade de Avei-ro e responsável pelo grupo de investi-gação de Protocolos e Arquiteturas de Rede, Susana Sargento fundou a Ve-niam com João Barros e garantiu um lugar no escaparate das startups portu-guesas que atraíram investimentos mi-lionários. Hoje, a Veniam tem no Porto um laboratório vivo, com mais de 600 veículos conectados através de redes veiculares que recolhem dados de ser-viços municipais e fornecem acesso à Net à população. Recentemente, rece-beu o Prémio Mulheres Inovadoras da União Europeia de 2016.

PAULO TREZENTOSAPTOIDE

TIAGO PAIVATALKDESK

MIGUEL SANTO AMAROUNIPLACES

MANUEL LOPES CASAS EM MOVIMENTO

NUNO SEBASTIÃOFEEDZAI

SUSANA SARGENTOVENIAM

Tiragem: 23200

País: Portugal

Period.: Mensal

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Pág: 4

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Área: 9,20 x 4,80 cm²

Corte: 10 de 11ID: 64258141 01-05-2016HÁ UMA MARCA portuguesa que é líder e pioneira nas portas de reconhecimento facial a nível mundial - e que nos salva das filas dos aeroportos. Mas há mais casos de sucesso, como se poderá ver no texto sobre os melhores geek do País. H.S.p57

Tiragem: 23200

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Tecnologias de Infor.

Pág: 1

Cores: Cor

Área: 18,50 x 14,81 cm²

Corte: 11 de 11ID: 64258141 01-05-2016

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