Upload
dodieu
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
TÍTULO: A CRÔNICA COMO ELEMENTO MOTIVADOR PARA A LEITURA
LITERÁRIA EM SALA DE AULA
Maria Julia Batista Mendes*1 Valdeci Batista de Melo Oliveira*2
RESUMO
O presente trabalho“ A Crônica como Elemento Motivador da leitura literária em sala de aula” tem como objetivo principal ampliar o mundo da leitura literária dos alunos do 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual José de Anchieta, partindo do gênero crônica, tendo como parâmetro norteador o Método Recepcional. Diversos pesquisadores e estudiosos relatam a respeito da falta de leitura literária por parte dos estudantes e também sobre a falta de conhecimento das obras literárias e textos dos diversos gêneros que circulam pela nossa sociedade. Nesse sentido é que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, há a necessidade de garantir o acesso à cultura e à informação; estimular a leitura de diversos gêneros e levar os alunos a exercitar a prática da leitura como apoio da reflexão crítica, da criatividade e de uma leitura proficiente como instrumento capaz de fortalecer a autonomia dos educandos. Buscou-se trabalhar um gênero que despertasse nos alunos o gosto da leitura por prazer e que primeiramente determinasse o horizonte de expectativas nos alunos. O gênero crônica é um gênero híbrido e que pode estar presente, isto é, embutido em vários outros gêneros, pois desde sua origem é um relato em permanente relação com o tempo e com o cotidiano da clientela escolhida. Portanto, para despertar nos alunos o interesse pela leitura literária é preciso levar para sala de aula textos de fácil entendimento e que estejam perto da realidade por eles vivida que são os fatos do cotidiano. Este trabalho foi realizado com o intuito de fazer com que os alunos pudessem ter acesso ao gênero crônica e por conseguinte ampliassem o seu horizonte de expectativas e partissem para leituras mais aprofundadas como sugere o Método Recepcional.
PALAVRAS-CHAVES: Leitura – literatura – motivação – crônica
1 Maria Júlia Batista Mendes, professora PDE 2010, email [email protected] 2 Valdeci Batista de Melo Oliveira – Doutorado em Letras (Literatura Portuguesa) pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto A da Universidade do Oeste do Paraná.
ABSTRACT
The present work “The Chronicle like element motivator of the literary reading in the classroom” have with objective to expand the world of the literary reading of the first year students of the High School in the College José de Anchieta, starting of the chronicle genre, having as guiding parameter the Method Recepcional. Several researchers and scholars report the respect about the lack of literary reading by students and also about the lack of knowledge of literary works and texts of the various genres that circulate in our society. In this sense, according to the Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Law of the Guidelines and Bases of National Education), is that there is the need to assure the access to information and culture, to incite the reading of various genres and to conduce the students to the practice of the reading like support the critical thinking, creativity and reading proficiency as instrument able to strengthen the autonomy of the students. Search for work a genre that provoke in the students to take a liking for reading for pleasure and first determine the horizon of the expectations for students. The chronicle genre is a hybrid genre that may to be present, this is, embedded in various others genres, because since its origin is a relate in permanent relationship with the time and with the daily of choice clientele. Therefore, to arouse in the students the interest for the literary reading is necessary to take to classroom easy understand texts and that are near to reality for they lived that are the facts of the daily. This work was carried out in order to make the students could have access to the chronicle genre and therefore amplify the horizon of expectations and set out to reading more deeply as suggested by the Method Recepcional.
Key – Words: Reading – Chronicle – Literature – Reception.
3
INTRODUÇÃO
O principal problema enfrentado pelos professores de Língua Portuguesa,
em geral, é despertar nos alunos o gosto pela leitura e, nesse sentido, enfrenta-se
muitos desafios, pois não é fácil fazer com que alguém goste de alguma coisa se
não compreende o que é, nem para que serve e muito menos compreende as
regras do jogo para que dele possa participar. É fato que a maioria dos
brasileiros, incluindo aí nós professores, não temos o hábito de leitura, muito
menos ainda da leitura de textos literários.
Sabe-se que de acordo com o Método Recepcional descrito por Bordini e
Aguiar (1993), o processo de recepção do texto se inicia antes do contato do leitor
com a obra, pois ele possui um horizonte de expectativas que o restringe, mas
que pode ser transformado e ampliado. Dessa forma, quando se questiona sobre
o ensino da leitura, remete-se às práticas e ao processo de formação de leitores
em sala de aula, em que acontece o processo educativo, e é por esse motivo que
a escola se torna o lugar ideal para o incentivo a promoção e a formação do
hábito de leitura nas crianças e jovens, cabendo e devendo então à escola se
preocupar em desenvolver estratégias para o ensino eficaz da leitura.
Muitas vezes o aluno realiza o ato da leitura sem realmente ler, sem
compreender o sentido do texto. Lê somente para a sala de aula e não para a
vida. Segundo Paulo Freire (1989, p.11) “não se forma um leitor com uma ou duas
cirandas, e nem com uma ou duas sacolas de livros, se as condições sociais e
escolares subjacentes à leitura, não forem consideradas”.
Partindo desse pressuposto, a intervenção pedagógica teve como objetivo
a discussão e a sistematização sobre a necessidade de se trabalhar com o
gênero literário crônica em sala de aula como atividade de leitura por prazer e
busca de conhecimento. Desta forma, fez-se necessário levar para a sala de aula
textos curtos, de fácil entendimento e que o aluno pudesse apreciar e se
identificar com o referido texto. Além disso, por serem textos de fácil acesso,
4
todos os alunos puderam trocar ideias sobre um mesmo texto, propiciando uma
maior interação.
Objetivo Geral:
Desenvolver o hábito de leitura de textos literários com os alunos, partindo
do gênero crônica, tendo como parâmetro norteador o Método
Recepcional.
Objetivos Específicos
Possibilitar aos alunos a identificação da diversidade de estilo e de gênero
e linguagem entre autores de diferentes épocas.
Distinguir o tom de lirismo, ironia, humor ou reflexão em diferentes
crônicas.
Explorar os elementos constitutivos de uma crônica além dos recursos
literários utilizados pelo autor;
É preciso descobrir nos textos sua face mais pessoal e prazerosa, sua
dimensão mais encantadora e envolvente, por isso todos devem ter a
oportunidade de encarar o livro como um desafio interessante que abrirá portas,
não só para o conhecimento, mas também como forma de entretenimento e
diversão.
Assim, o objeto desta intervenção foi às práticas e saberes dos alunos em
relação à leitura literária, tendo como princípio a leitura e interpretação do gênero
Crônica, no Colégio Estadual José de Anchieta, apresentando como parâmetro
norteador o Método Recepcional descrito por Bordini e Aguiar.
5
ESCLARECIMENTOS TEÓRICOS
De acordo com o Método Recepcional descrito por Maria da Glória Bordini
e Vera Teixeira de Aguiar na obra “A formação do leitor” (1993), pode-se
desenvolver uma prática pedagógica de leitura que contemplem alunos do Ensino
Fundamental. Esse método prevê cinco etapas:
A primeira etapa é aquela em que ocorre a determinação do horizonte de
expectativas. Nela, devem-se atentar as características culturais,
interesses de leitura, crenças e valores, observando as preferências do
aluno.
Na segunda fase desenvolve-se o atendimento do horizonte de
expectativas. Nessa fase os textos selecionados devem satisfazer as
aspirações dos alunos de acordo com seu perfil.
A terceira etapa diz respeito à ruptura do horizonte de expectativas. É o
momento de confrontar o familiar e o novo, afirmando o caráter inovador da
obra.
A quarta fase é denominada pelas autoras questionamento do horizonte de
expectativas. É a hora da apreciação das obras lidas, bem como a análise
e a crítica sobre as leituras que vem sendo feitas.
A quinta e última etapa designa-se como a ampliação do horizonte de
expectativas. Assim sendo, a atividade de leitura fundada nos
pressupostos da Estética da Recepção deve priorizar a chamada “obra
difícil”, pois nela consiste o poder de transformação de sistemas
ideológicos sujeitos à crítica.
De acordo com Bordini e Aguiar (1993), o professor efetuará a
determinação do horizonte de expectativas da classe, para em seguida, propor
estratégias de ruptura e transformação do mesmo. É importante respeitar os
valores prezados pelos alunos, como: crenças, modismos, estilos de vida,
preferências, preconceitos, interesses da área de leitura.
6
Um planejamento de ensino de acordo com o Método Recepcional deverá
prever, num primeiro plano, clareza sobre as noções que envolvem: leitor, texto,
situação de recepção, história de leitura dos alunos e posteriormente seguir as
etapas do Método Recepcional, conforme apontadas por Bordini e Aguiar (1993).
São elas: a) Determinação do horizonte de expectativas; b) Atendimento do
horizonte de expectativas; c) Ruptura do horizonte de expectativas; d)
Questionamento do horizonte de expectativas; e) Ampliação do horizonte de
expectativas.
Segundo o debate entre os demais alunos e o professor – “A Estética da
Recepção: colocações gerais” por Lívia Lázzaro (2002) sobre Jauss, um fator
muito importante levantado foi que para o estudo da recepção que é o momento
da experiência primária e o ato de reflexão são diferentes. "A experiência estética
não se inicia pela compreensão e interpretação do significado de uma obra,
menos ainda, pela reconstrução da intenção de seu autor.” (2002,p.18)
Jauss (1994, p.24) dá ênfase à tarefa da hermenêutica literária, nesse
sentido:
[...] diferenciar metodicamente os dois modos de recepção [...] aclarar o processo atual em que se concretizam o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de outro, reconstruir o processo histórico pelo qual o texto é sempre recebido e interpretado diferentemente, por leitores em tempos diversos.
As definições resignadas à literatura e à arte “recorrem a este termo para
qualificar classes, assuntos ou modos de criação” (STALLONI, 2007, p.12). O
mesmo autor ressalta que a literatura, por sua vez, obedece à mesma vontade
taxinômica, esforçando-se por classificar as obras e os assuntos em função de
critérios particulares, sejam eles estilísticos, retóricos, temáticos ou outros. Esse é
o termo que constitui os gêneros literários e que nos propomos a explorar aqui.
No Brasil, temos grandes cronistas e dentre eles destaca-se Luis Fernando
Veríssimo. Nos títulos dos livros de Veríssimo, podemos encontrar certo grau de
7
ironia e humor elevadíssimo, que instiga qualquer pessoa pelo menos folhear os
livros.
Limoeiro (2001, p.11), em um texto publicado no site dia-dia educação
sobre o trabalho de crônicas com o autor Luis Fernando Veríssimo, argumenta
que:
[...] características da sua obra são os vazios, os implícitos, que pedem um leitor capaz de preencher essas lacunas, a fim de que este se dê conta da verdadeira intenção do que é proferido. Também a transgressão é marca de seus textos, sendo que o leitor, às vezes, é surpreendido com situações inesperadas criadas pelo autor, que atrai o leitor para um caminho confiante, mas que repentinamente será alterado, originando um redimensionamento de crenças em relação às expectativas geradas. Entre suas autodefinições irônicas, a mais conhecida é aquela em que Luis Fernando Veríssimo apresenta-se como o gigolô das palavras. Atrás do espírito brincalhão, revela-se o escritor preocupado com as infinitas possibilidades de expressão que as palavras carregam.
Mas, para esse trabalho com a crônica, preferi não definir um único
escritor, pois há muitas opções para o desenvolvimento do mesmo. Dentre os
quais, além do já citado, pode-se destacar Machado de Assis, Carlos Heitor Cony,
Ignácio de Loyola Brandão, Mario Prata, Martha Medeiros, Moacyr Scliar, Nelson
Rodrigues, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e outros. Entretanto,
essa é uma escolha para uma abordagem inicial desse gênero, e também pela
facilidade de localização dos textos desses autores, tendo em vista a publicação
de suas crônicas em conceituados jornais (versão impressa e online) e em outros
diversos meios (revistas, blog, homepage, entre outros) assim como também a
grande quantidade de publicações existentes de suas crônicas em livros.
Dentre os cinco níveis de leitura existentes de acordo com Aguiar e Bordini
pretendemos alcançar a leitura crítica, sendo este “... o período entre a 8.ª série e
o 2º Grau, quando o aluno elabora seus juízos de valor e desenvolve a percepção
dos conteúdos estéticos”. Essas pesquisadoras ressaltam também que o tipo de
assunto preferido por esta faixa etária “são os livros que abordam problemas
sociais e psicológicos. [...] Sendo assim, o trabalho em sala de aula com estes
8
livros deve propiciar a reflexão e a opção por comportamentos que descobre
como mais justos e autênticos” (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.21).
A importância do papel do professor no processo da leitura
O mundo está em contínua mudança e na escola o professor tem de
perceber isto e buscar novas formas para desenvolver o processo de formação de
leitores, pois a função do professor é ser mediador entre textos e leitores,
verificando se o processo de leitura da escola dá conta de formar leitores
competentes.
Segundo Foucambert (1994, p.05):
... a leitura é atribuição voluntária de um significado à escrita. Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, Significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ou que já se é.
Ao contrário do que pensa o autor, o que vemos na escola é um modo
equivocado de ver a leitura, acredita-se, na maioria das vezes, que aprender ler é
apenas decodificar, converter letra em som resultando com isso uma grande
quantidade de leitores que decodificam sem atribuir significado algum.
Primeiramente é necessário que o professor saiba a distinção entre ler e aprender
a ler e saiba que a aprendizagem de leitura não se restringe apenas aos primeiros
anos da vida escolar, como afirma a autora Kleiman (1993, p.08):
[...] o ensino da leitura costuma ser considerado próprio de um ciclo da escolaridade: em nosso atual sistema educativo, o ciclo inicial. O trabalho de leitura deve ser entendido ao longo de toda a escolaridade, pois existem motivos para isso.
9
O aluno é um leitor do mundo, na medida em que observa, antecipa,
interpreta e interage, dando significado a tudo que o cerca, com estas mesmas
estratégias de busca de sentido, ele utiliza para compreender o mundo letrado.
Portanto, a construção de significado é possível pela interação dos elementos
textuais com os conhecimentos internalizados do leitor. É necessário que o aluno
utilize uma sua bagagem de conhecimentos para descobrir aquilo que não sabe.
Caso sua bagagem não seja suficiente, que leve o aluno a analisar e a
compreender as ideias dos autores como sugere a autora Kleiman (1993, p.19),
que enfatiza a importância do professor como mediador entre texto e aluno.
A aprendizagem da leitura e de estratégias adequadas para
compreender os textos, requer uma intervenção explicitamente dirigida a essa aquisição. O aprendiz leitor precisa de informação, do apoio, do incentivo e dos desafios proporcionados pelo professor ou pelo especialista da matéria em questão. Desta forma, o leitor incipiente pode ir dominando progressivamente
aspectos de leitura....
Se considerarmos que vivemos em uma época em que a sociedade é
movida pelos avanços tecnológicos, veremos que estes levam o homem a buscar
novas formas de comunicação que possam contribuir com as suas necessidades
tanto sociais quanto pessoais é que, cada vez, mais surgem as diferentes formas
de se comunicar por escrito.
Para tanto, é necessário que o professor apresente uma nova postura,
buscando o aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos aplicados à leitura
e, principalmente, fazendo reflexões sobre o significado do que é ler. O ato de ler
corresponde ao processo de apreensão da realidade que cerca o indivíduo. Essa
realidade se revela ao leitor através de variadas linguagens. A leitura não
acontece somente por meio de textos escritos, mas pela apreensão da realidade
e da interpretação do pensamento do escritor expresso por símbolos escrito
aliado à vivência e à afetividade do leitor.
A autora Isabel Solé (1998, p. 52) ainda contribui com essa discussão
sobre o que é ler dizendo que “... ler não é decodificar, mas para ler é preciso
10
saber decodificar”. Ela também defende que o ensino do código deve ser
fundamentado em contextos significativos e não isolados ou descontextualizados.
Propõe um ensino a partir das concepções iniciais que a criança constrói nas
situações sociais de leitura fora da escola. A escrita diz coisas significativas,
mostrando à criança o que precisa ser construído por ela no âmbito da
aprendizagem da leitura.
Nesse sentido, o ensino da literatura deve possibilitar o desenvolvimento
do pensar sobre a linguagem enquanto objeto de reflexão. Além disso, o
aperfeiçoamento dessa habilidade fornece maior conhecimento sobre a estrutura
e o código da língua, sobretudo, é preciso fazer com que os alunos leiam os
textos e suas entrelinhas.
Ao ler os textos em questão observamos que o autor deixa vários vazios
que, segundo Iser (1979), são a ausência proposital de uma explicação,
esperando que o leitor preencha esses vazios fazendo uma interpretação,
projeção, combinação ou inferência, ocorrendo aí uma interação.
Segundo Lajolo (1994 p.15), “tudo que é escrito é, não é e pode ser
literatura. Depende do ponto de vista, do sentido que a palavra tem para cada um,
da situação na qual se discute o que é literatura”.
A FORMAÇÃO DO LEITOR E A LEITURA DO TEXTO LITERÁRIO
Diversos pesquisadores e estudiosos relatam a respeito da falta de leitura
literária por parte dos estudantes e também sobre a falta de conhecimento das
obras literárias e textos dos diversos gêneros que circulam pela nossa sociedade.
Nesse sentido é que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, há a necessidade de garantir o acesso à cultura e à informação;
estimular a leitura de diversos gêneros e levar os alunos a exercitar a prática da
leitura como apoio da reflexão crítica, da criatividade e de uma leitura proficiente
como instrumento capaz de fortalecer a autonomia dos educandos.
Podemos dizer que a prática de sala de aula se reflete de forma diferente,
fazendo com que o professor se depare com alunos que apresentam a falta do
11
gosto, hábito e as mais variadas dificuldades geradas por falta de hábito de leitura
e isto gera a elas certas consequências, entre elas.
... a não assimilação da norma linguística impede o entendimento de textos; o desinteresse pela matéria escrita dificulta a continuidade do processo de leitura e, portanto, a aquisição do saber; a ausência de domínio da expressão oral impossibilita a reprodução do lido, o desdobramento do processo de comunicação e a verbalização das próprias necessidades – que comprometem a atuação do aluno dentro e, principalmente, fora da escola (ZILBERMANN, 1990, p.18)
Diante disso, percebe-se que as condições de ensino mostram que os
professores devem propor suas aulas e atividades de forma desafiadora para que
consiga formar bons leitores, e para isto quando ele faz uso da “[...] leitura do
texto literário ele constitui uma atividade sintetizadora, na medida em que permite
ao indivíduo penetrar o âmbito da alteridade, sem perder de vista sua
subjetividade e história” (ZILBERMANN, 1990, p.19).
Partindo do pressuposto de que a leitura tem o poder de enriquecer e
humanizar quando lemos percebemos a beleza da linguagem e sentimos emoção,
conhecemos lugares, pessoas e comportamentos. E acreditando que a leitura
literária é um mundo denso, mas que abre as portas do entendimento
(compreensão) para qualquer outro tipo de leitura, pensou-se em trabalhar
buscando a motivação dos alunos. A autora Marisa Lajolo pontua que o contexto
escolar brasileiro revela “uma escola amarga e curtida por políticas educacionais
equivocadas”. (LAJOLO, 1994, p.05)
Sendo assim, ela pontua que “a função desse professor bem - sucedido
confina-se ao papel de propagandista persuasivo de um produto (a leitura).” Com
essa prática o aluno poderá fazer várias inferências e perceber que a leitura o
coloca em contato com outras culturas e a partir daí lerá o mundo, percebendo
que,
12
Do mundo da leitura à leitura do mundo, o trajeto se cumpre sempre, refazendo-se, inclusive, por um vice-versa que transforma a leitura em prática circular e infinita. Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da escola (LAJOLO, 1994, p.07).
Podemos dizer que esse conceito de leitor estabelecido de acordo com a
Estética da Recepção tem suas próprias dimensões, mas expanda as fronteiras
do conhecido, que absorva através da imaginação, mas decifre por meio do
intelecto. Essa prática pode ainda promover a interação bem como aumentar o
conhecimento de mundo dos sujeitos, já que o leitor tende socializar a
experiência, cotejar as conclusões com as dos outros leitores e discutir
preferências e além disso “...o leitor tende a se enriquecer graças ao seu
consumo” (ZILBERMANN, 1989, p.19).
A obra literária não é um objeto que exista por si só, oferecendo a cada observador em cada época um mesmo aspecto. Não se trata de um monumento a revelar monologicamente seu Ser atemporal. Ela é, antes, como uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da leitura, libertando o texto da matéria das palavras e conferindo-lhe existência atual. (Jauss, 1994, p. 25)
Considerando, assim, o leitor como um elemento também textualmente
marcado na obra de arte literária. Para o teórico, privilegiar a recepção representa
conceber o texto literário como um fato que não se limita à dimensão estética,
pois também considera a social. Por conseguinte, desloca-se a concepção de
literatura enquanto sistema de sentido fechado e definitivo para a de um sistema
que se constrói por produção, recepção e comunicação, ou seja, por um
relacionamento dinâmico entre autor, obra e leitor.
Podemos dizer que possuímos um sistema referências que nos guia na
obra lida, contudo, este não se restringe aos aspectos estéticos da obra, porque
no ato da leitura também entra em jogo a experiência de vida do leitor,
significando que entre a leitura de uma obra e o efeito pretendido ocorre o
13
processo da compreensão, exigindo do leitor não só a utilização do conhecimento
filológico, mas de todo o seu conhecimento de mundo acumulado. Em vista disso,
o conjunto de referências também é regido pelas convenções, detalhadas por
Zilberman (1989, p.35), da seguinte ordem:
- social, pois o indivíduo ocupa uma posição na hierarquia das sociedades;- intelectual, porque ele detém uma visão de mundo compatível, na maioria das vezes, com seu lugar no espectro social, mas que atinge após completar o ciclo de sua educação formal;- ideológica, correspondente aos valores circulantes no meio, de que se imbuiu e dos quais não consegue fugir;- linguística, pois emprega um certo padrão expressivo, mais ou menos coincidente com a norma gramatical privilegiada,o que decorre tanto de sua educação, como do espaço social em que se transita.
Partindo dessa ordem estabelecida por Zilberman (1989), pode-se dizer
que seria de extrema valia a aplicabilidade em sala de aula, é certo dizer que há
um processo de interação entre o leitor e o texto, proporcionando desta forma
uma aula enriquecedora pautada nas experiências de vida e também na
socialização dos conhecimentos. Pois, durante certo período de tempo havia
estudos acerca da teoria literária que concentrava-se na questão do autor ou do
texto no que se referia como objeto de análise e detentor de sentido pretendido
pelo o autor do texto, contudo a partir da segunda metade do século XX, houve
uma certa preocupação com a relação da função e o papel do leitor, podendo ser
ressaltada a própria ação requerida no ato da leitura. A teoria que norteia e causa
efeito disso é a já citada Estética da Recepção, no que vai consistir no efeito entre
o sujeito enquanto leitor e o ato da leitura, que no que tange essa teoria, a leitura
é vista como um fato ou um acontecimento literário. Para Hans Robert Jauss é
importante considerar as condições históricas que podem ser moldadas e
influenciadas na atitude do leitor do texto, também vale dizer que a teoria da
estética da recepção não anula a importância da criação literária, a criação do
autor centra no produto final, ou seja, o texto.
14
Para que ocorra a interpretação é preciso que a interação entre a tríade autor-obra-leitor seja efetivada no ato da leitura. Porém, o leitor real (ou empírico), ao se deparar com um texto, tem reações variáveis e dinâmicas, podendo tanto realizar uma leitura que vai ao encontro do leitor implícito ou recusar-se de entrar (ROMAIS, 2011 p. 1)
No que diz respeito à leitura é importante também observar que se para
escrever é necessário criarmos bons leitores, pois é a partir da leitura que vamos
melhorar a fala, o vocabulário e, por conseguinte, a escrita.
Quando o foco é a Literatura e a formação do leitor, duas teorias apresentam afinidades, a Sociologia da Leitura e Estética da Recepção. A Sociologia da leitura investiga os possíveis fatores que conduzem o leitor a ler determinada obra, tais como, o nível socioeconômico, a família, a escola, os amigos, a presença/ausência de uma fonte de pesquisas, a igreja, entre outros. Os estudos baseados nessa teoria consideram a presença dos mediadores no processo da leitura como fator fundamental. Segundo a Sociologia da Leitura, muitas são as formas pelas quais um texto pode chegar até às mãos de uma comunidade ou de um leitor [...] (SAGRILO, 2007, p. 1004).
DISCUSSÃO E ANÁLISE (RESULTADOS)
Seguindo os cinco níveis do Método Recepcional descrito por Bordini e
Aguiar (2001): determinação, atendimento, ruptura, questionamento e ampliação
do horizonte de expectativas, diversas atividades foram desenvolvidas com vistas
a atender este corolário:
DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Primeiramente foi explorado o texto de Drummond “Falando sobre crônica”.
Este texto traz o significado de crônica na sua essência. Assim, os alunos
puderam esclarecer algumas características da crônica. Em seguida a turma leu o
texto impresso ¨Conversinha Mineira” de Fernando Sabino (biografia do autor no
data show) e a exibição do vídeo. Houve o confronto entre o texto escrito e o
15
falado, como: linguagem, tom, foco narrativo e outras características do texto.
Depois os alunos,em grupos fizeram a encenação de “Conversinha Mineira”.
Também foi solicitado aos alunos uma pesquisa sobre o gênero crônica e em
seguida pode-se perceber o interesse pelo gênero. Ainda para determinar o
horizonte de expectativas os alunos leram e assistiram ao vídeo do texto “ A
última crônica”, também de Fernando Sabino e responderam algumas questões
sobre o texto para entender que crônica faz parte do cotidiano. Nesse texto o
autor fala se refere ao poeta (sem se referir ao nome) “... assim eu quereria meu
último poema...” e isso aguçou nos alunos a curiosidade sobre quem seria este
poeta. Então foi apresentado a eles o poema de Manuel Bandeira. Para fechar
este nível do Método Recepcional foi feito o confronto entre as linguagens
utilizadas pelo mesmo autor em dois textos diferentes.
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Para este nível do Método Recepcional foi escolhido um texto de Cecília
Meireles: “Professores de Inglês”. Primeiramente foi exibida a biografia da autora
e em seguida foi distribuído aos alunos o texto impresso para leitura, verificação
do vocabulário e perguntas orais sobre o mesmo. Em seguida propôs-se uma
pesquisa com pessoas mais velhas sobre como eram os seus professores, bem
como as impressões que cada um teve sobre os professores que tiveram e em
seguida apresentaram à turma o resultado da pesquisa. Esta foi uma atividade
muito interessante, pois tiveram contato com diversos tipos de professores e de
como era a escola antigamente.
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Neste nível do Método foi proposto aos alunos, depois de exibido a
biografia de Luís Fernando Veríssimo, uma pesquisa de crônicas do autor. Cada
aluno trouxe um texto do autor e, em grupos de quatro alunos, escolheram o
melhor texto a ser apresentado à turma. Foi uma atividade estimulante e aqueles
que não conheciam o autor começaram a se interessar, visto que o mesmo usa o
humor, a ironia para refletir sobre diversos temas do cotidiano. Em seguida os
alunos leram o texto impresso do mesmo autor “O Lixo” e fizeram a análise do
texto respondendo algumas questões propostas.
16
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Neste momento foi apresentado aos alunos a biografia de Paulo Mendes
Campos e o seu texto impresso “O amor acaba”. Foi feito a leitura do texto em
estudo e em seguida a reflexão e o questionamento sobre como o amor acaba,
segundo o autor. Também foram identificados os efeitos da linguagem metafórica
e irônica presentes no texto. Depois os alunos fizeram uma produção “O amor
não acaba” e houve o compartilhamento dessas produções. Foi uma atividade
muito prazerosa, visto que os alunos soltaram a imaginação e produziram textos
muito significativos.
AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Neste último nível do Método Recepcional apresentou-se aos alunos os
autores Machado de Assis e Rubem Braga, bem como suas biografias.
Primeiramente os alunos leram o texto “Como comportar-se no bonde” de
Machado de Assis. Depois fizeram uma pesquisa do vocabulário para poderem
entendê-la melhor. Em seguida foi apresentado aos alunos fotos de bondes que
circulavam na época no Rio de Janeiro. No data show foi exibido cada artigo do
texto e explorado cada um deles e os alunos transpuseram para o nosso cotidiano
atual e elaboraram artigos como: “como comportar-se com o celular”, “como
comportar-se na escola”, sobre regras para fumantes, som de carro e outros. Foi
uma atividade muito significante, pois puderam refletir sobre várias regras e
aspectos que regem a sociedade como um todo. Ainda foi-lhes apresentado o
cronista Rubem Braga e a crônica “Mar”. Os alunos leram o texto, responderam
questões orais e escritas e como produto final da intervenção os mesmos
produziram uma crônica tendo como tema “A primeira vez”, no qual puderam falar
de um fato marcante de sua vida diária.
17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este estudo, pontua-se que se deve privilegiar os espaços de
leitura na escola, oportunizando os textos literários enquanto fruição, como um
meio de desenvolver o gosto e o hábito pela leitura, sem perder de vista a
dimensão historicista ou sociológica da obra, abordados pela Estética da
Recepção (JAUSS,1979).
Cabe ao professor o encargo de interceder no trabalho em sala de aula
com gêneros literários como a crônica, visto serem textos curtos possíveis de se
ler e pelo trabalho estético que realiza com a linguagem (traz o humor, a ironia, os
vazios, as negações, a transgressão), bem como aborda temas e dramas
humanos, possibilitando que haja uma interação entre autor/obra/leitor.
O trabalho com o Método Recepcional descrito pelas autoras Maria da
Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar em A Formação do Leitor (1993), propõe
a identificação, o atendimento, o rompimento, o questionamento e a ampliação
do horizonte de expectativas do leitor, por meio de leituras desafiadoras, do
tempo e da troca de experiências que passou da leitura ingênua (linear) para a
leitura crítica, sinalizando para a desenvolvimento do leitor maduro.
Por isso a Estética da Recepção e suas vertentes providenciaram um
espaço, não novo, mas mais amplo, para que se pense a literatura como
categoria histórica e social e, portanto, em contínua transformação.
Depois de ter trabalhado os cinco níveis propostos por Bordini e Aguiar
seguindo o Mátodo Recepcional por elas descrito, espera-se que o horizonte de
expectativas dos alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio José de Anchieta
tenha se ampliado e que os mesmos comecem a gostar de ler por prazer e se
aproximem com maior ênfase da leitura literária. Dos autores e textos estudados,
acredita-se que a maioria dos alunos identificaram-se mais com Fernando
Veríssimo e Paulo Mendes Campos, talvez por serem autores que retratam o
cotidiano com mais proximidade da realidade por eles vividas.
18
Enfim, este foi um trabalho que contribuiu para que a maioria dos alunos
buscasse novas fontes de leitura e assim ampliasse seu horizonte de expectativas
a respeito da leitura literária.
19
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor, alternativas metodológicas. 2. Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
FOUCAMBERT, J. A leitura em questão. Trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989
ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. V 2. 34 ed. São Paulo: Scipione, 1999.
JAUSS, H. R. A história da literatura como comprovação à teoria literária. Tradução de Sérgio Tellaroli,São Paulo: Ática, 1994.
KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes/Ed. Unicamp, 1993.
LAJOLO, Marisa. No mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo, SP: Ática, 2004.
LAZZARO Lívia. A estética da recepção: colocações gerais. Hans Robert Jauss com colocações feitas no debate entre os demais alunos e o professor. In: Recepção; PUC/RJ, prof. Luiz Antônio Coelho. Pesquisa Científica -1º Sem, Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/imago/site/recepcao/index.html
LIMOEIRO, Rosiney Fernandes. O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE. UNIOESTE, 2001. In http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2007_unioeste_port_artigo_rosiney_fernandes_limoeiro.pdf. Acesso em 18 de julho de 2012.
ROMAIS, Sandra Eleine . Uma leitura crítica dos conceitos da estética da recepção aplicada aos textos de Guimarães Rosa. UEPG/ UFPR, 2011. In: http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais16/sem11pdf/sm11ss12_08.pdf. Acesso em 18 de julho de 2012
SAGRILO, Simone Gonzales. Estética da recepção e sociologia da leitura – uma obra, vários olhares. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais. Maringá, 2009
SOLÉ. Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998
ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo: Ática, 1989.