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TÍTULO:
A GESTÃO ÉTICA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS,
ADMINISTRATIVAS E PEDAGÓGICAS NA ESCOLA
SUBTÍTULO:
A ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS RELAÇÕES COM O DESEMPENHO DE
ALUNOS DA 5ª SÉRIE NA REDE PÚBLICA DE ENSINO
Rita de Cássia Cartelli de Oliveira1
Leonor Dias Paini2
Resumo: Este artigo objetiva apresentar algumas reflexões sobre a Ética Profissional em relação ao desempenho escolar de alunos de 5ª Série na Rede Escolar Pública de Ensino, à luz teórica das obras de autores, tais como: Bachert e oliveira (2007); Vasquez (1995); Motta (1984) entre outros. Utilizamo-nos da metodologia de pesquisa de caráter qualitativo, com os seguintes procedimentos: encontros mensais com 50 professores e 3 encontros trimestrais com 80 alunos de 5ª série, do Colégio Estadual Marechal Rondon, Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante de Campo Mourão, Estado do Paraná. Foram discutidas, debatidas e questionadas as seguintes temáticas: a) a questão da ética nas relações interpessoais e o desenvolvimento do trabalho pedagógico; b) O papel dos conselhos de classe em relação a recuperação de alunos; c) os índices de repetência das 5ªs séries e o processo de culpabilização aluno/professor; d) compromisso do aluno frente as responsabilidades escolares; d) O professor e as dificuldades de recuperação de alunos no processo ensino e aprendizagem. Como resultado observou-se uma melhora sensível no desempenho dos alunos e dos professores que repensaram seu fazer pedagógico, diante dos índices de reprovação; Inclusive sofreu uma mudança importante no comportamento dos alunos diante do espaço físico escolar, uma vez que, houve mais cuidado para não sujar, rabiscar paredes e muros, sem danificar o prédio ou os móveis e eletrônicos. Para concluir constatou-se que a intervenção pedagógica contribuiu para que houvesse uma maior integração entre professores/alunos e a equipe escolar regada a ética escolar e profissional.
Palavras-chave: Ética, relações interpessoais, reprovação escolar
1 Aluna do Programa PDE do Estado do Paraná, Diretora de Escola, Colégio Estadual Marechal Rondon – Campo Mourão – PR, Graduada em Letras e Direito e Mestre em Direto e Educação pela CESUMAR. Professora do Curso de Direito na CIES em Campo Mourão – PR, <e-mail: [email protected]>.
2 Orientadora do PDE – pela Universidade Estadual de Maringá. Doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP/SP. Mestre em Educação pela PUC-SP. Docente do Departamento de Educação da UEM <e-mail: [email protected]>
1
Abstract: This article aims to present some thoughts on the Professional Ethics regarding the academic performance of students in 5th Series on the Network of Public School Education in the light of the theoretical works of authors such as: Bachert and olive (2007); Vasquez (1995 ), Motta (1984) among others. We make use of the methodology of qualitative research in nature, with the following: monthly meetings with 50 teachers and 3 quarterly meetings with 80 students in 5th grade, of State College Marechal Rondon, Elementary School, Middle and Professionalizing de Campo Mourão, state of Paraná. Were discussed, debated and questioned the following themes: a) the issue of ethics in interpersonal relations and the development of pedagogical work, b) the role of advice from class for the recovery of students c) the rates of repetition of the 5th and s series process of blaming student / teacher d) commitment to the responsibilities school student front d) The teacher and the difficulties of recovering students in teaching and learning process. As a result there was a significant improvement in the performance of students and teachers to rethink their teaching to do, given the rates of disapproval, even underwent a major change in the behavior of students before the school space, because there was more careful to not smudge, scratch walls and walls without damaging the building or the furniture and electronics. In conclusion it was found that the educational intervention had contributed to greater integration between teachers / students and school staff watered the ethics and professional school.
Key words: ethics, interpersonal relations, retention, school
APRESENTAÇÃO
Desde o início de minhas atividades pedagógicas, como
Professora de língua portuguesa e Diretora no Colégio Estadual
Marechal Rondon, minha preocupação esteve focada na questão da
qualidade do ensino que vem sendo oferecida ao aluno. Percebia a
necessidade de um ambiente agradável, com uma estrutura física
adequada, um bom relacionamento entre professores, funcionários e
2
alunos, onde pautasse o respeito, a verdade e a atenção de uns para
com os outros. Porém, não foi bem isso que encontrei. Era um
ambiente pesado. Os alunos não respeitavam o prédio público, nem
mesmo os professores e funcionários. Assistiam aulas com bonés e as
alunas com celulares e MPs atrapalhando as aulas. Os professores
sempre estressados, com vontade de largar tudo. E o mais grave, os
conteúdos eram repassados, na maioria dos casos, com muitas
deficiências e sem o devido interesse e entusiasmo pelos professores.
No final do ano uma grande quantidade de alunos era,
literalmente, empurrada para os conselhos de classe, sem oportunidade
de recuperar os estudos. Nesses conselhos analisava-se o
comportamento e as notas dos alunos "fracos" e os mesmos eram
retidos na mesma série ou direcionados para a série seguinte, sem a
devida aprendizagem mínima dos conteúdos e sem o domínio do
raciocínio e interpretação, necessários para a aquisição do saber. Não
havia ética nos procedimentos, tanto do corpo docente e
administrativo, quanto do corpo discente. Não havia cooperação e
poucos se ajudavam entre si. Não havia nenhum vínculo.
Foi necessária uma intervenção mais direta, com reuniões,
palestras, debates e muito diálogo, para que paulatinamente fosse
implantado um novo procedimento e comportamento à luz da ética e da
exigência da disciplina, sem desrespeitar o aluno.
Aos poucos, com muito sacrifício e dedicação iniciou-se um
trabalho de recuperação da escola como um todo. Com as atividades
iniciadas desde 2002 e prosseguindo o programa do PDE (Programa de
3
desenvolvimento Escolar), foram desenvolvidas diversas atividades,
entre elas o plano de estatísticas, reuniões e diálogos sobre a
importância da ética profissional para o resultado no desempenho dos
alunos de 5ª série na rede escolar pública de ensino, levando em
consideração principalmente a questão do acompanhamento mais
direto ao aluno e pai para evitar que fossem direcionados aos conselhos
de classe sem esgotarem-se todas as possibilidades de recuperação.
Percebeu-se a acentuada mudança. Isso proporcionou uma nova vida
ao colégio e o início de melhores resultados, formando um clima de
satisfação entre alunos e professores, o que atraiu a atenção de toda a
comunidade mourãoense sobre a escola, triplicando a procura por
vagas, existindo inclusive lista de espera.
Os pais que procuram o colégio afirmam que o fazem por ser o
melhor da cidade. Sinto que a partir dessa intervenção todos
trabalham mais satisfeitos. Agora a cultura escolar está bem diferente
até os alunos cuidam e defendem categoricamente a escola. Sabemos
que ainda há muito para avançar na qualidade de ensino, mas grande
parte das dificuldades foi sanada e agora vivemos outra cultura
escolar.
INTRODUÇÃO
O trabalho efetivamente realizado no Colégio Estadual Marechal
Rondon do Núcleo Regional de Ensino de Campo Mourão, teve como
objetivo conhecer e levantar a real situação dos procedimentos
docentes quanto ao relacionamento interpessoal de alunos e
4
professores na cultura escolar. Nossa questão enfatizava os problemas
advindos da convivência diária entre alunos e professores. E isto
implicava vários fatores, tais como: conhecimento epistemológico,
aprendizado, desenvoltura sociológica, cidadania à luz da ética, da
disciplina e da coerência quanto ao Regimento Interno da Escola e o
envolvimento com Projeto Político Pedagógico da escola.
Como vimos anteriormente, a proposta de desenvolvimento
destas atividades neste colégio deveu-se a constatação de que havia
problemas no relacionamento interno nas diferentes instâncias tanto
administrativas, quanto pedagógicas e pela necessidade de sanar tais
falhas e obstáculos. Essas falhas acarretavam conseqüências diretas e
indiretas no resultado final da aprendizagem e do comportamento dos
alunos, portanto tornando deficitária sua formação, provocando
inúmeras conseqüências, desde a repetência até a evasão escolar.
Neste momento, percebeu-se a necessidade de trabalhar com alunos e
professores das séries iniciais do curso fundamental existentes na
escola, priorizando as quintas séries, em função do alto índice de
reprovação escolar.
A relação fundamental da ética no desenvolvimento educacional
na referida faixa educacional está diretamente relacionada ao fim
básico do serviço da escola que deve ser a formação integral do aluno,
já que a escola muitas vezes, assume a responsabilidade dos pais e,
portanto tem como dever, continuar a educação iniciada nos primeiros
momentos de vida do educando pela família. Tal conjuntura pode ter
dois focos: o aluno poderá ser promovido, sem a devida competência ou
retido, sem uma acurada e mais profunda análise ou reprovado, sem
que lhe seja concedida outras oportunidades.
Como sabemos a ética é indispensável em todos os aspectos da
vida profissional do aluno e, no tempo presente e no futuro, visando
tanto a realização pessoal nos estudos, quanto nas convivências
escolares, familiares e sociais como estudante. Nesse sentido, a ética,
quando compreendida, vivenciada e exercida na prática pelo corpo
docente, pedagógico, orientador, administrativo, funcional e pelo corpo
5
discente, tem uma grande e determinante influência na vida pessoal
dos alunos, refletindo em sua desenvoltura e responsabilidade no
contexto cultural onde convivem.
O próprio sistema afirma a necessidade de adequação dos
ambientes para que o ser humano na faixa etária que compreende o
período em que se encontra na efetiva realização dessa fase do ensino
básico fundamental.
O sistema educacional brasileiro enfrenta, atualmente, o desafio de ampliar sua estrutura física para conseguir oferecer a educação básica a todos os brasileiros, principalmente aqueles que se encontram na faixa etária correspondente ao Ensino Fundamental, entre 6 e 14 anos. Esta reestruturação ocorre para atender às necessidades básicas definidas, de forma global, pela nova estrutura da sociedade neste início de século. Também conhecida como Era do Conhecimento, este novo modelo social tem como uma de suas características marcantes a velocidade cada vez maior com que ocorrem os processos de geração e transmissão de dados que, para serem transformados em informação, exige das pessoas um nível cada vez mais alto de conhecimento técnico aliado à capacidade de raciocínio sistêmico. Na complexidade dessa nova estrutura, para compor e avaliar o desempenho de cada um, é considerada uma resposta correta aquela que vai além do domínio conceitual, abrangendo também as habilidades pessoais de relacionamento e adaptação às situações e ambientes diversificados que integram a situação problema (Bachert e Oliveira, 2007, p. 01).
Permeia uma imagem negativa do ensino público no Brasil e essa
questão começa tomar vulto quando estatísticas reais são divulgadas e
a situação concreta é evidenciada, principalmente em relação à
qualidade do ensino comprovada nos resultados oficiais com números
elevados de repetência e evasões, então se pergunta: em que situação e
condições os alunos são retidos por não apresentarem resultados
físicos numéricos suficientes, conforme a média mínima exigida ou são
aprovados por conselho de classe sem terem sido esgotadas todas as
possibilidades de recuperação do conteúdo não aprendido e da
capacidade de raciocínio e análise crítica não dominada? Por que
ocorre índice alto de reprovação escolar? Os alunos que são aprovados
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por conselho apresentam o resultado dos requisitos básicos da
aprendizagem? O Sistema tem oferecido condições, estrutura,
subsídios e recursos para que se aplique adequadamente a
recuperação paralela?
Pensamos que ainda é possível a implementação de uma nova
postura por parte dos gestores, professores e equipes administrativa,
postura essa que leve em conta a moral e ética que muito corrobora
para a mudança nos resultados educacionais dos pais. E poderá
possibilitar índices de aprovação e de desenvoltura da escola pública
brasileira, gerando como conseqüência natural maior autoridade, mais
confiabilidade e credibilidade.
2. UMA QUESTÃO DE ÉTICA
2.1.DA NECESSIDADE DA ÉTICA
Todo o trabalho humano visa à transformação da natureza em
benefício da humanidade ou trata-se da atividade de uns a serviço dos
outros, sendo que para isso é necessária a utilização da matéria prima
extraída e produzida na natureza. A atuação do homem pode ser
apenas uma ação mecânica, automática movida pelo instinto, com
finalidades exclusivamente materiais e imediatas ou uma ação
humanitária, planejada, movida pela vontade, pelo coração e pela
consciência. É necessário que o homem seja educado e receba uma
iniciação, uma formação e um aperfeiçoamento profissional para ter
condições de trabalho e poder utilizar-se dos recursos necessários
dentro de uma técnica segura e que possa agir segundo a orientação da
ética para ter respeito e consideração tanto para com a natureza que
vai transformar quanto para o homem a quem vai beneficiar.
O homem chega a um nível aceitável depois de passar pelo
processo educativo de formação intelectual e profissionalizante. Esses
dois aspectos do desenvolvimento humano são de responsabilidade da
família e da escola. Sabe-se que a família delega, salvo raríssimas
7
exceções, toda a responsabilidade para a escola. Disso decorre o
questionamento que se propõe nesta pesquisa: O sistema educacional,
tanto público como privado, está desempenhando com qualidade e com
ética sua missão de formar integralmente o homem ou está somente
executando o mínimo necessário para cumprir a obrigação?
2.2. SIGNIFICANDO A ÉTICA
Na apresentação teórica das atividades realizadas na Unidade
Escolar do Colégio Estadual Marechal Rondon, como exigência do PDE,
abrangendo a ética, como principal elemento motivador do trabalho
fazem-se necessárias algumas considerações a respeito de princípios
éticos na educação.
É de extrema importância que se oportunize um
conhecimento epistemológico, filosófico e científico sobre ética, e que
seja viabilizada a eleição dos seus princípios já no início do uso da
razão para que toda pessoa tenha dentro de si a garantia de encontrar
a verdade e dela se beneficiar. É necessário que a ética seja uma
prioridade na vida pessoal do indivíduo para que suas escolhas sejam
corretas em todos os aspectos de sua trajetória e no processo de seus
relacionamentos, transformando-o num cidadão.
A ética é classificada como um atributo intrínseco e essencial
a qualquer atividade ou ação empreendida pela pessoa humana em
relação a si mesma, aos outros, à natureza, aos animais e ao universo
inteiro. Ela se apresenta, especificamente, como um artifício
constitucional nas diversificadas formas de relacionamento
interpessoal, promovendo uma arbitragem, geralmente saudável, nas
convivências, no desdobramento das vivências sócio interativas e na
construção da sociedade. A salutar convivência entre os indivíduos é
decorrência de sua consciência regulada pelo senso ético que lhe é
peculiar.
Como ciência do dever e reguladora da conduta humana atua
como delineadora de caminhos que poderão conduzir a pessoa tanto
8
para um fim promissor honroso, como para um fracasso desabonado.
Ela está presente na vida de todo o ser humano. Não há existência sem
ética. Os princípios éticos estão latentes na realidade pessoal e social
do homem. Cada um direciona seu estado de conduta ou suas
atividades conforme o discernimento ético bom ou mau que possua
enraizado em seu temperamento, seu caráter ou sua personalidade. O
comportamento humano é classificado e rotulado, como certo ou
errado, sob a visão ética.
Desde o relacionamento com a mãe, no útero, depois com o
pai, com os irmãos, com a família, no trabalho e com a sociedade, a
pessoa está condicionada aos ditames da ética, que influencia, também,
outros aspectos de sua vida pessoal e dos relacionamentos extra
pessoal que mantenha, com a natureza, os animais e outras realidades
do espaço. Dessa forma o estado de ânimo, o comportamento e as
ações humanas dependem do direcionamento ético.
O homem possui dentro de si um juízo de tino ético, que lhe
habilita a capacidade da consciência para auto avaliar-se. Sob os
auspícios dessa consciência ele poderá classificar suas atitudes e
ações, distinguindo-as em certas ou erradas, boas ou más, justas ou
injustas, verdadeiras ou falsas, tendo a possibilidade de escolha em que
pode decidir pelo certo ou pelo errado. Nesse sentido não existe um ato
ético ou não ético, todo ato humano pode ser eticamente certo ou
eticamente errado. Assim como não existe um uma ação não moral, ela
é moral ou imoral. Para aplicar os princípios éticos em qualquer
empreendimento de ordem pessoal ou profissional é imprescindível que
se tenha um entendimento claro e definido sobre essa ciência ou
disciplina, que tanta diferença faz na história e nos relacionamentos
sociais do homem.
Conceituar a ética é importante para estabelecer seu campo de
ação e sua aplicabilidade. Para isso é necessário dar um salto histórico
e retroceder ao tempo dos grandes filósofos para fundamentar uma
abordagem mínima à luz das diferentes doutrinas que, a partir deles
foram construídas e implantadas.
9
A palavra ética se origina diretamente do latim ethica, e,
indiretamente, do grego , (ηθική ethiké), que apresentam vários
significados como: costume ou hábito; morada, estância, residência, o
abrigo permanente, casa; caráter, índole natural, temperamento,
conjunto de disposições físicas e psíquicas de uma pessoa. Numa
adaptação de seu conceito para a língua portuguesa, (Aurélio – Séc.
XXI), tem o sentido estudo dos juízos de apreciação referentes à
conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e
do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo
absoluto.
Como um ramo da Filosofia, a Ética faz parte de um sub-ramo
da Axiologia e tem por fim o estudo da índole daquilo que é avaliado
benefício, apropriado, certo, válido e verdadeiro. É uma Doutrina
Filosófica cujo objeto é a moralidade no tempo e no espaço.
Diferenciada da Moral que é a conduta, o procedimento, a Ética trata
dos conceitos de exame e análise alusivos à conduta e procedimento
humano.
No decorrer da História surgiu uma grande quantidade de
doutrinas sobre o comportamento humano, que são consideradas como
teorias da moral ou princípios éticos. Esse estudo pode ser dividido em
momentos históricos relacionados entre si, conforme foram sendo
construídos, a saber, os períodos da ética grega, cristã, medieval,
moderna e contemporânea.
Uma reflexão ética mais consistente no mundo ocidental teve
início no século 5 a.C. na Grécia antiga, momento em que se
estabeleceu nova forma de interpretar as questões da mitologia, que
explicavam de forma misteriosa e fenomênica a origem do mundo, da
vida e os fatores climáticos da natureza, bem como a própria natureza,
atribuindo aos deuses mitológicos ás forças e os movimentos naturais.
Essa nova forma utilizou-se da razão, do raciocínio, da lógica e da
dialética. Assim nasce a ética, para regular os relacionamentos.
Em Aristóteles, no Livro II da Ética a Nicômacos, há uma
importante explicação do que era pensado sobre ética naquela época:
10
“Estou falando da excelência moral, pois é esta que se relaciona com as emoções e ações, e nestas há excesso, falta e meio termo. Por exemplo, pode-se sentir medo, confiança, desejos, cólera, piedade, e, de um modo geral, prazer e sofrimento, demais ou muito pouco, e, em ambos os casos, isto não é bom: mas experimentar estes sentimentos no momento certo, em relação aos objetos certos e às pessoas certas, e de maneira certa, é o meio termo e o melhor, e isto é característico da excelência. Há também, da mesma forma, excesso, falta e meio termo em relação às ações. Ora, a excelência moral se relaciona com as emoções e as ações, nas quais o excesso é uma forma de erro, tanto quanto a falta, enquanto o meio termo é louvado como um acerto; ser louvado e estar certo são características da excelência moral. A excelência moral, portanto, é algo como eqüidistância, pois, como já vimos, seu alvo é o meio termo. Ademais é possível errar de várias maneiras, ao passo que só é possível acertar de uma maneira (também por esta razão é fácil errar e difícil acertar – fácil errar o alvo, e difícil acertar nele); também é por isto que o excesso e a falta são características da deficiência moral, e o meio termo é uma característica da excelência moral, pois a bondade é uma só, mas a maldade é múltipla” (Aristóteles, 2001 p.42).
Desde tempos aristotélicos, a Ética refere-se ao ser humano
como protagonista de relacionamentos efetivos, seja com a natureza,
com os animais ou com os próprios semelhantes. Nesse relacionamento
os ditames éticos determinam que a prudência, de não exagerar para
nenhum lado, é o que garante o resultado positivo da satisfação
pessoal. Talvez esse seja o sentido de se conquistar a felicidade na
vivência ética, como preconizam os filósofos antigos.
Com essa introdução sobre o significado da ética, poder-se-á
aplicá-la à educação, especificamente nas relações interpessoais na
escola, como é nosso objetivo neste texto.
Ética nos âmbitos educacionais, tem como escopo a
prerrogativa de definir a formação dos alunos como pessoas cientes
dos compromissos, deveres e direitos ao estarem inseridos na
sociedade. Esta, por sua vez, padroniza o comportamento de seus
componentes, através de costumes e leis, que foram implantados ao
11
longo do tempo histórico, a partir da polis grega até a
contemporaneidade.
As exigências da sociedade, quanto à conduta de seus
cidadãos, são, em geral, repassadas à escola, que, concomitantemente
ao ensinamento do conteúdo, deverá cuidar para que seus alunos sejam
educados a uma conduta ética irrepreensível.
Na mesma dimensionalidade, os profissionais gestores,
deverão estar atentos para que a estratégia de ação, administrativa ou
pedagógica, seja norteada dentro dos princípios éticos, em todos os
grupos humanos que compõem o universo da instituição escolar.
Com o emprego da ética como parâmetro de consciência de
atitudes e comportamento da comunidade escolar, em todos os níveis, o
resultado será imediatamente percebido nas relações interpessoais e
trarão como conseqüências a segurança, o bem estar, a boa qualidade
do trabalho e de vida de seus componentes. Isso provocará a
transformação do ambiente em um local agradável, alegre, onde as
pessoas, tendo mais confiança uma nas outras, passam a respeitarem-
se e a ajudarem-se mutuamente.
O posicionamento ético de um grupo de trabalho faz a
diferença quanto ao renome da escola, dando-lhe credibilidade e
respeito, aumentando o circulo de amigos que a ajudarão a desenvolver
suas atividades. A consciência de procedimentos éticos, começando
pela equipe de gestores, impregnará todos os, que direta ou
indiretamente, passam a se envolver com a escola no presente e no
futuro. Mais que isso, as ações éticas afetarão positivamente a todos.
A prática da ética evitará que atitudes e ações
individualizadas e individualistas possam derrubar por terra o sonho de
uma educação total, comprometida com a pessoa e as garantias de sua
personalidade, quanto ao desenvolvimento de sua personalidade,
inteligência, cidadania e realização pessoal. O aluno, além de sábio e
cidadão precisa ser feliz. A garantia dessa felicidade está na forma
equilibra de seu comportamento. A isso é que se presta a ética, como
apregoa, Vasquez (1995, p. 12): “a ética é a teoria ou ciência do
12
comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência
de uma forma específica de comportamento humano”.
Pode-se assegurar que o ambiente escolar onde a ética esteja
presente naturalmente, não por imposição disciplinar, mas por
conscientização e capacitação, o processo de crescimento será
vertiginoso. Alunos, professores e administração descobrirão valores,
até então não conhecidos e saberão distinguir o que seja mais
importante na vida e na sociedade, elegendo prioridades e adquirindo
reconhecimento pelo resultado positivo conquistado. O convívio dos
indivíduos, num relacionamento cooperativo, possibilitará que saiba
distinguir e reconhecer a pessoa humana como a essencialidade de
todo o processo, passando a cumprir todos os compromissos para não
prejudicar a si mesmo nem a outrem.
A ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a natureza e o fim de todo ser humano, por isso, “o agir” da pessoa humana está condicionado a duas premissas consideradas básicas pela Ética: “o que é” o homem e “para que vive”, logo toda capacitação científica ou técnica precisa estar em conexão com os princípios essenciais da Ética. (Mota, 1984, p. 69)
Por fim, ao perceber a ligação que, efetivamente, deverá
existir entre a Ética e a Educação, concebe-se como extremamente
importante e necessária a reflexão e uma proposta de reformulação dos
procedimentos e vivências na organização institucional, nas estratégias
de ação, na qualificação, aperfeiçoamento e motivação do capital
humano. Para uma gestão profícua fundamental que as escolas adotem
métodos dialéticos de aplicação, desenvolvimento e vivência ética. A
escola precisa se abrir para uma florescente cultura organizacional e
esteja apta, em todos os aspectos, para a uma nova forma de gerenciar
processo de desenvolvimento e valorização da vida, sabendo conquistar
novos valores e transcender os propósitos de uma educação que seja
avaliada em níveis mínimos.
A ética escolar deverá caracterizar o ambiente da escola como
de excelente qualidade, reconhecido respeito, solidariedade,
13
acolhimento e companheirismo da clientela entre si e dela com os
agentes e gestores.
2.2. A FUNCAO DA ÉTICA ESCOLAR
Para entender o processo do ensino brasileiro e compreender sua
situação atual é preciso rever sua história, sua estruturação
organizacional e filosófica. A escola não nasceu pronta, nem surgiu do
nada, como um grande milagre. Ela foi sendo erigida ao longo dos
séculos. Em cada período cronológico, uma nova corrente se formara e
se sustentara, dando-lhe uma conotação diferenciada e definindo seu
matiz ideológico. Isso ocorria conforme os agentes criadores e
mantenedores da escola pensavam ou conforme a política sistemática
que mais lhes parecia conveniente e adequada para a época.
A estruturação da escola como tal se confunde com a criação e
implantação dos métodos pedagógicos, os quais se traduziram em
procedimentos em salas de aula ou em correntes de orientação no
correr do tempo, desde a Escola Tradicional, passando pela Escola
Nova, Construtivista até encontrar a Pedagogia Histórico-Crítica, cujo
maior expoente é o professor Dermeval Savianni. A educação tem a
função de, à luz da dialética, discernir a realidade social e promover
sua transformação. Sem esconder a verdade, nem se eximir da
realidade em seus diferentes níveis de abrangências, seja
socioeconômico, histórico, político e cultural, seja ideológico, deve
inserir o indivíduo, de forma definitivamente ativa, em seu meio.
Dizer, pois, que a educação é um fenômeno próprio dos seres humanos significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de trabalho, bem como é, ela própria, um processo de trabalho [...] Aquilo que não é proporcionado pela natureza deve ser produzido historicamente pelos homens [...] o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente em cada indivíduo a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. (Saviani, 1991, p. 19 e 21)
14
Cabe à escola reintegrar o aluno ao grupo, transformá-lo em foco
do processo de ensino-aprendizagem, propondo e executando uma
metodologia que contemple atividades de cunho vital e psicológico, que
exerça motivação e estimulo para sua participação, num ambiente
saudável, alegre, criativo e responsável. Nesse sentido, pode-se
afirmar, também, que existe uma ética educacional, que envolve toda a
atividade da escola, desde as ações da equipe gestora até a
comunidade que, em suas abrangências, direta ou indiretamente, faz
parte do processo. A Ética faz parte, necessariamente, do projeto
político pedagógico e da função administrativa das escolas brasileiras.
A aplicação da ética na gestão escolar implica mudança do
comportamento relacional dos diferentes grupos e aprimoramento do
processo de comunicação humana entre as partes envolvidas. O
elemento mais importante nessa realidade será o diálogo. As
conversações exigirão maturidade, respeito mútuo e deverão ocorrer
em clima de construção das relações humanas.
As atitudes e ações relacionais desencadeadas pela dialética na
gestão, na vivência e convivência do dia a dia da escola, provocam a
transformação, não somente do desempenho intelectivo dos envolvidos,
mas também dos comportamentos social, político, cultural e
profissional. Em sua obra Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras
Aproximações, Dermeval Saviani afirma que a tarefa dessa pedagogia
em relação à educação escolar implica:
a) Identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências atuais de transformação; b) Conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares; c) Provimento dos meios necessários para
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que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção bem como as tendências de sua transformação. 3
A prática da dialética provoca mudança de pensamento. A
transformação ocorre como conseqüência direta da relação ética
interpessoal, num ambiente de reconhecimento mútuo e de respeito a
valores pessoais, culturais, crenças e concepção ideológica, os quais,
em razão da origem, habitat e convívio do ser humano com seus
semelhantes, lhes são inerentes. Além disso, a relação poderá ser
aperfeiçoada com elementos específicos do convívio solidificado no
compromisso afetuoso, porém determinado e estável. A partir do
momento em que o processo de oferta e realimentação das
informações, dos saberes, dos conhecimentos e das atitudes
comportamentais, sócio/interativas e de gerenciamento é estabelecido,
o administrador sente-se responsável pelos agentes e pelos alunos.
Para alcançar um resultado de qualidade, é imprescindível que o
processo de gestão escolar não apenas se utilize da ética, mas,
extrapolando sua normalidade legal, atue numa dimensão dialógica de
caráter solidário e altruísta.
Esse enfoque de relacionamento ético e dialético no processo
educacional escolar será evidente e significativo, implicando uma
forma inovadora de gerenciamento, no qual a equipe gestora, liderada
por uma direção geral bem preparada e imbuída de vontade política,
competência administrativa, idônea e autônoma, deverá ter um caráter
maduro, dinâmico, forte e humanitário. Assim, para compreender
melhor o processo da gestão ética e aplicá-la, é imprescindível
entender bem sua dinâmica operacional, a dialética de sua
funcionalidade e sua práxis.
A responsabilidade da gestão é movimentar o sistema do ensino
de ponta e, portanto, sua atuação deverá ser revestida de
3 SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações. 2ª ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
16
características peculiares. É um serviço que, por ser meticuloso e
especial, não pode mais ser comparado a qualquer atividade comum. O
gestor ético tem sempre em mente a vontade de orientar todos os
segmentos para uma trajetória segura, estratégica e que conduza a
resultados de excelência, conforme os objetivos previamente traçados
no plano de ação da unidade escolar de sua gestão. Nesse sentido, a
maior parte do tempo ativo será dedicada a garantir que todos atinjam
o sucesso almejado. Há uma espécie de vínculo essencial do gestor com
as pessoas que integram, interna e externamente, sua abrangência
gerencial.
Esse vínculo de gestão, somado à predisposição de gerir tanto a
organização administrativa quanto a pedagógica e de utilizar
estratégias metodológicas, estabelecerá atitudes de intercessão,
interação, edificando um relacionamento interdependente, seguro e
produtivo. Disso decorre outra característica do gestor ético, cuja
atuação terá como base a estratégia dialética da direção democrática e
participativa. Isto é, ele deverá liderar o gerenciamento altruísta e
solidário, transformando positivamente o ambiente escolar.
Essa característica, por sua vez, encontra algumas barreiras na
truncada relação entre a direção e os outros participantes. A missão do
gestor ético é solucioná-las com base em um relacionamento profícuo,
em uma autêntica comunicação, em um necessário tratamento
amistoso, fraternal e solidário, reservando-se o cuidado de não cair na
familiaridade ou desregrada amizade entre as partes. É necessário um
bom relacionamento humano, resguardando sempre um prudente
distanciamento estabelecido pela ética profissional e por outros
instrumentos de regulamentação, como o regimento interno.
Todavia, a característica marcante da equipe de gestão é a de ser
construtora da personalidade jurídica da escola que lhe é confiada. É
da essência da gestão a prerrogativa de administrar. Todavia, o
gerenciamento educacional vai além de uma administração comum,
uma vez que seu escopo é dirigir o ensino pedagógico, atuar com
pessoas que deverão ser direcionadas ao processo de aquisição do
17
conhecimento, de formação da própria personalidade, de construção do
caráter e, ao mesmo tempo, ser orientadas ao seu fim último, ou seja, à
plena realização pessoal, profissional e social.
A educação em um país, para ser considerada como plenamente
eficiente, deve instaurar o processo educacional em toda sua
abrangência, desde o subsídio para sua instalação física, mobiliária,
materiais de consumo, equipamento de apoio didático, recursos
humanos em todos os quadros de atuação, financiamento de projetos,
capacitação do magistério, planos políticos pedagógicos, planejamento
de ações, projetos de manutenção preventiva, entre outros. Além de
tudo isso, deve primar pela oferta da educação intelectual, centrada na
educação formal, sistemática e normativa, respeitando os aspectos
culturais do individuo para a sustentabilidade de sua formação integral
e desenvolvimento da cidadania. Todo homem e mulher, enquanto
objetos do sistema educacional deverão ser tratados como principais
protagonistas de sua própria educação tanto para a cultura como para
a cidadania, tanto para a pesquisa quanto para a ética. Todos os outros
elementos externos, como o Estado, a família e a sociedade organizada,
são responsáveis apenas pela sustentação do processo educativo. No
desenvolvimento da educação é o próprio educando que se
autodesperta para a curiosidade ou necessidade de obter o
conhecimento e aprendizado. Isso, porém somente acontece, de fato, se
o Estado estiver bem aparelhado e sistematizar o processo.
Os serviços públicos, por serem a expressão do atendimento das
necessidades básicas e essências do ser humano e, pelo fato de serem
exercidos por servidores, a princípios especializados para tal, devem
ser realizados em conformidade com os anseios da sociedade, pois ela
paga antecipadamente por isso, por meio de impostos.
A qualidade dos e serviços executados pelo poder público, não é
considerada das melhores. E isso tem atingido os serviços básicos
como saúde educação e transporte. A bem da verdade, o que, de fato
está faltando é a eficiência no serviço público. Quando o serviço é bem
feito, são inúmeros os resultados positivos, que vão desde a economia,
18
até a elevação da auto-estima das pessoas. A melhoria da saúde resulta
em menos gastos e na sobra de dinheiro para investir em outras coisas
necessárias, como por exemplo, na melhoria da qualidade de ensino e,
assim por diante. Todo administrador tem por obrigação buscar as
melhores soluções para responder satisfatoriamente ao público do qual
do qual é servidor.
Quando a educação pública é relegada pela sociedade e cai no
descrédito, somente se pode atribuir isso à falta de eficiência do
serviço publico ofertado em todas as estâncias. É uma conseqüência da
falta de qualidade provocada por diversos fatores e, como
conseqüência, a escola perde sua função essencial de socializar o saber
e promover a educação integral dos alunos. Uma educação eficiente
insere o homem ao seu meio possibilitando-lhe que usufrua e se
beneficie de todas as suas riquezas em seu tempo. Miguel Reale
leciona:
O homem jamais se desprende do meio social e histórico, das circunstâncias que o envolvem no momento de agir. Delas participa e sobre elas reage: são forças do passado que atuam como processos e hábitos lentamente constituídos, como laços tradicionais e lingüísticos, que a educação preserva e transmite: são forças do presente com seu peso histórico imediato; são forças do futuro que se projetam como idéias-força, antecipações e 'programas de existência' envolvendo dominadoramente a psique individual e coletiva (Reale, 1980, p. 42).
O que garante ao Estado executor a eficiência do serviço
educacional é a sua sintonia com a Constituição Federal, Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o Código Civil Brasileiro,
dessa forma poderá responder objetivamente pelas necessidades,
carências e exigências da pessoa humana com relação ao seu direito
social de ser educado e instruído. O não cumprimento das leis referidas
e de outras regulamentações causará danos irreparáveis tanto aos
agentes quanto aos usuários, que sofrerão as conseqüências,
decorrentes da não sistematização completa da educação, causando,
também, enormes prejuízos à sociedade brasileira como um todo.
19
Ao tomar consciência da necessidade de sistematizar o processo
educacional, entendendo que um sistema deve funcionar
perfeitamente, para produzir resultados, então o Estado brasileiro
estará assumindo a responsabilidade que tem sobre a educação e,
consequentemente promovendo sua eficácia em todas as dimensões da
formação e educação humana.
É preciso perguntar, juntamente com Demerval Saviani, em sua
obra Educação Brasileira: Estrutura e Sistema, em que observa como
ponto de partida, o pressuposto: a inexistência de sistema educacional
no Brasil e mais adiante questiona: ora, se a educação brasileira se
baseia em “teorias”, métodos e técnicas importados ou improvisados,
isto significa que o Brasil não tem sistema educacional, para então
afirmar em seguida:
[...] Além disso, a questão da existência ou não de um sistema educacional no Brasil não só ainda não está resolvida como também existem bastantes controvérsias entre os educadores brasileiros de hoje a esse respeito. Não se poderia, pois, aceitar a inexistência de um sistema brasileiro de educação como algo inconteste e unânime. Era preciso examinar esse problema. (Saviani, 2005, p. 2-3).
Considerando que uma das características de um sistema é a sua
dinâmica na metodologia, tecnologia e procedimentos ao longo da
caminhada, é preciso preestabelecer propostas e metas, visando
sempre um progresso de desenvolvimento seguro, razoável e
determinante. Na concepção de Saviani, (2005, p. 6), é necessário
construir o sistema, tendo isso como tarefa urgente e de
responsabilidade dos educadores. Entende que um sistema organizado
somente pode ser decorrência de algumas ações sistematizadas. A
educação pode existir sem que, necessariamente exista um sistema,
mas um sistema inexiste sem a prática da educação. Deve haver,
concomitantemente a intenção na pratica, o que implicará no resultado
20
com um produto intencional pelos agentes. Esse resultado é a
concretização do sistema educacional.
Assim como o sistema é um produto da atividade sistematizadora, o sistema educacional é resultado da educação sistematizada. Isso implica, então, que não pode haver sistema educacional sem educação sistematizada, embora seja possível esta sem aquele. [...] Ora, o sistema – já que implica em intencionalidade – deverá ser um resultado intencional de uma práxis intencional. E como as práxis intencionais individuais conduzem a um produto comum intencional, o sistema educacional deverá ser resultado de uma atividade intencional comum. [...] Assim, para se ter um sistema educacional – que evidentemente deverá preencher os três requisitos apontados, a saber: intencionalidade (sujeito-objeto), conjunto (unidade-variedade), coerência (interna – externa) – é preciso acrescentar às condições impostas à atividade sistematizadora (educação sistematizada), esta outra: a formulação de uma teoria educacional. Reduzindo-se os requisitos da educação sistematizada a dois pontos fundamentais, pode-se, enfim, determinar as condições básicas para a construção de um sistema educacional numa situação histórico-geográfica determinada; são elas a) consciência dos problemas da situação; b) conhecimento da realidade (as estruturas); c) formulação de uma pedagogia (Saviani, 2005, p.84-87).
Além da concepção supra em relação à formação de um sistema
educacional, que contemple a essência da sustentabilidade intrínseca
do próprio sistema, também se deve refletir sobre a construção e
influência externa em sua elaboração, como as correntes filosófico
ideológicas, as organizações políticas e as leis que regulamentam o
relacionamento sócio interativo da população.
Partindo-se desse princípio, pode-se afirmar que é real a
existência do sistema educacional brasileiro, estruturado enquanto
questão legal, determinado e amparado pela legislação em vigor. Em
cada uma das leis promulgadas no Brasil houve sempre uma
referência, em alguns casos, mais significativas, em outros menos,
porém nunca faltou o devido posicionamento da autoridade
competente. Nesse sentido, a sistematização do processo educacional
fundamenta-se nas leis maiores do País, portanto, é de fácil
21
compreensão e de positivo efeito o enunciado do artigo 227 da
Constituição Federal de 1988, considerando que deva ser a base dos
princípios iniciais para qualquer ação pública ou privada servindo de
porta para a saída e luz para outras leis, como se vê especificamente na
questão da educação, como direito social, conforme se enuncia o
artigo:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (Constituição Federal de 1988).
Esse artigo se desdobra em sete parágrafos e nove itens, com a
finalidade de ampliar e aperfeiçoar o enunciado da lei referente à
educação, tal foi a importância do assunto pelos legisladores. Além
disso, o último parágrafo reponta ao Artigo 204, da mesma
Constituição, indicando que deverá ser assegurada a garantia da
ampliação do direito e cobertura ao programa de inserção, estendido a
todas as pessoas sem nenhuma discriminação. Para a questão da
aplicabilidade da Lei aqui referida, deverão ser consideradas as
emendas constitucionais levadas a efeito posteriormente, para
regulamentar e facilitar a sua prática.
Na mesma linha e sob forte inspiração da Carta Magna, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional traduziu-se em eficiente
ferramenta para estruturar e funcionar a educação no Brasil,
principalmente na questão de sua sistematização e funcionalidade,
quando apresenta claramente seu artigo 8º, parágrafos 1º e 2º a sua
forma de organização:
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas
22
e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais.§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei (LDB 9.394/96).
Todavia, como ferramenta, se a LDBEN não fosse regulamentada,
utilizada e aplicada, não teria utilidade alguma e, também, não
causaria os efeitos que até agora vem promovendo. Houve sensíveis e
significativas mudanças nos procedimentos depois da promulgação da
referida Lei. Estabeleceram-se novas dinâmicas no processo e surgiram
outras reflexões, todavia, é mister considerar que, também se
encontrou algumas deficiências, ou lacunas, que necessitam ser
sanadas com maior brevidade possível, considerando que se trata de
uma lei a definir procedimentos relacionados com a questão humana e
o ser humano, na condição de aluno, não pode ser lesado em sua
dignidade.
Por outro lado deve ser considerado que a história da LDBEN é
longa, repleta de percalços, até chegar ao que se tem hoje. Foram mais
de meio século de estudos, acertos conchavos, adaptações e
acomodações. Precederam-lhe, imediatamente, as leis orgânicas do
ensino preparadas pelo então Ministro da Educação, chegando-se mais
tarde à elaboração do primeiro texto da LDB, esquadrinhada a partir
da Constituição de 1946, onde se encontram as expressões diretrizes e
bases, sendo associadas à educação, como afirma Irineu Colombo,
apud, Demerval Saviani:
O ministro da Educação Gustavo Capanema, em 1942, elaborou as Leis Orgânicas do Ensino, a primeira lei a sistematizar o ensino nacional e imposta a todo território nacional pelo governo do Estado Novo com poderes excepcionais. Na nova Constituição de 1946, encontraremos a expressão diretrizes e bases associada à questão da educação nacional, referente ao ensino primário, que deu origem mais tarde a nossa primeira LDB (Lei 4.024 de 1961). Essa Lei fora encaminhada à Câmara Federal em 1948 e foi conciliatória entre Anísio Teixeira, defensor da escola pública – "Meia vitória, mas
23
vitória" - e Carlos Lacerda - "Foi a lei a que pudemos chegar" – (Saviani, 1997, p. 20). 4
A história da trajetória do ensino brasileiro apresenta sempre, no
decorrer do tempo, alguns significativos avanços a tentativa de efetivar
a sistemática educacional da melhor forma possível e, nessa
caminhada, chegou-se, enfim, ao Estatuto da Criança e do Adolescente,
que se traduz em mais uma eficiente ferramenta de implantação da
educação visando o resgate dos direitos inalienáveis da personalidade
humana, principalmente na faixa etária de abrangência do E.C.A.,
tendo como uma das principais garantias o direito à educação. Essa Lei
especial define com clareza os direitos da pessoa na faixa etária de
zero a dezoito anos. Em seu artigo 53 afirma a existência do direito à
educação para a criança e ao adolescente, responsabilizando o Estado,
a família e a sociedade para a garantia desse direito:
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I — igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II — direito de ser respeitado por seus educadores; III — direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV — direito de organização e participação em entidades estudantis; V — Acesso à escola, pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo Único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais (ECA - Lei nº. 8.069/90).
Depois de construídas e promulgadas as principais leis que
serviram de bases para a organização da educação brasileira, a
sociedade pôde experimentar um acentuado desenvolvimento e
progresso, com propostas reais de melhoria de qualidade,
principalmente em alguns estados que se sobressaíram com
investimentos. Isso ocorreu não só na estrutura física, mas na questão
4COLOMBO, Irineu. Brasil Profissionalizado: Um Programa que Sistematiza na Prática a Educação Profissional e Tecnológica. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/artigos_brasil_profissionalizado.pdf (acesso em outubro de 2008)
24
pedagógica e de aprimoramento do corpo docente, valorizando o
magistério, como é o caso do Estado do Paraná, com a criação de
diferentes programas implantados nos últimos anos, dos quais se pode
citar como exemplo, o PDE – Plano de Desenvolvimento Educacional do
Paraná para professores, tido como um extraordinário avanço para a
educação paranaense.
Tantas outras melhorias, também ocorrem oriundas das
diferentes leis que, constantemente são criadas em benefício do
sistema educacional e, especialmente, para a garantia da efetiva
qualidade do ensino destinado ao aluno. A participação democrática de
profissionais da área para a elaboração das políticas pedagógicas e
detecção das prioridades essenciais provoca o surgimento de novos
mecanismos capazes de produzir a eficiência necessária para a
melhoria do serviço educacional em todos os seus níveis. Nessa
consecução de fatos encontram-se: O Plano Nacional de Educação, Lei
nº. 2/2001; A Lei 11.274/2006 de 06/02/2006, (que garante o acesso ao
ensino fundamental obrigatório, divididos em séries até a oitava, para
todas as crianças de 6 a 14), entre outras.
Uma analise mais aprofundada sobre a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional levará ao entendimento de que algumas
orientações são de extrema importância para o ordenamento do
magistério e da pedagogia, propondo a melhoria do ensino a partir da
eficácia da própria lei. Ela determina, por exemplo, que, para efeito do
ensino fundamental, deverá ser cumprida a jornada escolar de, pelo
menos, quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, conforme seu
artigo 34, no entanto não prevê carga horária para recuperação:
A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.§1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.§2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino (LDB nº. 9.394/1996).
25
Contudo há uma lacuna considerável na referida norma que, —
mesmo prevendo ampliação do período de permanência do aluno na
escola, à medida que se efetive a universalização desse nível
educacional, determinando que o ensino seja ministrado
progressivamente, em tempo integral e deliberando que a carga
horária disponibilizada aos alunos de 800 horas e 200 dias letivos —,
não prevê os períodos de recuperação quando necessária.
2.3. A REALIDADE E SITUACAO DA ESCOLA ANTES DA
IMPLEMENTACAO DE ACÕES TRANSFORMADORAS E DO PDE
O Colégio Estadual Marechal Rondon – Ensino Fundamental,
Médio e Profissionalizante sob a jurisdição do Núcleo Regional da
Educação de Campo Mourão é uma escola localizada no centro da
Cidade e, por esse motivo, uma das mais procuradas pela Comunidade
Escolar tendo, todos os anos, uma considerável lista de espera
aguardando vagas, que não surgem, pois dificilmente os alunos que se
matriculam, mudam para outra escola. Os pais, também, preferem
colocar seus filhos pela qualidade do ensino oferecido e pela
segurança que a escola apresenta. Mas, pela quantidade e
heterogeneidade do corpo discente, aumentam, na mesma proporção,
os problemas e dificuldades.
Antes da implementação deste projeto, constatou-se que, em
relação aos outros períodos, havia uma grande diferença entre os
índices de evasão, repetência, pontualidade, aprendizado, disciplina e
motivação nos alunos do período noturno. Da mesma maneira, eram
mais problemáticos o relacionamento de alunos com professores e
funcionários neste do que nos períodos vespertino e matutino,
respectiva e proporcionalmente, pois o número de alunos dos turnos do
diurno é maior e, muitas disciplinas, apresentam os mesmos
professores, o que possibilita passarem mais horas com cada turma,
melhorando sua qualidade. Isso não acontece com o período noturno,
26
acarretando a queda no aproveitamento e na qualidade, deixando de
apresentar resultados positivos e elevando os índices de repetência,
evasão e de relacionamento.
Constatou-se que os alunos desse período, na maioria,
trabalhavam em empresas e outros vinham do sítio, chegando sempre
atrasados, cansados e sem alimentação: jantar ou lanche. Muitos
dormiam durante as aulas, outros procuravam extravasar seu cansaço
ficando sempre inquietos e outros, ainda, ausentavam-se das salas,
solicitavam para saírem antes do término da aula, justificando não
estarem passando bem.
Percebia-se que vários alunos eram dependentes químicos,
indisciplinados, depredavam a escola, sem limites e não demonstravam
a prática dos valores essenciais para a vida e construção da cidadania.
Quanto às famílias, raramente compareciam ao Colégio, mesmo
sendo convidadas, os telefones nunca conferem os números para
contatos, entre outras dificuldades.
Os professores e funcionários, também, demonstravam cansaço e
desmotivação em suas atividades, por não verem resultados mais
imediatos e palpáveis.
Diante dos fatores apresentados, verificou-se, com espanto, o alto
índice de evasão, ficando entre 21.6% a 31.3%, o percentual de alunos
evadidos, principalmente nas primeiras séries do Ensino médio do
noturno e a reprovação variando de 11.7% a 13% das 1ªs, 2ªs e 3ªs
séries do período noturno.
Durante o ano de 2003, as aulas iniciavam às 19h15ms, isso
provocou grande mudança, diminuindo o índice de evasão e repetência,
pois os alunos trabalhadores e os que vinham de transporte escolar
coletivo da zona rural, tinham tempo para tomar banho e jantar sem
atrasar-se para o início das aulas.
Em decorrência do Calendário Escolar e carga horária (800h), a
escola obrigou-se a manter o início das aulas às 18h50ms, forçando
muitos alunos a chegarem somente para a segunda aula e quando
27
constatavam o número elevado de faltas e o baixo rendimento escolar,
acabavam desistindo de estudar ou reprovando.
Houve um inconformismo da direção e equipe pedagógica, por
tratar-se da mesma escola, mesma filosofia e mesma dedicação de
trabalho com índices e resultados tão diferentes dos demais turnos,
então buscou-se a elaboração e implementação de vários projetos,
iniciando-se em maio de 2002, com o Projeto: Resgatando o Aluno
Evadido da Escola; Em junho de 2002, o Projeto: “Diga ao Professor
que Você Está Presente”; Em Fevereiro de 2002, 2003, 2004 e 2005: O
Projeto “AVOE – Ação Voluntária na Escola”, ao qual acrescentou-se o
tema a Arte na Escola, iniciando com levantamento de dados dos
alunos e familiares, constando no Projeto Político Pedagógico.
A partir destas respostas, a essas e a tantas outras, procurou-se
por meio de dados estatísticos, apresentar uma reflexão à luz da
comparação entre os índices gerais e locais de desempenho escolar.
Assim procedeu-se a partir do levantamento de dados na documentação
escolar e questionários, com a equipe administrativa, pedagógica e
corpo docente auferiu-se que, por trás do problema de baixo
rendimento, reprovações e evasão escolar existem duas outras
questões mais importantes e mais urgentes: Primeiro, o baixo índice de
consciência de auto-estima, um elevado índice de individualismo,
timidez, medo de relacionamento, ausência de conhecimento sobre a
necessidade de comunicação, cooperação, companheirismo e falta de
confiança em colegas, superiores, familiares, grupos e sociedade;
Segundo, a carência de princípios e valores sociais, culturais,
acadêmicos, cidadania, ética, moralidade, família, escola, trabalho,
lazer, entre outros.
Em pesquisa realizada na comunidade escolar interna e de
abrangências do Colégio, onde habitam as famílias dos alunos,
especialmente do período noturno, verificou-se uma grande incidência
de problemas relacionados ao bem estar, como de moradia, sócio-
econômico, empregabilidade, comunicação, relacionamento
interpessoal, dificuldades de relacionamento familiar e entre famílias,
28
entre grupos e entre comunidades. Constatou-se uma deficiência na
questão cultural e de conhecimentos a partir do fato de que, muitas
pessoas não sabem ler, escrever e interpretar informações básicas.
Não conseguem expor nem resolver problemas simples do seu dia-a-dia
de forma organizada.
Isso tem refletido e influenciado direta e negativamente na
convivência, na formação e na permanência dos alunos na Escola, o
que levou um grupo de professores, pedagogos e direção, iniciarem um
estudo sobre a necessidade de se efetivar alguma ação que viesse
amenizar ou sanar esse contratempo dentro de nossa Escola. Dessa
forma percebeu-se que somente as aulas em sala de aula não motivam
nem despertam o interesse dos alunos para a necessidade dos estudos
e permanência na escola. Era necessárias a realização de ações, em
classe e extra classe, que viessem corroborar para a solução desses
problemas. Então a criação, implantação e execução de vários projetos,
entre eles o AVOE, provocou grandes e significativas transformações
positivas nos alunos, em diversos pontos como: respeito, disciplina,
comportamentos éticos, cuidados com a escola, apresentam maior
interesse pelo estudo, mais curiosidade em relação a outros temas
transdisciplinares e participação efetiva em cursos extracurriculares
(para inseri-los no mercado de trabalho como estagiários), música,
teatro, recreações modalidades desportivas, que a escola oferece. Há
grande procura por cursos de informática e oratória entre outros.
Constatou-se também maior número de alunos aprovados no
vestibular de 2004, 2005, 2006 e 2007 em Faculdades Públicas,
alcançaram as primeiras classificações.
No entanto, apesar de todos os esforços dispensados a todas as
séries, e a implementação das salas de recurso e apoio para as 5 séries,
constatou-se que o índice de alunos para conselho de classe e retidos
era alto, delimitando aqui a 5ª Série, para comprovação dos anos de
2006 e 2007, conforme apresenta a tabela a seguir:
29
IDEBs observados em 2005, 2007 e Metas para Escola - RONDON C E MAL E FUND MEDIO PROF
Ensino Fundamental
IDEB Observado
Metas Projetadas
2005 2007 2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
Anos Iniciais - - - - - - - - - -
Anos Finais 4,3 5,0 4,3 4,4 4,7 5,1 5,5 5,7 5,9 6,2
Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar. Em: http://ideb.inep.gov.br/Site/ (acesso em12/2008)
RONDON, C E MAL - E FUND MEDIO PROF
NRE CAMPO MOURAO - CAMPO MOURAO
Resultados do IDEB da Escola 2005 - 2007Fonte
: SAEB e Censo Escolar
Indicador
IDEB 2005
IDEB 2007
IDEB do Município
IDEB do Paraná
Resultado do IDEB - Fundamental Anos Finais
4,30 5,00 4.10 4.00
Projeção do IDEB para a Escola 2009 - 2021Fonte
: SAEB e Censo Escolar
Indicador 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
Projeção de Meta do IDEB - Fundamental Anos Finais
4,40 4,70 5,10 5,50 5,70 5,90 6,20
Para ir além do já exposto, o Plano de Implantação do PDE, ao
apresentar a Ética, sua aplicabilidade ao ensino em escolas públicas e
sua influência nos resultados da aprendizagem dos alunos, para a
comunidade escolar, pautou-se nas 5 séries, constatando que há uma
disparidade de nível de qualidade de ensino entre as escolas
municipais até as 4 séries e como o Colégio Estadual Marechal Rondon
recebe alunos de diversos pontos da cidade e bairros, demonstra-se a
realidade da heterogeneidade, exigindo ações diferenciadas para suprir
as deficiências de aprendizagem.
Com a aplicabilidade do Plano de Implementação, constatou-se a
necessidade de carga horária específica para aulas de recuperação dos
conteúdos aplicados aos alunos com dificuldades, além das salas de
apoio e recurso.
30
No entanto, as aulas deverão centrar-se nos conteúdos
oferecendo condições para que o aluno possa contextualizar sua
cultura e seu conhecimento embasado nas séries anteriores e na
própria vivência social cotidiana, porém, com um enfoque especial na
questão da cidadania, no seu desenvolvimento integral como ser social
e sua responsabilidade profissional. Além disso, as aulas devem ser
conduzidas com didática condizentes de forma a assegurar direitos e
deveres, respeito e altruísmo, à luz de uma ética prática, para a efetiva
formação da consciência cidadã do aluno.
Outro aspecto proeminente que se verificou foi o prejuízo na
aprendizagem dos alunos de 5 séries com relação às constantes
substituições de professores, principalmente por motivos de doença,
licenças entre outras, pois há um clima de tensão no corpo discente em
decorrência de inúmeros fatores, como excesso de trabalho, falta de
recursos didáticos e apoio mais eficiente das equipes de sustentação do
processo ensino aprendizagem.
Com a verificação dessa realidade concreta, acredita-se que
haverá melhoria nas estatísticas ao final do ano letivo em questão,
apresentando resultados positivos com a redução do número de alunos
a serem apresentados ao Conselho de Classe, retenção ou reprovação,
em conseqüência do presente estudo e prática.
3. CONCLUSÃO
Ao concluirmos este trabalho, nos sentimos honrados em
fazermos parte do quadro do magistério público. A oportunidade que
tivemos de encaramos nossos problemas escolares de frente, e
pensarmos nas possíveis soluções, nos encoraja e nos valoriza como
educadores e nos permite repensar o processo ensino e aprendizagem
e a cultura escolar.
Ao nos reportarmos sobre a defasagem entre os índices de
reprovação na 5ª série, refletiu-se sobre o não desempenho escolar. De
fato, não se pode negar que o desempenho dos alunos vem
31
acompanhado de diversos fatores entre eles podemos citar as
dificuldades de leitura e na escrita. Paini nos lembra que a questão do
desempenho da leitura de alunos nos mostra que muitos lêem e não
interpretam o texto lido. “leitores e não-leitores parece que vem
legitimando as diferenças entre classes sociais, em que tarefas são
divididas entre aqueles que pensam e os que executam. A leitura
aparece também como um instrumento de conquista de poder antes de
ser meio de lazer, conhecimento e cultura. A leitura amplia os
horizontes, fazendo emergir pontos de vista diferenciados sobre uma
dada realidade”. Paini (2005, p. 229).
Por outro lado, os valores éticos entram em confronto com a
realidade cibernética e uma multiplicidade de aspectos interfere no
comportamento das pessoas. Por isso, é preciso (re) construir a ética
nos relacionamentos interpessoais e virtuais. A ética parece estar
cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e
hábitos que caracterizam as pessoas, dependendo inclusive do contexto
cultural e social em que vivem.
Destarte a reflexão levantada em torno da questão da ética como
elemento importante na construção de um ensino com qualidade,
conclui-se que sua aplicação em todas as instâncias no estabelecimento
de ensino, com responsabilidade poderá transformar a conjuntura da
unidade escolar em suas abrangências e assim, garantir, em todas as
etapas, um aprendizado com qualidade, profundidade e extensão à
altura das necessidades do aluno e da comunidade escolar. Além disso,
a Educação terá professores mais saudáveis, produtivos, satisfeitos e
felizes em suas atividades. Em conseqüência disso, o Brasil terá maior
destaque mundial na educação e a comunidade brasileira será
beneficiada em muitos aspectos.
As reflexões sobre a Ética como uma ferramenta, também oferece
reais condições de melhoria do desempenho dos alunos, tanto nas
séries referidas, quanto nas demais séries e cursos oferecidos pelas
escolas, sendo que é essa a proposta do projeto que se realizou, ou
seja, de melhorar a qualidade do ensino da Rede Escolar Pública. A
32
apresentação dessa breve referência sobre a ética, sua aplicabilidade
ao ensino e sua influência nos resultados da aprendizagem, demonstra
que é possível reverter o quadro negativo que encontramos em nosso
sistema público de ensino.
Por fim, ao recuperarmos a legislação, vale lembrar que “o
professor tem o compromisso de desempenhar bem sua função e
oferecer um trabalho ético, de qualidade e o Estado poderá intervir
para que se assegure tal resultado, responsabilizando aqueles que não
o cumprirem, pois se assim o Estado não o fizer, será o próprio Estado
responsabilizado (Constituição federal/1988, art. 37).
Assim, concluímos lembrando as palavras do poeta Jorge Luís
Borges: "Mas talvez a ética seja uma ciência que desapareceu no
mundo inteiro. Não importa, teremos que inventá-la outra vez". Se,
precisamos reinventá-la, que lutemos para (re) construí-la, pois
acreditamos que a ética legitima as relações intelectuais, afetivas e
morais que se estabelecem entre as pessoas, tanto no campo pessoal
como profissional.
REFERÊNCIAS
AGUILAR, Francis J. A ética nas empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.
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