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1 Fanny Schroeder de Freitas Araujo Projeto de pesquisa para Doutorado em Arquitetura e Urbanismo TÍTULO PROVISÓRIO: OS INTERIORES DA CASA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: PRODUÇÃO DE ARQUITETAS RESUMO O presente plano de pesquisa para tese de doutorado está compreendido dentro da linha de pesquisa Arquitetura Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção e tem como objetivo estudar da arquitetura de interiores residencial contemporânea a partir de análises de obras nacionais projetadas por arquitetas. O trabalho pretende contribuir para os estudos acadêmicos e reflexões sobre a atuação e prática projetual de profissionais mulheres, auxiliando a preencher a lacuna de trabalhos brasileiros sobre arquitetura de interiores e perspectiva de gênero. Este estudo está inserido no âmbito do Núcleo de Pesquisa “Percursos e Projetos: Arquitetura e Design” da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Ana Gabriela Godinho Lima, que será a orientadora dessa tese de doutorado. O presente trabalho foi elaborado com base no referencial teórico, procedimentos de pesquisa e análises elaborados ao longo da pesquisa “Feminino e plural: percursos e projetos de arquitetas” (FAPESP Processo nº: 2011/23260-2). Esse Núcleo de Pesquisa abriga projetos financiados por agências de fomento e faz parte do Grupo de Pesquisa “Arquitetura: Projeto & Pesquisa & Ensino”, registrado junto ao CNPq e liderado pelos professores Dr. Rafael Perrone e Dr.ª Ana Gabriela Godinho Lima, onde a autora desta proposta trabalha como pesquisadora assistente desde 2011, conforme link abaixo: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0514604ZGP1BIR

TÍTULO PROVISÓRIO: OS INTERIORES DA CASA BRASILEIRA ... · tem como objetivo estudar da arquitetura de interiores residencial contemporânea a partir de ... comuns que permitam

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Fanny Schroeder de Freitas Araujo

Projeto de pesquisa para Doutorado em Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO PROVISÓRIO:

OS INTERIORES DA CASA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA:

PRODUÇÃO DE ARQUITETAS

RESUMO

O presente plano de pesquisa para tese de doutorado está compreendido dentro da

linha de pesquisa Arquitetura Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção e

tem como objetivo estudar da arquitetura de interiores residencial contemporânea a partir de

análises de obras nacionais projetadas por arquitetas.

O trabalho pretende contribuir para os estudos acadêmicos e reflexões sobre a atuação

e prática projetual de profissionais mulheres, auxiliando a preencher a lacuna de trabalhos

brasileiros sobre arquitetura de interiores e perspectiva de gênero.

Este estudo está inserido no âmbito do Núcleo de Pesquisa “Percursos e Projetos:

Arquitetura e Design” da Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenado pela Prof.ª Dr.ª

Ana Gabriela Godinho Lima, que será a orientadora dessa tese de doutorado. O presente

trabalho foi elaborado com base no referencial teórico, procedimentos de pesquisa e análises

elaborados ao longo da pesquisa “Feminino e plural: percursos e projetos de arquitetas”

(FAPESP Processo nº: 2011/23260-2). Esse Núcleo de Pesquisa abriga projetos financiados

por agências de fomento e faz parte do Grupo de Pesquisa “Arquitetura: Projeto &

Pesquisa & Ensino”, registrado junto ao CNPq e liderado pelos professores Dr. Rafael

Perrone e Dr.ª Ana Gabriela Godinho Lima, onde a autora desta proposta trabalha como

pesquisadora assistente desde 2011, conforme link abaixo:

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0514604ZGP1BIR

2

INTRODUÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO

A escolha pelo tema Arquitetura de Interiores residenciais vem ao encontro da trajetória

profissional e acadêmica da pesquisadora. Desde o estágio em escritórios de arquitetura até

sua atuação em escritório autônomo, após a graduação, a pesquisadora dedicou-se

primordialmente ao projeto e execução de interiores residenciais. Desde 2010, em sua carreira

como docente, ministra no curso de Arquitetura disciplinas como Projeto e Laboratório de

Arquitetura e no curso de Design de Interiores, Projeto de Interiores – Residencial, todas as

disciplinas sobre o assunto.

Na sua tese de mestrado desenvolveu o tema Projetos de Arquitetura em “Telésforo

Cristófani (1929 – 2002), contribuições à arquitetura paulista.”, trabalho que obteve aprovação

para fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), esta última

escolhida naquela ocasião por apresentar algumas vantagens que viabilizavam o estudo.

A pesquisadora, desde 2011, faz parte do Núcleo de Pesquisa “Percursos e Projetos:

Arquitetura e Design”, participando das pesquisas denominadas “Feminino e plural:

percursos e projetos de arquitetas” (FAPESP Processo nº: 2011/23260-2) e “Práticas de

Projeto de Arquitetas, Arquitetos e Designers - Análise dos instrumentos de prática

projetual e possíveis empregos, de forma direta ou não - na pesquisa acadêmica strictu

sensu”, ambas sob a responsabilidade da Professora Dra. Ana Gabriela Godinho Lima,

perante a Universidade Presbiteriana Mackenzie com fomento do Fundo Mackenzie de

Pesquisa (Mack Pesquisa) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP). A tese de doutorado, que é objeto do presente trabalho, está intimamente ligada

aos temas estudados nas referidas pesquisas, de forma que se utilizará dos recursos

bibliográficos e procedimentos de pesquisa nelas desenvolvidas.

O trabalho completo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa e todas as pesquisas que

nele se inserem podem ser acompanhados pelo blog:

http://arquiteturadesignmackenzie.wordpress.com/

Importante ressaltar que a problemática central da pesquisa do “Feminino e plural”

(http://femininoeplural.wordpress.com/) desenvolvida no âmbito do Núcleo, construiu a base do

questionamento que o presente trabalho também pretende abordar, girando em torno do

seguinte ponto central:

Os estudos sobre gênero em arquitetura tendem a enfatizar o comportamento feminino

3

das arquitetas, ou seu papel e dificuldades sociais como mulheres. Não têm se proposto

a fazer análises projetuais aprofundadas, como parte da investigação. > Solução

proposta: Refletir sobre a relação da prática projetual das autoras e os discursos

construídos sobre elas. Descrever e refletir, nos moldes do rigor acadêmico, sobre os

elementos do discurso das arquitetas empregados na explicação de suas próprias

práticas projetuais.

Foi a partir de sua participação nesse trabalho, no qual aprofundou seus estudos sobre

essa temática, e os esforços do Núcleo de Pesquisa “Percursos e Projetos” em formar jovens

pesquisadores, que a pesquisadora desenvolveu o interesse em investigar a produção e a

contribuição de arquitetas brasileiras contemporâneas à arquitetura de interiores.

A professora Dr.ª Ana Gabriela Godinho Lima, coordenadora do Núcleo de Pesquisa

mencionado anteriormente e que será a orientadora desse doutorado, conta com grande

reconhecimento na academia por sua contribuição para a discussão da questão de perspectiva

de gênero na arquitetura latino-americana.

Vale destacar que parte importante do embasamento da presente pesquisa concentra-

se nos estudos de Ana Gabriela Godinho Lima: Arquitetas e Arquitetura na América Latina

do Século XX – dissertação de mestrado (LIMA, 1999), Revendo a história da arquitetura:

uma perspectiva feminista – tese de doutorado (LIMA, 2004) e Feminismo e Arquitetura do

Brasil – capítulo no livro Mulher, Sociedade e Direitos Humanos (LIMA In: BERTOLIN, 2010).

OBJETIVOS

Os estudos de gênero dentro do campo da arquitetura de interiores ainda são bastante

restritos no Brasil, conforme levantamento mencionado anteriormente. Alguns trabalhos sobre

arquitetas, como Lina Bo Bardi, Carmen Portinho e Janete Ferreira da Costa, expoentes de

maior destaque nacional, podem ser citados. Contudo, não há um contínuo e sistemático

esforços no sentido de implantar, dentro do universo da pesquisa acadêmica, pesquisas sobre

a contribuição das mulheres na arquitetura de interiores.

De um modo geral, as publicações dedicam-se a documentar ou discutir o trabalho e

trajetória de uma profissional isoladamente. Reflexões brasileiras ou discussões sobre a prática

projetual de arquitetas, de caráter mais amplo e com cunho acadêmico não são facilmente

localizáveis.

4

Como Lima observou no relatório da pesquisa1 “Feminino e plural: percursos e

projetos de arquitetas” encaminhado à FAPESP, as relações de gênero ainda não se

configuram, no âmbito acadêmico nacional, como uma categoria reconhecida e de credibilidade

nas análises de projetos de arquitetura. Os estudos sobre gênero em arquitetura no Brasil

ainda se dedicam predominantemente a explorar aspectos relacionados ao comportamento

feminino das arquitetas ou seus papéis sociais (como profissionais, mães, esposas, etc..), com

as dificuldades a eles inerentes. Análises projetuais aprofundadas, que levem em conta a

perspectiva de gênero, não vêm sendo empreendidas.

Por essa razão, a questão central à qual este projeto se dedica refere-se ao papel de

arquitetas na prática projetual na arquitetura de interiores no Brasil e seus instrumentos na

construção do conhecimento acadêmico.

A proposta deste trabalho é estudar os interiores residenciais brasileiros

contemporâneos, analisando suas composições espaciais através de visitas in loco, incluindo a

comparação com seus projetos arquitetônicos, a observação da distribuição dos ambientes,

circulações e fluxos, acabamentos empregados e o arranjo dos mobiliários e objetos

decorativos. Desta forma, o projeto de pesquisa procurará identificar a existência de traços

comuns que permitam uma caracterização da “casa brasileira contemporânea”. Pretende-se

também observar, dentro do discurso das arquitetas, a presença de possíveis aspectos que

apontem reflexões sobre gênero em suas trajetórias profissionais.

Desta forma, quatro objetivos centrais se destacam-se na presente pesquisa:

A reflexão sobre a prática projetual das arquitetas, por meio de entrevistas,

depoimentos e visitação às obras, quando possível.

A contribuição para o debate sobre a relevância das pesquisas acadêmicas sobre

arquitetura de interiores.

O objetivo pedagógico, ou seja, a elaborar um estudo acadêmico sobre perspectiva de

gênero em arquitetura de interiores que possa contribuir para produzir insumos para o

ensino de arquitetura.

A divulgação e a disseminação dos estudos sobre o tema para o amplo público e

acadêmico, por meio de um blog: http://interioresdacasabrasileira.wordpress.com/

1 Relatório completo está disponível no blog da pesquisa “Feminino e Plural”: http://femininoeplural.wordpress.com/

5

OBJETO – PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA

O Doutorado do Programa de Pós-graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie

tem a duração de 42 meses, subdivididos em sete semestres letivos. É requerido aos

doutorandos que cumpram um total de 62 créditos, sendo: uma disciplina obrigatória e três

optativas, além de um conjunto de cinco atividades programadas. As disciplinas optativas

devem ser cursadas nos dois primeiros semestres letivos; já as atividades programadas como

obrigatórias, devem ser cursadas entre o primeiro e o quarto semestres.

A pesquisadora também continuará participando das atividades do Núcleo de Pesquisa

“Percursos e Projetos” em que esse trabalho está inserido. Essas atividades são importantes

para o desenvolvimento do presente estudo, uma vez que as metodologias ali elaboradas

(como o procedimento das entrevistas, por exemplo), os levantamentos bibliográficos e os

estudos teóricos produzidos pelos pesquisadores do Núcleo, orientados pela Prof.ª Dr.ª Ana

Gabriela Godinho Lima, serão empregados nesta tese de doutorado.

Nas reuniões do Núcleo de Pesquisa, que ocorrem a cada quinze dias, são discutidas

as atividades produzidas por cada integrante (referentes aos seus estudos individuais e às

pesquisas maiores comum à todos) e também são estabelecidas novas tarefas. Ocorre, ainda,

com a mesma frequência, o Curso de Escrita Acadêmica oferecido aos membros do Núcleo e

outros pesquisadores interessados. Nessas reuniões são abordados temas sobre o exercício

da escrita acadêmica, tais como: prática de escrita, formas e importância do levantamento,

argumentação, estruturação do texto, etc.

Todas as atividades relacionadas ao Núcleo de Pesquisa, desde as pesquisas

individuais dos integrantes, o desenvolvimento das pesquisas comum a todos e também as

aulas do Curso de Escrita Acadêmica pode ser acompanhada pelo blog:

http://arquiteturadesignmackenzie.wordpress.com/

Além dos créditos obrigatórios aos doutorandos e as atividades do Núcleo, esse estudo

conta com diversos trabalhos específicos que se fazem necessários para a elaboração da tese,

atividades estas que também serão executadas ao longo dos sete semestres, conforme tabela

a seguir:

6

CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS AOS

DOUTORANDOS:

DISCIPLINAS ATIVIDADES

PROGRAMADAS ATIVIDADES DA TESE

SEMESTRE 1 OBRIGATÓRIA

OPTATIVA A ATIVIDADE 1

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO. REVER E

AMPLIAR REFERENCIAL TEÓRICO.

SEMESTRE 2 OPTATIVA B

OPTATIVA C ATIVIDADE 2

APROFUNDAR REFERENCIAL TEÓRICO.

ELABORAR A ESTRUTURA DAS ENTREVISTAS.

SEMESTRE 3 ATIVIDADE 3

ATIVIDADE 4

SELECIONAR ARQUITETAS E OBRAS QUE

SERÃO ANALISADAS. INVESTIGAÇÃO TEÓRICA E

PRÁTICA DA PRODUÇÃO DESSAS

PROFISSIONAIS

SEMESTRE 4 ATIVIDADE 5 REALIZAR AS ENTREVISTAS E VISITAS AS

OBRAS.

SEMESTRE 5 ANALISAR AS ENTREVISTAS E OBRAS,

FORMATAR RELATÓRIOS DAS ENTREVISTAS.

SEMESTRE 6 REVISÃO DO MEMORIAL DE QUALIFICAÇÃO.

BANCA DE QUALIFICAÇÃO.

SEMESTRE 7

CORREÇÕES REFERENTES A BANCA DE

QUALIFICAÇÃO. REVISÃO E FORMATAÇÃO FINAL

DA TESE. DEFESA DA TESE.

Tabela 02: cronograma de atividades

As atividades relacionas a tese seguem a seguinte estrutura:

A. Trabalho teórico:

Levantamento bibliográfico. Revisão, ampliação e aprofundamento do referencial

teórico;

Seleção das arquitetas a serem entrevistadas e quais obras serão visitadas;

Construção da estrutura das entrevistas a partir dos resultados da revisão e

aprofundamento do referencial teórico e bibliográfico;

Análise dos resultados obtidos;

B. Trabalho prático:

Entrevistar as arquitetas selecionadas segundo os critérios formulados

anteriormente. A escolha das profissionais será feita após o aprofundamento no

7

estudo referente a arquitetura de interiores, que ocorrerá nos dois primeiros

semestres.

Visita às obras selecionadas de autoria das referidas arquitetas.

Organização do material colhido nas entrevistas e visitas. Formatando relatório

com fotos, imagens, vídeos e textos sobre as arquitetas e suas obras.

Todo o processo e desenvolvimento desse trabalho pode ser acompanhado através do

blog que foi criado exclusivamente para relatar, em intervalos regulares, as atividades

executadas e os resultados obtidos: http://interioresdacasabrasileira.wordpress.com/

REFERENCIAL TEÓRICO

Em sua dissertação de mestrado, Arquitetas e Arquiteturas na América Latina do Século

XX, Ana Gabriela Godinho Lima ressalta que a participação, visibilidade e reconhecimento das

mulheres na arquitetura vêm aumentando nas últimas décadas, porém observa que “É

necessário, entretanto, que se tenha em vista que o caminho para a conquista de espaço na

profissão tem sido difícil e bastante sinuoso. Na América Latina, em particular, isto ocorre sob a

influência peculiar das condições em que a mulher participa da sociedade e do mercado.”2

Lima também discorre sobre a questão da escassa bibliografia sobre o assunto, o que

nos obriga a recorrer aos estudos estrangeiros, mas nota que essa carência acaba nos

possibilitando lançar um olhar mais abrangente sobre o tema, ou seja, de forma ampla e global

e não apenas regional.

A conclusão de Lima, após análise do panorama sobre o papel de arquitetas na

produção latino-americana durante o século XX, é a de que, ao contrário do que se supõe, é

possível notar a presença ativa de profissionais mulheres na arquitetura, conforme mencionado

abaixo:

Elas têm refletido e propostos novos caminhos, teóricos, críticos,

historiográficos e práticos. [...] têm empreendido o esforço de tornar a profissão

um campo de atuação em que homens e mulheres participem

equilibradamente, adquirindo a visibilidade e o reconhecimento que merecem.

Este último, sem dúvida, tem sido o maior desafio.3

2 LIMA, 1999, p. 19

3 LIMA, 1999, p. 49

8

Nesse mesmo estudo, Lima dedica um capítulo inteiro à questão residencial: Arquitetas

e o tema da habitação. A autora discorre sobre as primeiras arquitetas que, no final do século

XIX nos Estados Unidos, entraram nesse ramo projetando casas “diferentes e inovadoras” para

si e também para seus clientes. Lima sugere que a profissional talvez possa ter encontrado

maior receptividade em atuar nesse nicho da arquitetura “pelo fato de que a casa era vista

como um assunto do qual as mulheres entendiam naturalmente”.

Durante todo o capítulo, a autora traça uma linha do tempo sobre a inserção feminina na

arquitetura residencial na Europa, Estados Unidos e América Latina. Ao comentar sobre o

Brasil, aponta a contribuição de três profissionais: Carmem Portinho no Rio de Janeiro, Lygia

Fernandes em Alagoas e Maria do Carmo Schwab no Espírito Santo.

Sobre a grande quantidade de profissionais mulheres atuando em projetos residenciais

atualmente, a autora entende que pode decorrer do fato de que no início da carreira esta é uma

porta de entrada acessível para o mercado de trabalho, porém destaca:

A ideia de que a mulher entende naturalmente dos assuntos relacionados à

casa é cada vez menos aceita. O que cada vez mais se compreende é que

este conhecimento é transmitido, adquirido, processado, e que pode ocorrer

igualmente com homens e mulheres, num processo cultural, e não biológico

relacionado ao gênero. Historicamente, no entanto, a arquitetura da casa se

tornou uma espécie de porta de entrada das arquitetas na profissão.4

Em sua tese de doutorado, Revendo a história da arquitetura: uma perspectiva

feminista, Ana Gabriela Godinho Lima aponta que as mulheres têm sido excluídas nos

discursos tradicionais da história de arquitetura. Analisando importantes publicações sobre

arquitetura, observa que em diversos momentos os nomes das arquitetas são omitidos ou

aparecem em segundo plano. Sobre essa questão a autora faz as seguintes considerações:

„Balançar o barco‟5 significa reivindicar o justo direito de possuir uma tradição

histórica que apoie e legitime a mulher na sua atuação profissional. O caminho

dessa conquista passa por assumir a herança das conquistas feministas, que,

longe de precisarem ser associadas à imagem de uma fogueira de sutiãs

cercada por bruxas ensandecidas, devem estar ligadas à posição de respeito

que as mulheres, ao longo de décadas, se esforçaram para garantir.6

4 LIMA, 1999, p. 114

5 A autora está se referindo a frase de Londa Schienbinger em O Feminismo Mudou a Ciência? (2001): “Muitas

mulheres que ingressam na ciência não têm desejo algum de balançar o barco.” LIMA, 2004, p. 33 6 LIMA, 2004, p. 159

9

Em outro plano de considerações, o livro Modernizando a desigualdade de Susan

Besse que, através de documentos históricos – tais como artigos de jornais, revistas e livros –

sobre o período entre 1914 e 1940, apresenta um estudo sobre a entrada do Brasil na era

moderna industrial observando o ingresso das mulheres nas escolas e profissões ditas

“masculinas” e com o relato das transformações nas relações entre os sexos no âmbito da

família, trabalho, educação e cultura. Contudo, Besse faz uma importante ressalva sobre o

estudo de gênero no país:

Na literatura brasileira das décadas de 1920 e 1930, as contestações à divisão

sexual do trabalho e à estabilidade da família nuclear eram descritas não só

como sintomas lamentáveis de mudanças destrutivas mais amplas mas como

causas potencialmente perigosas do desmoronamento da ordem política e

social. Contudo, a história das mulheres no Brasil só começou a ser escrita no

início da década de 1970. E só muito mais recente é que os historiadores

começaram a encarar a controvérsia a respeito da (re)definição dos papéis de

gênero como um tópico politicamente significativo do período.7

A autora explica que a modernização do sistema de gênero no Brasil entre o final do

século XIX e início do XX se deu de maneira distinta entre as classes sociais. Nas classes

média e alta as mulheres tinham mais oportunidade de estudo e empregos, o que não ocorreu

nas classes inferiores: “As mulheres instruídas das famílias da elite ingressavam nas

profissões; nas décadas de 1920 e 1930, o Brasil apresentava uma minoria pequena mas

notável de médicas, advogadas, escritoras e artistas mulheres, e até mesmo algumas

engenheiras e cientistas.” A autora ressalta que trabalho feminino era então “aceitável” desde

que “não comprometesse sua feminilidade” e “nem ameaçasse a estabilidade do lar chefiado

pelo homem”.

Neste período, a educação feminina passou a ser uma questão importante para o

desenvolvimento da nação, especialmente pela influência do movimento eugenista, que

considerava essencial prepará-las para a maternidade e administração do lar. Isto porque

apenas mulheres “ensinadas” poderiam proteger e educar os futuros cidadãos. Todavia, a

autora destaca a frase de um distinto eugenista, Renato Kehl, que resume de forma primorosa

o pensamento em voga: “instruir-se e educar-se não quer dizer, porém, emancipar-se”.

Em 1930, o censo escolar feito no Estado de São Paulo mostrou o efetivo aumento de

meninas cursando o ensino primário, o que representava 46,5%. Porém, em escolas

secundárias e profissionais, elas eram apenas 38,5%. A crescente escolarização feminina não

era sentida no ensino superior, as meninas concentravam-se nos cursos preparatórios para o

7 BESSE, 1999, p. 229

10

magistério, escolas comerciais (formando-se estenógrafas e datilógrafas). Conforme Estatística

escolar de 1930 (BESSE, pág. 128), a quantidade de mulheres matriculadas nas universidades

era pequena. Na Politécnica8 havia sete alunas mulheres dos 454 inscritos. Já nos cursos de

Farmácia e Odontologia, “profissões médicas de menor prestígio” as mulheres representavam

pouco mais que 25%.

Esse avanço da educação feminina demonstrava o progresso e a modernidade do

nosso país, todavia, o conteúdo programático das escolas era formulado de maneira a manter

as aspirações das mulheres “sob controle”. O interesse era promover a saúde, prosperidade

econômica nacional e estabilidade social e política, mas sem fomentar a emancipação

intelectual, social ou econômica das mulheres, como observado anteriormente. Para os críticos

sociais da época, o emprego das mulheres era “um mal necessário” que a vida moderna

impunha, contudo, não deveria modificar a consciência feminina e tampouco interferir em suas

tarefas domésticas.

Já Marta Silveira Peixoto em sua tese de doutorado, “A sala bem temperada – interior

moderno e sensibilidade eclética”, estuda a ambientação de interiores de casas consagradas,

produzidas entre 1930 e 1950, destacando que se trata de um período da arquitetura em que

houve o desaparecimento da fronteira entre interior e exterior, conduzindo a uma continuidade

espacial e transparência, o que se tornou um elemento importante.

Peixoto ressalta, logo no início do trabalho, que suas análises sobre as ambientações

estavam restritas aos seguintes elementos:

[...] conjunto formado pela distribuição e desenho do mobiliário, tanto dos

elementos fixos, quanto dos móveis, o projeto de iluminação, a escolha de

tecidos de cortinas e estofamentos, a determinação das cores, texturas e

materiais de revestimento das superfícies, da estrutura e das vedações e a

escolha de todos os objetos que habitam a casa.9

Essa definição e delimitação do objeto de estudo serão consideradas no presente

estudo, porém, concentrando-se em obras brasileiras desenvolvidas por profissionais mulheres

e graduadas em Arquitetura e Urbanismo.

Com relação à carência de estudos acadêmicos sobre o tema Arquitetura de Interiores,

Peixoto observa que existe “um certo preconceito” sobre esse tema, especialmente em razão

da “disputa” entre decoradores e arquitetos por espaço no mercado de trabalho. A autora

destaca:

8 Vale notar o motivo pelo qual destacamos nesse estudo o curso da Politécnica: a primeira escola de Arquitetura e

Urbanismo do Estado de São Paulo foi fundada em 1947 e teve como origem a Escola de Engenharia. 9 PEIXOTO, 2006, p. 1

11

[...] mesmo sendo uma dimensão fundamental, tanto na elaboração do projeto,

quanto para a experimentação do espaço arquitetônico, existe pouquíssimo

material organizado sobre o assunto, além de faltar a discussão crítica e

sistematizada sobre a ambientação de interiores na arquitetura moderna. Os

livros e periódicos de arquitetura pouco trazem a respeito; as publicações

específicas são voltadas para clientes, e não para o arquiteto; as escolas, há

muito tempo, aboliram de seus currículos obrigatórios qualquer referência ao

assunto; consequentemente tampouco existe material nas bibliotecas.10

Ao aprofundar-se sobre o tema de ambientação dos interiores, Peixoto menciona que os

decoradores surgiram no século XIX eram a princípio “amadores” e/ou “mulheres de boa

família” que dividiam seu bom gosto com amigos. Tais mulheres burguesas tinham a casa

como um campo de domínio feminino e suas tarefas consistiam, em síntese, em organizar e

tornar as casas mais agradáveis para seus maridos. De acordo com a autora, “apesar da

existência de uma estrutura de empregados para a execução desses serviços [domésticos], o

projeto é da dona da casa.”

A autora expõe em sua tese ao menos dois pontos polêmicos no que diz respeito aos

interiores: a questão de gênero e o fato de ser visto como algo inferior à arquitetura (o edifício).

Sobre isso, ressalta:

Mas, mesmo que esta não fosse, no século XIX, uma atividade associada ao

gosto pessoal ou à caracterização de uma personalidade, e que houvesse

critérios a seguir, os arquitetos sempre gozaram de maior prestígio e

reconhecimento, como se a arquitetura fosse um assunto sério, e a decoração

de interiores, pura futilidade.11

O estudo de Peixoto concentra-se no período entre 1930 e 1950, que foi e continua

sendo bastante estudado, analisado e publicado, mas a própria autora destaca a carência de

bibliografia específica sobre interiores dentro deste período. Todavia, muito mais carente é o

estudo sobre interiores residenciais no que diz respeito a obras Contemporâneas brasileiras

(conforme tabela 01 apresentada a seguir). Esta é justamente a lacuna que o presente trabalho

pretende auxiliar a preencher, com o propósito de contribuir com a discussão acadêmica sobre

o assunto.

Merece ainda menção a obra Gênero e Artefato de Vânia Carneiro de Carvalho (Edusp,

2008), que analisa as transformações nas casas brasileiras e seus usos entre 1870 e 1920 sob

a perspectiva do gênero, o que se mostrou muito importante para o estudo do presente

10

PEIXOTO, 2006, p. 2 11

PEIXOTO, 2006, p. 38

12

trabalho. Carvalho não aborda diretamente o tema sob a ótica da arquitetura, mas da utilização

dos espaços residenciais, o que contribuirá bastante paras as futuras análises dos ambientes

que a pesquisadora se propõe a fazer.

Após levantamento bibliográfico, realizado em abril de 2013, acerca de arquitetura de

interiores e gênero, pode-se observar que grande parte dos autores afirma não haver muito

material publicado sobre os dois temas, especialmente no Brasil.

Para investigar essa afirmação, foi realizado um levantamento no Banco de Teses da

CAPES (http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses) resumido na tabela a seguir:

Palavra-chave usada na busca: Número de

teses/dissertações:

01. arquitetura gênero 426

02. arquitetura interiores 294

03 arquiteta interiores 74

04. arquitetura perspectiva gênero 33

05. decoração gênero 33

06. interiores residenciais brasil 16

07. arquitetura interiores gênero 15

08. decoração mulher 15

09. “arquitetura de interiores”* 14

10. “interiores residenciais”* 7

11. interiores residenciais contemporâneo 5

12. arquitetura de interiores mulher 4

13. arquitetura de interiores perspectiva de gênero 4

14. interiores residenciais gênero 1

15. “interiores da casa brasileira”* 1

16. interiores residenciais contemporâneo gênero 0

Tabela 01: Resumo do levantamento no Banco de Teses no site da CAPES feito em abril de 2013.

(*) Buscado como: expressão exata.

A partir desta investigação, observa-se que, ao menos com base nos recursos de

levantamento empregados, não há registro de teses e/ou dissertações acadêmicas a respeito

do tema proposta para o presente trabalho, qual seja, arquitetura de interiores e perspectiva de

gênero.

13

Nos tópicos abaixo seguem alguns pontos desse levantamento que conduziram a esta

constatação, o que pode ser acompanhado de forma mais detalhada no blog da pesquisadora

que registra o andamento do presente estudo:

http://interioresdacasabrasileira.wordpress.com/category/levantamento/

A. Analisando os títulos dos trabalhos resultantes na busca da linha 01 (arquitetura

gênero), observou-se que, em sua maioria, tratam de outras áreas de estudos como as

Engenharias (tanto Civil, quanto Elétrica e Produção), Ciência da Computação, Biologia, Letras

(Literatura), Sociologia, entre outros. Somente dezoito trabalhos, dos 426 títulos encontrados

nessa busca, abordam o tema Arquitetura, porém, de acordo com os resumos destes estudos

disponíveis no site da CAPES, apenas cinco deste total efetivamente abordam questões de

gênero em arquitetura, sendo estes:

ANA GABRIELA GODINHO LIMA. Revendo a história da arquitetura: uma perspectiva feminista.

ANETE RÉGIS CASTRO DE ARAÚJO. Espaço Privado Moderno e Relações Sociais de Gênero em

Salvador: 1930-1949.

JOEL PEREIRA FELIPE. O arquiteto em processos participativos de produção do habitat. Origem,

formação e atuação profissional.

ROSA CRISTINA FERREIRA DE SOUZA. Representações sociais das ocupações: um estudo comparativo

entre Engenharia Civil e Arquitetura em função do gênero, em Florianópolis.

TEREZINHA DE OLIVEIRA GONZAGA. A cidade e a arquitetura também mulher: conceituando a

metodologia de planejamento urbano e dos projetos arquitetônicos do ponto de vista de gênero.

B. Como o resultado da linha 02 apontou uma grande quantidade de trabalhos (294

teses), mostrou-se necessário uma nova pesquisa restringindo por “arquitetura de interiores”

buscando apenas a expressão exata. O resultado desta nova busca identificou estudos

relacionados ao tema deste presente trabalho, chegando a catorze resultados como está

ilustrado na linha 09. Esses trabalhos são:

ANNA MARIA AFFONSO DOS SANTOS PIERONI. John Graz: o arquiteto de interiores.

AUGUSTIN DE TUGNY. Habitar é preciso: prolegômenos epistemológicos para uma arquitetura de

interiores.

BETINA TSCHIEDEL MARTAU. Iluminação Artificial em Espaços Comerciais de Lojas.

CARLOS MARCELO CAMPOS TEIXEIRA. Arquiteturas Móveis: um estudo sobre interior de aeronaves

executivas.

CAROLINE BOLLMANN. Materiais e conforto: um estudo sobre a preferência por alguns materiais de

acabamento e sua relação com o conforto percebido em interiores residenciais.

14

CRISTINA GARCIA ORTEGA BERTELLA. Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) - interlocuções

entre moderno e local.

FERNANDA PAES DE SOUZA NOGUEIRA. Processo de projeto: contribuições para a pequena empresa de

projeto de Arquitetura de Interiores.

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA CESAR. O uso e a influência das cores na Arquitetura de Interiores.

LUCIANA PAIVA DE MAGALHÃES. Hotel Design: Novos Rumos na Arquitetura Hoteleira ou Estratégica de

Marketing? O Caso de São Paulo.

MARTA SILVEIRA PEIXOTO. A sala bem temperada: Interior Moderno e Sensibilidade Eclética.

MICHELLE TAVARES DA SILVA. Projeto de Arquitetura de Interiores de lojas voltadas para o segmento

luxo: um estudo de caso da rua Oscar Freire.

REBECA RODRIGUES MURAD. Arquitetura e Design: Estudos de Caso de integração.

ROSANA MARTINEZ. Identidade visual e cultura club em São Paulo: a linguagem visual dos clubs de

música eletrônica da cidade.

VALERIA RUCHTI. Jacob Ruchti, a modernidade e a arquitetura paulista (1940-1970)"

C. Refinando a busca para o tema do presente trabalho, buscando pelas quatro

palavras-chave centrais: arquitetura de interiores perspectiva de gênero, chegou-se a apenas

quatro estudos, como mostra a linha 13 da tabela acima. Porém, nenhum dos estudos

apontados pelo Banco de Teses da CAPES abordam a questão da perspectiva de gênero

dentro da Arquitetura, como pode ser observado pelos resultados obtidos, reproduzidos abaixo:

ANGELITA ALICE JAEGER. Mulheres atletas da potencialização muscular e a construção de arquiteturas

corporais no fisiculturismo.

GUSTAVO MARTINS PICCOLO. Educação infantil: análise da manifestação social do preconceito na

atividade principal de jogo".

LÍLIAN APARECIDA VALVERDE SIQUEIRA. A Imagem de José Dias no Discurso de Dom Casmurro.

SAMUEL COSTA DA SILVA. A arquitetura da violência: o Centro de Atendimento Juvenil Especializado

(CAJE) enquanto forma singular de campo de concentração de adolescentes.

D. Ao especificar ainda mais essa busca, procurando por interiores residenciais

(conforme linha 10 da tabela) é possível notar que pouco foi publicado sobre o assunto no

Brasil:

CAROLINE BOLLMANN. Materiais e conforto: um estudo sobre a preferência por alguns materiais de

acabamento e sua relação com o conforto percebido em interiores residenciais.

DENISE ADELL DE FREITAS GUIMARÃES. A decoração nas residências de elite: a produção material e

simbólica dos espaços da casa.

GISELE MELO DE CARVALHO. Interiores Residenciais Recifenses - A Cultura Francesa na residência

burguesa do Recife no século XIX.

GLAUCO HONÓRIO TEIXEIRA. Interiores residenciais contemporâneos: transformações na atuação dos

15

designers em Belo Horizonte.

KATIA MEDEIROS DE ARAUJO. Consumo e Reconhecimento Social: A valorização do morar bem entre

novas elites do Recife.

LUIZ FERNANDO MAIA DE FIGUEIREDO. Análise crítica das recomendações do Código de Obras do

Município do Rio de Janeiro segundo a questão da iluminação natural dos interiores residenciais.

YUMARA SOUZA PESSÔA. Decoração soteropolitana na década de 70: cores, formas e representações.

E. A linha 14 da tabela 01 indica que há apenas um estudo sobre interiores

residenciais que também cita a perspectiva de gênero. Todavia, esse trabalho dedicou-se ao

período de 1952 a 1971.

MAISA FONSECA DE ALMEIDA. Revista Acrópole publica residências modernas: análise da revista

Acrópole e sua publicação de residências unifamiliares modernas entre os anos de 1952 a 1971.

F. Na pesquisa por interiores da casa brasileira, de acordo com linha 15, verificou-

se que consta apenas uma dissertação de mestrado defendida no ano de 2000, no

Departamento de Música da Universidade Federal de Goiás sobre o assunto. Mas esse estudo

aborda a ambientação da casa brasileira na década 70 do século passado:

DENISE PACHECO DE OLIVEIRA. Arquitetura e Design de Interiores no Brasil dos Anos 70: Uma

Perspectiva.

G. Desta forma, ao adicionar o recorte temporal que o presente estudo pretende

aprofundar-se, e as palavras-chave deste trabalho: interiores residenciais contemporâneos

gênero (conforme linha 16), verifica-se que há uma lacuna no debate acadêmico brasileiro

sobre tema proposto para esse doutorado, uma vez que não há registros, até abril de 2013, de

teses e/ou dissertações no Banco de Teses da CAPES.

METODOLOGIA

Foram estabelecidas as seguintes abordagens que comporão a metodologia a ser

adotada nesta pesquisa, que são tributárias da obra de Borden e Ray (Elsevier/Architectural

Press, 2009):

A. Abordagem empírica: em que os projetos e artefatos produzidos e

selecionados pelas arquitetas serão descritos de acordo com os fatos diretamente relacionados

com a sua produção, tais como: data, local, condições técnicas de construção, eventuais

colaboradores, orçamento e demais elementos que forem considerados relevantes para a

descrição fatual dos artefatos;

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B. Abordagem iconográfica ou iconológica: em que, a partir do estudo da forma

dos projetos serão pesquisadas suas possíveis referências históricas, sua pertinência a

tendências e correntes de pensamento artístico, projetual, etc.

C. História Social: essencial quando se trata de uma pesquisa feminista, esse

aspecto do método crítico/histórico atenta aos aspectos sociais como, por exemplo, o modo

como a obra ou artefato foram encomendada, quem os encomendou, e outras circunstâncias

que se julgarem relevantes na composição desse quadro.

D. Estudos interdisciplinares: em que será utilizado referências a teorias externas

ao campo específico da arquitetura, como é o caso da perspectiva de gênero. Autoras como

Sandra Harding e Guacira Lopes Louro e autores como Pierre Bourdieu e Jacques Derrida

auxiliarão na fundamentação desse trabalho. Esta etapa do estudo, em especial, será pautada

na experiência da professora orientadora Drª Ana Gabriela Godinho Lima em pesquisas

acadêmicas em estudos de gênero em arquitetura.

FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados poderão ser avaliados levando em consideração a possibilidade de

atendimento ao objetivo do presente estudo, especialmente no que se refere às seguintes

indagações:

O trabalho contribuiu para os estudos acadêmicos e reflexões sobre a atuação e prática

projetual de arquitetas no Brasil?

O trabalho contribuiu para auxiliar no preenchimento da lacuna de pesquisas

acadêmicas sobre arquitetura de interiores?

O trabalho contribuiu para o ensino de arquitetura, em especial sobre arquitetura de

interiores?

O trabalho contribuiu nos estudos acadêmicos sobre perspectiva de gênero?

O trabalho contribuiu para a disseminação dos estudos sobre o tema para um público

mais amplo?

O trabalho contribuiu para os estudos e pesquisas do Núcleo de Pesquisa ao qual está

inserido?

17

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