77
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciˆ encias Instituto de F´ ısica Armando Dias Tavares Val´ eria de Carvalho Souza T´opicos de teoria de campos com aplica¸ oes a condensados de Bose-Einstein Rio de Janeiro 2014

Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

  • Upload
    hangoc

  • View
    226

  • Download
    5

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Tecnologia e Ciencias

Instituto de Fısica Armando Dias Tavares

Valeria de Carvalho Souza

Topicos de teoria de campos com aplicacoes a condensados de

Bose-Einstein

Rio de Janeiro

2014

Page 2: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

Valeria de Carvalho Souza

Topicos de teoria de campos com aplicacoes a condensados de Bose-Einstein

Tese apresentada, como requisito parcialpara obtencao do tıtulo de Doutor, ao Pro-grama de Pos-Graduacao em Fısica, da Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Gustavo Barci

Coorientador: Prof. Dr. Cesar Augusto Linhares da Fonseca Junior

Rio de Janeiro

2014

Page 3: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/ REDE SIRIUS /CTC/D

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese, desde que citada a fonte. ___________________________________________________ ____________________________ Assinatura Data

S729 Souza, Váleria de Carvalho. Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de Bose- Einstein / Váleria de Carvalho Souza - 2014. 75 f.:il. Orientador: Daniel Gustavo Barci. Coorientador: Cesar Augusto Linhares da Fonseca Junior. Tese (Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Física Armando Dias Tavares.

1. Condensação de Bose-Einstein -Teses. 2.Teoria de campos (Física) Teses. 3. Matéria condensada - Teses. 4. Simetria quebrada (Física) - Teses. I. Barci, Daniel Gustavo. II. Fonseca Junior, César Augusto Linhares. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Física Armando Dias Tavares. IV. Título. CDU 530.145

Page 4: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

Valeria de Carvalho Souza

Topicos de teoria de campos com aplicacoes a condensados de Bose-Einstein

Tese apresentada, como requisito parcialpara obtencao do tıtulo de Doutor, ao Pro-grama de Pos-Graduacao em Fısica, da Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro.

Aprovada em 30 de Outubro de 2014.Banca Examinadora:

Prof. Dr. Daniel Gustavo Barci (Orientador)Instituto de Fısica Armando Dias Tavares – UERJ

Prof. Dr. Cesar Augusto Linhares da Fonseca Junior (Coorientador)Instituto de Fısica Armando Dias Tavares – UERJ

Prof. Dr. Santiago Esteban Perez BergliaffaInstituto de Fısica Armando Dias Tavares - UERJ

Profa. Dra. Zochil Gonzalez ArenasInstituto de Fısica Armando Dias Tavares - UERJ

Prof. Dr. Humberto Belich JuniorUniversidade Federal do Espırito Santo

Prof. Dr. Daniel Lorenzo Reyes LopesInstituto Militar de Engenharia

Prof. Dr. Paulo Sergio de Abreu BonfimUniversidade do Grande Rio

Rio de Janeiro

2014

Page 5: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus por me conseder forcas e disposicao para enfrentar os

obstaculos.

Ao meu orientador Daniel G. Barci, que acreditou que eu era capaz de desenvolver

o projeto que ele propos, e que me manteve motivada para trilhar no caminho da fısica

teorica, e por quem eu tenho uma imensa admiracao.

Ao meu co-orientador Cesar Linhares, pela paciencia pelos valiosos ensinamentos

e ajuda nos momentos difıcies.

Ao professor Rudnei Ramos, pelo entusiasmo, incentivo e pela enorme contribuicao

na minha formacao como pesquisadora.

Aos professores Nilson Antunes e Ivan da Cunha Lima, que me fizeram dar os

primeiros passos na ciencia. Foram de grande importancia na minha formacao academica

e influenciaram desicivamente a minha carreira.

A todos os professores do instituto de fısica da UERJ, que de alguma forma cola-

boraram para a realizacao desta tese, mas em especial cito: Roberto Mahon, Vitor Oguri,

Marcelo Chiapparini, Wagner, Luiz Fernando, Marcelo Guimaraes, Jose Soares, Armando

Dias Tavares, Miriam Bracco, Marcia Begali, Zochil Gonzales.

A todos os amigos e funcionarios da pos graduacao e graduacao.

Finalmente, a CAPES e FAPERJ pelo apoio financeiro.

Page 6: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

O trabalho bem sucedido em fısica, como em outras profissoes, requer vocacao,

dedicacao aos estudos de forma intensa e contınua representando isso uma satisfacao e

nao um sacrifıcio. Para vencer as dificuldades que aparecem no trabalho de pesquisa, e

importante ter uma atitude otimista, e muita perseveranca.

Belita Koiller

Page 7: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

RESUMO

SOUZA, V. C.. Topicos de teoria de campos com aplicacoes a condensados deBose-Einstein. 2014. 75 f. Tese (Doutorado em Fısica) – Instituto de Fısica ArmandoDias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

A tese de doutorado apresenta uma aplicacao de tecnicas de teoria de camposem um sistema da materia condensada. Motivados por experimentos em gases atomicos,apresentamos um estudo sobre misturas binarias de gases atomicos na presenca de umainteracao do tipo Josephson. O foco principal e o estudo de um modelo de dois camposcomplexos nao-relativisticos com simetria O(2). Esta simetria e quebrada por interacoesque produzem um desbalanco nas populacoes das duas especies bosonicas. Estudamos omodelo na aproximacao de campo medio mais flutuacoes gaussianas, usando o formalismode teoria de campos a temperatura finita em tempo imaginario. Os resultados mostramque, num certo intervalo de temperaturas, as duas especies bosonicas condensam a mesmatemperatura crıtica e a fase relativa do condensado e fixa, determinada pela fase do campoexterno aplicado.

Palavras-chave: Condensacao de Bose-Einstein. Teoria de campos (Fısica). Materia

condensada. Simetria quebrada (Fısica).

Page 8: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

ABSTRACT

SOUZA, V. C.. Topics of field theory with applications in Bose-Einstein condensates.2014. 75 f. Tese (Doutorado em Fısica) – Instituto de Fısica Armando Dias Tavares,Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

The thesis apresents an applications of field theory techniques in a condensed mat-ter system. Motivated by experiments in atomic gases, we present a study of binarymixture of atomic gases in the presence of an interaction type Josephson. The main focusis the study of a model of two complex fields with non-relativistic symmetry O(2). Thissymmetry is broken by interactions that produce an inbalance in the populations of thetwo species bosonic. We study the model in the mean-field approximattion more gaussianfluctuations, using the formalism of field theory at finite temperature in imaginary time.The results show that in a certain temperature range, the two bosonic species condensethe same critical temperature and the ralative phase of the condensate is fixed and deter-mined by the applied external field phase.

Keywords: Bose-Einstein condensates. Field theory (Physics). Condensed matter.

Broken symmetry (Physics).

Page 9: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

LISTA DE ILUSTRACOES

Figura 1 - Potencial efetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Figura 2 - Relacao entre as duas especies de condensados. . . . . . . . . . . . . . 55

Figura 3 - Fracao condensada ρφ e ρψ como uma funcao da temperatura adimen-

sional T no limite | ν | /ΩR < 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Figura 4 - Fracao condensada ρφ e ρψ como uma funcao da temperatura adimen-

sional T no limite ΩR/ | ν |< 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Page 10: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

TQC Teoria quantica de campos

CBE Condensado de Bose-Einstein

EGP Equacao de Gross-Pitaeviskii

GR Grupo de renormalizacao

DCT Dinamica de campos termicos

Page 11: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

LISTA DE SIMBOLOS

µ potencial quımico

ΩR frequencia de Rabi

Ωeff frequencia efetiva de Rabi

| ν | desintonia

Ueff potencial efetivo

Page 12: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

SUMARIO

INTRODUCAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1 QUANTIZACAO DE CAMPOS ESCALARES . . . . . . . . . . . 14

1.1 Amplitude de carrelacao para campos bosonicos . . . . . . . . . . . 15

1.2 Funcional gerador para campos bosonicos . . . . . . . . . . . . . . . 18

1.2.1 Teoria escalar livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.2.2 Teoria escalar interagente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1.3 Acao efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.3.1 O potencial efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

1.3.2 O potencial efetivo a um laco para teoria escalar interagente . . . . . . . . 28

2 TEORIA QUANTICA DE CAMPOS A TEMPERATURA FI-

NITA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

2.1 Formalismo de tempo imaginario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

2.2 Potencial efetivo a temperatura finita . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.3 Transicao de fase e restauracao de simetria . . . . . . . . . . . . . . 41

2.4 Condensacao de Bose-Einstein . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3 POTENCIAL EFETIVO PARA MISTURAS BINARIAS . . . . 49

3.1 Teoria quantica de campos para misturas binarias bosonicas com

acoplamento Josephson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.2 Modelo O(2) com anisotropia Josephson . . . . . . . . . . . . . . . . 51

3.3 Teoria de campo medio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

3.4 Efeitos de flutuacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3.5 Avaliacao numerica das densidades dos condensados . . . . . . . . 61

CONCLUSAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

REFERENCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

APENDICE A – Regularizacao dimensional do potencial efetivo a um

laco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Page 13: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

11

INTRODUCAO

Nos ultimos anos, a fısica da Materia Condensada ampliou substancialmente seus

horizontes muito alem de suas fronteiras tradicionais. Isto e mais evidente nas pesquisas

sobre materiais em escalas nano-metricas. Alguns sistemas, aparentemente sem relacao en-

tre si, como heteroestruturas de semicondutores, moleculas organicas e biologicas, micro-

cavidades e cristais fotonicos com gap de banda, dispositivos de um unico eletron, nano-

tubos de carbono e grafeno, estao no foco atual da atividade de pesquisa. Muitos destes

novos materiais estao se tornando importantes em termos de possıveis aplicacoes industri-

ais. Por outro lado, fenomenos fısicos como a supercondutividade (SRIVASTAVA, 2003),

o efeito Hall quantico (STONE, 1992) e a condensacao de Bose-Einstein (GRIFFIN, 1996),

estao sendo atualmente pesquisados nestes novos materiais. Desta forma, novos experi-

mentos e tecnicas teoricas estao sendo aplicadas a novos e desafiantes sistemas. Dentro

destas tecnicas, a “Teoria Quantica de Campos (TQC)”, inicialmente formulada para o

tratamento de problemas da fısica de altas energias, encontra, ha varios anos, terreno fertil

para aplicacoes em sistemas da Materia Condensada e Mecanica Estatıstica (FRADKIN,

2013; TSVELIK, 1995). O sucesso destas aplicacoes e notorio; como exemplos consagrados

e suficiente mencionar a supercondutividade BCS e o comportamento crıtico do modelo

de Ising em tres dimensoes. Recentemente, varios resultados nao menos importantes tem

sido obtidos atraves de aplicacoes de metodos de TQC em sistemas de natureza similar,

em particular, nos assim chamamos “sistemas de baixa dimensionalidade”, como os gases

bidimensionais de eletrons que apresentam efeito Hall quantico, efeito Kondo, sistemas

antiferromagneticos quanticos, supercondutores de alta temperatura critica, nanotubos

de carbono. A TQC e especialmente indicada quando os sistemas de estudo apresentam

correlacoes fortes e as aproximacoes habituais de um corpo (por exemplo, “tight-binding”

e as tecnicas de Hartree e Hartree-Fock) estao no limite da sua aplicabilidade. Exem-

plos destes compostos sao os ja mencionados “cupratos supercondutores”, mas tambem

os sistemas de fermions pesados como os “rutenatos” entre outros. Podemos citar ainda

elementos como o 3He e 4He em condicoes extremas de temperatura e pressao, os quais

se encontram nesta categoria. A aplicacao de tecnicas de TQC em sistemas da Materia

Condensada fornece informacao relevante sobre propriedades termodinamicas e de trans-

porte tanto em equilıbrio quanto fora do equilıbrio termodinamico. Geralmente, a TQC

e usada para construir modelos que exploram a fısica de baixas energias e comprimentos

de correlacao grandes. Isto se torna especialmente importante num regime perto de uma

transicao de fase, tanto classica como quantica onde as tecnicas perturbativas usuais nao

podem ser aplicadas.

Dentro deste contexto esta tese e dedicada ao estudo de alguns aspectos de gases

bosonicos, aplicando a tecnica de teoria de campos conhecida como potencial efetivo a

Page 14: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

12

temperatura finita. A ideia basica e que a temperaturas muito baixas, tanto as flutuacoes

quanticas como as termicas sao relevantes, entao, elas tem que ser tratadas simulta-

neamente. A teoria de campos a temperatura e densidade finita formulada em tempo

imaginario e uma tecnica que permite lidar com estes dois tipos de flutuacoes de forma

muito eficiente. Em particular decidimos estudar gases bosonicos interagentes a tempera-

turas muito baixas. Estes sistemas sao muito interessantes devido a riqueza de fases que

apresentam (WILL, 2013). A pesquisa basica nesta area tem crescido muito nos ultimos

anos (SOLTAN-PANAHI. et al., 2011).

Devido a capacidade de aprisionamento optico a temperaturas extremamente bai-

xas, e possıvel estudar uma grande variedades de fenomenos em sistemas compostos de

misturas bosonicas (ANDREWS. et al., 1997; GADWAY, 2010) como tambem fermionicas

(ISKIN, 2011). Importantes efeitos quanticos, como condensacao de Bose-Einstein e su-

percondutividade podem agora ser estudadas de forma controlada em sistema de multiplos

componentes atomicos. Experiencias interessantes com fluıdos quanticos mistos tem sido

feitas com atomos de 87Rb em dois estados hiperfinos diferentes (MYATT. et al., 1997;

HALL. et al., 1998; LIN, 2011). Estes estados podem ser induzidos por um feixe de laser

cuja frequencia possui uma pequena defasagem em relacao a diferenca de energia entre

os nıveis de dois estados hiperfinos. Desse modo e possıvel a transferencia de um estado

hiperfino para o outro produzindo uma interacao do tipo Josephson.

Em geral, uma interacao do tipo Josephson envolve interacoes de um grande

numero de graus de liberdade bosonicos que podem ocupar dois estados quanticos di-

ferentes. Apesar de ter sido originalmente proposto em sistemas supercondutores ( JO-

SEPHSON, 1962) onde os bosons sao os pares de Cooper, existem muitos outros sistemas,

onde estes efeitos aparecem. Uma analise detalhada de diferentes sistemas fısicos que

apresentam interacoes Josephson pode ser encontradas na referencia (BARONE, 2000).

Existem dois tipos de efeito Josephson (LEGGET, 2001): o chamado ”externo”, onde

os dois estados hiperfinos sao separados espacialmente, como por exemplo, em um CBE

preso em um poco duplo (ALBIEZ. et al., 2005; PAPP, 2008; GATI, 2007; LEVY. et al.,

2007) e o ”interno”, onde os dois estados quanticos bosonicos se interpenetram sem qual-

quer distincao geometrica. Um exemplo deste caso sao os experimentos com atomos de

rubıdio citados anteriormente (HALL. et al., 1998). Na presente tese, estamos interessados

principalmente neste ultimo caso.

Propriedades estaticas e dinamicas de misturas binarias bosonicas em diferentes ar-

madilhas geometricas foram estudadas teoricamente, utilizando essencialmente a equacao

de Gross-Pitaeviskii (EGP) (SMERZI, et al., 1997; RAGHAVAN, 1999; SALERNO, 2005).

A EGP, nada mais e que uma equacao de campo medio. Porem, para estudar as pro-

priedades de condensados uniformes, especialmente aquelas questoes relacionadas com as

flutuacoes, como restauracao de simetria, e reentrancias de fase, e mais conveniente re-

alizar o estudo atraves da teoria quantica de campos a densidade e temperatura finita

Page 15: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

13

(RAMOS, 2001; PINTO, 2005; PINTO, 2006; CHIEN, 2012). Modelos relacionados com

simetria O(N) tem sido extensivamente estudados, usando aproximacao de N grande e

grupo de renormalizacao (GR) (MOSHE, 2003; CHIEN, 2012). Estes modelos descrevem

sistemas de varias componentes, que conservam o numero de partıculas de cada uma das

especies.

Motivados por esses resultados, decidimos abordar o efeito da interacao Joseph-

son em misturas bosonicas uniformes, que em geral quebrao a conservacao do numero

de partıculas de cada especies, permanecendo apenas a conservacao total de partıculas

(ZIBOLD, 2010; ZAPATA, 1998). Para fazer isso, sera considerado por simplicidade o

modelo O(2), e em seguida sera perturbado com uma interacao Josephson. Este modelo e

analisado atraves da aproximacao de campo medio, mais flutuacoes gaussianas. Observa-

se que, num regime de temperatura bem definida, as duas especies de atomos condensam

a uma mesma temperatura crıtica Tc sendo que a fase relativa e determinada pela fase

de um parametro ν que mede a defasagem de frequencias entre o laser e a diferenca de

energia entre os estados (”detuning”).

A tese esta estruturada da seguinte forma. No capıtulo 2, fazemos uma introducao

a quantizacao de campos escalares dando enfase a tecnica de integral funcional e no

potencial efetivo. No seguinte capıtulo 3, descrevemos a teoria quantica de campos a

temperatura finita, extendendo o estudo do potencial efetivo na presenca de temperatura.

O capıtulo 4 contem a contribuicao original da tese (SOUZA, 2014), e trata do estudo

de misturas binarias de bosons na presenca de interacoes tipo Josephson. Neste capıtulo

sao utilizadas as tecnicas descritas nos dois capıtulos anteriores. Finalmente discutimos

nossos resultados nas conclusoes

Page 16: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

14

1 QUANTIZACAO DE CAMPOS ESCALARES

Iniciaremos este capıtulo fazendo uma pequena abordagem da mecanica quantica

(MQ) e da teoria quantica de campos (TQC). A teoria quantica de campos foi desen-

volvida inicialmente para sistemas quanticos relativısticos, porem, nos ultimos anos, os

fısicos da materia condensada tambem sucumbiram aos seus encantos, usando as potentes

ferramentas de calculo fornecidas por ela. A TQC e o melhor formalismo matematico que

temos em maos envolvendo processos de criacao e destruicao de partıculas (SVAITER,

2009).

Para fornecer um melhor entendimento do desenvolvimento proposto na tese, neste

capıtulo faremos uma revisao dos metodos de quantizacao para campos bosonicos e da

construcao do formalismo da integral funcional. Apresentaremos tambem o metodo do

potencial efetivo, uma maneira sistematica para testar a possıvel ocorrencia de quebra

espontanea de simetrias. Dessa forma, apresentamos as bases para trabalhar, posterior-

mente, a temperatura finita.

Entre os diferentes metodos de quantizacao de campos classicos que foram propos-

tos ao longo dos anos, chamaremos a atencao de dois deles: a quantizacao canonica (ou

segunda quantizacao) e, alternativamente, a quantizacao funcional (ou metodo de integrais

funcionais). O metodo de quantizacao canonica e o mais antigo e tem as vantagens de ser

muito intuitivo e de que somente os modos fısicos sao quantizados, manifestando-se assim

a unitariedade do sistema. Porem, a quantizacao funcional parece ser o mais utilizado

pela maioria dos teoricos das partıculas elementares hoje em dia. Este metodo funcional

e o mais adequado para a descricao de fenomenos nao perturbativos, como tunelamento,

instantons, teorias de gauge na rede, etc. Para teorias de gauge, sao particularmente

indispensaveis. E talvez o mais elegante e poderoso de todos os metodos de quantizacao

disponıveis, que se baseia em principios simples:

1. estabelece as simetrias da teoria diretamente;

2. explora a topologia do campo;

3. isola variaveis dinamicas relevantes;

4. e o mais importante, pode facilmente incorporar e descrever os efeitos da tempera-

tura diferente de zero.

De qualquer forma, existe um consenso entre os dois metodos. O metodo funcional conduz

aos mesmos resultados obtidos atraves da quantizacao canonica e ambas formulacoes da

teoria quantica de campos sao equivalentes.

Page 17: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

15

1.1 Amplitude de carrelacao para campos bosonicos

Iniciaremos esta secao lembrando que em mecanica quantica, trabalha-se no espaco

de posicao x(t) e no espaco de momento p = ∂L/∂x. Em teoria quantica de campos,

trabalhamos com campos φ(x, t) e momentos conjugados π(x, t) = ∂L/∂φ(x, t). Em

teoria quantica de campos, φ(x, t) e uma funcao que desempenha um papel analogo a

x(t) e descreve um numero infinito de graus de liberdade, uma vez que, em cada instante

de tempo, φ tem um valor independente em cada ponto do espaco.

No formalismo canonico, φ(x, t) e π(x, t) transformam-se em operadores. Sendo as-

sim, comecaremos determinando o operador de campo na descricao de Heisenberg φ(x, 0),

no instante de tempo t = 0, e o operador momento conjugado π(x, 0). O autoestado | φ〉do operador de campo satisfaz a equacao de autovalores φ(x, 0) | φ〉 = φ(x) | φ〉, onde

φ(x) e o autovalor de φ, e cumpre tambem as seguintes condicoes de completeza e orto-

gonalidade,∫dφ(x) | φ〉〈φ | = 1,

〈φa | φb〉 = δ [φa(x)− φb(x)] . (1)

Analogamente, o autoestado do operador de momento conjugado e representado por | π〉 e

satisfaz π(x, 0) | π〉 = π(x) | π〉, assim como as condicoes de completeza e ortogonalidade,∫dπ(x)

2π| π〉〈π | = 1

〈πa | πb〉 = δ [πa(x)− πb(x)] . (2)

Na mecanica quantica, a superposicao entre um autoestado do operador posicao e um

autoestado do operador momento e descrito pela expressao 〈x | p〉 = exp[i(p.x)]. De

forma analoga, em teoria de campos, temos a superposicao

〈φ | π〉 = exp

(i

∫d3x (π(x)φ(x))

), (3)

como uma generalizacao natural ao passar de um numero finito de graus de liberdade (N)

na mecanica quantica para um numero continuamente infinito de graus de liberdade na

teoria quantica de campos, fazendo∑N

i=1 pixi −→∫d3x (π(x)φ(x)).

Um outro conceito importante a ser lembrado sao as relacoes de comutacao canonica

entre campos e momentos conjugados, ou seja, as relacoes fundamentais de comutacao,

Page 18: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

16

as quais Paul Dirac1 chamou de condicoes quanticas fundamentais (SAKURAI, 1994).

[φ(x, t), π(x′, t)] = iδ(x− x′) (4)

A quantizacao canonica e baseada na algebra de operadores e nas equacoes de

movimento. Nestas condicoes, e preciso escrever um hamiltoniano como um funcional do

campo e do momento conjugado, pois este carrega toda a informacao sobre a situacao

dinamica do sistema

H =

∫d3xH(φ, π). (5)

Aqui, e importante ressaltar que o nosso principal objetivo nesta secao e obter

a expressao da amplitude de correlacao do operador de campo para chegar a integral

funcional. A amplitude de correlacao vai nos indicar o grau de semelhanca entre dois

estados diferentes do sistema. Vamos supor a partir de agora que um dado sistema esta em

um estado inicial | φ0〉 no instante de tempo t = 0. A evolucao temporal deste estado sera

obtida aplicando o operador de evolucao temporal U , tambem conhecido como operador

de Dyson, que levara o estado inicial | φ0〉 para um estado e−iH(tf ) | φ0〉, no instante de

tempo tf . Portanto, a expressao da amplitude de correlacao, para ir do estado | φ0〉 para

um outro estado | φf〉 depois de um tempo tf , sera 〈φ0 | e−iHtf | φ0〉.Para fins estatısticos e preciso considerarmos a situacao em que o sistema volta

para o estado inicial depois de um tempo tf . Um meio pratico para avaliar esta amplitude

consiste em dividirmos o intervalo de tempo [t, tf ] em N subintervalos iguais de duracao

4t = t − tf/(N + 1). Em cada intervalo de tempo vamos inserir um conjunto completo

de autoestados do operador de campo e levando em consideracao as expressoes (1) a (3),

obtemos

〈φ0 | e−iHtf | φ0〉 = limN→∞

∫ [ N∏i=1

dπidφi/2π

]× 〈φ0 | πN〉〈πN | e−iH4t | φN〉〈φN | πN−1〉

× 〈φN−1 | e−iH4t | φN−1〉 × · · ·

× 〈φ2 | π1〉〈π1 | e−iHt | φ1〉〈φ1 | π0〉. (6)

1 Paul Maurice Dirac, e um dos fundadores da mecanica quantica. O formalismo matematico desenvol-vido por ele consiste principalmente de uma algebra nao-comutativa para calcular propriedades dosatomos. Dirac desenvolveu uma teoria relativıstica para os eletrons, previu a descoberta do positronem 1928, e fez importantes contribuicoes para a teoria quantica de campos. Ele recebeu o premioNobel em 1933 (GREINNER, 1998).

Page 19: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

17

Das condicoes de completeza e ortogonalidade, podemos escrever

〈φ1 | φ0〉 = δ(φ1 − φ0)

〈φi+1 | πi〉 = exp

[i

∫d3x (πi(x)φi+1(x))

]. (7)

Desde que o limite 4t→ 0, podemos expandir ate o termo de primeira ordem

〈πi | e−iH4t | φi〉 ' 〈πi |(

1− iH4t)| φi〉

= 〈πi | φi〉(

1− iHi4t)

=(

1− iH4t)

exp

[−i∫d3x (πi(x)φi(x))

], (8)

onde Hi =∫d3xH (πi(x)φi(x)). Agora, juntando os ultimos passos,

〈φ0 | e−iHtf | φ0〉 = limN→∞

∫ [ N∏i=1

dπidφi/2π

]δ (φ1 − φ0)

× exp

−i4t

N∑i=1

∫d3x [H(πi, φi)− πi(φi+1 − φi)/4t]

, (9)

com φN+1 = φ0. A vantagem em alternar a insercao de um conjunto completo de autoes-

tados de φ e π e que, dessa forma, o hamiltoniano e avaliado em um unico tempo.

Tomando o limite contınuo na Eq. (9) e fazendo 4t → 0, chegamos finalmente

na expressao mais importante desta secao, a expressao da amplitude de correlacao para

bosons como uma integral funcional,

〈φ0 | e−iHtf | φ0〉 =

∫[dπ]

∫ φ(x,tf )=φ0(x)

φ(x,0)=φ0(x)

[dφ]

× exp

[i

∫ tf

0

dt

∫d3x

(π(x, t)

∂φ(x, t)

∂t−H (π(x, t), φ(x, t))

)]. (10)

Os sımbolos [dφ] e [dπ] definem a medida de integracao funcional e H e a densi-

dade hamiltoniana do sistema. A primeira integral, ou seja, em π nao e restrita, mas a

integracao ao longo de φ, e tal que o campo comeca em φ0(x) em um instante de tempo

t = 0 e termina em φ0(x) no instante de tempo t = tf . Note-se que com este desenvolvi-

mento temos chegado a uma expressao contendo apenas funcoes definidas no espaco de

fases (campos classicos) e nao mais operadores. Assim, passamos da formulacao canonica

a formulacao funcional, que usa outra linguagem e diferentes ferramentas matematicas.

Page 20: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

18

1.2 Funcional gerador para campos bosonicos

Nosso objetivo nesta secao e a obtencao do funcional gerador das funcoes de cor-

relacao. O funcional gerador se define a partir da amplitude de correlacao (Eq. (10))

quando o tempo inicial t→ −∞ e o final tf →∞, i.e., a amplitude de correlacao vacuo

a vacuo, em presenca de uma fonte externa J . Dessa forma, temos que

Z[J ] = 〈0,+∞ | 0,−∞〉J . (11)

O termo de fonte J serve para tirar o sistema do vacuo. Sendo assim, pode-se afirmar

que quando nao ha fontes, o sistema estara sempre no estado de vacuo.

No caso que a densidade hamiltoniana H seja uma funcao quadratica do momento,

a integral em π na expressao (10) e Gaussiana e pode, consequentemente, ser integrada.

Dessa forma, podemos definir o funcional gerador como sendo (RYDER, 1985),

Z[J ] =

∫Dφ ei

∫d4x[L(φ)+J(x)φ(x)] (12)

∝ 〈0,+∞ | 0,−∞〉J ,

onde L e a lagrangeana do sistema. Temos definido assim a integral funcional, ou de

trajetorias, que e o formalismo que vamos usar ao longo da tese. Escrever a teoria em

funcao de campos classicos e nao mais de operadores permite-nos fazer um tratamento

mais intuitivo, porem, a dificuldade esta agora em resolver a integral funcional.

Uma vez definido o funcional gerador, as funcoes de correlacao sao calculadas

atraves das derivadas funcionais de Z[J ]. Temos entao que

G(x1, ..., xn) = 〈0 | T (φ(x1)...φ(xn)) | 0〉 =1

in1

Z[0]

δnZ0[J ]

δJ(x1)...δJ(xn)

∣∣∣J=0

. (13)

Z[0] e a constante de normalizacao, que resulta de colocar J = 0 na Eq. (10).

Podemos estabelecer portanto, que o valor esperado do vacuo do produto de or-

denamento temporal e chamado de funcao de Green ou funcao de correlacao de n pontos

da teoria, que pode ser calculada a partir do funcional gerador Z[J ] usando a expressao

anterior, (Eq. (13)).

Vamos considerar a continuacao de uma teoria de campo escalar bosonico rela-

tivıstica que satisfaz a equacao de Klein-Gordon, de modo a ilustrar com um exemplo o

formalismo ate aqui desenvolvido.

Page 21: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

19

1.2.1 Teoria escalar livre

Consideremos a lagrangeana de Klein-Gordon para um campo escalar livre rela-

tivıstico, no espaco de Minkowski,

L =1

2(∂µφ) (∂µφ)− m2

2φ2, (14)

onde µ = 0, 1, 2, 3 e assumimos o tensor metrico gµ,ν = gµ,ν = 1,−1,−1,−1 (PESKIN,

1995). Substituindo (14) na expressao geral do funcional gerador, Eq. (13), obtemos,

Z0[J ] =

∫Dφei

∫d4x[ 1

2(∂µφ)(∂µφ)− 1

2m2φ2+J(x)φ(x)]. (15)

Vamos usar a notacao Z0 para designar a teoria livre. Desenvolvendo o primeiro termo

na lagrangeana, Eq. (14), temos que,∫d4x(∂µφ)(∂µφ) =

∫d4x∂µ(φ∂µφ)−

∫d4xφ∂µ∂

µφ

=

∫S

(φ∂µφ) dS −∫d4xφ∂µ∂

µφ, (16)

onde ∂µ∂µ e o operador de D’Alembert. Na expressao acima, o termo de superfıcie vai

desaparecer quando o campo φ→ 0 no infinito. Portanto, a equacao (16) fica estabelecida

da seguinte forma,∫d4x (∂µφ) (∂µφ) = −

∫d4xφ∂µ∂

µφ (17)

e, consequentemente, o funcional gerador e

Z0[J ] =

∫Dφe−i

∫d4x[ 1

2φ(∂µ∂µ+m2)φ−Jφ]. (18)

Uma vez que a lagrangeana e quadratica em φ, a integral funcional e gaussiana

e pode ser resolvida exatamente. Sendo assim, obtemos para o funcional gerador (DAS,

1997; LE BELLAC, 1996),

Z0[J ] = N exp

[− i

2

∫d4xd4yJ(x)4F (x− y)J(y)

], (19)

onde, 4F (x− y) e definido segundo

(∂µ∂

µ +m2)4F (x− y) = −δ4(x− y) (20)

e a constante de normalizacao N = det ((∂µ∂µ)2 +m2)

−1/2.

Page 22: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

20

Este funcional gerador vai ser utilizado para gerar as funcoes de Green, ou seja, o

valor esperado do vacuo do produto de ordenamento temporal dos operadores de campos,

na linguagem de quantizacao canonica, da seguinte forma

〈Tφ(x)φ(y)〉 =δlnZ0

δJ(x)δJ(y)

∣∣∣J=0

= 4F (x− y). (21)

4F (x− y) e conhecido como o propagador de Feynman. Para encontrarmos a sua repre-

sentacao e preciso achar a solucao da Eq. (20). Para isso, vamos passar para o espaco de

momento, pois o desenvolvimento e mais facil. Sendo assim, a transformada de Fourier

4F (k) de 4F (x) e dada por

4F (x) =

∫d4ke−ikx4F (k), (22)

onde kx = k0x0 − k.x. Substituindo agora na equacao (20) e usando a representacao da

funcao delta no espaco de Fourier, temos(∂µ∂

µ +m2)4F (x) =

∫d4k

(∂µ∂

µ +m2)e−ikx4F (k)

= −∫

d4k

(2π)4e−ikx = −δ4(x). (23)

Desenvolvemos (∂µ∂µ) e−ikx = (−k2

0 + k2) e−ikx = −k2e−ikx, onde k2 = k20 − k2, de modo

que

(∂µ∂

µ +m2)e−ikx = −

(k2 −m2

)e−ikx. (24)

Igualando agora os integrandos em (23),

−(k2 −m2

)e−ikx4(k) = − 1

(2π)4e−ikx, (25)

temos que, no espaco de momento, o propagador de Feynman e dado por

4F (k) =1

(2π)4

1

k2 −m2. (26)

Portanto, voltando para o espaco de configuracoes, temos que

4F (x) =

∫d4k

(2π)4

e−ikx

k2 −m2 + iε. (27)

Esta integral tem polos em k0 = ±√

k2 +m2 = ±wk, (ε → 0). Note-se que temos

introduzido no denominador o termo iε, que determina o caminho de integracao em torno

dos polos. Esta maneira de contornar os polos e conhecida como prescricao de Feynman.

Page 23: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

21

Uma outra maneira de calcular esta integral e trabalhar no espaco euclideano.

Para isso, e feito um giro no eixo do tempo atraves de um angulo δ = π/2. Neste caso,

podemos escrever a variavel tempo como sendo t→ e−iδτ = −iτ e tomando τ → ±∞. O

tempo euclideano e o espaco euclideanos ficam entao,

x4 = it = ix0, (tempo euclideano)

ds2 = (dx0)2 − (dx1)2 − (dx2)2 − (dx3)2 = −4∑

µ=1

(dxµ)2E

4∑µ=1

(dxµ)2E = (dx1)2 + (dx2)2 + (dx3)2 + (dx4)2 (28)

Definimos tambem

k4 = −ik0 ⇒ k2 = k20 − k2 → −(k2

4 + k4) = −(k21 + k2

2 + k23 + k2

4) = −k2E (29)

e

d4kE = dk4d3k = −id4k (30)

Finalmente, no espaco euclideano o propagador de Feynman fica

4F (x) = −i∫d4kE(2π)

1

k2E +m2

. (31)

Dessa maneira, nao tem nenhuma indeterminacao, uma vez que os polos nao estao mais

no eixo real, mas em k4 = ±i√

k2 +m2 = ±iwk.No espaco euclideano, o funcional gerador Z0[J ], Eq. (15), torna-se (utilizando:

d4x→ −id4xE e (∂µφ)2 → −(∂µEφ)2)

Z0[J ]→ Z0E [J ] =

∫Dφe−

∫d4xE 1

2[(∂µEφ)2+m2φ2]−φJ. (32)

1.2.2 Teoria escalar interagente

Na subsecao anterior foi feito um desenvolvimento para quantizar campos livres e

chegamos a expressao para calcularmos as funcoes de Green para uma teoria de campo

escalar livre. No entanto, a maioria dos processos fısicos reais apresentao interacoes entre

os seus campos. Iniciaremos esta secao, entao, com a proposta de passar de uma teoria

de campo escalar livre (Klein-Gordon) para uma teoria de campos escalares com auto-

interacao. Tais condicoes sao obtidas ao escrever potencias superiores de φ descrevendo as

auto-interacoes ou produtos que envolvam diferentes tipos de campos. Em teoria classica,

Page 24: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

22

isto conduz a uma equacao de campo nao linear ou sistemas acoplados de equacoes de

campos que sao difıceis de solucionar. Por outro lado, em teoria quantica de campos inte-

ragentes nos deparamos com problemas ainda maiores. Podemos citar como exemplo, as

flutuacoes quanticas que induzem misturas complicadas de diferentes tipos de partıculas.

Vamos comecar escrevendo a lagrangeana de uma teoria com interacoes com duas

componentes, a lagrangeana da teoria livre mais a componente da interacao. Vamos usar

como exemplo uma teoria λφ4,

LT = L0 + Li=

1

2(∂µφ) (∂µφ)− 1

2m2φ2 − λ

4!φ4 (33)

onde L0 e a lagrangeana de Klein-Gordon para campos escalares livres, estudada na

secao anterior, e Li = − λ4!φ4 e a componente de interacao, sendo λ uma constante de

acoplamento adimensional.

Nestas condicoes, o funcional gerador se escreve

Z[J ] =

∫Dφ exp

i

∫d4x [LT (φ) + J(x)φ(x)]

. (34)

Consideraremos que λ e muito pequeno (λ 1). Consequentemente, podemos

fazer uma expansao na equacao do funcional gerador, chegando a expressao

exp

[i

∫d4x (LT + Jφ)

]= exp

[i

∫d4xLi

]exp

[i

∫d4x (L0 + Jφ)

]=

(1− i

∫d4x

λ

4!φ4 + ...

)ei∫d4x(L0+Jφ). (35)

Convenientemente, vamos substituir o campo φ pelo operador 1i

δδJ(x)

, e reescrevemos a

equacao (35) como,

exp

[i

∫d4x (LT + Jφ)

]=

[1− i

∫d4x

λ

4!

(1

i

δ

δJ(x)

)4

+ ...

]exp

[i

∫d4x (L0 + Jφ)

].

(36)

Nestas condicoes, o funcional gerador Z[J ] fica,

Z[J ] =

∫Dφ exp

i

∫d4x [LT + Jφ]

=

[1− i

∫d4x

λ

4!

(1

i

δ

δJ(x)

)4

+ ...

]∫Dφ exp

i

∫d4x [L0 + Jφ]

=

[1− i

∫d4x

λ

4!

(1

i

δ

δJ(x)

)4

+ ...

]Z0[J ]. (37)

Page 25: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

23

Re-exponenciando a serie de Taylor,

Z[J ] = e−i∫d4x λ

4!(1i

δδJ(x))

4

Z0[J ]. (38)

1.3 Acao efetiva

A acao efetiva e uma importante ferramenta na teoria quantica de campos, sendo

um funcional que depende do campo e que constitui um analogo da acao na mecanica

classica. Na mecanica classica, as equacoes de movimento sao obtidas a partir da acao

usando o princıpio variacional. Na TQC, exigindo que a acao efetiva seja estacionaria,

podem-se derivar as equacoes de movimento para os valores esperados do vacuo quantico.

A acao efetiva pode ser tomada como ponto de partida para a discussao de efeitos nao

perturbativos como a quebra espontanea de simetria (GREINER, 1996).

Definimos o potencial W [J ] da seguinte forma,

Z[J ] = exp iW [J ] −→ W [J ] = −i lnZ[J ]. (39)

Na linguagem da teoria de perturbacoes, o funcional W [J ] e conhecido como o funcional

gerador das funcoes de Green conectadas. E simples ver que, analogamente a Eq. (13),

podemos escrever,

G(n)c (x1...xn) = 〈0 | T [φ(x1)...φ(xn)] | 0〉c = (−i)n−1 δnW [J ]

δJ(x1)...δJ(xn)

∣∣∣J=0

, (40)

onde G(n)c e a funcao de Green de n pontos conectada (sem os diagramas de vacuo).

Alternativamente, fazendo a expansao funcional em potencias de J , temos,

W [J ] = (−i)n−1

∞∑n=0

1

n!

∫d4x1...d

4xnJ(x1)...J(xn)G(n)c (x1...xn). (41)

Usando a definicao da funcao de correlacao, Eq. (13), e as equacoes anteriores,

podemos obter, agora em termos do funcional W [J ] e apenas para um campo φ(x), a

funcao de um ponto conectada,

δ

δJ(x)(−i lnZ[J ]) =

δW

δJ(x)= 〈0 | φ(x) | 0〉J = φ(x), (42)

onde φ(x) e o campo classico e representa o valor esperado do vacuo na presenca de

uma fonte J(x). Na equacao acima, pode-se determinar o vacuo quantico tomando o

limite J → 0, podendo este ser diferente do vacuo classico. Na linguagem de mecanica

estatısitica, W [J ] e conhecida como a energia livre de Helmholtz. O campo φ(x) e o

parametro de ordem associado a fonte J(x). Se diz que J(x) e φ(x) sao campos conjugados.

Page 26: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

24

Estamos interesados em definir um novo funcional que dependa apenas do parametro

de ordem φ(x), e nao mais da fonte J . Isto e equivalente a definir a energia livre de Gibbs

Γ[φ(x)]. Para isso, vamos usar a transformada funcional de Legendre,

Γ[φ] = W [J ]−∫d4xJ(x)φ(x). (43)

onde a relacao,

δΓ[φ]

δφ(x)= −J(x). (44)

define a equacao de estado do sistema. Usando as definicoes anteriores, e simples ver que

Γ[φ] vira uma constante quando J(x) → 0. Sendo assim, temos que φ e uma solucao da

equacao,

δΓ[φ]

δφ= 0. (45)

Portanto, o vacuo quantico φ(x) e um ponto estacionario de Γ. Na linguagem de teoria

de campos, Γ[φ] e chamada de acao efetiva.

A seguir, vamos ilustrar a aproximacao de campo medio (ponto de sela) mais

flutuacoes gaussianas para calcularmos o funcional gerador e chegar a acao efetiva Γ

usando o modelo de Klein-Gordon. Para isso, avaliaremos W [J ] atraves do metodo do

ponto de sela (ZINN-JUSTIN, 1996) para integrais de caminho. Comecaremos usando a

definicao do funcional gerador Z[J ],

Z[J ] = exp

1

hW [J ]

=

∫Dφ exp

i

h(S[φ, J ])

, (46)

onde, S[φ, J ] =∫d4x(L[φ] + hJφ) e L[φ] = 1

2(∂µφ)2 − V (φ) e a lagrangeana de Klein-

Gordon mais interacoes dadas pelo potencial V (φ). O termo de interacao V (φ) poderia

ser, em particular, λφ4.

O ponto de sela φ0 e aquele em que a acao S[φ, J ] e estacionaria, ou seja,

δS[φ, J ]

δφ

∣∣∣φ0

δφ

∫d4x

[1

2(∂µφ)2 − V (φ) + hJφ

] ∣∣∣φ0

= 0

= −∂µ∂µφ0 −dV

∣∣∣φ0

+ hJ = 0. (47)

Esta equacao define o campo φ0[J ] como um funcional de J .

Page 27: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

25

Agora, expandindo S[φ, J ] em torno de φ0, obtemos,

S[φ, J ] = S[φ0, J ] +

∫d4x [φ(x)− φ0(x)]

δS[φ, J ]

δφ(x)

∣∣∣φ0

+1

2

∫d4xd4y [φ(x)− φ0(x)]

δ2S[φ, J ]

δφ(x)δφ(y)

∣∣∣φ0

[φ(y)− φ0(y)] + · · · (48)

Fazendo uso da equacao (47) e possıvel escrever a equacao (48) da seguinte forma,

S[φ, J ] = S[φ0, J ] +1

2

∫d4xd4y [φ(x)− φ0(x)]

δ2S

δφ(x)δφ(y)

∣∣∣φ0

[φ(y)− φ0(x)] + · · · (49)

Considerando que a acao e dada por,

S[φ, J ] = −∫d4x

[1

2φ∂µ∂

µφ+ V (φ)− hJφ], (50)

o operador quadratico e,

o(x, y) =δ2S

δφ(x)δφ(y)

∣∣∣φ0

= − [∂µ∂µ + V ′′(φ0)] δ4(x− y). (51)

Fazendo a mudanca φ′ = φ− φ0 na expansao (49), obtemos,

S[φ, J ] = S[φ0, J ]− 1

2

∫d4xφ′(x) [∂µ∂

µ + V ′′(φ0)]φ′(x) + · · · (52)

Substituindo essa expressao no funcional gerador Z[J ], Eq. (46) e descartando os termos

de ordem superior, iremos obter,

eihW [J ] = e

ihS[φ0,J ]

∫Dφ′e

−i2h

∫d4xφ′[∂µ∂µ+V ′′(φ0)]φ′ (53)

Aqui, e conveniente reescalonar2 o campo φ′ em φ′ → h1/2φ e passar para o espaco

euclideano, d4x = −id4xE. Entao, poderemos reescrever a equacao anterior da seguinte

forma,

eihW [J ] = e

ihS[φ0,J ]

∫Dφe−

12

∫d4xEφ[−(∂µ∂µ)E+V ′′(φ0)]φ. (54)

Vamos lembrar a expressao da integracao funcional gaussiana,∫Dφe−

12

∫φoφ = [det o(x, y)]−

12 , (55)

2 Note-se que depois de ser feito esse reescalonamento, o desenvolvimento em h sera equivalente a umaexpansao em lacos da acao efetiva.

Page 28: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

26

pois, usando-la, e possıvel escrever a equacao (54) como segue,

eihW [J ] = e

ihS[φ0,J ] [det (−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φ0))]−1/2

= Z[J ]. (56)

Dessa maneira, reescrevemos o funcional gerador das funcoes de Green conectadas, Eq. (46),

como,

W [J ] = −ih lnZ[J ] = S[φ0, J ] + ih

2ln [det (−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φ0))] , (57)

e usando a identidade3, ln [det o(x, y)] = tr ln[o(x, y)], a expressao (57) fica,

W [J ] = S[φ0, J ] + ih

2tr ln [−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φ0)] . (58)

Este resultado e o funcional gerador de funcoes conectadas, ou a energia livre de Helmholtz,

para um campo de Klein-Gordon com intercoes dadas por V (φ) na aproximacao de ponto

de sela mais flutuacoes gaussianas. Note que W [J ] e um funcional de J de forma expli-

cita, atraves de S[J] e tambem de forma implıcita a traves de φ0[J ] dada pela solucao da

equacao de movimento.

Finalmente, realizando a transformada funcional de Legendre indicada em (43),

obtemos a expressao seguinte para a acao efetiva, em termos do parametro de ordem φ,

Γ[φ] = S[φ] + ih

2tr ln

[−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φ)]. (59)

No limite em que h→ 0 a acao efetiva Γ[φ] transforma-se na acao classica. Como

foi visto, na aproximacao gaussiana, Γ contem a acao classica S[φ] mais as correcoes

quanticas dadas pelo segundo termo da equacao (59). Em geral, no caso de uma teoria

de campos interagente, a influencia das flutuacoes quanticas transformara Γ[φ] em um

funcional altamente nao local, caracterizado por uma expressao que depende dos valores

simultaneos de φ(x) em muitos pontos diferentes de x, como sera visto mais a frente.

1.3.1 O potencial efetivo

Uma vez obtida a acao efetiva, Eq. (43), na presente secao vamos desenvolver um

metodo para calcularmos correcoes quanticas para algumas quantidades fısicas. Isto e

muito relevante, pois vai nos permitir o estudo da quebra de simetrias e a analise de

como estas correcoes quanticas atingem, por exemplo, o valor esperado do vacuo e da sua

3 Se αi ≡ autovalores de o(x, y), entao det[o(x, y)] =∏

i αi e ln det[o(x, y)] =∑

i lnαi = tr ln o(x, y)

Page 29: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

27

importancia na transicao de fase em teoria quantica de campos.

Em teoria quantica de campos, o potencial classico possui um papel fundamen-

tal para estudar questoes envolvendo quebra de simetria. Porem, as vezes as correcoes

quanticas podem mudar o comportamento do potencial classico, desestabilizando o mınimo

desse potencial. Assim sendo, uma quantidade mais indicada para este estudo e o poten-

cial efetivo (Veff ), que contem as correcoes quanticas. Infelizmente, o potencial efetivo

nao pode ser calculado de forma fechada. Devido a isso temos que fazer uma analise

ordem a ordem em teoria de perturbacoes. Este desenvolvimento perturbativo que carac-

teriza o Veff e organizada em forma de quantidades de lacos (ou loops) dos diagramas de

Feynman (DE CALAN, 1998).

Podemos, entao, definir o potencial efetivo como sendo a principal ferramenta

utilizada para estudarmos a transicao de fase e a quebra espontanea de simetria, atraves

do conhecimento de algumas quantidades termodinamicas (PINTO, 2005; PINTO, 2006)

e, com isso, obter a energia do estado fundamental de um sistema quantico, isto e, do

vacuo quantico.

Faremos uma demonstracao detalhada de como chegar a expressao do potencial efe-

tivo atraves de metodos funcionais, fazendo uso do formalismo das integrais de trajetoria

de Feynman4 (FEYNMAN, 2010).

A aproximacao do potencial efetivo e obtida a partir da acao efetiva (Eq. (43)),

considerando constante o campo ou parametro de ordem φ. Para chegarmos a esta apro-

ximacao, supomos que o parametro de ordem varia suavemente e iremos escrever a acao

efetiva Γ[φ] como uma expansao em derivadas do campo classico como segue,

Γ[φ] =

∫d4x

[−Veff (φ) +

1

2Z(φ)∂µφ∂

µφ+ · · ·], (60)

onde Z(φ) e uma funcao arbitraria do campo e Veff nao contem termos em derivadas.

Considerando φ constante na expressao de Γ[φ], para ordem h, e usando a notacao

φ = φc por uma questao de conveniencia, a equacao (59) fica,

Γ[φc] = S[φc] + ih

2tr ln [−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φc)]

=

∫d4x [−V (φc)] + i

h

2tr ln [−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φc)] , (61)

4 Em relacao aos formalismos de Heisenberg e Schrodinger, anteriormente desenvolvidos, o formalismointroduzido por Feynman em 1948, seguindo ideias de Dirac (BARONE, 2003), e considerado a formamais elegante e com certeza a mais completa quando queremos descrever uma teoria quantica decampos. Por muitos anos Richard Feynman, lecionou mecanica quantica no Califonia TechnologyInstitute - Caltech (FEYNMAN, 2010), usando o formalismo de integrais de trajetoria. Feynmanpropiciou um grande salto na mecanica quantica, na fısica estatıstica e na teoria quantica de camposao introduzir esse formalismo.

Page 30: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

28

de onde extraimos a expressao do potencial efetivo,

Veff (φc) = V (φc)− ih

2Ωtr ln [−(∂µ∂

µ)E + V ′′(φc)] .

Devido a que V ′′(φc) e constante, podemos calcular explicitamente o potencial utilizando

o espaco de Fourier. Passando para o espaco dos momento e lembrando que o traco de um

operador e a soma dos seus autovalores, podemos escrever o potencial efetivo da seguinte

forma,

Veff (φc) = V (φc)− ih

∑k

ln[k2E + V ′′(φc)

]. (62)

Agora, tomando o limite funcional,

∑k

−→ Ω

∫1

(2π)4d4k = Ωi

∫1

(2π)4d4kE (63)

onde Ω =∫d4x e o volume do espaco-tempo, podemos, finalmente, escrever a expressao

do potencial efetivo como sendo,

Veff (φc) = V (φc) +h

2

∫d4kE(2π)4

ln[k2E + V ′′(φc)

]. (64)

O potencial efetivo transforma-se no potencial classico V (φ) no limite classico

h→ 0. No entanto, a expressao (64) e uma quantidade divergente. Portanto, e importante

definir um processo de regularizacao adequado.

1.3.2 O potencial efetivo a um laco para teoria escalar interagente

A seguir, vamos exemplificar o desenvolvimento da tecnica do potencial efetivo no

modelo de um campo escalar com a seguinte densidade Lagrangeana quadri-dimensional (DAS,

1997):

L[φ] =1

2(∂µφ)2 − m2

2φ2 − λ

4!φ4 (65)

onde, ∂µ e a derivada covariante.

O potencial classico (potencial “tree level”) fica identificado como sendo

V (φ) =m2

2φ2 +

λ

4!φ4 (66)

Page 31: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

29

e a sua derivada segunda e

V ′′(φ) = m2 +λ

2φ2. (67)

Usando a definicao feita do potencial efetivo em uma aproximacao gaussiana,

Eq. (64), temos, para este exemplo,

Veff (φc) =1

2m2φ2

c +λ

4!φ4 +

1

2

∫d4kE(2π)4

ln

[k2E +m2 +

λ

2φ2c

]. (68)

Esta expressao representa o potencial efetivo do modelo de um campo escalar com in-

teracao quartica na aproximacao a um laco ou flutuacoes gaussianas. O primeiro termo

desta expressao representa o potencial classico, enquanto que o ultimo termo contem

as flutuacoes quanticas gaussianas. Nesta secao, o potencial efetivo e calculado a T = 0.

Porem, para o estudo de transicoes de fase e preciso calcula-lo a temperatura finita, T 6= 0.

O proximo capıtulo e dedicado a essa teoria.

Convenientemente, vamos destacar o termo logarıtmico para escreve-lo da seguinte

forma∫d4k

(2π)4ln

[k2E +m2 +

λ

2φ2c

]=

∫d4k

(2π)4ln[k2E +m2

]+

∫d4k

(2π)4ln

[1− λ

2

φ2c

k2E +m2

], (69)

de modo que ao substitui-lo novamente em (68) e descartando os termos indepedentes de

φc, obtemos

Veff (φc) =1

2m2φ2

c +λ

4!φ4c +

1

2

∫d4kE(2π)4

ln

[1 +

λ

2

φ2c

k2E +m2

]. (70)

Usando a expansao em serie do logaritmo, ln(1 + x) =∑∞

n=1(−1)n+1n−1xn, e

possıvel escrever a Eq. (70) como uma serie perturbativa em λ,

Veff (φc) =1

2m2φ2

c +λ

4!φ4c +

1

2

∞∑n=1

∫d4kE(2π)4

(−1)n+1

n

(λ2φ2c

k2E +m2

)n

=1

2m2φ2

c +λ

4!φ4c +

λ

4φ2c

∫d4kE(2π)4

1

k2E +m2

− 1

4

(λ2

4φ4c

)∫d4kE(2π)4

1

(k2E +m2)

+ ... (71)

Alternativamente, e possıvel escrever a Eq. (71) como uma expansao a um laco em dia-

gramas de Feynman.

O potencial efetivo representado pela Eq. (71) possui integrais de momentos que

divergem na regiao ultravioleta, isto e, a medida que k → ∞ a integral torna-se infi-

Page 32: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

30

nita. O primeiro passo e tornar a teoria finita, i.e., temos que regularizar. Isto e tıpico

de calculos em teoria quantica de campos onde sempre encontramos infinitos ao tentar

calcular correcoes quanticas.

Essas divergencias afetam diretamente a massa e a constante de acoplamento.

Devido a isso sao introduzidos contratermos de renormalizacao. Com a introducao desses

contratermos e possıvel escrever a densidade lagrangeana da seguinte forma,

L[φ] =1

2(∂τφ)2 +

1

2(∇φ)2 +

1

2m2φ2 +

1

2δm2φ2 +

1

4!λφ4 +

1

4!δλφ4 (72)

onde,

V (φ) =1

2

(m2 + δm2

)φ2 +

1

4!(λ+ δλ)φ4 (73)

Para definirmos esses contratermos e necessario escolher um metodo de regularizacao que

satisfaca a teoria. Na literatura, e possıvel encontrar varios metodos de regularizacao

(SVAITER, 2009; COLLINS, 1994), mas, para a analise do problema em questao, uti-

lizaremos a regularizacao por cut-off. Este metodo foi desenvolvido pelo fısico holandes

Hendrik Casimir e sistematizado por Fierz, Boyer (FIERZ, 1960) e seus colaboradores.

Lembrando que a contribuicao equivalente a temperatura igual a zero do potencial

efetivo a um laco pode ser escrita como segue,

V1−laco(φc) =1

2

∫d4kE(2π)4

ln

(k2E +m2 +

λφ2c

2

)(74)

Como foi citado anteriormente, esta integral diverge de forma logarıtmica no regime ul-

travioleta. Para calcula-la teremos que fazer um corte na integral dos momentos, i.e.,

introduziremos um cut-off, em que k2E = Λ2. A introducao desse cut-off ultravioleta e o

mesmo que introduzir um corte em pequenas distancias (KAPUSTA, 1989). Com essa

alteracao a integral torna-se convergente.

Considerando a invariancia rotacional, definindo η =| h |2, podemos escrever

V1−laco(φc) =1

2

π2

(2π)4Γ(2)

∫ Λ2

0

dη η ln

(η +m2 +

λ

2φ2c

)(75)

Essa integral podera ser solucionada com a ajuda5 da Ref. (GRADSHTEYN, 1965). Te-

5 Utilizando:∫σ ln(b+ σ)dσ = 1

2 (σ2 − b2) ln(b+ σ)− 12 ( b2

2 − bσ)

Page 33: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

31

mos entao,

V1−laco(φc) =1

64π2

[Λ4 −m4φc

]ln[Λ2 +m2φc

]− 1

64π2

[Λ4

2−m2φcΛ

2

]+

1

64π2m4φc ln(m2φc)−

m4φc64π2

ln(Λ2)

=Λ4

64π2ln Λ2 − Λ4

128π2− m4φc

64π2ln

(1 +

m2φcΛ2

)+

Λ4

64π2ln

(1 +

m2φcΛ2

)+m4φc64π2

ln

(m2φc

Λ2

)+m2φcΛ

2

64π2. (76)

Note-se que, para Λ muito grande,

1

64π2Λ4 ln

(1 +

m2φcΛ2

)−→ 1

64π2(m2φc)Λ

2 − 1

128π2m4φc +O

(1

Λ2

)(77)

e

− 1

64π2

(m4φc

)ln

(1 +

m2φcΛ2

)−→ O

(1

Λ

). (78)

Portanto, para Λ→∞ e possıvel reescrever a expressao simplificada,

V1−laco(φc) =1

64π2

(m2(φc)

)2ln

(m2(φc)

Λ

)+

1

32π2

(m2(φc)

)Λ2

− 1

128π2m4(φc). (79)

Usando as equacoes (73) e (79), a expressao do potencial efetivo a um laco ficara da

seguinte forma

V 1−lacoeff (φc) =

1

2(m2 + δm2)φ2

c +1

4!(λ+ δλ)φ2

c +1

32π2

(m2(φc)

)Λ2

+1

64π2m4(φc)

[ln

(m2(φc)

Λ2

)− 1

2

](80)

Uma vez que chegamos a expressao anterior, temos interesse em obter as quantidades

renormalizadas da teoria, ou seja, as quantidades finitas. Para conseguirmos essas quan-

tidades finitas, escolhemos os contratermos de tal modo que o potencial independa do

cut-off, ou seja, vamos escolher

δm2 = − λ

32π2Λ2 − λm2

32π2ln

(m2

Λ2

),

δλ = − 3λ2

32π2ln

(m2

Λ2

)− 3λ2

32π2. (81)

Substituindo agora esses valores na equacao (80), obtemos a expressao do potencial efetivo

Page 34: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

32

renormalizado a um laco

V 1−lacoeff (φc) =

m2

2φ2c +

λ

4!φ4c −

3

16

λ2

32π2φ4c −

λm2

128π2φ2c

+1

64π2

(m2 +

λ

2φ2c

)2

ln

(m2 + λ

2φ2c

m2

). (82)

Dessa forma, terminamos todo esse desenvolvimento para a expressao do potencial

efetivo a um laco renormalizado aplicando um cut-off ultravioleta, para uma teoria λφ4.

O mesmo procedimento pode ser utilizado para fermions.

No entanto, em uma teoria de gauge6 (KAPUSTA, 1989; COLLINS, 1994), a

regularizacao aqui proposta, quebra explicitamente a invariancia de calibre7, ou seja,

a invariancia da acao sob algumas simetrias internas da teoria (GREINER, 1996), o

procedimento para esse caso e utilizar um outro metodo de regularizacao (COLLINS,

1994) para tornar a teoria livre de divergencias.

6 Essa teoria tambem e chamada muitas vezes de teoria de Yang-Mills. Ela pode ser abeliana ou nao-abeliana (SAKURAI, 1994), isso vai depender do seu grupo de simetria, que pode ser comutativo ounao-comutativo. Resumidamente, as teorias de Yang-Mills aparecem para descreverem certas interacoesfundamentais da natureza, i.e., as forcas nucleares e o eletromagnetismo (caso abeliano limite) (SO-BREIRO, 2007). Como resultado da renormalizabilidade, as teorias de Yang-Mills obedecem tambemao grupo de renormalizacao (SOBREIRO, 2007; YANG, 1954; WILSON, 1974).

7 Em 1971, G. ’t Hooft et al., acabou com a dificuldade da renormalizacao das teorias de gauge.

Page 35: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

33

2 TEORIA QUANTICA DE CAMPOS A TEMPERATURA FINITA

Ao longo dos anos, pode ser percebido um grande interesse na pesquisa de varios

fenomenos usando teoria quantica de campos a temperatura finita. Em teoria quantica de

campos a temperatura finita, as partıculas interagem com o reservatorio termico (banho

termico) e os efeitos termodinamicos tornam-se essencialmente importantes, ao contrario

do que ocorre em teorias de campos a temperatura zero, na qual os efeitos da tempera-

tura sao negligenciados. Podemos definir esses reservatorios termicos como sendo campos

eletricos ou magneticos, ou seja, sao os campos externos e caracterizam o meio. O desen-

volvimento desta teoria so foi possıvel gracas a uniao da mecanica estatıstica e a teoria

de campos. A teoria de campos a temperatura e densidade finitas nasceu em 1950 (LE

BELLAC, 1996) e e conhecida tambem como teoria de campos termica. Matsubara foi o

primeiro a estuda-la em uma aproximacao nao relativıstica, com a qual podem-se descre-

ver fenomenos da materia condensada e da materia nuclear nao relativıstica.

No ano 1965, Fradkin foi o primeiro a estudar teoria de campos a temperatura

finita relativisticamente (LE BELLAC, 1996). No inicio dos anos ′70, surge o interesse no

problema da restauracao de simetrias em altas temperaturas, com isso, novos desenvol-

vimentos foram possıveis. Kirzhnits e Linde (1972), Dolan e Jackiw (1974) e Weinberg

(1974), foram os primeiros a discutir a restauracao da simetria espontaneamente quebrada

em altas temperaturas (KAPUSTA, 1989).

Podemos perceber portanto, que a teoria de campos a temperatura finita e uma te-

oria bastante abrangente, na qual e de extrema importancia a presenca de efeitos termicos.

Esta teoria possui diversos desenvolvimentos formais e fenomenologicos, podendo ser es-

tabelecida por duas vias: atraves do formalismo do tempo imaginario ou pelo formalismo

de tempo real. O formalismo de tempo real e mais amplo e pode ser usado para pesquisar

fenomenos em equilıbrio e fora do equilıbrio. Este formalismo e dividido em outros dois.

O primeiro, introduzido por Schwinger e Keldysh, e desenvolvido atraves de integrais de

trajetoria, tambem denominado de trajetoria temporal fechada (SCHWINGER, 1961). O

outro e mais atual, foi desenvolvido por Takahashi e Umezawa (MATSUMOTO, 1984) e

utiliza o metodo de quantizacao canonica via operadores. Neste caso tambem e possıvel

utilizar integrais de trajetoria e e conhecido como dinamica de campos termicos (DCT).

A base para determinar qual formalismo utilizar depende do cenario fısico que

e descrito. Por exemplo, em sistemas quanticos que apresentam quebra espontanea de

simetria, a analise da transicao de fase para uma fase simetrica pode ser feita examinando

o comportamento do sistema em equilıbrio, para uma gama de valores crescentes de

temperatura. Nesta situacao, o formalismo de tempo imaginario e o mais indicado.

Nosso interesse e aplicar o formalismo de tempo imaginario para a descricao de

bosons nao relativistas. Portanto comecaremos fazendo uma breve introducao do metodo

Page 36: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

34

de tempo imaginario para bosons.

2.1 Formalismo de tempo imaginario

A partir de agora, discutiremos sobre um dos mais importantes tratamentos usa-

dos para estudar sistemas em equilıbrio, o formalismo de tempo imaginario proposto por

Matsubara. Neste formalismo, a variavel temporal e imaginaria pura e compacta. Isto e o

tempo imaginario pode variar entre zero e o valor inverso da temperatura β = T−1, onde

T e a temperatura de equilıbrio. De esta forma, a temperatura zero, o formalismo coincide

com uma teoria de campos formulada no espaco euclideano. A dependencia temporal pode

ser incluida nas funcoes de Green atraves de uma continuacao analıtica que sera discu-

tida posteriormente (RIVERS, 1987). Dessa forma, o formalismo de Matsubara apresenta

somente desenvolvimentos temporais de sistemas quanticos em equilıbrio termico e, por-

tanto, nao e adequado utiliza-lo para estudar fenomenos fora do equilıbrio. Sendo assim

e o mais utilizado na determinacao de quantidades em equilıbrio termodinamico.

Comecaremos por rever alguns conceitos gerais sobre o comportamento estatıstico

de um sistema quantico em equilıbrio termico, apos determinar um ensemble apropriado.

Sendo assim, define-se o operador matriz densidade para o sistema

ρ(β) = e−βH, (83)

onde H e o hamiltoniano do sistema. O operador matriz densidade contem toda a in-

formacao de um sistema quantico, pois, alem de descrever misturas estatısticas, tambem

descreve estados puros.

Por conveniencia, vamos usar o ensemble grande canonico

H = H − µN, (84)

com H o operador hamiltoniano e N o operador numero de partıculas. Aqui e interessante

mencionar que o ensemble canonico e utilizado para descrever um sistema em contato com

um reservatorio termico a uma temperatura T . O sistema pode trocar livremente energia

com o reservatorio. Dessa forma, T,N e o volume V sao mantidos fixos. Por outro

lado, no ensemble grande canonico o sistema pode trocar partıculas, bem como energia,

com o reservatorio. Neste ensemble, T, V e o potencial quımico µ sao mantidos fixos.

Podemos considerar em ambos ensembles, β = T−1 como um multiplicador de Lagrange,

que determina a energia media do sistema. Analogamente, µ tambem pode ser identificado

como um multiplicador de Lagrange, mas que determina o numero medio de partıculas do

sistema. Portanto, ao considerar um sistema quantico, onde partıculas podem ser criadas

(por colisoes ou por alguma fonte), interagem e sao destruidas, e mais conveniente calcular

Page 37: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

35

observaveis no ensemble grande canonico.

Agora generalizemos os resultados que obtivemos na quantizacao de campos esca-

lares a temperatura zero. Sera estabelecida a quantizacao da integral de trajetoria de um

campo escalar no formalismo de tempo imaginario.

Consideraremos a densidade lagrangiana no espaco de Minkowski

L =1

2(∂µφ) (∂µφ)− 1

2m2φ2 − λ

4!φ4. (85)

Como ja e conhecido, em teoria quantica de campos temos o funcional gerador

Z[J ] = N

∫Dφei

∫d4x[L+Jφ]. (86)

Se consideramos que este sistema esta em equilibrio termodinamico com um banho termico

a temperatura T , a funcao de particao do sistema pode ser escrita de forma semelhante

ao funcional gerador. A diferenca e essencialmente que a teoria deve ser escrita em tempo

imaginario e com condicoes de contorno apropriadas. Escrevemos entao,

Z[β, J ] = Nβ

∫φ(x,τ)=φ(x,τ+β)

Dφ e−SE+∫ β0 dτ

∫d3xJφ. (87)

onde SE e a acao euclideana que pode ser escrita da seguinte forma

SE =

∫ β

0

∫d3xLE =

∫ β

0

∫d3x

[1

2

(∂φ

∂τ

)2

+1

2(∇φ)2 +

1

2m2φ2 +

λ

4!φ4

]

=

∫ β

0

∫d3x

[1

(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)φ+

λ

4!φ4

]. (88)

Note que as integracoes sobre o tempo imaginario sao feitas no intervalo [0, β]. Ainda, a

integracao funcional e realizada com as condicoes de periodicidade

φ(x, τ) = φ(x, τ + β) (89)

De forma analoga ao caso de temperatura zero, o termo de interacao pode ser

escrito em termos de um operador agindo sobre a funcao de particao livre. Dessa forma,

pode-se reescrever Z[β, J ] como

Z[β, J ] = Nβ

∫Dφ

[1− λ

4!

∫ β

0

d4zφ4(z) +O(λ2)

]Z0[β, J ]

= Nβ

[1− λ

4!

∫ β

0

d4z

δJ(z)

)4

+O(λ2)

]Z0[β, J ]

= Nβ exp

− λ

4!

∫ β

0

d4z

δJ(z)

)4Z0(β, J) . (90)

Page 38: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

36

Onde Z0(β) e a funcao de particao para campos escalares nao interagentes,

Z0(β) =

∫Dφ exp

−∫ β

0

d4x

[1

2φ(x)

(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)φ(x)

]. (91)

Sendo esta integral funcional gaussiana pode ser integrada exatamente obtendo

Z0[β, J ] = Z0(β) exp

1

2

∫ β

0

d4xd4yJ(x)4β(x− y)J(y)

. (92)

onde 4β(x − y) =(− ∂2

∂τ2 −∇2 +m2)−1

e o propagador de Matsubara, que satisfaz a

seguinte equacao diferencial(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)4β(x− y) = δ(τx − τy)δ3(x− y). (93)

Portanto, no formalismo de tempo imaginario, o propagador de Matsubara e a funcao de

Green termica de dois pontos

4β(x− y) = 〈T [φ(x)φ(y)]〉β = Z−10 (β)

δ2Z0[β, J ]

δJ(x)δJ(y)

∣∣∣J=0

. (94)

Convenientemente, pode-se escrever o propagador de Matsubara em termos de κ> e κ<

4β(x− y, τx − τy) = κ>(x, τx; y, τy)θ(τx − τy) + κ<(x, τx; y, τy)θ(τy − τx), (95)

onde

κ>(x, τx; y, τy) = 〈φ(x, τx)φ(y, τy)〉β,

κ<(x, τx; y, τy) = 〈φ(y, τy)φ(x, τx)〉β. (96)

Devido a periodicidade dos campos temos que

κ>(x, τx; y, τy) = κ<(x, τx − β; y, τy). (97)

chamada tambem relacao Kubo-Martin-Schwinger (KMS).

Para ter uma intuicao fısica do significado deste propagador, e conveniente passar

ao espaco de momento. Para isso escrevemos o propagador como

4β(x− y) =

∫d3k

(2π)3eik(x−y)4β(k, τx − τy), (98)

e dessa forma, temos∫d3k

(2π)3eik(x−y)

(− ∂2

∂τ 2+ k2 +m2

)4β(k, τx − τy) = δ(τx − τy)

∫d3k

(2π)3eik(x−y). (99)

Page 39: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

37

Portanto, 4β(k, τx − τy) satisfaz a equacao diferencial(− ∂2

∂τ 2+ k2 +m2

)4β(k, τx − τy) = δ(τx − τy), (100)

com w2 = w2k = k2 + m2. Podemos estabelecer a solucao da Eq. (100), que satisfaz a

relacao Kubo-Martin-Schwinger, Eq. (97),

4β(k, τx − τy) = κ>k (τx − τy)θ(τx − τy) + κ<k (τx − τy)θ(τx − τy), (101)

com

κ>k (τx, τy) =1

2wk

[1 + n(wk)] e

−wk(τx−τy) + n(wk)ewk(τx−τy)

,

κ<k (τx, τy) = κ>k (τy, τx), (102)

onde n(wk) e a distribuicao de Bose-Einstein

n(wk) =1

eβ|wk| − 1. (103)

Note que a distribuicao de Bose-Einstein aparece como uma consequencia de impor

condicoes de periodicidade no tempo imaginario com perıodo β. Se tivessemos imposto

condicoes de anti-periodicidade, a distribuicao seria a de Fermi-Dirac.

Entao, para τε[0, β], temos que 4β(k, τ) = κ>k (τ) e 4β(k, τ) = 4β(k, τ − β). Isto

implica que a transformada de Fourier de 4β(k, τ) no tempo imaginario e definida por

4β(k, τ) = T+∞∑

n=−∞

e−iwnτ4β(k, wn) (104)

onde ωn = 2πnβ sao conhecidas como frequencias de Matsubara para campos bosonicos.

A inversa da equacao (104) e

4β(k, wn) =

∫ β

0

dτeiwnτ4β(k, τ). (105)

Temos entao que o propagador de Matsubara pode ser escrito como

4β(x, τ) = T

+∞∑n=−∞

∫d3k

(2π)3e−i(wnτ−kx)4β(k, wn). (106)

Vemos entao que o efeito da temperatura finita e produzir um espectro discreto para as

frequencias, enquanto que a parte espacial dos momentos permanece contınua. Portanto,

a transformada de Fourier do propagador de Matsubara e dada por

4β(k, wn) =1

w2n + w2

k

. (107)

Page 40: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

38

Um exercıcio interessante e instrutivo e o calculo da energia livre para um campo

escalar nao interagente

F = −T lnZ0(β). (108)

A funcao de particao e dada por

Z0(β) =

∫Dφe

−∫ β0 d4x

[12φ(x)

(− ∂2

∂τ2−∇2+m2)φ(x)

]=

[det

(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)]−1/2

. (109)

Usando a identidade ln det ≡ tr ln temos que

F = −T ln

[det

(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)]−1/2

= 2T tr ln

(− ∂2

∂τ 2−∇2 +m2

)(110)

e, passando para o espaco de momento,

F = 2V T+∞∑

n=−∞

∫d3k

(2π)3ln(w2n + w2

k

). (111)

O somatorio em n pode ser desenvolvido com a ajuda da seguinte expressao,

v(w) =+∞∑

n=−∞

ln(w2n + w2

k

). (112)

Diferenciando esta expressao

∂v(wk)

∂wk=

+∞∑n=−∞

2wk1

w2n + w2

k

, (113)

e utilizando

4β(0) = T+∞∑

n=−∞

1

w2n + w2

=1

2w[1 + 2n(w)] , (114)

obtemos

∂v(wk)

∂wk= 2

1

T

(1

2+

1

eβwk − 1

)(115)

e

v(wk) = 21

T

[wk2

+ T ln(1− e−βwk

)]+ termos indepedentes de wk. (116)

Descartando agora os termos constantes, temos

F = V

∫d3k

(2π)3

[wk2

+ T ln(1− e−βwk

)]. (117)

Page 41: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

39

Na equacao acima, o termo indepedente da temperatura e divergente. Porem, este termo

e a energia do ponto zero, que pode ser retirada da integral uma vez que e um termo

constante. Assim, fica

F = V T

∫d3k

(2π)3ln(1− e−βwk

)=

V T

2π2

∫ ∞0

dkk2 ln(

1− e−β(k2+m2)1/2). (118)

Ao fazer m = 0 a integral dos momentos pode ser realizada analiticamente, de modo que,

finalmente,

F =V T

2π2

∫ ∞0

dkk2 ln(1− e−βk

)=−πV T 4

90. (119)

Consequentemente, e possıvel calcular todas as quantidades termodinamicas, pode-

se citar como exemplo

P =−∂F∂V

=π2T 4

90, (120)

que e a pressao de um gas ideal ultra-relativıstico (metade da radiacao de um corpo

negro).

2.2 Potencial efetivo a temperatura finita

Na secao anterior, foi introduzido um desenvolvimento para o estudo em tempe-

ratura finita no formalismo do tempo imaginario ou formalismo de Matsubara. Agora

iremos exemplificar esse formalismo com o estudo do potencial efetivo a um laco em tem-

peratura finita. Para isso, retornamos na Eq. (74), que e o potencial efetivo no espaco

euclideano a temperatura zero

Veff (φc) =1

2m2φ2

c +λ

4!φ2c +

1

2

∫d4kE(2π)4

ln

[k2E +m2 +

λ

2φ2c

]. (121)

E simples achar a expressao a temperatura finita substituindo a expressao discreta

para a frequencia

k2E −→ w2

n + k2 (122)

onde wn = 2nπβ

, e∫d4kE(2π)4

−→ 1

β

∑n

∫d3k

(2π)3(123)

Page 42: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

40

Dessa forma, pode-se escrever o termo a um laco da Eq.(121) a uma temperatura finita

V β

1−laco(φc) =

1

∞∑n=−∞

∫d3k

(2π)3ln

[w2n + k2 +m2 +

1

2λφ2

c

]. (124)

Por simplicidade e conveniente definir a variavel w como

w2 = k2 +m2 +1

2λφ2

c (125)

O calculo do somatorio das frequencias de Matsubara wn na equacao (124), se faz usando

a identidade (116):

∞∑n=−∞

ln(w2n + w2) = 2β

[w

2+

1

βln(1− e−βw

)]+ termos independentes de w (126)

resultando em

V β

1−laco(φc) =

∫d3k

(2π)3

[w

2+

1

βln(1− e−βw

)]. (127)

A equacao acima e composta de duas integrais. O primeiro termo e a contribuicao de

T = 0, e facil checar que∫d3k

(2π)3

w

2=

1

2

∫d4kE(2π)4

ln

[k2E +m2 +

λ

2φ2c

](128)

onde a segunda integral coincide com a equacao (74) que e a contribuicao a um laco do

potencial efetivo a T = 0. Esta contribuicao, como vimos no capıtulo anterior, tem uma

divergencia ultravioleta que deve ser regularizada e absorvida nas constantes renormali-

zadas do modelo.

A segunda integral, e a parte dependente da temperatura. Esta integral, embora

seja complexa de se resolver analiticamente, e perfeitamente definida ja que ela e finita.

Esta e uma caracterıstica geral das teorias de campo a temperatura finita. As divergencias

ultravioletas sempre se encontram no setor de T = 0, sendo que a contribuicao em T 6= 0

e sempre finita.

Dessa forma, ela pode ser resolvida numericamente, ou podem ser realizados di-

ferentes tipos de aproximacoes. E util escrever esta integral em forma adimensional, em

termos de m(φc)β com m2(φc) = m2 + λφ2c

2. Temos entao que

1

β

∫d3k

(2π)3ln(1− e−βw

)=

1

2π2β4JB [m(φc)β] (129)

onde a funcao adimensional JB[y] foi definida como,

JB[y] =

∫ ∞0

dxx2 ln[1− e−

√x2+y2

](130)

Page 43: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

41

Esta expressao pode ser util para realizar diferentes tipos de expansoes. Por exemplo para

altas temperaturas y << 1, obtendo-se a expressao (KAPUSTA, 1989; DOLAN, 1974)

JB[y] = −π4

45+π2

12y2 − π

6(y2)3/2 − 1

32y4 ln

y2

ab

− 2π7/2

∞∑l=1

(−1)lζ(2l + 1)

(l + 1)!Γ

(l +

1

2

)(y2

4π2

)l+2

(131)

onde, ab = 16π2 exp(3/2− 2γ)(ln ab = 5.4076) e ζ e a funcao ζ de Rieman.

2.3 Transicao de fase e restauracao de simetria

Uma transicao de fase de segunda ordem e caracterizada por uma quebra es-

pontanea de alguma simetria. Isto e, sendo a lagrangeana simetrica, o estado funda-

mental do sistema quebra essa simetria. A transicao esta caracterizada por uma tem-

peratura crıtica Tc embaixo da qual a simetria e quebrada. Para temperaturas maiores

que a crıtica, a simetria e re-estabelecida, fenomeno que e conhecido como restauracao da

simetria em altas tempertaturas SU(3). O objetivo desta secao e mostrar como podemos

entender esta fısica a partir do potencial efetivo a temperatura finita, e como calcular a

temperatura crıtica Tc.

Para isso, vamos considerar como exemplo uma teoria com interacao λφ4 que se

encontra na fase com simetria quebrada a temperatura zero. Isto e, devemos escolher

m2 < 0. A pergunta e para que temperatura a simetria e restaurada. Para isto usaremos

a expressao do potencial efetivo

Veff (φc) = V T=0eff (φc) + V T 6=0

eff (φc) (132)

O ponto primordial para essa analise, e que o valor de equilıbrio do valor esperado

(parametro de ordem) do campo escalar φ, ou seja, φc = θ(T ) 8 nao corresponde ao

mınimo do potencial efetivo V T=0eff (φc), mas sim ao mınimo do potencial efetivo Veff (φc)

dado pela equacao (132). Dessa maneira, mesmo que o mınimo de V T=0eff (φc) aconteca em

φc = θ0 6= 0 (T < Tc), muitas das vezes, em altas temperaturas, o mınimo do Veff (φc)

ocorre em φc = 0 (T > Tc).

O valor do parametro de ordem φc e definido como sendo um mınimo de Veff da

8 Onde, θ e a configuracao do campo associado ao vacuo.

Page 44: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

42

seguinte forma

∂Veff (φc)

∂φc

∣∣∣φc=θ(T )

= 0 (133)

Por outro lado, a temperatura crıtica para restauracao de simetria, Tc sera definida

atraves da condicao θ(Tc) = 0, isto e

∂Veff (φc)

∂φc

∣∣∣φc=0,T=Tc

= 0 (134)

Calcularemos agora a temperatura crıtica usando o petencial effectivo a um laco

calculado na secao anterior. Para T = 0, o potencial apropriadamente regularizado e

V T=0eff =

m2

2φ2c +

λ

4!φ4c +

1

64π2

(m2 +

λ

2φ2c

)2[

lnm2 + λ

2φ2c

µ2− 3

2

](135)

Para a contribuicao a temperatura finita, usamos a expansao em altas temperaturas de-

senvolvida na equacao (131) obtendo

V T 6=0eff (φc) =

−π2

90β4+m2(φc)

24β2− m3(φc)

12πβ− m4(φc)

64π2ln

[m2(φc)β

2

ab

]+O(m6(φc)β

2) (136)

Para proseguir com o calculo e necessario ter cautela. Se fizermos o limite φc → 0

nas expressoes acima, aparecerao termos imaginarios devido ao fato que m2 < 0. Porem,

estes termos sao proporcionais a λ2 e serao cancelados em um calculo a dois lacos. Por

este motivo o limite φc → 0 , T → Tc deve ser feito a ordem λ, desprezando qualquer

termo de ordem superior. Fazendo este procedimento obtemos

Veff (φc) = −| m2 |

2φ2c +

λ

4!φ4c +

T 2

24

λ

2φ2c (137)

Dessa forma, ao utilizar a expressao (133), conseguiremos obter o valor esperado do vacuo

para o campo escalar a temperatura finita como sendo,

θ2(T ) =1

4

(24 | m2 |

λ− T 2

)(138)

Com a expressao acima, podemos obter a temperatura crıtica da transicao de fase,

λT 2c = 24 | m2 | (139)

Page 45: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

43

Figura 1 - Potencial efetivo.

Legenda: Comportamento do potencial efetivo abaixo e

acima da temperatura crıtica.

Fonte: MILLA, 2006, f. 30.

2.4 Condensacao de Bose-Einstein

O fenomeno chamado de condensacao de Bose-Einstein, e uma transicao de fase

muito peculiar. A ideia e que num gas de bosons, embaixo de uma certa temperatura

crıtica, um numero macroscopico de partıculas passam a ocupar o estado de mınima ener-

gia correspondendo a um momento zero. O estudo da condensacao de Bose-Einstein e um

fenomeno comum que ocorre na fısica em todas as escalas, a partir da materia conden-

sada a nuclear, das partıculas elementares a astrofısica. Com isso, encontra-se aplicacoes

em varios sistemas. Podemos citar como exemplo os gases de atomos alcalinos (ou gases

fracamente interagentes), hidrogenio de spin polarizado, os metais supercondutores, os

supercondutores de alta temperatura, e os superfluidos

Os gases de atomos alcalinos fornecem oportunidade unica para explorar fenomenos

quanticos em escalas macroscopicas. Sao extremamente conveniente de serem utilizados,

pois torna possıvel obter amostras densas e frias. Consequentemente, o sistema continua

no estado de gas. Portanto sao excelentes candidatos para obter gases no regime quantico.

Ja os metais supercondutores sao caracterizados por fermions que podem se agru-

par formando pares em baixa temperaturas (os pares de Cooper) que deixam de lado suas

caracterısticas individuais para se comportarem como bosons, obtendo assim, a capacia-

dade de se condensarem. A condensacao de Bose-Einstein de pares de fermions tambem

e observado experimentalmente em nucleos atomicos, onde os efeitos do neutron-neutron,

Page 46: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

44

proton-proton, neutron-proton emparelhados pode ser visto no expectro de excitacao, bem

com na reducao do momento de inercia. Teoricamente, a condensacao de Bose-Einstein

de pares de nucleos devera desempenhar um papel importante nos interiores das estrelas

de neutrons. A possibilidade de mesons ou pions ou kaons, formando um condensado de

Bose-Einstein nos nucleos de estrelas de neutrons tem sido amplamente discutido, uma

vez que esta teria consequencias de longo alcance para teorias de supernova e a evolucao

de estrelas de neutrons (GRIFFIN, 1996).

Portanto, nos ultimos anos, o estudo da condensacao de Bose-Einstein, tornou-se

uma area cada vez mais ativa de pesquisa, seja do ponto de vista experimental, como

no contexto teorico, exercendo um papel de destaque, e mostra que a compreensao deste

fenomeno e de grande importancia em muitos ramos da fısica.

Mostraremos agora como ocorre o fenomeno de condensacao de Bose-Einstein em

um sistema muito simples usando as ferramentas descritas nesta tese. Consideraremos,

por simplicidade, a teoria de um campo escalar carregado relativista. Neste caso, o campo

Φ e complexo e descreve bosons com cargas positivas e negativas. Para isso escrevemos a

seguinte densidade lagrangeana

L = ∂µΦ∗∂µΦ−m2Φ∗Φ− λ(Φ∗Φ)2 (140)

Nota-se claramente que esta lagrangeana possui uma simetria global U(1). Pode-se dizer

que uma simetria e global, quando as equacoes de movimento, sao invariantes em todos

os pontos do espaco-tempo. Podemos verificar isso, atraves da transformacao de fase,

Φ −→ Φ′ = Φe−iα

Φ∗ −→ Φ∗′ = Φ∗eiα (141)

onde, α e uma constante real que e independente das coordenadas espaciais. A in-

variancia da densidade lagrangeana produz quantidades conservadas. Em teoria quantica

de campos, a relacao entre simetrias e quantidades conservadas e descrita pelo teorema

de Noether. Este teorema impoe que as transformacoes de simetria contınua que deixa

a densidade lagrangeana invariante, acarreta no surgimento de uma corrente de Noether

conservada (PESKIN, 1995). No nosso caso, a densidade de corrente pode ser escrita da

seguinte maneira,

jµ = i (Φ∗∂µΦ− Φ∂µΦ∗) , ∂µjµ = 0 (142)

sendo que a corrente e a carga total conservada sao,

Jµ =

∫d3xjµ(x) e N =

∫d3xj0(x). (143)

Page 47: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

45

Em teoria quantica de campos e comum decompormos o campo Φ em suas partes real e

imaginaria,

Φ =φ1 + iφ2√

2−→ Φ∗ =

φ1 − iφ2√2

(144)

Agora, para escrever a densidade hamiltoniana, introduziremos os momentos conjugados

π1 = ∂φ1/∂t = φ1 e π2 = ∂φ2/∂t = φ2. Dessa forma, por meio de uma transformacao

de Legendre, pode-se escrever a seguinte densidade hamiltoniana canonica,

H =1

2π2

1 +1

2π2

2 +1

2(∇φ1)2 +

1

2(∇φ2)2 +

1

2m2(φ2

1 + φ22) +

1

4λ(φ2

1 + φ22)2 (145)

A expressao para a carga conservada e,

N =

∫d3x(φ2π1 − φ1π2) (146)

A funcao de particao no ensamble grande canonico pode-se escrever como ,

Z =

∫[dπ1][dπ2]

∫P

[dφ1][dφ2] exp

[∫ β

0

∫d3x

(iπ1

∂φ1

∂τ+ iπ2

∂φ2

∂τ−H + µ(φ2π1 − φ1π2)

)](147)

onde o ındice P indica que a integracao nos campos tem que ser realizada com condicoes

periodicas de contorno em um intervalo temporal de 0 a β. Agora, faremos a integracao

sobre os momentos conjugados,

Z = (N ′)2

∫p

[dφ1][dφ2] exp

∫ β

0

∫d3x

[−1

2

(∂φ1

∂τ− iµφ2

)2

− 1

2

(∂φ2

∂τ− iµφ1

)2]

+

[−1

2(∇φ1)2 − 1

2(∇φ2)2 − 1

2(m2φ1 +m2φ2

2)

]− 1

4λ(φ2

1 + φ22)2 (148)

onde N ′ e uma constante de normalizacao.

Ao analizar a Eq. (148), pode-se observar que essa equacao so podera ser calcu-

lada de fato se a constante de acoplamento for λ 6= 0, dessa forma a integracao tornara

gaussiana.

A coordenada τ e periodica e a coordenada x e restrita no volume finito do sistema.

Dessa forma, e conveniente expandir as componentes reais do campo Φ em uma serie de

Fourier

φ1(x, τ) =√

2ϕ cos θ +

√β

V

∑n

∑p

ei(p.x+wnτ)φ1(n,p).

φ2(x, τ) =√

2ϕ sin θ +

√β

V

∑n

∑p

ei(p.x+wnτ)φ2(n,p). (149)

Page 48: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

46

Onde foram destacados os termos constantes do campo p = 0. Os parametros ϕ e

θ nao dependem de (x, τ), e portanto definem o campo no regime infravermelho, ou seja,

φ1(n = 0,p = 0) = φ2(n = 0,p = 0) = 0. Enquanto o valor de ϕ determina a densidade

de particulas no estado p = 0, θ e a fase do condensado. Podemos definir portanto, como

condensacao no limite V → ∞, para temperaturas menores que uma certa temperatura

crıtica Tc, uma quantidade finita das partıculas de um gas de bosons ocupando o mesmo

estado quantico, isto e, a maior parte das partıculas se encontra-se no estado em que

p = 0, conhecido como condensado de Bose-Einstein (CBE).

Retornando na Eq. (148), para substituir as expansoes, Eqs. (149), e depois de

uma integracao por partes, pode-se escrever a expressao da funcao de particao

Z =

[∏n

∏p

∫dφ1(n,p)dφ2(n,p)

]exp(S) (150)

onde

S = βV (µ2 −m2)ϕ2 −∑n

∑p

(φ1(n,p)φ2(n,p))M

(φ1(n,p)

φ2(n,p)

)com

M = β2

(w2n + w2 − µ2 −2µnw

−2µwn w2n + w2 − µ2

)onde, M e uma matriz 2× 2. Realizando as integracoes obtemos,

lnZ = βV (µ2 −m2)ϕ2 + ln(detM)−1/2 (151)

O segundo termo da equacao acima pode ser escrito como sendo,

ln detM = ln

∏n

∏p

β4(w2n + w − µ2)2 + 4µ2w2

n

= ln

∏n

∏p

β2(w2n + (w − µ)2)

+ ln

∏n

∏p

β2(w2n + (w + µ)2)

(152)

Substituindo, a Eq. (152) em (151) obtemos,

lnZ = βV (µ2 −m2)ϕ2 − 1

2

∑n

∑p

lnβ2[w2

n + (w − µ)2]

− 1

2

∑n

∑p

lnβ2[w2

n + (w + µ)2]

(153)

Page 49: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

47

Somando sobre as frequencias de Matsubara obtemos a funcao de particao,

lnZ = βV (µ2 −m2)ϕ2

− V

∫d3k

(2π)3

[βw + ln(1− e−β(w−µ)) + ln(1− e−β(w+µ))

](154)

A partir da funcao de particao podemos obter as quantidades termodinamicas do sistema,

isto e, os observaveis da teoria. Entao com a equacao anterior, pode-se escrever a expressao

para a energia livre como sendo,

F = − lnZ

β= V (m2 − µ2)ϕ2

− V

∫d3k

(2π)3

[w +

1

βln(1− e−β(w+µ)) +

1

βln(1− e−β(w−µ))

](155)

Com a expressao da energia livre, e possıvel, analisar a possıvel transicao de fase do sis-

tema. Neste ponto e interessante fazer algumas consideracoes. A integral dos momentos,

so fara sentido, ou seja, so ira convergir se | µ |≤ m. Como e esperado, por causa da

simetria U(1), a energia livre depende do parametro ϕ, porem, esta independe da fase θ.

Como o parametro ϕ nao e predeterminado, ele deve ser considerado como sendo varia-

cional. Portanto, fixando µ e β, o valor de ϕ pode ser obtido extremizando lnZ, sendo

assim,

∂ lnZ

∂ϕ= 2βV (µ2 −m2)ϕ = 0 (156)

Para |µ| < m a unica solucao possıvel e ϕ = 0. Quando | µ |= m, ϕ fica ainda indetermi-

nado.

Para obter o valor do parametro ϕ, quando | µ |= m, usamos a definicao de

densidade de carga ρ = N /V , que deve ser constante devido a simetria U(1), temos entao

que

ρ =1

βV

(∂ lnZ

∂µ

)µ=m

= 2mϕ2 + ρ∗(µ = m) (157)

onde,

ρ∗(µ = m) =

∫d3k

(2π)3

(1

eβ(w−m) − 1− 1

e(w+m) − 1

)(158)

Diante da Eq. (157), percebemos que existe claramente uma separacao entre o conden-

sado de partıculas, ou seja, o estado em que o momento e nulo e as excitacoes termicas,

(flutuacoes) que sao os modos de momento finito. Com a densidade ρ constante, enquanto

a temperatura diminui, o potencial quımico µ dos bosons aumentara, podendo alcancar,

para uma determinada temperatura, um valor maximo µ = m. A este ponto especıfico,

Page 50: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

48

chamamos de temperatura crıtica (Tc). Ao reduzir ainda mais a temperatura, ha um

crescimento macroscopico do numero de partıculas que constitui o estado fundamental,

enquanto que a quantidade de partıculas existente no estado excitado (fracao nao conden-

sada) diminui proporcionalmente. Essa ocupacao macroscopica faz com que a contribuicao

estatıstica desse primeiro estado quantico degenerado seja maior se compararmos com a

parte nao condensada, ou seja, ρ∗ se tornara inferior a ρ0. Nesta situacao, o condensado

vem dado por

ϕ2 =ρ− ρ∗(β, µ = m)

2m(159)

A partir desta equacao, e facil deduzir uma expresao para a temperatura critica, ja que

nesta temperatura ϕ = 0. Portanto, a temperatura crıtica Tc e determinada implicita-

mente pela equacao

ρ = ρ∗(βc, µ = m) (160)

onde, βc e o inverso da temperatura crıtica de equilıbrio. Esta equacao pode ser resolvida

em dois limites. No limite nao relativıstico a temperatura crıtica e dada por

Tc =2π

m

ζ(3/2)

)2/3

, ρ << m3 (161)

No limite oposto, no limite ultrarelativıstico, obtemos

Tc =

(3ρ

m

)1/2

, (ρ >> m3) (162)

Tem que ser levado em conta que estas equacoes foram deduzidas usando um

modelo sem interacao. A presenca de interacoes, mesmo em gases diluidos, pode alterar

muitos aspectos discutidos nesta sesao. No proximo capıtulo discutiremos em detalhe a

condensacao de Bose-Einstein de dois gases na presenca de diferentes tipos de interacoes.

Page 51: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

49

3 POTENCIAL EFETIVO PARA MISTURAS BINARIAS

No capıtulo anterior, foram abordadas propriedades de equilibrio de condensados

de Bose-Einstein com um unico estado quantico macroscopiamente ocupado. No presente

capıtulo, trataremos multiplos componentes de gases quanticos. A motivacao essencial e

o estudo de misturas binarias de gases quanticos, os quais sao criados em laboratorio a

temperaturas extremamente baixas, pode-se estudar de forma experimental tanto propri-

edades estaticas quanto dinamicas. O foco principal e estudar interacoes entre diferentes

especies de bosons as quais sao formadas por um mesmo elemento quımico em dois estados

diferentes na sua estrutura hiperfina. Este capıtulo contem a contribuicao original desta

tese cujo conteudo pode se encontrar na referencia (SOUZA, 2014).

3.1 Teoria quantica de campos para misturas binarias bosonicas com

acoplamento Josephson

Consideramos duas especies bosonicas representadas por dois campos escalares

complexos φ(x, t) e ψ(x, t). O modelo e definido pela acao,

S =

∫d3xdt Lψ + Lφ + LI (163)

onde Lψ e Lφ, sao densidades lagrangeanas nao relativısticas para cada uma das especies,

Lψ = ψ∗(i∂t −

∇2

2m+ µψ

)ψ (164)

Lφ = φ∗(i∂t −

∇2

2m+ µφ

)φ (165)

sendo, µφ = µ+hΩR e µψ = µ−hΩR, os potenciais quımicos. µ controla a densidade total

de partıculas enquanto que a frequencia de Rabi ΩR controla a densidade relativa de cada

especie. Escolhemos a mesma massa para cada especie, uma vez que estamos interessados

em misturas composta por um unico tipo de atomo em dois estados hiperfinos diferentes.

A densidade lagrangeana de interacao pode ser dividida da seguinte maneira,

LI = Lc + LJ (166)

Na equacao acima, o primeiro termo, Lc, contem tanto as interacoes (ou acoplamen-

tos) entre os dois campos gψφ, como tambem as auto-interacoes (ou auto-acoplamentos) gψ

e gφ, que preservam o numero de partıculas em cada especie individualmente. Escrevemos

Page 52: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

50

entao,

Lc = −gψ2

(ψ∗ψ)2 − gφ2

(φ∗φ)2 − gφψψ∗ψφ∗φ (167)

onde as constantes de acoplamentos sao, gψ = 4πaψ/m, gφ = 4πaφ/m e gφψ = 8πaφψ/m,

sao escritas em termos de comprimento de espalhamento da onda s, ou seja, aψ, aφ de cada

especie, e o comprimento de espalhamento entre as duas especies, aφψ. Esta interacao e

invariante sob transformacoes do grupo Uφ(1)⊗ Uψ(1).

O segundo termo da Eq. (166), LJ , nao conserva o numero de partıculas de cada

especies individualmente, no entanto, conserva o numero total de partıculas. Este termo

quebra explicitamente a simetria da densidade lagrangeana, Eq. (167), tornando Uφ(1)⊗Uψ(1) → Uφ+ψ(1). Dessa forma, podemos descrever um gas em dois estados quanticos

diferentes, permitindo a transferencia de partıculas entre cada estado. Habitualmente,

chamamos este segundo termo de interacao Josephson ja que a interacao deve acoplar as

fases dos dois campos complexos. Sendo assim, a forma mais simples para LJ pode ser

escrita como,

LJ = νψ∗φ+ ν∗φ∗ψ − gJ2

(ψ∗ψ∗φφ+ φ∗φ∗ψψ) (168)

Na equacao acima o termo quadratico (interacao de um corpo) e proporcional a ν,

e o termo quartico e a interacao de dois corpos. No geral, esses dois termos tem origens

diferentes. O primeiro termo na Eq. (168), pode ser obtido por meio de dois feixes de

laser de propagacao oposta que acopla dois estados hiperfinos internos do mesmo atomo

bosonico. O laser e sintonizado a uma frequencia levemende diferente da separacao entre

os dos estados hiperfinos. Esta diferenca, ou desintonia (”detunning”) e parametrizada por

ν. Considerando os dois estados hiperfinos como sendo um espaco de iso-spin, este termo

aparece como uma interacao efetiva spin-orbita (EISBERG, 1979). O segundo termo na

Eq. (168), representa o espalhamento da onda s, onde o estado interno hiperfino dos

atomos nao e conservado. Na ausencia de ν, este tipo de processo e improvavel, pois

ambos os estados hiperfinos sao energeticamente bem separados. No entanto, na presenca

de um laser com uma pequena desintonia entre as diferencas de frequencias, uma pequena

constante de acoplamento poderia produzir resultados qualitativamente diferentes.

Aspectos do diagrama de fase do modelo das densidades lagrangianas nao rela-

tivısticas Lψ, Lφ e Eq. (168), que nao possuem o acoplamento Josephson (LJ = 0),

foram anteriormente estudadas na Ref. (PINTO, 2005). A analise de campo medio, em

temperatura zero, conduz a algumas restricoes sobre as constantes de acoplamento. Por

exemplo, para que os dois campos possam condensar simultaneamente deve se cumplir

que

gφgψ − g2ψφ > 0 (169)

Page 53: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

51

Nestas condicoes, em T = 0, pode-se escrever as densidades dos condensados em

termos dos potenciais quımicos (PINTO, 2005),

ρΦc =

gΨµΦ − gµΨ

gΨgΦ − g2ψφ

, ρΨc =

gΦµΨ − gµΦ

gΦgΨ − g2ψφ

(170)

Se a condicao, Eq. (169) for violada, os dois condensados nao coexistem e tendem a

separar espacialmente.

Flutuacoes termicas bem como quanticas, nao altera este comportamento geral.

No entanto, a presenca de acoplamento Josephson altera qualitativamente o diagrama de

fase do modelo. Por esta razao, abordamos os efeitos dos termos de interacao como na

Eq. (168) no diagrama de fase.

3.2 Modelo O(2) com anisotropia Josephson

Aqui o principal interesse e estudar os efeitos do acoplamento Josephson Eq. (168)

sobre o diagrama de fase de uma mistura binaria descrita pelo modelo da secao anterior.

Este modelo tem um diagrama de fase muito abrangente, dependendo dos valores relativos

das constantes de acoplamento e temperatura. No entanto, existe um ponto de maxima

simetria onde a analise fica mais simples. Por uma questao de simplicidade, vamos analisar

o modelo (163)-(168), neste ponto, dado por, gφψ = gφ = gψ = g e ΩR = 0, ν = 0 e gJ = 0.

Com isso, na Eq. (167), o termo de interacao entre os campos tem forma simples,

Lc = −g2

(ψ∗ψ + φ∗φ)2 (171)

Neste ponto de maxima simetria, o sistema tem alem de uma simetria de fase

Uφ(1) ⊗ Uψ(1), tambem tem uma simetria O(2) correspondendo as rotacoes no espaco

de isospin (φ, ψ). Por esta razao, este modelo e chamado de modelo O(2) complexo nao

relativıstico. Sendo assim, por um lado, o numero de partıculas de cada uma das especies

e conservado indepedentemente. Alem disso, as duas especies sao indistinguiveis neste

ponto, uma vez que, qualquer rotacao das misturas das duas especies tem exatamente a

mesma acao.

Em seguida, quebra-se a simetria O(2), considerando um termo proporcional a ΩR

e um termo de Josephson, da forma,

Lν = νψ∗φ+ ν∗φ∗ψ ∝ ΩR (172)

Para simplificar, na Eq. (168), ignora-se o termo de interacao entre as duas especies

de condensados, ja que em princıpio e de ordem mais elevada do que o termo de auto-

acoplamento.

Page 54: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

52

A estrutura deste modelo e claramente visualizada atraves da definicao de novos

campos (ϕ1, ϕ2), obtidos a partir de uma rotacao dos campos originais dada por,(ϕ1

ϕ2

)= M

ψ

)(173)

onde a matriz de rotacao pode ser escrita como,

M =

(Ωeff−ΩR

D− νD

ν∗

D

Ωeff−ΩRD

)(174)

com

D =

√(Ωeff − ΩR)2 + | ν |2 (175)

E facil comprovar que det(M) = 1.

Com esta transformacao, a densidade lagrangeana toma seguinte forma,

L = ϕ∗1

(i∂t −

∇2

2m+ µ+

)ϕ1 + ϕ∗2

(i∂t −

∇2

2m+ µ−

)ϕ2 −

g

2(ϕ∗1ϕ1 + ϕ∗2ϕ2)2 (176)

onde, µ± = µ±√

Ω2R+ | ν |2.

Embora os termos proporcionais a ν e ΩR na Eq.(172) quebra a simetria O(2) e

Uφ(1)⊗Uψ(1), o sistema ainda possui uma simetria Uϕ1(1)⊗Uϕ2(1), nas novas variaveis.

Isto significa que o numero de partıculas associadas com cada uma das especies en-

trelacadas ϕ1 e ϕ2 sao conservadas independentemente. Este comportamento e con-

sequencia da simetria O(2), do termo de interacao entre os dois campos (171). Nao e

dıficil de perceber, que no caso de desequilibrio da interacao quartica, gψφ 6= g, mediante

a rotacao de iso-spin, um termo proporcional a ϕ1ϕ1ϕ∗2ϕ∗2, sera gerado, quebrando desta

forma a simetria Uϕ1(1)⊗ Uϕ2(1)→ U(1).

Curiosamente, a Eq. (176), nao depende de ΩR e ν independentemente, mas

somente da frequencia efetiva de Rabi, Ωeff =√

Ω2R+ | ν |2.

E interessante, saber a forma da matriz de rotacao (174) em dois diferentes limites.

Se o parametro ν e muito menor do que a frequencia de Rabi ΩR, | ν | ΩR temos que

M =

(|ν|

2ΩR−eiαν

e−iαν |ν|2ΩR

)(177)

onde definimos, ν =| ν | exp(iαν). E evidente que a mistura e proporcional a ν2ΩR

+

O ((| ν | /2ΩR))2. No limite extremo de ν → 0 as duas especies estao desacopladas como

e esperado.

Page 55: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

53

Por outro lado, no limite | ν | ΩR

M =

1√2

(1− ΩR

2|ν|

)− eiαν√

2(

1+ eiαν2|ν|

)e−iαν√

2

(1 + ΩR

2|ν|

)1√2

(1− ΩR

2|ν|

) (178)

No limite extremo, ΩR → 0, os campos sao simetricamente entrelacados, dependendo

apenas da fase de ν, αν :

ϕ1 =1√2

(φ− eiανψ

)ϕ2 =

1√2

(e−iανφ+ ψ

)(179)

Neste ponto especial ΩR = 0, os dois campos estao entrelacados indepedentemente dos

valores de | ν |. Pequenos valores de ΩR, produzem correcoes da ordem ΩR/ | ν |.

3.3 Teoria de campo medio

Analisaremos o modelo da secao anterior em uma aproximacao de campo medio.

Agora e escrito as equacoes de Gross-Pitaeviskii para cada campo,(i∂t −

∇2

2m+ µ+ − g (ϕ∗1ϕ1 + ϕ∗2ϕ2)

)ϕ1 = 0(

i∂t −∇2

2m+ µ− − g (ϕ∗1ϕ1 + ϕ∗2ϕ2)

)ϕ2 = 0 (180)

Buscando solucoes estaticas e uniformes para ϕ1,2(x, t) ≡ ϕ01,2, achamos as seguintes

equacoes algebricas,(µ+ − g

[| ϕ0

1 |2 + | ϕ02 |2])ϕ0

1 = 0(µ− − g

[| ϕ0

1 |2 + | ϕ02 |2])ϕ0

2 = 0 (181)

Evidentemente que os dois campos ϕ1 e ϕ2 nao podem condensar simultaneamente,

uma vez que uma solucao ϕ01,2 6= 0 nao existe para ν 6= 0, ΩR 6= 0. Em vez disso, temos

duas solucoes,

ϕ01 = 0 ←→ | ϕ0

2 |2= µ−/g ou

ϕ02 = 0 ←→ | ϕ0

1 |2= µ+/g (182)

Portanto, neste modelo a uma temperatura T = 0, apenas um condensado uniforme

pode existir. Se admitimos uma solucao, ϕ02 = 0, e utilizando M−1, dada pela inversa da

Page 56: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

54

Eq. (174), fica simples retornar aos campos originais, obtendo,

φ0 =Ωeff − ΩR√

(Ωeff − ΩR)2 + | ν |2ϕ0

1

ψ0 = − ν∗√(Ωeff − ΩR)2 + | ν |2

ϕ01 (183)

onde φ0 e ψ0 sao as amplitudes dos condensados dos campos φ(x) e ψ(x) respectivamente.

A primeira observacao e que as duas especies φ e ψ condensam simultaneamente,

e a fase relativa entre estes condensados ∆α e fixada pela fase do parametro ν,

∆α = αν + π (184)

Alem disso, a fracao do condensado de ambas as especies e muito diferente, dependendo

da relacao entre ΩR e | ν |.E interessante parametrizar ΩR e | ν | da seguinte maneira,

ΩR =∆µ

2sin θ (185)

| ν | =∆µ

2cos θ (186)

com 0 ≤ θ ≤ π/2. Usando esta parametrizacao, a relacao entre os dois condensados toma

a seguinte forma,

Uma questao importante e como as flutuacoes termicas afetam a estrutura geral

do modelo, isto e, do campo medio. Para isso, e considerado o potencial efetivo

Ueff (ϕ01, ϕ

02) = U0(ϕ0

1, ϕ02) + ∆µ(ϕ0

1, ϕ02, T ) (187)

onde U0 e o potencial despido, isto e, potencial classico e ∆U contem os efeitos das

flutuacoes. Duas simetrias importantes restringem a forma geral deste potencial. De um

lado, a simetria U(1) ⊗ U(1), implica que o potencial efetivo e uma funcao de | ϕ01 |2

e | ϕ02 |2. Por outro lado, uma vez que a simetria O(2) e quebrada pelos parametros ν

e ΩR, ou ∆µ = µ+ − µ−, o potencial deve ser uma funcao de, χs =| ϕ01 |2 + | ϕ2

2 |2

e χa =| ϕ01 |2 − | ϕ0

1 |2, independentemente. O subındice s e a define, simetrica e

antisimetrica, respectivamente. Temos entao o potencial efetivo,

Ueff = U0(χs, χa) + ∆U(χs, χa, T ) (188)

Minimizando a Eq.(188) e assumindo que os dois condensados ϕ01 6= 0 e ϕ0

2 6= 0,

Page 57: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

55

Figura 2 - Relacao entre as duas especies de condensados.

Legenda: Para θ → φ/2 ou | ν |→ 0, com ΩR 6=, somente um

condensado sobrevive.

Fonte: A autora, 2014.

encontramos imediatamente

µ+ +∂∆U

∂χs− g

(| ϕ0

1 |2 + | ϕ02 |2)

+∂∆U

∂χa= 0 (189)

µ− +∂∆U

∂χs− g

(| ϕ0

1 |2 + | ϕ02 |2)− ∂∆U

∂χa= 0 (190)

Estas equacoes tem como consequencia,

∆U(T ) = −1

2∆µ(T )χa + F(χs, T ) (191)

onde, F e uma funcao arbitraria. Como nao ha nenhuma razao para esperar uma funcao

linear ∆U ∼ χa, conclui-se que neste modelo, os dois campos ϕ1 e ϕ2 nao podem condensar

simultaneamete, desde que ∆µ(T ) 6= 0.

Veremos na proxima secao que, estudando em detalhe as flutuacoes termicas, po-

deria haver uma reentrancia da simetria O(2), na qual ∆µ(T ) = 0, em temperaturas

extremamente baixas Tr Tc, mudando desta forma a estrutura da solucao do campo

medio.

Page 58: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

56

3.4 Efeitos de flutuacoes

Para estudar flutuacoes termicas bem como quanticas, comecamos por considerar

a teoria de campo a temperatura finita do modelo Eq. (176)

SE =

∫ β

0

∫d3x ϕ∗1

(∂τ −

∇2

2m− µ+

)ϕ1 + ϕ∗2

(∂τ −

∇2

2m− µ−

)ϕ2

− g

2(ϕ∗1ϕ1 + ϕ∗2ϕ2)2 . (192)

A funcao de particao do modelo,

Z(β) =

∫Dϕ1Dϕ

∗1Dϕ2ϕ

∗2e−SE+

∫d3xdτ ~J.~ϕ

= e−βVW [β,J ] (193)

onde foi introduzida uma fonte ~J , a fim de calcular funcoes de correlacao. A medida de

integracao funcional contem a condicao de contorno bosonica implıcita no tempo eucli-

deano ϕ(0, x) = ϕ(β, x). W [β, ~J ] = 1βV

lnZ e a chamada energia livre de Helmholtz do

sistema.

O principal objetivo desta secao e calcular W [β, J ], na aproximacao a um laco ou

em campo medio mais flutuacoes gaussianas. Como discutido na ultima secao, esperamos

que pelo menos em uma certa regiao de temperaturas, as flutuacoes nao modifiquem a

estrutura geral do campo medio. Com isto em mente, a fim de calcular W [β, J ], substi-

tuimos na Eq.(193) a seguinte decomposicao,

ϕ1(x, t) = ϕ01 + ϕ1(x, τ) (194)

ϕ2(x, t) = ϕ2(x, τ) (195)

em que∫d3xϕ1,2 = 0 e ϕ0

1(J) e uma solucao de

δSEδϕ1

∣∣∣ϕ1=ϕ0

1,ϕ2=0= J

δSEδϕ2

∣∣∣ϕ1=ϕ0

1,ϕ2=0= 0

onde escolhemos ~J=cte na direcao ϕ1.

Conservando os termos de segunda ordem nas flutuacoes, obtemos,

Z(β) = e−βV U0(ϕ01)

∫[Dδϕ] e−

∫dτd3x

∑ij δϕ

∗i S

(2)ij δϕj (196)

Page 59: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

57

onde, o potencial classico e escrito como segue,

U0 = −µ+ | ϕ01 |2 +

g

2| ϕ0

1 |4 (197)

A medida de integracao e dada por

[Dδϕ] = Dδϕ1Dδϕ∗1Dδϕ2Dδϕ

∗2 (198)

e o kernel quadratico,

S(2)ij =

δ2SEδϕ∗jδϕi

∣∣∣ϕ1=ϕ0

1,ϕ2=0(199)

Integrando as flutuacoes quadraticas, encontramos a expressao para a energia livre,

W [J, β] = U0 + ∆W (200)

com,

∆W [J, β] =1

2ln det S(2) (201)

Devido a estrutura particular do condensado, (ϕ01 6= 0, ϕ0

2 = 0), a matriz S na base

(Re(δϕ1), Im(δϕ1), Re(δϕ2), Im(δϕ2)) e separada em dois blocos de 2× 2,

S(2) =

[S

(2)a 0

0 S(2)b

](202)

com,

Sa(2)

=

[−∇2

2m− µ+ + 3g | ϕ0

1 |2 i∂τ

−i∂τ −∇2

2m− µ− + g | ϕ0

1 |2

](203)

e

Sb(2)

=

[−∇2

2m− µ+ + g | ϕ0

1 |2 i∂τ

−i∂τ −∇2

2m− µ− + g | ϕ0

1 |2

](204)

Agora e possıvel ir para o espaco dos momentos, para dessa forma calcular o determinante

da matriz. Com isso e possıvel obter o seguinte resultado,

∆W =1

2ln detS(2)

=1

∞∑n=−∞

∫d3q

(2π)3ln(w2n + E2

1

) (w2n + E2

2

)(205)

Page 60: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

58

onde, wn = 2nπ/β, sao as frequencias de Matsubara. Com,

E1 =

√(q2

2m− µ− + 3g | ϕ0

1 |2)(

q2

2m− µ+ + g | ϕ0

1 |2)

(206)

e

E2 =q2

2m− µ− + g | ϕ0

1 |2 (207)

Para calcular o somatorio das frequencias de Matsubara, e preciso fazer uso da seguinte

expressao,

1

β

∑n

ln(w2n + E2

i

)= Ei +

2

βln(1− e−βEi

)(208)

obtemos,

∆W =1

2

∫d3q

(2π)3

∑i

Ei +

2

βln(1− e−βEi

), (209)

E interessante notar que, se substituimos o valor de campo medio para ϕ01 dado, pela

Eq.(182) nas Eqs. (206) e (207), obtemos imediatamente,

E1 =

√(q2

2m

)(q2

2m+ 2g | ϕ0

1 |2)

(210)

e

E2 =q2

2m+ Ω2

R+ | ν |2 (211)

As equacoes, (210) e (211), sao as energias de excitacoes habituais, calculadas na apro-

ximacao de Bogoliubov. A Eq. (210) e o modo de Goldstone associado com a quebra de

simetria Uϕ1(1), enquanto que a Eq. (211) e o modo correspondente as flutuacoes fora do

condensado.

E util expressar a energia livre em termos do parametro de ordem,

ϕ =δW

δJ= ϕ0

1 +1

2Tr

[1

S(2)

δS(2)

δϕ01

δϕ01

δJ

](212)

A nıvel de campo medio, o parametro de ordem e exatamente a solucao do campo medio

ϕ01. No entanto, quando as flutuacoes sao levadas em conta, o resultado e diferente, dado

por Eq. (212).

Definimos a energia livre de Gibbs como um funcional do parametro de ordem ϕ,

fazendo uma transformacao de Legendre,

Γ[β, ϕ] = ϕJ −W (213)

Page 61: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

59

onde, δΓ/δϕ = J . Em Eq. (213), J e uma funcao do parametro de ordem ϕ, obtido

invertendo a Eq. (212). Fazendo explicitamente a transformada de Legendre a ordem

dominante nas flutuacoes, obtemos

Γ[β, ϕ] = µ+ | ϕ |2 −g

2| ϕ |4

− 1

2

∫d3q

(2π)3

∑i

Ei +

2

βln(1− e−βEi

)(214)

A Eq. (214) e a energia livre de Gibbs, calculada em campo medio mais flutuacoes

gaussianas, ou na linguagem de teoria quantica de campos, a acao efetiva a um laco.

A amplitude do condensado ϕm e calculada minimizando a energia livre,

∂Γ[β, ϕ]

∂ϕ

∣∣∣∣ϕ=ϕm

= 0. (215)

Usando a eq. (214) e definindo o potencial quımico efetivo µ+ = g|ϕm|2 achamos uma

expressao µ+ em funcao do potencial quımico original µ+ e a temperatura:

µ+ = µ+ −1

2

∫d3q

(2π)3×

×

(

2 q2

2m+ µ+

)(1 + 2n(E1))√(

q2

2m

)(q2

2m+ 2µ+

)+ 1 + 2n(E2)

(216)

onde, n(Ei) e a distribuicao de Bose para a energia Ei com i = 1, 2.

A densidade total de partıculas de cada uma das especies ϕ1 e ϕ2, e dada por,

ρϕ1 =∂Γ

∂µ+

=µ+

g− 1

2

∫d3q

(2π)3

q2/2m

E1

(1 + 2n(E1))

− 1

2

∫d3q

(2π)3(1 + 2n(E2)) (217)

ρϕ2 =∂Γ

∂µ−=

1

2

∫d3q

(2π)3(1 + 2n(E2)) (218)

Usando a relacao entre µ+ e µ−, dada pela equacao (216), finalmente chegamos,

ρϕ1 =µ+

g+

1

2

∫d3q

(2π)3

q2

2m+ µ+

E+

coth (βE+/2) (219)

ρϕ2 =1

2

∫d3q

(2π)3coth (βE−/2) (220)

Page 62: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

60

com

E+ =

√(q2

2m

)(q2

2m+ 2µ+

)(221)

E− =q2

2m+ µ+ − µ− (222)

A partir da Eq. (221) fica evidente que o modo de Goldstone e preservado a uma tem-

peratura finita, como deve acontecer. Desde que ρϕ1 e ρϕ2 sao constantes, as Eqs. (219),

(220), (221) e (222), sao equacoes acopladas para as variaveis µ+ e µ−, como uma funcao

da temperatura.

As expressoes, (219) e (220) possuem as divergencias ultravioletas usuais de uma

teoria de campos em T = 0. Como e bem conhecido, as flutuacoes termicas sao sempre

convergentes. A maneira usual de lidar com essas divergencias e regularizar a integral e

depois renormalizar as constantes despidas, µ+, µ−, g a fim de obter resultados finitos.

Um procedimento conveniente, no caso escalar nao relativistico, e o metodo de cut-

off. Este metodo limita as integrais de momento fazendo uso de um cut-off ultravioleta,

0 ≤| ~q |≤ Λ. Os resultados sao obviamente dependentes de Λ. No entanto, se comecarmos

os calculos com constantes renormalizadas µR± = µ± + δµ±(Λ), pode-se ajustar δµ±(Λ)

para conseguir um resultado independente de Λ. No final pode-se realizar com seguranca o

limite Λ→∞. Apos este procedimento, as expressoes renormalizadas podem ser escritas

como segue,

ρϕ1 =µ+

g+

(mµ+)3/2

3π2+

∫d3q

(2π)3

q2

2m+ µ+

E+ (eβE+ − 1)(223)

ρϕ2 =

∫d3q

(2π)3

1

eβE− − 1(224)

A Eq.(223), define implicitamente a densidade do condensado ϕm(T ), ou equivalente-

mente, o potencial quımico efetivo, µ+(T ). Esta equacao coincide com a densidade obtida

a partir de uma potencial efetivo a um laco de um unico campo auto-interagente(PINTO,

2006). A Eq. (224) determina a frequencia efetiva de Rabi, Ωeff (T ) = (µ+ − µ−) /2 =

∆µ/2.

A temperatura crıtica Tc, e facilmente calculada fixando µ+ = 0 na Eq. (223),

obtendo portanto a expressao habitual para um gas ideal nao relativista,

Tc =2π

m

(ρϕ1

ζ(3/2)

)2/3

(225)

onde, ζ(3/2) ∼ 2.612. Esperamos correcoes de Tc somente na aproximacao de dois lacos.

Page 63: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

61

A Eq. (224) da origem a correcoes de temperatura das interacoes Josephson. Uma

vez que, E− representa as excitacoes com gap Ω2eff = Ω2

R+ | ν |2 6= 0, a integral em Eq.

(224) pode ser feita de maneira segura no limite classico, obtendo,

ρϕ2 ∼1

4√

2π(mT )3/2 e

∆µT (226)

Em termos de densidades constantes ρϕ1 e ρϕ2 e temperatura crıtica Tc, dada pela

Eq. (225), obtemos a partir de Eq. (226)

∆µ = T ln

[(ρϕ1

ρϕ2

)(T

Tc

)3/2]

(227)

Esta expressao nos mostra as interacoes efetivas ΩR e ν na presenca de flutuacoes de

temperaturas. Os parametros sao fixados pelas densidades relativas ρϕ1/ρϕ2 . Uma vez

que, ∆µ > 0, este calculo e valido apenas para,

T

Tc>

(ρϕ2

ρϕ1

)2/3

(228)

Surpreendentemente, existe uma temperatura mınima TR = (ρϕ1/ρϕ2)2/3Tc, onde, ∆µ(TR) =

0 e a simetria O(2) e restaurada. Portanto, a nossa analise de campo medio nao e valida

para temperaturas T ≤ TR. A fim de ter a estrutura do condensado dada por (183), pre-

cisamos fixar ρϕ2/ρϕ1 < 1 e TR < T < Tc. Esta interessante reentrancia de fase nao e um

artifıcio da aproximacao classica usada para calcular a integral na Eq. (224). Na verdade,

resolvendo a integral usando metodos numericos, encontramos o mesmo comportamento

geral.

Na proxima secao, seram calculados numericamente as fracoes condensadas como

funcoes de temperatura para diferentes valores dos parametros.

3.5 Avaliacao numerica das densidades dos condensados

Para calcular o perfil da densidade do condensado, reescrevemos a Eq. (223) na

forma adimensional. Para isso, vamos definir a fracao do condensado ρc = µ+/(gρϕ1). A

temperatura adimensional e definida como, T = T/Tc. Introduzimos tambem o parametro

de diluicao nϕ1 = ρϕ1a3, onde a e o comprimento de espalhamento da onda-s. Usando

Page 64: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

62

essas definicoes, podemos escrever a Eq. (223) da seguinte forma,

1 = ρc +8

3π1/2n1/2ϕ1ρ3/2c +

4

π1/2ζ(3/2)T 3/2

∫ ∞0

dyyy2 + 2ζ(3/2)2/3n

1/3ϕ1 ρcT

−1√y2 + 4ζ(3/2)2/3n

1/3ϕ1 ρcT−1

×(ey√y2+4ζ(3/2)2/3n

1/3ϕ1

ρcT−1 − 1

)−1

(229)

E simples de verificar se o limite nϕ1 → 0 conduz a um resultado de gas ideal,

ρc = 1− T 3/2. O segundo termo de r.h.s. da Eq. (229) produz a deplecao quantica de um

condensado, enquanto que o terceiro termo representa a dependencia da temperatura.

Resolvendo numericamente a Eq. (229), podemos obter a fracao do condensado

ρc(T ) para diferentes valores do parametro nϕ1 . A partir deste resultado, e razoavelmente

simples calcular as fracoes dos condensados para os campos φ e ψ, usando as Eqs. (183).

Definimos as fracoes do condensado para os campos φ e ψ com ρcφ =| φ0 |2

/ (ρϕ1 + ρϕ2) e ρcψ =| ψ0 |2 / (ρϕ1 + ρϕ2), onde escolhemos a densidade total de partıculas,

ρφ + ρψ = ρϕ1 + ρϕ2 , para normalizar as fracoes. Em seguida, usamos as Eqs. (183).

Existem dois regimes interessantes para se concentrar. Para | ν | /ΩR 1, a fracao do

condensado torna-se,

ρcφ ∼(

1− ρϕ2

ρϕ1

)(| ν |2ΩR

)2

ρc (230)

ρcψ ∼(

1− ρϕ2

ρϕ1

)ρc (231)

O primeiro fator compensa as normalizacoes de ρcφ,ψ e ρc. Para obte-lo, e considerado

ρϕ2/ρϕ1 < 1 e desprezamos os termos proporcionais a (ρϕ2/ρϕ1)2. A fracao do condensado

e determinada pelo fator (| ν | /2ΩR)2 e as proximas correcoes para as Eqs. (230) e (231),

sao termos proporcionais a (| ν | /2ΩR)4.

Na figura 3, mostramos o perfil tıpico de ambos os condensados, onde fixamos

nϕ1 = 10−5 e | ν | /2ΩR = 0.24. Observe que ρcφ e fortemente diminuido pelo fator ν/ΩR

e tende a desaparecer no limite | ν |→ 0. Uma observacao interessante e que o fator

| ν | /ΩR nao e corrigido por variacoes de temperatura. Esta e uma consequencia direta

da simetria O(2) da interacao de dois corpos.

Por outro lado, no regime oposto figura 4, ΩR/ | ν | 1, as densidades dos

condensados de ambas as especies sao essencialmente iguais, com pequenas correcoes

dadas por,

ρcφ0∼ 1

2

(1− ρϕ2

ρϕ1

)(1− ΩR

| ν |

)ρc (232)

Page 65: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

63

Figura 3 - Fracao condensada ρφ e ρψ como uma funcao da

temperatura adimensional T no limite | ν | /ΩR < 1.

Legenda: A linha solida representa ρcψ, dada pela Eq.(231),

enquanto a linha tracejada e representada por ρcφ, e

dada por Eq.(230). Fixamos, nϕ1 = 10−5,

ρϕ2/ρϕ1 = 10−1 e | ν | /2ΩR = 0.24.

Fonte: A autora, 2014.

Page 66: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

64

Figura 4 - Fracao condensada ρφ e ρψ como uma funcao da

temperatura adimensional T no limite ΩR/ | ν |< 1.

Legenda: A linha solida representa ρcψ, dada pela Eq.(231),

enquanto a linha tracejada e representada por ρcφ, e

dada por Eq.(230). Fixamos, nϕ1 = 10−5,

ρϕ2/ρϕ1 = 10−1 e | ν | /2ΩR = 0.24.

Fonte: A autora, 2014.

Page 67: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

65

ρcψ0∼ 1

2

(1− ρϕ2

ρϕ1

)(1 +

ΩR

| ν |

)ρc (233)

onde descartamos correcoes de ordem, (ΩR/ | ν |)2. Mostramos as curvas, na Figura 4,

para nϕ1 = 10−5, ρϕ2/ρϕ1 = 10−1 e ΩR/ | ν |= 0.02.

Page 68: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

66

CONCLUSAO

Nesta tese apresentamos uma aplicacao de tecnicas de teoria quantica de campos

para estudar sistemas da materia condensada. Estudamos sistemas de dois campos esca-

lares complexos a temperatura e densidade finita. Para isto, usamos o potencial efetivo a

um laco, calculado no formalismo de tempo imaginario.

Motivados por experimentos em misturas bosonicas compostas de um unico ele-

mento quımico em dois estados hiperfinos diferentes, abordamos o problema de proprie-

dades de equilıbrio de uma mistura uniforme de dois campos bosonicos em presenca de

interacoes do tipo Josephson as quais acoplam as fases dos campos.

Consideramos uma teoria quantica de campos, formada por dois campos comple-

xos bosonicos nao relativısticos com interacoes quarticas locais. Este sistema tem um

diagrama de fases muito rico e difıcil de ser abordado na sua totalidade. Por este motivo

decidimos estudar um sistema simplificado. Observamos que existe um ponto especial nas

constantes de acoplamento onde, alem da simetria de fase U(1)⊗ U(1), surge uma outra

simetria O(2), relacionada com as rotacoes no espaco de isospin (φ, ψ). Esta simetria

faz com que a analise das flutuacoes fique mais simplificado. Na ausencia da interacao

de Josephson, este modelo apresenta geralmente uma separacao de fases. No entanto,

as interacoes que quebram explicitamente a simetria U(1)⊗ U(1)⊗O(2) modificam este

comportamento.

Portanto, estudamos um modelo com simetria O(2), perturbado minimamente

atraves do acoplamento Josephson, que desequilibra a populacao de cada especie transfe-

rindo carga entre ambas especies. Estas interacoes sao parametrizadas pela frequencia de

Rabi ΩR e o parametro ν que mede a dessintonia do lase aplicado em relacao a separacao

de frequencias das duas especies.

Fazendo uma rotacao no espaco de isospin (φ, ψ)→ (ϕ1, ϕ2), mostramos que existe

uma direcao para a qual a simetria de fase U(1)⊗U(1) e recuperada, e somente uma das

especies bosonicas (por exemplo, ϕ1) poderia eventualmente condensar. Desse modo, a

densidade de pertıculas de cada especie bosonica ρϕ1 e ρϕ2 e conservada indepedentemente.

Naturalmente, a simetria O(2) e ainda quebrada, desde que a diferenca entre os potenciais

quımicos seja ∆µ = µ+ − µ− = 2Ωeff 6= 0. Nesta nova base, calculamos a acao efetiva

a um laco (a energia livre de Gibbs) como uma funcao de um parametro de ordem do

condensado e a temperatura. Desta forma, ao minimizar a energia livre, obtivemos a

fracao do condensado. Para obter os perfis dos condensados dos campos originais, fazemos

uma rotacao para retornarmos a base original (φ, ψ). Esta rotacao depende somente

da razao ΩR/ | ν |. E interessante notar que devido a simetria O(2) da interacao de

dois corpos, as flutuacoes apenas renormalizam a frequencia efetiva de Rabi, Ωeff =√Ω2R+ | ν |2, enquanto que a razao ΩR/ | ν |, permanece inalterada. Assim os coeficientes

Page 69: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

67

da rotacao de isospin sao indepedentes da temperatura. Nas figuras 3 e 4 mostramos os

perfis dos condensados ψ e φ como funcao da temperatura para diferentes valores do

parametro ΩR/ | ν |. Verifica-se claramente que para | ν | /ΩR → 0, existe apenas

a presenca de um condensado, enquanto que no limite oposto, ΩR/ | ν |→ 0, ambos

condensados sao essencialmente iguais, com pequenas correcoes de ordem Ω/ | ν |. Um

resultado interesante e que, independendtemente dos valores da fracao condensada, os

dois condensados tem suas fases determinadas pela fase do parametro de dessintonia ν.

Ou seja que, ajustando a fase do laser aplicado e possivel conseguir dois condensados com

sua diferenca de fase perfeitamente determinada.

E importante estabelecer em que regiao dos parametros os calculos realizados sao

consistentes. O calculo realizado nao e valido para qualquer valor da temperatura. De

fato, verificou-se que existe uma reentrancia de simetria O(2) em uma temperatura es-

pecıfica Tr, para qual, Ωeff (Tr) = 0. Esta temperatura, depende essencialmente do

numero de partıculas que desequilibram as duas especies ρϕ1/ρϕ2 . Abaixo desta tempe-

ratura, a solucao de campo medio utilizada e instavel sob as flutuacoes termicas. Assim

nossa abordagem e valida para Tr < T < Tc. Por outro lado, os resultados apresentados

nesta tese sao validos desde que, a interacao de dois corpos seja invariante sob rotacao

de isospin. Considere por exemplo um pequeno desvio do modelo O(2), gψ = gψ = g,

mas gψφ = g + ∆g. Neste caso, na base (ϕ1, ϕ2) sera gerado um termo proporcional a

∆g(ϕ∗1ϕ∗1ϕ2ϕ2). Portanto, embora tenhamos ignorado este tipo de termos no modelo origi-

nal, eles vao ser gerados no caso de uma interacao de dois corpos mais geral. Assim, para

∆g 6= 0, nao existe nenhuma direcao no espaco de isospin em que a simetria U(1)⊗U(1)

seja recuperada. Esta fato, torna o estudo das flutuacoes quanticas e termicas mais difıcil.

Esta tese incentiva duas linhas naturais de pesquisa. Por um lado, e interessante

estudar a energia livre de Gibbs, ou o potencial effectivo, para o caso mais geral em

que a interacao de dois corpos nao tem simetria O(2). O calculo das flutuacoes neste

caso e mais difıcil ja que podem existir dois condensados com fases acopladas. Tambem,

e importante ter presente que, nos experimentos, o condensado nunca e homogeneo, ja

que as armadilhas usadas para conter o gas, provocam inomogeneidades. Uma extensao

natural no calculo das fracoes do condensado e levar em conta as armadilhas no modelo

original proposto.

Page 70: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

68

REFERENCIAS

ALBIEZ, M. et al. Direct observation of tunneling and nonlinear self-trapping in a single

bosonic Josephson juction. Phys. Rev. Lett., New York, v.95, p. 010402, July 2005.

ANDREWS, M. R. et al. Observation of interference between two Bose condensates.

Science, Massachusetts, v.175, p. 637, 1997.

BARCI, D. G.; FRAGA, E. S.; RAMOS, R. O. A nonequilibrium quantum field theory

description of the Bose-Einstein condensate. Phys. Rev. Lett., New York, v. 85, p.

479-482, 2000.

BOLLINI, C. G.; GIAMBIAGI, J. J.; DOMINGUES, A. G. Analitic regularization and

the divergences of quantum field theories. II Nuovo Cim., [S.l.], v. 31, p. 550-561, 1964.

BARONE, A.; KULIK, I. O. Quantum mesoscopic phenomena and mesoscopic devices

in microeletronics. NATO Science serie C, [S.l.], v.559, p. 301, 2000.

BARONE, F. A.; BOSCHI-FILHO, H.; FARINA, C. Three methods for calculating the

Feynman propagator. American Association of Physics Teacher, New York, v. 71, p.

483-491, 2003.

BROWN, L. H.; MACLAY, G. J. Phys. Rev. D, New York, v. 184, p. 1272, 1969.

COLLINS, J. An introduction to renormalization, the renormalization group, and the

operator-product expasion. 1st ed. New York: Cambridge University Press, 1994. 388 p.

CHIEN, Chin-Chun; COOPER, F.; TIMMERMANS, E. Large-N approximation for

single and two-component dilute Bose gases. Phys. Rev. A, New York, v. 86, p. 023634,

2012.

DAS, A. Finite temperature field theory. Singapure: World Scientific, 1997. 775 p.

DE CALAN, C.; MALBOUISSON, A. P. C.; SVAITER, N. F. On The temperature

depedent coupling constant in the vector N-component model. An exact solution for

D=3. Phys. Lett. A, [S.l.], v. 13, n. 22, p. 1757, 1998.

DOLAN, L.; JACKIW, R. Symmetry behavior at finite temperature. Phys. Rev. D, New

York, v. 9, n. 12, p. 3320, 1974.

DOWEKER, J. S.; CRITCHElEY, R. Effective lagrangian and energy-momentum

tensor in the sitter space. Phys. Rev. D, New York, v. 13, n. 12, p. 3224, June 1976.

EISBERG, R.; RESNICK, R.. Fısica quantica. Rio de Janeiro: Campus, 1979. 928 p.

Page 71: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

69

FEYNMAN, R. P.; HIBBS, A. R. Quantum mechanics and path integrals. USA: Mac

Graw-Hill, 2010. 372 p.

FIERZ, M. Helv. Phys. Acta, USA, v. 33, p. 855-858, 1960.

FRADKIN, E. Field theories of condensed matter systems. 2ed. New York: Cambridge

University Press, 2013. 838 p.

GADWAY, B. et al. Superfluidity of interacting bosonic mixtures in optical lattice. Phys.

Rev. Lett., New York, v.105, p. 045303, may 2010.

GATI, R.; OBERTHALER, M. K. A bosonic Josephson junction. Journal of Physics B:

At. Mol. Opt. Phys., USA, v.40, n. 10, p. R61-R89, May 2007.

GRADSHTEYN, I. S.; RYZHIK, I. M. Table of integrals, series and product . 7th ed.

USA: Academic Press, 1965. 1200 p.

GREINNER, W. Classical eletrodynamics. 2nd ed. Berlin: Springer, 1998. 569 p.

GREINER, W.; REINHARDT, J. Field quantization. 2nd ed. Berlin: Springer, 1996.

458 p.

GRIFFIN, A.; SNOKE, D.W.; STRINGARI, S. Bose-Einstein condensation. USA:

Cambridge University Press, 1996. 616 p.

HALL, D. S. et al. Dynamic of component separation in a binary mixture of Bose-Einstein

condensates. Phys. Rev. Lett., New York, v.81, n. 8, p. 1539, August 1998.

HALL, D. S. et al. Measurements of relative phase in two-component Bose-Einstein

condensates. Phys. Rev. Lett., New York, v.81, n. 8, p. 1543, August 1998.

HAWKING, S. W. Comm. Math. Phys., USA, v.55, p. 149, 1977.

ISKIN, M.; SA DE MELO, C. A. R. Two-species fermions mixtures with population

imbalance. Phys. Rev. Lett., New York, v.97, p. 045602, 2011.

JOSEPHSON, B. D. Possible new effects in superconductive tunneling. Phys. Lett., [S.l.],

v.1, n. 7, p. 251, july 1962.

KAPUSTA, J. I. Finite temperature field theory. 1st. New York: Cambridge University

Press, 1989. 225 p.

LE BELLAC, M. Thermal field theory. UK: Cambridge University Press, 1996. 272 p.

LEGGET, A. J. Bose-Einstein condensation in the alkali gases: some fundamental

concepts. Rev. Mod. Phys., USA, v.73, n. 2, p. 307, April 2001.

Page 72: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

70

LEVY, S. et al. The a.c. and d.c. Josephson effects in a Bose-Einstein condensate.

Nature, USA, v.449, p. 579-583, October 2007.

LIN, Y. J.; JIMENEZ-GARCIA, K.; SPIELMAN, I. B. Spin-orbit coupled Bose-Einstein

condensates. Nature, USA, v.471, p. 83, 2011.

MATSUMOTO, H.; UMEZAWA, H. Thermal field dynamics of a quantum algebra.

Phys. Lett. A, New York, v. 103, p. 405-407, July 1984.

MILLA Y. W. Metodos de teorias quantica de campos aplicados ao estudo das transicoes

de fase em filmes e fios supercondutores. 86 p. Tese (Doutorado em fısica) — Centro

Brasileiro de Pesquisas Fısicas, Rio de Janeiro, 2006.

MYATT, C. J. et al. Producting of two overlapping Bose-Einstein condensates by

sympathetic cooling. Phys. Rev. Lett., USA, v.78, n. 4, p. 586, 1997.

MOSHE, M.; ZINN-JUSTIN, J. Quantum field theory in the large N limit. A Review

Phys. Reports, USA, v. 385, p. 69-228, 2003.

PAPP, S. B.; PINTO, J. M.; WIEMAN, C. E. Studying a dual-species BEC with tunable

interaction. Phys. Rev. Lett., New York, v.101, p. 040402, February 2008.

PESKIN, M. E.; SCHRODER, D. V. An introduction to quantum field theory. 2nd ed.

Massachusetts: Addison-Wesley Publishing Company, 1995. 865 p.

PINTO, M. B.; RAMOS, R. O.; DE SOUZA, F. F. Transition temperature for weakly

interacting homogeneous Bose gas. Phys. Rev. B, New York, v.64, p. 014515, 2001.

PINTO, M. B.; RAMOS, R. O.; PARREIRA, J. E. Phase transition patterns in

relativistic and nonrelativistic multi-scalar field models. Phys. Rev. Lett. D, New York,

v. 71, n. 15, p. 123519, 2005.

PINTO, M. B.; RAMOS, R. O. Symemetry aspects in nonrelativistic multi-scalar field

models and aplications to a coupled two-species dilute Bose gas. Phys. A, London, v. 39,

n. 21, p. 6687-6693, 2006.

RAGHAVAN, S. Coherent oscillations between two weakly coupled Bose-Einstein

condensates: Josephson effects π oscilations, and macroscopic quantum self- trapping.

Phys. Rev. Lett., New York, v.59, n. 1, p. 620, January 1999.

RIVERS, R. J. Path integral method in quantum field theory. 1st ed. UK: Cambridge

University Press, 1987. 339 p.

RYDER, L. H. Quantum field theory. 2nd ed. UK: Cambridge University Press, 1985.

502 p.

Page 73: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

71

RUGGIERO, J. R.; VILLANI, A.; ZIMERMAN, A. H. Some comments on the

applications of analitic regularization to the casimir forces. Physical A, Amesterdam, v.

13, n. 5, p. 761-763, 1980.

SAKURAI, J. J.; TUAN FUN, S. F. Modern quantum mechanics. Revised edition .

Massachusetts: Addison-Wesley Publishing Company, 1994. 635 p.

SALERNO, M. Localized modes of binary mixtures of Bose condensate in nonlinear

optical lattice. Laser Physics, USA, v.4, p. 620, 2005.

SCHWINGER, J. S. Brownian motion of a quantum oscilator. Mathmatical Physics,

USA, v. 2, p. 407, 1961.

SMERZI, A. et al. Quantum coherent atomic tunneling between two trapped

Bose-Einstein condensates. Phys. Rev. Lett., New York, v.79, p. 4950, December 1997.

SOBREIRO, R. F. Aspectos nao perturbativo das teorias de Yang-Mills. 167 p. Tese

(Doutorado em fısica) - Instituto de Fısica Armando Dias Tavares — Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

SOLTAN-PANAHI, P. et al. Multi-component quantum gases in spin-depedent hexagonal

lattice. Nature Physics, USA, v.7, p. 434-440, october, 2011.

SOUZA, V. C.; GONZALEZ ARENAS, Z.; BARCI, D. G.; LINHARES, C. A. Bosonic

binary mixtures with Josephson-type interaction. arXiv:0410.0894, 2014.

SRIVASTAVA, J. K.; RAO, S. M. Modelos and methods of high-tc superconductivity.

USA: Nova Science, 2003. 418 p.

STONE, M. Quantum Hall Effect. USA: World Scientific, 1992. 371 p.

SVAITER, N. F. Finite size effect in thermal field theory. Jornal of mathematical, USA,

v.45, p. 4521, 2004.

SVAITER, N. F. Topicos em teoria quantica de campos 1. Sao Paulo: Livraria da fısica,

2009. 267 p.

TSVELIK, A. M. Quantum field theory in condensed matter physics. 1st. New York:

Cambridge University Press, 1995. 348 p.

WILL, S. From atom optics to quantum simulation: interacting bosons and fermions in

three-dimensional optical lattice potentials. New York: Springer, 2013. 257 p.

WILSON, K. G. Confinement of quarks. Phys. Rev. D, New York, v.10, p. 2445, October

1974.

Page 74: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

72

YANG, N. C.; MILLS, R. L. Conservation of isotopic spin and isotopic gauge invariance.

Phys. Rev. , New York, v. 96, n. 1, p. 96, october 1954.

ZAPATA, I.; SOLS, F.;LEGGET, A. J. Josephson effect between trapped Bose-Einstein

condensates. Phys. Rev. A, New York, v. 57, n. 1, p. 28, January 1998.

ZIBOLD, T. et al. Classical bifurcation at the transition from Rabi to Josephson

dynamics. Phys. Rev. Lett., New York, v. 105, p. 204101, November 2010.

ZINN-JUSTIN, J. Quantum Field theory and critical phenomena. 3rd ed. New York:

Claredon Oxford, 1996. 571 p.

Page 75: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

73

APENDICE A – Regularizacao dimensional do potencial efetivo a um laco

Apos a introducao da regularizacao por cut-off estabelecida por Casimir, outros

metodos surgiram como forma alternativa de renormalizar uma teoria de campos. A

princıpio, podemos encontrar os seguintes metodos que encontram-se divididos em duas

partes, a saber: o metodo local e os metodos globais (SVAITER, 2009). Primeiramente,

podemos destacar, o metodo das funcoes de Green (BROWN, 1969); este metodo e essen-

cialmente local. Os metodos globais sao: o metodo da extensao analıtica da funcao zeta

de Riemman (RUGGIERO, 1980) e a regularizacao dimensional (BOLLINI, 1964). Ha,

tambem os metodos introduzidos por Dowker e Critchtey (DOWKER, 1976) e tambem

por Hawking (HAWKING, 1977), que estao relacionados a regularizacao de determinan-

tes, que nao sera abordado.

A regularizacao dimensional 9, que e o metodo que sera abordado nas proximas

linhas, esta baseada nos estudos de Bollini e Giambiagi (BOLLINI, 1964), ’t Hooft, Velt-

man e outros (COLLINS, 1994), onde o parametro regulador e neste caso a dimensao do

espaco-tempo. Este metodo consiste em formular a teoria em um numero arbitrario de

dimensoes, e fazer uma extensao analıtica onde o numero de dimensoes e tratado como

uma variavel complexa. Desta forma, podemos tratar as integrais em laco dos momentos

na expressao do potencial efetivo, tomando o limite d → 4. As divergencias da integral

originam-se em forma de singularidades com polos da forma 1d−4

e tem que ser eliminados

por meio de um procedimento de renormalizacao adequado.

O metodo consiste essencialmente em trocar as integrais 4-dimensionais pela inte-

gral em dimensao d como segue,∫d4k

(2π)4−→ (µ2)2− d

2

∫ddk

(2π)d(234)

onde o fator (µ2)2− d2 e introduzido para equilibrar a dimensao da medida de integracao e

µ e uma escala arbitraria com dimensao de massa. Nosso objetivo, a partir de agora e,

calcular o potencial efetivo usando regularizacao dimensional. Nesse caso, a expressao do

potencial efetivo a um laco podera ser reescrita da seguinte maneira,

V1−laco =

1

2(µ2)2− d

2

∫ddk

(2π)dln[k2 +m2(φc)

](235)

onde, m2(φc) = m2 + λ2φ2c .

9 A regularizacao dimensional e a tecnica mais conveniente para estudar calculos perturbativos (ZINN-JUSTIN, 1996)

Page 76: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

74

E conveniente fazer a derivada do potencial efetivo a um laco em relacao a m2(φc),

V ′1−laco =

∂V1−laco

∂m2(φc)=

1

2(µ2)2− d

2

∫ddk

(2π)d1

k2 +m2(φc)(236)

Desta forma, a integral pode ser realizada utilizando a formula∫ddk

(k2)α

(k2 +M2)β= π

d2 (M2)

d2

+α−βΓ(α + d2)Γ(β − α− d

2)

Γ(d2)Γ(β)

(237)

onde Γ(z) sao as funcoes gamma. Com a expressao (237), e possıvel reescrever a equacao

(236) como sendo,

V ′1−laco =

1

2(µ2)2− d

2πd2

(2π)d[m2(φc)

] d2−1

Γ

(1− d

2

)(238)

ou

V ′1−laco =

1

2(µ2)2− d

2πd2

(2π)d[m2(φc)]

d2

d2

Γ

(1− d

2

)=m4(φc)

32π2

[m2(φc)

4πµ2

] d2−2 Γ

(2− d

2

)d2

(1− d

2

) (239)

Integrando esta equacao em relacao a m2(φ), escrevemos o potencial efetivo como,

V1−laco =

m4(φc)

32π2

[m2(φc)

4πµ2

]εΓ(ε)

(2− ε)(ε− 1)(240)

onde definimos d = 4− 2ε. A funcao Γ(ε) tem um polo em ε = 0, esta e a divergencia ul-

travioleta que queremos tratar. Para isto, se considerarmos ε como um numero complexo,

podemos fazer um desenvolvimento em serie de Laurent da funcao Gamma da seguinte

forma,

Γ(z) =1

z− γE +O(z), z → 0 (241)

onde γE ' 0.5772 · · · e a constante de Euler-Mascheroni. Dessa forma a equacao (240) e

escrita como uma expressao contendo polos em ε, tornando-se,

V1−laco =

m4(φc)

64π2

−[

1

ε− γE + ln(4π)

]+ ln

m2(φc)

µ2− 3

2+O(ε)

(242)

Desta forma, a divergencia ultravioleta do potencial efetivo fica isolada no polo na

variavel ε.

A ideia agora e, da mesma forma que na regularizacao por cut-off usada na tese,

definiremos contratermos de modo de absorver as divergencias nos parametros de massa

Page 77: Tópicos de teoria de campos com aplicações a condensados de

75

e da constante de acoplamento. Usando os contratermos,

δm2 =λm2

32π2

[1

ε− γE + ln(4π)

](243)

δλ =3λ2

32π2

[1

ε− γE + ln(4π)

](244)

A expressao final para o potencial a um laco, escrita em termos dos parametros

renormalizados,

V1−laco =

1

64π2m4(φc)

[lnm2(φc)

µ2− 3

2

](245)

Finalmente, podemos escrever a expressao do potencial efetivo a um laco renorma-

lizado atraves da regularizacao dimensional como sendo,

V1−lacoeff =

m2

2φ2c +

λ

4!φ4c +

1

64π2

(m2 +

λ

2φ2c

)2[

lnm2 + λ

2φ2c

µ2− 3

2

](246)

E interessante notar que o procedimento para determinar os contratermos nao e

unico. Nos calculos anteriores usamos o metodo chamado de ”substracao mınima mo-

dificada”. A razao disto e que ao subtrair constantes infinitas, sempre pode se somar

uma quantidade finita arbitraria. Na literatura existem varios metodos para realizar esta

subtracao. A diferenca entre eles e a definicao da escala de energias µ. Um estudo mais

aprofundado sobre a determinacao desta escala, pasa pelo estudo do grupo de renorma-

lizacao (ZINN-JUSTIN, 1996).