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DISCIPLINA: DIREITO AMBIENTAL Autoria: Paulo Cesar da Silva Torres Vitória, 2015 Multivix-Vitória Rua José Alves, 301, Goiabeiras, Vitória-ES Cep 29075-080 – Telefone: (27) 3335-5666 Credenciada pela Portaria MEC nº 259 de 11 de fevereiro de 1999. Multivix-Nova Venécia Rua Jacobina, 165, Bairro São Francisco, Nova Venécia-ES Cep 29830-000 - Telefone: 27 3752-4500 Credenciada pela portaria MEC nº 1.299 de 26 de agosto de 1999 Multivix-São Mateus Rod. Othovarino Duarte Santos, 844, Resid. Parque Washington, São Mateus-ES Cep 29938-015 – Telefone (27) 3313.9700 Credenciada pela Portaria MEC nº 1.236 de 09 de outubro de 2008. Multivix-Serra R. Barão do Rio Branco, 120, Colina de Laranjeiras, Serra-ES Cep 29167-172 – Telefone: (27) 3041.7070 Credenciada pela Portaria MEC nº 248 de 07 de julho de 2011. Multivix- Cachoeiro de Itapemirim R. Moreira, 23 - Bairro Independência - Cachoeiro de Itapemirim/ES Cep 29306-320 – Telefone: (28) 3522-5253 Credenciada pela Portaria MEC nº 84 de 16 de Janeiro de 2002. Multivix-Castelo Av. Nicanor Marques, 245, Centro - Castelo – ES Cep 29360-000 – Telefone: (28) 3542-2253 Credenciada pela Portaria MEC nº 236 de 11 de Fevereiro de 1999.

TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

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APOSTILA DA DISCIPLINA DE DIREITO AMBIENTAL

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Page 1: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

DISCIPLINA:

DIREITO AMBIENTAL

Autoria: Paulo Cesar da Silva Torres

Vitória, 2015

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Direito Ambiental

Diretor Executivo: Tadeu Antonio de Oliveira Penina

Diretora Acadêmica: Eliene Maria Gava Ferrão

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EAD – Núcleo de Educação à Distância

GESTÃO ACADÊMICA - Coord. Didático Pedagógico GESTÃO ACADÊMICA - Coord. Didático Semipresencial GESTÃO DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS E METODOLOGIA Coord. Geral de EAD

(Dados de publicação na fonte)

T689 Torres, Paulo Cesar da Silva.

Direito ambiental / Paulo Cesar da Silva Torres. – Vitória : Multivix, 2015.

73 f. ; 30 cm

Inclui referências. 1. Direito ambiental. 2. Direito ambiental Brasil. II.

Faculdade Multivix. III. Título. CDD: 341.347

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Direito Ambiental

Disciplina: Direito Ambiental

Autoria: Paulo Cesar da Silva Torres

Primeira edição: 2015

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Direito Ambiental

SUMÁRIO

1º BIMESTRE.................................................................................................... 6

1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 7

2 BREVE RELATO HISTÓRICO..................................................... 8

3 PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL.......................................... 10

3.1 ANTROPOCENTRISMO....................................................................... 11

4 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE.............................................. 12

5 CLASSIFICAÇÃO............................................................................ 13

6 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO DE TERCEIRA

GERAÇÃO/ DIMENSÃO................................................................ 14

7 DIREITOS DIFUSOS....................................................................... 15

7.1 REQUISITOS PARA RECONHECIMENTO.......................................... 15

8 PRINCÍPIOS...................................................................................... 17

9 COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL.......................... 21

10 TUTELA DO MEIO AMBIENTE.................................................... 24

10.1 RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, DE 23 DE JANEIRO DE 1986.......... 29

11 RESPONSABILIDADE NA ESFERA AMBIENTAL................ 32

11.1 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA........................................... 32

11.1.1 PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL................................................................. 32

Page 5: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

4

Direito Ambiental

11.1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL......... 33

11.1.3 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS................................................................... 35

11.2 TUTELA CIVIL DO MEIO AMBIENTE................................................... 35

11.2.1 TEORIA SUBJETIVA................................................................................... 36

11.2.1.1 REQUISITOS DA TEORIA SUBJETIVA........................................................... 36

11.2.2 TEORIA OBJETIVA.................................................................................... 37

11.2.2.1 TEORIA DO RISCO CRIADO......................................................................... 38

11.2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL....................................................... 38

11.2.3.1 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL

FUNDADA NO DANO INTEGRAL.................................................................... 38

11.3 TUTELA PENAL DO AMBIENTE.......................................................... 39

11.3.1 APLICAÇÃO DA TUTELA PENAL COMO “ULTIMA RATIO”............................... 39

11.3.2 LEI 9.605 DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998................................................... 43

11.3.3 CRIMINALIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA..................................................... 45

12 ESPAÇOS AMBIENTAIS............................................................... 47

2º BIMESTRE.................................................................................................... 54

13 DO MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL............................................. 55

14 DA POLÍTICA URBANA................................................................ 56

14.1 ESTATUTO DA CIDADE....................................................................... 56

14.2 DIRETRIZES GERAIS........................................................................... 56

14.3 DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA.................................. 57

14.3.1 PLANO DIREITOR...................................................................................... 58

14.3.2 DO PARCELAMENTO, EDIFICAÇÃO OU UTILIZAÇÃO COMPULSÓRIOS.............. 59

14.3.3 IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO (ART. 7.º)................................................ 59

14.3.4 DESAPROPRIAÇÃO COM PAGAMENTO DE TÍTULOS (ART. 8.º)....................... 60

14.3.5 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO (ARTIGOS 9.º AO 14 DO

ESTATUTO).............................................................................................. 60

14.3.6 DIREITO DE SUPERFÍCIE (ART. 21 A 24)..................................................... 61

14.3.7 DIREITO DE PEREMPÇÃO (ART. 25 A 27).................................................... 61

Page 6: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

5

Direito Ambiental

14.3.8 OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR (ART. 28 A 31)................. 62

14.3.9 TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR (ART. 35)............................... 63

14.3.10 ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV) (ART. 36 A 38)........................ 63

14.3.11 DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE (ART. 43 A 45)................................ 64

15 PARCELAMENTO DO SOLO URBANO................................... 65

16 REMÉDIOS PROCESSUAIS DA TUTELA AMBIENTAL.... 69

16.1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA.......................................................................... 69

16.2 AÇÃO POPULAR.................................................................................. 70

17 BIBLIOGRAFIA................................................................................ 71

Page 7: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

6

Direito Ambiental

1º Bimestre

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Direito Ambiental

1 INTRODUÇÃO

Hodiernamente vivenciamos e vivemos uma crise sem precedentes de escassez dos

recursos naturais. Passamos a notar que esses recursos imprescindíveis a

perpetuação da raça humana no planeta, vem sendo utilizados e explorados de

forma indiscriminada, o que coloca em risco a sobrevivência da geração presente,

bem como das futuras gerações.

Assim, ficou visível ao homem mediano que os recursos naturais são finitos e que é

necessário conservá-los e preservá-los através de uma nova ordem mundial, um

novo comportamento no que diz respeito à exploração dos recursos naturais, um

novo agir do cidadão no campo e na cidade. Nós somos muitos e o planeta é um só,

nosso lar, nossa morada, por isso é preciso pensar globalmente e agir localmente,

sempre lembrando que o ambiente não conhece fronteiras e que o comportamento

inadequado de um poderá prejudicar a outros tantos.

Dessa maneira, o direito como ciência e como instrumento de organização social,

age como regulador do comportamento humano perante o ambiente em que vive,

trabalha, produz, circula, repousa, se diverte, etc... Pois, na maioria dos atos do

cotidiano, mesmo sendo o mais simples e natural, impactos estão sendo causados

ao ambiente.

“Vê-se, pois, que as agressões ao meio ambiente são as mais diversas e, para

protegê-lo, faz-se necessário conscientizar o homem por meio do conhecimento da

relação homem versus ambiente. (Sirvinskas 2007).”

Assim, concluímos que: “O problema da tutela jurídica do meio ambiente manifesta-

se a partir do momento em que sua degradação passa a ameaçar não só o bem-

estar, mas a qualidade de vida humana, se não a própria sobrevivência do ser

humano.” (Da Silva 2010)

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8

Direito Ambiental

2 BREVE RELATO HISTÓRICO

Levando em consideração o até aqui disposto, podemos concluir que a degradação

ambiental no Brasil começa com a sua colonização e o modelo extrativista a que

fora submetido desde o seu descobrimento.

Assim, podemos dizer que somente no começo do século XX algumas normas de

direito civil voltada para o direito de vizinhança, cujo objetivo era coibir o mau uso da

propriedade, de certa forma, acabam, mesmo sem ter essa finalidade, a proteger a

natureza.

Na década de trinta entra em vigor o primeiro Código Florestal (Dec. 23.793/34); o

Código de Águas que ainda vigora, apesar da Lei 9.433/97 (24.643/34); o Código de

Pesca (Decreto-Lei 794/38). Mas ainda não havia consciência de que os recursos

eram finitos e o destinatário final da proteção do meio ambiente, não era a

economia, mas sim a saúde e a vida do ser humano.

Na década de sessenta entra em vigor a primeira Política Nacional de Saneamento

Básico (Decreto-lei 248/67) e Criou-se o Conselho Nacional de Controle da Poluição

Ambiental (Decreto-Lei 303); No entanto, esses Decretos-Lei, vigoraram por 8

meses e foram revogados pela Lei 5.318/67 que instituiu a Política Nacional de

Saneamento Básico.

A década de setenta, no entanto, representa um divisor de águas para a

humanidade e para o meio ambiente, visto que na Primeira Conferência Mundial

Sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em 1972 “em Estocolmo, Suécia, uma

Conferência das Nações Unidas dedicava-se a debater os problemas ambientais

mundiais. Os países industrializados começavam a perceber que o crescimento

econômico ilimitado tinha um preço duplo. De um lado o esgotamento dos recursos

naturais, de outro, a população. Queriam discutir formas de desenvolver sem pagar

esse preço.”(Caderno de formação do programa nacional de capacitação de

gestores ambientais do Ministério do Meio Ambiente – 1.º Vol.)

Page 10: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

9

Direito Ambiental

Somente neste momento, a comunidade internacional, principalmente os países

desenvolvidos começam a entender que os problemas ambientais tinham que ser

tratados de uma maneira global e residia no fato de que a exploração e a utilização

dos recursos naturais acontecia (e continua acontecendo) num processo muito mais

rápido do que o planeta pode suportar.

Além do mais naquele momento “essa não era a posição defendida por muitos dos

chamados países do Terceiro Mundo, incluindo o Brasil. Naquela época, o

crescimento econômico era visto como a única saída para se combater à pobreza. O

discurso oficial da ditadura militar brasileira deixava claro que primeiro era preciso

“fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. Por isso, a posição do País na

conferência resumia-se na seguinte frase: “queremos sua poluição!” A prioridade

eram investimentos estrangeiros, mesmo que isso significasse degradação

ambiental.” .”(Caderno de formação do programa nacional de capacitação de

gestores ambientais do Ministério do Meio Ambiente – 1.º Vol.)

Assim, na esteira da Conferência de Estocolmo, em 1973 o dec. 70.030/73, Criou a

Secretaria Especial do Meio Ambiente, no âmbito do Ministério do Interior, em 1975

o Dec. Lei 1.413/75 sobre o Controle da Poluição do meio ambiente provocado por

atividade industrial e o Dec. 76.389/75, sobre medidas de prevenção e controle

sobre a produção industrial. Mas ainda assim, o Meio ambiente no Brasil não era

tratado por uma visão global. As normas em sua maioria Decretos e Decretos-leis

tratavam a matéria de maneira isolada.

Somente na década de oitenta, foi promulgada a lei 6.938 de 31 de agosto de 1981,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, sendo importante destacar que esta Política foi

recepcionada pela Constituição Federal de 1988, ainda vigente.

Page 11: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

10

Direito Ambiental

3 PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL

Assim, pela primeira vez na história uma constituição reserva um capítulo inteiro

destinado à proteção e conservação do meio ambiente, consagrando os princípios e

conceitos exaustivamente discutidos pela comunidade internacional e recepcionando

a Política Nacional do Meio Ambiente (lei. 6.938/81).

“A Constituição Federal de 1988 consagrou como obrigação do Poder Público a

defesa, preservação e garantia de efetividade do direito fundamental ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida.” (Moraes 2007).

“Deveras, a Constituição define o meio ambiente, ecologicamente equilibrado como

um direito de todos e lhe dá a natureza de bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo a co-responsabilidade do Poder Público e do

cidadão pela sua defesa e preservação (art. 225, caput).” (Milaré 2010)

“De fato, a Carta brasileira erigiu-o à categoria de um daqueles valores ideais da

ordem social, dedicando-lhe, a par de uma constelação de regras esparsas, um

capítulo próprio que definitivamente, institucionalizou o direito ao ambiente sadio

como um direito fundamental do indivíduo.” (Milaré 2010)

Art. 225. “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações”.

Quem tem direito? (Sujeito de direito destinatário da tutela) Todos em razão da do

caráter transindividual, do conceito antropocêntrico e do compromisso

transgeracional ou intergeracional, uma vez que as gerações futuras também são

destinatárias do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Page 12: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

11

Direito Ambiental

Por que? Por ser um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida.

Qual o bem tutelado? Meio ambiente ecologicamente equilibrado;

Quem está obrigado a preservar e a defender o bem tutelado? – Todos, pois impõe-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo. Não é só o

direito ao meio ambiente que é difuso, a obrigação também é de todos.

3.1 ANTROPOCENTRISMO

VISÃO ANTROPOCÊNTRICA – A saúde e a vida humana como objetivo precípuo

da tutela ambiental.

VISÃO BIOCÊNCTRICA – proteção da natureza em função dela mesma.

Ou seja, na visão antropocêntrica adotada pelo constituinte o meio ambiente é o

bem tutelado, o objeto imediato a ser protegido, mas não é sujeito de direto. O

objeto mediato é a saúde humana, o bem estar social e o destinatário da tutela

ambiental é a socidade como um todo.

Page 13: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

12

Direito Ambiental

4 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

Da Política Nacional do Meio Ambiente recepcionada pelo texto constitucional, até

hoje, se extrai o conceito legal de meio ambiente:

CONCEITO LEGAL - Lei 6.938/81 Art 3º - “Para os fins previstos nesta Lei,

entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas;”

Este conceito hoje é visto pela doutrina como amplo e aberto, pressupondo seu

preenchimento por parte do interprete em relação à relevância do impacto causado

pelo empreendimento e atividade e por restringir-se ao meio ambiente natural. Assim

a doutrina e os tribunais passaram também a admitir a conceituação criada pelo

entendimento de José Afonso da Silva, que também apresentou a clássica

classificação de meio ambiente, baseados na sistematização apresentada pela

Constituição Federal:

CONCEITO DE JOSÉ AFONSO DA SILVA - “A interação de conjuntos de elementos

naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado em todas

as suas formas.” (Silva 2010).

Page 14: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

13

Direito Ambiental

5 CLASSIFICAÇÃO

MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL – Construções do espaço urbano, equipamentos

públicos: Art. 182 da CF/88, Lei 10.257/01 – Estatuto das Cidades;

MEIO AMBIENTE CULTURAL – Bens de natureza material e imaterial, os conjuntos

urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico,

ecológico e científico (Art. 215 e 216 da CF);

MEIO AMBIENTE NATURAL – Atmosfera, pelos elementos da biosfera, água, solo,

subsolo, flora, fauna: Art. 225, § 1.º I, III, VII, da CF88;

MEIO AMBIENTE DO TRABALHO – Local onde se desempenham as atividades

laborais relacionados à saúde: Art. 7.º XXIII e 200 VIII.

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14

Direito Ambiental

6 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO/

DIMENSÃO

DIREITO METAINDIVIDUAL – Transcende o indivíduo; direitos que pairam acima do

interesse individual; defesa de valores gerais de interesse da coletividade – Ex: Ao

ar; à água; propaganda enganosa em relações de consumo; direito a um meio

ambiente ecologicamente equilibrado, à saúde, etc....

6.1 CLASSIFICAÇÃO

1.ª geração/dimensão – individuais;

2.ª geração/dimensão – coletivos ou coletivos “stricto sensu”;

3.ª geração/dimensão – difusos.

Page 16: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

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Direito Ambiental

7 DIREITOS DIFUSOS

CONCEITO LEGAL – Inciso I, parágrafo único do art. 81 da lei. 8.078/90:

Art. 81. “A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá

ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.”

Parágrafo único – “A defesa coletiva será exercido quando se tratar de: I – interesse

ou direitos difusos, assim entendidos, para efeito desse Código, os transindividuais,

de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias de fato...”

7.1 REQUISITOS PARA RECONHECIMENTO

a) Transindividualidade – transcende o individuo;

b) Indivisibilidade – Ao mesmo tempo pertence a todos, mas ninguém em

específico o possui;

c) Sujeito indeterminado (sujeito de direito) – Beneficia a todos;

d) Circunstâncias de fato – Ex: Poluição – de fato prejudica a todos.

EXEMPLO (TRATAMENTO DE ESGOTO) Art. 45. Da Lei 11.445/07 (Política

Nacional de Saneamento Básico) –“Ressalvadas as disposições em contrário das

normas do titular, da entidade de regulação e de meio ambiente, toda edificação

permanente urbana será conectada às redes públicas de abastecimento de água e

de esgotamento sanitário disponíveis e sujeita ao pagamento das tarifas e de outros

preços públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços.”

Da redação do dispositivo de lei acima citado, nasce o compromisso difuso de todos

os titulares conectarem seus imóveis às redes de esgoto disponibilizadas pelo

executor do serviço de saneamento em âmbito municipal.

Page 17: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

16

Direito Ambiental

a) Transindividualidade – transcende o individuo – Não adianta em uma bacia

uma só ou algumas pessoas estarem ligadas na rede de esgoto, todos tem

que estar ligados para que todos sejam beneficiados;

b) Indivisibilidade – Ao mesmo tempo pertence a todos, mas ninguém em

específico o possui – Ex: A poluição gerada em municípios mais distantes a

montante, podem causar impactos negativos em pontos mais a jusante ou

mesmo na foz do rio. A quem pertence o Rio Itapemirim? Ex: Um impacto

ocorrido em Ibatiba, Iuna ou Muniz Freire, municípios que se encontram em

maior altitude a montante podem gerar impactos em Cachoeiro, Kennedy, à

jusante, ou mesmo em Marataízes, na foz do rio;

c) Sujeito indeterminado – Beneficia a todos que vivem na bacia ou que por

ela transitem. O bem protegido são os corpos hídricos e, consequentemente,

à saúde e a vida humana;

d) Circunstâncias de fato – Poluição – de fato prejudica a todos – Todos ao

mesmo tempo são destinatários do benefício ou malefício da despoluição (ou

não).

Page 18: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

17

Direito Ambiental

8 PRINCÍPIOS

1 – MEIO AMBIENTE COMO DIREITO HUMANO - Conferência das Nações Unidas

Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - “Os seres humanos estão no centro das

preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma

vida saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente”. (Art. 5.º, 6.º e 225 da

CF e 2.º da lei 6.938/81).

Art. 5º - “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:...”

Art. 6º- “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

Art 2º da lei 6.938/81–“A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,

visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,

atendidos os seguintes princípios:...”

2 – DEMOCRÁTICO ou da PARTICIPAÇÃO – Pressupõe a participação social.

Direito difuso.

• Possibilidade da participação do cidadão;

• 1 – Plebiscito (14 I da CF);

• 2 – Referendo (14 II da CF);

• 3 – Direito de petição (5.º XXXIV da CF);

• 4 – Ação Civil Publica (129 III da CF);

• 5 – Ação Popular (5.º LXXIII da CF);

• 6 – Ação de Improbidade (37, 4.º da CF).

Page 19: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

18

Direito Ambiental

3 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – Compromisso transgeracional que visa

garantir às futuras gerações recursos naturais para sua sobrevivência, uma vez que

passou-se a entender finitos esses recursos. É a coexistência harmônica entre a

economia e o ambiente, tendo como destinatário o social. Neste caso a atividade

econômica é suplantada pela necessidade de não serem esgotados os recursos

naturais, uma vez que a sociedade precisa se utilizar desses recursos, mas também

precisa da atividade econômica para sua sobrevivência.

Mas se os recursos acabarem? E se o clima se modificar de tal maneira que fique

inviabilizada a sobrevivência do ser humano? Haverá atividade econômica? Haverá

vida?

Desenvolvimento sustentável é a busca do equilíbrio entre:

1 – desenvolvimento social;

2 – Crescimento econômico;

3 – Utilização dos recursos naturais de maneira a não esgotá-los (privilegiando o

social e as futuras gerações).

“A Constituição Federal estabelece que a ordem econômica, fundada na livre

iniciativa (sistema de produção capitalista) e na valoração do trabalho humano (limite

ao capitalismo selvagem), deverá regrar-se pelos ditames da justiça social,

respeitando o princípio da defesa do meio ambiente, contido no inciso VI do art. 170.

Assim caminham lado a lado a livre concorrência e a defesa do meio ambiente, a fim

de que a ordem econômica esteja voltada a justiça social. Vejamos o dispositivo:”

(Fiorilo 2013)

Art. 170 – “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na

livre iniciativa, tem por fim assegurara a todos existência digna, conforme os ditames

da justiça social, observados os seguintes princípios.” “...V – defesa do meio

ambiente, inclusive, mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental

dos produtos e serviços e de seus processo de elaboração e prestação.”

Page 20: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

19

Direito Ambiental

4–PREVENÇÃO - Importante princípio de direito ambiental, uma vez que o dano

pode ser irreversível e irreparável. Ex: Como recuperar uma espécie extinta? Efeitos

do acidente ocorrido em Fukushima? Como recompor o monumento do Itabira ou o

Frade e a Freira, na hipótese de um dia sejam explorados? Como reconstituir uma

árvore centenária ou milenar?

Princípio 15 da conferência ECO 92: “De modo a proteger o meio ambiente o

princípio da precaução deve ser amplamente observado pelo Estado, de acordo com

suas capacidades. Quando houver a ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a

ausência de absoluta certeza cientifica não deve ser utilizada como razão para

postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação

ambiental.” E Art. 225 caput da Constituição Federal.

5 – PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO OU CAUTELA – Esse princípio é abrangido pelo

princípio da prevenção, tendo como diferença a incerteza cientifica sobre os

impactos a serem causados sobre o meio ambiente. É certo que esses princípios

devem ser aplicados visando a proteção e a conservação do meio ambiente,

evitando que danos irreparáveis sejam causados pela não adoção ou proibição de

atividades ou empreendimentos que possam vir a causar esses danos, havendo

certeza ou não da ocorrência desses danos. A diferença entre os princípios é que o

da prevenção é utilizado quando se tem certeza dos danos e impactos a serem

causados ao meio ambiente e o da precaução ou cautela, quando não se tem

certeza de sua ocorrência.

6 - PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

Não significa pagar para poder poluir e tem alcance preventivo e reparatório:

a) Caráter preventivo – despesas de prevenção do dano. Ex: Empresa que para

funcionar quando requer o processo de licenciamento ambiental tem como exigência

do órgão competente cumprir condicionante instalando um filtro para minimizar,

reduzir ou eliminar o lançamento de particulado na atmosfera; Ex: Empresa que

beneficia rochas ornamentais e, para a obtenção da licença de operação, tem que

cumprir condicionante para instalação de filtro prensa e tanques de decantação para

Page 21: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

20

Direito Ambiental

o reuso de água. Dessa forma os custos e o ônus para a instalação dos

equipamentos para a redução ou eliminação dos impactos exigidos pelo órgão

competente para o licenciamento são todos de responsabilidade do empreendedor.

Importante salientar que o empreendedor não escolhe o que fazer, as exigências e

as condicionantes são impostas por ato discricionário do agente competente e

responsável pelo licenciamento. Acontece antes que o dano tenha ocorrido com a

aplicação dos princípios da prevenção ou da precaução

b) Caráter repressivo e reparatório – reparação do dano que por ventura possa

ser causado. Ex: Rompimento de uma lagoa de estabilização de resíduos perigosos

industriais que contaminam as águas de um rio importante que causa mortandade

de peixes, prejuízos para a flora e compromete o abastecimento de água potável

para toda uma região com várias cidades. A reparação dos danos nas esferas

administrativa, civil e penal, ocorre após os danos causados e depende da atuação

dos órgãos competentes para o exercício de poder de polícia na esfera

administrativa e do judiciário, com participação do executivo pelo MP.

CONCEITO DA COMUNIDDE EUROPEIA – “as pessoas naturais e jurídicas, sejam

regidas pelo direito público ou pelo direito privado, devem pagar os custos das

medidas que sejam necessárias para eliminar a contaminação ou para reduzi-la aos

limites fixados aso padrões de medidas equivalentes que assegurem a qualidade de

vida, inclusive os fixados pelo Poder Público competente”. (diretivas da Cmunidade

Européia.” Fiorilo 2013)

Art. 225 § 3.º da CF/88. “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independente de reparar os danos causados.”

O § 3.º do art. 225 da CRFB, atribui, no caso de condutas consideradas lesivas ao

meio ambiente, responsabilidade perante três esferas, cumulativamente, de acordo

com o caso em espécie: Administrativa; Penal, e; Cível.

Page 22: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

21

Direito Ambiental

9 COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL

COMPETÊNCIA – Dicionário Jurídico de De Plácido e Silva Pag. 371 – “Derivado do

latim competentia, de competere (estar no gozo ou no uso de ser capaz, pertencer

ou ser próprio), possui na técnica jurídica, uma dupla aplicação.”

a) Tanto significa capacidade no sentido de aptidão, pela qual a pessoa pode

exercitar ou fruir um direito;

b) Como significa a capacidade, no sentido de poder, em virtude do qual a

autoridade possui igualmente atribuições para conhecer de certos atos jurídicos e

deliberar a seu respeito.

COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA – “Atua num plano de hierarquia, segundo as

regras legalmente instituídas, pelo qual são traçados os limites jurisdicionais de cada

autoridade, seja em relação à matéria, seja mesmo em relação ao território.”

COMPETÊNCIA JURISDICIONAL – Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito

Processual Civil, Vol I, Forense, Pag. 157 – “Critério de distribuir entre vários órgãos

judiciários as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição”.

Onde Está definida? Na Constituição Federal

CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS: Material e legislativa

MATERIAL

a) Exclusiva: Ressalvada a uma entidade excluí as demais (art. 21 da CF);

b) Comum: “É a competência atribuída a todos os entes federados, que, em pé de

igualdade, exercem-na, sem, todavia, excluir a do outro”. (art. 23 VI e VII)

LEGISLATIVA

a) Exclusiva – “é atribuída a um ente com a exclusão dos demais, sendo certo que

esta competência é indelegável. É prevista no art. 25, §§ 1.º e 2.º, da CF.”

Page 23: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

22

Direito Ambiental

b) Privativa – “É enumerada como própria de uma entidade, mas é passível de

delegação e suplementação da competência. É prevista pelo art. 22 e parágrafo

único da Constituição Federal.”

c) Concorrente – “é a competência prevista no art. 24, § 1.º da Constituição Federal,

a qual se caracteriza pela possibilidade da União, Estados e Distrito Federal

disporem sobre o mesmo assunto ou matéria, sendo que a União caberá legislar

sobre normas gerais.”

d) Suplementar – “correlata à concorrente, é a que atribui competência a Estados,

Distrito Federal (art. 24 § 2.º) e Municípios (art. 30 II) para legislar sobre normas

que suplementem o conteúdo de princípios e normas gerais ou que supram a

ausência ou omissão destas.”

e)

1.º - Quem tem competência para legislar sobre o meio ambiente?

União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem competência concorrente para

legislar sobre o meio ambiente, disposta no Art. 24 V, VI, VII c/c § 1.º:

Sendo assim, a União tem a competência para legislar sobre normas gerais. Ex:

Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.938/81, Política Nacional de Recursos

Hídricos (Lei – 9.433/97); Política Nacional de Saneamento (Lei 11.445/07), o que

não afasta a competência dos Estados para suplementação dessas normas gerais

editadas pela União, Sendo, também, atribuída ao município competência legislativa

para suplementar a legislação Estadual e a legislação Federal, nos termos do art.

30, II da CF/88.

2.º Quem tem competência material em matéria ambiental?

União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem competência material comum em

matéria ambiental. (como não poderia deixar de ser, em razão do caráter difuso da

defesa do interesse - interpretação sistemática. (Art. 23 VI e VII e 225 da CF e Lei

Complementar 140/11)

Page 24: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

23

Direito Ambiental

A repartição de competências no direito brasileiro segue o princípio da

predominância do interesse.

a) A União compete matérias de interesse nacional e internacional;

b) Ao Estado e ao Distrito Federal, competem as matérias de interesse regional;

c) Ao município matéria de interesse local.

Page 25: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

24

Direito Ambiental

10 TUTELA DO MEIO AMBIENTE

Tutelar significa Amparar, proteger, defender e a tutela ambiental será prestada pelo

Poder Público em seus âmbitos Federal, Estadual e municipal, bem como pelos

Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual exercendo seus poderes no

limite de seus órgãos e de suas competências.

O Art. 225, que trata do Meio Ambiente na Constituição, está situado no Capítulo VI

que está inserido no Título VIII que por sua vez trata Da Ordem Social e diz que:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras

gerações.”

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I. preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo

ecológico das espécies e ecossistemas;

II. preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e

fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético;

III. definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a

supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que

comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV. exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de

impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V. controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e

substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente;

Page 26: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

25

Direito Ambiental

VI. promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII. proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou

submetam os animais a crueldade.

Por sua vez o Art 2º da Lei 6.938 diz que: “A Política Nacional do Meio Ambiente tem

por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia

à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico,

aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,

atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do

equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a

ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;...”

Assim, compete ao Poder Executivo, incluindo o MP, estabelecer medidas de

controle das atividades causadoras de significativa poluição, conceder (ou não)

licença ambiental, exigir estudo prévio de impacto ambiental e seu respectivo

relatório (EPIA/RIMA), fiscalizar as atividades localizadas dentro de seu âmbito de

ação e de sua competência, promover a educação ambiental. Aplicar sanções de

sua competência, entre outras ações que a lei lhe confere competência (Art. 225 §

3.º, Art. 70 a 76 da Lei. 9.605/98 e Dec. 6.514/08), ao legislativo elaborar normas

ambientais e exercer controle dentro de suas competências e, ao Judiciário o

exercício da função jurisdicional, garantindo a constitucionalidade e a aplicação da

legislação.

Dessa forma, podemos entender que a tutela ambiental será prestada pelo Poder

Público em seus âmbitos Federal, Estadual e municipal, bem como pelos Poderes

Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual exercendo seus poderes no limite de

seus órgãos e de suas competências.

LEGISLATIVO – Elaborar normas ambientais e exercer controle dentro de suas

competências.

Page 27: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

26

Direito Ambiental

JUDICIÁRIO – julgar as ações penais públicas ambientais; exercer o controle de

constitucionalidade das normas dos demais poderes.

EXECUTIVO - BASICAMENTE SE DIVIDE EM:

A) GESTÃO;

B) LICENCIAMENTO;

C) FISCALIZAÇÃO.

A) GESTÃO AMBIENTAL – “...diretrizes e atividades administrativas e operacionais,

tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizados

com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, quer reduzindo ou

eliminando os danos causados pelas ações humanas, quer evitando que eles

surjam.” (Milaré 2010 – citação do Professor José Carlos Barbieri)

“Isto porque o meio ambiente é um bem essencialmente difuso, de interesse

comum, que transcendo título de propriedade e, até mesmo, limites geopolíticos, em

que pese a aplicação do Direito Positivo efetivar-se sobre propriedades privadas,

patrimônios públicos e em territórios delimitados por autonomia e soberania

nacional.” (Milaré 2010)

GESTÃO – “Forma racional e ampla de praticar a tutela administrativa do ambiente

através de sistemas organizacionais associem e integrem num amplo processo a

Administração Pública e a sociedade organizada, conferindo ao mesmo processo a

marca participativa e democrática que é preconizada por nossos textos legais mais

representativos.” (Milaré 2010)

GERENCIAMENTO - “Sistema ou modalidade de administrar problemas e interesses

relativos ao meio ambiente em escala operacional e no âmbito de assuntos

específicos”. (Milaré 2010).

Na realidade, a gestão do meio ambiente e, portanto, dos recursos naturais no Brasil

é algo muito complexo e gigantesco que se revela de difícil deslinde em vista de um

emaranhado de competências, responsabilidades e uma infinidade de órgãos de

Page 28: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

27

Direito Ambiental

todas as esferas, níveis e âmbitos que se aproximam e se afastam em razão das

matérias, das localidades, fronteiras, tornando-se tarefa árdua e difícil seu

entendimento completo em razão de sua amplitude, haja vista que, muita das vezes

essa gestão se dá de forma compartilhada e com participação popular em

conselhos, comitês, etc... Ex: Política nacional de Recursos Hídricos (lei 9433/97),

que se comunicam e se articulam com órgão públicos como secretarias de estado,

ministérios, institutos, agências e outros entes da administração direta e indireta,

cada qual dentro de suas competências.

No entanto, conforme podemos notar, pela magnitude do bem tutelado, não há como

se atribuir a gestão e a tutela do meio ambiente, mesmo que esta também seja

responsabilidade de todos, a outro que não o Poder Público, ao Poder do Estado e

os órgãos que o compõe.

DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Dessa forma, e com a finalidade de se criar um sistema integrando que englobe

essa infinidade de órgãos que tenham competência para, articuladamente, participar

da gestão ambiental, o legislador, inseriu no bojo da lei 6.938,81, que trata da

Política Nacional de Meio Ambiente o SISNAMA – Sistema Nacional do Meio

Ambiente, que vem a ser esse “Conjunto de órgãos e instituições dos diversos

níveis do Poder Público, incumbidos da proteção do ambiente.” (Lei 6.938/81, art.

6.º)

B) LICENCIAMENTO

(LICENÇA ADMINISTRATIVA x LICENCIAMENTO AMBIENTAL)

LICENÇA ADMINISTRATIVA – “Espécie do ato administrativo unilateral e vinculado,

pelo qual a administração faculta àquele que preencha os requisitos legais o

exercício de uma atividade.” (Milaré 2010)

Page 29: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

28

Direito Ambiental

LICENCIAMENTO AMBIENTAL - “Complexo de etapas que compõe o processo

administrativo, o qual objetiva a conceção de licença ambiental.” (Milaré 2010). A

licença e apenas a etapa final do procedimento. O licenciamento ambiental exige

sempre o exercício do poder discricionário do agente competente na avaliação dos

impactos que podem ser causados ao meio ambiente e na exigência de

condicionantes que possam eliminar ou mitigar os efeitos danosos do exercício da

atividade ou empreendimento.

Ex: Uma vez requerida autorização para conduzir veículo automotor, se o solicitante

preenche os requisitos legais, não há como lhe ser negado esse direito. No

licenciamento ambiental a licença para a operação somente será concedida ao

solicitante, caso este ultrapasse as etapas anteriores do licenciamento com o

cumprimento de todas as condicionantes.

LEI COMPLEMENTAR 140 Art. 2.º I define o licenciamento ambiental como: “o

procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos

utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, ou

capazes, sob qualquer forma de causar degradação ambiental.”

RESOLUÇÃO CONAMA 237/97 – Art. 1.º II – “procedimento administrativo pelo qual

o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de

controle ambiental que deverão ser obedecidos pelo empreendedor, pessoa física

ou jurídica, para localizar, instalar e operar empreendimentos e atividades

utilizadoras de dos recursos ambientais consideradas efetiva e potencialmente

poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação

ambiental.”

O licenciamento ambiental é dividido em três fases:

LP – Licença Prévia; Art. 8. Da RESOLUÇÃO 237/97 - Ex: Caso o empreendimento

solicitante da licença ambiental se encontre em área de em área de APP, via de

regra está será negada antes que se ultrapasse para as outras fases do processo.

Page 30: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

29

Direito Ambiental

LI – Licença de Instalação Art. 8.º II – “Autoriza a instalação do empreendimento ou

atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e

projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais

condicionantes, da qual constituem motivo determinante”.

LO – Licença de Operação Art. 8.º III – Também chamada de licença de

funcionamento, sucede a de instalação e tem por finalidade autorizar a “operação da

atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que

consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e

condicionantes determinados para a operação”.

NATUREZA JURÍDICA - Art. 9.º IV – Política Nacional do Meio Ambiente – Lei

6.938/81. “O licenciamento é um instrumento de caráter preventivo de tutela do meio

ambiente.”

- É ato discricionário do agente administrativo no exercício de seu poder de polícia

em matéria ambiental.

EIA/RIMA

Estudo de Impacto Ambiental (Art. 225§ 1.º IV e art. 9.º III da lei 6.938/81)

Relatório de Impacto Ambiental – Parece mais com um diagnóstico.

“Evidencia sua existência no princípio da prevenção do dano ambiental, o EIA/RIMA

constitui um dos mais importantes instrumentos de proteção ao meio ambiente. A

sua essência é preventiva e pode compor uma das etapas do licenciamento

ambiental.” (Fiorillo 2013)

10.1 RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, DE 23 DE JANEIRO DE 1986

Publicado no D. O. U de 17 /2/86.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - IBAMA, no uso das atribuições

que lhe confere o artigo 48 do Decreto nº 88.351, de 1º de junho de 1983, para

Page 31: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

30

Direito Ambiental

efetivo exercício das responsabilidades que lhe são atribuídas pelo artigo 18 do

mesmo decreto, e Considerando a necessidade de se estabelecerem as definições,

as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e

implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da

Política Nacional do Meio Ambiente, RESOLVE:

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,

causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades

humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I. a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II. as atividades sociais e econômicas;

III. a biota;

IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V. a qualidade dos recursos ambientais.

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo

relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão

estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de

atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

I. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II. Ferrovias;

III. Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV. Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32,

de 18.11.66;

V. Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de

esgotos sanitários;

VI. Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;

VII. Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem

para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação,

abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de

Page 32: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

31

Direito Ambiental

cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,

diques;

VIII. Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX. Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de

Mineração;

X. Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou

perigosos;

XI. Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia

primária, acima de 10MW;

XII. Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,

siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de

recursos hídricos);

XIII. Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

XIV. Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100

hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos

percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;

XV. Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de

relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e

estaduais competentes;

XVI. Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez

toneladas por dia.

OBS – Cabe ressaltar que o rol não é taxativo e sua apresentação também será

estendida para qualquer atividade ou empreendimento de grande porte com

possibilidade de causar relevante impacto ao meio ambiente, lhe sendo aplicado,

inclusive, discricionariamente, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

C) FISCALIZAÇÃO - Além dos instrumentos da PNMA, cabe ao Poder Público na

esfera administrativa o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

avaliação de impacto ambiental; licenciamento ambiental, multas, sendo que a

defesa do meio ambiente se desenvolve simultaneamente a partir de índole,

preventiva, reparatória e repressiva. (Lei 6.905/98 e Dec. 6.514/08).

Page 33: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

32

Direito Ambiental

11 RESPONSABILIDADE NA ESFERA AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE - Perante três esferas cumulativamente, de acordo com o

caso em espécie (Art. 225 - § 3º):

1- Administrativa;

2- Penal, e;

3- Cível.

Ex: CASO CONCRETO – Emissão de efluentes ou carreamento de materiais para

um manancial, comprometendo a fauna ictiológica e as condições sanitárias do meio

ambiente pode acarretar:

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA – Pagamento de multa de R$ 5.000,00

(cinco mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais), com base no art.

62 VIII do Dec. 6.514/08;

RESPONSABILIDADE CÍVEL – Pagamento de indenização ou cumprimento de

obrigação de fazer ou de não fazer, com base no art. 14, § 1.º, da lei 6.938/81.

RESPONSABILIDADE PENAL – Condenação à pena de detenção de 1 a 3 anos, ou

multa, ou ambas cumulativamente, com base no art. 33 da lei 9.605/1998;

11.1 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

(Art. 68 a 76 da lei 6.905/98 e Dec. 6.514/08).

11.1.1 PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

Conceito legal Art. 78 e Parágrafo único do Código Tributário Nacional (CTN).

Do entendimento da norma jurídica contida nesse artigo “decorre que o poder de

polícia é prerrogativa da administração pública que legitima a intervenção na esfera

jurídica do particular em defesa de interesses maiores relevantes para a

Page 34: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

33

Direito Ambiental

coletividade, e desde que fundado em lei anterior que discipline e defina seus

contornas.” (Milaré 2010)

REQUISITOS

1 - Órgão competente nos limites da lei;

2 – Com observância do processo legal;

3 – Sendo discricionária sem abuso ou desvio de poder.

ATRIBUTOS DO PODER PÚBLICO

A) Discricionariedade;

B) Auto-executoriedade;

C) Coercitibilidade.

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO – Legalidade, Impessoalidade, Moralidade,

Publicidade, Eficiência.

PRINCÍPIOS GERAIS – Razoabilidade, Proporcionalidade, Ampla defesa,

Contraditório, Interesse Público.

Além dos instrumentos da PNMA o estabelecimento de padrões de qualidade

ambiental; avaliação de impacto ambiental; licenciamento ambiental, multas, sendo

que a defesa do meio ambiente se desenvolve simultaneamente a partir de índole,

preventiva, reparatória e repressiva.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL (educar) x (punir) EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA

11.1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

Art. 70 da lei 9.605/98 – “Considera-se infração ambiental toda ação ou omissão que

viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio

ambiente.”

Page 35: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

34

Direito Ambiental

A) CONDUTA – Pode ser imputada à pessoa física ou jurídica, mas não pode

passar da pessoa do autor da ação ou omissão, não podendo uma pessoa

ser punida pela ação cometida por outra.

B) ILICITUDE – Pag. 887 –“Ocorrência de uma infração, a desobediência a

normas constitucionais, legais ou regulamentares ou a subsunção do

comportamento do agente a um tipo infracional.”

C) DANO AMBIENTAL – “Qualquer lesão ao meio ambiente causada por

atividades de pessoa física ou jurídica de Direito Público ou de Direito

Privado.” (Silva 2010) (lei 9.605/98 – Dec. 6.514/08);

D) DESCUMPRIMENTO DE CONDICIONANTES DA LICENÇA AMBIENTAL

(Art. 66. Do Dec. 6.514/98 – Art. 19 da resolução CONAMA 237).

No que diz respeito a configuração da responsabilidade na esfera administrativa é

adotada a teoria híbrida (subjetiva/objetiva), onde o elemento subjetivo não é

pressuposto para a sua configuração, não havendo,via de regra, necessidade da

presença de culpa. No geral a lei 9.605/998, não exige a existência de culpa para a

configuração do tipo, mas existem exceções – Na esfera administrativa está

presente no § 3.ª da art. 72. (Das Sanções na esfera administrativa Art. 72).

ÔNUS DA PROVA – É do infrator a quem incumbe desconstruir o auto de infração,

demonstrando estarem ausentes os pressupostos jurídicos da responsabilidade

administrativa. Presunção de legitimidade dos atos administrativos, em razão da

qualidade que reveste tais atos de se presumirem verdadeiros e conformes com o

direito, até prova em contrário.

“...Tribunal Regional Federal da 4.ª Região já se posicionou no sentido de que a

autuação é ato administrativo que goza de presunção de legalidade não ilidida pelo

conjunto probatório, porquanto realizada por servidor com capacidade técnica para

apurara a ocorrência do dano ambiental.” (Milaré 2010)

Page 36: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

35

Direito Ambiental

EXCLUDENTES DE ILICITUDE DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA –

Força maior, caso fortuito e fato de terceiro, em virtude da presunção de legalidade e

veracidade que goza o ato administrativo também é ônus do autuado provar sua

existência. Além do mais é preciso provar que todas as medidas eliminatórias ou

mitigatórias fundadas nos princípios da prevenção e da precaução foram tomadas.

11.1.3 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – A administração não poderá proibir ou impor

comportamento algum a terceiro, salvo se estiver previamente embasada em

determinada lei que lhe faculte a impor algo a quem quer que seja (Art. 5.º II e 37 da

CFRB).

NORMA PENAL EM BRANCO – Ex. Art. 70 da lei 9.605/98.

INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS – Capítulo I, Seção III do Dec. 6.514/08, Art. 24 a

93;

- Subseção I – Das infrações contra a fauna (Art. 24 a 42);

- Subseção II – Das infrações contra a flora (Art. 43 a 60-A);

- Subseção III – Das infrações relativas à poluição e a outras infrações ambientais

(Art. 61 a 71);

- Subseção IV – Das infrações contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural

(Art. 72 a 75);

- Subseção V – Das infrações administrativa contra a administração ambiental (Art.

76 a 83);

- Subseção VI – Das infrações cometidas exclusivamente em unidades de

conservação (Art. 84 a 93);

11.2 TUTELA CIVIL DO MEIO AMBIENTE

Consiste na reparação dos danos ocorridos. Opõe ao infrator a obrigação de

ressarcir o prejuízo causado.

Page 37: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

36

Direito Ambiental

11.2.1 TEORIA SUBJETIVA

Teoria subjetiva ou “aquiliana”- Requisitos – a) ação ou omissão do agente; b) o

dano; c) a culpa e o nexo de causalidade entre a ação e o dano.

Origem - (direito romano) - Plebiscito proposto pelo Tribuno da Plebe “Lúcio

Aquilio” Fez surgir noções modernas e mais justas em contraposição a lei de

Talião, provavelmente no século III a.c..

A lei Aquilia foi uma grande evolução para humanidade, uma vez que, até então, o

foco da reparação era a possibilidade da vítima causar um mal igual ao que sofrera

ao ofensor. O conceito de reparação era a própria vingança autorizada pela

sociedade. A lei Aquilia, pela primeira vez na história que se conhece, a vingança foi

substituída pela pena pecuniária.

Lei de Talião -“Todo mal causado deve ser reparado por outro mal igual, a ser

experimentado pelo ofensor.”

Lei “Aquilia” -“A todo mal causado deve corresponder uma pena pecuniária, que pelo

seu pagamento ao ofendido , corresponda verdadeiramente a reparação do dano

que fora causado.”

11.2.1.1 REQUISITOS DA TEORIA SUBJETIVA

a) AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE – diz respeito ao erro a conduta que

desencadeou em dano;

b) DANO – “Dano pode ser compreendido como toda ofensa e diminuição de

patrimônio”. O que nos leva a concluir de que a noção de dano no direito pátrio, nos

leva sempre a uma idéia de redução patrimonial. Tanto que o autor emenda e diz

que: ....“O dano que interessa a responsabilidade civil é o indenizável, que se traduz

em prejuízo, em diminuição de um patrimônio(...)Para que ocorra o dever de

indenizar não bastam, portanto, um ato ou conduta ilícita e o nexo causal; é

necessário que tenha havido decorrente repercussão patrimonial negativa material

Page 38: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

37

Direito Ambiental

ou imaterial no acervo de bens, no patrimônio de quem reclama.” (Sílvio de Sávio

Venosa - Responsabilidade Civil; Ed. Atlas 7.ª Edição Pag. 273)

“Entende-se por dano toda diminuição do patrimônio do credor, que consiste na

perda sofrida (damnumemergens), quer num lucro de que haja sido privado

(lucrumcessans). ...”ofensa a interesse econômico avaliável em dinheiro.” Nelson

Rosenvald, Pag. 439. Direito das Obrigações 2.ª edição Lumen Juris –

LUCRO CESSANTE - É o que o lesado deixou de ganhar a partir ou em razão do

evento danoso. Lucro que provavelmente faria parte do seu patrimônio.

“Dano é toda lesão a um bem jurídico tutelado.” (Luiz Paulo Sirvinskas – Manual de

Direito ambiental – Saraiva 5.ª edição – Pag. 152).

c) A CULPA E O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A AÇÃO E O DANO (C.C. Art.

186, 187 e 927).

• Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente

moral, comete ato ilícito.

• Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,

fica obrigado a repará-lo.

Esta teoria da reparação dita subjetiva ou aquiliana é focada somente na repressão

ao ato ilícito, é focada na conduta ilícita do agente, no elemento culpa. Não é uma

teoria adequada para ser aplicada na magnitude e na importância do bem ambiental.

11.2.2 TEORIA OBJETIVA

Vincula a atividade exercida ao dano que passa a ser o foco e o elemento primordial

da responsabilidade civil.

Page 39: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

38

Direito Ambiental

• Não precisa demonstrar CULPA do agente na investigação da

responsabilidade. Somente o dano e a ação ou omissão do agente (Art. 927 §

único do C.C.).

• Art. 927 - Parágrafo único. “Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a

atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza, risco para os direitos de outrem.”

11.2.2.1 TEORIA DO RISCO CRIADO

“É o reconhecimento da responsabilidade sem culpa, segundo o Cânone de teoria

do risco criado, que se fundamenta no princípio de que, se alguém introduz na

sociedade uma situação de risco ou perigo para terceiros, deve responder pelos

danos que a partir desse risco criado resultarem.” (Milaré 2010)

11.2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

CARÁTER OBJETIVO - Diante da dificuldade em se provar a culpa, não se analisa a

vontade do agente, somente a relação entre o dano e a causalidade. Está prevista

no art. 14 § 1.º da lei 6.938/81.

Lei 6.938/81 - Art 14, § 1º - “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas

neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a

indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados

por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade

para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio

ambiente.”

11.2.3.1 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL FUNDADA NO

DANO INTEGRAL

a) EVENTO DANOSO

b) NEXO DE CAUSALIDADE

Page 40: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

39

Direito Ambiental

c) ATO DE EXECUTAR A ATIVIDADE OU DE ASSUMIR O RISCO DE

PROVOCAR O EVENTO DANOSO (O ato não tem que ser ilícito).

PORTANTO:

a) Prescindibilidade da investigação de culpa;

b) Irrelevância da licitude da atividade, da intenção danosa;

c) Inaplicabilidade das cláusulas excludentes de ilicitude (caso fortuito, força

maior e fato de terceiros como exonerativas da responsabilidade). Ex:

Fukushima.

DANO AMBIENTAL – “É qualquer lesão ao meio ambiente causada por condutas ou

atividades de pessoas física ou jurídica de Direito Público ou de Direito privado.”

(Silva 2010) (art. 225§ 3.º).

RESPONSÁVEL PELA REPARAÇÃO – Poluidor (Art. 3.º, IV da Lei 6.938/81)

11.3 TUTELA PENAL DO AMBIENTE

11.3.1APLICAÇÃO DA TUTELA PENAL COMO “ULTIMA RATIO”

“Nos dias atuais, a tutela penal do meio ambiente continua sendo uma necessidade

indispensável, especialmente quando as medidas na esfera administrativa e civil não

surtirem os efeitos desejados. A medida penal tem por escopo prevenir e reprimir

condutas praticadas contra a natureza. A moderna doutrina penal vem propugnando

a abolição da pena privativa de liberdade com a consequente substituição por penas

alternativas. Num futuro próximo, a pena privativa de liberdade será aplicada em

casos extremos. Procura-se evitar, ao máximo, a sua aplicação em caso concreto,

impondo-se medidas alternativas aos infratores.”

“Assim, para o direito penal moderno, a tutela penal deve ser reservada à lei,

partindo-se do princípio da intervenção mínima no Estado Democrático de Direito.

Tal tutela, deve ser “última ratio”, ou seja, só depois de se esgotarem os

Page 41: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

40

Direito Ambiental

mecanismos intimidatórios (civil e administrativo) é que se procurará a eficácia

punitiva da esfera penal.” (Sirvinskas 2007)

“O momento histórico em que se vive, marcado pela passagem do Estado individual

de direito para o Estado social de Direito, pelo surgimento dos novos riscos e

incrementos dos já existentes – característicos de uma sociedade de alta tecnologia,

complexa e volátil – e, a indiscutível relevância desses bens jurídicos de natureza

transindividual – indispensável para a existência e o desenvolvimento do homem e

da sociedade – justificam plenamente a necessidade de interferência do Direito

penal – de forma seletivs, tecnicamente correta e limitada -, como verdadeira ultima

ratio do ordenamento jurídico.” (Luiz Regis Prado – Direito Penal do Ambiente – 2.ª

edição Revista dos Tribunais)

Concluímos com a lição de ilustres juristas que não resta qualquer dúvida quanto a

necessidade da proteção jurídico-penal do meio ambiente, com mandato expresso

de criminalização para as pessoas físicas e jurídicas, de direito público e de direito

privado (art. 225, § 3.º), de forma que as lesões causadas ao meio ambiente devem

ser punidas na esfera penal, mas como ultima ratio, fundada no princípio da

intervenção mínima do estatal no sistema democrático de direito.

ULTIMA RATIO - Ultima ratio significa “última razão” ou “último recurso”. É uma

expressão com origem no Latim e frequentemente empregada no Direito. Diz-se que

o Direito Penal é a ultima ratio, ou seja, é o último recurso ou último instrumento a

ser usado pelo Estado em situações de punição por condutas castigáveis,

recorrendo-se apenas quando não seja possível a aplicação de outro tipo de direito,

por exemplo, civil, trabalhista, administrativo, etc. (significados.com.br).

“O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, na sua concepção

moderna, é um dos direitos fundamentais da pessoa humana, o que por si só,

justifica a imposição de sanções penais às agressões contra ele perpetradas, como

extrema ratio. Em outro modo de dizer, “ultima ratioda tutela penal ambiental

significa que esta é chamada a intervir somente nos caos em que as agressões aos

Page 42: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

41

Direito Ambiental

valores fundamentais da sociedade alcancem o ponto intolerável ou sejam objeto de

intensa reprovação do corpo social.”

“De fato, toda a ação penal, especialmente quando esta atinge a liberdade da

pessoa, estigmatiza o indivíduo e repercute negativamente em seu senso de

dignidade, razão pela qual o Direito Penal há de ser minimamente usado.”

“Em outras palavras, quando no caso concreto, as demais esferas de

responsabilização forem suficientes para atingir integralmente aqueles dois objetivos

primordiais (prevenção e reparação tempestiva e integral), a verdade é que, e tese

não há mais razão jurídica para a incidência do direito criminal.”

“...Sobre o assunto, adverte Maura Roberti que “a dimensão das liberdades do

cidadão na Constituição Federal de 1988 não deixa dúvidas de que não há mais

espaço no Direito Penal moderno para uma política criminal intervencionista. A

função dos princípios constitucionais penais, ao contrário do que possa parecer à

primeira vista não é legitimar o exercício absoluto do poder punitivo, mas antes

condicioná-lo, vinculá-lo, servindo de obstáculo a indiscriminada utilização da

punição.””

“São valiosos, nesta mesma linha, os ensinamentos de Damásio E. de Jesus: “No

Direito Penal mínimo, pretende-se, por meio da pena, fortalecer a consciência

jurídica da comunidade e o respeito aos valores sociais protegidos pelas normas.

Ocorre que o Direito Penal, por se tratar de um sistema descontínuo de ilicitudes, de

caráter fragmentário, não se deve ocupar de qualquer ameaça aos bens jurídicos

constitucionalmente relevantes, mas apenas de condutas que, por sua gravidade,

colocam em risco a sociedade e o ser humano.””

“Em magistral voto proferido em recurso ordinário em Habeas corpus, interposto

perante o Supremo Tribunal Federal, o Ministro Sepúlveda Pertence traduziu com

clareza o princípio da intervenção mínima do Direito Penal que segundo ele:

“desonera a Justiça Criminal, congestionada da repressão de um dentre as inúmeras

insignificâncias que a tem inviabilizado”. E mais: “Não posso deixar de explicar

Page 43: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

42

Direito Ambiental

minha convicção de que – ante o caso de notória impotência do Judiciário para

atender a demanda multiplicada de jurisdição e, de outro, a também notória

impotência do Direito Penal para atender aos que pretendem transformá-lo em

mirífica, mas ilusória, solução de todos os males da em vida em sociedade – tendo,

cada vez mais a aplaudir a reserva à sanção e ao processo penal do papel de ultima

ratio, e sempre que possível, a sua substituição por medidas cíveis ou

administrativas, menos estigmatizantes e de aplicabilidade mais efetiva.”

“Por igual, em decisão bem recente, apreciando pedido de liminar para suspensão

do curso de ação penal até o julgamento definitivo do recurso de habeas corpus, o

Ministro Gilmar Mendes acentuou: “A finalidade do Direito Penal é justamente

conferir uma proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados

culturalmente pela sociedade.Além dos valores clássicos, como a vida, a liberdade,

integridade física, a honra e imagem, o patrimônio, etc...O Direito Penal a partir de

meados do século XX, passou a cuidar também do meio ambiente, que ascendeu

paulatinamente ao posto de valor supremo da sociedades contemporâneas,

passando a compor o rol dos direitos fundamentais ditos de terceira geração

incorporados no textos constitucionais dos Estados Democráticos de Direito.”

“Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via do Direito Penal justifica-se

apenas em face de danos efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio

ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como criminosa quando

degrade ou, no mínimo, traga algum risco de degradação do equilíbrio ecológico das

espécies e dos ecossistemas. Fora dessas hipóteses, o fato não deixa de ser

relevante para o Direito. O direito Penal atual, especialmente no âmbito da proteção

ao meio ambiente, como ultima ratio, tendo caráter subsidiário em relação à

responsabilização civil e administrativas de condutas ilegais. Esse é o sentido de um

Direito Penal mínimo, que se preocupa apenas com os fatos que representam

graves e reais lesões a bens e valores fundamentais da comunidade.”

“Nessa ordem de idéias, tem se, por exemplo a infração penal consistente em fazer

funcionar atividade sem a licença exigível do órgão ambiental competente tipificada

Page 44: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

43

Direito Ambiental

no art. 60 da lei 9.605/1998 para coibir atividade clandestina potencialmente lesivas

para o ambiente.”

“Ora, na hipótese do órgão ambiental já ter expedido a licença ambiental exigível,

após o infrator ter tomado as medidas cabíveis para tanto, em cumprimento a um

termo de ajustamento de conduta (vale dizer, na forma negocial autorizada pela

própria legislação), parece-nos que são perfeitamente defensáveis o arquivamento

do inquérito policial e o afastamento da persecução penal da conduta, com base

exatamente no princípio da intervenção mínima, uma vez que o fim almejado pela

norma já teria sido completamente alcançado.” (Milaré 2010)

11.3.2 LEI 9.605 DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998

Tem 82 artigos e dispões sobre as sanções penais e administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

CAPÍTULO I – Disposições gerais (sujeito ativo, pessoa jurídica, autoria e coautoria),

art. 1.º a 5º;

CAPÍTULO II - Da aplicação da pena (tipos penais, consequências do crime,

culpabilidade, circunstâncias atenuantes ou agravantes), art. 6º a 24;

CAPÍTULO III - Da apreensão do produto e do instrumento de infração administrativa

ou do crime (instrumentos e produtos do crime) art. 25;

CAPÍTULO IV – Da ação e do processo penal (todos os crimes de lei são de ação

penal pública incondicionada e permitem a aplicação dos dispositivos dos artigos

74,76 e 89 da lei 9.099/95, com algumas novidades art. 26 a 28;

CAPÍTULO V- Cuida dos crimes contra o meio ambiente art. 29 a 61:

Seção I – dos crimes conta a fauna - art. 29 a 37;

Seção II – dos crimes contra a flora – 38 a 53;

Seção III – Da poluição e de outros crimes ambientais – art 54 a 61;

Page 45: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

44

Direito Ambiental

Seção IV – Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural – art 62

a 65;

Seção V – Dos crimes contra a administração ambiental – art. 66 a 69;

CAPÓITULO VI – Da infração administrativa – art. 70 a 76;

CAPÍTULO VII – Cuida da cooperação internacional para a preservação do meio

ambiente – art. 77 a 78;

CAPÍTULO VIII – Disposições finais (onde o legislador restringiu-se a revogar as

disposições em contrário, cabendo ao operador do direito cotejar as leis

incompatíveis com este) – art. 79 a 82.

SUJEITOS DO CRIME – qualquer pessoa imputável (art. 2.º) - Art. 2º Quem, de

qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas

penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o

administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o

preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de

outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

SANÇÕES PENAIS APLICÁVEIS

a) Privativas de liberdade;

b) Restritivas de direito;

c) Multa.

ATENUANTES (art. 14)

a) Se o sujeito ativo tiver baixo grau de instrução ou escolaridade;

b) Se o sujeito ativo se arrepender e reparar espontaneamente o dano, ou limitar

significativamente a degradação ambiental causada;

c) Se o agente comunicar previamente o perigo iminente de degradação

ambiental;

d) Se o agente colaborar com os encarregados da vigilância e do controle

ambiental.

Page 46: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

45

Direito Ambiental

AGRAVANTES (art. 15)

I. reincidência nos crimes de natureza ambiental;

II. ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária;

b) coagindo outrem para a execução material da infração;

c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio

ambiente;

d) concorrendo para danos à propriedade alheia;

e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do

Poder Público, a regime especial de uso;

f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;

g) em período de defeso à fauna;

h) em domingos ou feriados;

i) à noite;

j) em épocas de seca ou inundações;

k) no interior do espaço territorial especialmente protegido;

l) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;

m) mediante fraude ou abuso de confiança;

n) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;

o) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas

públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

p) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das

autoridades competentes;

q) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

11.3.3 CRIMINALIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

A lei 9.605/98 inovou ao regulamentar a criminalização das pessoas jurídicas como

sujeitos ativos do crime ambiental (Art. 3.º) e sua desconsideração (Art. 4.º). Fato

que veio representar um verdadeiro avanço na legislação, na facilitação da

investigação, na condenação e na repressão aos crimes ambientais, haja vista que,

anteriormente, havia uma grande dificuldade em se apontar os culpados e os

responsáveis pelos ilícitos.

Page 47: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

46

Direito Ambiental

PENAS APLICÁVEIS À PESSOA JURÍDICA (Art. 21 a 24 da Lei 9.605/98)

A NORMA PENAL AMBIENTAL é uma norma penal em branco, pois, é “aquela em

que a descrição da conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando

da complementação de outro dispositivo legal. Isso significa que o preceito é

formulado de maneira genérica ou indeterminada, devendo ser colmatado por outro

ato normativo (legislativo ou administrativo). Portanto, na lei em branco, o

comportamento proibido vem apenas enunciado ou indicado, sendo a parte

integradora elemento indispensável á conformação da tipicidade.” (Prado 2010)

Page 48: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

47

Direito Ambiental

12 ESPAÇOS AMBIENTAIS

ESPAÇOS AMBIENTAIS - “A expressão espaços ambientais é tomada aqui em

sentido amplo. Pretende-se com ela, definir toda e qualquer delimitação geográfica,

toda e qualquer porção do território nacional, estabelecida com o objetivo de

proteção ambiental, integral ou não, e, assim, submetida a um regime especialmente

protecionista.” (Silva 2010)

ESPAÇOS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS - “São áreas geográficas públicas ou

privadas (porção do território nacional) dotada de atributos ambientais que

requeiram sua sujeição, pela lei, a um regime jurídico de interesse público que

implique sua relativa modificabilidade e sua utilização sustentada, tendo em vista a

preservação e proteção da integridade de amostras de toda a diversidade de

ecossistemas, a proteção ao processo evolutivo das espécies, a preservação e a

proteção dos recursos naturais.” (Silva 2010)

Na verdade, todos os “espaços” são espaços ambientais: a sala de aula é um

espaço ambiental, a faculdade é um espaço ambiental, nosso bairro, nossa cidade,

nosso Estado, O País, O planeta, todos, de alguma forma são espaços ambientais, e

todos são dignos de proteção e preservação.

Falando em hipótese, digamos que durante a aula, com sala cheia, alguém acenda

um charuto. Isso não vai poluir o ar do ambiente e causar sua poluição? Barulho

demais, não é poluição sonora e esta vai produzir seus impactos e efeitos? Ora,

muito embora seja questionável a antijuridicidade dessas condutas, na verdade não

podemos deixar de percebermos que sempre estamos em um ambiente, um espaço.

Assim, existem espaços, espaços protegidos e espaços especialmente protegidos

que são áreas que em razão de algum atributo ambiental especial são espaços

especialmente protegidos. De forma que não pode ser qualquer área essa tem que

evidenciar atributos ambientais que requeiram sua sujeição a proteção especial da

lei.

Page 49: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

48

Direito Ambiental

Ex: A Reserva Biológica de Poço das Antas que fica situada nos municípios de Silva

Jardim e Casimiro de Abreu, a cerca de 120 quilômetro do Rio de Janeiro é um

espaço especialmente protegido por lei. Por que? Porque é a área do Brasil que

possui a maior população de mico-leão-dourado, e todos sabem que esta espécie

está em extinção. Então fica fácil identificar seu atributo e sua finalidade que é a

proteção de uma espécie em extinção.

Ex: O Monumento Natural do Itabira situado no município de Cachoeiro de

Itapemirim, por sua vez é protegido em razão de sua beleza e da identidade cultural

com o povo do município.

Os espaços especialmente protegidos estão divididos em dois grupos:

a) Unidades de Conservação;

b) APP e reserva legal;

c) Zoneamento Ambiental.

A) UNIDADES DE CONSEVAÇÃO

“A Constituição impõe ao Poder Público o dever de definir, em todas as Unidades da

Federação, Espaços Territoriais e seus componentes a serem especialmente

protegidos, sendo a alteração e a supressão permitida somente através de lei,

vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que

justifiquem sua proteção (Art. 225, § 1º III). O que a norma constitucional quer é que

sejam delimitadas, em cada Estado e Distrito Federal, Áreas de relevância

ecológica.” (Silva (2010)

A Lei 9.985 de 18 de junho de 2000, regulamenta o art. 225 § 1.º, inciso I, II, III e IV

da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza e da outras providências.

Page 50: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

49

Direito Ambiental

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e

gestão das unidades de conservação.

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I. unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais,

incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,

legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e

limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam

garantias adequadas de proteção;

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – Quanto a intensidade da proteção.

A) PROTEÇÃO INTEGRAL (Art. 7.º I e Art. 2.º VI);

B) USO SUSTENTÁVEL (Art. 7.º I e Art. 2.º XI);

A - Unidades de Proteção Integral: Art. 2.º VI - proteção integral: manutenção dos

ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido

apenas o uso indireto dos seus atributos naturais;

OBJETIVO BÁSICO § 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é

preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos

naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei

“São Espaços Especialmente Protegidos criadas com o objetivo básico de preservar

a natureza. Por isso a preservação há de ser integral, não se admitindo o uso direto

de seus recursos naturais, mas apenas usos indiretos, como pesquisas científicas,

visitas – assim mesmo, sujeitas a condicionamentos e restrições” (Silva 2010) (Art.

8.º a 13 da lei 9.985/00)

I. Estação Ecológica;

II. Reserva biológica;

Page 51: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

50

Direito Ambiental

III. Parques Públicos;

IV. Monumento natural;

V. Refúgio da vida silvestre.

B - Unidades de Uso Sustentável – Art. 2.º XI - uso sustentável: exploração do

ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e

dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos

ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável;

OBJETIVO BÁSICO - é compatibilizar a conservação da natureza com o uso

sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Para comentar – art. 2.º II, IV e XI

- IV –recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da

biosfera, a fauna e a flora;

“São espaços também protegidos, mas a intensidade de proteção é menor do que a

que se aplica nas Unidades de Proteção Integral, porque, ao contrário destas,

permitem o uso direto de seus recursos naturais. Seu objetivo básico não é

preservar a natureza, mas compatibilizar a conservação desta com o uso

sustentável da parcela de seus recursos naturais, consoante estabelece o art. 7.º, §

2.º, da lei 9.985, de 2000.” (Silva 2010) (Art. 14 a 21).

I. Área de Proteção Ambiental;

II. Área de Relevante Interesse Ecológico;

III. Floresta Nacional;

IV. Reserva Extrativista;

V. Reserva de Fauna;

VI. Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e

VII. Reserva Particular do Patrimônio Natural.

B) APP E RESERVA LEGAL

O “novo” Código Florestal, Lei 12.651 de 25 de maio de 2012, que revogou o antigo

código, Lei 4.771/65, estabelece e regulamenta, dentre outras disposições legais, as

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51

Direito Ambiental

Áreas de Preservação Permanente e a Reserva Legal (art. 1.º), diferem de outras

modalidades de espaços especialmente protegidos, uma vez que não necessitam

ser criadas por lei. Basta que estejam localizados em posições definidas pelos

dispositivos legais que recebem naturalmente a proteção legal.

A lei visa atender o desenvolvimento sustentável tem como seu objetivo precípuo a

preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da

biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático,

para o bem estar das gerações presentes e futuras, entre outros (Parágrafo único,

inciso I).

Como não poderia deixar de ser reafirmam o compromisso transgeracional e as

florestas como bem de interesse de toda sociedade, aplicando-se a estas também o

princípio da função social da propriedade e a natureza real que recai sobre esse

bem (art. 2.º § 2.º).

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - As Áreas de Preservação

Permanente estão delimitadas nos artigos 4.º, 5.º e 6.º. e deverá ser mantida pelo

proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou

jurídica, de direito público ou privado, e, no caso de supressão vegetal, é obrigado a

recompor a vegetação e se transfere ao sucessor do domínio ou posse (obrigações

propter rem) (art. 7.º). A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área

de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública,

de interesse social ou de baixo impacto ambiental, previstas na própria Lei (art. 8.º).

DA RESERVA LEGAL – As áreas de Reserva legal estão delimitadas nos artigos 12

da lei 12.651/12, que determina que “todo imóvel rural deve manter área com

cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação

das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes

percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no

art. 68 desta Lei: I - localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no

imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel

situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de

Page 53: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

52

Direito Ambiental

campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento),

devendo ser levado em consideração para sua localização no imóvel o plano de

bacia hidrográfica; o Zoneamento Ecológico-Econômico; a formação de corredores

ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com

Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida; as áreas de

maior importância para a conservação da biodiversidade; e as áreas de maior

fragilidade ambiental, da área ou bacia onde o imóvel estiver inserido (art. 14),

sendo que esta localização deverá ser aprovada pelo órgão estadual competente,

integrante do SISNAMA (§ 1.º).

C) ZONEAMENTO AMBIENTAL

DEFINIÇÃO DE ZONEAMENTO URBANO - “A divisão de uma área urbana em

setores reservados a certas atividades.” (Granziera, 2009)

“Procedimento urbanístico destinado a fixar os usos adequados para as diversas

áreas do solo municipal. Ou destinado a fixar diversas áreas para o exercício das

funções urbanas elementares.” (Silva 2010)

ORIGEM NO ZONEAMENTO URBANO – A Lei n.º 6.151/74 que regulamentava o

2.º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND II), para o período de 1975 a 1979, já

revelava preocupações com o crescimento desordenado, regulamentado pelo

Decreto-lei 1.413, de 14.08.1975, que dispõe sobre o controle da poluição do meio

ambiente provocado por atividades industriais.

ZONEAMENTO AMBIENTAL (Inciso II do art. 9.º da Lei 6.938/81) – É instrumento

da PNMA, regulamentado pelo Dec. 4.297/02 e atualizado pelo Dec. 6.288/07 e tem

por objetivo “dividir determinada porção do território segundo um critério legalmente

estabelecido, em zonas, cujo uso do solo e a implantação de atividades e

empreendimentos ficam sujeitos a regras e normas específicas de proteção”.

(Granziera 2009)

Page 54: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

53

Direito Ambiental

“...Assim, o ZEE deve ser a tradução espacial das políticas econômicas, social,

cultural e ecológica da sociedade. Na prática, a concretização dessas políticas se

dará ao longo prazo, ou na melhor das hipóteses, a médio prazo e acarretará muitas

interfaces político-administrativas.” (Milaré 2010)

Tem sua natureza jurídica no poder de polícia e na intervenção do Estado na ordem

econômica e social. É sempre uma questão de ato discricionário do Poder Público,

aplicado os princípios norteadores da razoabilidade, da proporcionalidade, da função

social da propriedade, do desenvolvimento sustentável, da prevenção, da precaução

e do poluidor pagador, sendo que o interesse público deve sempre prevalecer ao

privado. Presente nos artigos 5.º XXIII, 21 IX e XX, 30 VIII, 170 III, 182 caput, §§ 1.º

e 2.º). Instrumento que pode ser aplicado pela União, pelos Estados, pelo Distrito

Federal e pelos municípios, sendo, no entanto, um instrumento muito utilizado pelo

poder público municipal, haja vista ser a instância detentora da competência local

para organizar o território. EX: O PDMU de Cachoeiro de Itapemirim, por exemplo,

tem 64 artigos que de alguma maneira se relacionam com o zoneamento em suas

diversas formas (Lei municipal n.º 5.890/06). Além de um capítulo reservado

especialmente para a aplicação do princípio da Função Social da Propriedade, foram

criadas ZPA – Zonas de Proteção Ambiental em seus diversos níveis; ZEE –

Zoneamento Ecológico Econômico, também em seus diversos níveis; ZEPC – Zona

Especial de Proteção do Patrimônio Cultural; e um Plano Urbanístico com

Zoneamento Urbano e Zona de Uso Especial, com seus diversos tipos e níveis.

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Direito Ambiental

2º Bimestre

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Direito Ambiental

13 DO MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

“Meio ambiente artificial é uma das espécies do meio ambiente ecologicamente

equilibrado previsto no art. 225 da CF. É aquele construído pelo homem. Cuida-se

da ocupação gradativa dos espaços naturais, transformando-os em espaços

artificiais”

“Esta construção pelo homem pode dar-se em espaços abertos ou fechados.

Denominam-se espaço urbano fechado os edifícios, casas, clubes e etc., E espaço

urbano aberto as praças, avenidas, ruas e etc. A ocupação desses espaços urbanos

pelo homem tornou-se complexa com o grande número de pessoas, necessitando

de regulamentação para disciplinar a aplicação de uma política pública urbana.

Assim, o “crescimento da urbanização leva a conflitos com o meio ambiente, por

vezes desastroso, principalmente ao se considerar as condições de vida das futuras

gerações”. Esses espaços urbanos são constituídos por regiões metropolitanas,

aglomerações urbanas ou microrregiões, formadas por agrupamentos de Município

limítrofes, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução

de fundações públicas de interesse comum (art. 25, § 3.º da CF).”

“Ressalte-se que o crescimento populacional ocorre de forma geométrica. Tal fato

pode ser constatado pelos dados históricos, a seguir citados: em 1830 havia um

bilhão de habitantes no planeta Terra; em 1960 passou para 2 bilhões de habitantes;

em 1974 aumentou para 3 bilhões; e finalmente, em 1999, foi para 6 bilhões. Essa

população, além disso, se concentra, em sua maioria, nos grandes centros urbanos.”

“Tais espaços urbanos são conhecidos por cidade. É nesta que vive o homem,

necessitando, portanto, de saneamento básico, água, transporte, etc., razão pela

qual se faz necessária a implantação de uma política de desenvolvimento urbano

visando o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia de bem

estar de seus habitantes (art. 182, caput, da CF).” (Sirvinskas 2007)

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56

Direito Ambiental

14 DA POLÍTICA URBANA

O art. 182 da Constituição diz que: “a política de desenvolvimento urbano, executada

pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções da cidade e garantir o bem-

estar de seus habitantes.”

Muito embora a legislação não afaste a competência da União para traçar normas

gerais (Ex: Estatuto da cidade) e do Estado para administrar problemas referentes

às regiões metropolitanas, a gestão da política urbana se dá, via de regra, no âmbito

municipal, haja vista ser o ente federativo que, de fato, possui território físico e,

portanto, a tarefa de planejar o ordenamento do uso e ocupação do solo, com vistas

no interesse público e cumprimento do objetivo das funções da cidade, qual sejam:

moradia, trabalho, circulação e laser, sempre observando o equilíbrio ambiental.

14.1 ESTATUTO DA CIDADE

A lei 10.257 de 10 de julho de 2001 regulamenta os artigos 182 e 183 da

Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras

providências. Foi denominada de Estatuto da Cidade, “dispõe sobre as diretrizes

gerais da política urbana, estabelece normas de ordem pública de interesse social e

regula o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do

bem-estar e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental

(Parágrafo único do art. 1.º do citado Estatuto). O Estatuto da Cidade possui 58

artigos distribuídos em cinco Capítulos: I – Diretrizes Gerais; II – Dos Instrumentos

da Política Urbana; Do plano Diretor; IV – Da Gestão Democrática da Cidade; e V –

Disposições Gerais.” (Sirvinskas 2007).

14.2 DIRETRIZES GERAIS

São “uma série de postulados com o objetivo de nortear os legisladores e

administradores, não somente lhes indicando os fins a que se deve destinar a

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57

Direito Ambiental

política urbana, como também evitando a prática de atos que possam contravir os

referidos preceitos.” (Carvalho Filho 2009). Segundo Carvalho Filho, são agrupadas

em cinco categorias: 1.º) diretrizes governamentais, que dependem da atuação ou

iniciativa direta do Poder Público, encontradas nos incisos IV, V, VII, VIII, XII e XVI

do art. 2.º); 2.º) diretrizes sociais: que visam proporcionar algum tipo de benefício

direto à coletividade, individual, ou coletivamente, ou que admitem a participação da

comunidade no processo de urbanização, encontradas nos incisos I, II, III, IX e XIII

do art. 2.º; 3.º) diretrizes econômico-financeiras: dizem respeito aos recursos e

investimentos alocados ou obtidos para o fim do desenvolvimento do processo

urbanístico, encontrados nos incisos X e XI do art. 2.º; 4.º) diretrizes relativas a

solo urbano – correspondente aos vários instrumentos destinados aos processos

de uso e ocupação do solo urbano, encontrados nos incisos VI e XIV; e 5.º)

diretrizes jurídicas – Às que tem pertinência com a área jurídica em geral. O autor

explica que “a classificação tem apenas fins metodológicos e didáticos.”

Assim, podemos concluir que diretriz é exatamente o que o nome quer dizer, é o

caminho que deve ser seguido, a direção para onde devem apontar os objetivos do

ordenamento urbano que aquele município deseja para o seu presente, e,

principalmente para o seu futuro. Ou seja, qual a cidade que a sociedade quer.

14.3 DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA

Estão dispostos no art. 4.º do Estatuto e são os seguintes: I – planos nacionais,

regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e

social; II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e

microrregiões; III – planejamento municipal, em especial; IV – institutos tributários e

financeiros; V – institutos jurídicos e políticos; e VI - Estudo Prévio de Impacto

Ambiental (EIA) e Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).

“Enquanto as diretrizes gerais representam os caminhos fundamentais que o Poder

Público deve trilhar para promover, da melhor forma possível, o processo de

urbanização, os instrumentos urbanísticos correspondem aos mecanismos efetivos a

serem empregados para a concretização paulatina das diretrizes gerais. São, na

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Direito Ambiental

verdade, os meios através dos quais o Poder Público pode tornar efetivos os planos,

programas e projetos de natureza urbanística. Instrumento, aliás, tem mesmo esse

significado, indicando originariamente objeto, aparelho, utensílio com o qual o artífice

vai executar seu trabalho e, por extensão, comporta o sentido de meio, mecanismo,

ponto de apoio necessário a consecução de determinado objetivo.” (carvalho filho

2009)

14.3.1 PLANO DIREITOR

(Art. 39 a 42) – “O plano diretor aprovado pela câmara municipal, obrigatório para as

cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de

desenvolvimento e de expansão urbana”. (§1.§ do art. 182 da CF) “Na análise do

conceito, deve entender-se que o instrumento básico representa o documento

principal, fundamental mesmo, em que se aloja a disciplina pertinente aos objetivos

urbanísticos. Cuida-se da materialização de todos os componentes do planejamento

urbano, com suas singularidades e especificações, de modo que dele é que

emanarão as ações públicas e privadas necessárias a sua implementação.”

(Carvalho Filho 2009)

O PDU ou PDMU, é o instrumento mais importante da Política Urbana e, ante o que

determina o dispositivo constitucional, é instrumento obrigatório para todos os

municípios com mais de vinte (20) mil habitantes, sendo esta obrigatoriedade

estendida pelo Estatuto da Cidade, Lei 10.257/01, para municípios integrantes de

regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, municípios onde o Poder Público

municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4.º do art. 182 da CFRB,

municípios integrantes de áreas de especial interesse turístico, municípios inseridos

na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto

ambiental de âmbito regional ou nacional e, também para aqueles incluídos no

cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de

deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou

hidrológicos correlatos.

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59

Direito Ambiental

REQUISITOS - (art. 40) - 1) Tem que ser aprovado pela Câmara Municipal, ou seja,

o Plano Diretor é uma lei municipal, devidamente discutida e votada pela Câmara de

Vereadores, e como lei, só passa a ter validade no mundo jurídico após sua

vigência. 2) tem que ser parte integrante do processo de planejamento orçamentário

municipal. 3) deverá englobar o território do Município como um todo, 4) A lei que

instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. 5) tem que

ser fruto de um intenso debate com ampla participação popular, com a promoção de

audiências públicas e debates com a participação da sociedade e de associações

representativas dos vários segmentos da comunidade. 6) estar garantida a

publicidade e a transparência do processo para qualquer do povo.

14.3.2 DO PARCELAMENTO, EDIFICAÇÃO OU UTILIZAÇÃO COMPULSÓRIOS

(ART. 5.º e 6.º) – Instrumento que “consiste na existência de Lei municipal

específica para área incluída no plano diretor que poderá determinar o

parcelamento, a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não

edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para

implementação da referida obrigação. O poder de exigibilidade do governo municipal

consiste na possibilidade do proprietário ser obrigado a providenciar a adequação de

seu imóvel ao Plano Diretor. Descumprindo essa obrigação, o proprietário sujeitar-

se-á, sucessivamente, a três tipos de providencia, conforme previsto no Art. 182, §

4.º: 1.º) o parcelamento ou a edificação compulsórios (inc. I); 2.º) IPTU progressivo

no tempo (inc. II); 3.º) desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública

(inc. III).” (Carvalho Filho 2009). Considera-se subutilizado o imóvel cujo

aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação

dele decorrente” (inc. I § 1.º art 5.º);

14.3.3 IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO (ART. 7.º)

Trata-se de instrumento de política urbana através do qual o poder público municipal

emprega seu poder de coerção a fim de obrigar o proprietário a adequar seu imóvel

ao plano diretor da cidade. Configura-se como sanção aplicada ao proprietário que

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Direito Ambiental

não cumpriu a imposição urbanística inicial de edificar ou de parcelar o imóvel.”

(Carvalho Filho 2009)

14.3.4 DESAPROPRIAÇÃO COM PAGAMENTO DE TÍTULOS (ART. 8.º)

Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário

tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município

poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida

pública, obedecidas as regras dispostas nos parágrafos de 1º a 6.º do artigo.

14.3.5 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO (ARTIGOS 9.º AO 14 DO ESTATUTO)

Regulamenta o disposto no art. 183 da CF/88. É o mesmo instituto historicamente de

natureza civil, aplicado à função social da propriedade, com a finalidade de se

promover a justiça social. É visível a migração da legislação que antes atendia aos

princípios do Estado liberal para o Estado do bem estar social, haja vista que o

instituto visa a regularização fundiária de imóveis urbanos destinados a

comunidades de baixa renda com a aquisição do domínio que se dá pelo uso efetivo

do imóvel.

REQUISITOS (art. 9.º) – 1) posse com finalidade de moradia de área ou edificação

urbana com animus domini; 2) prazo ininterrupto da prescrição aquisitiva de cinco

anos; 3) não ser proprietário de outro imóvel.

MODALIDADE COLETIVA – São os mesmos requisitos exigidos para a usucapião

individual. No entanto, deve beneficiar apenas comunidades de baixa renda onde é

impossível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor de fração ideal e o

limite de duzentos e cinqüenta metros (250m), passa a ser o mínimo (art. 10),

apresentando, ainda, o Estatuto como novidade a possibilidade de substituição

processual das associações de moradores, com representação devidamente

regularizada (art. 12, III) e a consagração do princípio de acesso à justiça para o

hipossuficiente, que fará jus aos benefícios da assistência judiciária gratuita,

inclusive, para registro.

Page 62: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

61

Direito Ambiental

Importante ressaltar que a lei 11.977 de 7 de julho de 2009, que dispôs sobre o

Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV e dispôs também sobre a

regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, trazendo

em seu bojo, vinte e cinco artigos que regulamentam o instituto, dando, inclusive, em

seu art. 46, a definição legal do que vem a ser a regularização fundiária, entre

outros.

Art. 46 da lei 11.977/09 - A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas

jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de

assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o

direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da

propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

14.3.6 DIREITO DE SUPERFÍCIE (ART. 21 A 24)

Consiste no direito do proprietário urbano poder conceder a outrem o direito de

utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo do seu terreno, de forma onerosa ou

gratuita, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública

contendo o ajuste contratual, registrada no cartório de registro de imóveis (art. 21 e

parágrafos 1.º a 3.º). Transfere-se a terceiros por contrato e por herança (art. 21 §§

4.º e 5º). Em caso de alienação superficiário e proprietário tem direito de preferência

(art. 22), extinguindo-se pelo advento do termo ou pelo descumprimento das

obrigações contratuais assumidas pelo superficiário (art. 23 I e II), devendo a

extinção do direito de superfície ser averbada no cartório de registro de imóveis (art.

24 § 2.º).

14.3.7 DIREITO DE PEREMPÇÃO (ART. 25 A 27).

O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para

aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares, em áreas

delimitadas por lei municipal, e será exercido sempre que o Poder Público necessitar

de áreas para: I – regularização fundiária; II – execução de programas e projetos

habitacionais de interesse social; III – constituição de reserva fundiária; IV –

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62

Direito Ambiental

ordenamento e direcionamento da expansão urbana; V – implantação de

equipamentos urbanos e comunitários; VI – criação de espaços públicos de lazer e

áreas verdes; VII – criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas

de interesse ambiental; VIII – proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou

paisagístico.

14.3.8 OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR (ART. 28 A 31)

O plano diretor poderá fixar áreas nas quais o direito de construir poderá ser

exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante

contrapartida a ser prestada pelo beneficiário, sendo, conforme o disposto no § 1.º

do art. 28, coeficiente de aproveitamento a relação entre a área edificável e a área

do terreno, devendo ser definidos pelo Plano Diretor os limites máximos a serem

atingidos pelos coeficientes de aproveitamento, considerando a proporcionalidade

entre a infra-estrutura existente e o aumento de densidade esperado em cada área

(§ 3). Lei municipal específica estabelecerá as condições a serem observadas para

a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso, determinando: I – a

fórmula de cálculo para a cobrança; II – os casos passíveis de isenção do

pagamento da outorga; III – a contrapartida do beneficiário (art. 30 I,II,III).

“O SOLO CRIADO – O instrumento da outorga onerosa do direito de construir

significa a adoção, no direito positivo, do instituto urbanístico tradicionalmente

denominado de solo criado. Do ponto de vista técnico-jurídico, contudo, o solo criado

(ou, para alguns, o solo virtual) é um instituto jurídico em si, que pode ser, ou não,

adotado em determinado ordenamento jurídico, ao passo que a outorga onerosa do

direito de construir é o ato administrativo que resulta do acolhimento do instituto; a

outorga onerosa é o efeito jurídico da existência do solo criado no ordenamento.”

“O direito de construir, em forma original, tinha como limite a extensão

correspondente ao solo constitutivo da propriedade. Esse era o solo natural, muito

embora alcançasse o subsolo e o espaço aéreo respectivos. Com o avanço da

tecnologia no setor de construções, começaram a surgir edificações com maior

extensão que a do solo, formando-se um ou vários pisos artificiais.”

Page 64: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

63

Direito Ambiental

“Esse novo direito de construir acabou por render ensejo à criação de uma

multiplicidade de pisos artificiais tantos quantos o autorizasse a legislação edilícia e

de zoneamento incidente sobre a área em que se situasse a propriedade, assim,

cada piso artificial passa a constituir um solo criado, ou seja, uma exceção do direito

de construir além do que comporta o solo natural. Estendendo-se além do solo

natural, o solo criado pode ser superior, quando se eleva pelo espaço aéreo

correspondente à propriedade, e inferior, quando se interioriza pelo subsolo.”

(Carvalho Filho 2009)

14.3.9 TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR (ART. 35)

Se baseia no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado

ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito

de construir previsto no plano diretor ou em legislação urbanística dele decorrente,

quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de: I – implantação de

equipamentos urbanos e comunitários; II – preservação, quando o imóvel for

considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural; III –

servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por

população de baixa renda e habitação de interesse social.

14.3.10 ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV) (ART. 36 A 38)

A Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em

área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de

vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou

funcionamento a cargo do Poder Público municipal. O EIV será executado de forma

a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade

quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades,

incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: I – adensamento

populacional; II – equipamentos urbanos e comunitários; III – uso e ocupação do

solo; IV – valorização imobiliária; V – geração de tráfego e demanda por transporte

público; VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem urbana e patrimônio natural e

cultural. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo

Page 65: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

64

Direito Ambiental

prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental

(Art. 38).

14.3.11 DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE (ART. 43 A 45)

Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros,

os seguintes instrumentos: I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis

nacional, estadual e municipal; II – debates, audiências e consultas públicas; III –

conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e

municipal; IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos

de desenvolvimento urbano;

Um dos pilares do Sistema Democrático de Direito, a participação popular, mesmo

que de modo representativo na tomada de decisões em todos os níveis da vida em

sociedade, é Princípio básico do direito ambiental, do sistema e da política ambiental

Pátria, de forma que a gestão democrática da cidade não poderia prescindir dessa

participação nos desígnios e no planejamento urbano.

Ainda muito tímida em nosso País, marcado por longos períodos de ditadura, a

participação vem tomando corpo em todas as suas formas: Seja nas ruas,

reivindicando por alguma melhoria ou benefício, seja na participação de forma

organizada em conselhos consultivos ou deliberativos. A verdade é que a sociedade

e o interesse público devem ser o destinatário de todos os avanços capitaneados

pela Constituição Federal da República do Brasil de 1988, e, precisa ser ouvida.

No caso estudado, sua falta, ou mesmo a falta de sua convocação é caso de

nulidade em praticamente todo processo de construção do Plano Diretor Municipal,

do EIA ou do EIV, por exemplo, por falta de transparência e participação efetiva da

sociedade.

Page 66: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

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Direito Ambiental

15 PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

O parcelamento do solo urbano em nosso País é regido em normas gerais pela lei,

6.766 de 19 de dezembro de 1979, podendo os Estados, o Distrito Federal e os

municípios estabelecer normas complementares relativas ao parcelamento do solo

municipal para adequar o previsto nesta Lei às peculiaridades regionais e locais (Art.

1.º).

A Lei 6.766/79 determina que há dois meios de executar legalmente o parcelamento

do solo urbano que poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento,

observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais

pertinentes (Art. 2.º) e define: 1.º) loteamento como a subdivisão de gleba em lotes

destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros

públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes; e 2.º)

desmembramento como a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação,

com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura

de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou

ampliação dos já existentes, definindo, ainda, no § 4.º do artigo 2.§ que considera-

se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões atendam aos

índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que

se situe.

O § 5.º do art. 2.§, por sua vez, com redação dada pela lei 11.445/07, Política

nacional de Saneamento Básico conceitua que a infra-estrutura básica dos

parcelamentos é constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas

pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável,

energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação.

Descrevendo, ainda, o diploma legal em seu Art. 4.º, os requisitos urbanísticos

para loteamentos, cuja legislação municipal definirá, para cada zona em que se

divida o território do Município, os usos permitidos e os índices urbanísticos de

parcelamento e ocupação do solo, que incluirão, obrigatoriamente, as áreas mínimas

Page 67: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

66

Direito Ambiental

e máximas de lotes e os coeficientes máximos de aproveitamento, que deverão

atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:

I. as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento

urbano e comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão

proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou

aprovada por lei municipal para a zona em que se situem.

II. os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados)

e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a

urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse

social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes;

III. ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público

das rodovias e ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não-

edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigências da

legislação específica;

IV. as vias de loteamento deverão articular-se com as vias adjacentes oficiais,

existentes ou projetadas, e harmonizar-se com a topografia local.

OBRIGAÇÕES DO MUNICÍPIO – Indicar as diretrizes para uso e ocupação do solo.

Aprovar o plano de loteamento e arruamento e expedir o alvará.

OBRIGAÇÕES DO LOTEADOR – Solicitar ao município as diretrizes para o uso do

solo; Elaborar o memorial descritivo com o plano de arruamento e loteamento;

registrar o projeto no prazo de 180 dias no Registro de Imóveis, sob pena da

caducidade da aprovação e executar o plano. Além da rejeição ou da caducidade do

projeto, o loteador está sujeito às sanções dispostas nos artigos 50 a 52 do

dispositivo legal.

ARRUAMENTO – “É a divisão do solo mediante a abertura de vias de circulação e a

formação de quadras entre elas. Desse conceito decorre que a simples abertura de

ruas não basta para definir o arruamento como um instituto de parcelamento do solo.

Mesmo a abertura de mais de uma via de circulação, só por si, não caracteriza

Page 68: TOPICOS EM DIREITO AMBIENTAL

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Direito Ambiental

arruamento. Para que este se verifique é necessário que ocorram a abertura de vias

de circulação e a formação de quadras.” (Silva 2010)

LOTEAMENTO – “É a divisão das quadras em lotes com frente para logradouro

público, enquanto arruamento, como visto, consiste no enquadramento da gleba por

sua divisão em quadras. Se se traçarem quatro ruas formando uma quadra, já se

pode dizer que houve arruamento; mas a formação de um lote já não basta para

caracterizar o loteamento. Este é um tipo de parcelamento do solo que se configura

no retaliamento de quadras para formação de unidades edificadas (lotes) com frente

para a via oficial de circulação de veículos. O tempo refere-se tanto a operação de

lotear como ao seu resultado (área loteada).” (Silva 2010)

LOTEAMENTO ILEGAL - Se a Lei 6.766/79 não for observada, “a operação de

divisão do solo, ainda que objetivamente tenha característica de plano de

arruamento e de plano de loteamento, em verdade, juridicamente, não terá essa

natureza, sem que isso queira dizer que seja destituída de efeitos jurídicos e

urbanísticos. Esses loteamentos (sentido amplo) ilegais são de duas espécies: a) os

clandestinos, (grifo nosso) que são aqueles que não foram aprovados pela

prefeitura municipal; b) os irregulares, que são aqueles que foram aprovados pela

prefeitura, mas que não foram inscritos, ou o formam, mas são executados em

desconformidade com o plano e as plantas aprovadas.” (Silva 2010)

“Lotemento clandestino, (grifo nosso) é ainda, uma das pragas mais daninhas do

urbanismo brasileiro. Loteadores parcelam terrenos de que, não raro, não tem título

de domínio, por isso não conseguem aprovação do plano, quando se dignam a

apresentá-lo à prefeitura, pois o comum é que sequer se preocupem com essa

providência, que é, onerosa, inclusive porque demanda a transferência de área de

logradouros público e outras ao domínio público. Feito o loteamento nessas

condições, põe-se os lotes à venda, geralmente para pessoas de renda modesta,

em que, de uma hora para outra, perdem seu terreno e a casa que nele ergueram,

também clandestinamente, porque não tinham documento que lhe permitissem obter

a competente licença para edificar no lote.” (Silva 2010)

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68

Direito Ambiental

CONDOMÍNIO FECHADO - Então, o chamado “loteamento fechado” constitui

modalidade especial de aproveitamento condominial de espaço para fins de

construção de casa residenciais térreas ou assobradas ou edifícios. Caracteriza-se

pela formação de lotes autônomos com áreas de Utilização exclusiva de seus

proprietários, confinando-se com outras de utilização comum dos condôminos. O

terreno assim “loteado” não perde sua individualidade objetiva, conquanto sofra

profunda transformação jurídica. Diferente do processo de loteamento propriamente

dito, em razão do qual “o terreno loteado perde sua individualidade objetiva

transformando-se em lotes que se individualizam como unidades autarquicamente

bastantes a si mesmas; inexistem o estado e a pluralidade de comunhão; cria-se um

bairro, cujo equipamento urbano (inclusive as vias, estradas e caminhos, como

públicos que passam a ser com o regime imobiliário) passa a participar do sistema

viário local e do orbe municipal”.

“Sua disseminação no território nacional vem criando sérios problemas jurídicos-

urbanísticos por falta de regulamentação adequada que dê atenção a seu aspecto

urbanístico, mormente quando se desenvolve dentro do perímetro urbano. Bem

lembra Álvaro Pessoas: “As questões que emergem da modalidade de expansão

urbana denominada condominial são sobretudo as seguintes: ocorrência de praças e

ruas particulares (não são logradouros públicos); possibilidade de bloquear o acesso

ao condomínio aos comuns do povo, através de portão ou portaria dividindo o solo

público ou privado; e, por último, mas não menos importante, impedir a passagem

para a praia através do imóvel particular de propriedade do condomínio. (Silva

2010).

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69

Direito Ambiental

16 REMÉDIOS PROCESSUAIS DA TUTELA AMBIENTAL

16.1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

PREVISÃO CONSTITUCIONAL - Art. 129. São funções institucionais do Ministério

Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos;

Lei 7.347/85 Disciplina a ação civil pública e responsabilidade por danos causados

ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico. - Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei,

sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e

patrimoniais causados: l - ao meio-ambiente;

LEGITIMIDADE ATIVA – (Art. 5.º) - Têm legitimidade para propor a ação principal e

a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública,

fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que,

concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da

lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio

público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre

concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio

artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

LEGITIMIDADE PASSIVA – Qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou

privado, causador de dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística,

ao patrimônio cultural, à ordem econômica ou a qualquer outro interesse difuso ou

coletivo.

OBJETO – Interesses transindividuais ou metaindividuais.

COMPETÊNCIA – Juízo da ocorrência do dano.

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Direito Ambiental

16.2 AÇÃO POPULAR

PPREVISÃO CONSTITUCIONAL – Art. 5.º LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima

para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de

entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e

ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de

custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Lei 4.717/65 ;

LEGITIMIDADE ATIVA – Qualquer cidadão.

LEGITIMIDADE PASSIVA – Qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou

privado que praticar ato lesivo contra o patrimônio Público, a moralidade

administrativa, o patrimônio histórico e cultural.

OBJETO – Proteção do patrimônio Público, da moralidade administrativa, do

patrimônio histórico e cultural quanto a atos lesivos contra eles praticados, inclusive

por entidade da qual o Estado Participe. Defesa de bens de natureza pública e

difusa.

COMPETÊNCIA – Juízo da ocorrência do ato.

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Direito Ambiental

17 BIBLIOGRAFIA

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