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Toxicologia: os efeitos dos contaminantes e resíduos Dra. Neice Muller Xavier Faria Coord. da VISAT - Bento Gonçalves Profa. Curso de Medicina do Trabalho - UFRGS Pesquisadora Associada - UFPEL Segurança Alimentar e Ambiental: os desafios dos Agrotóxicos Fotomicrografia: Malathion

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Toxicologia:

os efeitos dos

contaminantes

e resíduos

Dra. Neice Muller Xavier FariaCoord. da VISAT - Bento Gonçalves

Profa. Curso de Medicina do Trabalho - UFRGS

Pesquisadora Associada - UFPEL

Segurança Alimentar e Ambiental: os desafios dos Agrotóxicos

Fotomicrografia: Malathion

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Neice M. X. Faria

- Agrotóxicos x Defensivos Agrícolas x Pesticidas

x Praguicidas x Agroquímicos x produtos

fitossanitários

- Ambientalistas x Indústria de Agrotóxicos

- Riscos para o Meio Ambiente e para a saúde x

Risco do Comprometimento de Safras Agrícolas

Uso de Agrotóxicos - Polêmicas

É VENENO OU É REMÉDIO?

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2008: Brasil assume como maior consumidor

de agrotóxicos no mundo.

Nos últimos 10 anos o consumo brasileiro de

agrotóxicos cresceu duas vezes mais que a

média mundial (190% no Brasil e 93% no

mundo).

O mercado mundial de agrotóxicos

movimentou cerca de 52 US$ bilhões em 2010. E

no Brasil, movimentou 7,3 US$ bilhões em 2010

e 12 bilhões em 2014 (fonte: ANVISA/2012 e

ANDEF/2015)

O Mercado dos Agrotóxicos

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Neice M. X. Faria

11/12/2015 Dow Chemical e DuPont

anunciam fusão e criam grupo de US$ 130

bilhões

03/02/2016 Syngenta é vendida para empresa

chinesa ChemChina por US$ 43 bilhões

(Monsanto tinha tentado comprar)

14/09/2016 Bayer anuncia compra da

Monsanto por US$ 66 bilhões (~140.000

funcionários)

Interesses Bilionários

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Relatório Especial sobre Direito à Alimentação (jan/2017)

O uso de agrotóxicos tem sido agressivamente

promovido, mas as suas consequências para o ambiente e

as pessoas não são conhecidas em sua totalidade.

O seu efeito na produtividade é imediato, mas não se

sustenta no tempo

Conselho de

Direitos

Humanos das

Nações Unidas

(ONU)

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Desafios para avaliar os efeitos sobre

a saúde causados pelos agrotóxicos

A exposição pode ser decorrente do trabalho ou no trabalho

de resíduos em alimentos

de contaminação de água

de deriva (aplicação aérea ou terrestre)

de desinsetizações

de controle de endemias

todas opções anteriores e outras

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Efeitos costumam ser

- insidiosos, não específicos,

- demoram anos ou mesmo décadas para ocorrer,

- pessoas e suas famílias costumam mudar de

trabalho, local de residência, hábitos de vida etc.

- pode ter interação com outros problemas de

saúde.

Diagnóstico nem sempre é feito, exposição multiquímica

exames laboratoriais de difícil acesso e com limitações

O sub-registro é muito comum (apesar de ser obrigatório)

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Deriva de agrotóxicos

nas aplicações aéreas

2007 - Lucas do Rio Verde/MT- Acidente em aplicação aérea com

paraquat contaminou a cidade com vários intoxicados. “Queimou a

maioria das plantas de dezenas de chácaras (hortaliças e

legumes) bem como “as plantas do horto medicinal.

Culpa do vento?

Este acidente com a ‘deriva’ desencadeou um acompanhamento da

UFMT e MPF.

Após dois anos de monitoramento foram encontrados resíduos de

vários pesticidas em mais de 83% dos 12 poços de água “potável”

das escolas, e 56% das amostras de água de chuva.Neice M. X. Faria

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Agrotóxicos em águas superficiais

Silva et al, CR-2009/ Amostras de águas superficiais em região

produtoras de arroz em 3 locais de sete regiões (Região Sul):

Imazethapyr, carbofuran e fipronil foram detectados em todas as

regiões estudadas.

Todas as amostras tinham pelo menos um tipo de agrotóxico.

Moreira et al, CSC-2012/ Amostras de poços de área rural e água de

chuva de Lucas do Rio Verde e Campo Verde (ambos em MT – soja,

milho e algodão):

presença de resíduos de diferentes agrotóxicos nas amostras de

águas superficiais e de chuva coletadas nos dois municípios +

anomalias em uma espécie de anfíbio coletado em uma das duas

localidades, compatíveis com exposição a agrotóxicos

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Como está o monitoramento de resíduos

de agrotóxicos em água de consumo

humano?Boletim Epidemiológico do SIS-AGUA (MS)/2013: 99% das

amostras analisadas estavam dentro do padrão. (Portaria

GM/MS nº 2.914)

No RS era 100% das amostras dentro do padrão

Mas...

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Como está o monitoramento de resíduos

de agrotóxicos em água de consumo

humano?Boletim Epidemiológico do SIS-AGUA (MS)/2013: 99% das

amostras analisadas estavam dentro do padrão. (Portaria

GM/MS nº 2.914)

No RS era 100% das amostras dentro do padrão

Mas a média nacional era de 24% de municípios com

monitoramento. E no RS eram apenas 6 (1,2%).

Só eram monitorados os que estavam com bom controle

E na área rural praticamente não existe monitoramento

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Municípios com monitoramento de agrotóxicos na água para consumo humano, SIS-ÁGUA. Brasil, 2012

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Neice M. X. Faria

Polêmicas:

Fruta com bicho

ou fruta com

veneno?

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PARA – ANVISA – 2013 a 2015

Não?? Então porque são irregulares?

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PARA – ANVISA – 2013 a 2015 -

Controvérsias

Método multiresíduos testaria 234 tipos de IA, mas não se aplica para

a análise de ditiocarbamatos, glifosato, 2,4-D e outros não estão

incluídos no exame. No Lacen-RS o número de IA é bem menor

Metodologia anterior:

Definido pelos índices de irregularidade

• Tipos de irregularidade: resíduos acima do limite permitido (LMR) ou

não autorizados para a cultura

• Maior parte: produtos não autorizados para a cultura, principalmente

as de baixo retorno econômico – “Minor Crops”

Metodologia atual: Avaliação do risco dietético agudo - agravo à

saúde 24 horas após o consumo – A OMS fala em 48 h –

Reconheceram 1,1% de amostras com risco agudo

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Porque foi dado enfoque principal na toxicidade aguda

sendo que a toxicidade crônica via carcinogenicidade,

neurotoxicidade, disrupção endócrina, tem impacto

socio-econômico incomparavelmente maior?

E os produtos proibidos banidos? Estudos

documentaram a presença de arsênico na Serra

Gaúcha e organoclorados no leite materno no MT

Quando irão avaliar produtos industrializados?

E o risco crônico??

Alguns produtos implicariam em risco - como

Câncer – que não é dose dependente. E a exposição

cumulativa?

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Agrotóxicos analisados em leite de 62

nutrizes

Palma(Lucas do Rio Verde-MT), 2011.

Substância % de detecção

p,p’- DDE * 100 %

β-endossulfam* 44 %

Deltametrina 37 %

Aldrim* 32 %

α-endossulfam* 32 %

α-HCH * 18 %

p,p’- DDT * 13 %

Trifluralina 11 %

Lindano * 6 %

Cipermetrina 0

Fonte: Palma, DCA 2011

Exposição Ocupacional?

Ambiental? ou alimentar?

na safra agrícola de

2009/2010, a população foi

exposta a 114,37 litros de

agrotóxicos por habitante

* Organoclorados estão proibidos desde a

década de 80

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Agrotóxicos no leite

Nero et al /2007, Viçosa-Londrina-Pelotas-Botucatu

Examinaram 209 amostras de leite de vaca “in natura”

em 94% foram encontrados resíduos de Organofosforados

ou Carbamatos.

Limite máximo permitido? Codex Alimentarius?

Porque os produtos veterinários, incluindo inseticidas

usados na agricultura, não passam pela avaliação

toxicológica da ANVISA? (só passam pelo MAPA)

Neice M. X. Faria

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Contaminação por inseticida Fipronil afeta milhões de ovos em 17 países, diz UE

11/08/17 - Quinze países da União

Europeia (UE), Suíça e Hong Kong foram

afetados pela contaminação de ovos de

galinha por uso de inseticida Fipronil na

desinfecção de propriedades agrícolas. Doses

altas: problemas neurológicos e vômitos.

Duas prisões de diretores de empresas. Investigação penal na

Bélgica e na Holanda, envolve duas empresas: a holandesa

Chick-Friend, especializada na desinfecção de granjas avícolas,

e seu fornecedor belga, a Poultry-Vision.

A Holanda é um dos maiores exportadores mundiais de ovos.

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2015: Menino de 7 anos morre

intoxicado após comer couve

15/06/2015 – MT: Criança passou por três hospitais e morreu.

Polícia abriu inquérito para avaliar se houve erro na aplicação

do inseticida Acefato, pulverizado na couve 8 dias antes.

ANVISA/AGROFIT: produtos Acefato autorizados para a

couve, teriam 14 dias como prazo de segurança.

Tio e avó também foram atendidos com sinais de intoxicação:

com fortes dores abdominais, vômitos e diarreia. O garoto

chegou ao hospital em melhores condições mas piorou e

morreu. Dose/área corporal?

24/06/15: Marido da avó foi indiciado por ter aplicado o

produto. DE QUEM É A CULPA? Quem aplicou? Quem

vendeu? Tinha Receituário Agronômico?

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Intoxicações agudas

Intoxicação aguda: “a ponta do iceberg”?

“Mais facilmente identificáveis”

Qual é a proporção de casos?

Leves, moderados?

Graves, fatais?

identificados?

registrados?

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PRINCIPAIS RISCOS TOXICOLÓGICOS

ASSOCIADOS AOS AGROTÓXICOS

Neice M. X. Faria

Toxicidade aguda: leve, moderada, grave, fatal

Toxicidade crônica

Carcinogenicidade

Neurotoxicidade

Desregulação endócrina, doenças da tireoide

Efeitos sobre o sistema imunológico

Efeitos na reprodução

Problemas respiratórios

Dermatoses, Dermatites..

Outros: hepatotoxidade, ...

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Intoxicações Agudas por

Agrotóxicos - Critérios OMS

Intoxicação aguda: qualquer doença ou efeito sobre a

saúde resultante de exposição suspeitada ou

confirmada, que ocorra até 48 h após exposição aos

agrotóxicos (obs: exceto raticidas cumarínicos)

Os efeitos podem ser locais ou sistêmicos, decorrentes

de todos os tipos de circunstâncias

Efeitos podem ser respiratórios, neurotóxicos,

cardiovascular, endócrinos gastrointestinal,

nefrotóxicos e/ou reações alérgicas

Acute pesticide poisoning: a proposed classification tool

Thundiyil et al. Bulletin of the World Health Organization

2008;86:205–209

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Principais

Sintomas Agudos

Relacionados aos

Agrotóxicos - SRA

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Neice M. X. Faria

Sintomas

que surgiam

ou pioravam

logo após

usar

agrotóxicos

290 em BG,

2006

Principais Sintomas Bento Gonçalves /06

Irritação ocular 47 (19,2%)

Lacrimejamento 28 (11,4%)

Dor de cabeça 20 (8,2%)

Lesões na pele/alergia 15 (6,1%)

Tonturas/vertigens 14 (5,7%)

Suor excessivo 10 (4,1%)

Queimaduras na pele 10 (4,1%)

Náuseas/ânsias 8 (3,3%)

Tosse 7 (2,9%)

Salivação 7 (2,9%)

Falta de ar/dispnéia 6 (2,5%)

Agitação/irritabilidade 5 (2,0%)

Catarro 5 (2,0%)

Visão turva 4 (1,6%)

Formigamento 4 (1,6%)

Dor abdominal 4 (1,6%)

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Intoxicações agudas: qual é a

frequência?

Antônio Prado e Ipê (1996): 1479 trabalhadores rurais.

Entre os expostos:

2% relataram intoxicações em um ano

12% em alguma vez na vida

Bento Gonçalves (2006): 290 agricultores com

exposição frequente aos agrotóxicos

3,8% relataram intoxicações em um ano

19% em algum momento da vida.

pelo novo critério OMS seriam 11% de casos agudos

prováveis (sintomas recentes)

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Questões toxicológicas

Exposição multiquímica (às vezes simultânea). Problemas

de estocagem e manuseio

♦ Problemas de saúde, hábitos de consumo

♦ Ingredientes Ativos x “Inertes” (Surfactantes, Solventes,

Diluentes, Aditivos, Coadjuvantes), que podem ser mais

tóxicos que os Ingredientes ativos

Laboratórios brasileiros com imensas limitações para avaliar

pessoas expostas

Os exames toxicológicos disponíveis são indicadores de

intoxicação aguda (e olhe lá). Colinesterase normal não

significa ausência de efeitos de agrotóxicos.

Neice M. X. Faria

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Neice M. X. Faria

E as intoxicações crônicas?

Desequilíbrio endócrino

Câncer/ genotoxicidade

Neurotoxidade (OF: independe do grau de inibição da BChE)

Hepatoxidade

Problemas respiratórios

Saúde mental

Sistema reprodutivo

Dermatoses

Outras

Desafio: como medir os efeitos crônicos relacionados

aos agrotóxicos? Como estabelecer o nexo com a

exposição aos pesticidas (algumas ocorridas décadas

atrás)?

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Neice M. X. Faria

Neutoxicidade dos agrotóxicos

Intoxicações por pesticidas incluem síndromes

neurotóxicas agudas e crônicas bem documentadas, como

Parkinson, Esclerose Amniotrófica (Alzheimer?)

Efeitos de exposições prolongadas em baixas doses não

estão tão bem documentados

Efeitos de longo prazo dos pesticidas sobre o sistema

nervoso incluem:

Efeitos neurodegenerativos

Efeitos neurodesenvolvimentais

Disfunções cognitivas e psicomotoras

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Agrotóxicos e Saúde mental

Existem diversos estudos que mostraram evidencias claras da

associação entre uso de agrotóxicos e transtornos mentais,

principalmente depressão

- Vários no Brasil, incluindo no RS (Antônio Prado e Ipê-Faria/1999;

São Lourenço do Sul – 2014/ Dom Feliciano – Campos/2016); RJ

(Região Serrana-Meyer/2010); MS (Pires, 2005)

- Nos EUA (Stallones, 2002; Beseler, 2008-I e II/2006)

- Na Costa Rica (Wesseling, 2010)

- Na África do Sul (London, 2012)

O risco de transtornos mentais é maior e mais consistente entre

trabalhadores agrícolas que tiveram intoxicação por agrotóxicos

O tipo químico mais associado são os organofosforados. Lima, 2009-2011: efeitos sobre a serotonina produzindo depressão em ratos.

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Neice M. X. Faria

Estudos brasileiros sobre suicídio

e agrotóxicos

♦ Meyer, 2010 (RJ): agricultores morando em áreas com maior

exposição aos agrotóxicos apresentaram taxas mais

elevadas de internação por depressão, de tentativas de

suicídio e de suicídio.

♦ Meneghel, 2004/ Faria, 2006 (RS) – Série histórica de 20

anos e estudo ecológico sobre suicídio: coeficientes de

suicídio 3 vezes maiores entre trabalhadores da

agropecuária/pesca comparado com técnicos

♦ Saúde Brasil/2007: Dados do Ministério da Saúde-SIM

confirmam aumento de taxas em municípios pequenos (até

50 mil hab), sem especificar as causas (MS/2007 e Marin-

Leon, 2012)

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Porque as taxas de suicídio foram

maiores entre trabalhadores agrícolas?

Estudo ecológico examinou

taxas padronizadas de

suicídios nas 558

microrregiões brasileiras.

Dados de exposição obtidos

no IBGE, principalmente

Censo Agropecuário de 2006.

Suicídios definidos conforme

DATASUS de 2006 a 2010.

Análise estatística

multivariada

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Neice M. X. Faria

O suicídio por ingestão de agrotóxicos tem aumentado

nos últimos 15 anos no Brasil.

As taxas de suicídio aumentaram na meia-idade (35-64

anos ) e entre os homens mais jovens (15-34 anos)

Micro-regiões com maior utilização de agrotóxicos

apresentaram maiores taxas padronizadas de suicídios

O aumento da proporção de intoxicações por

agrotóxicos nas micro-regiões produziu um efeito ainda

mais forte nas taxas de suicídio do que o uso rotineiro

de agrotóxicos.

Exposição aos agrotóxicos e suicídiosFaria, NMX et al. Neurotoxicology, 2014

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Desequilíbrios endócrinos

(Mnif et cols, 2011)

Acefato – disrupção hormonal no eixo hipotálamo

Captan – inibição da atividade estrogênica

Carbendazim – aumento da produção estrogênica e atividade da aromatase. (bula Concreto/ADAPAR: atrofia testicular e teratogênese)

Cipermetrina – aumento da atividade estrogênica

Deltametrina – efeito estrogênico fraco

Clorpirifós – antagonista da atividade androgênica

Ditiocarbamato mancozeb e fipronil – inibição da produção dos hormônios da tireoide

Glifosato (Roundup) – disfunção da atividade da aromatase, suprimindo produção estrogênica

2,4-D - Efeito sinérgico androgênico + testosterona

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Agrotóxicos e Distúrbios hormonais

e/ou reprodutivos entre vitivinicultores

Estudo entre agricultores de Farroupilha/RS

Cremonese/2017: entre homens jovens (18 a 23 anos), o uso

de pesticidas ao longo da vida, especialmente herbicidas e

fungicidas, foi associado a uma morfologia pior dos

espermatozoides e redução dos hormônios LH (reduzindo a

testosterona) e da prolactina

Piccoli/2016 (275 agricultores): A exposição ocupacional

recente aos agrotóxicos pode afetar a função da tireoide. Os

anos de uso de fungicidas, herbicidas - e especificamente

ditiocarbamatos - foram associados ao aumento do TSH,

acompanhado de diminuição do T4, com tendência linear

para hipotireoidismo, particularmente nos homens.

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Juliana Silva: Estudo em Caxias/2008 (UCS/UFRGS) comparou 108 agricultores, que usavam com agrotóxicos há cerca de 30 anos, com 65 controles (sem contato com agrotóxicos): testes de micronúcleos e ensaio cometa

Encontrou seis vezes mais defeitos no DNA entre os agricultores do que no grupo sem contato com agrotóxicos (mutagênese)

Em média 11% das células dos agricultores tinham algum problema genético.

Além disso 18% tinham também problemas nas células reprodutivas

Toxidade genética

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Alavanja & Bonner, 2012:

Exposição ocupacional aos

Agrotóxicos e Câncer

Nos últimos anos vários estudos documentaram associações

entre exposição a agrotóxicos e vários tipos de câncer.

Evidências crescentes que exposição crônica em baixas doses

produzem stress oxidativo, imunotoxicidade ou mudanças

epigenéticas (mudanças nos genes devido a outros aspectos

além da sequência de DNA).

Revisão de 103 estudos criteriosos, envolvendo adultos,

examinando associação entre câncer e agrotóxicos

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Alavanja & Bonner/2012: Tipos de Câncer

associados c/ agrotóxicos

Próstata

Pulmão

Câncer colo-retal

Pâncreas

Melanoma

Leucemia

Linfoma Não-Hodgkin

Câncer de bexiga

Apontou 21 agrotóxicos associados, com dose-resposta

após controle de fatores de confusão. (Incluindo

organofosforados e mancozeb entre outros).

Recomendou atualização da lista da IARC/OMS

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IARC: reclassificação de pesticidas/ 2015

1) Carcinogênico para humanos (Grupo 1):

Inseticida Organoclorado Lindane

2) Prováveis carcinógenos (Grupo 2A)

Herbicida glifosato

Inseticida Organofosforado malathion

Inseticida Organofosforado diazinon

Inseticida Organoclorado DDT

3) Possíveis carcinógenos (Grupo 2B)

Inseticida Organofosforado tetrachlorvinphos

Inseticida Organofosforado parathion

Herbicida 2,4-D

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Classificação toxicológica

AGROFIT - out 2017: total 1845 produtos

formulados

Classe I (vermelho): Extremamente tóxico (657)

Classe II (amarelo): Altamente tóxico (279)

Classe III (azul): Medianamente tóxico (621)

Classe IV (verde): Pouco tóxico (288)

Definida principalmente pelo efeito agudo

Neice M. X. Faria

ANVISA (2017): 517 diferentes Ingredientes Ativos

autorizados no Brasil e 90 proibidos

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Glifosato (Roundup e outros...)

106 marcas comerciais registradas no Min. da

Agricultura/AGROFIT, em out/2017 (19 da Monsanto)

Classificação Toxicológica (CT): varia de I a IV

Ex: Formulação Concentrado Solúvel-CS 480 g/L:

Astral, Pilarsato, Pride, Glyphon, Glyweed CT I

Gliato, Gliz Plus, Glif-All, CCAB, Grassato, Glifos CT II

Credit, Fera, Gli Ouro, Gli over, Glifosato Atanor 48 e 480, Atar

48, Fersol, Gliz (Dow), Milênia, Nortox 480 BR e SL CT III

Credit 480, Glifosato Helm, Glyox, Polaris (Dupont), Stinger

CS 480 g/L CT IV

Ambos da Monsanto:

Roundup original: CS 480g/L (68,4% de inertes) CT III

Stinger: CS 480g/L (68,4% de inertes) CT IV

Nufarm

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Neice M. X. Faria

DossieAbrasco_2015_web.pdf

Dossiê ABRASCO

Um alerta sobre os

impactos dos

agrotóxicos na

saúde

2015

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Possíveis caminhos

Boas práticas Agrícolas- As perdas de agrotóxicos (fora do alvo) podem variar de 50% a 70% do pesticida aplicado devido à evaporação e à deriva (Pimentel 2005). A deriva de aplicações aéreas é maior e sendo menor a partir de aplicações terrestres.

TPC – Thermal Pest Control (controle de pargas por método físico – calor seco)

A ser testado na produção de vinhos e frutas

União para o BioComércio Ético – Ex: Native -Líder mundial na produção e comercialização de açúcar e álcool orgânicos. Tem na sustentabilidade sua maior causa/ marketing.

Neice M. X. Faria

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Neice M. X. Faria

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